Louça Sanitária

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https://doi.org/10.4322/cerind.2019.014

Estudo Estratégico da Cadeia Produtiva da Indústria Cerâmica


no Estado de São Paulo: Parte III – Indústrias de Colorifícios,
Sanitários e Cerâmica Técnica - Isoladores
Marsis Cabral Juniora*, Paulo Brito Moreira de Azevedob, Gláucia Cuchieratoc,
José Francisco Marciano Mottad

a
Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental - LABGEO/ Centro de Tecnologias Geoambientais / Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT
b
Coordenadoria de Planejamento e Negócios / Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT
c
GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia, São Paulo – SP, Brasil
d
Consultor – Bolsista Fapesp, São Paulo – SP, Brasil
*e-mail: [email protected]

RESUMO
Este trabalho deriva de estudo de maior abrangência dirigido à elaboração de um diagnóstico técnico-econômico da
indústria cerâmica no estado de São Paulo, com vistas a subsidiar ações de governo que garantam o abastecimento
sustentável de matérias-primas minerais a este setor da economia. Entre as cerâmicas tradicionais foram
priorizados os segmentos industriais de maior relevância econômica no Estado e com consumo significativo
de bens minerais, a saber: Cerâmica Vermelha, Revestimentos, Louça Sanitária, Louça e Porcelana – Mesa,
Utilitários e Decoração, Colorifícios (Fritas, Esmaltes e Corantes) e Isoladores Elétricos (Cerâmica Técnica).
Nesse contexto, as avaliações desses segmentos e a análise estratégica efetuadas buscaram estabelecer um
arcabouço de informações, bem como sugestões de iniciativas para o fortalecimento do setor produtivo, que
poderão auxiliar a formulação de políticas para modernização e aprimoramento do sistema de suprimento
mineral ao parque cerâmico paulista.
Os principais resultados desse estudo estão sendo apresentados em uma série de quatro artigos. Os dois
primeiros, já publicados, abordaram a contextualização e fatos motivadores do estudo, breve histórico e
características gerais da indústria cerâmica no Estado, sendo tratados os segmentos de cerâmica vermelha
e revestimentos. Neste terceiro artigo são analisadas as indústrias de colorifícios, sanitários e de isoladores
elétricos. O segmento de louça e porcelana - mesa, utilitários e decoração, e a análise estratégica da cadeia
produtiva mínero-cerâmica farão parte do quarto artigo.
Palavras-Chave: cerâmica; matérias-primas, indústria; mineração; tecnologia

1 INTRODUÇÃO
Este trabalho decorre de estudo desenvolvido pelo Contido nesse escopo geral, o desenvolvimento do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São estudo contemplou as seguintes metas:
Paulo (IPT, 2018) e financiado pela Subsecretaria de
a) caracterização qualitativa da estrutura de mercado
Mineração da Secretaria de Energia e Mineração - SEM
e empresarial do elo central da cadeia produtiva
do Estado de São Paulo1, que envolveu a elaboração de cerâmica, isto é, do segmento de manufatura
um diagnóstico técnico-econômico da indústria cerâmica cerâmica, abrangendo os principais segmentos de
no Estado de São Paulo, com a finalidade de coletar manufatura cerâmica intensivos em consumo de
subsídios que permitam orientar ações de governo que minerais industriais, a saber: Cerâmica Vermelha,
garantam o abastecimento sustentável de matérias-primas Revestimentos, Louça Sanitária, Louça e Porcelana
minerais necessárias a este setor da economia, a curto, de Mesa e Decorativa, Isoladores Elétricos e
médio e longo prazo. Colorifícios (fritas, esmaltes e corantes);
1
Com a reforma da estrutura administrativa do governo paulista b) projeções de consumo de bens minerais: estimativa
em 2019, as atribuições da Subsecretaria de Mineração foram de crescimento do parque cerâmico e da demanda
integradas a Coordenadoria de Petróleo, Gás e Mineração derivada de insumos minerais, circunstanciada em
dentro da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio três cenários de crescimento (pessimista, neutro
Ambiente- SIMA. e otimista); e

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c) avaliação estratégica do setor cerâmico: indicações Ilustrando a interação entre o esmalte e o corpo de
conclusivas sobre os principais fatores que interferem uma peça cerâmica, a Figura 1 apresenta uma seção
na competitividade da indústria cerâmica paulista e transversal típica de um placa vista ao microscópio
sugestão de diretrizes e ações para o aprimoramento eletrônico de varredura, na qual estão identificadas as
competitivo, mormente relacionadas à demanda camadas produzidas à partir de insumos fornecidos pelos
de bens minerais. colorifícios - engobe, esmalte e decorações - bem como
suas respectivas espessuras. O suporte ou biscoito, como
Os principais resultados desse estudo estão sendo também é conhecido, constitui a parte basal, mais espessa
apresentados em uma série de quatro artigos. Os dois da placa cerâmica e que recebe as sucessivas coberturas
primeiros, já publicados (Cabral Junior et al., 2019a; b), do engobe e do esmalte, incluindo a decoração.
abordaram a contextualização e fatos motivadores do Pioneiramente, as empresas líderes foram a Colorobia
estudo, breve histórico e características gerais da indústria (Itália), Degussa (Alemanha), Ferro Enamel e Johson
cerâmica no Estado, sendo tratados os segmentos de & Mathey (EUA). A partir dos anos 2000, uma ação
cerâmica vermelha e revestimentos. Neste terceiro artigo agressiva do setor produtivo, articulada a centros de
são analisadas as indústrias de colorifícios, sanitários e de pesquisa e com importante suporte governamental, alçou
isoladores elétricos, buscando-se caracterizar a estrutura os colorifícios espanhóis, concentrados no cluster cerâmico
produtiva e empresarial, o sistema de suprimento mineral de Castellon, no domínio do mercado internacional (Cabral
e as matérias-primas consumidas. O segmento de louça Junior et al., 2010a).
e porcelana (mesa, utilitários e decoração) e a análise 2.1 Contexto Brasileiro
estratégica da cadeia produtiva mínero-cerâmica farão
parte do quarto artigo. Seguindo as características do mercado internacional, a
produção de colorifícios no país é relativamente concentrada.
2 A INDÚSTRIA DE COLORIFÍCIOS Na década de 1990, apenas cinco fornecedores respondiam
por 64% das vendas. Já nos anos 2000, dez empresas
O principal produto fabricado pelos colorifícios são as respondiam por 80% da oferta, o que prevalece até os dias
fritas cerâmicas, que são compostos vítreos, insolúveis em atuais. No entanto, nesse período houve movimentações,
água, obtidos pela fusão seguida de resfriamento rápido com paralizações, saída e entrada de novas empresas no
de misturas controladas de matérias-primas. As fritas mercado nacional. A Tabela 1 relaciona as empresas que
são utilizadas nas formulações de esmaltes e engobes, conta com unidades no país, discriminando-se a origem
insumos essenciais para as indústrias cerâmicas, utilizadas do capital, localização e especialização produtiva.
no recobrimento superficial das peças, sendo consumidos Em 1999, o faturamento no Brasil do segmento foi
em mais larga escala pelo segmento de revestimentos e, de US$ 140 milhões com a produção de 72.000 t de
secundariamente, pelas indústrias de louças sanitárias e fritas, 2.400 t de corantes, 4.000 t de granilha, 6.600 t
de mesa, isoladores elétricos, entre outras. de produtos para serigrafia e 145.000 t de compostos
Até uma década atrás esse segmento estava organizado (ABCeram, 2001). Fortemente alavancado pelo expressivo
em uma associação denominada Abracolor - Associação crescimento da indústria de revestimento, já em 2008,
Brasileira de Colorifícios, mas foi desativada e não há a produção dos colorifícios alcançou cerca de 500 mil
disponibilização sistematizada de informações do setor. toneladas de produtos, correspondendo a um faturamento
Sendo o segmento de revestimento responsável por de R$ 1,26 bilhão (Coelho e Boschi, 2009). Atualmente,
grande parte do consumo dos insumos fabricados nos estima-se que o nível de atividade do segmento situa-se
colorifícios, as estimativas de produção desse segmento praticamente nesse mesmo patamar, haja vista que a
e, consequentemente, da sua demanda de matérias-primas produção embora tenha crescido até 2015, começou
minerais, foram balizadas pelo desempenho da indústria de
placas cerâmica, aferidas adicionalmente com entrevistas
com produtores, fornecedores e especialistas do setor.
Além das fritas, outros produtos fornecidos pelos
colorifícios são compostos, esmaltes, engobes, pastas
serigráficas, granilhas e corantes. Todos esses insumos são
elaborados a partir da mistura das fritas pré-produzidas
com outras matérias-primas naturais e sintéticas adquiridas
pelos colorifícios, e atendem às necessidades específicas
das etapas do processo de fabricação das peças cerâmicas
em que são introduzidos, assim como às características
desejadas no produto final. Os esmaltes, como o recobrimento
mais externo, são aplicados à superfície dos corpos
cerâmicos e, após queima, formam uma camada vítrea,
delgada e contínua. As finalidades básicas desses vidrados
são aprimorar a estética, tornar o produto impermeável e Fonte: Boschi (2005).
melhorar a resistência à abrasão. Figura 1- Seção transversal de uma placa de revestimento cerâmico.

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Tabela 1 - Colorifícios e empresas de processamento de produtos de acabamento de peças cerâmicas.
COLORIFÍCIO ORIGEM LOCAL ATIVIDADE
ESMALTEC- Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias-primas,
1 Brasil Rio Claro- SP
TERRAR I. C. formulação e mistura de compostos
COLOROBBIA Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
2 Itália Itatiba - SP
DO BRASIL formulação e mistura de compostos
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
ESMALGLASS Morro da Fumaça - SC
3 Espanha formulação e mistura de compostos
DO BRASIL
Rio Claro- SP Formulação e mistura de compostos
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
TORRECID Içara - SC
4 Espanha formulação e mistura de compostos
BRASIL F.E.C.
Araras- SP Formulação e mistura de compostos
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
formulação e mistura de compostos.
Em agosto de 2019, a empresa comunicou que encerrará
FERRO ENAMEL a produção de fritas e compostos no Brasil, continuando a
5 EUA Americana- SP
DO BRASIL comercializar produtos para decoração de vidros, chapas
metálicas, tintas digitais, entre outros; adicionalmente
alguns produtos para compostos cerâmicos serão fornecidos
a partir de fábricas fora do Brasil.
Fabricação de Fritas, moagem de fritas e matérias primas,
6 COLORTEC Brasil Cordeirópolis - SP
formulação e mistura de compostos
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
SMALTICERAM Içara - SC
7 s.i.c. formulação e mistura de compostos
DO BRASIL
Rio Claro- SP Formulação e mistura de compostos
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
8 VIDRADOS BS Brasil Ipeuna - SP
formulação e mistura de compostos
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
Içara - SC
formulação e mistura de compostos
9 COLORMINAS Brasil
Formulação e mistura de compostos (fábrica de fritas e
Rio Claro- SP
moagem atualmente desativadas)
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
Içara - SC
10 NOVACOLOR Brasil formulação e mistura de compostos
Cordeirópolis- SP Formulação e mistura de compostos
Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
11 ROCHAFORTE Brasil N. S. Socorro- SE
formulação e mistura de compostos
12 TERRACOR Brasil Cordeirópolis- SP Produção de corantes
ICRA PROD. P/
13 Brasil Mogi Guaçu - SP Produção de aditivos, corantes, tintas
CERÂMICA
IND. JACERU
14 Brasil São Paulo - SP Fabricação de fritas cerâmicas
DUREX S.A.
RISI PROD.
15 Brasil Mogi Guaçu - SP Comercialização de matérias-primas, esmaltes, tintas
CERÂMICOS
16 ÔMEGA Brasil Cocal do Sul - SC Comércio de corantes cerâmicos
17 GRANTEC Brasil Estiva Gerbi- SP. s.i.c.
EUROGLAZE IND. Cosmópolis – SP Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
18 Brasil
COM. Paralisada formulação e mistura de compostos
ENDEKA Estiva Gerbi- SP Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
19 Inglaterra
CERAMICA Paralisada formulação e mistura de compostos
FRITTA SL PROD. Cordeirópolis- SP Fabricação de fritas, moagem de fritas e matérias primas,
20 Espanha
P/ CER. Paralisada formulação e mistura de compostos
TA U S P R O D . Sta Gertrudes – SP Fabricação de Fritas, moagem de fritas e matérias primas,
21 s.i.c.
CERÂMICOS Paralisada formulação e mistura de compostos
VIDRES DO BRASIL Sta Gertrudes - SP Fabricação de Fritas, moagem de fritas e matérias primas,
22 s.i.c.
LTDA. Paralisada formulação e mistura de compostos
Obs.: (1) Indústrias relacionadas de acordo como o volume de produção; (2) na coluna Colorifício, as assinaladas
em negrito são as maiores unidades e as em itálico são unidades paralisadas; (3) na coluna “Local”, as assinaladas
em negrito correspondem às unidades em cidades paulistas; (4) sic – sem informação complementar.
Fonte: elaborado pelos autores.

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a decair a partir desse ano, acompanhando a queda na
produção de revestimentos.
Após um longo período de expansão, com as principais
empresas sediando-se no sul do país em função do cluster
pioneiro de revestimentos em Santa Catarina, ocorreu
uma descentralização das operações dos colorifícios, com
instalações em São Paulo e na região Nordeste.
O mercado recessivo nos últimos anos e elevada
capacidade de produção instalada acirraram a competição
no segmento, diminuindo margens de lucro e causando
paralisações ou fechamento de unidades. Por sua vez, as
empresas não têm montado novos fornos de fusão, mas Fonte: elaborado pelos autores a partir de informações da produção
de revestimentos computada em Cabral Junior et al. (2019b).
apenas estruturas de mistura de compostos. Assim, a maior Figura 2 - Produção brasileira da indústria de colorifícios -
parte dos novos empreendimentos que se instalou no polo de período 2010-2017.
Santa Gerturdes só conta com operações de processamento
de misturas, acompanhada de equipe de desenvolvimento
e assistência técnica. É o caso da Esmalglass, Torrecid,
Smaltceram, Colorminas e Novacolor. Ressalta-se que a
Colorminas, que era um das empresas líderes brasileira e
possuía fábricas em Rio Claro (SP) e Nossa Senhora do
Socorro (ES), foi reestruturada e, atualmente, dispõe de
produção de fritas apenas em Santa Catarina.
A produção brasileira dos colorifícios (Figura 2) foi
estimada com base na produção de revestimentos cerâmicos.
Houve crescimento até 2014, com certa estabilização
em 2015 e decréscimo em 2016 e 2017, quando foram
produzidas cerca de 550 mil t de material.2
A segmentação do mercado pode ser observada na
Figura 3, depreendendo-se que os compostos3 e esmaltes
são os principais insumos comercializados.
Considerando que a importação dos insumos fornecidos
pelos colorifícios é insignificante, pode-se inferir que a
indústria brasileira de colorifícios está entre as maiores
do mundo, pois acompanha a produção da indústria de
revestimento, onde o país ocupa o terceiro lugar, atrás
de China e Índia.
A Figura 4 apresenta de forma esquemática o processo
de fabricação da frita cerâmica, que corresponde ao Fonte: elaborado a partir de atualização de Cabral Junior et al. (2010a).
principal produto sintetizado pelos colorifícios. Os demais Figura 3 - Produtos dos colorifícios: segmentação do mercado
insumos fornecidos pelos colorifícios para as indústrias brasileiro.
cerâmicas são constituídos, basicamente, de misturas das
fritas com outras matérias-primas minerais (naturais e
sintéticas) adquiridas de outros fornecedores.
Em termos de configuração, as plantas industriais são
compostas de três segmentos: estrutura de armazenamento
e mistura de matérias-primas minerais, o setor de fusão
(fornos com queima de gás natural enriquecido com
oxigênio) e estrutura de resfriamento e secagem.
Os colorifícios consomem uma grande variedade de
matérias-primas naturais e sintéticas, requerendo, mais
do que os outros segmentos cerâmicos, elevada pureza e
2
A estimativa de produção foi efetuada a partir da produção
de revestimentos, considerando uma relação média de
consumo de 700 g de cobertura (engobe e esmalte) por m2
de placa cerâmica.
3
Compostos referem-se a misturas de frita com matérias-primas Fonte: extraído de apresentação do Instituto de Tecnologia
naturais – feldspato, quartzo e caulim com propriedades Cerámica – ITC, Castellon - Espanha (2006).
rigidamente controladas. Figura 4 - Processo de produção de fritas cerâmicas.

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Tabela 2 - Consumo total estimado de matérias-primas minerais Tabela 3 - Consumo total estimado de matérias-primas minerais
pelos colorifícios no Brasil - ano base 2017. pelos colorifícios no Brasil e Estado de São Paulo – ano base 2017.
Matéria-Prima Toneladas/ano Consumo –
Quartzo 167.000 Toneladas/Ano
Matérias-Primas
Feldspato 128.000 São
Brasil
Argila 33.000 Paulo
Naturais Calcário 27.000 Quartzo 167.000 117.323
Caulim 42.000 Feldspato 128.000 89.924
Zircônio 25.000 Argila Plástica 33.000 23.184
Talco 8.300 Naturais Calcário 27.000 18.968
Boratos 22.000 Caulim 42.000 29.506
Óxido de zinco 11.000 Zircônio 25.000 17.563
Sintéticas Talco 8.300 5.831
Nitratos 2.700
Vidro 70.000 Boratos 22.000 15.456
Outros 14.000 Óxido de zinco 11.000 7.728
Sintéticas
Total 550.000 Nitratos 2.700 1.897
Obs. Outros: carbonatos, minérios de lítio, barrilha, etc. Vidro 70.000 49.177
Fonte: elaborado pelos autores a partir de informações coletadas Outros 14.000 9.835
com especialistas do segmento de colorifícios. Total 550.000 386.392
Obs. Outros: carbonatos, minérios de lítio, barrilha, etc
Fonte: elaborado pelos autores a partir de informações coletadas
controle rígido das especificações químicas. As principais com especialistas do segmento de colorifícios.
substâncias minerais utilizadas são quartzo, feldspatos,
calcários, caulim, argilas, zircônio e talco. Para esses
minerais industriais cerâmicos são requeridos elevada No Polo de Santa Gertrudes, aglomeração produtiva
pureza e controle rígido das especificações químicas. que se consolidou a partir dos anos 1990, observa-se que
Com base na produção anual de 550 mil toneladas de ultimamente só tem se instalado unidades de misturas
insumos e a partir das formulações médias para fritas e (p.ex. Esmalglass e Torrecid), sendo que as plantas com
demais produtos fabricados, é estimado o consumo anual fornos de fusão são relativamente antigas.
de matérias-primas pelos colorifícios, que se encontra A Tabela 3 apresenta o consumo de matérias-primas
descriminado na Tabela 2. pelo segmento em São Paulo, que totalizou cerca de
Entre os segmentos da cadeia produtiva cerâmica, 385.000 toneladas em 2017, correspondendo a 70% do
os colorifícios correspondem a um dos elos com maior total demandado pelos colorifícios no país4.
investimento em inovação, podendo alcançar, entre as Somente as matérias-primas naturais (quartzo,
empresas líderes, valores da ordem ou superiores a 1% do feldspato, argila, calcário, caulim, zircônia e talco)
faturamento das corporações (Cabral Junior et al., 2010a). somam mais de 300.000 toneladas, o que indica que
Além de designers, as empresas contam com engenheiros os colorifícios representam um grande consumidor de
e técnicos de nível médio que prestam serviços de algumas variedades especiais de minerais cerâmicos
assistência técnica e dão assessoria de processo às empresas no estado, caso dos feldspatos de primeira qualidade,
cerâmicas. Em termos do padrão tecnológico, as maiores proveniente de pegmatitos da região Nordeste, argilas
empresas brasileiras equiparam-se às grandes empresas plásticas de queima clara, caulim, além de areia silicosa,
estrangeiras. Seus atualizados processos produtivos seguem esta a única substância mineral abundante no território
as tendências internacionais, hoje ditadas principalmente paulista (areias quartzosas lavradas em grandes minas na
pela Espanha, líder mundial em esmaltação. No entanto, região de Descalvado e Analândia).
os esforços inovativos no país restringem-se, na maior
parte das vezes, a adaptações de produtos e processos às 3 INDÚSTRIA DE SANITÁRIOS
matérias-primas e demais condições locais.
O segmento cerâmico de Louça Sanitária produz
2.2 Cenário Paulista bacias, caixas d’águas, bidês, lavatórios, colunas, mictórios,
O Estado de São Paulo conta atualmente com cinco dos tanques de lavar roupas e acessórios.
maiores colorifícios em operação no país. Dispõe ainda de 4
A relação de 70% de consumo de matérias-primas em
pelos menos outras 10 unidades de processamento, mistura relação à demanda total no país é indicada pela relação da
e comercialização de insumos de acabamento de corpos produção paulista e brasileira de revestimentos cerâmicos,
cerâmicos. A retração econômica que prejudicou o setor respectivamente, de 555 e 790 milhões de m2. Considerou-se
de revestimento refletiu-se fortemente no segmento, com que a produção de insumos dos colorifícios localizados
a paralisação das operações no Estado de outras cinco no estado é responsável pelo suprimento de todo o parque
fábricas de menor porte (ver Tabela 1). cerâmico paulista.

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A indústria de sanitários surgiu no Brasil na década Completando a estrutura de produção, o Rio Grande do
de 1920. Até então, toda louça sanitária era importada. Sul, com uma planta industrial operando, dispõe de cerca
Na ocasião, duas empresas cerâmicas distintas se uniram de 4% da capacidade instalada no país.
para a formação da Companhia Cerâmica Jundiaiense para A produção de louça sanitária em 2017 superou em
a produção de louças sanitárias brancas vitrificadas, e em pouco mais de 1% a de 2016, alcançando 22,8 milhões
1968 foi incorporada à Deca (Grupo Duratex). No final peças, correspondendo a uma ociosidade de 33% do parque
da década de 1940 foi fundada a Cerâmica Colônia, que industrial. Dentre o universo de produtores, a Deca, maior
introduziu a louça sanitária colorida. Em 1958 esta empresa empresa nacional, possui plantas em Jundiaí – SP, São
foi adquirida pela multinacional americana Ideal Standard. Leopoldo – RS (atualmente paralisada), Nova Iguaçu –
Na década de 1970 houve uma grande expansão RJ, Cabo de Santo Agostinho – PE e João Pessoa- PB.
desse segmento, com surgimento de novas unidades O Grupo Roca, de origem espanhola, detém as marcas
industriais. Inicialmente concentrada na região Sudeste, a Roca, Incepa, Logasa e Celite, com fábricas em Jundiaí –
cerâmica de louça sanitária expandiu-se para o Nordeste SP, Serra – ES, Recife – PE e Santa Luzia- MG. As demais
e, mais timidamente, para o Sul, contando em 2018 com fábricas são de grupos ou empresas familiares brasileiras,
17 unidades fabris de porte médio a grande (capacidade exceto a Kolher/Fiori, de capital americano, que reduziu
produtiva em torno de 1 milhão peças/ano ou mais) e temporariamente a produção em 2019.
pelo menos outras sete de porte pequeno (menos de As informações disponíveis, bem como as apreciações
200 mil peças/ano). coletadas com empresas líderes e profissionais do setor,
Diferentemente dos setores de revestimentos e cerâmica indicam que a produção da indústria brasileira deva
vermelha, constituídos por uma estrutura industrial se situar entre as maiores no mundo, nas quais devem
desconcentrada e de capital nacional, o segmento de participar, além do Brasil, países como China, México,
sanitários é concentrado e conta com importante participação Turquia, Bulgária e Rússia. O Brasil detém também um
de capital estrangeiro. Atualmente, as empresas nacionais consumo expressivo de louças sanitárias, que o coloca
são responsáveis por 60% da produção no país, sendo entre os principais mercados mundiais como China, EUA,
que as duas empresas líderes (Roca e Deca) detém mais Índia, Japão, Rússia, Espanha, entre outros.
de 60% do mercado. O mercado interno consome a maior parte da produção
3.1 Estrutura Produtiva e Empresarial – Contexto brasileira e está plenamente atendido com os produtos
Brasileiro convencionais e de maior luxo. Estima-se que o mercado
doméstico absorvia 80% do total produzido na primeira
Em 2016, o Brasil produziu cerca de 22,5 milhões década dos anos 2000. Posteriormente, as exportações foram
de peças de cerâmica sanitária (Anfacer, 2018) entre
bastante afetadas, primeiro pela crise imobiliária nos EUA
bacias com caixa acoplada (39%), cubas (24%), bacia
e, em seguida, pela contaminação da economia mundial,
convencional (18%), lavatório e coluna (10%), tanques (5%)
e mictórios (4%). Se considerarmos que toda a produção
foi comercializada no país, esse montante correspondeu,
ao preço mínimo no varejo, a R$ 2,7 bilhões. As poucas
referências na evolução da produção nacional podem ser
vista na Tabela 4.
As unidades fabris do segmento de sanitários, suas
respectivas localizações, capacidade instalada e produção
estão relacionadas na Tabela 5, com a regionalização da
sua estrutura produtiva ilustrada na Figura 5.
Os estados líderes em capacidade instalada e
produção são Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo.
As regiões Nordeste e Sudeste concentram o parque fabril,
respectivamente com 60% e 36% da capacidade instalada.

Tabela 4 - Produção brasileira de louça sanitária – triênio 2006


– 2008 e 2016.
Produção
Ano
Milhões de Peças
2006 16
2007 18
2008 21
2016 22,5
Fonte: elaborado pelos autores.
2017 22,8
Figura 5 – Regionalização da capacidade instalada e produção
Fonte: Cabral Junior et al. (2010) e Anfacer (2018) da indústria de sanitários – ano base 2017.

20 20/  Cerâmica Industrial, 24 (3) Julho/Setembro, 2019


Tabela 5 - Relação das unidades industriais de louça sanitária, localização e estimativa da capacidade instalada e produção no
Brasil - ano base 2017.
CAPACIDADE
PRODUÇÃO
EMPRESA / ANUAL
UNIDADES LOCALIDADE UF 2017
GRUPO INSTALADA
MIL PEÇAS
MIL PEÇAS
1 DECA Louças - PB João Pessoa PB 2.000 1.500
2 DECA Louças - PE Cabo Sto Agostinho PE 2.800 1.800
DURATEX S.A 3 DECA Louças - RJ Queimados RJ 2.400 800
4 DECA Louças - RS* São Leopoldo RS 1.400 1.200
5 DECA Louças - SP Jundiaí SP 3.000 1.500
6 CELITE - MG Santa Luzia MG 4.200 2.400
7 LOGASA Serra ES 2.200 1.400
ROCA BRASIL
8 CELITE - PE Recife PE 2.200 2.200
9 INCEPA Jundiaí SP 1.430 850
CSC - Cia Sulam de
ETERNIT 10 Caucaia CE 1.500 750
Cerâmica
KOHLER 11 Fiori/ Kohler Andradas MG 1.700 1.700
Cerâmica Ind. de
HERVY 12 Taubaté SP 950 600
Taubaté
Ind. Cerâm. Andradense
ICASA 13 Andradas MG 2.400 2.100
- ICASA
LORENZETTI 14 Lorenzetti Louças Poços de Caldas MG 1.400 700
LUZARTE 15 Luzarte Estrela Caruaru PE 2.400 1500
MARI 16 Mari Louças Sanitárias São Caetano PE 1.200 1.000
ONIX 17 Onix Louças Sanitárias Uberaba MG 120 120
SANTA CLARA 18 Louças Sanit. Sta Clara Araxá MG 150 150
CASA Casa Santamarina
19 Perdizes MG 100 100
SANTAMARINA Louças Sanitárias
ZETA 20 Zeta Itupeva SP 120 120
MGA 21 MGA Itupeva SP 140 140
MELATE (ASTRA) 22 Melate/Japi/ Itupeva SP 100 100
MONDIALLE 23 Mondialle Santa Barbara do Oeste SP 100 100
TOTAL 34.010 22.830
Obs.: * Atualmente paralisada.
Fonte: elaborado pelos autores a partir de informações coletadas em pesquisa de campo e criticadas por especialistas do setor de
louça sanitária.

caindo de um patamar histórico de 20% para menos de qualidade e sofisticação dos produtos, com peças mais
10% da produção nacional (Cabral Junior et. al., 2010b). simples, populares, na faixa de R$ 100,00 ou menos
Essa queda reflete-se até os dias de hoje, sendo que apenas (bacias convencionais, cubas, lavatórios, colunas), até
a empresa Kohler, situada em Poços de Caldas- MG, conjuntos sofisticados, tecnicamente e em seu design,
de capital americano, apresenta um forte percentual de que podem alcançar valores superiores a R$ 2.000,00.
exportação para o próprio grupo nos Estados Unidos. Informações mais detalhadas, com faixas de preço por
No entanto, com a desvalorização do real frente ao dólar, tipos de produtos, são fornecidas na Tabela 6.
alguns especialistas do setor acreditam na retomada das Fato importante verificado nos últimos anos foi
exportações, aproveitando-se da capacidade ociosa do o surgimento de novas empresas dentro desse setor
parque fabril. eminentemente concentrado, a maioria de pequeno
Os preços relativamente baixos das louças sanitárias porte e fabricante de peças populares, no Nordeste,
no mercado internacional, mormente para as peças mais sul de Minas Gerais e na região de Jundiaí- SP. Apesar
comuns, constituem uma forte barreira à entrada de produtos da pequena fatia do mercado interno conquistado
importados. Outro fator que inibe a importação, mas por esses novos empreendimentos, trata-se de uma
limita também a exportação, é o grande volume das peças movimentação empresarial significativa em busca
e o baixo peso das mesmas nos contêineres dos navios. de oportunidades relacionadas às camadas de renda
Quanto à comercialização dos produtos, há uma grande relativamente mais baixas. Contudo, diante da demanda
variação de preços em função dos tipos de louças, e da atual reprimida, detectou-se que parte dessas empresas

Cerâmica Industrial, 24 (3) Julho/Setembro, 2019 21/  21


Tabela 6 - Preços de louças sanitárias comercializadas no mercado brasileiro.
Faixa Participação
Faixa Luxo Faixa Popular
Louça Intermediária Mercado
R$ R$
R$ (Quantidade)
Bacia com Box (caixa acoplada) 350 – 700 >3.000 165 39%
Bacia convencional (com válvula) 250 – 350 >2.000 90 18%
Lavatório e Coluna 150 -300 >500 100 10%
Cuba 200 - 300 >2.000 57 24%
Tanque 280 350 215 5%
Mictório 700 >2.000 195 4%
* Faixa de valores mais frequente praticados no comércio varejista.
Fonte: elaborado pelos autores a partir de informações coletadas em pesquisa de campo e criticadas por especialistas do setor de
louça sanitária.

Tabela 7 - Indústrias de louça sanitária no Estado de São Paulo.


CAPACIDADE
PRODUÇÃO
EMPRESAS E SUAS ANUAL
GRUPO LOCALIDADE 2017
UNIDADES INSTALADA
MIL PEÇAS
MIL PEÇAS
Deca Louças - SP - Fábrica
DECA Jundiaí 3.000 1.500
Louças Jundiaí I
ROCA Incepa Jundiaí 1.430 850
HERVY Cerâmica Industrial de Taubaté Taubaté 950,00 600
Zeta Zeta Itupeva 120,00 120
MGA MGA Itupeva 140,00 140
Melate (Astra) Melate - Japi Itupeva 100,00 100
Mondialle Mondialle Sta. Bárbara do Oeste 100,00 100
TOTAL ESTIMADO 5.840 3.410
Fonte: elaborado pelos autores.

encontra-se em dificuldade e estão buscando parcerias seção baixa. As pequenas fábricas trabalham com fornos
e, até mesmo, a sua venda para as empresas maiores intermitentes, produzindo pouca variedade de peças.
e mais estruturadas. De forma geral, o setor produtivo, liderado pelas
maiores empresas, tem buscado o aprimoramento
3.2 Cenário Paulista
constante, em termos de tecnologia em equipamentos,
Foi no território paulista que se iniciou a implantação processo e produtos. Motivadas pelo Programa Brasileiro
da indústria de louça sanitária no país, onde se consolidou, de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), a
em Jundiaí, o primeiro importante polo produtor nacional, maior parte das empresas possui certificação de produto
com a maior planta industrial da Deca e importante fábrica e processo. Trata-se de um segmento industrial dominado
do Grupo Roca. Adicionalmente, pequenas empresas vêm por tecnologias maduras, sendo que as maiores empresas
se instalando na região, contando-se atualmente com sete brasileiras rivalizam-se com as empresas líderes estrangeiras
plantas industriais no Estado (Tabela 7). (europeias, asiáticas e norte-americanas). A Figura 6 ilustra
A indústria paulista de sanitários operou em 2017 de forma simplificada o processo produtivo de sanitários,
com uma capacidade ociosa de 40%, resultando em uma desde a entrada das matérias-primas até o produto final.
produção de 3,4 milhões de peças, o que representou 15% 3.2.2 Sistema de suprimento mineral
do total de peças fabricadas no país.
A cerâmica de sanitários utiliza na composição da
3.2.1 Processo produtivo
massa matérias-primas plásticas e matérias-primas “duras”,
Em termos de configuração, as plantas industriais não plásticas. De modo geral, as matérias-primas plásticas
de maior porte e mais estruturadas são compostas, são desagregadas em água e peneiradas, e as não plásticas
basicamente, de três segmentos: unidade de beneficiamento são moídas a seco, até atingir a granulometria adequada.
de matérias-primas minerais e composição de massa, Em seguida, esses materiais são misturados em tanques
setor de fundição (conformação das peças cerâmicas), e com agitação mecânica, nos quais se adicionam reagentes
queima realizada em fornos túneis de queima contínua. químicos (por exemplo, silicato de sódio) para corrigir
Predominam instalações com fornos à gás natural (GN) de as propriedades da suspensão. A polpa assim obtida

22 22/  Cerâmica Industrial, 24 (3) Julho/Setembro, 2019


Fonte: modificado de ABCeram (2018).
Figura 6 - Fluxograma do processo de fabricação de sanitários.

Tabela 8 - Tipos e consumo estimado de matérias-primas minerais para massa de louça sanitária na indústria paulista – ano base 2017.
Preço Médio(CIF)
MATÉRIA-PRIMA % Toneladas/Ano
R$/t
Argilas Plásticas (ball clays) 20-30 20.000 350
Caulim 6-8 5.800 180
Leucofilito 12 12.000 80
Rochas Feldspáticas (granitóides e feldspato) 32-40 30.000 50
Quartzo 3 2.400 40
Refugo queimado (pitcher)5 5 3.600
TOTAL 100 74.000 140
Obs.: considerado uma formulação média para louças sanitárias, que pode variar em função da disponibilidade
regional de matérias-primas.
Fonte: elaborado pelos autores.

(barbotina), após peneiramento, é bombeada para o setor de granito, coproduto de mineração de brita no município
de fundição, onde é feita a colagem das peças sanitárias (Mineração Tavares Pinheiro). Este material é a principal
em moldes de gesso ou em moldes de resina, por pressão. matéria-prima feldspática comercializada tanto na forma
As principais matérias-primas minerais usadas bruta, ou concentrada e deferrizada (planta em Itupeva- SP).
compreendem argila, caulim e fundentes. Os fundentes, A Tabela 8 apresenta a composição média das massas,
originalmente compostos por feldspatos puros, foram estimativa do consumo anual de matérias-primas e preços
substituídos por fundentes mais baratos, tais como médios praticados (CIF).
rochas feldspáticas (pegmatito e granito) e leucofilito. Em 2017, o setor de sanitários consumiu cerca
O substituto mais comum na região de Jundiaí é o pedrisco 74.000 toneladas de minerais industriais cerâmicos
(incluindo chamote de caco). Observa-se que o setor operou
5
Uma das principais perdas para as fábricas são as peças com grande ociosidade nesses últimos três anos em um
reprovadas após a queima, sem possibilidades de reparo, cenário de demanda reprimida. A expectativa de retorno
cujos materiais podem ser denominados de refugos da produção em níveis compatíveis com a normalização
queimados, pitcher ou cacos. Essas perdas podem do mercado doméstico e a possibilidade de exportações
variar de 5% a 10% nas plantas paulistas. Há pouco pode elevar substancialmente o patamar de consumo de
mais de uma década, esses materiais constituíam insumos minerais.
resíduos inertes que eram destinados basicamente a Em função do maior valor unitário, as argilas são as
aterros. Hoje, praticamente todo material é cominuídos matérias-primas de maior custo na massa. Tratam-se de
e reincorporado à massa cerâmica. argilas plásticas cauliníticas de queima clara, conhecidas

Cerâmica Industrial, 24 (3) Julho/Setembro, 2019 23/  23


classicamente como ball clays, que exercem funções preço, é o feldspato, o qual é aportado a partir de rochas
específicas no processo de fabricação de louças sanitárias, feldspáticas, geralmente granitoides leucocráticos (baixo
destacadas a seguir: teor de ferro). Comercialmente, o produto mais tradicional
no mercado é o granito Tavares Pinheiro, de Jundiaí-SP,
• capacidade de dispersão e concentração de sólidos que, além de fornecer a fundência exigida nas queima,
na suspensão (barbotina), que permite fluidez, situa-se próximo ao centro consumidor e tem escala de
bombeamento e enchimento dos moldes; produção, pois é um coproduto de uma pedreira de brita.
No entanto, à expansão desta mina encontra-se limitada
• facilidade e rapidez de formação de parede da na fácies leucocrática desse maciço granítico (porção da
barbotina no molde, que confere produtividade rocha com baixa conteúdo de ferro), que é o litotipo mais
ao processo de moldagem das peças; adequado à indústria de louça sanitária. Em decorrência
da limitação futura desse tradicional fornecedor, outras
• aporte de resistência mecânica à peça verde, que
opções de rochas feldspáticas já vêm sendo utilizadas
evita a deformação das peças durante a secagem
ou encontram-se em etapa de estudo, como o granito
e manuseio; e da Pedreira São Jerônimo em Itupeva e o feldspato de
• cor clara de queima. Salto de Pirapora.
A outra matéria-prima que compõe a massa das
Para aportar essas características técnicas, as argilas louças sanitárias é o filito, rocha mista de plasticidade e
tipo ball clay devem possuir um conjunto de propriedades fundência, introduzida ainda no início do desenvolvimento
específicas, tais como alta plasticidade, certo conteúdo de dessa indústria no Brasil, em meados do século passado.
matéria orgânica, distribuição granulométrica específica, O filito substituiu parcialmente o feldspato, barateando a
capacidade de troca catiônica especial, baixo conteúdo massa, sobretudo no processo de moagem. Nas indústrias
de óxidos cromóforos, como Fe2O3, e baixo conteúdo paulistas, o filito contribui com 12% da massa e é
de sais solúveis. proveniente de Itapeva-SP e de Minas Gerais (região de
Em razão de suas propriedades especiais, as ocorrências Arcos e Ouro Preto).
dessas argilas são escassas no país, sendo que aquelas Para a produção dos esmaltes ou vidrados utilizam-se
mais adequadas ao processo de fabricação de louças matérias-primas naturais (feldspato, quartzo, caulim,
sanitárias localizam-se em São Simão- SP e arredores de calcita) e sintéticas (bórax, ácido bórico, carbonato de
Recife- PE, ambas com dificuldades de produção6. Para sódio, nitrato de sódio, óxidos de chumbo, óxido de zinco,
minimizar o consumo desses minérios mais nobres e caros, entre outras). Os esmaltes são aplicados à superfície dos
argilas provenientes de outros depósitos são agregadas corpos cerâmicos e após queima, formam uma camada
adicionalmente nas massas. Dentre essas argilas “de apoio”, vítrea, delgada e contínua. As finalidades desses vidrados
destacam-se jazidas no Paraná e Minas Gerais. Em razão são aprimorar a estética, tornar o produto impermeável e
da escassez e custo de transporte, essas argilas também melhorar a resistência mecânica. Essas matérias-primas
possuem valores relativamente elevados. são beneficiadas ou processadas artificialmente com alto
O caulim constitui a segunda matéria-prima de maior controle de qualidade, sendo fornecidas por colorifícios,
valor unitário. Geralmente após a lavra, passam por processo empresas químicas ou moageiras, essas últimas apenas
de beneficiamento a úmido, com separação da areia, filtro no caso da cominuição de substâncias naturais.
prensagem e secagem, que aumenta os custos de produção De forma geral, constata-se que há deficiências em
e valor de aquisição para os fabricantes. No entanto, essa termos de qualidade e custo no abastecimento de algumas
substância tem uso percentual menor na composição da matérias-primas, o que pode seguir interferindo na
massa, não influenciando tanto no custo final. O caulim competitividade dessa indústria. Com o reaquecimento
geralmente está associado a corpos de rochas pegmatíticas, da economia, as adversidades no suprimento mineral
constituindo depósitos de pequeno porte, como é o caso tendem a se agravar pela escassez de matérias-primas,
das ocorrências na região do Embu Guaçu (SP). Outros sobretudo no caso de argilas plásticas de queima clara.
fornecedores são de Minas Gerais e Paraná.
Tendo em vista o elevado valor dos componentes 4 INDÚSTRIA DE ISOLADORES
plásticos, tem havido interesse de produtores especializados ELÉTRICOS
internacionais em se estabelecer no mercado doméstico, como
os grupos Sibelco e Imerys, produzindo misturas balanceadas A cerâmica técnica tradicional engloba porcelana elétrica
de argilas e caulins em centrais de produção de massa.7 (isoladores e peças para componentes eletroeletrônicos) e
A matéria-prima que tem maior peso percentual na porcelana técnica.8 Aqui são tratados apenas os isoladores,
massa e, portanto, grande influência na formação de que se constituem um dos principais produtos da cerâmica
técnica tradicional.
6
Entre os fatores que dificultam a produção de argilas
plásticas destaca-se: no caso paulista, as poucas jazidas
conhecidas são de pequeno porte, com reservas restritas
8
O segmento de porcelana técnica compreende uma
e de distribuição errática e, em Pernambuco, os principais série de produtos aplicados em situações sujeitas a
depósitos estão situados em áreas com restrições ambientais amplas variações de temperatura, obtidos por diferentes
e alta valorização imobiliária. matérias-primas e processos, para finalidades diversas,
7
O Grupo Imerys conta com uma planta em Rio Claro (SP) tais como: química, eletroeletrônica, térmica, mecânica,
e a Sibelco com uma unidade desativada em Ipojuca (PE). óptica, magnética e nuclear.

24 24/  Cerâmica Industrial, 24 (3) Julho/Setembro, 2019


Os isoladores elétricos são dispositivos utilizados a adição de ferragens, quando necessário, e testados
para garantir o isolamento de fios ou cabos energizados, mecânica e eletricamente. A Figura 7 apresenta de forma
apresentando grande capacidade de se opor à passagem mais detalhada as etapas e variantes do processo produtivo.
de corrente elétrica (alta resistividade), além de elevada
4.3 Sistema de Suprimento Mineral
resistência mecânica.
Os isoladores elétricos são constituídos de matérias-primas
4.1 Estrutura Produtiva e Empresarial
plásticas e não plásticas, conformadas por processos úmidos
A primeira indústria no Brasil teve origem a partir de e plásticos. Para atender as especificações técnicas, sobretudo
uma fábrica de porcelanas decorativas para uso doméstico as propriedades elétricas e mecânicas, a composição da
na cidade de Pedreira (SP). Em 1943, com as dificuldades massa deve ter baixo teor de Fe2O3, proporcionar alta
geradas ao comércio internacional durante a II Guerra resistência mecânica das peças, a seco e queimadas,
Mundial e com o foco na substituição de importações, além de controlar outros parâmetros importantes, como
iniciou-se, pela Cerâmica Santana, a produção de isoladores retração de secagem e queima, deformações piroplásticas,
elétricos no país. Outras empresas foram surgindo nas afora os problemas comuns de secagem e queima (trincas,
décadas subsequentes, fomentadas pela grande expansão empenamentos, etc.).
do parque energético nacional, com a construção de Os produtos são de composição de porcelana triaxial
grandes hidroelétricas. (quartzo, feldspato e caulinita), incluindo ainda produtos
Desde então, a produção de isoladores concentrou-se inertes para controle de retração e aumentar a resistência
nessa cidade do interior paulista, que conta atualmente mecânica. Para a elevação da resistência mecânica, o
com três empresas: Cerâmica Santa Terezinha S/A, Electro quartzo pode ser substituído, total ou parcialmente, por
Vidro S/A (antiga Cerâmica Santana – PCC Insulators) e sínter de argila aluminosa ou alumina. As principais
Cerâmica São José Ltda. substâncias minerais utilizadas são argila plástica, caulim,
Os dados disponíveis sobre a produção no país feldspato, talco e quartzo.
datam da década passada. Como a estrutura do parque Para utilização em isoladores de baixa tensão
produtivo mantêm-se praticamente as mesmas, estima-se empregam-se, geralmente, composições de porcelanas
que a produção anual de isoladores elétricos situa-se ricas em quartzo (silicosas), com a quantidade de argila
entre 25.000 a 35.000 toneladas de cerâmica queimada. caulinítica e caulim variando entre 40% e 60%, feldspato
4.2 Processo Produtivo entre 20% e 35% e quartzo entre 20% e 30%.
As porcelanas que incorporam alumina, por possuírem
A produção das peças inicia-se com a mistura das propriedades dielétricas adequadas e propriedades
matérias-primas, seguida de processo de moagem com
água em moinho de bola, promovendo-se a cominuição e a
homogeneização da massa. A partir de então, os produtos
podem ser conformados a seco ou por massa plástica.
A massa plástica é obtida por meio da passagem da
barbotina (suspensão proveniente do moinho de bolas)
por processo de filtro-prensagem. Em seguida, a mistura
passa por uma extrusora com câmara de vácuo, para
compactação em forma cilíndrica, Para a conformação
das peças são utilizadas duas rotas, por prensagem ou
tornearia. Pelo processo de prensagem, os cilindros são
segmentados em tamanhos adequados e são prensados
no estado plástico. Na rota por tornearia, os cilindros
(inteiros ou segmentados) são submetidos a um estágio
mais rigoroso de secagem, de forma a garantir uma
elevada resistência mecânica, permitindo o torneamento
de peças até grandes dimensões, o que depende, dentre
outros componentes da massa, de uma argila qualificada.
No caso de prensagem isostática (conformação a
seco), a barbotina é seca em spray dryer e depositada em
moldes em câmeras de alta pressão. Esse método vem
sendo utilizado mais recentemente em algumas indústrias.
Após a conformação, a secagem é concluída, sendo
que as peças mais úmidas ainda passam por estufa.
Em seguida, recebem uma camada de esmalte com a
finalidade de proteção e impermeabilização da superfície
e potencialização de suas propriedades mecânicas e Fonte: São Paulo, 1992, modificado.
elétricas. Os produtos são sinterizados em temperaturas Figura 7 - Fluxograma típico do processo produtivo de isoladores
entre 1.200 ºC e 1.400 ºC, sendo então finalizados com elétricos.

Cerâmica Industrial, 24 (3) Julho/Setembro, 2019 25/  25


Tabela 9 - Consumo de matérias-primas minerais pela indústria REFERÊNCIAS
de isoladores elétricos no Estado de São Paulo – ano base 2017.
ABCERAM – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CERÂMICA
Toneladas/ – Anuário Brasileiro de Cerâmica, 2001.
MATÉRIA-PRIMA %
Ano
ABCERAM – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CERÂMICA.
Argilas Plásticas 25 7.500
Informações gerais na homepage. Disponível em: <http://
Caulim 20 6.000 www.abceram.org.br>. Acesso em: 03 de abr. 2018.
Feldspato 30 9.000
ANFACER – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES
Quartzo 20 6.000 DE CERÂMICA DE REVESTIMENTOS, LOUÇAS
Talco 5 1.500 SANITÁRIAS E CONGÊNERES. Informações gerais na
TOTAL 100 30.000 homepage. Disponível em: <http://www.abceram.org.br>.
Fonte: elaborado pelos autores. Acesso em: 05 de abr. 2018.
BOSCHI, A. O. Minerais Cerâmicos. Rio de Janeiro: CETEM.
mecânicas superiores às das porcelanas que utilizam Palestra apresentada na Oficina – Minerais Industriais para
quartzo, são utilizadas especialmente na fabricação de elaboração da publicação Tendências Tecnológicas Brasil
isoladores elétricos de alta tensão. 2015, 2005.
A presença de impurezas, a temperatura, o tempo e CABRAL JUNIOR, M.; BOSCHI, A.; FERREIRA, A. L. B.;
a atmosfera de sinterização influenciam fortemente as COELHO, J. M. A indústria de colorifícios no Brasil: situação
reações químicas e o desenvolvimento microestrutural da atual e perspectivas futuras. Cerâmica Industrial, v. 15,
porcelana. Dessa maneira, é necessário o entendimento da p. 13-18, 2010a.
relação entre essas variáveis para desenvolver produtos de CABRAL JUNIOR, M.; TANNO, L. C.; MOTTA, J. F. M.; RUIZ,
baixo custo e com propriedades mecânicas e dielétricas M. S.; COELHO, J. M. Panorama da indústria cerâmica de
adequadas às suas aplicações. Nesse caso, como um dos sanitários no Brasil. Cerâmica Industrial (Impresso), v. 15,
principais componentes plásticos das massas, destaca-se p. 12-18, 2010b.
a elevada qualidade das argilas provenientes da região de CABRAL JUNIOR, M.; AZEVEDO, P. B. M. de; CUCHIERATO,
Oeiras no Piauí, tradicionalmente usadas pelas indústrias G.; MOTTA, J. F. M. Estudo Estratégico da Cadeia Produtiva
de isoladores. da Indústria Cerâmica no Estado de São Paulo: Parte I –
A Tabela 9 apresenta o consumo de matérias-primas Introdução e a Indústria de Cerâmica Vermelha. Cerâmica
naturais pelas indústrias de isoladores elétricos. Industrial, v. 24, n. 1, p. 20 – 34, 2019a.
Em função das escassas informações disponíveis sobre
CABRAL JUNIOR, M.; AZEVEDO, P. B. M. de; CUCHIERATO,
a produção de isoladores e a variação na composição de
G.; MOTTA, J. F. M. Estudo Estratégico da Cadeia Produtiva
suas massas, essa estimativa deve ser vista com reservas,
da Indústria Cerâmica no Estado de São Paulo: Parte II –
com os valores indicados sendo entendidos como ordens de
Indústria de Revestimentos. Cerâmica Industrial, v. 24,
grandeza. A quantidade total de matérias-primas consumida
n. 2, p. 13 – 21, 2019b.
anualmente deve alcançar cerca de 30.000 toneladas.
COELHO, J. M.; BOSCHI, A.O. Perfil de colorifícios. Produto
AGRADECIMENTOS 43. Cadeia de Colorifícios. RT 70. MME- SGM/ BANCO
MUNDIAL. Projeto Estal. Brasília 2009.
Os autores expressam seus agradecimentos ao Instituto
IPT - INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo e a
ESTADO DE SÃO PAULO. Estudo estratégico da cadeia
Subsecretaria de Mineração da Secretaria de Energia e
produtiva da indústria cerâmica no Estado de São Paulo
Mineração - SEM do Estado de São Paulo (atualmente
– Fase 1. São Paulo: IPT, 2018. (Rel. n. 153900-205).
integrada às funções da Secretaria Estadual de Infraestrutura
e Meio Ambiente – SIMA) pelo suporte e financiamento ITC – INSTITUTO DE TECNOLOGIA CERÂMICA, Castellon
do projeto “Estudo estratégico da cadeia produtiva da - Espanha (2006).
indústria cerâmica no Estado de São Paulo – Fase 1”, que SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Fazenda. (1992). Cerâmica:
gerou os resultados apresentados neste artigo. manual de conhecimentos. São Paulo. 57 p.

26 26/  Cerâmica Industrial, 24 (3) Julho/Setembro, 2019

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