A Parábola Do Amigo Importuno

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A Parábola do Amigo Importuno

 Daniel Conegero

O Amigo Importuno é uma Parábola de Jesus encontrada no capítulo 11 do


Evangelho de Lucas. Vejamos abaixo o texto da parábola:

Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo


à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
Pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e
não tenho que apresentar-lhe;
Se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a
porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso
levantar-me para tos dar;
Digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu
amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e
lhe dará tudo o que houver mister.
(Lucas 11:5-8)

Contexto da Parábola do Amigo Importuno


Nos primeiros versículos do capítulo 11 de Lucas, encontramos um registro mais
breve comparado ao Evangelho de Mateus sobre o Pai Nosso. Outra diferença
evidente é que, diferentemente do que ocorre em Mateus, ele não continua a
oração com uma exortação aos homens para que amem uns aos outros, mas
continua com uma parábola, a Parábola do Amigo Importuno.

Uma característica muito frequente do Evangelho de Lucas é que o evangelista, ao


narrar os fatos da vida e ministério de Cristo na terra, bem como seus
ensinamentos (incluindo as parábolas), muitas vezes omite toda referência definida
ao tempo e ao lugar em que tais fatos ocorrem. Na verdade, Lucas nunca se propôs
a compor um relato estritamente cronológico do ministério de Jesus Cristo. Para ele
a conexão tópica é mais importante do que a cronológica ou geográfica.
Se considerarmos a ordem desde o capítulo 9, os relatos de Lucas indicam que
Jesus esteve em Jerusalém, Jericó e Betânia. O capítulo 11 provavelmente se
localiza no contexto da viajem de Jesus de Cafarnaum à região Siro-Fenícia. Ali ele
se afastou do povo, talvez para poder instruir seus discípulos de forma mais
reservada.

Então foi naquela ocasião que muito provavelmente surgiu a pergunta que dá
início ao capítulo 11. Alguém perguntou: “Senhor, ensina-nos a orar”. Lucas relata
que um dos discípulos fez esta pergunta, porém é impossível saber qual dos
discípulos foi. Também não é possível saber se esse discípulo em questão pertencia
ao grupo dos doze, ou se pertencia a um grupo maior de discípulos que seguiam
Jesus, como os setenta do capítulo 10.

Explicação da Parábola do Amigo


Importuno
Para entendermos perfeitamente a Parábola do Amigo Importuno, precisamos
recuar nossa leitura até o capítulo anterior de Lucas. Entre os versículos 25 e 37 do
capítulo 10, Jesus trata do tema “amar ao próximo”. Na sequência, entre os
versículos 38 e 42, Jesus da ênfase na importância de se ouvir as palavras do
Senhor. Já no capítulo 11, entre os versículos 1 e 13, Jesus ensina sobre a oração e
como devemos orar. Então, entendendo esta sequencia, podemos perceber
claramente que amar ao próximo, ouvir as palavras do Senhor e orar corretamente,
são coisas que evidentemente andam juntas.

Na Parábola do Amigo Importuno, Jesus fala sobre um viajante que chegou tarde
da noite e bateu à porta de um amigo em busca de hospitalidade. Esse amigo, sem
ter nada a lhe oferecer, ficou em uma situação embaraçosa, pois como ele poderia
hospedá-lo sem ter um pão para alimentá-lo? Sem ter outra escolha, ele resolveu
incomodar um outro amigo que era seu vizinho, a fim de que ele lhe emprestasse
alguns pães.

As casas em Israel naquela época, principalmente em áreas rurais, eram pequenas.


Geralmente elas possuíam um cômodo usado como local para refeições e
dormitório. Essas casas costumavam ter uma porta que permanecia aberta durante
todo o dia. Ao anoitecer, o chefe da família fechava a porta utilizando uma tranca
de correr feita de madeira que se prendia nas laterais da porta.
Esteiras eram espalhadas e utilizadas como camas, nas quais toda a família dormia.
Diante de tais circunstâncias, era muito difícil levantar no meio da noite sem
acordar os outros membros da família. Nesse sentido, o homem, já deitado em seu
leito, é repentinamente acordado. Por isso Jesus levanta a possibilidade de o
homem responder o seguinte: “Pare de me perturbar! Eu já estou deitado, e meus
filhos estão comigo. Se me levantar, terei que andar pelo quarto escuro e remover a
grande tranca da porta, e o barulho provavelmente irá acordá-los”.
No versículo 8, Jesus então diz que se o homem não se levantar e emprestar os
pães ao seu amigo, em repeito e consideração a amizade de ambos, ele certamente
se levantará devido à persistência do homem que o incomoda impedindo que ele
volte a dormir. Isso mostra duas possibilidades para a motivação do doador. Talvez
ele dará por ser um amigo solidário, ou dará porque o outro homem não desiste de
pedir.

O significado da Parábola do Amigo


Importuno
O ponto principal que expressa o significado da Parábola do Amigo Importuno
pode ser identificado entre os versículos 9 e 13. Veja:

E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e


abrir-se-vos-á;
Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem
bate abrir-se-lhe-á.
E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma
pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma
serpente?
Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos,
quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho
pedirem?
(Lucas 11:9-13)
A mensagem que se destaca nessa parábola é a seguinte: mesmo os homens, que
são maus, e geralmente precisam de alguma motivação para fazer o bem, oferece
ajuda a um amigo, ou dá boas dádivas aos filhos; o que esperar então do Pai
celestial, que é longânime, e cuja nobre motivação não pode ser questionada de
forma alguma? Certamente Ele responderá generosamente nossas petições.

Lições da Parábola do Amigo Importuno


A Parábola do Amigo Importuno nos ensina várias lições. Destacaremos algumas
delas aqui. Em primeiro lugar, a Parábola do Amigo Importuno nos motiva a pedir.
O versículo 9 mostra três exortações e três promessas que vão aumentando de
intensidade. Pedir subentende humildade, e um reconhecimento da necessidade.

O “pedir” em nossas orações também tem importância, pois pressupõe confiança


num Deus pessoal com quem podemos ter comunhão. Ao pedirmos, esperamos
uma reposta, e isso implica fé no Deus que pode nos responder. Ter esse tipo de fé
torna nossa oração fervorosa e pessoal. Diante da primeira exortação que é “pedir”,
temos a primeira promessa de que seremos ouvidos.

Em segundo lugar, a Parábola do Amigo Importuno nos motiva a buscar. Essa é a


segunda exortação. Buscar é “pedir + agir”, ou seja, é um pedido com ação. Isso
significa que nossa petição deve ser sincera e acompanhada de atitudes diligentes
que estão em harmonia com o que estamos pedindo.

Por exemplo: se alguém ora a Deus pedindo que Ele lhe conceda mais sabedoria no
entendimento da Bíblia, essa pessoa também deve constantemente examinar as
Escrituras (cf. João 5:39; Atos 17:11). Ela também deve frequentar a Escola Bíblica
Dominical e os cultos (cf. Hebreus 10:25). Além disso, ela deve viver de acordo com
a vontade de Deus (cf. Mateus 7:21, 24, 25; João 7:17). O crente é exortado a
buscar, e consequentemente ele recebe a promessa de que, ao buscar, ele
encontrará.

Em terceiro lugar, a Parábola do Amigo Importuno nos motiva a bater. Essa é a


ultima exortação da sequência “peça, busque e bata”. Bater é “pedir + agir +
perseverar”. Aqui há um convite à perseverança. Quando pedimos com sinceridade,
buscamos segundo a vontade de Deus, e batemos com perseverança, o resultado
será a última promessa: “a porta lhes será aberta”.
Em quarto lugar, a Parábola do Amigo Importuno ensina que para Deus nunca é
tarde da noite. Isso significa que não existe hora inapropriada para recorremos a
Ele. Nosso Pai celestial nunca é importunado quando um de seus filhos o procura, e
o melhor, Ele nunca é pego de surpresa.

Em quinto lugar, a Parábola do Amigo Importuno nos ensina que às vezes


recebemos algo diferente do que pedimos. Essa é uma lição que precisa ser
compreendida. As pessoas às vezes se queixam por Deus não lhes dar exatamente
o que pediram. Diante disso uma pergunta deve ser feita: será que pediram o
Espírito Santo e buscaram consolo na graça que Ele comunica; uma graça que é
suficiente para fazer com que nos alegremos mesmo em meio as nossas dores,
aflições e frustrações?

Em sexto lugar, a Parábola do Amigo Importuno nos ensina que Deus não é nosso
mordomo. Essa é outra lição muito importante. Infelizmente algumas pessoas
entendem essa parábola de forma completamente errada. Elas tentam colocar Deus
na posição de mordomo.

Essa parábola não dá base alguma para a defesa da tão famosa Teologia da
Prosperidade. Na Parábola do Amigo Importuno Jesus traz uma mensagem
conectada ao ensino de como orar corretamente (Lucas 11:1-4). Ele havia revelado
um modelo de oração (O Pai Nosso), e agora estava mostrando a importância da
perseverança na oração. É o mesmo ensino do apóstolo Paulo ao dizer: “orai sem
cessar” (1 Tessalonicenses 5:17).
Esse ensino de que Deus dará tudo o que alguém desejar ou determinar não pode
ser sustentado quando lemos o texto inteiro; principalmente quando consideramos
os primeiros versículos do capítulo. Perceba que, antes de Jesus dizer: “pedi, e dar-
se-vos-á, buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”, ele já havia dito: “seja feita a tua
vontade” e “dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano”.
A Bíblia certamente nos ensina que Deus ouve nossas petições, e conhece nossas
necessidades. Mas ela também ensina que a vontade soberana d’Ele sempre estará
acima dos nossos desejos e ansiedades. Podemos aprender a mesma lição em
Mateus 6:33 que diz: “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas
coisas vos serão acrescentadas”.
Se lermos o capítulo 6 de Mateus inteiro, saberemos que o “todas essas coisas” se
refere ao “nosso pão cotidiano”, ou seja, os elementos básicos para nossa
sobrevivência (Mateus 6:31). Ainda em Mateus, no capítulo 7 e versículo 11, temos
a mesma descrição que encontramos em Lucas 11:13. Veja:
Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos,
quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que
lhas pedirem?
(Mateus 7:11)
Usando a passagem de Lucas para nos ajudar a interpretar essa passagem de
Mateus, descobrimos que a expressão “boas coisas” é interpretada em Lucas
como “Espírito Santo”. As duas versões estão corretas e em perfeita harmonia, já
que sabemos que o Espírito Santo é a Fonte de tudo o que é bom em nossas vidas.
Definitivamente a Parábola do Amigo Importuno não transmite qualquer base para
um ensino contrário a Palavra de Deus como a Confissão Positiva ou qualquer ramo
da Teologia da Prosperidade

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