Neto Milição PTEA 20 08 2021
Neto Milição PTEA 20 08 2021
Neto Milição PTEA 20 08 2021
Licenciatura em Antropologia
3ᵒ Ano, 1ᵒ semestre,
Fichas de leitura
Referência bibliográfica
O artigo de Caldeira (1988) tem como principal objectivo esclarecer o lugar do texto
etnográfico com o objectivo de abordar alguns aspectos de mudança das condições de
produção do trabalho antropológico, e ver a que novas alternativas as críticas estão levando.
A autora diz que a presença ambígua do autor no texto etnográfico diz respeito as descrições
por si produzidas que comprovam e revelam a experiência pessoal no campo com o nativo de
modo a garantir sua objectividade.
A autora diz que as alternativas pós-modernas reinventaram dois aspectos em relação aos
textos e a crítica cultural. Todavia, oposto da etnografia clássica, o etnógrafo não se esconde
para afirmar sua autoridade científica. Apenas analisa, sugere e provoca. Assim, o leitor não é
mais aquele que se informa, mas participante activo na construção do sentido do texto, que
apenas sugere conexões do sentido. Este modelo foi criticado por Robinow ao afirmar que a
discussão textual nunca vai se sustentar por si só.
A autora conclui que não é apenas pensar que tipo de representação é possível criar sobre os
outros e quais os nossos procedimentos ao construir interpretações, mas que tipo de crítica e
de política nós queremos fazer. E sugere que faz parte do novo papel do antropólogo a busca
do estilo que melhor se adapte aos seus objectivos.
Referência bibliográfica
De Moura, Mariana; Machado, Milena; Machado, Renata, 2016, Trabalho de campo, teoria e
construçãoda Etnografia
(http://actacientifica.servicioit.cl/biblioteca/gt/GT16/GT16_MendesdeMoura_FreitasMachad
o.pdf) 22 de Fevereiro de 2016
As autoras dizem que até no século 20 os trabalhos realizados usam o método conhecido por
antropologia da varanda. Após o trabalho do campo feito por Malinowski nas ilhas
trobriandesa, mudou a forma de fazer antropologia, mostrando que um bom trabalho de
campo é aquele em que o antropólogo deve estar em contacto directo e mais estreito com os
nativos, isolar os nativos dos supostos homens brancos, acompanhar as práticas sociais e
culturais do nativo.
As autoras dizem que o trabalho de Márcio Goldman trouce outra forma de compreender o
trabalho de campo que leva em consideração a experiência. Neste sentido, a teoria
etnográfica está ancoradana concepçãode que não são apenas culturas diversas o objecto da
antropologia, mas sim mundos diferentes. A partir do relato da sua experiência pessoal, como
antropólogo, frente à alteridade faz parte do trabalho do antropólogo, por meio da etnografia
e do trabalho de campo ser afectado por algo que também afecta o nativo.
Referência bibliográfica
Nagami, Isis. 2014. “Do trabalho de campo à escrita etnográfica: breves reminiscências sobre
o fazer antropológico”. XXV Semana de Ciências Sociais, Londrina.
O artigo de Nagami (2014) tem como principal objectivo de analisar a relação que é
estabelecida entre o antropólogo e o nativo no trabalho de campo como prática antropológica.
A autora argumenta que a ascensão do trabalho de campo como forma de pesquisa
antropológica trouxe o debate sobre a relação estabelecida entre antropólogo e nativo, entre o
"eu" e o "outro".
A autora diz que entre 1900 e 1960 a observação participante tornou-se um dos meios
legítimos, institucionalizado e concretizado através da produção textual. Porem, tais
elementos sugeriam a legitimidade da pesquisa antropológica que, através de seus métodos de
coleta de dados, permitia que a observação do "outro" se desse de forma cientificamente
validada, culminando na tradução de tal experiência através da forma textual.
A autora diz que os insights dos antropólogos passam a permear a tensa relação entre teoria e
prática. E que o "Ser afectado" passa a contemplar parte do processo de alteridade do
exercício antropológico. Os imponderáveis do trabalho de campo e a interpretação passam a
fazer parte das narrativas etnográficas. Pois, ao levar os conceitos a campo confrontando-o
com a interpretação nativa, os antropólogos também acabam por confrontar seus próprios
conceitos. Neste sentido, a cultura enquanto conceito, é construída pelos antropólogos e cada
antropólogo possui diferentes racionalidades.
Segundo a autora, é importante levar em consideração "o local de que fala o antropólogo", é
necessário pensar quem é o "nativo que ao empoderar-se responde por um todo", mas que,
muitas vezes, não é a fala de todos. Pois, as pessoas, relações e coisas que povoam a
existência humana manifestam-se essencialmente como valores e significados.
O artigo de Rubim (1999) tem como principal objectivo de mostrar como foi constituídoo
conhecimento antropológico e mostrar qual era ou é a problemática e método.
A autora considera que o renascimento com a intensificação das rotas de comércio entre
Europa, Ásia e África, a alteridade foi acelerada que culminou com o colonialismo europeu, o
marco da formulação de respostas mais elaboradas que justificassem, tanto teoricamente estas
diferenças baseadas em preconceitos e descriminação.
Esta realidade contribuiu no século XIX para a formação da antropologia enquanto uma
disciplina autónoma que tomando a vida humana como objecto de estudo, rompe com as
especulações teológicas sobre o homem e com a ideia de uma ciência que exclui o que não é
físico e natural porque não pode ser objectivo. A descoberta do novo mundo privilegiou a
construção posterior de noções tais como a de unidade da espécie humana, cultura e
relativismo cultural entre outras. O conceito moderno de cultura, por exemplo, está ligado ao
conceito de relativismo cultural que por sua vez foi construído a partir de uma crítica a noção
de desenvolvimento unilinear da espécie humana. Entretanto, o que fundamenta a
problemática da relatividade cultural, é uma discussão sobre o relativismo do conhecimento
Ocidental e até mesmo da própria ciência enquanto verdade absoluta.
A autora afirma que as ciências sociais o tema gira em torno dos limites e possibilidades de
cientificidade do que é humano e da problemática de um método específico para as suas
disciplinas. Émile Durkheim (1987) é um marco para as disciplinas que compõem as ciências
sociais quando afirma que devemos trabalhar os fatos sociais como coisas, ou seja, como
exteriores e independentes do sujeito cognoscente, propondo regras rigorosas e específicas ao
método propriamente sociológico. Na antropologia esta discussão aparece na literatura dos
anos 50/60 com a chamada crise do objecto quando Lévi-Strauss (1962) faz um alerta sobre a
possibilidade do desaparecimento das sociedades tribais, o objecto de estudo antropológico.
Historicamente o objecto de estudo da sociologia foi o ocidente; o da antropologia o outro. A
autora considera que a antropologia encontra-se na actualidade frente a uma nova
problemática e começa a questionar a si mesma enquanto ciência, aos seus sujeitos de
pesquisa, os seus objectivos, enfim, o seu projecto de compreensão da realidade.
A problemática metodológica
A questão da relatividade cultural que surgiu como resposta ao etnocentrismo colonial, possui
seus limites, que também devem ser pensados frente a natureza universal do homem e na
história dos encontros dos diferentes povos. Esta é uma questão da antropologia que deve ser
melhor discutida no campo da problemática moderna. O relativismo proposto pelo
pensamento antropológico é aquele que nos faz questionar as nossas próprias premissas como
verdades únicas e absolutas, entendendo que existem outras verdades. Acontecimento que se
repete tanto internamente ao nosso mundo como entre mundos diferentes.
Referência bibliográfica
O artigo de Wielewicki (2001) tem como objectivo principal de discutir de que modo a
pesquisa etnográfica pode ser vista como uma construção discursiva, procurando defini- lá e
discutir os seus princípios e as formas de avaliação de seus resultados.
A autora explica que a acusação de falta de rigor científico pode ser refutada considerando
que um método não pode descreditar outro só por diferir de suas regras de conduta, que,
entretanto, devem ser conhecidas por quem propõe segui-las. Pois, parece que essas críticas
exigem da etnografia que possa ser mensurada, quantificada e que possa provar a veracidade
dos seus achados a fim de um conhecimento totalizante.
A autora diz que para além dos princípios emic e etic outro princípio da pesquisa etnográfica
é o papel da teoria relativa a preconcepções. Ela ajuda ao pesquisador a decidir que tipos de
evidências poderão responder suas perguntas de pesquisa. Embora guiada pela teoria, a
pesquisa etnográfica não é determinada por ela. Cada situação investigada deve ser
compreendida em seus próprios termos e da perspectiva de seus participantes, segundo o
princípio émic. Neste sentido, o etnógrafo procura primeiro construir uma teoria do local
estudado, e depois, procura generalizar para outras situações, por meio de comparações.