E-Book v.3 CINPSUS Missias-Moreira, Festas e Prudêncio 2021

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RAMON MISSIAS-MOREIRA

CLARINDA FESTAS

CRISTINA PRUDÊNCIO

(Editors)

INTERNATIONAL HANDBOOK FOR THE ADVANCEMENT OF PUBLIC


HEALTH POLICIES – EDUCATION AND PROFESSIONAL TRAINING
IN HEALTH

Volume 3

Porto

PUBLICAÇÕES ESS

2021
Copyright © PUBLICAÇÕES ESS
Capa: Ramon Missias-Moreira
Arte e diagramação: Ramon Missias-Moreira
Revisão: Os autores

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


CATALOGAÇÃO NA FONTE

Missias-Moreira, Ramon.

International Handbook for the Advancement of Public Health Policies – Education and
Professional Training in Health - volume 3 / Ramon Missias-Moreira, Clarinda Festas,
Cristina Prudêncio (organizadores) – Porto, Portugal: Publicações ESS, 2021.

540 p.

Bibliografia.
ISBN 978-989- 9045-20-0

1. Saúde Pública 2. Políticas de Saúde 3. Educação Interprofissional 4. Formação em


Saúde 5. Saúde Coletiva I. Missias-Moreira, Ramon. org. II. Festas, Clarinda. org. III.
Prudêncio, Cristina. org IV. Instituto Politécnico do Porto V. Série. CDD 614.0981

Índice para catálogo sistemático


1. Saúde pública 614.0981

Permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e autoria,
proibindo qualquer uso para fins comerciais.
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Conselho Editorial

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Dra. Susana Aznar Laín (UCLM, Espanha)
Dra. Teresa Denis (ESTeSL, Portugal)
Dr. Vicente Aleixandre Benites-Zapata (USIL, Peru)
Dr. William Alves de Oliveira (UIC, México)
EDITORIAL

É um prazer peculiar redobrado escrever este editorial. Realizar um congresso internacional


é sempre um momento importante e de consolidação na vida acadêmica de um Grupo de
Pesquisa. Sendo a primeira edição, e em formato totalmente remoto, é um marco histórico,
simbólico e científico. O Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e
Educação Física (GIPEEF), vinculado à Universidade Federal do Vale do São Francisco
(UNIVASF), e acreditado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), tem o forte compromisso com a produção de conhecimentos para o
desenvolvimento da sociedade, divulgação da ciência e fortalecimento de ações humanizadas.
A tônica cooperativa de seu trabalho e sua atuante relação com pesquisadores(as), grupos de
investigação, instituições de ensino superior, empresas do setor econômico, desportivo,
cultural e social, permite-lhe um terreno privilegiado para atingir aquele desiderato. Por isso,
aproveito para destacar e agradecer a colaboração de universidades e redes de pesquisas
brasileiras e estrangeiras na organização do CINPSUS: Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, Faculdade de Medicina e Faculdade de Desporto da Universidade do Porto,
Universidade Estadual de Feira de Santana, Instituto Politécnico do Porto e Politécnico de
Leiria, REDSACSIC, Universidade Estadual do Paraná, Universidade Católica de Petrópolis
e Universidad de Castilla - La Mancha.
É dessa maneira, com satisfação natural, que o GIPEEF constata a destemida e significativa
adesão à chamada de trabalhos do CINPSUS que esteve dedicado à investigação e à inovação
no âmbito da Saúde Pública e da Saúde Coletiva. Com efeito, se consagrou como um
momento máximo de encontro entre os mais de 3.100 inscritos, das 5 regiões do Brasil e de
mais 14 nacionalidades distintas - Argentina, Bolívia, Colômbia, Cuba, Espanha, França,
Guatemala, Honduras, Itália, México, Moçambique, Peru, Portugal e República Democrática
do Congo. Recebeu mais de 1.800 trabalhos em espanhol, inglês e português, distribuídos em
seus cinco eixos temáticos: I. Política, Planejamento e Gestão em Saúde; II. Atividade Física,
Condições de Saúde e Qualidade de Vida; III. Saberes e Práticas Agroecológicas em Saúde;
IV. Educação e Formação Profissional em Saúde; V. Aspectos Psicossociais e Políticas de
Saúde Mental. Após avaliação pelos pareceristas Ad Hoc da Comissão Científica,
aproximadamente 410 trabalhos foram selecionados, aprovados e apresentados. Destes, 34
trabalhos estão publicados como capítulos nesta edição especial, volume 3, com foco nas
questões relacionadas à Educação e Formação Profissional em Saúde. Para além dessas
pesquisas apresentadas, menciona-se especialmente, que foram oferecidas mesas redondas
com temas atuais e que refletiram sobre problemas de saúde que afetam o nosso cotidiano,
sob a experiência e prisma de pesquisadores(as) com renome internacional no campo das
Políticas Públicas de Saúde do Brasil, Espanha, Itália, México e Portugal.
Destarte, o presente e-book não é apenas uma destacada contribuição de qualidade aos estudos
e as práticas em saúde, é um consistente exemplo de expansão das temáticas e das instituições
de pesquisa, com enfoque específico para essa área. É encorajador ver tantos(as)
pesquisadores(as) trabalhando ativamente para melhorar as condições de saúde e qualidade
de vida de nossa população. Numa altura em que toda a humanidade tem sido ameaçada por
um vírus, que gerou a pandemia COVID-19, esperamos que o CINPSUS tenha se constituído
como uma lufada de ar fresco no panorama de construção de uma saúde pública universal e
da investigação nacional e internacional. Também parabenizo a todos(as) que apoiaram e
ajudaram na realização desse congresso, tornando-o possível. Esse evento não seria factível
sem a união e esforço de cada um(a) que contribuiu para o sucesso deste grande Congresso.

Prof. Doutor Ramon Missias-Moreira


Presidente do CINPSUS
Coordenador do GIPEEF/UNIVASF/CNPq
SUMÁRIO

PREFÁCIO – Prof. Doutor Mauro Virgílio Gomes de Barros .................................13

SEÇÃO I – O GRUPO DE PESQUISA INTERDISCIPLINAR SOBRE SAÚDE,


EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA – GIPEEF/UNIVASF/CNPq

CAPÍTULO 1 - IMPACTO CIENTÍFICO E SOCIAL DO GRUPO DE PESQUISA


INTERDISCIPLINAR SOBRE SAÚDE, EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA
(GIPEEF/UNIVASF) NO CONTEXTO DA PANDEMIA COVID-19 .........................16
Ramon Missias-Moreira, Bruno Cezar Silva, Daisy de Brito Rezende, Ivete Batista da
Silva Almeida, Julio Cesar Cruz Collares-da-Rocha, Luciene Alves Miguez Naiff, Maria
Célia da Silva Lima, Márcia Bento Moreira, Regiane Cristina de Souza Fukui, Vera Lúcia
Chalegre de Freitas

CAPÍTULO 2 - CONTRIBUIÇÕES DO GIPEEF NA EDUCAÇÃO


INTERPROFISSIONAL: A CONSTRUÇÃO DE UM CONGRESSO
INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS DE
SAÚDE ............................................................................................................................30
Ramon Missias-Moreira, Paula Clara Santos, Jorge Mota, Alejandra Rodriguez Torres,
Denise Maria Vaz Romano França, Erasmo Militão Nobre Leite, Maria Lúcia Silva
Servo, Olga Sousa Valentim, Paulo Santos, Susana Aznar-Laín

CAPÍTULO 3 - REDES E PARCERIAS ACADÊMICAS NA EDUCAÇÃO E


FORMAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O CICLO
INTERNACIONAL DE PALESTRAS DO GIPEEF/UNIVASF ...................................49
Ramon Missias-Moreira, Alice Gabriella Mororó Marques, Crismilla dos Santos Silva,
Gilmar Herculano da Silva, Igor Humberto Ferreira Amorim, Lenira Ypsilon, Maria
Virgínia Pires Miranda, Thaysa Trajano Barreto, Vladimir de Sales Nunes, Wyara
Espírito Santo da Silva

SEÇÃO II – EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE

CAPÍTULO 4 - ESTRATÉGIAS E ABORDAGENS NA PREVENÇÃO DE


DOENÇAS BUCAIS E PROMOÇÃO DA SAÚDE DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
VISUAL ..........................................................................................................................65
Kelly Fernanda Molena, Alana Emanuele Araujo, Alexandra Mussolino de Queiroz

CAPÍTULO 5 - INTERFACE ENTRE LAZER E SAÚDE: COMPREENSÃO DOS


PROFISSIONAIS DOS ESTUDOS DO LAZER E DA SAÚDE A RESPEITO DESSA
RELAÇÃO ......................................................................................................................82
Marcos Gonçalves Maciel, Gustavo Fonseca Halley, Ricardo Ricci Uvinha
CAPÍTULO 6 - FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE: A SIMULAÇÃO COMO
ESTRATÉGIA DE APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO .............................................97
Luzmarina Aparecida Doretto Braccialli, Magali Aparecida Alves de Moraes, Silvia
Franco da Rocha Tonhom

CAPÍTULO 7 - PERCEPÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE SOBRE


PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ..................................................................................111
Beatriz Menezes de Jesus, Adrielle Andrade Passos, Jucimara Dultra de Souza, Stephane
Victória Santos Prata, Franciely Oliveira de Andrade Santos, Lavinia Teixeira-Machado

CAPÍTULO 8 - COORDENAÇÃO DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM


TERAPIA INTENSIVA NA PANDEMIA DA COVID-19: UMA REFLEXÃO ........124
Ana Maria Silva Camargo, Helena Megumi Sonobe

CAPÍTULO 9 - EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: CONCEITOS E AÇÕES


PARA O NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA, ESPÍRITO SANTO, BRASIL .............137
Wellen Góbi Botacin, Giulia Souza Costa, Ana Rosa Murad Szpilman, Elzimar
Evangelista Peixoto Pinto, Lorena Ferreira, Carolina Dutra Degli Esposti

CAPÍTULO 10 - FORMAÇÃO ACADÊMICA VOLTADA AO SUS: RELATO DE


EXPERIÊNCIA DA LIGA ACADÊMICA INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE
COLETIVA ...................................................................................................................155
Alice Gabriella Mororó Marques, Mariane Valesca de Menezes Lacerda, Jermyson
Guimarães de Souza, Iris Caroline Nunes Santana, Laisa dos Santos Silva, Rafaela Santos
de Melo

CAPÍTULO 11 - TREINAMENTO POR SIMULAÇÃO DE UNIVERSITÁRIOS NO


TRATAMENTO DE QUEIMADURAS: REVISÃO INTEGRATIVA .......................170
Darlene Moreira Gomes, Alice Silva Costa Rodrigues, Sueli Leiko Takamatsu Goyata

CAPÍTULO 12 - CONTRIBUIÇÃO DE UM NASF-AB PARA A INTEGRALIDADE


DO CUIDADO NA ESTRATÉGIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA DE CAMAÇARI-BA
EM UM PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA
FAMÍLIA ......................................................................................................................184
Rodrigo Yuri Dantas Fernandes, Rogério Silva dos Santos, Adriana da Cruz Purificação,
Carithauanda de Macedo Santos, Vitória Virgínia Sousa dos Santos

CAPÍTULO 13 - FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA/PARA A SAÚDE: RELATO


DE EXPERIÊNCIA DE UMA PRÁTICA DE ENSINO EM CURSOS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA E TERAPIA OCUPACIONAL .......................................................................203
Ailton de Souza Aragão
CAPÍTULO 14 - OFICINA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE SOBRE
TÉCNICAS DE ANTROPOMETRIA CORPORAL PARA AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DE UMA UBS NO INTERIOR DO CEARÁ: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA ......................................................................................219
Fernanda Ribeiro da Silva, Yolanda Raquel Alves Leandro Furtado, Arycelle Alves de
Oliveira, Érika Roméria Formiga de Sousa, Keila Formiga de Castro

CAPÍTULO 15 - CAPACITAÇÃO DE ENFERMEIRAS NO CUIDADO AO


PACIENTE PEDIÁTRICO COM COVID-19 NO INÍCIO DA PANDEMIA: RELATO
DE EXPERIÊNCIA .......................................................................................................230
Itamara Queiroz dos Santos, Sonidalva Alves Novaes, Luciana Dourado Pimenta
Almeida, Josilda dos Santos Lima Gomes, Gilcimeire Santa Rosa Costa, Fernanda
Moreira Ribeiro

CAPÍTULO 16 - TOMADA DE DECISÃO DO ENFERMEIRO FRENTE AOS


CONFLITOS E DILEMAS ÉTICOS VIVENCIADOS NA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
NO CONTEXTO HOSPITALAR .................................................................................245
Analu Sousa de Oliveira, Elaine Guedes Fontoura, Ayla Melo Cerqueira, Déborah de
Oliveira Souza, Íris Cristy da Silva e Silva, Marluce Alves Nunes Oliveira

CAPÍTULO 17 - O PROTAGONISMO DO NASF-AB NA REALIZAÇÃO DA


CLÍNICA AMPLIADA NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE ....................................263
Alexandra de Almeida Walter, Carolina Zuquetto Flôres, Daniela Pires Santos, Daiane
Magalhães Tolentino, Lisane Ullrich, Vânia Olivo

CAPÍTULO 18 - ESTÁGIO CURRICULAR DURANTE A PANDEMIA:


PERSPECTIVAS DE AÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ..........................................277
Raysson Sorin de Souza Neves, Inês Amanda Streit, Mackson Luiz Souza Marinho,
Andrew de Almeida Braga, André de Araújo Pinto, Milenna Thamyres Alves do
Nascimento

CAPÍTULO 19 - CONHECIMENTO SOBRE HIV EM UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA


DA SAÚDE ...................................................................................................................290
Taís Turatti, Tânia Maria Cemin

CAPÍTULO 20 - ATUAÇÃO DOS ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM EM UMA


UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PARA TRATAMENTO DA COVID-19:
RELATO DE EXPERIÊNCIA ......................................................................................302
Kelly Cristine Oliveira, Bruna Fatima Sczepanhak, Vitória Thomé, Terezinha Aparecida
Campos

CAPÍTULO 21 - GESTÃO DE CONFLITOS NA EQUIPA DE SAÚDE EM


CONTEXTO DE PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE AO DOENTE CRÍTICO
.......................................................................................................................................315
Ana Margarida Pinheiro Rosa, Joana Rita Valadinha Mendes Lopes, Najara Oliveira
Sossai, Tânia Isabel da Silva Pombinho, Olga Maria Martins de Sousa Valentim
CAPÍTULO 22 - FORMAÇÃO DO RESIDENTE NO CONTEXTO DA PANDEMIA
DA COVID-19: RELATO DE EXPERIÊNCIA ...........................................................333
Aline Sousa Falcão, Claudeth Freitas da Costa

CAPÍTULO 23 - EDUCAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS E SUA


IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE ....................346
Raquel de Oliveira L. da Motta, Suely Lopes de Azevedo, Maria Lucivane de Oliveira,
Aline Silva da Fonte Santa Rosa de Oliveira, Maria Amália de Lima Cury Cunha

CAPÍTULO 24 - OLHARES SOBRE O SUICÍDIO NO DISCURSO SOCIAL ........358


Thayná Quinto Santos Souza, Maria Izabel Calil Stamato

CAPÍTULO 25 - DILEMAS ÉTICOS DIANTE AS IATROGENIAS EM CENTRO


CIRÚRGICO: SENTIMENTOS VIVENCIADOS PELOS ENFERMEIROS .............375
Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis, Marluce Alves Nunes Oliveira,
Elaine Guedes Fontoura, Manuela Bezerra Pina Oliveira, Tayara de Oliveira Vitoria,
Lorraine Alves Souza Santos

CAPÍTULO 26 - ARTE E LOUCURA NOS TERRITÓRIOS DE VIDA:


EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO E DE CUIDADO PSICOSSOCIAL ..................393
Rosimár Alves Querino, Ana Júlia Fernandes Ribeiro, Camila Bahia Leite, Letícia Sousa
Rodrigues, Marina Capucci Manffré, Raquel Bessa Martins Andrade

CAPÍTULO 27 - RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA:


RELATO DE EXPERIÊNCIA ......................................................................................411
Rânder Jorge Alcântara, Maria da Conceição Costa Rivemales

CAPÍTULO 28 - DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO PARA SERVIÇO DE


SAÚDE: AÇÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE CIÊNCIAS DA SAÚDE E
EXATAS .......................................................................................................................424
Marina Guedes Pinto, Verônica Gomes dos Santos, Daniel Ernany Lopes Figueredo,
Tamires Kiche Abreu, Júlia Dario Pato Vila

CAPÍTULO 29 - CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE CRECHES PARA A


PREVENÇÃO E ATUAÇÃO EM ACIDENTES COM CRIANÇAS: RELATO DE
EXPERIÊNCIA .............................................................................................................439
Alciene Pereira da Silva, Rosana Castelo Branco de Santana, Fernanda Carneiro Mussi

CAPÍTULO 30 - ABORDAGEM POR COMPETÊNCIAS: UM OLHAR PARA A


FORMAÇÃO DAS EQUIPES DE CONSULTÓRIO NA RUA ..................................456
Amanda Vargas Pereira, Jaqueline Teresinha Ferreira
CAPÍTULO 31 - VIVÊNCIAS DE DILEMAS ÉTICOS POR PROFISSIONAIS DE
SAÚDE EM EMERGÊNCIA AO COMUNICAR MÁS NOTÍCIAS DE PESSOAS
ADOECIDAS AOS FAMILIARES ..............................................................................472
Lorraine Alves de Souza Santos, Marluce Alves Nunes Oliveira, Elaine Guedes Fontoura,
Maryana Carneiro Queiroz Ferreira, Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis,
Anna Carolina Oliveira Cohim Mercês

CAPÍTULO 32 - PET-SAÚDE E APRENDIZADO DA COMPETÊNCIA


COLABORATIVA: A POTÊNCIA DA EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL NO SUS
SERTANEJO .................................................................................................................490
Thaysa Trajano Barreto, Barbara Eleonora Bezerra Cabral, Eledy da Silva França, Gilvan
Rodrigues da Cruz Júnior, Leonardo Pereira de Souza Alves, Seldon Almeida de Souza

CAPÍTULO 33 - A INTERDISCIPLINARIDADE DA FONOAUDIOLOGIA NA


ODONTOLOGIA NO PROJETO TRANSODONTO DA FACULDADE DE
ODONTOLOGIA DA UFMG: RELATO DE EXPERIÊNCIA ...................................507
Igor Carnevalli Leal, Melissa Souza Gomes, Victor Santos Batista, Flávio de Freitas
Mattos, Luciana Gravito de Azevedo Branco, Andreia Maria Araújo Drummond

CAPÍTULO 34 - CARTILHA DE ORIENTAÇÕES ERGONÔMICAS NO HOME


OFFICE COMO ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR
.......................................................................................................................................523
Victória Bomfim Santos, Natália Ribeiro de Morais, Paloma Silva de Oliveira, Marcos
Antonio Morais da Silva, Ana Claudia Conceição da Silva, Lívia Lessa de Oliveira

SOBRE OS ORGANIZADORES ..............................................................................538


PREFÁCIO
Foi com muita alegria e entusiasmo que recebi o convite do professor Ramon Missias-Moreira para
escrever o prefácio desta importante obra, a qual foi organizada por ele e pelas professoras Clarinda Festas
e Cristina Prudêncio, ambas catedráticas em Escolas Superiores de Saúde do Porto, em Portugal. Imaginei
que seria uma tarefa fácil, mas ao me deparar com o conteúdo do livro percebi que o desafio era maior.
Em especial, pela riqueza e atualidade dos conteúdos tratados em cada um dos 34 capítulos e pelo
envolvimento dos aproximadamente 150 colaboradores que se dedicaram à preparação dos textos.
A obra está organizada em duas seções, sendo que na primeira há três textos dedicados à análise
sobre os impactos sociais e acadêmicos do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e
Educação Física da Universidade Federal do Vale do São Francisco, o qual é liderado pelo professor
Missias-Moreira. Destaco, em especial, a contemporaneidade das discussões apresentadas no primeiro
capítulo, as quais são realizadas já considerando o contexto da pandemia de Covid-19 e uma
intencionalidade de análise de impacto que se impõe aos grupos de pesquisa de todo o mundo, mas em
especial aos grupos brasileiros. Nos demais capítulos da mesma seção, outros importantes temas emergem,
como a educação interprofissional e a pesquisa interdisciplinar que são pilares para abordagem de
problemas contemporâneos do setor saúde, tanto no sentido da formação de recursos humanos quanto no
sentido da produção de conhecimentos orientados para redução do hiato existente entre ciência e
intervenção profissional.
Um aspecto muito interessante para o leitor é poder encontrar em quase todos os textos a
apresentação de relatos e narrativas acerca das experiências vivenciadas pelos autores ao longo da
pandemia de Covid-19. Isso foi possível porque a obra foi construída exatamente durante esse período tão
excepcional e desafiador para toda a humanidade. Alguns textos relatam exatamente experiências
vivenciadas por diversos profissionais de saúde no contexto da atenção e dos cuidados aos pacientes
acometidos pela Covid, enquanto outros fazem análises da complexidade da intervenção em saúde num
cenário como este. A diversidade de temas focalizados é surpreendente, passando por manuscritos sobre
atenção à pessoa com deficiência, educação continuada em saúde, representações sociais e percepções de
profissionais de saúde e, até mesmo, ergonomia, aspectos que denotam toda a riqueza do conteúdo
disponibilizado neste e-book.
Alguns textos contribuem para a compreensão de que a pandemia de Covid-19 provocou uma
verdadeira revolução nas demandas relativas à formação de recursos humanos para o setor saúde, desde a
atenção primária até o leito de terapia intensiva. Apesar de ter sido organizado por docentes vinculados à
formação nas áreas de Educação Física, Fisioterapia e Medicina, os textos trazem também experiências
da Enfermagem, Odontologia, Medicina, Saúde Coletiva, dentre outras, caracterizando-se com rico acervo
de ideias que podem orientar a “reflexão-ação” no contexto do cuidado à saúde de pessoas em todos os
ciclos de vida.
Há questões muito específicas da realidade do Sistema Único de Saúde no Brasil, como o debate
acerca do trabalho desenvolvido nos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (os NASF) e de sua
importância para efetivação do princípio da integralidade na estratégia de saúde da família. Essa talvez
seja uma das características mais marcantes dessa obra, qual seja a proposta de um debate ampliado, sem
delimitação prévia de fronteiras. Por exemplo, um dos capítulos que mais me surpreendeu foi exatamente
aquele em que se trouxe à tona a necessidade de realizar estudos e pesquisa acerca da “inter-relação entre
lazer e saúde” e de focalizar com maior atenção esta interface. Isso porque apesar de haver um crescente
corpo de conhecimentos acerca desta inter-relação, esta base teórica parece que vem sendo ignorada, tanto
no Brasil quanto no exterior, ao se pensar no planejamento de políticas, programas e intervenções de
atenção à saúde.
A pandemia de Covid-19 impactou as sociedades não apenas pelo adoecimento, incapacitação e
morte de pessoas de todas as idades e condições de vida. Houve também uma repercussão geral nos estilos
de vida, em seus diferentes contextos e domínios de manifestação (trabalho, estudos, lazer, deslocamentos
e tarefas utilitárias). O trabalho e a escola foram transferidos subitamente para o ambiente domiciliar que
não estava preparado para essa demanda, com repercussões nas relações familiares, na densidade de
trabalho e na qualidade de vida. Isso também exigiu repensar o ensino e a formação de recursos humanos,
aspecto centralmente abordado em vários capítulos do e-book.
Estratégias inovadoras de educação em saúde e de formação inicial e continuada de profissionais
de saúde precisaram ser estruturadas durante a pandemia e muitas ainda precisam ser desenvolvidas para
lidar com os desafios futuros, os quais não devem se encerrar com o término da emergência sanitária
imposta pelo processo pandêmico. Por isso, é tão importante discutir abordagens como as “ligas
acadêmicas”, as residências (especializações) multiprofissionais, o Programa de Educação pelo Trabalho
para a Saúde (PET-Saúde), dentre outras. Conhecer mais sobre as experiências na utilização dessas
abordagens é muito importante e alguns textos contidos na obra podem auxiliar a reflexão sobre as
mesmas.
Outro destaque muito positivo também é perceber abordados temas absolutamente
contemporâneos como os “cuidados paliativos” e as intervenções para redução de danos, como o
“consultório na rua”. Em especial, a abordagem do tema cuidados paliativos foi muito oportuna já que
persiste uma compreensão muito tradicional de sua concepção tanto entre profissionais quanto no próprio
meio acadêmico. O texto contido no e-book tem relevância porque traz à tona uma abordagem
interdisciplinar dos cuidados paliativos, a qual tem como objetivo apoiar os pacientes, cuidadores e seus
familiares a alcançar seus objetivos, otimizando a função e concorrendo para um maior nível de bem-estar
e de qualidade de vida.
Há temas abordados no e-book que indicam a necessidade de ampliação do debate acerca das
estratégias e metodologias que podem ser empregadas para qualificação dos processos ensino-
aprendizagem no contexto da formação inicial e continuada em saúde. A experiência relatada nos capítulos
6 e 11, por exemplo, constitui bom exemplo da aplicação da “simulação como estratégia de
aprendizagem”, algo já relativamente frequente na formação de médicos e enfermeiros, mas que ainda tem
pouca difusão na formação profissional em outras áreas da saúde. O debate iniciado nos referidos capítulos
pode ser um ponto de partida para a problematização do uso dessa metodologia e pode, ainda, suscitar
novas ideias para os pesquisadores.
Merece destaque também os relatos das experiências de desenvolvimento de recursos para apoiar
a intervenção no setor saúde, a exemplo do desenvolvimento de aplicativo para serviço de saúde discutido
no capítulo 28 e da cartilha com orientações ergonômicas para trabalho remoto abordada no capítulo 32.
Essas contribuições são muito relevantes diante do cenário de desafios que se apresenta para todos os
atores envolvidos na produção de conhecimentos e na intervenção em saúde. Especialmente, ao considerar
que em seu sentido mais amplo, a inovação constitui, sem dúvidas, um dos fatores decisivos para se possa
alcançar um maior grau de aproximação da academia em relação aos diversos segmentos do setor saúde.
Os dilemas éticos também foram alvo de debate em vários capítulos do e-book, abrangendo a
discussão de questões sensíveis e que exigem enfrentamento como o suicídio, a abordagem da morte e do
luto como dimensão humana e, ainda, a iatrogenia como consequência da negligência, imperícia ou
imprudência na intervenção em saúde. Mesmo que abordados em contexto muito específico, como a
intervenção e processo de trabalho de enfermeiros e médicos, tais dilemas são universais e perpassam todo
o processo de trabalho em saúde.
Em suma, em 540 páginas de texto redigido com linguagem simples, clara e objetiva, os
organizadores desta obra reuniram importantes reflexões e contribuições sobre a formação, a pesquisa e a
intervenção profissional no setor saúde. Garantiu-se que experiências vivenciadas em diferentes contextos
pudessem ser abordadas, aspecto que confere uma visão multifacetada das temáticas abordadas, as quais
podem derivar novas ideias tanto para pesquisa quanto para intervenção em saúde. Registro, por último,
meus agradecimentos pelo convite e pela oportunidade de explorar o conteúdo do livro como um primeiro
e privilegiado leitor. Parabéns a todos os estudantes, profissionais e pesquisadores envolvidos.

Prof. Doutor Mauro Virgílio Gomes de Barros


Universidade de Pernambuco, Brasil
SEÇÃO I

O GRUPO DE PESQUISA
INTERDISCIPLINAR SOBRE SAÚDE,
EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA –
GIPEEF/UNIVASF/CNPq
I CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR SOBRE
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE - CINPSUS
"Em busca da cidadania plena através da universalidade da saúde”
18 e 19 de junho de 2021
IMPACTO CIENTÍFICO E SOCIAL DO GRUPO DE PESQUISA
INTERDISCIPLINAR SOBRE SAÚDE, EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA
(GIPEEF/UNIVASF) NO CONTEXTO DA PANDEMIA COVID-19

Ramon Missias-Moreira1
Bruno Cezar Silva2
Daisy de Brito Rezende3
Ivete Batista da Silva Almeida 4
Julio Cesar Cruz Collares-da-Rocha5
Luciene Alves Miguez Naiff6
Maria Célia da Silva Lima7
Márcia Bento Moreira8
Regiane Cristina de Souza Fukui9
Vera Lúcia Chalegre de Freitas10

Resumo: O Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física


(GIPEEF), está associado ao Colegiado do Curso de Educação Física, ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia e ao Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e
Desenvolvimento Territorial da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).
Visa desenvolver estudo, pesquisa e extensão para a produção e divulgação dos aspectos
psicossociais e elementos socioculturais dentro de uma matriz interdisciplinar nos eixos

1
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar
sobre Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF), Petrolina, Brasil, e-mail: [email protected]
2
Doutorando em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
(UNIVASF), Membro do GIPEEF, Petrolina, Brasil, e-mail: [email protected]
3
Doutora em Química Orgânica pela Universidade de São Paulo (USP), Líder do Grupo de Pesquisa LiEQui,
Membro do GIPEEF, São Paulo, Brasil, e-mail: [email protected]
4
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Líder do Grupo de Pesquisa ESTUDOS
NEGROS UFU-CNPq, Membro do GIPEEF, Uberlândia, Brasil, e-mail: [email protected]
5
Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Líder do Grupo de Pesquisa Representações
Sociais e Processos Psicossociais, Membro do GIPEEF, Petrópolis, Brasil, e-mail: [email protected]
6
Doutora em Psicologia Social pela UFRRJ. Líder do Pesquisa Processos Psicossociológicos: Memória,
Representações e Identidade Social, Membro do GIPEEF, Rio de Janeiro, Brasil, e-mail: [email protected]
7
Doutoranda em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial pela UNIVASF, Membro do Grupo de Pesquisa
Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física, Petrolina, Brasil, e-mail [email protected]
8
Doutora em Cirurgia e Experimentação pela UNIFESP, Membro do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre
Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF), Petrolina, Brasil, e-mail: [email protected]
9
Doutora em Psicologia pela UEM, Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre as Representações Sociais:
teoria, método(s) e práticas, Membro do GIPEEF, Curitiba, Brasil, e-mail: [email protected]
10
Doutora em Educação pela UFRN, Líder do Grupo Interdisciplinar de Representações Sociais e Formação em
Educação e Meio Ambiente, GIRSFEMA, Membro do GIPEEF, Garanhuns, Brasil, e-mail: [email protected]
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temáticos: Representações Sociais, Educação Física, Condições e Processos de Saúde-doença,
Atividade Física, Qualidade de Vida, Processo de Trabalho, Políticas Públicas de Saúde e
Educação, priorizando estudos com diversas populações, como estudantes, trabalhadores-
usuários do SUS, dentre outros grupos de pertença. O GIPEEF foi criado em 2019, mas
começou a atuar, plenamente, em 2021, em conjuntura de pandemia, ganhando relevância nesse
período em que vivenciamos uma crise sanitária causada pela Covid-19, o que evidenciou,
também, o papel importante do Sistema Único de Saúde (SUS) nesse contexto. Assim, esse
estudo objetiva descrever as ações e os impactos observados com o trabalho desenvolvido pelo
Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física
(GIPEEF/UNIVASF/CNPq) na educação e formação profissional no contexto da pandemia de
Covid-19. Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência,
considerando que todos os autores são membros atuantes do GIPEEF e, nesse tipo de método,
os autores referem-se à pesquisa realizada de forma pessoal, pois se apresentam como
participantes do estudo e expõem perspectivas pessoais acerca das etapas das construções
coletivas. Nessa perspectiva, a coleta de informações se deu em seus documentos e durante as
atividades do grupo (reuniões científicas semanais, palestras, congressos etc.). O grupo, nesse
período pandêmico, ampliou o protagonismo social da UNIVASF, frente às questões que
envolvem as políticas públicas de saúde no Brasil e no mundo; houve sensibilização da
comunidade sobre a importância e valorização de diversos temas e do sistema público de saúde
do Brasil e de outros países, culminando na organização e realização de alguns importantes
eventos e ações: o I Congresso Internacional Interdisciplinar sobre Políticas Públicas de Saúde
– CINPSUS; o I Seminário Integrador do Curso de Pedagogia EaD; o II Seminário sobre
Educação Física no Ensino Infantil; a organização de 4 volumes de livros intitulados Qualidade
de Vida e Saúde em uma perspectiva interdisciplinar – volumes 11 e 12 e Representações
Sociais na Contemporaneidade – volumes 5 e 6; e ademais, tem ainda em curso o Ciclo
Internacional de Palestras do GIPEEF com atividades agendadas até dezembro de 2021, e que
acontece antes das reuniões científicas no canal @gipeef no youtube, tendo a participação de
palestrantes convidados para a discussão de temas transversais às linhas de pesquisa do grupo.
O GIPEEF, por meio de suas articulações e iniciativas, ganhou notoriedade, enquanto grupo de
pesquisa, reunindo estudantes, especialistas, profissionais e pesquisadores de instituições do
ensino superior de vários países e, esperamos que o grupo seja consolidado como um fórum
sério de debate das problemáticas contemporâneas e sociais que envolvem educação, promoção
da saúde, saúde coletiva e as questões inerentes às Políticas Públicas de Saúde. Das paredes às
redes é possível integrar, incluir, ampliar e demonstrar o verdadeiro papel da Universidade
Pública na construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.

Palavras-chave: GIPEEF; Covid-19; Saúde; Interdisciplinaridade; Grupo de pesquisa.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde


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Introdução
Refletindo a partir do contexto brasileiro, era março de 2020 e, aparentemente, tudo
estava normal, quando de repente, os noticiários e reportagens destacavam uma doença viral
inusitada que estava em circulação em todo o mundo. O vírus SARS-CoV-2, que pode ocasionar
desde manifestações assintomáticas da doença e chegar até quadros graves, pode ser transmitido
de uma pessoa infectada para outra, por contato direto próximo ou por contato com objetos
contaminados pelas partículas virais estavam se disseminando (BRASIL, 2020), e logo,
estávamos imersos em uma pandemia. Com essa crise sanitária mundial, algumas medidas
essenciais foram tomadas no combate à COVID-19, tais como: evitar circulação desnecessária,
higienizar constantemente as mãos, utilizar máscaras, manter o distanciamento físico/social,
dentre outras.
Estamos todos desafiados a conviver e a enfrentar a pandemia COVID-19, e essa é uma
realidade que traz consigo muitas limitações, desafios, adoecimentos, exploração da força de
trabalho, mas que também nos enche de possibilidades, aprendizagens, parcerias e avanços no
enfrentamento dos dilemas.
O trabalho em grupo nos remete à ideia de coletivo, de espaço integrado, de
compartilhamento de múltiplas ideias, saberes e afetos, seja no contexto presencial ou virtual.
No mundo, a realidade de muitas atividades - e entre elas a organização dos grupos de pesquisa
e trabalho - foi alterada da modalidade presencial para a remota. Entretanto, as estratégias e
ferramentas utilizadas para o funcionamento de um grupo não diminuíram sua importância e
trabalho, ao contrário, os encontros remotos puderam agregar pesquisadores de diversas regiões
do nosso país e de outros países.
Os grupos de pesquisa são espaços importantes de proximidade entre pesquisadores e
alunos e favorecem a discussão e a ampliação do conhecimento. Cunha (2009, p. 35) indica
que, “esses grupos podem, por sua vez, apresentar distintos contornos, dependendo do contexto

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e finalidades para as quais se articulam. Numa ampliação exponencial de sua configuração,
surgem as redes de pesquisa”.
É nesse contexto, que o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e
Educação Física (GIPEEF), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
vinculado ao curso de Educação Física (Graduação) e aos Programas de Pós-Graduação em
Psicologia (Mestrado) e em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (Doutorado) e
registrado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
tem o objetivo de desenvolver estudo, pesquisa e extensão para a produção e divulgação dos
aspectos psicossociais e elementos socioculturais relacionados à saúde, à educação e à educação
física dentro de uma matriz interdisciplinar.
Dividido em cinco linhas de pesquisa: Representações Sociais, Saúde e Qualidade de
Vida; Educação, Contemporaneidade e Representações Sociais; Comunicação, Linguagens e
Interdisciplinaridade em Educação Física; Corpo, Identidade, Gênero e Representações Sociais;
Redes sociais, tecnologias digitais e Representações Sociais, o GIPEEF promove regularmente
sessões temáticas de discussão e debate, nas quais sociólogos, historiadores, psicólogos,
pesquisadores da área da Saúde, Qualidade de Vida e Educação Física, compartilham suas
visões sobre os problemas do mundo contemporâneo. Assim, ressaltamos que a formação
acadêmica, profissional e humana são elementos basilares do GIPEEF e resultado de um
empreendimento coletivo.
A pesquisa científica, ao buscar meios de trabalhar em parceria com os
mestres, se enriquece e se consolida, pois, as mútuas fecundações entre
pesquisa e prática trazem benefícios não só para os pesquisadores e
professores, mas principalmente, à reestruturação do campo de conhecimento
da educação e à sociedade em seu projeto de transformação social, na busca
de condições mais humanas (FRANCO; FOSTER, 2009, p. 106).
Nesse sentido, se por muito tempo os pesquisadores e pesquisadoras nas universidades
conduziam suas pesquisas dentro de grupos temáticos, formados por estudiosos e estudiosas de
uma mesma área, atualmente, notamos que a abordagem multidisciplinar apresenta avanços
significativos para o desenvolvimento da pesquisa científica. Essa prática implica unir
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pesquisadores e pesquisadoras de diferentes vertentes para que, ao trabalharem em conjunto,
cada um em sua respectiva área, possa colaborar na construção de uma visão e uma ação mais
ampla nas questões que nos afligem, demonstrando avanços significativos.
A partir desses pressupostos, esse artigo objetivou descrever as ações e os impactos
observados em face do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre
Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF/UNIVASF/CNPq) na educação e formação
profissional no contexto da pandemia Covid-19.

Método
Trata-se de um estudo qualitativo, com abordagem descritiva, do tipo de relato de
experiência, sobre a construção das ações coletivas do grupo de pesquisa em tela e seus
impactos observados na formação interdisciplinar dos que constroem, participam e os que
possuem acesso às atividades e ações desenvolvidas para a capacitação de estudantes,
profissionais, pesquisadores(as), professores(as), comunidade em geral que trabalha no
contexto da saúde, da educação, e da Educação Física.
A história do tempo presente é um campo dos estudos históricos voltado à análise das
rupturas e permanências do passado no presente. Trata-se de um campo de pesquisa,
relativamente novo, que teve início na segunda metade do século XX, extremamente conectada
às questões ligadas à opinião pública, comunicação, comportamento e informação. Esse campo
da historiografia propõe compreender os diferentes aspectos da atualidade e, é nesse esforço de
compreender a atualidade, que a História do Tempo Presente se associa a outras ciências das
sociedades e do comportamento, para construir a sua análise. Durante o período entre março de
2020 e junho de 2021, através de suas parcerias, foram realizadas distintas atividades por meio
do GIPEEF que serão brevemente relatadas.
As atividades realizadas durante esse período pandêmico, integraram e contemplaram:
a) ações de pesquisa e orientação de trabalhos de conclusão de curso de Especialização,

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Mestrado e Doutorado; b) publicação de trabalhos em anais, livros, capítulos de livros e artigos
científicos; c) organização e participação em cursos e congressos nacionais e internacionais; d)
trabalho integrado e em rede com professores(as) e pesquisadores(as) de universidades do
Brasil e do exterior, proporcionando o intercâmbio entre os membros de diversas instituições;
e) articulação entre as disciplinas ministradas pelo coordenador do grupo (ensino), a pesquisa
e a extensão.
Para tanto, muitas abordagens metodológicas foram utilizadas para a organização de
cada tipo de atividade mencionada. No entanto, cumpre-nos descrever o que há em comum
nessas atividades desenvolvidas pelo GIPEEF: a) planejamento estratégico com definição dos
objetivos; b) construção dos projetos de extensão e de pesquisa; c) contato com
pesquisadores(as) que são referências em determinados temas e áreas; d) implementação das
ações com planejamento operacional; e) confecção dos flyers com informações das atividades;
f) divulgação por e-mail enviado às redes de contato do grupo de pesquisa; divulgação por e-
mail institucional, na rede social Instagram @gipeef_univasf, por meio do site
https://portais.univasf.edu.br/gipeef; g) transmissão através do canal do GIPEEF no youtube
https://www.youtube.com/c/gipeef; h) planejamento, gestão e execução das atividades; i)
confecção e envio dos certificados aos ouvintes inscritos e palestrantes; e j) avaliação final das
atividades realizadas durante as reuniões científicas do grupo. As atividades e experiências
foram analisadas e compostas a partir do campo das narrativas e reminiscências dos(as)
autores(as) do capítulo.

Resultados e discussão
O GIPEEF, ancorado nos princípios teórico-metodológicos preconizados pela Teoria
das Representações Sociais (JODELET, 2001; MOSCOVICI, 2015), é composto por uma
equipe multi e interdisciplinar, isto é, profissionais e, igualmente pesquisadores, com formações
em diferentes campos do conhecimento que encontraram uma forma de dialogar considerando

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os pontos convergentes e, a partir da concepção de que as diversas áreas do conhecimento nos
possibilitam construir novos saberes, ampliam nossos horizontes profissionais e pessoais,
estabelecendo conexões que, sem tal ação, não seriam possíveis.
Atualmente, colaboram diretamente na organização das ações do GIPEEF em torno de
25 membros, sendo professores(as) doutores(as), mestres(as), estudantes da iniciação científica,
orientandos(as) da graduação, mestrado e doutorado, e colaboradores(as) externos(as).
Com efeito, temos parcerias com 10 grupos de pesquisas nacionais acreditados pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, e internacionais.
Destacamos os grupos nacionais: 1) Estudos Negros - Grupo de Pesquisa em História e Cultura
Visual das sociedades de matriz africana e indígena – UFU, sob coordenação da Dra. Ivete
Batista da Silva Almeida; 2) Grupo de Estudos e Pesquisas sobre as Representações Sociais:
teoria, método(s) e práticas – GERS, sob coordenação da Dra. Regiane Cristina de Souza Fukui
(UEM); 3) Grupo Interdisciplinar de Representações Sociais e Formação em Educação e Meio
Ambiente - GIRSFEMA – UPE, sob coordenação da Dra. Vera Lúcia Chalegre de Freitas 4)
Grupo de Pesquisa Linguagem no Ensino de Química – LiEQ – USP, sob coordenação da Dra.
Daisy Brito Rezende; 5) Grupo de Pesquisa Representações sociais e processos psicossociais –
UCP, sob coordenação do Dr. Julio Cesar Cruz Collares-da-Rocha; 6) Grupo de Pesquisa
Processos Psicossociológicos: Memória, Representações e Identidade Social – UFRRJ, sob
coordenação da Dra. Luciene Alves Miguez Naiff. Existem ainda 4 grupos de pesquisa
parceiros do exterior: 1) Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer
(CIAFEL/FADEUP), Universidade do Porto, Portugal, investigador(a) parceiro(a): Dr. Jorge
Mota e Dra. Paula Clara Santos; 2) Feminism, entrepreneurship and innovation in exercise
(FENIX) – Universidad de Sevilla, Espanha, investigadora parceira: Dra. Nuria Castro-Lemus;
3) Cuerpo Académico Nutrición Humana, Educación y Salud Colectiva – Universidad Nacional
Autónoma del Estado de México, México, investigadores(as) parceiros(as): Dr. Donovan Casas
Patiño, Dra. Alejandra Rodríguez, Dr. Isaac Casas Patiño e Dra. Georgina Contreras Landgrave;

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e 4) Grupo de Investigación en Promoción de la Actividad Física y la Salud - PAFS –
Universidad de Castilla - La Mancha, Espanha, investigadores(as) parceiros(as): Dra. Susana
Aznar-Laín, Dr. Alberto Dorado e Dra. Virginia García.
Ainda no campo de afiliações científicas, membros do GIPEEF estão inseridos na Rede
Internacional de Pesquisas sobre Representações Sociais de Saúde – RIPRES (Évora, Portugal),
na Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN, Brasil), no Grupo de Trabalho
Memória, Identidade e Representações Sociais da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
graduação em Psicologia (ANPEPP, Brasil), na Red Internacional en Salud Colectiva Y Salud
Intercultural (REDSACSIC, México), na Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde
(SBAFS, Brasil), dentre outras organizações civis e científicas. Neste sentido:

A oportunidade da convivência, de estar junto, aprender junto e de fazer junto,


da aprendizagem compartilhada, do conhecimento de uns com os outros, das
interações e das intenções de cada integrante do grupo, quando liderada com
princípios norteadores e ancorada em conhecimento científico sólido, tem o
potencial de se transformar em um espaço de desenvolvimento pessoal e
profissional (ROSSIT et al., 2018, p. 1513).

A experiência de poder compartilhar possibilidades de enfrentamento aos desafios


observados por diferentes perspectivas científicas, por meio das discussões e compartilhamento
das reflexões e ferramentas de diferentes campos das ciências, tem sido muito enriquecedora,
além de promover melhorias significativas na qualidade de nossos trabalhos acadêmicos. Cunha
(2009, p. 35) aponta que “o estímulo à implantação de culturas colaborativas para a pesquisa
de respostas interessantes aos anseios sociais e intelectuais e favoreceu, especialmente, o espaço
da formação”.
No caso específico do trabalho interdisciplinar em tempos de pandemia, pensar sobre
as relações sociais e a autoimagem dos sujeitos em meio a pandemia foram nossos grandes
desafios. A Covid-19 colocou-nos diante de um cenário globalmente catastrófico, que submeteu

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o planeta a uma experiência em dimensões que não se igualam à de nenhuma outra experiência
coletiva anterior.
O GIPEEF, nesse período pandêmico, ampliou o protagonismo social da UNIVASF,
frente às questões que envolvem diversos temas, mas houve o destaque para as políticas
públicas de saúde no Brasil e no mundo; houve sensibilização da comunidade sobre a
importância e valorização do SUS e do sistema público de saúde de outros países, culminando
na organização e realização de alguns importantes eventos e ações: I Congresso Internacional
Interdisciplinar sobre Políticas Públicas de Saúde – CINPSUS
(https://www.youtube.com/c/gipeef; I Seminário Integrador do Curso de Pedagogia EaD: da
metodologia da pesquisa à antropologia da educação em tempos de pandemia
(https://www.youtube.com/watch?v=nf1OcMEEp3k, https://www.youtube.com/watch?v=t0XTNwnx9p8);
II Seminário sobre Educação Física no Ensino Infantil
(https://www.youtube.com/watch?v=JOeLAN3D6W4&t=941s) ; organização e publicação de
4 volumes de livros físicos, sendo 2 intitulados Qualidade de Vida e Saúde em uma perspectiva
interdisciplinar – volumes 11 e 12 e outros 2 Representações Sociais na Contemporaneidade –
volumes 5 e 6, e de 1 livro E-book International Handbook for the Advancement of Public
Health Policies; produção dos Anais advindos do CINPSUS; qualificação de uma dissertação
de Mestrado em Psicologia; ademais, temos ainda em curso o Ciclo Internacional de Palestras
do GIPEEF com atividades agendadas até dezembro de 2021, com a participação de palestrantes
convidados nacionais e internacionais para a discussão de temas transversais as linhas de
pesquisa do grupo em sua interface com a pandemia Covid-19.
Em apenas 4 meses de abertura do canal e início das atividades on-line, notamos que já
ultrapassou mais de 15 mil visualizações, somando-se os vídeos de palestras, cursos,
aprofundamento e mesas redondas do Ciclo de Palestras, bem como dos eventos seminários e
congressos organizados pelo grupo e seus parceiros. Destaca-se que isso se deve aos espaços
construídos no CINPSUS, uma vez que o GIPEEF, juntamente com a Faculdade de Medicina
e de Desporto da Universidade do Porto, a Universidade do Estado do Paraná, o Instituto
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Politécnico do Porto, o Instituto Politécnico de Leiria, a Universidad de Castilla-La Mancha, a
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a Universidade Estadual de Feira de Santana, a
Red Internacional en Salud Colectiva y Salud Intercultural e a Universidade Católica de
Petrópolis, atraíram o público com uma excelente programação envolvendo grandes referências
brasileiras e do exterior, totalizando 3.100 inscritos participantes, de 15 nacionalidades, com
mais de 1.800 trabalhos recebidos em português, inglês e em espanhol. Foram apresentados em
torno de 400 trabalhos, percebeu-se que foi um congresso grande em qualidade e em números.
Tozzeto (2017) sinaliza a importância da formação continuada para o desenvolvimento
de um bom professor, tornando-o aquele que conseguirá conduzir o seu aluno à superação dos
possíveis obstáculos na construção do conhecimento. Concordamos que a formação continuada
é fator indispensável para os estudantes, professores e igualmente pesquisadores. Neste sentido,
o nosso grupo de pesquisa – GIPEEF – funciona como espaço de formação: há capacitação
semanalmente, com o ciclo internacional de palestras e as reuniões científicas, e de ação –
pesquisas (provenientes das iniciações científicas, alunos e alunas dos cursos de Mestrado e
Doutorado). Mazzilli (2009, p. 135) aponta que, faz parte integrante “do processo formativo de
novos pesquisadores é o aprendizado relacionado à necessária inserção nas instâncias
acadêmicas da área de conhecimento que se está adentrando, através da participação em eventos
da comunidade científica”.
Compactuamos com a ideia de que, formar para a ação é o nosso desafio no campo da
formação, sendo que esta tarefa exige pensamento reflexivo, criticidade, contextualização
histórica/cultural e social. Além disso, o compromisso social é categoria basilar e indispensável.
Temos a nobre missão de estimular a transformação do conhecimento em atitudes
humanizadoras, acolhedoras, sensíveis e articuladas para o bem-estar, saúde e qualidade de vida
de nossa população.
Bastos, Yamamoto e Rodrigues (2013) problematizam a ideia de compromisso social
no campo da Psicologia. Para os autores, há certa complexidade na composição daqueles dois

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elementos: compromisso e social. O que é social? Podemos brevemente definir que todos os
espaços sendo ocupados por atores sociais, isto é, por seres humanos merecem a nossa atenção
– o que nos remete de imediato ao compromisso com todos os humanos, cada qual em seus
contextos e locais de pertença.
Portanto, a ideia do compromisso social nos remete à compreensão de que em quaisquer
contextos da vida humana, teremos relações interpessoais e suas possíveis variantes (relações
de amizade, amor, poder etc) para produzirmos reflexões e possíveis intervenções.
Todos nós, pesquisadores, professores, acadêmicos e demais participantes e
interessados em um grupo de pesquisa, não atuamos em um espaço vazio. Diferente dessa
perspectiva, nossas pesquisas são construídas, mediadas e situadas nos nossos campos de
interesse, pertença e afetos. Obviamente que, quando narramos, nos reportamos a alguns
contextos, a algumas vivências, a espaços sociais, tempos vividos, reportamo-nos a atores que
participaram desse diálogo. Logo, podemos dizer que as nossas narrativas estão impregnadas
da relação com outros: pessoas, espaços, tempos, vividos, e que poderão se tornar experiências.
Em relação a dimensão espacial da experiência, encontramos em Delory-Momberger
(2012) algumas advertências quanto a noção de espaço enquanto experiência. Para a autora “o
espaço não é apenas um continente, um receptáculo de nossos estados e de nossas ações, ele é
parte integrante de nossa experiência, é constitutivo de nossa experiência” (p. 66). A autora nos
chama a atenção sobre dois enfoques. O primeiro enfoque é dizer do espaço como constitutivo
de nossa experiência pelo fato de nós mesmos sermos espaços. Assim, nosso ser corporal
pertence à extensão e à materialidade do espaço; somos, portanto, espaço no espaço. O núcleo
original de nossas experiências é constituído por essa relação sensível e dinâmica de nosso
corpo-espaço com o espaço que nos engloba e no qual encontramos outros corpos-espaços.
Ainda, de acordo com a autora, o exercício de abstrair a pura geografia física não é aliás, nada
simples, de tal modo que o espaço está saturado de signos, de funções e de valores que o
convertem numa coisa bem diferente de um mero meio físico.

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O segundo enfoque diz respeito a pensar “o espaço como constitutivo da experiência na
medida em que fornece a ela orientações e conteúdos que são de ordem ao mesmo tempo
material e ideal”. Dessa feita argumenta: Não existe espaço neutro, espaço virgem que seja uma
pura superfície, totalmente aberta, totalmente disponível aos nossos movimentos, às nossas
ações, aos nossos pensamentos [...] (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 68).
Assumimos, com base na literatura, que vivências e experiências têm uma conotação
especial. As experiências aqui colocadas se referem àquelas que podemos pensar e ressignificar
o vivido e, nesse sentido, têm uma importância enorme para a formação.
Para tanto, o grupo de pesquisa GIPEEF tem se configurado enquanto um espaço entre
diversos pesquisadores de áreas diversas, na busca incessante por reflexões recheadas de
criticidade, objetivando a formação continuada para a ação voltada ao compromisso com todos
aqueles que corajosamente se aventuram no campo da pesquisa: seja pesquisando ou revelando
os seus mundos por acreditarem que podem contribuir não só com a ciência, mas com uma
sociedade mais justa e igualitária.
Ademais, o GIPEEF tem como visão ser um grupo com forte referência e
reconhecimento nacional no campo da saúde e da qualidade de vida, mas com projeção
internacional a partir do trabalho colaborativo e integrado em rede para o fortalecimento das
ações acadêmicas, científicas e sociais. Este Grupo é eminentemente interdisciplinar, desde a
formação acadêmica de seus membros, bem como no que concerne ao desenvolvimento de suas
pesquisas baseadas nas evidências científicas. Buscamos ser proativos, conectando ideias,
pessoas, convergindo interesses, sempre com muita criticidade, criatividade, compromisso
social e execução das ideias com atenção aos mínimos detalhes. Gostamos de dar liberdade para
a criatividade, criando e propondo coisas novas, dando materialidade ao abstrato e oferecendo
soluções para os problemas que nos desafiam no cotidiano. Reconhecemos que vivemos na
cibercultura, sendo afortunados pelas parcerias e apoios internacionais para o desenvolvimento

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de nossas ações de pesquisa, de extensão e de ensino. Por isso, o GIPEEF continua sem
delimitações físicas e geográficas, (vi)vendo um mundo sem fronteiras.

Considerações finais

O GIPEEF, por meio de suas articulações e iniciativas, ganhou notoriedade, enquanto


grupo de pesquisa, reunindo estudantes, especialistas, profissionais e pesquisadores de
instituições do ensino superior de vários países, e esperamos que seja consolidado como um
fórum de debate das problemáticas contemporâneas e sociais que envolvem educação,
promoção da saúde, saúde coletiva e as questões inerentes às Políticas Públicas de Saúde. Das
paredes às redes é possível integrar, incluir, ampliar e demonstrar o verdadeiro papel da
Universidade Pública na construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.
A necessidade de investimento em todos os campos do conhecimento científico,
inclusive em Ciências Sociais e Humanidades, para enfrentar a pandemia de Covid-19, tornou-
se cada vez mais certa. Durante esse período, a experiência de pensar a pandemia, não apenas
como fenômeno em sua dimensão histórica, mas também em suas implicações junto às
estruturas do ensino e aprendizagem, favoreceu discussões sobre o ensino remoto em suas
dimensões ligadas à solidão e ao sofrimento, apresentadas pela Psicologia; em sua dimensão da
qualidade de Vida, nas discussões sobre o impacto sofrido pelo autocuidado e as atividades
físicas na pandemia, dentre outras discussões. Elas foram essenciais para o enriquecimento de
nossas reflexões sobre o contexto histórico. Como desdobramento de nossas reflexões e de
nossa comunicação, pretendemos ainda aprofundar tais dimensões e seus impactos nas
ressignificações de representações sociais sobre presença e virtualidade, conceitos que
ganharam novas dimensões nestes nossos dias.

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Referências
BASTOS, A. V. B.; YAMAMOTO, O. H.; RODRIGUES, A. C. A. Compromisso social e ético:
desafios para a atuação em psicologia organizacional e do trabalho. In: BORGES, L. O;
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POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE - CINPSUS
"Em busca da cidadania plena através da universalidade da saúde”
18 e 19 de junho de 2021
CONTRIBUIÇÕES DO GIPEEF NA EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL: A
CONSTRUÇÃO DE UM CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR
SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

Ramon Missias-Moreira1
Paula Clara Santos2
Jorge Mota3
Alejandra Rodriguez Torres4
Denise Maria Vaz Romano França5
Erasmo Militão Nobre Leite6
Maria Lúcia Silva Servo7
Olga Sousa Valentim8
Paulo Santos9
Susana Aznar-Laín10

Resumo: Após a pandemia COVID-19 toda a sociedade está sendo afetada diariamente nas
mais diversas áreas, exigindo mudanças estruturais, culturais, sociais, políticas, educacionais,
na saúde coletiva, pública, e nas atividades acadêmicas, universitárias e científicas. Frente a
esse contexto, este estudo teve como objetivo descrever as experiências coletivas do Grupo de
Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física
(GIPEEF/UNIVASF/CNPq) na construção de um congresso internacional sobre políticas

1
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar
sobre Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF), Petrolina, Brasil, e-mail: [email protected]
2
Doutora em Atividade Física e Saúde pela Universidade do Porto (UP), Membro do Centro de Investigação de
Actividade Física, Saúde e Lazer/CIAFEL/FADEUP, Porto, Portugal, e-mail [email protected]
3
Doutor em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto (FADEUP), Diretor do Centro de Investigação de
Actividade Física, Saúde e Lazer/CIAFEL/FADEUP, Porto, Portugal, e-mail [email protected]
4
Doctora en Ciencias en Salud Colectiva, Co-fundadora da Red Internacional em Salud Colectiva y Salud
Intercultural (REDSACSIC), Amecameca, México, e-mail [email protected]
5
Doutora em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Tuiuti do Paraná, Membro do Núcleo de Estudos
Trabalho, Saúde e Sociedade, Paraná, Brasil, e-mail [email protected]
6
Residente em Intensivismo e Farmacêutico pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
Membro do GIPEEF, Petrolina, Brasil, e-mail [email protected]
7
Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP), Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa Integrada
em Saúde Coletiva e do NIPES, Feira de Santana, Brasil, e-mail: [email protected]
8
Doutora em Enfermagem pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, Investigadora do CINTESIS com
afiliação à FCT no Grupo NursID, IPLUSO - ERISA, Lisboa, Portugal, e-mail: [email protected]
9
Doutor em Investigação Clínica e Investigação em Serviços de Saúde pela Universidade do Porto, Pesquisador
Sênior do PrimeCare: Grupo de Pesquisa em Atenção Primária, Porto, Portugal, e-mail [email protected]
10
Doutora em Atividade Física e Saúde pela University of Bristol (Inglaterra), Diretora do Grupo de Pesquisa
Promoção da Atividade Física para a Saúde/PAFS/UCLM, Toledo, Espanha, e-mail [email protected]
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POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE - CINPSUS
"Em busca da cidadania plena através da universalidade da saúde”
18 e 19 de junho de 2021
públicas de saúde. O GIPEEF começou a atuar mais efetivamente neste ano de 2021, com a
finalidade de desenvolver a pesquisa, o ensino e extensão para a produção e divulgação dos
aspectos psicossociais e elementos socioculturais relacionados à Saúde, à Educação e à
Educação Física dentro de uma matriz interdisciplinar. Trata-se de um estudo qualitativo,
descritivo, do tipo relato de experiência das ações desenvolvidas para a construção do I Congresso
Internacional Interdisciplinar sobre Políticas Públicas de Saúde (CINPSUS). O grupo, nesse período
pandêmico, ampliou o protagonismo social da UNIVASF, frente às questões que envolvem as
políticas públicas de saúde no Brasil e no mundo; houve sensibilização da comunidade sobre a
importância e valorização do Sistema Único de Saúde (SUS) e do sistema público de saúde de
outros países, culminando na organização e realização desse importante congresso. Para
ampliar ainda mais a oferta de atividades, e unindo as disciplinas ministradas pelo coordenador
do grupo no Mestrado e Doutorado com as atividades de extensão, o GIPEEF idealizou,
planejou e se articulou com mais 10 universidades do Brasil e do exterior para realizar o
CINPSUS, a partir da interação e do compartilhamento de ações, experiências e proposições de
soluções para problemas que permeiam as questões dos Sistemas e das Políticas Públicas de
Saúde no Brasil, na Espanha, na Itália, no México e em Portugal. O evento ocorreu com toda a
programação online e gerou um impacto positivo na construção de conhecimento científico com
mais de 3.100 inscritos, de 15 nacionalidades distintas, com submissão de mais de 1.800
trabalhos para a modalidade oral e cerca de 400 trabalhos apresentados, fomentando pesquisas
no campo da Atividade Física, Condições de Saúde e Qualidade de Vida; Saberes e Práticas
Agroecológicas em Saúde; Educação e Formação Profissional em Saúde; e, Aspectos
Psicossociais e Políticas de Saúde Mental. O GIPEEF por meio do CINPSUS, aponta para a
potência do trabalho colaborativo e integrado em rede-equipes fomentando esforços coletivos
de articulação na produção de conhecimentos no cenário (inter)nacional. Articulado com outros
grupos de pesquisa, pesquisadores e universidades parceiras, nosso grupo têm a consciência e
missão de ser lugar de produção de conhecimento qualificado, e isso nos coloca no dever e na
obrigação de tecer redes, construir pontes sem limites geográficos para o enfrentamento de
obscurantismos de qualquer natureza, e para o avanço da ciência e da saúde pública no Brasil e
no mundo. Conclui-se que mesmo em meio as adversidades impostas pela pandemia e com
tantas dificuldades enfrentadas em relação a COVID-19, essas ações virtuais são
potencialmente humanas, reais e corroboram para o desenvolvimento de uma boa educação e
formação profissional em saúde.

Palavras-chave: GIPEEF; Congresso; Educação Interprofissional; Colaboração;


Interdisciplinaridade.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

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Introdução
Esse capítulo direciona a sua atenção para o impacto do Grupo de Pesquisa
Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF/UNIVASF) na formação
profissional por meio da construção de um Congresso Internacional Interdisciplinar sobre
Políticas Públicas de Saúde – CINPSUS, no contexto da pandemia COVID-19.
A COVID -19 teve um impacto significativo na formação, o que não é de surpreender
devido às várias proibições e restrições de viagens entre países, resultando na falta congressos
nacionais e internacionais presenciais (CHIODINI, 2020). Estas proibições levaram a novos
desafios, que foram o de manter profissionais atualizados e preservarem redes de contatos.
Assim, foram surgindo Webinars regulares muitos deles com gravação e de acesso gratuito para
formar os profissionais para lidarem essencialmente com a pandemia. Mas a formação não foi
negligenciada e tornou-se necessário dar continuidade à formação dos estudantes e profissionais
noutras áreas da saúde pública nomeadamente na qualidade de vida.
O CINPSUS, idealizado, organizado e desenvolvido de maneira virtual teve o objetivo
central de ser um espaço/tempo para reflexão, intercâmbio, discussão e construção de
conhecimentos técnico-científicos e de múltiplas aprendizagens a partir da interação humana,
com o compartilhamento de pesquisas, experiências e proposições de fortalecimento da justiça
social, considerando as questões que permeiam os Sistemas Públicos de Saúde do Brasil,
Espanha, Itália, México e Portugal.
O conjunto de habilidades e competências dos profissionais envolvidos na organização
do CINPSUS podem ter contribuído para mitigar as consequências da saúde pública relacionada
com a qualidade de vida em diferentes países. A criação do CINPSUS veio tentar dar resposta
às necessidades sentidas pelos organizadores relativamente: 1) formação dos estudantes e
profissionais; 2) estreitar relações internacionais; 3) abordagem de assuntos complexos da
saúde pública numa perspectiva multidisciplinar; 4) facilitar a criação de grupos de investigação
multidisciplinares; 5) partilha de informação entre académicos e profissionais do terreno.

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A proximidade entre acadêmicos, estudantes e profissionais do terreno leva à
implementação de melhores práticas, partilha de modelos de investigação e criação de redes de
trabalho. A realização de um congresso internacional na área da Saúde Pública permitiu a
discussão e problematização numa perspectiva globalizada demarcada pela diversidade de
saberes e de origens, preocupando-se com o ser humano independente de seu local de
nascimento, crença, identidade, gênero, classe social ou origem étnico-racial, abarcando o
multiculturalismo, a interculturalidade, na qual estão as mais diversificadas experiências
acadêmicas e profissionais representadas em diferentes nacionalidades. Para tanto, pressupõe-
se que “cada indivíduo faz parte de uma matriz cujas colunas e linhas são constituídas pelas
demais” (LATOUR, 2010, p. 11). Não se trata apenas de atender ao conjunto de indivíduos em
uma microanálise de sociedade, mas a análise das partes que a constituem e a relação entre elas.
Essa ideia não é nova, desde os anos 60, os estudos de Robert Merton (1964), evidenciaram a
importância das relações de interdependência sociocultural, estruturas, processos e
comportamentos sociais nos processos científicos, marcando as relações recíprocas entre
ciência e sociedade.
Essa proposta de evento científico nasceu da preocupação do professor doutor Ramon
Missias-Moreira, a partir das disciplinas de Políticas Públicas e Práticas de Saúde ministradas
no Programa de Pós-graduação em Psicologia e no Doutorado em Agroecologia e
Desenvolvimento Territorial da UNIVASF – essa partilhada com outros dois docentes, com a
ausência de espaços e a necessidade de criar e ampliar as oportunidades de discussão e análise
sobre os sistemas públicos de saúde que foram iniciadas nas disciplinas. No que concerne a essa
questão, as publicações que aludem especificamente à relação entre pesquisa e políticas de
saúde são escassas e até o momento “[...] não há uma teorização sólida no campo da relação
entre pesquisa e políticas. Principalmente na área da saúde” (BRONFMAN; LANGER;
TROSTLE, 2000). Dessa maneira, as pesquisas que foram desenvolvidas pelos discentes

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durante as disciplinas foram apresentadas e divulgadas cientificamente no CINPSUS,
apontando para uma real indissociabilidade entre as ações de extensão, ensino e pesquisa.
O município de Petrolina é um polo microrregional, de vocação acadêmica e, como tal,
a realização de um evento desta natureza é de extrema importância para o município, para a
Região Nordeste, para o Brasil e para outros países do mundo uma vez que essa temática central
se mostra relevante, pela sua interação com diversas áreas do saber. Dessa forma, coadunando
com os objetivos propostos, a atualização dos profissionais, informação à população em geral
e a capacitação dos futuros profissionais, ratificamos a relevância deste evento para a nossa
instituição, região e fortalecimento institucional da UNIVASF no cenário científico nacional e
internacional.
Estamos na cibercultura e atravessando potencialmente as fronteiras e demarcações
geográficas, extrapolando os limites das paredes e produzindo mais conhecimento nas redes.
As plataformas digitais resolvem o problema da participação coletiva, formando comunidades
reflexivas, inclusivas e produtoras de conhecimento sem que o tempo ou o espaço sejam um
impedimento: “a heterogeneidade e a diversidade organizacional caracterizada pelo aumento
do número de lugares potenciais onde o conhecimento pode ser criado, a ligação entre eles de
várias formas, através das redes de comunicação tecnológica” (COLÁS BRAVO, 2002, p. 79).
Dessa maneira, esse estudo objetivou descrever as experiências coletivas do Grupo de
Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física
(GIPEEF/UNIVASF/CNPq) na construção de um congresso internacional sobre políticas
públicas de saúde.

Método
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa e do tipo relato de
experiência e Análise SWOT/FOFA, sobre a construção de um potente congresso
interdisciplinar internacional no campo das políticas públicas de saúde vigentes.

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Tivemos muitas reuniões em grupo, entre março e junho de 2021, para a construção do
CINPSUS, que aconteceu virtualmente entre os dias 18 e 19 de junho de 2021, por meio do
canal do Grupo de Pesquisa no Youtube, visto que estamos vivendo em tempos diferentes e que
nos exigem novas habilidades e práticas diferenciadas. Inicialmente, tínhamos o objetivo de
atingir um público de 400 pessoas, entre estudantes, docentes e trabalhadores(as) da saúde.
O CINPSUS foi realizado pelo Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde,
Educação e Educação Física – GIPEEF, vinculado à Universidade Federal do Vale do São
Francisco (UNIVASF, Campus Petrolina-PE), mas com o fundamental apoio na organização
de pesquisadores(as) parceiros(as) que estão inseridos(as) em universidades de outros estados
do Brasil - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS), Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Universidade Estadual
do Paraná (UNESPAR), bem como de instituições e universidades de outros países – Escola
Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto (ESSPPorto, Portugal), Universidad de
Castilla – La Mancha (UCLM, Espanha), Red Internacional en Salud Colectiva y Salud
Intercultural (REDSACSIC, México), Faculdade de Medicina e Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto (FMUP/FADEUP, Portugal) e Escola Superior de Saúde do Instituto
Politécnico de Leiria (ESSLei, Portugal).
Foram formadas comissões com docentes coordenadores(as) e docentes e discentes
auxiliares que organizaram o seu processo de trabalho para desenvolverem as atividades e
tarefas previstas em um cronograma de ações. Nesse sentido, formaram-se os seguintes comitês:
Comissão Organizadora; Comissão Científica; Comissão de Secretaria; Comissão de Redes
Sociais e Mídias Digitais; Comissão de Tradução de Idiomas; e, Comissão de apoio.
Dessa maneira, o evento científico ora proposto, foi estruturado virtualmente em três
momentos fundamentais:
1. Mesas Redondas, para as quais foram convidados(as) pesquisadores(as) de amplo
reconhecimento na comunidade científica e/ou no meio profissional da Saúde Coletiva/Pública,

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e que possuíssem um histórico de dedicação ao serviço público, com preferência para aqueles
atuantes na região nordeste do Brasil, no México, Espanha, Itália e Portugal. Foram previstas
quatro mesas redondas, cada uma delas com a participação de três a cinco conferencistas com
formações e experiências distintas.
2. Sessão de Apresentação de trabalhos, para os quais todo(a) e qualquer profissional,
estudante ou pesquisador(a) interessado(a), poderia submeter até dois trabalhos como autor(a)
principal e sem limite em co-autoria, que foram selecionados pelo Comitê Científico do
CINPSUS. Foram previstos inicialmente dois momentos, a apresentação de até 50 trabalhos
orais, sendo que 11 destas pesquisas a serem apresentadas, foram produzidas no seio das
disciplinas ministradas na Pós-graduação pelo coordenador geral como referido na introdução.
3. Sessão de Lançamento de Livros, para os quais foram apresentadas algumas pesquisas
(capítulos) produzidas pelos(as) professores(as) organizadores(as) e prefacistas das referidas
obras. Esses livros fazem parte da Coleção intitulada “Qualidade de Vida e Saúde em uma
Perspectiva Interdisciplinar”, iniciadas em 2017. Para esta mesa, foram convidados(as)
professores(as) da Universidade Estadual do Paraná, do Instituto Politécnico de Leiria e do
Instituto Politécnico do Porto, em Portugal, que estiveram envolvidas(os) na produção dos
volumes 7, 8, 9 e 10, produzidos recentemente em 2020.
Para a organização do CINPSUS, o GIPEEF seguiu os seguintes passos de estruturação
que não foram lineares, mas complementares: a) construção de um projeto de extensão sobre o
CINPSUS para submissão à Pró-reitoria de Extensão (PROEX/UNIVASF); b) estruturação da
equipe básica do congresso; c) estruturação básica da programação do congresso em articulação
com as atividades de ensino e pesquisa conduzidas pelo coordenador da proposta; d) contato
com convite para renomados oradores do Brasil, Espanha, Itália, México e Portugal; e) convite
para parceiros(as) pesquisadores(as) que já trabalham conosco nas temáticas da Qualidade de
vida, Saúde e também das Representações Sociais; f) formação das comissões: organizadora,
científica, secretaria, redes sociais e mídias digitais, tradução de idiomas, e apoio; g) construção

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de cards de divulgação; h) divulgação através de e-mails, notícias nos sites/redes sociais das
instituições parceiras e do instagram @gipeef_univasf e do site
https://portais.univasf.edu.br/gipeef; i) criação das mesas-redondas no stream yard para
transmissão no canal do youtube do GIPEEF (https://www.youtube.com/c/gipeef) e também
criação das salas de apresentação de trabalho oral no google meet; j) planejamento, gestão e
execução das atividades durante o congresso; k) produção dos certificados de monitores,
comissões, ouvintes, apresentação de trabalho, destaque nas apresentações; l) elaboração dos
Anais com os resumos apresentados e também do E-book International Handbook for the
Advancement of Public Health Policies; m) suporte pós-congresso para dúvidas e resolução de
eventuais problemas.
Na figura 1 apresentamos essas fases de implementação do CINPSUS de maneira mais
didática e ilustrativa.

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Fase 1
Desenvolvimento da ideia/
Programa CINPSUS

Fase 2
Fase 6
Establecer rede de contatos
Publicação de resumos e
nacionais e internacionais e
artigos cientificos
parcerias interdisciplinares

Fase 3
Fase 5 reuniões periódicas
Disseminação da comissão organizadora e
Mídia. Networks. Website. comissão cientifica
Multimedia. Marketing. para planejamento e
distribuição de tarefas

Fase 4
Reuniões e criação de redes
de comunicação dos grupos
de trabalho para
monitorização & suporte
Email/ grupos de whatshapp/
Google Meet

Figura 1: Fases de implementação do CINPSUS

Resultados e discussão

As atividades desenvolvidas pelo GIPEEF estão, principalmente, focadas na área da


Saúde, com uma abordagem multidisciplinar indo ao encontro das necessidades da sociedade
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atual. De acordo com a World Health Organization (1986), os problemas de saúde ou a
promoção da qualidade de vida e bem-estar só podem ter resolubilidade com uma abordagem
conjunta e com a intervenção dos diferentes agentes da sociedade. O fato de o GIPEEF ter como
convidados diferentes profissionais (professor de educação física, fisioterapeutas, psicólogos,
enfermeiros, médicos, nutricionistas, etc.) permitiu a partilha de experiências e saberes de uma
forma fácil e acessível (O'REILLY et al., 2017). Os profissionais envolvidos são de diferentes
nacionalidades o que permite troca de experiências de diferentes culturas, contextos sociais e
econômicos.
Permite aos participantes, refletirem sobre temas comuns em várias sociedades com
abordagem que podem ser semelhantes ou diferentes, mas seguramente fortalecem a
complementaridade. As multiculturalidades têm um forte impacto na formação quer dos
estudantes, quer nos profissionais, professores, investigadores e pessoas comuns (GURAYA;
BARR, 2018).
Nessa direção, as atividades do CINPSUS iniciaram-se na manhã – hora Brasil - do dia
18 de junho de 2021, concomitantemente com 9 salas na Sessão de Apresentação de Trabalhos
1 – Zenilda Missias Moreira, seguido da mesa de abertura
(https://www.youtube.com/watch?v=uPebq9DHrfk) que foi realizada na parte da tarde e que
contou com um representante de cada instituição organizadora do congresso e convidados(as)
especiais, tais como: Dra. Cristina Prudêncio (PPorto), Dr. Diego González (Diretor da
BIREME/OPAS/OMS), Dra. Gulnar Azevedo e Silva (Presidente da ABRASCO), Dra. Jussara
Maria Camilo dos Santos (Ex Vice-Reitora da UESB), Dra. Priscilla Viégas (Representante do
Conselho Nacional de Saúde), dentre outros(as).
Posteriormente, no mesmo dia, ocorreu uma mesa redonda sobre Políticas e Sistemas
Públicos de Saúde no Brasil, Espanha, México e Portugal
(https://www.youtube.com/watch?v=pMp4JbTouG8&t=305s), com a participação de Dr.
Jairnilson Silva Paim (ISC/UFBA), Dra. Susana Aznar-Laín (UCLM), Dr. Donovan Casas

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Patiño (REDSACSIC), Dr. Paulo Santos (FMUP) e mediação da Dra. Joilda Silva Nery
(ISC/UFBA). Finalizamos as atividades do primeiro dia, no turno noturno, após findar as 9
salas na Sessão de Apresentação de trabalhos 2 – Dr. Naomar Almeida Filho.
No dia seguinte, 19 de junho de 2021, a programação se inicia com mais 9 salas na
Sessão de Apresentação de Trabalhos 3 – Mariele Franco, com discussão de diversos temas nos
eixos temáticos definidos pela Comissão Científica. Ainda pela manhã, aconteceu uma mesa
redonda sobre Políticas Públicas de Atividade Física e Promoção da Saúde no Brasil, Espanha,
Itália e Portugal (https://www.youtube.com/watch?v=70zMfFs16XY&t=35s) com a
participação do Dr. Pedro Curi Hallal (UFPel), Dr. Jorge Mota (FADEUP), Dr. Ardigó Martino
(UBologna), Dr. Alberto Dorado (UCLM) e mediação da Msc. Sara Moreira (UP).
Iniciamos o processo de trabalho do turno vespertino, com uma mesa redonda para
apresentação e lançamento dos volumes 7, 8, 9 e 10 da coleção de livros sobre Qualidade de
Vida e Saúde em uma perspectiva interdisciplinar
(https://www.youtube.com/watch?v=_UCAjQ5nO-U) com a participação do Dr. Ramon
Missias-Moreira (GIPEEF/UNIVASF), Dra. Ana Isabel Querido (ESSLei), Dr. Carlos António
Laranjeira (ESSLei), Dra. Denise Maria Vaz Romano França (UNESPAR), Dra. Olga Sousa
Valentim (ESSLei) e Dra. Paula Clara Santos (ESSPPorto). Na sequência, seguimos com outra
mesa redonda sobre Agroecologia, Segurança Alimentar e Qualidade de Vida Rural no Brasil
e no México (https://www.youtube.com/watch?v=scHy6ct_pwc&t=233s) com a participação
do Dr. Isaac Casas (UIEM), Dra. Michelle Jacob (UFRN) e Dra. Yldry Pessoa (UFMA).
Não obstante, para encerrar com êxito as atividades síncronas do congresso, no turno
noturno, tivemos a mesa de encerramento com as mensagens finais, os informes sobre a
divulgação dos trabalhos premiados com certificado de destaque e a belíssima apresentação do
Coral da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), interpretando a música Andar com
Fé de Gilberto Gil, sob mediação da Dra. Maria Lúcia Silva Servo e do presidente do CINPSUS,
Dr. Ramon Missias-Moreira (https://www.youtube.com/watch?v=6oUOHfSy11A&t=937s).

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Para essa realização, tivemos a participação ativa de mais de 150 pessoas envolvidas
nas comissões de organização, e a partir desse formato remoto de organização, tivemos todas
as expectativas superadas e fomos surpreendidos com mais de 3.100 inscritos de 15
nacionalidades diferentes, mais de 1.800 trabalhos recebidos em espanhol, inglês e português.
Foram apresentados cerca de 400 trabalhos nas 27 salas de apresentação, em uma das três
sessões de apresentação de trabalho. Procurou-se, com este congresso, inaugurar uma dinâmica
de interlocução permanente do ensino a partir das discussões iniciadas e desenvolvidas nas
disciplinas na Pós-graduação Stricto Sensu - Políticas Públicas de Saúde (PPGPSI) e Políticas
Públicas e Práticas de Saúde (PPGADT), com a pesquisa também realizada no contexto das
disciplinas através da revisão sistemática em que são estimulados a produzir e do GIPEEF
através dos estudos desenvolvidos em suas linhas de pesquisa, bem com a extensão por meio
de ações esporádicas e permanentes que envolvem: ações na/com a comunidade extramuros,
ciclos de palestras, congressos, seminários, programas de aperfeiçoamento, dentre outras.
A partir desse entendimento, em relação as ações desenvolvidas e propostas, foi através
de um trabalho sério, comprometido e solidificado envolvendo pesquisadores(as) parceiros(as)
que estão inseridos(as) em instituições de outros países, que tivemos a oportunidade de
compreender diversas questões sobre a saúde numa perspectiva intercultural. A comissão
científica definiu cinco eixos temáticos: 1) Política, Planejamento e Gestão em Saúde; 2)
Atividade Física, Condições de Saúde e Qualidade de Vida; 3) Saberes e Práticas
Agroecológicas em Saúde; 4) Educação e Formação Profissional em Saúde; 5) Aspectos
Psicossociais e Políticas de Saúde Mental. Consideramos, ainda, a interface com as novas
tecnologias de informação e de comunicação, sendo estes, temas, que vem ganhando relevância
no período atual em que enfrentamos uma crise sanitária causada pela COVID-19. As
discussões do congresso decorreram de forma elevada, foram apresentados trabalhos de
excelente qualidade metodológica e científica, com temas atuais e pertinentes. Os oradores e os

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participantes foram muito proativos e colaborativos. Acrescentando muito valor durante as
discussões.
Estas atividades permitem partilhar a melhor evidência e ter a opinião crítica dos
profissionais da prática. Este estreitar de relações da academia com os profissionais do terreno
são uma mais-valia que tem impacto para ambos. A investigação só faz sentido se tiver ao
serviço da comunidade e a sua construção deve ser levada a cabo em parceria. Estas palestras
são um bom exemplo de partilha e articulação entre os profissionais da academia e da prática
clínica. A aprendizagem de trabalhar em equipe emergiu como coluna central entre os
participantes do grupo de pesquisa e, nessa direção, resulta reconhecer a importância dos
próprios conhecimentos, valorizar o sentido profissional e o espaço do campo de atuação; é
necessário que os profissionais se reconheçam em seus limites e possibilidades dentro de um
trabalho integrado em redes-equipes.
A nossa participação foi uma verdadeira viagem, consideramos ter sido uma experiência
soberba e desafiante. Este projeto megalómano mostrou a importância do querer e da
articulação e coordenação. Trouxe ao de cima a importância do conhecimento e das
competências transversais que são necessárias a todas as profissões hoje em dia. Tornou-se
notória a necessidade do domínio de novas tecnologias e plataformas, competências de gestão/
organização, e as competências comunicacionais (AL-BALAS et al., 2020).
Foi possível organizar um congresso com vários países inteiramente virtual.
Consideramos a tecnologia uma importante aliada para essa realização e para o sucesso das
discussões na medida em que houve interação entre os participantes através das ferramentas
digitais e dos ciberespaços do evento. Nosso congresso contou com os seguintes diferenciais:
palestrantes experientes, de elevada notoriedade, referência e expertise; inscrições gratuitas;
abertura a uma visão interdisciplinar e multiprofissional das políticas públicas de saúde;
democratização da produção e divulgação científica; premiação de destaque aos melhores
trabalhos; exposição de trabalhos produzidos em diferentes grupos, contextos, regiões, idiomas

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e países; e, por último, mas não menos importante, estimulou o intercâmbio de ideias e
convergências de interesses de pesquisas possibilitando o networking qualificado sem
fronteiras, portanto, sem demarcações físicas e/ou geográficas.
Além disso, procurou-se fomentar esforços de articulação na produção de
conhecimentos no cenário (inter)nacional e apontando para a potência do trabalho colaborativo
e integrado em rede-equipe(s), em sua relação com a formação de estudantes, docentes e
profissionais das mais diversas áreas, de diferentes instituições de ensino, de pesquisa e de
gestão de políticas públicas, comprometidos(as) com o fortalecimento dos equipamentos e
sistemas públicos de saúde, da cidadania e da justiça social contribuindo com descobertas
inovadoras para o conhecimento global.
Essa participação coletiva fortaleceu o grupo no sentido de compreender as
investigações científicas que estão sendo realizadas em diversas localidades do Brasil, de países
da Europa e das Américas, sobretudo da América do Sul. A organização do CINPSUS foi
destacadamente a atividade que mais mobilizou o GIPEEF em prol das questões da Saúde
Pública num contexto interprofissional, interdisciplinar e intercultural. Embora tenhamos nos
voltado mais para a organização técnica do congresso em si como organização dos
espaços/salas, inscrições, logística, estruturação das mesas, dos temas, áreas temáticas de
apresentação de trabalhos, tradução dos materiais para o inglês e espanhol, grupos virtuais para
acomodação dos(as) palestrantes, monitores(as) e mediadores(as), marketing e divulgação,
entre outras, sentimos que foi um momento rico, ímpar e de marco histórico em que todos(as)
se envolveram com as temáticas e para que as pessoas que participaram percebessem a relação
do GIPEEF com os demais grupos de pesquisa, universidades, instituições e pesquisadores(as)
de renome na área, em nível nacional e internacional.
No entanto, limitações foram percebidas neste percurso de construção e implementação
do CINPSUS, tais como: diferença de fuso horário; compatibilidade de plataformas;
dependência da internet e da qualidade dela; gestão da comunicação; e, especialmente ausência

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de utilização de um sistema para a organização, gestão e avaliação dos resumos recebidos e o
trabalho ter sido desenvolvido totalmente de maneira manual. Como potencialidades podemos
destacar: ter a participação de ilustres oradores (sem grandes investimentos em viagens,
alojamentos, perdas de tempo em deslocamentos, etc); redução de custos em aluguel de
espaços; participação de profissionais de vários pontos do globo; criar redes de contatos, entre
outros. Na análise SWOT/FOFA do CINPSUS (Figura 2) são destacadas as Forças (Strengths),
Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).

Análise SWOT/ FOFA do CINPSUS


Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).

S (Strengths) W (Weaknesses)
▪ Congresso bem estruturado
▪ Critério de utilidade para a prática dos ▪ Excesso de horas em tempo de ecrã
profissionais para os organizadores e para os
▪ Trabalho de equipe participantes
▪ Dinâmicas inovadoras ▪ Diferença de fuso horário
▪ Estímulo ao empreendedorismo ▪ Ausência de utilização de um sistema
▪ Participação de oradores de renome para a organização, gestão e avaliação
Interno

internacional dos resumos recebidos – o trabalho foi


▪ sem investimento econômico totalmente manual
(viagens, alojamento)
▪ Sem custo de aluguel de espaço
▪ Criação de redes de contato
▪ Envolvimento de estudantes,
pesquisadores e profissionais da saúde
e outas áreas
▪ Programa rico e diversificado

O (Opportunities) T (Threats)

▪ Marco de ser o 1º congresso online ▪ O elevado nº de oferta formativa em


internacional e interdisciplinar de formato online

Externo

saúde pública com grande dimensão e Necessidade de novas competências


repercussão global digitais e de novas plataformas para
▪ Publicação de Anais de resumos dar resposta às exigências do
▪ Publicação de capítulo em E-book mercado
▪ Dependência da internet e da
qualidade da mesma

Figura 2: Análise SWOT do CINPSUS

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Certamente a inserção e participação na atividade proposta contribuiu de sobremaneira
na formação intelectual, social, técnico-científica e cultural, com elevada capacidade de
despertar mais empenho e interesse nos/as participantes pelas contribuições que foram
partilhadas pelos(as) convidados(as) de destaque e notoriedade nesse campo do conhecimento,
com importantes contribuições para o desenvolvimento da Reforma Sanitária Brasileira e dos
outros países em análise. Há uma demanda latente da sociedade para que o atendimento no SUS
seja cada vez mais humanizado, qualificado, universalizado e além disso, que sejam oferecidas
ações e serviços de saúde considerando fortemente o princípio da equidade.
Nesse sentido, procuramos em escala internacional, suscitar não apenas o ‘estado da
arte’ das pesquisas sobre Política, Planejamento e Gestão em Saúde, como também fomentar
pesquisas no campo da Atividade Física, Condições de Saúde e Qualidade de Vida; Saberes e
Práticas Agroecológicas em Saúde; Educação e Formação Profissional em Saúde; e, Aspectos
Psicossociais e Políticas de Saúde Mental, considerando, também, a interface com novas
tecnologias de informação e de comunicação, sendo estes, temas, que vem ganhando relevância
no período atual em que vivenciamos uma crise sanitária causada pela COVID-19.
No processo de construção de uma sociedade saudável existe a necessidade de
envolvimento intersetorial, no qual os diferentes conhecimentos podem ser somados, pensados
e articulados para a resolução de problemas sociais que impactam nas representações sociais,
no processo saúde-doença e na qualidade de vida da população.
Dessa maneira, imbuída do compromisso social com a divulgação científica para que
mais pessoas da comunidade geral e da comunidade acadêmica se apropriem das pesquisas e
dos relatos de experiências desenvolvidos e apresentados no CINPSUS pelos(as) congressistas
autores(as), em seus grupos, contextos, locais, países diferentes, a comissão científica valoriza
os trabalhos produzidos e oportuniza a produção de dois produtos finais registrados com ISBN,
mas que terão utilidade formativa e vida acadêmica longa: Anais de Resumos do I CINPSUS e
o E-Book International Handbook for the Advancement of Public Health Policies.

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A atividade científica e sua produção evoluem (CASTELLS, 2003). Pesquisas, redes e
atividades em redes sociais, como a experiência aqui apresentada, podem melhorar a execução,
realização e problematização de uma política pública de quatro formas: alertando sobre
problemas que podem ser prioritários, orientando os atores para melhores decisões (MILIO,
1993), reconceituando os problemas para facilitar sua compreensão e mobilizando apoios para
uma determinada proposta, por meio da pesquisa acadêmica e da pesquisa aplicada (SCOTT;
WEST, 2001).
Neste contexto, a Universidade como fonte de educação e produtora do conhecimento
científico tem um papel importante na consolidação dos múltiplos papéis sociais ligados a essas
temáticas. Acreditamos que, com as atividades desenvolvidas, possamos somar no sentido de
proporcionar uma UNIVASF que pense, se preocupe, promova ações institucionais de saúde e
de qualidade de vida para sua comunidade acadêmica interna e da população externa, da
sociedade de maneira geral, defendendo sobretudo o nosso Sistema Único de Saúde - SUS.

Considerações finais

As experiências coletivas do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação


e Educação Física (GIPEEF/CNPq) na construção de um congresso internacional sobre
políticas públicas de saúde foram exitosas, embora dificuldades tenham sido sentidas,
percebidas e superadas no meio do caminho. Hoje é viável conseguir a coordenação e gestão
de tarefas com comunicação global e horizontal, em suma, uma forma superior de organizar a
atividade humana e, no nosso caso, uma comunidade de pesquisa educacional humanística.
Destarte, O CINPSUS pretende ganhar notoriedade, consolidando-se como um fórum
de debate sério e comprometido com as problemáticas contemporâneas e sociais que envolvem
a promoção da saúde, o processo saúde-doença, a qualidade de vida, a saúde coletiva, e as
questões inerentes as Políticas Públicas de Saúde, visando reunir discentes e especialistas da

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UNIVASF, assim como, estudantes, profissionais e pesquisadores de outras instituições do
ensino superior do mundo.
Por fim, as atuações das condições de saúde só fazem sentido com o trabalho integrado.
Estas atividades devem/têm de continuar, pois um congresso deste, não pode ser esquecido ou
ficar como uma experiência única. Este estudo piloto merece disseminação e continuidade pelas
boas práticas que mostrou ter, mas temos o imenso desafio de manter e ampliar o grupo, e
agendar congressos anualmente ou bianualmente.

Agradecimentos
Agradecemos a cada membro estudante e professor(a)/pesquisador(a) do GIPEEF e das
instituições parceiras que contribuíram para a organização e realização do CINPSUS, bem
como externamos à nossa gratidão a cada congressista que fez parte e ajudou a construir este
grande roteiro de sucesso.

Referências

AL-BALAS, M. et al. Distance learning in clinical medical education amid COVID-19


pandemic in Jordan: current situation, challenges, and perspectives. BMC Med Educ., v. 20,
n.1, p. 341, 2020. Disponível em DOI: 10.1186/s12909-020-02257-4. Acesso em 05 de agosto
de 2021.
BRONFMAN, M.; LANGER, A.; TROSTLE, J. De la investigación en salud a la política.
La difícil traducción. México: Manual Moderno, 2000.
CASTELLS, M. La galaxia Internet. Barcelona: Actualidad, 2003.
CHIODINI, J. Online learning in the time of COVID-19. Travel medicine and infectious
disease, v. 34, p. 101669, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.tmaid.2020.101669
Acesso em 05 de agosto de 2021.

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COLÁS BRAVO, P. La investigación educativa en la (nueva) cultura científica de la sociedad
del conocimiento. XXI - Revista Educación, v. 4, p. 77-93, 2002. Disponível em
http://www.uhu.es/publicaciones/ojs/index.php/xxi/article/view/623/958 Acesso em 04 de
agosto de 2021.
GURAYA, S. Y.; BARR, H. The effectiveness of interprofessional education in healthcare: A
systematic review and meta-analysis. Kaohsiung J Med Sci., v. 34, n. 3, p. 160-165, 2018.
Disponível em: DOI: 10.1016/j.kjms.2017.12.009. Acesso em 05 de agosto de 2021.
LATOUR, B. Networks, Societies, Spheres: Reflections of an Actor-network Theorist.
Keynote speech presentada en el International Seminar on Network Theory: Network
Multidimensionality in the Digital Age, Los Angeles, CA., 2010. Disponível em
http://www.brunolatour.fr/articles/article/121-CASTELLS.pdf Acesso em 05 de agosto de
2021.
MERTON, R. K. Teoría y estructura sociales, México: FCE, 1964.
MILIO, N. La contribución de la investigación. En: Ciudades Sanas: la nueva salud pública y
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O'REILLY, P. et al. Assessing the facilitators and barriers of interdisciplinary team working in
primary care using normalisation process theory: An integrative review. PLoS One, v. 12, n.
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SCOTT, C; WEST, E. Nursing in the public sphere: health policy research in a changing world.
J Adv Nurs, v. 2, n. 33, p. 387-95, 2001.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). The Ottawa Charter for Health Promotion.
Genebra, Suíça: WHO, 1986.

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REDES E PARCERIAS ACADÊMICAS NA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO EM SAÚDE:
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O CICLO INTERNACIONAL DE PALESTRAS
DO GIPEEF/UNIVASF
Ramon Missias-Moreira1
Alice Gabriella Mororó Marques2
Crismilla dos Santos Silva3
Gilmar Herculano da Silva4
Igor Humberto Ferreira Amorim5
Lenira Ypsilon6
Maria Virgínia Pires Miranda7
Thaysa Trajano Barreto8
Vladimir de Sales Nunes9
Wyara Espírito Santo da Silva10

Resumo: O Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Saúde, Educação e Educação Física


(GIPEEF) é associado ao Colegiado do Curso de Educação Física (CEFIS), ao Programa de
Pós-graduação em Psicologia (PPGPSI) e ao Programa de Pós-graduação em Agroecologia e
Desenvolvimento Territorial (PPGADT) da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(UNIVASF). As linhas de pesquisa relacionadas ao grupo envolvem: Representações Sociais,
Saúde e Qualidade de Vida, Educação, Contemporaneidade e Representações Sociais,
Comunicação, Linguagens e Interdisciplinaridade em Educação Física, Investigação

1
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar
sobre Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF/UNIVASF/CNPq), Petrolina-PE, [email protected]
2
Estudante de Graduação em Psicologia na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Membro
do GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Petrolina, Brasil, E-mail [email protected]
3
Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Membro do
GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Senhor do Bomfim, Brasil, E-mail [email protected]
4
Especialista em Matemática, Servidor do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano
(IFSERTÃO-PE), Membro do GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Petrolina, Brasil, E-mail [email protected]
5
Mestrando em Ciências da Saúde e Biológicas pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
Membro do GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Petrolina, Brasil, E-mail [email protected]
6
Especialista em Libras pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Pedagoga pela UNEB,
Membro do GIPEEF/UNIVASF/CNPq, e-mail [email protected]
7
Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Membro do
GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Petrolina, Brasil, E-mail [email protected]
8
Estudante de Graduação em Psicologia na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Membro
do GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Petrolina, Brasil, E-mail [email protected]
9
Estudante de Graduação em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
Membro do GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Petrolina, Brasil, E-mail [email protected]
10
Enfermeira no Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSERTÃO-PE), Membro
do GIPEEF/UNIVASF/CNPq, Petrolina, Brasil, E-mail [email protected]
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epidemiológica e controle das doenças transmissíveis e não transmissíveis. Frente a isso, seus
objetivos atravessam os três pilares da educação ensino-pesquisa-extensão, cujos objetivos
específicos são voltados para as seguintes temáticas: Representações Sociais; Educação Física;
Condições de Saúde; Qualidade de Vida; Processo de Trabalho; Políticas Públicas e Educação.
Tendo em vista tal organização, o objetivo deste trabalho é descrever as atividades coletivas de
construção e implementação do Ciclo Internacional de Palestras através das redes e parcerias
acadêmicas (inter)nacionais e seu impacto na educação e formação de estudantes e profissionais
das mais diversas áreas do conhecimento. Para tanto, o GIPEEF conta com uma rede de centros
de pesquisas (inter)nacionais como colaboradores, incluindo universidades de Espanha, França,
Portugal e México. O ciclo de palestras ocorre semanalmente e conta com a participação de
diversos profissionais pesquisadores e/ou atuantes com a Teoria das Representações Sociais e
nos serviços de saúde que dialogam com a área da saúde pública. Diante disso, percebe-se que
a crescente necessidade de um grupo colaborativo multidisciplinar revela a importância do
compartilhamento de aprendizados. Nessa perspectiva, o Ciclo de Palestras resulta na influência
e promoção de um ambiente interdisciplinar, a produção e divulgação dos aspectos
psicossociais e elementos socioculturais relacionados à saúde, educação e à Educação Física,
além do estabelecimento de vínculos institucionais que colaboram para a organização e
participação em cursos e em eventos científicos que proporcionam o intercâmbio entre
profissionais e estudantes de diversas instituições. Dessa forma, a integração entre professores,
discentes e profissionais das diversas áreas fortalece as relações de aprendizado, evidencia a
importância de formar grupos de pesquisa, estudo e extensão que trabalhem de forma a integrar
o conhecimento e cumprem o papel social em consolidar o conhecimento científico
intencionado à comunidade proposto pela universidade pública. Por fim, destaca-se a relevância
em nível educacional e social que o GIPEEF consolida ao construir o Ciclo Internacional de
Palestras a fim de difundir o conhecimento científico a partir do acesso gratuito e democratizado
das principais linhas de pesquisa voltadas ao serviço público de saúde, especialmente o Sistema
Único de Saúde (SUS), com o intuito de fortalecimento da Educação e Saúde no Brasil.

Palavras-chave: GIPEEF; Palestras; Educação Interprofissional; Interdisciplinaridade;


Multiprofissional.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
Era dezembro de 2019, em Wuhan, na China, quando surgiu uma nova doença viral e
altamente contagiosa entre seres humanos resultado do coronavírus de síndrome respiratória

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grave 2 (SARS-COV-2). Essa doença se apresenta de variadas formas, desde pessoas que ficam
assintomáticas a pessoas que possuem grave comprometimento respiratório, com repercussões
multissistêmicas que podem levar à morte do paciente infectado (GUO et al., 2020; HUI et al.,
2020). Como essa doença se alastrou em escala mundial e com uma rápida evolução dos casos,
em março de 2020, o então Presidente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom
Ghebreyesus, declarou oficialmente que a doença se chamava COVID-19, e estava anunciada
a pandemia (FU et al., 2020; HU et al., 2020; WHO, 2019).
O mundo inteiro vive tempos estranhos e ainda mais difíceis ao longo dos últimos
meses. Se por um lado são tempos cercados de desafios inusitados, inesperados, dores, perdas,
limitações e lutos, por outro lado evidencia-se uma intensificação do esforço e capacidade de
resistência, superação, resiliência e reinvenção de nossa população. Há uma crise sanitária
devido à pandemia de COVID-19 que deflagrou uma letalidade sem precedentes desde a “gripe
espanhola”, causando um impacto mundial na economia, na educação, na saúde, e na vida das
pessoas obrigando a adesão ao distanciamento físico, embora não social.
No entanto, esse contexto imposto pela pandemia estimulou a continuidade do
movimento porque não se pode esperar pelo seu fim para discutir e encontrar soluções aos
problemas que surgem na sociedade. Nessa direção, a forma de comunicação, os modos de ser
e de se relacionar com as pessoas foram deslocados acentuadamente do plano físico para o
virtual, mas com funções extremamente reais. Todo o mundo iniciou um processo de
isolamento físico de quarentena, evitando deslocamentos não necessários e buscando não se
expor ao risco e não propagar o vírus.
No entanto, as famílias estavam trancafiadas dentro de suas residências,
impossibilitadas de sair para estudar ou trabalhar de maneira presencial, mas em diferentes
condições de buscar novas formas de trabalho, estudo e sobrevivência. O capitalismo, na ótica
da pandemia, só fez asseverar e desvelar ainda mais as desigualdades dos determinantes sociais
em saúde (AQUINO et al., 2020; GUIZZO; MARCELLO; MULLER, 2020).

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Com o fechamento das escolas e universidades, mais de 1,6 bilhão de estudantes ao
redor do mundo tiveram inicialmente suas atividades interrompidas, enquanto docentes tiveram
seus trabalhos duplicados, triplicados com o aumento das demandas laborais no contexto
familiar. Para não prejudicar os alunos em decorrência da pandemia, professores e
pesquisadores continuaram também com as suas atividades de ensino, pesquisa e extensão a
partir dos pressupostos da Ciência, visando instituir possibilidades e encontrar soluções para os
problemas encontrados no contexto vivenciado utilizando de ferramentas digitais para
trabalhar.
Dessa maneira, a colaboração de todas as áreas é fundamental para se aprender sobre a
doença, os seus impactos, consequências e fortalecer ações criativas de enfrentamento. Frente
a tudo isso, a produção do conhecimento produzido especialmente pelas instituições e
universidades públicas teve seu valor e importância postos à prova e evidenciou a necessidade
e relevância de suas práticas educacionais e formativas ancoradas na Pesquisa, Extensão e
Ensino.
Não poderíamos ignorar as consequências trágicas da pandemia para o nosso país e nem
suas repercussões no ecossistema educacional. Era preciso trazer à superfície o importante
papel da ciência através de temas inclusivos, da sustentabilidade, diversidade, qualidade de vida
e saúde, abordando o cuidado e a atenção à saúde de pessoas com deficiência, as Representações
Sociais, a sexualidade, o racismo, a atividade física, espiritualidade, cibercultura, qualidade de
vida no trabalho, entre outros temas. Dessa maneira, aliamos a ciência em prol da comunidade
acadêmica e externa.
Com esse desejo incessante de contribuir, e imbuído de compromisso social, é que o
Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física
(GIPEEF/UNIVASF/CNPq) surge com a missão de colaborar na educação e formação
profissional de estudantes, pesquisadores e profissionais através de conteúdos com elevada
relevância científica, mas, sobretudo, com destacado sentido, potência e funcionalidade política

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e social frente à COVID-19. Dessa maneira, um grupo de pesquisadores e pesquisadoras do
grupo de pesquisa, juntamente com seu corpo discente, propõe o Ciclo Internacional de
Palestras do GIPEEF com reflexões interdisciplinares no contexto da pandemia. Acrescenta-se
que tais membros buscaram cumprir com sua responsabilidade técnico-acadêmica, social, além
da ética profissional em tempos de pandemia.
Destarte, o objetivo deste trabalho é descrever as atividades coletivas de construção e
implementação do Ciclo Internacional de Palestras do GIPEEF através das redes e parcerias
acadêmicas (inter)nacionais e seu impacto na educação e formação de estudantes e profissionais
das mais diversas áreas do conhecimento

Método
O presente estudo é qualitativo, do tipo descritivo, se tratando de um relato de
experiência de um Ciclo Internacional de Palestras com temáticas interdisciplinares e
transversais as suas linhas de pesquisa, realizado pelo Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre
Saúde, Educação e Educação Física, vinculado à Universidade Federal do Vale do São
Francisco.
As intervenções do projeto são realizadas sempre numa perspectiva interdisciplinar. As
palestras ou mesas redondas virtuais acontecem de uma a duas vezes por semana no turno da
tarde, com duração aproximada de noventa minutos cada encontro. As palestras são divulgadas
via e-mail, WhatsApp, Instagram do @gipeef e via website do grupo de pesquisa
(https://portais.univasf.edu.br/gipeef), enquanto que as transmissões ocorrem através do canal
do GIPEEF no YouTube (https://www.youtube.com/c/gipeef).
As atividades deste ciclo estão agendadas até dezembro de 2021. No entanto, de março
até o início de agosto de 2021, já foram realizados 19 encontros envolvendo palestras, mesas
redondas, cursos ou aprofundamentos com temas importantes para a formação de nossos
estudantes e da comunidade em geral.

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Por se tratar de um trabalho eminentemente coletivo e para concretizar o objetivo
proposto, elaboramos um planejamento estratégico constando as seguintes etapas, que não são
lineares, mas complementares: 1) discussão e construção do projeto de extensão; 2) definição
de temas a serem abordados; 3) elaboração de carta convite e contato com pesquisadores(as)
com o perfil para o tema; 4) confecção e divulgação de cards via WhatsApp, e-mail, Instagram,
Facebook, website, etc.; 5) elaboração de link com formulário de inscrições; 6) construção de
texto de apresentação curricular do(a) palestrante e elaboração de perguntas sobre o tema; 7)
criação dos links na plataforma Stream Yard para realização das transmissões no canal do
YouTube do GIPEEF; 8) mediação das palestras ao vivo no YouTube; 9) confecção dos
certificados dos ouvintes inscritos e dos(as) palestrantes; 10) avaliação pós-evento e envio dos
certificados por e-mail. Ao fim de cada palestra, as funções eram trocadas entre si, em espécie
de rodízio, com o intuito de que todos pudessem vivenciar todas as etapas da construção e
implementação das edições do ciclo.

Resultados e discussão
O Ciclo Internacional de Palestras do GIPEEF, com a perspectiva de acolher a
comunidade acadêmica e provocar reflexões críticas sobre diversos temas sob o aporte da
Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 2015; JODELET, 2001), iniciou suas
atividades no dia 17 de março de 2021, tendo como público-alvo acadêmicos(as) e
professores(as) do próprio GIPEEF, bem como a comunidade interna da UNIVASF. Esse
primeiro encontro, que tratou sobre a espiritualidade em sua relação com a qualidade de vida
em tempos de pandemia, aconteceu na plataforma Conferência RNP e, portanto, não foi
gravado. Logo atingimos o limite máximo da sala e, em decorrência do grande número de
acessos e pedidos, começamos a transmitir via Stream Yard no canal do GIPEEF no YouTube.
Geralmente as palestras variam em sua duração entre 60 e 120 minutos quando se trata
de um curso ou aprofundamento em um tema específico. Essas transmissões do ciclo acontecem

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antes das reuniões científicas do grupo de pesquisa, geralmente às quartas-feiras, e ao findar
nos reunimos para discussão de textos, capítulos, livros, projetos de pesquisa, etc. No YouTube,
em apenas 4 meses, o canal passou de 2 para 906 inscritos, e analisando os vídeos dos 19
encontros realizados e gravados até o presente momento, o total de visualizações ultrapassou
3,5 mil, o que demonstra uma quantidade surpreendente e com muitas interações no bate-papo
durante as transmissões, com comentários e perguntas para as(os) professoras(es)
convidadas(os).
A pesquisa, em sua essência, é parte integrante de qualquer extensão e/ou contexto da
sociedade. Está de fato integrada no cotidiano de qualquer indivíduo, mesmo que não
diretamente no sentido científico. No campo científico, ela perpassa as diversas áreas do
conhecimento. Nesse contexto, encontram-se os grupos de pesquisa, que são potentes
instrumentos de viabilização de trocas, construções, e potencializações para qualquer
pesquisador e estudante.
O Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF),
mesmo em meio ao contexto de pandemia, tem sido efetivo no exercício de suas atividades,
que vêm propiciando proficuidade na educação e formação profissional de pessoas de diversas
áreas do conhecimento, instituições, regiões e diferentes países, visto que, dentre as atividades,
promove ciclos internacionais de palestras através do canal do GIPEEF no YouTube, com
abordagens grandiosas que contribuem diretamente com o compartilhamento de saberes,
edificando e acrescentando teoria e prática.
Desde março de 2020 temos visto muitas lives sendo propostas e não tínhamos aqui a
intenção de tornar este em mais um projeto de entretenimento. Do contrário, a nossa intenção
foi sempre aliar à ciência em prol da comunidade, atestando o nosso importante papel para a
emancipação crítica dos sujeitos (FREIRE, 1999). Mesmo diante de tantas dificuldades e
incertezas nesse contexto de pandemia, abrimos o espaço de diálogo, acolhimento e interação
com a comunidade acadêmica da UNIVASF e de outras universidades do Brasil e do exterior

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que já trabalhavam em conjunto com o coordenador do grupo ou passaram a estabelecer novos
vínculos acadêmicos. O convite foi então ampliado para esses(as) pesquisadores(as) externos
para firmar laços entre docentes, discentes e profissionais das diversas áreas. Há então o
fortalecimento das relações de aprendizado, evidenciando a importância de formar grupos de
pesquisa, estudo e extensão que trabalhem de forma a integrar o conhecimento e cumprir o
papel social em consolidar o conhecimento científico intencionado à comunidade, conforme
proposto pela universidade.
Nesse mesmo sentido, Maximino e Liberman (2015, p. 270) argumentam sobre a
importâncias modificações de atitudes dos integrantes a partir do seu engajamento em
atividades explícitas e implícitas, e orientam que essas tarefas demandadas em grupos, não se
limita ao desenvolvimento das atividades com o fim em si mesmo ou na concretização de um
produto final, mas, de outra maneira, diz respeito “à aprendizagem e ao crescimento pessoal
que esse “fazer junto” e esse “fazer com” possibilitam aos integrantes”.
Muitos temas relevantes foram abordados por pesquisadores(as) brasileiros, mexicanos,
espanhóis e portugueses, demonstrando a riqueza da interculturalidade para a compreensão e
enfrentamento de nossos problemas sistêmicos e os inusitados que estamos aprendendo a
resolver coletivamente nestes tempos de pandemia. Cada palestrante tinha o seu tempo pré-
definido para refletir e provocar os participantes sobre o tema e na sequência havia a interação
via bate-papo, através do qual o(a) mediador(a) fazia intervenções e compartilhava os
comentários dos participantes. No decorrer do ciclo de palestras, observamos que o
envolvimento dos ouvintes foi aumentando gradativamente, visto que, ao final, a participação
ativa pelo bate-papo foi maior quando comparada aos encontros iniciais.
No Quadro 1 destaca-se as datas, as atividades e as(os) convidadas(os) do Ciclo
Internacional de Palestras.

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Quadro 1: Datas, atividades e convidados(as) do Ciclo Internacional de Palestras do GIPEEF.
Datas Atividades Convidados(as)
Palestra de Abertura: Espiritualidade em sua relação com a Profa. Msc. Ivone Gonçalves Nery
17/03
Qualidade de Vida em tempos de pandemia (UESB)
Tema: As pessoas negras no cinema estadunidense: Profa. Dra. Ivete Batista da Silva Almeida
24/03
representações sociais e estereótipos (PROFHIS/UFU)
Tema: A construção de objeto de pesquisa em Representações Prof. Dr. Marcelo Ribeiro (UNIVASF)
31/03 Sociais
Palestra internacional: “Ni héroes, ni mártires”: Prof. Dr. Donovan Casas Patiño
14/04 representaciones sociales de médicos(as) en el territorio (Universidade Autônoma do Estado do
COVID-19 México - REDSACSIC)
Tema: Representações Sociais na Abordagem Estrutural: A Profa. Dra. Daisy Brito de Rezende (USP)
22/04
Teoria do Núcleo Central
Tema: Processos formadores das representações sociais – Profa. Dra. Maria Lúcia Silva Servo
28/04
Ancoragem e Objetivação (PPGENF/PPGSC/UEFS)
Prof. Dr. Lucineudo Machado Irineu
05/05 Tema: Abordagem discursiva das Representações Sociais
(PPGLA/UECE)
Profa. Dra. Paula Clara Santos (ESS|Pporto),
Mesa redonda Internacional: Qualidade de vida e saúde
10/05 Msc. Sara Moreira (ICBAS/UP), Dra. Cristina
ocupacional
Mesquita e Dra. Sofia Lopes (ESS|PPorto)
Minicurso: Estrutura Central das Representações Sociais – Prof. Dr. Hugo Cristo (UFES)
12/05
operacionalizando o Software OPEN EVOC
Palestra Internacional: Atividade Física e Qualidade de Vida Prof. Dr. Jorge Mota
24/05
em tempos de pandemia COVID-19 (CIAFEL/FADEUP/Portugal)
19/05 Tema: Gestão do tempo discente com qualidade de vida e saúde Profa. Dra. Shirley Macêdo (UNIVASF)
Tema: Capacitismo e barreiras atitudinais em relação as Profa. Dra. Fernanda Araújo
26/05
pessoas com deficiência: uma análise das representações sociais (UNINASSAU)
Aprofundamento: Conceito de Representação social na Profa. Dra. Fátima Santos
02/06 perspectiva moscoviciana. Conhecimento sobre os tipos das (UFPE/ANPEPP)
Representações Sociais.
Palestra Internacional: Musicoterapia en su relación con la Profa. Msc. Elena Fernández Menéndez
06/07
calidad de vida (Espanha)
Profa. Dra. Georgina Contreras Landgrave
Palestra Internacional: Determinantes sociales de la salud en
13/07 (Universidade Autónoma do Estado do
tiempos de pandemia COVID-19
México)
Profa. Dra. Maria Lúcia Silva Servo
Minicurso: Técnicas de coleta de dados em estudos de
21/07 (UEFS) / Doutoranda Rejane Barreto
Representações Sociais
(UEFS)
Palestra Internacional: Educación y familia en tiempos de Profa. Msc. Irene Rejón (Espanha)
04/08
pandemia COVID-19
Profa. Dra. Olga Valentim (IPLUSO-
06/08 Mesa redonda Internacional: Qualidade de Vida no Ensino Portugal). / Profa. Dra. Lídia Moutinho
Superior (ERISA) / Prof. Dr. João Longo (ERISA)
Palestra Internacional: Salud colectiva, Representaciones Profa. Dra. Alejandra Rodríguez
18/08 Sociales y Territorio en Salud en tiempos de COVID-19 Benemérita Universidad Autónoma de
Puebla (BUAP), México
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É inegável o destaque que o Ciclo Internacional de Palestras vem tendo, reunindo
inúmeras pessoas de diversos lugares para além do Brasil, de diferentes áreas do conhecimento
e atuação e que, com muito interesse, se deleitam nos saberes compartilhados a cada encontro.
Ao término de cada momento, seja de palestra, curso ou aperfeiçoamento, emergem interações
contributivas entre palestrante e participantes, perguntas e dirimição de dúvidas, além de
comentários repletos de encantamento e gratidão por parte de todos os envolvidos e
participantes, atestando a relevância desses momentos proporcionados.
No entanto, algumas possíveis dificuldades para a realização do ciclo estão relacionadas
ao horário, que é sempre pela tarde, apesar de todas as atividades ficarem gravadas e disponíveis
no canal do YouTube para serem acessadas posteriormente. Outras dificuldades são a qualidade
da conexão de internet, o manejo de alguns recursos funcionais, o fuso horário para quem
acompanha de outros países, etc.
Durante esses 4 meses de ciclo, bem como nas atividades em curso e nas que estão por
vir, tem havido uma abertura ao diálogo e o fortalecimento da solidariedade na dimensão
pública, reconhecendo o papel das instituições de ensino superior, através de seus grupos de
pesquisa, na formação da cidadãos conscientes de seu papel no mundo. Nessa direção,
evidencia-se com a mais notória atualidade a reflexão proposta por Adorno (2003), quando nos
incita e provoca a pensar no sentido da Educação e o impacto dessas ausências. Esse autor
expõe sua concepção de educação da seguinte maneira:

Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não


temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior: mas também não
a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi
mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isto
seria inclusive da maior importância política; sua ideia, se é permitido dizer
assim, é uma exigência política (ADORNO, 2003, p. 141).

Ações efetivas de promoção de uma consciência verdadeira, enquanto exercício


político, que fluidifica-se ainda mais nessa conjuntura de pandemia e é silenciada em diversas

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esferas e dimensões. Frente às angústias, incertezas e desafios educativos que são provocados
pela pandemia de COVID-19, destacamos que o Ciclo Internacional de Palestras do GIPEEF
foi e está sendo apenas uma tentativa de propor ações para a educação e formação de estudantes,
profissionais, e o desenvolvimento da reflexão crítica da comunidade acadêmica.
Constatamos que, no planejamento, quando bem executado, as chances do êxito são
bem alargadas. Há importância do trabalho em grupo, tanto nas equipes quanto no geral, porque
quanto mais interações e compartilhamento de informações entre as pessoas, mais próximos
ficamos do sucesso das atividades. A utilização das ferramentas virtuais favoreceu incentivo
para novas experiências com eventos remotos online, utilização das mídias digitais para a
divulgação científica e fins acadêmicos aproveitando ausência de limite físico e geográfico, a
potência delas de atingir espaços antes inatingíveis na modalidade presencial, e a aprendizagem
do marketing digital, resolvendo imprevistos dos problemas técnicos ao vivo, sendo todos esses
fatores que ajudam e colaboram ao nosso desenvolvimento.
Além disso, buscamos fomentar esforços coletivos de articulação na produção de
conhecimentos no cenário (inter)nacional e apontando para a potência do trabalho colaborativo
e integrado em rede-equipe(s), em sua relação com a formação de estudantes, docentes e
profissionais das mais diversas áreas, de diferentes instituições de ensino, de pesquisa e de
gestão, comprometidos(as) com o fortalecimento dos equipamentos e sistemas públicos de
saúde, da cidadania e da justiça social, contribuindo com descobertas inovadoras para o
conhecimento global.
Os grupos de pesquisa são espaços importantes de proximidade entre pesquisadores e
alunos e favorecem a discussão e a ampliação do conhecimento. Cunha (2009, p. 35) indica
que, “esses grupos podem, por sua vez, apresentar distintos contornos, dependendo do contexto
e finalidades para as quais se articulam. Numa ampliação exponencial de sua configuração,
surgem as redes de pesquisa”. Isso nos coloca no dever e na obrigação de tecer redes e parcerias
acadêmicas, construir pontes sem limites geográficos para o enfrentamento de obscurantismos

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de qualquer natureza e para o avanço da ciência e da saúde pública no Brasil e no mundo.
Apontamos, portanto, para a potência do trabalho colaborativo e integrado em rede-equipes
fomentando esforços coletivos de articulação na produção de conhecimentos no cenário
(inter)nacional, transpondo obstáculos e barreiras em plena harmonia com o desenvolvimento
social global.
Certamente ainda temos muito a aprender para nos unirmos e fortalecermos cada vez
mais enquanto grupo de pesquisa, para ampliar nossos olhares e nossas pesquisas sobre os
objetos de estudo que escolhemos e trabalhamos, e assim desenvolver estudos que ajudem na
constante transformação da saúde e da educação de nosso país. Todo grupo de pesquisa se
renova com a inserção de novos(as) integrantes, mas é interessante notar que essa
movimentação exige uma certa dinamicidade e uma liderança sensível, que seja capaz de
observar esta circulação e manter as intencionalidades do grupo, para que os(as) participantes
sintam que estão aprendendo, se desenvolvendo e crescendo em harmonia e sintonia com/nas
reflexões, no conhecimento e nas participações, de maneira a expressarem uma mesma
linguagem. Portanto, de acordo Rossit et al. (2018, p. 1518) cabe reconhecer as limitações de
seu campo de atuação, ser “respeitoso e identificar no outro as possibilidades para novas
aprendizagens são aspectos fundamentais “no” e “para” o trabalho em equipe, reforçando a
identidade profissional no ambiente interdisciplinar”.
As experiências coletivas de construção e implementação do Ciclo Internacional de
Palestras do GIPEEF/UNIVASF/CNPq através das redes e parcerias acadêmicas
(inter)nacionais cumpriram seu objetivo mesmo diante das dificuldades que foram superadas e
tiveram seu impacto positivo na educação e formação de estudantes e profissionais das mais
diversas áreas do conhecimento que acompanharam as atividades.

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Considerações finais
Concluímos que somente o trabalho integrado em equipe faz sentido e pode gerar
melhores resultados, que o desfecho dessa rica experiência aponta que as ferramentas utilizadas
são boas opções para a discussão e interação entre oradores(as) e participantes, e que as mídias
digitais podem ser utilizadas com finalidades acadêmicas, tornando acessível a informação
baseada em evidências científicas em detrimento de tantas fake news circuladas ultimamente.
Ademais, percebe-se que, desde a criação do GIPEEF, tanto pesquisadores parceiros
estão sendo constantemente estimulados a produzir, a colaborar, a planejar, a executar ações
em conjunto, bem como nota-se o impacto positivo na formação de subsídios técnicos-
científicos naqueles que participam das atividades do Ciclo propostas pelo grupo de pesquisa
em tela, além da aglomeração científica virtual de inúmeras instituições de ensino superior
interessadas nos distintos temas discutidos pelo grupo.
Por fim, destaca-se a relevância a nível educacional e social que o GIPEEF consolida
ao construir o Ciclo Internacional de Palestras a fim de difundir o conhecimento científico a
partir do acesso gratuito e democratizado das principais linhas de pesquisa voltadas ao serviço
público de saúde, especialmente o Sistema Único de Saúde (SUS), com o intuito de
fortalecimento da Educação e Saúde no Brasil. Das paredes às redes é possível integrar, incluir,
ampliar e demonstrar o verdadeiro papel da Universidade Pública de seus institutos,
departamentos, grupos de pesquisa e ligas acadêmicas na construção de uma sociedade mais
justa, democrática e igualitária.

Agradecimentos
Agradecemos a cada membro docente e discente do nosso grupo de pesquisa, aos(as)
oradores(as) convidados(as) que aceitaram o desafio e colaboram no processo de construção do
Ciclo Internacional de Palestras do GIPEEF. bem como agradecemos aos ouvintes de tantas
instituições distintas por interagirem e ajudarem a construir as nossas atividades em grupo.

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Referências

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Potenciais impactos e desafios no Brasil. Cienc. e Saúd Colet., v. 25, s.1, p. 2423-2446, 2020.
Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/medidas-de-distanciamento-
social-no-controle-da-pandemia-de-covid19-potenciais-impactos-e-desafios-no-brasil/17550.
Acesso em: 03 ago. 2021.
CUNHA, Maria Isabel da. Conhecimento em redes: os grupos de pesquisa e as possibilidades
de produção compartilhada. In: BROILO, C. L.; GILBERTO, I. J. L. (org.). Grupos de
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10.1016/j.jinf.2020.03.041.
GUIZZO, Bianca Salazar; MARCELLO, Fabiana de Amorim; MULLER, Fernanda. A
reinvenção do cotidiano em tempos de pandemia. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 46, e. 238077,
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GUO, Y. R. et al. The origin, transmission and clinical therapies on coronavirus disease 2019
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HU, Y. et al. Prevalence and severity of corona virus disease 2019 (COVID-19): A systematic
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HUI, D. S. et al. The continuing 2019-nCoV epidemic threat of novel coronaviruses to global
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As representações sociais. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001.
MAXIMINO, V; LIBERMAN, F. Grupos e terapia ocupacional: formação, pesquisa e ações.
São Paulo: Summus Editorial; 2015.
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. 9 ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
ROSSIT, Rosana A. S. et al. Grupo de pesquisa como espaço de aprendizagem em/sobre
educação interprofissional. Revista Interface comunicação, saúde e educação, v. 22, n. Supl.
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em: 29 de jul. 2021.
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Acesso em: 03 ago. 2021.

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SEÇÃO II

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL


EM SAÚDE
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ESTRATÉGIAS E ABORDAGENS NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS BUCAIS E
PROMOÇÃO DA SAÚDE DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Kelly Fernanda Molena1


Alana Emanuele de Araujo2
Alexandra Mussolino de Queiroz3

Resumo: A saúde bucal é um componente vital da saúde geral que contribui para o bem-estar
e a qualidade de vida de cada indivíduo ao afetar positivamente a saúde física, social, mental, a
aparência e as relações interpessoais. Existiam em 2010, no Brasil, 6.5 milhões de pessoas com
alguma deficiência visual (DV). As crianças com DV encontram desafios para sua saúde bucal,
elas dependem dos órgãos sensoriais para o aprendizado e, muitas vezes, os métodos usuais de
ensino de higiene bucal para remoção do biofilme dentário (placa bacteriana) e prevenção da
cárie não são eficazes, pelo fato de envolverem agentes reveladores de biofilme e a percepção
visual do indivíduo. Porém, existem estratégias que podem ser usadas para promover a
educação em saúde bucal para eles, como textos em Braille, áudios e técnicas táteis. Com isso,
a interdisciplinaridade entre dentistas e pedagogos se faz necessária por meio do
desenvolvimento de estratégias e abordagens que facilitem esse aprendizado e promovam a
saúde bucal, principalmente na atenção básica que é a porta de entrada do indivíduo no Sistema
Único de Saúde (SUS). O objetivo desse trabalho é apresentar uma revisão da literatura sobre
as estratégias e abordagens utilizadas para a prevenção de doenças bucais e promoção da saúde
de pessoas com DV como meio aplicável nos serviços de saúde brasileiro. Foi realizada uma
busca nas bases de dados do Pub Med, Scielo e Web of Science, com os “mesh terms”: “vision
disorders” and “oral health “, “visual impairment” and “oral health” e “visually impaired
children” and “oral health education”, abrangendo os idiomas inglês, português e espanhol,
artigos na íntegra e que continham os “mesh terms” no título, resumo ou nas palavras-chaves,
entre os anos de 2010-2021. Foram excluídas revisões sistemáticas, cartas ao editor, livros e
documentos gerais fora do tema proposto. Inicialmente foram encontrados 390 artigos, destes,
seguindo os critérios de inclusão do trabalho, foram selecionados 54 artigos e após excluir
manualmente as duplicatas e realizar leitura criteriosa do título e resumo, os artigos finalmente
selecionados foram numerados e organizados em tabelas. Com isso, 21 artigos foram

1
Cirurgiã – dentista e Doutoranda do Programa de Pós graduação em Odontopediatria pela Faculdade de
Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil, e-mail: [email protected]
2
Pedagoga pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil
3
Cirurgiã – dentista e Professora Titular do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil
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selecionados que usavam como ferramentas de educação em saúde o texto em Braille, a técnica
ATP (audio tactile performance), macromodelos dentais e instruções de aúdio e músicas. A
faixa etária dos participantes estudados eram de 5-20 anos, com DV moderada a perda total
bilateral, sua maioria eram crianças institucionalizadas onde utilizaram o Índice de placa como
meio de observar a qualidade pré e pós aplicação das estratégias. As técnicas de educação em
saúde bucal, usadas conjuntamente ou separadas, reduziram os níveis de biofilme dental e
houve melhora da higiene bucal destes indivíduos, são técnicas acessíveis e que podem ser
incorporadas pela equipe em saúde bucal no consultório e em escolas, para promoção em saúde,
com auxílio de profissionais capacitados como o pedagogo. Portanto, crianças com DV podem
manter um melhor nível de higiene bucal quando utilizadas estratégias e abordagens e estas
podem ser replicadas por cirurgiões dentistas em unidades de saúde e/ou escolas.

Palavras-chave: Educação em Saúde bucal; Promoção da Saúde; Educação de pessoas com


deficiência visual; Pessoas com deficiência visual; Saúde das minorias.

Eixo Temático 4: Educação e Formação profissional em saúde

Introdução
Segundo o Artigo 196 da Constituição Federal Brasileira: “A saúde é um direito de todos
e dever do estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Assim, todos independentemente da
cor, raça, credo, condições físicas, mentais ou socioeconômicas, possuem direito a saúde, e
pensando no significado da palavra saúde, que é completo bem estar físico-mental e social,
como abordado pela Organização Mundial da Saúde (CONTI, 2018), promover saúde é também
promover qualidade de vida do indivíduo.
Nesse ínterim, no Brasil o Sistema Único de Saúde (SUS) possibilita a assistência em
saúde da população e possui como porta de entrada as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Na
UBS o cirurgião-dentista, como parte da Equipe de Saúde da Família (ESF), possui como uma
de suas atribuições realizar a atenção integral em saúde, além de coordenar e participar de ações
coletivas voltadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais (BRASIL, 2008, p.
19-20). Pensando nisso, a saúde bucal é fundamental para a saúde geral do indivíduo e ela deve
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ser ofertada desde cedo, pois a longo prazo problemas como periodontite podem contribuir para
aumento da carga bacteriana resultando em uma resposta inflamatória sistêmica significativa,
o que pode favorecer alterações, como diabetes, complicações na gravidez e doenças
cardiovasculares (TONETTI; VAN DYKE, 2013; CHAPPLE; GENKO, 2013; SANZ;
KORNMAN, 2013).
Segundo dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2010 (BRASIL, 2010), 18,6% da população brasileira possui algum tipo de
deficiência visual (DV). Desse total, 6,5 milhões apresentam DV severa, sendo que 506 mil têm
perda total da visão (0,3% da população) e 6 milhões, grande dificuldade para enxergar (3,2%).
Crianças com DV costumam ter práticas de higiene bucal mais precárias (CHANG; SHIH,
2004), o que prejudica a saúde bucal, provocando aumento das taxas de cárie e inflamação
gengival (REDDY; SHARMA, 2011; ANAISE, 1979; ALSADHAN et al., 2017; OZDEMIR
et al., 2012). A deficiência visual é um desafio para saúde bucal, pois os métodos convencionais
de educação em saúde bucal (OHE) não são adequados para crianças com DV, haja vista, que
esses métodos geralmente envolvem demonstração visual com modelos ou tinturas reveladoras
de placa.
Por isso, a OHE deve ser baseada em formas multissensoriais por meio de comunicação
audíveis ou táteis. Um método tradicional de OHE para pessoas com DV é fornecido em Braille
ou áudio. Porém, em 2012 foi descrito pela primeira vez um método de combinação
denominado áudio-tactile-performance (ATP) (HEBBAL; ANKOLA, 2012), e desde então,
diversos estudos vem investigando a eficácia dessa técnica. Nos estudos que avaliaram OHE
encontraram mudanças positivas pós-intervenção, mostrando que crianças com DV podem
entender com sucesso a necessidade de manter sua higiene oral quando recebem ajuda e
instruções adequadas (HEBBAL; ANKOLA, 2012; KRISHNAKUMAR et al., 2016;
DEBNATH et al., 2017; KUMAR et al., 2012). Ademais, o interprofissionalismo é de grande
valia, onde profissionais como terapeutas ocupacionais ou pedagogos podem auxiliar o

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cirurgião dentista no desenvolvimento e aplicação dessas estratégias de educação em saúde
bucal. Muitas dessas ferramentas, quando bem estudadas, e com equipe ou profissionais
capacitados, podem ajudar a levar educação em saúde bucal de forma eficiente e de baixo custo,
tornando uma ferramenta acessível para serem ministradas nos serviços de saúde brasileiros.
Chua et al. (2021) apresentam uma revisão de literatura sobre diferentes métodos de
OHE com a finalidade de recomendar um método específico de OHE para crianças e
adolescentes com DV, mas em sua revisão nenhum método teve evidência de ser superior ao
outro, porém, quando associados apresentavam um melhor resultado. A literatura carece de
estudos que abordem tais abordagens com vista a promoção de saúde e prevenção de doenças
bucais no sistema de saúde brasileiro.
Com isso, esse trabalho tem o objetivo de apresentar uma revisão da literatura sobre as
estratégias e abordagens utilizadas para a prevenção de doenças bucais e promoção da saúde de
pessoas com DV, como meio aplicável nos serviços de saúde brasileiro.

Método
A metodologia foi definida seguindo as diretrizes PRISMA (MOHER et al., 2015) e a
pesquisa bibliográfica se deu em 4 bases de dados: PubMed, Scielo e Web of Science, no
período de 01 de janeiro de 2010 a 25 de abril de 2021, cuja questão focada na revisão foi:
“Quais estratégias e abordagens podem ser usadas para prevenção de doenças e promoção de
saúde bucal em crianças com deficiência visual?”.
A primeira fase estabeleceu uma investigação para definir os termos MeSH (Medical
Subject Headings) a fim de garantir alta sensibilidade e precisão, e os pesquisadores rastrearam
títulos e publicações de resumos. Nas buscas, foram utilizados os termos MeSH: “vision
disorders” and “oral health “, “visual impairment” and “oral health” e “visually impaired
children” and “oral health education”, abrangendo os idiomas inglês, português e espanhol.

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Os artigos que descrevem Estratégias e diferentes abordagens para educação em saúde
bucal em pessoas com deficiências visual, seja cegueira moderada ou total, com base nos títulos
e resumo foram incluídos nesta revisão. Os artigos originais em inglês, espanhol e português
no período definido (2010-2021) com resumo disponível na base de dados foram avaliados e
validados dentro dos critérios de inclusão. Os critérios de inclusão foram definidos por meio da
estratégia PICOS (Tabela 1), onde foram incluídos ensaios clínicos randomizados que
compararam diferentes estratégias e abordagens de educação em saúde bucal e promoção de
saúde bucal, foram incluídos artigos na íntegra e que continham os termos MeSH no título,
resumo ou nas palavras-chaves, no período previamente definido e foram excluídas revisões
sistemáticas, cartas ao editor, livros e documentos gerais fora do tema proposto.

População Crianças com deficiência visual

Intervenção Estratégias de educação e promoção de saúde bucal

Comparação Crianças com deficiência visual pré-intervenção

Outcome / Desfecho Houve melhora da saúde bucal

Study / Tipo de Estudo Ensaios clínicos randomizados

Tabela 1. Estratégia PICOS e os critérios de inclusão utilizados nas buscas dos artigos

Os artigos selecionados de acordo com os critérios de eleição foram recuperados em


formato PDF, numerados e distribuídos aleatoriamente entre os três pesquisadores. A lista de
referências foi checada manualmente pelos pesquisadores com o objetivo de recuperar
publicações que não foram encontradas anteriormente na pesquisa nos bancos de dados, para
aumentar a sensibilidade e qualidade da revisão. Uma reunião de consenso foi realizada para
discutir divergências após a avaliação da qualidade das publicações e garantir a validação dos
artigos selecionados pelos pesquisadores.

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Os artigos incluídos no estudo foram distribuídos aleatoriamente entre os pesquisadores
para a coleta de dados relevantes. Por meio de uma tabela foram selecionados dados importantes
incluindo: autor e ano de publicação, número de participantes e faixa etária, abordagens
utilizadas e desfecho, a fim de observar as principais estratégias e abordagens utilizadas na
literatura para prevenção de doenças bucais e promoção de saúde da pessoa com deficiência
visual. Com os resultados coletados, os dados foram avaliados um a um, e a síntese das
estratégias utilizadas foram apresentadas por meio de gráficos e discutidas nos resultados.

Resultados e discussão
Na primeira fase, foram identificados 390 artigos nas bases de dados e 336 foram
excluídos fora do tema proposto após leitura do título e resumo, permanecendo 54 artigos para
leitura completa. Após avaliação de todos os registros, 33 artigos foram selecionados, onde
foram lidos na íntegra e seguindo os critérios de inclusão e exclusão. Com isso, 21 artigos foram
finalmente incluídos, conforme orientado abaixo (Infográfico1).
Identificação

Busca nas bases de dados


PubMed, Scielo e Web of Science

(n= 390)
Excluídos pelo título,
resumo e artigos duplicados
(n= 336)

Artigos selecionados para


Estratégia

leitura completa

(n= 54)

Artigos que não atendiam aos


critérios de inclusão

(n= 33)
Artigos finalmente selecionados
Inclusão

(n= 21)
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Infográfico 1. Diagrama de fluxo de pesquisa de literatura e critérios de seleção adaptados de PRISMA (Itens de
relatório preferidos para revisões sistemáticas e meta-análises).

Todos os estudos incluídos foram publicados entre os anos de 2012 a 2020. Foi um total
de 1951 indivíduos de baixa visão ou cegos e que não apresentavam outra deficiência. A faixa
etária era dos 6 aos 20 anos e foram avaliadas pessoas do sexo feminino e masculino com uma
proporção parecida em cada estudo. Todos os estudos foram realizados em escolas. Um total
de quinze estudos foram realizados na Índia (SARDANA et al., 2019; DESHPANDE;
RAJPUROHIT; KOKKA, 2017; HEBBAL; ANKOLA, 2012; AGGARWAL; GOSWAMI;
DHILLON, 2019; TIWARI et al., 2019; KHURANA et al., 2019; CHOWDARY et al., 2016;
DEBNATH et al., 2017; DAS et al., 2018; BHOR et al., 2016; MAHANTESHA et al., 2015;
KRISHNAKUMAR et al., 2016; GAUTAM; BAHMBAL; MOGHE, 2018; GANAPATHI et
al., 2015; GAUTAM et al., 2020), um realizado no Irã (SHARIFIFARD et al., 2020), Indonésia
(SUHARSINI et al., 2017), Bulgária (DOICHINOVA; GATEYA; HRISTOV, 2019),
Paquistão (QURESHI; SAADAT; QURESHI, 2017); Malásia (SHAHABUDIN; HASHIM;
OMAR, 2016) e um na Tailândia (ARUNAKUL et al., 2015).
Faltavam informações em alguns estudos sobre os dados demográficos da amostra como
sexo, local de residência e grau de comprometimento dos participantes. Os objetivos principais
de todos os estudos foram parecidos: avaliar a eficácia das diferentes estratégias de OHE no
estado de higiene oral de crianças com deficiência visual. Os vinte e um estudos relataram
escores de índice de placa, dois avaliaram também a presença de cárie dentária
(MAHANTESHA et al., 2015; AGGARWAL; GOSWAMI; DHILLON, 2019) e seis deles
forneceram comparações usando um questionário sobre conhecimentos, atitudes e práticas em
saúde bucal (CAP) (SARDANA et al., 2019; TIWARI et al., 2019; KHURANA et al., 2019;
DEBNATH et al., 2017; DAS et al., 2018; BHOR et al., 2016). Como resultados, após a
intervenção, o Índice de Placa diminuiu e o CAP aumentou, o que sugere que essas estratégias
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e abordagens especiais devem ser ofertadas como OHE a pessoas com DV, a fim de viabilizar
uma saúde bucal e qualidade de vida destas.
A frequência da educação de reforço variou de semanal a mensal, os menores índices
de placa pós intervenção se deram, principalmente, quando foram realizados reforços
rotineiramente por um longo período de tempo (AGGARWAL; GOSWAMI; DHILLON,
2019).
Os métodos de intervenção empregados pelos estudos podem ser amplamente
categorizados como estratégias isoladas: ATP, braille, áudio, verbal e modelos (Gráfico 1)
(SHARIFIFARD et al., 2020; DESHPANDE; RAJPUROHIT; KOKKA, 2017; HEBBAL;
ANKOLA, 2012; TIWARI et al., 2019; KHURANA et al., 2019; CHOWDARY et al., 2016;
BHOR et al., 2016; MAHANTESHA et al., 2015; KRISHNAKUMAR et al., 2016;
GANAPATHI et al., 2015; GAUTAM et al., 2020) e pelo menos uma estratégia combinada ou
multissensorial em cada estudo (Gráfico 2), estas apresentaram maior eficácia na redução no
Índice de Placa e aumento do CAP. Sardana et al. (2019), diferentemente dos demais autores,
utilizaram a ferramenta JAWS, que é um programa de computador onde é possível obter um
acesso com fala da tela. Houve variações nas informações fornecidas aos participantes (como
os métodos de escovação, uso do fio dental ou enxágue e conselhos sobre dieta) e a quantidade
de envolvimento e interação entre professores e cuidadores. Qureshi et al. (2017) especificaram
que o OHE foi ministrado por estudantes de odontologia. As mães receberam OHE por telefone
(SHARIFIFARD et al., 2020), o que é extremamente importante envolver os pais ou cuidadores
nos cuidados e OHE de crianças com DV, especialmente quando abaixo dos 7 anos, onde não
possuem maturidade para realizar a higiene corretamente sozinhos, orientação essa necessária
por professores, que passam o dia todo com a criança, e são importantes para a educação e
formação de hábitos das mesmas (SUHARSINI et al., 2017).

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Estratégias isoladas

6% ATP
11%
33% Braille
17% Áudio
Verbal

33% Modelos

Gráfico 1. Estratégias isoladas de OHE apresentadas nos estudos revisados.

Estratégias combinadas
ÁUDIO + JAWS 1
ATP + EDUCAÇÃO DOS PROFESSORES 1
ATP + EDUCAÇÃO DAS MÃES 1
ATP + PACOTE DE ARTES 1
BRAILLE + MODELOS 1
BRAILLE + VERBAL + ÁUDIO 1
ÁUDIO + TÁTIL 2
BRAILLE + VERBAL 2
BRAILLE + ATP 3
VERBAL + TÁTIL 4
BRAILLE + ÁUDIO 4
BRAILLE + MODELOS + MÚSICA 4
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

Gráfico 2. Estratégias combinadas de OHE apresentadas nos estudos revisados


Estratégias e abordagens na prevenção de doenças bucais e promoção de saúde como as
mostradas aqui por esses estudos (Imagem 1), nos mostram que a OHE para crianças com DV
é possível. O trabalho multiprofissional do cirurgião-dentista com pedagogos, terapeutas
ocupacionais, assistentes sociais entre outros favorecem o planejamento e confecção de

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materiais que são possíveis de realizar a OHE para essas crianças, com custo relativamente
baixo e de forma acessível. Quando essas abordagens são realizadas em escolas podem atingir
um número maior de indivíduos, mas o acesso individual é imprescindível para uma educação
com qualidade e que garanta à criança maior confiança e autonomia (HEBBAL; ANKOLA,
2012), por isso, quando necessário, elas também podem ser utilizadas em consultórios
odontológicos por meio de uma escuta qualificada da família e das dificuldades da criança e
através de estratégias multissensoriais levar educação em saúde para esse indivíduo. O tipo de
estratégia a ser usada vai depender da idade e nível de compreensão da pessoa a ser educada.
Por isso, é importante o preparo dos alunos desde a graduação para que sejam formados
profissionais aptos a lidar com pessoas com deficiência e que saibam a melhor forma de agir
para aquele grupo específico.
As principais limitações encontradas nos estudos foram a falta de cegamento dos
avaliadores, o que pode levar um viés nas medições dos resultados. Da mesma forma, as
pontuações de conhecimento, atitudes e prática foram autoavaliadas e podem ter levado a um
viés ao responder. Os estudos se deram, em sua grande maioria, no continente asiático, assim,
diferenças socioculturais precisam ser levadas em conta com cautela e estudos que avaliem
estratégias e abordagens de OHE em crianças com DV devem ser realizados no Brasil, não só
como forma de enriquecer a literatura científica, como também, ações como essas são
necessárias pois, como defendem os princípios fundamentais do SUS, todos tem direito a saúde
e eles devem ser garantidos independente de cor, raça, credo ou condição física.

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ATP - Técnica de Áudio Tátil Performance: Primeiramente descrita por Hebbal e Ankola (2012) a
criança é informada verbalmente sobre a importância dos dentes e o método de escovação. Com a ajuda
de um macromodelo, a criança sente / reconhece o dente e sua estrutura, pode-se utilizar de dentes com
rugosidades imitando a placa dental, com falhas imitando a cárie entre outros. Essa criança realiza a
escovação desse macromodelo pela Técnica de Fones como ela aprendeu pela orientação verbal. Após
isso, ela é convidada a sentir seus próprios dentes com a língua e sentir se está liso ou rugoso. Com a
supervisão de um adulto sem DV, a criança agora vai realizar a higiene de seus próprios dentes e esse
método deve ser repetido até ela se sentir confiante e capaz de realizar sozinha a higiene.

Braille – É um sistema de escrita tátil utilizado por pessoas com baixa visão ou cegas. A OHE com
braille é realizada através de livros de histórias sobre a importância da higiene bucal, panfletos
educativos e guias de orientação de higiene bucal escritas na linguagem braille (BHOR et al., 2016).

Macromodelos – O uso de Macromodelos é amplamente difundido na odontologia, principalmente para


o público infantil. A pessoa com DV, possibilita através de macromodelos sentir e melhor compreender
como são os dentes, a polpa dental, a textura da lesão de cárie ou a placa dental também podem ser
projetadas num macromodelo (GAUTAM; BHAMBAL; MOGHE, 2018).

Música – A música é uma ferramenta que favorece o processo de ensino – aprendizagem. Pode-se
utilizar com uma música orientando como escovar os dentes e usar o fio dental, ou até mesmo, através
de uma música favorita da criança onde a música é propositalmente pausada no momento de trocar a
face dental a ser escovada (SHARIFIFARD et al., 2020).

Pacote de Artes – A criatividade e experiência de pedagogos e terapeutas ocupacionais são facilitadores no


processo de criação. Desenvolvimento de materiais sensoriais como livros e maquetes em EVA,
acompanhamento da confecção de dentes com materiais de argila pela criança, entre outras atividades, despertam
na criança a criatividade e aprendizagem (SUHARSINI et al., 2017).

Imagem 1. Resumo sobre as principais abordagens e estratégias que podem ser utilizadas para crianças com DV,
segundo os estudos aqui revisados.

Considerações finais
Esse trabalho pode sugerir que pessoas com DV, em especial as crianças podem manter
um melhor nível de higiene bucal quando utilizadas estratégias e abordagens e estas podem ser
replicadas por cirurgiões dentistas em unidades de saúde e/ou escolas.

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INTERFACE ENTRE LAZER E SAÚDE: COMPREENSÃO DOS PROFISSIONAIS
DOS ESTUDOS DO LAZER E DA SAÚDE A RESPEITO DESSA RELAÇÃO

Marcos Gonçalves Maciel1


Gustavo Fonseca Halley2
Ricardo Ricci Uvinha3

Resumo: Atualmente, ganha corpo as discussões sobre a interface entre lazer e saúde, quer no
meio social, político e acadêmico. Vale destacar, contudo, a carência na literatura brasileira de
investigações que estabeleçam diálogos entre os profissionais dos Estudos do Lazer e da Saúde,
discutindo potencialidades e especificidades entre as áreas. Dessa forma, este trabalho tem por
objetivo descrever como os profissionais filiados à Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-
Graduação em Estudos do Lazer (ANPEL) e à Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde
(SBAFS) compreendem a temática lazer e saúde, acadêmica e/ou profissionalmente. Esta
pesquisa se caracteriza como qualitativa, descritiva, exploratória e transversal. Participaram da
pesquisa 80 pessoas (42,9±10,2 anos), sendo 39 do sexo masculino e 41 do feminino; dos quais
36 da ANPEL e 44 da SBAFS. Em termos de formação acadêmica, 59 tinham especialização
lato sensu, 69 tinham mestrado, 51 doutorado e 13 pós-doutorado. Quanto à área de intervenção
profissional, 52 atuavam no ensino superior, 16 na educação básica, 9 como personal trainer e
9 em outras atividades acadêmicas e/ou profissionais. No que concerne à participação em
grupos de pesquisa, 74 pessoas estavam envolvidas nesse segmento acadêmico. Para a coleta
de dados, adotou-se um questionário semiestruturado, respondido de forma online. Para tanto,
enviou-se uma carta convite, via e-mail, a todas as pessoas registradas nas referidas instituições.
No que se refere à análise dos dados, empregou-se o Software IRaMuTeQ, que permitiu análises
estatísticas sobre corpus textuais, e a estatística descritiva. Constitui-se o corpus geral 80 textos,
separados em 715 segmentos de textos (STs), com aproveitamento de 88,25% do corpus textual,
divididos em dois subcorpus, assim denominados: 1) “Conhecimento”, correspondendo à classe
3, representando 109 STs (17,67%); 2) “Desenvolvimento humano”, contendo dois subcorpus:
A) Classe 1 – “Qualidade de vida”, representando 266 STs (43,11%); B) Classe 2 “Direitos
sociais”, – representando 242 STs (39,22%). O subcorpus 1, relacionou-se à universidade, à
produção científica, à formação profissional, aos projetos de extensão universitários, à

1
Doutor em Estudos do Lazer. Grupo de Estudos de Ócio e Desenvolvimento Humano. Universidade do Estado
de Minas Gerais. Ibirité. Brasil. [email protected].
2
Mestre em Psicologia. Grupo de Estudos Multidisciplinares sobre Ócio e Tempo Livre. Universidade de
Fortaleza.
3
Doutor em Ciências da Comunicação (Turismo e Lazer). Grupo Interdisciplinar em Estudos do Lazer. Escola de
Artes e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil.

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intervenção profissional em todos os níveis da educação (classe 3). Por sua vez, o subcorpus 2,
contemplou os aspectos relacionados à saúde, ao lazer, à qualidade de vida, à vida, ao bem-
estar, às vivências, aos tempos sociais (classe 1); bem como referente às políticas públicas,
práticas da atividade física e lazer como meios de promoção da saúde, prazer, sendo vivenciadas
em diferentes locais como espaços públicos (classe 2). Considera-se que os profissionais
entendem existir uma interface entre o lazer e a saúde, como possibilidade de desenvolvimento
humano e qualidade de vida. Os participantes, contudo, chamam atenção para a falta de diálogo
entre as áreas dos Estudos do Lazer e da Saúde, assim como para um distanciamento da
produção de conhecimento acadêmico e sua aplicabilidade na construção de políticas públicas
e intervenções profissionais.

Palavras-chave: Promoção da saúde; Atividade física; Conhecimento; Qualidade de vida;


Desenvolvimento humano.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
A temática lazer e saúde assumiu, nos últimos anos, destaque no meio social, político e
acadêmico, em virtude de possibilitar qualidade de vida pessoal e coletiva (HENDERSON,
2014; KU et al., 2016; MANNELL, 2007; MANSFIELD; DAYKIN; KAY, 2020; SURDI;
TONELLO, 2007; WERLE, 2018). Haja vista a complexidade que envolve a presente temática,
optou-se por discuti-la, principalmente, no âmbito da Educação Física – sem olvidar da
abordagem interdisciplinar. Pode-se citar, por exemplo, duas áreas de investigações que
ganham corpo no cenário acadêmico, a saber: os Estudos do Lazer e a Epidemiologia da
Atividade Física, ambas com enfoques epistêmicos e teóricos distintos, entretanto, com
possibilidades de diálogos e sinergismos.
A primeira área, ainda em expansão no Brasil, segue a abordagem focada nas Ciências
Sociais e Humanas, reconhecendo o lazer como direito social (GOMES; ISAYAMA, 2015) e
associado ao desenvolvimento humano (WORLD LEISURE ORGANIZATION, 2020). Em
linhas gerais, os Estudos do Lazer investigam distintos fenômenos socioculturais, como os

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aspectos psicológicos que compreendem as multiformes manifestações do lazer (UVINHA,
2018), adotando, sobretudo, métodos qualitativos. Vale pontuar que tal área tem como
instituição representativa a Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Estudos do
Lazer (ANPEL).
Por sua vez, a Epidemiologia da Atividade Física (HALLAL et al., 2007; PITANGA,
2002) segue a linha biomédica, utilizando-se, especialmente, de análises quantitativas
(HALLAL; KNUTH, 2011), a fim de entender como a atividade física, ou sua ausência,
interfere diretamente na saúde individual. Essa área, de certa forma, entende que a atividade
física, realizada principalmente no tempo livre, atua na prevenção de doenças crônicas não
transmissíveis, na promoção da saúde e na qualidade de vida. Como principal instituição
representativa cita-se a Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS).
Apesar da estreita relação entre lazer e saúde e da crescente ampliação do conhecimento
em suas áreas específicas, não foi encontrado, na literatura nacional, produções científicas que
estabeleçam diálogos entre os profissionais dos Estudos do Lazer e da Saúde – discutindo as
potencialidades e especificidades, epistêmicas e/ou teóricas a respeito dessa interface. Foram
encontrados ensaios com abordagens unilaterais, tais como: 1) Apresentando críticas e
reflexões (BACHELADENSKI; MATIELLO JÚNIOR, 2010; PIMENTEL, 2012; SILVA et
al., 2017), 2) Buscando possíveis aproximações (ARAÚJO; HARTEL; MOIA, 2015;
BATISTA; RIBEIRO; NUNES JUNIOR, 2012; HALLAL; KNUTH, 2011); 3) Discutindo a
respeito do currículo/formação acadêmica (MARCELLINO; BONFIM, 2006; PINHEIRO;
GOMES, 2011); 4) Destacando as intervenções, sobretudo, da atividade física na área do
Sistema Único de Saúde (ANTUNES; LIRA; NEVES, 2018; MACIEL et al., 2018; MACIEL
et al., 2019; MENDES, 2014); 5) Apontando ações intersetoriais (BRASIL, 2006; FRAGA et
al., 2009; WARSCHAUER; CARVALHO, 2014).
Em face do exposto, faz-se inescapável refletir sobre a questão norteadora deste texto:
Como os profissionais das áreas dos Estudos do Lazer e da Saúde compreendem acadêmica

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e/ou profissionalmente a relação entre o lazer e saúde? Tendo em vista essa questão, o objetivo
geral a ser investigado é: Analisar como os membros da Associação Brasileira de Pesquisa e
Pós-Graduação em Estudos do Lazer e da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde
compreendem a temática lazer e saúde, acadêmica e/ou profissionalmente.

Métodos
Esta pesquisa é de caráter qualitativa, exploratória e transversal (MARCONI;
LAKATOS, 2021). Compete frisar que a escolha dos participantes, tanto em nível institucional
(ANPEL e SBAFS), e de seus membros foi realizada de forma intencional.
A primeira instituição, criada em 2013, é uma sociedade científica sem fins lucrativos
que investiga o lazer e temas afins. Em seu Artigo 1º, consta que “[...] congregando como
associados os pesquisadores das mais diferentes áreas de conhecimento, que se dedicam à
investigação do “lazer” e temas afins, a partir dos mais distintos pontos de vista teóricos e
disciplinares”4. Por sua vez, a SBAFS, criada no dia 16 de novembro de 2007, é uma entidade
jurídica de direito privado, igualmente, sem fins lucrativos, em seu Artigo 1º, consta “[...]
congrega estudantes, profissionais e pesquisadores de diversas áreas de formação com interesse
no campo da atividade física e saúde, com abrangência em todo o território nacional”5.
Ambas as instituições têm como membros importantes pesquisadores em âmbito
nacional e internacional, bem como são responsáveis pela: 1) Edição e publicação de periódicos
em suas áreas com destaque para: a Revista Brasileira de Estudos do Lazer
(https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbel) e a Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde
(RBAFS) (https://www.rbafs.org.br/RBAFS); 2) Realização de congressos nacionais que
congregam profissionais interessados pelas áreas; 3) Elaboração de diretrizes que norteiam seus
membros e a sociedade civil. Portanto, as instituições supracitadas apresentam importante

4
Fonte: http://anpel.com.br/index.php.
5
Fonte: http://www.sbafs.org.br/.

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representatividade na formação de opinião e na produção do conhecimento acadêmico
transmitido à sociedade e à comunidade acadêmica.
Como critérios de inclusão do(a)s participantes, propôs-se: 1) Ser membro registrado(a)
nas instituições em questão; 2) Ser graduado(a) em qualquer área de conhecimento das Ciências
da Saúde; 3) Ter, pelo menos, a titulação em nível lato sensu; 4) Atuar profissionalmente com
a(s) temática(s) lazer e/ou saúde, seja acadêmica e/ou em nível de intervenção no mercado; 5)
Ambos os sexos; 6) De qualquer idade; 7) Qualquer nacionalidade; 8) Aceitar participar da
pesquisa como voluntário(a). Por sua vez, os critérios de exclusão foram: 1) Não ser membro
das instituições; 2) Ser graduando(a) em qualquer área de conhecimento não correlacionada às
Ciências da Saúde; 3) Não ter uma titulação mínima em nível lato sensu.
Para a realização da pesquisa, obteve-se o termo de anuência de ambas as instituições,
que, posteriormente, enviaram um e-mail para os seus respectivos associado(a)s, informando e
solicitando participação na pesquisa.
Em relação ao instrumento para a coleta dos dados, elaborou-se um questionário
semiestruturado contendo duas partes: 1) Dados sociodemográficos; 2) Dados referentes à
temática em questão, atendendo aos objetivos estipulados. No que concerne à validação dos
procedimentos e instrumentos estipulados, realizou-se um estudo piloto, no mês de março de
2021, com 11 pessoas que atendiam aos critérios supracitados. Tal etapa permitiu identificar
especificidades na adequação de perguntas a serem adotadas no estudo final.
Realizadas as devidas correções no formulário, enviou-se um e-mail para o(a)s
associado(a)s de cada instituição, convidando-o(a)s a responder o questionário. Acompanhado
ao questionário, estava o termo de consentimento livre e esclarecido, assinado de forma virtual.
O questionário ficou disponível para preenchimento durante 15 dias. Os dados
sociodemográficos dos participantes estão descritos na Tabela 1.
Tabela 1. Dados sociodemográficos dos participantes
Variáveis GERAL (f) ANPEL (f) SBAFS (f)

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N 80 36 44
Média Idade
(anos) 42,9 47,1 39,4
Masculino 39 16 22
Sexo Feminino 41 20 22
Educação Física 77 32 41
Educação Física/Fisioterapia 1 1 1
Educação Física/Pedagogia 1 1 0
Fisioterapia 1 1 1
Gestão do lazer e Qualidade de Vida 1 1 0
Graduação Medicina 1 0 1
Concluída 69 28 31
Especialização Não possui 11 8 13
Concluído 69 35 34
Em curso 3 0 3
Mestrado Não possui 8 1 7
Concluído 51 29 22
Em curso 13 0 9
Doutorado Não possui 16 3 13
Concluído 13 8 5
Em curso 3 3 0
Pós-doutorado Não possui 64 25 39
Ambas 41 20 22
Saúde 24 1 22
Área de atuação Lazer 15 15 0
Fonte: Dados da pesquisa
Armazenaram-se os dados, inicialmente, em uma planilha Excel. Posteriormente,
transferiu-se o material para o Word®, visando a posterior organização e análise pelo software
IRaMuTeQ (Interface de R pour les Analyses Multi dimensionnelles de Textes et de
Questionnaires) (CAMARGO; JUSTO, 2013; SOUZA et al., 2018). Tal instrumento não se
configura como método de análise de dados, mas como ferramenta capaz de processá-los,
cabendo ao pesquisador interpretá-los.
O IRaMuTeQ ancora-se no ambiente estatístico do software R e na linguagem python.
Para esta investigação, realizaram-se análises lexicográficas clássicas, para verificação
estatística de quantidade de evocações e formas. Além disso, obteve-se a Classificação

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Hierárquica Descendente (CHD), que gerou um dendrograma com as classes (permitindo a
análise de vocabulários semelhante entre si e vocabulários diferentes de outros segmentos de
texto simultaneamente, calculando distâncias e proximidades a partir de testes do ꭓ2). Não se
pode deixar de mencionar que se desconsiderou palavras com x2< 3,80 (p < 0,05). A partir
disso, os dados foram examinados com base na Análise Fatorial por correspondência (AFC),
valendo-se das classes oriundas da CHD.
Insta salientar que a presente pesquisa obedeceu aos critérios de investigações que
envolvem seres humanos, tendo por esteio as resoluções 466/2012 e 510/2016, ambas do
Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2016), sendo o estudo aprovado pelo Comitê de Ética
e Pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, sob
parecer nº. 4.578.906.

Resultados e discussão

O corpus geral foi constituído por 80 textos, separados em 617 segmentos de texto (ST),
com aproveitamento de 86,3%, enquanto o desejável é acima de 70%. Emergiram 14.170
ocorrências (palavras, formas ou vocábulos), das quais 1.963 são palavras distintas e 434 com
uma única ocorrência. Cumpre frisar que o conteúdo analisado foi categorizado em três classes,
a saber: Classe 1 (Qualidade de Vida) com 266 ST (43,1%), Classe 2 (Direitos Sociais) com
242 ST (39,2%) e Classe 3 (Conhecimento) com 109 ST (17,7%).
As três classes foram divididas em duas ramificações (A e B) do corpus total de análise.
O subcorpus A denominado Conhecimento: contempla a classe 3 (“conhecimento”), referente
a aspectos do ambiente acadêmico. O subcorpus B intitulado “Desenvolvimento humano”
abarca a classe 1 (qualidade de vida) e a classe 2 (direitos sociais), concernentes às ações no
âmbito profissional e pessoal.

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Figura 1. Classificação Hierárquica Descendente (86,3%)

Fonte: Dados da pesquisa


Considerando o objetivo proposto neste trabalho, adotou-se a AFC como base para tecer
as interpretações dos resultados. Ela possibilita estabelecer relações entre as classes da CHD
em um plano gráfico cartesiano, apontando a “localização” dessas classes em quadrantes.
Quanto mais próximo um elemento estiver do outro no quadrante, mais apresentam “falas” em
comum.
Assim, a partir da AFC, demonstrada na Figura 2, possibilitou-se realizar uma
associação do texto entre as palavras, considerando a frequência de incidência dos termos e as
classes. Estas últimas apresentaram baixa intersecção de palavras, demonstrando, dessa forma,
que os temas se mostraram bem delimitados.

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Figura 2. Análise da AFC (associação dos discursos entre os profissionais)

Fonte: Dados da pesquisa

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Com base na AFC, notaram-se serem baixas interseções de palavras entre as classes. É
lícito supor que há um distanciamento entre as produções de conhecimento acadêmico (Classe
1), os Direitos Sociais (Classe 2) e os aspectos relativos à Qualidade de Vida (Classe 3),
conforme a opinião dos profissionais da ANPEL e da SBAFS.
A título de exemplificação, percebeu-se maior proximidade em apenas um vocábulo
entre as classes (Classe 1 e Classe 2), destacado a seguir: “pessoa”. Não houve intercessão entre
a Classe 1 e Classe 3. Por fim, novamente, um único termo, “fenômeno”, estabeleceu
intercessão entre as classes 2 e 3. Nota-se, pois, maior intercessão de termos no quadrante
superior direito. No entanto, mesmo assim, identifica-se certo distanciamento entre os termos,
ou seja, há certa convergência entre as ideias, mas, não uma proximidade significativa. Diante
da complexidade da interface apresentada e das limitações editoriais desta obra, optou-se por
explorar a “(des)conexão entre as Classes 1 e 3.
Na relação entre lazer e saúde, há discursos associando-os à melhoria da qualidade de
vida (MARTINELLI; CARNEIRO; RUEDA, 2014; PIRES et al. 2019; SURDI; TONELLO,
2007). É necessário, todavia, haver um corpo de conhecimento teórico que sustente essa tríade
indissociável. Dessa maneira, entende-se que os primeiros passos devem ser iniciados na
formação acadêmica dos profissionais que atuarão com a temática.
Neste trabalho defende-se a ideia de que o tema lazer, em suas diferentes perspectivas,
deveria fazer parte da formação de todas as áreas que compõem as Ciências da Saúde, pois
perpassa transversalmente pela presente discussão. Tal fato justifica-se pelas distintas vertentes
que envolvem o assunto, necessitando, assim, de uma abordagem ampliada.
Werle (2018) questiona se é possível ter saúde sem se ter lazer. De forma complementar,
pergunta-se: é possível ter lazer sem ter saúde? E ainda, de qual saúde está se tratando? Ferreira
e Uvinha (2020) discutem sobre a relação entre lazer e promoção da saúde, retratando sobre as
perspectivas biomédicas (considerada como reducionista) e a perspectiva ampliada de saúde

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(considerada como multidimensional). Dialogando com esses autores, Maciel et al. (2019b)
abordam sobre o discurso biomédico, que perpassa os programas sociais de atividade física no
Brasil. Corroborando com os referidos autores, advoga-se a favor de uma concepção de saúde
que transcenda as limitações impostas pelas normatizações clínicas (CANGUILHEM, 2009),
ou seja, que considere os determinantes sociais de saúde (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007;
GARBOIS; SODRÉ; DALBELLO-ARAUJO, 2017) e as subjetividades (AYRES, 2007;
COSTA; GOULART, 2015).
Todavia, essa não tem sido a realidade encontrada na literatura, que ainda apresenta a
predominância do discurso hegemônico biomédico. Em recente pesquisa, Silva et al. (2018)
investigaram quais os significados atribuídos pelos graduandos em Educação Física e cursos
afins – no Brasil e nos Estados Unidos – atribuíram à atuação profissional no campo da saúde
e sua compreensão sobre lazer. Os autores concluíram que tal compreensão fundamenta-se,
sobretudo, nas ciências biológicas e de forma modesta no âmbito das Ciências Humanas. Por
sua vez, Maciel, Saraiva e Martins (2018) identificaram, por meio de uma análise discursiva,
igualmente, que o pensamento hegemônico de saúde está presente nas representações sociais
tanto dos profissionais quanto dos alunos participantes da pesquisa em um programa social de
atividade física na cidade de Belo Horizonte.
Nesse sentido, faz-se necessário refletir sobre os discursos adotados, bem como a
composição curricular que discute o assunto. Marcellino e Bonfim (2006) analisaram os
conteúdos desenvolvidos nos currículos de graduação em Educação Física, de instituições de
ensino, públicas e privadas (n=6), do Estado de São Paulo, nas disciplinas de lazer e recreação,
com o propósito de compreender a relação com a temática da saúde. À época, os autores
concluíram que a relação existente entre os temas lazer e saúde, era analisada em somente duas
das seis instituições de ensino.
Mais recentemente, Silva e Ferreira (2018) ao investigarem sobre a interface entre lazer
e saúde no contexto acadêmico-científico, especificamente no contexto das edições do Encontro

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Nacional de Recreação e Lazer (Enarel), afirmaram que, ao longo das 29 edições, o assunto não
foi tema central. Insta pontuar que a interface entre lazer e saúde) foi mencionada somente em
cinco edições, por meio de duas mesas-redondas, duas palestras e uma oficina. Para além disso,
esses mesmos autores apontaram que, no meio acadêmico, identifica-se, igualmente, baixa
exploração, bem como essa articulação é pouco enfatizada nos currículos de Educação Física.

Considerações finais
Objetivou-se descrever como os profissionais filiados à ANPEL e à SBAFS
compreendem a temática lazer e saúde, acadêmica e/ou profissionalmente. A análise dos
discursos dos participantes, por meio do Iramuteq, identificou três classes de palavras, a saber:
Classe 1 – Qualidade de Vida, Classe 2 – Direitos Sociais e Classe 3 – Conhecimento, sendo
agrupadas em dois subcorpus, A e B. O primeiro denominado de “Conhecimento”,
correspondendo a classe 3, e o segundo de “Desenvolvimento humano”, contemplando as
Classe 1 – “Qualidade de vida”, e a Classe 2 “Direitos sociais”. Portanto, a compreensão da
interface investigada perpassa por essas três classes.
A partir da análise da AFC, identificou-se falta de intercessão entre as classes, ou seja,
é lícito supor que há um hiato no diálogo entre os discursos dos profissionais de ambas as
instituições no que se refere à qualidade de vida, ao conhecimento e aos direitos sociais. Nesse
sentido, o estudo em questão amplia análises identificadas na literatura, no tocante às áreas da
saúde e dos Estudos do Lazer. Os dados empíricos apontam convergências entre os discursos
dos participantes quanto ao entendimento do lazer como possibilidade de desenvolvimento
humano e qualidade de vida, mas díspares na construção do conhecimento e na aplicabilidade.
Entende-se que as reflexões realizadas contribuíram para o avanço do atual corpo de
conhecimento identificado no cenário nacional. Todavia, ao considerar as características do
presente estudo, destacam-se algumas limitações. Embora represente a opinião de duas
importantes instituições no cenário nacional, contemplando profissionais das áreas dos Estudos

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do Lazer e da saúde, deve-se considerar a baixa quantidade de participantes na pesquisa. Além
disso, vale destacar que existem profissionais que atuam nessas áreas que não são associados à
ANPEL e à SBAFS. Portanto, os resultados não podem ser generalizados. A fim de ampliar a
compreensão da temática abordada, sugere-se investigações que contemplem um universo
maior de participantes, quiçá das mesmas instituições, bem como de outras dialogam com o
assunto.

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE: A SIMULAÇÃO COMO ESTRATÉGIA
DE APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO

Luzmarina Aparecida Doretto Braccialli1


Magali Aparecida Alves de Moraes2
Silvia Franco da Rocha Tonhom3

Resumo: As Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de medicina e enfermagem destacam


a formação com o uso de simulações que facilitam a aproximação do estudante com a vida
profissional. Algumas instituições de ensino superior vêm investindo há décadas nessa prática
educacional, facilitando ao estudante adquirir conhecimentos, habilidades e afetividade,
recursos esses fundamentais para exercer sua profissão futuramente. Esse trabalho tem como
objetivo descrever estratégias de situações práticas por meio de simulações durante a formação
profissional. Foram utilizadas atividades do primeiro ao quarto ano de enfermagem e do
primeiro ao sexto ano de medicina, tanto no processo de aprendizagem quanto no de avaliação.
Como estratégias são utilizadas o Laboratório de Prática Profissional (LPP), o Exercício de
Avaliação da Prática Profissional (EAPP) e o Objective Structured Clinical Examination
(OSCE). O LPP é um momento sistematizado da aprendizagem com ações estruturadas pelos
docentes de cada série e cursos, nas duas primeiras desenvolvem atividades em conjunto, as
demais séries realizam estratégias considerando suas especificidades. Nessas atividades são
utilizados atores amadores, que desenvolvem o papel de pacientes e manequins para que o
estudante possa construir suas habilidades cognitivas, afetivas e psicomotoras num ambiente
protegido, permitindo rever os erros e acertos do processo, buscando alcançar a aprendizagem
significativa. O LPP é constituído por dois momentos distintos de ensino aprendizagem:
Exercício da Prática e o Apoio, com 12 estudantes divididos em dois subgrupos, professores da
Unidade de Prática Profissional e da comunicação. No momento do Exercício da Prática um
dos estudantes realiza o atendimento simulado, enquanto os demais observam o seu
desempenho, suas fortalezas e dificuldades para posterior discussão e elaboram questões de
aprendizagem que serão discutidas no Apoio na semana seguinte. O momento Apoio é mais um
espaço de reconstrução dos desempenhos, utilizando também os manequins e pacientes
simulados. No momento avaliativo se utiliza do EAPP e do OSCE. O EAPP tem caráter

1
Enfermeira, Doutora em Ciências, Grupo de pesquisa Educação e Avaliação da Prática Profissional, Faculdade
de Medicina de Marília – FAMEMA, Marilia – Brasil, [email protected]
2
Psicóloga, Doutora em Educação, Grupo de pesquisa Educação e Avaliação da Prática Profissional, Faculdade
de Medicina de Marília – FAMEMA, Marília – Brasil
3
Enfermeira, Doutora em Educação, Grupo de pesquisa Educação e Avaliação da Prática Profissional, Faculdade
de Medicina de Marília – FAMEMA, Marília – Brasil

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formativo e somativo cujo objetivo é o de avaliar individualmente o desempenho do estudante
de acordo com o domínio e autonomia de cada série, na realização de uma tarefa em uma
situação simulada da prática profissional, sendo esse realizado até a 4ª série de medicina e
enfermagem. Nas 5ª e 6ª séries de medicina é realizado o OSCE que avalia o desempenho do
estudante por meio de diferentes estações nas quais se encontram pacientes simulados ou
situações que retratam procedimentos diagnósticos e terapêuticos, sendo avaliadas habilidades
clínicas/técnicas e de comunicação. O LPP, EAPP e OSCE reproduzem situações próximas do
cenário real, as quais o estudante tem a oportunidade de aprender, errar e reconstruir o seu
aprendizado com significado. Esses são oferecidos na graduação dos cursos de medicina e
enfermagem do início ao final da formação profissional, favorecendo também a
interdisciplinaridade e a vivência do mundo do trabalho.

Palavras-chave: Formação; Aprendizagem; Simulação; Medicina; Enfermagem.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
Os currículos integrados e por competência dialógica podem utilizar como estratégia de
ensino e aprendizagem a simulação, estimulando a participação ativa dos estudantes,
capacitando-os para atuar no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil e para
a transformação da prática profissional (MORAES et al., 2016).
Em consonância com esses currículos a utilização de metodologias ativas de ensino e
aprendizagem nos cursos da área da saúde tem sido um indicativo das Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN), bem como a utilização de estratégias de simulação que aproximam os
estudantes da realidade da prática profissional (BRASIL, 2018; BRASIL, 2014; BRASIL,
2001).
A simulação tem sido utilizada mundialmente, sendo um recurso para a segurança dos
pacientes e dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem, o estudante é quem constrói
seus conhecimentos, habilidades e atitudes, tendo como possibilidade a retroalimentação do

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processo, com a avaliação formativa, somativa e com feedbacks construtivos (OLIVEIRA et
al., 2018; MAGNAGO et al., 2020).
Magnago et al. (2020) se referem a simulação como uma estratégia que propicia aos
estudantes vivenciar situações do cotidiano em um ambiente seguro e fictício, que possibilita
desenvolver o senso crítico e a aprendizagem.
Segundo Troncon (2007) técnicas de simulação têm sido desenvolvidas mundialmente
e mais recentemente no Brasil na formação de profissionais da saúde. Em torno de cinco
décadas o professor Howard S. Barrows, neurologista, introduziu na América do Norte o
Programa de Pacientes Simulados na Universidade de McMaster no Canadá, esse era associado
ao método da Aprendizagem Baseada em Problemas, no curso de medicina e nas últimas
décadas tem se expandido para outras graduações, tanto no processo de ensino e aprendizagem
quanto na avaliação dos estudantes (TRONCON, 2007; FACULDADE DE MEDICINA DE
MARÍLIA, 2019).
Pacientes simulados são pessoas preparadas para fazerem o papel de pacientes em
diferentes cenários, sendo capazes de reproduzir quantas vezes for necessária a situação,
também podem reproduzir sinais específicos de determinadas patologias, cirurgias e ou
traumatismos com o uso de maquiagens e recursos materiais. Pode ser ainda, utilizado paciente
real, que esteja em situação estável de saúde, preparado e treinado para representar situação de
ensino e aprendizagem e/ou avaliação. (TRONCON, 2007; TRONCON, 2021)
A utilização de pacientes simulados precisa estar associada a uma capacitação constante
e de qualidade, a qual proporcionará maior efetividade, realismo e autenticidade da vida real
(TRONCON, 2021; MORAES; ANGELI, 2016).
Na formação para o profissional médico e de enfermagem, além dos sinais a serem
reproduzidos, são essenciais a história clínica e as habilidades de comunicação e interação nesse
cenário de aprendizagem e avaliação, pois possibilitam o reconhecimento das emoções no

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encontro com o outro e o desenvolvimento da empatia, da escuta, do vínculo, do acolhimento
e da comunicação verbal e não verbal (TRONCON, 2021; MORAES et al., 2012).
Além da utilização de pacientes simulados são utilizados outros recursos tecnológicos
como os simuladores baseados em computadores, esses programas reproduzem procedimentos
cirúrgicos e ambulatoriais, os quais podem avaliar a destreza do profissional. Também podem
ser utilizados manequins que são simuladores artificiais que respondem de forma tátil, sonora
e visual, aproximando-se dos emitidos por pacientes reais ou manequins menos complexos com
sons ou movimentos, entre outros aspectos (ROMANO, PAZIN FILHO, 2007; LANZARINI
et al., 2008; MORAES et al., 2012).
Outro tipo de simulação são as técnicas de role play, nas quais os estudantes assumem
papéis variados em diferentes contextos, esses participam da atividade simulada e aprendem
juntos sobre a situação, o contexto e os personagens, atuam como profissional de saúde, por
exemplo, desenvolvem suas habilidades, recebem feedback e refletem sobre o seu desempenho
(RABELO; GARCIA, 2015; NESTEL; TIERNEY, 2007).
A simulação realística é uma estratégia utilizada na área da saúde, constitui-se pelo
planejamento, implementação e avaliação dessa, é definido o tema, o objetivo e a estratégia,
como a elaboração dos casos, organização do cenário e da simulação e o método de discussão
a qual se utiliza é o debriefing e o feedback (MAGNAGO et al. 2020).
Magnago et al. (2020) relatam que as etapas de debriefing e feedback estão relacionadas
ao processo de ensino e de reflexão, apontando as fortalezas e fragilidades na aprendizagem,
com possibilidade de professores e estudantes conversarem sobre a vivência da simulação,
articulando a teoria com a prática.
Também é utilizado na formação dos profissionais de saúde, no processo avaliativo, o
Objective Structured Clinical Examination (OSCE), desenvolvido na Escócia desde 1975, este
compreende tarefas pré-determinadas, distribuídas em diferentes estações, com tempo
estabelecido previamente de 5 a 10 minutos, o estudante é orientado e observado por um

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professor que registra o seu desempenho em um instrumento de avaliação, nas áreas clínicas,
cirúrgicas e ambulatoriais, também pode ser inserido nessas estações pacientes simulados,
radiografias, eletroencefalograma, entre outros (TRONCON, 2012; MORAES et al., 2012).
Na instituição em estudo, além do OSCE, se utiliza o Exercício de Avaliação da Prática
Profissional (EAPP). Esse consiste em estações longas, caso completo, com duração de 30 a 60
minutos, de acordo com a autonomia do estudante e domínio crescente nas séries. O EAPP tem
caráter formativo e somativo no processo ensino, aprendizagem e avaliação, cujo objetivo é o
de avaliar individualmente o desempenho do estudante, na realização de uma tarefa em uma
situação simulada da prática profissional, com verificações de processo contínuo e sistemático,
que possa ser monitorado, planejado e programado atividades educativas de acordo com as
necessidades do estudante, tendo como referência o professor, facilitador do desenvolvimento
pessoal e profissional do estudante (BRACCIALLI et al., 2008; COSTA et al., 2011).
Para a implementação de programas de simulações, depende de investimento em
recursos humanos, materiais e financeiros, mas o custo-benefício é alto, pois diminui o risco
com a aprendizagem direta com os pacientes reais, minimiza as exposições das pessoas
acometidas por agravos, melhora a confiança do estudante em relação às suas condutas com
feedback imediato e construtivo do professor e segue os protocolos de segurança do paciente.
Tanto a utilização de pacientes simulados quanto reais são essenciais nos cuidados em
relação ao respeito, cidadania, cultura, religiosidade, crença e princípios bioéticos.
Essas estratégias de simulação contribuem para a formação e atuação dos profissionais
de saúde, promovendo o pensamento crítico, reflexivo e humanizado.

Objetivo
Descrever estratégias de situações práticas por meio de simulações durante a formação
profissional.

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Relato de Experiência
Trata-se de um relato de experiência sobre a utilização da estratégia pedagógica de
simulação nos Cursos de Medicina e Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília
(FAMEMA), no interior do Estado de São Paulo, Brasil. No curso de medicina o OSCE é
utilizado desde 1998 como estratégia de avaliação. Posteriormente em 2004, os momentos de
simulação com os estudantes das Unidades Educacionais passaram a ser utilizadas nos
Laboratórios de Prática Profissional (LPP), no processo ensino-aprendizagem e avaliação.
Essas simulações subsidiam as atividades teóricas e práticas e são necessários alguns elementos
como: elaboração da situação simulada, capacitação de pacientes simulados/atores e critérios
de avaliação de desempenhos dos estudantes. (MORAES et al., 2016; COSTA et al., 2011;
HAMAMOTO; PINHEIRO; ALMEIDA FILHO, 2012; MORAES et al., 2012; MAZZONI;
MORAES, 2012; BRACCIALLI et al. 2008;) A composição desses elementos finaliza com a
possibilidade da utilização da simulação do LPP no EAPP e OSCE.
É importante contextualizar a organização curricular dos Cursos de Medicina e
Enfermagem da FAMEMA, considerando que esse currículo é integrado e por competência
dialógica, o que implica na inserção dos estudantes em cenários reais desde o início de sua
formação. O currículo contempla as Unidades Educacionais Sistematizadas, por meio da
Aprendizagem Baseada em Problemas, consultorias, atividades de prática e conferências; as
Unidades Eletivas e as Unidades de Práticas Profissionais (UPP) que representam as vivências
nos cenários reais da atenção básica, ambulatoriais ou hospitalares conforme grau de domínio,
autonomia das séries e cursos, como também a realização de atividades simuladas em ambiente
protegido no LPP.
No espaço do LPP são realizadas as simulações, possibilitando o desenvolvimento de
capacidades cognitivas, habilidades psicomotoras e atitudinais, com a utilização de
manequins/bonecos e de pacientes simulados que são atores amadores contratados e, na
impossibilidade destes, os próprios estudantes realizam de forma consentida.

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A estratégia de ensino e aprendizagem no LPP é organizada em dois momentos, sendo
um denominado de Exercício da Prática e o outro de Apoio, constituindo-se como um ciclo de
ensino-aprendizagem. Para sua operacionalização, os estudantes da UPP distribuídos em
pequenos grupos de dez a doze estudantes, esses são subdivididos para a realização do LPP,
ficando metade do grupo em Exercício da Prática e a outra em Apoio.
No momento do Exercício da Prática, cada grupo é acompanhado por dois professores,
sendo um deles médico ou enfermeiro e o outro, professor da área de comunicação. Um
estudante ou uma dupla realizam o atendimento do paciente simulado, enquanto os outros
observam e fazem anotações. Ao finalizar o paciente simulado avalia o atendimento realizado
pelo estudante, em sua ótica e é dispensado. O estudante realiza a autoavaliação oral e é avaliado
pelos demais estudantes e professores. A partir das reflexões sobre o desenvolvimento de toda
a atividade são identificados os problemas, as hipóteses, culminando na elaboração de questões
de aprendizagens para serem abordadas no momento de apoio.
O momento Apoio é acompanhado por um outro professor que reforça a realização da
semiologia e semiotécnica focando as habilidades profissionais. Nesse ínterim, o grupo de
estudantes tem uma semana para pesquisarem em diversas fontes para a discussão.
Estes dois momentos de forma articulada oportunizam a construção e reconstrução dos
recursos cognitivos, afetivos e psicomotores, potencializando a retroalimentação do fazer
profissional no cenário real, buscando assim, o alcance dos desempenhos esperados para a série.
Outra estratégia utilizada pela referida faculdade que fomenta o processo de ensino-
aprendizagem e traz possibilidade de avaliação tanto formativa como somativa, diz respeito ao
EAPP.
O EAPP representa mais um momento de avaliação de desempenho do estudante,
previamente estruturado pelos docentes na forma de situações simuladas da prática profissional,
envolvendo atividades relacionadas às respectivas séries, conforme sua complexidade e
domínio. Dessa forma, as situações elaboradas podem contemplar além de os usuários, suas

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famílias ou mesmo um contexto de processo de trabalho. Esta simulação é realizada de forma
individual, acompanhada por um professor que faz pontuações sobre o desempenho do
estudante. Esse avaliador observa como o estudante mobiliza articuladamente as capacidades
em ação e discute com ele a fundamentação e as evidências mobilizadas.
O tempo de duração é variável entre as séries e o número de situações é o suficiente para
guardar os princípios de validade e confiabilidade para este tipo de avaliação.
Em síntese, o EAPP tem caráter formativo e somativo cuja finalidade é a de avaliar
individualmente o desempenho do estudante de acordo com o domínio e autonomia de cada
série, na realização de uma tarefa em uma situação simulada da prática profissional, sendo esse
realizado até as 4ª séries de medicina e enfermagem.
Para operacionalizar o LPP e o EAPP as séries se organizam em ciclos.
As 1ª e 2ª séries se constituem em um ciclo no qual são abordados o cuidado individual,
coletivo e organização e gestão do processo de trabalho em saúde. Para o cuidado individual
são desenvolvidas a história clínica, o exame físico geral e específico, a identificação de
necessidades de saúde e a elaboração do plano de cuidados. As 3ª e 4ª séries dos cursos de
medicina e enfermagem são contemplados os desempenhos construídos anteriormente e
ampliados para a especificidade da saúde da criança, da mulher e do adulto. Espera-se do
estudante o desenvolvimento do raciocínio clínico, epidemiológico e diagnóstico sustentado no
conhecimento científico, articulado a coleta de dados e a identificação de eventuais lacunas de
conhecimento para a tomada de decisão.
Para a observação dos estudantes são elaboradas em cada série e curso uma escala de
critérios que contém os desempenhos que devem expressar de forma articulada os recursos
cognitivos, afetivos e psicomotores a serem desenvolvidos pelos estudantes, considerando o
grau de autonomia e domínio dos mesmos.
O EAPP tem caráter formativo para todas as séries/cursos e somativo para as 4ª séries,
a não realização desse exercício pelo estudante em qualquer uma das séries torna-se somativo.

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Por fim, abordar-se-á o OSCE como mais uma ferramenta para a avaliação do
estudante, realizado nas 5ª e 6ª séries do curso de medicina. Esse avalia o desempenho do
estudante por meio de diferentes estações nas quais se encontram pacientes simulados ou
situações que retratam procedimentos diagnósticos e terapêuticos, sendo avaliadas as
habilidades clínicas, técnicas e de comunicação.
Além disto, o professor que avalia o estudante se utiliza de uma escala com critérios de
desempenho pré-estabelecidos, um checklist, que confere objetividade ao exame. Todos os
estudantes são avaliados exatamente nas mesmas condições, o que garante a maior
fidedignidade da avaliação.
Do início ao término da graduação dos cursos de medicina e enfermagem o LPP, EAPP
e OSCE são estratégias utilizadas para a aproximação com o cenário real, nas quais oportuniza
ao estudante aprender, errar e reconstruir a aprendizagem significativa, favorecendo a
interdisciplinaridade e a vivência do mundo do trabalho.

Reflexão sobre a experiência


Ao longo das últimas décadas percebeu-se a utilização da simulação da prática
profissional como uma atividade potente para formar um profissional próximo da realidade de
saúde.
A simulação se inicia na década de noventa na FAMEMA com a avaliação dos
estudantes de medicina ao final de cada série, no formato do OSCE, com estações que
avaliavam pontualmente tarefas específicas, tais como estação de história clínica e de
comunicação, de exame físico do abdome, exame físico da mama, entre outros (COSTA et al,
2011; MAZZONI; MORAES, 2012).
Em 2003, além da utilização da simulação no momento de avaliação há um avanço em
relação ao processo de ensino-aprendizagem, na qual essa passa a ser utilizada de maneira
integral em um ambiente protegido, articulando teoria e prática, fortalecendo a reflexão da

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prática profissional e contribuindo com ações que podem transformar a realidade vivida. A
introdução do EAPP nesse processo de ensino-aprendizagem e avaliação contribui com uma
avaliação integral, propiciando o desenvolvimento das relações estudante-pessoa,
considerando-a como sujeito que pensa, que tem emoções e que tem sua própria experiência de
vida. Possibilita ainda, o desenvolvimento da habilidade do estudante em trabalhar a
comunicação verbal e não verbal e construção de uma relação interpessoal potente.
Outro aspecto relevante no processo ensino-aprendizagem e de avaliação é a ampliação
do movimento individual para o grupal, cujo desenvolvimento se dá na observação, na reflexão
e no feedback imediato pelos pares e professores, favorecendo a autoavaliação, a identificação
de suas potencialidades, os desafios e as estratégias para sua superação. Para a
operacionalização desse processo na simulação, a utilização das escalas de desempenhos
sistematizadas pelo professor permite a avaliação pelos mesmos critérios de referência de forma
integral em contraposição ao checklist utilizado no OSCE.
Outra potência nesse processo foi a possibilidade de o estudante aprender com o
paciente simulado, podendo errar sem prejudicar o paciente real, além do menor custo com a
utilização de atores e manequins em relação a outras tecnologias de alto custo (MORAES et
al., 2016).
Em contraposição é importante ressaltar os limites desse processo, como a necessidade
de readequação do espaço físico, seleção, rotatividade e capacitação de pacientes simulados,
equipe técnica e professores, além de investimento financeiro.
Nesse processo é fundamental que todos se sensibilizem para a realização da simulação
e que o planejamento e o replanejamento dos gestores se façam sempre presente, tendo como
finalidade o preparo de um ambiente favorável para a sua efetivação (CAZANAS et al., 2021).
Para a implementação da estratégia de simulação pode haver o descrédito de estudantes
e professores na sua utilização, considerando-a vulnerável, com limites na execução de ações,

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podendo algumas dessas não serem reproduzidas em laboratório de prática (MORAES et al.,
2012).
Ademais, a reflexão pode ser incipiente para alguns impedindo que se utilize uma
determinada situação como um momento privilegiado para construção da crítica, levantamento
das necessidades de saúde e planejamento de ações com evidências científicas para a
transformação da prática profissional (MORAES et al., 2012).
Entretanto, todos esses desafios não impedem o desenvolvimento da estratégia
pedagógica da simulação nos cursos de formação profissional e, em especial, nos Cursos de
Medicina e Enfermagem da FAMEMA.

Considerações Finais
O processo de ensino-aprendizagem e de avaliação na FAMEMA, nas últimas décadas,
avançou muito em relação ao currículo anterior, pois a simulação proporcionou a aproximação
do estudante com a prática profissional de maneira mais segura e protegida. Apesar da
simulação se mostrar como uma estratégia pedagógica potente, necessita de investimentos
permanentes para que se atinjam os objetivos propostos pela Instituição de Ensino Superior.
Os estudantes demonstram satisfação no processo de aprendizagem e de avaliação, pois
a simulação contribui para trabalhar o desempenho na comunicação, no relacionamento
interpessoal, grupal, no exercício do exame físico em manequins e pessoas, além do retorno
imediato dos erros e acertos. Proporciona ainda, a aproximação do estudante com o professor e
a vivência da prática profissional em diferentes cenários.
Pesquisas podem contribuir para o desenvolvimento e avanço da simulação como uma
estratégia de formação do profissional de saúde.

Referências

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PERCEPÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE SOBRE PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA

Beatriz Menezes de Jesus1


Adrielle Andrade Passos2
Jucimara Dultra de Souza3
Stephane Victória Santos Prata4
Franciely Oliveira de Andrade Santos5
Lavínia Teixeira-Machado6

Resumo: O Agente Comunitário de Saúde atua com prestação de serviços na comunidade,


realiza uma rede entre a gestão e a população, assim como possui um papel fundamental no
acolhimento e direcionamento do cidadão para os serviços de saúde. O diagnóstico e/ou
cadastro de saúde de Pessoas com Deficiência podem ser subnotificados pela ausência de
conhecimento das características das condições pelos pais e profissionais que estão em contato
direto com esses indivíduos. Nosso objetivo foi analisar a percepção dos Agentes Comunitários
de Saúde sobre definição e direitos da Pessoa com Deficiência. O estudo é de caráter
exploratório e descritivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal
de Sergipe pelo número: 33220720.9.0000.5546 e parecer número 4.530.478. A coleta dos
dados ocorreu através do compartilhamento de um formulário online enviado via e-mail em
março de 2021. O formulário constou com dados pessoais e questões subjetivas sobre a
temática. Vinte e oito Agentes Comunitários de Saúde responderam o formulário. Em relação
ao grau de escolaridade, 3,6% tem apenas o ensino fundamental, 35,7% possuem o ensino
médio, 42,8% com ensino superior incompleto, 14,3% com ensino superior completo e 3,6%

1
Pós-graduanda em Ciências Fisiológicas, Laboratório de Pesquisa em Neurociências (LAPENE), Universidade
Federal de Sergipe, São Cristóvão, Brasil, [email protected]
2
Pós-graduanda em Ciências Aplicadas à Saúde, Laboratório de Estudos em Aprendizagem e Reabilitação
Neurológica (L.E.A.R.N), Universidade Federal de Sergipe, Lagarto, Brasil
3
Graduanda em Fisioterapia, Laboratório de Estudos em Aprendizagem e Reabilitação Neurológica (L.E.A.R.N),
Universidade Federal de Sergipe, Lagarto, Brasil
4
Graduanda em Fisioterapia, Laboratório de Estudos em Aprendizagem e Reabilitação Neurológica (L.E.A.R.N),
Universidade Federal de Sergipe, Lagarto, Brasil
5
Graduanda em Fisioterapia, Laboratório de Estudos em Aprendizagem e Reabilitação Neurológica (L.E.A.R.N),
Universidade Federal de Sergipe, Lagarto, Brasil
6
Docente no Departamento de Educação em Saúde, Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde,
Programa de Pós-Graduação em Rede Nacional de Ensino de Ciências Ambientais, Laboratório de Estudos em
Aprendizagem e Reabilitação Neurológica (L.E.A.R.N), Universidade Federal de Sergipe, Lagarto

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realiza pós-graduação. Dentre eles, 57,1% trabalham há menos de cinco anos como Agente
Comunitário de Saúde, 14,3% trabalham entre cinco e dez anos, e 28,6% estão acima de dez
anos nesta profissão. Com relação ao conhecimento dos direitos da pessoa com deficiência,
53,6% responderam que não conheciam e 46,4% relataram que obtinham essa informação.
Quando questionados sobre a definição de “pessoa com deficiência”, a maioria menciona ser
uma pessoa com algum problema físico, mental, que possui maior sensibilidade, e que precisa
de auxílio, atenção, por ser mais dependente, mas feliz como qualquer outra. Porém, quando
foi solicitado a especificação de definição de algumas deficiências comumente encontradas na
comunidade, como Paralisia Cerebral, Síndrome de Down e Transtorno do Espectro do
Autismo, a maioria não sabia expressar essa informação corretamente. Com isso, vale ressaltar
que o Agente Comunitário de Saúde é um profissional fundamental para a promoção da saúde
no Sistema Único de Saúde e é uma ponte entre o serviço e a comunidade. A falta de
conhecimento sobre a temática pode interferir na subnotificação e consequente carência de
serviços para esta população. Após análise dos dados, é notório a necessidade de um curso de
capacitação para este público-alvo com intuito de desmistificar a pessoa com deficiência. Sendo
assim, o grupo planejou o desenvolvimento de um curso de extensão para abordar a temática.

Palavras-chave: Agentes Comunitários de Saúde; Pessoas com Deficiência; Capacitação


Profissional; Acesso à Informação; Saúde Pública.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
Pessoas com deficiência (PCD) são aquelas que possui algum problema físico, mental,
intelectual e/ou sensorial de longo prazo, além disso, remete-se à relação direta com as barreiras
sociais que podem impedi-las de participar plena e efetivamente na sociedade em igualdade de
condições e direitos (DI NUBILA et al., 2011; SABARIEGO et al., 2015).
Reconhecer quem são as PCD e quem necessita de diferentes políticas de proteção social
são uns dos deveres do Estado na promoção da igualdade de oportunidades e na garantia dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais. Portanto, é necessário rastrear essa população
por meio da utilização de estratégias adequadas para o mapeamento de PCD, e, assim, fornecer
informações para monitoramento e planejamento de projetos voltados para esse público-alvo

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(DI NUBILA et al., 2011; SABARIEGO et al., 2015).
Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) atuam com a prestação de serviços na
comunidade e agem como elo entre a gestão, profissionais de saúde e população. O ACS
executa várias atividades, como conscientizar a saúde, realizar visitas domiciliares, auxiliar o
gerenciamento das famílias na comunidade, identificar grupos comunitários vulneráveis,
desempenhar ações que gerem os princípios de equidade, participação comunitária,
atendimento às necessidades locais de saúde e cooperação intersetorial (INGRAM et al., 2012;
NUNES; LOTTA, 2019; MHLONGO; LUTGE; ADEPEJU, 2020). Todavia, os ACS
enfrentam algumas barreiras que dificultam e impossibilitam a execução de suas atribuições
como, por exemplo, orientação inadequada, supervisão deficiente, conflito de papéis, salários
baixos e treinamento insuficiente (NUNES; LOTTA, 2019; MHLONGO; LUTGE; ADEPEJU,
2020).
A partir do que foi identificado na literatura e a limitação observada, o objetivo desse
estudo foi examinar a percepção dos ACS sobre definição e direitos das PCD, e identificar o
conhecimento dos mesmos para definir condições clínicas comuns na comunidade, como
Paralisia Cerebral (PC), Síndrome de Down (SD) e Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Referencial teórico
Mediante Portaria nº 2.344, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficiência publicou no Diário Oficial da União no dia 3 de novembro de 2010, a retirada do
termo “portador”, sendo decretado o uso correto do termo “Pessoa com Deficiência” para
designar tais indivíduos (BRASIL, 2010).
No modelo biopsicossocial da Classificação Internacional de Funções, Incapacidade e
Saúde (CIF), a definição de deficiência é mais ampla, e inclui limitação, restrição de atividades
e de participação (SABARIEGO et al., 2015). Desde 09 de julho de 2008, a Convenção

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Nacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que foi aprovada via Decreto
Legislativo n° 186 de 2008, traz em seu artigo 1°:

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (BRASIL,
2008, p. 3).

Em 2008, a Organização das Nações Unidas relatou a existência de 600 milhões de


pessoas com deficiência em todo o mundo, das quais aproximadamente 80% vivem em países
em desenvolvimento com menores níveis de escolaridade e financeiro. Segundo o Censo
Brasileiro de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente
24% da população possui alguma limitação física, mental, intelectual, visual ou auditiva. Sendo
a deficiência visual mais recorrente com cerca de 18,6% da população, física (7%), auditiva
(5,10%) e mental (1,40%). Apesar desses números serem importantes, vale ressaltar que estão
desatualizados devido ao crescimento substancial da população brasileira e a casos de
deficiência congênita ou secundária, sendo as causas mais frequentes de deficiência:
congênita/hereditária, desassistência durante o pré-natal e o parto, doenças transmissíveis,
desnutrição, lesões e medicamentos (GUEDES; BARBOSA, 2020). Dentre as
deficiências mais comuns, a PC é caracterizada por alterações neurológicas permanentes não
progressivas que afetam o desenvolvimento motor e cognitivo, envolvendo o movimento e a
postura do corpo (BRASIL, 2013a). A SD ou trissomia do 21 é uma condição humana
geneticamente determinada pela presença do cromossomo extra na constituição genética que
determina suas características físicas específicas e atraso no desenvolvimento (BRASIL,
2013b). E o TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento, caracterizado por dificuldades de
comunicação e interação social, e pela presença de comportamentos e/ou interesses repetitivos
e restritos (BRASIL, 2014).
A necessidade do cadastro e reconhecimento das PCD é subsidiada pela importância do

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fortalecimento de políticas públicas para esses indivíduos com o objetivo de certificar a
concretização de seus direitos, criar estratégias para ações específicas de acordo com a
demanda, prevenir agravos e contribuir em sua funcionalidade, acessibilidade e redução do
risco do desenvolvimento de incapacidades ao longo da vida (BRASIL, 2007; SABARIEGO et
al., 2015). Além disso, é observada a influência de definições de deficiência em cada país e a
utilização de perguntas em determinadas pesquisas que impactam nas estimativas da
prevalência de deficiência (SABARIEGO et al., 2015).
Para que os serviços sejam ofertados de forma efetiva e exequível, é necessário o
conhecimento do quantitativo das PCD nos territórios, e para isso os ACS devem ter ciência da
notificação de PCD para que as ações possam acontecer. O ACS possui esse papel fundamental
na Atenção Primária em Saúde (APS), atuando como linha de frente no atendimento à
necessidade da população e na demanda por serviços primordiais de saúde (BLANCHARD;
PROST; HOUWELING., 2019; TULENKO et al., 2013). Segundo Brasil (2020), existem cerca
de 300 mil ACS no território brasileiro, composto principalmente por mulheres, e
aproximadamente 65% com o ensino médio completo (JAVANPARAST et al., 2018).
O ACS realiza funções educacionais em saúde para facilitação do acesso ao serviço e
construção de conhecimento através de dicas e recomendações para a comunidade, além de
contribuir para o acesso de determinados grupos em pesquisas clínicas aprovadas por comitê
de ética (JAVANPARAST et al., 2018). Uma pesquisa realizada por Nunes e Lotta (2019)
mostrou que os ACS no Brasil são fundamentais para os encaminhamentos da população para
outros profissionais da saúde, realizar diálogo com a comunidade (que pode ou não seguir as
determinadas recomendações, dificultando o trabalho do sistema), inserir o indivíduo em uma
rede de apoio e contribuir com as resoluções de problemas do sistema de saúde.

Método

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O estudo é de caráter exploratório e descritivo, aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe sob CAAE número: 33220720.9.0000.5546 e
parecer: 4.530.478.
Elaboramos um formulário online via Google forms® que constou de duas seções: (1)
informações pessoais como nome, idade, sexo, nível de escolaridade, tempo de profissão,
microárea e localização na região; e (2) questões subjetivas sobre a temática como a definição
de pessoa com deficiência, conhecimento sobre os direitos das PCD e definição para
identificação de pessoas com PC, SD ou TEA.
Foram incluídos ACS que estivessem, atualmente, em prestação de serviço, sendo
excluídos do estudo os que não eram profissionais ou já haviam mudado de profissão. O
tamanho da amostra foi por conveniência durante o período da disponibilização do formulário.
A coleta dos dados ocorreu através do compartilhamento do formulário online, enviado via e-
mail e redes sociais, em março de 2021.
Antes de responder, os participantes aceitaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). O estudo apresentou riscos mínimos de invasão de privacidade
profissional, de sentir-se estigmatizado a partir do conteúdo questionado e o tempo despendido
para o participante responder o formulário de avaliação e participar dos encontros.
Os dados foram coletados em uma planilha de dados do programa Excel for Windows
2016, e foi realizada a projeção de gráficos no mesmo. Os dados descritivos e qualitativos foram
analisados individualmente.

Resultados e discussão
Durante o período de disponibilização do formulário, 28 ACS responderam. Dos
respondentes, 82,2% era do sexo feminino, com idade entre 25 e 54 anos. Em relação ao grau
de escolaridade, a maioria relatou possuir ensino médio completo (35,7%) ou ensino superior

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incompleto (42,8%) (Figura 1). A maioria atua como ACS há menos de cinco anos (57,1%)
(Figura 2).

Figura 1: Nível de escolaridade dos Agentes Comunitários de Saúde incluídos no estudo.

Fonte: Acervo próprio

Figura 2: Tempo de profissão dos Agentes Comunitários de Saúde incluídos no estudo.

Fonte: Acervo próprio

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Com relação ao conhecimento dos direitos da PCD, 53,6% respondeu que não conhecia
e 46,4% relatou que obtinha essa informação. Já em relação a definição de PCD, a maioria
menciona ser uma pessoa com algum problema físico, mental, que possui maior sensibilidade,
e que precisa de auxílio, atenção, por ser mais dependente, mas feliz como qualquer outra.
Como pode ser visualizado nas seguintes respostas:

“Pessoa com alguma limitação física, motora, sensorial etc., porém NÃO incapaz”

“Pessoas que têm certas limitações que podem ou não abranger o âmbito social”

“Pessoa especial, pessoa que tem limitações”

“Possui maior sensibilidade”

“Que precisa de auxílio, atenção por ser mais dependente, mas feliz como qualquer outra”

“São pessoas comuns de direitos e deveres perante a lei”

Sobre a definição de algumas deficiências comumente encontradas na comunidade,


segue algumas respostas sobre Paralisia Cerebral:

“Distúrbio congênito de movimentação, tônus muscular ou postura”


“Distúrbio voltado ao desenvolvimento deficitário do cérebro...”
“Quando a pessoa tem problemas neurológicos que afetam seu desenvolvimento, tanto físico
como cognitivo”
“Não tem consciência, não entende. Mas depende do grau. Tenho que estudar mais”
“É um tipo de retardo. Não sei explicar”
“Não sei”
Com relação à definição de Síndrome de Down, muitos ACS responderam que é uma
alteração genética existente, apesar de não saberem especificar.

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“Síndrome de Down é a coisa mais fofa e maravilhosa que tem! ... Eles têm uma carga genética
a mais, que fica característico na aparência física...”
“É uma falha no gênese que causa a deficiência”
“É um distúrbio genético, creio que comum”
“Uma deficiência cromossômica que afeta principalmente a formação congênita e neural,
potencializando as emoções do indivíduo”
“Não sei”
E sobre o Transtorno do Espectro do Autismo, muitos definiram como uma dificuldade
de interação social e comunicação.
“É uma condição que abrange tanto a questão mental quanto a questão motora...”
“Uma pessoa com dificuldade de se relacionar...”
“É a pessoa que vive como se estivesse num mundo à parte..."
“Um indivíduo que aprende no seu tempo, que não gosta de sair da sua rotina e não é muito
sociável”
“Infelizmente não sei nada sobre o tema”
“É exatamente o que que quero aprender”
Dos 28 ACS que participaram desse estudo, mais de 50% não possui conhecimento
sobre os direitos das PCD, além do conhecimento leigo e vago sobre definição e características
básicas de condições clínicas que assolam as comunidades locais. Pouco mais da metade dos
participantes (57,1%) trabalha há menos de cinco anos na profissão, fato que pode refletir
ausência de treinamento específico na execução do reconhecimento de características,
mostrando a necessidade da implantação de educação permanente para que estes trabalhadores
possam contribuir para a promoção da linha de cuidado necessária (HARTZLER et al., 2018).
No que se trata do conhecimento dos ACS sobre condições de saúde específicas (PC,
SD e TEA), os mesmos relataram dificuldades em defini-los, como é perceptível nas respostas:
“É um tipo de retardo. Não sei explicar” sobre PC, e “Infelizmente não sei nada sobre o tema”

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sobre TEA. Estas “deficiências” no conhecimento de determinadas condições de saúde
mostram uma fragilidade no processo de assistência à população, na promoção e prevenção de
agravos, estagnando os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). O que pode gerar,
por exemplo, um aumento no tempo de espera para consultas em subespecialidades,
dificultando ainda mais o acesso e adiando o processo de autonomia da PCD e suas famílias
(BLANCHARD; PROST; HOUWELING, 2019; JOSHI et al., 2020).
Nessa perspectiva, torna-se imprescindível a utilização de diversos recursos que
credenciem esses profissionais de base através da educação continuada, para subsidiar a prática
profissional, o acolhimento e o acesso aos serviços de saúde (JOSHI et al., 2020).

Considerações finais
É importante destacar a importância do ACS como profissional da APS no SUS, para
facilitar o acesso e o diálogo com a comunidade, assim como uma fonte de transmissão de
informações clínicas e educacionais para a população, fomentando a criação de ações que
beneficiem os grupos prioritários.
Com base nisso, vale ressaltar que a falta de conhecimento por parte dos ACS sobre
PCD, suas características clínicas, funcionais e sociais pode prejudicar a conscientização da
população, assim como inferir na subnotificação dos casos existentes na comunidade, e,
consequentemente, desprovimento de informações essenciais para realização de políticas
públicas em saúde para esse público.
Após análise dos dados obtidos nesse estudo, é notório a necessidade e importância de
um curso de capacitação para este público-alvo com intuito de desmistificar a pessoa com
deficiência. Sendo assim, o grupo planejou o desenvolvimento de um curso de extensão para
esse público-alvo sobre essa temática.

Agradecimentos

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Agradecemos a todos os Agentes Comunitários de Saúde que aceitaram responder o formulário
e participar do estudo. Os autores também agradecem a todas as integrantes do grupo Técnica
Aplicada Lavinia Teixeira (TALT) que estão engajadas no desenvolvimento do curso de
capacitação. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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"Em busca da cidadania plena através da universalidade da saúde”
18 e 19 de junho de 2021
COORDENAÇÃO DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM TERAPIA
INTENSIVA NA PANDEMIA DA COVID-19: UMA REFLEXÃO

Ana Maria Silva Camargo1


Helena Megumi Sonobe2

Resumo: A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) propõe a


regionalização da qualificação profissional especializada no Sistema Único de Saúde (SUS)
para suprir a escassez e as demandas de assistência à população, mediante formação em serviço.
Desta forma, a Residência Multiprofissional em Saúde, por meio da Resolução nº 2 de 13 de
abril de 2012, definiu o coordenador pedagógico como responsável para assegurar o sucesso de
sua implementação. Este trabalho objetivou refletir sobre a coordenação pedagógica do
Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva, no cenário da pandemia de
COVID-19. Trata-se de estudo de reflexão sobre a coordenação de um Programa de Residência
Multiprofissional em Terapia Intensiva, em meio à atual pandemia, na formação de
profissionais na linha de frente. Este programa de uma Instituição de ensino privada em parceria
com um hospital público, subvencionado pelo Ministério da Saúde, tem formado profissionais
nas áreas de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição em Terapia Intensiva para o SUS,
desde 2014. A coordenação deste programa, mediante as deliberações da Comissão de
Residência Multiprofissional, tem articulado o projeto pedagógico com as ações de
implementação, fomentando e promovendo a qualificação profissional dos preceptores e tutores
para favorecer a formação dos residentes para atuar na linha de frente, na assistência aos
pacientes críticos por COVID-19, desde 2020. Esta pandemia trouxe novos desafios, que exigiu
adequação do cronograma de rodízio nas unidades de prática profissional, considerando-se
todas as medidas preventivas para COVID-19, com preparo de todos os envolvidos, para este

1
Mestre. Grupo de Estudo da Reabilitação de Pacientes Cirúrgicos Oncológicos (GERPCO), Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP), Ribeirão Preto, Brasil, enfermeira
docente da Unoeste-Universidade do Oeste Paulista, coordenadora do programa de Residência Multiprofissional
em Terapia Intensiva, e-mail: [email protected]
2
Professor Associado. Grupo de Estudo da Reabilitação de Pacientes Cirúrgicos Oncológicos (GERPCO), Escola
de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP), Ribeirão Preto, Brasil, Vice
coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção ao Câncer do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) e coordenadora da Área
de Enfermagem

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momento epidemiológico. Houve necessidade de inserção desta temática no eixo transversal
teórico, bem como a previsão e provisão de insumos, reorganização das práticas clínicas e de
supervisão dos preceptores, focalizando-se as demandas para a formação dos residentes do
primeiro e segundo anos. A coordenação implementou o processo ensino aprendizagem, com
tutorias de núcleo e de campo, ratificando a metodologia problematizadora, pautada na
Andragogia, com estratégias como estudos de caso clínico, capacitações de outros profissionais
para situações críticas e apoio aos docentes e preceptores, para assegurar a efetividade do
Projeto Terapêutico Singular e o alcance da integralidade do cuidado nos serviços de saúde do
SUS. As intervenções multiprofissionais focalizaram a singularidade do adoecimento por
COVID-19, em Terapia Intensiva, tendo em vista a complexidade da assistência, que engloba
dimensões físicas e psicoemocionais. Para a articulação de saberes no desenvolvimento de
competências cognitivas, atitudinais e técnicas, para o cuidado deste paciente crítico foi
necessária a participação de todos os envolvidos neste programa, além do apoio institucional.
A coordenação deste programa necessitou reorganizar o processo ensino aprendizagem, com
criatividade, autoconhecimento e dinamismo, além de manter-se plenamente integrado à
instituição parceira e aos tutores para favorecer a formação dos residentes em intensivismo.
Desta forma, tem sido possível implementar o PNEPS e contribuir efetivamente na assistência
especializada aos pacientes com COVID-19 do SUS, por meio da formação de residentes para
a equipe multiprofissional, na linha de frente desta pandemia.

Palavras-chave: Integralidade em Saúde; Educação Interprofissional; Sistema Único de Saúde;


Unidades de Terapia Intensiva; Infecções por Coronavírus.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido considerado uma das maiores conquistas
sociais, concretizadas pela Constituição de 1988, com democratização do acesso da população
aos serviços de saúde, que culminou na reforma sanitária, que representou mudança de
paradigma em saúde. As ações essencialmente curativas, passaram a centralizar os esforços na
promoção, prevenção e reabilitação dos processos saúde-doença (BRASIL, 2008).

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Em consonância à este paradigma, a competência para a ordenação da qualificação
profissional tem sido assumido pelo SUS, por meio das políticas públicas de saúde brasileiras,
fundamentadas nas diretrizes do SUS, que têm transformado o processo de educação
permanente dos profissionais da saúde, na busca da qualidade na prestação da assistência à
saúde (BRASIL, 2018).

Assim, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde foi instituída em 2004,


representou esforços de educadores na área da saúde, para transformação das práticas do
trabalho em saúde, com fortalecimento da estrutura educacional, cujas propostas foram
interligadas à reflexão sobre o processo de trabalho, por meio do processo ensino aprendizagem,
com utilização de metodologia problematizadora, fundamentadas no aprender a aprender,
trabalho em equipe para a transformação da prática assistencial (BRASIL, 2018).

As políticas públicas do Sistema Único de Saúde propõem a capacitação de profissionais


para atuação resolutiva no cenário no sistema público de saúde brasileiro, sendo uma destas
vertentes a Residência Multiprofissional em Saúde (RMS). Trata-se de uma modalidade de
formação de pós-graduação lato sensu, que prevê a formação no cotidiano do trabalho em saúde,
constituindo um espaço de integração entre ensino e serviço, na qual a estrutura e funções de
implementação dos projetos pedagógicos de seus respectivos programas são assumidas pela
Comissão de Residência Multiprofissional (COREMU), pela coordenação de programa e pelo
Núcleo Docente Assistencial Estruturante (NDAE), que representam o esforço coletivo de
docentes, tutores, preceptores e residentes das diferentes áreas profissionais da saúde (SILVA,
2018; SECRETARIA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR, 2012).

A Secretaria de Saúde Superior, por meio da Resolução Nº 2 de 13 de abril de 2012,


definiu o papel do coordenador pedagógico de programas de Residência Multiprofissional em
Saúde, destacando a competência do coordenador para assegurar deliberações da COREMU,
articular processos de análise, alterações e aprovações do projeto pedagógico da Residência,

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garantir a implementação do programa, cumprir as deliberações da COREMU, além de
fomentar, promover a capacitação e qualificação profissional dos preceptores e tutores, que
atuam no processo de formação dos residentes, tanto na docência como na prática, dentre outras
funções.

Nesta perspectiva, Merhy (2015) reitera que o processo ensino aprendizagem deve estar
pautado na lógica da Educação Permanente, que reafirma o protagonismo do trabalhador no
processo de mudança, cujo ensino da prática deve estar fundamentado nos quatro pilares
educacionais, para que o sujeito se sinta de fato como agente transformador da realidade na
proposição do cuidado, de acordo com os níveis de atenção do SUS.

Considerando-se o cenário atual da pandemia da COVID-19 que atingiu o mundo todo,


que se iniciou na China em 2.019, com identificação de pessoas que apresentavam sintomas
gripais que evoluíram para pneumonia, provocados pelo vírus SARS-CoV 2, agente causador
da COVID-19. Isto resultou, em 30 de janeiro de 2.020, o decreto de Emergência de Saúde
Pública de Importância Internacional, o mais alto nível de alerta sobre a infecção pelo SARS-
CoV 2 pela Organização Mundial de Saúde - OMS (OPAS, 2020).

Desde então, a alta transmissibilidade do vírus tem provocado infecção em milhares de


pessoas, cujo quadro clínico pode variar com apresentação de sintomas leves, moderados e
graves. Os pacientes, que apresentam quadro clínico grave, requerem internação em leitos de
Unidade de Terapia Intensiva, devido ao acometimento do parênquima pulmonar, ocasionando
Doença Respiratória Aguda Grave, que podem evoluir para Insuficiência Respiratória e,
portanto apresentam necessidade de suporte ventilatório artificial como a ventilação mecânica
(SANTOS et al., 2021).

Neste contexto, as Residências Multiprofissionais vêm desenvolvendo um papel


importante no enfrentamento à pandemia juntamente com os profissionais da saúde, por meio

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da formação dos residentes em serviço, que focaliza a interdisciplinaridade, a integralidade do
cuidado e trabalho em equipe na resolução dos problemas de saúde, apresentados pelos usuários
do Sistema Único de Saúde. Esta proposta de formação de profissionais em serviço tem
refletido na assistência à saúde qualificada e segura, ampliando as possibilidades de
resolutividade dos principais problemas de saúde, que tem afetado negativamente a vida das
pessoas (THEODOSIO et al., 2021).

Método
Trata-se de estudo de reflexão sobre a coordenação de um Programa de Residência
Multiprofissional em Terapia Intensiva, em meio à atual pandemia, na formação de
profissionais na linha de frente. Este programa é resultante da parceria de uma Instituição de
ensino privada com um hospital público, subvencionado pelo Ministério da Saúde e que tem
formado profissionais nas áreas de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição em Terapia
Intensiva para o SUS, desde 2014. A Instituição de ensino tem participação na execução do
projeto pedagógico, com o apoio dos docentes, coordenador de programa, o hospital público é
a instituição proponente do programa que regulamenta os programas, constitui a COREMU e é
responsável pelos processos seletivos.
A Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva está sediada na cidade de
Presidente Prudente, interior do estado de São Paulo. A região de Presidente Prudente abrange
45 municípios. A população das cidades do Oeste Paulista representavam um total de 909.894
pessoas em 2016, segundo a estimativa divulgada em 2017 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2017).
Segundo dados da Associação de Medicina Intensiva (AMIB, 2009), mais da metade das
UTIs brasileiras (52,7%) encontram-se na região sudeste, sendo que São Paulo é o Estado com
o maior número de UTIs do país (27,3%). Entre 2003 e 2009, o Ministério da Saúde credenciou

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5.859 leitos de UTIs no país. Em abril de 2010, houve o incremento de mais de 471 novos leitos,
dos quais 262 foram para o tratamento de adultos em situações críticas (AMIB, 2010).

As Bases legais que regem os Programas de Residência em Saúde, são constituídas pelas
seguintes legislações:

- Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, que instituiu a Residência em Área Profissional


da Saúde e criou a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde, com carga
horária mínima de 5.760 horas, com dois anos de duração e distribuídas com horas horária de
60 horas semanais (BRASIL, 2005);

- Portaria Interministerial nº 1.077/MEC/MS, de 12 de novembro de 2009, que


regulamentou a Residência em Área Profissional da Saúde e instituiu o Programa Nacional de
Bolsas para Residências Multiprofissionais (BRASIL, 2009).

A Resolução CNRMS nº 5, de 7 de novembro de 2014, definiu a divisão da carga


horária entre prática e teórica/prática, sendo distribuídas em 85% e 15% respectivamente. As
ações pautadas em Educação Permanente para articulação e formação dos atores, que compõem
a Rede do SUS, as estruturas pedagógicas para a formação dos residentes, estão pautadas nos
pilares da educação, cujas atividades incluem práticas assistenciais, tutorias de núcleo, tutoria
de campo, disciplinas para eixos transversais e específicos, além de discussão de casos e
problematização (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR, 2014).

A preceptoria da Residência Multiprofissional conta com o apoio dos preceptores que


contribuem com a formação desses profissionais por meio de maior vínculo no cenário da UTI,
ensino da prática assistencial, apoio aos residentes na cobertura de escalas; estudos para
discussão de casos clínicos, além de avaliação por competências em parceria com o tutor de
núcleo.

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No cenário atual, mudanças foram necessárias para assegurar a formação dos residentes,
na perspectiva do SUS, com atuação destes na linha de frente à Pandemia.

Resultados e discussão

Descrição da experiência
Em março de 2020, a coordenação do programa de Residência Multiprofissional em
Terapia Intensiva, mediante as deliberações da Comissão de Residência Multiprofissional,
iniciou as ações de articulação do projeto pedagógico às ações de implementação, fomentando
e promovendo a qualificação profissional dos preceptores e tutores para favorecer a formação
dos residentes para atuar na linha de frente, na assistência aos pacientes críticos por COVID-
19.
Neste cenário de incertezas, o isolamento social foi a medida mais fortemente
recomendada pela OMS, a partir da experiência dos primeiros casos diagnosticados na China.
Desde então, estratégias de Educação em Saúde foram implementadas, em consonância aos
protocolos e referenciais teóricos para fundamentação das ações de orientações às populações
e usuários do SUS para promoção, prevenção e reabilitação da saúde (RIOS et al., 2020).
Muitas adequações foram realizadas como reorganização do cronograma de rodízio nas
unidades de prática profissional, considerando-se todas as medidas preventivas para COVID-
19, com preparo de todos os envolvidos para este momento epidemiológico. Inseriu-se esta
temática no eixo teórico transversal, bem como a previsão e provisão de insumos, reorganização
das práticas clínicas e de supervisão dos preceptores, focalizando-se nas demandas para a
formação dos residentes do primeiro e segundo anos.
Peduzzi (2020) enfatiza que a Educação Interprofissional é uma prática complementar
à educação uniprofissional, considerando que neste último, é o momento de aproximação com

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a área profissional escolhida, a fim de obter conhecimentos específicos, culturais e políticos. O
desafio da interprofissionalidade está na articulação entre os saberes de duas ou mais áreas
profissionais, colocando em foco o trabalho em equipe e a prática colaborativa.
O processo ensino aprendizagem, seguiu a proposta do Projeto Pedagógico, com a
continuidade das tutorias de núcleo e de campo, que foram realizadas como atividades síncronas
por transmissão on-line remota, ratificando a metodologia problematizadora, pautada na
Andragogia, além de estratégias como estudos de casos clínicos.
Ressalta-se que a construção teórico-conceitual do termo Andragogia, passou por
formulações no século XX, na década de 1960, momento histórico em que ocorreu uma rápida
expansão educativa direcionada aos adultos. Nesta perspectiva epistemológica, a Andragogia
está voltada para a educação dos adultos, que traz as diferenciações da abordagem teórica-
pedagógica entre crianças e adultos (BARROS, 2018).
Para Barros (2018), os processos educativos do adulto, estão estruturados nos seguintes
pressupostos teóricos-filosóficos: o educando adulto parte da necessidade de saber em que
medida o conhecimento será útil para aplicabilidade do mesmo, tem características de
independência em relação ao educador, com a iniciativa e proatividade pela busca do saber,
tornando a formação auto diretiva, na qual o educador faz a mediação para estimular a busca
pela autonomia, uma outra abordagem é em relação ao papel da experiência prévia, que é
considerada um rico atributo para o processo ensino-aprendizagem, associado com a utilização
de metodologias ativas e que enfatizam a experiência. A disposição para a aprendizagem do
adulto está relacionada à necessidade de saber, a motivação é intrínseca e um outro pressuposto
pedagógico está fundamentado no sentido das aprendizagens, na qual, tem o atributo da
aprendizagem para resolução de problemas a curto prazo, bem como o aperfeiçoamento do
desempenho de habilidades e competências.
Desta forma, na perspectiva do cuidado integral, algumas capacitações para outros
profissionais para situações críticas e apoio aos docentes e preceptores, também foram

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realizadas para assegurar a efetividade do cuidado. O Projeto Terapêutico Singular foi uma das
intervenções mantidas no processo ensino-aprendizagem, cujas intervenções multiprofissionais
focalizaram a singularidade do adoecimento por COVID-19, em Terapia Intensiva, tendo em
vista a complexidade da assistência, que engloba dimensões físicas e psicoemocionais.
A aprendizagem dialógica e significativa, parte do princípio da oportunidade de
expressão da realidade, do diálogo entre as partes envolvidas (residentes, tutores e usuários),
para assim, propor métodos de ensino aprendizagem, para transformação da realidade, da
prática de preceptoria, fortalecendo o processo de educação permanente e implicando em
resultados na transformação de ensino dos residentes, com participação efetiva de todos
(LEIMIG, 2014).

A Integralidade do cuidado foi instituída como uma Diretriz básica do SUS pela
Constituição de 1988. O termo Integralidade não se restringe somente ao fato de ser uma
diretriz, mas refere-se à uma imagem-objetivo, cujo enunciado sintetiza características
fundamentais do SUS, nas instituições de saúde e nas práticas assistenciais e gerenciais
desejáveis para alcançar um conjunto de valores para uma sociedade mais justa. Integralidade
condiz ao aspecto polissêmico, multifacetado e dinâmico da humanidade, que abarca a
subjetividade do ser humano no cuidado, aspectos administrativos e políticos, tornando tal
subjetividade concreta na qualidade da assistência ofertada, que implica em questões éticas
profundas, que transcendem a modelo centrado no cuidado biológico (MATTOS, 2009).
Para a articulação de saberes no desenvolvimento de competências cognitivas,
atitudinais e técnicas, para o cuidado deste paciente crítico, em meio à pandemia da COVID-
19, foi necessária a participação de todos os envolvidos neste programa, além do apoio
institucional. A coordenação deste programa necessitou reorganizar o processo ensino
aprendizagem, com criatividade, autoconhecimento e dinamismo, além de manter-se

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plenamente integrado à instituição parceira e aos tutores para favorecer a formação dos
residentes em intensivismo.

Considerações finais

A experiência vivenciada contribuiu para a reflexão da necessidade da reestruturação do


processo ensino aprendizagem dos residentes, por meio da metodologia problematizadora e
fundamentado na Andragogia, que possibilitou a articulação com todos os envolvidos, com
busca de maior integração das ações de educação em saúde, intersetorialidade, trabalho em
equipe e prática colaborativa.
Desta forma, tem sido possível implementar o PNEPS e contribuir efetivamente na
assistência especializada aos pacientes com COVID-19 do SUS, por meio da formação de
residentes, com perspectiva interprofissional, na linha de frente desta pandemia.
Faz-se necessário a continuidade da construção do trabalho em equipe, da assistência
integral e da implementação da PNEPS para a formação do residente, com avaliação da
coerência dos resultados frente aos pressupostos do SUS. Estes desafios têm potencializado a
capacidade reflexiva dos profissionais sobre o protagonismo de suas ações, na busca pela
melhoria dos processos assistenciais, gerenciais e políticos para o alcance de resultados,
baseados na ética e na qualidade da assistência ofertada.

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE - CINPSUS
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18 e 19 de junho de 2021
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18 e 19 de junho de 2021
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EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: Conceitos e ações para o Núcleo Ampliado
de Saúde da Família na Atenção Primária no município de Vitória, Espírito Santo, Brasil

Wellen Góbi Botacin1


Giulia Souza Costa2
Ana Rosa Murad Szpilman3
Elzimar Evangelista Peixoto Pinto 4
Lorena Ferreira5
Carolina Dutra Degli Esposti6

Resumo: A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde configura-se como uma


estratégia para o desenvolvimento e formação dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde
(SUS). Possui como foco a aprendizagem significativa, colaborando para uma prática
profissional voltada para a reflexão crítica sobre o processo de trabalho das equipes atuantes
nos serviços de saúde. O Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) foi incorporado à
Atenção Primária à Saúde (APS) a fim de promover a atuação profissional de forma integrada,
com o compartilhamento de saberes e responsabilidades. Além disso, o NASF apresenta
importante papel na realização de ações de Educação Permanente em Saúde (EPS), buscando
transformações das práticas em saúde. O objetivo deste estudo foi verificar os conceitos e as
ações de EPS realizadas pelos profissionais de saúde dos NASF do município de Vitória,
Espírito Santo (ES). Trata-se de uma pesquisa transversal descritiva realizada no município de
Vitória, ES. Participaram deste estudo profissionais atuantes nas oito equipes NASF do
município. Utilizou-se como critério de inclusão o profissional atuar no serviço há pelo menos

1
Cirurgiã-dentista pela UFES, Residência Multiprofissional em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFES e
Mestranda em Saúde Coletiva pela UFES, Membro do Projeto de Pesquisa Avaliação de Implementação da
Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, Vitória, Brasil, e-mail: [email protected]
2
Graduação em Odontologia, Membro do Projeto de Pesquisa Avaliação de Implementação da Política Nacional
de Educação Permanente em Saúde, Vitória, Brasil
3
Cirurgiã-dentista pela UERJ, Mestre em Saúde Coletiva pela UFES, Doutora em Educação pela UFES, Membro
do Projeto de Pesquisa Avaliação de Implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde,
Vitória, Brasil
4
Psicóloga pela UFES, Mestre em Psicologia pela UFES, Membro do Projeto de Pesquisa Avaliação de
Implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, Vitória, Brasil
5
Cirurgiã-dentista e Mestre em Saúde Coletiva pela UFES, Doutora em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ,
Membro do Projeto de Pesquisa Avaliação de Implementação da Política Nacional de Educação Permanente em
Saúde, Vitória, Brasil
6
Cirurgiã-dentista e mestre em Saúde Coletiva pela UFES, Doutora em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ,
Membro do Projeto de Pesquisa Avaliação de Implementação da Política Nacional de Educação Permanente em
Saúde, Vitória, Brasil

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um ano. As informações foram obtidas por meio de um questionário autoaplicado, entre os
meses de março e dezembro de 2020. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Escola Nacional de Saúde Pública, pareceres nº 2.464.885/2018 e nº 4.228.002/2020.
Participaram do estudo 49 profissionais do NASF. Sobre o conceito de EPS, os participantes a
relacionaram com: capacitações (n=45; 93,8%), rodas de conversa (n=42; 87,5%), reuniões com
a equipe de trabalho (n=38; 79,2%), cursos (n=38; 79,2%), palestras (n=33; 68,8%) e
especialização (n=26; 54,2%). Os participantes, em sua totalidade, afirmaram já terem
participado de ações de EPS, como: Curso de Especialização e/ou Capacitação (n=49; 100%);
Treinamento e/ou Eventos (n=47; 97,9%); Rodas de Conversa (n=45; 93,8%); Formação
técnica/profissionalizante na área da saúde (n=38; 77,6%); Articulação/Organização de estágios
curriculares dentro da Unidade de Saúde (n=22; 45,8%) e Residência Médica ou
Multiprofissional (n=10; 21,7%). Avaliando sua participação nessas ações, a maioria a
considerou boa (n=32; 65,3%), seguido de ótima (n=12; 24,5%), e 79,6% (n=39) deles
afirmaram que, ao final dessas ações, foram desenvolvidos produtos como portfólio, plano de
intervenção ou manual, que pudessem ser levados para o cotidiano do serviço no qual atuavam.
Observa-se, dessa forma, que as práticas de EPS estão acontecendo pelos profissionais do
NASF no âmbito da APS no município de Vitória-ES, possibilitando o desenvolvimento de
uma proposta pedagógica que visa à transformação da realidade do trabalho, gerando mudanças
na prática profissional. No que se refere à compreensão do conceito de EPS e sua importância
para a execução na prática dos serviços de saúde, pode-se observar uma redução em sua
compreensão, tendo em vista que os profissionais reconheceram a prática da EPS relacionada
a cursos de especialização, capacitação e treinamentos. O reconhecimento limitado apresenta-
se como barreira à efetivação da política, o que torna necessário a sua compreensão pelos
trabalhadores da saúde para que ocorra a efetivação da proposta da EPS como política pública,
impulsionando a melhoria na qualidade da atenção à saúde no SUS.

Palavras-chave: Educação Continuada; Capacitação de Recursos Humanos em Saúde; Pessoal


de Saúde; Política de Saúde; Atenção Primária à Saúde.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
A formação em saúde em nível de graduação ou pós-graduação encontra-se, ainda,
pautada em disciplinas fragmentadas, que, em grande parte das vezes, não condizem com a
realidade prática do serviço de saúde, o que gera influências sobre sua prática profissional,
tornando o trabalhador um mero reprodutor do conhecimento adquirido (ALMEIDA;

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TESTON; MEDEIROS, 2019). A fim de promover a superação deste modelo formativo, a
relação entre saúde e educação deve ir além do conhecimento adquirido durante os processos
educativos. Almeja-se que os profissionais não somente reproduzam esse conhecimento, mas
que o saber seja edificado, com base, também, na convivência e na leitura da realidade prática
do serviço, tornando-os profissionais crítico-reflexivos (COSTA et al., 2018; MICCAS;
BATISTA, 2014).
Nesse sentido, encontra-se a Educação Permanente em Saúde (EPS), que se caracteriza
como uma estratégia para o desenvolvimento dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde
(SUS), sendo definida como a aprendizagem baseada na vivência cotidiana, com a capacidade
de promover mudanças na atuação profissional dos trabalhadores da saúde (CAMPOS;
MARQUES; SILVA, 2018). Em 2004, foi instituída a Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde (PNEPS), importante no processo de desenvolvimento e formação dos
trabalhadores da saúde, buscando integrar realidade prática e formação profissional, além de
promover alterações e mudanças nos processos educativos dos mais diversos setores, e
destacando o SUS como um agente importante na formação profissional, e não somente um
campo de aprendizado (BRASIL, 2004). Apesar de ser uma política nacional e única, ela sofre
influência das características dos cenários onde é implementada, assumindo contornos
específicos (TAMAKI et al., 2012), adotando assim, a Política de Educação Permanente em
Saúde (PEPS) uma identidade própria em âmbito local.
A incorporação das ações de EPS promoveu mudanças nos serviços de saúde, sendo
pautadas nas necessidades locais, incentivando a criatividade e a reflexão do profissional em
seu modo de atuar, criando um campo de intervenção com potencial de transformação da
realidade do serviço, do modelo assistencial e mudanças pedagógicas nos processos formativos,
bem como a criação de novos atores e instâncias envolvidas com o processo de EPS,
ressignificando, assim, a formação em saúde e evidenciando o protagonismo do SUS
(CAMPOS; MARQUES; SILVA, 2018; CECCIM, 2005).

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Ainda assim, existem obstáculos na formação dos trabalhadores da saúde e no
desenvolvimento da PEPS, como o predomínio das ações pautadas no modelo biomédico,
marcado pelo atendimento curativista e individual, voltado para a técnica e não para a reflexão
crítica, a confusão conceitual e o não entendimento do termo EPS, a indisponibilidade de
horário nas agendas dos profissionais para realização de ações de EPS, a desvalorização dos
trabalhadores e barreiras relacionadas a infraestrutura, gestão e recursos humanos (CAMPOS;
MARQUES; SILVA, 2018; VENDRUSCOLO et al., 2020).
A Atenção Primária à Saúde (APS) compreende intervenções individuais e coletivas,
promovendo diversos tipos de serviços, como diagnóstico, tratamento, promoção da saúde,
prevenção de doenças, reabilitação, vigilância em saúde, redução de danos e cuidados
paliativos, por meio de uma equipe formada por profissionais de várias categorias, que deve
atuar com a população de um território definido, sendo considerada a porta de entrada dos
serviços de saúde e ordenadora do cuidado no Brasil (BRASIL, 2017). A inserção da Estratégia
Saúde da Família (ESF), um modelo de organização da APS no SUS, trouxe notórios avanços,
como o acesso ampliado aos serviços de saúde, quedas nas taxas de mortalidade adulta e
infantil, maior abrangência da oferta de tratamentos, como o odontológico e de determinadas
doenças infecciosas, aumento da eficiência do sistema de saúde e diminuição do número de
internações (MACINKO; MENDONÇA, 2018).
Além da ESF, foi criado o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), no ano de
2008, que incorporou profissionais de distintas áreas de saber, conforme determinação da gestão
municipal, com o intuito de expandir a APS, oferecer suporte às equipes da estratégia
vinculadas, atuar com base nas demandas do serviço e ampliar a resolutividade do serviço de
saúde do SUS (BRASIL, 2008). A incorporação dos profissionais do NASF pretende não
somente inserir novos profissionais de diferentes formações no serviço, mas busca também
instituir uma nova forma de trabalho e ampliar a intersetorialidade e o cuidado colaborativo
(MOREIRA et al., 2019). Apesar da atualização da Política Nacional da Atenção Básica

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(PNAB), publicada em 2017, ter alterado a nomenclatura para Núcleo Ampliado de Saúde da
Família e Atenção Básica (NASF-AB) (BRASIL, 2017), será utilizada, neste trabalho, a sigla
NASF para designá-lo.
Podem compor a equipe do NASF profissionais de diversas áreas: Nutricionista;
Assistente Social; Fisioterapeuta; Médico do Trabalho, Pediatra, Psiquiatra, Homeopata,
Ginecologista/Obstetra, Internista, Geriatra, Veterinário, Acupunturista; Psicólogo; Terapeuta
Ocupacional; Profissional/Professor de Educação Física; Fonoaudiólogo; Farmacêutico; e
profissionais formados em arte-educação e sanitarista, ou com graduação na área da saúde e
pós-graduação em saúde pública ou coletiva (BRASIL, 2017). Sobre a composição das equipes
NASF em todo o país, as categorias mais frequentes são: Fisioterapia, Nutrição, Assistência
Social e Educação Física (MELO et al., 2018). A EPS contribui, de forma significativa, na
atuação conjunta entre o NASF e os distintos profissionais da ESF, tendo, nessa atuação
interdisciplinar, a remodelação da formação individual e conjunta, promovendo momentos de
discussão e atendimentos compartilhados, contribuindo, substancialmente, para o
fortalecimento da APS (VENDRUSCOLO et al., 2020).
O NASF também possui, como incumbência, realizar ações de EPS, trabalhar pautado
nas demandas e necessidades do serviço, zelar pela integralidade do cuidado, oferecer suporte
à equipe e compartilhar e estabelecer práticas, saberes e gestão do cuidado (BRASIL, 2017),
sendo, portanto, os profissionais do NASF atores fundamentais na efetivação da PEPS na APS.
A consolidação da PEPS no SUS e a realização de suas ações dependem do
entendimento do conceito de EPS e do trabalho conjunto entre gestores, profissionais, institutos
e comunidade, além de uma formação profissional norteada pela EPS (FERREIRA et al., 2019).
Apesar do avanço conceitual e no entendimento do termo EPS, e considerando a
problematização do cotidiano do serviço, as ações de EPS ainda acabam acontecendo de forma
desintegrada da prática (CAMPOS; SENA; SILVA, 2017), o que evidencia a necessidade da
disseminação desta terminologia, seus significados e suas práticas. A Educação Continuada

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(EC), frequentemente confundida com EPS, é considerada um procedimento de atualização,
verticalizado, pontual e com demandas específicas (BARCELLOS et al., 2020).
O novo, novas experiências são capazes de fazer com que o profissional tenha uma visão
ampliada, favorecendo sua desacomodação, sair da “zona de conforto”, de modo que o sujeito
passe a refletir sobre sua realidade, que é complexa e muda cotidianamente, proporcionando,
assim, seu crescimento pessoal e profissional. Isso agrega maturidade e experiência, que
promovem a ressignificação do trabalho (CAMPOS; MARQUES; SILVA, 2018).
Conhecer o conceito e as concepções da EPS na saúde é importante para perceber as
modificações que aconteceram ao longo dos anos, compreender os conhecimentos atuais e,
principalmente, conhecer sobre sua aplicabilidade nos serviços de saúde (CAMPOS; SENA;
SILVA, 2017). É extremamente importante verificar as ações que o NASF tem realizado na
APS, para assim, identificar a implementação da PEPS e reconhecer as áreas adequadas ou as
que ainda necessitam de adequações, a fim de propor as melhorias necessárias (ARCE;
TEIXEIRA, 2018).
Busca-se com este trabalho verificar os conceitos e as ações de EPS realizadas pelos
profissionais de saúde dos NASF do município de Vitória, Espírito Santo (ES), Brasil.

Método
Foi realizado um estudo transversal, descritivo, no município de Vitória, ES, Brasil,
com as equipes NASF do município, a fim de verificar os conceitos e as ações de EPS
realizadas por eles. O município, capital do estado, foi escolhido como cenário deste estudo,
por possuir o maior nível de organização com relação à APS e o que mais apresenta serviços
complexos, sendo referência no Estado para bens e serviços. Ademais, o município conta com
a Escola Técnica e Formação Profissional de Saúde (ETSUS Vitória), importante instituição
no processo de gestão e formação de trabalhadores da saúde, promovendo diversas ações
educacionais, cursos, capacitações, aperfeiçoamentos, especializações e eventos, como fóruns

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e reuniões (ESPÍRITO SANTO, 2021).
Vitória está dividido em seis Regiões de Saúde, o que facilita a descentralização e o
reconhecimento das particularidades de cada uma delas: Região 1: Santo Antônio; Região 2:
Maruípe; Região 3: São Pedro; Região 4: Forte de São João; Região 5: Continental e Região
6: Centro. Conta com vinte e nove Territórios de Saúde/Unidades Básicas de Saúde e possui
oito equipes NASF que atuam em treze Unidades de Saúde da Família (USF) do município
(Santo Antônio, Resistência, Santo André, Jardim da Penha, Fonte Grande, São Cristóvão,
Conquista/Nova Palestina, Vitória, Santa Martha, Andorinhas, Consolação, Maruípe e
Resistência), a fim de prover auxílio pedagógico, clínico e sanitário às equipes de saúde
assistidas (ESPÍRITO SANTO, 2021). De acordo com o relatório obtido junto à direção da
unidade e/ou à ETSUS Vitória, as equipes NASF do município de Vitória incluem 60
profissionais, das seguintes categorias: assistente social, psicólogo, profissional de Educação
Física, farmacêutico e fonoaudiólogo.
Para a seleção dos participantes foram utilizados os seguintes critérios: ser profissional
do NASF e atuar há pelo um ano no serviço. Foram excluídos os profissionais que se
recusaram a participar da pesquisa.
Um pré-teste do questionário, instrumento utilizado para coleta de dados, foi realizado
em 2018 com cinco participantes com características semelhantes aos da população do estudo,
incluindo profissionais que atuavam ou já atuaram em USF e já tivessem realizado alguma
ação de EPS, não sendo estes incluídos na amostra final da pesquisa. Também foi realizado
um estudo piloto, entre os meses de maio e junho de 2018, no qual participaram 36
profissionais, que preencheram o questionário, permitindo avaliar a compreensão da “amostra
teste” sobre o texto, vocabulário e sensibilidade das respostas. Estas informações também não
foram incluídas na amostra final.
Os participantes selecionados foram contatados por meio da direção da unidade de saúde
na qual trabalhavam. Utilizou-se, como instrumento de pesquisa, um questionário autoaplicado

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contendo perguntas acerca do conceito de EPS, sobre a participação desses profissionais em
ações de EPS, sobre como avaliavam sua participação em tais ações e sobre o desenvolvimento
de produtos ao final das ações. A coleta de dados ocorreu entre os meses de março e dezembro
de 2020, inicialmente, de forma presencial e, posteriormente, de forma online, diante da
pandemia de COVID-19. Os participantes que aceitaram participar da pesquisa assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os dados obtidos por meio do questionário foram tabulados com auxílio do programa
Statistical Packages for the Social Sciences (SPSS) versão 21.0. A verificação dos dados
quantitativos foi efetuada por meio de análise descritiva simples, com o cálculo de frequências
relativas e absolutas.
O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional
de Saúde Pública, ENSP/FIOCRUZ, com aprovação sob parecer nº 2.464.885/2018 (CAAE:
79962217.4.0000.5240), Emenda 1 com parecer nº 3.033.414 (CAAE: 79962217.4.0000.5240)
e o subprojeto aprovado sob parecer nº 4.228.002/2020 (CAAE: 35320920.0.3002.5064). Foi
obtida anuência da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória. A pesquisa recebeu apoio
financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado do Espírito Santo
(FAPES), processo nº 83170561/2018.

Resultados
Participaram do estudo 49 profissionais do NASF do município de Vitória, ES, Brasil,
que atuam nas USF. Os participantes relacionaram a EPS com capacitações (n=45; 93,8%),
rodas de conversa (n=42; 87,5%), reuniões com a equipe de trabalho (n=38; 79,2%), cursos
(n=38; 79,2%), palestras (n=33; 68,8%), mas também citaram a especialização (n=26; 54,2%)
(Tabela 1).
Os profissionais, em sua totalidade, afirmaram já terem participado de ações de EPS,
principalmente de curso de especialização e/ou capacitação (n=49; 100%), treinamento e/ou

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eventos (n=47; 97,9%), rodas de conversa (n=45; 93,8%) e formação técnica/profissionalizante
na área da saúde (n=38; 77,6%). A articulação/organização de estágios curriculares dentro da
USF (n=22; 45,8%) e Residência Médica ou Multiprofissional (n=10; 21,7%) também foram
citadas (Tabela 1).
Avaliando sua participação nessas ações, a maioria dos profissionais do NASF
considerou boa (n=32; 65,3%), seguido de ótima (n=12; 24,5%) e regular (n=5; 10,2%) e 79,6%
(n=39) deles afirmaram que, ao final dessas ações, foram desenvolvidos produtos como
portfólio, plano de intervenção ou manual, que pudessem ser levados para o cotidiano do
serviço no qual atuavam (Tabela 1).

Tabela 1- Conceitos e ações de EPS na visão dos profissionais do NASF. Vitória, ES, 2021.
Variáveis n %

Conceito de EPS (n=48*) Capacitação 45 93,8

Rodas de Conversa 42 87,5

Reuniões com a equipe de trabalho 38 79,2

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Cursos 38 79,2

Palestras 33 68,8

Especialização 26 54,2

Participação em ações de EPS (n = 49) 49 100

Participação em ações de EPS Curso de Especialização e/ou Capacitação 49 100


(n=49)
Treinamento e/ou Eventos 47 97,9
Rodas de Conversa 45 93,8
Formação técnica/profissionalizante na área da saúde 38 77,6
Articulação/Organização de estágios curriculares dentro da 22 45,8
Unidade de Saúde

Residência Médica ou Multiprofissional 10 21,7


Avaliação da participação na Ótima 12 24,5
ação de EPS
(n = 49) Boa 32 65,3
Regular 5 10,2
Ruim 0 0
Péssima 0 0
Desenvolvimento de produto a ser aplicado no 39 79,6
serviço no qual atua (n = 49)
*Algumas variáveis não totalizam 49 indivíduos devido à ausência de informações.
Fonte: As autoras (2021).

Discussão
Estudos brasileiros apontam que é muito comum a confusão em relação aos termos EPS
e EC, o que acaba por interferir no serviço de saúde e nos processos formativos dos profissionais
(BARCELLOS et al., 2020; CAMPOS; SENA; SILVA, 2017; FERREIRA et al., 2019), fato
este que pode ser notado também nesta pesquisa.

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Além da confusão com o termo EC, são encontradas concepções diversas sobre o
próprio termo EPS, desde definições que fazem referência ao modelo tradicional de educação
até outras que a aproximam mais da problematização do serviço e de suas demandas. Acredita-
se que essa dificuldade no entendimento deva-se à formação de trabalhadores baseada no
modelo médico hegemônico, com forte presença da cultura da educação fragmentada
(FERREIRA et al., 2019).
Essa confusão de conceitos interfere, de forma negativa, na institucionalização da PEPS,
pois o correto entendimento dos termos é importante para profissionais, gestores e governo, a
fim de que se reconheça a sua importância, o protagonismo do sujeito em seu processo
educativo e que seja reivindicada a realização de ações de EPS no cotidiano do serviço (BISPO
JÚNIOR; MOREIRA, 2017). Além disso, essa confusão afeta também a formação profissional,
uma vez que o desconhecimento dos termos compromete a reflexão sobre as demandas do
serviço, a autonomia e as mudanças do processo de trabalho (CAMPOS; SENA; SILVA, 2017).
A EPS é definida como o exercício da reflexão baseado na problematização das
necessidades da prática do serviço de saúde, buscando a transformação da realidade e
proporcionando novos saberes, já a EC remete à replicação dos conhecimentos adquiridos
(BISPO JÚNIOR; MOREIRA, 2017). As formações voltadas às atualizações técnico-científicas
são importantes pontos para a formação dos trabalhadores, porém, representam apenas um dos
eixos, e não o eixo principal da EPS (FERREIRA et al., 2019). Muitas vezes essas ações,
quando voltadas a determinado tema, acabam tendo foco biologicista, com indicação de
protocolos e procedimentos, o que acaba por gerar ações fracionadas e desconexas da prática e
das necessidades nos serviços (BISPO JÚNIOR; MOREIRA, 2017; FERREIRA et al., 2019).
Contudo, apesar da prática cotidiana ainda apresentar supremacia de ações de EC em
detrimento das de EPS, os profissionais demonstram interesse em produzir mais ações de EPS
nos serviços de saúde (FERREIRA et al., 2019; MICCAS; BATISTA, 2014). Deve-se,
portanto, não considerar EC e EPS excludentes, mas sim a sua inter-relação. Tanto que, muitas

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vezes, a necessidade de realização de uma determinada ação surge da outra, e vice-versa, ambas
buscando fornecer conhecimentos e alterar a organização dos serviços de saúde (BARBOSA;
MOREIRA, 2019).
As ações de EPS ocorrem no cotidiano do serviço de variadas formas, desde maneiras
tradicionais, em atividades formais de ensino-aprendizado, até informais, por meio de ações
que podem ocasionar transformações nos serviços de saúde. Frequentemente as ações de EPS
são entendidas como atualizações, capacitações, reciclagens e treinamentos, com ofertas
temporais, que mais se aproximam da EC (CAMPOS; MARQUES; SILVA, 2018), observada
também nesta pesquisa com os profissionais do NASF do município de Vitória.
As atualizações são compreendidas como cursos e treinamentos, a fim de que os
profissionais reconheçam o que é ensinado nos cursos e o que é executado na prática, o que é
utilizado e o que mudou, ou ainda, muitas vezes, essas atualizações não apresentam relação
com o cotidiano do serviço de saúde, surgindo apenas como demandas da gestão superior, com
foco na aprendizagem para a técnica, promovendo somente a reprodução do conhecimento, e
não a reflexão para a prática (CAMPOS; MARQUES; SILVA, 2018).
As ações de EPS realizadas pelos trabalhadores estão ligadas também a recursos
tecnológicos, como o Telessaúde Brasil Redes e a educação à distância, ações como Pet-Saúde
e Pró-Saúde, além das rodas de conversa e reuniões de equipe, que acontecem rotineiramente
nos serviços de saúde (FERREIRA et al., 2019). A lógica transformadora da EPS, além de fazer
parte do cotidiano do serviço, por meio das experiências diárias, deve ser inserida nos institutos
de ensino e formação dos profissionais (MICCAS; BATISTA, 2014). Ademais, é importante a
utilização dos recursos ofertados por meio dos avanços na tecnologia e de ações que integrem
ensino-serviço (FERREIRA et al., 2019), como os programas de residência.
Neste estudo houve unanimidade na participação dos profissionais em ações de EPS,
diferente do que é retratado no estudo de Almeida et al. (2019), realizado com profissionais de
nível superior que atuavam em Unidades de Saúde da Família em um município do estado da

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Bahia, Brasil, no qual alguns profissionais afirmaram nunca terem participado, não saberem e
até mesmo não se lembrarem de terem participado dessas ações, evidenciando que ainda
existem obstáculos nessa associação da realidade do serviço com a EPS e suas práticas. O
resultado positivo observado em Vitória no presente estudo pode ter relação com o fato de o
município contar com a ETSUS Vitória, uma importante instituição na realização de ações de
EPS, que promove cursos, formação técnica, capacitações, especializações, treinamentos,
eventos e outras várias ações educacionais (ESPÍRITO SANTO, 2021). Essas escolas
representam cenários permanentes de formação de pessoal de nível médio, com base na reflexão
do trabalho com base no perfil epidemiológico da população, visando à qualidade do trabalho
(COSTA, 2006). Configuram-se como espaços político-pedagógicos, formalmente instituídos,
para desenvolvimento de processos formativos do profissional-cidadão e do cidadão-
profissional-trabalhador, de forma ordenada e sistemática, para além da instrumentalização
(GALVÃO, 2009).
Ademais, o trabalho do NASF também contribui de forma significativa para a saúde
pública, promovendo incorporação de temáticas de saúde coletiva em projetos pedagógicos,
tendo a EPS como norteadora da atualização de conhecimentos, bem como o aumento da oferta
de mestrados e residências, o que integra formação e trabalho em saúde (VENDRUSCOLO et
al., 2020). Mesmo que de formas distintas, as ações de EPS, importantes para a solidificação
da PEPS, estão acontecendo na APS (FERREIRA et al., 2019), conforme evidenciado neste
estudo. Porém, ainda necessitam de adequações, a fim de promover reflexão crítica e serem
pautadas no cotidiano do serviço de saúde.
Sobre a avaliação das ações de EPS, os profissionais, em sua grande maioria,
consideraram sua participação como boa ou ótima, e relataram, também, o desenvolvimento de
produtos a serem aplicados em sua prática cotidiana. O reconhecimento positivo da participação
e aplicabilidade na prática diária sinalizam a proximidade com as demandas do território de
saúde e uma ampliação do olhar sobre a EPS, reconhecendo a complexidade do contexto

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cotidiano e a exigência de mudanças nos modos de fazer a atenção à saúde (CAMPOS; SENA;
SILVA, 2017).
Apesar dos avanços, a EPS ainda é uma área que necessita de investimentos. Torna-se
importante repensar o trabalho coletivo, a análise da prática no serviço e seus aprendizados,
rompendo, portanto, com a educação fragmentada e sem relação com a realidade prática,
percebendo as riquezas que o serviço de saúde oferta para a produção do saber e transformações
no modelo de assistência à população. É preciso enxergar a EPS para além de cursos ou ações
formais e pontuais com temática definida. A EPS deve permitir mudanças e reflexões acerca
do processo de trabalho e de si próprio, pelo trabalho e para além dele (CAMPOS; SENA;
SILVA, 2017).

Considerações finais
Pode-se concluir, dessa forma, que as ações de EPS estão acontecendo no âmbito da
APS pelos profissionais do NASF no município de Vitória-ES, possibilitando o
desenvolvimento de uma proposta pedagógica que visa à transformação da realidade do
trabalho, gerando mudanças na prática profissional.
Sobre a compreensão do conceito de EPS e sua importância para a execução na prática
dos serviços de saúde, pode-se observar uma redução em sua compreensão, tendo em vista que
os profissionais reconheceram a prática da EPS relacionada a cursos de especialização,
capacitação e treinamentos. O reconhecimento limitado apresenta-se como barreira à efetivação
da política, o que torna necessária a sua compreensão pelos trabalhadores da saúde e a
valorização de sua prática nos serviços para que ocorra a efetivação da proposta da EPS como
política pública, impulsionando a melhoria na qualidade da atenção à saúde no SUS.

Agradecimento

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À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) pelo
financiamento do projeto de pesquisa. A todos os integrantes do projeto de pesquisa “Avaliação
da Implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde no município de
Vitória, Espírito Santo” pelo empenho e dedicação.

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FORMAÇÃO ACADÊMICA VOLTADA AO SUS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA
LIGA ACADÊMICA INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE COLETIVA

Alice Gabriella Mororó Marques1


Mariane Valesca de Menezes Lacerda2
Jermyson Guimarães de Souza3
Iris Caroline Nunes Santana4
Laisa dos Santos Silva5
Rafaela Santos de Melo6

Resumo: Nos últimos anos, a formação de recursos humanos orientada para a realidade do
Sistema Único de Saúde (SUS) se tornou pauta de discussão no âmbito dos Ministérios da
Saúde e da Educação. Apesar das conquistas de uma política educacional que integre uma visão
mais humanista, holística e voltada para as Políticas Públicas em Saúde, vislumbram-se
limitações quanto a prevalência de Diretrizes Curriculares uniprofissionais nas Universidades
e Faculdades, as quais repercutem negativamente na formação dos futuros profissionais para a
realidade do sistema de saúde vigente. Nesse sentido, a Liga Acadêmica Interdisciplinar em
Saúde Coletiva (LAISC) baseia-se no princípio de ampliar conhecimentos sobre Saúde Pública
e Coletiva, alicerçada na Educação Interprofissional (EIP) por meio de vivências teórico-
práticas entre estudantes das áreas de Saúde. O objetivo do presente trabalho é relatar
experiências dos processos de ensino-aprendizagem Interdisciplinar em Saúde no contexto do
SUS, a partir das atividades de Ensino e Extensão desenvolvidas pela liga. Trata-se de um
estudo descritivo do tipo Relato de Experiência que engloba propostas da LAISC, formada por
22 estudantes dos cursos de Enfermagem, Farmácia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição,
Odontologia e Psicologia, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
Universidade de Pernambuco (UPE) e Faculdade Soberana, situadas em Petrolina-PE e
Faculdade AGES de Medicina, em Jacobina-BA. As atividades tiveram início em fevereiro de
2020 e continuam em andamento, com foco na qualificação da formação em saúde orientada
para o SUS. Entre as atividades desenvolvidas estão Rodas Formativas e Encontros Formativos,
como estratégia de ensino, e realização de Projeto de Extensão. Os métodos utilizados pela

1
Graduanda em Psicologia, LAISC, UNIVASF, Petrolina, Brasil e [email protected]
2
Graduanda em Enfermagem, LAISC, UNIVASF, Petrolina, Brasil
3
Graduando em Psicologia, LAISC, UNIVASF, Petrolina, Brasil
4
Graduanda em Medicina Veterinária, LAISC, UNIVASF, Petrolina, Brasil
5
Graduanda em Enfermagem, LAISC, UNIVASF, Petrolina, Brasil
6
Doutora em Biotecnologia, LAISC, UNIVASF, Petrolina, Brasil

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LAISC visam promover espaços de intercâmbio de conhecimentos entre diferentes áreas do
saber, norteadas pela horizontalidade e respeito às práticas profissionais de cada área da Saúde.
A partir dessa iniciativa, dentro do plano de trabalho da liga foram realizadas cinco Rodas
Formativas para membros ligantes, com temas relacionados à História do SUS, os Paradigmas
dos Processos Saúde-Doença e o Contexto Interprofissional em Saúde, também debatidos em
um evento aberto ao público. Paralelamente, no âmbito do Projeto de Extensão “LAISC EM
TEMPOS DE COVID”, foram produzidos 81 posts educativos publicados e divulgados nas
mídias sociais (Instagram, YouTube e Twitter) da liga, todos em contexto remoto. Além disso,
foram realizados 13 Encontros Formativos, duas lives e um curso de curta duração, os quais
abordaram aspectos de prevenção e manejo do cuidado, ações de telemonitoramento,
populações em vulnerabilidade e imunização, relacionados ao Enfrentamento da COVID-19.
Isto posto, conclui-se que a liga, através de suas atividades, tem proporcionado espaços de
discussão e aprimoramento do conhecimento em Saúde Pública e Coletiva, transformando o
processo de ensino-aprendizagem de discentes, profissionais da saúde e da comunidade em
geral. Ainda, configura-se como instrumento de EIP, que contribui para a formação
extracurricular alinhada aos princípios e diretrizes do SUS, na tentativa de sanar a problemática
dos perfis curriculares uniprofissionais na academia.

Palavras-chave: Educação em Saúde; Práticas Interdisciplinares; Educação a Distância; Saúde


Pública; Sistema Único de Saúde.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
A Reforma Sanitária é um importante marco para a transformação da Saúde no Brasil
por meio da universalização do direito à saúde, ideal considerado ambicioso à época. Ainda,
foi este movimento popular que culminou com a criação Sistema Único de Saúde (SUS),
oficializado na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Hodiernamente, o SUS se
propõe a ofertar acesso à saúde gratuito, integral e equânime a cerca de 214 milhões de
brasileiros, dos quais 71,5% dependem exclusivamente do sistema público (IBGE, 2019).
Considerando os aspectos supracitados, é pertinente reconhecer o desafio imposto pela
complexidade das necessidades de saúde de tamanha população, sobretudo ao se considerar as
diversidades étnicas, culturais e regionais, que implicam processos de viver singulares e,

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portanto, requerem qualificação e inovação para o “Fazer Saúde”. Isto posto, vale salientar que
segundo o artigo 196 da Constituição Federal do Brasil, para além das ações prevenção de
agravos, promoção e reabilitação da saúde, é uma das atribuições do SUS a ordenação da
formação dos recursos humanos para atuação na área de saúde (BRASIL, 1988). Tal
competência tornou-se objeto de reflexões frequentes diante da necessidade de profissionais
qualificados desde o processo formativo para atender às complexas dinâmicas de saúde da
população brasileira (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2006).
A lógica prevalente nos serviços de saúde, apesar dos aspectos preconizados
constitucionalmente, é marcada pela fragmentação do cuidado, pelo distanciamento entre
equipes de saúde e usuários, bem como por conflitos de conhecimentos quanto à produção do
cuidado, situações que fragilizam o modelo de saúde proposto (BATISTA; GONÇALVES,
2011). Neste contexto, cabe destacar que a formação dos profissionais é essencial na superação
desse desafio, uma vez que se configura como uma das barreiras para implementação da atenção
integral à saúde (RECINE et al., 2019). Ante o exposto, a transformação do Sistema Único de
Saúde deve iniciar na academia, seio de aprendizagem, integração e compartilhamento de
conhecimentos
Segundo pesquisa realizada por Castro, Cardoso e Penna (2019), as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de Saúde no Brasil são insuficientes na formação de
profissionais e na integração dos princípios norteadores do SUS e das Políticas Públicas em
Saúde nos seus respectivos planos pedagógicos. Apesar da sistematização do debate sobre a
Educação Interprofissional em Saúde (EIP) ser relativamente recente, compreende-se que a EIP
assume um compromisso coletivo de transformação na lógica da formação em saúde e um
símbolo de resistência aos modelos hegemônicos (FREIRE et al., 2019). Consequentemente, a
implementação desse modelo de ensino-aprendizagem ocasiona mudanças significativas no
modelo de atenção e colabora diretamente na consolidação do Sistema Único de Saúde.

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No entanto, para que haja mais avanços, faz-se necessário observar os incisos aprovados
na resolução Nº 569, de 08 de dezembro de 2017, entre eles: a defesa da vida e do SUS como
preceitos orientadores do perfil de egressos da área de saúde e a importância do trabalho
interprofissional (CASTRO; CARDOSO; PENNA, 2019). Essas questões impõem aos
conselhos profissionais da área de Saúde mudanças urgentes na formação técnico-científica
ainda baseada no modelo biomédico para um ensino contextualizado nos campos político,
cultural e social no lócus de atuação profissional.
Vale ressaltar que a regulamentação do Conselho Nacional de Saúde em 1988, sobre o
papel do futuro trabalhador na área apresentou características indispensáveis à formação
profissional, fundamentalmente, no sentido de possibilitar a compreensão da prática ao decorrer
da graduação das políticas públicas em saúde, essencialmente sobre o princípio de equidade do
SUS dentro das políticas pedagógicas das Instituições de Ensino Superior (IES) Públicas e
Privadas do País. Portanto, incluir as Políticas Públicas do SUS nos cursos de graduação da
área de Saúde objetiva ampliar a formação dos futuros profissionais, bem como modificar
currículos e programas, defendendo um ensino contextualizado nas IES nacionais (CASTRO;
CARDOSO; PENNA, 2019).
Dito isto, salienta-se que a graduação ainda é atravessada pelo individualismo nas
práticas profissionais na área de saúde, nesse sentido a principal fonte de intervenção a este
entrave é o desenvolvimento de práticas interdisciplinares que segundo Ceccim (2018),
promove a socialização e a integração de saberes. Já a multiprofissionalidade é prática conjunta
das categorias profissionais (ROSSONI; LAMPERT, 2004). Desse modo, a criação de espaços
que preservam a construção do diálogo interprofissional potencializa processos de humanização
do cuidado e aprimora a resolutividade das intervenções de atenção à saúde (CASTRO;
CARDOSO; PENNA, 2019).
Nesse sentido, surge a Liga Acadêmica Interdisciplinar de Saúde Coletiva (LAISC),
entidade sem fins lucrativos organizada por acadêmicos e docentes de IES públicas e privadas

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da região do Vale do São Francisco com o objetivo de atuar dentro e fora dos muros da
faculdade, prezando pela aproximação frente a comunidade no qual está inserida, com foco na
promoção de saúde coletiva e atuação no SUS, segundo suas diretrizes. A LAISC dispõe do
ideal da Interdisciplinaridade, contando com diversas áreas do saber da saúde: Enfermagem,
Farmácia, Psicologia, Medicina, Odontologia, entre outras, buscando assim atuar em três
esferas: ensino, pesquisa e extensão, pautadas numa educação contextualizada e nos princípios
anteriormente mencionados enquanto indispensáveis na formação dos futuros profissionais de
saúde.
Diante desse cenário, o presente trabalho tem o objetivo de relatar experiências dos
processos de ensino-aprendizagem baseada nos princípios da Educação Interprofissional em
Saúde (EIP) como aspecto norteador da formação profissional voltada à realidade do SUS, a
partir das atividades de ensino e extensão desenvolvidas pela LAISC.

Método
O trabalho trata-se de um Estudo Descritivo do tipo Relato de Experiência, no qual são
relatadas as atividades de ensino e extensão realizadas por membros da LAISC. O estudo foi
desenvolvido por 22 estudantes, sendo sete discentes de Enfermagem, quatro de Farmácia, um
de Medicina Veterinária e cinco de Psicologia, da Universidade Federal do Vale do São
Francisco (UNIVASF), em Petrolina-PE; um de Medicina, da Faculdade AGES de Medicina,
de Jacobina-BA; três de Nutrição, da Universidade de Pernambuco (UPE), em Petrolina-PE; e
uma de Odontologia, da Faculdade Soberana, em Petrolina-PE.
As atividades promovidas pela LAISC tiveram início em Fevereiro de 2020, com o processo
de reativação e transformação da liga que existia anteriormente, porém, com perfil
uniprofissional voltada para o curso de Enfermagem. A partir desse novo projeto de ativação,
são modificados o estatuto e objetivos da liga tornando-a plural e interdisciplinar, sobretudo
voltadas para a qualificação da formação em saúde orientada para o SUS.

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Neste contexto, foram desenvolvidas atividades de Ensino utilizando as Rodas e
Encontros Formativos como estratégia de abordagem. Nestas ocasiões, inspiradas no modelo
circular de gestão e intercâmbio de conhecimentos, optou-se pelo uso de Rodas de Conversa
como recurso de ensino-aprendizagem, buscando a horizontalidade do processo formativo, bem
como fortalecendo e valorizando as experiências de cada ligante. Esse formato facilita a
autonomia e integração entre os participantes e possibilita, ainda, que seja um ambiente seguro
e livre para aprendizagem compartilhada.
Nas Rodas Formativas, adaptadas ao contexto pandêmico, a coordenação dos encontros
foi feita pelos próprios ligantes, que se dividiram em pequenos grupos para mediar as temáticas
escolhidas. Para abordagem teórica, cada equipe utilizou-se de artigos e documentos
norteadores disponíveis na íntegra e de livre acesso nas bases de dados. A fim de possibilitar
um melhor debate do assunto, todos os materiais foram enviados previamente para leitura e
estudo.
Ainda, frente à pandemia de COVID-19, a maior emergência epidemiológica dos
últimos anos, os ideais de trabalho compartilhado e aprendizagem colaborativa em prol da
Saúde Pública e Coletiva promovidos pela liga ganharam ainda mais espaço no projeto de
extensão “LAISC EM TEMPOS DE COVID-19: Informação em Saúde, Monitoramento
Remoto e Necessidades Sociais em Saúde em Comunidades Vulneráveis de Petrolina-PE”. Tal
projeto nasceu a partir da observação e da análise crítico-reflexiva da realidade em saúde nos
territórios, sendo captadas demandas a serem trabalhadas junto à comunidade considerando as
possibilidades e limitações de suporte técnico-estrutural que compõem o momento.
Para execução, contou-se com ligantes da LAISC, que desenvolveram função central na
idealização e efetivação da proposta, e ainda com outros 27 estudantes dos cursos de Ciências
Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Medicina, Medicina Veterinária e
Psicologia unidos pelo interesse de aprender sobre a temática à medida em que se contribui
com o enfrentamento à pandemia na realidade brasileira. Para orientação das atividades,

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contou-se com a participação de um coordenador, cinco docentes e dois colaboradores da área
de saúde. A metodologia do projeto baseia-se no uso das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) e mídias sociais, que se configuram como mecanismos estratégicos e de
grande alcance para disseminação da comunicação e divulgação de conhecimento para as
pessoas de maneira indistinta.
Para tanto, o trabalho dos discentes, docentes e colaboradores primou pelos princípios
da Interprofissionalidade e da Educação em Saúde em interface com a promoção da saúde,
informação e comunicação. Nesse contexto, as populações vulneráveis receberam atenção
especial por seu perfil sociocultural e econômico desafiador, notadamente marcado pela
dificuldade de acesso à internet e aparelhos digitais, bem como aos serviços de saúde para obter
informações fidedignas e receber cuidado às suas necessidades.
Desta forma, suas ações foram desenvolvidas por comissões tendo em vista o
cumprimento do objetivo de realizar ações voluntárias extensionistas para o enfrentamento da
Covid-19. Sendo assim, foram organizadas as seguintes frentes: Comissão de
Telemonitoramento, orientou as pessoas sobre o acesso ao serviço de saúde, canais oficiais de
comunicação e sobre as manifestações clínicas da doença; Comissão de Lives, Encontros e
Cursos Formativos, que promoveu ações educativas de qualificação para profissionais e
estudantes de nível superior das diversas áreas do saber ou para o público geral; Comissão de
Imagens, Vídeos e Tutoriais, produziu materiais audiovisuais para divulgação de informações
corretas e rápidas sobre variadas temáticas relacionadas a COVID-19; e Comissão Articuladora
Geral, transversal às demais, sendo responsável pela coesão das ações desenvolvidas.
Isto posto, cabe ressaltar que diante do momento epidemiológico enfrentado, as
atividades ocorreram predominantemente de maneira remota, ocorrendo excepcionalmente de
forma presencial nas ocasiões em que se primou pela criação de vínculo com a comunidade
assistida, pré-requisito para a efetividade do projeto.

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Resultados e discussão
No que se refere às ações do eixo ensino, ao todo foram desenvolvidas cinco atividades
de Rodas Formativas a partir dos seguintes temas: “História do SUS”, “Conceito de Saúde na
Saúde Coletiva”, “Sistemas Universais de Saúde”, “Determinantes e Iniquidades em Saúde
Pública” e “Interprofissionalidade: conceitos e práticas”.
Os encontros permitiram diálogo, aprendizado e troca de saberes entre as diversas áreas
da saúde, explorando vivências em equipe. Obteve-se um feedback positivo entre os
participantes que se fizeram assíduos e contribuintes, enfatizando o interesse em tornarem-se
profissionais habilitados em promover saúde descentralizada e integral no cenário do SUS.
Neste contexto, segundo Costa (2016), em seu estudo sobre a educação
interprofissional, a estrutura do ensino superior ainda está centrada em uma formação
conteudista, específica e que tal modelo se configura como barreira influenciando na formação
da identidade profissional, seja na tomada de decisões, em suas habilidades e na construção de
valores para o trabalho colaborativo. Destacou-se também que a implementação do ensino
interdisciplinar apresenta uma perspectiva de formar profissionais que reconheçam o trabalho
em equipe, restabelecendo o cuidado integral de acordo com as necessidades da população e
indo de encontro às diretrizes do SUS.
O perfil de profissional de saúde voltado à assistência integral, multidisciplinar e em
equipe desafia as IES, que precisam modificar seu modelo de ensino e pautá-los no
aprimoramento do SUS, com reformulação dos planos pedagógicos. As metodologias ativas
têm crescido nos cursos da saúde por proporcionar ensino-aprendizagem com envolvimento
ativo e reflexão crítica dos estudantes no período de sua formação (RECINE et al., 2019). Esse
obstáculo também é perceptível entre os discentes, uma vez que diante da carência de ensino
interprofissional na grade curricular, precisaram buscar atividades extracurriculares, como a
liga, para superar as lacunas da formação acadêmica.

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As rodas formativas desenvolvidas no projeto configuram-se como metodologia ativa e
recente, onde a inserção de vivências e conhecimentos de cada participante foi imprescindível.
Corroborando com esses resultados, uma pesquisa sobre as contribuições dos diálogos em roda
apontou que nas rodas de diálogo e formação não há saber singular, pois as reflexões, falas e
socialização trazem a construção coletiva. Também foi evidenciado que educadores e
educandos trocaram experiências mutuamente com sua diversidade de saberes (MACHADO;
FREITAS, 2018).
Quanto ao projeto de extensão, realizou-se duas lives educativas e 15 encontros
formativos, bem como foi elaborado um curso formativo e promovidos três cursos, hospedados
em plataformas onlines de Instituições de Ensino Superior. No telemonitoramento, de Julho a
Dezembro de 2020 foram recebidos 54 contatos da comunidade selecionada, mas somente três
aceitaram o acompanhamento remoto. Diante da baixa adesão, o grupo voltou às suas ações a
outra comunidade vulnerável, e assim, entre Janeiro e Julho de 2021 foram obtidos 28 contatos,
e desses, apenas um aceite.
Dessa forma, ao longo do projeto foram realizadas, mediante termo de consentimento
livre e esclarecido, 4 ligações sistemáticas de telemonitoramento. Mesmo com o pouco
quantitativo de pessoas, as ligações permitiram repassar informações em linguagem clara e
acessível sobre prevenção e promoção da saúde neste momento de pandemia. Além dessas
ligações, também foi promovido a arrecadação de cestas básicas beneficiando cerca de 100
pessoas.
A experiência ímpar, estimulou nos alunos participantes a reflexão sobre as dificuldades
de acesso à saúde, agravadas pelo momento de pandemia, que afeta o formato de trabalho e
requer adequações. Além disso, mesmo com as poucas ligações, foi possível interagir e
promover educação em saúde, repassando o conhecimento adquirido no processo formativo dos
extensionistas.

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Segundo Rodrigues et al. (2020), em sua pesquisa sobre implementação do
telemonitoramento em uma unidade de saúde da família para orientações de agentes
comunitários de saúde acerca da COVID-19, destaca-se a estratégia como fundamental e efetiva
na assistência e disseminação de informações, reduzindo as visitas presenciais e,
consequentemente, o risco de contaminação e propagação da doença.
No que se refere às publicações nas redes sociais da LAISC, durante o ano de 2020
foram produzidas 131 imagens e 23 vídeos distribuídos em 60 postagens, cujo alcance médio
de contas atingidas foi de 289. No primeiro semestre de 2021, quando findou o projeto, foram
produzidas 187 imagens e 8 vídeos, divulgados em 63 publicações, com alcance médio de 201
contas. Além disso, foi feita a inclusão de postagens nos stories da rede social Instagram
produzindo 132 imagens, que possibilitaram uma maior interação com o público.
A redução na quantidade de vídeos em 2021 e adesão às postagens na ferramenta stories,
justifica-se pela observação da baixa interação que os posts em vídeo geraram, dificultando a
entrega das informações ao público-alvo. Com isso, os stories foram um método estratégico na
busca de maior visibilidade, por meio de posts dinâmicos e mais ilustrativos.
Em concordância com os resultados alcançados, um estudo também de caráter
extensionista, utilizou a plataforma Instagram como ferramenta para difundir informações
sobre a doação de sangue, por meio de lives e postagens, e atingiu uma média de 128
visualizações por publicação, permitindo sanar dúvidas e estreitar laços para além da sociedade
(SILVA et al., 2021). Ainda nesse contexto, segundo um estudo realizado pela Risti, foi
possível verificar os benefícios e a potencialidade do Facebook na doação de sangue, uma vez
que, contribui de forma importante para a ampliação das possibilidades de comunicação com a
sociedade e a otimização de recursos capazes de gerar empoderamento sobre a causa (SILVA
et al, 2018).
Por fim, o projeto realizado pela LAISC, seguindo essa proposta, mostrou que as redes
sociais funcionam como um meio eficaz de propagar informação segura, alcançando os

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indivíduos da comunidade selecionada e também do público em geral, sobretudo em um
momento que exige adaptação na promoção à saúde. Ainda, no que se refere aos alunos
extensionistas, estes puderam vivenciar experiências intrínsecas, desde a construção dos
materiais, o trabalho em equipe interprofissional e a aproximação com o cotidiano do público
assistido.

Considerações finais
Considerando o momento de pandemia por Covid-19 e a suspensão das atividades
presenciais no ensino superior, atrelado ao perceptível desfalque nas Diretrizes Curriculares
Uniprofissionais, a LAISC surge como uma maneira de ressignificar a vivência dos
universitários nas esferas de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, as estratégias empregadas
promoveram a criação de vínculo com a comunidade, facilitando a disseminação de
informações.
As ações desenvolvidas têm sido fundamentais para suprir as lacunas no perfil curricular
dos ligantes, contribuindo com a formação de futuros profissionais conhecedores e
fortalecedores do maior sistema público de saúde, o SUS. Compreende-se, então, que o trabalho
da liga tem sido efetivo e benéfico para todos os membros participantes e, sobretudo, para a
população alcançada com as atividades desempenhadas. Acredita-se, ainda, que esse projeto
pode ser constantemente potencializado, tendo em vista superar as dificuldades que permeiam
a relação ensino-serviço-comunidade no contexto da saúde pública.
Agradecimentos: À Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) por nos
proporcionar as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão, e também onde foi o nosso ponto
de partida para esses encontros da Saúde Coletiva. À Pró-reitoria de Extensão (Proex) da
UNIVASF, em especial, à Diretoria de Extensão (Direx), que nos proporcionou a possibilidade
da construção dos projetos da LAISC, e de tantos outros projetos promovidos pela Universidade
na nossa região que buscam, sobretudo, um ganho para a população. Ao CINPSUS por nos

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proporcionar esse evento plural, com uma diversidade incrível de temáticas e ideias focadas na
Saúde Pública e Coletiva do Brasil e do mundo. E principalmente a todas, todes e todos
profissionais de Saúde que têm trabalhado para a melhora da gestão, ensino e assistência da
população nesse período de Pandemia de Covid-19 e de fortes acirramentos na Gestão e nas
Políticas de Saúde no nosso país.

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TREINAMENTO POR SIMULAÇÃO DE UNIVERSITÁRIOS NO TRATAMENTO DE
QUEIMADURAS: REVISÃO INTEGRATIVA

Darlene Moreira Gomes1


Alice Silva Costa Rodrigues 2
Sueli Leiko Takamatsu Goyata3

Resumo: As queimaduras são caracterizadas como um dos traumas mais graves, evidenciando
um problema de saúde pública global. São lesões dos tecidos orgânicos causadas por trauma de
origem térmica e exposição a chamas, frio extremo, substâncias químicas, radiações, atritos,
fricção, líquidos e superfícies quentes. Na queimadura ocorre a destruição da barreira epitelial
e da microbiota resistente da pele, rompendo seu efeito protetor. Dada a complexidade desse
trauma, já é estabelecido na literatura o atendimento inicial da vítima de queimadura, que deve
seguir passos sistemáticos, a fim de identificar potencial risco à vida e minimizar os danos
causados por essas lesões. Sabe-se que o treinamento por simulação pode ser uma valiosa
ferramenta para uma melhor prática clínica, uma vez que proporciona ao estudante a
experiência de um evento próximo da realidade, aplicação de seus conhecimentos em plenitude
e com a possibilidade de revisão dos erros, em um ambiente seguro e controlado, o que gera
maior segurança ao aluno e minimiza a possibilidade de falhas quando esse aluno atender um
paciente real no campo de estágio ou na vida profissional. O objetivo foi analisar as evidências
disponíveis na literatura sobre o uso da simulação como método de ensino sobre o tratamento
de queimaduras junto a estudantes de Enfermagem e Medicina. Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura. A busca em cada base/banco de dados identificou um total de 281
estudos potencialmente elegíveis, sendo 36 duplicados no gerenciador eletrônico de referências
EndNote Web e, posteriormente, 9 no software Rayyan QCR. Foram incluídos nesta revisão
três artigos científicos. Os estudantes reportaram satisfação com as ferramentas utilizadas na
simulação; o treino por simulação por meio de imagens de casos clínicos de queimados em
cenário simulado possibilitou aos estudantes a identificação de temáticas como paciente-
centrado, realismo e aprendizado e o uso de cenário baseado em simulação fornece um modelo
estruturado e flexível na abordagem dos estudantes ao caso clínico de pessoa com lesões por
queimaduras. As estratégias de ensino ativo, como a prática de simulação clínica, é importante
no cuidado à pessoa com lesões por queimadura e possibilita aos discentes compreenderem seu
papel nos cuidados como nos traumas decorrentes de lesões por queimaduras, por meio da
simulação realista, na preparação para a prática profissional. Portanto, considera-se o

1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas/MG, Brasil, e-
mail: [email protected]
2
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas/MG, Brasil
3
Prof.ª Doutora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas/MG, Brasil

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treinamento por simulação um instrumento importante e eficaz para o ensino de cuidados de
pessoas que sofreram queimaduras em todo o mundo.

Palavras-chave: Estudantes de Enfermagem; Estudantes de Medicina; Treinamento por


Simulação; Queimaduras

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
As queimaduras desencadeiam uma série de alterações no organismo, podendo causar
perda de massa muscular severa, diminuição da força dos músculos, contraturas e cicatrizes
hipertróficas, levando o paciente a um comprometimento físico e psicológico. Além disso, a
resposta metabólica à queimadura é complexa e caracterizada por hipercatabolismo, levando ao
balanço nitrogenado negativo e à perda significativa de massa músculo-esquelética
(VALENTINI; SEGANFREDO; FERNANDES, 2019).
O trauma por queimadura é considerado crítico por causa da fisiopatologia e das
consequências físicas e psicossociais. Dada a complexidade desse trauma, já estabelecida na
literatura, o atendimento inicial da pessoa que sofreu queimadura deve seguir passos
sistemáticos, a fim de identificar potencial risco à vida e minimizar os danos causados por essas
lesões (PORTER et al, 2017).
Estudo recente descrito por Malta et al. (2020) aponta que os acidentes por queimaduras
ocorrem com mais frequência em adultos com idades entre 20 e 39 anos (40,9%), em homens
(57%), no domicílio (67,7%), em decorrência do manuseio de substâncias quentes (52%). Em
relação às lesões por queimaduras por produtos superaquecidos, atingem principalmente os
idosos (84,4%) e as mulheres (81,6%). Esses dados são importantes para apoiar políticas de
prevenção voltadas para a prevenção de queimaduras.
Entretanto, na literatura são encontrados estudos que evidenciam o conhecimento
insatisfatório dos estudantes de Medicina e de Enfermagem, apontando lacunas na formação

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acadêmica relacionadas ao atendimento inicial da pessoa queimada. Para suprir essas lacunas,
os cursos de graduação em saúde devem focar no desenvolvimento de competências cognitivas,
atitudinais e de habilidades, voltadas para uma melhor tomada de decisões sobre o cuidado
inicial da pessoa com lesão por queimadura. Vários métodos são utilizados para promover o
ensino do atendimento à vítima de queimadura, de maneira que o estudante vivencie de forma
mais próxima essa realidade, entre eles, estudos de casos clínicos, simulação, resolução de
problemas, incluindo tecnologias digitais de aprendizagem (OLIVEIRA-KUMAKURA;
SILVA; GONÇALVES, 2018; MALTA et al., 2020).
Entre as estratégias de ensino-aprendizagem que são promissoras destaca-se a prática
simulada, que estimula o desenvolvimento de competências - cognitiva, atitudinal e de
habilidade -, além do raciocínio clínico e da liderança. A simulação busca imitar a realidade, o
que possibilita a prática dos procedimentos e a redução de riscos relacionados à assistência em
contexto real (MAGRO; HERMANN; 2017).
O treinamento por simulação pode ser uma valiosa ferramenta para uma melhor prática
clínica, uma vez que proporciona ao estudante a experiência de um evento próximo da
realidade, a aplicação de seus conhecimentos em plenitude e com a possibilidade de revisão dos
erros, em um ambiente seguro e controlado, o que gera maior segurança ao aluno e minimiza a
possibilidade de falhas quando esse aluno atender um paciente real no campo de estágio ou na
vida profissional (YILMAZER et al., 2019).

Referencial teórico

As queimaduras são caracterizadas como um dos traumas mais graves, evidenciando um


problema de saúde pública global. São lesões dos tecidos orgânicos causadas por trauma de

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origem térmica e exposição a chamas, frio extremo, substâncias químicas, radiações, atritos,
fricção, líquidos e superfícies quentes. Na queimadura ocorre a destruição da barreira epitelial
e da microbiota residente da pele, rompendo seu efeito protetor (VALENTINI;
SEGANFREDO; FERNANDES, 2019).
As condutas iniciais para o atendimento ao paciente queimado: 1) Identificar o agente
causador das lesões; 2) Identificar o tipo de queimadura; 3) Imediata manutenção da
permeabilidade das vias aéreas, com a reposição de fluidos e o controle da dor e 4) Calcular a
superfície corpórea queimada (SCQ) e classificar a profundidade das lesões por queimadura
(BRASIL, 2012a).
Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, 130 mil pessoas morrem de
queimaduras por fogo anualmente (OMS, 2018). Já estimativas do Ministério da Saúde do
Brasil mostram que ocorrem por ano cerca de um milhão de novos casos de lesões por
queimaduras, com 100 mil atendimentos hospitalares e cerca de 2.500 óbitos em função dessas
lesões (BRASIL, 2017).
Além disso, muitos pacientes queimados apresentam sequelas funcionais, que limitam
qualquer função de um segmento após uma queimadura, e sequelas estéticas ou não-funcionais,
que não comprometem a funcionalidade, mas podem interferir nos aspectos psicossociais
decorrentes da nova aparência, podendo levar ao transtorno da imagem corporal (VANA,
2012).
A inserção de novas metodologias de ensino nos cursos de graduação da área da saúde
pode favorecer a aprendizagem do estudante. Diferentes estratégias, que consideram os estilos
individuais de aprendizagem e estimulam os estudantes a desenvolverem habilidades para o
cuidado da pessoa que sofreu queimadura, podem ser utilizadas para a aquisição de
competências. Dentre as abordagens pedagógicas existem os estudos de caso, a resolução de
problemas, as pequenas oficinas, os seminários, a reflexão por pares, as palestras, as leituras de
artigos seguidos de discussão em pequenos grupos e a prática simulada. Para diversos alunos

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também é usado o estímulo de debates, discussões e fornecimento de material visual, como
vídeos e revistas profissionais (RASSIN; KURZWEIL; MAOZ, 2015).
A simulação como método de ensino vem ganhando espaço nas universidades do
mundo, tornando-se frequente nos cursos de graduação em Enfermagem, podendo ser definida
como situação ou lugar criado para permitir que um grupo de pessoas experimente a
representação de um acontecimento real, com o propósito de praticar, aprender, avaliar ou
entender sistemas ou ações humanas (OLIVEIRA; PRADO; KEMPFER, 2014).
Ela é compreendida como uma imitação ou representação de um ato ou processo,
simples ou complexo, que engloba estratégia, técnica, processo e ferramenta. Para realizar, é
preciso mais do que simuladores eficazes; é necessário que o uso dos instrumentos seja
adequado à metodologia da simulação. Em situações clínicas, a simulação pode compreender
distintas finalidades, entre elas a educação, a avaliação, a pesquisa e a segurança do paciente,
antes da integração do aprendiz ao sistema de saúde; além de almejar a melhora da eficácia e
da eficiência dos serviços de saúde (RIBEIRO et al., 2018).
Para sua aplicação no ensino, podem ser utilizados manequins (simulador de paciente)
de baixa, média ou alta fidelidade, pessoas no papel de paciente (paciente simulado), objetos
virtuais de aprendizagem (softwares educativos), métodos mistos e role-play (OLIVEIRA;
PRADO; KEMPFER, 2014).
A experiência clínica simulada pode oferecer o suporte ao aprendizado clínico,
direcionando as atividades simuladas para as necessidades de aprendizado específicas, bem
como na avaliação de desempenho. Ademais, possibilita a aplicação do julgamento clínico e
pensamento crítico para o sucesso do raciocínio diagnóstico e terapêutico, oferece outra
maneira de ensinar o manejo clínico em programas de atenção primária à saúde, aumenta o
conhecimento e a confiança do estudante no gerenciamento de uma variedade de problemas de
saúde. As vantagens da simulação caracterizam-na como uma ferramenta importante para o
ensino e treinamento das habilidades (RIBEIRO et al., 2018).

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Método

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, baseada nas recomendações da lista de


conferência Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PAGE et
al., 2021) e que seguiu as seguintes etapas: elaboração da questão de pesquisa, busca na
literatura, categorização dos estudos, avaliação crítica, interpretação dos resultados e
apresentação da revisão integrativa (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Foi adotada a proposta de Melnyk e Fineout-Overholt (2019) como forma de identificar
a força de evidência de cada estudo, considerando os diferentes delineamentos de pesquisa
(QUADRO 1). De acordo com essa classificação, os níveis 1 e 2 enquadram-se como evidências
fortes, 3 e 4 moderadas, 5 a 7 fracas.

Quadro 1 – Classificação de níveis de evidências científicas, de acordo com o delineamento de pesquisa.


Nível Força de Evidência

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1 Evidências procedentes de revisão sistemática ou meta-análise de ensaios clínicos


randomizados controlados relevantes ou originados de diretrizes clínicas baseadas em
revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados controlados

2 Evidências obtidas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem


delineado

3 Evidências obtidas de ensaios clínicos bem delineados sem randomização

4 Evidências oriundas de estudos de coorte e de caso-controle bem delineados

5 Evidências originárias de revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos

6 Evidências procedentes de um único estudo descritivo ou qualitativo

7 Evidências procedentes de opiniões de autoridades e/ou relatório de comitês de


especialistas.
Fonte: Classificação de força de evidência para questões clínicas de intervenção, ou tratamento,
diagnóstico ou teste diagnóstico, segundo Melnyk e Fineout-Overholt (2019).

Este estudo não foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que não
envolveu seres humanos (BRASIL, 2012). Os dados foram coletados por meio de publicações
científicas, obtidas por meio de fonte primária, de acesso público e disponível online.

Resultados e discussão

A busca em cada base/banco de dados identificou um total de 281 estudos


potencialmente elegíveis, sendo 36 duplicados no gerenciador eletrônico de referências
EndNote Web e, posteriormente, 9 no software Rayyan QCR, conforme apresentado na Figura
1. Essas ferramentas auxiliam na construção de banco de dados e seleção de estudos primários
na condução de revisão integrativa (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2019).

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Foram incluídos nesta revisão três artigos científicos, de acordo com o Quadro 2.

Quadro 2 – Artigos incluídos na revisão integrativa. Alfenas, 2021


Autor (es)/Ano de publicação Título do artigo País Idioma Nível de
evidência
OLIVEIRA-KUMAKURA; Da aula teórica ao uso da Brasil Português 6
SILVA; GONÇALVES, simulação para ensinar o
2018 cuidar de pessoas com
queimaduras: relato de
caso
SHINER; HOWARD, 2018 The use of simulation Escócia Inglês 6
and moulage in
undergraduate
diagnostic radiography
education: a burns
scenario
PARSONS; MURPHY; Thermal Burns and Canadá Inglês 4
ALANI et al., 2015 Smoke Inhalation: A
Simulation Session

Em relação ao ano de publicação, predominou 2018 (OLIVEIRA-KUMAKURA;


SILVA; GONÇALVES, 2018; SHINER; HOWARD, 2018). Quanto ao país onde foi
realizado o estudo, um foi conduzido no Brasil (OLIVEIRA-KUMAKURA; SILVA;
GONÇALVES, 2018), um na Escócia (SHINER; HOWARD, 2018), que pertence ao Reino
Unido, e um no Canadá (PARSONS; MURPHY; ALANI et al., 2015), sendo o primeiro
publicado na língua portuguesa do Brasil e os outros dois em língua inglesa. Prevaleceram
nos estudos incluídos os estudantes de Medicina, sobretudo dos últimos anos do curso de
graduação (SHINER; HOWARD, 2018; PARSONS; MURPHY; ALANI et al., 2015).
Todos os artigos incluídos apresentaram como descritores em comum “Simulação” e
“Queimaduras”. Em termos de estratégias de ensino, foram identificadas, além do
treinamento por simulação, aula teórica dialogada, discussão de casos clínicos, uso de

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ambiente virtual (OLIVEIRA-KUMAKURA; SILVA; GONÇALVES, 2018), imagem de
casos clínicos (SHINER; HOWARD, 2018) e uso de pré-briefing e debriefing, seguido de
sessão pós-cenário simulado (PARSONS; MURPHY; ALANI et al., 2015).
Atualmente, um grande número de metodologias de simulação tem sido desenvolvido,
que varia de cenários clínicos simples de "dramatização", prática de sutura em tecido animal,
simuladores realistas de alta fidelidade que fornecem feedback imediato e a produção de
realidade virtual, oferecendo aos estudantes uma experiência totalmente imersiva
(CHOONG; YONG, 2019).
Em relação à força de evidência, foram encontrados níveis fraco (OLIVEIRA-
KUMAKURA; SILVA; GONÇALVES, 2018; SHINER; HOWARD, 2018) e moderado de
evidências (PARSONS; MURPHY; ALANI et al., 2015).
Quanto aos principais resultados dos estudos incluídos, os estudantes reportaram
satisfação com as ferramentas utilizadas na simulação (OLIVEIRA-KUMAKURA; SILVA;
GONÇALVES, 2018); os estudantes participantes de treino por simulação por meio de
imagens de casos clínicos de queimados em cenário simulado identificaram temáticas como
paciente-centrado, realismo e aprendizado (SHINER; HOWARD, 2018); e o uso de cenário
baseado em simulação fornece um modelo estruturado e flexível na abordagem dos
estudantes ao caso clínico de pessoa com lesões por queimaduras (PARSONS; MURPHY;
ALANI et al., 2015).
Esses resultados mostram como a prática da simulação representa um papel cada vez
mais importante na educação de estudantes da área da saúde, não só permitindo que eles
apliquem seus conhecimentos em um ambiente controlado e seguro, como também
permitindo que adquiram habilidades técnicas e atécnicas. Nos últimos anos, o treinamento
por simulação evoluiu para se tornar um dos pilares centrais da educação médica. Permite o
uso de situações clínicas realistas, nas quais os clínicos podem praticar suas habilidades,
mantendo-se dentro dos limites éticos. A natureza de alta acuidade das lesões por

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queimaduras torna o treinamento por simulação um método ideal para melhorar a prática e
os resultados clínicos (CHOONG; YONG, 2019).
Para Sadideen, Goutos e Kneebone (2016), o foco particular, atribuído a novas
estratégias de simulação e avanços tecnológicos relacionados às práticas simuladas em cursos
da área da saúde, aponta para a necessidade de incorporação de treinamento por simulação
cada vez mais inovador sobre queimaduras nos currículos atuais do ensino de graduação, nos
cenários nacional e internacional.

Conclusão

As estratégias de ensino ativo, como a prática de simulação clínica, é importante no


cuidado à pessoa com lesões por queimadura. O treinamento por simulação possibilita aos
estudantes de Enfermagem e Medicina compreenderem seu papel nos cuidados complexos
decorrentes dessas lesões, por meio da simulação realista, na preparação para a prática
profissional. A simulação é uma valiosa ferramenta educativa, permitindo que os alunos
ganhem experiência concreta que pode ser incorporada à prática da vida real e ajudando-os a
desenvolver competências de forma mais segura. Portanto, considera-se o treinamento por
simulação um instrumento importante e eficaz para o ensino de cuidados de pessoas que
sofreram queimaduras em todo o mundo.

Agradecimento
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES). Código
de financiamento 001.

Referências

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CONTRIBUIÇÃO DE UM NASF-AB PARA A INTEGRALIDADE DO CUIDADO NA
ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE CAMAÇARI-BA EM UM PROGRAMA
DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

Rodrigo Yuri Dantas Fernandes1


Rogério Silva dos Santos2
Adriana da Cruz Purificação3
Carithauanda de Macedo Santos4
Vitória Virginia Sousa dos Santos5

Resumo: A integralidade enquanto princípio doutrinário do SUS visa garantir o cuidado das
pessoas indo além da prática terapêutica curativista, contemplando o indivíduo em todos os
níveis de atenção e considerando sua inserção nos contextos sociais, familiares e culturais. O
Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) é uma equipe
multiprofissional pautada na clínica ampliada como modelo de trabalho. Desse modo, atua
integrada às equipes de Saúde da Família com a finalidade de garantir o cuidado continuado e
integral dos indivíduos e famílias das áreas cobertas pelas equipes apoiadas, ampliando, assim,
a resolutividade dos casos compartilhados. Este trabalho é um relato de experiência que objetiva
destacar as contribuições realizadas por uma equipe NASF ao cuidado integral da população
durante um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família desenvolvido pela
Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS) em parceria com Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ), ocorrido no período de março de 2019 a fevereiro de 2021. Os cenários de prática
foram duas Unidades de Saúde da Família, situadas em um bairro periférico do município de
Camaçari-BA e seu território adstrito. Da experiência, emergiu como resultado o fomento do
processo de trabalho do NASF-AB nas unidades apoiadas e no território adstrito, ampliando o
escopo de resolutividade e desenvolvimento de ações na lógica da promoção da saúde e
prevenção de agravos. Além disso, houve o estímulo e a qualificação de profissionais em
serviço para atuação no Sistema Único de Saúde. Durante esse processo, a equipe NASF
desempenhou ações por intermédio de instrumentos de suporte interdisciplinares, como o apoio
matricial e o Projeto Terapêutico Singular. Nesse tocante, foram realizadas funções de cunho
assistencial como atendimentos individuais e compartilhados, acolhimento à demanda
espontânea, assistência domiciliar, oferta de práticas integrativas e complementares, ações de

1
Graduado em Licenciatura em Educação Física (UFBA); Especialista em Saúde da Família (FESF-
SUS/FIOCRUZ). Email:[email protected].
2
Graduado em Licenciatura em Educação Física (UFBA); Bacharel em Educação Física (UNIASSELVI);
Especialista em Saúde da Família e comunidade (FESF-SUS/FIOCRUZ).
3
Graduada em Nutrição (UNEB); Especialista em Saúde da Família (FESF-SUS/FIOCRUZ).
4
Graduada em Fisioterapia (UNEB); Especialista em Saúde da Família (FESF-SUS/FIOCRUZ).
5
Graduada em Psicologia (UNIFACS); Especialista em Saúde da Família (FESF-SUS/FIOCRUZ).
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promoção à saúde e prevenção de agravos, a exemplo da mediação e planejamento de grupos
educativos, realização de salas de espera, como também de caráter técnico-pedagógico como
matriciamentos, momentos de educação permanente, articulação intra e intersetoriais, entre
outras atividades. Vale destacar o suporte técnico pedagógico realizado pelos apoiadores e
preceptores nas USF como elemento relevante no desenvolvimento e construção do trabalho.
Contudo, ainda que desenvolvidas essas atividades, cabe salientar que o processo de trabalho
do NASF e sua articulação com as equipes de Saúde da Família permanece em construção,
emergindo daí potencialidades e limites. Desse modo, conclui-se que a presença do NASF nas
Unidades de Saúde possibilita a construção de uma visão diferenciada sobre o ato de cuidar em
saúde, modificando o fazer dos profissionais, representando uma contribuição no sentido de
promover a integralidade do cuidado da Atenção Primária à Saúde.

Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família; Integralidade em Saúde; Promoção da Saúde;


Educação em Saúde; Formação Profissional em Saúde.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
Por meio da mobilização e da luta social, foi promulgada a Constituição Federal no ano
de 1988 que, no seu artigo 196, afirma a saúde como direito de toda a população e, nessa
perspectiva, o desafio seria a viabilização desse direito. Sendo assim, foram criadas as leis nº
8.080 e 8.142, ambas publicadas em 1990, com o intuito de garantir o direito à saúde e organizar
esse novo sistema, o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 1988; BRASIL 1990a; BRASIL
1990b).
Visando a qualificação assistencial da Atenção Primária à Saúde (APS) de acordo com
os princípios do SUS, em 1998, foi criado o Programa de Saúde da Família (PSF) (ROSA;
LABATE, 2005) que, com o seu avanço e sucesso, passou a ser denominado como Estratégia
de Saúde da Família (ESF), sendo seu trabalho organizado a partir de equipes de referência e
cuidado integral dos usuários (ARAÚJO; ROCHA, 2007). Nesse contexto, o foco do trabalho
passou a ser o ambiente comunitário, ou seja, onde a vida das pessoas acontece.

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Já em 2008, por meio da portaria nº 154, foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da
Família (NASF), com a intenção de ampliar o alcance da Atenção Básica e reduzir o número
de encaminhamentos desnecessários para outros pontos da rede de atenção à saúde. Seu trabalho
é caracterizado como uma equipe de retaguarda especializada com o objetivo de ampliar as
ofertas de cuidado em saúde da população, desenvolver a lógica do Apoio Matricial e a
Educação Permanente (BRASIL, 2008). Em 2017 a Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB) foi reformulada, ocasionando na modificação na Atenção Básica que, além das equipes
de Saúde da Família (eSF), passou a contar com as ações assistenciais das equipes de Atenção
Básica (eAB). Essa modificação levou à alteração da denominação do NASF que passou a ser
designado como Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB)
(BRASIL, 2017).
No cotidiano de todos os profissionais de saúde, em cada serviço prestado, deve-se
buscar a prática da clínica ampliada, que preste uma assistência qualificada, que atenda às
necessidades globais das pessoas e respeite seus direitos e valores (FONTOURA; MAYER,
2006). Portanto, a integralidade do cuidado é a base para a melhoria da qualidade das ações e
serviços voltados à promoção da saúde, prevenção e reabilitação. Sendo ela definida como um
princípio do SUS com o intuito de garantir um cuidado à saúde que vai além da prática
terapêutica, em que considera os indivíduos em todos os níveis de atenção e considera os temas
sociais, familiares e culturais a serem inseridos (SOUZA et al., 2012).
Nessa perspectiva, o presente relato de experiência traz à tona o processo de inserção de
profissionais residentes em Saúde da Família com o objetivo de destacar as contribuições de
uma equipe do NASF-AB na promoção do cuidado integral de usuários assistidos pela APS em
no município de Camaçari, Bahia.

Método

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Este trabalho é um relato de experiência baseado nas ações de apoio matricial
desenvolvidas no período de março de 2019 a fevereiro de 2020 por uma equipe NASF-AB do
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (FESF - SUS/FIOCRUZ) junto
às equipes de Saúde da Família das Unidades de Saúde da Família (USF) do bairro de Verdes
Horizontes situado no município de Camaçari - BA. Integrante da Região Metropolitana de
Salvador (RMS), Camaçari se constitui no segundo município mais populoso dessa região com
uma população estimada em 2020, de acordo com o IBGE, de 304.302 habitantes.
Essa equipe de NASF foi composta por uma Nutricionista, duas Fisioterapeutas, uma
Psicóloga, dois profissionais de Educação Física e uma Preceptora (Psicóloga) que realizou
suas atividades nas USF e em equipamentos sociais existentes no bairro de Verdes Horizontes.

Caracterizando o território de prática e o trabalho da equipe NASF-AB


O NASF-AB é uma proposta contra hegemônica ao modelo biomédico em saúde
(NASCIMENTO, 2015) que utiliza ferramentas inovadoras na forma de prestação de atenção à
saúde (NASCIMENTO; MORAES; OLIVEIRA, 2019; CHAGAS & ANDRADE, 2019;
LEITE; NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2014). Suas ações baseiam-se no trabalho integrado com
a equipe de Saúde da Família (eSF) ao invés de constituir uma porta de entrada para o sistema
de saúde (BRASIL, 2008; GONÇALVES et al., 2015), ou seja, embora o NASF-AB esteja
inserido na AB, seu trabalho não se configura como porta de entrada no serviço, pois tem como
principal foco prestar apoio às equipes de saúde a partir de ações como discussão de caso,
atendimentos compartilhados, facilitação de grupos e visitas domiciliares.
Dessa forma, a missão do NASF-AB se materializa no apoio matricial através do
compartilhamento de saberes, visando aprimorar as ações de saúde por meio da cogestão do
cuidado com as equipes de Saúde da Família (eSF). Além disso, sua atuação objetiva, também,

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a promoção, prevenção, reabilitação e tratamento da saúde, buscando a garantia de um dos
princípios básicos do SUS que é a integralidade do cuidado (BRASIL, 2009).
O cenário de práticas do NASF em questão foi um bairro do município de Camaçari-BA,
situado a 42 Km de distância de Salvador, capital do estado da Bahia. Esse bairro se caracteriza
por ser um dos mais populosos que tem, pelo menos, 34% de seus moradores em situação de
vulnerabilidade social, cujo sustento advém, em muitos casos, de programas de transferência
de renda, como o Bolsa Família.
A experiência aqui compartilhada versa sobre o trabalho desenvolvido pela equipe do
NASF, ao longo de doze meses, no território do Verdes Horizontes, bairro periférico da cidade
de Camaçari.

A integralidade enquanto princípio do SUS


Como anunciado na seção anterior, ferramentas que se expressam essenciais para o
trabalho em equipe, o apoio matricial e a clínica ampliada, buscam reduzir a fragmentação do
processo de trabalho devido ao crescente grau de especialização em quase todas as áreas do
conhecimento (CAMPOS & DOMITTI, 2007). Porém, além da implantação, o reconhecimento
das equipes NASF-AB e eSF desses instrumentos é fundamental para ampliar a conexão entre
os profissionais e a comunidade (FURTADO & CARVALHO, 2015).
A integralidade do cuidado no contexto da AB se orienta através de diversas atividades
de promoção, prevenção e assistência à saúde. A composição de uma equipe multiprofissional
do NASF organizada para atuar no território, ofertou distintas ações previstas no Caderno de
Atenção Básica nº 39, dentre as quais podemos destacar os atendimentos individuais e
compartilhados, as visitas domiciliares, os grupos educativos, a participação em reuniões de
equipe e de unidade de saúde, bem como articulação intersetorial, ferramentas essas, essenciais
para a composição das estratégias e efetivação do cuidado integral em saúde.

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Considerando que a equipe do NASF foi pioneira no território de apoio, vivenciamos,
inicialmente, uma resistência da nossa inserção na atuação conjunta com a eSF durante a
participação das atividades realizadas. Avaliamos que tal rigidez pode ter ocorrido em grande
parte pela falta de compreensão dos profissionais quanto ao modo da assistência que iria ser
ofertada pela equipe NASF, o que foi manifestado também pelos usuários, entrave este que
exigiu que realizássemos ações permanentes apresentando o nosso fazer. Os espaços mais
importantes para tal foram: reuniões de unidade - para matriciamentos dos profissionais do
serviço, e as salas de espera - voltadas para a comunidade, com o intuito de elucidar quanto à
lógica do processo de trabalho do NASF.

Ações compartilhadas: ampliando o cuidado


Para além de um espaço usado com o objetivo de falarmos sobre nós, as salas de espera
foram momentos importantes na construção da relação com os usuários, onde se pode encontrar
diversos públicos, de diferentes faixas etárias e diversidade cultural. A promoção dessa ação
educativa que abordava temas de saúde e controle social, proporcionou a construção coletiva
de saberes, além do estreitamento dos laços entre os profissionais e usuários, despertando o
interesse destes em se envolverem nas atividades de grupos, bem como ajudando na redução
do absenteísmo às consultas.
A implantação de atividades coletivas fora realizada através de grupos educativos e
terapêuticos, onde os participantes interagiam partilhando suas experiências e conhecimentos
para o enfrentamento das iniquidades de saúde. Os grupos direcionados para as condições de
saúde que eram apoiados pela equipe foram os de gestantes, Hiperdia (para pessoas tratando
doenças crônicas - hipertensão arterial e diabetes), grupo de práticas corporais e um grupo
terapêutico fechado voltado para mulheres em sofrimento mental.
Diante das demandas apresentadas pelos usuários que eram assistidos pelas equipes de
Saúde da Família (eSF) e como forma de dar resolutividade às suas queixas, outra frente de

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atuação muito importante do NASF foi a articulação de rede. A Atenção Básica (AB) exerce o
papel central de coordenar a rede intersetorial de serviços disponíveis que podem contribuir
para a garantia da assistência integral e ampliada aos diversos níveis de complexidade das
demandas dos usuários. Nesse sentido, o NASF contribui com a aproximação das equipes da
USF com os outros atores e atrizes espalhadas nos diferentes pontos da rede assistencial,
melhorando a comunicação e facilitando ações em conjunto. Foi isso o que ocorreu com o
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) situado no bairro de Verdes Horizontes,
com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) II e o CAPSi, com a Escola Virgínia Reis Tude
e a Associação de Moradores de Verdes Horizontes.
Além das atividades acima citadas, gostaríamos de aprofundar o relato de algumas das
nossas muitas experiências na equipe NASF, como os grupos de Adolescentes e o voltado a
pacientes com doenças crônicas (Hiperdia), Ciranda do Cuidado, bem como a oferta de Práticas
Integrativas e Complementares (PICS) e as visitas domiciliares.

Encontros com Adolescentes: a atividade de grupo como uma estratégia de aproximação


De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é compreendida
entre o período de 10 aos 19 anos, 11 meses e 29 dias, sendo a juventude dos 15 aos 24 anos.
Em contrapartida, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define a adolescência entre
as idades de 12 a 18 anos de idade (BRASIL, 2010a). Tendo em vista as mudanças
biopsicossociais desse período, a equipe pensou em um grupo para esse público como estratégia
de promoção à saúde dessa população que enfrenta grandes desafios.
Configurou-se em um grupo aberto voltado para os adolescentes do bairro de Verdes
Horizontes, sendo construído com o apoio da direção da escola municipal do território, que
apoiou a equipe do NASF na captação de adolescentes entre 12 e 18 anos que integravam o seu
corpo discente, os quais apresentavam interesse em discutir temas como saúde mental, dinâmica

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familiar, projetos de vida, educação sexual, violência, fatores raciais, culturais, étnicos e
políticos.
O cuidado com a saúde do adolescente esteve pautado no trabalho de atividades
direcionadas à saúde biopsicossocial dessa população. Podendo entendê-los em sua
subjetividade e singularidade através da escuta qualificada, intervindo de forma resolutiva e
efetiva, de maneira que esse público pudesse se apropriar do espaço de saúde. Nesse sentido,
ofertar um momento coletivo a este grupo, com uma proposta dinâmica, leve e lúdica, foi
também uma estratégia para ampliar o cuidado e aproximá-los da USF, tendo em vista sua
ausência na procura pelos serviços tradicionais oferecidos.
A priori, os encontros ocorriam semanalmente, na Associação de Moradores do bairro,
que fica ao lado da USF, entretanto, ao percebermos a baixa adesão do público-alvo, avaliamos
em conjunto com a escola e entendemos que o projeto teria mais alcance se realizado no
ambiente escolar. Desse modo, após consulta e discussão com a direção da escola, passamos a
realizar encontros quinzenais com os estudantes do nono ano dos turnos matutino e vespertino,
os quais eram facilitados por duas equipes compostas por profissionais das equipes de Saúde
da Família e do NASF.
Ao longo dos encontros grupais, pudemos alcançar dimensões subjetivas, sociais e
familiares dos adolescentes, o que nos permitiu facilitar o processo de reflexão e compreensão
de si e da realidade em que vivem, mas também de pensar em estratégias para acolher e manejar
situações específicas. Houve denúncias de machismo, racismo e “bullying” que demandaram
intervenções a curto e longo prazo. Assim, com ajuda de ferramentas como o psicodrama e
dinâmicas de grupo, trabalhamos temas importantes com profundidade, atingindo o objetivo
principal de estabelecer uma relação de confiança com os adolescentes e produzir mudanças a
partir disso.

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Ciranda do Cuidado: um espaço de acolhimento ao sofrimento psíquico
O contexto extremamente adoecedor, que valoriza e incentiva a cultura do consumo e do
individualismo em detrimento de uma organização social voltada para a consciência da
coletividade enquanto unidade, garantia de direitos e diminuição da desigualdade social; os
modos de vida somados a cultura do machismo, do racismo, do preconceito de classe e a
ausência de políticas públicas para solucionar e combater os diversos problemas sociais, têm se
tornado cada vez mais impulsionadores do sofrimento ético-político (SAWAIA, 2001, p.104).
Com seus direitos violados, imersos em condições precárias de vida, como falta de saneamento
básico, moradia, segurança, alimentação, desemprego e violência doméstica, atravessadas por
uma série de iniquidades, muitas pessoas acabam desenvolvendo quadros depressivos e/ou
ansiosos, acarretando, muitas vezes, em somatização.
Esse panorama reflete a realidade do bairro de Verdes Horizontes. A partir dos relatos
dos profissionais das equipes de Saúde da Família, bem como o número de acionamento do
NASF solicitando apoio nos casos de pacientes com transtornos mentais comuns – depressão,
ansiedade e transtorno de pânico – e pela procura de pessoas por atendimento psicológico, o
grupo terapêutico Ciranda do Cuidado foi pensado como possibilidade de ampliar o cuidado e
promover um espaço para reflexão e elaboração do sofrimento psíquico.
Voltado para pessoas em sofrimento psíquico, cuja adesão foi feita em unanimidade por
mulheres, entre 26 e 55 anos, usuárias da área de abrangência da USF Verde Horizonte, o
Ciranda, como foi carinhosamente apelidado, ocorreu entre outubro de 2019 e março de 2020,
quando as atividades coletivas precisaram ser suspensas devido à pandemia da Covid-19.
Ferramentas como meditação, psicoeducação, desenho, intervenções psicológicas e dinâmicas
de grupo, em conjunto com os processos de identificação entre as participantes, a relação de
apoio, confiança e amizade construídas pelo grupo, formaram uma atmosfera potente e
fundamental para que temas como luto, autocuidado, manejo da ansiedade, lidando com as
emoções, projeto de vida, família, entre outros, pudessem ser abordados.

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Com profundidade, mas também com muita leveza, os encontros contribuíram para o
processo de ressignificação das experiências e, consequentemente, de transformação das
pessoas que participaram, segundo relatos delas mesmas e das equipes de saúde que as
acompanhavam. Ao longo dessa vivência, pudemos alcançar as usuárias em sua complexidade
sempre a partir de uma escuta sensível, empática e acolhedora. Superamos as expectativas
iniciais e testemunhamos não somente as mudanças individuais das usuárias, como também no
olhar ainda mais cuidadoso da equipe.

Grupo de Crônicos e seu papel como potencializador do cuidado em saúde


Ações de educação em saúde devem integrar a assistência em saúde como uma das
dimensões do processo de cuidar nos serviços de atenção primária, pois contribuem para
aquisição de conhecimento sobre o processo saúde-doença e leva ao empoderamento como ser
e cidadão (LUZ; LIBÓRIO; PALOMBO; SILVA, 2019).
A utilidade da formação das atividades em grupo deve permear o desenvolvimento de
autonomia, o empoderamento, a participação da comunidade e a corresponsabilização entre as
equipes de Saúde da Família e a equipe do NASF, garantindo, assim, maior qualidade na
prestação do serviço e se tornando mais efetiva no seu objetivo. (BRASIL, 2014; BEZERRA;
GOMES; OLIVEIRA; CESSE, 2020).
Atividades em grupo voltadas para patologias crônicas, como diabetes e hipertensão
arterial, foram realizadas quinzenalmente, contando com a participação de, aproximadamente,
15 pessoas. Nessas ações, foram realizadas oficinas buscando incrementar a abordagem dos
participantes, quebrando mitos existentes em relação à alimentação com temas como: leitura de
rótulos de alimentos, uso de ervas e temperos na preparação de refeições e orientações da
importância da prática da atividade física para melhorar a qualidade de vida.
Também foi abordado a percepção dos usuários quanto ao significado que eles davam a
doença e como esta impactava em sua vida no intuito de ressignificar o diagnóstico e auxiliar

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na produção do autocuidado. A estruturação de como seria essa participação foi construída de
tal forma que todos ali presentes pudessem expressar suas falas e contribuíssem com o cuidado,
afastando a intervenção unilateral e de caráter prescritivo dos profissionais do NASF.
Soares e Santos (2019) destaca que a organização das pessoas em grupos se constitui
como instrumento, estratégia pedagógica e tecnologia capaz de promover a saúde e prevenir
doenças. A organização do grupo com vistas a participação ativa dos participantes propiciou
uma maior interação dos usuários, onde estes se mostraram mais à vontade para esclarecer
dúvidas. Dessa forma, foi possível proporcionar uma melhoria nas condições de vida daqueles
usuários e contribuir para que eles construíssem a consciência no sentido de assumir o
protagonismo do cuidado para com a saúde deles próprios.
A participação de diferentes profissionais potencializou a interdisciplinaridade e a
integralidade onde cada intervenção tinha seu foco não somente na doença, mas sim em todos
os determinantes sociais da saúde. Sendo assim, as atividades desse grupo proporcionaram
benefícios aos usuários ao promover encontros nos quais as condições de saúde deles podem
ser vistas de forma integral.

As práticas integrativas e complementares como meio para a integralidade do cuidado


As Medicinas Complementares e Alternativas são denominadas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) como o conjunto de práticas de saúde que não fazem parte da
medicina tradicional (OMS, 2021). No Brasil, no ano de 2006, foi aprovada a Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares (BRASIL, 2006), que inclui em seu escopo de
abordagem, Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura, a Homeopatia, as Plantas Medicinais e
Fitoterapia e o Termalismo Social/Crenoterapia.
A inserção das Práticas Integrativas e Complementares (PIC) foi instituída no SUS com
o intuito de ampliar a resolutividade e elegibilidades dos serviços da Atenção Básica por meio
do cuidado continuado, humanizado e integral em saúde, assim como estimular as ações

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referentes ao controle e participação social, correlacionando-se, desse modo, diretamente com
a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) (BRASIL, 2006; LIMA; SILVA; TESSER,
2014).
Nesse sentido, após capacitação dos profissionais do NASF, a Auriculoterapia passou a
ser ofertada em uma das unidades apoiadas, inicialmente, como uma “terceira” escuta do
acolhimento à demanda espontânea de usuários como resposta às demandas psicológicas
elevadas, assim como amenizando quadros de dores agudas e crônicas. A partir disso, conforme
aumento das solicitações, a oferta passou a ser programada, sendo realizadas sessões semanais
com a participação de aproximadamente 10 pessoas por sessão.
Empenhando-se em ampliar a oferta de PIC nas unidades apoiadas, foi estruturado e
oferecido por um dos professores de Educação Física capacitado, o Lian Gong, ginástica
terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa, em sessões semanais das quais participavam 10
usuárias.
Com a disposição dessas práticas nas Unidades de Saúde, foi observado um retorno
positivo por parte dos participantes, demonstrando a importância dessa união das PIC com a
Atenção Básica com vistas potencializar a promoção da saúde, tanto no tocante ao tratamento,
como na prevenção do adoecimento, tal como foi mencionado no estudo de Lima, Silva e Tesser
(2014).
Por fim, a inserção das PIC Auriculoterapia e Lian Gong potencializou um movimento
de participação ativa no processo de autocuidado desses usuários, trazendo novos significados
para o grupo relacionados a convivência e criação de hábitos, contribuindo de forma
significativa com a integralidade do cuidado.

Visitas Domiciliares: ao encontro do cuidado


Como instrumento para o cuidado dos usuários domiciliados, a visita domiciliar (VD) fez
parte das ações desenvolvidas pela equipe do NASF. Essa ferramenta permite o diagnóstico das

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vulnerabilidades do território, a criação de vínculo com a população por meio da proximidade
no seu espaço, que resulta na produção de ações integrais e humanizadas (ROMANHOL et al.,
2012; CUNHA; SÁ, 2013).
As visitas ocorriam em conjunto com as equipes de Saúde da Família (eSF) ou somente
com profissionais do NASF, após a discussão dos casos. Evidenciada a dificuldade de
locomoção ou a necessidade de um acompanhamento mais próximo de alguns usuários, as
visitas tinham como foco a promoção, prevenção e educação em saúde, bem como fornecer
orientações, realização de encaminhamentos, busca ativa de usuários e informações para
construção de Projeto Terapêutico Singular (PTS).
Adentrar no domicílio dos usuários e percorrer o território possibilitou estabelecer uma
comunicação direta com a população, o que facilitou a criação de vínculo. A aproximação da
realidade vivenciada por eles, permitiu a observação das suas condições de moradia, como se
dava a relações familiares e com seu cuidador, a maneira que o indivíduo encarava sua condição
de saúde e desenvolvia o seu autocuidado.
As visitas eram planejadas na perspectiva da escuta qualificada, centrada no sujeito e
validação das suas queixas, objetivando a adesão das condutas planejadas sendo estas
construídas em parceria entre o(a) profissional e o(a) usuário(a). A estratégia consolidou a
equipe do NASF nas VD, onde foi possível desenvolver momentos de matriciamentos entre os
profissionais de diferentes áreas de formação presentes, o que possibilitou transformar as ações
dos profissionais eSF através das vivências.
A VD é potencializadora do cuidado à saúde do usuário, família e comunidade. Essa
estratégia de cuidado consiste em uma das modalidades da atenção domiciliar que visa ampliar
e fortalecer as práticas de saúde que reverbera na qualificação da Atenção Básica, assim como
impacta na redução dos custos das hospitalizações (ROCHA et al., 2017; SOSSAI; PINTO,
2010).

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Considerações finais
Garantir a integralidade do cuidado em saúde na APS é um grande desafio profissional,
pois desenvolver ações e práticas para além do modelo hegemônico o “biomédico” perpassa
pelo deslocamento profissional em prol de ações que visem a promoção da saúde e prevenção
de doenças e agravos para além do cuidado de pessoas já adoecidas.
Nessa perspectiva, o trabalho do NASF-AB se fez relevante e através das suas
ferramentas de trabalho, o apoio matricial, a educação permanente e, principalmente, a
construção coletiva, diversos pontos foram pensados, desenvolvidos, avaliados e, novamente,
executados, acarretando, assim, num modelo de trabalho com moldes na ampliação clínica.
A interação com a comunidade foi de grande relevância no processo e, através das
consultas, salas de espera, atividades coletivas e nos acolhimentos à demanda espontânea,
barreiras foram superadas em prol de uma relação horizontal. Contudo, avaliamos como lacuna
no processo de trabalho o desenvolvimento do controle social na comunidade. Mesmo com a
realização de ações, como reuniões com a comunidade e a organização da pré-Conferência
Municipal de Saúde, em 2019, enfrentamos dificuldades para garantir a frequência de reuniões
de comunidade e, com isso, avançar nas ações de fomento à organização comunitária. A esse
respeito, vale destacar que o controle social, apesar de ser um componente integrante da
formação do programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, foi pouco
estimulado para ser desenvolvido pelos residentes, que acabavam considerando algo de pouca
relevância a ser realizada pelos profissionais de saúde na APS.
Outra lacuna no processo de trabalho se deu nos moldes da avaliação dos impactos das
atividades desenvolvidas. A equipe não conseguiu mensurar os benefícios das ações em prol de
aspectos fisiológicos como diabetes, hipertensão, obesidade, ansiedade, depressão e outros
transtornos. Contudo, temos como pontos positivos aspectos qualitativos que consideramos
relevantes das ações propostas. Podemos citar os feedbacks das usuárias ao final das atividades
como ponto relevante, o aumento do cardápio de ofertas de atividades do e no serviço, uma

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maior vinculação da equipe com usuários e usuárias, a diminuição de encaminhamentos de
pessoas para outros pontos da rede de atenção à saúde, além da diminuição da lista de espera
para as consultas.
Os programas de Residência em Saúde são relevantes para formação de profissionais com
intuito de qualificar a oferta e os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) como dispõem as
Constituição Federal de 1988 e a lei nº 8.080/90. Contudo, vale destacar que, apesar do esforço
do SUS em cumprir a sua atribuição de promover a formação de profissionais para área da
saúde através dos programas Residência, não existe uma política de incorporação dos
profissionais egressos das Residências Multiprofissionais em Saúde da Família nas equipes que
atuam na Atenção Primária à Saúde (APS) devido à ausência de concursos públicos, fazendo
com que muitos profissionais sejam absorvidos pela iniciativa privada. No caso dos
profissionais do NASF egressos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da
Família da FESF-SUS/FIOCRUZ, essa foi a única alternativa que lhes restou, uma vez que a
publicação da Portaria nº 2.979/2019, ao alterar o financiamento de custeio da APS excluindo
o NASF do rol de suas ações estratégicas, ocasionou a extinção dessas equipes, a partir de
janeiro de 2020, em diversos municípios do Brasil.

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FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA/PARA A SAÚDE: RELATO DE
EXPERIÊNCIA DE UMA PRÁTICA DE ENSINO EM CURSOS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA E TERAPIA OCUPACIONAL

Ailton de Souza Aragão 1

Resumo: A fragmentação cartesiana, historicamente, tem norteado a formação dos


profissionais da saúde, para tanto, o conceito ampliado de saúde-doença possui na sua matriz
epistemológica compreender os territórios onde se processam as condições de saúde das pessoas
que ali vivem bem como suas necessidades em saúde. Nessa direção, estratégias de ensino que
promovam superar a fragmentação têm sido adotadas como forma de ampliar o saber-fazer dos
futuros profissionais de saúde nos diversos espaços urbanos. Expor a experiência em Saúde e
Sociedade nos cursos de Educação Física e Terapia Ocupacional na Universidade Federal do
Triângulo Mineiro durante as atividades de ensino na modalidade remota que, em função da
pandemia, teve que promover estratégias diversas de ensino-aprendizagem e ainda promover a
reflexão quanto ao fazer profissional no enfrentamento dos determinantes sociais de saúde.
Encontros semanais com as duas turmas, mediados pela plataforma Google Meet e Classroom,
em que uma das atividades foi o diagnóstico de condições de saúde nas cidades de origem
dos/das estudantes de ambos os cursos. Adotou-se a pesquisa por imagens e informações de
equipamentos públicos e privados, sua respectiva localização territorial, público atendido,
funcionamento, atividades oferecidas e ainda, a relação dos/das estudantes com os respectivos
equipamentos, haja vista estar em suas cidades. A síntese coletiva fora a elaboração de pôsteres
digitais socializados no Mural da Turma, no Classroom, seguido de uma Roda de Conversa, no
Meet, mediado pelo referencial teórico da vulnerabilidade, dos determinantes sociais de saúde
e da promoção da saúde. Foram elaborados 12 pôsteres, sendo 5 pela Terapia Ocupacional e 7
pela Educação Física. Os equipamentos identificados foram: quadras e complexos
poliesportivos públicos, APAEs, Centros de Convivência e de Referência para idosos, clubes
recreativos privados, academias ao ar livre, pistas de skate, parques públicos e ciclovias. As
cidades pesquisadas em Minas Gerais foram: Uberaba, Pirapora, Ituiutaba e Monte Alegre de
Minas. Em São Paulo: Pirassununga, São Carlos, Araraquara, Piracicaba, Campinas, Sorocaba,
Barretos, Ribeirão Preto, Guariba. Em Goiás: Mineiros. Os aspectos observados foram:
acessibilidade, localização, estado de conservação, público frequentador e segurança. À luz
dos determinantes sociais de saúde, evidenciou-se que aspectos individuais, como pessoas com
deficiência física; sociais, como o desemprego; educação, como não saber interpretar as

1
Mestre em Sociologia, pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Araraquara, SP.
Doutor e Pós-Doutor em Ciências, pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Líder do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Sociedade (NUPESS/UFTM/CNPq), Universidade Federal do Triângulo
Mineiro, Uberaba, Brasil, e-mail: [email protected]
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informações para correta prática esportiva reduzem as chances da prática esportiva nas cidades;
e que “estarem lá” não é sinônimo de comunidades saudáveis. Os estilos de vida não saudáveis,
sobretudo das pessoas em vulnerabilidade, desafiam os futuros profissionais da Educação
Física. Espaços de sociabilidade públicos ou privados que atendem idosos e crianças não
possuem um/a Terapeuta Ocupacional em seus quadros profissionais, reduzindo as
possibilidades de recuperação e sociabilidade dos atendidos. A falta de conservação pelo poder
público e a insegurança, sobretudo para as mulheres e alunas, limitam o acesso e a permanência
dos moradores, que por vezes dividem os espaços com usuários de drogas. A promoção da
saúde pelos futuros profissionais de saúde, sobretudo em comunidades historicamente
vulneráveis, representa um desafio que independe do tamanho das cidades e que exige o
engajamento para a efetivação do direito à cidade.

Palavras-chave: Educação profissional; Saúde pública; Determinantes sociais de saúde;


Promoção da saúde.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
Por séculos a prática de ensinar no Ocidente tem sido acompanhada da fragmentação
dos muitos conteúdos. Essa tradição, particularmente na área da saúde, se constata quando da
relação do profissional da saúde com o “paciente”: se converte num amontoado de órgãos,
tecidos e sistemas; passível de uma apreensão mecânica pelo profissional que o escrutina; um
não-sujeito de si mesmo, pois fora objetificado pela lógica da ciência (CANGUILHEM, 2009;
ROSSI, VIDAL, 2020).
A especialização da ciência, sob o prisma cartesiano e empirista, galgou terreno à frente
da lógica religiosa e medieval: a saúde e a doença deixam, aos poucos, de serem desígnios de
deus. A construção de um raciocínio lógico e verificável sobre os sintomas manifestos no corpo
marcam o primado da ciência (CZERESNIA, FREITAS, 2003; BATISTELLA, 2007).
O processo de industrialização, marca do capitalismo, estimulou a concentração das
populações nas cidades até então concentradas nas terras comunais, dedicadas ao trabalho
manufatureiro e aos ofícios (HUBERMAN, 1986). A paulatina expulsão dos camponeses das

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terras e a consequente concentração nas cidades trouxe à tona novas condições sanitárias e, com
elas, novas doenças (BATISTELLA, 2007).
Guerras e profundas crises econômicas aliada a intensos avanços na ciência, como o
advento da penicilina bem com o saneamento básico, marcaram o século XX. A denominada
transição epidemiológica e um outro conceito de saúde vieram à tona, este construído pela
Organização Mundial da Saúde, em 1947, que embora mereça leituras críticas, como aponta
Batistella (2007, p.7), fora conceituada como “um completo estado de bem-estar físico, mental
e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Assim, são expostos marcadores
que exigem um outro olhar para o processo de ensinagem dos futuros profissionais de saúde
(ALMEIDA et al., 2017).
Por ensinagem compreendemo-la como um processo em que duas partes, docente e
discentes, contratualmente, pactuam, buscam superar, inicialmente, o distanciamento histórico
de uma relação de ensino pautada no poder assimétrico. Dialeticamente, ambos,
responsavelmente, conquistam o conhecimento, em parceria e em colaboração.
[...] A esse processo compartilhado de trabalhar os conhecimentos no qual
conteúdo, forma de ensinar e resultados estão mutuamente dependentes e onde
os sujeitos saboreiam juntos o fazer, é que estamos denominando de processo
de ensinagem. (ANASTASIOU, 2002, p.72)
Assim como o processo de ensinagem, conceber a saúde para além da oposição à doença
e compreendê-las como intrínsecas de um processo revela uma crise paradigmática na matriz
epistemológica (ARANTES et al.,2008).
A saúde, como um conceito ampliado, requer a inserção de outros saberes, dantes
classificados como não-científicos, pois seus métodos divergem daqueles adotados pelas
ciências biológicas e exatas (ALMEIDA, et al., 2017). Assim, expor os fatores sociais, culturais,
econômicos e psíquicos para construir o entendimento do processo saúde-doença não só agrega
ao modelo biomédico, mas revela, ao mesmo tempo, a complexidade desse processo e,
dialeticamente, a necessidade de superar o paradigma biomédico, como aponta Canguilhem
(2009):

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[...] A doença não é somente desequilíbrio ou desarmonia; ela é também, e
talvez sobretudo, o esforço que a natureza exerce no homem para obter um
novo equilíbrio. A doença é uma reação generalizada com intenção de cura. O
organismo desenvolve uma doença para se curar. [...] (p.11)
Deste modo, compreender a saúde e a doença como resultantes de processos complexos
exigem, ainda, a construção de outras estratégias de atuação dos profissionais da saúde
(ALMEIDA et al., 2017). Inicialmente, o raciocínio diagnóstico agregaria elementos culturais
e subjetivos, numa leitura antropológica e psicológica; fatores sociais, como o desemprego, o
analfabetismo, do acesso ou não a estratégias de distribuição de renda, analisados à luz da
Sociologia, da Economia, da Política ou da História (ARANTES et al., 2008). E ainda da
narrativa de si, construída pelo sujeito em suas múltiplas interações, acerca do seu sofrimento,
[...] de impotência, de sentimento de vida contrariada. (CANGUILHEM, 2009, p.44).
Esses elementos exibem a relevância social de experiências formativas com os futuros
profissionais de saúde que promovam a emersão de outros saberes científicos e do que é
domínio do senso comum para a construção de leituras da saúde-doença (saber) como um
processo complexo. E que, dialeticamente, ao exigir leituras ampliadas dos territórios onde a
vida transcorre, como destacou Milton Santos (1999), ampliam as possibilidades do agir (fazer)
dos futuros profissionais da Educação Física e da Terapia Ocupacional na dinamicidade dos
territórios.
Numa crítica ao modo fragmentado dos processos formativos e aos seus objetivos
Barreto, Almeida e Abreu (2021) são enfáticos:
O modo de produção capitalista, no mundo globalizado, vem sendo sustentado
por conhecimentos muito específicos. Nos requisitos para se tornar útil e
produtivo, é desejável que não haja lugar para pensamentos divergentes ou
críticas ao modo de funcionamento dessa engrenagem perversa, ou seja, no
bojo desses conhecimentos específicos ou pragmáticos, não há lugar para
questionamentos (p.70)
Esse cenário ficou mais evidente e, pseudo justificado, pela emergência da pandemia de
Covid-19. Pois estávamos imersos
[...] numa crise que a pandemia só veio acentuar. Crise que é tecida por fios
que se interligam entre economia, política, concentração de riquezas nas mãos
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de poucos, diminuição dos índices de desenvolvimento humano, acentuação
das desigualdades entre ricos e pobres, entre outros fatores. Esse é um cenário
no qual a vida corre sérios riscos e a nossa humanidade está sendo posta à
prova. (BARRETO, ALMEIDA, ABREU, 2021, p.69)
Este contexto tem se revelado potente ao exigir a adoção de outras modalidades de
promoção da aprendizagem. O modelo de atividades à distância, ou também remotas, veio para
ficar. Mediadas por tecnologias da comunicação e informação, a adoção de plataformas on-line
para a interação entre os estudantes e destes com os docentes exigiu, num curto espaço de
tempo, por exemplo, a capacitação de docentes pelas instituições e o investimento público em
tecnologias, por um lado. E por outro, encontrou um percentual significativo de alunos em
vulnerabilidade, pois a situação econômica não lhes permitiu atualizar seu equipamento ou
aumentar a oferta do serviço de internet para uso doméstico ou ambos (OLIVEIRA, CORRÊA,
MORÉS, 2020; MIRANDA et al., 2021).
Segundo pesquisa do IBGE, citada por SAE Digital (Inacessibilidade, 2020),
apenas 57% da população do nosso país possui um computador em condições
de executar softwares mais recentes. (MIRANDA et al., 2021, p.155)
Um dos efeitos da pandemia sobre o ensino superior público foi o abandono ou
trancamento dos cursos pelos estudantes. Haja vista a parca oferta de estratégias oriundas do
poder público que oportunizassem prosseguir no ensino superior (MIRANDA et al., 2021).
E para além dos paradoxos e contradições passíveis de análise, a pandemia trouxe ou
reforçou para a maioria dos docentes das instituições de ensino superior a necessidade de
adoção de plataformas digitais para mediar os encontros com os discentes, como Google Meet®
e o Google Sala de Aula®.
Isto posto, nota-se a conexão da presente experiência ao Eixo Educação e Formação
Profissional em Saúde. Partimos do entendimento que a educação é processo, assim, ao
reconhecer o discente como sujeito ativo da ensinagem, os fatores como sexo e gênero, religião,
etnia, arranjo familiar, cidade e bairro em que residem e expectativas nutridas sobre o curso
superior revelam um olhar ampliado sobre si mesmo e seu-estar-no-mundo como futuro
profissional.

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O presente manuscrito visa expor a experiência em Saúde e Sociedade nos cursos de
Educação Física e Terapia Ocupacional na Universidade Federal do Triângulo Mineiro durante
as atividades de ensino na modalidade remota que, em função da pandemia, teve que promover
estratégias diversas de ensino-aprendizagem e ainda promover a reflexão quanto ao fazer
profissional no enfrentamento dos determinantes sociais de saúde.

Método
O componente curricular de Saúde e Sociedade é ofertado aos discentes dos cursos da
área da saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), campus Uberaba, MG.
Esta experiência se refere aos estudantes dos cursos de Educação Física e de Terapia
Ocupacional, no qual o autor é docente desde 2012.
Saúde e Sociedade possui uma carga horária de 45 horas/aulas no semestre para a
Educação Física e de 30 horas para a Terapia Ocupacional, após a reforma curricular. Assim,
são realizados 3 e 2 encontros semanais, respectivamente. As turmas contam com 35 alunos
ingressantes, pois é ministrada no 1º período do curso.
No contexto da pandemia, a UFTM expandiu aos docentes as funcionalidades do Google
Sala de Aula® e ainda da ferramenta de vídeo chamadas Google Meet®. Ambas as ferramentas
virtuais permitem a inserção de conteúdos em diferentes linguagens, a interação via Mural ou
E-mail, e o acompanhamento dos discentes nas diferentes Estratégias de Produção de
Conhecimento (EPCs) via Mensagens devolutivas (Feedbacks) aos participantes.
Uma das EPCs propostas aos discentes, haja vista o contexto pandêmico, fora o
diagnóstico de condições de saúde nas cidades de origem dos/das estudantes de ambos os
cursos. Adotou-se a pesquisa por imagens e informações de equipamentos públicos e privados,
sua respectiva localização territorial, público atendido, funcionamento, atividades oferecidas e
ainda, a relação dos/das estudantes com os respectivos equipamentos, haja vista estar em suas
cidades.

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Em equipes e cada uma na sua cidade de origem visitaram, in loco, espaços que
permitiriam a promoção da saúde. Visitas desde que guardadas as medidas preventivas, ou por
meio de pesquisa na internet seguida de uma ligação telefônica ao local pesquisado, seja público
ou privado, como forma de obter consistência nas informações pesquisadas. Ao mesmo tempo,
foram dispostos textos teóricos, vídeos, reportagens da Revista Radis, da Fiocruz, como forma
de construção uma análise crítica das condições de saúde dos moradores das respectivas
cidades. E uma Monitora auxiliou na construção do material – pôsteres elaborados com um
software de apresentações, a escolha das equipes – que seria socializado em duas etapas: via
Mural da Turma, no Google Sala de Aula® e durante um encontro síncrono, via Google Meet®.
A primeira objetivou ser uma Sessão de Painéis, oportunizando a exposição dos resultados e o
fomento aos comentários e avaliações dos discentes aos muitos trabalhos expostos. Segundo, a
construção de sínteses coletivas – Roda de Conversa Virtual – acerca das vulnerabilidades que
desafiam a promoção da saúde, os determinantes sociais de saúde dos moradores e, ainda, a
exposição do aprendizado em campo e as contribuições à prática profissional.

Resultados
No segundo semestre de 2020, foram elaborados 12 pôsteres, sendo 5 pela Terapia
Ocupacional e 7 pela Educação Física, como as figuras abaixo.

Figura 1: Pôster elaborado por equipe. Figura 2: Pôster elaborado por equipe.
Terapia Ocupacional. Uberaba, MG. 2021 Educação Física. Uberaba, MG. 2021

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Fonte: Saúde e Sociedade. Google Sala de Aula. Fonte: Saúde e Sociedade. Google Sala de Aula.
Elaboração dos discentes. Terapia Ocupacional. 2020/2. Elaboração dos discentes. Educação Física. 2020/2.

Dentre os equipamentos identificados estão quadras e complexos poliesportivos


públicos, Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs), Centros de Convivência e
de Referência para idosos, clubes recreativos privados, academias ao ar livre, pistas de skate,
academias privadas, parques e praças públicas que são usados para prática de atividades
esportivas, como corrida e caminhadas, e ciclovias.
As cidades pesquisadas no estado Minas Gerais foram: Uberaba, Ituiutaba, Monte
Alegre de Minas (Triângulo Mineiro), Pirapora (Norte de Minas). No estado de São Paulo:
Pirassununga, São Carlos, Araraquara, Piracicaba, Campinas, Sorocaba, Barretos, Ribeirão

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Preto, Guariba, Ituverava, Sertãozinho. Em Goiás: Mineiros, localizado na região Sudoeste do
estado.
Os aspectos observados e destacados pelos discentes foram: acessibilidade, localização
e estado de conservação dos espaços; os diferentes públicos frequentadores e segurança para os
usuários.

Discussão
Os determinantes sociais de saúde apresentam uma possibilidade epistêmica para
albergar uma pluralidade de variáveis, as quais não são consideradas pelo modelo biomédico.
Assim, tanto a forma de explicar quanto a de atuar sobre o processo saúde-doença-cuidado de
comunidades nos territórios exigem um olhar que compreende as contradições sociais, destas,
as desigualdades sociais (CNDSS, 2008; BATISTELLA, 2007; QUEVEDO, 2017).
O Modelo Conceitual dos Determinantes Sociais de Saúde, elaborado a partir de
Dalgreen e Whitehead, foi amplamente discutido com os discentes durante a construção da
EPC, com a mediação da Monitora que conduziu discussões de vídeos do Canal Saúde, da
Fiocruz.
Figura 3: Modelo conceitual dos Determinantes Sociais de Saúde.

Fonte: CARRAPATO, CORREIA, GARCIA, 2017

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A análise do Modelo favorece construirmos uma leitura do processo saúde-doença para


além “da saúde como ausência de doença”; de uma terapêutica centrada nos sintomas anatomo
fisiopatológicos; na abordagem médico-centrada e hospitalocêntrica. Assim, compreender os
fatores como etnia, sexo, ciclo de vida e hereditariedade, por exemplo, expõe uma gama de
fatores que influem na produção social da doença e do sofrimento sobre as pessoas de um
determinado território, aliada às Condições de Vida e Trabalho (BATISTELLA, 2007;
CARRAPATO, CORREIA, GARCIA, 2017).
Dentre o conjunto de aspectos individuais observados e analisados pelos discentes estão
as pessoas com deficiência física. Estas, tanto para os futuros profissionais da Educação Física
quanto aos Terapeutas Ocupacionais, esbarram na oferta e distribuição de espaços públicos seja
para a prática de atividades físicas e esportivas quanto para reabilitação. Na cidade de foi
Guariba, SP foi identificado um espaço público que possui pista tátil; em Ituiutaba, MG a APAE
é considerada um centro de excelência em inclusão e estimulação para crianças e adolescentes
bem como de orientação para os pais. Já em Araxá, MG, o acesso ao um dos pontos turísticos
só é possível por escadas.
Em todas as cidades os discentes, especialmente da Educação Física, verificaram a
existência de vários espaços para a prática esportiva ou de lazer, porém, poucos com alguma
infraestrutura adaptada para as PCDs, como as Academias ao Ar Livre. A acessibilidade segue
sendo um dos desafios para a efetivação da Política Nacional de Promoção da Saúde, conforme
apontam Interdonato e Greguol (2002) em extensa revisão de literatura.
Um dos elementos constitutivos dos DSS são os estilos de vida. Estes são historicamente
construídos, adquiridos ou reproduzidos conforme os contextos de cada sujeito. Ou ainda, o
estilo de vida articula
[...] as formas de ser, de estar e de pensar [as quais são] indissociáveis do
grupo social de pertença. Neste contexto, os estilos de vida remetem para a
forma pela qual um indivíduo ou um grupo de indivíduos vivenciam o mundo

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e, em consequência, se comporta e faz escolhas. (MARQUES, MENDES,
SERRA, 2017, p.2)
Nessa direção, o sedentarismo, embora não observado pelos discentes durante a
atividade, se mostrou um fator preocupante para o processo saúde-doença, haja vista evidenciar
um desafio para a promoção da saúde, agravado durante a pandemia. Pois muitas cidades
adotaram medidas restritivas de circulação, como a cidade de Araraquara, SP, e em outras em
que essas medidas não foram seguidas à risca pelos moradores, como São José do Rio Preto e
Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, segundo os discentes residentes.
Contudo, estilos de vida denominados não saudáveis se mostram desafiadores,
sobretudo, às pessoas em situação de vulnerabilidade individual e social. Pois as informações
sobre a Covid-19 (distanciamento social, higiene de mãos e uso de máscaras) que lhes chegam
tendem a ser avaliadas e relativizadas pela urgência da sobrevivência do grupo familiar. Assim,
ainda que as informações objetivem reduzir a vulnerabilidade individual, a vulnerabilidade
social, vista como capacidade de mobilização coletiva diante de uma demanda coletiva, segue
uma incógnita (AYRES et al., 2009). E ambas são agravadas pela vulnerabilidade programática,
pois a ausência de investimentos, protocolos e estratégias consistentes, oriundas do Governo
Federal, não soaram coerentes com os contextos de vulnerabilidade da maioria da população
historicamente marcada pela fome, desemprego e falta de moradia, marcas da histórica
desigualdade que produz impactos na saúde por gerações (AYRES et al., 2009; STEVANIN,
2020).
A reflexão, oportunizada pelo encontro dos discentes com suas respectivas cidades
evidenciou, como exposto, a iniquidade em saúde. Mesmo que alguns bairros da cidade
possuam algum equipamento para promoção da saúde da comunidade, como academias e
quadras poliesportivas, estes se apresentam com pouca ou nenhuma manutenção, tomados pela
ferrugem ou pelo mato; apresentam buracos no piso, convertendo-se em espaço de uso e venda
de drogas ilícitas. Outro aspecto é a insegurança, sobretudo para as mulheres e alunas, pois

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limitam o acesso e a permanência dos moradores, que por vezes divide os espaços com usuários
de drogas.
Desta forma, a ocupação do território urbano e a instalação de equipamentos públicos
revela a lógica do mercado imobiliário: a especulação. E mais que isso: demonstram que a
compreensão de promoção da saúde em muitas cidades brasileiras é proporcionada aos
moradores de áreas onde habitam a classe dominante local (JACQUES, LEAL, 2017). Como
destacado por um discente ao constatar a pintura do meio fio e da poda da grama em uma
Academia ao Ar Livre que ficava em frente a um condomínio fechado no interior de São Paulo.
As Condições de Vida e Trabalho, expostas pelos DSSs, influem no processo saúde
doença de comunidades inteiras. Dentre essas condições, o desemprego (inclusive na própria
família) e o analfabetismo foram destacados. Se de um lado a renda familiar era insuficiente
(agravada pela pandemia), e se de outro as informações sobre como usar corretamente as
Academias ao Ar Livre (ou sobre como se proteger da Covid-19) não são compreendidas,
assistiremos as morbimortalidades por causas sociais. Seja por morbidades oriundas do
sedentarismo (estilo de vida) e do processo de distanciamento social (pandemia) aliado ao
desemprego; seja por ter que escolher entre “matar a fome” ou praticar atividades esportivas!
(CNDSS, 2008; AYRES et al., 2009; STEVANIN, 2020).
Estes e outros aspectos dos DSSs, como acesso a Saúde e Proteção Social, foram
agravados, segundo os discentes do curso de Educação Física, devido à ausência programática
de profissionais da Educação Física nos espaços comunitários. Ou seja, sem a devida
contratação pelo poder público das suas cidades ou apenas como presença
episódica/temporária. Ao mesmo tempo, espaços de sociabilidade públicos ou privados que
atendem idosos e crianças não possuem um/a Terapeuta Ocupacional em seus quadros
profissionais, reduzem o processo de recuperação e sociabilidade dos atendidos quanto às
atividades ocupacionais no seu cotidiano, sobretudo durante a pandemia.
[...] as circunstâncias em que as pessoas não possuem a oportunidade de se
envolver em ocupações significativas caracterizam a situação de injustiça
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ocupacional e justificam a adoção de estratégias de empoderamento de
sujeitos e coletividades [como forma de promoção da saúde] (CARLETO,
ALVES, GONTIJO, 2010, p.90)
Esses cenários reforçam a iniquidade em saúde, numa leitura de classe social: quem
pode pagar pelos profissionais, privadamente, terá melhores condições de se proteger dos
agravos à saúde ou melhor se restabelecer para desenvolver as atividades cotidianas.
(BATISTELLA, 2007; CARLETO, ALVES, GONTIJO, 2010; CARRAPATO, CORREIA,
GARCIA, 2017; MARQUES, MENDES, SERRA, 2017).
Ou como asseveram Lima e Lima (2020), o fato de Academias ao Ar Livre, praças,
parques, bosques, ciclo faixas, pistas de skate, centros de reabilitação estarem instalados não
são sinônimos de cidades e territórios saudáveis. Pois podem revelar mais a permanência do
padrão higienista de tempos idos, que é constantemente atualizado no planejamento urbano das
cidades brasileiras. Dito de outro modo: a cidade torna-se saudável, não para todos, mas para
alguns.

Considerações finais
A construção de uma Estratégia de Produção de Conhecimento na modalidade remota
permitiu o diagnóstico das territorialidades as quais estão inseridos e identificados os discentes;
fomentou a reflexão crítica acerca dos DSS a que os mesmos estão submetidos, numa
perspectiva de classe, gênero, etnia e território; expôs os agravos à saúde das comunidades
diante das iniquidades em saúde; reconheceu-se a necessidade de construir estratégias
estruturais para a promoção da saúde como um direito universal; aproximou os discentes que,
mesmo distante geograficamente, reconheceram as potencialidades, as fragilidades e as
contradições das suas cidades relativamente às iniciativas públicas e privadas para promoção
da saúde.
A promoção da saúde pelos futuros profissionais de saúde da Educação Física e da
Terapia Ocupacional, sobretudo em comunidades historicamente vulneráveis, passa pela
atuação intersetorial e interdisciplinar e representa um desafio, sobretudo nesses tempos de
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pandemia. Desafios que variam conforme o grau de participação democrática dos futuros
profissionais da saúde na defesa do acesso equitativo à uma cidade que promova a saúde como
direito humano.

Agradecimentos
Aos discentes dos cursos de Educação Física e de Terapia Ocupacional do segundo semestre
2020, que com comprometimento desenvolveram essa experiência de ensinagem.

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2020.

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OFICINA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE SOBRE TÉCNICAS DE
ANTROPOMETRIA CORPORAL PARA AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE
DE UMA UBS NO INTERIOR DO CEARÁ: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Fernanda Ribeiro da Silva1


Yolanda Rakel Alves Leandro Furtado2,
Arycelle Alves de Oliveira3
Érika Roméria Formiga de Sousa4
Keila Formiga de Castro5

Resumo: A Educação Permanente em Saúde (EPS) traz como marco conceitual uma concepção
de trabalho no SUS como aprendizagem cotidiana e comprometida com os coletivos, devendo
sempre considerar as equipes multiprofissionais que atuam no SUS, construindo a
interdisciplinaridade. Voltada aos problemas cotidianos das práticas das equipes, a Educação
Permanente em Saúde deve se inserir no processo de trabalho, gerando compromissos entre
trabalhadores, gestores, instituições de ensino e usuários, construindo o desenvolvimento
individual e institucional. Trata-se de um relato de experiência sobre oficina de Antropometria
Corporal para os ACS (Agentes Comunitários de Saúde) da Estratégia de Saúde da Família
(ESF) Grangeiro 2 no Município do Crato, Estado do Ceará. A oficina foi desenvolvida pela
Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva – RMCS da Universidade Regional do Cariri
– URCA e Ministrada pela Nutricionista Residente em Saúde Coletiva no dia 21 de maio de
2021. Para isso foram demonstradas técnicas de Pesagem Corporal, Mensuração de Altura,
Aferição das principais Circunferências corporais e Altura do Joelho, bem como as fórmulas
para estimativa de Peso e Altura para pacientes acamados. Foram utilizados como meios
metodológicos apresentação em PowerPoint sobre as técnicas de avaliação antropométricas,
juntamente com realização das aferições práticas entre os participantes. Através do

1
Nutricionista formada pela Universidade de Juazeiro do Norte (UNIJUAZEIRO), Residente em Nutrição pela
Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri (URCA). Email:
[email protected]
2
Fisioterapeuta formada pelo Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (UNILEAO), Residente em Fisioterapia
pela Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri (URCA).
3
Bióloga formada pela Universidade regional do Cariri (URCA), Mestre em Diversidade Biológica e Recursos
Naturais pela Universidade Regional do Cariri, Residente em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri
(URCA).
4
Enfermeira, Preceptora do Programa de Residência em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri
(URCA).
5
Enfermeira, Preceptora do Programa de Residência em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri
(URCA)

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conhecimento das práticas de antropometria pôde-se constatar no relato dos ACS, ao final da
oficina, uma melhor capacidade de resolução de situações frequentes na prática deles, que
necessitam muitas vezes desses procedimentos para avaliação dos seus pacientes, como
também melhor padronização dos dados coletados por eles e melhor confiabilidade dos dados
repassados para os programas de acompanhamento da atenção básica e dos dados a serem
enviados para o Programa Bolsa Família (PBF), por exemplo. Para a Educação Permanente em
Saúde não existe a educação de um ser que sabe para outro que não sabe, mas sim uma troca e
o intercâmbio de saberes. Deve partir para o estranhamento e do questionamento sobre as
práticas vigentes em cada lugar, não significando que aquilo que já sabemos seja errado, mas
reconhecendo a necessidade de constante atualização e busca de novos conhecimentos que
possibilite a melhora do serviço prestado. Conclui-se que a EPS é de extrema importância para
a constante melhora e evolução da qualidade dos serviços de saúde e deve ser vista como uma
política de atuação capaz de transformar o modo de trabalho e o poder de resolução em todos
os níveis de saúde, em especial na atenção básica.

Palavras-Chave: Educação Permanente em Saúde; Agentes Comunitários de Saúde;


Assistência em Saúde; Antropometria Corporal; Avaliação Nutricional.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
A Educação Permanente em Saúde (EPS) é considerada pelo Ministério da Saúde
(BRASIL, 2014) como aprendizagem no trabalho, na qual ensinar e aprender são atos
incorporados ao cotidiano -, baseando-se na aprendizagem significativa e tendo como objetivo
a transformação da realidade local das práticas profissionais e da organização do trabalho.
O termo EPS surge em meados da década de 1980, a partir do Programa de
Desenvolvimento de Recursos Humanos da Organização Pan Americana de Saúde (LEMOS,
2016). A necessidade de sua criação esteve relacionada às mudanças ocorridas no cenário
mundial, como a queda do muro de Berlim, o fortalecimento do neoliberalismo, os
questionamentos sobre o socialismo e o desmembramento da união do “fordismo/taylorismo e
do keynesianismo” (LEMOS, 2016, p. 2).

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O conceito da educação permanente foi introduzido na América Latina ante a
inadequação da formação profissional, que era focada exclusivamente no desenvolvimento das
habilidades técnicas voltadas para o desempenho produtivo, sem a inclusão de conhecimentos,
valores e de um compromisso com os aspectos políticos, éticos e sociais (FERREIRA et al.,
2019).
Embora a Educação Permanente em Saúde seja comumente confundida com a Educação
Continuada, elas se distinguem, e suas diferenças são apreendidas em publicações do Ministério
da Saúde (2004) e nas literaturas específicas a cada uma. A EPS fundamenta-se na concepção
de educação que resulta em transformação e aprendizagem significativa, centrada nas rotinas
do processo de trabalho, na valorização do trabalho como fonte de conhecimento e
aprimoramento, na valorização da articulação com a assistência à saúde, a administração e o
controle social; voltada à multiprofissionalidade e à interdisciplinaridade, desenvolvida através
de estratégias e técnicas de ensino contextualizadas e participativas (FIGUEIREDO et al.,
2014).
A Educação Continuada baseia-se na concepção de educação como transmissão de
conhecimento e pela valorização da ciência como fonte do conhecimento; sendo pontual,
fragmentada e desenvolvida de forma não articulada à gestão e ao controle social, vislumbrando
as categorias profissionais e o conhecimento técnico-científico de cada área, enfatizando cursos
e treinamentos construídos com base no diagnóstico de necessidades individuais, e se coloca na
perspectiva de transformação da organização em que cada profissional está inserido (PEDUZZI
et al., 2009).
No Brasil a Educação Permanente em Saúde (EPS) foi inserida pelo Ministério da Saúde
como uma política de saúde por meio das Portarias nº 198/2004 e nº 1.996/2007, e tem como
objetivo nortear a formação e a qualificação dos profissionais inseridos nos serviços públicos
de saúde, com a finalidade de transformar as práticas profissionais e a própria organização do

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trabalho com base nas necessidades e dificuldades do sistema (BRASIL, 2004; CARDOSO,
2017).
O lançamento da portaria n. 198 desencadeou um processo de construção coletiva de
uma política de educação permanente para o SUS, representando grande avanço no sentido de
inverter a lógica de oferta de formação e desenvolvimento antes consolidada com o envio de
pacotes de cursos e treinamentos. Em um ano, foram constituídos 96 pólos de educação
permanente no país (GIGANTE; CAMPOS, 2016). No entanto, ao mesmo tempo em que se
registraram várias experiências exitosas de articulação da educação à gestão para a
reformulação das práticas, muitos limites e dificuldades se apresentaram em relação à
estruturação e ao funcionamento dessa política. A capilarização dos pólos foi desigual nas
diversas regiões do país, principalmente pela dificuldade na pactuação entre instituições
formadoras, gestores e serviços (FIGUEIREDO, 2012).
Em agosto de 2007, o Ministério da Saúde publicou a portaria GM/MS n. 1.996
(BRASIL, 2007) que definiu novas diretrizes e estratégias para a implementação da Política
Nacional de Educação Permanente, adequando-as às diretrizes regionais e ao regulamento do
Pacto pela Saúde. Na nova formulação, a condução regional da Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde se daria por meio dos Colegiados de Gestão Regional (CGRs), com o
apoio das Comissões Permanentes de Integração Ensino-Serviço (CIESs), como previsto na
mesma portaria GM/MS n. 1.996 (BRASIL, 2007).
As CIESs como instâncias intersetoriais e regionais, deverão ser compostas pelos
gestores de saúde, gestores de educação, trabalhadores do SUS, instituições de ensino com
cursos na área da saúde, por meio de seus distintos segmentos e movimentos sociais ligados à
gestão das políticas públicas de saúde e do controle social no SUS (BRASIL, 2007).
Para Andrade e Lapolli (2018) a educação permanente é uma prática ascendente,
contínua e multiprofissional, é uma aprendizagem no trabalho, em que o aprender e o ensinar

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se incorporam no dia a dia, a fim de produzir sentido e influenciar na transformação da prática,
pois está pautada na reflexão crítica sobre as práticas reais do profissional em ação.
A educação deve ser capaz de desencadear uma visão do todo – de interdependência e
de transdisciplinaridade – além de possibilitar a construção de redes sociais, com a consequente
expansão da consciência individual e coletiva. Portanto, um dos seus méritos está, justamente,
na crescente tendência à busca de métodos inovadores, que admitam uma prática pedagógica
ética, crítica, reflexiva e transformadora, ultrapassando os limites do treinamento puramente
técnico, para efetivamente alcançar a formação do homem como um ser histórico, inscrito na
dialética da ação-reflexão-ação (MITRE et al., 2008).
A educação em saúde é um campo que envolve a construção coletiva de produção de
conhecimento, da busca de sentidos e significados, da ação social, interação e comunicação e
perpassa todas as práticas sociais. Além disso, é um processo dinâmico e contínuo de construção
de conhecimento, desenvolvimento de pensamento livre e consciência crítica reflexiva, que leva
a transformação da realidade (SOUZA E COSTA, 2019).
A Política nacional de Educação permanente em Saúde (PNEP) surge para os
profissionais da saúde, como uma proposta capaz de superar as insuficiências de programas
anteriores e de dar conta de objetivos que até então não teriam sido alcançados, quais sejam:
produzir impacto sobre as instituições formadoras no sentido de alimentar o processo de
mudança e promover mudança nas práticas dominantes no sistema de saúde (BRASIL, 2009).
Sendo assim, a EPS, inserida no Brasil como uma proposta ético-político-pedagógica,
tem como objetivo transformar e qualificar a atenção à saúde, os processos formativos, as
práticas de educação em saúde, além de incentivar a organização das ações e dos serviços em
uma perspectiva intersetorial também no cenário da Estratégia de Saúde da Família (ESF). A
EPS visa fortalecer as práticas de Atenção Primária à Saúde (APS) e o modelo de atenção à
saúde vigente no País considerando o trabalho articulado entre as esferas de gestão, as
instituições de ensino, o serviço e a comunidade (BRASIL, 2009).

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No contexto dos serviços de saúde, as pedagogias problematizadoras favorecem o
trabalho em equipe, transformando, aprimorando e qualificando a atuação profissional. A
complexidade e a diversidade de ações desenvolvidas nos serviços, bem como dos atores que
compõem esse espaço, são levadas em conta, gerando conhecimentos mais adequados ao
contexto, que ultrapassam o conhecimento exclusivamente técnico, a despeito da valorização
conferida pela EPS à atualização científica e tecnológica. A partir da reflexão sobre a realidade,
o trabalho torna-se fonte de conhecimento e invenções. Desse modo, expande-se a consciência
da equipe, com a inclusão de trabalhadores e usuários, sem perder de vista os mecanismos de
gestão que ali atuam (SOUZA; COSTA, 2019)
Segundo Ferreira et al. (2019), no Brasil, a principal estratégia prática e de
reorganização da APS implementada em 1994 consistiu no Programa de Saúde da Família
(PSF), denominado posteriormente de Estratégia Saúde da Família (ESF). A ESF propõe que a
atenção à saúde seja centrada na família, o que coloca os profissionais de saúde em contato
direto com a população, permitindo-lhes maior compreensão das necessidades de saúde das
pessoas.
Destaca-se que a ESF consiste em um potente espaço para consolidação da EPS por
realizar práticas compartilhadas em equipes com a utilização de distintas tecnologias para o
cuidado dos usuários, por ter papel indutor no trabalho interdisciplinar da equipe, na construção
de vínculo entre equipe e usuários e na reformulação do saber e da prática tradicional em saúde
(SORATTO et al., 2015).
Para Silveira e Marques (2019, p. 2) a antropometria é:
“A ciência que estuda e avalia o tamanho, o peso e as proporções do corpo humano, através
de medidas de rápida e fácil realização, não necessitando de equipamentos sofisticados e
de alto custo financeiro. Sendo as medidas antropométricas como determinantes de
indicadores de risco à saúde, associados principalmente à obesidade, apresentam conteúdos
teóricos e metodológicos, importantes para efetivar a sua aplicação na saúde pública,
partindo para uma proposta de não apenas medir ou avaliar, mas também, de informar e
conscientizar a população sobre a importância de controlar determinados riscos”

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Tomando em conta tudo isso, o objetivo deste trabalho é relatar a experiência de
educação permanente e saúde realizada através da oficina de educação permanente em saúde
sobre técnicas de antropometria corporal para agentes comunitários de saúde de uma Unidade
Básica de Saúde (UBS) no interior do Ceará.
Trata-se de um relato de experiência sobre oficina de Antropometria Corporal para os
ACS (Agentes Comunitários de Saúde) da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Grangeiro 2
no Município do Crato, Estado do Ceará. A oficina foi desenvolvida pela Residência
Multiprofissional em Saúde Coletiva – RMCS da Universidade Regional do Cariri – URCA e
Ministrada pela Nutricionista Residente em Saúde Coletiva no dia 21 de maio de 2021.
Para isso foram demonstradas técnicas de Pesagem Corporal, Mensuração de Altura,
Aferição das principais Circunferências corporais e Altura do Joelho, bem como as fórmulas
para estimativa de Peso e Altura para pacientes acamados. Foram utilizados como meios
metodológicos apresentação em PowerPoint sobre as técnicas de avaliação antropométricas,
juntamente com realização das aferições práticas entre os participantes.
Ao final da Oficina foi debatido entre os participantes a importância das técnicas de
antropometria corporal demonstradas e como elas poderiam ser usadas para a melhoria do
serviço junto à comunidade.
Participaram da Oficina todas as 4 ACS (Agentes Comunitários de Saúde) ligadas à ESF
Grangeiro 2. Diante do material utilizado para exposição; da prática das aferições de peso,
altura, circunferências e das fórmulas de estimativa de peso; e do debate sobre o tema pôde se
perceber que o aperfeiçoamento quanto às técnicas corretas de antropometria corporal como a
inclusão das fórmulas para estimativa de peso corporal são de grande ajuda para o
aprimoramento do serviço prestado junto à comunidade e da qualidade da atenção desenvolvida
pela equipe da ESF.
Através do relato das ACS ficou claro como esse tipo de conhecimento ajudaria a sanar
algumas dificuldades encontradas diariamente por elas, como a possibilidade de mensurar o

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peso e altura de um paciente acamado, por exemplo; de obter com maior qualidade e
confiabilidade dos dados necessários para acompanhamento de pré-natal e puericultura através
das técnicas de peso e altura corporal; e consequentemente dos dados gerados para os programas
de acompanhamento da APS e dos programas sociais do Governo como o Programa Bolsa
Família.
Para Freire (2005), a educação crítica caracteriza-se por ser dialógica, em que a
problematização gera reflexão e possibilita a ressignificação e a construção de novos saberes.
No campo da saúde, a EPS é definida como um processo pedagógico que coloca o cotidiano do
trabalho em saúde ou da formação em análise, partindo-se do pressuposto da aprendizagem
significativa que propicia a reflexão pelos próprios profissionais de saúde da realidade vivida e
dos modelos de atenção em saúde em que estão inseridos, bem como dos problemas enfrentados
(CECCIM, 2005).
Compreende-se que a EPS tem o processo de trabalho como objeto de transformação,
partindo da reflexão crítica dos profissionais sobre o que está acontecendo no cotidiano dos
serviços e buscando soluções em conjunto com a equipe para os problemas encontrados.
Com base no conceito da EPS, a reflexão das práticas dos profissionais nos serviços de saúde é
fundamental; e quando fica em segundo plano ou nem acontece, de acordo com Stroschein e
Zocche (2014), a EPS não é efetivada, dando espaço para a reprodução de práticas de cuidado
e formas de pensar individuais e enraizadas no modelo tradicional de atenção.
Para Schweickardt et al. (2015), as práticas de EPS devem estar embasadas no uso de
metodologias ativas para construção do conhecimento, e não no repasse de informações, em
que o educando não é aquele que escuta e decora, mas aquele que constrói para si o saber que
foi emitido nos debates.
Conclui-se que a EPS é de extrema importância para a constante melhora e evolução da
qualidade dos serviços de saúde e deve ser vista como uma política de atuação capaz de
transformar o modo de trabalho e o poder de resolução em todos os níveis de saúde, em especial

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na atenção básica. As atividades de EPS devem fazer parte do cotidiano das equipes das ESF a
fim de manter o constante aprimoramento e pensar crítico sobre os processos de trabalho,
construindo assim uma rede de atenção mais focada no paciente e mais eficaz na efetivação do
cuidado integral com a comunidade assistida.
Apesar do impacto positivo da EPS, verifica-se a falta de priorização da Educação
Permanente em Saúde pela gestão como um ponto negativo, fazendo com que sua Implantação
seja fragmentada (LIMA; ALBUQUERQUE; WENCESLAU, 2014). Nesse sentido, esforços
devem ser direcionados para fortalecer as práticas de EPS, não permitindo que esse aspecto
negativo se sobreponha aos positivos.

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CAPACITAÇÃO DE ENFERMEIRAS NO CUIDADO AO PACIENTE PEDIÁTRICO
COM COVID-19 NO INÍCIO DA PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Itamara Queiroz dos Santos1


Sonidalva Alves Novaes2
Luciana Dourado Pimenta Almeida3
Josilda dos Santos Lima Gomes4
Gilcimeire Santa Rosa Costa5
Fernanda Moreira Ribeiro6

Resumo: A COVID-19 foi considerada uma pandemia pela OMS desde março de 2020. Por se
tratar de uma doença desconhecida, de alta transmissibilidade, sem tratamento eficaz, fez-se
necessário uma reorganização estrutural na prática do cuidado pelos serviços de saúde. Aos
profissionais de enfermagem que atuam na linha de frente da COVID-19, foram impostos novos
desafios: protocolos e fluxos assistenciais adquiriram configuração dinâmica, capacitações
contínuas e novos paradigmas de prática tornaram a assistência extenuante, a interação
trabalho-família e as novas regras de convívio social influenciaram no bem-estar do
profissional, visto que este também se encontrava inseguro quanto a sua vulnerabilidade perante
a exposição ao vírus. Neste sentido, foi definido o seguinte objetivo: descrever a experiência
do processo de capacitação de enfermeiras para assistir pacientes pediátricos com suspeita ou
confirmação de infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2. Trata-se de relato de experiência
sobre a vivência das autoras no processo de capacitação para prestação do cuidado aos pacientes
pediátricos com suspeita ou confirmação de infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2 em uma
Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica de um Hospital Universitário em Salvador, Bahia-
Brasil, no período de março a julho de 2020. Para assistir os pacientes pediátricos com suspeita
1
Enfermeira especialista em UTI neonatal e pediátrica, Hospital Universitário Professor Edgard Santos- UFBA,
Salvador, Bahia, Brasil, e-mail: [email protected]
2
Enfermeira especialista em UTI neonatal e pediátrica, Hospital Universitário Professor Edgard Santos- UFBA,
Salvador, Bahia, Brasil
3
Enfermeira especialista em UTI neonatal e pediátrica, Hospital Universitário Professor Edgard Santos- UFBA,
Salvador, Bahia, Brasil
4
Enfermeira sanitarista, mestranda em Enfermagem pelo mestrado profissional da Universidade Estadual de
Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil
5
Enfermeira especialista em UTI neonatal e pediátrica, Hospital Universitário Professor Edgard Santos- UFBA,
Salvador, Bahia, Brasil
6
Enfermeira especialista em Cardiologia, mestre em Enfermagem, Hospital Universitário Professor Edgard
Santos- UFBA, Salvador, Bahia, Brasil
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ou diagnóstico de infecção pelo vírus SARS-CoV-2, foram necessárias adequações na prática
de enfermagem, dentre estas, o uso de equipamentos específicos de proteção individual
(EPIs)—máscara cirúrgica durante todo o expediente de trabalho e em caso de confirmação de
diagnóstico de COVID-19, o uso de máscara N95, capas impermeáveis, toucas, óculos de
proteção, face shield e luvas — durante a prestação do cuidado, a implantação de novos fluxos,
criação de protocolos e capacitação profissional para o desenvolvimento de uma assistência
segura e qualificada aos pacientes. Foram disponibilizados cursos teóricos on-line e
treinamentos práticos presenciais, respeitando o limite de cinco profissionais por turma e
distanciamento necessário no intuito de evitar aglomeração e risco de contaminação, com
simulações para paramentação e desparamentação de EPIs, intubação, reanimação
cardiorrespiratória e oferta de oxigênio suplementar (atividades consideradas de maior risco de
contaminação pelos profissionais de saúde). Quanto à saúde do trabalhador, foram
disponibilizados atendimentos psicológicos ao profissional que se sentia sobrecarregado e com
necessidades de apoio emocional. Muitos profissionais ficaram fragilizados com a situação
imposta pela pandemia e pelo medo de uma doença desconhecida. Com isso tiveram seu
processo saúde-doença alterado, necessitando de apoio psicológico como parte do
enfrentamento da doença. Concluímos que todas as medidas adotadas para assegurar o cuidado
ao paciente pediátrico com suspeita ou confirmação de COVID-19 foram significativas no
processo de embasamento teórico-prático, promovendo uma assistência respaldada na
segurança do paciente, do profissional e da equipe, corroborando com o gerenciamento de
riscos e reorganização dos serviços, garantindo uma assistência humanizada, qualificada, com
embasamento científico sólido.

Palavras-chave: Infecções por Coronavírus; Enfermagem Pediátrica; Capacitação de Recursos


Humanos em Saúde; Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica; Humanização da Assistência.

Eixo Temático 4: Educação e formação profissional

Introdução
A COVID-19 foi considerada uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) desde março de 2020. Por se tratar de um vírus desconhecido de alta transmissibilidade,
sem tratamento eficaz faz-se necessária uma reorganização estrutural na prática do cuidado
pelos serviços de saúde. Em meados de junho de 2021 o vírus SARS-CoV-2 já infectou
180.817.269 pessoas, incluindo 3.923.238 mortes, notificados à OMS. No Brasil ocorreram
17.374.818 casos confirmados da COVID-19 e 486.272 óbitos no período de 26 de fevereiro
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de 2020 a 12 de junho de 2021. Para o país a taxa de incidência cumulativa de 8.205,1 por
100.000 habitantes e a taxa de mortalidade cumulativa é de 229,6 óbitos por 100.000 habitantes,
dados que demonstram a magnitude da pandemia (BRASIL, 2021a; OMS, 2021).
Diante de uma doença emergente e com alto índice de infecção, o sistema de saúde
brasileiro passou a enfrentar colapso na rede pública e particular em alguns estados, devido às
dificuldades das autoridades de saúde em implantar políticas assertivas para seu controle,
lentificação no processo de vacinação da população, além do comportamento de risco da
população jovem ao promover aglomeração.
Neste cenário a população pediátrica também é afetada com a COVID-19, com menor
letalidade, pois geralmente as crianças são assintomáticas ou apresentam quadros clínicos leves,
porém acredita-se que a eliminação do vírus pela via respiratória e por vezes seja mais longa
do que na população adulta, o que contribui para disseminação do vírus. Os sintomas mais
prevalentes na população pediátrica são: febre, congestão nasal, tosse seca, fadiga, coriza e
faringe. Casos pediátricos graves apresentam dispneia acentuada que podem progredir
rapidamente para síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), miocardite, choque
séptico, acidose metabólica, coagulopatia e falência de múltiplos órgãos (GOES et al., 2020).
Como os sintomas das crianças podem não ser tão expressivos quanto nos adultos, o
quadro de saúde pode ser confundido com outros problemas de saúde, e as medidas necessárias
podem não ser tomadas para evitar a propagação do vírus. As consequências do retardo da
identificação dos pacientes com COVID-19 são significativas, principalmente para seus
contatos, de modo que os profissionais de saúde que cuidam de crianças também devem ser
considerados altamente vulneráveis à exposição. Portanto, as instituições pediátricas enfrentam
desafios únicos durante esta pandemia, pois, além das crianças apresentarem sintomas mais
brandos, elas também convivem com adultos potencialmente infectados (GOES et al., 2020).
Tendo em vista a magnitude da pandemia e a relevância da capacitação de enfermeiras
na prestação de serviço aos pacientes pediátricos, com o propósito de garantir a integralidade

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do cuidado, o bem-estar e a segurança laboral das equipes assistenciais, foi delimitado o
seguinte objetivo: descrever a experiência do processo de capacitação de enfermeiras para
assistir pacientes pediátricos com suspeita ou confirmação de infecção causada pelo vírus
SARS-CoV-2.

Referencial teórico

Neste capítulo abordaremos temas que contribuíram para o entendimento da


importância em preparar a equipe de enfermagem neste novo contexto de saúde. Esse processo
de aperfeiçoamento profissional pela referida categoria foi necessário para nortear a sua prática,
e vai além de treinamentos que promovam capacidade técnica em atuar com pacientes suspeitos
ou com confirmação de infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2. É relevante pontuar que esta
doença perpassa não só pelo potencial risco de comprometimento pulmonar no paciente e um
possível agravamento da doença, mas também interfere nas relações sociais e familiares, devido
à necessidade de distanciamento social. Para tanto, foi necessário primeiramente contextualizar
o percurso histórico da COVID-19, e em seguida discorrer sobre o papel e envolvimento
emocional da enfermagem na assistência ao paciente pediátrico com este perfil.

Percurso histórico da pandemia pela COVID - 19

No final de 2019 a OMS anunciou casos de uma grave pneumonia de origem


desconhecida em Wuhan, na província de Hubei na China. Inicialmente, suspeitava-se de
doença de origem zoonótica, pois os primeiros casos confirmados eram de trabalhadores
do mercado atacadista de frutos do mar da região, onde havia o comércio com animais vivos.
No lapso de dois meses, um novo coronavírus foi identificado, também na China, sendo
temporariamente nomeado de “2019-nCoV” (SÁ, 2020).

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Os meios de comunicação anunciavam que a doença se espalhava de maneira muito
rápida, o que demonstrava o quanto o vírus era de fácil transmissibilidade, causando muita
preocupação pelas autoridades sanitárias e pânico na população mundial. Desde então, a vida
em praticamente todo o planeta foi alterada, pois o ritmo urbano se transformou, ambientes
públicos se esvaziaram, aulas e diversas atividades foram suspensas, o comércio fechou as
portas, pessoas se viram sem trabalho do dia para a noite (MARQUES; SILVEIRA; PIMENTA,
2020).
Até o primeiro semestre de 2021, há quase dois anos de enfrentamento à pandemia, já
registramos mais de 526 mil mortes no Brasil (BRASIL, 2021b). A doença trouxe muito
sofrimento para a população mundial, pois representa a morte de incontáveis entes queridos,
levando os serviços de saúde ao estado de colapso pela superlotação dos hospitais e escassez
de leitos disponíveis e, consequentemente, ao desmoronamento da economia mundial.

A imunização no enfrentamento à pandemia

O cenário apresentado pela pandemia da COVID-19 provocou na sociedade sentimentos


negativos como desesperança e incertezas de quando poderíamos voltar a viver normalmente.
Contudo, a possibilidade da vacina trouxe um renovo para as autoridades sanitárias e para a
população.
Segundo Castro (2021), durante o ano de 2020, foi divulgado pela mídia o
desenvolvimento das etapas de estudos científicos com possibilidades de vacinas contra o novo
coronavírus. Quatro destas pesquisas foram realizadas no Brasil, fato que não somente cooperou
para nossa familiarização com os bastidores e o cotidiano da ciência, como reacendeu as
esperanças de que uma vacina eficaz estava por vir e colocaria fim à pandemia. Ainda em 2020,
as primeiras vacinas receberam autorização para uso emergencial em alguns países europeus e
nos Estados Unidos, e em janeiro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANS)
autorizou o uso de duas vacinas no Brasil.

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Desde então, vacinas produzidas em muitos países estão sendo fabricadas e
comercializadas no Brasil e no mundo. Através de estratégias adotadas pelos órgãos da saúde
pública, foram estabelecidos critérios de prioridade para a vacinação, como idade, mulheres
gestantes e puérperas e portadores de doenças crônicas, sendo estes vacinados prioritariamente,
por serem considerados grupos de risco para a contaminação com a doença COVID-19. Neste
sentido, o objetivo do Ministério da Saúde e dos órgãos competentes é vacinar toda a população,
pois só desta maneira o vírus não mais circulará entre as pessoas, e a pandemia finalmente
cessará.

A enfermagem na assistência ao paciente pediátrico com coronavírus

A enfermagem é uma categoria na área da saúde, cujo papel é de fundamental


importância na assistência ao paciente pediátrico acometido pela COVID-19, pois a prestação
do cuidado é holística e com a compreensão de que a criança é um ser biopsicossocial, sendo
essencial satisfazer as suas necessidades fisiológicas e emocionais para a promoção e
manutenção da sua saúde.
Em relação ao grau de acometimento do coronavírus nos seres humanos, sabe-se que
varia muito de acordo com a suscetibilidade de cada indivíduo, sendo considerados os idosos,
as gestantes e puérperas, bem como pessoas portadoras de doenças crônicas como população
de maior vulnerabilidade para o agravamento da doença. Segundo Jeng (2020), na
contaminação do vírus em crianças e adolescentes os sintomas tendem a ser mais leves, como
febre e tosse seca, no entanto, ainda há poucos dados oficiais disponíveis sobre o número de
indivíduos sintomáticos e assintomáticos positivos para COVID-19 nessa faixa etária.
Embora as crianças e os adolescentes demonstrem menor suscetibilidade do que os
adultos às formas graves da doença, constata-se que eles estão sendo fortemente impactados
emocional e psicologicamente pela pandemia, manifestando diversos problemas
comportamentais. Devido ao fenômeno ser recente, os seus efeitos em longo prazo na saúde

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mental e emocional desses indivíduos são desconhecidos. Nesse sentido, é preciso fortalecê-los
emocionalmente e atender suas necessidades de modo eficaz, a fim de reduzir os danos a eles.
Diante desta perspectiva, a equipe de enfermagem precisa estar atenta e preparada para
contribuir de forma significativa no tratamento das crianças com suspeita ou infectadas pelo
vírus, buscando ter uma visão de acolhimento da família, que faz parte deste processo de
adoecimento. Como particularidade da população pediátrica internada por suspeita ou infecção
pelo vírus SARS-CoV-2, tem-se a exigência da presença constante de um
acompanhante/familiar; estes devem permanecer em isolamento juntamente com a criança,
contexto que exige do profissional de enfermagem a extensão da assistência ao binômio
paciente-família.
O cuidar em pediatria envolve flexibilidade e individualidade, exigindo atenção à
expressão das emoções e dos sentimentos, tanto das pessoas alvo dos cuidados, como dos
enfermeiros que cuidam (FREITAS et al., 2021),deve conter um olhar afetivo, devido a
importância da repercussão terapêutica promovida pelo sentimento de empatia que deve estar
envolvida no cuidar em enfermagem.
É importante ressaltar que o enfermeiro precisa buscar parceria com outras categorias
de saúde, a fim de promover à criança uma assistência integral. Uma interação com
profissionais de terapia ocupacional e psicologia promoverá a este paciente pediátrico mais
autonomia, através de estratégias lúdicas, desenvolvendo tarefas manuais, a título de exemplo,
o que beneficiará para a sua adaptação no contexto hospitalar.
No contexto do atendimento às crianças com suspeita ou infectadas pelo vírus, os
enfermeiros se deparam com o grande desafio de driblar o distanciamento que os equipamentos
de proteção individual impõe, haja vista que o uso de capas, luvas e face shield determinam
uma barreira física entre o profissional e a criança internada. Segundo Freitas et al. (2021), o
enfermeiro, ao usar equipamento de proteção individual, pode ser visto pelo cliente pediátrico

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como um ser ameaçador e adverso, o que gera insegurança e medo, e interfere na dádiva de
afeto e na gestão emocional durante a interação.
O papel do enfermeiro é fundamental no cuidado às crianças com suspeita ou infectadas
pelo vírus, e envolve uma capacidade técnica para contribuir na terapêutica, bem como exige
uma habilidade emocional para confrontar com tantas emoções presentes neste processo. Para
tanto, esses profissionais precisam de apoio pela instituição onde exercem seu ofício e
necessitam ser amparados por políticas públicas que garantam sua integridade física e mental.
Aos profissionais de enfermagem que atuam na linha de frente da COVID-19, foram
impostos novos desafios: protocolos e fluxos assistenciais adquiriram configuração dinâmica,
capacitações contínuas e novos paradigmas de prática tornaram a assistência extenuante, a
interação trabalho-família e as novas regras de convívio social influenciam no bem-estar do
profissional, visto que este também se encontrava inseguro quanto sua vulnerabilidade perante
a exposição ao vírus. A capacitação e o treinamento das enfermeiras apresentam-se como
excelente estratégia na promoção de uma assistência segura e com menor risco de exposição ao
vírus.

Método

Trata-se de um relato de experiência construído a partir da vivência de enfermeiras que


atuam em uma Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário em Salvador, Bahia-
Brasil, no processo de capacitação para enfrentamento e prestação de cuidados a pacientes
pediátricos com suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus SARS- CoV-2, no período de
março a julho de 2020.
As capacitações foram direcionadas para as enfermeiras assistenciais, na modalidade de
cursos práticos e teóricos on-line, criação de protocolos, implantação de novos fluxos e
adequação dos já existentes. A partir do embasamento teórico foram implementados os

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treinamentos práticos presenciais com a participação de instrutores do próprio hospital,
realizado em grupos de 05 profissionais por turma, respeitando as normas de distanciamento
social e uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como máscara e luvas. As
atividades foram realizadas em salas de treinamento com duração de cerca de uma hora, foram
utilizados manequins, materiais e equipamentos utilizados na prática do cuidado ao paciente
pediátrico com suspeita ou confirmação de COVID-19.
Os cursos teóricos on-line foram disponibilizados, em sua grande maioria, na plataforma
da instituição gestora do hospital, protocolos e fluxos de atendimento também estavam
disponíveis na intranet para consulta, sendo atualizados à medida que novas informações eram
agregadas a partir dos novos estudos científicos sobre a temática, como também das vivências
dos profissionais. Os treinamentos práticos, que foram de grande relevância para equipe,
demonstravam de modo real a importância do cuidado na prestação dos serviços ao paciente,
bem como a proteção do profissional, no momento de atendimento e/ou situações que exigiam
intervenções rápidas, incluindo paramentação, desparamentação de EPIs, procedimentos
invasivos, que geram aerossóis e gotículas (reanimação cardiorrespiratória, oferta de oxigênio
suplementar, intubação orotraqueal, aspiração de secreções).

Resultados e Discussão

Com a disseminação mundial do vírus SARS-CoV-2, foi necessária uma readequação


dos serviços de saúde, com o desempenho das funções em tempo hábil e de forma contínua,
novas alterações individuais e organizacionais, na busca constante de atualizações baseadas em
preceitos éticos.
Diante do alarmante aumento dos casos de contaminação pelo vírus e a polarização de
informações divulgadas nos meios de comunicação, as enfermeiras passaram a trabalhar sob
forte tensão emocional. Somando-se a enorme insegurança por lidar com algo desconhecido e

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a falta de preparo diante deste cenário em que as notícias sobre escassez de EPIs e a falta de
qualificação para uso correto destes, as enfermeiras se viram tomadas cada vez mais por
sentimentos de medo de contrair o vírus.
Durante o relato de experiência, as enfermeiras expressaram sentimentos de medo e
ansiedade ao perder colegas e pacientes, além do alto risco de infecção e a possibilidade de
transmitir para familiares. Reações psicológicas e físicas com sinais e sintomas semelhantes do
COVID-19 também foram presentes nas participantes da pesquisa. Estudos ratificam que o alto
risco de contrair o vírus e transmitir aos familiares impactam negativamente na vida dos
profissionais envolvidos na assistência (BORGES et al., 2021). Diante do exposto, a instituição
hospitalar manteve-se como aliada, disponibilizando acolhimento e atendimento psicológico
para aqueles que demonstravam problemas emocionais, a fim de auxiliar nas estratégias de
enfrentamento.
Com a crescente demanda na reorganização dos processos de trabalho, as enfermeiras
passaram a associar o trabalho à busca do conhecimento, com o envolvimento positivo entre a
equipe de enfermeiros, maior flexibilidade e adaptabilidade associados ao compromisso e
responsabilidade profissional.
Os treinamentos foram disponibilizados com o intuito de readequação dos seus métodos
de trabalho, sensibilizando-as sobre a responsabilidade do cuidado, baseado na atenção,
prudência e dedicação. E, reforçando que as falhas, por menores que sejam, poderiam contribuir
para a disseminação do vírus. Foram momentos de reorganizar as informações inerentes a
temática proposta e adaptadas à realidade da instituição e os poucos estudos publicados, visto
que todos os esforços envolvidos tinham como objetivo ampliar os conhecimentos e reafirmar
a importância dos atendimentos baseados em protocolos do Ministério da Saúde e da unidade
gestora, de forma a permitir uma assistência segura e livre de danos aos envolvidos no processo
do cuidador.

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Todas as enfermeiras participaram do treinamento observando as medidas de segurança
como número limitado de pessoas, distanciamento preconizado e uso de máscaras N95. Os
treinamentos de paramentação e desparamentação dos EPIs foram ofertados pelos próprios
profissionais da instituição, com aulas práticas, disponibilização de videoaulas, com
demonstrações do uso dos EPIs, baseados em fluxogramas e protocolos criados pela OMS e
instituição gestora. Previamente foi disponibilizado material teórico para facilitar o treinamento
prático.
Em outro momento foi realizado treinamento prático com enfoque nos equipamentos
ventilatórios, incluindo os ajustes iniciais para iniciar a ventilação invasiva no paciente com
COVID-19, assim como o manejo indicado com o umidificador, cateter nasal e máscara com
reservatório indicados nos protocolos, assim como as particularidades relacionadas à COVID-
19. Foram ofertados também cursos na plataforma on-line, com temas relacionados à ventilação
mecânica, com abordagem da fisiologia da Ventilação Mecânica (VM), como também os passos
para colocação e retirada dos EPIs e ao final do curso os participantes tinham direito a emissão
de certificados.
Sabe-se que mesmo com treinamento constante, ainda assim, não é incomum que os
enfermeiros tenham uma exposição aumentada enquanto cuidam de pacientes, principalmente
quando estão exaustos e sob forte pressão emocional — uma condição comum após horas
extenuantes de trabalho — o que pode resultar no alto índice de contaminação. Outro fator a
considerar é a maior proximidade entre enfermeiros e pacientes, o que pode propiciar elevada
vulnerabilidade ao COVID-19. Portanto, faz-se necessário estabelecer protocolos hospitalares
específicos para reduzir os riscos de infecções por COVID-19 (HUANG et al., 2020).
Durante o treinamento prático foi estimulada a participação das enfermeiras valorizando
o raciocínio clínico e aprimoramento das técnicas aplicadas e descritas na literatura utilizada e
as orientações passadas pelos treinadores, sem prejuízos aos preceitos éticos e da biossegurança.
A partir da experiência entre todas as enfermeiras, foi percebido um resultado positivo com

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uma boa integração entre o grupo, momento de transformação e ressignificação profissional,
além de cooperação, empatia e comprometimento conjunto. As atividades implementadas
foram relevantes para o reconhecimento de riscos e comportamentos seguros, melhoria das
condições de trabalho durante a pandemia, onde cada um pode refletir sobre novas experiências
e aprender a partir da contextualização de seus conhecimentos prévios.
Além da capacitação prática, as enfermeiras receberam orientações conforme surgiam
novas demandas e especificidades de vários outros setores como: apoio da Comissão de
Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) com informações atualizadas e constantes; adaptação
de rotinas na central de material e esterilização, segregação dos resíduos dos serviços de saúde,
novas mudanças para o transporte interno do paciente suspeito ou confirmado da COVID-19,
com enfoque na comunicação com o setor que iria receber o paciente, além do uso de EPIs
durante o transporte e cuidados durante o trajeto, coleta de exames laboratoriais e diagnósticos,
bem como a higienização concorrente e terminal do ambiente e dos artigos hospitalares.
É importante ressaltar que os enfermeiros, ao atuar na linha de frente do combate à
pandemia, devem dispor de uma assistência resolutiva, baseada em protocolos operacionais,
capacitações constantes com base nas atualizações publicadas que envolvam fatores estruturais
e psicossociais que promovam a oferta adequada de EPIs, o suporte psicológico, cursos on-line
e apliquem métodos para valorização profissional.

Considerações finais

Conclui-se que a necessidade de adequação da prática do cuidado pelos serviços de


saúde aos novos paradigmas assistenciais e estruturais vigentes, imposta pela pandemia da
doença COVID-19, foi suprida eficientemente pelo processo de educação continuada oferecido
pelo Hospital Universitário onde as enfermeiras da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica

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vivenciaram a experiência da assistência ao paciente pediátrico com suspeita ou confirmação
da doença viral supracitada. Ressalta-se que todas as medidas adotadas para a reorganização
dos serviços e capacitação das enfermeiras contribuíram sobre a maneira para atender as
demandas diárias, relacionadas com o conhecimento teórico-prático de assistência, bem como
para criação de novos fluxos assistenciais. Tais medidas permearam o gerenciamento de
enfermagem, assegurando a qualidade e humanização da assistência direta ao paciente
pediátrico, garantindo a segurança do paciente/familiar, das enfermeiras e da equipe; além disso
incorporaram padrões dinâmicos a assistência direta e indireta sob a perspectiva de gestão dos
serviços de enfermagem.
Com relação à demanda emocional enfrentada pelas enfermeiras no contexto
supracitado, a instituição disponibilizou suporte psicológico que minimiza de forma
significativa as fragilidades emocionais referentes ao processo saúde-doença alterado. Este
suporte contribuiu para atenuar o impacto negativo da pandemia na saúde mental das
enfermeiras que viviam rotineiramente o desgaste emocional causado pelo medo, estresse e
exaustão decorrentes da atividade laboral. Além do suporte psicológico, a aplicação de critérios
com finalidade de promover valorização, motivação, apoio e qualificação das enfermeiras
constituíram estratégias fundamentais para proteção da saúde física e mental destas
profissionais no exercício de sua profissão.
A partir desta situação vivenciada com a pandemia da COVID-19, ficou evidente a
importância de se traçar uma estratégia específica para a atuação das enfermeiras respaldando
a categoria no dimensionamento apropriado de pessoal a fim de se evitar sobrecarga de trabalho,
com a promoção de frequentes treinamentos com base nas atualizações vigentes, oferta de todos
EPIs necessários e em quantidade suficiente, disponibilização de atendimento psicológico e
utilização de métodos que foquem também na valorização profissional.

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FREITAS, B.H.B.M. et al. O trabalho emocional em enfermagem pediátrica face às


repercussões da COVID-19 na infância e adolescência. Revista Gaúcha de Enfermagem, v.
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presente, v. 3, p. 225-249, 2020. Disponível em:
https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/a-pandemia-de-covid-
19_intersecoes-e-desafios-para-a-historia-da-saude-e-do-tempo-presente.pdf. Acesso em 28 de
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Disponível em https://www.paho.org/pt/covid19. Acesso em 28 de junho de 2021.

SÁ, D.M. Especial Covid 19: Os Historiadores e a Pandemia. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo
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TOMADA DE DECISÃO DO ENFERMEIRO FRENTE AOS CONFLITOS E
DILEMAS ÉTICOS VIVENCIADOS NA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO
CONTEXTO HOSPITALAR

Analu Sousa de Oliveira1


Elaine Guedes Fontoura2
Ayla Melo Cerqueira3
Déborah de Oliveira Souza4
Íris Cristy da Silva e Silva5
Marluce Alves Nunes Oliveira6

Resumo: A violência obstétrica proporciona de maneira indireta ou direta à apropriação


inadequada dos processos corporais e reprodutivos das mulheres. Na prática hospitalar o
enfermeiro costuma se deparar com situações de negligência, como a violência obstétrica,
propiciando o surgimento de conflitos e dilemas éticos, que quando não são resolvidos,
corroboram para o surgimento do sofrimento moral, situação caracterizada, pela incapacidade
de realizar a ação correta a ser seguida, devido a razões e circunstâncias que ultrapassam a sua
competência. Para que ocorra uma tomada de decisão, é preciso que haja reflexão, ponderação
e discussão, tendo como base o conhecimento científico, os princípios éticos e a deontologia
(normas ou regras de conduta agregadas). Diante da atual relevância do tema objetivou-se

1
Discente. Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista
CNPq do Projeto de Pesquisa “Conflitos e dilemas éticos vividos pelos profissionais de saúde no contexto
hospitalar” e membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Saúde – UEFS, Feira de Santana,
Brasil. Email: [email protected]
2
Enfermeira. Doutora. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UEFS. Vice-coordenadora do Projeto
de Pesquisa “Conflitos e dilemas éticos vividos pelos profissionais de saúde no contexto hospitalar” e pesquisadora
do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Saúde – UEFS, Feira de Santana, Brasil.
3
Discente. Curso de Graduação em Enfermagem da UEFS. Bolsista FAPESB do Projeto de Pesquisa “Conflitos
e dilemas éticos vividos pelos profissionais de saúde no contexto hospitalar” e membro do Núcleo Interdisciplinar
de Pesquisa e Estudos em Saúde – UEFS, Feira de Santana, Brasil.
4
Discente. Curso de Graduação em Enfermagem da UEFS. Bolsista CNPq do Projeto de Pesquisa “Conflitos e
dilemas éticos vividos pelos profissionais de saúde no contexto hospitalar” e membro do Núcleo Interdisciplinar
de Pesquisa e Estudos em Saúde – UEFS, Feira de Santana, Brasil.
5
Discente. Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista
CNPq do Projeto de Pesquisa “Conflitos e dilemas éticos vividos pelos profissionais de saúde no contexto
hospitalar” e membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Saúde – UEFS, Feira de Santana,
Brasil.
6
Enfermeira. Doutora. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UEFS. Coordenadora do Projeto de
Pesquisa “Conflitos e dilemas éticos vividos pelos profissionais de saúde no contexto hospitalar” e pesquisadora
do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Saúde – UEFS, Feira de Santana, Brasil.

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conhecer os conflitos e dilemas éticos vivenciados pelos enfermeiros frente à tomada de decisão
na situação de violência obstétrica e analisar a conduta ética dos enfermeiros perante situações
de violência obstétrica. Trata-se de um estudo qualitativo. A coleta de dados foi realizada
através de uma entrevista semiestruturada com cinco enfermeiras do centro obstétrico de um
hospital especializado, público, situado no município de Feira de Santana na Bahia, no período
de novembro de 2019 a janeiro de 2020. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Estadual de Feira de Santana com parecer nº 2.227.332. Para a análise foi utilizada
a análise de conteúdo de Bardin, onde emergiram quatro categorias: “Situações de Violência
Obstétrica”, “Conflito ético”, “Dilema ético” e “Tomada de decisão”. Os relatos demonstram
que as profissionais de Enfermagem não concordam com a realização de procedimentos
invasivos no momento do parto, e que devido à ausência de informação, muitas pacientes não
conseguem reconhecer situações de violência obstétrica. A percepção das profissionais acerca
dos conflitos e dilemas éticos em situações de violência obstétrica revelada nos discursos de
diferentes formas, denotam que as enfermeiras do centro obstétrico vivenciam frequentemente
situações conflituosas que exigem uma tomada de decisão, e afirmam não terem vivenciado
situações com dilemas éticos. De acordo com o que foi analisado, a compreensão das
enfermeiras quanto ao significado da palavra conflito foi equivocada, o que revela a necessidade
de um conhecimento teórico mais amplo. Quanto ao significado da palavra dilema as
enfermeiras desvelaram uma maior compreensão, apesar de não haver nenhum relato sobre a
vivência do mesmo durante a prática hospitalar. Conclui- se que a resolução das situações
conflituosas e dilemáticas está fundamentada não só no conhecimento teórico, mas também na
autonomia da enfermeira e na sua capacidade de tomar decisões.

Palavras-chave: Ética; Enfermeiros; Tomada de decisão; Centro Obstétrico; Violência


Obstétrica.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
Diante dos recentes avanços tecnológicos e científicos, surgem inúmeros desafios no
campo da ética, o que corrobora no surgimento de dilemas e conflitos no ambiente de trabalho.
No contexto hospitalar, os enfermeiros são constantemente confrontados para a tomada de
decisões éticas (NORA et al., 2016).
De acordo com (PEREIRA et al., 2017, p. 13092) “Os conflitos éticos envolvem
discordâncias entre o certo e errado, desavença de opiniões, e, por conseguinte interferem no

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curso do trabalho”. Diferente dos conflitos, “um dilema configura-se quando os agentes se
encontram diante de escolhas morais difíceis, isto é, duas ações impossíveis de serem realizadas
ao mesmo tempo [...]” (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2014, p. 42).
Diante de situações dilemáticas e conflituosas, a ética, cuja raiz etimológica deriva do
grego “ethos”, e que passa a significar através de Heidegger, comportamento, costumes, hábitos
e caráter. Tem como função orientar a conduta humana, libertando-a do preconceito, da
arrogância e da violência (PEDRO, 2014).
Segundo Matoso (2018, p.48), a violência obstétrica (VO), refere-se a “qualquer ato ou
intervenção desnecessária para com a mãe ou bebê realizado pelos profissionais da área da
saúde”, e proporciona de maneira direta ou indireta à apropriação inadequada dos processos
corporais e reprodutivos das mulheres, o que reflete numa perda de autonomia, diante do
desrespeito aos seus direitos, impactando de maneira negativa na sua vida (SAUAIA; SERRA,
2016).
Na prática hospitalar o enfermeiro costuma se deparar com situações de negligência,
como a VO, propiciando o surgimento de conflitos e dilemas éticos, que quando não são
resolvidos, corroboram para o surgimento do sofrimento moral, situação caracterizada, pela
incapacidade de realizar a ação correta a ser seguida, devido a razões e circunstâncias que
ultrapassam a sua competência (DALMOLIN et al., 2014).
Para que ocorra uma tomada de decisão, é preciso que haja reflexão, ponderação e
discussão, tendo como base o conhecimento científico, os princípios éticos e a deontologia
(normas ou regras de conduta agregadas). Portanto, é de suma importância que as decisões
tomadas pelo enfermeiro frente à VO, reflitam em um cuidado intersubjetivo e integral no que
tange os cuidados obstétricos, de acordo com o seu dever profissional e ético.
É perceptível a atual relevância do tema, sendo o estudo da VO e da ética uma
conjectura necessária na matriz curricular dos cursos de graduação que englobam a área da
saúde, em especial, a Enfermagem. Pois, enfermeiras obstetras, tem como uma de suas funções

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o cuidado e a assistência integral à mulher gestante, antes, durante e após o trabalho de parto.
E diante do exposto, objetivou-se conhecer os conflitos e dilemas éticos vivenciados pelos
enfermeiros frente à tomada de decisão na situação de violência obstétrica, e analisar a conduta
ética dos enfermeiros perante situações de violência obstétrica.

Métodos
Esta pesquisa está inserida no projeto “CONFLITOS E DILEMAS ÉTICOS VIVIDOS
NO CUIDADO DA EQUIPE DE SAÚDE NO CONTEXTO HOSPITALAR”, Resolução
CONSEPE 016/2018, cujo objetivo é compreender a percepção da equipe de saúde sobre
conflitos e dilemas éticos vividos no cuidado da equipe de saúde no contexto hospitalar.
Para atingir o objetivo optou-se por realizar uma pesquisa com abordagem qualitativa
descritiva, que proporciona trabalhar com questões mais particulares; ela se preocupa com um
nível de realidade que não pode ser quantificado (MINAYO, 2011). Portanto para compreensão
dos conflitos e dilemas éticos vivenciados pelos enfermeiros frente à tomada de decisão na
situação de violência obstétrica, foi realizada uma pesquisa qualitativa descritiva, por trabalhar
com um universo de significados e oferecer a oportunidade do pesquisador de entender e
explorar as questões relacionadas à pessoa e sua prática.
O estudo foi desenvolvido no Centro Obstétrico (CO), com cinco enfermeiras de um
hospital especializado, público, situado no município de Feira de Santana-BA. E a coleta de
dados aconteceu entre novembro de 2019 e janeiro de 2020 por meio de uma entrevista
semiestruturada gravada.
Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ser enfermeiro do CO, estar
trabalhando na assistência à mulher em processo parturitivo no CO; estar em atividade no CO
há no mínimo por três meses.
O primeiro contato foi com a enfermeira Coordenadora do setor de CO, que possibilitou
o acesso aos enfermeiros. A autonomia dos participantes e a declaração de interesse em

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participar do estudo foram mantidas. Após conhecimento das informações fornecidas, leitura e
compreensão das informações constantes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) que foi assinado para a realização da entrevista.
As entrevistas foram realizadas em um local reservado e livre de interrupções, onde as
participantes se sentiam confortáveis. As mesmas foram agendadas individualmente, conforme
a disponibilidade dos enfermeiros do CO que desejaram participar. Cada entrevista teve uma
duração de aproximadamente 10 minutos.
Teve como questão norteadora: Comente a sua compreensão sobre conflito e dilema
ético relacionado com a violência obstétrica? E questões de aproximação: Fale-me sobre uma
situação de acompanhamento da mulher em situação de violência obstétrica, e sua tomada de
decisão? Comente sobre que estratégias utiliza para proporcionar cuidados à mulher em
situação de violência obstétrica?
As entrevistas foram transcritas na íntegra. A confidencialidade e o anonimato foram
assegurados mediante uso de pseudônimos (enfermeiro 1; enfermeiro 2; enfermeiro 3;
enfermeiro 4; enfermeiro 5) conforme a ordem em que aconteceu a entrevista. Para a
concretização do processo de análise foi utilizado análise de conteúdo de Bardin como modo
de revelar a síntese da estrutura das categorias empíricas. A análise de conteúdo é um “conjunto
de técnicas de análise das comunicações” (BARDIN, 2016, p. 37). Para o autor, será um único
instrumento, marcado com uma grande disparidade de formas e adaptável a um vasto campo de
aplicação.
A análise dos dados obedeceu à seguinte ordem cronológica, segundo Bardin (2016): A
pré-análise constituída pela fase de organização, que correspondeu a um período de intuições,
com o objetivo de tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais. Terá início com a escolha
dos documentos que serão submetidos à análise com a intenção de fundamentar o referencial
teórico e a interpretação final.

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Foi realizada na pré-análise através de uma leitura flutuante dos documentos,
analisando-os a fim de conhecer cada texto. Em seguida, foram escolhidos os documentos
julgados necessários para fundamentar o estudo. Nesse momento de análise foi observada a
regra de exaustividade, isto é, não foi deixado de fora nenhum documento que demonstrasse
ser de importância para a resposta do que foi buscado. Esta regra é completada pela não
seletividade. (BARDIN, 2016).
Na etapa seguinte, exploração do material, fase de análise propriamente dita.
Considerada longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação (saber a
razão por que analisa, e explicitá-la de modo que se possa saber como analisar). (BARDIN,
2016, p. 133). A classificação dos dados foi operacionalizada através da leitura exaustiva e
repetida dos textos, pois através desse exercício foi feita uma apreensão das estruturas de
relevância a partir dos documentos pesquisados. Nessas estruturas estão contidas as ideias do
autor, e com isso foram identificadas as áreas temáticas. A análise dos dados possibilitou uma
reflexão sobre o material empírico e analítico, de forma que o mesmo foi decomposto em
categorias empíricas. Onde foi utilizado para análise dos empíricos, os valores éticos e a
legislação de enfermagem.
Na última etapa da análise de conteúdo, tratamento dos resultados, a inferência e a
interpretação, foram realizadas as inferências e interpretações a propósitos dos objetivos
propostos.
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Estadual de Feira de Santana (UEFS), CAAE: nº 71618817.6.0000.0056. Parecer do CEP nº
2.227.332. Os procedimentos adotados na pesquisa estão em conformidade com as orientações
éticas previstas na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, a qual apresenta normas
regulamentadoras e diretrizes de pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2013).

Resultados e discussão

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Caracterização das Participantes
As entrevistas foram realizadas com 5 enfermeiras que atuam no CO de um Hospital da
Mulher na cidade de Feira de Santana, com no mínimo 3 meses de experiência. A idade das
entrevistadas variou entre 27 a 38 anos, dentre elas a profissional com maior tempo de formação
tem 9 anos de formada e a com menor tempo tem 3 anos. Todas são especialistas em obstetrícia,
e duas delas não possuem outro vínculo empregatício. A percepção das profissionais acerca dos
conflitos e dilemas éticos em situações de VO revelada nos discursos de diferentes formas,
encontram-se organizadas em 4 categorias a seguir.

Categoria 1 - Situações De Violência Obstétrica


A primeira categoria sobre as situações de violência obstetrícia tem duas subcategorias:
“Realização de intervenções desnecessárias durante o trabalho de parto” e a “Falta de
informações da parturiente”.
O atual modelo de assistência obstétrica, denominado tecnocrático, onde intervenções
desnecessárias se travestem de boas práticas, faz com que a parturiente deixe de ser a
protagonista do próprio parto, e torne-se vulnerável a agressões(BRANDT et al., 2018), e cabe
à equipe de enfermagem oferecer suporte psicológico, através de uma escuta qualificada, sem
julgamentos, e prestar as orientações necessárias (OLIVEIRA; SILVA, 2019).
I Realização de intervenções desnecessárias durante o trabalho de parto
A VO se revela quando um profissional obstetra medicaliza o parto, mesmo este sendo
considerado um evento fisiológico, quando a parturiente perde a sua autonomia e tem os seus
direitos violentados, através de procedimentos invasivos, danosos à integridade física e
emocional da mulher. Nesse cenário é comum a realização de práticas mecanizadas,
fragmentadas e desumanizadas (LEAL et al., 2018).
Essa questão de violência obstétrica é uma questão que depende muito do
entendimento de vários profissionais, tem profissional que não vai entender
como violência obstétrica .Exemplo uma manobra de Kristeller, mas que
naquele contexto às vezes foi necessário fazer [...] E3 grifo nosso
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Presenciar um obstetra realizando manobra de Kristeller durante o parto e
acusando a gestante de que se o bebê não nascer, seria culpa dela, que não
estava fazendo a força correta [...] E4 grifo nosso
Eu tive recentemente uma paciente que tava em um período expulsivo muito
prolongado, [...] tava com duas horas de dilatação completa, e uma hora de
período expulsivo [...] eu acionei a equipe médica para dar um suporte, [...] a
cabeça do bebê não tinha progressão nenhuma, apesar de já estar ali na vulva,
[...] o médico veio, fez uma episio, fez Kristeller, fez um monte de coisas.
E5 grifo nosso.

Os relatos demonstram que as profissionais de enfermagem não concordam com a


realização de procedimentos invasivos no momento do parto, a exemplo da manobra de
Kristeller, que mesmo sendo uma prática desaconselhada no ambiente hospitalar ainda ocorre
com frequência. Constitui-se como um método que desrespeita a integridade física da
parturiente, expondo a mãe e o recém-nascido a riscos de complicações a saúde, como lesões
nos órgãos internos, hematomas, fraturas, entre outros, além de gerar violência psicológica à
gestante (LEAL et al., 2018; SAUAIA, SERRA, 2016).
Além de exemplificar uma situação de VO, a enfermeira E4, relatou a sua atitude diante
de uma situação como essa.
[...] Informei ao mesmo que se ele permanecesse fazendo a manobra, que eu
não ficaria na sala, pedi desculpas a paciente e me retirei, depois escrevi um
relatório e entreguei na ouvidoria. E4

A atuação do enfermeiro na advocacia do paciente ainda é uma prática incomum no


Brasil, porém esta é uma atitude importante, que emerge como uma obrigação moral do
profissional de enfermagem, e que se configura como uma estratégia de enfrentamento não só
da VO, mas de todas as situações em que paciente tem os seus direitos violados (PENNA;
OLIVEIRA, 2017).

II Falta de informação da parturiente


Nesses relatos as enfermeiras obstetras (E4 e E5) retratam que muitas pacientes não
conseguem reconhecer a VO, devido à ausência de informação. Portanto, compreendem que
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todos os procedimentos os quais estão sendo submetidas, irão ajudar a salvar a vida dela e a do
bebê, tendo a figura do médico como um herói (LEAL et al., 2018).
Sendo a falta de informação, por parte da paciente o fator que une todos os tipos de
violência obstétrica, visto que contribui para a perda da autonomia feminina no momento do
parto (ALVARENGA; KALIL, 2016).
É um tema que abrange muito conflito e dilema ético, devido a mulher
enfrentar o problema da sua autonomia ser negada, devido uma relação
médico-paciente onde ele acredita que é dotado de conhecimento. E4
grifo nosso
É complicado, porque [...] depois que ela pariu, depois que ela sofreu tudo
isso, as pacientes não se reconhecem como sendo violentadas, ela acabou
agradecendo, endeusando o médico, agradecendo, que graças a Deus ele foi
um anjo que salvou ela, [...] então a paciente acaba vendo você como a parte
ruim da história, alguém que tá querendo forçar que ela parisse e ela não tinha
condições de parir [...] E5 grifo nosso

Portanto, há uma dificuldade de reconhecimento pelas parturientes da vivência da VO,


tratando-se de uma questão complexa e influenciada por diversos fatores. O reconhecimento do
direito das mulheres à escolha e recusa informada e de não serem submetidas a intervenções
não consentidas é recente, e ainda não faz parte da cultura dos profissionais obstetras ou das
mulheres (LANSKY et al., 2019).

Categoria 2 - Conflito Ético


A categoria conflito ético foi composta por duas subcategorias a compreensão de
conflito e os conflitos entre a equipe multiprofissional.
O conflito pode ser compreendido “como a quebra da ordem, uma experiência negativa,
gerada por erro ou falha” (AMESTOY, et al., 2014, p.80). Percebe-se que o conflito no CO
surge na rotina das relações interdisciplinares entre a equipe de saúde, e costuma estar
relacionado a diferentes opiniões sobre ações realizadas durante o parto, principalmente entre
a equipe médica e a equipe de enfermagem.

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I Compreensão sobre o conflito
Ao abordarem a compreensão sobre o conflito, as enfermeiras se expressaram de forma
equivocada em determinados momentos. Elas vivenciam conflitos por estarem frente a
diferentes possibilidades e pelo ambiente do CO ser dinâmico que atende a procedimentos
complexos exigindo dos mesmos escolhas rápidas, a fim de evitar danos a paciente e ao bebê.
Conflito trata-se de um impacto, de uma ação que envolve a todos E4 grifo
nosso.
Conflito são essas coisinhas que acontecem no dia a dia, que você tenta
resolver questões e que tenta que fique melhor para todo mundo né, são os
conflitos do dia a dia mesmo, e que com uma boa conversa, um bom diálogo
a gente acaba resolvendo E3 grifo nosso.
Conflito [...] questão pessoal, questão de discordância de conduta. E5
grifo nosso.
[...] conflitos acontecem, e de maneira ética, a base de protocolos, a gente
acaba resolvendo essas questões E2 grifo nosso.

As enfermeiras (E3, E4 e E5) não souberam expressar o autêntico significado da palavra


“conflito”. Portanto, como a enfermeira E2 traz no seu relato, faz-se necessário o
aprimoramento do conhecimento teórico da equipe de enfermagem sobre o assunto, para que
saibam identificar situações conflituosas e resolvê-las com respaldo nos princípios éticos, tendo
como base o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (OLIVEIRA; SANTA ROSA,
2016).

II Conflitos entre a equipe multiprofissional


O trabalho na área da saúde é complexo, por isso é comum o aparecimento de conflitos
entre as diversas categorias profissionais. Entrar em conflito é algo inerente ao ser humano,
visto que cada indivíduo possui suas concepções, crenças, atitudes, senso de ética, moral,
costumes, etc. É comum que ocorra a divergência de opiniões, e muitas vezes, a situação
conflituosa foi necessária para a construção de novos conceitos (LEAL et al., 2018).

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[...] se tem alguma situação de conflito a gente tenta negociar entre a equipe,
nunca é uma coisa autoritária, uma coisa assim: eu mando, você obedece,
eu decido, você obedece, não, é uma coisa que é feita em conjunto E3 grifo
nosso.
[...] às vezes a gente tem uma discordância de conduta da equipe, do
médico por exemplo, o médico prescreve uma medicação que a gente acha
que não é o momento de introduzir aquela medicação para a paciente e aí eu
acho que o conflito está direcionado a isso, as vezes a gente tem uma
discordância E5 grifo nosso.

Em sua fala, a enfermeira E5 desvela que a discordância entre os profissionais da equipe


é algo que acontece algumas vezes. A exemplo do médico obstetra que ao agir de acordo com
o discurso médico hegemônico, toma decisões egocêntricas e sem o apoio da equipe de saúde,
principalmente a equipe de enfermagem.
Enquanto a enfermeira E3 retrata em sua fala a maneira como a equipe de saúde do CO
costuma resolver as situações conflituosas, através de uma tentativa de negociar em conjunto
com todos os profissionais envolvidos. Ressaltando que a resolução dos conflitos influencia
positivamente a organização do trabalho e favorece a construção de objetivos comuns,
intensificando a articulação entre os profissionais e a atuação da equipe multiprofissional
(SANTOS et al., 2016).

Categoria 3 - Dilema Ético


A categoria sobre o dilema ético foi composta por duas subcategorias conhecimento
sobre o dilema e ação da enfermeira frente a um dilema ético.
Os dilemas ocorrem quando emerge uma situação em que há duas opções de escolha, e
ambas ferem os princípios éticos. No dilema ético o profissional de enfermagem vivencia uma
situação limite, a qual impõe o desafio de ser obrigado a escolher entre dois, e somente dois,
incompatíveis cursos de ação (OLIVEIRA, SANTA ROSA, 2015; NORA et al., 2016).

I Conhecimento sobre dilema

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Os dilemas éticos permeiam rotineiramente a prática dos profissionais da equipe
obstétrica. Portanto, a capacidade de reconhecimento de um dilema é essencial, pois só assim a
equipe de enfermagem poderá subsidiar a tomada de decisões (OLIVEIRA et al., 2017).
Dilema ético é uma linha muito tênue do que você precisa fazer e o que
você pode fazer, dentro da enfermagem a gente tenta sempre trabalhar da
melhor forma possível, respeitando aqueles nossos princípios de ética [...] E3
grifo nosso.
Dilema ético é quando infringe regras que irão impactar na pessoa ou
sociedade E4 grifo nosso.
O Dilema está mais relacionado a uma questão quando a gente não tem bem
uma resolução [...] fica numa situação que expõe tanto um lado quanto o
outro, e não tem aquela coisa bem definida do que você vai fazer E5 grifo
nosso.

Observa-se que as enfermeiras já vivenciaram situações de dilemas éticos e as mesmas


têm diferentes concepções sobre o seu significado. O reconhecimento de um dilema, configura-
se como um passo importante na construção de profissionais éticos, visto que por diversas vezes
situações dilemáticas passam despercebidas ou são confundidas com conflitos. Assim sendo,
apesar de demonstrarem compreensão sobre o conceito do dilema, as enfermeiras do CO devem
aprimorar o seu discernimento, para que se sintam mais seguras na identificação e na resolução
de um dilema (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2016).

II Ação da enfermeira diante de um dilema


Para a prevenção desses dilemas éticos por parte da equipe de enfermagem, é necessário
o desenvolvimento da autonomia e o conhecimento do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem, a fim de prestar uma assistência com responsabilidade e ética (OLIVEIRA et al.,
2017).
[...] Eu por exemplo nunca passei por nenhum conflito, nenhum dilema ético,
tá. Mas creio eu que se um dia eu passasse, seria algo bem difícil de resolver,

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porque uma coisa é o que você aprende, outra coisa é o que você vivencia,
então são situações completamente diferentes e que precisa tentar dentro de
um contexto mais correto possível [...] E3 grifo nosso.

Em sua fala a enfermeira E3 revela nunca ter vivenciado uma situação dilemática, mas
que buscaria resolvê-la da forma mais correta possível, caso vivesse. Sendo importante referir
que a resolução dos dilemas que permeiam o cotidiano da profissão perpassa pela identificação
do mesmo, e por uma análise ética, onde é importante um posicionamento de forma crítica para
que a tomada de decisão seja subsidiada pela ética (SILVA, et al., 2018).

Categoria 4 - Tomada De Decisão


A categoria sobre tomada de decisão foi composta por duas subcategorias: a “Relação
com a equipe multiprofissional” e a “Autonomia da enfermeira''. Como já foi dito, em seu
cotidiano o profissional de enfermagem do CO é constantemente confrontado com a
necessidade de uma tomada de decisão ética. A tomada de decisão decorre da escolha, entre
duas ou mais alternativas, a fim de que se chegue a um resultado (NORA et al., 2016;
OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2015).

I Relação com a equipe multiprofissional


No CO, o enfermeiro obstetra se relaciona com profissionais heterogêneos. Sendo o
diálogo entre a equipe multiprofissional essencial para uma assistência qualificada. O
enfermeiro é tido como o profissional que propicia a comunicação entre a equipe, portanto,
cabe ao mesmo desenvolver a capacidade de comunicação desde a graduação, e colocá-la em
prática no ambiente de trabalho, facilitando por exemplo, a tomada de decisão (OLIVEIRA;
SANTA ROSA, 2015).
Destarte, a construção da decisão ética na enfermagem também envolve toda a equipe,
possibilitando que diferentes profissionais, além do responsável pela decisão, contribuam com

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os seus conhecimentos e experiências na elaboração do melhor curso de ação para a solução do
problema (NORA et al., 2016).
A tomada de decisão [...] é complexa, envolve paciente, acompanhante,
equipe de enfermagem, técnico de enfermagem, [...] até em que momento
a gente pode tá explorando o trabalho de parto normal, tá indicando uma
cirurgia, precisa de equipe de enfermagem dinâmica, conhecimentos em
obstetrícia, e todos os conhecimentos no conselho de ética não tá infligindo
nesses momentos nenhuma lei e nenhum processo durante esse parto e pós-
parto E2 grifo nosso.
[...] a gente vive tomando decisões a todo momento né, então quando a gente
fala em tomada de decisão [...] elas são sempre em conjunto com a equipe
[...] E3 grifo nosso.
[...] a gente tenta decidir isso da melhor forma possível para que fique
melhor para toda a equipe, [...] precisa ser enfáticos nas decisões, [...] tem
muita coisa pra você decidir ou tem um caso específico pra você decidir e se
você não tomar aquela decisão você acaba gerando mais conflitos do que
resoluções [...] E3 grifo nosso.

Segundo as falas das enfermeiras E2 e E3, a tomada de decisão deve ser realizada em
conjunto com a equipe de obstetrícia, pois quanto mais perspectivas forem discutidas, maior a
probabilidade que a decisão ética seja prudente e correta. Além disso, o diálogo com a equipe
torna-se capaz de minimizar situações de conflito ético (NORA, et al., 2016).

II. Autonomia da enfermeira


Autonomia significa guiar-se por normas comportamentais propriamente constituídas.
Dessa maneira, o indivíduo autônomo caracteriza-se como aquele que sabe identificar e
escolher as forças externas para a sua subjetivação (SANTOS, 2016).
A OMS defende a autonomia por parte do profissional de enfermagem, para que este
tenha a liberdade para exercer as suas habilidades, visto que é o mais indicado para o

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acompanhamento de gestantes e partos em situação de risco habitual. Através desse
reconhecimento há um estímulo à autoestima e a confiança dessa categoria, favorecendo o
aprimoramento da autonomia e agindo como estímulo para o poder decisório do profissional
(SANTOS, 2016).
[...] não deixamos nenhum profissional intervir em nossa conduta [...] os
profissionais, respeitam a equipe de obstetrícia do hospital E1 grifo nosso
Acho que é ação, é a forma como a gente conduz a nossa prática diante de
alguma situação [...] conduzir a sua assistência, a sua prática, a sua resolução
de conflitos E 5 grifo nosso
Identificar problemas reais e potenciais, traçar caminhos em busca do
melhor resultado possível E4 grifo nosso

As enfermeiras E4 e E5 compreendem o significado da autonomia no âmbito


profissional, e buscam colocá-la em prática no seu cotidiano, através de ações como: conduzir
a assistência, resolver conflitos, e buscar o melhor resultado possível durante a sua assistência.
Para que ações como essas sejam viáveis, além da autonomia, é necessário o aprendizado
teórico e prático, pois não há como ser autônomo sem ter o conhecimento.
Em contrapartida, a profissional E1 destacou que a equipe de Enfermagem não permite
que interfiram na sua conduta. Sendo válido ressaltar que ao adotar uma postura autônoma o
profissional não deve ultrapassar os limites entre a autonomia e o egocentrismo. além da
autonomia, outros princípios éticos, como a beneficência, a não-maleficência e a justiça, servem
como norteadores para a tomada de decisão ética (NORA, et al., 2016).

Considerações finais
Este estudo possibilitou conhecer a tomada de decisão da enfermeira frente aos conflitos
e dilemas éticos vivenciados em situação de VO em um hospital da mulher da cidade de Feira
de Santana, Bahia.
Ao tecer considerações sobre os resultados encontrados, pode-se inferir que no CO é
comum que ocorram divergências entre a equipe multiprofissional, principalmente com a

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equipe médica, devido ao discurso biomédico hegemônico. Situações como essas tornam-se
ainda mais frequentes em hospitais públicos, onde a falta de informação da parturiente é um
fator que contribui para a prática da VO.
De acordo com o que foi analisado, a compreensão das enfermeiras quanto ao
significado da palavra conflito foi equivocada, o que revela a necessidade de um conhecimento
teórico mais amplo. Quanto ao significado da palavra dilema as enfermeiras desvelaram uma
maior compreensão, apesar de não haver nenhum relato sobre a vivência do mesmo durante a
prática hospitalar.
Conclui- se que a resolução das situações conflituosas e dilemáticas está fundamentada
não só no conhecimento teórico, mas também na autonomia da enfermeira e na sua capacidade
de tomar decisões. Decisões essas que no CO costumam ser tomadas em comum acordo com a
equipe multiprofissional, visando a qualidade do serviço prestado e o bem estar da paciente.
As limitações do estudo ocorreram devido a sua realização em uma única instituição de
saúde, e por constar na literatura científica poucos estudos relacionados ao mesmo.
Contudo, como contribuição, este estudo propôs estratégias de ação diante da VO,
pautadas nos princípios éticos e bioéticos. Incentivando a escolha de posturas éticas e no
desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisão.

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O PROTAGONISMO DO NASF-AB NA REALIZAÇÃO DA CLÍNICA AMPLIADA NA
ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE

Alexandra de Almeida Walter1


Carolina Zuquetto Flôres2
Daniela Pires Santos3
Daiane Magalhães Tolentino4
Lisane Ullrich5
Vânia Olivo6

Resumo: O Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), instituído


pela Portaria 154 de 2008 do Ministério da Saúde, tem por objetivo ampliar as ações e práticas
das equipes de Atenção Básica, proporcionando retaguarda especializada, de forma a aumentar
a resolutividade no cuidado em saúde. As atividades são realizadas por meio de apoio matricial
e do trabalho no território, tendo como subsídio a gestão da clínica ampliada. A clínica
ampliada, por sua vez, é uma das diretrizes que embasam a Política Nacional de Humanização
e se traduz como uma potente ferramenta de qualificação do cuidado proporcionando autonomia
ao usuário, à família, ao serviço de saúde e à comunidade. Ampliar a clínica é integrar a equipe
de saúde em busca de um cuidado de acordo com a singularidade de cada sujeito, por meio da
vinculação do mesmo, levando em consideração a vulnerabilidade, riscos, preferências e
histórias de vida. Assim, o presente relato tem como objetivo evidenciar o quanto as práticas
realizadas por uma equipe de NASF-AB contribuem significativamente para o fortalecimento
da clínica ampliada na perspectiva dos princípios e diretrizes do SUS. A equipe em questão
pertence a um município do interior do Rio Grande do Sul e, atualmente, conta com suporte da
Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) e é composta por profissionais de diferentes núcleos, entre eles, a Psicologia, a
Fisioterapia, a Nutrição, o Serviço Social, a Terapia Ocupacional, a Educação Física e a

1
Nutricionista Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Saúde da Família,
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, Brasil. Endereço eletrônico:
[email protected]
2
Fisioterapeuta Residente no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Saúde da
Família, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, Brasil.
3
Mestre pela UFRGS, Fisioterapeuta na equipe NASF-AB, Prefeitura Municipal de Santa Maria. Santa Maria/RS,
Brasil.
4
Psicóloga, Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Saúde Mental, Universidade
Federal de Santa Maria/ UFSM, Santa Maria/ RS, Brasil.
5
Assistente Social Residente no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Saúde da
Família, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, Brasil.
6
Enfermeira, Coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Saúde da
Família, Universidade Federal de Santa Maria/ UFSM, Santa Maria/ RS, Brasil.
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Fonoaudiologia. Essa equipe de NASF-AB presta apoio a cinco Estratégias Saúde da Família
do município, desenvolvendo ações junto a essas equipes como: discussões de casos;
atendimentos individuais; interconsultas: mobilização de processos de trabalho com educação
permanente em saúde; articulações intersetoriais; realização de projeto terapêutico singular,
entre outras ações em torno da gestão da clínica ampliada. Também desenvolve ações no
território com destaque às visitas domiciliares; aos grupos de promoção de saúde e prevenção
de agravos; à organização de eventos; à corresponsabilização do usuário e família pelo cuidado
por meio de escuta qualificada e educação em saúde. A realização destas ações possibilita
inferir que as mesmas consistem numa tecnologia leve com significativo valor para
potencializar o fazer da clínica ampliada, visto que mobilizam a corresponsabilização do
cuidado pela equipe apoiada e usuário/família, fortalecendo a construção de vínculos essenciais
para a viabilização de um cuidado humanizado e mais próximo do integral. Nesse sentido,
compreende-se que o suporte ofertado pelo NASF-AB às Estratégias Saúde da Família na
realização da clínica ampliada, qualifica e amplia o cuidado longitudinal e a integração das
ações em saúde, através do olhar dos especialistas de diferentes núcleos profissionais que
compõem o NASF-AB. Por fim, torna-se pertinente pensar: será que sem o apoio do NASF-
AB, as equipes de saúde na Atenção Básica conseguiriam realizar todas essas ações que
garantem a concretização da clínica ampliada? E ainda, qual será o lugar de atuação profissional
dos especialistas egressos dos Programas de Residência em Saúde da Família que têm sua
formação no NASF-AB, sem a ocorrência dessas equipes?

Palavras-chave: NASF – AB; Atenção Básica à Saúde; Equipe Multiprofissional; Sistema


Único de Saúde; Estratégia Saúde da Família.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
A Atenção Básica (AB) define-se como um compilado de ações de saúde, individuais e
coletivas, que engloba a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico,
o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde (BRASIL, 2011).
Sendo a principal porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS), a AB deve resolver
80% dos problemas de saúde da população, tendo seu centro na família e na participação ativa
da comunidade e dos profissionais responsáveis pelo seu cuidado (CAMPOS; GUERRERO,
2010).

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Nessa mesma linha, a Estratégia Saúde da Família (ESF) foi estruturada no intuito de
reordenar o modelo de atenção à saúde no SUS e para isso essas equipes têm suas ações
pautadas na garantia de acesso a uma atenção à saúde de qualidade (BRASIL, 2012). Contudo,
as eSFs (equipe Saúde da Família) contam com alguns desafios para exercerem o seu fazer de
uma forma mais eficiente, como a integração à rede assistencial, aumento da resolubilidade,
bem como, a capacidade de compartilhamento e a coordenação do cuidado (FIGUEIREDO,
2012).
Assim, em 24 de janeiro de 2008, o Ministério da Saúde através da Portaria GM no 154,
criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) objetivando ampliar as ações da AB e sua
resolubilidade, apoiando a inserção da ESF na rede de serviços e o processo de territorialização
e regionalização a partir da AB (BRASIL, 2008).
O NASF é uma estratégia inovadora que tem por objetivo apoiar, ampliar,
aperfeiçoar a atenção e a gestão da saúde na Atenção Básica/Saúde da Família.
Seus requisitos são, além do conhecimento técnico, a responsabilidade por
determinado número de equipes de SF e o desenvolvimento de habilidades
relacionadas ao paradigma da Saúde da Família. Deve estar comprometido,
também, com a promoção de mudanças na atitude e na atuação dos
profissionais da SF e entre sua própria equipe (NASF), incluindo na atuação
ações intersetoriais e interdisciplinares, promoção, prevenção, reabilitação da
saúde e cura, além de humanização de serviços, educação permanente,
promoção da integralidade e da organização territorial dos serviços de saúde
(BRASIL, 2009, p. 10).
Pontua-se que posterior a Portaria do MS no 2.436 de 21 de setembro de 2017, que
originou a versão mais recente da Política Nacional de Atenção Básica – PNAB, o NASF passou
a se chamar Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica, NASF-AB (BRASIL,
2017). Posto isso, no decorrer do texto ora a nomenclatura adotada será “NASF” e ora “NASF-
AB”, ao passo que algumas referências são anteriores à Portaria supracitada.

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Em contraposição aos modelos assistenciais que prezam pela lógica curativista,
especializada, fragmentada e individual, a proposta de trabalho do NASF é a de superação desse
padrão no sentido à corresponsabilização e à gestão integrada do cuidado (ANJOS et al., 2013).
O NASF proporciona suporte (clínico, sanitário e pedagógico) às equipes de Saúde de Família
e Atenção Primária (eAP), tendo como princípio inicial o trabalho interdisciplinar e de apoio,
atuando conforme as particularidades de cada equipe e território (OLIVEIRA; BADUY;
MELCHIOR, 2019; BRASIL, 2017).
Destaca-se que o NASF faz parte da AB, contudo não é um serviço que conta com
espaço físico independente. Diante disso, os profissionais vinculam-se ao espaço das unidades
de saúde e do território para realizarem suas práticas (BRASIL, 2014). O NASF é composto
por distintos núcleos profissionais – diferentes dos que constituem as ESF e eAP – e o suporte
é realizado via discussões de casos, intervenções conjuntas e assistência direta aos usuários que
demandam ações especializadas (CAMPOS et al., 2014). O trabalho articulado entre os
diferentes profissionais possibilita além do compartilhamento dos casos, a prática
interdisciplinar, onde os saberes específicos potencializam o campo comum de competências e
ampliam a capacidade de cuidado da equipe (SILVA et al., 2017).
Desde a sua implantação, o trabalho do NASF é orientado pelas diretrizes da AB. Diante
disso, o Núcleo deve apoiar as equipes na produção de um cuidado continuado e longitudinal,
próximo à população e direcionado na lógica da integralidade (BRASIL, 2014). No tocante,
para a organização e o desenvolvimento da prática do NASF, algumas ferramentas tecnológicas
são utilizadas, tais como: o Projeto Terapêutico Singular (PTS), o Projeto de Saúde no Território
(PST) e o Apoio Matricial, orientados pelos princípios da Gestão da Clínica Ampliada
(BRASIL, 2010).
O PTS é comumente desenvolvido em situações mais complexas. É um conjunto de
propostas e condutas terapêuticas geradas a partir da discussão coletiva de uma equipe
interdisciplinar para um ser individual ou coletivo (BRASIL, 2008). Assim, o PTS viabiliza a

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revisão de posicionamentos profissionais e pessoais no trabalho em equipe e junto ao usuário,
o que auxilia na realização de ações que visam transformar a realidade identificada ou
compreendida como problema (MIRANDA; COELHO; MORÉ, 2012).
O PST é uma estratégia das equipes da AB e do NASF para desenvolver ações eficazes
em produção de saúde em um território, com vistas na articulação dos serviços de saúde com
outros setores a fim de investir na qualidade de vida e autonomia dos usuários (BRASIL, 2009).
Como uma ferramenta chave para mobilizar processos nas práticas em saúde, contribui para
criar espaços coletivos de discussão acerca das necessidades de saúde específicas do território,
dos determinantes sociais, estratégias e objetivos para sua execução (NASCIMENTO et al.,
2018).
O trabalho do NASF é orientado pelo referencial teórico-metodológico do apoio
matricial. Esse é descrito como uma forma para produzir saúde, na qual duas ou mais equipes
e ou profissionais se articulam frente a um determinado problema (BRASIL, 2014). O apoio
matricial do NASF para as equipes se faz através do compartilhamento de casos, troca de
conhecimentos, articulação entre os profissionais e deliberação de intervenções, levando em
conta as responsabilidades comuns e específicas das equipes apoiadas (SANTOS; UCHÔA-
FIGUEIREDO; LIMA, 2017).
Tais dispositivos, compõem, por sua vez, a proposta da clínica ampliada, direcionada a
todos os trabalhadores de saúde, no sentido de integrar diferentes saberes e práticas de cada
profissão, na tentativa de minimizar a fragmentação do cuidado. Ampliar a clínica é conciliar
os recortes teóricos e práticos de acordo às necessidades dos usuários (BRASIL, 2009). A
clínica ampliada não desvaloriza nenhum núcleo profissional, ao contrário, integra as diversas
abordagens a fim de possibilitar um cuidado integral, que é necessariamente interprofissional e
interdisciplinar (BRASIL, 2009). Nesse viés, a discussão de casos em equipe, é um dispositivo
clínico e gerencial imprescindível, bem como, esse espaço de construção da clínica, viabiliza o
apoio matricial e, portanto, a atuação dos profissionais do NASF (FIGUEIREDO, 2009).

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Assim sendo, o presente relato de experiência tem como objetivo evidenciar o quanto
as práticas realizadas por uma equipe de NASF-AB contribuem de forma significativa para o
fortalecimento da clínica ampliada, colaborativa e integrada, na perspectiva dos princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Método
O presente artigo constitui-se em um relato de experiência do processo de trabalho de
uma equipe de NASF pertencente a um município do interior do Rio Grande do Sul. Essa equipe
é formada por dois psicólogos, um fisioterapeuta e um assistente social e conta com a
participação de outros sete núcleos de profissionais residentes - Educação Física,
Fonoaudiologia, Psicologia, Fisioterapia, Nutrição, Serviço Social, Terapia Ocupacional -
oriundos de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Estes se
vinculam a essa equipe durante todo o segundo ano da formação, visando fortalecimento do
vínculo longitudinal com as equipes apoiadas e respectivos usuários.
Essa equipe de NASF-AB presta apoio a cinco Estratégias Saúde da Família do
município, situadas em regiões de alta vulnerabilidade, desenvolvendo ações junto a essas
equipes como: participação nas reuniões das eSFs; discussões de casos; atendimentos
individuais; interconsultas: mobilização de processos de trabalho com educação permanente em
saúde; articulações intersetoriais; realização de projeto terapêutico singular, entre outras ações
em torno da gestão da clínica ampliada.
A equipe do NASF e os respectivos residentes vinculados, utilizam algumas estratégias
internas para análise-reflexiva, avaliação e qualificação de seu processo de trabalho como:
utilização de um turno semanal para planejamento das ações, discussão de casos; planejamento
de iniciativas de educação permanente não apenas para as equipes apoiadas mas para a rede de
saúde do município; desempenho no processo de formação dos residentes, via função de
preceptoria com participação regular nas tutorias de campo e de núcleo. Ademais, participam

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de reuniões junto a outras unidades gestoras do município e região - políticas de saúde, grupo
de trabalho integrado acerca das violências; Fórum Permanente de Saúde Mental da Região -,
visando uma maior articulação com outros serviços que compõem a rede, como os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), Centros
de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), escolas, Conselho Tutelar (CT),
CER (Centro Especializado em Reabilitação), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
(APAE), entre outros.

Resultados e discussão

A partir das ações realizadas no dia a dia do NASF-AB e através das práticas
profissionais é possível viabilizar um atendimento qualificado aos usuários dos territórios das
ESFs apoiadas. Esse processo se dá através de várias ações, ferramentas e instrumentos que
possibilitam uma visão ampliada que perpassa vários núcleos profissionais. Sendo assim, a
partir dessas ações se forma a clínica ampliada que possibilita um atendimento voltado para as
singularidades e subjetividades dos usuários e de suas famílias e assim viabiliza uma maior
autonomia no cuidado em saúde. Esse apoio oferecido pelo NASF-AB às Estratégias Saúde da
Família na realização da clínica ampliada, visa qualificar e ampliar o cuidado longitudinal e a
integração das ações em saúde através do olhar multiprofissional.
A clínica ampliada é um instrumento teórico e prático que tem como objetivo contribuir
para uma abordagem clínica no processo do adoecimento e do sofrimento, assim esse
instrumento possibilita ter um olhar para a singularidade do usuário e a complexidade do
processo saúde/doença, permitindo desta forma, enfrentar os conhecimentos fragmentados e
das ações de saúde e seus respectivos danos e ineficiências (BRASIL, 2013).
Assim como no trabalho de SUNDFELD (2010) a mesma reafirma que a clínica
ampliada é prevista através das necessidades dos usuários, sendo realizado a articulação entre
os serviços de saúde e outros setores e políticas públicas, considerados meios para a promoção
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de saúde, por entender que esta se constitui num agenciamento de vetores sociopolítico-
cultural-econômico num mesmo plano de imanência.
Entre as ações realizadas pelo o NASF-AB uma de grande relevância são as visitas
domiciliares (VD), que são realizadas com no mínimo dois núcleos profissionais, possibilitando
conhecer o ambiente onde usuário vive, quais seus vínculos familiares, qual sua rede de apoio,
suas condições de saúde, condições socioeconômicas e suas culturas e crenças. A partir dessas
visitas podemos articular ações conjuntas para maior efetividade do cuidado, tendo um olhar
ampliado para as possibilidades e a articulação de estratégias que proporcionem um cuidado
em saúde dentro das possibilidades do usuário e assim garantindo os seus direitos e acesso à
saúde.
A VD enquanto ato de escuta, atenção e valorização de subjetividades, experiências
prévias, conhecimento adquirido ao longo do tempo e potencial criador dos usuários
pode contribuir para a transformação da realidade e mudança do estado de espírito e
das atitudes das pessoas diante da vida. Tal resultado não é fruto da execução de
procedimentos técnicos ou da vontade de ensinar formas corretas de se viver, mas da
criação de uma dinâmica própria e singular dentro do ambiente domiciliar, alicerçada
na relação de confiança e no compromisso com o respeito à autonomia firmado entre
profissionais e famílias (QUIRINO et al., 2020, p. 268).
A construção da clínica ampliada também se dá pelo apoio matricial para as ESFs, esse
apoio é realizado com frequência, a partir das trocas realizadas em reuniões de equipe e nas
unidades de saúde. Esses espaços são extremamente importantes para os profissionais das ESFs
para que os mesmos tenham maior autonomia e conhecimento para realizar um atendimento
mais qualificado.
Nessa perspectiva Silva, Silva e Oliveira (2020), trazem que a qualificação dos
encaminhamentos, são resultados produzidos pelas intervenções. Esse apontamento tem relação
do NASF com outros níveis de atenção à saúde. Sendo que essa qualificação vem através do
apoio matricial aos trabalhadores das ESF, e com esse processo ocorre o fortalecimento das
ações e a integração entre os níveis de atenção à saúde.
Os resultados das práticas diárias realizadas pela equipe NASF-AB são inúmeros e são
frutos da construção de uma clínica ampliada, orientada pelos preceitos da
interprofissionalidade e ação colaborativa, que se fortifica a partir do esforço dos profissionais
da eSF e do NASF-AB e das articulações das ações e atividades. Esse fazer perpassa pelas
seguintes ações: reuniões de equipe, discussão de casos, visitas domiciliares, realização de
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educação permanente, articulação de rede, atendimentos interdisciplinares e interconsultas,
atendimentos individuais, grupos de promoção e prevenção de agravos de saúde, realização de
projeto terapêutico singular e apoio matricial. Sendo assim, percebe-se a importância do existir-
fazer-ser do NASF-AB na APS, que proporciona um atendimento ampliado e integral
diretamente no território.
Segundo BRASIL (2009), o NASF organiza seu processo de trabalho, tendo como foco
o território sob sua responsabilidade, colocando como prioridade o atendimento compartilhado
e interdisciplinar, com capacitação, responsabilidade compartilhada e troca de saberes, assim
criando experiência para os profissionais que estão envolvidos nesse processo, mediante amplas
metodologias, como o atendimento compartilhado, a discussão e estudo de casos e projetos
terapêuticos.
A realização destas ações possibilita inferir que as mesmas consistem numa tecnologia
leve com significativo valor para potencializar o fazer da clínica ampliada, visto que mobilizam
a corresponsabilização do cuidado pela equipe apoiada e usuário/família, fortalecendo a
construção de vínculos essenciais para a viabilização de um cuidado humanizado e mais
próximo do integral.

Considerações finais
Segundo o artigo 1º da Portaria GM no 154, a qual institui a criação dos Núcleos de
Apoio à Saúde da Família, é um dos objetivos do NASF fortalecer a AB em seu papel de
ordenadora e coordenadora do cuidado na Rede de Atenção à Saúde, para isto previu-se a
ampliação da abrangência, do escopo e da resolubilidade das ações realizadas na atenção básica
a fim de garantir o alcance a este objetivo (BRASIL, 2008).
Neste sentido podemos evidenciar as ações realizadas pelo NASF-AB, já citadas aqui
anteriormente, como um ponto que vem contribuindo constantemente com o fortalecimento da

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AB através da realização do apoio matricial prestado às eSFs, que possibilita a qualificação e
ampliação do cuidado longitudinal através da realização da clínica ampliada.
A clínica ampliada possibilita a criação de meios de escuta e comunicação que
viabilizam a democratização de informações, a efetivação da educação em saúde, a discussão
de casos, além do planejamento, construção e avaliação de projetos terapêuticos de modo
compartilhado. Estes pontos potencializam a qualidade dos serviços prestados através da
integração das ações em saúde e do olhar multiprofissional dos profissionais que compõem o
NASF-AB, além de contribuir para a autonomia dos usuários atendidos na AB.
Torna-se importante pontuar que a prática de clínica ampliada realizada pelo NASF-
AB, conjuntamente as eSFs apoiadas, vem potencializando a extensão das ações e efetivando
os processos de trabalho nas unidades de saúde, tais como as visitas domiciliares, o
acolhimento, as reuniões de equipe, momentos de educação continuada e a resolução dos casos
por meio da discussão, troca de saberes e corresponsabilização entre os serviços e os usuários,
sendo capaz de contribuir com a atenuação das fragilidades existentes na atenção básica.
Porém alguns obstáculos parecem ir na contramão destes processos, um exemplo disto
é o novo modelo de financiamento de custeio da Atenção Primária à Saúde, instituído pela nota
técnica nº 3/2020-DESF/SAPS/MS, o qual confirma a revogação do incentivo financeiro às
equipes de NASF-AB e põe fim no credenciamento de novas equipes provocando inseguranças
com relação ao seguimento deste modelo.
Esta nota técnica concedeu total autonomia aos gestores municipais e estaduais de saúde
na definição dos profissionais que irão compor o serviço de NASF-AB, além de isentar da
obrigatoriedade de inserção destes profissionais no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de
Saúde (CNES), o que, na prática, os torna imperceptíveis aos olhos da gestão pública.
Estas novas medidas não implicam diretamente na extinção deste modelo de atuação,
porém acabam com o financiamento específico a este serviço e liberam os secretários de saúde

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a adotarem o modelo que entenderem ser o mais pertinente, inclusive se optarem por não o
manter.
Com isto teme-se o desmonte de uma política que ao longo dos anos vem beneficiando
os usuários e fortalecendo o Sistema Único de Saúde, além de causar preocupação com o
retorno do modelo “médico centrado” que impossibilita a atuação multiprofissional e fragiliza
o cuidado integral.
Por fim, fica a questão: Será que sem o apoio do NASF-AB, as equipes de saúde na
Atenção Básica conseguiriam realizar todas essas ações que garantem a concretização da clínica
ampliada e do cuidado longitudinal e integral dos usuários?
E ainda, qual será o lugar de atuação profissional dos especialistas egressos dos
Programas de Residência em Saúde da Família que têm sua formação no NASF-AB, sem a
ocorrência dessas equipes?

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ESTÁGIO CURRICULAR DURANTE A PANDEMIA: PERSPECTIVAS DE AÇÕES
NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Raysson Sorin de Souza Neves1


Inês Amanda Streit 2
Mackson Luiz Souza Marinho3
Andrew de Almeida Braga4
André de Araújo Pinto5
Milenna Thamyres Alves do Nascimento 6

Resumo: Desde o ano de 2020, em que o mundo foi pego de surpresa por um inimigo invisível,
as rotinas e modos de viver foram fortemente alterados pelos impactos do vírus da Covid-19.
Os governos, com a intenção de evitar a propagação do novo coronavírus, assumiram medidas
drásticas que impactaram a vida de milhares de cidadãos pelo país inteiro. Estados e cidades
adotaram o sistema de lockdown (fechamento total), obrigando as pessoas a permanecerem de
quarentena em suas casas por tempo determinado. Com o fechamento de escolas e
universidades para o ensino presencial, as instituições tiveram que se adaptar a um novo meio
de ensino para que os alunos não fossem prejudicados devido a pandemia. Então surgiu a ideia
de continuar as aulas por meio do ensino remoto. A disciplina de Estágio Curricular
Supervisionado, especificamente, necessitou também ser adaptada a essa nova metodologia de
ensino. O objetivo deste trabalho consiste em relatar a experiência dos discentes de Educação
Física bacharelado no planejamento, organização e execução de palestras online que abordaram
os temas saúde da mulher, dia da saúde, saúde do trabalhador e consciência ambiental. Para
elaboração e desenvolvimento das palestras do estágio os acadêmicos do sétimo período foram
organizados em grupos de sete a onze integrantes. Cada grupo ficou responsável em realizar
uma função específica quanto à organização do evento. Os grupos alternavam a função de
acordo com o encerramento de cada palestra com um tema específico. Após a elaboração das
atividades dos planos de ação que eram destinadas a cada equipe, elas eram encaminhadas para
a professora, que analisava e proporcionava o feedback final. Após a aprovação, as atividades
eram colocadas em prática. As palestras eram transmitidas na plataforma digital Instagram, por

1
Discente de Educação Física, Centro Universitário do Norte - Uninorte, Manaus, Brasil,
[email protected]
2
Doutora em Ciências do Movimento Humano, Grupo de Estudos e Pesquisas em Atividade Física e Saúde,
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Brasil
3
Discente de Educação Física, Centro Universitário do Norte - Uninorte, Manaus, Brasil
4
Discente de Educação Física, Centro Universitário do Norte - Uninorte, Manaus, Brasil
5
Doutor em Ciências do Movimento Humano, Centro Universitário do Norte - Uninorte, Manaus, Brasil
6
Mestre em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia, Centro Universitário do Norte - Uninorte, Manaus, Brasil
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meio da página oficial do curso de Educação Física da instituição, onde eram conduzidas e
apresentadas por um integrante de um determinado grupo, cuja função era conduzir o evento,
desde a apresentação do palestrante até os agradecimentos e encerramento da live. Constatou-
se, de forma significativa, a importância do planejamento antecipado e do trabalho em grupo,
tanto nas equipes quanto no grupo geral, devendo haver interações e trocas de informações entre
eles para se obter sucesso. O Estágio desenvolvido de maneira remota forneceu incentivo na
busca de experiências que possam complementar a formação tanto profissional como pessoal,
buscando resolver problemas e criando soluções para os imprevistos que surgirão futuramente
ao longo da vida profissional. Considera-se que o Estágio Curricular Supervisionado pode ser
realizado de forma remota, promovendo aprendizagem do acadêmico, quanto a elaboração e
realização de eventos exitosos. Ainda foi possível o autoconhecimento crítico do discente, que
foi desafiado a investigar e problematizar ações de intervenção, o que proporcionou
desenvolvimento de competências técnicas, comportamentais e interpessoais.

Palavras-chave: Educação à Distância; Educação Física; Planejamento; Competência


Profissional; Pandemia.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
Desde o ano de 2020, em que o mundo foi pego de surpresa por um inimigo invisível,
as rotinas e modos de viver foram fortemente alterados pelos impactos do vírus da Covid-19.
Os governos, com a intenção de evitar a propagação do novo coronavírus, assumiram medidas
drásticas que impactaram a vida de milhares de cidadãos pelo país inteiro. Estados e cidades
adotaram o sistema de lockdown, obrigando as pessoas a permanecerem de quarentena em suas
casas por tempo determinado.
Com o funcionamento apenas dos serviços considerados essenciais, e consequentemente
o fechamento de escolas e universidades para o ensino presencial, as instituições tiveram que
se adaptar a um novo meio de ensino para que os alunos não fossem prejudicados devido a
pandemia. Então, surgiu a proposta de continuidade das aulas por meio do ensino remoto. Nesse
contexto, a disciplina de Estágio Curricular Supervisionado, especificamente, necessitou
também ser adaptada a essa nova metodologia de ensino.
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Em meio aos surgimentos desses problemas inesperados, pode-se citar Anversa (2015)
que relata em seu trabalho sobre a importância do estágio curricular para os acadêmicos de
Educação Física Bacharelado, que é de suma magnitude adquirir novas experiências que
contribuam conforme as necessidades apresentadas no contexto social para o desenvolvimento
da formação do discente, como forma de enriquecer a prática profissional. O autor ainda reforça
que é por meio dessa prática pedagógica que o indivíduo tem a oportunidade de alinhar a teoria
com a prática profissional, e que é indispensável não passar por essa experiência na vida
acadêmica.
O estágio curricular acadêmico pode ser vivenciado em diferentes campos de
intervenção, possibilitando ao discente demonstrar seus conhecimentos e habilidades,
fomentando novas competências profissionais. Uma das competências desenvolvidas ao estágio
curricular acadêmico no curso de Educação Física é enfatizar o planejamento, organização e
execução de eventos. Nele deve-se evidenciar um conjunto de ações previamente planejadas,
possuindo uma sequência lógica de atividades para se alcançar resultados no desenvolvimento
e execução das solenidades planejadas, sejam elas palestras, entrevistas com especialistas ou
fórum (POIT, 2006).
Desta forma, o objetivo do presente trabalho consiste em relatar a experiência dos
discentes de Educação Física bacharelado no planejamento, organização e execução de
palestras online, durante o período de estágio curricular supervisionado desenvolvido de
maneira remota.

Método
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do Estágio Curricular Supervisionado
foi a mesma aplicada no trabalho de Silva e colaboradores (2020). Durante o período de estágio
foram realizadas palestras de maneira totalmente remota através da rede social Instagram, entre
os meses de março a junho de 2021. A cada mês era realizada uma palestra com um tema

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específico, abordando assuntos importantes para o público em geral, onde os palestrantes
relacionavam esses temas com a área da Educação Física. Os títulos e temas apresentados foram
os seguintes, respectivamente:
Mês de Março: Saúde da mulher (Síndrome do Ovário Policístico-SOP).
Mês de Abril: Dia da Saúde (Atividade Física no Combate à Covid-19).
Mês de Maio: Saúde do Trabalhador (Ergonomia e Ginástica Laboral na Saúde do
Trabalhador).
Mês de Junho: Consciência Ambiental (Ensinar, Aprender e Preservar: Uma Miríade de
Possibilidades na Educação Física).
Para o desenvolvimento e planejamento das palestras foi utilizado como referência o
Guia para a Organização de Eventos (CESCA, 1997). Os alunos do sétimo período do curso de
Educação Física Bacharelado foram divididos em grupos de sete a onze integrantes, cada grupo
era responsável por desempenhar uma função específica relacionada ao planejamento e
organização dos eventos. As atividades que as equipes eram encarregadas de desempenhar
foram as seguintes: Elaborar Cartaz de divulgação e Marketing; Elaborar Formulário de
Inscrições; Confeccionar certificado de inscritos e palestrante; Mediar entrevista; Elaborar texto
de apresentação profissional do palestrante, elaborando também perguntas para serem
realizadas ao palestrante durante o evento; Contratar o palestrante por meio de carta convite e
promover uma lembrança para o palestrante; e Realizar a avaliação pós-evento. Ao término de
cada palestra os grupos trocam de funções entre si, com o objetivo de que todos pudessem
passar por todas as etapas da construção dos eventos.
As equipes desenvolveram planos de ações contendo as atividades que seriam
implementadas. Elas eram enviadas previamente para serem analisadas e aprovadas pela
professora orientadora. Depois de analisadas e aprovadas, ela nos retornava os planos de ação
e nos fornecia feedback final antes da realização dos eventos para que as atividades fossem
colocadas em prática. As palestras eram realizadas ao vivo na plataforma digital do Instagram,

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onde eram transmitidas através da página oficial do curso de Educação Física da instituição. As
imagens abaixo contêm evidências que comprovam a realização das palestras.

Figura 1 - Palestra do mês de Março Figura 2 - Palestra do mês de Abril


sobre “Síndrome do Ovário Policístico- sobre “Atividade Física no Combate ao
SOP” Covid-19”

Fonte: Arquivo autorizado para Fonte: Arquivo autorizado para


publicação (2021) publicação (2021)

Figura 3 - Palestra do mês de Junho Figura 4 - Palestra do mês de Junho


sobre “Ergonomia e Ginástica Laboral sobre “Ensinar, Aprender e Preservar:
na Saúde do Trabalhador”. Uma Miríade de Possibilidades na
Educação Física”.

Fonte: Arquivo autorizado para Fonte: Arquivo autorizado para


Resultados e discussão
publicação (2021) publicação (2021)

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Na primeira atividade, nossa equipe ficou responsável por realizar a avaliação pós-
evento da palestra com o tema “Síndrome do Ovário Policístico - SOP”, por meio de uma
pesquisa de satisfação. Decidimos elaborar um formulário usando o Google forms. Uma
ferramenta muito prática e de fácil manuseio, que facilita a criação de perguntas, ajuda a obter
os dados de forma rápida e detalhada, e que todos os integrantes do grupo tinham acesso
(MOTA, 2019).
O objetivo do questionário foi para que o público pudesse avaliar o evento e nos indicar
os pontos negativos e positivos, com a finalidade de nos ajudar a melhorar a organização dos
eventos seguintes (MOTA, 2019). Na pesquisa de satisfação não foi solicitado que o público
se identificasse, deixando assim o indivíduo anônimo e confortável para avaliar de forma
crítica. O questionário foi programado para ser preenchido em poucos minutos. Nele, foram
elaboradas um total de 12 perguntas de múltiplas escolhas, com o intuito de não requisitar muito
o tempo do público.
Obtivemos resultados bastante satisfatórios. Na Tabela 1 e 2 abaixo, apresento de forma
detalhada os dados obtidos através deste formulário de pesquisa de satisfação pós-evento.

Tabela 1 - Avaliação de participação no questionário da palestra “Síndrome do Ovário Policístico - SOP” (n=9).

Sim Não
Gostou do tema abordado na Palestra? 100% -
Gostou de como foi ministrada a Palestra? 100% -
O conteúdo ministrado estava de acordo com o tema? 100% -
Você acha o tema útil? 100% -
O que você achou do palestrante? 100% -
Assistiria a outras palestras com este mesmo palestrante? 100% -
A palestra ajudou você a obter novos aprendizados ou conhecimento? 100% -
Você diria que o evento foi interativo 88,9% 11,1%
Você recomendaria para outras pessoas? 100% -
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

O formulário foi preenchido por uma amostra de nove participantes, que se


posicionaram apreciando o tema abordado e útil de ser explanado. Quanto à forma como a
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palestra foi ministrada, conteúdo explorado e recomendação para assistir uma outra palestra
sobre nossa organização, 100% da amostra estimou positivamente esses fatores.
Os participantes também foram questionados em relação ao posicionamento da
palestrante, e indicaram estima a ela, como também relataram que assistiriam outras palestras
com ela. O que nos leva a inferir que os 100% de respostas positivas quanto à obtenção de
novos conhecimentos através da palestra, pode ter sido em virtude de como a palestrante
conseguiu explorar o assunto tratado. Quando questionados sobre a interação no evento 88,9%
(n=8) responderam que “sim”, ou seja, acharam o evento interativo. Referente às funções
organizacionais da palestra e duração do evento, os participantes classificaram como 88,9%
muito boa.
Tabela 2 - Avaliação de participação no questionário da palestra “Síndrome do Ovário Policístico - SOP” (n=9).
Muito Bom Aceitáve Ruim Muito
bom l Ruim
Como você classificaria a palestra? 88,9% 11,1% - - -
(n=8) (n=1)
A duração do evento foi? 88,9% 11,1% - - -
(n=8) (n=1)
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
O baixo número de participantes que avaliou a pesquisa pode ter sido consequência de
alguns fatores: O que pode explicar o número de participantes que avaliaram a pesquisa ser
considerado “baixo” pode ter sido causada pelos seguintes fatores: falta de divulgação mais
acentuada da palestra e do próprio link do formulário por parte do grupo e de toda a equipe em
si; falta de conhecimento dos ouvintes sobre a importância da pesquisa de satisfação e/ou
desinteresse por parte da maioria; e a falta de explicação aos ouvintes ao término da palestra,
relatando justamente sobre a importância que a pesquisa de satisfação pós evento tem para que
o aprimoramento dos eventos seguintes. Pois, é nessa etapa que a equipe organizadora tem a
oportunidade receber o feedback dos participantes sobre o que estava bom e o que precisa ser
acrescentado e/ou melhorado para a realização dos eventos seguintes.

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Para as outras palestras quanto ao interesse em realizar a avaliação após o final do
evento, o público se envolveu um pouco mais, tivemos um número maior de pessoas que
responderam o formulário, muito por conta de o questionário ser solicitado de ser respondido
antes, durante e no final da palestra pelo moderador do evento ao vivo. O link do formulário de
pesquisa de cada evento também era disponibilizado tanto nos comentários das lives ao vivo,
como nos stories e ficavam fixados na bio da própria página do curso de Educação Física da
instituição onde eram transmitidas as palestras. Isso contribuiu de forma significativa na
construção cada vez melhor dos eventos que posteriormente eram realizados.
Na segunda atividade ficamos responsáveis pela Divulgação e Marketing da palestra
com o tema “Atividade Física no Combate ao Covid-19”. Nossa atividade foi elaborar um cartaz
de divulgação, contendo todos os detalhes do evento. A equipe decidiu elaborar um folder
utilizando o aplicativo Canva, que é uma ferramenta que qualquer pessoa pode ter acesso e criar
seu próprio design (LACHMAN; CAMPOS, 2018).
As divulgações foram realizadas nas redes sociais como: Instagram, WhatsApp e
Facebook. O objetivo da divulgação através destas mídias sociais foi alcançar o maior número
de pessoas possível, com a finalidade de atrair a atenção do público para que pudessem
prestigiar o nosso evento, tendo em conta que a quantidade de acesso nesses aplicativos é
imensa, usando essa estatística ao nosso favor (TORRES, 2009).
Vale ressaltar como ponto positivo a satisfação de todos que acompanharam, ficaram
bastante contentes com a palestra, esclareceram várias dúvidas, e puderam entender a
importância dos exercícios ao combate a Covid-19. Destaco também que os ouvintes deixaram
claro nos comentários do evento que o mesmo foi muito bem ministrado pelo palestrante, por
sua forma clara como explanou e detalhou sobre o conteúdo em relação ao tema proposto.
Porém, como em qualquer evento realizado de maneira online tivemos alguns problemas, como
ponto negativo podemos destacar que, apesar do número de pessoas que acompanharam a
palestra (n=32) ser considerado bom, ficou abaixo dos padrões o número de pessoas aguardadas

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no evento, pois o folder teve um alcance considerável em visualizações nas redes sociais e
consequentemente gerou-se uma grande expectativa da equipe em relação a participação do
público.
Na atividade três ficamos responsáveis pela elaboração dos formulários de inscrições, e
confecção dos certificados dos inscritos e palestrante do evento do mês de maio que abordou o
seguinte tema “Ergonomia e Ginástica Laboral na Saúde do Trabalhador”. Novamente,
utilizamos a ferramenta Google Forms para a elaboração do formulário, e o aplicativo Corel
Draw para a criação dos certificados.
Infelizmente por conta de alguns imprevistos com o professor que iria ministrar a
palestra não houve a realização do evento, e por esse motivo, não foi possível gerar os
certificados aos inscritos através do formulário. Mas, ressaltamos que a experiência em ter
elaborado essas atividades gerou aprendizado para a nossa equipe que se empenhou na
execução da tarefa. Por orientação da professora, o nosso grupo encaminhou um e-mail em
nome da turma, lamentando o ocorrido, e pedindo sinceras desculpas a todos os inscritos no
evento.
Na última atividade desenvolvida ficamos responsáveis pela função contatar palestrante
por meio de carta convite para legitimar o compromisso, e promover uma lembrança
representativa para o palestrante. O tema desta palestra foi “Ensinar, Aprender e Preservar: Uma
Miríade de Possibilidades na Educação Física”.
Entramos em contato com vários profissionais da área de Educação Física em busca de
um palestrante que pudesse discorrer sobre o tema proposto. Obtivemos respostas positivas de
todos os profissionais contatados, os quais mostraram-se disponíveis em realizar a atividade,
mas somente um foi selecionado. De imediato, começamos o procedimento da elaboração da
carta convite. Enviamos a carta para o professor eleito através de um e-mail oficializando o
convite para que ele pudesse confirmar de maneira formal a sua participação para ministrar a
palestra.

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Após a realização da palestra, um dos integrantes da equipe se disponibilizou para
efetuar a entrega da lembrança ao professor palestrante, seguindo todos os protocolos impostos
pela Organização Mundial da Saúde (uso de máscara, distanciamento de pelo menos um metro
e meio entre si, uso de álcool em gel, sem contato físico), e assim garantindo a segurança de
ambos. Esse pequeno agrado foi uma forma de demostrarmos agradecimento pela participação
do professor como ministrante da palestra realizada, onde ele mostrou compromisso e
profissionalismo com nossa turma, e com todos que prestigiaram a realização deste evento.
Constatou-se, de forma significativa a importância do planejamento antecipado, pois se
um evento for bem estruturado e tiver um bom planejamento prévio e bem elaborado as chances
de se ter êxito são enormes. Também se destacou a importância do trabalho em grupo, tanto nas
equipes como no grupo geral, devendo haver interações e trocas de informações entre elas para
se obter sucesso. Antes da realização do estágio a turma era dividida em questão de afinidade
para trabalhos que necessitavam a interação entre os grupos. O estágio veio como uma forma
de aproximação, em que todos os discentes buscam se ajudar tanto na própria equipe, como
também ajudavam a resolver questões de outros grupos, e essas experiências chegaram como
um fator muito positivo para todos, pois houve essa união melhorando a interação entre os
acadêmicos e melhorando o ambiente em si.
O estágio desenvolvido de maneira remota forneceu incentivo na busca de experiências
que puderam complementar na formação tanto profissional como pessoal, como por exemplo:
a realização de eventos online, a utilização das mídias sociais para fins acadêmicos
aproveitando a gama de visualizações que essas redes alcançam, experiências novas como:
confeccionar certificados, elaboração de formulários, divulgação e marketing utilizando
ferramentas de fácil manuseio e disponíveis gratuitamente, usando todos esses aspectos
positivos disponíveis hoje em dia ao nosso favor. O estágio forneceu também aos discentes a
busca em resolver problemas e criar soluções para os imprevistos que surgiram durante o

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período de estágio, e isso veio como uma forma de preparar os alunos para os desafios que
surgirão futuramente ao longo da vida profissional.
Conseguimos aplicar de maneira efetiva no desenvolvimento de nosso estágio a mesma
ideia utilizada no trabalho de Silva e colaboradores (2020), onde eles utilizaram palestras online
como forma de desenvolver o estágio a distância. Dessa forma, comprovamos que o estágio
pode sim ter sucesso mesmo sendo desenvolvido de maneira remota.
O ano de 2020 foi o período em que tudo mudou na área de Educação Física, tivemos
que nos reinventar perante os desafios. O American College of Sports Medicine (ACSM) traz
todos os anos artigos que mostram quais serão as tendências do ano. Segundo esse mesmo artigo
do ACSM (2021), a formação continuada que oferece cursos, palestras, workshops, mentorias
e consultorias são tendências para os dias atuais e aparece entre as mais relevantes no mercado.
O profissional de Educação Física para conseguir atingir o público e consequentemente atrair
mais clientes precisa customizar e diferenciar os seus produtos e serviços. O aumento na busca
por produtos na internet aumentou consideravelmente nos últimos anos, tornando- se um
mercado muito abrangente para os dias atuais e futuros. A indústria no âmbito da Educação
Física, hoje está cada vez mais se reinventando em relação a produtos e serviços oferecidos na
internet, através de sites, mídias sociais e aplicativos. Portanto, o profissional de Educação
Física deve se conectar de maneira assertiva com o público, onde deverá proporcionar
experiências de consumo a essas pessoas, procurando se adaptar a esse novo mercado.

Considerações finais
Considera-se que o Estágio Curricular Supervisionado pode ser realizado de forma
remota, promovendo a aprendizagem do acadêmico mesmo com todas as dificuldades e
problemas que surgiram durante esse período dificultoso, onde as instituições e a própria
disciplina de estágio precisaram se adaptar a essa metodologia de ensino totalmente remoto em
meio ao surgimento da pandemia que afeta a rotina de todos. O estágio veio reforçar a

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importância do trabalho em grupo e de uma boa estruturação dos eventos, mostrando o quanto
é eficaz se ter uma organização e um planejamento previamente elaborado e bem estruturado e
que deve ser seguido passo a passo para que se tenha a realização de eventos exitosos. Podem
ser realizados tanto de maneira presencial ou de forma online, o trabalho em grupo sempre se
manifestou como uma ferramenta importantíssima e que deve ser explorada para se obter
sucesso. Ainda foi possível os acadêmicos adquirirem um autoconhecimento crítico frente aos
desafios propostos, sabendo reconhecer seus pontos fortes e limitações sempre buscando
evoluir e melhorar como pessoa e como profissional.
Além disso, o estágio ainda instigou o discente a buscar investigar e problematizar ações
de intervenção, e isso consequentemente proporcionou desenvolvimento tanto de competências
técnicas como, por exemplo: a habilidade de executar as tarefas impostas durante o
desenvolvimento das palestras utilizando várias ferramentas previamente desconhecidas pelos
acadêmicos, e competências comportamentais e interpessoais como: Liderança, Proatividade,
Criatividade, Planejamento, Organização, Comunicação, Empatia e Motivação.
Portanto, a disciplina de Estágio Supervisionado é de suma importância para a aquisição
da prática profissional, pois é no decorrer desse período que o aluno pode colocar em prática
todo conhecimento teórico que adquiriu durante todos esses anos na graduação.
Como mensagem final, relatamos que palestras ou cursos que foquem na formação e
atualização profissional é tendência atual e em tempos futuros. Ressaltamos, também, que o
processo de estruturação de eventos como competência realizada de forma remota na
experiência de estágio, conseguiu desenvolver esse domínio enquanto discente.

Agradecimentos
Em primeiro lugar queria agradecer a Deus por nossa saúde. Queremos deixar o nosso
agradecimento especial para nossa Professora orientadora MSc. Milenna Nascimento, sem ela
não seria possível o desenvolvimento deste trabalho, pelo empenho incansável em sempre

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oferecer o melhor ensinamento para todos. A Professora Dra. Inês Amanda Streit e ao Professor
Dr. André Araújo, agradecemos as contribuições pertinentes e de qualidade que acrescentaram
positivamente na escrita e reflexão científica. Também queremos deixar registrado o
agradecimento público à Comissão do “I Congresso Internacional Interdisciplinar sobre
Políticas Públicas de Saúde – CINPSUS”, por oportunizar o desenvolvimento deste trabalho e
contribuir em nossa formação como discentes em Educação Física.

Referências
ANVERSA, A.L.B.; BISCONSINI, C.R.; TEIXEIRA, F.C.; BARBOSA-RINALDI, I.P.;
OLIVEIRA, A.A.B. O estágio curricular em educação física – Bacharelado. Revista Kinesis,
v. 33, n.1, 2015.

CESCA, C. G. Organização de Eventos: Manual para planejamento e execução. São Paulo:


Summus, 1997.
LACHMAN, M. M.; CAMPOS, W. C. Análise da aplicabilidade da ferramenta Canvas como
estímulo do empreendedorismo aos acadêmicos na UNEMAT – Campus Diamantino. Revista
Estudos e Pesquisas em Administração, vol. 2, n. 3, Dezembro, 2018.

MOTA, J. S. Utilização do google forms na pesquisa acadêmica. Revista Humanidades e


Inovação, v. 6, n. 12, 2019.

POIT, D.R. Organização de eventos esportivos. 4ª edição. São Paulo: Phortes, 2006.
SILVA, A.F.; SOUSA, B.V.O.; PASSOS, B.M.A.; RAMALHO, C.C. O estágio Curricular
durante a pandemia no curso de licenciatura em educação física – Unimontes. Revista
Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 1, n. 1, 2020.

TORRES, C. A bíblia do marketing digital. 1ª edição. São Paulo: Novatec, 2009.

THOMPSON, W.R. Worldwide survey of fitness trends for 2021. ACSM Health and Fitness
Journal. Jan/Fev, 2021.

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CONHECIMENTO SOBRE HIV EM UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DA SAÚDE

Taís Turatti1
Tânia Maria Cemin2

Resumo: O HIV/Aids vem sendo discutido no âmbito da saúde desde a descoberta dos
primeiros casos. Após diversos estudos identificou-se que os métodos de barreira (preservativo
feminino e masculino) são os métodos de prevenção ao HIV mais eficazes. Levando em
consideração o crescente número de casos e o fato de ainda não ter cura, diversas são as áreas
que buscam a conscientização sobre a prevenção ao HIV, dentre elas, a educação, a mídia e a
área da saúde. Os espaços de promoção de saúde têm um papel essencial na divulgação e
conscientização a respeito destes métodos de prevenção, uma vez que são responsáveis por
orientar, tanto jovens que iniciam a vida sexual quanto adultos. Assumindo o papel
formador/educativo das universidades, buscou-se, com esta pesquisa, identificar o
conhecimento que estudantes da área da saúde possuem sobre os métodos eficazes de prevenção
ao HIV. Através de uma pesquisa, realizada de forma online com estudantes de graduação, de
uma instituição de ensino superior privada, foram obtidas respostas de 452 participantes da área
da saúde e 723 das demais áreas. Os cursos que compõem a área da saúde referem-se a:
Medicina, Agronomia, Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem,
Farmácia, Fisioterapia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Estética e cosmética e
Radiologia. Quando questionados sobre os métodos contraceptivos que também são métodos
de prevenção ao HIV, 99,1%(n=448) identificaram o preservativo masculino, 97,6% (n=441) o
preservativo feminino, 3,5% (n=16) a pílula anticoncepcional, 1,8% (n=8) o anticoncepcional
injetável, 1,8% (n=8) o implante anticoncepcional, 2,2% (n=10) o dispositivo intrauterino,
2,7%(n=12) o diafragma e 5,1% (N=23) assinalaram o anel vaginal. Essas informações, se
comparadas com as respostas dos estudantes das demais áreas, o conhecimento da área da saúde
sobre métodos de prevenção não se apresentou significativamente superior, excetuando-se
sobre o anel vaginal que foi escolhido por um percentual menor, 3,3% dos demais estudantes.
A pesquisa identificou que, em sua grande maioria, os universitários possuem o conhecimento
sobre os preservativos, contudo, chama atenção o número de respondentes que assinalaram
outros métodos contraceptivos também como métodos de prevenção ao HIV. Mesmo sendo

1
Psicóloga, mestranda do Mestrado Profissional em Psicologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Caxias
do Sul, Brasil, E-mail: [email protected]
2
Psicóloga clínica-psicanalista, Doutora em Psicologia do Desenvolvimento Universidade Federal Rio Grande do
Sul (UFRGS), projeto: INOVAPSI2- INTERVENÇÕES NA PSICOLOGIA CLÍNICA: integração ensino-serviço e inovação,
Docente em Graduação e Pós-graduação, e pesquisadora na Universidade de Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul/RS, Brasil
290
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18 e 19 de junho de 2021
percentuais baixos, é importante refletir que tais profissionais serão os futuros responsáveis pela
disseminação científica das informações em seus ambientes de trabalho, ou seja, a falta de
conhecimento pertinente sobre o tema pode acarretar orientações equivocadas à população.
Desta forma, é importante que as instituições de ensino permaneçam abordando, em suas
estruturas curriculares, e orientando seus alunos sobre a temática do HIV, uma vez que as
informações indicam que as formas de prevenção ainda não são de conhecimento unânime entre
os universitários da área da saúde.

Palavras-chave: HIV; métodos de prevenção; conhecimento; estudantes universitários; área


da saúde.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
Desde 1981, ano da descoberta dos primeiros casos de Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (Aids) e, posteriormente, a identificação do vírus causador, o Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV), muito tem se discutido tanto na sociedade quanto na ciência
em busca de métodos de prevenção e tratamento para esta epidemia (BRITO; CASTILHO;
SZWARCWALD, 2001).
Mesmo com sucessivos avanços em pesquisas e investimentos em campanhas de
conscientização sobre o tema, o HIV/Aids ainda preocupa o mundo. O Programa Conjunto das
Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) indica que no mundo 39 milhões de pessoas já
morreram em decorrência da Aids (UNAIDS, 2015).
Estes avanços foram significativos em reconhecer outros métodos de prevenção ao HIV
como a profilaxia pré-exposição (PrEP) e a profilaxia pós-exposição (PEP) que, de maneira
geral, consistem na utilização de medicamentos antirretrovirais de forma contínua antes da
exposição ao risco de infecção ou durante o prazo de 30 dias posteriormente à infecção,
contudo, os métodos de barreira: o preservativo feminino e masculino ainda são os métodos
mais acessíveis à população de modo geral, já que são distribuídos gratuitamente pelo Sistema

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Único de Saúde (SUS), possuem menos efeitos colaterais e são mais efetivos se produzidos e
utilizados de maneira correta (BRASIL, 2017).
Dados do Boletim Epidemiológico indicam que no Brasil em 2018 foram identificados
45.078 novos casos de HIV e 38.040 casos de Aids. Se comparados com o ano de 2019 em que
foram diagnosticados 41.909 novos casos de HIV e 37.308 casos de aids percebe-se uma
diminuição nos diagnósticos. Contudo, esses dados podem não demonstrar a real situação do
HIV/Aids no Brasil, uma vez que, em decorrência da pandemia do COVID 19, os profissionais
de saúde foram mobilizados para atendimento desta demanda e a base de dados pode não ter
sido devidamente alimentada, bem como, também em decorrência do COVID 19 as pessoas
podem não estar buscando os serviços de saúde com a mesma frequência, desconhecendo,
assim, sua condição sorológica em relação ao HIV. Desta forma, mesmo que estejam em
redução, os números ainda causam preocupação, principalmente quando se fala de uma doença
que ainda não tem cura. (BRASIL, 2020)
Além disso, o perfil epidemiológico da doença tem mudado. Inicialmente, o HIV/Aids
foi difundido como uma doença que afetava apenas homossexuais, sendo denominada pela
mídia como “Peste Gay” (CARVALHO; AZEVEDO, 2019). No entanto, a ciência foi
constatando que não existiam mais grupos de risco e que estavam ocorrendo processos de
heterossexualização, feminização, interiorização e pauperização da doença. (BRITO;
CASTILHO; SZWARCWALD, 2001)
Na atualidade, não se utilizam mais os termos grupos de risco e comportamentos de
riscos e sim, busca-se reconhecer que existem populações que são vulneráveis ao HIV/Aids.
Deste modo, entende-se que diversos grupos podem ser vulneráveis, retirando o estigma da
doença relacionada à população LGBT e compreendendo que existem diversos fatores que
tornam o sujeito suscetível ao HIV/Aids, dentre eles, aspectos individuais, sociais, econômicos
e estruturais (GARCIA; SOUZA, 2010).

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No Brasil, os jovens são considerados como população vulnerável e prioritária para as
ações de prevenção, sendo que a idade de 20 a 34 anos responde pela maioria dos casos novos
de HIV/Aids. (BRASIL, 2017) Dentre os principais aspectos relacionados a vulnerabilidades
ao HIV, em que os jovens estão expostos, pode-se exemplificar: a iniciação sexual precoce, a
necessidade de aceitação e inserção em grupos sociais, o aumento do consumo de álcool e outras
drogas, e questões de gênero (BEZERRA et al., 2012). Por isso, é necessário identificar e
reconhecer as demandas de cada população considerada vulnerável, para que assim seja
possível planejar e implementar ações voltadas especificamente para essa população(GARCIA;
SOUZA, 2010)
Quando refletimos sobre os universitários, além da maioria destes se encontrarem em
uma faixa etária que os considera como vulneráveis, também é importante ressaltar que serão
futuros profissionais das mais variadas áreas (MOSKOVICS; CALVETTI, 2008). Eles serão
os responsáveis por disseminar o conhecimento e orientar a população sobre o HIV, sendo de
suma importância que os mesmos tenham o conhecimento adequado sobre o tema, tanto para
se prevenir quanto para não incorrer no erro de transmitir informações equivocadas. Garcia e
Souza (2010) corroboram essa preocupação ao citar o exemplo de um homem com ensino
superior que atuava como professor e que ao ser questionado pelas pesquisadoras, afirmou que
o HIV era congênito, sendo assim alguns desenvolveriam a doença e outros não, relatando que
replicava essa informação aos seus alunos após obtê-la em uma palestra, ou seja, estava
divulgando entre seus alunos um conhecimento totalmente equivocado.
Desta forma, essa pesquisa busca compreender se a população universitária possui o
conhecimento adequado sobre os métodos de prevenção ao HIV/Aids, considerando-se que
somente desta forma é possível realizar ações que sejam efetivas na direção da prevenção e
consequente diminuição de casos entre os jovens, bem como, que obtenham o conhecimento
necessário para a atuação enquanto futuros profissionais.

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Método
A pesquisa tem caráter quantitativo e foi realizada com 1176 alunos de graduação de
uma instituição de ensino superior privada localizada na serra gaúcha. A coleta de dados se deu
de forma online, utilizando a ferramenta Google Formulários e foi divulgada através de redes
sociais e e-mails institucionais. Para iniciar o questionário, todos os respondentes tinham que
consentir, de forma digital, com o TCLE (Termo de consentimento livre e esclarecido). Era
critério de exclusão ter menos de 18 anos e estar matriculado somente em cursos livres, cursos
técnicos, cursos de nível médio ou cursos de pós-graduação desta instituição.
O questionário era respondido de maneira anônima, não sendo coletada nenhuma
informação do respondente e contava com 36 perguntas no total. Por se tratar de pesquisa
realizada com seres humanos, antes da realização da mesma, foi analisada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) da Universidade de Caxias do Sul sendo aprovada sob Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 39024920.4.0000.5341. Os dados obtidos
foram tabulados em planilha do Microsoft Excel e analisados por meio de estatística descritiva
através do software JASP.

Resultados e discussão
Ao término da pesquisa foi possível obter respostas de 452 participantes da área da
saúde e 723 das demais áreas, sendo que um participante não respondeu a questão sobre a área
de seu curso. A área da saúde aqui descrita corresponde aos cursos de medicina, agronomia,
biomedicina, ciências biológicas, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia,
medicina veterinária, nutrição, odontologia, estética e cosmética, e radiologia. As demais áreas
estão relacionadas a ciências exatas e engenharias, humanidades, ciências sociais, ciências
jurídicas, e artes e arquitetura
Aqui analisaremos uma parte da pesquisa, focando no conhecimento sobre os métodos
de prevenção ao HIV/Aids. A questão proposta aos universitários era a seguinte: Quais métodos

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contraceptivos que também são métodos de prevenção ao HIV?, sendo uma pergunta que
admitia múltiplas respostas. Em relação aos cursos da área da saúde foram obtidas as seguintes
respostas: 99,1%(n=448) identificaram o preservativo masculino, 97,6% (n=441) o
preservativo feminino, 3,5% (n=16) a pílula anticoncepcional, 1,8% (n=8) o anticoncepcional
injetável, 1,8% (n=8) o implante anticoncepcional, 2,2% (n=10) o dispositivo intrauterino
(DIU), 2,7%(n=12) o diafragma, 5,1% (n=23) o anel vaginal, 0,7% (n=3)o espermicida e 0,2%
(n=1) assinalaram laqueadura e vasectomia. Havia um campo com a opção “outros” que em
que 3 pessoas citaram a PrEP.
Em relação às demais áreas, 97,8%(n=707) identificaram o preservativo masculino,
95,2% (n=688) o preservativo feminino, 3,9% (n=28) a pílula anticoncepcional, 1,2% (n=9) o
anticoncepcional injetável, 1,2% (n=9) o implante anticoncepcional, 2,5% (n=18) o dispositivo
intrauterino (DIU), 2,8%(n=20) o diafragma, 3,3% (n=24) o anel vaginal, 1,0% (n=7)o
espermicida e 0,7% (n=5) a laqueadura e 1,1% (n=8) a vasectomia. No campo “outros”, 2
pessoas citaram a PrEP, 1 pessoa apontou a profilaxia, 1 pessoa a histerectomia e 1 pessoa citou
abstinência.
Os resultados sinalizam que a grande maioria dos estudantes possuem o conhecimento
adequado sobre o uso de preservativos femininos e masculinos como método de contracepção
e também como método de prevenção ao HIV. Este resultado é similar à população em geral,
segundo a Pesquisa de Conhecimentos e Práticas na População Brasileira (PCAP) realizada
com indivíduos de 15 a 64 anos, no Rio Grande do Sul, apontou que 96,5% dos entrevistados
reconhecem que utilizar preservativo é a melhor forma de evitar a transmissão do HIV pela via
sexual (BRASIL, 2016).
Mesmo que represente uma pequena fração das respostas, chama a atenção que os
estudantes universitários de todas as áreas assinalaram diversos outros métodos contraceptivos
como se também fossem métodos de prevenção. É perceptível que neste sentido ainda existe
uma falta de conhecimento sobre o que são os métodos contraceptivos. Resultado similar foi

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encontrado em pesquisa realizada por Leite et al., (2007), com estudantes universitários da área
da saúde que demonstrou que “entre os estudantes da saúde há dúvidas quando se trata das
diversas formas de contracepção disponibilizadas e sua eficácia, ou não, para o controle das
DST's/AIDS” (p.438).
Na Política Nacional de DST/Aids, é apontada a importância dos serviços de saúde
como espaços privilegiados para que os sujeitos possam buscar informações qualificadas sobre
os métodos de prevenção (BRASIL, 1999). Contudo, os resultados desta pesquisa apontam que
alguns universitários e futuros profissionais atuantes na área da saúde não possuem o
conhecimento necessário para transmitir. Além disso, Leite et al., (2007) sinalizam outra
preocupação, que estes futuros profissionais mesmo tendo o conhecimento científico adequado
não fazem uso de tais métodos, desta forma apontam: “é preciso, antes de tudo, que acreditemos
e pratiquemos, para termos respaldo para cobrar a credibilidade e a prática que julgamos
necessária para a contribuição efetiva na melhoria da saúde e qualidade de vida das pessoas”
(p. 438)
As profilaxias, tanto a pré exposição quanto a pós exposição também foram citadas
nominalmente pelos entrevistados, fato positivo se levado em conta que a PrEP, por exemplo,
é utilizada desde dezembro de 2017, ou seja, é um método bastante novo. Contudo, cabe
ressaltar que o PrEP não é um método contraceptivo e que sua eficácia apesar de bastante alta,
é inferior à do uso de preservativos, pesquisas recentes têm indicado uma taxa de redução do
risco de infecção ao HIV em torno de 90%. (BRASIL, 2017).
Estes resultados também podem derivar da educação sexual ineficaz, frequentemente os
jovens não possuem acesso à educação sobre sexualidade, tem informações restritas ou
inadequadas quanto à sua saúde e aos seus direitos sexuais e reprodutivos (UNAIDS, 2015),
desta forma, essa dificuldade em dar uma educação sexual de qualidade pode ter repercussões
em toda vida adulta destes jovens. Outra forma de obter informações que seriam as campanhas
preventivas que são divulgadas através dos meios de comunicação, acabam sendo sazonais, ou

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seja, fala-se sobre prevenção no Carnaval e no mês alusivo ao HIV, não sendo portanto,
campanhas contínuas, dificultando a aquisição deste conhecimento (GARCIA; SOUZA,2010)
Outra questão que pode ser refletida através destes resultados é sobre a diferença entre
métodos contraceptivos, que previnem uma gestação indesejada e métodos de prevenção ao
HIV e outras ISTs. Parece não haver conhecimento adequado sobre as funções de cada método,
ou ainda, o uso de métodos de prevenção ainda é fortemente ligado apenas à questão
contraceptiva. Garcia e Souza (2010) encontraram resultados similares em sua pesquisa, uma
vez que algumas entrevistadas afirmaram usar preservativo por não se adaptarem a outro
método contraceptivo, ou porque não utilizam outro método contraceptivo, sendo que quando
o utilizasse, não seria mais necessário o preservativo. Leite et al. (2007) em pesquisa realizada
com universitários da área da saúde também apresentou resultado semelhante, uma vez que o
uso do preservativo era associado por homens e mulheres basicamente como medida de
contraconcepção e não como prevenção a ISTs e ao HIV.
Levando em consideração a pandemia do COVID 19 e as mudanças que foram
necessárias para o enfrentamento dessa situação, como já descrito anteriormente, se percebe
uma diminuição na busca pelos serviços de saúde, e também uma necessidade de que o tempo
de permanência nesses serviços seja diminuído, visando diminuir o contato social e as
aglomerações. Nesse sentido cabe destacar uma estratégia adotada em um serviço que atua com
a distribuição de PrEP na cidade do Rio de Janeiro, em que foi instituída a Telemedicina. No
dia anterior ao marcado para retirada do PReP é realizado um telefonema para identificação de
possíveis sintomas de COVID, caso positivo o paciente é orientado neste sentido, se negativo
deve comparecer no serviço no dia seguinte para consulta inicial, se for o caso, retirada do PReP
e de auto testes de HIV. A partir de então, todo o acompanhamento é feito através da
telemedicina, estando este canal disponível para sanar dúvidas sobre o tratamento com os
profissionais da saúde e para o acompanhamento de modo geral (HOAGLAND et al., 2020). É
importante frisar esse tipo de iniciativa, pois por mais que a COVID 19 seja o tema de saúde

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neste momento devido à sua gravidade e seu caráter pandêmico, os casos de HIV ainda são
alarmantes, o que indica que, mesmo vivenciando esta pandemia de COVID, não podemos
esquecer do trabalho voltado à prevenção ao HIV.
Cabe evidenciar o que Paiva (2000, P.37) pontua: “Prevenir a Aids não é como ensina
a ler: aprendeu, nunca mais esquece”, a autora alerta no sentido da complexidade de fatores que
a prevenção ao HIV está envolvida, como a sexualidade humana, questões culturais e sociais,
entre outros, e da multiplicidade de obstáculos que podem ocorrer em uma relação sexual que
a torna não segura e portanto de risco para infecção ao HIV. Nesse sentido, tanto espaços de
saúde quanto educacionais devem ser também espaços de trocas e de aperfeiçoamento contínuo,
uma vez que, como a PrEP também nos demonstra, as pesquisas estão avançando e novos
métodos de prevenção estão surgindo, necessitando de adequação das orientações que serão
prestadas à população e para própria prevenção.

Considerações finais
Os resultados deste estudo apontam que o conhecimento sobre o uso de preservativos
feminino e masculino é um conhecimento consolidado por grande parte da população
universitária entrevistada. Contudo, causa preocupação que outros métodos contraceptivos
tenham sido assinalados como métodos de prevenção ao HIV, indicando que é preciso investir
permanentemente na divulgação de informações, mesmo as que são consideradas básicas, como
é o caso dos métodos de prevenção ao HIV.
A importância da educação sexual nesse ponto torna-se clara, desde aquela vinculada
ao sistema educacional, mas também por parte da sociedade e dos órgãos governamentais.
Deve-se pensar em ações contínuas e permanentes de divulgação de temáticas como a
prevenção ao HIV/Aids, pois ela parece necessitar de maior divulgação, reforçando que temas
relacionados à sexualidade continuem sendo tabu na sociedade. Importante ressaltar, também,
os momentos em que se fazem campanhas, como no carnaval, o que pode se relacionar à

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continuidade de um associação entre o HIV/Aids e promiscuidade, desconsiderando todas as
vulnerabilidades as quais os indivíduos possam estar expostos.
O aumento dos serviços de telemedicina, impulsionados pela pandemia do Covid 19,
também poderiam atuar no sentido de auxiliar tanto universitários quanto a população em geral
a receberem informações qualificadas sobre a prevenção ao HIV e também sobre o tratamento
caso os pacientes tenham se exposto a alguma situação que consideram de risco. Além de
permitir o acesso facilitado aos profissionais de saúde, o serviço também permite que os
usuários possam se expressar e expor suas dúvidas de forma mais direta, levando em conta o
tabu que a temática da sexualidade ainda carrega.
Além disso, as universidades, em seu papel formador, devem estar atentas a essa
necessidade, visto que. os futuros profissionais que serão responsáveis pela transmissão de
conhecimento e orientações da população, seja nos espaços de saúde, na mídia ou na educação,
estão tendo informações equivocadas, o que pode ser um risco para esta população jovem que
já é considerada vulnerável, mas também para a população considerada “leiga” que receberá
orientações destes profissionais.

Referências

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prevenção das DST/Aids numa universidade espanhola. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 28,
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ATUAÇÃO DOS ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM EM UMA UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA PARA O TRATAMENTO DA COVID-19: RELATO DE
EXPERIÊNCIA

Kelly Cristine Oliveira1


Bruna Fatima Sczepanhak2
Vitória Thomé3
Terezinha Aparecida Campos4

Resumo: O cenário pandêmico originado a partir da disseminação da COVID-19 no Brasil


evidenciou o trabalho da enfermagem e seu protagonismo em relação ao cuidado e à
recuperação dos pacientes, por sua atuação na linha de frente, principalmente nas Unidades de
Terapia Intensiva. Todos os fatores gerados por conta dessa situação, bem como a gravidade
dos pacientes, além do isolamento social, suscitaram apreensão, medo e angústia nos
profissionais de saúde, por vivenciarem um período completamente atípico. O objetivo deste
estudo é descrever a atuação de acadêmicos de enfermagem na assistência ao paciente crítico
com COVID-19. Trata-se de um relato de experiência de acadêmicas de enfermagem sobre a
Aula Prática Supervisionada (APS) na UTI – COVID em um Hospital Universitário do Oeste
do Paraná. As atividades aconteceram durante os dias quinze de abril a cinco de maio de 2021,
sendo que foram 10 dias voltados para a assistência ao paciente crítico. Durante o período
citado, foi realizado o primeiro contato com a assistência de pacientes com essa patologia e os
seus efeitos no organismo, além do uso correto dos EPIs para evitar a contaminação com o
vírus. Foi possível observar as peculiaridades da terapêutica, voltada para o tratamento e
manutenção do estado de saúde desses pacientes, uma vez que os parâmetros vitais deles
demonstram uma enorme instabilidade. Além disso, notou-se, além da complexidade do
cuidado, a sobrecarga de trabalho e emocional à equipe de enfermagem da unidade e,
principalmente, dos enfermeiros. A respeito do enfermeiro, observou-se como ele realiza as
tarefas gerenciais e assistenciais em um serviço especializado e recém-estruturado. A COVID-
19 é uma doença que está presente nas discussões científicas em busca de um tratamento eficaz
que resulte na cura. Ela é considerada um problema de saúde pública com muitos desafios a

1
Acadêmica de Enfermagem, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel/PR Brasil, e-mail:
[email protected]
2
Acadêmica de Enfermagem, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel/PR, Brasil
3
Acadêmica de Enfermagem, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel/PR, Brasil
4
Enfermeira. Mestre. Professora Colaboradora do curso de Enfermagem, Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, Cascavel/PR, Brasil.
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serem enfrentados. Infere-se que esta experiência foi de grande aprendizado e empoderamento
profissional ao compreender o tratamento utilizado e a organização do serviço, bem como os
cuidados necessários acerca da biossegurança durante a atuação nesse novo cenário de
assistência de enfermagem. A sobrecarga laboral e emocional é muito evidente, observou-se a
exaustão da equipe de saúde e a constante busca por medidas de enfrentamento. Além disso, a
adaptação a uma mudança brusca e recente na dinâmica do trabalho, na construção recente do
serviço de atendimento à COVID-19 e a escassez de recursos materiais são algumas das
dificuldades notadas. Ao observar o trabalho do enfermeiro, percebe-se a complexidade da sua
atuação tanto na esfera assistencial quanto na gerencial, para organizar um atendimento seguro
e de qualidade mesmo com a carência de profissionais capacitados e a insuficiência de recursos
materiais. Esse cenário demonstra a organização do sistema de saúde de um país para o
enfrentamento de uma crise sanitária.

Palavras-chave: COVID-19; Enfermagem; Unidade de Terapia Intensiva; Aprendizagem;


Prática Profissional.

Eixo Temático 4: Educação e formação profissional em saúde.

Introdução
O primeiro caso oficial de COVID-19, causado pelo SARS-Cov-2, foi identificado em
Wuhan, na China, sendo reportado para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 31 de
dezembro de 2019. Rapidamente a doença disseminou-se por todo o mundo, assim, em janeiro
de 2020, a OMS declarou a infecção pelo novo coronavírus como uma emergência de interesse
internacional (ATZRODT et al., 2020).
No Brasil, o primeiro caso da COVID-19 foi registrado em fevereiro de 2020 e, em
março de 2020, o Ministério da Saúde declarou reconhecimento da transmissão comunitária do
vírus SARS-Cov-2 em todo o território nacional (RACHE et al., 2020).
O SARS-Cov-2 é um vírus da família Coronaviridae, possui como característica uma
glicoproteína em sua membrana em forma de “Spike”, que forma uma estrutura circular com
espículas que se assemelham a uma coroa, sendo que, em latim a palavra “Corona”, significa
coroa que é a aparência dada pelas proteínas (OLIVEIRA; PASSOS, 2020). Em 2020, o Centro
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de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) reconheceu sete cepas de
coronavírus com potencial de patogenicidade contra os seres humanos, sendo que todas essas
cepas têm a capacidade de causar doenças no sistema respiratório (ATZRODT et al., 2020).
O primeiro estudo relacionado à COVID-19 foi desenvolvido por um grupo de cientistas
da Universidade de Hong-Kong, cuja pesquisa demonstrou a evidência de transmissão entre
humanos do vírus SARS-Cov-2. Além disso, o estudo identificou que o vírus possui uma alta
taxa de transmissão (SILVA et al., 2020; YUEN et al., 2020; CHAN et al., 2020).
Os principais sinais clínicos da infecção por SARS-Cov-2 incluem febre, tosse, fadiga,
dor de garganta, cefaléia, sintomas gastrointestinais e dificuldade respiratória. Sua transmissão
acontece, principalmente, pelo trato respiratório por meio de gotículas, secreções respiratórias
e contato direto com a pessoa contaminada, sendo que o período de incubação é de um a 14
dias (QUN LI et al., 2020; GUO et al., 2021).
Com o surgimento dessa nova patologia, medidas sanitárias foram adotadas para a
redução e controle dos novos casos como: o uso de máscara de proteção em locais públicos, a
higienização frequente das mãos e o distanciamento social (SOARES et al., 2021). Essas
medidas foram inseridas no cotidiano da população, provocando alterações no convívio social,
especialmente no que se refere ao distanciamento social, uma vez que as aglomerações
passaram a ser proibidas e, juntamente com elas, as reuniões de amigos, familiares e
confraternizações (USHER; BHULLAR; JACKSON, 2020).
Quanto às implicações biopsicossociais surgidas durante uma pandemia, Ornell et al.
(2020) afirmam que o medo, a ansiedade e o estresse aumentam em indivíduos saudáveis e
intensificam os sintomas em pessoas com transtornos psiquiátricos, o que, consequentemente,
pode impactar na saúde mental das pessoas, em especial, dos profissionais de saúde que atuam
na linha de frente. Sabidamente, a pandemia causada pela COVID-19 trouxe à tona uma mistura
de sentimentos e comportamentos, bons e ruins, de um lado, o isolamento social, a ansiedade,

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o medo da morte e a incerteza do amanhã, mas, por outro lado, descobriu-se uma nova forma
de viver, de amar e de valorizar a vida (LIMA, R., 2020).
E no que diz respeito aos serviços de saúde, estes precisaram adequar-se para essa nova
realidade assistencial, a fim de receber pacientes com uma nova patologia, mantê-los isolados
dos demais e assegurar uma assistência qualificada (LIMA, H. et al., 2020). O cenário mudou
drasticamente, com o aumento na demanda nos serviços de saúde, alguns profissionais
precisaram ser realocados e os atendimentos eletivos foram cancelados e/ou adiados para poder
suprir a nova demanda.
Diante desse contexto, outro grande desafio e preocupação estavam relacionados com a
segurança dos profissionais, uma vez que o cenário tornou-se assustador, com o aumento de
casos, sua gravidade e o alto número de óbitos.
Foi diante desse cenário desafiador, que nos deparamos com a possibilidade de
participar da assistência ao paciente com COVID-19 em uma Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), com o intuito de entender o processo de trabalho, rotina e organização do serviço de
saúde, em especial, a conformação de uma UTI para pacientes COVID-19, durante o período
pandêmico. Essa experiência torna-se relevante, uma vez que esse processo possibilita o
desenvolvimento teórico-prático diante de uma nova realidade assistencial no âmbito da
atuação profissional na área de saúde.

Método

Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa do tipo relato de experiência


referente à vivência de acadêmicas de enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, sobre a Aula Prática Supervisionada (APS) na disciplina “A Enfermagem e o Paciente
Crítico” na UTI – COVID no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP).

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O referido relato teve como base a vivência das acadêmicas no período de quinze de
abril a cinco de maio de 2021, quando foram realizadas atividades assistenciais voltadas à
assistência de enfermagem ao paciente crítico. É oportuno ressaltar que este foi o primeiro
grupo de acadêmicas do curso de Enfermagem a ter a oportunidade de atuar nesse setor,
lembrando que elas já haviam sido imunizadas (vacina contra COVID-19) previamente.
Destaca-se que, para a execução deste trabalho, foram atendidas as normas dispostas na
Resolução nº. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e, por tratar-se de um relato de
experiência, não foi necessário submeter ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
A fim de contextualizar, o HUOP é o hospital-escola vinculado à Universidade Estadual
do Oeste do Paraná, situado no município de Cascavel/PR. Além de atender o município,
absorve a demanda de outros municípios que compõem a 10ª Regional de Saúde do Paraná,
sendo estes: Formosa do Oeste, Jesuítas, Iracema do Oeste, Nova Aurora, Anahy, Cafelândia,
Iguatú, Corbélia, Braganey, Campo Bonito, Guaraniaçu, Diamante do Sul, Ibema, Catanduvas,
Espigão Alto do Iguaçu, Quedas do Iguaçu, Três Barras do Paraná, Boa Vista da Aparecida,
Santa Lúcia, Lindoeste, Capitão Leônida Marques, Céu Azul, Vera Cruz do Oeste e Santa
Tereza do Oeste.
O referido hospital conta com serviços de média e alta complexidade, por exemplo:
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral, UTI Neonatal, UTI pediátrica, UTI COVID-19,
Unidade de Neurologia e Ortopedia, Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Maternidade,
Alojamento Conjunto Pediátrico e Pronto Socorro.
É nesse contexto que os acadêmicos têm a oportunidade de atuar. A UTI COVID-19 foi
instituída em março de 2020 a fim de atender essa demanda específica e foi nesse ambiente que,
enquanto acadêmicas de enfermagem, tivemos a oportunidade de atuar juntamente com uma
equipe interdisciplinar composta por médicos intensivistas, residentes de medicina,
odontólogos, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem.

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Resultados e discussão

Considerando que este foi o primeiro grupo de acadêmicas de enfermagem a


desenvolver APS na UTI-COVID, inicialmente, o medo pelo desconhecido foi inevitável, uma
vez que estávamos diante de uma pandemia catastrófica, atrelado ao medo de contaminar-se
pelo vírus e a insegurança de realizar a assistência a pacientes tão graves e instáveis
hemodinamicamente.
No que tange à organização da unidade, percebemos que tudo foi adaptado com vistas
a proporcionar assistência de qualidade aos pacientes críticos com COVID-19, no entanto,
dadas às circunstâncias emergenciais e à estrutura física disponível, o ambiente foi organizado
aquém do que a RDC nº 50/2002 preconiza, o que, por vezes, interfere na dinâmica do processo
de trabalho.
Essa situação vai ao encontro com os achados de Rache et al. (2020), cujo estudo
apontou que o número de leitos de UTI disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é
inferior ao considerado necessário, sem fatores agravantes, como a pandemia. Todavia, com
essa fragilidade, o sistema de saúde precisou adaptar-se para as novas condições, a fim de
atender a nova demanda, utilizando as estruturas e recursos já existentes (RACHE et al., 2020).
No que concerne à segurança dos profissionais para realizar a assistência dos pacientes
na UTI-COVID, medidas de precaução são utilizadas com vistas ao uso de Equipamentos para
Proteção Individual (EPIs) como: roupa privativa, avental impermeável descartável, touca,
óculos de proteção, máscara N95/PFF2, máscara facial/face shield, calçado fechado,
impermeável e antiderrapante, propés, luvas de procedimento, isso tudo em consonância com a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2021) e com as recomendações gerais do
Conselho Federal de Enfermagem (2020) para a atuação da equipe de enfermagem na linha de
frente e reforçado pela literatura com os achados de Moraes, Almeida e Giordani (2020). Neste

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sentido, atentando para as normas de segurança, tudo isso foi seguido de forma rigorosa para o
desenvolvimento da APS.
É importante salientar que, para adentrar na UTI-COVID, havia a necessidade de trocar
as roupas e vestir a roupa privativa, bem como paramentar-se com todos EPIs, sendo que, ao
término das atividades assistenciais, era necessário desparamentar-se, tomar banho no vestiário
antes de ir embora, a fim de minimizar a disseminação do vírus, para além do ambiente
hospitalar.
Considerando as características do trabalho de enfermagem, voltada para o cuidado
direto aos pacientes e à alta transmissibilidade do vírus, a paramentação e desparamentação
correta é algo imprescindível para a proteção, no entanto, o desconforto causado pelo uso de
alguns EPIs é inevitável, por exemplo, permanecer com a máscara N95/PFF2 por longo período
pode provocar lesões na pele, haja vista que ela pressiona toda a face.
Essa sensação de desconforto foi experienciada durante a APS, sendo que o tempo de
uso era inferior aos demais profissionais que permanecem com ela no mínimo 6h/dia. Sobre
esse assunto, Portugal et al. (2020) mencionam aspectos relacionados ao uso prolongado dos
EPIs, ou seja, desconforto dos profissionais como: dermatites pelo suor excessivo causadas
pelos aventais, a maceração da face motivadas pelas máscaras, além da restrição de
movimentação ocasionada pela paramentação.
Salientamos que, durante a APS, foi possível ter noção da complexidade que envolve o
processo de trabalho em uma UTI e reconhecer o perfil dos pacientes internados na UTI-
COVID. Na ocasião em que a APS foi desenvolvida, o perfil da maioria dos pacientes era
pessoas idosas, do gênero masculino e com sobrepeso. Outro fator marcante, que foi percebido,
é a gravidade que o vírus provoca no organismo, causando a desestabilização clínica do paciente
aos mínimos esforços, como o reposicionamento no leito, o que também foi percebido por
Busanello et al. (2020).

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A maioria dos pacientes encontrava-se sedada, com suporte ventilatório invasivo e uso
de drogas vasoativas. Essa condição exige, principalmente da equipe de enfermagem, estar 24
horas à beira leito e extrema atenção aos sinais de desestabilização clínica.
Diante dessa conjuntura, ressaltamos o protagonismo e participação dos profissionais
da enfermagem na assistência de pacientes acometidos pela COVID-19, uma vez que esses
profissionais ocupam a maior parcela de trabalhadores da saúde atuantes na linha de frente,
conforme evidencia-se a seguir:

A posição de linha de frente dos profissionais de Enfermagem no ambiente de


UTI torna propício esse protagonismo pelas próprias características da
profissão que requerem que eles permaneçam por mais tempo ao lado dos
pacientes (RIBEIRO et al., 2021, p. 02).

Neste sentido e considerando que se refere a profissionais que estão na linha de frente,
estes devem ser valorizados pelo papel que desempenham na sociedade e no combate ao
coronavírus. É de suma importância o reconhecimento da dinâmica do trabalho desenvolvido,
em especial, neste período de pandemia, com vistas a perspectivas futuras desses profissionais,
como a possibilidade de novos aprendizados, empoderamento profissional e formas de trabalho
dignas.
Sendo assim, e considerando o protagonismo da equipe de enfermagem na assistência
humanizada e qualificada, torna-se essencial prosseguir com discussões que evidenciem a
atuação e a importância desses profissionais na atual conjuntura da saúde.
Outro viés percebido nesse contexto é de que a maioria dos profissionais de enfermagem
que atua na referida unidade possui outros vínculos empregatícios. Consideramos que esse fator
pode contribuir diretamente para o desgaste físico e mental, somado à exaustão ocasionada pela
complexidade e dependência do cuidado (RIBEIRO et al., 2021). Além disso, a UTI é por si só
carregada de tensão e pressão, fatores que exigem um esforço excelso dos profissionais para
desempenhar suas atividades. Eles também carregam o medo do desconhecido, o risco da

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contaminação, a vivência frente à morte e ao morrer, aspectos que caracterizam uma sobrecarga
de ansiedade e de tensão.
Nossas observações corroboram com os achados de Portugal et al. (2020), os quais
pontuam que os profissionais de enfermagem não sofreram alterações somente no processo de
trabalho, mas também no convívio familiar, pois acabam reduzindo o contato a fim de evitar a
possibilidade de contaminar os seus familiares. De acordo com Ribeiro et al. (2021):

A necessidade de enfrentar um cenário totalmente desconhecido em termos de


velocidade de propagação, possibilidade de infecção numa escala nunca antes
vista e número de mortes só comparáveis a um cenário de guerra. Esse cenário
exige dos profissionais da saúde que estão e estarão na linha de frente muito
esforço físico e emocional, somado ao estresse e ao alto risco de contrair o
vírus. Os profissionais de enfermagem compõem um dos grupos de
vulnerabilidade, já que o número de mortes entre profissionais da saúde já é
fato e causa preocupação para as autoridades. (RIBEIRO et al., 2021, p. 02).

Nessa perspectiva, ponderamos que a atuação dos profissionais de enfermagem na


assistência ao paciente com COVID-19 é consenso global, sendo avultado o desempenho como
linha de frente, além das necessidades de adaptação a um cenário inédito para lidar com um
inimigo invisível.

Considerações finais

As atividades desenvolvidas na UTI- COVID, enquanto acadêmicas de enfermagem,


possibilitaram a construção de aspectos relevantes para a vida pessoal e profissional, pois a
vivência nesse ambiente permitiu compreender o processo de trabalho em meio à pandemia
provocada pela COVID-19, sendo esse momento histórico. A partir dessa experiência, foi
possível observar como o sistema de saúde reorganizou-se visando atender essa nova demanda,
evidenciando fragilidades e potencialidades.

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Diríamos que, a partir dessa oportunidade, identificamos o papel central do enfermeiro
e da equipe de enfermagem como protagonistas na assistência ao paciente criticamente doente,
acometido pela COVID-19. Tal fato, revela a importância dessa classe trabalhadora para a
manutenção e funcionamento dos serviços de saúde, sejam eles antes, durante ou após a
pandemia da COVID-19, embora esse protagonismo tenha sido destacado pela sociedade após
essa situação de pandemia.
A organização do processo de trabalho e mudança na dinâmica da assistência ao
paciente com COVID-19 atrelada à escassez de recursos humanos, estrutura física,
desconhecimento sobre a patologia e seus efeitos no organismo são fatores que dificultam o
cuidado, mas não o inviabilizam. Ressaltamos que, em meio às adversidades, percebemos que
a equipe busca realizar uma assistência humanizada e de qualidade.
Salientamos que os impactos causados pela COVID-19 são diversos e com grandes
consequências na sociedade. No que diz respeito aos reflexos da atuação da equipe de
enfermagem na assistência à saúde na pandemia, em especial na UTI-COVID, os estudos são
incipientes, no entanto, já é possível identificar a significação desses profissionais nesse
contexto.
Haja vista que o atual cenário desafia a conformação do processo de trabalho da
enfermagem, é imprescindível resgatar a valorização e fomentar a construção de estratégias
para o empoderamento e protagonismo profissional. Neste sentido, sugerimos que mais estudos
referentes à atuação dos profissionais de enfermagem sejam realizados, tendo em vista que,
atualmente, a literatura é escassa nesse quesito. Inferimos que, em breve, a conformação do
processo de trabalho e os legados deixados pela pandemia em relação às práticas assistenciais
e gerenciais do enfermeiro sejam evidenciados no meio científico.

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GESTÃO DE CONFLITOS NA EQUIPA DE SAÚDE EM CONTEXTO DE
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS AO DOENTE CRÍTICO

Ana Margarida Pinheiro Rosa1


Joana Rita Valadinha Mendes Lopes 2
Najara Oliveira Sossai3
Tânia Isabel da Silva Pombinho4
Olga Maria Martins de Sousa Valentim 5

Resumo: Os conflitos são naturais, inevitáveis, inerentes a todas as relações humanas e


essenciais para promover mudanças, podendo ser perspectivados como parte da socialização, no
entanto, se não forem bem conduzidos podem trazer consequências graves para as instituições e
pessoas nelas envolvidas. O ambiente hospitalar de cuidados ao doente crítico devido à sua
complexa estrutura organizacional, com elevada diversidade profissional e alta interdependência
entre indivíduos que apresentam níveis de formação e interesses que nem sempre coincidem,
torna altamente propício a geração de conflitos. Considera-se de extrema relevância, perceber
quais as dinâmicas inerentes à comunicação e forma de lidar com o conflito nestas equipas, para
retirar inputs e estratégias para a sua resolução. A habilidade para gerir e resolver os conflitos
constitui, atualmente, uma das componentes cruciais da competência interpessoal dos gestores
estando diretamente relacionada com o desempenho da organização. Face ao exposto realizou-
se uma Revisão Integrativa de Literatura, partindo da questão: Quais as Evidências na Gestão
de Conflitos? Foram seguidas as recomendações do Joanna Briggs Institute (JBI) (2014) a partir
da estratégia PICo. Os descritores foram validados no DeCs e como critérios de inclusão artigos
publicados entre 2015-2020, com texto integral escritos em inglês, português e espanhol.
Pretende-se assim, conhecer a evidência sobre gestão de conflitos. Identificar os tipos de
conflitos que ocorrem em ambiente hospitalar na prestação de cuidados ao doente crítico e
técnicas de resolução que sejam processos de crescimento pessoal e profissional estimulando e
guiando debates que resultem em ideias que melhorem o ambiente no qual estão inseridos. A

1
Licenciada; Enfermeira Especialista; Enfermeira Especialista no Serviço de Cirurgia II do Centro Hospitalar e
Universitário de Lisboa Norte, Lisboa, Portugal. E-mail:[email protected]
2
Licenciada; Enfermeira; Enfermeira de Suporte Imediato de Vida da Delegação Regional de Coimbra, no Instituto
Nacional de Emergência Médica, Portugal.
3
Licenciada; Médica Dentista; Assistente Odontológica na clínica dentária Smile-up, Lisboa, Portugal
4
Mestre; Enfermeira Especialista; Enfermeira Especialista na Unidade de Intervenção Vascular e Hemodinâmica,
no Hospital de Santa Cruz, do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal.
5
Doutora em Enfermagem, Investigadora integrada no CINTESIS, grupo NursID, Instituto Politécnico de Leiria,
Escola Superior de Saúde e SICAD - Unidade de Desabituação das Taipa, Lisboa, Portugal
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amostra foi constituída por 6 artigos, sendo 5 do Brasil e 1 dos Estados Unidos da América. Foi
elaborado um fluxograma, de quatro etapas, para se evidenciar a informação recolhida segundo
as guidelines do PRISMA (2015). Verificou-se que as competências relacionais estão referidas
em todos os artigos como determinantes para a ocorrência do conflito, assim como para a sua
resolução baseando a ação no recurso à inteligência intelectual e emocional. As competências
relacionais promovem o crescimento pessoal, tornando os relacionamentos mais saudáveis e o
ambiente de trabalho construtivo. Constatou-se a inexistência de artigos sobre o presente tema,
publicados em Portugal. Após a análise da informação recolhida, conclui-se que a comunicação
não-verbal, interação e feedback melhoram o clima de negociação, diminuindo a resistência de
ambas as partes para se chegar a um acordo. É essencial que, no seio da equipa, existam
elementos facilitadores e que se desenvolvam aptidões para que a gestão de conflitos possa ser
uma estratégia eficaz. Os estilos de comunicação assertiva e empática, a observação
sistematizada, a escuta ativa e até o senso crítico, são considerados pilares para intermediar todas
as fases de um conflito.

Palavras-chave: Gestão; Equipa de saúde; Conflito; Cuidados ao doente crítico e Pessoa em situação
crítica.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
A palavra conflito, etimologicamente, advém do latim, conflictu, com o claro significado
de desavença ou discussão. Paradoxalmente, também pode ser perspectivado como um processo
de socialização, na medida em que os aspetos resultantes da vivência do ser humano e da
sociedade, são parte integrante da nossa existência e do estabelecimento das relações humanas.
Os conflitos apresentam-se transversais a todos os campos da vida social (CUNHA; LOPES,
2001), nos mais variados níveis, como intrapessoal, interpessoal, intragrupal, intergrupal,
nacional, internacional, laboral, cultural, religioso, entre outros (CUNHA; LOPES, 2008).
Diversos autores de áreas sociais apontam o conflito como inevitável mas potenciador de
mudança e como algo positivo quando, a nível organizacional especificamente, bem gerido. Para
além de impedir a estagnação pode aumentar o interesse, descortina problemas e encontra
soluções e melhorias (DIMAS; LOURENÇO; MIGUEZ, 2005).
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Inseridos em ambientes de extrema complexidade, de risco constante e de elevada capacidade
tecnológica, deparamo-nos com as equipas de saúde, constituídas por profissionais dos
diferentes ramos da área da saúde, respetivamente, enfermeiros, médicos, assistentes
operacionais e técnicos de terapêutica e diagnóstico. Todos eles acolhem a missão de canalizar
o seu conhecimento tendo por base a melhor das evidências científicas disponíveis para
assegurar a manutenção e o bem-estar da pessoa alvo do seu cuidar.
A escolha do contexto de doente crítico retrata a perspectiva de elevada complexidade
inerente à prestação dos cuidados de saúde. O doente crítico é “aquele em que, por disfunção ou
falência profunda de um ou mais órgãos ou sistemas, tem a sua sobrevivência dependente de
meios avançados de monitorização e terapêutica” (Sociedade Portuguesa de Cuidados
Intensivos, 2010; Ordem dos Enfermeiros, 2018). Cuidar da pessoa que se encontra a vivenciar
uma situação crítica, de verdadeira e elevada complexidade, requer capacidades e competências
específicas. Estas condicionantes induzem os intervenientes a momentos exigentes, de maior
tensão que contribuem para a formulação de juízos clínicos e tomadas de decisão onde a
negociação e a gestão de conflitos se revela fundamental para o sucesso.
A habilidade para gerir e resolver os conflitos constitui um dos componentes cruciais da
competência interpessoal dos gestores contemporâneos, uma vez que está em causa o
desempenho da organização. Ao considerar-se cada uma das noções, anteriormente
contextualizadas, admite-se com relevância a mais-valia na procura por compreender que tipos
de conflitos existem ao nível das equipas de saúde, em particular da equipa de enfermagem,
assim como quais as melhores formas para a sua resolução.
Baseados nestes conceitos elaborou-se como questão de partida: "Quais as estratégias que
contribuem para a diminuição de conflitos na equipa de saúde na prestação de cuidados de saúde
ao doente crítico?” e, como objetivos: Conhecer a Evidência sobre Gestão de Conflitos.
Identificar os tipos de conflitos que ocorrem em ambiente hospitalar na prestação de cuidados
ao doente crítico e técnicas de resolução que sejam processos de crescimento pessoal e

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profissional estimulando e guiando debates que resultem em ideias que melhorem o ambiente
no qual estão inseridos.

Método
Para dar resposta aos objetivos do estudo procedeu-se a uma revisão integrativa da
literatura (RIL) a qual permite analisar a bibliografia existente sobre o tema, obedecendo a
padrões de rigor científico e metodológico (COPELLI, 2019). Para a formulação da questão de
investigação considerou-se as recomendações do Joanna Briggs Institute (JBI) (2014) a partir
da estratégia PICo (População, Área de Interesse e Contexto). Cada dimensão do PICo
contribuiu para a definição dos critérios de inclusão: População: Equipa de Saúde; Área de
Interesse: Gestão de Conflitos; Contexto: Cuidados ao Doente Crítico. Como critérios de
exclusão foram definidos, outra língua que não inglês e Português e Espanhol; publicação
anterior a 2015; artigos que apresentem menos de 75% dos critérios de qualidade nas grelhas da
JBI, (2014) e que não se encontrem disponíveis na íntegra numa plataforma informática.
Para dar resposta a cada uma destas questões foi realizada pesquisa eletrónica, durante o
mês de dezembro de 2020, com recurso à plataforma EBSCOHost® (CINAHL Complete e
MEDLINE Complete) e Lilacs, A pesquisa e seleção foi efetuada por quatro revisores
independentes seguindo as guidelines internacionais (PRISMA, 2015) e consultaram-se os
Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) para validar os
descritores. Estes são: serviços de saúde, cuidados críticos e negociação de conflitos, sendo o
booleano utilizado AND. Aplicados os critérios de seleção, obteve-se uma amostra de 79 artigos,
tendo sido realizada uma seleção dos mesmos, sendo que a análise e leitura do texto completo
recaiu em 6 artigos. Os dados foram extraídos com recurso a tabelas com referência ao ano do
estudo, autores, país, metodologia, amostra, métodos de análise, dimensões avaliadas e
resultados, assim como as implicações para a prática, que facilitaram a categorização das
evidência e resposta às questões de investigação.

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Em cada fase, foi efetuada a qualidade metodológica através da comparação das
classificações obtidas por dois avaliadores independentes, obtendo-se a concordância entre os
investigadores. No caso de discordância ou dúvida, o artigo seguia para a fase seguinte de
análise. A classificação dos níveis de evidência foi realizada através das recomendações da
Registered Nurses’ Association of Ontario (2007).

Resultados e discussão
Com base nos critérios anteriormente definidos na metodologia obteve-se um total de 6
artigos para análise. Foi elaborado um fluxograma, de quatro etapas, para se evidenciar a
informação recolhidas segundo as guidelines do PRISMA (2015). Considerando a importância
da sistematização da informação recolhida dos artigos elegidos foi criada uma tabela (Tabela
n.º1) que contempla os principais eixos de informação. Constatou-se a existência de artigos sobre
o presente tema, publicados em Portugal. Por outro lado, é possível afirmar, alguma escassez na
produção de artigos centrados nesta temática sobretudo no que toca à gestão de conflitos em
contextos de elevada complexidade na prestação de cuidados de saúde. Quanto à qualidade
verifica-se que o nível de evidência dos artigos incluídos é de IIa, sendo um ponto forte desta
RIL. Os artigos que surgiram são 5 do Brasil e 1 dos Estados Unidos da América. Dos artigos
analisados, 3 obtiveram na sua amostra populacional apenas enfermeiros, 2 enfermeiros,

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médicos, auxiliares e outros técnicos da área da saúde. Foi também analisado 1 artigo, o qual
constitui uma revisão integrativa da literatura.

Imagem n.º 1 - Diagrama PRISMA Flow


N.
º
-
A
ut Instrumento Dimensões Conclusões / Implicações
or Amostra País Metodologia Objetivos Resultados
s avaliadas para a Prática
-
A
n
o

Ar
ti
g
o Santos, D. et al., 2020. “A competência relacional de enfermeiros em unidades de centros cirúrgicos”
n.
º
1
Unidades Brasil Estudo Estudo Competência - Identificar e - Prevalência do sexo Limitação identificada:
cirúrgicas , exploratório, realizado Relacional: descrever feminino (n=39; 90,6%) realizado somente com
pertencentes a Munic qualitativo entre Janeiro - Gestão de como é e da faixa etária entre enfermeiros, e em unidades
cinco instituições ípio e Junho de conflitos; desenvolvida 20 e 29 anos (n=17,2; cirúrgicas de instituições
hospitalares de NÍVEL DE 2018. - Comunicação a 48,80%); privadas, não podendo
privadas de um Minas EVIDÊNCIA IIa Colheita de assertiva; competência generalizar os resultados

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município no Gerai dados - Gestão de relacional no -A característica do encontrados para outras
Estado de Minas s realizada pessoas; quotidiano relacionamento entre a realidades.
Gerais e a através do - Inteligência do trabalho equipa reflete-se na
amostra método do emocional. dos qualidade do cuidado A competência relacional é
composta por 43 grupo focal- enfermeiros prestado; imprescindível para o
enfermeiros convite formal de centros -os participantes trabalho em UCC, cujo
dessas unidades. via correio cirúrgicos destacaram que a ambiente de desgaste físico
eletrónico ou competência relacional e emocional é propício a
carta convite. 2- Identificar se dá por meio de situações de conflito.
Os grupos em que capacidades/aptidões a Embora os indivíduos sejam
focais foram momento/sit serem adquiridas pelos seres sociáveis, todo
conduzidos uações o enfermeiros, relacionamento é complexo,
pelo enfermeiro destacando a gestão pois as pessoas têm
pesquisador frequenteme de conflitos, a diferentes personalidades e
(moderador) e nte utiliza comunicação assertiva, comportamentos.
um auxiliar de essa gestão de pessoas e
pesquisa competência inteligência emocional.
(observador). .
Ar
ti
g
o Moreland, J. J. & Apker J., 2016. “Conflict and Stress in Hospital Nursing: Improving Communicative Responses to Enduring Professional Challenges”
n.
º
2
135 Enfermeiras Estad Qualitativo Colocaram A identidade das Identificar Putnam and Poole As enfermeiras abordam o
de um hospital os como questão enfermeiras, motivo de (1987) definem conflito: conflito usando um discurso
escola e de Unido NÍVEL DE aberta a 734 comunicação e os conflito e “the interaction of respeitoso ou agressivo. As
pesquisa do s da EVIDÊNCIA IIa enfermeiros: temas de conflito. stress na interdependent people características da
Midwest. Améri “In the Enfermagem who perceive comunicação podem
Maioritariamente ca following the opposition of goals, influenciar uma mudança
mulheres (93,3%) space, please aims, and (/or) values, positiva. Muitas vezes
e caucasianas feel free to and who see sentem-se excluídas de
(92,5%) com uma write about the other party as participar nas decisões dos
média de 13,5 your identity, potentially interfering gestores, ao não serem
anos de trabalho communicatio with the realization of consultadas.
e 7 no serviço n practices, these goals (aims, or A falta de compromisso
onde estão and conflict values)” (p. 552). crônico leva a uma
atualmente. experiences exacerbação dos conflitos e
Média de idades as a nurse”. O fogo emergiu como ao stress crónico.
46 anos e 64,5% e Sendo que uma metáfora para
tem pelo menos 135 descrever os dados.
um bacharelado. responderam, A exclusão na
o que comunicação, as
corresponde mensagens
a 18,4% de depreciativas
resposta. Foi contribuem para os
realizada a conflitos e stress na
análise Enfermagem.
através de um
software e
mediante o
modelo de

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weick´s
(1979).
Ar
ti
g
o Dias, J. S. et al., 2019. “Construction and validation of a tool to assess Nursing interpersonal relations”
n.
º
3
A amostra foi Brasil Estudo O instrumento Desgastes físicos Construir e Foi criado um Instrumento válido e
calculada através metodológico ficou e emocionais validar um instrumento com 29 fidedigno para ser utilizado
do programa composto por decorrentes das instrumento questões e seis na avaliação das relações
StatCalc do Critérios de 29 questões e relações para construtos: interpessoais do pessoal de
EpiInfo Inclusão: Ser foram interpessoais; identificação 1. “Desgastes físicos e Enfermagem nos hospitais
versão 7, enfermeiro, identificados dos fatores emocionais Universitários brasileiros.
utilizando o nível técnico ou seis Fatores que decorrentes das
de confiança de auxiliar de construtos. comportamentais influenciam relações
95%. Enfermagem, que afetam as as relações interpessoais”;
Utilizou-se estar no Quadro relações interpessoais 2. Fatores
amostragem não do hospital à interpessoais; e a saúde comportamentais que
probabilística por pelo menos 3 dos afetam as relações
conveniência, a meses e estar Percepção de trabalhadore interpessoais;
amostra no cuidado instabilidade s de 3. Percepção de
compreendeu 213 direto aos emocional perante Enfermagem instabilidade emocional
participantes, utentes. as dificuldades do num Hospital perante as dificuldades
sendo 54 Critérios de relacionamento; Universitário do relacionamento;
enfermeiros (as), Exclusão: estar no Sul do 4. Construções afetivas
69 técnicos (as) de férias, Construções Brasil. de fortalecimento das
em Enfermagem afastamento ou afetivas de relações interpessoais
e 90 auxiliares de licenças. fortalecimento das no trabalho;
Enfermagem. relações 5. Autopercepção de
interpessoais no dificuldades
Características NÍVEL DE trabalho; relacionais;
dos EVIDÊNCIA IIa 6. Ações gerenciais
trabalhadores: Autopercepção de como fator positivo para
média, 43 anos dificuldades as relações
(DP=8,95), com relacionais; interpessoais.
idade mínima de Instrumento fidedigno e
23 anos e máxima Ações gerenciais confiável segundo valor
de 68 anos; como fator de alfa de Alfa de
identificou-se positivo para as Cronbach, 879
predominância do relações apresentou
sexo feminino interpessoais consistência interna
(89,7%). satisfatória. Os
coeficientes dos seis
construtos
apresentaram entre
627 e 904.
Ar
ti
g Santos, J. L. et al., 2016. “Estratégias utilizadas pelos enfermeiros para promover o trabalho em equipe em um serviço de emergência”.
o
n.

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º
4
20 Enfermeiros do Brasil Estudo A colheita de 1.articulação das Analisar as Estratégias utilizadas O foco do trabalho dos
serviço de Nível qualitativo do dados ações estratégias pelos Enfermeiros para enfermeiros é a mediação e
Urgência de um de tipo estudo de ocorreu entre profissionais; utilizadas por promover o trabalho de negociação da consecução
Hospital do Sul do caso junho e 2.estabelecimento enfermeiros equipa: do trabalho, por meio do
Brasil setembro de de relações de para Articulação das ações diálogo e da interação com
NÍVEL DE 2009, a partir cooperação; promover o profissionais; os componentes da equipa
EVIDÊNCIA III de 3.construção e trabalho em Estabelecimento de de saúde e Enfermagem
observação manutenção de equipa em relações de visando o atendimento das
participante e vínculos um serviço cooperação; necessidades dos utentes.
entrevista amistosos; e, de construção e
semi- 4.gerenciamento emergência manutenção de O enfermeiro configura-se
-estruturada. de conflitos. vínculos amistosos; e como um agente estratégico
Nas gerenciamento de na promoção do trabalho
observações conflitos. em equipa em emergência,
foi utilizado sendo capaz de sensibilizar,
um roteiro de estimular e articular a
campo e equipa para a efetivação de
foram um trabalho integrado.
realizados 40
períodos de
observação
em vários
turnos e
horários num
total de 90h.
Nas
entrevistas
foram
realizadas um
total de 20
que foram
gravadas e
transcritas.
A selecção
dos
enfermeiros
foi intencional
entre os que
aceitaram
participar e
estavam há
mais de 6
meses a
trabalhar.
Ar
ti
g
o Mesquita, C. et al., (2018) “Novos modelos de planeamento e controlo de gestão nos hospitais públicos portugueses”
n.
º
5

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Obteve-se uma Brasil Pesquisa A coleta de Percepções dos Identificar as Na ocasião da coleta de O trabalho em equipa
amostra com 38 , Mina descritiva, com dados foi profissionais percepções dados, a UTI Adulto requer comunicação e
profissionais de Gerai abordagem realizada no sobre o seu do trabalho contava com 66 colaboração efetivas,
um hospital s qualitativa período de desempenho em em equipa profissionais de saúde, trabalho integrado e
público de ensino agosto a ambiente de segundo os sendo 31 técnicos de formação profissional
numa localidade NÍVEL DE novembro de cuidados profissionais enfermagem, 17 adequada.
no interior de EVIDÊNCIA 2017. Os intensivos. de uma médicos, nove Por outro lado,
Minas Gerais. IIa dados foram Unidade de enfermeiros e nove fragmentação e rigidez no
coletados por Relações entre Terapia fisioterapeutas. Do total trabalho, pouca
meio de profissionais de Intensiva de 66 profissionais, colaboração/ comunicação
entrevista saúde da mesma Adulto. participaram 38, e falta de material dificultam
semiestrutura equipa. distribuindo-se em 18 a realização do trabalho em
da guiada por técnicos de equipa.
um roteiro, Gestão de enfermagem (47,4%), Conclui-se ainda que é
sendo este conflitos entre dez médicos (26,3%), importante apostar na
submetido à elementos da seis enfermeiros necessidade de revisão
validação equipa. (15,8%) e quatro curricular dos cursos da
aparente e de fisioterapeutas saúde com vistas à inserção
conteúdo por (10,5%). Não e/ou aprimoramento das
três peritos na participaram 28 discussões sobre trabalho
temática e/ou profissionais, dos quais em equipa a fim de
na 15 não foram instrumentalizar os
metodologia localizados após três profissionais para um fazer
de pesquisa tentativas para em saúde mais articulado e
adotada agendamento da quem sabe até solidário.
entrevista, cinco tinham
Foi dividido menos de um ano de
em duas trabalho na UTI Adulto,
partes: a cinco estavam
primeira afastados do trabalho à
relacionada época da coleta de
aos dados dados e três se
sociodemogr recusaram a participar.
áficos e Dentre os 38
profissionais participantes, 22
dos (57,9%) eram do sexo
participantes; feminino e 16 (42,1%)
a segunda do sexo masculino,
parte com idades entre 26 e
composta por 65 anos, sendo a média
questões de 38 anos. Referente à
norteadoras formação, 26 (68,4%)
para profissionais tinham
investigar, na ensino superior
ótica do completo, quatro
profissional, (10,5%) o ensino
como o superior incompleto e
trabalho era oito (21,1%) ensino
realizado e médio completo.
quais eram as Destaca-se que 22
percepções profissionais (57,9%)
sobre tinham algum tipo de
trabalho em formação
equipa. complementar, sendo
que, dentre eles, 18

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(81,8%) possuíam
especialização, três
(13,7%) fizeram
mestrado e um (4,5%)
doutorado. O tempo
médio de formação foi
de 14 anos, com tempo
de atuação na UTI
Adulto variando de um
a 24 anos, com média
de sete anos.

Como resultados foram


também obtidas três
categorias face ao
objetivo inicialmente
lançado (o qual
consiste em identificar
as percepções do
trabalho em equipa
segundo os
profissionais de uma
UTI) sendo estas:

Organização do
trabalho – que
evidencia trabalho
realizado por meio de
tarefas/rotinas,
havendo ou não ações
articuladas;

Instrumentos não
materiais do trabalho –
os quais revelam que o
trabalho em equipa
fundamenta-se na
comunicação /
colaboração;

Recursos materiais
insuficientes – que
indicam que a falta de
material gera conflitos
entre profissionais.
Ar
ti
g
o Osugui, D. et al., 2020 “Negociação de conflitos como competência do enfermeiro”
n.
º
6
Obteve-se uma Brasil Revisão Estudo A negociação de Na segunda etapa, - Os estudos elegidos
amostra de 150 integrativa da realizado com conflito como procedeu-se à leitura demonstraram que, no

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Estudos ao final literatura - com profissionais competência do completa dos 150 contexto hospitalar, a
da primeira etapa as 6 etapas de de enfermeiro estudos, para negociação de conflito,
de avaliação. revisão -> enfermagem (abordando a identificar aqueles que enquanto competência
elevado nível de de um gestão do conflito responderam profissional do enfermeiro, é
Na segunda rigor (ver a hospital como fonte de satisfatoriamente à permeada pela
etapa, procedeu- tabela do índice público na sofrimento e a questão de pesquisa insegurança.
se à leitura de evidência II região do necessidade de e/ou tinham pertinência Que abordaram a temática
completa dos 150 Estudos nordeste do interagir com com o objetivo do gerenciamento de conflitos,
estudos, para primários; brasil outras estudo. enfatizando a capacidade
identificar aqueles Critérios de competências Foram selecionados 17 de negociação como uma
que responderam inclusão foram para a efetiva artigos publicados das competências do
satisfatoriamente assim gestão); entre 2015 e 2019, enfermeiro no contexto do
à questão de estabelecidos sendo 4 em 2018, 2017 hospital, com vistas a
pesquisa e/ou para a As Estratégias e 2016, 3 em 2019 e 2 organizar o processo de
tinham condução da negociadoras na em 2015. trabalho e trazer benefícios
pertinência com o revisão resolução de Resultados: para a organização.
objetivo do integrativa: conflitos (que - o gerenciamento de - Diversos tipos de conflitos
estudo. estudos apresenta formas conflitos é uma são inerentes à interação de
primários que de gerenciar um competência inerente recursos humanos com o
abordavam as conflito). ao trabalho do ambiente de trabalho,
competências enfermeiro e contribui cabendo ao enfermeiro,
do profissional para o bem-estar da responsável pela equipe,
enfermeiro no organização de saúde. gerenciá-los, a fim de
gerenciamento Na organização promover um ambiente
de conflitos, hospitalar, o enfermeiro adequado de trabalho,
publicados em é considerado um motivador ao trabalhador
inglês, espanhol gerenciador dos para boas práticas de
e serviços de saúde. Ele enfermagem.
Português, no desenvolve papel
período de fundamental nas Dificuldades do enfermeiro,
janeiro de 2015 relações de equipa, enquanto gestor do
a setembro de pois articula e interage cuidado, em relação à
2019. com os diferentes competência para gerenciar
trabalhadores e é conflitos, pois nem sempre
identificado pela ambos os lados envolvidos
liderança e conseguem ficar satisfeitos
coordenação do com as resoluções
processo de trabalho propostas.
em saúde. Contudo, no Para a gestão de conflitos:
desempenho desse “essa tarefa, são
papel, esse profissional necessárias estratégias de
defronta-se com a gerenciamento, destacadas
necessidade de neste estudo: saber liderar,
gerenciar conflitos, o negociar, planejar, ser justo
que tem sido referido frente às situações, avaliar,
como uma fonte de ter conhecimento científico
sofrimento moral. e técnico para, assim,
conseguir conduzir a
Para minimizar esse equipe”.
sofrimento, alguns O comportamento do
autores mencionam enfermeiro -o
aspectos essenciais comportamento do
para propiciar a enfermeiro, diante de uma
resolução dos conflitos, situação conflituosa,
dentre os quais se depende de seu

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destacam a formação conhecimento, habilidades
básica adequada e a e atitudes enquanto
utilização de gerente, das suas aptidões
instrumentos pessoais no processo de
gerenciais, como negociação e utilização da
planeamento, estratégia mais propícia
liderança, autonomia e para resolver ou diminuir os
administração conflitos que ocorrem no
adequada do tempo. trabalho.

Estudos Instituições formadoras em


complementam, Enfermagem têm a
destacando como responsabilidade de
principais implementar estratégias ou
competências do metodologias inovadoras
enfermeiro gerencial: com foco no
comunicação, desenvolvimento de
flexibilidade, tomada de competências gerenciais
decisão e visão ainda no âmbito da
estratégica, graduação, como o
gerenciamento de gerenciamento de conflitos,
pessoas, materiais e necessárias às demandas
custo hospitalar, do mercado de trabalho em
relacionamento saúde.
interpessoal e trabalho
em equipa.

A mediação pode
contribuir para
minimizar insatisfações
e desmotivação,
mantendo a harmonia e
o equilíbrio da equipe, o
que reflete
positivamente em todo
o cuidado prestado.

É necessário
desenvolver planos de
ação que
compreendam todas as
partes envolvidas e
reconheçam as
diferenças entre as
pessoas, pois todo ser
humano é um ser único.

Ressalta-se que o
enfermeiro é o líder da
gestão de pessoas,
pois interage direta e
sucessivamente com a
equipe de trabalho.
Sendo assim, não só o
gestor de enfermagem,

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mas cada enfermeiro,
como líder, também é
responsável pela
administração do
recurso humano na
organização.

Tabela nº 1- Análise de artigos

A presente RIL tinha como objetivo conhecer e descrever os principais conflitos


identificados nas equipas de saúde do doente crítico e as estratégias de resolução. As unidades
de prestação de cuidados ao doente crítico devido ao alto nível tecnológico que apresentam e à
especificidade de funções que exigem da equipa de saúde são um local privilegiado ao
aparecimento de momentos de confusão, stress, tensões emocionais e relacionais.
As competências relacionais estão referidas em todos os artigos como determinantes para
a ocorrência do conflito assim como para a sua resolução baseando a ação no recurso à
inteligência intelectual e emocional. As competências relacionais como a comunicação
assertiva, uma abordagem empática perante as dificuldades da equipa e a cooperação interpares
determinam a qualidade da interação dentro da equipa e promovem o crescimento pessoal,
tornando os relacionamentos mais saudáveis e o ambiente de trabalho construtivo.
Pela análise dos artigos, nomeadamente os artigos 2, 4, 5 e 6 verificamos que o
conhecimento dos estilos de comunicação pode tornar-se uma ferramenta importante para a
gestão de conflitos na medida em que confere capacidade para compreender o tipo de
comunicação que está a ser observada. Permite adequar uma melhor resposta, adaptar um estilo
comunicacional mais assertivo, capaz de negociar, de evitar ou gerir o conflito.Por outro lado,
também é percebido que as pessoas quando se sentem excluídas do núcleo tendem a ser mais
reativas. Uma das estratégias de resolução de conflitos a adotar será manter a inclusão de todos
os intervenientes do grupo e proporcionar momentos de partilha e confluência de saberes e ideias
para que as pessoas possam encontrar pontos de união.
Emergiu, também, como outcome do artigo 3 a possibilidade de recurso da utilização de
instrumentos de avaliação/análise de perfis comportamentais por forma a identificar as
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necessidades reais a serem trabalhadas para colmatar falhas de comunicação. Técnicas
específicas como brainstorming, debriefing, teambuilding são considerados instrumentos
benéficos para a construção de equipas coesas e evolutivas. Conhecer melhor o parceiro
minimiza os conflitos e facilita a resolução dos que ocorrem.
No artigo 6, situação já evidenciada nos outros artigos, é reconhecida a importância do
papel do enfermeiro, por todas as suas competências comuns, acrescidas e de especialização, na
gestão e negociação de conflitos. É uma mais-valia para o profissional, utente e instituição, o
Enfermeiro enquanto elemento de proximidade, capaz, livre de juízos de valor conferir
segurança ao utente e também através da gestão de conflitos. Os Enfermeiros são um grupo de
profissionais que trabalham em equipa multidisciplinar e multiprofissional, são também eles que
estão no cerne dessa equipa diferenciada que envolve o utente.
Torna-se pertinente referenciar a distinção entre a gestão construtiva de um conflito e a mera
resolução do mesmo. De acordo com Cunha e Leitão (2012) a resolução de conflitos traduz-se
somente na procura de um modo de o eliminar ou de o reduzir. Por sua vez, uma gestão
construtiva de conflitos implica, para além de uma procura de soluções, a delimitação de
estratégias que permitam alcançar e aproveitar os benefícios do conflito, nomeadamente ao nível
da aprendizagem e da mudança de comportamentos dos envolvidos. Para Jesuíno (1992), “a
negociação é, essencialmente, um processo de tomada de decisão num contexto de interação
estratégica ou de interdependência” (JESUÍNO, 1992). A negociação parece ser o processo que
mais aplicação tem na gestão de conflitos na equipa de saúde. É um processo dinâmico e que
exige preparação: Cada uma das partes necessita clarificar os objetivos que pretende alcançar.
Teoricamente, transpomos da prática que quando se verificam conflitos na equipa são chamados
os líderes para conferir apoio à resolução. É então, que a ação passa por pensar, estratégica e
antecipadamente, as reações da outra parte face à sua exposição dos objetivos, capacidade de
influenciar, estilo de abordagem e aspetos logísticos. Verifica-se, também, que a comunicação

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não-verbal, interação e feedback melhoram o clima de negociação, diminuindo a resistência de
ambas as partes para se chegar a um acordo.
Todos os estudos, artigos e documentos encontrados ao longo da presente pesquisa e revisão
foram considerados pela sua importância e pertinência, através dos contributos obtidos para a
prática baseada na evidência com perspectiva de melhoria da qualidade dos cuidados em saúde,
num futuro próximo.

Considerações finais
O ambiente hospitalar devido à sua complexa estrutura organizacional, de elevada
diversidade profissional, com níveis de formação discrepantes e interdependência entre funções,
ambiguidade de tarefas, recursos comuns e, muitas vezes, escassos é altamente propício à
geração de conflitos. Os profissionais de saúde pretendem encontrar o equilíbrio entre os
interesses do utente, os interesses do hospital onde exercem e as suas próprias crenças e valores,
tendo sempre como base uma eficiência ética e prática (SCHWEITZER, 2008).
Nesta revisão procurou-se entender os tipos de conflitos, as suas fases e a abordagem que a
equipa demonstra quando confrontada com estes episódios de elevado stress. É essencial que,
no seio da equipa, existam elementos facilitadores e que se desenvolvam aptidões para que a
gestão de conflitos possa ser uma estratégia eficaz, tendo como claro exemplo: Os estilos de
comunicação assertiva e empática, a observação sistematizada, a escuta ativa e até o senso
crítico, todos considerados como pilares para intermediar todas as fases de um conflito.

Referências

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FORMAÇÃO DO RESIDENTE NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19:
RELATO DE EXPERIÊNCIA

Aline Sousa Falcão1


Claudeth Freitas da Costa 2

Resumo: A Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) é uma modalidade de pós-


graduação destinada à especialização de profissionais da saúde em diferentes áreas, incluindo
a Enfermagem. A formação está relacionada a vários fatores, inclusive a estrutura física da
instituição de saúde em que acontece o treinamento em serviço, de forma estruturada, com
orientação e supervisão de profissionais tecnicamente qualificados. Portanto, situações de crise
em que os sistemas de saúde não estão preparados para enfrentar, como foi o caso da pandemia
em decorrência da COVID-19, resultando em um processo de desestruturação dos programas
de residência multiprofissional para adaptar-se à nova realidade. Portanto, este trabalho tem
como objetivo descrever a experiência sobre o processo de formação em serviço proporcionado
pela Residência Multiprofissional em Saúde e seus desafios no contexto da pandemia da
COVID-19, na área da Enfermagem. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de
experiência, vivenciado no enfrentamento da COVID-19 em um Hospital Universitário no
Estado do Maranhão, na Residência Multiprofissional em Saúde, na área da Enfermagem, no
período de março a junho de 2020. A pandemia da COVID-19 trouxe um cenário complexo
para o sistema de saúde mundial, inclusive para o Brasil devido aos desafios na formação e
capacitação do profissional residente. A partir das práticas vivenciadas na residência durante a
pandemia da COVID-19 podemos destacar como principais pontos positivos para a formação
profissional, a maturação no processo de aprendizagem, maior interação entre a equipe
multiprofissional no cuidado ao paciente com COVID-19, e a concessão pelo Ministério da
Saúde de uma bonificação aos residentes como reconhecimento pelo trabalho prestado e
incentivo ao enfrentamento da pandemia, ampliando a força de trabalho no SUS, garantindo a
maior assistência à população brasileira e apoiando os profissionais que atuaram na linha de
frente. Como principais desafios enfrentados e acentuados pela pandemia foram à suspensão do
calendário acadêmico, prejuízo no ensino teórico-prático do profissional residente, o medo de
atuar com pouca experiência profissional em uma doença até então desconhecida, adaptação
aos novos fluxos de trabalho para atender demandas da instituição e dos usuários, a falta de

1
Enfermeira. Residente em Saúde do Adulto, área de concentração em Clínicas Médica e Cirúrgica do Programa
de Residência Multiprofissional (RMS) do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-
UFMA). São Luís, Brasil, e-mail: [email protected]
2
Enfermeira. Especialista em Saúde da Família e preceptora da Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) do
Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA). São Luís, Brasil
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investimento em tecnologias. Ressalta-se ainda a escassez de Equipamentos de Proteção
Individual (EPI’s), o adoecimento físico e psíquico dos residentes multiprofissionais devido à
extensa carga horária prática no contexto da pandemia e a sobrecarga de trabalho dos
profissionais preceptores resultando em um impacto na educação continuada. Dessa forma,
observamos que a importância da atuação dos residentes no atual cenário da COVID-19,
participando ativamente das estratégias realizadas no enfrentamento da pandemia em curso,
ressaltando que este se encontra em processo de formação, dessa forma, deve ser preservada o
processo de ensino-aprendizagem garantindo os princípios da formação em serviço, no
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde para que não sejam perdidos diante do
contexto atípico da pandemia.

Palavras-chave: Formação profissional; Enfermagem; Pandemia; COVID-19; Atenção à


saúde.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
Em dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que as
autoridades chinesas detectaram um novo vírus identificado em um paciente hospitalizado com
pneumonia em Wuhan, posteriormente denominado de SARS-CoV-2. Cinco meses após a
detecção do primeiro caso, o número de pessoas atingidas pela infecção do SARS-CoV-2 só
aumentou e a infecção viral resultou na morte de milhares de vidas. Desde então, o mundo
vivencia uma pandemia sem precedentes na história contemporânea, e até 3 de junho de 2020
foram notificados 6.287.771 casos confirmados e 379.941 óbitos pelo novo coronavírus,
afetando principalmente os continentes americano e europeu (KOH, 2020).
A pandemia de Covid-19 tem produzido números expressivos de infectados e de óbitos
no mundo. Dados do Ministério da Saúde mostram que até o mês de junho de 2020, o país
somava mais de 1,1 milhão de casos confirmados da doença e 53.800 mortes. Segundo o
relatório da Organização Mundial da Saúde até o mês de outubro de 2020 foram mais de 44

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milhões de casos confirmados e 1.178.475 mortes no mundo por Covid-19 (SARS-Cov2). E no
Brasil, foram mais de 5,5 milhões de casos confirmados e 158.456 mortes. (WHO, 2020).
A pandemia da COVID-19 atingiu os serviços de saúde levando a uma demanda extra
de estruturas, insumos e recursos humanos, o que tem desafiado de maneira considerada os
sistemas nacionais de saúde dos diversos países. O Brasil, em que historicamente apresenta um
financiamento insuficiente para garantir as condições para gerir as demandas cotidianas,
enfrentou sérias dificuldades com a pandemia de COVID-19 (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2021).
Os profissionais de saúde em suas diversas categorias profissionais estão diretamente
relacionados no atendimento às pessoas infectadas pela COVID-19 e, portanto, constituem um
grupo de risco para a infecção. A pandemia expôs a fragilidade do setor da saúde no Brasil em
conseguir garantir a segurança dos profissionais envolvidos no cuidado aos infectados. Trata-
se de uma exposição que pode ser compreendida como “exposição biológica” e a maioria, ou
talvez todos os profissionais de saúde, estão expostos e possuem alto risco de adquirir a doença,
principalmente ao realizar procedimentos em vias aéreas ou próximos a elas, devido à exposição
prolongada e durante a administração de oxigênio e suporte ventilatório (FERIOLI et al., 2020).
Os profissionais de saúde constituem um grupo de risco para a COVID-19 por estar
exposto diretamente aos pacientes infectados, entrando em contato com uma alta carga viral
(milhões de partículas de vírus). Além disso, está submetido a um enorme estresse no
atendimento desses pacientes, pois, muitos se encontram em um estado grave e em condições
de trabalho frequentemente inadequadas (SILVA et al., 2020).
O cuidado de enfermagem é um componente fundamental dentro do cenário da
pandemia que o mundo está vivenciando. O enfermeiro apropria-se de um papel decisivo e
nesse momento precisa avaliar suas competências, atitudes e habilidades para a oferta de um
cuidado seguro para paciente, profissional e equipe, o que requer treinamentos e adaptações

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diárias através de protocolos e fluxos institucionais que ocasionam mudanças nas rotinas dos
serviços de saúde (SILVA et al., 2020).
Nesse contexto, destaca-se o papel do profissional enfermeiro residente em saúde que
atua dentro do programa de Residência Multiprofissional em Saúde regulamentada pela Lei
Federal nº 11,129 de 30 de junho de 2005, na modalidade de pós-graduação lato sensu, voltada
para a educação em serviço. Esse profissional é inserido no campo de serviço e atua juntamente
com a equipe de saúde com perfil capaz de transformar as práticas tradicionais com base no
entendimento de uma nova cultura e intervenção em saúde (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,
2005).
O profissional residente em saúde está presente nos serviços e compartilharam dessa
abrupta mudança de rotina que resultou em ansiedade, medo e angústia frente ao vírus que se
propaga de forma acelerada e promove intensas mudanças frente a uma estrutura de saúde que
se torna insuficiente para o melhor atendimento dos pacientes infectados e que pode entrar em
colapso a qualquer momento. É necessária a adaptação ao cenário atual, as mudanças de fluxos
operacionais dentro dos serviços, utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) de
forma racionada e acima de tudo preservar a saúde mental desse profissional, para que o
trabalho seja realizado de forma eficiente e sem gerar adoecimentos.
Diante desse contexto, o objetivo deste estudo foi descrever a experiência sobre o
processo de formação de profissionais residente multiprofissional em saúde no período de
enfrentamento da COVID-19 no contexto da enfermagem.

Referencial teórico
A gestão e o cuidado em saúde são etapas fundamentais para a construção de processos
formativos com vistas a enfrentar os desafios referentes à consolidação do Sistema Único de
Saúde e do seu princípio de integralidade, o que evidencia a necessidade de mudanças no
processo de trabalho. É necessário que as políticas de formação profissional promovam o

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desenvolvimento dos saberes e práticas em saúde, instituindo os modos de produção do cuidado
voltado para o desenvolvimento das potencialidades dos profissionais da saúde como fonte de
constituição do processo de formação compreendendo a multiplicidade que as constitui o
sistema de saúde (SILVA; DALBELLO-ARAUJO, 2019).
As mudanças na formação dos profissionais de saúde têm ganhado relevância no mundo
inteiro, no Brasil o Ministério da Saúde assumiu a responsabilidade de orientar a formação dos
profissionais para atender as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) (PARÉ et al.,
2012).
Nos últimos anos, percebeu-se um aumento expressivo da demanda de profissionais nos
cursos de especialização em saúde, e uma ampla criação de cursos de pós-graduação lato
sensu. Em especial, na área da enfermagem, a procura por esses cursos justifica-se na busca de
qualificação e certificação para inserção no mercado de trabalho (MILLÁN; CARVALHO,
2013).
A Residência Multiprofissional em Saúde tem por intenção capacitar os profıssionais a
entenderem a multicausalidade dos processos de adoecimento, individuais e coletivos,
contextualizando o indivíduo em seu meio ambiente, abrangendo as áreas da Enfermagem,
Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço
Social e Terapia Ocupacional (MILLÁN; CARVALHO, 2013).
Constitui-se por um programa de cooperação intersetorial, favorecendo a inserção
qualificada dos profissionais no mercado de trabalho, orientada pelos princípios e diretrizes do
sistema único de saúde a partir das necessidades e realidades locais e regionais (MOTTA;
PACHECO, 2014).
Esses programas são comprometidos com a formação profissional voltada para uma
atuação diferenciada no Sistema Único de Saúde (SUS), com a perspectiva de que os
trabalhadores são seres constituintes no processo de trabalho em saúde, impulsionando a
construção colaborativa, o trabalho em equipe, a Educação Permanente em Saúde (EPS) e a

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reorientação das lógicas tecno-assistenciais promovidas pelas mudanças das práticas
pedagógicas. Com vistas a fortalecer o movimento de mudanças na formação em saúde no
Brasil, os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMS) têm sido um exemplo
de articulação entre a formação e o trabalho (LOBATO; MELCHIOR; BADUY, 2012).
Os programas de residência multiprofissionais foram estabelecidos com duração
mínima de dois anos, carga horária total de 5760 horas, tendo 80% da carga horária de
atividades práticas e 20% de atividades teóricas ou teórico-práticas, 60 horas semanais,
priorizando as atividades em Atenção Primária à Saúde e Hospitalares (SILVA et al., 2015).
A residência traz a oportunidade de novos conhecimentos relacionados a outras áreas e
faz com que profissões diferentes se complementem. A assistência ao paciente acontece de
forma integral com uma visão abrangente atendendo suas necessidades uma vez que os
residentes percebem que para trabalhar de forma multiprofissional devem estar cientes do papel
de cada um da equipe multiprofıssional resultando em objetivos comuns e uma identidade de
equipe compartilhada, com responsabilidades claras e interdependência entre os membros da
equipe e integração entre os métodos de trabalho (SILVA et al., 2015).

Método
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência vivenciado por
profissional residente em saúde no enfrentamento da COVID-19 no contexto da Residência
Multiprofissional em Saúde na área de Enfermagem em um Hospital Universitário situado em
São Luís, no estado do Maranhão, no período de março a junho de 2020. Inicialmente o Hospital
Universitário não fazia parte dos hospitais de referência para a COVID-19, porém como a
infecção alcançou o estágio de transmissão comunitária e a necessidade de maior estrutura e
suporte aos pacientes em estágio grave da doença, o hospital passou a atender os casos que
precisavam de suporte semi-intensivo e intensivo de COVID-19.

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O lócus da ação está baseado no cotidiano do profissional enfermeira residente que
vivenciaram e acompanharam através das mudanças de fluxos nos serviços de saúde o cuidado
a pacientes suspeitos e confirmados para COVID-19, assim como o racionamento e, por vezes,
escassez dos equipamentos de proteção individual dentro da instituição, e como todas essas
alterações afetam a formação profissional do residente no período da pandemia. Os dados que
foram relatados também representam a observação acerca do período de treinamento em serviço
na instituição hospitalar frente à pandemia do coronavírus.

Resultados e discussão
A residência multiprofissional em saúde é uma modalidade de ensino de pós-graduação
destinada à especialização de profissionais de saúde em diversas áreas, entre elas estão a
Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,
Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e
Terapia Ocupacional, e está diretamente dependente da estrutura física da instituição de saúde
onde acontece a atuação profissional, da disponibilidade de estágios bem estruturados e da
orientação e supervisão de preceptores com qualificação ética e técnica adequada (Ministério
da Saúde, Resolução CNS nº 287/1998).

Os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMS) que emergem como


estratégia para a educação no mundo do trabalho e para o trabalho. Apoiados no processo de
ensino, aprendizado e trabalho in loco nas instituições de saúde, possuem como atributo, a
formação de profissionais segundo as necessidades locais, isto é, com habilidades e
especialidades específicas conforme a deficiência regional (SILVA; DALBELLO-ARAUJO,
2019).

Portanto, situações de crise no sistema de saúde, como a pandemia pelo novo


coronavírus (COVID-19), podem interferir e até mesmo gerar uma desestruturação dos
programas de residência, incluindo as residências multiprofissionais em saúde em andamento
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devido a ser um vírus de rápida propagação que pode resultar em graves impactos nas
instituições de saúde. Portanto, os gestores atuaram no planejamento e na preparação de
protocolos e fluxogramas para atender às demandas impostas pelo cenário da COVID-19, o que
resultou em uma abrupta mudança na rotina dos profissionais de saúde (MELLO et al., 2020).

A instituição hospitalar do referido relato de experiência, por se tratar de uma instituição


de atenção terciária ou de alta complexidade, responsável pela formação de profissionais para
a área da saúde, constituindo a sua principal razão de existir, sendo ainda um hospital de
referência estadual para procedimentos de alta complexidade, a saber: Cirurgia Bariátrica,
Cirurgia Cardiovascular, Neurocirurgia, Traumato-ortopedia, Transplante de rim e de córnea,
Litotripsia e Terapia Renal Substitutiva, realizando ainda procedimentos de média
complexidade. Por excelência, o hospital de ensino é um centro de pesquisa para a formação de
profissionais da área de saúde e outras áreas correlatas, planejando e executando suas atividades
com base na sua identidade institucional (HU-UFMA/ EBSERH, 2015).
No início da pandemia, a gestão do hospital trabalhou na criação do Comitê de
Operações de Emergência para o enfrentamento da COVID-19, foi responsável por elaborar o
Plano de Contingência, possibilitando a organização dos fluxos, para garantir a oferta de
equipamentos de proteção individual e de treinamentos, proporcionando conhecimentos mais
atualizados aos profissionais. Outras estratégias foram adotadas pela instituição para a
continuidade dos serviços, como campanhas para angariar recursos e insumos hospitalares e o
processo seletivo para contratação emergencial de profissionais de saúde em decorrência do
elevado número de profissionais que adoeceram (MARQUES et al., 2020).
Nesse contexto, em que aconteceram mudanças nos fluxos operacionais, foi possível
perceber na prática clínica o crescente aumento de informações que chegaram para os
trabalhadores de saúde que necessitavam se adequar de forma rápida ao manejo do paciente
acometido pela COVID-19. Devido à proporção global da doença, pesquisadores de vários
países estudavam sobre o vírus e as informações eram lançadas quase que instantaneamente,

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influenciando diretamente na forma como era conduzido os pacientes infectados pela COVID-
19.
Esse período atípico marcado pela pandemia da COVID-19 desencadeou um cenário
complexo para o sistema de saúde, gerando desafios na formação e na capacitação do
profissional de saúde, inclusive para a formação do profissional residente.
Com o advento da Pandemia da COVID-19, a unidade hospitalar do referido estudo
integrou a rede de atendimento aos pacientes suspeitos ou confirmados, na qualidade de hospital
de retaguarda. A instituição encontrou desafios até então nunca vivenciados, e os setores de
rodízio do treinamento em serviço dos residentes foram modificados em virtude da
reorganização para o atendimento aos casos de COVID-19.
A partir das práticas vivenciadas podemos destacar que apesar do cenário pandêmico,
resultou em pontos positivos para a formação profissional residente durante o enfrentamento da
pandemia, podemos destacar como pontos principais: uma maturação no processo de
aprendizagem, maior interação entre a equipe multiprofissional no cuidado ao paciente com
COVID-19, a concessão pelo Ministério da Saúde de uma bonificação sobre o valor da bolsa
paga aos residentes como reconhecimento pelo trabalho prestado e incentivo ao enfrentamento
da pandemia, ampliando a força de trabalho no SUS, garantindo a melhor assistência à
população brasileira e apoiando os profissionais que estavam atuando na linha de frente.
Inicialmente, os pacientes suspeitos ou confirmados graves de infecção por COVID-19
eram encaminhados através da regulação Municipal, respeitando protocolo que foi devidamente
aprovado entre as partes, de acordo com os critérios, em que o paciente deveria ir intubado em
ventilação mecânica, apresentar um exame de swab nasofaríngeo para pesquisa de COVID-19
e um exame de tomografia de controle para que fosse realizada a admissão do paciente na
instituição hospitalar.
Os leitos da Unidade de Clínica Médica além de realizar o atendimento clínico dos
pacientes com COVID-19 que se caracterizavam com sintomas mais leves da doença, também

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foram destinados ao acompanhamento dos pacientes após alta da UTI COVID-19. No período
inicial dessa fase, iniciou-se um processo interno de treinamentos e remanejamentos dos
funcionários para os setores que precisavam de maior quantitativo de profissional para integrar
as equipes destinadas ao atendimento dos pacientes suspeitos ou confirmados por COVID-19,
entre os profissionais remanejados estavam os residentes.
O número de casos no Estado do Maranhão manteve-se com tendência crescente,
acompanhada do aumento da taxa de ocupação de leitos da rede de referência, o que exigiu a
ampliação do número de leitos e de suas respectivas demandas de infraestrutura, tanto física,
quanto de equipamentos, insumos e recursos humanos.
Como principais dificuldades enfrentadas e acentuadas pela pandemia foram à
suspensão do calendário acadêmico que impacta a oferta das disciplinas teóricas e prejudicou a
relação da teoria com prática cotidiana do profissional residente, o medo de atuar com pouca
experiência profissional em uma doença até então desconhecida, a adaptação aos novos fluxos
de trabalho para atender as demandas da instituição e dos usuários, a falta de investimento em
tecnologias para auxiliarem nos processos de trabalho, a escassez de Equipamentos de Proteção
Individual (EPI’s), o adoecimento físico e psíquico dos residentes multiprofissionais devido à
extensa carga horária prática no contexto da pandemia e a sobrecarga de trabalho dos
profissionais que são preceptores impactando na educação continuada. Outro obstáculo está
relacionado à aquisição de equipamentos necessários à manutenção de vida nos casos mais
graves da doença, principalmente os respiradores, bem como insumos. O número reduzido de
profissionais nas instituições, a ausência de bolsas de incentivo para os preceptores, além de
essa atividade ser considerada mais uma atribuição dentro da carga horária dos profissionais.
Apontam, ainda, a dificuldade de diálogo entre trabalhadores e pacientes, tarefas
administrativas vistas como desvio de função, expectativa sobre algumas categorias
profissionais para a atuação clínica individual dificuldade para o exercício do trabalho coletivo,

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discursos e posturas corporativistas, resistência por parte de equipes antigas nos serviços e,
ausência de aprendizado sobre gestão.
Apesar da transformação do processo de aprendizado provocado pela pandemia da
COVID-19, não significa, necessariamente, que resultou em um prejuízo à formação dos
residentes multiprofissionais em saúde. Podemos considerar que este momento compreende
como uma oportunidade única de aprendizado em todas as áreas do conhecimento promovendo
a formação de profissionais experientes em situações semelhantes, passíveis de ocorrer em
futuro próximo.

Considerações finais
Neste sentido, observamos que a integração do programa de Residência
Multiprofissional em Saúde corresponde a uma relação que tece desafios e potencialidades no
campo do sistema de saúde, pois promove o aprendizado através do contato com profissionais
de diversas áreas, permitindo que os residentes assumam uma nova conduta na prática
profissional, portanto, consideramos fundamental a atuação dos residentes no atual cenário da
COVID-19, devido ao seu potencial desenvolvido para a resolução da emergência de saúde
pública resultado do processo de formação acadêmica. Dessa forma, deve ser preservado o
processo de ensino-aprendizagem, garantindo-se os princípios da formação em serviço no
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde para que não sejam perdidos diante de um
contexto atípico, como o da pandemia da COVID-19.

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EDUCAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS E SUA IMPORTÂNCIA NA
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE

Raquel de Oliveira Laudiosa da Motta1


Suely Lopes de Azevedo2
Maria Lucivane de Oliveira3
Aline Silva da Fonte Santa Rosa de Oliveira4
Maria Amália de Lima Cury Cunha5

Resumo: A Organização Mundial da Saúde (OMS) define Cuidados Paliativos (CP) como
cuidados ativos e totais promovidos por uma equipe de saúde multidisciplinar que objetiva
melhorar a qualidade de vida da pessoa e dos seus familiares diante de uma doença ameaçadora
à vida. Um modelo de cuidado cujo foco de atenção é deslocado da doença para a pessoa, em
sua história de vida, no contexto familiar e em seu processo de adoecimento e morte,
proporcionando a todos os envolvidos, conforto psicológico, social e espiritual. Na atual
realidade, os cursos de capacitação são esparsos e ainda existe resistência ao debate sobre o
assunto, o que reforça a ideia de que somente com uma mudança substancial na gestão do
conhecimento e nos currículos de graduação e pós-graduação dos profissionais de saúde é que
os CP terão sua aplicabilidade consolidada. O objetivo deste estudo é discutir a importância da
inserção dos CP nas grades curriculares na formação dos profissionais de saúde. Trata-se de um
estudo de revisão integrativa a partir das fontes indexadas às bases de dados da Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Literatura Internacional em

1
Enfermeira. Pós-graduanda em Controle de Infecção em Assistência à Saúde (CIAS)/Universidade Federal
Fluminense, Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC). Niterói – Rio de Janeiro, Brasil.
[email protected]
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e
Administração da Escola de Enfermagem Aurora Afonso da Costa (EEAAC)/Universidade Federal Fluminense.
Niterói – Rio de Janeiro, Brasil.
3
Enfermeira. Pós-graduanda em Controle de Infecção em Assistência à Saúde (CIAS)/Universidade Federal
Fluminense, Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC). Niterói – Rio de Janeiro, Brasil.
4
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Escola de Enfermagem Bezerra de Araújo – Rio de Janeiro,
Brasil.
5
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) Universidade
Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, Brasil.

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Ciências da Saúde (MEDLINE) e Scientific Electronic Library Online (Scielo), com o uso dos
descritores: cuidados paliativos na terminalidade da vida; assistência integral à saúde; formação
profissional em saúde; educação em saúde e educação permanente de forma isolada e cruzada
com o operador booleano AND de fevereiro a maio de 2021. Os critérios de inclusão foram:
artigos disponíveis na íntegra, indexados nas bases supracitadas, publicados em português e
inglês, com recorte temporal de 2015 a 2021. As evidências apontam que o tema morte ainda é
um tabu e assunto abordado de forma comedida, visto que a sociedade revela dificuldade em
aceitar a finitude da vida. Além de evidenciar que as causas do despreparo dos profissionais
para lidar com a morte perpassam por questões culturais, espirituais e o ensino na área de saúde,
que prioriza a formação técnico-científica. Nessa perspectiva, muitas vezes, a morte pode ser
percebida como derrota, frustração pessoal e profissional, que transcende a limitação técnica,
uma vez que salvar vidas ficou enraizada no processo de formação, e consequentemente, a
morte deixa de ser uma etapa que faz parte da vida e passa a ser evitada a todo e qualquer custo.
Desse modo, acredita-se que somente por meio da educação do profissional em formação
haverá a possibilidade de formar não apenas profissionais de saúde especialistas em CP, mas
aqueles que, diante de um paciente com doença avançada e terminal, tenham preparo para
prestar um cuidado que ofereça conforto e tranquilidade ao doente e a sua família. Assim, é
possível ter expectativas não apenas de ampliar o conhecimento científico que contemple este
contexto, mas também garantir a qualidade da assistência prestada aos pacientes com doenças
que ameaçam à vida, principalmente em sua fase final. Por fim, entender a importância da
incorporação da temática no processo formativo propiciará novos debates, que abrirão espaço
para o atendimento de uma demanda em crescimento significativo.

Palavras-chave: Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida; Assistência Integral à Saúde;


Formação Profissional em Saúde; Educação em Saúde; Educação permanente.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define Cuidados Paliativos (CP) como


cuidados ativos e totais promovidos por uma equipe de saúde multidisciplinar que objetiva
melhorar a qualidade de vida da pessoa e dos seus familiares diante de uma doença ameaçadora
à vida. Trata-se de um modelo de cuidado cujo foco de atenção é deslocado da doença para a
pessoa, em sua história de vida, no contexto familiar e em seu processo de adoecimento e morte,
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proporcionando a todos os envolvidos, conforto psicológico, social e espiritual. Os CP devem
reunir habilidades de uma equipe multiprofissional, para ajudar o paciente e seus familiares a
se adaptarem às mudanças de vida impostas pela doença incurável, bem como promover a
reflexão necessária para o enfrentamento da condição irreversível e/ou possibilidade de morte
(COSTA; POLES; SILVA, 2016).
Os CP possuem como princípios norteadores: alívio da dor e prevenção/controle de
sintomas desagradáveis; afirmar a vida e considerar a morte um processo natural; não acelerar,
nem adiar a morte; integrar as intervenções de natureza biológica, psicológica, social e
espiritual direcionadas aos usuários e seus familiares, os quais devem ser desenvolvidos em
uma perspectiva interdisciplinar e multiprofissional. Tais intervenções devem focar as
necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo o acompanhamento no luto, além de
incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações
clínicas estressantes decorrentes do processo de terminalidade (ANCP, 2018; GOMES;
OTHERO, 2016).
Nesse contexto, segundo Ferreira (2016), por todos os desafios que demandam a oferta
dos CP, é essencial que os profissionais estejam devidamente preparados, para que sejam
capazes de atender às reais necessidades dos pacientes sob sua assistência e prestar um cuidado
individualizado e humanizado. Desse modo, Sarmento, et al (2021) afirma que, a preparação
deve ser iniciada na graduação e perdurar por toda a vida profissional, seja por iniciativa própria
ou ofertada pelo serviço, pensando sempre na lógica da Educação Permanente em Saúde (EPS).
De acordo com Costa, Poles e Silva (2016), o ensino dos CP vem sendo pouco abordado
no currículo da graduação dos profissionais de saúde, tendo em vista que a abordagem, ainda
hoje, é voltada para o paradigma curativo. Assim, para que os futuros profissionais tenham uma
visão humanística acerca das necessidades dos pacientes fora de possibilidades terapêuticas de
cura, é necessário que haja uma modificação no currículo dos cursos de graduação,
privilegiando-se conteúdos específicos sobre CP.

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A medicina curativa e a paliativa devem andar juntas, pois se complementam a fim de
dar apoio ao paciente durante a trajetória de adoecimento, bem como durante seu processo de
morte e morrer. Sendo assim, a medicina paliativa assume o lugar de destaque quando as
medidas terapêuticas voltadas à curativa esgotam-se.
Assim, a falta de preparo para enfrentar situações de comunicação e suporte aos
pacientes em fase final de vida leva a um grande prejuízo na relação profissional de saúde-
paciente. O profissional de saúde se sente impotente e fracassado por não cumprir o objetivo da
medicina curativa, baseada no modelo Biomédico6 ou mecanicista arraigado durante processo
de formação profissional, e o paciente se sente desamparado por não ter o apoio necessário em
uma situação de grande fragilidade. Além disso, o profissional de saúde sem nenhum grau de
formação em CP tende, com o tempo, a criar um distanciamento afetivo do paciente (RIBEIRO
ET AL, 2019; LEMOS, 2018).
Face ao exposto, este estudo tem como objetivo discutir a importância da inserção dos
CP nas grades curriculares durante o processo de formação dos profissionais de saúde.

Método

Trata-se de um estudo de Revisão Integrativa (RI) da literatura, um dos métodos


utilizados na Prática Baseada em Evidências (PBE). De acordo com Soares et al (2014), a RI é
entendida como um tipo de revisão de natureza complexa, que demanda métodos
normatizados e sistemáticos para garantir o necessário rigor requerido na pesquisa científica e
a legitimidade das evidências científicas estabelecidas.
No que tange à formulação da pergunta de pesquisa, optou-se pela estratégia PICO,
tendo em vista ser um método voltado para a pesquisa clínica. Nessa perspectiva, são quatro os

6
Modelo Biomédico ou mecanicista: princípios e práticas que irão conformar a nova medicina. Modelo mecânico
que se exige como analogia para a compreensão do funcionamento do corpo: o relógio e suas engrenagens
(PINHEIRO, 2021).
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elementos determinantes que configuram a estratégia utilizada nessa pesquisa, a saber: P=
Paciente/problema, I= Intervenção, C= Comparação (não aplicado no estudo) e D= desfecho.
Desse modo, a pesquisa foi realizada a partir das fontes indexadas às bases de dados da
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Literatura
Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) e Scientific Electronic Library Online
(Scielo). Como estratégia de busca foram utilizadas as palavras-chaves: “cuidados paliativos na
terminalidade da vida”, “assistência integral à saúde”, “formação profissional em saúde”,
“educação em saúde” e “educação permanente”, as quais foram consultadas no Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) e ao Medical Subject Headings (MeSH), utilizadas de forma isolada
e cruzada com o operador booleano AND e OR.
O período de coleta dos dados se deu entre fevereiro e maio de 2021. Os critérios de
inclusão foram: artigos disponíveis na íntegra, indexados nas bases supracitadas, publicados em
português e inglês, respeitando um recorte temporal dos anos de 2015 a 2021. Após a leitura
dos resumos dos artigos e atendendo aos critérios determinados para essa RI, a amostra final
compreendeu 14 publicações.

Resultados e discussão

A partir da leitura detalhada e durante a análise dos artigos foi possível identificar duas
categorias a saber: “Percepção dos profissionais de saúde sobre a morte e os Cuidados
Paliativos”, e “Processo de formação acadêmica dos profissionais de saúde sobre Cuidados
Paliativos”.

Percepção dos profissionais de saúde sobre a morte e os Cuidados Paliativos

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Um estudo de Jafari et al, (2015); Souza et al (2017) mostrou que a morte, de maneira
semelhante ao nascimento, é um evento inerente à vida por se tratar de um episódio próprio da
condição humana, ou seja, é o fechamento natural do ciclo da vida. Portanto, dependendo das
origens culturais, étnicas ou religiosas pertencentes a cada indivíduo, poderá contribuir no que
diz respeito às atitudes da pessoa frente ao processo da morte e morrer. Dessa maneira, a
percepção do fenômeno da morte acarretará um caráter peculiar de cada indivíduo, seja ele
profissional de saúde ou não. Assim, ao perceber sob o ponto de vista positivo, há uma aceitação
desta, ou sob o ponto de vista negativo, quando há presença do medo e da recusa em aceitar a
finitude da vida.
Outrossim, a percepção dos profissionais de saúde acerca da morte pode influenciar
diretamente na qualidade da assistência, bem como na oferta do cuidado ao paciente em
processo de terminalidade. As evidências científicas mostraram que nas situações em que o
profissional de saúde apresenta uma postura negativa relacionada à morte, pode ocorrer dele
sentir-se despreparado para adotar uma atitude positiva frente aos cuidados ao fim da vida,
acarretando prejuízo na qualidade da assistência prestada e, consequentemente, da relação
profissional-paciente (MONDRAGÓN-SÁNCHEZ ET AL, 2015).
Um estudo de Verri et al (2019) identificou nos resultados que ao serem questionados
sobre os seus sentimentos e sensações frente à atuação em CP, que a maior dos profissionais de
saúde manifesta frustração e impotência diante das limitações e das perdas, uma vez que os
profissionais se sentem angustiados e fragilizados emocionalmente, frente à frustração e a
impotência atrelada ao despreparo, para a prestação da assistência paliativa durante o processo
de terminalidade.
Evidenciou-se no estudo de Brandão et al (2017) que para a maioria dos profissionais
de saúde, a morte ainda é considerada um tabu, logo lidar com ela faz parte de um desafio a ser
enfrentado diariamente. A morte dos pacientes, muitas vezes, está relacionada ao fracasso
profissional e não associada a uma circunstância que faz parte da vida e esse sentimento pode

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desencadear comportamentos, como por exemplo, fuga desses profissionais em relação ao
cuidado prestado a esses pacientes.
De acordo com estudo de Vasques et al. (2015), tornam-se os estressores emocionais a
angústia, a exposição ao sofrimento, as dificuldades em responder às perguntas difíceis feitas
pelos pacientes e seus familiares, as mortes repetidas e recorrentes e, até mesmo, o desconforto
pessoal frente ao sofrimento e a morte devido aos sentimentos de frustração e impotência dos
profissionais de saúde, faz parte do cotidiano de quem trabalha em CP, diuturnamente. Desse
modo, a constata-se a necessidade de proporcionar aos profissionais, estratégias para o
enfrentamento, no intuito de proporcionar o alívio da sobrecarga emocional, como forma de
buscar, recuperar a satisfação no trabalho e, consequentemente, melhorar a assistência prestada
aos pacientes terminais para a promoção de uma morte digna e suporte aos familiares na
elaboração do luto.
Para Malta, Rodrigues e Priolli (2018), promover uma morte digna é um desfecho do
cuidado que contempla as necessidades humanas. Logo, a utilização pelo profissional de saúde
de ferramentas para assegurar a terminalidade da vida com mitigação do sofrimento, não é
falhar em seu juramento enquanto profissional, e sim ofertar Cuidados Paliativos.
Segundo Ribeiro et al. (2019), muito embora seja demorada a aplicação de investimento
em políticas públicas voltadas para a promoção dos CP, no Brasil, o SUS reconhece e já oferece
assistência na referida área. Portanto, é de extrema relevância o desenvolvimento de um o
cuidado humanizado e paliativista pelos profissionais de saúde, trazendo desse modo identidade
às ações realizadas, a fim de buscar crescimento expressivo neste tipo de abordagem, na qual a
pessoa enferma e seus familiares estão todos envoltos em auras da vida, da morte e do morrer,
sendo este último um ato único e particular do ser humano.

Processo de formação acadêmica dos profissionais de saúde sobre Cuidados Paliativos

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Estudos evidenciaram que o ensino dos Cuidados Paliativos enquanto temática teórica
em disciplinas têm pouca expressão nos currículos de graduação dos profissionais de saúde
(médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entre outros). A constatação dessa fragilidade foi
retratada em um estudo de Fernandes (2015) e Moura (2018) que propôs a analisar o ensino dos
CP em cursos na área da saúde. Tal constatação configura um problema na formação desses
profissionais, uma vez que não ficou evidente uma base educacional voltada para a assistência
em Cuidados Paliativos. Assim, as evidências sugerem a existência de lacunas nos documentos
pedagógicos analisados, bem como a necessidade de reformulações desses documentos nas
grades curriculares dos cursos.
Estudos de Phillips, Johnston e Mcilfatrick (2020), Flierman et al (2019) e Ribeiro et
al. (2019) mostraram que as lacunas e limitações observadas no ensino da área da saúde podem
estar correlacionadas ao fato de que durante a formação acadêmica o foco ainda está centrado
no modelo Biomédico. Grande parte da formação na área da saúde é voltada para o como
restabelecimento da cura, cuja estrutura do ensino tende a formar profissionais altamente
mecanicistas, contrapondo-se assim com a filosofia dos CP, os quais revelam que até mesmo
nos últimos momentos de vida do paciente, é possível oferecer assistência, apoio e cuidados.
De Oliveira et al. (2016) corroboram afirmando que as dificuldades apresentadas pelos
profissionais de saúde frente à assistência paliativa, está diretamente relacionada à falta de
aproximação com o tema durante a formação acadêmica. O conhecimento incipiente traz
consequências e prejuízos à assistência prestada pelo profissional de saúde que atua com
paciente com doenças sem possibilidade de cura que ameaçam a vida.
Por conseguinte, diante da ausência de oferta de disciplinas obrigatórias, bem como a
escassez de disciplinas eletivas na grade curricular durante a graduação, um estudo de Chover-
Sierra; Martínez-Sabater; Lapeña-Moñux (2017) mostrou a necessidade cada vez maior por CP,
tendo em vista que a demanda por este tipo de assistência apresenta crescimento significativo,

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tanto pelo envelhecimento populacional crescente, como pelas pessoas portadoras de doenças
ameaçadoras à vida.
Desse modo, de acordo com os mesmos autores, torna-se de extrema importância a
participação desses profissionais em programas de EPS sobre a temática em tela, seja por
iniciativa própria do profissional ou interesse da instituição de saúde a qual pertence, para o seu
aprimoramento visando melhoria na qualidade da assistência, uma vez que as evidências
mostraram que profissionais com mais experiência e/ou formação em CP apresentam maior
conhecimento sobre aqueles que não possuem tal expertise.
Sarmento et al. (2021) corrobora afirmando que a falta de aproximação com o tema
durante o processo de formação, acaba por torná-lo pouco atrativo, fazendo com que os
profissionais de saúde se aperfeiçoem por meio de conteúdos limitados aos quais foram
apresentados. As dificuldades para a prestação da assistência paliativa decorrem, basicamente,
da fragilidade provocada pela lacuna do conhecimento sobre o tema em questão. Assim,
acredita-se ser extremamente importante promover a sensibilização dos profissionais de saúde,
bem como dos gestores, para que seja fomentada a participação dos mesmos em EPS sobre a
temática dos CP como modalidade assistencial. De forma a contribuir para a melhoria na
qualidade da assistência aos pacientes e familiares que necessitam dos cuidados na
terminalidade da vida.

Considerações finais
A valorização do modelo Biomédico curativista, baseado no estudo de fragmentação do
cuidado voltado às patologias e a cura delas, em detrimento do cuidado centrado no paciente, é
um conceito educacional que requer urgentes reformulações, a fim de suprir as necessidades
humanas tendo em vista a promoção de uma morte digna. Nessa perspectiva, foi possível
constatar a importância da inserção dos CP nos currículos de graduação nas diferentes

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categorias profissionais na área da saúde. No entanto, isto ainda é uma conquista a ser almejada
nos projetos políticos pedagógicos das diversas instituições de ensino no Brasil.
Ademais, os achados do estudo evidenciaram que a educação em CP na formação dos
profissionais de saúde serve de ferramenta na aquisição do saber científico, tanto teórico como
prático para os distintos profissionais que atuam na área de saúde dentro de uma equipe
multidisciplinar. Uma vez que, uma formação abrangente e, sobretudo humanizada deve
possibilitar a criação de estratégias de enfrentamento e manejo profissional de cada categoria
profissional nas diferentes situações de sofrimento, no tocante ao processo de adoecimento
humano.
Desse modo, cabe ser necessária a implementação de um modelo de educação
continuada e permanente sobre a temática dos CP como estratégia, a fim de preencher as lacunas
do conhecimento oriundas da formação acadêmica deficiente sobre o tema, bem como da
atuação profissional, tendo em vista a promoção de um suporte para os profissionais para
compreensão do processo de terminalidade em todas as suas nuances.
Assim, é de extrema relevância a formação continuada para a capacitação dos
profissionais de saúde tanto na graduação, como também ao longo da atuação profissional,
frente ao processo de morte e morrer, com vistas a garantir ao paciente qualidade de vida,
cuidado humanizado e suporte ao familiar durante o processo de sofrimento do paciente na
terminalidade da vida.

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OLHARES SOBRE O SUICÍDIO NO DISCURSO SOCIAL

Thayná Quinto Santos Souza1


Maria Izabel Calil Stamato2

Resumo: O suicídio é considerado hoje um problema de saúde pública, atingindo diferentes


faixas etárias, e provocando a morte de aproximadamente 800 mil pessoas por ano, em âmbito
mundial. As discussões e divulgação de informações sobre o tema têm sido consideradas
ferramentas de prevenção e redução dessas altas taxas, mas o tabu em torno da morte e,
especificamente, do suicídio, impede que este entre em pauta com a frequência necessária. O
presente trabalho buscou estudar os olhares da população adulta sobre a presença do suicídio
no discurso social, identificando indicadores que possam dificultar as ações de prevenção.
Como método, foi realizada uma pesquisa de campo exploratória, através de um questionário
disponibilizado na internet e direcionado ao público adulto de 21 a 45 anos de idade. As
respostas foram sistematizadas, categorizadas e analisadas com base no método de análise de
discurso da Psicologia Sócio-Histórica, correlacionadas com o material bibliográfico levantado
sobre suicídio, tabus e preconceitos, em diálogo com o aporte teórico da Gestalt-Terapia. Os
resultados do estudo mostram uma consciência da importância de discutir a temática do
suicídio, ainda que haja uma dificuldade para abordá-la. A maioria dos respondentes da
pesquisa acredita que falar sobre suicídio é importante para informar e capacitar acerca do
problema e auxiliar na prevenção e promoção de saúde mental, e percebem o suicídio como
tabu, como um problema atual e permeado por desinformação. Há também uma forte associação
entre suicídio e doença mental, em especial a depressão, e entre suicídio e as vivências de
sofrimento, desespero e falta de perspectiva de futuro. Muitos participantes expressam
vivenciar sentimentos de tristeza, medo e compaixão quando abordam o fenômeno, e
necessidades de questionar e compreender o que leva uma pessoa a se suicidar. Foi percebida
a importância de reforçar a conscientização sobre o problema, assim como criar caminhos de
educação para a morte e para o suicídio, levantar a temática em diversos ambientes de forma
adequada e cuidadosa, realizar estudos visando identificar razões pelas quais alguns grupos com
consciência da problemática do suicídio ainda não falam sobre a mesma, e conhecer o discurso
em outros espaços e com diferentes amostras. Ademais, surge da pesquisa uma possibilidade
de observar o discurso social dos profissionais de saúde e pensar a criação de ações de
capacitação e transformação da prática profissional para com o suicídio. O discurso inadequado

1
Psicóloga. Pós-graduanda em Saúde Coletiva e Psicopedagogia pelo Centro Universitário União das Américas
Descomplica. Guarujá, São Paulo, Brasil. [email protected].
2
Coordenadora do Mestrado em Psicologia, Desenvolvimento e Políticas Públicas na Universidade Católica de
Santos. Santos, São Paulo, Brasil.
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acerca do suicídio pelos profissionais da saúde abre caminho para um manejo perigoso e não
acolhedor daqueles que precisam de ajuda em um momento de crise. A problemática do suicídio
aparece como tema que necessita ser incluso na sociedade em geral, e especialmente na
formação em saúde, a fim de minimizar a desinformação e o discurso nocivo neste âmbito.

Palavras-chave: Suicídio; Discurso; Psicologia Sócio-histórica; Gestalt-terapia; Formação


Profissional em Saúde.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
Ao longo da história, a sociedade mostra diferentes representações da morte. O homem
tenta vencê-la e atingir a imortalidade, mantendo a crença de que só ocorre com o outro
(KOVÁCS, 1992). Falar de morte revela-se como tabu, especialmente a partir do século XX,
quando a morte passou a ser escondida e silenciada em hospitais e velórios (TORRES, 1979).
O fenômeno do suicídio associa-se às representações de morte e traz consigo o estigma,
sendo evitado no discurso social, em função de sentimentos como o medo da morte, a culpa
pela morte do outro, a negação da mortalidade ou os próprios desejos de morte (KOVÁCS,
1992; AUGRAS, 1989).
Em 2017, o suicídio entrou em pauta a partir do Desafio Virtual da Baleia Azul e da
Série 13 Reasons Why, que levantaram discussões acerca da prevenção e a influência de
conteúdos como estes no aumento dos casos de suicídio, assim como debates a respeito do
discurso inadequado sobre suicídio (POLANCZYK, 2017).
Segunda maior causa de morte entre adolescentes e jovens adultos no mundo, estima-se
a ocorrência de um suicídio a cada 40 segundos e que o número de mortes por suicídio
ultrapasse o número de mortes por homicídio e guerra juntos (WHO, 2016; ABP, 2014). No
Brasil, cerca de 11 mil pessoas tiram a própria vida por ano, em sua maioria idosos (BRASIL,
2017).

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Nos dados mais recentes, observa-se a ocorrência de um suicídio em cada 100 mortes e
estima-se que a pandemia de COVID-19 aumente os fatores de risco para suicídio, entre eles
os sentimentos de angústia, ansiedade, depressão, perda, e as vivências de violência e uso
abusivo de álcool e outras drogas (OPAS, 2021; OPAS, 2020).
Nesse contexto, desenha-se o seguinte questionamento: Como a população adulta
percebe o suicídio dentro do discurso e de que forma acredita que o diálogo sobre o tema
influencia o comportamento e as relações sociais? A partir disso, objetivou-se investigar a visão
de indivíduos adultos sobre dialogar abertamente acerca do suicídio em conversas, discussões
e interações sociais.

Suicídio e o discurso social

Incluído no tema morte, e igualmente carregado de tabu, o suicídio é considerado hoje


um problema de saúde pública, que requer ações preventivas, políticas públicas e mobilização
da população como um todo (ABP, 2014). Botega (2015) define suicídio como o ato de terminar
com a própria vida, sendo a intencionalidade, motivação e letalidade os elementos que levam
às discussões sobre até que ponto uma ação é caracterizada como suicídio.
Na década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao divulgar estatísticas
sobre o número de suicídios, convocou os países a implantarem estratégias de prevenção,
iniciadas por ONGs religiosas e filantrópicas e, no Brasil, pelo Centro de Valorização da Vida
(CVV), e alguns países criaram Planos Nacionais, visando à prevenção do suicídio.
Alguns obstáculos que dificultam as ações de prevenção são os estigmas e os tabus ao
redor da temática e a qualidade de dados estatísticos. A OMS considera que o estigma impede
a ampliação de discussões sobre o tema, e os dados estatísticos encontram obstáculos com
relação à notificação adequada dos serviços de saúde e hospitais, especialmente nas tentativas
de suicídio, muitas vezes não reportadas ou registradas erroneamente (WHO, 2018). Algumas

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perguntas discutidas pelo CFP (2013) apresentam reflexões interessantes sobre o estigma do
suicídio.

Deixaremos de ver o suicídio como um tabu, quando pudermos falar sobre ele
de uma forma mais tranquila e “natural”, com maior respeito, sem tantos
juízos de valor, sem tanta valoração, valoração negativa especificamente, a
respeito desse fenômeno. Pensá-lo de outra forma permite que lidemos com
ele também de outra forma. Mudar as nossas práticas sociais, permitindo que
vejamos esse fenômeno de uma maneira distinta, já é uma contribuição para
desfazer esse tabu que circula em torno da morte em geral e do suicídio em
específico (CFP, 2013, p. 83).

Nota-se a importância de evitar o discurso moral nas falas sobre suicídio, pois essa
flutuação entre certo e errado, conceitos muitas vezes baseados em preceitos religiosos, impede
a abertura para a compreensão do fenômeno, do sujeito que o consuma ou tenta, da
complexidade e da realidade material que o abarca.

Método

O estudo tem como norte metodológico a pesquisa de campo qualitativa, de cunho


exploratório, por ser mais adequada aos objetivos propostos. O instrumento utilizado é um
questionário online estruturado, com questões fechadas e abertas, disponibilizado no site Survio
(www.survio.com/br) e com seu respectivo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) fixado em uma página na Wix (https://thaynaquinto.wixsite.com/pesquisa). A pesquisa
foi divulgada nas redes sociais Facebook (www.facebook.com) e Whatsapp
(web.whatsapp.com) e os sujeitos interessados acessaram inicialmente o TCLE para, após
concordância, serem direcionados ao questionário. Vale ressaltar a aprovação no Comitê de
Ética anterior a divulgação do questionário (Parecer nº 3.259.057), que será detalhada nos
próximos parágrafos.

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O questionário foi formado por 16 questões, 12 fechadas e 04 abertas, e duração
aproximada de 15 minutos. Inicia-se com a caracterização dos sujeitos, por meio de questões
relacionadas ao local de residência, idade, gênero, cor e escolaridade. Em seguida, são
apresentadas perguntas sobre o objeto de pesquisa, com questões sobre religiosidade, atuação
profissional em contato direto com o suicídio, presença de tentativa ou consumação entre
amigos, familiares ou pelo próprio sujeito, nível de conhecimento acerca do fenômeno e
presença do suicídio nos discursos dos grupos que participa. Chega-se, então, às perguntas
centrais “Você acha que devemos falar sobre suicídio? Por quê?”, seguidas por perguntas
complementares sobre o que é o suicídio para o sujeito, o que ele sente quando ouve ou fala de
suicídio e como foi responder ao questionário.
A amostra da pesquisa foi delimitada, previamente, para 50 participantes, com idades
entre 21 e 45 anos, de ambos os sexos e gêneros, residentes na Região Metropolitana da Baixada
Santista. Devido ao alto número de respondentes no período em que a pesquisa ficou disponível
(13h25m), esta foi encerrada ao totalizar 100 respostas. Foram excluídos residentes em outras
Regiões, com 20 anos ou menos e com 46 anos ou mais e tentantes de suicídio. Este último
critério de exclusão visou evitar possíveis influências de experiência direta com o suicídio nas
respostas, considerando tal experiência singular o suficiente para exigir um estudo próprio. A
amostra final foi formada por 65 sujeitos, que se enquadraram nos critérios de inclusão.
O primeiro passo da pesquisa envolveu o levantamento bibliográfico sobre o tema, por
meio da revisão atualizada de artigos científicos, livros, produções técnicas, dissertações e teses.
Após submissão do Projeto ao Comitê de Ética da Universidade Católica de Santos, em
cumprimento às normas do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2016), e aprovação em 11
de abril de 2019 (Parecer nº 3.259.057), foi realizada a pesquisa de campo.
Os sujeitos acessaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em uma
página na WIX e, após a aceitação do Termo, foram direcionados ao questionário. O
questionário foi aberto no dia 06 de maio de 2019 e fechado em 07 de maio de 2019, devido ao

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grande número de respostas. Foram recebidas 100 respostas, dentre elas 35 descartadas com
base nos critérios de exclusão. Mantiveram-se, então, 65 respostas para serem analisadas.
A metodologia para identificação das visões sobre o suicídio no discurso social é a
Análise do Discurso, por possibilitar a apreensão das representações sobre o suicídio, a partir
dos significados e sentidos expressos nas respostas. A análise dos resultados fora realizada a
partir da sistematização e categorização das respostas às questões abertas e fechadas,
agrupando-as em Núcleos de Significação, utilizando o método de análise de discurso da
Psicologia Sócio-Histórica (AGUIAR; OZELLA, 2013). A análise contou, ainda, com o aporte
teórico da Gestalt-Terapia, em diálogo com a Psicologia Sócio-Histórica.
Os principais apontamentos da Psicologia Sócio-Histórica considerados na análise dos
resultados são as reflexões sobre subjetividade e sentido, de González Rey (2007). A categoria
sentido subjetivo, proposta por González-Rey (2007), se diferencia da conceituação de sentido
proposta por Vygotsky por se afastar da relação imediata sentido-palavra, enfatizando a
associação simbólico-emocional e estabelecendo a relação entre o sentido subjetivo e a
subjetividade como sistema. A subjetividade é resultado da configuração de sentidos subjetivos,
construídos a partir de registros objetivos, elementos do ambiente e experiências sociais.
Já a abordagem teórica da Gestalt-terapia, proposta por Frederick (ou "Fritz") Perls, tem
em sua formulação a compreensão das relações indivíduo-sociedade e a integração dos
conceitos de campo, contato e fronteira de contato, buscando superar a dicotomia entre corpo-
mente, sujeito-objeto, natureza-cultura e indivíduo-sociedade. As expressões dos sujeitos
participantes deste estudo, interpretadas no aqui e agora, segundo Perls (1976), representam a
experiência e a realidade no momento em que se apresenta. Além do aqui e agora, é observado
o como, ou seja, a estrutura e o processo daquilo que é expresso.

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Resultados e Discussões

A partir da disponibilização do questionário na Plataforma Survio, foram obtidas 100


(cem) respostas, sendo 35 (trinta e cinco) descartadas com base nos critérios de exclusão.
Dessas, 20 (vinte) respondentes estavam fora da idade delimitada (21 a 45 anos), 01 (um) não
residia na Baixada Santista e 23 (vinte e três) já havia tentado suicídio. Chamou especial atenção
o número de pessoas (23%) que tentaram suicídio dentro dessa amostra. Por fim, foram
analisadas 65 (sessenta e cinco) respostas.
Com relação à faixa etária, predominou a idade entre 21 (vinte e um) e 28 (vinte e oito)
anos - 63% - estando a maioria, 12%, com 22 (vinte e dois) anos no momento da resposta ao
questionário.
A maioria se autodeclarou do gênero feminino (80%), branca (68%) e religiosa (57%).
O nível de escolaridade predominante foi o Ensino Superior (66%) e 86% não trabalhava
diretamente com a temática do suicídio. Entre os que trabalhavam diretamente com a temática
do suicídio, a Psicologia e Enfermagem foram as áreas de atuação citadas.
Focando a experiência pessoal com suicídio, 58,5% relataram ter algum familiar ou
amigo que tentou ou efetivou o suicídio, e 46% ter nível de conhecimento médio sobre a
temática.
Em relação a já ter falado sobre suicídio com alguém, 96% já havia conversado sobre o
tema, principalmente com amigos (75%), familiares (60%) e na escola/universidade (60%).
Aqueles que responderam “Outro” à pergunta apontaram terapia e grupos de estudo como locais
onde conversaram sobre suicídio.
Ao responder à pergunta central da pesquisa “Você acha que devemos falar sobre
suicídio?” 96,9% responderam sim e 3,1% não.
Ao final do questionário, ao serem perguntados sobre como foi responder as questões,
as respostas mais frequentes foram “Nem difícil e nem fácil” (43,1%) e “Fácil” (40%). 23,1%

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responderam o porquê de sua resposta e as justificativas foram: “difícil responder, porque já
vivenciei um caso na família”; “nem difícil e nem fácil, porque não é complicado ter uma ideia
a respeito do tema” e “porque já conversei sobre a temática”; “fácil, porque já tive vivências
relacionadas ao tema”, “estou inserido na área da psicologia”, “achei que ficaria mais
desconfortável do que realmente fiquei”, “achei as perguntas bem construídas” e “nunca tive
vivências relacionadas ao tema”. A vivência relacionada ao suicídio causou efeitos diferentes:
para alguns, a vivência gerou dificuldade para responder ao questionário e, para outros, tornou
mais fácil.
A fim de compreender melhor as temáticas expressas, os tópicos levantados pelos
participantes foram agrupados em indicadores e, posteriormente, em Núcleos de Significação,
analisados com base na Análise do Discurso. Foram estabelecidos 5 (cinco) núcleos de
significação: Motivos para falar sobre suicídio, Visão da sociedade sobre o suicídio, Olhares
sobre a pessoa que efetua suicídio, Olhares sobre o suicídio e Sentimentos e atitudes
relacionados ao suicídio. Dentro desses núcleos, foram apresentados os temas mais frequentes
entre as falas dos participantes (Tabela 1):

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Tabela 1 – Núcleos de significação


Núcleos de Significação Temas relacionados

- Informar, capacitar e conscientizar as


pessoas, e entender as motivações para
saber como agir.
Motivos para falar sobre suicídio - Prevenir e promover saúde mental.
- Desconstruir estigmas e diminuir os
preconceitos contra os sujeitos que
efetuam suicídio.
- Tabu, preconceitos e estigmas.
- Problema atual.
Visão da sociedade sobre o suicídio
- Falta informação
- A sociedade precisa estar mais atenta.
- Está em grande sofrimento, não consegue
lidar e expressa sinais que indicam este
Olhares sobre a pessoa que efetua suicídio sofrimento.
- Não tem visão de futuro e perspectivas de
melhora.
- Uma tentativa de cessar a dor e o
sofrimento intenso, um escape da dor.
Olhares sobre o suicídio - Está relacionado à depressão.
- Um ato de desespero.
- Falta de atenção da sociedade.
- Tristeza, impotência, angústia, dor, pesar,
medo (sentimentos negativos).
- Vontade de ajudar o sujeito, empatia,
Sentimentos e atitudes relacionados ao solidariedade (sentimentos de altruísmo).
suicídio - Vontade de compreender e entender o
sujeito, procurar as motivações, imaginar o
que aconteceu, questionar-se (atitudes de
dúvida e busca por respostas).
Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Como mencionado, a maioria dos respondentes considera importante falar sobre


suicídio, em especial para informar e conscientizar a sociedade, prevenir e promover saúde
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mental e desconstruir estigmas. Tal relevância é compartilhada pelo CFP (2013), expressando
que a falta de discussões sobre suicídio leva a continuidade dos estigmas e preconceitos, que
estão relacionados à falta de informação e capacitação de profissionais e da sociedade em geral.
Para os participantes que não consideram importante falar sobre o tema, defendem que
não é um tema relevante e que pode influenciar outros sujeitos a tirarem a própria vida, sendo
isto considerado mito uma vez que falar sobre suicídio possui maiores efeitos na prevenção do
que no aumento de casos, considerando as falas adequadas e responsáveis sobre a problemática
(CVV, 2017; CFP, 2013).
Percebem também a presença do tabu e da desinformação em relação ao suicídio, assim
como veem o mesmo como um problema atual. A presença do tabu sobre o suicídio é ressaltada
por diversos autores, entre eles Botega (2015) e CVV (2017). Botega (2015) entende que o
suicida é ameaçador para os profissionais de saúde e para a sociedade em geral porque desafia
a representação interdita da morte e lembra a sociedade de sua própria finitude. A Gestalt-
terapia traz o conceito de fronteira do ego (PERLS, 1976), que pode ser relacionada com a
fronteira que a sociedade apresenta em relação ao tema suicídio. Estando o tabu presente, como
apontam os autores acima, a população está realizando um movimento de retirada do suicídio
para fora de suas fronteiras, não entrando em contato e, consequentemente, não
compreendendo-o.
Em relação ao suicídio como um problema atual, alguns dados trazem questionamentos
sobre a total veracidade desta afirmação, uma vez que não se sabe se os casos de suicídio estão
realmente mais numerosos, ou se estão sendo mais notificados em relação há períodos
anteriores. De acordo com BRASIL (2017), cerca de 11 mil pessoas se suicidam por ano no
Brasil, e houve um aumento de 12% nas taxas de suicídio entre 2011 e 2015. Contudo, a
notificação de tentativas e consumações só se tornou obrigatória em 2011, então, o número de
suicídios antes de 2011, no Brasil, foram inferiores, possivelmente devido a não notificação dos
casos.

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Ao se referirem a pessoa com comportamento suicida, autores como CFP (2013),
Kovács (1992), Brasil (2017) e Fukumitsu e Scavacini (2013) caracterizam um sujeito em
sofrimento que não encontra possibilidades de lidar com a dor e sem perspectivas de melhora,
descrição similar à relatada pelos participantes. Todavia, o suicídio também é considerado um
processo complexo e singular, com desencadeantes variados e expressões diversas (KOVÁCS,
1992), que apresenta uma interação de fatores psicológicos, biológicos, culturais e
socioambientais (ABP, 2014).
Sobre o fenômeno do suicídio, os respondentes consideram ser uma tentativa de cessar
a dor e um sofrimento intenso, relacionado a Depressão e outras condições patológicas. Kovács
(1992) e CVV (2017) expressam que o suicídio pode ter causas variadas e não necessariamente
ser ligado a uma patologia, uma doença mental. Durkheim (1973) já destacava que não se pode
considerar o suicídio unicamente relacionado a uma doença mental, tampouco associá-lo a uma
única causa.
Os participantes trouxeram uma visão interessante sobre o suicídio como consequência
da falta de atenção da sociedade, que é apresentada também por CFP (2013) quando associa o
suicídio a questões ético-políticas e não somente a um sofrimento individual. Quando o suicídio
é colocado, exclusivamente, no campo da psiquiatria e são atribuídos somente fatores
individuais para o fenômeno, retira-se a reponsabilidade social, a sociedade e o Estado passam
a não se ver como produtores de sofrimento.
Quando a sociedade toma para si a responsabilidade pelos suicídios que ocorrem em seu
espaço, busca ações de prevenção e posvenção, pensa em políticas públicas efetivas e,
consequentemente, diminuem-se as mortes decorrentes de questões ético-políticas e os
membros da sociedade são, verdadeiramente, cuidados. A partir de uma perspectiva dialética,
a subjetividade de uma pessoa é uma produção inseparável da vida social (GONZÁLEZ REY,
2007). Portanto, um suicídio fala sobre o sujeito e, ao mesmo tempo, sobre o lugar onde ele
ocorre.

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O último núcleo de significação da Tabela 1, Sentimentos e atitudes relacionados ao
suicídio, teve os respectivos temas divididos em três grupos, para melhor compreensão e devido
a grande quantidade de sentimentos e atitudes expressos pelos participantes. Foram divididos
em Sentimentos Negativos, em que a pessoa se sente mal e desconfortável; Sentimentos de
Altruísmo, que visa o bem-estar do próximo e aparece no desejo de ajudar e contribuir com
algo positivo; Atitudes de Dúvida e Busca por Respostas, onde a pessoa vivencia
questionamentos sobre o suicídio, sobre aquele que mata a si mesmo e busca compreender o
sujeito com ideações.
Há poucas discussões na literatura acerca dos sentimentos provocados pela temática do
suicídio, e em geral são focadas nas reações de familiares em luto ou de profissionais da saúde.
O luto por suicídio de familiares e pessoas próximas comumente apresenta culpa, frustração,
dor, choque, raiva, negação e entorpecimento (FUKUMITSU; KOVÁCS, 2016). Profissionais
que trabalham com o cuidado à saúde tendem a vivenciar sentimentos como raiva ou medo da
pessoa em crise suicida, o que desencadeia o comportamento de evitação, muitas vezes porque
sentem-se ameaçados e impotentes e não têm preparo para lidar com a situação (BOTEGA,
2015; COMBINATO; QUEIROZ, 2006).
O medo é, frequentemente, associado ao tabu do suicídio e considerado um sentimento
comum na sociedade em relação a falar sobre o tema (ABP, 2014). Augras (1989) discorre que
o objeto de tabu desperta sentimentos e atitudes ambivalentes nas pessoas, que vão de medo e
vergonha a curiosidade e fascínio. Pode-se associar esta ambivalência aos grupos de
sentimentos descritos acima, onde estiveram presentes não só os sentimentos de medo ou
angústia, mas também as atitudes de curiosidade e o questionamento acerca do fenômeno.
As atitudes de dúvida e busca por respostas também demonstram estarem presentes,
principalmente, em sobreviventes enlutados, uma vez que buscam compreender o que levou a
pessoa querida a tirar a própria vida, se havia sinais e o sobrevivente não percebeu, se ele
poderia ter ajudado e salvado aquele que se foi (FUKUMITSU; KOVÁCS, 2016).

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Considerações finais
Observa-se que a maioria dos participantes considera necessário falar sobre suicídio e
entende a importância da abordagem do tema como forma de prevenção, informação e ajuda.
Também demonstrou compreender a dimensão do problema, as altas taxas de suicídio, o tema
como um tabu e a necessidade de acompanhamento profissional para as pessoas com ideação
suicida. Os resultados também trouxeram uma grande associação entre sujeito em
comportamento suicida e a vivência de um sofrimento extremo, e o suicídio como uma tentativa
de cessar a dor ou atrelado a depressão.
O fato de a maioria dos participantes concordar com a importância de falar sobre
suicídio traz dois novos questionamentos: Por que, então, o tema é pouco abordado? E como
ele está sendo abordado? Uma resposta poderia estar nas contradições encontradas no decorrer
da pesquisa, a começar pelas respostas dos sujeitos que, muitas vezes, eram contraditórias.
Alguns participantes entendem que falar de suicídio na mídia pode influenciar outras pessoas a
tirarem a própria vida; outros entendem que isso não influencia. Alguns apontam que o sujeito
em ideação apresenta sinais; outros acham que não. Alguns entendem a singularidade das
pessoas e acreditam que cada suicídio é diferente; outros (a maioria) reduzem o suicídio a uma
ou algumas causas, ou o sujeito tendo um só modo de vivenciar a ideação suicida. Tais
contradições expressam um discurso sobre suicídio carregado de desinformação, confusão e
‘achismos’.
Além disso, ainda que os participantes expressem compreender a importância de falar
sobre o tema, apontam diversos sentimentos negativos atrelados a este falar sobre, como
tristeza, impotência, angústia, dor, pesar e medo. Percebe-se que, apesar da consciência sobre
a importância do tema, a dimensão do fenômeno e o papel social do mesmo, as respostas
expressam, ainda, mitos e estigmas, o que reflete a falta de informação. A discussão inadequada
sobre um fenômeno tão complexo pode auxiliar na manutenção do estigma, causando um efeito
contrário ao que é proposto como consequência da fala adequada.

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A partir disso, surge a dúvida se essas discussões estão sendo realizadas de forma
correta, transmitindo informações verdadeiras e ampliando olhares, ou se estão servindo como
manutenção do estigma. Retoma-se a pergunta feita anteriormente: “Como o suicídio está sendo
abordado?”. É interessante observar esses discursos nos profissionais da saúde, o quanto a
desinformação, a moralidade, o preconceito e outros elementos reforçadores de estigma estão
presentes nas falas destes profissionais, que são os responsáveis por cuidar da pessoa em
sofrimento e que frequentemente se deparam com a questão do suicídio em sua atuação.
Propõe-se ainda novas pesquisas relacionadas às representações sociais do suicídio e
das discussões sobre o mesmo, e estudos sobre as emoções relacionadas ao tema,
principalmente os sentimentos de altruísmo que não foram encontradas na literatura. Sugere-se
a ampliação da presente pesquisa com amostras maiores, com diferentes características e de
diferentes contextos, além de estudos de campo para avaliar como as discussões sobre suicídio
estão sendo realizadas nos diversos ambientes, se estão sendo adequadas ou mantendo os
estigmas existentes, e como essas discussões estão refletindo nos sujeitos que delas participam.
Sugere-se, por fim, que o tema seja ampliado e levado para variados espaços, como
escolas, universidades, ambientes de trabalho, ONGs, e outros, de forma a informar e educar
todos os públicos sobre suicídio, prevenção e ações de cuidado, de maneira adequada, com
profissionais capacitados ou mediadores que tenham a cautela de não transmitir informações
errôneas. Espera-se que, com esta pesquisa, os olhares sobre o suicídio sejam ampliados, o tabu
esteja um passo mais perto de ser desconstruído e, consequentemente, a sociedade mais perto
de se responsabilizar e zelar por seus membros e, esses, se sentirem mais cuidados e menos
sozinhos.

Referências
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DILEMAS ÉTICOS DIANTE AS IATROGENIAS EM CENTRO CIRÚRGICO:
SENTIMENTOS VIVENCIADOS PELOS ENFERMEIROS

Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis1


Marluce Alves Nunes Oliveira2
Elaine Guedes Fontoura3
Manuela Bezerra Pina Oliveira4
Tayara de Oliveira Vitoria5
Lorraine Alves Souza Santos6

Resumo: A ética é considerada como conjunto de prática que norteia as ações das pessoas, em
especial de enfermeiros, que atuam em centro cirúrgico. Porquanto, deve estar presente na
prática, a fim de evitar iatrogenias e como consequências dilemas éticos. As iatrogenias
ocorrem em decorrência de negligência, imperícia ou imprudência causando danos aos
pacientes. Diante de situações éticas os enfermeiros podem vivenciar dilemas éticos por ter que
tomar decisões entre duas opções que na maioria vezes são opostas e não parecem ser corretas.
Assim, a decisão pode desencadear sentimentos e comprometer a saúde física e psicológica dos
enfermeiros, emergindo o dilema ético. Este estudo teve como objetivo conhecer os dilemas
éticos vivenciados pelos enfermeiros em centro cirúrgico mediante as iatrogenias e identificar
os sentimentos vivenciados pelos enfermeiros em centro cirúrgico diante das iatrogenias.
Estudo qualitativo, realizado em centro cirúrgico de dois hospitais, um geral e outro
filantrópico, no interior da Bahia. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual de Feira de Santana, CAAE: 28656214.9.0000.0053, com a participação
de seis enfermeiros. Para coleta de dados utilizou-se a entrevista semiestruturada em junho de
2016, e os dados foram analisados pelo método Análise da Estrutura do Fenômeno Situado. O
estudo apontou que os dilemas éticos são compreendidos como situações em que ocorre
omissão ou erros cometidos por profissional da equipe cirúrgica, que podem gerar dúvidas,

1
Enfermeira. Mestranda do Mestrado Profissional de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana.
Membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde (NIPES)- UEFS. E-mail: [email protected]
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira
de Santana. Membro do Núcleo Interdisciplinar de Estudo e Pesquisa em Saúde - NIPES - UEFS. Coordenadora
do Projeto de Pesquisa Conflitos e dilemas éticos vividos por profissionais de saúde no contexto hospitalar.
3
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do curso de Enfermagem, pesquisadora do NIPES, Universidade
Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana. Bahia. Brasil.
4
Enfermeira. Coordenadora da CCIH do hospital Dom Pedro de Alcântara.
5
Enfermeira. Mestranda do Mestrado Profissional de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana.
Membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde (NIPES)- UEFS.
6
Graduanda em Enfermagem, bolsista do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde (NIPES)-
UEFS, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil.
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exigem tomada de decisões, na maioria das vezes imediatamente. Os enfermeiros demonstram
sentir dificuldades de expressar os dilemas éticos vivenciados frente à iatrogenias, dos quais o
mais revelado foi o fato de contar ou não ao superior erros cometidos pela equipe cirúrgica. Os
enfermeiros demonstraram ter receio que mesmo que o erro não tenha sido cometido por eles,
possam levá-los a demissão. Os sentimentos que podem ser vivenciados são o medo de punição
e de retaliação, impotência ao vivenciar o erro causado por outro membro da equipe não
denunciando ao superior e família do paciente. Infere-se que os sentimentos podem desencadear
problemas biopsicossociais e comprometer o cuidado prestado pelos enfermeiros em centro
cirúrgico. Os enfermeiros em centros cirúrgicos vivenciam problemas intrínsecos à profissão,
como a desvalorização do trabalho, excesso de atribuições e baixo salário que possibilitam o
surgimento de iatrogenias e dilemas éticos, bem como o estresse psicológico desenvolvendo o
adoecimento físico e mental. Conclui-se que as iatrogenias vivenciadas por enfermeiros em
centro cirúrgico são potenciais geradoras de dilemas éticos e de sentimentos desagradáveis.

Palavras-chave: Ética; Enfermeiros; Estresse Psicológico; Centros Cirúrgicos; Equipe de


Assistência ao Paciente.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
No Brasil, a saúde pública tem passado por problemas socioeconômicos e estruturais,
que impõem desafios quanto a prática segura de assistência ao paciente, visto que a falta de
recursos humanos e materiais podem comprometer a qualidade da assistência favorecendo a
ocorrência de iatrogenias e como consequência a vivência de dilemas éticos
Para Leal e Rauber (2012), atualmente os profissionais de saúde demonstram pouco
interesse no que concerne à posturas éticas e morais, visto que quando iniciam a atividade
profissional essa temática passa despercebida na prática, podendo ser uma condição para o
surgimento de iatrogenias. Dessa forma, pode interferir diretamente na qualidade da assistência
prestada por esses profissionais, principalmente na unidade de Centro Cirúrgico (CC), em que
os problemas estruturais podem facilitar situações éticas que necessitam de tomada de decisões.
Nela a maioria dos pacientes adentram correndo risco de morte, por isso precisam de assistência
imediata, então os enfermeiros estão mais suscetíveis a vivenciar iatrogenias.
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No CC são realizados procedimentos anestésico-cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos,
tanto em caráter eletivo quanto emergencial, por ser marcado por intervenções invasivas e
utilizar recursos matérias de alta precisão e eficácia, por isso, necessita de profissionais
habilitados para atender às diversas necessidades do paciente, vez que é considerado um cenário
de alto risco, com complexo processo de trabalho, que precisa de uma interação da equipe
multidisciplinar (CARVALHO et al., 2015).
Para Aguirre et al. (2011), a iatrogenia ocorre por um resultado indesejável de uma ação
negativa à saúde da pessoa doente, que pode emergir por negligência, imperícia ou imprudência
dos profissionais da saúde de modo não intencional. Nesse sentido, as iatrogenias ocorridas no
CC podem ter relação com ações da equipe cirúrgica, vez que essa unidade tem uma dinâmica
diferenciada em relação à responsabilidade e atenção na assistência dessa equipe.
Entendemos que a escassez de recursos humanos, matérias e a falta de estrutura física
da instituição para atender a demanda de pessoas no perioperatório, pode levar ao surgimento
de iatrogenias. Elas estão relacionadas às falhas no sistema, e não somente ao descaso ou
incompetência profissional, por isso é importante voltar o olhar para a avaliação dos serviços
prestados à saúde e observar: estrutura, recursos humanos e materiais, aparelhagem e
administração; as atividades que usam os recursos disponíveis; e os resultados das ações
realizadas (ANJOS; COLI; PEREIRA, 2014; ALVES; MAIA, 2014).
De acordo Cunha e Lima (2013) às tarefas no CC são complexas e executadas na maioria
das vezes sob pressão, o que torna o ambiente estressante. Portanto, os enfermeiros devem
comunicar-se com a equipe cirúrgica de forma harmoniosa e ter atenção redobrada nos
processos que envolvam o cuidado de enfermagem ao paciente ou perioperatório. Conforme
Oliveira e Santa Rosa (2015, p. 157), “No CC, a capacidade de comunicação do enfermeiro é
de suma importância nas relações que requerem atitude para liderar e gerenciar a equipe”.
Como já mencionado, a ocorrência de iatrogenia pode favorecer o surgimento de
dilemas éticos, pois o enfermeiro diante da situação vivenciada se depara com duas opções para

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escolher, entretanto nenhuma das duas lhe parece correta. Nesse sentido, Oliveira (2012)
salienta que o dilema ético emerge quando o enfermeiro tem que tomar uma decisão, que na
maioria das vezes não é a desejável, que ocorre tanto em nível individual, relacionado a um
paciente específico, quanto ao nível coletivo, podendo causar dúvida e desconforto,
especialmente, quando a decisão é tomada.
Nesse contexto, o enfermeiro deve ter perspicácia para a tomada de decisão, embasada
em conhecimentos éticos e científicos. Vale salientar que uma decisão errada pode acarretar
consequências negativas para o paciente, família e equipe cirúrgica. Diante dessa realidade, a
ética e os princípios bioéticos podem auxiliar a equipe na tomada de decisão, a fim de que as
suas sejam pautadas nos princípios da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça, bem
como, no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) (OLIVEIRA, 2012).
A ocorrência de iatrogenias possibilita o surgimento de dilemas éticos e como
consequência os enfermeiros vivenciam sentimentos negativos, visto que a decisão na maioria
das vezes não é fácil, exigindo desses profissionais aporte psicológico para enfrentá-la. Para
Oliveira (2012), o enfermeiro ao cuidar, encontra–se muitas vezes em situações de vida
marcadas por alegria, dor e adversidade. Porquanto, é necessário que eles saibam como
enfrentar as situações de forma a não prejudicar sua saúde física e mental.
A motivação pessoal para realizar esta pesquisa surgiu a partir de trabalho realizado no
terceiro semestre da graduação do curso de Enfermagem, no componente curricular Ética e
Exercício da Enfermagem, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), o qual
proporcionou aproximação com a temática, além da realização de prática em CC, no
componente curricular Enfermagem na Saúde do Adulto e Idoso II.
A partir dessas vivências surgiu o interesse em aprofundar o conhecimento sobre as
iatrogenias vivenciadas pelos enfermeiros em CC, e conhecer os dilemas éticos enfrentados
quando emergem situações que se configuram iatrogênicas. Diante do exposto emergiu a

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seguinte questão de investigação: Como os enfermeiros vivenciam os dilemas éticos frente às
iatrogenias no CC?
O estudo teve como objetivo conhecer os dilemas éticos vivenciados pelos enfermeiros
em centro cirúrgico mediante as iatrogenias e identificar os sentimentos vivenciados pelos
enfermeiros em centro cirúrgico diante as iatrogenias.
A relevância social deste estudo consiste na importância que essa temática tem para os
profissionais de saúde, em especial, os enfermeiros que atuam em CC e vivenciam dilemas
éticos frente às iatrogenias. Ademais, ele possibilitará o conhecimento dos enfermeiros sobre
os dilemas éticos vivenciados frente à iatrogenias, a fim de que possam tomar medidas eficazes
para o enfrentamento e prevenção.

Metodologia
Consiste em um estudo com abordagem qualitativa, que teve como objeto de estudo os
“Dilemas éticos e sentimentos vivenciados diante as iatrogenias em centro cirúrgico”. É parte
do Projeto de Pesquisa intitulado “Vivências de conflitos e dilemas éticos na percepção da
equipe de enfermagem no centro cirúrgico”, com Resolução no 110/2014, do Conselho Superior
de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE), UEFS.
O estudo foi realizado em dois CC, um geral público e um filantrópico, ambos
localizados no município de Feira de Santana-BA.
Participaram do estudo cinco enfermeiros de CC, de um hospital geral público e um de
hospital filantrópico. Adotou-se como critério de inclusão atuar no CC há pelo menos um ano
e estar em plena realização de suas atividades laborais. O critério de exclusão foi encontra-se
afastado por férias ou licença durante a coleta de dados. A coleta de dados foi realizada por uma
das autoras, membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde (NIPES),
entre os meses de maio e junho de 2016.

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No primeiro momento, entrou-se em contato com as coordenações de Enfermagem, para
esclarecer sobre a temática da pesquisa, objetivo e justificativa do estudo. As entrevistas foram
realizadas individualmente, numa sala próxima ao CC, pré-agendadas por meio do enfermeiro
gerente da unidade, o qual contatou todos os participantes. Foi entregue o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com a orientação de que devia ser lido e assinado
em duas vias. A duração média das entrevistas foi em torno de quinze a trinta minutos.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada, que é uma
técnica que permite ao pesquisador utilizar um instrumento para nortear a entrevista. As
entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, a confidencialidade e o anonimato foram
assegurados mediante a abreviação da profissão (Enf.), do entrevistado, seguido de números
conforme a ordem em que aconteceram as entrevistas.
O instrumento de coleta de dados foi dividido em duas partes: a primeira, contemplou a
caracterização dos participantes – sexo, idade, naturalidade, carga horária de trabalho, titulação,
tempo de formação, outros vínculos empregatícios, especialização em CC, realização de
capacitação e aperfeiçoamento e atuação em outros setores no hospital; a segunda compôs-se
de questões norteadoras: Qual o seu entendimento sobre dilemas éticos? Como compreende
sobre iatrogenia; Fale-me de suas vivências de dilemas éticos frente às iatrogenias em sua
prática no CC e Como previne as iatrogenias no CC?
Utilizou-se o método de análise fenomenológico proposto por Martins e Bicudo (2005),
que busca na análise a compreensão do objeto de estudo, realizada em dois momentos: o
primeiro a análise a ideográfica, a qual fala sobre como é representada as ideias inseridas no
relato dos participantes, dessa forma o pesquisador deve tentar analisar agrupando essas
unidades de significados isoladas. E o segundo momento, análise nomotética é a articulação de
casos individuais, com casos que são descritos de forma geral, ocorrendo a construção dos
resultados, compreensão e elucidação do fenômeno estudado.

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Por fim, a análise compreensiva desses agrupamentos, utilizando como base o
referencial teórico apresentado, a fim de buscar a estrutura do fenômeno dos dilemas éticos
vivenciados pelos enfermeiros frente à iatrogenias no centro cirúrgico.
Os procedimentos adotados na pesquisa foram em conformidade com as orientações
éticas previstas na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). O
projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UEFS. A pesquisa foi
submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana, e
aprovado pelo Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE)
28656214.9.0000.0053.

Resultados e discussão
A apresentação dos resultados se deu na estrutura do fenômeno, ao analisar os dilemas
vivenciados pelo enfermeiro frente à iatrogenias no CC através do método proposto por Martins
e Bicudo (2005) e interpretação dessa compreensão utilizando com base o referencial teórico
construído.
Dos enfermeiros entrevistados, quatro são do sexo feminino e dois masculino, o que
mostra a predominância dessas profissionais na enfermagem. Quatro dos participantes possuem
idade entre 20-40 anos e dois entre 40-60 anos, em relação a qualificação profissional, quatro
dos participantes possuem pós-graduação e um mestrado. No que tange a pós-graduação na área
de Centro Cirúrgico, apenas dois relataram ter especialização na área.

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ANÁLISE IDEOGRÁFICA
Após a análise dos depoimentos das entrevistas com os enfermeiros CC emergiram três
categorias, a saber: Compreensão de dilemas éticos; Iatrogenia no centro cirúrgico; e Prevenção
da iatrogenia.

CATEGORIA I- DILEMAS ÉTICOS VIVENCIADOS NA PRÁTICA DO ENFERMEIRO


NO CENTRO CIRÚRGICO
Os dilemas éticos vivenciados na prática de CC exigem que os profissionais da equipe
cirúrgica tomem decisões embasados nos princípios éticos. A decisão é difícil, já que nenhuma
das escolhas lhe parecem ser corretas.
[...] dilemas éticos é quando o profissional se depara com uma situação
adversa, onde ele tem que colocar em prática toda sua capacidade em dar
resolubilidade às questões de forma ética [...]. (Enf.2) (grifo nosso)
[...] quando se confronta com uma situação que a gente tem que tomar
decisões, questionam o que a gente compreende ser ético, como ser o correto
[...]. (Enf.5). (grifo nosso).

Os relatos de Enf.2 e Enf.5 mostram que os dilemas éticos surgem quando esses
profissionais precisam tomar decisões, às vezes, complexas, vale ressaltar que eles têm a
percepção de que a tomada de decisão deve ser pautada na ética e princípios legais da profissão.
Os enfermeiros entendem que os dilemas éticos relacionam-se a dúvidas que exigem a
tomada de decisão baseada nos princípios éticos, esses dilemas têm relação com erros ou
omissões cometidas pela equipe multiprofissional que atuam no CC.
[...] há muitos anos atrás que o paciente veio fazer uma cirurgia de "pé
torto" como tinha dois meninos com o mesmo nome o médico chamou o
paciente, [...] botou na sala fez a hérnia de um lado [...], fez de outro, não era
[...]. O médico disse à mãe que ele estava com uma hérnia, resolvemos o caso
dele e depois ele vai resolver o problema do pé, ela pela ingenuidade aceitou.
(Enf.4) (grifo nosso)

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Percebe-se que a enfermeira vivenciou um dilema no qual teve que optar por contar o
ocorrido, ou compactuar com a mentira do médico, e por medo ela preferiu se calar. Isto posto,
a decisão mais comum é se calar diante dos danos causados aos pacientes.
Os enfermeiros relacionam os dilemas éticos com os erros e/ou omissões que ocorrem
no CC. Eles salientam que são omitidas aos pacientes para preservar a imagem do profissional
de saúde, que cometeu a iatrogenia gerando um desconforto entre os outros profissionais da
equipe multiprofissional.
Já Enf.6 revela que os dilemas ocorrem em uma situação que o enfermeiro precisa
escolher entre duas situações, entretanto, nenhuma das duas escolhas é considerada a correta,
mas é a melhor conduta a ser tomada para salvar a vida do paciente.
[...] numa situação extrema, uma situação emergencial com até risco a
vida do paciente, você pode se deparar com um dilema, que você sabe que
moralmente não é correto, mas naquele momento é a melhor chance
que o paciente vai ter até de sobreviver. (Enf. 6). (grifo nosso)
Enf.1 e Enf. 2 revelam que já vivenciaram dilema ético, mas sem relação iatrogenias.
[...] vários dilemas, a gente vivencia, mas assim relacionado à iatrogenia
que eu lembre no momento, não. (Enf.1). (grifo nosso)
[...] eu já vivenciei situações relacionadas a dilemas éticos, mas não
propriamente iatrogenias [...] (Enf.2). (grifo nosso)

Conforme o relato dos enfermeiros ficou evidente que vivenciam dilemas éticos em CC,
mas nem todas são consequências de iatrogenias.

CATEGORIA II – IATROGENIA NO CENTRO CIRÚRGICO


A iatrogenia pode ser compreendida como complicação que ocorre durante o processo
cirúrgico e pode causar danos aos pacientes.
Iatrogenias são erros que acontecem dentro setor e que muitas vezes a
gente consegue reverter. (Enf. 4). (grifo nosso)
[...] complicações [...] que ocorreram por falha naquele processo. (Enf.5).
(grifo nosso).

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Os entrevistados Enf.4 e Enf.5 compreendem que as iatrogenias são erros ou
complicações que trazem problemas ao paciente.
[...] qualquer erro causado a vida do paciente, a sua circunstância de
saúde, que seja proveniente de uma atuação da equipe de saúde. (Enf.1)
(grifo nosso) [...] é quando a gente faz alguma quebra do procedimento
em relação à administração de medicamento ou outro procedimento de
enfermagem, onde o profissional comete erro por vários motivos (Enf.2).
[...] complicações [...] que ocorreram por falha naquele processo. (Enf.5)
(grifo nosso)
Nas entrevistas de Enf.1, Enf.2 e Enf.5 desvelam que as iatrogenias acontecem
decorrentes de falha do profissional, ou até mesmo de toda a equipe de saúde em atividade
laboral.
A sobrecarga de trabalho e a baixa remuneração são consideradas pelos participantes
como condições que podem causar iatrogenias em CC, para além da capacidade física e mental
do enfermeiro, tal fato é desvelado no relato do Enf. 03:
Iatrogenias acontecem devido à sobrecarga de trabalho que o funcionário
tem hoje em dia, não pode se deter em um só vínculo [...], remuneração
está muito abaixo de nossa carga profissional [...]. (Enf.3). (grifo nosso)
Para Enf. 2 a iatrogenias pode comprometer a qualidade da assistência, como desvela
em seu depoimento.
O centro cirúrgico na maioria das vezes atende uma quantidade de
pacientes que está muito acima do preconizado, fato que pode propiciar
a ocorrência de erros, já que os enfermeiros não têm como prestar uma
assistência de qualidade para muitos pacientes. (Enf.2).
Importante ressaltar, que a ocorrência de iatrogenias ainda que não seja praticada
diretamente pelo enfermeiro, pode propiciar a ocorrência de dilemas éticos, já que ele é o
profissional que coordena o CC, e pode ser responsabilizado pelos erros cometidos por sua
equipe, tal fato pode vir a afetar a qualidade da assistência e propiciar o aparecimento de
doenças psicossociais.

CATEGORIA III-PREVENÇÃO DAS IATROGENIAS


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A partir dos relatos ficou evidente as ações que podem prevenir as iatrogenias no
cuidado ao paciente no CC. O apoio institucional, não sobrecarregar os funcionários e o trabalho
em equipe são medidas mencionadas pelos enfermeiros que podem atuar na prevenção de
iatrogenias. Para eles, uma equipe que trabalha onde cada profissional assume suas funções,
promove uma assistência segura e livre de danos para os pacientes.
[...] uma equipe de cirurgia que chegasse junto da equipe do centro cirúrgico,
por que a equipe de centro cirúrgico não é só a enfermagem e o anestesista,
os cirurgiões têm que também fazer parte disso, eles não têm que chegar lá
operar e ir embora [...]. Então, se é o residente que vai operar, a equipe de
cirurgia, os professores e os preceptores têm que participar, tem que
chegar junto, tem que orientar, entendeu? [...]. (Enf.5). (grifo nosso)

A capacitação da equipe de enfermagem de maneira sistemática é considerada pelos


enfermeiros como ação que contribui para a prevenção das iatrogenias, já que os protocolos do
CC estão sempre se atualizando, bem como evitar o modelo de assistência hospitalocêntrico.
[...] capacitações com os funcionários [...]. (Enf. 3) (grifo nosso)
[...] funcionar de maneira correta, a gente ter tudo que a gente precisava para
os profissionais estarem bem capacitados [...]. Então, muitos profissionais
têm posturas diferentes, tem bons profissionais, profissionais capacitados,
mas também tem pessoas que falham como em qualquer lugar. (Enf. 5)
(grifo nosso)
Os depoimentos Enf.3 e Enf.5 desvelam que a capacitação dos profissionais de saúde
é apontada como uma das principais formas de prevenção das iatrogenias, se faz necessário
que os enfermeiros estejam sempre atualizando seus conhecimentos, a fim de melhorar a
qualidade do atendimento e reduzir o número de erros que leva as iatrogenias.

ANÁLISE NOMOTÉTICA
Vivenciar dilemas éticos pode gerar dúvidas, as quais afetam o cotidiano do enfermeiro
de forma negativa acarretando em sentimentos que podem levar a vivenciar o dilema ético, bem
como sofrimento moral.

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O dilema ético surge quando em uma determinada situação existem duas ou mais opções
de escolhas, sendo que ambas ferem os princípios éticos (PAIXÃO; BATISTA; OLIVEIRA,
2021), enquanto que, o sofrimento moral ocorre em decorrência de situações em que o
profissional se sente pressionado a agir de uma forma acredite ser eticamente errada (PEREIRA
et al., 2020).
Para Jameton (2013, p. 285) o sofrimento moral se apresenta como “situação em se
sabe o que é correto e o que deveria ser feito, mas é impedido de fazê-lo por algum motivo, seja
ele individual, institucional ou social, não podendo seguir o rumo de sua consciência”.
Os enfermeiros na atividade laboral vivenciam dilemas éticos frente a situações onde a
decisão deve ser tomada, mas nem sempre está de acordo com os preceitos éticos e legais (Enf.
6, Enf. 2 e Enf. 5).
As iatrogenias ocorrem diante a erros e complicações por falhas provenientes de ações
da equipe de saúde causando danos ao paciente (Enf. 1, Enf. 4 e Enf. 5). Entendemos que diante
de erros que ocorrem na atividade laboral da equipe de Enfermagem, devem ser investigados
de forma cautelosa, a fim de evitar ações e punições desnecessárias que muitas vezes
desencadeiam o medo de revelar as iatrogenias. Essa atitude pode levar os profissionais a
vivenciarem dilemas éticos por não relevar as iatrogenias.
Para Santos et al. (2010), ações administrativas tomadas perante um erro se direcionam
para o profissional e não para promover melhoras, as orientações, advertências verbais,
suspensão ou até demissão, relatórios e orientações corresponderam a 80,3% das providências
citadas. Os autores ressaltam ainda que cerca de 70% dos profissionais de enfermagem não
notificam erros de medicação pelo fato de temer a atitude do supervisor que recairá sobre os
enfermeiros responsáveis ou a equipe (SANTOS et al., 2010).
As iatrogenias podem emergir quando o procedimento não é realizado adequadamente,
como na administração de medicação ou outros procedimentos, onde o profissional comete erro
(Enf.2). Ao ocorrer erros, os profissionais da equipe muitas vezes sentem receio de revelar por

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medo de punição e até mesmo a demissão. Nesse sentido Siqueira et al. (2016, p. 6) salientam
que o sentimento de culpa, medo da punição, da demissão, e as preocupações com a gravidade
do erro podem levar as pessoas a subnotificar o incidente.
As iatrogenias por erro de procedimento cirúrgico ocorrem e não são reveladas as
famílias, mas comunicam terem realizado outra cirurgia e em outro momento realizam a que
realmente deveria ser realizada (Enf.4). Diante de situação com essa o enfermeiro com certeza
encontra-se diante de um conflito entre a equipe que realizou a cirurgia é um dilema ético,
revelar ou não a verdade as famílias.
Para Dalmolin e Goldim (2013, p. 97) o conflito entre os profissionais de saúde ocorre
entre revelar, ou não revelar a má notícia ao paciente e/ou familiares, visto que a associação de
dano à ocorrência pode deixá-los ansiosos, deprimidos, traumatizados e de acordo a gravidade,
pode atingir emocionalmente também os profissionais envolvidos.
As iatrogenias emergem na prática dos enfermeiros em consequência a sobrecarga de
trabalho, por isso, faz- se necessário outros vínculos, vez que a remuneração se encontra abaixo
da realidade atual (Enf.3). Outra situação diz respeito à demanda de pacientes acima do
preconizado, fato que pode propiciar a ocorrência de erros, já que os enfermeiros não têm como
prestar uma assistência de qualidade aos pacientes (Enf.2).
As enfermeiras vivenciam problemas, conflitos e dilemas, a partir de situações
consideradas parte do seu cotidiano, que podem estar relacionadas às práticas profissionais
questionáveis e problemas intrínsecos da profissão como a sobrecarga de trabalho ou baixa
valorização e remuneração, o que lhes vem provocando sofrimento moral (CARVALHO, 2005;
DALMOLIN; LUNARDI, 2007).
A sobrecarga de trabalho e o baixo salário e a alta demanda de pacientes em CC pode
também emergir o desinteresse pelo trabalho dentre outras situações, como salientam Lunardi
et al. (2009, p. 602), o profissional que se encontra descontente com o trabalho, possibilita
aumento de doenças laborais; a redução da carga de trabalho; afastamento, frieza nas relações,

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como recursos de defesa; visão do doente como uma atividade/trabalho e não como um ser
humano; insônia, ansiedade, depressão e incapacidade de concentração; medo, cólera, trauma;
mudanças de personalidade frequentes, assim como sentimentos de culpa; cinismo nas
convicções religiosas ou atitudes de maior fé; sentimentos de fraqueza, de falta de apoio moral
e de falta de apoio profissional e solidão profissional.
Foram divergentes os relatos de Enf. 1 e Enf. 2 ao desvelar não terem vivenciado
dilemas éticos relacionados com as iatrogenias. Importante entender que, os erros que podem
ocorrer na conduta do enfermeiro, não estão ligados apenas a competência profissional, mas
também a precariedade da infraestrutura da instituição e escassez de recursos materiais e
humanos, tal fato tem como causa a falta de investimentos no setor da saúde, que obriga o
funcionário a trabalhar com um número grande de pacientes, reduzindo assim a qualidade da
assistência.
Os relatos revelam que os enfermeiros sentem dificuldades de verbalizar os dilemas
éticos vivenciados pelo cirurgião. Essa atitude pode estar relacionada ao medo da informação
ser divulgada e em algum momento prejudicar sua relação com esses profissionais, o que causa
a subnotificação das iatrogenias.
De acordo com Siqueira (2016) o medo, para alguns indivíduos, funciona como um
instrumento de proteção de situações que podem ser potencialmente perigosas. Os erros
cometidos foram desvelados pelos enfermeiros, e fica a dúvida de tomada de decisão para
revelar ou não a situação ocorrida. Ferrel (2006, p. 926) salienta que a percepção das
enfermeiras sobre sua possibilidade de exercer poder na instituição, para a resolução de dilemas
e questões éticas, parece fundamental para a sua decisão de uma tomada de ação ou não para
este enfrentamento.
O documento de referência para o Programa de Segurança do Paciente (2014, p. 27) diz
que: “raros são os estabelecimentos de Saúde que preparam seus profissionais para informar ao
paciente e seus familiares que um erro foi cometido”.

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De acordo Silva et al. (2015) a necessidade pessoal do trabalhador de enfermagem e sua
ansiedade em relação às circunstâncias com as quais se defronta, geralmente prejudica o
atendimento que gostaria de oferecer, podendo ocorrer sofrimento profissional.
A prevenção das iatrogenias está relacionada à capacitação da equipe cirúrgica, mas os
enfermeiros entendem que os profissionais têm posturas diferentes, isto é, existem os
capacitados, mas também existem os que falham nas atividades realizadas (Enf. 3 e Enf. 5).
De acordo com Bergamim e Prado (2013) a assistência de qualidade em saúde necessita
do envolvimento de todos os profissionais da equipe, por isso é importante uma reflexão sobre
as relações interpessoais dos profissionais que fazem parte da equipe.
Assim, é importante investir não só nos treinamentos sobre técnicas, mas principalmente
nas discussões que envolvem postura em relação aos valores éticos e morais, comportamentos,
atitudes nas relações interpessoais, além da promoção da integração de habilidades teórica e
prática, e seguir protocolos para o exercício seguro ao paciente no perioperatório.

Considerações finais
O estudo apontou que no CC emergem iatrogenias, visto que nessa unidade os pacientes
adentram em sua maioria correndo risco iminente de morte, que aliado a escassez de recursos
materiais e humano podem propiciar a ocorrência de dilemas éticos.
Os enfermeiros têm entendimento limitado sobre os dilemas éticos e iatrogenias, mesmo
que vivenciem constantemente em sua prática em CC, por isso faz-se necessário que as
instituições hospitalares invistam em treinamentos e capacitações sobre essa temática, a fim de
prevenir as iatrogenias, bem como constante atualização dos protocolos e rotinas existentes na
unidade.
Mesmo que nos depoimentos não desvele os sentimentos dos enfermeiros em CC, pode-
se inferir que os dilemas éticos frente à iatrogenias podem propiciar nos enfermeiros
sentimentos como medo, ansiedade e tristeza, dentre outros. Eles podem ser frutos da

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sobrecarga de trabalho que ficam expostos, por isso, é salutar buscar por melhores condições
de trabalho para os enfermeiros, bem como salários dignos, a fim de melhorar a qualidade da
assistência e reduzir a ocorrência de iatrogenias.

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ARTE E LOUCURA NOS TERRITÓRIOS DE VIDA: EXPERIÊNCIAS DE
FORMAÇÃO E DE CUIDADO PSICOSSOCIAL

Rosimár Alves Querino1


Ana Júlia Fernandes Ribeiro 2
Camila Bahia Leite 3
Letícia Sousa Rodrigues4
Marina Capucci Manffré5
Raquel Bessa Martins Andrade6

Resumo: O modelo de atenção psicossocial instituiu o cuidado em liberdade, com ampla


inserção comunitária e envolvimento dos sujeitos. Prima-se pela valorização das
singularidades, a defesa de direitos e a construção de territórios de vida. Os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) são, desde o início da reforma psiquiátrica brasileira, referência para o
cuidado integral e para a articulação da rede de atenção psicossocial. O presente estudo consiste
em pesquisa-intervenção desenvolvida no CAPS Maria Boneca (Uberaba, Minas Gerais) na
qual articulam-se ensino, extensão e pesquisa. Nesta comunicação objetiva-se descrever a
intervenção e suas contribuições para a formação de acadêmicos e para o cuidado psicossocial.
Exploram-se aqui as experiências desenvolvidas no ano de 2019 com o envolvimento de
profissionais, alunos de diversos cursos de graduação e usuários do serviço em oficinas de arte,
acompanhamento terapêutico grupal e na realização de exposições artísticas e fotográficas.
Aprovados pelo Comitê de Ética, os projetos de pesquisa são desenvolvidos de modo integrado
com o programa de extensão Territórios de Vida: saúde mental e inserção comunitária. De
abordagem qualitativa, a construção de dados ocorreu com o emprego de etnografia e da técnica
do photovoice. No acompanhamento terapêutico, a produção fotográfica foi realizada, também,
pelos usuários. A etnografia guiou a construção de diários de campo, trazendo a narrativa densa
da relação com o espaço-tempo, afetações e experiências. Tal método mostrou-se potente ao

1
Doutora em Sociologia, professora associada do Departamento de Saúde Coletiva, integrante do Núcleo de
Pesquisa em Saúde e Sociedade (NUPESS), Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, Brasil,
[email protected]
2
Discente do curso de Psicologia, integrante do NUPESS, bolsista do Programa de Extensão Territórios de Vida
(PROEXT-UFTM), Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, Brasil
3
Especialista em Saúde Mental, Psicologia Social, Esquizoanálise, Esquizodrama, Análise Institucional, Klínica
de grupos e instituições; psicóloga da Fundação Gregório F. Baremblitt/CAPS Maria Boneca e coordenadora da
Oficina de Arte, Uberaba, Brasil
4
Psicóloga, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, Brasil
5
Psicóloga, bolsista do Programa de Extensão Territórios de Vida (PROEXT-UFTM), Universidade Federal do
Triângulo Mineiro, Uberaba, Brasil
6
Especialista em Saúde Mental, psicóloga da Fundação Gregório F. Baremblitt/CAPS Maria Boneca e
coordenadora do Acompanhamento Terapêutico, Uberaba, Brasil

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permitir reflexões acerca da experiência vivida, possibilitando a elaboração de afetos e a
ressignificação de si. A análise de conteúdo temática norteou o tratamento dos dados
construídos no encontro do photovoice e com os diários de campo. Espaço de aprendizado e de
prática grupal, as oficinas foram permeadas pela atividade artística como possibilidade de
criações, expressões e encontros. A construção de vínculos entre universitários, profissionais e
usuários têm permitido a emergência da grupalidade, das relações horizontalizadas e da
promoção de espaços para o pertencimento e escuta. As exposições com a produção artística
(pinturas e fotografias) têm sido mediadoras da circulação dos usuários em outros territórios
com a valorização das habilidades dos usuários, desconstrução de rótulos e estigmas e trocas
sociais. A pesquisa-intervenção inseriu os acadêmicos no cotidiano do serviço estimulando o
trabalho em equipe e fomentando possibilidades de pensar e agir de forma antimanicomial.
Neste sentido, a experiência suscitou afetos e encontros potentes, com ampliação do processo
formativo e (des) construções de concepções sobre loucura, cuidado, espaços e cenários de
formação. Conclui-se que a integração entre ensino, pesquisa e extensão por meio da pesquisa-
intervenção está em sinergia com a sedimentação do cuidado psicossocial e da formação de
profissionais de saúde com engajamento ético e político na defesa da vida e do cuidado em
liberdade. Ressalta-se a importância da desconstrução de relações hierárquicas, seja nas
relações entre universidade e serviço, seja nas relações entre os participantes. Relações
horizontalizadas se traduziram em potentes encontros, propícios para o cuidado e para o
aprendizado coletivo.

Palavras-chave: Serviços comunitários de saúde mental; Desinstitucionalização; Formação


profissional em saúde; Capacitação de recursos humanos em saúde; Direitos humanos.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
A Reforma Psiquiátrica (RP) enquanto “processo social complexo” implica em uma
amplitude de estratégias de desinstitucionalização, devendo ser pensada, sobretudo, enquanto
movimento social de intensa participação comunitária que reivindica a cidadania e a
transformação da relação social com a loucura (AMARANTE, 2008).
O modelo de atenção psicossocial instituiu o cuidado em liberdade, com ampla inserção
comunitária e envolvimento dos sujeitos. Prima-se pela valorização das singularidades, a defesa
de direitos e a construção de territórios de vida (YASUI; LUZIO; AMARANTE, 2016). Os

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Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são, desde o início da reforma psiquiátrica, referência
para o cuidado integral e para a articulação da rede de atenção, em superação aos manicômios
e à assistência ambulatorial médico-centrada (AMARANTE, 2008; LOBOSQUE, 2020).
Tais centros se estruturam com equipes multiprofissionais que produzem o cuidado a
partir de projetos terapêuticos singulares construídos com amplo envolvimento dos usuários e
focados na abordagem integral e intersetorial de suas necessidades. Contam com uma
diversidade de ações e estratégias voltadas para a integralidade da atenção e para a efetivação
da desinstitucionalização (BRASIL, 2004).
Nas últimas três décadas, sedimentaram-se práticas inovadoras no cuidado em saúde
mental como o Acompanhamento Terapêutico (AT) e Oficinas de Arte. O potencial criativo e
o cuidado pela arte se revelam como dispositivo possível de encontro dos usuários com suas
potencialidades, liberdade e vida (AMARANTE; NOCAM, 2019; AMARANTE; TORRE,
2017). Por sua vez, o AT viabiliza, a partir da circulação no espaço urbano, movimentos de
autonomia e reinserção social dos sujeitos (ARAÚJO, 2013; BUENO; PASSOS, 2016).
Neste contexto, o presente estudo consistiu em pesquisa-intervenção desenvolvida no
CAPS Maria Boneca (Uberaba, Minas Gerais) na qual estão articulados ensino, extensão e
pesquisa. Objetiva-se descrever a intervenção no acompanhamento terapêutico e na oficina de
artes e suas contribuições para a formação de acadêmicos e para o cuidado psicossocial.

Método
O CAPS Maria Boneca é o primeiro serviço substitutivo do município de Uberaba -
Minas Gerais, implantado em julho de 1991. Mantido pela Fundação Gregório F. Baremblitt,
está ancorado na esquizoanálise, análise institucional e esquizodrama e propõe a potenciação
de intervenções grupais. Exploram-se aqui as experiências desenvolvidas no ano de 2019 com
o envolvimento de profissionais do CAPS, uma delas responsáveis pelo AT e outra pela oficina
de arte, alunos (dezessete) de diversos cursos de graduação (Terapia Ocupacional, Medicina e
Psicologia) e usuários do serviço em oficinas de arte (dez) e acompanhamento terapêutico

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grupal (vinte)7.
Aprovados por Comitê de Ética, as pesquisas “Acompanhamento terapêutico e
territórios existenciais: (novos) modos de ser e estar na cidade” (CAAE 17608719.3.0000.5154
e parecer 3.607.745) e “Experiências de adoecimento e de cuidado: perspectivas de usuários de
centro de atenção psicossocial” (CAAE 17859719.6.0000.5154 e parecer 3.607.748) são
desenvolvidas de modo integrado com o programa de extensão Territórios de Vida: saúde
mental e inserção comunitária (Ter.Vida) (PROEXT nº 55/2019).
Ancorada na abordagem qualitativa, a construção de dados ocorreu com o emprego da
etnografia e da técnica do photovoice (MINAYO, 2010; TOUSO; MAINEGRA; MARTINS;
FIGUEIREDO, 2017). A etnografia guiou a construção de diários de campo pelos alunos de
graduação tanto no acompanhamento terapêutico (AT) quanto na oficina de artes. Tal método
permitiu reflexões acerca da experiência vivida, possibilitando a elaboração de afetos e a
ressignificação de si (NUNES; TORRENTE, 2013).
A produção fotográfica no AT foi realizada, também, pelos usuários e está organizada
em drive on line. Prima-se pelo registro das autorias, tarefa por vezes dificultada pelo fato de
as máquinas fotográficas digitais circularem entre os participantes.
O corpus aqui explorado é composto por diários de campo elaborados pelos dezessete
alunos de graduação e por sessão de photo voice (PV) envolvendo dez alunas de psicologia
atuantes no AT. A técnica de PV é consistente com a perspectiva da pesquisa ação-participativa
e valoriza o potencial da fotografia para apreender acontecimentos e disparar interações entre
sujeitos (TOUSO; MAINEGRA; MARTINS; FIGUEIREDO, 2017).
A análise de conteúdo temática norteou o tratamento do corpus (MINAYO, 2010). Cada
participante aderiu voluntariamente à pesquisa e manifestou autorização em termo de
consentimento. Os nomes dos acadêmicos foram substituídos por cores, seguidos pela indicação
dos cursos: Med para Medicina; Psi para Psicologia e TO para Terapia Ocupacional.

7
Esta é a média de participantes, posto que as participações na oficina e no AT variaram ao longo do ano.

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Resultados e discussão
Acompanhamento Terapêutico
A clínica do AT ancora-se na cidadania e institui práticas humanizadas e dispositivos
reabilitadores que se baseiam na autonomia e liberdade para a conexão do indivíduo com o
mundo, numa perspectiva de reinserção social (ARAÚJO, 2013; BUENO; PASSOS, 2016). De
acordo com participante da pesquisa-intervenção,
A questão principal é a dúvida sobre a autonomia do outro, o quanto pode
fazê-lo, principalmente quando se mantém, de forma latente, estereótipos de
uma antiga sociedade manicomial. Trata-se de um olhar sobre o quanto o
outro pode oferecer, o quanto ele pode ser capaz e cheio de possibilidades
(Violeta, Psico).
No CAPS Maria Boneca, o dispositivo de AT grupal é desenvolvido há mais de uma
década como uma intervenção clínica grupal na rua, podendo ocorrer o acompanhamento
terapêutico individual. Pitiá (2002, p. 02) destaca como característica marcante do AT “operar
na produção de uma (re) colocação do sujeito em funcionamento com a realidade urbana, de
encontrar espaços onde a cidade incorpora o que ele tem; a influência das ruas da cidade,
oferecendo um guia que destaca espaços e as formas experimentadas com sucesso.”. Essa
intervenção a céu aberto é consistente com o modelo CAPS que prioriza o cuidado em liberdade
como forma de compor as práticas reabilitadoras e antimanicomiais, possibilitando o
entrelaçamento das redes nos territórios (LOBOSQUE, 2020).
A partir de 2019, a atividade passou a contar com novos corpos acompanhantes por
meio do Programa de Extensão Ter.Vida. Assim, nas manhãs de segunda, com cerca de 25
participantes, dentre os quais usuários do serviço, discentes extensionistas e a
psicóloga/acompanhante terapêutica, foram realizadas diversas andanças pela cidade, sendo o
destino de cada passeio escolhido pelos próprios usuários.
Os encontros com os acadêmicos, usuários e comunidade - encontros de cidadãos - se
davam nessa circulação pelos espaços abertos e na tecelagem de práticas horizontais, formativas
e libertadoras em Saúde Mental. Podemos pensar, então, o AT grupal como um rizoma

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(DELEUZE, 1995). Cada acompanhante pode estar em conexões grupais não somente com os
acompanhados, mas também com extensionistas e todos que se encontram pelo caminho
nômade, em circulação pelos espaços urbanos e psíquicos. Encontrar-se ou reencontrar-se,
encantar-se, conectar-se, derivar-se, como registrado pela acadêmica:
O AT é capaz de construir novos espaços e possibilidades no cotidiano dos
indivíduos. [...] Nesse percurso que é a vida, o AT traz uma delicadeza no
significado de habitar espaços. Nós habitamos as ruas, as praças, mas
habitamos principalmente no interior de cada um (Violeta, Psico).
Como nos diz Deleuze (1995), multiplicidades são rizomáticas. Um rizoma pode ser
rompido, atravessado, quebrado e retornar em outras linhas. Quando se circula pelas ruas, por
mais que sejam mapeadas as andanças em alguns momentos, a ação nem sempre será simétrica,
pois teremos os ruídos da cidade, o cheiro, a história de cada local indo ao encontro ou
desencontro de cada acompanhado, de cada extensionista, de cada profissional, de cada cidadão.
Ou seja, são possíveis inúmeras cartografias (GUATTARI; ROLNIK, 2010).
A escassez de publicações acerca do AT grupal nos diz do desafio em desconstruir a
concepção do dispositivo como serviço exclusivamente individual (FRANÇA, 2016). Há de se
investigar e reconhecer a legitimidade da modalidade grupal, contemplando suas várias
complexidades, particularidades e potencialidades, posto que o AT
[...] utiliza-se de teorias já estabelecidas para pensar novas formas no
tratamento da loucura. Pensar a loucura não como fenômeno individual, mas
sim como produto social de uma política relacional. Cada qual a seu modo e
com suas particularidades teóricas, há aí, nas antipsiquiatrias, o elemento
comum que as agrega num único movimento. Há o elemento do desconforto,
natureza inquieta que espreita, pelas grades do instituído, novos caminhos a
serem percorridos (CANEPA, 2019, p. 15).
O AT grupal possibilita, com maior potência, a vinculação horizontal, ampliando
possibilidades, aprendizados, vida libertária a todos os envolvidos, inclusive a sociedade
(pessoas, lugares, vivências por onde circulamos na sociedade). Com isso, ajuda a desconstruir
os estigmas e preconceitos que a loucura carrega (AMARANTE; TORRE, 2018).
O encontro do grupo com a cidade é capaz de incitar diversos disparadores que
atravessam acompanhados e acompanhantes, tecendo potentes cenas urbanas: um grande

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coletivo, composto por tantas singularidades, reivindica o direito à cidade ao ocupar avenidas,
igrejas, praças, mercados, dentre outros (AMARANTE; TORRE, 2018). Dos sentidos
apreendidos nos encontros grupais, destacaram-se nos diários de campo a percepção e o respeito
pelo tempo do outro:
Subimos em grupos separados, uns mais a frente outros mais para trás,
chegando ao local todos começaram a se reunir na praça, mas decidiram que
iriam até a Igreja, chegando dentro da Igreja, alguns rezaram, outros
sentaram e outros começaram a explorar os locais da igreja (Roxo, Psico).
Nas andanças, o grupo se diluía em subgrupos que transitavam com ritmos diversos.
Acompanhar tantos movimentos pode ser inquietante, despertando até incitação no
acompanhante de tentativas manicomiais de controle e tutela, frente tamanha imprevisibilidade:
Ficava muito ansiosa sempre que precisávamos atravessar a rua, mas tentei
me acalmar, pois sabia que isso era uma parte natural do processo do
acompanhamento terapêutico e que todo tipo de situação era possível, pois
estávamos em um espaço público, onde todos podem circular (Rosa, Psico).
Retomando a provocação de Palombini (2006), considera-se que a passagem do espaço
fechado do manicômio para o tecido urbano não é suficiente para a ruptura da relação de poder
historicamente instituída. Há de se assumir uma perspectiva de cuidado emancipatória para não
reproduzirmos o manicômio a céu aberto. Também são marcantes as expressões de cuidado
entre acompanhado e acompanhante e entre os usuários, o que nos leva a refletir sobre a ruptura
de papéis enrijecidos de “profissional de saúde” e “paciente” que o AT grupal é capaz de
proporcionar. No grupo, todos podem exercer e receber cuidado:
Durante o trajeto, ele fez questão de segurar a minha mão e ressaltar que eu
deveria tomar cuidado [...]. Nesse momento eu senti que tinha lógica o eu
estar ali caminhando e que não existia diferença: eram dois iguais, um
cuidava do outro. Caminhamos juntos, com visões diferentes, com percursos
diferentes, mas naquele momento nosso percurso se cruzou (Marrom, Psico).
Percebo o quão são verdadeiras as relações de cuidado com outro, seja por
acompanhar, esperar ou por simplesmente conversar. Então, seguraram a
minha mão quando eu ia atravessar na rua. Me preocupava tanto em prestar
auxílio, que surpreendentemente o recebi primeiro (Violeta, Psico).
Destarte, é fundamental explorar as contribuições das fotografias produzidas pelos
participantes do AT para transformar a iconografia sobre a loucura e o cuidado. As históricas

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fotos denunciando a violação de direitos humanos pelo modelo manicomial vão sendo
contrapostas aos deveres do cuidado em liberdade, da circulação pelos espaços sociais como
cidadãos de direitos que produzem outros olhares sobre a cidade e a vida coletiva. A cidade é,
assim, entendida como “lugar da emancipação e da autonomia”, “lugar infinito das trocas
sociais” no qual se constituem a convivência, participação social e “busca de cuidado integral
e acesso a políticas públicas''. (AMARANTE; TORRE, 2018, p. 1095).

Figura 1 – Andanças do AT na exposição agropecuária, 2019.


Fonte: Acervo do Programa de Extensão Ter.Vida.

Neste movimento de ocupação da cidade, extensionistas vão tecendo novas relações


com a loucura e se engajando na luta antimanicomial. Os acompanhados iluminam, com suas
lentes e flashes, outros caminhos, outras formas de luta “por uma sociedade sem manicômios”.
Este momento encontra amparo na compreensão de Gregório Baremblitt sobre a prática do AT
como “essa operação de ajuda como uma aliança, em que se ajudarão mutuamente a encontrar
a singularidade produtiva, a escolher um modo de vida a aprender a defendê-lo da sociedade

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paranóica triunfante” (BAREMBLITT, 2000).

Oficina de Arte
A Oficina de Arte acontece desde 2014 e é aberta à participação de usuários do CAPS.
Não há um número de encontros definidos e é um lugar onde os indivíduos se encontram e
permitem vivências artísticas, reflexões sobre sua forma de estar e agir no mundo e seu processo
de vida. Há um acolhimento movido pelo contágio lúdico, possibilitando uma liberdade criativa
apesar das dificuldades que vão desde o embotamento à paranoia; curiosidade ou estranhamento
do manuseio do material que não é comum aos usuários. Como descrito nos diários de campo,
vale o desejo de expressar e a liberdade para tal:
O [usuário] sempre aceitava prontamente nossas sugestões, como se fosse
uma ordem, não atendendo suas vontades. Então, tentamos explicar para ele
que ali era um espaço de liberdade e criatividade, que ele tem autonomia para
desenhar e se expressar como bem desejar (Vermelho, Psico).
[Um dos usuários] mais uma vez havia se arriscado criando algo dele e isso
é extremamente significativo... cada vez mais ele está aprendendo a confiar
na sua própria arte (Rosa, Psico).
Usa-se papel, tintas, telas, tecidos, linhas incentivando o usuário a encontrar-se com sua
potência de criação. O desejo de aprender novas técnicas opera transferindo a atividade para
casa e cursos fora do CAPS. Há uma busca pela valorização do trabalho realizado, venda de
obras e cartões com fotografias das obras confeccionadas na oficina. O ganho com a venda dos
produtos é dividido em comum acordo entre a oficina e artistas envolvidos.
[Um usuário] contou sobre as exposições que já havia feito e sobre seu site e
página no facebook [para vender seus quadros] (Vermelho, Psico).
[O usuário] me mostrou sua professora de desenho no instagram, [...] me
mostrou outros desenhos que tinha feito em casa [...] e contou um pouco de
sua história de vida, mostrando-se curioso com minha vida acadêmica [...]
(Azul, Psico).
O sofrimento psíquico tem suas nuances na cronicidade, crise ou criação. É forte a
presença da dor. É a arte como potência que permite acolher demandas internas: seus fantasmas
delirantes, prazeres internos, sucessos e fracassos. Dores perceptíveis e imperceptíveis que
podem ser expressas, por exemplo, em um poema:

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A poesia do [usuário] me marcou muito. Ele expressava uma forma de ver o
amor, uma forma tão pura e sem maldade que fez com que eu me emocionasse
[...]. Fiquei me questionando muito tempo em como o seu diagnóstico tinha
uma influência direta nas suas relações interpessoais, afinal, um diagnóstico
psiquiátrico pode mudar tudo na vida de uma pessoa, ainda mais com todo o
estigma que ainda existe [...]. Acredito que o [usuário] nunca imaginará o
quanto aquela poesia impactou minha vida (Laranja, Med).
A oficina é uma prática de intervenção psicossocial; um lugar de acolhimento e cuidado
das dificuldades, mesmo não sendo tão profunda quanto a psicoterapia. E, talvez, por ser mais
livre e lúdica, nela surjam conteúdos importantes que podem ser cuidados de uma forma suave
e natural.
[Uma das usuárias] contou [...] que em uma viagem à praia quase se afogou.
Estava nadando [...] se cansou e decidiu parar. Nisso afundou e foi vendo a
luz esmaecer até que seus pés encostaram na areia e, então, sentiu uma
certeza do que fazer. Segundo a usuária foi Deus. Virou seu corpo para o lado
em que estava a orla e voltou a nadar até que encontrou a praia [...]. Lembrei
que ela havia dito nunca ter conhecido o mar, mas então que diferença faz de
onde veio essa história? Se da realidade ou de sua criação? A profundidade
do mar, a calma com que ela reagiu e a certeza da ação de Deus já não bastam
para que [...] seja significativa? (Verde, Psico).
A Oficina acaba por se tornar um dispositivo de cuidado e produção de novas
subjetividades. Como coloca Guattari (1992), subjetividades são processos que produzem
agenciamentos criadores, sentidos e novas realidades (realteridades), que também sofrem
mutações em suas atuações. São revolucionários. No caso da arte, um novo é produzido e
contemplado, afetando o(s) outro(s) e transformando-se numa outra produção, do outro.
A arte é a dobra produzida entre os afetos de sua própria criação, suas derivações, suas
realteridades, criando novos modos de vida e de experienciar o mundo. O que vem ao encontro
com Pichon-Rivière (1999), que define o processo de criação como uma tentativa de lidar com
o caótico e transformá-lo em algo novo. Uma potência de vida que se recria e afeta o outro. O
artista ao criar, consegue lidar com sua dor e atravessá-la, ir para um outro lugar, um outro
modo de estar, devir-se artista, alguém capaz de criar, inventar, mudar algo no seu mundo
(DELEUZE, 1992).
[Uma usuária] que estava em uma crise mais intensa participou da oficina.

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Fiquei acompanhando de perto, buscando sustentar e dar espaço aos delírios
no papel. Ela começou o desenho querendo me desenhar de perfil, “como uma
gueixa”[...]. Ainda com o mesmo traço, começou a desenhar borboletas e
enquanto fazia essas ilustrações, de forma calma, pausada e
“desorganizada”, ia dividindo pensamentos, [...] alguns em tom de segredo.
[...] Alguns temas emergiram na sua fala, principalmente voltados para seu
histórico de adoecimento e o tempo em que morou no Japão. Contou sobre o
seu trabalho e reconstruímos juntas o cronograma de atividades [...]. A rotina
de trabalho era muito intensa no Japão e foi lá que ela teve a primeira
internação (Azul, Psico).
A arte transborda, mora na dobra, onde o corpo não cabe em si. É aquilo que ao sentir
não se nomeia, acontece. Convida a outrar-se, vira-se nômade, transborda para outros possíveis,
se coletiviza, é múltipla. É máquina de múltiplos devires, de vida. Uma revolução na arte do
cuidado, do olhar para si, para o outro, para o coletivo usuários-universitários, e para além da
oficina, do CAPS.
Hoje teve o primeiro esboço do trabalho com poesia, a qual eu acho de muita
importância, pois a comunicação verbal vem extravasar o que esses usuários
tanto reprimem ao longo de anos e não conseguem expor, e ajudará a tornar
o grupo mais sólido com a composição de um só poema e compartilhamento
de experiências como é no cadavre exquis sugerido [por um extensionista]
(Amarelo, TO).
A dobra criada pela arte fica entre o agora e o vir a ser, aquilo que não cabe na palavra,
é ato, acontecimento. Surge de algo inicialmente improdutivo, buscando vida nos devires
minoritários, produzindo diferença, metamorfoseando. Durante a oficina, o delírio que não cabe
no social se faz caber produtivamente no cuidado; é onde a diferença, o minoritário pode se
tornar potência de vida.
O cuidado é entendido aqui como um entre produzido pela vida criativa na suavidade
do cuidar-se e cuidar do outro. É um cuidado que afeta e se permite ser afetado, que vai para
além da clínica; é vida e produz sua própria arte na realteridade, nos coletivos, nas revoluções
inventivas. É o que desfaz a paranóia e a faz caber em outro lugar, produzindo um novo, uma
diferença produtiva e afetiva, onde o delírio se transforma em arte. É quando o pincel, a tinta e
a tela se unem, e fluem, não há controles improdutivos, não há certo ou errado, é acontecimento
que transporta o artista para além dele mesmo. Cria-se outro corpo, grupal, coletivo, nômade,

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criativo e potente, dentro do delírio e fora dele. São um só, um grupo, uma oficina, sendo
muitos, potentes e afetivos, coletivamente acolhidos (DELEUZE, 1997).
[Uma usuária] descreveu que estava representando seu próprio olho, que é
verde, porém no desenho tinha muito mais cores. Os padrões se repetem, pelo
menos é o que parece. Ela traz algumas formas, associações e narrativas bem
características e recorrentes. [...] No início da oficina ela estava cabisbaixa,
depois foi entrando na roda e foi como se em um dado momento todos
dançassem juntos, independente do ritmo, de cima era tudo uma linda
engrenagem (Amarelo, TO).
Logo, o fazer grupal, conciliado com outras formas de cuidado, tem a capacidade de
criar espaço para o sujeito e mais do que isso, espaço para compartilhar. O trabalho grupal não
se encaixa apenas em uma estrutura e é uma ferramenta que faz parte do tratamento. Fazer parte
de um grupo pode, inclusive, auxiliar os usuários a conseguirem fazer parte de outros, em outros
contextos sociais. É diante do envolvimento de cada um que o grupo se edifica, identifica e se
acolhe, permitindo a criação, a expressão e a liberdade, elementos imprescindíveis para o fazer
artístico (CASTRO; SOUZA; SOUZA; CORRÊA, 2017).
Todas as atividades que ocorrem no CAPS são assim, de forma coletiva,
inclusive a oficina de pintura. Percebo que apesar de ser uma atividade
individual, ainda assim acontece de forma coletiva, os usuários sempre pedem
opiniões e ajudas aos extensionistas, aos outros usuários e à psicóloga. Todos
envolvidos com sua própria produção, mas trabalhando de forma grupal,
desde a montagem da oficina, à realização e a finalização da mesma, todos
juntos (Azul, Psico).
A arte pode nascer de um ato individual, por vezes até narcisista, mas ela o faz sair dele,
pois não é feita só para um, torna-se um dispositivo social. Ela produz subjetividades que afetam
o outro, provocam-no, toca-o em algo que o habita, ela é nômade, nos leva a outros lugares, que
visitamos em nós e nos outros. Sua potência é amorosa, vai para além de si mesma, sai de si e
produz um outro, um filho que é feito a partir do outro, de outros dispositivos, de outras
afetações, multiplicidades. É dentro do grupo que se abre a possibilidade de construções
conjuntas. Essas construções caminham desde objetos concretos, como é o caso de uma obra
de arte, até o subjetivo, como é o caso do falar sobre sentimentos.

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Figura 2 – Oficina de arte no CAPS, 2019.


Fonte: Acervo do Programa Ter.Vida.

Lobosque (2020, p. 291) confere à arte um importante lugar no cuidado em liberdade,


ao dizer que ela “apreende o vazio” aprisionante da loucura, do manicômio e dá voz, vez e lugar
ao usuário, povoando este vazio. Ela é necessária, é “potência do olhar humano diante do mundo
que o fecunda e renova” nas adversidades, na crise, no aprisionamento. A arte transcende
muros, isolamentos e traz à lembrança, o trabalho de Nise da Silveira e Arthur Bispo e suas
produções a partir de um vazio aprisionante que hoje inspira uma Luta, muitos cuidados e
ocupam os movimentos culturais e coletivos pela liberdade de ser, estar, de ir e vir.
As exposições com a produção artística (pinturas e fotografias) têm sido mediadoras da
circulação dos usuários em outros territórios com valorização de suas habilidades,
desconstrução de rótulos e estigmas e trocas sociais. Novas subjetividades nascem a partir do
que é inventado no coletivo, a partir das obras de arte e das afetações produzidas por elas.

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Figura 3 – Visita dos artistas e extensionistas à exposição de artes na universidade, 2019.


Fonte: Acervo do Programa Ter.Vida.

Assim, os encontros do AT e da oficina de arte nas exposições realizadas na


universidade e no CAPS são entendidos como um ato social, uma ética de cuidado onde o
antiprodutivo, o narcisismo pode ser raspado, onde cabe aquilo que não cabe em outro lugar,
que o social reprime, violenta. As exposições e trocas se erigem em um dispositivo de
possibilidades no cuidado e nos enfrentamentos de locais onde há pouco afeto ou muita dor: na
luta contra macro e micro fascismos, nas perdas e luto, no desrespeito às diferenças, nas
violações dos corpos e direitos.

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Figura 4 – Exposição fotográfica dos participantes do AT no CAPS, 2019.


Fonte: Acervo do Programa Ter.Vida.

Considerações finais
A pesquisa-intervenção inseriu os acadêmicos no cotidiano do serviço, estimulou o
trabalho em equipe e fomentou possibilidades de pensar e agir de forma antimanicomial. Esse
caminhar se mostrou importante posto que, como Lobosque (2020) assevera, é comum haver
um distanciamento entre universidade e serviços em Saúde Mental que não está restrito ao
físico, mas também ao social, estrutural, conceitual, etc. Tratou-se, portanto, de construir um
encontro que promovesse a construção compartilhada de saberes na qual o “fazer com”
subverteu a lógica do “fazer para” instituindo relações de troca, de afetação e de aprendizados
mútuos (FREIRE, 1985).
Neste sentido, a experiência suscitou afetos e encontros potentes, com ampliação do
processo formativo e (des) construções de concepções sobre loucura, cuidado, espaços e
cenários de formação. Conclui-se que a integração entre ensino, pesquisa e extensão por meio
da pesquisa-intervenção está em sinergia com a sedimentação do cuidado psicossocial e da
formação de profissionais de saúde com engajamento ético e político na defesa da vida e do

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cuidado em liberdade, vivenciando em ato a luta antimanicomial.
O apoio entre instituições e sujeitos permitiu a construção de espaços formativos,
profissionais e pessoais. A desconstrução de relações hierárquicas, seja entre universidade e
serviço, seja entre participantes, permitiu a horizontalidade, que se traduziu em potentes
encontros, propícios para o cuidado e para o aprendizado coletivo.

Agradecimentos
Ao Allan Rodrigues da Silva (in memorian), um dos artistas desta história. A todxs que
fazem do CAPS Maria Boneca um lugar de produção de vida! Que os fraternos encontros teçam
linhas de fuga, tênues e potentes resistências à necropolítica, pois “É hora de abraçar a vida. É
hora de sustentar a vida. É hora de amar a vida. É hora de promover a vida. É hora da ética.”
(ARDUINI, 2007, p. 40).
À Pró-reitoria de Extensão da UFTM que, por meio do fomento e de bolsas de extensão,
apoiou o desenvolvimento do Programa Ter.Vida.

Referências

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RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA: RELATO DE
EXPERIÊNCIA

Rânder Jorge Alcântara1


Maria da Conceição Costa Rivemales 2

Resumo: A residência multiprofissional em saúde da família é uma formação em serviço, com


duração de dois anos, que permite ao profissional atuar em diversos espaços de saúde, sendo
possível conhecer o território, interagir com as pessoas no ambiente e realidade em que estão
inseridas a partir de diversas ações de saúde e construir um arsenal terapêutico que vai além do
consultório privado. Além disso, esse espaço é integrante e colaborador do processo terapêutico
que influencia o vínculo e produz a subjetividade entre profissional/paciente. Nesse sentido,
objetiva-se descrever a experiência de um profissional psicólogo durante a formação na
residência multiprofissional em Saúde da Família. Trata-se de um relato de experiência que
utilizou a técnica da observação participante e o diário de campo, realizada na região
metropolitana de Salvador, durante o ano de 2018 a 2020. Os dados foram analisados
qualitativamente a partir dos conteúdos obtidos pelas técnicas descritas e posteriormente foi
realizada a reflexão e discussão sobre a formação do profissional psicólogo durante a residência
multiprofissional em Saúde da Família. Os resultados evidenciam que a formação com enfoque
na saúde da família, em conjunto com o aprendizado da prática profissional no território e nas
ações coletivas junto com as equipes de saúde, contribui na promoção e prevenção da saúde da
população. O residente da psicologia atua no Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF) e
aprende junto com a equipe de saúde a compor um conjunto de saberes, com o foco das ações
no usuário do serviço, não deixando de considerar a especificidade da área profissional e suas
contribuições específicas. A trajetória do psicólogo na residência multiprofissional em saúde
da família permite desenvolver ações interprofissionais que o levam a compreender o seu papel
junto a equipe do NASF, o fazer da clínica ampliada e o cuidado com a saúde mental,
oportunizando perceber o indivíduo como um todo. Ademais, a partir do apoio matricial, foi
possível notar a contribuição do psicólogo em qualquer atividade, apoiando as ações com os
saberes de sua área e aprendendo junto com o outro, qualificando assim o cuidado. Finalizando,
a experiência do psicólogo durante a residência multiprofissional em saúde da família qualifica
a prática profissional e amplia a visão da clínica a partir da interprofissionalidade. Assim, pensar

1
Especialista em Psicologia. Pesquisador do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Saúde (NEGRAS) e Grupo de
Pesquisa em Etnologia, Linguística e Saúde Indígena (ETNOLINSI), Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, Santo Antônio de Jesus/BA, Brasil, [email protected]
2
Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Saúde (NEGRAS) e Grupo de
Estudos em Saúde da Mulher (GESAM), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Santo Antônio de
Jesus/BA, Brasil.
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no campo de atuação do psicólogo no Sistema Único de Saúde e das políticas públicas permite
sua articulação com o espaço da coletividade, considerando a comunidade, a família, o usuário,
os aspectos contextuais e a alteridade.

Palavras-chave: Saúde da Família; Atenção à Saúde; Psicologia; Equipe de Assistência ao


Paciente; Terapêutica.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
A residência multiprofissional em saúde da família é uma formação em serviço, com
duração de dois anos que permite trabalhar em diversos espaços de saúde, buscando capacitar
o profissional de saúde para uma prática multiprofissional, com a presença de um apoio técnico
de diversas áreas no serviço e que possibilita ampliação da percepção do campo de atuação na
saúde da família. Tal formação conta com o apoio de colegas, preceptores, apoiadores,
participando de discussões, estudos de caso, ações de saúde, no trabalho multiprofissional,
sobretudo, com uma formação no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A experiência como residente amplia a visão do que é a saúde, como seus cuidados devem
ser prestados à comunidade, com um viés humanizado e compreensão do usuário em todas as
suas dimensões. Junto a isso, aperfeiçoa-se a atuação conjunta e a articulação de ações com os
outros profissionais, o desenvolvimento do vínculo com os usuários, buscando conectar com o
contexto social das pessoas na comunidade e conhecer o território, aprofundando o
entendimento sobre o SUS.
Ao falar sobre a assistência oferecida nesse contexto, a partir das ações de saúde, é
possível construir um arsenal terapêutico que vai além do consultório privado e constata-se que,
no ato clínico, busca-se perceber a subjetividade da pessoa de determinada realidade social,
com uma qualidade da escuta que, independe do local onde acontece, acolhe a demanda do
outro e o seu sofrimento em uma relação que possibilita formar sentidos (DUTRA, 2004).

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A atuação do psicólogo acontece como parte das ações do Núcleo Ampliado de Saúde da
Família (NASF). De acordo com a Portaria nº 2.488 de 21 de outubro de 2011 (BRASIL, 2011),
o trabalho do NASF deve ser desenvolvido em um determinado território e compartilha as
responsabilidades assistenciais e sanitárias com equipes de saúde da família com o objetivo de
ampliar as ações e a resolutividade da atenção básica. O acesso ao NASF acontece a partir das
equipes de saúde da família e/ou Academia da Saúde, as quais operam de forma conjunta. Não
há atuação em uma estrutura física independente ou especial e suas demandas são identificadas
junto com a equipe mínima. O NASF integra a Rede de Atenção à Saúde e seus serviços, além
de participar de outras redes como as comunitárias, sociais e do Sistema Único de Assistência
Social (SUAS).
A partir do que é preconizado pelo modelo de funcionamento da saúde da família e do
trabalho no NASF, é possível compreender que a prática conjunta dos profissionais possibilita
um melhor cuidado em saúde dos usuários e que o contato com a comunidade é importantíssimo
para o acompanhamento da situação de saúde de determinada região. Esse aprendizado
proporciona um maior aprofundamento do que é atuar em comunidade através do NASF, de
modo transdisciplinar, pois, nessa residência, colabora-se de maneira conjunta com diversos
atores.
Diante do exposto, é válido ressaltar que este trabalho foi desenvolvido com base na
pesquisa desenvolvida ao longo da construção do trabalho de conclusão da residência em saúde
da família da Fundação Estatal Saúde da Família (FESF)/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
elaborado no primeiro semestre de 2020.

Referencial teórico

Na atenção básica, a inserção no território, a articulação com as dinâmicas da


comunidade e a vivência com os usuários do serviço de saúde ligado a Unidade de Saúde da

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Família (USF) oportunizam que o profissional de saúde possa perceber o contexto, reconhecer
os aspectos culturais, religiosos, a dinâmica local, dificuldades e os problemas sociais ali
presentes, as potencialidades, as redes de apoio e a rotina daquele espaço.
A aproximação do usuário em seus espaços de circulação facilita a construção do
vínculo, conforme o usuário vai participando e criando confiança na equipe e serviço, torna-se
mais fácil acessar questões acerca da sua saúde e da região. Essa aproximação possibilita
também a ampliação da referência do serviço para a população, aumentando o acesso às ofertas
da USF. Entende-se que o trabalho é produzido em ato, a partir das relações que se estabelecem
nos encontros entre os sujeitos, centrado no uso das tecnologias leves, devendo ser hegemônico
na atenção básica para que haja produção de vínculo, acolhimento às reais necessidades de
saúde do território e integralidade do cuidado (MERHY, 2007).
O exercício profissional nesse espaço, através do NASF, possibilitou constantes
construções junto com outros profissionais, o que culminou na ampliação da percepção acerca
da interprofissionalidade. Assim, pode-se afirmar que a proposta do NASF é dar apoio e atuar
em conjunto com a saúde da família, algo que, na prática profissional, coloca em xeque e desafia
o saber posto em diversas situações, instigando a busca por mais informações.
Girardi e Seixas (2002, p.37), ao falarem sobre o modo de funcionamento do sistema de
saúde, reforçam a importância do trabalho interprofissional e colaborativo:

(...)a universalidade e eqüidade de acesso, maior eficiência econômica, uso pleno das
potencialidades e competências dos recursos humanos, maior cooperação entre as
profissões, capacidade para promover e ajustar-se às inovações tecnológicas,
desenvolver novas modalidades de tratamento e ampliar o escopo de alternativas
terapêuticas para os usuários (GIRARDI E SEIXAS, 2002, p.37).

Nessa linha de raciocínio, espera-se que os profissionais atuem em uma perspectiva


colaborativa, compreendendo as limitações da sua capacidade de intervir sozinho na
complexidade da vida, sem perder de vista a ética profissional e, assim, garantir um cuidado

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qualificado nos serviços de saúde.
No que se refere à atuação do psicólogo, observou-se que, no início das atividades da
residência, a articulação com as outras categorias profissionais representou um desafio, o que,
por vezes, poderia levar a ações focadas dentro do núcleo profissional, não aproximando da
integração com as outras profissões, houve também uma dificuldade para pensar em atividades
para além da clínica. Tal lacuna evidenciou-se na realização de visitas domiciliares com as
outras categorias do NASF, da equipe mínima e no atendimento compartilhado ou conjunto,
mostrando a necessidade de desenvolver uma prática interprofissional.
Com base na observação desses desafios iniciais, é possível afirmar que os profissionais
que são tradicionalmente formados, ao atuarem nas políticas públicas de saúde, são expostos a
uma prática interprofissional que busca uma interação entre diversas áreas do conhecimento,
como um caminho para dar conta das necessidades, no qual o usuário é o foco de trabalho dos
profissionais.
Nesse sentido, é preciso compreender a noção de campo, de acordo com a qual as
disciplinas e profissões buscam apoio em diversos saberes, num espaço de limites imprecisos,
para dar soluções às situações, e de núcleo de atuação específica, em que uma prática e saber
profissional são demarcados por uma identidade. Tais conceitos permitiram abarcar as
perspectivas de profissionalização e de interprofissionalidade (CAMPOS, 2000; ELLERY;
PONTES; LOIOLA, 2013).
Durante atuação no NASF, os profissionais com seus conhecimentos de núcleo e no
campo da saúde da família, aprendem sobre o trabalho desse núcleo, como desenvolver ações
coletivas, compartilhar saberes, compartilhar práticas de cuidado, articular o cuidado entre os
membros da equipe e com outros setores como o Centro de Referência de Assistência Social
(CREAS), CAPS, entre outros. Diante disso, a proposta do NASF possibilita três significativas
iniciativas: a clínica ampliada, o apoio matricial e o Projeto Terapêutico Singular (PTS)
(BRASIL, 2009, 2014).

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De acordo com as Diretrizes do NASF, na clínica ampliada não é mais possível que os
profissionais atuem apenas em consultas individualizadas, delineado no contexto subjetivo do
indivíduo em sofrimento, mas é preciso também desenvolver o trabalho na rede subjetiva que
o envolve (BRASIL, 2009).
No acompanhamento do usuário, é possível verificar motivações do adoecimento,
fatores subjetivos, o que possibilita fazê-lo compreender o processo de adoecer, respeitando a
sua autonomia e se responsabilizando pelo seu cuidado em saúde. Observa-se, assim, que os
profissionais buscam os saberes das outras profissões e outras estratégias de cuidado, como as
Práticas Integrativas e Complementares (PICS) na perspectiva de desenvolver um modo de
atuação ampliado em saúde, observando as condições de vida do usuário, ou seja, os
Determinantes Sociais da Saúde, que são fatores culturais, econômicos, étnicos/raciais,
comportamentais e psicológicos, que influenciam os processos de saúde-doença e suas
necessidades para assim buscar uma resolutividade (BRASIL, 2009, 2014).
Associado a essa perspectiva, percebe-se também que ocorre o apoio matricial,
possibilitando a troca de conhecimentos e práticas entre os vários profissionais, proporcionando
pactuar e estruturar intervenções, visando a parte técnico-pedagógica e assistencial. Nessa
direção, o PTS busca organizar o cuidado em saúde, articulando ações entre a equipe e o usuário
dentro das especificidades de cada situação (BRASIL, 2009; 2014).
Registre-se também que a visão da clínica ampliada, do apoio matricial e do PTS
colaboram com o trabalho interprofissional na saúde da família, sendo um processo dinâmico,
demandando que a equipe se capacite, sinta-se pertencente aquele grupo, interaja em um
trabalho conjunto, aprenda a atuação do outro profissional e planeje os cuidados de saúde de
forma compartilhada (PEDUZZI; AGRELI, 2018).
A visão de trabalho integrado de forma interprofissional se insere dentro do modelo que
o Sistema Único de Saúde (SUS) adota como referência, colocando o usuário e a sua
necessidade no foco da ação, buscando a integralidade. O profissional de saúde necessita fazer

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uma articulação intersetorialmente com uma rede de cuidado, em que o seu fazer está totalmente
focado na demanda de um usuário inserido e ligado ao seu território. A resolutividade das
situações demanda, portanto, a ligação de diversos saberes com o objetivo de cuidar da
coletividade, inserindo-se em uma prática de saúde coletiva (CAMPOS; GUARIDO, 2007).
Ao adentrar na atuação do psicólogo na saúde da família, há a necessidade desse
profissional ter abertura para a desconstrução do modelo clínico tradicional, pensando que esse
modelo dentro da psicologia corresponde a um formato de psicoterapias de longa duração
desconectado do contexto social da pessoa (BRITO, 2012).
O papel do psicólogo nesse campo é apoiar a construção do PTS dos usuários,
sobretudo, na dimensão da saúde mental; realizar atendimento individual e coletivo; colaborar
na construção e execução das atividades coletivas ofertadas pelas equipes; participar no
Programa Saúde na Escola; realizar apoio matricial a outros profissionais; atuar na perspectiva
da educação permanente em saúde; realizar atividades no território para contribuir na promoção
da saúde da população; contribuir no fortalecimento do controle social e apoiar as equipes na
organização do processo de trabalho e co-gestão do serviço com foco na ampliação do acesso
e integralidade do cuidado (OLIVEIRA et al, 2017; NEPOMUCENO; BRANDÃO, 2011).
Essas ações possibilitam que o saber da psicologia possa colaborar com os outros
profissionais, focando nas necessidades de saúde da pessoa. Para a realização deste trabalho,
conhecer a interação social da área na qual atua é uma estratégia importante para gerar um bom
diagnóstico, juntamente com a análise epidemiológica, tendo foco na intervenção e
considerando os saberes daquele local (CREPOP, 2019).
Diante do exposto, ratifica-se que todo o território de ação da saúde da família pode ser
a oportunidade para um ato clínico, transpondo os espaços institucionais, numa clínica praticada
em movimento, considerando o deslocamento pelo território do usuário e proporcionando
encontros com a possibilidade de buscar afetar e ser afetado, além da produção de
subjetividades. Isso se alinha às ações dos outros profissionais, interconectando os saberes e

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possibilitando a produção da saúde (ALEXANDRE; ROMAGNOLI, 2017).
A forma como o psicólogo age dentro do NASF deve ser ampliada. Seu conhecimento,
ao atuar junto com a equipe, deve compor o conjunto de saberes, com foco no usuário, não
deixando de considerar a especificidade da área profissional e suas contribuições específicas
(CELA; OLIVEIRA, 2015).

Método

Trata-se de um relato de experiência que utilizou a técnica da observação participante e,


como instrumento para o registro das percepções, o diário de campo. A residência em saúde da
família foi realizada na região metropolitana de Salvador, durante o ano de 2018 a 2020. Os
dados foram analisados qualitativamente a partir dos conteúdos obtidos pela técnica descrita e,
posteriormente, foi realizada a reflexão e discussão sobre a formação do profissional psicólogo
durante a residência multiprofissional em saúde da família.

Resultados e discussão

A inserção do psicólogo na saúde da família através da residência contribuiu para pensar


a psicologia para além da atuação enquanto núcleo profissional. A forma como a atenção básica
se estrutura e como suas ações são propostas junto com o NASF permite maior interação com
os outros profissionais, ampliando, consequentemente, as ações.
O NASF ao trabalhar com as demandas dos usuários exige toda uma articulação para
entender a situação e fazer o encaminhamento dentro do que é proposto, sem perder a qualidade
da assistência e o acolhimento ao usuário. Nesse sentido, as descobertas sobre como lidar com
diversas situações, a convivência com os colegas de trabalho e o suporte pedagógico da própria
formação da residência colaboraram para conhecer mais ferramentas, como o apoio matricial e
o PTS, contribuindo com o trabalho interprofissional e a ampliação da clínica.

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A articulação das ações com o foco no usuário proporciona uma estruturação do cuidado
em que diversos atores e serviços estão implicados, possibilitando que as ações sejam mais
acertadas, oportunizando pensar em diversas possibilidades e nuances, com a contribuição da
expertise de cada serviço.
Nesse aspecto, participar da reunião de rede com o Centro de Referência da Assistência
Social (CRAS), Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), o Consultório na Rua, o Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (Creas), entre outros serviços, permitiu
conhecer os diversos serviços, entendendo melhor suas responsabilidades na atenção aos
usuários. Tais experiências aprimoraram também a compreensão do quanto as redes se
articulam em produção, através das articulações entre usuários e trabalhadores na busca da
garantia da integralidade do cuidado, construindo ações conjuntas e realizando a construção de
parcerias entre os profissionais e usuários.
Para exemplificar essa ampliação de perspectiva, um exemplo de atividade que ficou
muito evidente nesse aspecto foi na ação de saúde denominada “baba da saúde”, que foi
coordenada por um profissional de educação física que contou com a participação do CAPS,
Consultório na Rua e apoio da comunidade. Nesse jogo de futebol com os usuários que faziam
uso abusivo de álcool, foi produzido junto com a equipe um espaço de lazer e diálogo sobre o
processo de cuidado à saúde, em uma perspectiva da redução de danos, que considera
multicausal a saúde dos usuários de drogas, em que o consumo de substância está relacionado
a uma série de questões. A partir disso, a abstinência deixa de ser o foco único do tratamento e
a droga não é mais o problema central. Nesse sentido, as ações de saúde têm como centro
produzir medidas para reduzir os danos consequentes do uso/abuso de droga, respeitando a
liberdade de escolha das substâncias utilizadas pelo indivíduo e o seu estilo de vida (MOREIRA
et al., 2019). Assim sendo, nessa ação, buscou-se respeitar as escolhas das pessoas e a sua
possibilidade de decidir sobre si, ampliando sua autonomia, procurando construir atos de
cuidado e autocuidado com o usuário, por meio da construção do vínculo, com o foco na

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minimização dos efeitos danosos do uso nocivo/abusivo de drogas (SILVEIRA, 2016).
Nas consultas compartilhadas, o psicólogo junto com os profissionais da equipe mínima,
colaborou no cuidado aos usuários, possibilitando o acompanhamento e a resolução das
situações de saúde, a partir da troca de aprendizados e proporcionando a abertura de horizontes
e de outras possibilidades de olhar.
Desse modo, vai-se percebendo que a saúde da família ofereceu outras perspectivas para
ampliar a ação profissional e desenvolver a atuação interprofissional, entendendo melhor o
papel de psicólogo junto a equipe do NASF, o fazer da clínica ampliada e o cuidado com a
saúde mental, oportunizando perceber o indivíduo em todo o seu âmbito.
Diante desse campo tão vasto, percebe-se que o exercício da interprofissionalidade
possibilitou planejar atividades junto a outros profissionais, independente de quem estará à
frente da atividade, em uma tentativa de contribuir com as especificidades dos saberes e
práticas. Desse modo, é muito rico perceber que é possível haver a contribuição do psicólogo
em qualquer atividade, apoiando as ações com os saberes dessa área e aprendendo junto com
os demais integrantes da equipe, sendo o matriciamento muito presente e enriquecedor para o
crescimento profissional e qualificação do cuidado.

Considerações finais

A trajetória durante a formação na residência, agregada ao suporte pedagógico e a


interação com os colegas das diversas áreas, fortaleceu e assegurou o crescimento enquanto
profissional, trazendo muitos aprendizados.
Isso possibilitou entender melhor sobre a atuação na saúde da família, a rede de atenção
à saúde, o aprendizado com outros profissionais, a aproximação do usuário no seu espaço e a
interação com a comunidade. Dessa maneira, propiciou um aprofundamento sobre a
compreensão do SUS e o seu funcionamento, bem como importância do acesso à assistência à

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saúde para toda a população.
Diante desse contexto, ao passar por toda formação, pôde-se refletir sobre todos esses
aprendizados e vivências, agregando isso à atuação enquanto psicólogo, qualificando a forma
como percebe-se a prática profissional, através de uma visão mais ampliada de clínica e prática
interprofissional.
Por fim, ressalta-se que para pensar no campo de atuação dentro do SUS e das políticas
públicas, enquanto prática profissional da psicologia na saúde da família, é necessária a
articulação com o espaço da coletividade, considerando a comunidade, a família, o usuário, os
aspectos contextuais e a alteridade.

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DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO PARA SERVIÇO DE SAÚDE: AÇÕES
INTERDISCIPLINARES ENTRE CIÊNCIAS DA SAÚDE E EXATAS

Marina Guedes Pinto1


Verônica Gomes dos Santos2
Daniel Ernany Lopes Figueredo3
Tamires Kiche Abreu4
Patrícia Pinto Braga5

Resumo: No atual contexto de pandemia da COVID-19, o uso de dispositivos tecnológicos que


possam favorecer a comunicação e processo de trabalho dos serviços de saúde torna-se
necessário. A APAE de Divinópolis possui como objetivo o atendimento multidisciplinar de
crianças e adolescentes com condições crônicas, contudo vive uma realidade de escassez de
recursos financeiros e técnicos. Buscando então contribuir com o processo de trabalho desta
instituição e favorecer a comunicação de profissionais com as famílias destas crianças e
adolescentes, foi proposta a criação de um aplicativo. Com a evolução das tecnologias em saúde
e a popularização dos aplicativos, juntamente com o desenvolvimento de soluções práticas para
as demandas que se apresentam no cenário atual, os aplicativos podem representar importante
instrumento de suporte nas tomadas de decisão, melhorando a coordenação dos cuidados,
aumentando a facilidade do atendimento sob demanda e favorecendo o acesso à informação. O
propósito do trabalho é o desenvolvimento de um aplicativo, a partir de articulação entre os
cursos de Enfermagem e Engenharia da Universidade Federal de São João del-Rei, para o
agendamento de consultas e comunicação entre equipe profissional e usuários de uma
instituição de saúde de atenção à pessoa com deficiência intelectual e múltipla da cidade de
Divinópolis – MG. Estudo metodológico de produção técnica, desenvolvido por estudantes dos
cursos de Enfermagem e Engenharia da Universidade Federal de São João del-Rei em parceria

1
Discente de Enfermagem, bolsista do programa de extensão “Continuidade do Cuidado às Crianças e
Adolescentes com Condições Crônicas e suas Famílias”, Universidade Federal de São João del-Rei, Divinópolis,
Brasil e [email protected]
2
Discente de Enfermagem, voluntária do programa de extensão “Continuidade do Cuidado às Crianças e
Adolescentes com Condições Crônicas e suas Famílias”, Universidade Federal de São João del-Rei, Divinópolis,
Brasil
3
Discente de Engenharia Mecatrônica, bolsista do projeto de extensão “EATECH UFSJ”, Universidade Federal
de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil
4
Discente de Engenharia Química, bolsista do projeto de extensão “EATECH UFSJ”, Universidade Federal de
São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil
5
Docente Pós Doutora em Enfermagem, coordenadora do programa de extensão “Continuidade do Cuidado às
Crianças e Adolescentes com Condições Crônicas e suas Famílias”, Universidade Federal de São João del-Rei,
Divinópolis, Brasil
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com profissionais da APAE de Divinópolis - MG, Brasil. Foram realizadas reuniões com a
coordenadora do programa de extensão, com a responsável técnica da instituição e equipe dos
discentes apoiadores, para os devidos questionamentos sobre análise dos requisitos, uso,
estimativa do número de pessoas atendidas pelo aplicativo para definir a demanda da
infraestrutura; importância, precisão e aceite da construção da tecnologia em saúde. O
Aplicativo está em fase de construção, os protótipos das telas foram elaborados no Figma e seu
desenvolvimento está sendo realizado na linguagem de programação Flutter. Na etapa de
prototipagem, onde as funcionalidades do software estão sendo definidas, as telas
disponibilizadas são: reuniões, agendamentos, marcações de consultas, informações sobre os
atendimentos e notícias sobre a APAE, assim como o layout e a interface dos usuários e dos
funcionários da instituição. Posteriormente, haverá uma capacitação com os profissionais da
instituição, onde esses realizarão uma avaliação da operacionalidade e da definição da
linguagem geral da tecnologia, sendo possíveis adequações no sistema do mesmo. A construção
do aplicativo Android tem permitido a experiência de articulação interdisciplinar, entre as
ciências da saúde e exatas, que favoreceu a apresentação de soluções práticas, viáveis e
oportunas para a APAE de Divinópolis. Espera-se que a tecnologia em saúde tenha boa
usabilidade e proporcione agilidade no trabalho da instituição, bem como facilite o acesso da
população usuária ao agendamento de consultas e no gerenciamento de atendimentos na
instituição.

Palavras-chave: Acesso a Tecnologias em Saúde; Assistência à Saúde; Ciência, Tecnologia e


Sociedade; Engenharias e Tecnologia; Software de Aplicativos.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
No atual cenário de pandemia da COVID-19, as Tecnologias da Informação e
Comunicação, direcionadas à área da saúde, dispõem de diversas ferramentas que apoiam a
estruturação e a organização dos dados e informações, possibilitando o acesso à comunicação
e compartilhamento da mesma, seja pela equipe multiprofissional em saúde, bem como, pelo
próprio usuário e familiares (GUIMARÃES, GODOY, 2012; FILIPOVA, 2013; MATSUDA
et al., 2015; BARRA et al., 2016; ROBERTS et al., 2017).
Essas tecnologias possibilitam a divulgação, disseminação e atualização de
conhecimentos na área da saúde, podendo apoiar a tomada de decisão dos profissionais, e assim

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contribuir com o desenvolvimento de orientações e condutas terapêuticas destinadas aos
usuários (GUIMARÃES, GODOY, 2012; MATSUDA et al., 2015; BARRA et al., 2016).
Ressalta-se ainda que, o acesso às informações em tempos remotos, contribui para a
solução de necessidades em saúde, promovendo uma ampla cobertura da assistência à saúde
especializada (GUIMARÃES, GODOY, 2012). Neste contexto, destaca-se o fenômeno das
tecnologias móveis, especialmente a utilização de aplicativos móveis, que são conceituados
como um conjunto de instrumentos desenhados para realizar tarefas e trabalhos específicos
(BANOS et al., 2015).
Os aplicativos móveis visam o acesso da população à informação e ao conhecimento,
permitindo diversas formas de comunicação (CLAY, 2011; BOULOS et al., 2014; KEENGWE,
BHARGAVA, 2014). Tais características agregam valor estratégico para a sociedade na Era da
Informação (SACCOL, SCHLEMMER, BARBOSA, 2011).
Presentemente, é possível constatar uma proliferação das tecnologias e dos aplicativos
móveis que colaboram para a construção de uma nova modalidade de assistência em saúde, no
qual as informações referentes aos usuários se tornam oportunas e onipresentes (BANOS et al,
2015). Uma gama de estudos aponta que esses aplicativos e os dados gerados pelos mesmos,
podem ser utilizados para otimização dos resultados e redução dos agravos em saúde, e também
para compreensão dos fatores determinantes de promoção de saúde ou de adoecimento
(BSOUL, MINN, TAMIL, 2011; PERES, MARIN, 2012; GAGGIOLI et al., 2013; BANOS et
al., 2014; HABIB et al., 2014; MARCANO et al., 2015).
O desenvolvimento de aplicativos com propósitos terapêuticos é uma realidade que deve
ser explorada em toda a sua magnitude, tanto pelos usuários, quanto pela equipe profissional
em saúde. O uso adequado e apropriadamente orientado de informações sobre cuidados à saúde
funciona como uma importante estratégia terapêutica para o acompanhamento de quadros
patológicos e monitoramento de medidas de tratamento, permitindo maior segurança para o

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usuário, tendo como base a utilização de aplicativos com a orientação dos profissionais de saúde
(GEORGE, DECRISTOFORO, 2016).
É conveniente considerar que os smartphones permitem a utilização de uma série de
aplicativos, e o mercado disponibiliza os mais variados tipos, desde os que possuem a função
cultural e de entretenimento, até aqueles que buscam orientar usuários e profissionais de saúde
quanto à assistência e manutenção da saúde (HEFFERNAN et al., 2016).
Identificamos em nossos cotidianos, que com a evolução das tecnologias em saúde e a
popularização dos aplicativos, juntamente com o desenvolvimento de soluções práticas para as
demandas que se apresentam no cenário atual, os aplicativos podem representar importante
instrumento de suporte nas tomadas de decisão, melhorando a coordenação dos cuidados,
aumentando a facilidade do atendimento sob demanda e favorecendo o acesso à informação.
Neste contexto, o propósito deste trabalho é descrever o desenvolvimento de um
aplicativo, a partir de articulação entre os cursos de Enfermagem e Engenharia da Universidade
Federal de São João del-Rei, para o agendamento de consultas e comunicação entre equipe
profissional e usuários, de uma instituição de saúde de atenção à pessoa com deficiência
intelectual e múltipla da cidade de Divinópolis – MG.
Por ser um projeto interdisciplinar, novas descobertas de como as Tecnologias da
Informação e Comunicação, especialmente as relacionadas à demanda do cenário atual
mundial, foram descobertas ao longo do projeto. Assim, a aproximação realizada entre as
Ciências de Saúde e as Ciências Exatas, tornou-se singular, permitindo o desenvolvimento de
uma aplicação para área da saúde, que poderá gerar praticidade, melhora na comunicação entre
equipe e usuários e manejo das demandas da instituição.

Referencial teórico
O sistema operacional Android foi desenvolvido pela empresa Google, em parceria com
grandes empresas do mercado de mobilidade, como fabricantes de celulares e operadoras. Esse

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grupo tem como objetivos, criar uma plataforma única para dispositivos móveis e criar uma
plataforma moderna para o desenvolvimento de aplicações corporativas (LECHETA, 2009).
O resultado dessa união gerou o sistema operacional Android, no qual este projeto está
sendo desenvolvido. Sendo a grande vantagem desse, ser uma plataforma livre e de código
aberto e, por se tratar de software “open source”, o Android conta com contribuições de
desenvolvedores do mundo inteiro para seu código-fonte, seja para adicionarem novas
funcionalidades, ou até mesmo corrigir falhas encontradas (LECHETA, 2009).
Para o desenvolvimento do software de prototipação digital, utilizou-se a programação
Figma, e para o controle do banco de dados, que se encontra em um servidor, foi utilizado a
plataforma de desenvolvimento Astah Community, sistema de gerenciamento de bancos de
dados (CENTENARO, 2014).

Método
Trata-se de um estudo metodológico de produção técnica, desenvolvido por estudantes
dos cursos de Enfermagem, Engenharia Mecatrônica e Engenharia Química, da Universidade
Federal de São João del-Rei, em parceria com profissionais da Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais (APAE) de Divinópolis – MG, Brasil. A metodologia seguida para o
desenvolvimento do aplicativo compreende cinco etapas (Figura 1), segundo o paradigma da
prototipação, que está associado à uma filosofia de desenvolvimento centrada no usuário, e
caracteriza-se por altos níveis de envolvimento do usuário e interação (TRIPP,
BICHELMEYER, 1990).
Figura 1 – Fluxograma do processo de desenvolvimento do aplicativo móvel.

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ANÁLISE DE
REQUISITO E DESENVOLVIMENT
CONTEÚDO DO O DA INTERFACE
SOFTWARE

DESENVOLVIMENT
TESTE-PILOTO
O DO PROTÓTIPO

APERFEIÇOAMENT
O DE INTERFACE E
PROGRAMAÇÃO

Fonte: produção dos autores.

Na primeira etapa, denominada “análise de requisitos e conteúdo e estabelecimento


de objetivos do software”, foram realizadas reuniões com coordenadora do programa de
extensão, com a responsável técnica da instituição APAE e equipe dos discentes apoiadores,
para os devidos questionamentos sobre análise dos requisitos, uso, estimativa do número de
indivíduos atendidos pelo aplicativo, para definição da demanda da infraestrutura,
importância, precisão e aceite da construção da tecnologia em saúde. Esse processo permitiu
a definição das premissas de funcionalidades do software, por consenso entre usuários e
programadores (VIANNA et al., 2012). Ao final dessa etapa, as funcionalidades do software
foram definidas pela equipe, juntamente com a responsável técnica da APAE, e
documentadas no programa Astah Community 8.2 (Change Vision Inc., Chiyoda-ku,
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Tokyo).
Na segunda etapa, denominada “desenvolvimento da interface”, a mesma foi
desenvolvida, com base nos seguintes princípios: Apresentar o conteúdo de texto de modo
claro e natural; Dispor os elementos na tela, em tamanhos apropriados para uso do
touchscreen; Oferecer modelos de interação facilitadores, para serem melhor aceitos pelo
usuários; Oferecer ao usuário uma experiência interessante e inovadora com a interface.

Foi realizado o estudo e pré definição do layout com o software de prototipação digital
Figma, 88.1.0 Pro 7.0 (Figma Inc., San Francisco, CA) e iniciado o processo de
desenvolvimento do protótipo do aplicativo.

Na terceira etapa, denominada “desenvolvimento do protótipo”, o mesmo foi


desenvolvido para o sistema operacional Android (Google Inc., Mountain View, CA), e
utilizou a plataforma de desenvolvimento e linguagem de programação Flutter 2.2 (Google
Inc., Mountain View, CA). Gerando versões do aplicativo, que foram testadas quanto à
funcionalidade e aperfeiçoadas, após três rodadas de reuniões para ajustes e adequações, até
o desenvolvimento do protótipo (LECHETTA, 2009).

Na quarta fase, denominada “teste-piloto para avaliação da qualidade de uso do


protótipo”, relaciona-se com a capacidade e a facilidade dos usuários atingirem suas metas
com eficiência e satisfação. Nessa definição, estão inseridos os conceitos de usabilidade
(facilidade e eficiência de aprendizado, uso e satisfação do usuário), comunicabilidade
(qualidade da comunicação desenvolvedor- usuário, através da interface) e aplicabilidade
(utilidade em situações diversas) (PRATES, BARBOSA, 2003).

Os participantes do teste-piloto, funcionários da APAE, receberão o protótipo e, após


um breve treinamento, serão orientados a utilizá-lo ao longo de uma
semana, e a registrar a descrição de quaisquer problemas, que experienciarem com o uso do
protótipo em um diário de incidentes. Ao final do período de teste, o participante fará uma

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avaliação cooperativa com o pesquisador, de caráter qualitativo. Serão especificadas
algumas tarefas para o participante executar com o protótipo.

Simultaneamente, haverá uma interação entre os pesquisadores e participantes, com


perguntas e comentários acerca da experiência, das ações e dificuldades com o uso do
protótipo. Conteúdo que será registrado e, posteriormente, analisado para identificar os
problemas e propor soluções (BRANDÃO, 2006).

Na quinta e última etapa, denominada “refinamento do protótipo e construção do


produto final”, os problemas identificados no protótipo serão solucionados, e o produto final
será construído.

Resultados e discussão
O App “APAE - Divinópolis” proporcionará o estreitamento entre os usuários e
familiares, da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, e a equipe multiprofissional em
saúde (responsável técnica, enfermagem, medicina, terapia ocupacional, fisioterapia, assistente
social, entre outros) da instituição, com as funções de marcações de consultas, confirmação de
atendimentos, chat para comunicação direta com os profissionais e quadro de informações
gerais da instituição.
Ademais, o aplicativo será de fácil compreensão e didático, com suas funções auto
explicativas e aplicabilidade com clareza de compreensão. Também, pela facilidade de
necessitar de rede de internet apenas para o download em lojas de aplicativos, não precisando
da conexão com a internet para sua utilização. Assim, priorizando locais de vulnerabilidade,
que não possuem uma cobertura de internet veloz ou estável, e isso é importante considerando
que a maioria dos usuários da APAE podem ter um acesso limitado à internet.
Por fim, a ferramenta facilitará a educação continuada de profissionais de saúde da
instituição, no atual contexto de pandemia da COVID-19, pelo oferecimento de novas técnicas
de comunicação e informação em saúde no cenário presente.
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Para a construção do App “APAE - Divinópolis” foram elencadas características
importantes, quanto à necessidade das tecnologias em saúde nos tempos atuais, principalmente
pelo presente cenário, assegurando-as como uma ferramenta eficaz de intercomunicação em
saúde. Dessa forma, o dispositivo móvel oferece informação e interação por comunicação
eletrônica entre profissional e usuário, apresentando fácil navegação e linguagem acessível,
assim permitindo o entendimento de qualquer pessoa, sendo essa da área da saúde ou não.
Além disso, o fácil acesso ao aplicativo pode evitar que o paciente busque por
informações equivocadas em redes sociais ou em sites de busca na internet. Os dispositivos
móveis criam arquiteturas modulares que proporcionam agilidade na coleta e na transmissão de
dados, e a comunicação facilitada entre profissional e usuário (ALONSO, CANELO, 2017).
Portanto, há a possibilidade de obter informações e guardá-las de modo confiável e
seguro, disponíveis a qualquer tempo e lugar, com os dados dos usuários contidos em uma rede
protegida. Assim, a saúde móvel estimula novas perspectivas para a coleta de dados e
informações ambientais, biológicas e comportamentais, inclusive para intervenções
terapêuticas, exigindo o sistemático redesenho de arcabouços legais e éticos, capazes de
manejar as situações inéditas (ROCHA et al., 2016).

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Figura 2 – Etapa final de prototipagem do aplicativo móvel.

Fonte: produção dos autores.

Considerações finais

O desenvolvimento e o uso de aplicativos móveis estão cada vez mais acessíveis à


população, e podem contribuir com melhorias na realidade social em que é produzido, e assim

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provocar incremento na qualidade de vida da população, no contexto de pandemia da COVID-
19, entre outras possibilidades.
Foram apresentadas neste trabalho, as ferramentas que serão utilizadas e a descrição de
um projeto de aplicativo móvel, que tem o objetivo de promover melhoria na comunicação entre
a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais da cidade de Divinópolis – MG e as famílias
atendidas pela instituição. Como citado, o presente trabalho tem sido desenvolvido em caráter
interdisciplinar, no âmbito das Ciências da Saúde e Exatas, da Universidade Federal de São
João del-Rei, e acreditamos que a aplicação futura do aplicativo em questão, após teste e
distribuição, poderá contribuir com o processo de trabalho dos profissionais da APAE, e
facilitar a comunicação desses com os usuários.

Agradecimentos
Agradecemos a Pró Reitoria de Extensão, da Universidade Federal de São João del-Rei,
pela concessão de bolsas para realização desta atividade, e ao Grupo de Pesquisa
Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física (GIPEEF), vinculado à
Universidade Federal do Vale do São Francisco, pela oportunidade de participação.
Ademais, agradecemos a coordenadora do programa de extensão, Continuidade do
Cuidado às Crianças e Adolescentes com Condições Crônicas e suas Famílias, Prof.ª Dr.ª
Patrícia Pinto Braga, pelo envolvimento na realização desta tarefa, e o coordenador do projeto
de extensão EATECH UFSJ, Prof.º Dr. º Natã Goulart da Silva, pela parceria.

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CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE CRECHES PARA A PREVENÇÃO E
ATUAÇÃO EM ACIDENTES COM CRIANÇAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Alciene Pereira da Silva1


Rosana Castelo Branco de Santana2
Fernanda Carneiro Mussi3

Resumo: A alta incidência de acidentes em crianças e as repercussões para a qualidade de vida


e perfil de mortalidade remetem à importância de estratégias de prevenção e atuação correta
face a essas intercorrências. Para tal, iniciativas e ações de educação em saúde dirigidas à
capacitação de profissionais da educação são fundamentais. Este estudo objetivou relatar a
experiência na implementação de projeto de capacitação de profissionais de creches para a
prevenção e atuação em acidentes em crianças de até três anos. Estudo descritivo, tipo relato de
experiência. Realizado entre março e agosto de 2019, com parceria entre Secretarias de Saúde
e Educação, com treinamento de 64 profissionais docentes e administrativos de cinco creches
públicas, em quatro municípios do Sul da Bahia. Operacionalizado em quatro etapas:
Diagnóstico situacional - após a equipe de uma Unidade Saúde da Família (USF) presenciar e
atuar numa situação de engasgo de uma criança durante visita a uma creche foi realizada busca
de dados epidemiológicos e verificou-se elevada incidência de engasgos, ferimentos e fraturas
que acometeram crianças em algumas creches municipais da região sul da Bahia em 2017 e
2018. Foi, então, elaborada, apresentada e discutida uma proposta de intervenção na ocasião de
conferência municipal em 2018 e os gestores dos municípios com maiores incidências de
acidentes em creches decidiram apoiar o projeto, possibilitando dar prosseguimento às demais
etapas. Aproximação com as creches - através de contato telefônico foi verificada a
disponibilidade dos profissionais das creches para participarem da ação e realizado
agendamento. Planejamento das etapas do treinamento - foi identificada a equipe que
conduziria os treinamentos, com a participação de pelo menos, um (a) enfermeiro (a) da USF
que se articulava com cada creche. Foi planejado treinamento em três etapas para abordar
engasgo, fratura e ferimentos. Execução dos treinamentos e avaliação - foi realizado um
encontro em cada creche com duração de dez horas (manhã e tarde). Inicialmente era realizada
exposição teórica sobre as características infantis nas diferentes fases do crescimento e
desenvolvimento que poderiam contribuir para a ocorrência de acidentes. Em um segundo
momento, era feita roda de conversa para ouvir os profissionais, identificar dúvidas e o
conhecimento prévio. Nessas ocasiões, surgiram questionamentos acerca da atuação diante de
outros acidentes como convulsões, sendo incluídas essas demandas no treinamento. No terceiro
1
Mestre em Meio Ambiente, EXERCE, EEUFBA, Salvador, Brasil, [email protected]
2
Mestre em Enfermagem, CRESCER, EEUFBA, Salvador, Brasil
3
Doutora em Enfermagem, GISC, EEUFBA, Salvador, Brasil
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momento, realizava-se aula prática com auxílio de boneco manequim para demonstração de
manobras específicas. Ao final da atividade, buscava-se obter retorno do aprendizado com a
simulação de primeiros socorros em situações acidentais hipotéticas, realizada por alguns
participantes que se voluntariaram. Dessa maneira, na implementação do projeto, foi possível
articular setores da Saúde e Educação, na promoção à saúde das crianças, contribuindo para
beneficiar diretamente a sociedade no contexto da universalidade da saúde. Ressalta-se a
importância de ações de educação em saúde sobre acidentes na pediatria, de maneira contínua,
intersetorial, com metodologias ativas, problematizadoras e cuja efetividade seja avaliada para
embasar novas ações, no intuito de respeitar os saberes das populações e se necessário,
aprimorá-los para sua autonomia e emancipação.

Palavras-chave: Educação em Saúde; Primeiros Socorros; Prevenção; Acidentes; Saúde da


Criança.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
Os acidentes com crianças resultam em altos custos econômicos e sociais e provocam
efeitos emocionais para as vítimas e familiares devido ao impacto na saúde, qualidade de vida
e nos anos potenciais de vida perdidos.
Nos países da América existem lacunas importantes no que tange a relação da educação
infantil com as habilidades profissionais para atender emergências ou prevenir acidentes nas
crianças em ambiente escolar (WHO, 2020). A curiosidade e atividades físicas naturais das
crianças no seu ciclo de desenvolvimento as expõe a situações de risco que nem sempre são
perceptíveis para seus responsáveis, e na maioria das vezes em que os acidentes acontecem, os
professores não têm capacidade técnica adequada para realizar o primeiro atendimento em
situação extrema (CABRAL; OLIVEIRA, 2019).
O treinamento para atendimento ou prevenção de casos de acidente em espaço pré-
escolar tem como objetivo primordial abordar estratégias de primeiros socorros e condutas
seguras frente a agravos comuns em crianças em idade menor de três anos. Objetiva, também,

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a conscientização da importância de hábitos seguros levando ao mínimo os riscos de acidentes
(GUIMARÃES, 2011).
No Brasil, ainda existe uma elevada prevalência de acidentes com crianças no âmbito
escolar. Os acidentes ou lesões não intencionais representam a principal causa de morte de
crianças de 1 a 14 anos no país. No total, cerca de 4.700 crianças morrem e 125.000 são
hospitalizadas anualmente. O acidente mais frequente é a queda, seguido de ferimentos
perfurantes e engasgo. Neste sentido, há necessidade de ações junto aos profissionais de saúde,
crianças, famílias, comunidades e a sociedade em geral, no sentido de alertar para os riscos e
para a necessidade de adotar comportamentos seguros em relação aos ambientes em que os
infantes se desenvolvem. Para tanto, é preciso ampliar programas educacionais desde a pré-
escola e junto à comunidade (LIMA et al., 2021; BRASIL, 2017).
Nesse contexto, a Lei 13.722 (BRASIL, 2018) torna obrigatória a capacitação em
noções básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de
ensino públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil no
Brasil, ampliando as possibilidades da construção de conhecimentos sobre educação em saúde
e enfatizando o importante papel das escolas na promoção da saúde e prevenção de acidentes
entre crianças.
Dada a importância do cuidado integral para garantia do desenvolvimento das crianças,
é imprescindível a divulgação de informações e a qualificação do trabalho nas creches e escolas,
no contexto da educação em saúde, como instrumento de prevenção de agravos à saúde.
Sobretudo é urgente ampliar as relações intersetoriais da Atenção Básica com as escolas e,
assim, melhorar a qualidade da atenção prestada no Sistema Único de Saúde (SUS)
(MARTINS, 2006).
Lima et al. (2021) abordam que os conhecimentos sobre primeiros socorros entre os
profissionais de escolas ainda são insuficientes e que as práticas educativas são investimentos

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importantes na capacitação dos mesmos visando o atendimento correto e de qualidade à vítima,
até a chegada de atendimento especializado, quando necessário.
Ações de educação em saúde na atenção básica devem, em especial, interferir nos
modos de vida dos indivíduos, das famílias e comunidades, contribuindo para a melhoria das
condições gerais de saúde e cidadania para, dessa maneira, melhorar a vida de todos. Essa
articulação com base na integralidade, exigindo investimentos que se desdobram em ações,
deve envolver as mais diversas instituições sociais, governamentais ou não, em especial
creches, escolas, clubes, associações, entre outros (BRASIL, 2017).
No sentido de analisar a formação profissional dos cursos na área de saúde, Batista et
al. (2018) destacam que existem potencialidades, mas também fragilidades dos profissionais
no sentido de utilizar suas competências e habilidades acadêmicas como motor direcionador de
perfis específicos que não convergem com ações interprofissionais que sejam capazes de
atender às necessidades de saúde dos usuários com qualidade, eficiência e resolutividade.
A partir da visão interdisciplinar, se estabelece que as ações políticas devem ser
compartilhadas por todos os setores da sociedade, por meio da mobilização coletiva e do
compromisso social, prescrevendo que a sua concretização deve se realizar à luz da Declaração
Universal dos Direitos Humanos e dos Direitos da Criança introduzindo o valor intrínseco da
criança a necessidade de especial respeito a sua condição de pessoa em desenvolvimento, o
reconhecimento como sujeitos de direitos e sua prioridade absoluta nas políticas públicas
(WHO,2020).
Neste sentido, considerando a alta incidência de acidentes em crianças e as repercussões
para a qualidade de vida e o perfil de morbidade e mortalidade, este estudo teve como objetivo
relatar a experiência na implementação de um projeto de capacitação de profissionais de creches
para a prevenção e atuação em acidentes em crianças de até três anos. Salienta-se a importância
dessa capacitação para que os profissionais de creches reconheçam e implementem estratégias

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de prevenção de agravos em saúde, desenvolvam ações de educação em saúde e atuem de modo
correto na vigência de acidentes em prol da promoção e proteção da saúde infantil.

Método
Trata-se de um relato de experiência, com abordagem descritiva, sobre as práticas
educativas em emergências e urgências infantis desenvolvidas para a capacitação de
profissionais que trabalham no contexto de creches públicas municipais. O projeto foi
executado entre março e agosto de 2019, por meio de parceria entre as Secretarias de Saúde e
da Educação de quatro municípios do sul da Bahia (Canavieiras, Belmonte, Santa Luzia e Una)
em um total de cinco creches.
O projeto foi elaborado seguindo os critérios do Processo de Planejamento da Atenção
Básica (BRASIL, 2016) cujo delineamento seguiu os seguintes momentos: 1. Explicativo
(diagnóstico situacional), 2. Planejamento estratégico, 3. Operacional (implementação) e 4.
Avaliação final das atividades realizadas nas oficinas (SANTANA, 2008).
O diagnóstico situacional foi feito, inicialmente, a partir da visita técnica de enfermagem
a duas creches do território adstrito do bairro Sócrates Rezende I no município de Canavieiras.
O planejamento estratégico desenvolveu-se apoiado nos dados levantados na visita técnica e na
análise das falas dos profissionais que trabalhavam nas creches do município de Canavieiras,
em uma coleta exploratória, cujos dados foram usados para identificar as principais situações
problemas em emergências e urgências infantis vivenciadas no contexto do trabalho visando
embasar o planejamento. As ferramentas e os procedimentos consistiram em atividades de
educação em saúde, desenvolvidas por meio de oficinas, com estratégias que consistem em
discutir e refletir sobre as causas e consequências do acidente infantil, seguida de uma
abordagem teórica que sempre buscava integrar teoria com a prática. Outra estratégia que foi
usada foi utilizar o próprio ambiente da creche para realizar as atividades.

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As oficinas foram regidas pela Política Nacional de Atenção às Urgências e
Emergências (BRASIL, 2003), o Caderno de Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais
comuns na Atenção Básica (BRASIL,2012) e a Política de Saúde na Escola do Brasil (BRASIL,
2011). Essa política orienta ações de educação e saúde em cumprimento aos princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde Brasileiro Sistema (SUS). As diretrizes do Ministério da
Saúde no Protocolo de Atenção Básica em Saúde da Criança (2016a) e as diretrizes do
Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Pediatria (2011), também consistiram em
fundamentação teórica para a capacitação profissional.

Resultados e discussão
O projeto teve a abrangência de quatro municípios do Sul da Bahia e foram treinados
sessenta e quatro profissionais do total de cinco creches, sendo quatro creches públicas e uma
administrada por Organização Não Governamental. Entre os profissionais das creches que
participaram da capacitação, 34 (53%) eram docentes e 30 (47%) eram profissionais
administrativos.
Entre os 34 docentes, 31 eram do sexo feminino e os demais do sexo masculino. Dos 30
funcionários administrativos, uma secretária não participou e cada coordenador municipal de
saúde enviou uma enfermeira (o) para participar da capacitação. Entre os funcionários com
cargos administrativos, todos os porteiros eram do sexo masculino e todas as merendeiras e
diretoras eram do sexo feminino. Nas secretarias participaram quatro mulheres e um homem.
Oitenta por cento dos participantes eram casados e os demais solteiros e a faixa etária variava
entre 25 e 45 anos.
Buscou-se envolver o maior número possível de profissionais e que exerciam funções
diferentes no espaço da creche, uma vez que os acidentes podem ocorrer em diferentes
momentos e cenários, não apenas quando a criança está com o professor. Tal fato, justifica a
necessidade do ensino de primeiros socorros ser estendido a todos, a fim de contribuir para um

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ambiente mais seguro às crianças, o que está em consonância com a Lei Lucas (13.722/18), a
qual atesta que professores e funcionários dos estabelecimentos como escolas e creches de
recreação infantil sejam treinados em noções básicas de primeiros socorros (BRASIL, 2018a).
Segundo Dixe (2015), a implementação de medidas de suporte básico de vida pelo
cidadão/leigo com formação reduz a taxa de mortalidade e morbidade. Indivíduos que
receberam ressuscitação cardiorrespiratória (RCP) de um cidadão/leigo com formação tiveram
quatro vezes mais probabilidade de sobreviver, por 30 dias comparados àqueles a quem a RCP
não foi aplicada.
Entretanto, é pouco difundido no Brasil o ensino sobre primeiros socorros. Segundo
Pereira et al. (2015), apesar de relevante, prevalece o desconhecimento sobre o tema e o auxílio
às vítimas em situações de urgência ou emergência ocorre, em geral, com base no impulso da
solidariedade e sem treinamento adequado do socorrista, o que pode causar danos.
Inclusive, quanto ao ambiente educacional como creches e escolas, Conti e Zanatta
(2014) propõem que o curso de pedagogia e outros destinados à formação dos profissionais que
atuam com crianças deveriam incluir na grade curricular uma disciplina de primeiros socorros,
visto que a criança passa a maior parte do tempo na escola, sob a supervisão do educador. O
corpo docente representa a maioria dos profissionais da creche, contudo é importante que todos
os trabalhadores sejam alvo da capacitação para prestar com segurança os primeiros socorros.
Nesse contexto, as ações de educação em saúde recebem destaque, uma vez que ao se
ensinar como prevenir e atuar diante de acidentes, pressupõe-se o desenvolvimento de um
pensamento crítico e reflexivo, o qual permite analisar os fatores de riscos para acidentes
existentes no contexto de trabalho e propulsionar ações transformadoras que levem o indivíduo
à sua autonomia e emancipação como sujeito histórico social, capaz de deliberar sobre os
cuidados com sua saúde, de sua família e coletividade (MACHADO et al., 2007). Desse modo,
pode-se contribuir para a promoção da saúde da população.

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Sob essa ótica, foi pensada a operacionalização do projeto, de acordo com o Manual de
Planejamento do SUS (BRASIL, 2016), constituindo-se assim os quatro momentos descritos
na metodologia: Diagnóstico situacional; Aproximação com as creches; Planejamento dos
treinamentos; Execução dos treinamentos e avaliação, que serão detalhados, a seguir, com base
nos resultados obtidos.
No momento do diagnóstico ocupacional, primeiramente, uma equipe de Saúde da
Família (ESF) vivenciou uma situação de engasgo de uma criança durante visita a uma creche,
quando foi necessária à sua atuação no incidente, o que incluiu a realização da manobra de
desobstrução de vias aéreas por corpo estranho. Com a vivência dessa ocorrência, deu-se início
o primeiro momento do projeto: o Diagnóstico Situacional. O evento vivido gerou a necessidade
da busca de dados epidemiológicos sobre a notificação de acidentes ocorridos em creches e a
coleta exploratória de informações sobre acidentes em duas outras creches visando identificar
as principais situações problemas na perspectiva dos profissionais que lá trabalhavam. Assim,
verificou-se elevada incidência de acidentes, principalmente, engasgos, ferimentos e fraturas
que acometeram crianças em algumas creches municipais da região sul da Bahia nos anos de
2017 e 2018.
A partir do diagnóstico situacional, foi elaborada, apresentada e discutida uma proposta
de intervenção para prevenção de acidentes e intervenção em caso de ocorrência pelos
trabalhadores de escolas e creches, na ocasião da Conferência Municipal em 2018. Os gestores
dos municípios, com incidência mais elevada de acidentes em creches, decidiram apoiar o
projeto possibilitando dar prosseguimento aos demais momentos. Seguiu-se, então, com o
momento da Aproximação das creches, a qual ocorreu por contato telefônico, para explicar
sobre o projeto que já havia sido divulgado pela Secretaria de Educação, verificar a
disponibilidade dos profissionais participarem da ação e realizar os agendamentos.
Nesse momento, foi possível, mais uma vez, ouvir os gestores das creches e confirmar
a necessidade e interesse na capacitação, além de se verificar melhores datas para a

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implementação do projeto, a fim de contribuir para maior adesão dos profissionais. Ressalta-se
que é importante para o êxito das práticas de educação em saúde, a integração entre os
profissionais de saúde, os gestores e a população (FALKENBERG et al., 2014). Por isso,
buscou-se articular os gestores (Secretaria de Educação, Secretaria de Saúde, gestores das
creches) e profissionais (profissionais da ESF e profissionais das creches) desde o planejamento
até a execução do projeto.
Além disso, buscou-se trabalhar a intersetorialidade, integrando a Saúde e Educação,
conforme estabelecido pelo Programa Saúde na Escola (BRASIL, 2009) que reforça a relação
entre os setores de Educação e Saúde, através de articulação entre a Estratégia de Saúde da
Família (ESF) e a comunidade escolar, visto que esse é um ambiente privilegiado para a
construção social da saúde. Assim, o documento do Programa Saúde na Escola prevê diferentes
ações de educação em saúde na escola, considerando os sujeitos que estão nesse ambiente, a
fim de que sejam compreendidos e considerados pelas ESF nas estratégias de cuidado em saúde.
Partiu-se, então, para o momento do Planejamento da capacitação por meio do
mapeamento dos atores envolvidos e recursos disponíveis para análise da viabilidade da
operacionalização da capacitação e para traçar a estratégia metodológica a ser usada. Com base
nessas informações, foram traçadas três metodologias para abordar os tipos de acidentes de
maior incidência, conforme diagnosticado inicialmente: engasgo, fratura e ferimentos.
Contudo, discutiu-se, também, sobre convulsões a pedido dos profissionais, uma vez que duas
crianças tinham epilepsia e ocasionalmente, apresentavam convulsões durante a permanência
na creche.
Ainda no momento do Planejamento da capacitação foi identificada a equipe que a
conduziria, sendo coordenada por uma enfermeira e, em cada treinamento, houve a participação
de pelo menos, um (a) enfermeiro (a) da ESF que já tinha articulação com cada creche para
possibilitar maior confiança a partir do vínculo que já existia entre as profissionais.

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Sobre o vínculo, Queiroz e Jorge (2006) destacam que esse deve estabelecido não
somente para a prática do cuidar, mas também para o educar, a fim de que haja, antes de tudo,
a aproximação entre os sujeitos para que se conheçam e desenvolvam entre si confiança e
vínculo observáveis durante as interações que ocorrerem. Desse modo, deve-se combater as
práticas educativas mecanizadas e normatizadoras que, muitas vezes, são comuns e prejudicam
o alcance do objetivo da atividade educativa.
No quadro 1 pode ser observado o esquema utilizado para o planejamento dos
treinamentos (Quadro 1).

Quadro 1: Planejamento do treinamento Prevenção e Atuação em acidentes em crianças de até


três anos.

*CRECHE/MUNICÍPIO
Coloc *DATA

PÚBLICO Profissionais docentes e DURAÇÃO 10 horas


administrativos de creches

TEMA Prevenção e atuação em acidentes em crianças de até três anos

*RESPONSÁVEIS

*PARTICIPANTES

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Apreendendo conceitos
- Primeiros Socorros;
- Engasgo, Ferimentos e Fraturas. Convulsões – discutido em uma das creches).
Conhecendo o problema de estudo
- Características do crescimento e desenvolvimento das crianças e riscos de acidentes;
- Impacto dos acidentes para a criança de até três anos, a família e sociedade;
Desenvolvendo habilidades e tomando decisões
- Prevenção de acidentes no espaço da creche;
- Como agir diante dos acidentes discutidos.

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OBJETIVOS

- Refletir sobre a importância da prevenção de acidentes;


- Discutir sobre a necessidade do preparo para realizar os primeiros socorros em crianças;
- Apreender sobre os riscos para a ocorrência dos acidentes devido às características fisiológicas das crianças;
- Aprender a reconhecer e atuar diante de um engasgo, uma fratura e um ferimento em bebês e crianças e
diante de convulsões (convulsões foi abordado em uma creche);

METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE ENSINO

O treinamento será dividido em três etapas:


1. Exposição teórica das características infantis do crescimento e desenvolvimento que podem contribuir para
a ocorrência de acidentes e como prevenir acidentes no ambiente da creche;
2.Roda de conversa, identificação de dúvidas e o conhecimento prévio sobre acidentes em crianças;
3.Aula teórico-prática com auxílio de boneco manequim para demonstração de manobras específicas de
primeiros socorros, com esclarecimento de dúvidas.

RECURSOS MATERIAIS E DIDÁTICOS

- Notebook, projetor de multimídia/Datashow, cabo de conexão e extensão;


- Lousa, piloto, cavalete flip chart, papel ofício, caneta e computador;
- Boneco manequim e Kit de curativos.

PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Avaliação da aprendizagem da prática de primeiros socorros ocorreu por meio da análise da atuação dos
profissionais nas simulações de situações hipotéticas de engasgos, ferimentos e fraturas.
Fonte: Elaboração própria.4

Após o planejamento, foi possível seguir com o último momento: Execução dos
treinamentos e avaliação. Foi realizado um encontro em cada creche, com duração de dez horas
(manhã e tarde). Conforme pode ser visualizado no Quadro 1, inicialmente era realizada
exposição teórica sobre as características das fases do crescimento e desenvolvimento que
poderiam contribuir para a ocorrência de acidentes e como identificar riscos e prevenir a
ocorrência de acidentes no ambiente da creche. Em um segundo momento, era feita roda de

4
* Informações que eram inseridas semanalmente, a cada oficina realizada como controle organizativo e de
participação dos grupos.
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conversa para ouvir os profissionais, identificar dúvidas e o conhecimento prévio, a fim de
acolhê-los e considerar e valorizar o seu saber.
No terceiro momento, realizava-se aula teórico-prática com auxílio de boneco
manequim para demonstração de manobras específicas como Manobra de Heimlich, realização
de curativos e imobilização de membros fraturados.
Ao final da atividade, buscou-se obter retorno do aprendizado com a simulação de
primeiros socorros em situações acidentais hipotéticas, realizada por alguns participantes que
se voluntariaram. Para tanto, construímos três casos sobre cada um dos acidentes discutidos e
era possível analisar com o grupo a conduta de cada participante que simulou a realização dos
primeiros socorros na criança.
Diante da experiência da realização dos treinamentos, pôde-se confirmar o que afirmara
Moreira et al. (2007), de que a educação em saúde extrapola a orientação e informação para
hábitos de vida saudáveis, típica da prática higienista. Para além disso, sob uma ótica
libertadora, o profissional e o usuário - sendo o último representado pelos profissionais das
creches, neste caso - são agentes do processo educativo, cabendo ao profissional mediar o
desenvolvimento da autonomia e do empoderamento do usuário a partir de seu contexto. Por
isso, buscou-se ouvir e entender o conhecimento que traziam e estimular a discussão em
conjunto, sem sobrepor o conhecimento científico como superior aos saberes ali apresentados.
Dessa maneira, a elaboração e implementação do projeto permitiu articular os setores
da Saúde e Educação, na promoção à saúde das crianças, contribuindo para beneficiar
diretamente a sociedade no contexto da universalidade da saúde. Ademais, foi importante
experienciar a aproximação com os profissionais das creches e entender os saberes prévios de
cada um, discutindo o aprimoramento, quando necessário.
Além disso, foi possível entender melhor as limitações e dificuldades enfrentadas pelos
profissionais de creches durante o exercício da sua profissão, bem como ouvir e acolher os

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sentimentos vivenciados durante a ocorrência de acidentes anteriores, confirmando a
importância do desenvolvimento de projetos de educação em saúde como o aqui compartilhado.

Considerações finais
O planejamento e a implementação de um projeto de capacitação de profissionais de
creches para a prevenção e atuação em acidentes em crianças de até três anos, realizado no Sul
da Bahia, permitiu experienciar uma ação intersetorial em prol da promoção e proteção da saúde
infantil.
Diante da relevância que os acidentes representam na morbimortalidade infantil
brasileira, ressalta-se a importância de ações de educação em saúde sobre acidentes na pediatria,
a serem realizadas de maneira contínua, intersetorial, com metodologias ativas,
problematizadoras e cuja efetividade seja avaliada para embasar novas ações, no intuito de
respeitar os saberes das populações e, se necessário, aprimorá-los para sua autonomia e
emancipação.
Reconhece-se como limitação do estudo o fato de não ter havido continuidade das ações
e não ter sido realizada análise mais aprofundada da efetividade dos treinamentos para o
conhecimento dos profissionais que participaram do projeto implementado.
Por fim, destaca-se a importante contribuição do trabalho da (o) enfermeira (o) na
condução de atividades de educação em saúde e do valor dessas atividades para a qualidade de
vida dos indivíduos.

Referências

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Nacional de Atenção às Urgências e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 6 out. 2003.
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2003/prt1863_26_09_2003.html

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Especializada e Temática. Avaliação e conduta da epilepsia na atenção básica e na urgência e
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SANTANA, Ricardo Matos. Planejamento em Enfermagem: aplicação do Processo de


Enfermagem na prática administrativa / Ricardo Matos Santana, Ângela Tamiko Sato
Tahara. – Ilhéus: Editus, 2008. 111p. Acesso em 29 jul 2021.
http://books.scielo.org/id/vgr7y/pdf/santana-9788574555294.pdf

SPB. Sociedade de Pediatria Brasileira. São Paulo. Manual de atendimento às crianças e


adolescentes vítimas de violência / Núcleo de Estudos da Violência Doméstica contra a
Criança e o Adolescente. Coordenação: Renata Dejtiar Waksman, Mário Roberto
Hirschheimer. 172 p; 13,5 x 20,5 cm. Brasília: CFM, 2011. 172 p. Acesso em 26 jul 2021
https://www.spsp.org.br/downloads/Manual_Atendimento_Crian%C3%A7as_Adolescentes_
V%C3%ADtimas_Viol%C3%AAncia_2018.pdf

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ABORDAGEM POR COMPETÊNCIAS: UM OLHAR PARA A FORMAÇÃO DAS
EQUIPES DE CONSULTÓRIO NA RUA

Amanda Vargas Pereira1


Jaqueline Teresinha Ferreira2

Resumo: O conceito de competência e a reflexão sobre o seu sentido pedagógico tomam um


papel de destaque na formação de profissionais de saúde. É necessário compreender a noção de
competência enquanto ordenadora da relação trabalho-educação, a fim de discutir as
fragilidades e potencialidades de sua utilização no processo de trabalho no SUS. O interesse
pelo estudo partiu da experiência da pesquisadora, que esteve envolvida na condução do
processo de formação dos profissionais das equipes de Consultório na Rua (CNRA),
construindo experiências de mediação pedagógica dentro do grande tema do Cuidado Integral
do curso. O curso teve como objetivos qualificar equipes multiprofissionais, em especial os
profissionais que compõem as equipes dos CNRA, para a atenção integral às pessoas em
situação de rua, em consonância com as diretrizes técnicas e políticas propostas para essa
estratégia; contribuir para a articulação em rede entre o Sistema Único de Saúde e o Sistema
Único de Assistência Social, que propicie a ampliação e qualificação do acesso de pessoas em
situação de rua à atenção e cuidados necessários; formar “profissionais-multiplicadores” de
boas práticas na atenção integral a pessoas em situação de rua, em consonância com as diretrizes
técnicas e políticas supramencionadas. Portanto, este estudo objetiva discutir as propostas
pedagógicas das formações em saúde em seus cenários de prática. Esta pesquisa, com
abordagem qualitativa, utilizou a técnica de análise documental do material do curso de
formação de profissionais das equipes de CNRA. É importante se pensar sobre o tipo de
competência que (se espera que) os alunos tenham adquirido ao término do curso. As
competências deverão ser propostas a partir da apreciação das situações e das ações, das quais
derivarão conhecimentos. O sistema educacional não deve perder tempo com a transformação
de conhecimentos científicos em conhecimentos acadêmicos, pois sucederá no erro de não
questionar as reais finalidades do ambiente de aprendizagem, simplesmente retransmitindo
antigos conteúdos. Novas competências são fundamentais devido a mudanças nos processos de
trabalho, nas tecnologias, na vida cotidiana e até mesmo no pensamento. A partir dessa
concepção, os currículos devem ser orientados para se designar competências, a capacidade de
mobilizar diversos recursos cognitivos (saberes, capacidade, informações). Nesse sentido, as

1
Doutora, Professora do Departamento de Medicina Social da Fundação Técnico Educacional Souza Marques,
Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]
2
Doutora, Professora Adjunta do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil

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propostas pedagógicas das formações em saúde devem ser capazes de mediar a construção do
conhecimento dos trabalhadores, articulando com o reconhecimento das necessidades de saúde
do seu cenário de prática e construindo, dessa forma, os processos de aprendizagem. É
importante pensar novos fluxos no processo de formação em saúde, redesenhando-os a partir
de competências necessárias aos profissionais, tendo em vista uma formação que problematize
os saberes e as práticas a partir do desenvolvimento da capacidade de análise crítica. Assim,
viabilizando a construção de um sistema de saúde mais efetivo, humanizado e comprometido
com a vida de pessoas em situações de rua. Em meio às potencialidades da proposta pedagógica
do curso, sobressai a valorização do processo ensino-aprendizagem orientado a partir do
respeito às diferentes visões de mundo; produção daquilo que é viável e possível; avaliação da
realidade dada em interconexão com o ambiente de trabalho do CNRA.

Palavras-chave: Competências; Consultório na Rua; Cuidado; SUS; Aprendizagem.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução

Este capítulo tem por objetivo analisar as competências e dimensões do Cuidado


preconizado para o atendimento da População em situação de Rua no material didático de
qualificação profissional das equipes de consultório na rua, a partir do Curso de Atenção
Integral à Saúde da População em Situação de Rua, com ênfase nas equipes de Consultório na
Rua.
O interesse pelo estudo partiu da experiência da pesquisadora, que esteve envolvida na
condução do processo de formação dos profissionais das equipes, construindo experiências de
mediação pedagógica dentro do grande tema do Cuidado Integral do curso. A vantagem dessa
familiaridade é a melhor qualidade da observação e compreensão dos fenômenos, utilizando-se
da própria pesquisadora como instrumento confiável de observação, análise e interpretação dos
dados coletados (GODOY, 1995).
O curso teve como objetivos qualificar equipes multiprofissionais, em especial os
profissionais que compõem as equipes dos Consultórios na Rua (eCR), para a atenção integral

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às pessoas em situação de rua, em consonância com as diretrizes técnicas e políticas propostas
para essa estratégia; contribuir para a articulação em rede entre o Sistema Único de Saúde e o
Sistema Único de Assistência Social, que propicie a ampliação e qualificação do acesso de
pessoas em situação de rua à atenção e cuidados necessários; formar “profissionais-
multiplicadores” de boas práticas na atenção integral a pessoas em situação de rua, em
consonância com as diretrizes técnicas e políticas supramencionadas.
Por outro lado, é importante ressaltar que a construção dessa pesquisa foi atravessada
pelo que Velho (2009) classificou como desafio da proximidade, que se traduz pela necessidade
e, ao mesmo tempo, dificuldade de se investigar sistemas e redes de relações que permeiam a
cidade e os campos de trabalho. Além disso, o autor ainda elucida que a proximidade com os
universos de origem não é uma tarefa nada trivial e que pressupõe uma consciência da
dificuldade de desnaturalizar noções, impressões e categorias que constituem a visão de mundo.
Foi dessa forma que percebi que, desde a escolha do tema, havia iniciado um percurso
socioantropológico dentro da saúde coletiva, incorporando um olhar analítico da questão do
cuidado e como programas, legislações, manuais e materiais podem não significar aquilo que
objetivam. Ouso dizer que “familiaridade e proximidade física não são sinônimos de
conhecimento” (VELHO, 2009, p. 131), mas o estranhamento produzido ao que se está imerso,
sim.
Não assumir a construção do curso “Atenção Integral à Saúde de Pessoas em Situação
de Rua com ênfase nas Equipes de Consultório na Rua” como a resolução dos problemas dessas
pessoas classificadas pela sociedade como desviantes foi fundamental para relativizar os
conceitos e noções de cuidado que estavam sendo abordados. Esses aspectos encontram-se
presentes na construção, percurso e pesquisa das quais resulta esse capítulo.
Nesse sentido, além do desafio da produção da fonte, há o que Velho (2009) classifica
como a atividade do observador, caracterizada por um filtro interpretativo da realidade que
fundamenta o estudo no caráter relativamente objetivo, com viés ideológico e interpretativo,

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fato que ocorre em toda pesquisa qualitativa de cunho social, afastada do imperativo de se obter
necessariamente resultados neutros num campo de interpretação subjetiva.

Método
Esta pesquisa com abordagem qualitativa utilizou a técnica de análise documental do
material para a formação de profissionais das equipes de consultório na rua. Este material de
domínio público, sendo, assim, não houve a necessidade de encaminhá-lo ao comitê de ética.
Nesse contexto, as ciências sociais contribuem para o estudo da saúde coletiva ao
oferecer um método que se aprofunda no estudo de problemas complexos e pouco conhecidos.
O caráter analítico da pesquisa qualitativa proporcionou a possibilidade de compreensão das
teias de relações sociais e culturais que se estabelecem no interior da construção de processos
e cursos como o aqui estudado. Assim, a opção pelo método qualitativo se deu após a definição
do pressuposto a ser investigado: a noção de cuidado construída no processo de educação
permanente circunscrita ao curso, para profissionais do consultório na Rua; e do
estabelecimento de objetivos da pesquisa.
A análise documental ainda é pouco utilizada na pesquisa qualitativa, mas nem por isso
ela deixa de ser uma boa fonte de informações, que aliada a outras técnicas de coleta de forma
complementar, evidencia fatos novos (VÍCTORA et al., 2000).
É de destaque que a palavra escrita ocupa lugar importante no âmbito da pesquisa
qualitativa, principalmente no tocante à obtenção de dados e disseminação de resultados. Dessa
forma, todos os dados de realidade possíveis podem e devem ser mobilizados para a
compreensão do fenômeno estudado, o que significa que a presente tese não avaliou apenas os
materiais textuais produzidos para o curso e pelo curso, mas a inserção do ambiente e de pessoas
que produziram esse material textual. Isto é, analisaram-se para além de documentos, os
processos de produção dos mesmos.

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O material didático assume o papel de fio condutor de todo o processo, organizando o
desenvolvimento e a dinâmica do ensino-aprendizagem. Sua produção, especialmente
desenvolvida para cada curso e orientada pela ideia de ambiente de aprendizagem, possibilita
uma diversidade de elementos que contribuem para a construção do conhecimento e
desenvolvimento da autonomia do aluno.
Com tal objetivo, o curso busca estratégias de aprendizagem que desenvolvam as
dimensões social e intencional desse processo, sempre na perspectiva da articulação dos
diferentes contextos vivenciados pelo aluno e da reflexão sobre seu processo de trabalho,
visando ao movimento prática–teoria–prática. É, portanto, uma preocupação oferecer
metodologias que estimulem a busca de novos conhecimentos pelo aluno.
Nessa perspectiva, a ideia é que o material didático não precisa conter todos os
conteúdos e todas as possibilidades de aprofundamento da informação oferecida. Mais do que
ofertar todos os conteúdos, o material didático deve oferecer, em perspectiva interativa, aportes
teóricos e metodológicos que motivem o aluno à busca de conhecimentos e o estimulem à
construção de estratégias e ao desenvolvimento de competências profissionais. Tal orientação
redefine o papel do aluno e do tutor no espaço da mediação dos saberes no processo de ensino-
aprendizagem, uma dimensão que permite ao profissional estar em formação permanente.
Esse material analisado neste estudo é fruto do trabalho compartilhado de uma equipe
multidisciplinar formada por especialistas no tema do curso (autores e coordenadores),
assessores pedagógicos, revisores, designers e coordenação da Educação a Distância EAD. O
diferencial do material didático do curso de CnRa é que ele está estruturado na problematização
da prática de trabalho, a partir de textos disparadores, discussões, investigações, análise de
situações, tendo como potência a provocação de reflexões, ao mesmo tempo que
instrumentaliza o trabalhador para o dia a dia do seu processo de trabalho, revelando um campo
de práticas que se faz, de maneira simultânea, nas dimensões individuais e coletivas da saúde.

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O curso é dividido em três Unidades de Aprendizagem. Na primeira unidade de
aprendizagem (“Territórios e Redes”), a ideia é que o profissional realize uma aproximação
com o território e possa refletir um pouco mais sobre esse lugar vivo, considerando suas
particularidades e características, entendendo como a rede de cuidado está articulada, para,
assim, pensar sobre a melhor forma de inserir suas ações neste cenário, isto é, a rua.
A Unidade de Aprendizagem II (“Gestão do Processo de Trabalho”) trabalha questões
relativas à gestão do processo de trabalho e às peculiaridades da atuação com a população em
situação de rua, visando à potencialização das ações de cuidado junto a essas pessoas.
Na última Unidade (“Cuidado à Pessoa em Situação de Rua”), as miniequipes, formadas
ao longo do curso, elaboram um caso para o qual construíram um projeto terapêutico singular
a partir de onze tópicos de cuidado que foram trabalhados.

Caderno de Atividades como fonte de dados para pesquisa documental


Para a interpretação do documento, é essencial ter conhecimento da identidade, dos
motivos e interesses da escrita da pessoa que se expressou. Assim como é fundamental saber
como o documento chegou, como é sua conservação e como foi sua publicação. A leitura das
entrelinhas também deve ser considerada para evitar interpretações falsas (CELLARD, 2008).
O caderno de atividades foi construído para que o aluno tenha momentos de reflexão,
para dialogar com sua realidade profissional sobre questões relacionadas ao seu território de
atuação, assim como a gestão do seu processo de trabalho e cuidado oferecidos à população em
situação de rua.
Um aspecto relevante que deve ser considerado no Caderno de atividades é a escolha
dos autores que, em sua composição, são prioritariamente psicólogos e enfermeiros. A escolha
dessas categorias profissionais, na autoria do caderno de atividades, está diretamente ligada à
conformação do curso com a ênfase no cuidado e o histórico da origem na saúde mental,
conforme já mencionado anteriormente.

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Interfaces entre o Manual sobre o cuidado à saúde junto à população em situação de rua
do Ministério da Saúde e o Caderno do aluno

Este manual inaugura um novo marco na atenção à saúde da População em Situação de


Rua no Sistema Único de Saúde, pois se pretende ampliar o acesso e a qualidade da atenção
integral à saúde dessa população, sendo a atenção básica um espaço prioritário para o
fortalecimento no cuidado e na criação de vínculo na rede de atenção à saúde, possibilitando
sua inserção efetiva no SUS, tendo como porta de entrada prioritária na Atenção Básica as
equipes do Consultório na Rua. Sendo assim, considera-se importante traçar uma comparação
entre o referido Manual e o Caderno de Atividades do Curso.
O Ministério da Saúde, ao eleger como modelo a criação de uma política pública de
saúde para a população em situação de rua em convergência com as diretrizes da atenção básica
e a lógica da atenção psicossocial com sua proposição de trabalhar a redução de danos, assume
legitimamente a responsabilidade da promoção da equidade, garantindo o acesso dessa
população a outras possibilidades de atendimento no SUS, com a implantação dos Consultórios
na Rua.

Resultados e Discussão

Conforme amplamente discutido ao longo do referencial teórico construído como base


deste estudo, o cuidado deve ser humanizado, singular, qualificado e longitudinal (AYRES,
2004). Nesse contexto, complexidade é a palavra de ordem ao passo que a visão do sujeito,
como biopsicossocial, e a promoção da saúde nessas esferas devem permear tal lógica.
O “Manual sobre o Cuidado junto à População em Situação de Rua”, primeiro
documento oficial do Ministério da Saúde após a criação da Política Nacional para a População

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em Situação de Rua, preconiza a consideração dessa população como sujeitos biopsicossociais
ao afirmar que:
Quando a população em situação de rua percebe o cuidado para consigo, é que você
olha para a vida, e não só para a ferida, ela se deixa ver. A ferida ou a doença é mais
do que a dor de estar doente, é a dor de existir na situação que provoca essa dor e
sobreviver assim. Nossa capacitação técnica tem que ser acompanhada da nossa
capacidade de acolher sem tantos critérios para excluir! (BRASIL, 2012, p. 27).

Uma das considerações desse trabalho é que, o referido manual, baseado em práxis e
experiências, não traz o saber fazer sobre esse acolhimento, não discute questões como
estigmatização dessa população, tratamento do viver na rua como desvio, o que acaba por deixar
uma lacuna nos determinantes psicossociais da saúde e sua influência no processo de cuidado
dessa população.
Aqui se fazem necessários os parênteses de que a política de saúde não pode almejar
dar conta de questões tão grandes e integrais, como a população em situação de rua. É preciso
que se acene para outras políticas públicas, com ações concretas, para que esses sujeitos passem
a ser sujeitos de direito e não representantes do desvio e da estigmatização.
O tecnicismo biológico encontra-se na organização de um material que traz a lógica do
cuidado do corpo e suas prescrições para problemas nos pés, tuberculose, DST, HIV, AIDS,
gravidez, doenças crônicas, uso de álcool e outras drogas; e saúde bucal da população em
situação de rua.
Nesse contexto, uma questão permeou a análise documental, o fato que o curso
preconiza que o profissional da saúde deve lidar com a população em situação de rua sem
estigmatizá-la, mas não oferece discussão maior sobre essas questões socioculturais que levam
à essa estigmatização, concentrando-se nas patologias que acometem essa população.
Em comparação ao manual citado, o livro avança ao afirmar que a PSR tem questões
ligadas ao corpo, aos afetos, à mente, ao social como indissolúveis e inseparáveis. Mas não
seriam todos os seres constituídos, determinados ou forjados a partir dessa composição? Ao
mesmo tempo, dentro de uma proposta de equidade, torna-se necessário um projeto terapêutico
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singular que leve em conta as condições de vida dessa população. O que se apresenta como
diferencial, aqui, são os desafios para o trabalho de profissionais da saúde na construção de
projetos terapêuticos com menos institucionalidades e que envolvam caráter multidisciplinar.
Embora esse mesmo material aponte a noção territorial como algo novo, e deva ser
considerado numa análise que leve em conta os conceitos territoriais da Estratégia de Saúde da
Família e da Política Nacional de Atenção Básica (em todas suas versões), ele deve ser capaz
de apontar, como propõe Milton Santos, a incorporação do espaço geográfico aos determinantes
naturais e sociais da rua e de seus moradores, como suas interações são, ou deveriam ser, parte
natural do trabalho dos profissionais de saúde. Contudo, a questão da estigmatização faz com
que uma cortina de fumaça se crie e tal população seja “invisível”, necessitando de uma política
focal ou especial para que cumpram os princípios de universalidade, integralidade e equidade.
No referido material há pistas, mas não experiências concretas do trabalho na rua, ao
serem abordadas questões referentes ao respeito e à construção de modos de vida que “não
respondem ao imperativo dos padrões da sociedade, mas sim, àqueles que são construídos
localmente, a partir de condições de desejos e necessidades da vida” (BRASIL, 2012, p. 50).
Tal caminho, embora superficialmente abordado pelo material, já compõe um diferencial que
procura não estigmatizar ou classificar como desvio a vida na rua.

Abordagem por competências

Competência deriva do latim e se associa a competição – competentia, competére, que


pode ser desmembrada em petére = pedir e com = junto. “Pedir com”, portanto, indicaria uma
ação conjunta entre duas ou mais pessoas (MACEDO, 2000, p. 111).
O conceito de competência e a reflexão sobre o seu sentido pedagógico tomam um papel
de destaque na formação de profissionais de saúde. É necessário compreender a noção de
competência enquanto ordenadora da relação trabalho-educação, a fim de discutir as

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fragilidades e potencialidades de sua utilização no processo de trabalho no SUS, como veremos
a seguir.
É importante se pensar sobre o tipo de competência que (se espera que) os alunos tenham
adquirido ao término do curso. As competências deverão ser propostas a partir da apreciação
das situações e das ações, das quais derivarão conhecimentos. O sistema educacional não deve
perder tempo com a transformação de conhecimentos científicos em conhecimentos
acadêmicos, pois sucederá no erro de não questionar as reais finalidades do ambiente de
aprendizagem, simplesmente retransmitindo antigos conteúdos com novas aparências
(BOSCHETTI, 2014).
Perrenoud (2000) por sua vez, ressalta a importância de novas competências devido a
mudanças nos processos de trabalho, nas tecnologias, na vida cotidiana e até mesmo no
pensamento. A partir dessa concepção, os currículos devem ser orientados para se designar
competências, a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos (saberes, capacidade,
informações, etc.) para enfrentar e solucionar uma série de situações. Esse conceito usa como
alicerce quatro aspectos:
- as competências não são elas mesmas saberes, savoir-faire ou atitudes, mas
mobilizam, integram e orquestram tais recursos;
- essa mobilização só é pertinente em uma situação, sendo cada situação singular,
mesmo que se possa tratá-la em sintonia com outras, já encontradas;
- o exercício da competência passa por operações mentais complexas, subentendidas
por esquemas de pensamento que permitem determinar (mais ou menos consciente e
rapidamente) e realizar (de modo mais ou menos eficaz) uma ação relativamente
adaptada à situação;
- as competências profissionais constroem-se, em formação, mas também ao sabor da
navegação diária de um professor, de uma situação de trabalho à outra.
(PERRENOUD, 2000, p. 15).

Para Dias (2010), é possível encontrar distintos elementos das competências: saber-
saber, saber-fazer, saber-ser. Definir competência através de cada um desses componentes pode
ser perigoso, uma vez que os saberes fazem parte da competência, mas não se podem confundir
com ela; as competências são descritas como ações, mas não é o fato de descrever as ações que

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explicam ou que possibilitam a ação ou o êxito; as competências estão diretamente relacionadas
com o contexto, e o saber ser não tem implícito esse contexto.
Segundo Witt (2003), a ideia de competência é apreendida como a capacidade de
articular e mobilizar conhecimentos. Habilidades e atitudes que colocam o indivíduo em ação
para resolver problemas e enfrentar situações imprevisíveis em uma situação de trabalho e em
um determinado contexto cultural. Deverá levar seu todo e a cultura do local de trabalho onde
se dá a ação, consentindo, ainda, incorporar a ética e os valores como subsídios do desempenho
competente, agregando atributos ao desempenho. O profissional da educação, nesse contexto,
deve mobilizar um saber em ato, contextualizado e construído na interação do indivíduo com a
situação.
O saber que deve ser mobilizado nas situações de trabalho não é de ordem técnica nem
linear, mas transversal às especialidades técnicas. O profissional deve ter uma visão mais
integral do que o especialista, colocando em prática os pedaços emprestados a diferentes
especialidades e fazendo uma combinação desses fragmentos, como fruto de sua própria
experiência (WITT, 2003).
Dessa forma, as Unidades de aprendizagem levam o aluno a refletir sobre situações de
aprendizagens significativas, desafiando-os diante dos contextos reais da vida e do trabalho.
Competência supõe a ampliação de estratégias mentais, curiosidade, busca de
significado, processos de identificação, que nascem tanto da formação como da experiência
(PERRENOUD, 1999). Discussões acerca da formação profissional visando a mudanças no
paradigma curricular têm sido frequentes, principalmente com base nas mudanças do
paradigma curricular de um currículo organizado com base em saberes disciplinares para um
currículo com base na definição de competências (SILVA, 2003).
Outra perspectiva de Perrenoud (2000) é se pensar as competências a partir da
especialização dos professores contemporâneos em uma forma analítica e discursiva. O autor
propõe, então, um inventário das competências necessárias para delinear a docência. O

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referencial escolhido acentua as competências para o papel do tutor enquanto profissional capaz
de organizar situações de aprendizagem. Para esse fim, segue um quadro com as competências
propostas por Perrenoud em relação às competências de ensino.

Quadro 1: Competências de ensino segundo Perrenoud.


Competência: Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
Competências específicas Sugestões e indicações
Conhecer os conteúdos a serem ensinados e sua Relacionar os conteúdos com os objetivos e as situações de
tradução em objetivos de aprendizagem. aprendizagem. Dominar os conteúdos com suficiente fluência
para construí-los em situações abertas ou em tarefas complexas.
Os saberes e o saber-fazer são construídos em situações
múltiplas e complexas, cada uma delas dizendo respeito a
vários objetivos/disciplinas. Explorar acontecimentos e
interesses dos alunos para favorecer a apropriação ativa e a
transferência dos saberes
Trabalhar a partir das representações dos alunos. Uma boa pedagogia não ignora o que os alunos pensam e
sabem. É errado trabalhar a partir das representações dos alunos
para, a seguir, desvalorizá-las. Resta trabalhar a partir das
concepções dos alunos, dialogar com eles, fazer com que sejam
avaliadas para aproximá-las dos conhecimentos científicos a
serem ensinados.
Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à Aprender não é primeiramente memorizar, retocar informação,
aprendizagem. mas reestruturar o seu sistema de compreensão do mundo. A
didática das disciplinas interessa-se cada vez mais pelos erros e
tenta compreendê-los, antes de combatê-los.
Construir e planejar dispositivos e sequências Uma situação de aprendizagem insere-se num dispositivo e
didáticas. numa sequência didática na qual cada tarefa é uma etapa em
progressão. O dispositivo depende dos conteúdos, do nível dos
alunos e das opções do professor. A competência consiste na
busca de um amplo repertório de dispositivos e de sequências
de aprendizagem e na identificação do que eles/as mobilizam e
ensinam.
Envolver os alunos em atividades O mais importante permanece implícito porque uma sequência
de pesquisa e em projetos de conhecimento. didática só se desenvolve se os alunos a aceitarem e tiverem
realmente vontade de saber. A dinâmica de uma pesquisa é
sempre simultaneamente intelectual, emocional e relacional. A
competência passa pela arte de comunicar, seduzir, encorajar,
mobilizar, envolvendo-se como pessoa.
Competência: Administrar a progressão das aprendizagens
Competências específicas Sugestões e indicações
Conceber e administrar situações-problema Estudo de uma situação concreta, hipóteses. Necessidade de
ajustadas ao nível e às possibilidades dos alunos. usar instrumentos com vista à resolução. Oferecer resistência

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suficiente. A antecipação dos resultados precede a busca.
Debate científico dentro da classe.

Estabelecer laços com as teorias subjacentes às Saber escolher e modular as atividades de aprendizagem é uma
atividades de aprendizagem. competência essencial que supõe um bom conhecimento dos
mecanismos gerais do desenvolvimento e da aprendizagem,
não isoladamente, mas em cooperação com os colegas.
Competência: Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão
Competências específicas Sugestões e indicações
Lutar contra os preconceitos e as discriminações Não basta ser individualmente contra os preconceitos e as
sexuais, étnicas e sociais. discriminações, é necessário sê-lo, também, socialmente.
Competência: Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.
Competências específicas Sugestões e indicações
Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação Aprender exige tempo, esforços, emoções dolorosas, angústia
com o saber e desenvolver a capacidade de do fracasso, medo do julgamento de terceiros. O professor deve
autoavaliação. saber aplicar estratégias que intensifiquem o desejo de
aprender.
Competência: Trabalhar em equipe
Competências específicas Sugestões e indicações
Elaborar um projeto em equipe, representações Os professores devem saber trabalhar eficazmente em equipe,
comuns. assumindo os seus medos, perdas de autonomia, territórios a
proteger, fazendo a transição da pseudo-equipe para a
verdadeira equipe, discernindo os problemas que requerem
cooperação e criando o espírito de uma cultura de cooperação.
Fonte: 10 Novas competências para ensinar (PERRENOUD, 2000). Adaptado pela autora.

Em meio às potencialidades da proposta pedagógica do curso, sobressai a valorização


do processo ensino-aprendizagem orientado a partir do respeito às diferentes visões de mundo;
produção daquilo que é viável e possível; avaliação da realidade dada em interconexão com o
ambiente de trabalho do consultório na rua. Ou seja, esse método pedagógico leva os alunos a
refletirem sobre o processo de trabalho, abrindo possibilidades para aprender e transformar a
prática profissional.
Nesse sentido, as propostas pedagógicas das formações em saúde devem ser capazes de
mediar a construção do conhecimento dos trabalhadores, articulando com o reconhecimento
das necessidades de saúde do seu cenário de prática e construindo, dessa forma, os processos
de aprendizagem.

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É importante pensar novos fluxos no processo de formação em saúde, redesenhando-os
a partir de competências necessárias aos profissionais, tendo em vista uma formação que
problematize os saberes e as práticas a partir do desenvolvimento da capacidade de análise
crítica. Assim, viabilizando a construção de um sistema de saúde mais efetivo, humanizado e
comprometido com a vida de pessoas em situações de rua.

Considerações finais

O curso foi uma aposta política na necessidade da atenção integral às pessoas em


situação de rua. A qualidade da atenção em saúde diz respeito ao acesso e à integralidade do
cuidado prestado. O cuidado integral se expressa na articulação entre as diversas instâncias
responsáveis pela atenção, na organização dos processos de trabalho e na troca permanente de
saberes e práticas geradas e aprimoradas no cotidiano dos serviços.
Levando em consideração a população em situação de rua, a integralidade é
essencial pela complexidade e pelo grau de demanda acentuados dessa população. Não só por
isso, mas também por toda uma lógica de oferta de cuidado que provoque e responsabilize a
rede de equipamentos do território para que, de alguma forma, as demandas da população em
situação de rua sejam atendidas, além de criar possibilidades de formação de redes sociais que
tenham sustentabilidade e produzam, com isso, formas de produção da vida em território mais
efetivas com os anseios que essa população em situação de rua tem, para adequar problemas e
situações da melhor forma possível e aprimorar a sua qualidade de vida.
Tais questões colocam como base os conceitos de competência sobre os quais o aluno
aprende a identificar e descobrir conhecimentos, por meio da aprendizagem significativa, e, a
partir dessa aprendizagem, ampliar a capacidade de transformação das práticas.

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Referências

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Saúde, Educação, v. 8, n. 14, p. 73-92, set. 2003/fev. 2004.

BOSCHETTI, L. P. A pedagogia das competências: estudo de caso em um curso de tecnologia


da UTFPR. 2014. 122 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e
Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual para cuidado à saúde junto à população de rua.
Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa:


enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008. (Coleção Sociologia)

DIAS, I. S. Competências em Educação: conceito e significado pedagógico. Revista Semestral


da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 73-
78, jan./jun. 2010.

GODOY, A. S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de


Empresas, v. 35, n. 3, p. 20-29, maio/junho. 1995.

MACEDO, E. Formação de professores e diretrizes curriculares nacionais: para onde caminha


a Educação? Revista Teias, v. 1, n. 2, 2000.

PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar: convite à viagem. Tradução: Patrícia


Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 1999.

SILVA, M. R. Competências: a pedagogia do “novo ensino médio”. 2003. 304 f. Tese


(Doutorado em Educação: História, Política e Sociedade) – Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, São Paulo, 2003.

VELHO, G. Antropologia urbana: encontro de tradições e novas perspectivas. Sociologia,


Problemas e Práticas, v. 59, p.11-18, 2009.

VÍCTORA, C.G; KNAUTH, D; HASSEN, M.N. Pesquisa qualitativa em saúde. Porto


Alegre: Tomo Editorial, 2001.

WITT, R. R.; ALMEIDA, M. C. P. Competências dos profissionais de saúde no referencial das


funções essenciais de saúde pública: contribuição para a construção de Projetos Pedagógicos
na Enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, n. 4, p. 433-438, 2003.

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VIVÊNCIAS DE DILEMAS ÉTICOS POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM
EMERGÊNCIA AO COMUNICAR MÁS NOTÍCIAS DE PESSOAS ADOECIDAS AOS
FAMILIARES

Lorraine Alves de Souza Santos1


Marluce Alves Nunes Oliveira2
Elaine Guedes Fontoura3
Maryana Carneiro Queiroz Ferreira4
Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis5
Anna Carolina Oliveira Cohim Mercês6

Resumo: As más notícias comunicadas em unidade de emergência podem vir a ocasionar


sentimentos negativos e desmotivadores para a pessoa adoecida e familiares acompanhantes,
principalmente quando se associa como a impossibilidade de recuperação, de tratamento ou
“indicativo de morte”. Nesse contexto, podem emergir dilemas éticos, pois é preciso escolher
o momento para comunicar a má notícia, vez que nem sempre é a ideal. Porquanto, se faz
necessário que os profissionais de saúde tenham habilidade para comunicar as más notícias
observando a coerência, responsabilidade e a ética. Este estudo objetiva conhecer os dilemas
éticos vivenciados por profissionais de saúde ao comunicar más notícias aos familiares de
pessoas adoecidas em unidade de emergência e descrever medidas de ação dos profissionais de
saúde para prevenção de dilemas éticos ao comunicar más notícias aos familiares de pessoas
adoecidas em unidade emergência. Trata-se de pesquisa qualitativa, realizada com seis
profissionais emergencistas, de um hospital geral público, em Feira de Santana – BA. O projeto
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana
pelo Certificado de Apresentação de Apreciação Ética no 2865214.9.0000.0053. Os dados

1
Graduanda em Enfermagem, Bolsista em Iniciação Científica Fapesb, Integrante do Núcleo de Pesquisa e Estudos
em Saúde - Universidade Estadual de Feira de Santana – Feira de Santana – Bahia – Brasil. E-mail:
[email protected]
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde
– Universidade Estadual de Feira de Santana – Feira de Santana – Bahia – Brasil.
3
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde
– Universidade Estadual de Feira de Santana – Feira de Santana – Bahia – Brasil.
4
Graduanda em Enfermagem, Bolsista em Iniciação Científica Probic, Integrante do Núcleo Interdisciplinar de
Pesquisas e Estudos em Saúde – Universidade Estadual de Feira de Santana– Feira de Santana – Bahia – Brasil.
5
Mestranda em Enfermagem; Integrante do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde -
Universidade Estadual de Feira de Santana – Feira de Santana – Bahia – Brasil.
6
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem; Integrante do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde
– Universidade Estadual de Feira de Santana– Feira de Santana – Bahia – Brasil.
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foram coletados em fevereiro de 2021, por meio de entrevista semiestruturada e utilizada para
análise a proposta de Martins e Bicudo. Como resultados mostra que os profissionais de saúde
vivenciam dilemas éticos ao comunicar más notícias no que concerne informar o óbito, colher
informações dos familiares sobre as pessoas adoecidas e a falta de habilidade da equipe. Eles
utilizam como estratégia de enfrentamento o diálogo, respeitar o momento do familiar, fornecer
informações de forma clara e objetiva, sendo empático a todo o momento. Busca como
prevenção de dilemas éticos promover acolhimento, fornecer informações, agir com empatia,
respeitar o tempo do familiar para receber a notícia. O estudo também apontou a importância
da presença do serviço social e da psicologia, a fim de promover suporte emocional e prevenir
dilemas éticos. Conclui-se que os profissionais de saúde devem adotar protocolos, como o
SPIKES (S – Setting up, P – Perception, I – Invitation, K – Knowledge, E- Emotions, S –
Strategy), que consiste em uma ferramenta composta por seis etapas para transmitir más notícias
aos pacientes, ou qualquer outro que resulte numa preparação adequada à transmissão de más
notícias. Existe a necessidade de aprimorar a habilidade desses profissionais para comunicar as
más notícias as pessoas adoecidas e seus familiares. Assim, é salutar a educação continuada
com o proposto de capacita-los para comunicar as más notícias, a fim de proporcionar o
acolhimento aos pacientes e familiares, prevenindo complicações, por se tratar de um processo
doloroso físico-emocionalmente, para todos os envolvidos e prevenir os dilemas éticos.

Palavras-chave: Ética; Serviços Médicos de Emergência; Comunicação; Equipe de


Assistência ao Paciente; Relações Profissional-Família.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
As más notícias comunicadas na unidade de emergência podem vir a ocasionar
sentimentos negativos e desmotivadores para as pessoas adoecidas e familiares acompanhantes,
principalmente quando se associa como impossibilidade de recuperação, de tratamento ou
“indicativo de morte”. As más notícias podem ser definidas como a comunicação suscetíveis
de provocar sofrimento ou prejuízo de ordem emocional e psicológica (KRIEGER, 2017).
Para Koch, Rosa e Bedin (2017), a comunicação de más notícias pode estar relacionada
à evolução da patologia, proximidade com a terminalidade da vida, ineficácia da terapêutica,
sendo então dificultoso para o profissional de saúde, que partilha com o paciente e seu familiar
de toda a carga emocional circundante ao momento, bem como ao que é revelado.
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Decidir geralmente é uma tarefa complexa, principalmente no cenário hospitalar,
mesmo atendendo aos princípios éticos, ainda sim existem situações que interferem nesse
processo como: condição de saúde do paciente/familiar, relações interpessoais entre
profissionais, emoções e valores próprios de cada indivíduo, dentre outros.
De acordo Oliveira (2012) a tomada de decisão se subdivide em dois aspectos, os
individuais e os coletivos, por isso é necessário o estabelecimento de uma meta, objetivo ao
qual se pretende chegar e a escolha de alternativa para alcançar o fim almejado. Diante da
situação acabam por emergir os dilemas éticos, que acontecem quando a pessoa se encontra
diante de duas escolhas, mas nenhuma delas são ideais (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2016).
No contexto hospitalar, diante a tomada de decisão faz-se necessário comunicação
coerente que seja compreendida pelas pessoas envolvidas. Importante ressaltar que a
comunicação entre as pessoas envolve para além da fala, expressões faciais e corporais, que
muitas vezes são mais compreendidas do que as palavras proferidas. Nesse sentido, Calsavara,
Scorsolini-Comin e Corsi (2019) ressaltam que quando acontece interação entre pessoas, são
observadas e analisadas as mensagens transmitidas, de modo que cada um pode ter
entendimento diferente sobre o que foi falado e expressado. Portanto, a comunicação necessita
ser de forma clara, objetiva e esclarecedora.
Conforme Sombra Neto et al. (2017) os sentimentos que podem surgir no decorrer do
processo, como a preocupação com a pessoa adoecida ao saber a notícia; receio de ter
ocasionado sofrimento e dor para essa pessoa, culpabilização ao receber o diagnóstico; angústia,
dúvida sobre êxito no tratamento; e outras reações emocionais por conta da novidade
inesperada.
No âmbito hospitalar, entendemos que a unidade de emergência, é o local em que ocorre
com mais frequência a comunicação de más notícias. Para Motta, Mena e Piacsek (2017), a
emergência é o ambiente em que adentram pessoas adoecidas em situações críticas, complexas,
envolvendo risco iminente de morte ou lesão permanente, necessitando de diagnóstico e

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atendimento imediato, logo nas primeiras horas de identificação do quadro clínico.
Em unidade de emergência o cenário é extremamente delicado, no que corresponde
dialogar com a pessoa doente e seus familiares, tanto pelas circunstâncias no atendimento de
emergência, quanto à situação em que se encontra o sistema de saúde, levando em conta a falta
de leitos e como consequência a superlotação, dificultando a privacidade na realização do
cuidado realizado pelos profissionais de saúde, bem como comunicar más notícias.
Estudo realizado por Freiberger, Carvalho e Bonamigo (2019) apontou que os
profissionais de saúde aprendem comunicar más notícias durante a prática laboral, o que não
oferta garantia de comunicação efetiva ou implicações indesejáveis, sendo assim essa ação
decorre por tentativas, sem preparação ou capacitação prévia, sem contar que não assegura
evolução na habilidade profissional. Como forma de desenvolver o processo de comunicação
para más notícias, foi elaborado o protocolo SPIKES, acrônimo em inglês, proposto por
Buckman, em 1992, adotado internacionalmente, auxiliando na habilidade para comunicar a
má notícia (SOMBRA NETO et al. 2017).
Para entender o protocolo SPIKES, Cruz e Riera (2016) descrevem as fases como: S-
Setting up (Preparando-se para o encontro); P-Perception (observando o paciente); I-Invitation
(avaliação do que o paciente deseja saber); K-Knowledge (corresponde à notícia em si); E-
Emotions (emoções); S-Strategy and Summary (Estratégia e resumo de terapêutica).
A comunicação de más notícias pode ser realizada por outros profissionais além dos
médicos, conforme foi descrito em estudo realizado por Rocha, Melo, Costa e Anders (2016),
visto que qualquer profissional que trabalhe com pessoas em situação de adoecimento,
sofrimento e morte, necessita ter conhecimento não somente da causa, bem como sobre a forma
e momento de se comunicar.
De acordo Fontes, Menezes, Borgato e Luiz (2017) transmitir más notícias provoca
mudanças negativas, momentâneas ou drásticas na vida das pessoas envolvidas; carece
esclarecer que a conjuntura e conteúdo das más notícias abrangem além da proximidade de

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morte, complicações oncológicas e patologias graves.
A motivação para realizar este estudo deu-se por ser integrante do Núcleo
Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Saúde (NIPES), da Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS), bem como participar do Projeto de Pesquisa “Conflitos e dilemas éticos
vividos no cuidado da equipe de saúde no contexto hospitalar” (OLIVEIRA; FONTOURA,
2017), conforme Resolução do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE)
016/2018, da UEFS.
Diante dessa vivência emergiu a pergunta de investigação: Como os profissionais de
saúde vivenciam dilemas éticos ao comunicar más notícias aos familiares de pessoas adoecidas
em unidade de emergência?
Este estudo tem como objetivos conhecer os dilemas éticos vivenciados por
profissionais de saúde ao comunicar más notícias aos familiares de pessoas adoecidas em
unidade de emergência e descrever medidas de ação dos profissionais de saúde para prevenção
de dilemas éticos ao comunicar más notícias aos familiares de pessoas adoecidas em unidade
emergência.

Método
Trata-se de estudo qualitativo que tem como objeto dilemas ético de profissionais de
saúde ao comunicar más notícias de pessoas adoecidas aos familiares. O campo de estudo foi
em um Hospital estadual público, em Feira de Santana - Bahia - Brasil.
Participaram do estudo seis profissionais de saúde que estavam no momento da coleta
de dados em atividade laboral e com mais de seis meses atuando na instituição. Os critérios de
exclusão foram: estarem de férias ou licença de saúde no período da coleta de dados.
O primeiro contato foi com a coordenadora da Educação Permanente, a fim de
possibilitar o acesso aos profissionais de saúde. As informações foram coletadas por meio de
entrevista semiestruturada no mês de fevereiro de 2021.

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As entrevistas foram agendadas e efetuadas individualmente, em horários e locais
sugeridos pelos próprios participantes. No momento da entrevista, para que não houvesse
constrangimentos, foi assegurado aos participantes quanto à autonomia dos mesmos e
declaração de interesse em participar do estudo, por meio do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
O instrumento para realização da entrevista semiestruturada foi constituído de duas
partes. Na primeira, foram obtidas informações para caracterização do participante como:
idade; sexo; titulação; tempo de atuação na unidade; carga horária de trabalho (semanal); outros
vínculos empregatícios; outros setores de atuação. A segunda parte por perguntas abertas,
norteada por três questões: Fale-me sobre sua compreensão de dilemas éticos; Relate-me sobre
dilemas éticos vivenciados ao comunicar más notícias aos familiares de pessoas na emergência;
Como pode prevenir dilemas éticos ao comunicar más notícias aos familiares de pessoas
assistidas na unidade emergência?
Os depoimentos foram coletados por meio de gravação, tendo direito de escutar e retirar
ou acrescentar informações. As informações serão mantidas em absoluto sigilo, bem como a
identidade dos participantes. As entrevistas foram transcritas na íntegra e a confidencialidade e
o anonimato foram assegurados mediante uso de letras PS (profissional de saúde), seguidas da
ordem das entrevistas.
Para a concretização do processo de análise foi utilizada a técnica de análise do
fenômeno situado proposta por Martins e Bicudo (2005), realizada em dois momentos:
ideográfica como modo de revelar a síntese da estrutura das categorias empíricas e a análise
nomotética, que busca a compreensão dos conteúdos de significado expressos pelos
participantes (MARTINS; BICUDO, 2005). Os dados foram analisados observando os
princípios da éticos, morais e legislação.
A realização da análise de dados se deu por meio da leitura dos depoimentos, de forma
criteriosa, a fim de conhecer o seu significado; leitura das entrevistas de forma mais detalhada,

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identificando as unidades de significado também chamadas locuções de efeito, buscando o
conteúdo verbal relatado pelos participantes, aspectos que fossem significativos para
compreensão e análise das vivências; identificação e agrupamento dos aspectos que convergem
na pesquisa, identificando também os significados mais presentes nas falas de cada profissional
de saúde; em seguida realizamos o agrupamento das locuções de efeito em categorias;
apresentação das categorias em quadros para melhor visualização dos resultados (OLIVEIRA,
2012).
Por fim, a análise compreensiva desses agrupamentos, utilizando como base o
referencial teórico apresentado, a fim de buscar a estrutura do fenômeno as vivências de dilemas
éticos por profissionais de saúde ao comunicar más notícias de pessoas adoecidas aos
familiares.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Feira de
Santana, sob parecer n° 2.277.332 em 15/09/2017. Ela segue as recomendações do Conselho
Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE).

Resultados e discussão

Neste item faremos a caracterização dos participantes, em seguida a análise ideográfica


e a nomotética.
Os participantes da pesquisa foram seis (06) profissionais de saúde – 4 enfermeiros e 2
médicos, sendo 3 do sexo feminino e 3 do masculino. A idade dos participantes variou entre
trinta e um a quarenta e três anos; o tempo de atuação na emergência (Ortotrauma, Sala
vermelha e Estabilização) – destinada ao atendimento imediato de pessoas com risco de morte
– está em torno de seis meses a dez anos; jornada de trabalho de doze a quarenta e quatro horas
semanais. Cinco desses profissionais têm mais de um vínculo empregatício e apenas um atua
na instituição em que foi realizado o estudo. No que diz respeito à especialização, apenas três

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são especializados em Emergência e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e um tem
especialização em Nefrologia. Vale ressaltar que dois dos participantes não têm especialização.
As etapas diferentes de análise, descritas anteriormente, estabelecem relação de modo
que torna possível refletir acerca do fenômeno, pois ao desmembrar os relatos ocorre a
percepção das ideias comuns entre si, e, estas permitem analisar com maior profundidade em
relação à temática que esteja sendo estudada.
Na análise ideográfica faz-se necessário que haja a percepção da ideia central em cada
relato obtido na entrevista. Nesta etapa, o entrevistado desvela o conhecimento a respeito da
temática abordada, com isso é possível que o pesquisador identifique o fenômeno ao qual ele
tem buscado ou até mesmo outros conteúdos que poderão ser pertinentes ao estudo
(OLIVEIRA, 2012).

Análise Ideográfica

A partir da análise dos dados, foi possível identificar três categorias empíricas
relacionadas às vivências de dilemas éticos de profissionais de saúde em emergência ao
comunicar más notícias de pessoas adoecidas aos seus familiares: Como comunicar más
notícias a partir do olhar dos profissionais de saúde; Dilemas éticos vivenciados ao comunicar
más notícias aos familiares; e Prevenção de dilemas éticos ao comunicar más notícias aos
familiares.

Como comunicar más notícias a partir do olhar dos profissionais de saúde

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Nesta categoria, aborda sobre o olhar dos profissionais de saúde no que concerne à
comunicação de más notícias, destacando a ética/respeito e que existe o despreparo no
acolhimento da equipe de saúde como possíveis situações causadoras dos dilemas éticos.
Os relatos dos participantes evidenciam que a comunicação de má notícia tem relação
com a ética/ respeito, isto é, deve haver respeito tanto nas relações entre profissionais de saúde,
assim como postura profissional.
[...] acho que engloba tanta coisa que.... a gente acaba lembrando mais da
questão do respeito. Acho que quando se fala mais da questão ética, é mais
questão de respeito, tanto entre profissionais numa equipe multiprofissional
e principalmente na questão de profissional da saúde. (PS1) (grifo nosso)

PS1 associa o dilema ético ao respeito entre profissionais na equipe multiprofissional,


também ao comportamento durante a prática laboral.

E a gente às vezes é submetido a fazer algo que até não é do nosso querer
ou que não é da nossa [...] da nossa competência [...]. (PS2) (grifo nosso)

Outra situação relatada acerca de dilema ético, conforme PS2 está relacionada sobre
realizar atividades que não deseja e que não seja de competência do mesmo.
Os relatos de PS1 e PS6 evidenciam que profissionais de saúde não se preparam para
comunicar as más notícias.
Eu acho que uma das barreiras que a gente vê aqui, ainda é o acolhimento que
diz respeito ao serviço social, com a equipe da psicologia, por exemplo,
quando se fizer necessário, é... para poder amparar a família, preparar a
família para dar a notícia de um óbito de paciente jovem. (PS1) (grifo
nosso)

PS1 relata que a comunicação de más notícias deve ser feita pelo serviço social, caso
seja necessário solicita-se apoio junto ao serviço de psicologia para poder amparar a família.

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Assim, a instituição que a gente atua, ela não nos permite fazer esse tipo
de comunicação. É permitido ao médico e cabe ao médico fazer esse tipo
de comunicação. (PS6) (grifo nosso)

PS6 relata que a instituição em realizar a atividade laboral não permite realização de
comunicação de más notícias por outros profissionais, que não seja o médico. Em vista disso,
pontua como a obrigação exclusiva do médico.

Dilemas éticos vivenciados ao comunicar más notícias aos familiares

Esta categoria, apresenta os dilemas éticos vivenciados na transmissão de más notícias,


bem como a falta de habilidade dos profissionais diante desse processo.
A transmissão de más notícias é considerada delicada, ainda mais quando o paciente é
encaminhado à sala vermelha e vem falecer pouco tempo depois. Outra situação relatada é
revelar o diagnóstico de morte encefálica.

Como eu atuo na sala vermelha, uma das más notícias que a gente dá é a
notícia que... de óbito, né? Acontece muito. [...] paciente que adentra na sala
vermelha e em poucos minutos vem a óbito. (PS1) (grifo nosso)

PS1 aponta o óbito com situação que desencadeia a má notícia, situação recorrente com
os pacientes da sala vermelha.

Na verdade, é bem essa parte mesmo que a gente é... Principalmente em


relação aos pacientes de morte encefálica, por exemplo, que são coisas que
geralmente estão relacionadas a trauma, é evento bem agudo, então, que a
família não espera. (PS3) (grifo nosso)

Para PS3 difícil é quando o paciente é diagnosticado com morte encefálica, na maioria
das vezes precedida por trauma, a família não espera esse diagnóstico.

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E aí a gente passa lá no intuito de ter mais apoio, de ter mais suporte mesmo,
para que a família venha um pouquinho entender melhor... porque que é
uma notícia que é, é um quadro que é agudo, que é de difícil entendimento
mesmo. (PS3) (grifo nosso)

PS3 em outro momento relata que busca apoio para transmitir as informações, a fim de
que seja possível a compreensão da família. Reconhece a dificuldade de entendimento pelos
familiares quando é um caso agudo.

Acho que a gente tem formação na saúde em salvar vidas, em cuidar das
pessoas quando a gente tem a notícia de que não é tão boa para o familiar
ou para um paciente, é um momento que nos pega. (PS5) (grifo nosso)

PS5 desvela sobre a obrigação em cuidar das pessoas, salvar vidas e, ao deparar-se com
a transmissão de más notícias, é acometido por sensação ruim, por conta de todo o contexto
vivenciado.
Os profissionais de saúde no ambiente laboral vivenciam os dilemas éticos ao comunicar
as más notícias frente ao informar sobre o óbito, morte encefálica e trauma.

Prevenção de dilemas éticos ao comunicar más notícias aos familiares

Nesta categoria mostra as formas de prevenção de dilemas éticos ao comunicar más


notícias, sendo importante o acolhimento, o sigilo, apoio do psicólogo e assistente social,
demonstrar empatia e solidariedade no momento delicado vivenciado pelos familiares.

Eu acho que tudo é acolhimento, né?. [...] Quando você se coloca no lugar
do outro você vai saber passar para ele uma informação que não vai ser
agradável, mas que possa trazer a ele um conforto. (PS2) (grifo nosso)

PS2 mostra que é necessário acolher e colocar-se no lugar do outro. Dessa forma, ao
transmitir a informação desagradável será possível a promoção de conforto.

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[...] a gente sempre busca essa comunicação, fazer um acolhimento também
junto ao serviço social. (PS4) (grifo nosso)

PS4 relata sobre optar pela comunicação e realizar o acolhimento junto ao serviço social.
Oh a gente comunica certo? Porém a gente não comunica perto de várias
pessoas para quê é... a gente não quebre, né? [...] para que outros fiquem
ouvindo, e sabendo do que está acontecendo... (PS2) (grifo nosso)

PS2 desvela que realiza a comunicação, porém não na presença de outras pessoas, a fim
de que não haja quebra de sigilo.

[...] todas as informações que são relacionadas ao paciente devem


requerer apenas ele e a sua equipe que faz parte diretamente no seu....
Outras pessoas não seriam relacionadas a isso. (PS4) (grifo nosso)

PS4 apresenta pensamento semelhante revelando que as informações do paciente devem


ficar restritas à equipe de saúde.
O sigilo profissional é considerado, pelos participantes, como uma maneira de prevenir
dilemas éticos na comunicação de más notícias.

Análise Nomotética

Posteriormente a análise ideográfica, iniciamos a análise nomotética, que para Martins


e Bicudo (2005), é a etapa em que o pesquisador irá remeter as ideias do individual para o geral,
possibilitando a análise mais aprofundada das divergências e convergências identificadas
durante o primeiro momento da análise. Assim, ao realizar a análise nomotética faz-se
necessário compreender e articular os relatos convergentes e divergentes, que poderão estar
presentes nas categorias.
Os participantes PS1 e PS2 relatam que nos dilemas éticos existe o envolvimento de
questões éticas, respeito entre os profissionais da equipe e ocorrem ao realizar atribuições que
não são da competência do profissional.

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Os dilemas éticos emergem quando acontecem situações adversas na vivência dos
profissionais de saúde no âmbito da assistência hospitalar, visto que eles necessitam intervir
com procedimentos à pessoa enferma, ponderando a existência de benefícios ou decidindo até
que momento poderá continuar com tais intervenções, levando sempre em conta as
regulamentações éticas (PAIXÃO; OLIVEIRA; FONTOURA; FREITAS, 2019).
Os profissionais de saúde responsáveis em comunicar más notícias são o médico,
assistente social e psicólogo (PS1 e PS6). A transmissão de maus prognósticos, comumente,
acontece a partir do médico, considerando que esse profissional detém mais informações a
respeito do quadro clínico (CHEHUEN NETO et al., 2013). Já para Campos, Silva e Silva
(2019), o profissional de saúde é habilitado para tratar a doença, porém nem sempre consegue
lidar com o paciente.
Todavia, a assistência prestada tende a ser multidisciplinar, em que cada profissional
com suas especificidades, apresentam habilidades significativas para identificar quanto à
evolução do paciente (PEREIRA; FORTES; MENDES, 2013), e, se necessário, realizar a
comunicação de má notícia.
Comunicar maus prognósticos é um processo delicado para os profissionais de saúde,
propiciando impactos psicológicos a todos os envolvidos: profissionais, pacientes, familiares e
instituição de saúde (CALSAVARA; SCORSOLINI-COMIN; CORSI, 2019).
Os dilemas éticos mais frequentes na sala vermelha, vivenciados pelos profissionais de
saúde, acontecem na comunicação de óbito, principalmente quando se trata de morte encefálica
e os familiares têm esperança de recuperação do seu ente, e, ao receber a notícia desacreditam
por não compreenderem esse desfecho trágico (PS1 e PS3).
É fundamental que os profissionais tenham uma comunicação adequada para noticiar
aos familiares sobre o falecimento de seu ente, promovendo o conforto necessário, visto que é
um momento bastante difícil e demanda apoio emocional para essas pessoas (LACERDA; LOS;
PEDROSO, 2016).

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Na falta de habilidade em comunicar a má notícia, faz-se necessário buscar apoio e
suporte para melhor compreender a situação da família, vale ressaltar que o profissional da
saúde é formado para salvar vidas, quando é necessário comunicar má notícia sentem
dificuldade (PS3 e PS5). Observamos a falta de preparo dos profissionais de saúde para
comunicar as más notícias. Nesse sentido, o profissional de saúde precisa qualificar-se no que
concerne a melhor maneira de transmitir notícias, principalmente as que apresentam desfecho
negativo, também exercitar os conhecimentos apreendidos (SOUTO; SCHULZE, 2019).
Para prevenir dilemas éticos deve-se realizar acolhimento, solicitar apoio do assistente
social e colocar-se no lugar do outro (PS2 e PS4). É relevante que haja preparação emocional
previamente por parte do profissional e, que, na comunicação de más notícias ele tenha cuidado
com as palavras que serão proferidas e na maneira de se expressar, evitando possíveis conflitos
com os familiares a respeito da culpabilização pelo falecimento do paciente (LACERDA; LOS;
PEDROSO, 2016).
Importante que seja mantido o sigilo profissional, a fim de que outras pessoas não
tomem conhecimento da situação, pois só o paciente e a equipe que cuida devem ter acesso às
informações (PS2 e PS4). Os profissionais de saúde devem garantir o sigilo, restringindo a
situação do paciente somente à equipe que está presente na sua assistência (SILVA-JUNIOR;
ARAUJO; NASCIMENTO, 2017).
Diante dos achados percebemos o quanto é importante a ética profissional e a relação
interpessoal eficaz para prevenção das iatrogenias na unidade de emergência, assim como a
prevenção de dilemas éticos.

Considerações finais
Os profissionais de saúde vivenciam dilemas éticos ao comunicar más notícias aos
familiares, como forma de enfrentá-los procuram promover o acolhimento, fornecer
informações, demonstrar disposição aos questionamentos dos familiares, bem como agir com

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empatia, respeitar o tempo do familiar para receber a notícia ou até mesmo depois que a
informação é revelada.
Quanto à prevenção de dilemas éticos ao comunicar más notícias, o estudo apontou que
carece do sigilo profissional e que as informações relacionadas ao paciente dizem respeito a ele
e a equipe de saúde que realiza o cuidado.
O estudo teve limitações no que diz respeito a escassez de pesquisas com esta temática
e dificuldade em realizar as entrevistas, visto que é elevada a demanda e as atribuições dos
profissionais de saúde que atuam em unidade de emergência.
Existe a necessidade dos profissionais de saúde capacitar-se constantemente sobre a
importância de assistência acolhedora aos familiares ao comunicar más notícias, boa relação
interpessoal, respeito à dor do seu semelhante e a utilização de protocolos que norteiam a
humanização na comunicação de más notícias, a fim de prevenir dilemas éticos, vez que se trata
de um processo doloroso físico-emocionalmente para todos os envolvidos.
Recomendamos que outros estudos sejam realizados pela importância da temática para
os profissionais da área de saúde.

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE - CINPSUS
"Em busca da cidadania plena através da universalidade da saúde”
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PET-SAÚDE E APRENDIZADO DA COMPETÊNCIA COLABORATIVA: A
POTÊNCIA DA EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL NO SUS SERTANEJO

Thaysa Trajano Barreto1


Barbara Eleonora Bezerra Cabral2
Eledy da Silva França3
Gilvan Rodrigues da Cruz Júnior4
Leonardo Pereira de Souza Alves5
Seldon Almeida de Souza6

Resumo: O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde/PET-Saúde configura-se como


política pública indutora de transformações na formação em saúde, valorizando a integração
ensino-serviço-comunidade e a inserção nas Redes de Atenção no Sistema Único de
Saúde/SUS. A edição de 2019-2021 focou a interprofissionalidade, via Educação
Interprofissional/EIP, fundamentada na aprendizagem do trabalho colaborativo e produção
conjunta de conhecimentos e intervenções, integrando diferentes profissões. O percurso de
aprendizagem do trabalho colaborativo de um dos cinco grupos tutoriais/GT do projeto da
Universidade Federal do Vale do São Francisco/Univasf, o qual desenvolveu ações em Santa
Maria da Boa Vista, Pernambuco, por dois anos, é composto por discentes, docentes e
profissionais da saúde de diferentes cursos e profissões, construindo um processo coletivo e
horizontalizado, respaldado em encontros sistemáticos para estudo e delineamento de ações,
tendo como motes o Acolhimento (Ano 1) e Vigilância em Saúde (Ano 2). As atividades
aconteceram em quatro Unidades de Saúde da Família/USF, em imersões cartográficas voltadas
a conhecer demandas apresentadas pelas equipes. Experimentou-se um modo de produção
coletiva também na relação com as equipes, autenticando a potência do encontro, com
planejamento, execução e avaliação de atividades, como: rodas de conversa, dinâmicas

1
Discente de Graduação em Psicologia, integrante do Laboratório de Estudos e Práticas Transdisciplinares em
Saúde na Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina/PE, Brasil, [email protected].
2
Doutora em Psicologia, Laboratório de Estudos e Práticas Transdisciplinares em Saúde, Docente do Colegiado
de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina/PE, Brasil
3
Discente de Graduação em Medicina, voluntária PET-Saúde/Interprofissionalidade, Universidade Federal do
Vale do São Francisco, Petrolina/PE, Brasil
4
Discente de Graduação em Enfermagem, Laboratório de Estudos e Práticas Transdisciplinares em Saúde,
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina/PE, Brasil
5
Discente de Graduação em Medicina, bolsista PET-Saúde/Interprofissionalidade, Universidade Federal do Vale
do São Francisco, Petrolina/PE, Brasil
6
Doutor em Zootecnia, Laboratório de Estudos e Práticas Transdisciplinares em Saúde, Docente do Colegiado de
Medicina Veterinária da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina/PE, Brasil

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interativas, momentos formativos centrados na Educação Permanente em Saúde; planejamento
de ações na comunidade; discussão de casos e reflexão sobre o trabalho. Abordaram-se temas
específicos relativos à produção do cuidado, respeitando-se as demandas de cada
território/USF, como: acolhimento a usuário/a com hanseníase, violência contra mulher,
atenção a pessoa com deficiência, reconhecimento do território de atuação (territorialização).
O GT produziu materiais educativos com base nas temáticas selecionadas pelas equipes para
apoiar seu trabalho cotidiano, centrado nos/as usuários/as e comunidade: cartilhas, cards, mapa
territorial, vídeos. A pandemia de COVID-19 desafiou a continuidade das atividades no
segundo ano: o trabalho foi reinventado, utilizando do “remoto” para cuidar do vínculo
construído no Ano 1 – com as equipes de saúde e GT. Bate-papos virtuais ocorreram, para
ampliar compreensões sobre temáticas, como EIP, atenção à saúde de pessoas com deficiência
e outras racionalidades médicas (homeopatia). Sustentaram-se encontros online com as equipes.
O trabalho colaborativo, tomado como essência da interprofissionalidade, tornou-se mantra do
GT e cada atividade desdobrava-se a partir disto. Narrativas diversas produzidas pelos/as
integrantes da experiência ao longo do projeto, incluindo uma rodada final de avaliação online
ao final, apontaram que o que foi vivido e elaborado, pela prática e na relação com o exercício
teórico-reflexivo, viabilizou e potencializou, em cada um/a, competência para trabalhar
colaborativamente na perspectiva de melhor cuidar das demandas dos/as usuários/as, cujos
saberes precisam ser reconhecidos. Pisando nesse pedaço do sertão pernambucano, gestou-se a
compreensão genuína da importância das singularidades de suas gentes tão diversas, da
produção coletiva e da integralidade do cuidado em ato. Tal experiência multifacetada
fortaleceu a importância de espaços de interação, aspecto definidor da EIP, na formação
profissional em saúde, pela oportunidade de integrar prática-teoria e aposta de maior
competência para uma atuação ético-política em um país marcado por tantas desigualdades
sociais.

Palavras-chave: Formação Profissional em Saúde; Educação Interprofissional; Políticas


Públicas de Saúde; Saúde Coletiva; Educação em Saúde Pública.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde

Introdução
No Brasil, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde, o PET-Saúde, foi
instituído por meio de portaria interministerial, envolvendo os Ministérios da Saúde (MS) e da
Educação (MEC), com o objetivo de “viabilizar programas de aperfeiçoamento e especialização
em serviço dos profissionais da saúde, bem como de iniciação ao trabalho, estágios e vivências,

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dirigidos aos estudantes da área, de acordo com as necessidades do Sistema Único de Saúde –
SUS”, como indicado no parágrafo único do Art. 1º (BRASIL, 2008),
O PET-Saúde emerge da necessidade de formar profissionais em sintonia com
princípios e diretrizes do SUS, configurando-se como política pública indutora de
transformações na formação em saúde, promovendo a integração ensino-serviço-comunidade.
O horizonte é o fortalecimento da educação pelo trabalho em saúde, disponibilizando bolsas
para tutores (docentes das universidades), preceptores (profissionais dos serviços) e estudantes
de graduação da área da saúde. Desse modo, é uma das experimentações mais potentes na
direção de operacionalizar uma atribuição crucial disposta na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº
8.080/1990): a formação de trabalhadores/as para a saúde
Desdobrando-se da experiência do Programa de Educação Tutorial (PET), proposto pelo
Ministério da Educação (MEC), desde o primeiro edital, lançado em 2008, o PET-Saúde
estimula a formação de grupos de aprendizagem tutorial, que devem operar a partir das
temáticas específicas definidas. A ênfase inicial foi na atuação junto a equipes da Estratégia
Saúde da Família (ESF), que organiza a oferta de ações na Atenção Básica (AB) do país, tendo
sido inaugurada como Programa Saúde da Família em 1994 (SOUZA, 2014).
Como indicado por Feuerwerker e Capozzolo (2018), o investimento da AB precisa ser
sustentado como uma aposta fundamental do SUS, particularmente por sua potência na
produção de integralidade e universalidade, já que capilariza a atenção em saúde nos mais
diversos territórios do país, potencializando os encontros que neles se dão, sendo, assim, espaço
privilegiado da inovação das práticas.
Estas autoras destacam que a contraposição ao modelo médico hegemônico, de caráter
hospitalocêntrico e focado em procedimentos e saberes especializados, passa necessariamente
pela reflexão sobre a formação de profissionais de saúde. “Saúde tem a ver com o estoque de
recursos de que dispomos para levar a vida adiante da melhor maneira possível”
(FEUERWERKER; CAPAZZOLO, op. cit., p. 293), de modo que a sua produção envolve uma

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diversidade de elementos e arranjos, sendo fundamental pôr em análise os efeitos de encontros
entre trabalhadores/as de saúde e usuários/as, marcados por diferentes projetos e compreensões.
Como destaca Feuerwerker:
Os usuários têm um papel ativo nesse processo – tanto porque “estão no
comando de suas vidas” e fazem opções, escolhas, como porque são ativos
também em seu encontro com os trabalhadores de saúde. Usuários e
trabalhadores afetam e são afetados. Todos deixam marcas uns nos outros.
Todos tentam fazer valer suas ideias, projetos, necessidades (Feuerwerker,
2016, p. 40).

Refletir sobre os conceitos e as necessidades de saúde, tomando usuários/as como


protagonistas de processos de cuidado, e não meros objetos de intervenção, demanda
efetivamente redirecionamentos contundentes nos processos formativos, de forma a ampliar a
capacidade de ação diante da complexidade que apresenta nos territórios para profissionais de
saúde, em particular pelas injustiças e desigualdades que circunscrevem os modos de
organização do Brasil, com impactos significativos nos processos de saúde-doença (BARATA,
2009).
Cecílio (2009), ao discutir as necessidades de saúde como conceito estruturante na
organização do SUS, ressalta que universalidade, integralidade e equidade da atenção,
constituem “um conceito tríplice, entrelaçado, quase um signo, com forte poder de expressar
ou traduzir de forma muito viva o ideário da Reforma Sanitária brasileira” (p. 117). O SUS, que
brota no contexto dessa reforma do sistema de saúde, consiste em um projeto de justiça social,
comprometido com a redução de iniquidades. Desse modo, o autor enfatiza que “(...) a
cidadania, a saúde como direito de todos e a superação das injustiças resultantes da nossa
estrutura social estão implícitas no tríplice conceito-signo” (p. 117).
Esse tríplice conceito-signo implica, em dimensões micro e macropolíticas, uma
compreensão das singularidades envolvidas nos processos de saúde-doença, como guia para a
produção e ou utilização de tecnologias de saúde pertinentes – às pessoas apresentam
necessidades diferentes em diferentes momentos, que se conectam a condições de vida e

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indicam “(...) diferentes necessidades de construção de autonomia no modo de andar a vida”
(CECÍLIO, 2009, p. 129). A produção de cuidado, no âmbito do SUS, exige uma atenção a essa
infinita variabilidade das necessidades humanas, diante das quais possibilidades interventivas
e mesmo de compreensão são finitas.
Tal linha compreensiva posiciona imensos desafios para a formação de profissionais de
saúde, que precisam aprender algo mais além de técnicas e procedimentos. Como discutido por
Merhy (2002), a superação do modelo médico hegemônico liberal passa pela experimentação
de modos coletivos de gerenciamento das organizações de saúde, pelo compartilhamento de
processos de trabalho, assentados em uma centralidade de quem usa os serviços e, portanto,
sintonizados com a valorização dos vínculos entre trabalhadores/as e usuários. A teia de
produção de cuidado deve se conformar em sintonia com necessidades individuais e coletivas
dos atores envolvidos, em particular de quem busca os dispositivos em busca de fazer a vida
fluir.
A constante transformação da sociedade, em seus aspectos demográficos,
epidemiológicos, sociais e culturais, evidencia a fragilidade da oferta de atenção em saúde que
se caracteriza de modo fragmentado, uniprofissional e enrijecido. Em seu caráter de política
pública, o SUS precisa de profissionais capazes de uma leitura crítica da realidade brasileira,
que reconheçam a produção de iniquidades geradas pela organização social e os efeitos nos
indicadores de saúde, desnaturalizando olhar e produzindo intervenções em articulação com
aqueles de que se busca cuidar, pelo reconhecimento de suas perspectivas e condições de vida.
Assim, a dinâmica da realidade, em seu caráter multifacetado, requer inovações na formação
profissional em saúde na direção de produzir competência para uma atuação integral, em que o
trabalho colaborativo se marca como imprescindível (FREIRE, 2019).
A edição de 2019-2021 do PET-Saúde (BRASIL, 2018) focou a interprofissionalidade,
via Educação Interprofissional/EIP, fundamentada na aprendizagem do trabalho colaborativo e
produção conjunta de conhecimentos e intervenções, integrando diferentes profissões, em

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diferentes cenários do SUS. A EIP vem sendo considerada mundialmente como uma profícua
ferramenta para o aprimoramento da atenção em saúde e ocorre “quando estudantes de duas ou
mais profissões aprendem sobre os outros, com os outros e entre si para possibilitar a efetiva
colaboração e melhorar os resultados na saúde” (OMS, 2010, p. 10).
A partir da EIP é possível desenvolver a troca de conhecimento, produção de
conhecimento colaborativo, de modo a amplificar a colaboração e qualidade dos serviços de
atenção à saúde. Ela apresenta metodologias diversas orientadas ao desenvolvimento de
competências profissionais de comunicação, interação e colaboração profissional, capazes de
auxiliar no processo de reorientação da formação profissional em saúde, visando a superação
das variadas fragilidades presentes nos serviços (REEVES, 2016).
De acordo com a Rede Regional de Educação Interprofissional das Américas (REIP)7,
o PET-Saúde/Interprofissionalidade integra as atividades previstas no Plano Nacional para a
implementação da EIP no Brasil, nos anos 2018 e 2019, apresentado pelo MS, em conjunto
com MEC e Rede Brasileira de Educação e Trabalho Interprofissional em Saúde, à Organização
Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS). Constitui, portanto,
estratégia das mais promissoras, permitindo a integração entre universidades e serviços de
saúde com delineamento de ações fundamentais nos pressupostos da EIP.
A potência do PET-Saúde se revela, sobretudo, pelas possibilidades de efeitos
importantes na formação dos estudantes de diferentes categorias profissionais da área da saúde,
de docentes e dos profissionais de saúde, destacando-se, além disso, o compromisso de envolver
usuários/as dos serviços de saúde nas ações desenvolvidas. A EIP em composição com a lógica
da Educação Permanente em Saúde (EPS) potencializa esse circuito formativo. Ceccim (2005),
enfatiza que a EPS destaca o cotidiano do trabalho – ou da formação – em saúde como
analisador da produção de cuidado, engendrando processos formativos coletivos, voltados à

7
Informações disponíveis em https://www.educacioninterprofesional.org/pt/brasil-oficializa-o-inicio-das-
atividades-do-programa-pet-saudeinterprofissionalidade, acesso em 27/07/2021.
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reflexão e avaliação de sentido dos atos produzidos no cotidiano, possibilitando, assim,
reinvenção das práticas.
Tomar a EIP como uma ferramenta estratégica da edição do PET-Saúde pode ser
compreendido como uma aposta na construção de saídas para entraves na operacionalização do
tríplice conceito-signo do SUS (universalidade, equidade e integralidade), tal como apontado
por Cecílio (op. cit.), pela via do trabalho colaborativo, em que não apenas os saberes de quem
oferta tecnologias de saúde, mas também os saberes de quem usa o sistema, possam ser
incorporados, com igual magnitude.
O tríplice investimento formativo – discentes, docentes e profissionais – em torno de
ações fundamentadas nos pressupostos da EIP, em articulação com a EPS, turbina a
possibilidade de práticas colaborativas. No Brasil, o debate acerca do trabalho em equipe se
mostra presente desde o processo de construção do SUS, porém, a incorporação de referências
educacionais que possibilitem o desenvolvimento de competências para o trabalho em conjunto
ainda se caracteriza como escassa (PEDUZZI et al, 2016). Ceccim (2008) destaca que a
condição multiprofissional não está em negociação, mas sim “(...) os modos, meios, processos
e dinâmicas para sua efetivação” (p. 262) na composição de um trabalho em equipe.
O trabalho colaborativo torna-se um conceito-ferramenta nesse contexto, diante de um
desafio explícito: como formar em saúde tendo em vista a competência para tecer coletivamente
modos de produção de cuidado, envolvendo diferentes saberes, compreensões, práticas,
realidades, em uma teia em permanente urdidura?
Dentre os 120 projetos vinculados ao edital do PET-Saúde/Interprofissionalidade,
desenvolvidos de 2019 a 2021, estava o projeto da Universidade Federal do Vale do São
Francisco (Univasf), comprometendo-se com o desenvolvimento de ações no semiárido
nordestino, em parceria com seis municípios parceiros – Lagoa Grande, Petrolina e Santa Maria

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da Boa Vista, em Pernambuco, e Campo Formoso, Juazeiro e Senhor do Bonfim, na Bahia 8.
Foram constituídos, então, cinco grupos de aprendizagem tutorial, envolvendo os cursos de
Enfermagem, Farmácia, Medicina, Medicina Veterinária e Psicologia.
Por dois anos, os grupos tiveram uma autonomia na realização de ações voltadas a esses
objetivos, tendo como motes o tema do Acolhimento, no Ano 1, e o da Vigilância em Saúde,
no Ano 2. O foco definido, como fruto de uma demanda comum dos municípios, foi o
investimento na AB, por meio de dois processos e respectivos objetivos: 1. Instituição de
práticas coletivas/democráticas na gestão de processos de trabalho na APS, com os objetivos
de aprimorar os processos de trabalho na APS na direção da integralidade, da democratização
e do trabalho colaborativo e aprimorar o processo de comunicação entre os profissionais das
RAS e destes com os docentes e discentes da IES; 2. Ampliação e qualificação das práticas
pedagógicas dos cursos envolvidos no contexto do SUS, com os objetivos de fortalecer o SUS
como eixo transversal nos processos pedagógicos dos cursos envolvidos e implementar a Rede-
SUS-Escola nos municípios envolvidos.
Um dos grupos desenvolveu ações no município de Santa Maria da Boa Vista (GT-
SMBV), de cuja experiência vivida se forja este relato de experiência, que objetiva comunicar
o que foi vivido, pondo em análise o percurso de aprendizagem no contexto do trabalho
colaborativo engendrado no GT, entre os anos de 2019 e 2021.

Método
O GT-SMBV experimentou um processo de cogestão entre discentes, preceptoria e
tutoria, respaldado em encontros sistemáticos para sustentar a execução do projeto, no que tange
a pesquisas e estudos temáticos, definição de estratégias de diagnóstico local, planejamento e

8
Ao final do projeto, o município de Senhor do Bonfim-BA optou por se desligar, de modo que a finalização
ocorreu em cinco municípios.
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avaliação das ações, realizadas em imersões cartográficas no município, que fica a cerca de 100
km do campus-sede.
As atividades aconteceram em três Unidades de Saúde da Família/USF a cada ano,
havendo uma mudança de uma das USF no segundo ano. Assim, as experiências foram tecidas
em quatro USF, no total, sendo duas em zona rural e duas em zona urbana. No primeiro ano,
após um período inicial voltado à discussão de temas estratégicos, foram realizadas imersões
cartográficas sistemáticas para produzir relações com e nos territórios, comprometidas com o
reconhecimento da diversidade que integra o campo de intervenção e da produção de
subjetividade (PASSOS; BARROS, 2009). Por essa via, cada território ia sendo o conhecido,
valorizando-se os encontros com as equipes de saúde das USF (eqSF), em que as necessidades
relativas à produção do cuidado na AB se apresentavam e guiavam a proposição de ações.
Experimentou-se um modo de produção coletiva também na relação com as equipes,
autenticando a potência do encontro. Dentre as atividades realizadas, destacam-se: rodas de
conversa, dinâmicas interativas, momentos formativos centrados na EPS; planejamento
conjunto de ações na comunidade, visitas domiciliares e discussão de casos.
Nas imersões cartográficas que contemplavam oficinas, em geral os encontros se
configuraram da seguinte forma: uma atividade de fortalecimento de vínculo entre a equipe de
saúde, mediada por discentes petianos; uma abordagem dinâmica do tema de interesse, com
participação ativa dos/as presentes e um momento reflexivo para compartilhamento das
impressões sobre o encontro. A produção de vínculo com as eqSF e o estímulo a um
fortalecimento de seus próprios vínculos eram um horizonte permanente nos contextos das
intervenções, de modo que cuidado e escuta se tornavam temas transversais.
A definição de cada tema era norteada a partir de demandas das eqSF, tendo como pano
de fundo os objetivos do projeto. De um tema mais específico indicado pela equipe, foi possível
ampliar a discussão na relação com a produção do cuidado em saúde, no cotidiano de trabalho,
destacando-se a importância de estratégias de diálogo e cooperação mútua na equipe, além de

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organização dos processos de trabalho. Ao final, as reflexões eram fomentadas especialmente
pelo estímulo à narrativa de cada integrante sobre os efeitos percebidos do encontro. Dentre os
temas abordados, a partir de demandas específicas, destacam-se: acolhimento a usuário/a com
hanseníase; violência contra mulher; atenção à pessoa com deficiência; estratégias para
reconhecimento do território de atuação (territorialização); formação de grupos de educação em
saúde.
No segundo ano de atividades, o GT optou por tomar, como guia para aprofundar a
compreensão e aprendizado de competências colaborativas, a matriz de competência
estadunidense Interprofessional Education Collaborative Expert Panel (IPEC, 2016). Seus
princípios são cuidado centrado no paciente e orientado à comunidade, a serem experimentados
a partir de quatro domínios de competências: valores/ética para a prática interprofissional;
papéis e responsabilidade para a prática colaborativa; comunicação interprofissional e trabalho
em equipe interprofissional. Assim, cada ação desenvolvida passou a ser pensada a partir dessa
matriz, refletindo-se sobre as aprendizagens produzidas.
A passagem para o Ano 2 foi marcada pela pandemia de COVID-19. As medidas de
segurança, demandando o distanciamento social, reposicionaram a dinâmica do GT: as
imersões no território, avaliadas como potentes e instigantes, e as reuniões sistemáticas do GT
precisaram ser substituídas por encontros virtuais, em plataformas de videoconferência online.
Passado o susto com a instauração do estado pandêmico, a produção de rearranjos para levar o
projeto adiante também consistiu em um mote para engendrar processos de aprendizagem,
buscando-se engravidar o sentido de “encontro” nos cenários das salinhas virtuais. O GT já
vinha assumindo um processo de repensar sua dinâmica de trabalho do GT, saindo do formato
de mini equipe fixas por USF para equipes mais fluidas, montadas em torno de dois pontos:
planejamento dos encontros misto (virtuais e presenciais) com as eqSF e produção de material
educativo, para veiculação em redes sociais.

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O cuidado com os vínculos produzidos no GT e com as eqSF continuou sendo o
principal objeto de preocupação e intervenção. A partir disso, foram produzidas atividades
diversas, destacando-se encontros temáticos mensais (PET Bate-Papo Café online) e produção
de material educativo para disponibilização em redes sociais.

Resultados e discussão
As ações do GT basearam-se na premissa de incentivar o exercício de competências
colaborativas para melhor atender as demandas da comunidade. Por meio da valorização dos
encontros com as eqSF, tornou-se possível produzir ações que fortaleceram vínculos,
compartilhamento de saberes e produção coletiva.
As imersões cartográficas proporcionaram o encontro universidade-equipe-
comunidade, gestando-se acolhimento mútuo, escuta e debates, que instituíram um campo fértil
para reflexões e outras perspectivas na construção de cuidado naquele território, inclusive para
sustentação do projeto no Ano 2.
Os materiais educativos tomaram como referência temáticas selecionadas pelas eqSF
para apoiar sua desenvoltura no trabalho cotidiano, centrado nos/as usuários/as e comunidade:
cartilhas, cards, vídeos, com material informativo e educacional acessível para toda a
comunidade, abrangendo Doenças Negligenciadas na Saúde endêmicas no município, como
Hanseníase e Tuberculose, tendo sido os materiais distribuídos em redes sociais e grupos de
conversas instantâneas (WhatsApp).
Os temas definidos para a produção de duas cartilhas, disparados pelas discussões sobre
acolhimento, contornam bem desafios percebidos pelas equipes da AB: enfrentamento da
violência contra a mulher, atenção à pessoa com deficiência e formação de grupos de educação
em saúde, voltados a gestantes. A demanda de refletir sobre o território, em uma USF da zona
rural, disparou a demanda de atualização do mapa da região adscrita, feita em conjunto por
petianos e profissionais.

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Com a reinvenção do modo de condução das atividades no Ano 2, em função da
pandemia, o tema do cuidado aos efeitos na Saúde Mental ganhou destaque, tendo se acentuado
a atenção a possíveis situações de sofrimento no GT e nas eqSF. Os bate-papos virtuais
abrangeram temas como: atenção à saúde de pessoas com deficiência, interprofissionalidade e
outras racionalidades médicas (homeopatia).
Essa nova realidade está fazendo com que busquemos meios para trabalhar de
modo satisfatório com a eqSF e até mesmo entre a própria miniequipe.
Estamos aprendendo a como trabalhar em equipe de modo remoto e em como
cada um pode contribuir para chegarmos ao objetivo final, seja a construção
de artigos, confecção do mapa territorial etc. Nosso trabalho com a eqSF, de
acordo com o que pôde ser observado na última imersão, não se encontra tão
fragilizado como imaginávamos. Nosso vínculo ainda se mantém firme,
mesmo com a distância devido à pandemia. Nosso trabalho trouxe um
momento prazeroso de lazer tanto para eles quanto para nós que estávamos
longe, de certo modo. A partir do que foi coletado, vamos dar continuidade
com o nosso trabalho com o mapa para chegarmos ao seu estado final e
posterior entrega à unidade básica. (Fragmento narrativo em relatório mensal)

O trabalho colaborativo, tomado como fio condutor da interprofissionalidade, tornou-


se mantra do GT, de modo que cada atividade se desdobrava a partir disto. A participação dos
3 segmentos (docentes, preceptores e discentes) em todas as atividades possibilitou uma
construção horizontalizada e colaborativa, experimentando-se romper com a lógica hegemônica
de fragmentação na produção de cuidado e conhecimento em saúde.
Esse exercício democrático e colaborativo se materializou também na construção dos
relatórios mensais e anuais do projeto, intensificando estudos, reflexões e ampliando a
compreensão sobre competência colaborativa a partir de um exercício permanente no contexto
do projeto. As discussões durante a elaboração dos relatórios anuais, orquestradas pelo intuito
da produção coletiva, permitiram que todos/as os/as integrantes sintonizassem em torno do
sentido produzido a partir da experiência vivida, tendo em vista os objetivos iniciais do projeto.

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Narrativas diversas produzidas pelos/as integrantes da experiência ao longo do projeto,
incluindo uma rodada final de avaliação online ao final, apontaram que o que foi vivido e
elaborado, pela prática e na relação com o exercício teórico-reflexivo, viabilizou e
potencializou, em cada um/a competência para trabalhar colaborativamente na perspectiva de
melhor cuidar das demandas dos/as usuários/as, cujos saberes precisam ser reconhecidos.
A experiência vivida fomentou a produção de trabalhos diversos pelos discentes,
preceptores e tutores, no tripé extensão-ensino-pesquisa, passeando por temas como: produção
de cuidado para a população sertaneja, estratégias de fortalecimento de vínculo nas equipes,
reflexões acerca da EIP e avaliação da aprendizagem de competência colaborativa no PET-
Saúde.
A partir do desdobramento desses dois anos de projeto, avalia-se que o GT-SMBV
experimentou competências colaborativas, nos quatro domínios indicados na matriz da IPEC
(2016), pela própria dinâmica colaborativa instituída nos processos de trabalho do GT,
resvalando para os encontros com as eqSF. As trilhas dessa experiência de produzir cuidado em
saúde de modo colaborativo foram condensadas na produção de um conto-canto coletivo
apresentado no Encontro Nacional do PET-Saúde ocorrido em outubro de 20209.
O aprendizado interprofissional tanto fortalece os modos de atuação de cada profissão
como pode redimensionar os meios de trabalho, fomentando o trabalho em equipe direcionado
às necessidades de usuários/as (GONTIJO et al, 2019). Cabe atentar, contudo, que o
interprofissional deve se sustentar como “o ponto gris”, pois “não é o novo lugar ideal, o lugar
de “definição” do comum, é lugar de indiferenciação, que convoca o aprender, o pensamento
da criação” (CECCIM, p. 1747).
Nessa perspectiva, a experiência do GT-SMBV permitiu pisar nesse pedaço do sertão
pernambucano e gestou a compreensão genuína da importância das singularidades de suas

9
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SwJ0UQSWG1c Acesso em 27 de julho de 2021.

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gentes tão diversas, da produção coletiva e do desafio da integralidade a ser tecida no cuidado
em ato. Assim, produziu um diferencial no processo formativo, repercutindo na atuação
profissional em saúde, como as narrativas seguintes apontam:
A possibilidade de sair da caixinha e abranger o olhar para uma produção de
cuidado com maior valorização do indivíduo e a troca de experiência entre as
profissões, enriquecendo os métodos de abordagem como profissional.
(narrativa de preceptora - Medicina Veterinária)
A experiência de compartilhar as práticas com estudantes e profissionais de
áreas diferentes da minha abriu minha visão para o campo desafiador que é o
campo da saúde. Vou aprendendo cada vez mais que esse campo quando se é
compartilhado produz frutos preciosos tanto para o cuidador quanto para quem
é cuidado. (narrativa discente - Psicologia)
O conhecimento do território e suas particularidades (...) muda todo o cuidado
e a maneira de promoção da saúde e é o que deve nortear as ações que
tomamos. (narrativa discente - Medicina)
Considero como um diferencial principalmente a vivência que pude ter no
SUS no ambiente da atenção primária. Olhando pra tudo o que vivenciei, as
próprias temáticas que o PET trouxe eram totalmente distantes de mim na
graduação (...) mas que agora fazem parte da minha bagagem (narrativa
discente - Farmácia)

Considerações finais
Tal experiência multifacetada fortaleceu a importância de espaços de interação, do
encontro. Envolver as diversas profissões de saúde em processos de aprendizagem, em cenários
da vida, é via potente, pela qual se delineia um trabalho em rede, colaborativo, coletivo,
integrado e interdependente.
Compreende-se como fundamental o estímulo a programas como o PET-Saúde, que
possibilita experiências como a narrada, constituindo modos de enfrentamento da hegemonia
do modelo biomédico. É uma estratégia de defesa e fortalecimento do SUS pela trilha da
reconhecidamente necessária reorientação profissional em saúde.

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O investimento em políticas públicas que fomentem experiências que produzam
materialidade aos princípios do SUS – universalidade, equidade, integralidade – é indispensável
na construção de uma sociedade inclusiva, em um país marcado por intensas desigualdades
sociais. A reorientação profissional em saúde em sintonia com o SUS integra um projeto de
justiça social no Brasil.

Referências
BARATA, Rita Barradas. Como e porque as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Rio
de Janeiro-RJ: FIOCRUZ, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde e Ministério da Educação. Portaria Interministerial MS/MEC nº
1.802, de 26 de agosto de 2008 Institui o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde -
PET - Saúde. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. 165, p. 27, 27 agosto de 2008.
Disponível em:
https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=27/08/2008&jornal=1&pagin
a=27&totalArquivos=72 Acesso em jun 2 de 2021.
BRASIL. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Edital nº 10, 23 de julho
de 2018 Seleção para o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde PET-
Saúde/Interprofissionalidade. Diário Oficial da União: seção 3, Brasília, DF, n. 141, p. 78,
2018. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/33889041/do3-2018-07-24-edital-n-10-23-de-
julho-2018-selecao-para-o-programa-de-educacao-pelo-trabalho-para-a-saude-pet-saude-
interprofissionalidade-2018-2019-33889037 Acesso em jun 2 de 2021.
CECCIM, Ricardo B. Equipe de Saúde: perspectivas entre-disciplinar na produção dos atos
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integralidade. 4 ed. Rio de Janeiro: IMS/UERJ-CEPESC-ABRASCO, 2008. p. 261-280.
CECCIM, Ricardo B. Conexões e fronteiras da interprofissionalidade: forma e formação.
Interface (Botucatu) 22 (Supl. 2), 2018, https://doi.org/10.1590/1807-57622018.0477

CECÍLIO, Luiz. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta


pela integralidade e eqüidade na atenção em saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (orgs.)
Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde, Rio de Janeiro: UERJ, IMS:
ABRASCO, 2009, 8ª ed., p. 117-130.

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"Em busca da cidadania plena através da universalidade da saúde”
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Camargo Macruz; Bertussi, Débora Cristina; Merhy, Emerson Elias (orgs.). Avaliação
compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. 1. ed. V.2 -
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GONTIJO, Eliane Dias; FREIRE FILHO, José Rodrigues; FORSTER, Aldaisa Cassanho.
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MERHY, Emerson Elias. Saúde: cartografia do trabalho vivo em ato. São Paulo: HUCITEC,
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https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3011330/mod_resource/content/1/Trabalho%20em%
20equipe.pdf Acesso em 2 de jun de 2021.
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seguro. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 20, n. 56, p. 185-197, 2016. Disponível
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Acesso em 3 de jun de 2021.
SOUZA, Maria de Fátima. A reconstrução de Saúde da Família no Brasil: diversidade e
incompletude. In: SOUZA, Maria de Fátima et al (orgs.) Saúde da Família nos municípios
brasileiros: os reflexos dos 20 anos no espelho do futuro. Campinas: Saberes Editora, 2014. p.
40-76.

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A INTERDISCIPLINARIDADE DA FONOAUDIOLOGIA NA ODONTOLOGIA NO
PROJETO TRANSODONTO DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UFMG: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA

Igor Carnevalli Leal1


Melissa Souza Gomes2
Victor Santos Batista3
Flávio de Freitas Mattos4
Luciana Gravito de Azevedo Branco5
Andréia Maria Araújo Drummond6

Resumo: As políticas de Saúde LGBT, Nacional e Estadual, são documentos que corroboram
com o princípio da equidade, posto que reconhecem os diferentes determinantes sociais e
levantam as necessidades sociais, considerando que o direito à saúde passa pela individualidade
e deve atender à diversidade.  Entretanto, pesquisas demonstram que a população LGBT tem
menor acesso aos equipamentos públicos do Brasil. Dentre os fatores relacionados, estão o
atendimento não humanizado ou discriminatório e a resistência dos profissionais às questões de
diversidade sexual. O projeto TransOdonto foi criado com o intuito de promover a atenção
integral à saúde bucal de pessoas trans e de contribuir com a formação profissional de seus
integrantes baseando-se nas Políticas de Saúde LGBT. O trabalho realizado também visa
atender ao princípio da universalidade, direito fundamental frequentemente retirado de pessoas
trans e travestis. O objetivo do trabalho é evidenciar a formação profissional em saúde LGBT
realizada de forma interdisciplinar no projeto, buscando a promoção da saúde bucal, o
acompanhamento do tratamento, a modulação da voz para adequação de autoimagem e o
aumento da autoestima. O TransOdonto desempenha ações compreendidas em todas as esferas
da tríade acadêmica: “Ensino, Pesquisa e Extensão”, de forma indissociável. O projeto conta
com a participação de alunos da Odontologia, da Fonoaudiologia e das Letras. Devido ao

1
Graduando em Fonoaudiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil,
[email protected]
2
Graduanda em Odontologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
3
Graduando em Odontologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
4
Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
5
Programa de Saúde da Família (PSF) Prefeitura de Sabará, Coordenação de ações de promoção à saúde da ONG
Transvest,
6
Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

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cenário de pandemia pelo novo coronavírus, o projeto precisou de uma readaptação com o
intuito de assegurar o diálogo com a sociedade. Nessa nova etapa, reafirmamos a metodologia
de ensino sócio-interacionista, na qual a principal prerrogativa é a interação entre o sujeito e a
sociedade. Para isso, o grupo recorreu às redes sociais, sendo a principal delas o Instagram.
Dentre as atividades realizadas no projeto, podem ser citadas: o desenvolvimento de pesquisas,
ações de intervenção, diálogo com a sociedade e criação de materiais didáticos para a população
trans e travesti, em que por intermédio de reuniões virtuais os alunos possuem abertura ao
diálogo e a discussões em prol de soluções conjuntas. Tendo em vista que o SUS contribui de
forma relevante no processo transexualizador, torna-se importante uma atuação
multidisciplinar. Os alunos das diversas áreas dialogam entre si, partilham em conjunto seus
conhecimentos, promovendo um espaço aberto, universal, científico e educativo, bem como
auxiliam na execução dos materiais didáticos, sendo eles: cartilhas informativas, posts
informativos e caderno de gestão de conhecimento para a comunidade. Ambos são construídos
de acordo com os respectivos perfis dos integrantes.  Assim, fica evidente a capacidade de
trabalhar em equipe, unir diferentes áreas do conhecimento e de levar em consideração a
realidade social da população trans e travesti. A partir disso, o projeto contribui para que
consigam manter um mecanismo de apoio e desenvolvimento disciplinar com seu crescimento
pessoal.

Palavras-chave: Multidisciplinaridade; Saúde Bucal; Saúde Sistêmica; Formação Profissional;


Universalidade.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
Garantido pela Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) após muita luta do Movimento
da Reforma Sanitária, o direito à saúde no Brasil é indissociável do direito à vida, que tem por
inspiração o valor de igualdade entre as pessoas, alicerçando uma trajetória em prol da
construção de uma política universal e integral.
Na perspectiva de afirmar o direito da população baseando-se nos princípios de
equidade no Sistema Único de Saúde (SUS) de uma política universal e integral (Art. 7º da Lei
nº 8.080 de 1990, que dispõe sobre os princípios do SUS), foram criadas as Políticas de Saúde
LGBT Nacional e Estadual. Estes documentos têm o compromisso de reconhecer os diferentes

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determinantes sociais e identificar as necessidades da sociedade, considerando que o direito à
saúde passa pela individualidade e deve atender a diversidade ( BRASIL, 2020).
Entretanto, pesquisas demonstram que a população LGBT tem menor acesso aos
equipamentos públicos do Brasil e, dentre seus fatores relacionados, destaca-se o atendimento
não humanizado ou discriminatório e a resistência dos profissionais às questões de diversidade
sexual (BITTENCOURT et al., 2014).
Assim, com o intuito de promover, proteger e recuperar a saúde integral de pessoas trans
e travestis e de contribuir para a formação profissional dos acadêmicos integrantes, foi criado
o Projeto de Extensão "TransOdonto: saúde bucal também é direito!” na Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FAO-UFMG). Os valores do projeto
baseiam-se no SUS e nas Políticas de Saúde LGBT, a fim de atender ao princípio da equidade,
direito fundamental frequentemente retirado de pessoas trans e travestis no Brasil. O projeto
atua de forma multiprofissional, com graduandos dos cursos de Odontologia, Fonoaudiologia e
Letras, com o intuito de atuar de forma direta junto ao paciente com o atendimento
odontológico, na adequação vocal visando a autoestima do paciente, na educação e promoção
da saúde. A multiprofissionalidade baseia-se na Política Nacional de Extensão Universitária
(BRASIL, 2020) que estabelece uma comunicação entre a universidade e a sociedade, visando
uma partilha de conhecimentos e uma interlocução entre as atividades de pesquisa, ensino e
extensão.
Segundo Gonçalves (2019), o ensino é uma forma de gerar, construir e organizar
conhecimento utilizando o que foi produzido pela humanidade, tratando-se de um método de
partilha de conhecimento para educar as pessoas. A pesquisa é a materialização do
conhecimento a partir de novas investigações com base em problemas a serem resolvidos. O
ensino através da pesquisa gera novos conhecimentos podendo validar ou invalidar teorias
existentes. A extensão estabelece uma relação entre a universidade e a sociedade, sendo uma

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troca de conhecimento entre instituição e comunidade, ou uma maneira que as universidades
têm de permitir ao estudante intervenção nos processos sociais, além de trabalhar na
identificação de problemas da sociedade (GONÇALVES, 2019).
É evidente o benefício da integração dos pilares universitários para a formação de
profissionais de áreas em saúde com foco na saúde de pessoas trans e travestis. A agregação
de conhecimentos de diferentes cursos capacita os estudantes para a promoção, proteção e
recuperação da saúde contemplando a equidade ao considerar aspectos de gênero e sexualidade
no atendimento clínico Odontológico e Fonoaudiológico para a população trans e travesti na
FAO-UFMG.
Devido ao cenário mundial da pandemia por Covid-19, a população teve que se adaptar
a uma nova realidade, com o desafio do distanciamento social que envolve altos níveis de
cuidados de higiene (AQUINO et al., 2020). As atividades presenciais e os atendimentos do
Projeto TransOdonto foram adaptados para que ele pudesse permanecer ativo, dando uma
devolutiva social e respondendo seu objetivo, recorrendo a tecnologia e as mídias sociais
durante esse período.

Referencial teórico
Primeiramente, faz-se necessário elucidar sobre as políticas de equidade existentes e
suas propostas. Ainda, compreender como se dá o acesso à saúde pela população LGBT, seja
sob a perspectiva de promoção de políticas de equidade ou não. Somente assim poderemos
avançar para a discussão da presença (ou ausência, em alguns casos) do ensino sobre a saúde
da população LGBT e mais especificamente da população trans e travesti nos currículos de
graduação.
A saúde no Brasil é “um direito de todos e um dever do estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao

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acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”
(BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil - Art. 196., 1988).
Dois anos depois da promulgação da Constituição República Federativa do Brasil, em
1990, foi aprovada a chamada Lei Orgânica da Saúde - Lei Nº 8.080, de 19 de Setembro de
1990 - que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Em seu
artigo 7º, inciso IV, a prestação de serviços de saúde deve ocorrer de forma igualitária, vedando-
se privilégios de qualquer espécie. É por meio destes termos que a Lei Federal introduz o
conceito da equidade do SUS. Mesmo com toda sua composição, dezenas de artigos e centenas
de incisos, a equidade para a população LGBT não foi plenamente alcançada nos serviços de
saúde do Brasil. Com vista nestes aspectos de desigualdade e discriminação, autoridades em
legislação no Brasil aprovaram a Política Nacional De Saúde Integral De Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis E Transexuais (BRASIL, 2013). Ainda podemos citar as Políticas
Estaduais em saúde LGBT dos estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Amazonas, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, entre outros.
Ainda com foco na população LGBT listamos:
➢ Portarias
○ Portaria nº 1. 820, de 13 de agosto de 2009 – Dispõe sobre os direitos e deveres dos
usuários da saúde.
○ Portaria nº 2803, de 19 de novembro de 2013 – Redefine e amplia o Processo
Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS)
○ Portaria Estadual nº 919, de 01 de julho de 2014 – Institui o Comitê Técnico Estadual
de Saúde Integral da População de Lésbica, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais-
LGBT.
➢ Resolução
○ Conselho Federal de Psicologia Resolução CFP N° 001/99 de 22 de março de 1999
“Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação
Sexual”.
➢ Conselho Federal de Serviço Social

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○ Resolução CFESS N° 615, de 8 de setembro de 2011, Dispõe sobre a inclusão e uso
do nome social da assistente social travesti e do(a) assistente social transexual nos
documentos de identidade profissional.
➢ Programa
○ Brasil Sem Homofobia: Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra
GLBT e Promoção da Cidadania Homossexual /- Brasília. Ministério da Saúde, 2004.
➢ Planos
○ Plano Operativo da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais – LGBT
○ Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de AIDS e DST entre Gays, outros
Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) e Travestis
➢ Plano Estadual
○ Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia da AIDS e das DST entre Gays, HSH
e Travestis –Bahia- 2010-2012
➢ Publicações
○ Guia Orientador para a criação de Conselhos Estaduais / Municipais de Direitos da
População de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais-LGBT (abril, 2013).
○ Manual de comunicação LGBT
○ Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil(2011)
○ Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil (2012)
➢ Ouvidoria
○ Disque Direitos Humanos (Disque 100)
Ainda assim, não é possível observar um acesso igualitário das pessoas LGBT aos
serviços de saúde. avaliou as ações para a implementação do Plano Nacional de Saúde Integral
LGBT na atenção básica de saúde e observou que apesar da existência da Política Nacional de
Saúde Integral LGBT e de um plano operativo, ainda existem limites impostos para a população
LGBT, sendo um grande desafio a ser superado, tanto para o SUS e seus profissionais, quanto
para a sociedade de um modo geral.
A população LGBT moradora de favela foi o foco do trabalho de Bittencourt et al.
(2014), com foco no acesso dessa população aos serviços de saúde integral. O estudo buscou
compreender as barreiras subjetivas ou sociais relacionadas ao acesso integral à saúde da
população LGBT no estado do Rio de Janeiro, Brasil. No Complexo de Favelas da Maré,
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atribuiu-se a pouca procura da população LGBT pelos serviços de saúde locais aos
constrangimentos sofridos nos espaços de atendimento e ao medo de uma possível
discriminação pela comunidade, em função da associação direta entre a população LGBT que
busca por serviços de saúde e possibilidade de infecção pelo virus da imunodeficiência humana
(HIV). Os autores ressaltam que:

[...] não excluindo a importância do problema e a necessidade de


programas para a prevenção do HIV entre a população LGBT, considera-
se fundamental que se dê atenção aos demais aspectos de saúde destes
grupos, uma vez que é direito de todos e todas o cuidado integral da
saúde, de acordo com suas especificidades, para que haja equidade
(BITTENCOURT; FONSECA; SEGUNDO, 2014, p. 1)

O mesmo estudo criou um grupo focal com a população travesti, com idades entre 30 e
45 anos, em que foi relatado as situações vividas em unidades de saúde, destacando a
informação sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e desinformação sobre direitos;
problemas de saúde mental e falta de empatia profissional; objetificação do paciente e
preconceito.
Segundo Guimarães et al. (2017), observam-se no serviço, aspectos como preconceito,
existência de barreiras ao acesso e necessidade de melhor capacitação das equipes de saúde. Os
autores identificaram a negação do sexismo e das barreiras simbólicas, incompreensão do
sentido de equidade, e o preconceito encarnado nas subjetividades dos profissionais de saúde
no atendimento a pessoas LGBT.
O preconceito e discriminação contra a população LGBT no âmbito dos serviços de
saúde e a negação dos seus direitos são problemas reconhecidos na literatura (GUIMARÃES et
al., 2017).
Isso demonstra uma lacuna sobre a temática nos currículos de graduação das áreas da
saúde. Ainda que as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina
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(DCN) de 2014 (Brasil, 2014) inclua a capacitação para o atendimento integral e humanizado
de pessoas LGBT, observa-se que os temas de gênero e sexualidade ainda são abordados nos
aspectos biológicos e patológicos, não levando em consideração a parte psicossocial do
processo saúde-doença-cuidado da população LGBT (RUFFINO et al., 2014)
As atitudes, conhecimentos e competência cultural dos estudantes relativo à
comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT) tem repercussões no acesso
e na qualidade dos cuidados de saúde destas minorias sexuais (CARVALHAIS et al., 2020).
Faz-se necessário institucionalizar o ensino sobre a saúde da população LGBT para todos os
cursos da saúde brasileiros, orientando os profissionais da saúde para atendimento dessa
população desde sua formação.

Método
Por meio de um método sócio-interacionista, onde a principal prerrogativa é a interação
entre o sujeito e a sociedade, o Projeto “TransOdonto: saúde bucal também é direto!” é
subsidiado na Política Nacional da Extensão Universitária que em um dos seus objetivos
contribui para que a Extensão Universitária seja parte da solução de grandes problemas e
estimula atividades de Extensão cujo desenvolvimento implique em relações
Multiprofissionais, Interdisciplinares, e ou Transdisciplinares com relações Interprofissionais e
Sociais (SANTOS-JÚNIOR, 2004).
O projeto foi criado em parceria com a ONG TransVest de Belo Horizonte, surgindo a
partir de uma demanda social e visando proporcionar para a população trans e travesti um
atendimento multidisciplinar que atenda aos princípios do SUS e das políticas de saúde
vigentes. Atualmente integram o projeto 15 estudantes, sendo três bolsistas, um estudante de
pós-graduação e professores das áreas de saúde coletiva, radiologia, cirurgia e patologia; nas
atividades dos eixos de extensão, ensino e pesquisa. O projeto conta com a participação de

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estudantes da graduação em Odontologia e Fonoaudiologia da UFMG e da Letras, da
Universidade Federal de Lavras, o que justifica seu caráter multidisciplinar.
Devido ao cenário mundial de pandemia pela COVID-19 e a suspensão das atividades
presenciais e clínicas, o projeto precisou ser readaptado, no intuito de assegurar o diálogo com
a sociedade por meio de ferramentas midiáticas, como o Instagram e Twitter. Novos métodos
de interação surgiram no projeto a fim de que as atividades se tornassem mais dinâmicas, sendo
as Rodas de Conversa uma delas. A partir dos encontros do tipo Roda de Conversa,
profissionais e pessoas da comunidade trans e travesti são convidadas a conversar com os
integrantes do projeto e trocar experiências. Isso foi crucial para o contato mais próximo à
comunidade e à temática, para a discussão de temas importantes na formação dos estudantes e
para a troca de vivências visando uma construção mediante outras realidades.
No decorrer das reuniões semanais, ocorrem discussões de documentários, filmes e
artigos científicos, a fim de que as evidências na área possam ser levantadas e o conhecimento
compartilhado com o grupo. Além disso, estudos e pesquisas são desenvolvidos de forma
conjunta, fazendo com que os acadêmicos tenham a oportunidade de entrar em contato com o
meio científico e apresentar seus trabalhos objetivando a representatividade e reconhecimento
da relevância do tema.
O projeto também busca se conectar a outras instituições, legitimando seu caráter
interinstitucional. Dentre as universidades com as quais o projeto se conecta, pode-se citar por
exemplo a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), a Universidade de Brasília (UnB) junto ao Núcleo de
Estudos em Saúde Pública (NESP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso é
importante, uma vez que permite que os integrantes discutam as dinâmicas realizadas no próprio
projeto e nas atividades das outras instituições a fim de que os métodos sejam analisados e
novas propostas de extensão, ensino e pesquisa possam ser cogitadas e executadas.

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Resultados e discussão
A extensão universitária é um canal para o relacionamento entre a Universidade e a
sociedade visando a produção de conhecimentos e a interlocução das atividades acadêmicas de
ensino, pesquisa e extensão, por meio de processos ativos de formação que é a esfera da tríade
acadêmica. Essas três esferas caminham juntas de forma indissociável, englobando as
experiências de popularização da ciência e realizam as atividades que tem como objetivo
favorecer a construção de caminhos que levam a contribuir com as necessidades sociais
(ARAÚJO; FEITOSA, 2013).
As atividades do eixo Ensino no Projeto Transodonto também são de interesse e
participação de todos os integrantes da equipe. Ao longo das atividades, alguns temas são
trabalhados e muito conhecimento é adquirido – com a literatura, com convívio com colegas e
com a comunidade, com erros e acertos. Segundo Drucker (1990), gestão do conhecimento é a
capacidade de gerenciar, descobrir, mapear, classificar, captar, distribuir, criar, multiplicar e
reter conhecimento com eficiência, eficácia e efetividade. Estamos na era do conhecimento.
Sabemos que toda experiência e informação gerada pelo ser humano em sociedade torna-se em
conhecimento, conhecimento presente nas bancas acadêmicas, nos livros e nas plataformas
virtuais. Para esta gestão, a equipe produziu um caderno de gestão de conhecimento, contendo
todas as informações basilares acerca da temática do projeto. Também foram desenvolvidas
seis revistas com o propósito de constituírem um protocolo de atendimento de pessoas
transexuais e travestis de forma didática e prática. Ademais, o eixo ensino está desenvolvendo
a proposta de criação de uma disciplina de Atenção à Saúde da População LGBT que objetiva
formar profissionais da saúde com conhecimentos voltados para a promoção e gestão dos
sistemas de saúde que contemplem aspectos de gênero e sexualidade, com foco na saúde de
pessoas trans e travesti.

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Cada estudante contribui de acordo com seu respectivo perfil, e todos passam pelos três
eixos do projeto e elaboram as atividades propostas, sendo capazes de trabalhar em equipe de
maneira multiprofissional levando em conta a realidade social da população trans e travesti a
fim de manterem um mecanismo de apoio e de desenvolvimento disciplinar para seu
crescimento pessoal e profissional.
A integralidade deve estar articulada à necessidade de se modificar uma forma
fragmentada e desarticulada de agir em saúde. Portanto, é preciso possibilitar os espaços de
interação nos cenários de prática, como também é necessário que o profissional preceptor seja
conscientizado do seu protagonismo nas práticas curriculares dos discentes no que diz respeito
à interdisciplinaridade (SAUPE et al., 2005).
Sendo assim, a interação entre a Fonoaudiologia e a Odontologia se corroboram nos
aspectos partilhados pela anatomia e a fisiologia do sistema estomatognático (SE). Tal interação
se dá pela complexidade do sistema estomatognático. Dentre seus componentes básicos, estão
os ossos do crânio e da face, os dentes e seus elementos de suporte, a articulação
temporomandibular (ATM) e os músculos mastigatórios e da mímica facial. É nesse campo que
atua a Fonoaudiologia, responsável por reeducar as funções do SE, mais especificamente por
meio da especialidade de Motricidade Orofacial, desenvolve também a avaliação, diagnóstico,
desenvolvimento, habilitação, aperfeiçoamento e reabilitação dos aspectos estruturais e
funcionais das regiões orofacial e cervical (SBFA, 2003).
Um de seus objetivos principais consiste em buscar o equilíbrio do SE, relacionando-
se, dessa forma, com os diversos ramos da Odontologia. No projeto, a fonoaudiologia tem como
objetivo futuro atuar no desempenho da voz no processo transexualizador, da identidade vocal,
na autoaceitação e na autoestima, atuando por meio de instrumentos que auxiliam na percepção
do sujeito em relação a sua voz e corpo, avaliando também os resultados dos procedimentos
executados. Esse processo é essencial para a inclusão dessa comunidade no mercado de

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trabalho, no meio social e no aspecto pessoal. A Odontologia é responsável por diagnosticar,
tratar e prevenir todas as patologias bucais e maxilares, e suas estruturas anexas, sendo
intrínsecas com os demais componentes do sistema estomatognático, garantindo uma qualidade
bucal. A relação entre essas ciências gera a harmonia do sistema, refletindo em saúde e bem-
estar.
A aproximação dessas áreas é relevante e crescente, objetivando complementação
teórica e aperfeiçoamento profissional. Nessa perspectiva, o projeto TransOdonto então atua
desenvolvendo pesquisas voltadas à comunidade LGBTQIAPN+, ações de intervenção,
diálogos com a sociedade e a criação de materiais didáticos que são publicados nas mídias
sociais. As atividades de extensão elaboram reuniões semanais de forma virtual, que buscam
discussões em prol de buscar soluções conjuntas, rodas de conversas que convidam autores que
contribuíram para pensar nessa metodologia participativa, tendo por objetivo a constituição de
um espaço onde seus participantes reflitam acerca do tema. Para que isso ocorra, as rodas são
desenvolvidas em um contexto em que as pessoas possam se expressar, que partilham trocas de
experiências e conhecimentos, propiciam a abertura ao diálogo e discussões. Os integrantes
desenvolvem cartilhas informativas para a comunidade, posts informativos, entre outros.
O eixo da pesquisa atua no desenvolvimento de estudos que possam contribuir para o
entendimento da situação vivida por pessoas trans e travestis. As pesquisas abordam os
diferentes desafios encontrados pela comunidade e propõe avanços para mudar tais realidades.
A pesquisa também proporciona o reconhecimento e a visibilidade da causa trans dentro do
espaço acadêmico, proporcionando discussões e ocupação de espaços a fim de que a ciência
também possa ser construída por pessoas transgêneras.
A prática interdisciplinar se faz necessária na construção de um novo saber nas
diferentes perspectivas da extensão universitária. Por sua vez, uma visão interdisciplinar deve
estar presente tanto na teoria quanto no campo da prática. Para a prática da interdisciplinaridade,

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vale refletir sobre o conceito de integralidade, esta que é uma das diretrizes do Sistema Único
de Saúde (SUS). A interdisciplinaridade é um dos elementos, ou um dos caminhos que
possibilita aproximações de uma prática de Atenção Integral em Saúde (SAUPE et al., 2005)
Dessa forma, para a execução da integralidade, o atendimento integral ocorre, de forma efetiva,
de uma necessidade da prática interdisciplinar em diferentes âmbitos na extensão, na pesquisa
e no ensino.

Considerações finais
As relações entre a Fonoaudiologia e a Odontologia geram a harmonia do sistema
estomatognático que promove bem-estar e saúde, no âmbito social e pessoal da população trans
e travesti. Essa aproximação das duas ciências é relevante e crescente, o que torna real os
objetivos do projeto. Contudo, existe a necessidade de mais atividades multiprofissionais com
o intuito de promover o cuidado integral dos indivíduos trans e travestis para que ocorra a
ampliação do conhecimento e formação de profissionais que possam atender a população de
acordo com o SUS e as políticas de saúde vigentes.

Agradecimentos
Aos professores, coordenação e integrantes do Projeto TransOdonto: saúde bucal
também é direito! por todo o apoio e pela ajuda, que muito contribuíram para a realização deste
trabalho.

Referências

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"Em busca da cidadania plena através da universalidade da saúde”
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SBFA: SOCIEDADE BRASILEIRA DE FONOAUDIOLOGIA. COMITÊ DE
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Acesso em: 5 de agosto de 2021.

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CARTILHA DE ORIENTAÇÕES ERGONÔMICAS NO HOME OFFICE COMO
ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR

Victória Bomfim Santos1


Natália Ribeiro de Morais Souza2
Paloma Silva de Oliveira3
Marcos Antonio Morais da Silva4
Lívia Lessa de Oliveira5
Ana Claudia Conceição da Silva6

Resumo: A atuação da Fisioterapia tem sido cada vez mais ampliada para diversos contextos,
dentre eles a atenção primária com ações preventivas para diferentes populações, dentre estas,
saúde do trabalhador, intervenções em ergonomia e a saúde do escolar. Nesse sentido, a
fisioterapia atua na promoção à saúde e prevenção de doenças com ações que vinculam o
individual e coletivo, consideram todas as nuances em saúde e proporcionam qualidade de
vida ao público assistido. Nesta perspectiva, intervenções com o intuito de prevenção foram
elaboradas para atender populações com necessidades e características específicas. Para a
saúde do trabalhador, o atual contexto de pandemia pela COVID 19 foi considerado visto que,
muitos trabalhadores estão desenvolvendo atividades em diferente modo de trabalho, o home
office. Nessa modalidade, não existe total controle das condições do ambiente de trabalho,
como tempo de permanência na mesma posição, postura adequada, iluminação, ruídos, como
também o estado emocional, acesso a internet e espaço ideal. Assim, a proposta de
intervenção constitui uma cartilha de orientações ergonômicas sobre o processo de trabalho
em home office, cujo objetivo é orientar e promover saúde para os profissionais que atuam
nesta modalidade, em que serão abordadas orientações em relação a configuração e manejo no
ambiente e processo de trabalho. O presente material foi desenvolvido por discentes do curso
de Fisioterapia do VI semestre da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB e será

1
Acadêmica de Fisioterapia, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié-BA, Brasil,
[email protected]
2
Acadêmica de Fisioterapia, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié-BA, Brasil
3
Acadêmica de Fisioterapia, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié-BA, Brasil
4
Acadêmico de Fisioterapia, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié-BA, Brasil
5
Mestre em Ciências da Saúde, doutoranda em ciências da saúde, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
Jequié-BA, Brasil
6
Docente Adjunta da graduação em Fisioterapia, Doutora, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié-
BA, Brasil

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voltada para os professores e demais profissionais da instituição. A construção do material foi
dada a partir da busca por materiais que versam sobre a temática da ergonomia no home
office, preferencialmente cartilhas, guias e e-books, com recorte temporal os materiais
publicados no período de 2010 a 2021. Para a proposta de intervenção à saúde dos
profissionais que trabalham em home office, foi criada uma cartilha digital estruturada em
cinco etapas, dentre elas a problematização da situação atual, frente ao momento de
pandemia; seguido pelo objetivo e orientações sobre a configuração adequada do ambiente de
trabalho, em que foram apresentados os ajustes que devem ser feitos em mesas, cadeiras, na
iluminação, tempo de trabalho e na postura. Na última etapa foram abordados exemplos de
alongamentos para realização durante as pausas periódicas. Além disso, foi desenvolvido
mapa mental, a fim de fazer uma revisão dos temas abordados na cartilha. Por fim, é possível
afirmar que apesar das vantagens do home office, tais como a flexibilidade e comodidade,
existem aspectos negativos que devem ser considerados, os quais podem colocar em risco a
saúde do trabalhador. Dessa forma, espera-se que com a leitura da cartilha, os profissionais
adequem seus equipamentos e sigam as orientações ergonômicas e de segurança, a fim de
assegurar ao trabalhador a possibilidade de desenvolver atividades com saúde, conforto,
segurança e qualidade.

Palavras-chave: Fisioterapia Preventiva; Ergonomia; Promoção da Saúde; Saúde do


Trabalhador; Home Office.

Eixo Temático 4: Educação e Formação Profissional em Saúde.

Introdução
A COVID-19 é uma doença ocasionada pela nova variação do coronavírus,
identificada inicialmente em dezembro de 2019, após um surto de pneumonia em um grupo de
pessoas que tiveram ligação com o Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Wuhan
(PEREIRA et al., 2020). Com a disseminação acelerada do número de casos, logo a infecção
se tornou um surto reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no final de
janeiro de 2020, vista como uma situação de emergência em saúde pública de relevância
internacional (OLIVEIRA; LUCAS; IQUIAPAZA, 2020).

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Nesse contexto, foi possível observar que se tratava de uma doença com perfil de alta
taxa de transmissibilidade, sintomática ou assintomática, onde a OMS recomendou aos países
a adoção de Intervenções Não Farmacológicas (INF), tais como uso de máscaras, lavagem das
mãos com frequência, higienização regular de espaços e superfícies, além de manter o
isolamento social. Diante do cenário, a população foi aconselhada a ficar em casa, muitas
empresas foram fechadas e outras tiveram que aderir a modalidade de trabalho diferente do
habitual, o home office (MALTA et al., 2020).
O trabalho remoto corresponde às práticas laborais no ambiente domiciliar, por meio
de um vínculo direto entre trabalhador e instituição. Nessa modalidade, não há controle das
condições do ambiente de trabalho tais como, tempo de permanência na mesma posição,
postura adequada, iluminação, ruídos, como também o estado emocional. Muitos
trabalhadores tornam-se susceptíveis a problemas de saúde, necessária assim, a
implementação de estratégias como medidas de prevenção, segurança e saúde aos
trabalhadores (MESQUITA; SOARES, 2020).
A saúde do trabalhador é um campo de atuação que foi potencializado no Brasil. A
partir da década de 70, foram intensificadas as reivindicações por melhores salários, jornada
de trabalho digna e saúde, representando os primeiros movimentos de defesa em saúde
vinculados ao trabalho (WALSH; BERTONCELLO; LIMA, 2018). Nessa perspectiva, se
destacam às novas concepções do processo saúde-doença, as quais superaram o modelo
biomédico para uma ação em saúde que considera as diferentes faces e contribuições das
condições de vida e subjetividade, consideradas como o modelo biopsicossocial, o qual foi
construído no campo de práticas da saúde do trabalhador (PEREIRA; BARROS; AUGUSTO,
2011).
Dessa forma, as ações em saúde para esse público não apenas abordam a atenção de
indivíduos já acometidos e, sim, atuam de modo a prevenir agravos relacionados à atividade
laboral. Nesse sentido, de acordo com Walsh, Bertoncello e Lima (2018, p. 70) a saúde do

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trabalhador é considerada um conjunto de “práticas e conhecimentos estratégicos
interdisciplinares (técnicos, sociais, políticos, humanos), multiprofissionais e
interinstitucionais, voltados para analisar e intervir nas relações de trabalho que provocam
doenças”. Assim como, o trabalho é entendido como um importante determinante no âmbito
social de saúde, o qual deve integrar diferentes campos de atuação profissional rumo à
promoção, prevenção e reabilitação da população, dentre estes a Fisioterapia.
A atuação da Fisioterapia tem sido ampliada para diversos contextos, com práticas que
vinculam o individual e coletivo, e proporcionam educação em saúde, como na atenção
primária com ações preventivas para diferentes populações, tais como a saúde do trabalhador
com intervenções em ergonomia, dentre outros núcleos temáticos (SOUSA et al., 2011).
Considerando que na atualidade a dinâmica de trabalho deve visar condições dignas para a
execução das atividades, desempenho de qualidade e produtividade, assim como saúde e
prevenção de acidentes. Então, a ergonomia torna-se peça fundamental nesse ambiente, sendo
caracterizada como intervenções que vinculam ambiente, tecnologia, pessoas e organizações
com a finalidade de proporcionar adaptações ao processo de trabalho que forneçam segurança,
proteção, bem-estar e eficácia para as atividades (FREITAS; MINETTE, 2014).
Nesse contexto, a proposta de intervenção elencada, constitui uma cartilha de
orientações ergonômicas sobre o processo de trabalho em home office, cujo objetivo é orientar
e promover saúde para os profissionais que atuam nesta modalidade. Serão abordadas
orientações em relação à configuração e manejo no ambiente e processo de trabalho, além dos
intervalos periódicos e outros. Assim, a relevância da temática se dá ao proporcionar
educação em saúde/ promoção da saúde, na prevenção de agravos e melhor desempenho das
atividades laborais frente às atuais demandas de trabalho impostas pelo momento atípico de
pandemia.

Método

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A proposta de intervenção constitui uma cartilha de orientações ergonômicas sobre o


processo de trabalho em home office, cujo objetivo é orientar e promover saúde para os
profissionais que atuam nesta modalidade. Serão abordadas orientações em relação à
configuração e manejo no ambiente e processo de trabalho.
O presente material foi desenvolvido por discentes do curso de Fisioterapia, VI
Semestre 2020.1, pela disciplina Fisioterapia Preventiva e Ergonomia, na Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Será voltada para os docentes e demais profissionais
da instituição. A construção do material foi iniciada a partir da busca por materiais que
versam sobre a temática da ergonomia no home office, preferencialmente cartilhas, guias e
livros eletrônicos. Adotou-se o recorte temporal a partir de materiais publicados no período de
2010 a 2021.
Utilizou-se o formato de cartilha digital estruturada em cinco etapas: 1) a primeira foi
a problematização, apresentando o recorte do tema da pesquisa, destacando o atual cenário de
pandemia e sua consequência no ambiente de trabalho, 2) em seguida foi apresentado o
objetivo, em que destacamos a idéia central da cartilha, que consiste em orientar e promover a
saúde dos profissionais que atuam em home office, 3) a terceira etapa caracterizou-se por
apresentar as configurações adequadas do ambiente de trabalho, em que foram apontados os
ajustes que se aplicam na cadeira, monitor, mesa e iluminação, de modo a promover práticas
ergonômicas, 4) a quarta etapa representa a hora de alongar, em que dividimos em três
momentos, antes, durante e após o trabalho, para realizar os alongamentos e 5) na última,
foram abordados alguns exemplos de alongamentos para realização durante as pausas
periódicas e tempo livre.
As cartilhas podem ser apresentadas como mecanismos visuais relevantes no
compartilhamento de informações, adjuvantes no processo de educação em saúde e devem ser
elaboradas considerando as necessidades da população-alvo. O meio digital foi escolhido

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para a difusão do material, visto que atinge maior quantidade de pessoas e contribui para a
democratização da informação (MEINERT; MARCON; OLIVEIRA, 2011; DIAS, 2018).
Além disso, foi desenvolvido um mapa mental, para revisão e organização dos temas e
conteúdos abordados na cartilha. O mesmo apresenta-se como importante ferramenta para
expor a ordem dos pensamentos e estudar determinado assunto. O centro do mapa é o assunto
principal que será abordado, e ao redor, os tópicos e símbolos relacionados. Este se assemelha
a uma árvore na disposição dos itens, geralmente segue o sentido horário (KEIDANN, 2013).

Resultados e discussão

A cartilha denominada "Orientações Ergonômicas no Home Office como Estratégia de


Promoção à Saúde do Trabalhador" foi elaborada pelo site de edição gráfica Canva e o
conteúdo selecionado foi obtido a partir da busca em cartilhas, guias e livros eletrônicos. Esta
cartilha pretende apresentar o conteúdo aos profissionais que trabalham em casa, tendo como
público-alvo professores e demais profissionais da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia. Com vistas a uma leitura mais dinâmica, foi constituído por textos curtos, linguagem
concisa e o uso de ilustrações de modo a facilitar a compreensão do leitor. Este material
contém orientações ergonômicas básicas voltadas para o trabalho em home office. No final da
cartilha, foram apresentadas ilustrações de alongamentos que podem ser realizados durante os
períodos de intervalo. E a criação do mapa mental para organização das ideias, conteúdos e
temas abordados na cartilha.
Através dos artigos examinados, foi possível analisar que o trabalho remoto apresenta
benefícios tanto técnicos em relação à produtividade, planejamento e execução de atividades,
disponibilidade de tempo para estudos e planos de ações, como também benefícios pessoais.
De acordo Haubrich e Froehlich (2020, p.171) “percebe-se qualidade de vida, autonomia para
gerir o tempo, menos estresse e despesas com deslocamentos e mais contato com familiares”.

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Estes fatores contribuem para restabelecer os serviços essenciais principalmente no contexto
pandêmico, porém, otimizar as condições necessárias de trabalho em um escritório doméstico
é um desafio para a maioria das pessoas.
Foi realizada uma atividade piloto baseada em uma situação real, a partir da
experiência de um trabalhador que precisou se adaptar às mudanças no processo de trabalho
presencial para o remoto em razão da pandemia. Estas adaptações foram relacionadas às
condições ergonômicas, técnicas e equipamentos para a realização do trabalho em home
office, mudança de jornada e carga horária de trabalho, em especial os desafios da nova
realidade.
O funcionário, L. S. B. é um jovem de 23 anos que atua em uma empresa como
operador de atendimento bancário há 15 meses. As atividades realizadas referem-se ao
atendimento receptivo para os clientes bancários, em que sana as dúvidas e auxilia nos
problemas relacionados com o aplicativo ou conta da empresa. O mesmo trabalha em um
escritório improvisado no seu domicílio, cômodo quarto, no turno intermediário, por seis
horas de trabalho diário, totalizando 36 horas semanais. Durante esse período realiza poucas
pausas, somente quando se sente extremamente cansado, devido as grandes metas a serem
batidas diariamente. Em pouco tempo relatou algumas desvantagens dessa forma de execução
da atividade profissional, tais como, a falta de estrutura que desencadeia danos à saúde, dores
na região cervical e lombar, interferência nas questões domésticas e a sobrecarga de trabalho
que culminam em estresse psicológico.
É possível observar, como a dinâmica do ambiente e da organização corporal na
posição utilizada para o trabalho influencia na saúde. A posição sentada (sedestação),
comumente adotada para o trabalho em home office, deve ser cuidadosamente analisada para
que não haja desconforto, estresse e sobrecarga para o corpo, assim como, garantir o
equilíbrio tanto neuromuscular, quanto esquelético. Deve-se considerar que as atividades

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laborais podem exigir do trabalhador, movimentos repetitivos, ritmo intenso de trabalho
diário, e desencadeamento de dores e doenças ocupacionais (PIZYBLSKI et al., 2014).
Nesse sentido, a ergonomia é essencial para a realização de atividades sem desgastar
a saúde física e mental dos trabalhadores, ao priorizar a atenção primária a redução das
consequências danosas de fatores externos que afetam o processo de produção, assim como
evitar fadiga, situações estressantes e acidentais. Dessa forma, a eficiência e produtividade
serão produtos gerados (NEVES, 2020).
Para minimizar o desgaste decorrente de posturas inadequadas ou movimentos
repetitivos realizados em excesso, o mobiliário utilizado deve ser adequado às dimensões
físicas do trabalhador. O trabalho estático prolongado e a postura inadequada pode causar
sobrecarga músculo-articular. Nesse sentido, as atividades devem ser realizadas em uma
cadeira que permita mudanças frequentes de postura e uma posição ligeiramente inclinada
para a frente, por ser mais natural e menos cansativa quando comparado com a posição em
ortostase, além do posicionamento adequado do teclado e apoio para punhos e antebraços
(NEVES, 2020).
Nessa perspectiva, a cartilha de orientações ergonômicas no home office apresenta as
instruções referentes à configuração adequada do ambiente, ao visar adaptação do local de
trabalho para proporcionar conforto e segurança. As orientações indicam a necessidade da
altura ajustável da cadeira, distância ideal do monitor, profundidade da mesa para que os
membros inferiores fiquem livres, posicionamento correto do corpo e dicas quanto à
iluminação do ambiente. De acordo com Silveira (2018, p.18) essas alterações são
importantes, sendo que “os assentos utilizados nos postos de trabalho devem possuir altura
ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida, (...) e encosto com forma
levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar”.
Além das informações quanto ao ambiente, a cartilha também orienta para os
momentos de intervalos periódicos e tempo livre ao longo do dia. É importante que

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sejam realizadas pausas espontâneas em intervalos curtos, durante as horas seguidas de
trabalho na mesma posição conforme o profissional sinta-se cansado e/ou fatigado, visto que,
apesar de pouco tempo, essas micro pausas restauram o estado físico e contribuem para
minimizar possíveis riscos ocupacionais (NEGREIROS, 2014). Assim, a cartilha orienta
quanto ao tempo das pausas e proporciona dicas para o bem-estar físico como também mental.
Nos momentos de pausas são orientados os movimentos de alongamentos para relaxar
a musculatura mantida em excesso durante a manutenção da posição sentada. Assim, é
possível que o alongamento seja realizado antes de iniciar o trabalho. O mesmo é um método
de aquecer a musculatura e as articulações, nos intervalos periódicos de trabalho. Desta
forma, melhora o desempenho, assim como, no final do expediente se apresenta como
momento de relaxamento e alívio de tensões (FERREIRA; SANTOS, 2013). A cartilha
demonstra mediante imagens, algumas posições de alongamentos nos segmentos tronco,
membros superiores e inferiores.

Figura 1 - Capa da cartilha Figura 2 - Folha de rosto da cartilha

Figura 4 - Sumário da cartilha Figura 3 - Problematização da cartilha

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Figura 5 - Objetivo da cartilha Figura 6 - Corpo da cartilha

Fonte: Elaborada pelos autores Fonte: Elaborada pelos autores

Figura 7 - Corpo da cartilha Figura 9 - Corpo da cartilha

Fonte: Elaborada pelos autores Fonte: Elaborada pelos autores

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Figura 8 - Corpo da cartilha Figura 11 - Corpo da cartilha

Fonte: Elaborada pelos autores


Fonte: Elaborada pelos autores
Figura 10 - Corpo da cartilha Figura 13 - Corpo da cartilha

Fonte: Elaborada pelos autores

Fonte: Elaborada pelos autores

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Figura 12 - Corpo da cartilha Figura 11: Mapa conceitual das orientações
ergonômicas para home
Office

Fonte: Elaborada pelos autores Fonte: Elaborada pelos autores

Considerações finais
No presente trabalho foram apresentadas as etapas da elaboração de uma cartilha de
intervenção à saúde do trabalhador em home office, em que foram abordados aspectos
ergonômicos a serem considerados para atuação nesta modalidade. É possível afirmar que
apesar das vantagens do home office, tais como a flexibilidade e comodidade, existem
aspectos negativos que devem ser considerados, os quais podem colocar em risco a saúde do
trabalhador. Dessa forma, espera-se que com a leitura da cartilha, os profissionais adequem
seus equipamentos e sigam as orientações ergonômicas e de segurança, a fim de assegurar
conforto ao trabalhador para que seja possível produzir mais e com qualidade.

Referências

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motivos da não implantação. Revista Educação Física UNIFAFIBE, n. 2, p. 56-72, 2013.

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WALSH, I. A. P. de; BERTONCELLO, D.; LIMA, J. C. Fisioterapia e saúde do trabalhador


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SOBRE OS ORGANIZADORES

DR. RAMON MISSIAS-MOREIRA


Um jovem professor negro, pesquisador, nordestino, soteropolitano, de 34
anos de idade, viajante, utópico sonhador e realizador de sonhos. Pós-
doutorando em Atividade Física e Saúde no Centro de Investigação em
Atividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL), vinculado à Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto, Portugal (FADEUP). Doutor em
Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA-2017). Mestre em
Saúde Pública pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB-2012). Especialista
em Atividade Física, Educação e Saúde para Grupos Especiais pela
Faculdade da Cidade do Salvador (FCS-2010). Licenciado Pleno em
Educação Física pela UESB (2009). Licenciado em Pedagogia pela
Universidade Metropolitana de Santos (2019). Professor Adjunto na
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), leciona na
Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, na Licenciatura EaD em
Pedagogia, no Mestrado em Psicologia e no Doutorado em Agroecologia e Desenvolvimento
Territorial. Coordenador do Estágio Supervisionado da Licenciatura em Educação Física. Líder do
Grupo de Pesquisa Interdisciplinar sobre Saúde, Educação e Educação Física -
GIPEEF/UNIVASF/CNPq. Membro da Rede Internacional de Pesquisas sobre Representações Sociais
de Saúde (RIPRES), com sede na Universidade de Évora, Portugal; Membro do GT da ANPEPP
Memória, Identidade e Representações Sociais; Associado da Associação Brasileira de Saúde Coletiva
(ABRASCO). Associado da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS); Associado da
Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN); Membro do Comitê de Políticas
Institucionais para as Licenciaturas; e, Membro do Comitê de Políticas de Estágio da UNIVASF.
Idealizador e organizador de coleções de livros com repercussões globais, sendo as mais recentes:
Qualidade de vida e saúde em uma perspectiva interdisciplinar; e, Representações Sociais na
contemporaneidade. Idealiza e organiza, em parceria com outros pesquisadores, relevantes congressos
internacionais, a exemplo do CINPSUS e do CIRSQVASF. Autor e coautor de artigos em revistas
indexadas, com mais de 26 livros organizados, e capítulos de livros publicados. Orienta projetos de
Doutorado e Mestrado nas áreas da Saúde Coletiva/Pública, especialmente nas temáticas da Atividade
Física, Condições de Saúde e Qualidade de Vida em diversas populações. Com um modo colaborativo
de desenvolver suas atividades profissionais, interagiu com mais de 700 colaboradores(as) de 3
continentes em suas iniciativas acadêmicas e científicas (artigos, capítulos, livros, eventos, pesquisas,
extensão, bancas, etc). Possui experiência docente na educação básica, no ensino técnico e, desde 2011,
atua no ensino superior público e privado, em áreas relacionadas à Educação, Saúde e Educação Física.
E-mails: [email protected] / [email protected] / [email protected]
Instagram: @gipeef_univasf Site: https://portais.univasf.edu.br/gipeef Youtube: @gipeef

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DRA. CLARINDA FESTAS


Doutoramento em Ciências de Enfermagem pela Universidade do Porto
em 2007. Presidente da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde
Mental. Professor Catedrático da Escola Superior de Enfermagem do
Porto. Publicou 73 artigos em periódicos especializados internacionais
e 39 trabalhos em anais de congressos, possui 11 capítulos de livros, 18
livros publicados e 307 itens de produção técnica. Orientou 5 teses de
doutoramento (co-orientado 8) e 21 dissertações de mestrado (co-
orientado 2) nas áreas das Ciências da Saúde e Ciências Sociais,
nomeadamente no campo da saúde mental e da alfabetização e
comunicação em saúde. Recebeu 4 prêmios e / ou homenagens e
atualmente participa de 4 projetos de pesquisa, dos quais coordena 2
deles. Atua nas áreas de Ciências Sociais e Ciências Médicas com
ênfase em Enfermagem e Saúde Mental. Tendo um modo de vida colaborativo, nas suas atividades
profissionais, interagiu com 214 colaboradores em coautoria de trabalhos científicos. No seu currículo,
os termos mais frequentes no contexto da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são:
Enfermagem, Saúde Mental, Boas Práticas, Idoso, Intervenções, Cuidadores, Demência, Diagnóstico,
CIPE e Sobrecarga. E-mail: [email protected]

DRA. CRISTINA PRUDÊNCIO

Presidente da Escola Superior de Saúde (ESS) do P. Porto. É


Médica, também Licenciada em Bioquímica, Mestre em
Genética Molecular Microbiana e Mestre em Pedagogia Médica,
Doutorada em Ciências (Bioquímica), Agregação em Educação
em Saúde (Bioquímica) com especialização em Medicina da
Dor. Coordenadora da ATC de Ciências Químicas e das
Biomoléculas da ESS. Coordenadora do Mestrado em
Bioquímica em Saúde de 2009 a 2011 e de 2015 a
2019.Coordenadora da ESS no programa Doutoral em
Biotecnologia Avançada (em parceria com as Universidades de
Vigo e da Corunha). Investigadora no Instituto de Investigação e
Inovação em Saúde, Universidade do Porto, Portugal (I3S).
Colaboradora do Centro de Investigação em Saúde e Ambiente
(CISA). Orientadora ou Co-Orientadora de várias Teses de Doutoramento e Mestrado, possui mais de
132 trabalhos, para além de apresentações em congressos Nacionais e Internacionais quer sob a forma de posters
ou comunicações orais (sendo 10 destes premiados) e capítulos de livro. (ORCID - 0000-0002-9920-936X).

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