Ferramenta Ergonomica - Niosh

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 3

Ferramentas Ergonômicas - Niosh

Muitas acadêmicos e profissionais que atuam na área de ergonomia e saúde ocupacional se


deparam com situações em que é necessário “quantificar” uma situação de trabalho analisada.
Este é um ponto crucial visto que em ergonomia a maior parte da análise se desenvolve no
campo qualitativo, onde caracteristicas de uma atividade são descritas.
Dentre essas necessidades podemos citar a quantificação do levantamento manual de cargas,
que ainda nos dias de hoje é uma das maiores causas de disfunções músculo esqueléticas nos
trabalhadores.
O Niosh é a ferramenta magna quando analisamos este fator, sendo aceito e utilizado em
diversos países.
Este artigo objetiva esclarecer os conceitos que embasam o método, bem como sua
aplicação na prática.

 Como surgiu o Niosh?

Em 1980, nos Estados Unidos, sob iniciativa do National Institute for Ocupational Safety and
Health - NIOSH, patrocinou-se o desenvolvimento de um método para determinar a carga máxima a
ser manuseada e movimentada manualmente numa atividade de trabalho - NIOSH - Work Practices
Guide for Manual Lifting (1981).
Para isto, um grupo de pesquisadores reuniu-se para a formulação de um método consistente
sobre o assunto, levantando referências bibliográficas de todo o mundo e concluíram que este
método deveria levar em conta quatro aspectos básicos:

 o epidemiológico –> Que é o estudo das doenças, sua incidência, prevalência, efeitos e os
meios para sua prevenção ou tratamento (Barbanti, 1994).
 o psicológico –> que considera o comportamento humano numa determinada situação. No
caso do trabalho, observamos que a imposição de certas tarefas depende da aceitação do
próprio trabalhador;
 o biomecânico –> levando em conta as estruturas e funções dos sistemas biológicos, usando
conceitos, métodos e leis da mecânica;
 o fisiológico –> estudando as funções do organismo vivo. Procurou-se por meio da
fisiologia do exercício, estudar as funções do organismo em relação ao trabalho físico.

O que ficou estabelecido?


Estabelecido um critério não baseado em determinada carga, acima da qual seria
problemático e abaixo da qual haveria segurança, nem se basearam em estabelecer uma freqüência
máxima, nem uma técnica especifica para se fazer um esforço.
O método utilizado estabeleceu que, para uma situação qualquer de trabalho, no
levantamento manual de cargas, existe um L.P.R. O L.P.R, uma vez calculado, compara-se com a
carga real levantada, obtendo-se então o Índice de Levantamento (I.L).
Assim, estipula-se que se o valor do I.L, for menor que 1.0, a chance de lesão será mínima e
o trabalhador estará em situação segura; se o valor for de 1.0 a 2.0, aumenta-se o risco; e se a
situação de trabalho for maior que 2.0, aumentará o risco de lesões na coluna e no sistema músculo-
ligamentar (Waters, 1993; Couto, 1995).

Segundo os pesquisadores uma carga abaixo dos limites recomendados:

 a incidência de lesões dorsais e de acidentes não aumenta significativamente;


 a carga limite induz uma força de compressão da ordem de 350 kg sobre o disco L5-S1, que
pode ser tolerado pela maioria dos trabalhadores jovens e em boas condições de saúde;
 o gasto energético ultrapassaria 240 Watts quando a tarefa é superior a CLR;
 mais de 75% das mulheres e 95% dos homens são muscularmente capazes de levantar
cargas correspondentes a CLR.

A Fórmula de cálculo
Limite de peso recomendado:

 LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC ou;


 LPR = 23 x HM x VM x DM x FM x AM x CM

Onde o valor 23, corresponde ao peso limite ideal, quer dizer, aquele que pode ser manuseado sem
risco particular, quando a carga está idealmente colocada, compreendendo:

 FDH (Fator de Distância Horizontal em relação à carga) = 25 cm;


 FAV (Fator de Altura Vertical em relação ao solo) = 75cm
 FRLT (Fator de Rotação Lateral do Tronco) = 0
 FFL (Fator Freqüência de Levantamento) menor que uma vez a cada 5 minutos;
 Pega da carga fácil e confortável (boa).

Como realizar o cálculo?


A grande maioria dos estudantes e profissionais da área sempre procuram por planilhas
prontas, no anseio da rápida resolução dos seus problemas.
É óbvio que todo programa computacional, seja uma simples planilha em excel ou um
sofisticado software de análise, facilitam muito o trabalho de análise. Porém, não podemos esquecer
que são meios complementares; de nada adianta utilizarmos um mecanismo para o qual não
sabemos a finalidade.

Então vamos as varáveis presentes na fórmula:

 FDH - corresponde a distância horizontal (em centímetros) entre a posição das mãos no
início do levantamento e o ponto médio sobre uma linha imaginária ligando os dois
tornozelos. Calcula-se divindo a constante 25 pela distância mensurada. Portanto se a carga
está 30 cm de distância do corpo, teremos: 25/30= 0,83 (fator de multiplicação da
fórmula)
 FAV - corresponde à distância vertical (em cm) das mãos com relação ao solo no início do
levantamento. O cálculo se dá por meio da fórmula: 1 - (0,003 x [V-75]) - para alturas
até acima de 75 cm e; 1 - (-0,003 x [V-75]) - para alturas até 75 cm . Lembramos que os
números apresentados são constantes da fórmula e não devem ser modificados, cabendo
apenas ao analista a mensuração da distância das mãos (na pega) no início do levantamento -
Fator “V”. Por exemplo, se no levantamento de uma caixa sobre um palet de 20 cm: 1 - (-
0,003 x [20-75]) = 0,835 (Fator de multiplicação)
 FDVP - corresponde à distância vertical percorrida desde do início do levantamento até o
término da ação. Sua fórmula de cálculo é assim utilizada: (0,82 + 4,5/D); onde “D” é a
distância total percorrida. Muitas pessoas acabam se confundindo neste fator em situações
em que a carga encontra-se em alturas elevadas, como por exemplo esteiras rolantes
(trabalho de sacaria). Nesta condição podemos encontrar alturas iniciais de até 200 cm (ou 2
metros). O que fazer? Na verdade o procedimento é o mesmo: se o trabalhador apanha um
saco nesta altura e leva até o palet (40 cm), teremos: altura inicial (200) - altura final (40) =
distância percorrida “D” (160 cm). Ai é só substituir na fórmula de cálculo: (0,82 + 4,5/160)
= 0,85 (fator de multiplicação);
 FFL - o fator freqüência de levantamento é obtido por meio de uma tabela pré-estabelecida.
Nesta tabela deveremos observar quantas vezes o funcionário realiza o levantamento dentro
de um minuto, a duração desta atividade e a distância vertical (V) em que o levantamento
acontece. Desta obtemos os seguintes índices:

 FRLT - o fator rotação lateral do tronco como o próprio nome sugere, verifica a rotação em
graus durante o transporte da carga. A fórmula de cálculo se dá por: 1-(0,032 x A). Então se
um funcionário realiza uma pega a sua frente e leva até uma esteira lateral esse ângulo pode
aproximar-se de 90º, então: 1-(0,032 x 90) = 0,71 será o fator de cálculo;
 FQPC - o fator qualidade de pega da carga segue alguns fatores mais qualitativos. A
figura abaixo explicita algumas recomendações para se determinar a qualidade da pega:

O Índice de Levantamento
O Índice de Levantamento (IL) do método Niosh é o que determina se uma atividade
apresenta risco de lesão músculo esquelética e ainda quantifica esse risco.
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o índice de 23 Kg amplamente difundido não
é aplicável à todas as situações de trabalho encontradas; e sim o IL.
O IL nada mais é do que a divisão da constante (23 kg) pela multiplicação de todos os outros
fatores como ja apresentados previamente.

A interpretação dos resultados segue os seguintes parâmetros:

 IL menor que 1,0 –> condição segura - chance mínima de lesão;


 IL entre 1,0 e 2,0 –> condição insegura - médio risco de lesão;
 IL acima de 2,0 –> condição insegura - alto risco de lesão.

A utilização do método
O Niosh é um método amplamente difundido e utilizado no Brasil e no mundo. Podemos
citar aqui algumas situações em que pode ser aplicado, mas não podemos nos restringir a elas:

 Análise de postos de trabalho;


 Perícias ocupacionais;
 Priorização de riscos entre diversos postos;
 Adequação à legislação;
 Simulação de projetos de melhoria - fazemos um parêntese neste ponto pois consideramos a
melhor aplicabilidade do método. Por meio de simulações através dos diversos indicadores,
podemos agir precisamente no posto de trabalho, melhorando os itens mais críticos ou até
mesmo determinando a interrupção de uma atividade até que melhorias sejam feitas.

Você também pode gostar