Louça Sanitária
Louça Sanitária
Louça Sanitária
www.ceramicaindustrial.org.br
https://doi.org/10.4322/cerind.2019.014
a
Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental - LABGEO/ Centro de Tecnologias Geoambientais / Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT
b
Coordenadoria de Planejamento e Negócios / Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT
c
GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia, São Paulo – SP, Brasil
d
Consultor – Bolsista Fapesp, São Paulo – SP, Brasil
*e-mail: [email protected]
RESUMO
Este trabalho deriva de estudo de maior abrangência dirigido à elaboração de um diagnóstico técnico-econômico da
indústria cerâmica no estado de São Paulo, com vistas a subsidiar ações de governo que garantam o abastecimento
sustentável de matérias-primas minerais a este setor da economia. Entre as cerâmicas tradicionais foram
priorizados os segmentos industriais de maior relevância econômica no Estado e com consumo significativo
de bens minerais, a saber: Cerâmica Vermelha, Revestimentos, Louça Sanitária, Louça e Porcelana – Mesa,
Utilitários e Decoração, Colorifícios (Fritas, Esmaltes e Corantes) e Isoladores Elétricos (Cerâmica Técnica).
Nesse contexto, as avaliações desses segmentos e a análise estratégica efetuadas buscaram estabelecer um
arcabouço de informações, bem como sugestões de iniciativas para o fortalecimento do setor produtivo, que
poderão auxiliar a formulação de políticas para modernização e aprimoramento do sistema de suprimento
mineral ao parque cerâmico paulista.
Os principais resultados desse estudo estão sendo apresentados em uma série de quatro artigos. Os dois
primeiros, já publicados, abordaram a contextualização e fatos motivadores do estudo, breve histórico e
características gerais da indústria cerâmica no Estado, sendo tratados os segmentos de cerâmica vermelha
e revestimentos. Neste terceiro artigo são analisadas as indústrias de colorifícios, sanitários e de isoladores
elétricos. O segmento de louça e porcelana - mesa, utilitários e decoração, e a análise estratégica da cadeia
produtiva mínero-cerâmica farão parte do quarto artigo.
Palavras-Chave: cerâmica; matérias-primas, indústria; mineração; tecnologia
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho decorre de estudo desenvolvido pelo Contido nesse escopo geral, o desenvolvimento do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São estudo contemplou as seguintes metas:
Paulo (IPT, 2018) e financiado pela Subsecretaria de
a) caracterização qualitativa da estrutura de mercado
Mineração da Secretaria de Energia e Mineração - SEM
e empresarial do elo central da cadeia produtiva
do Estado de São Paulo1, que envolveu a elaboração de cerâmica, isto é, do segmento de manufatura
um diagnóstico técnico-econômico da indústria cerâmica cerâmica, abrangendo os principais segmentos de
no Estado de São Paulo, com a finalidade de coletar manufatura cerâmica intensivos em consumo de
subsídios que permitam orientar ações de governo que minerais industriais, a saber: Cerâmica Vermelha,
garantam o abastecimento sustentável de matérias-primas Revestimentos, Louça Sanitária, Louça e Porcelana
minerais necessárias a este setor da economia, a curto, de Mesa e Decorativa, Isoladores Elétricos e
médio e longo prazo. Colorifícios (fritas, esmaltes e corantes);
1
Com a reforma da estrutura administrativa do governo paulista b) projeções de consumo de bens minerais: estimativa
em 2019, as atribuições da Subsecretaria de Mineração foram de crescimento do parque cerâmico e da demanda
integradas a Coordenadoria de Petróleo, Gás e Mineração derivada de insumos minerais, circunstanciada em
dentro da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio três cenários de crescimento (pessimista, neutro
Ambiente- SIMA. e otimista); e
caindo de um patamar histórico de 20% para menos de qualidade e sofisticação dos produtos, com peças mais
10% da produção nacional (Cabral Junior et. al., 2010b). simples, populares, na faixa de R$ 100,00 ou menos
Essa queda reflete-se até os dias de hoje, sendo que apenas (bacias convencionais, cubas, lavatórios, colunas), até
a empresa Kohler, situada em Poços de Caldas- MG, conjuntos sofisticados, tecnicamente e em seu design,
de capital americano, apresenta um forte percentual de que podem alcançar valores superiores a R$ 2.000,00.
exportação para o próprio grupo nos Estados Unidos. Informações mais detalhadas, com faixas de preço por
No entanto, com a desvalorização do real frente ao dólar, tipos de produtos, são fornecidas na Tabela 6.
alguns especialistas do setor acreditam na retomada das Fato importante verificado nos últimos anos foi
exportações, aproveitando-se da capacidade ociosa do o surgimento de novas empresas dentro desse setor
parque fabril. eminentemente concentrado, a maioria de pequeno
Os preços relativamente baixos das louças sanitárias porte e fabricante de peças populares, no Nordeste,
no mercado internacional, mormente para as peças mais sul de Minas Gerais e na região de Jundiaí- SP. Apesar
comuns, constituem uma forte barreira à entrada de produtos da pequena fatia do mercado interno conquistado
importados. Outro fator que inibe a importação, mas por esses novos empreendimentos, trata-se de uma
limita também a exportação, é o grande volume das peças movimentação empresarial significativa em busca
e o baixo peso das mesmas nos contêineres dos navios. de oportunidades relacionadas às camadas de renda
Quanto à comercialização dos produtos, há uma grande relativamente mais baixas. Contudo, diante da demanda
variação de preços em função dos tipos de louças, e da atual reprimida, detectou-se que parte dessas empresas
encontra-se em dificuldade e estão buscando parcerias seção baixa. As pequenas fábricas trabalham com fornos
e, até mesmo, a sua venda para as empresas maiores intermitentes, produzindo pouca variedade de peças.
e mais estruturadas. De forma geral, o setor produtivo, liderado pelas
maiores empresas, tem buscado o aprimoramento
3.2 Cenário Paulista
constante, em termos de tecnologia em equipamentos,
Foi no território paulista que se iniciou a implantação processo e produtos. Motivadas pelo Programa Brasileiro
da indústria de louça sanitária no país, onde se consolidou, de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), a
em Jundiaí, o primeiro importante polo produtor nacional, maior parte das empresas possui certificação de produto
com a maior planta industrial da Deca e importante fábrica e processo. Trata-se de um segmento industrial dominado
do Grupo Roca. Adicionalmente, pequenas empresas vêm por tecnologias maduras, sendo que as maiores empresas
se instalando na região, contando-se atualmente com sete brasileiras rivalizam-se com as empresas líderes estrangeiras
plantas industriais no Estado (Tabela 7). (europeias, asiáticas e norte-americanas). A Figura 6 ilustra
A indústria paulista de sanitários operou em 2017 de forma simplificada o processo produtivo de sanitários,
com uma capacidade ociosa de 40%, resultando em uma desde a entrada das matérias-primas até o produto final.
produção de 3,4 milhões de peças, o que representou 15% 3.2.2 Sistema de suprimento mineral
do total de peças fabricadas no país.
A cerâmica de sanitários utiliza na composição da
3.2.1 Processo produtivo
massa matérias-primas plásticas e matérias-primas “duras”,
Em termos de configuração, as plantas industriais não plásticas. De modo geral, as matérias-primas plásticas
de maior porte e mais estruturadas são compostas, são desagregadas em água e peneiradas, e as não plásticas
basicamente, de três segmentos: unidade de beneficiamento são moídas a seco, até atingir a granulometria adequada.
de matérias-primas minerais e composição de massa, Em seguida, esses materiais são misturados em tanques
setor de fundição (conformação das peças cerâmicas), e com agitação mecânica, nos quais se adicionam reagentes
queima realizada em fornos túneis de queima contínua. químicos (por exemplo, silicato de sódio) para corrigir
Predominam instalações com fornos à gás natural (GN) de as propriedades da suspensão. A polpa assim obtida
Tabela 8 - Tipos e consumo estimado de matérias-primas minerais para massa de louça sanitária na indústria paulista – ano base 2017.
Preço Médio(CIF)
MATÉRIA-PRIMA % Toneladas/Ano
R$/t
Argilas Plásticas (ball clays) 20-30 20.000 350
Caulim 6-8 5.800 180
Leucofilito 12 12.000 80
Rochas Feldspáticas (granitóides e feldspato) 32-40 30.000 50
Quartzo 3 2.400 40
Refugo queimado (pitcher)5 5 3.600
TOTAL 100 74.000 140
Obs.: considerado uma formulação média para louças sanitárias, que pode variar em função da disponibilidade
regional de matérias-primas.
Fonte: elaborado pelos autores.
(barbotina), após peneiramento, é bombeada para o setor de granito, coproduto de mineração de brita no município
de fundição, onde é feita a colagem das peças sanitárias (Mineração Tavares Pinheiro). Este material é a principal
em moldes de gesso ou em moldes de resina, por pressão. matéria-prima feldspática comercializada tanto na forma
As principais matérias-primas minerais usadas bruta, ou concentrada e deferrizada (planta em Itupeva- SP).
compreendem argila, caulim e fundentes. Os fundentes, A Tabela 8 apresenta a composição média das massas,
originalmente compostos por feldspatos puros, foram estimativa do consumo anual de matérias-primas e preços
substituídos por fundentes mais baratos, tais como médios praticados (CIF).
rochas feldspáticas (pegmatito e granito) e leucofilito. Em 2017, o setor de sanitários consumiu cerca
O substituto mais comum na região de Jundiaí é o pedrisco 74.000 toneladas de minerais industriais cerâmicos
(incluindo chamote de caco). Observa-se que o setor operou
5
Uma das principais perdas para as fábricas são as peças com grande ociosidade nesses últimos três anos em um
reprovadas após a queima, sem possibilidades de reparo, cenário de demanda reprimida. A expectativa de retorno
cujos materiais podem ser denominados de refugos da produção em níveis compatíveis com a normalização
queimados, pitcher ou cacos. Essas perdas podem do mercado doméstico e a possibilidade de exportações
variar de 5% a 10% nas plantas paulistas. Há pouco pode elevar substancialmente o patamar de consumo de
mais de uma década, esses materiais constituíam insumos minerais.
resíduos inertes que eram destinados basicamente a Em função do maior valor unitário, as argilas são as
aterros. Hoje, praticamente todo material é cominuídos matérias-primas de maior custo na massa. Tratam-se de
e reincorporado à massa cerâmica. argilas plásticas cauliníticas de queima clara, conhecidas