Material de Férias - RED
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criar este material com algumas coisas que com certeza irão ajudá-los a se sentirem produtivos sem,
contudo, atrapalhar o tão merecido (e necessário!) descanso. Tenham em mente que este material é
para ser lido com calma e de ponta a ponta. Aproveitem as sugestões que ele traz e escolham (o poder
da escolha é maravilhoso, não é?) aquilo que querem fazer: treinar redação a partir dos exemplos
transcritos? Ouvir podcasts? Ver filmes? Vocês é que vão dizer! De minha parte, só desejo que este
material ajude um pouquinho e encurte a distância entre nós todos. Ah, e claro: desejo que vocês
Gabrielle Zanardi
Julho de 2020
Por último (mas não menos importante!), é bom lembrar que nenhuma destas mídias é
obrigatória – todas as indicações são sugestões provenientes de uma curadoria pessoal, que eu, de forma
autônoma e gentil, compartilho. Lembrem-se que aquilo a que chamamos “repertório” serve para nos
ajudar a construir opiniões – que muitas vezes podem ser totalmente divergentes do que estamos
assistindo (já ouviram dizer que só conhecemos a luz porque sabemos que a escuridão existe? Pois é!).
Também fica um alerta: alguns deles apresentam conteúdo sensível (outros são produções
“hollywoodianas” e, portanto, mais “leves”), então, a dica é procurar a sinopse no Google antes de assistir,
pra conferir se é “seu estilo”, ok?
FILMES
• No recorte “Educação”, minhas indicações são:
“Quando sinto que já sei” (2014), “Pro dia nascer feliz”(2005), “Paulo Freire Contemporâneo”(2007), “A
Onda”(2008), “A sociedade dos poetas mortos”(1989), “Entre os muros da escola” (2008), “Preciosa”(2009), “O
sorriso de Monalisa”(2003), “Clube dos 5”(1985), “Capitão Fantástico” (2016), “Gênio Indomável”(1997)
“Entre os muros da escola” (2008), “Minhas tardes com Margueritte” (2010).
Baseada no livro homônimo, a série retrata um futuro distópico. Nele, as taxas de fertilidade caem em todo o mundo
por conta da poluição e de doenças sexualmente transmissíveis. Em meio ao caos, o governo totalitário da República
de Gileade domina o que um dia foi um território dos Estados Unidos, em meio a uma guerra civil ainda em curso. A
sociedade é organizada por líderes sedentos por poder ao longo de um regime novo, militarizado, hierárquico
e fanático, com novas castas sociais, nas quais as mulheres são brutalmente subjugadas e, por lei, não têm
permissão para trabalhar, possuir propriedades, controlar dinheiro ou até mesmo ler.
Adaptação cinematográfica da biografia da personalidade conhecida como “Madam C.J. Walker” uma mulher negra
americana que luta contra a pobreza e contra as adversidades da vida para se tornar uma empresária de sucesso.
• “Explicando” (2018)
Os episódios são independentes, alguns deles trazem assuntos lúdicos e levemente interessantes, mas alguns
trazem repertório efetivamente produtivo. É o caso do intitulado “A crise global da água” (19 minutos),
recomendadíssimo.
• “Black Mirror”(2011)
Também uma série cujos episódios não seguem uma sequência. Retratando distopias, “Black Mirror”
ironicamente expõe faces da sociedade, de forma extrema, com o intuito de chocar o telespectador e provocar
reflexões sobre os valores, crenças e escolhas da sociedade contemporânea.
• Xadrez Verbal
Panoramas dos principais acontecimentos no Brasil e no mundo (atualidades), apresentado pelo
historiador e idealizador do canal Nerdologia de História (no YouTube), Filipe Figueiredo.
• Dá ideia
Podcast específico para conversar sobre a redação no Enem, pode ser muito proveitoso para a
redação em geral – a cada semana, uma discussão sobre um tema possível e seus
desdobramentos.
Por fim, indico uma seleção de livros que eu, com muito cuidado, separei da minha estante (não
sei se eu já disse, mas nela ficam apenas aqueles que eu gosto muito!). Nem todos você vai
conseguir ler agora, enquanto vestibulando, mas tenho certeza de que cada um deles aqui listados
pode trazer uma grande contribuição para a sua formação individual, além de boas referências
para a redação. Será que algum deles vai te agradar? Depois me conta!
• 100 aforismos sobre o amor e a morte, Friedrich Nietzsche, Ed. Penguin & Cia das Letras
Reflexões curtas (que podem virar citações na redação) de Nietzsche sobre filosofia, moral,
literatura, sociedade, política e outros assuntos. Vale muito a pena! Nível de dificuldade da leitura:
fácil.
Dica de ouro:
a maioria desses livros você encontra na internet,
seja em “sebos” on-line, seja em domínio público.
Enfim, a tão esperada...
Notas:
I. Todos os autores tiveram seus nomes ocultados para evitar qualquer tipo de exposição.
II. Alterações, quando realizadas, o foram para fins de clareza: excluíram-se rasuras, desvios gramaticais extremos e
afins.
1) Tema: Direitos Humanos no Brasil (Aula 3)
Por fim, nota-se o papel fundamental dos Direitos Humanos na sociedade. São esses direitos que
possibilitam na essência um estado social existir em harmonia e completude. Se uma civilização é contra
os Direitos Humanos, ela está sendo contra si mesma, no final.
Legendas:
Introdução por viés histórico.
Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2.
D1 – Retoma a primeira parte da tese e constitui-se no modelo “Tópico frasal (TF) + expansão (explicação) do que o TF afirmou +
fechamento da ideia”.
D2 – Retoma a segunda parte da tese e constitui-se no modelo “Tópico frasal (TF) + expansão (explicação) do que o TF afirmou +
fechamento da ideia”.
Termo que abre a escrita, na contextualização, e é retomado na conclusão: mostra como a redação “não se perdeu”, mas seguiu
uma linha coerente de raciocínio.
Termos que estabelecem ligação (continuidade do raciocínio lógico) entre os parágrafos.
Caso você não se lembre, o modelo utilizado no desenvolvimento desta redação
que você acabou de ler é o que chamamos de ideal:
Observe que as redações aqui listadas utilizam este modelo – e com as variações
que cada autor escolhe. Uns optam por expandir o tópico frasal com exemplos,
outros com citações (repertório externo) e assim por diante. O importante é ter
em vista essa estrutura.
Tópico Frasal
Definição: a introdução do parágrafo, representada na maioria dos casos por um ou dois
períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo dele.
Importância: O tópico frasal garante objetividade, coerência e unidade ao parágrafo. Isso define
o propósito dele e evita digressões impertinentes.
O trabalho intelectual, segundo o sociólogo brasileiro Sergio Buarque de Holanda, em seu livro
“Raízes do Brasil”, tornou-se honroso, pois, enquanto o esforço braçal pode constituir a ocupação
semelhante a dos escravos, o mental está relacionado a de seus senhores. Dessa forma, embora a ótica
do pensador seja da primeira metade do século XX, ela se mostra bastante atual no que condiz à
valorização do diploma na sociedade: se há uma cultura na qual a produtividade impera, graduar-se em
uma universidade configura símbolo de prestígio. Como consequência disso, o indivíduo, imerso nesse TESE
contexto, acaba por desvalorizar o trabalho manual, resultando, como efeito colateral, em uma
invisibilidade social.
Em primeiro plano, quando tempo é dinheiro, ingressar em uma faculdade torna-se uma
TF
necessidade. De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, as instituições sociais – como mídia, Estado e
sistema econômico – influenciam o indivíduo desde o nascimento. Dessa forma, a produtividade é
construída como um valor e, inclusive, transforma-se em objetivo de vida: ao perguntar a uma pessoa o Expansão
que ela almeja ser, sua resposta é, na maioria das vezes, relacionada a uma profissão. Todavia, não é por
qualquer ofício aquele que é honroso, uma vez que os trabalhos essenciais são tomados como os que exemplo
influenciam, diretamente, na economia do país. Sendo assim, não é de se espantar que o diploma seja
valorizado: se as universidades garantem uma profissão de prestígio, deve-se almejá-las a todo custo.
Início do Consequentemente, dentro desse contexto, não apenas o trabalho manual é inferiorizado, mas por causa TF
fechamento disso, a invisibilidade social torna-se uma constante. Imerso, então, nessa sociedade produtiva, ao sujeito,
regulado pelo ponto batido e cobrado por metas, resta pouca vida, ação e reflexão que não se voltem à
produção – seja esta no mercado de trabalho ou seja ainda antes dele, como em um curso pré-vestibular.
Sendo assim, a identidade pessoal, entendida como as características próprias que distinguem um
elemento, é reduzida: se trabalhar é a máxima, é o trabalho, também, que qualifica o ser humano. Nesse
sentido, um médico, por exemplo, é tratado como um salvador, já um lixeiro transforma-se no próprio
lixo. Dessa forma, não é de se surpreender que muitas profissões sejam invisibilizadas: se aquilo com que
se trabalha determina o que se é, o trabalhador braçal, no geral, é desprezado.
“ ...na sociedade brasileira, marcada pela desigualdade social, aqueles que possuem acesso à saúde TESE
privada não conseguem ver a importância do SUS. Assim, a população como um todo se prejudica devido
a tal desvalorização.
Uma vez que classes sociais altas têm acesso a um bom sistema de saúde privado, entender o
SUS como supérfluo e desnecessário é comum. Isso porque vive-se em “bolhas sociais”, ou seja, a
TF
percepção da sociedade por um indivíduo é moldada principalmente pelo contexto em que se vive.
Se para os mais prósperos a saúde de que usufruem é decente, concluem equivocadamente que assim o
é para todas as pessoas. Porém, o poder de ação e reinvindicação está também as mãos dos mais ricos,
logo, como esses não atuam em prol de uma melhoria no SUS, o sucateamento da saúde pública é
iminente.
Início do Nesse sentido, porém, é importante destacar que, quando o Sistema Único de Saúde se torna
TF
fechamento precário, tanto ricos como pobres serão afetados. Esse efeito ocorre, pois, assim como dito pelo
sociólogo Émile Durkheim, a sociedade pode ser comparada a um organismo, ou seja, a condição dos
pobres afeta também os ricos, pois, se um dos órgãos colapsa, o organismo como um todo morre. Tal
fato pode ser observado na crise do coronavírus de 2020, em que pobres e ricos devem ser curados para
que a pandemia cesse – o que evidencia novamente a importância do SUS, que deverá garantir a vacina
quando esta for disponibilizada.”
Observe que, no trecho acima, o autor utiliza, no D1, apenas a explicação de seu tópico frasal – a
partir das coisas que ele sabe, por ter visão crítica. Em D2, no entanto, a expansão do tópico fica por conta
de uma citação (Durkheim) que é explicada na sequência, valendo-se de um exemplo da atualidade.
4) Tema: Medo (Ciclo 2)
O filósofo brasileiro Mario Sérgio Cortella, no seu livro “O Epitáfio”, aborda a figura do medo em uma
anedota filosófica: “O domador de elefantes”. Nela, o elefante mantém-se rendido ao domador mesmo
sendo mais forte – exposto ao medo desde pequeno, o animal acostumou-se a aceitar a ideia de oprimido
mesmo em situação de superioridade sobre o opressor. Semelhantemente, nos tempos atuais, muitos
Estados Modernos – como o brasileiro – usam o medo para “domar” a sociedade. Em um cenário de
subdesenvolvimento, o medo surge como ferramenta eficaz do Estado para preencher o mal serviço TESE
público ofertado. Consequentemente, a civilização absorve atentamente o medo e perde a capacidade de
ser autônoma.
Em consequência, a normalização do medo na sociedade acaba por tirar a autonomia dos indivíduos. TF
Os direitos fundamentais que asseguram o cidadão são minados aos poucos pela Estado, que ganha cada
vez mais poder. Evidencia-se tal ideia quando greves sociais são taxadas como inconstitucionais e
revidadas, pelo Estado, com violência policial – afoitando os grevistas que, por medo, abandonam o seu
direito de protestar. Dessa forma, a autonomia social deixa de existir – tal qual a liberdade do elefante
domado.
Por fim, o medo ganha na sociedade um papel de destaque – como uma ferramenta valiosa para
Estados subdesenvolvidos e como uma chaga latente para a civilização. Se a modernidade mantiver-se
nesse estado, a anedota filosófica de Cortella ganhará valor histórico no desenvolvimento da humanidade
contemporânea.
Mídia do espetáculo
No episódio “Urso Branco” da série televisiva distópica “Black Mirror”, o espectador acompanha a
perseguição de uma mulher por pessoas mascaradas. Além dos perseguidores, a protagonista encontra
diversas pessoas, sem máscaras, com celulares e câmeras, que gravam a cena toda sem responder às
perguntas e pedidos de ajuda dela. No fim do episódio, é revelado que toda a situação era um espetáculo,
uma tortura punitiva por crimes cometidos por ela, e um show de entretenimento para as pessoas
gravarem com os celulares. Embora seja uma obra de ficção, esse episódio reflete o fenômeno da
espetacularização, em que acontecimentos cotidianos são transformados em espetáculo. Tal fenômeno
decorre da busca da mídia por lucros e tem como consequência a exposição excessiva de vida das pessoas. TESE
Quando o lucro se torna o objetivo principal, a mídia transforma o cotidiano em um espetáculo. Isso se
TF
dá, pois, grande parte da receita dos meios de comunicação é resultado de anúncios e patrocínios que,
por sua vez, dependem da quantidade de usuários utilizando o meio. Para aumentar o ganho, a mídia
busca exibir tudo da forma mais extraordinária e espetacular possível, de forma a atrair audiência. Um
exemplo disso são os programas televisivos que acompanham operações policiais, transformando
violência em espetáculo, como em “Urso Branco”, e que apresentam as maiores audiências de algumas
emissoras. Assim, a espetacularização é uma ferramenta da mídia para obter lucro.
Consequentemente, se tudo pode ser convertido em uma exibição, a vida privada das pessoas também
TF
é utilizada com esse objetivo. Principalmente no caso de pessoas públicas – políticos, empresários,
artistas – a mídia tenta obter o máximo de informações novas para apresentar de forma espetacular,
ainda que, para isso, tenha que violar a privacidade de alguém. Por meio de câmeras escondidas,
gravadores de áudio e “paparazzis”, uma simples ida à praia pode se tornar notícia em revistas como a
“Caras”. Dessa forma, as pessoas passam a ter suas vidas privadas expostas em espetáculos.
Censura e alienação
Quando ideologias autoritárias ganham força, a censura torna-se uma ferramenta para o TF
estabelecimento dessas. Isso se dá, pois a liberdade de expressão e as produções culturais podem ser
usadas para se opor a movimentos como o nacionalismo e o neofascismo, crescentes no mundo inteiro,
inclusive no Brasil. Livros como “Os Sertões”, presente na lista de recolhimento, que fazem críticas a ideais
defendidos por grupos autoritários, dificultam o fortalecimento dessas ideologias. Assim, o ressurgimento
de pensamentos autoritários traz consigo a censura como uma forma de suprimir oposições.
Platão, em seu Mito da Caverna, propõe uma alegoria do que seria a dicotomia entre uma vida sob a
escravidão da ilusão e o esclarecimento emancipatório da informação. Em se tratando do modelo vigente de
sociedade, a filosofia platônica parece transcender os séculos, à medida que o cidadão contemporâneo vê-se
atrelado às correntes de um sistema educacional de caráter doutrinário, bem como é inconscientemente cooptado TESE
pela propaganda midiática, fatores os quais lhe impedem de pensar criticamente e destituem-no da liberdade de
escolha.
Uma vez esvaziados de pensamento crítico pelas próprias instituições de ensino, não raro a propaganda
dos veículos midiáticos exerce profunda influência nas decisões dos indivíduos. A presença sorrateira da TF
propaganda na mentalidade da população se faz novamente presente desde o regime nazista, em que a adesão
massiva do público à doutrina deu-se por meio de um coercitivo – e eficiente – mecanismo de autopromoção.
Consoantes às práticas totalitárias da publicidade nazista estão os meios de divulgação contemporâneos de
produtos: aproveitando-se da fragilidade das massas, isto é, da ausência de postura engajada, as ofertas da mídia
são encaradas como voz de comando para a compra. Em síntese, a alienação do público abre margem para que sua
escolha perante a compra seja articulada por um poderoso mercado propagandístico, o qual desvia os interesses
individuais para os seus próprios, e que se caracteriza como quem, de fato, livremente escolhe.
Decerto, o cidadão do século XXI permanece acorrentado à caverna de Platão, incapaz de enxergar a luz da
livre-escolha. Em suma, o modo pelo qual a informação é transmitida nas escolas desenvolve um exército de
cidadãos acríticos, e o uso da informação pela mídia, em benefício próprio, destitui, enfim, as massas populares da
liberdade de escolha.
As redes sociais, que hoje fazem parte da vida de mais de três bilhões de pessoas, impulsionaram não
somente a comunicação rápida e com grande alcance, mas também a discussão e o combate a preconceitos. Esse
último aspecto ganhou, nos últimos anos, uma nova faceta, conhecida como “cancelamento”: quando alguém faz
ou diz algo ofensivo ou preconceituoso, ele pode ser cancelado pelos outros usuários, recebendo críticas e até
boicotes, no caso de figuras públicas. No entanto, a cultura do cancelamento não é uma forma eficaz de eliminar o TESE
problema, pois as críticas geralmente são rasas e não se direcionam às causas, o que, consequentemente, não gera
conscientização.
Quando condena-se apenas o ato considerado impróprio, as críticas tendem a serem rasas. Isso se dá pois
o cancelamento, sendo realizado por meio das redes sociais, é construído basicamente de postagens e comentários
TF
curtos. Nessas mensagens, a maioria das pessoas prefere enfatizar, no pequeno espaço do texto, o erro da pessoa
cancelada, e não promover a discussão acerca das causas mais profundas que levaram a ele, como, por exemplo, o
racismo estrutural ou a desigualdade de gênero. Assim, o cancelamento tende a tecer reprovações muito simples,
apenas a uma ação específica, não tendo efeito duradouro.
Como consequência, se não há críticas efetivas, não gera-se conscientização sobre o preconceito. Como,
muitas vezes, o cancelamento é feito de forma muito veloz, com grande volume de mensagens, mas sem discussões TF
profundas, o efeito dele passa rápido. Um exemplo disso é o caso do Mc Gui, que foi cancelado após gravar um vídeo
ofensivo, mas após poucas semanas muitos já haviam esquecido, e o tema não foi mais discutido. Dessa forma,
muitas vezes, o cancelado não se conscientiza sobre o problema, apenas espera a comoção passar e evita se expor
novamente.
Diante dessa perspectiva, tem-se que a cultura do cancelamento pode não cumprir o objetivo de
conscientização, pois não ataca as causas dos preconceitos, não promove discussões profundas e não tem efeito
duradouro. Apenas quando o cancelamento deixar de ser pontual será possível combater efetivamente os
preconceitos.
No último texto, optei por fazer poucas marcações para que você, que a esta altura da leitura deve estar bastante
“craque” em identificação da estrutura ideal, identifique-as de maneira autônoma.
Meu desafio vai além: em apenas um dos textos eu destaquei a divisão do parágrafo de desenvolvimento (texto 6).
Ocorre que, em todos os outros 5 textos, a mesma coisa aparece. Te desafio a voltar a eles e identificar essa
estrutura, além de outros pontos que achar necessários.
Quando as férias acabarem, pretendo retomar alguns pontos que relembrei neste material – é, então, ainda mais
importante que você o tenha pelo menos lido uma vez.
Em seguida, deixarei 2 textos também acima da média, desta vez sem marcação alguma – apenas com a minha
avaliação de que são ótimos textos. Como tarefa, você vai identificar e classificar as estruturas, como eu fiz nos
demais.
Corrijo com vocês, em aula, quando voltarmos, os 2 textos a seguir! Bom treino!
3) Tema: Manipulação midiática (Aula 14 – tema implícito)
O protagonista de qualquer trama possui, via de regra, uma vida que, a cada dia, está repleta de
situações inusitadas. Na vida real, no entanto, as “aventuras do homem assalariado” transformam-se na
“rotina monótona do personagem secundário”. Dessa forma, como meio de tirar um ser humano qualquer
desse estilo de vida, aliado a uma necessidade de a notícia chegar rapidamente ao telespectador, os meios
de comunicação – sejam eles tradicionais ou não – manipulam a notícia de modo que ela deixe de ser
ordinária: recentemente, o jornalista Luiz Bacci caracterizou a vítima de um assassinato como “agiota” sem
nenhuma comprovação legal, apenas com base no testemunho de vizinhos, uma vez que a morte de um
homem comum, em meio a tantas outras, não geraria audiência. Se há, então, uma cultura que preza pela
competição, é natural que informações falsas sejam espalhadas. O indivíduo, imerso nesse contexto,
permanece inerte, pois, mesmo que ela deturpe a veracidade dos fatos, é esse tipo de notícia que traz
emoção para a sua vida de figurante.
Quando tempo é dinheiro, a verdade não é, necessariamente, aquilo que gera audiência. Por causa
do modelo neoliberal da economia, pautado no livre mercado e, portanto, na competição; ao sujeito,
regulado pelo ponto batido e cobrado por metas, resta pouca vida, ação e reflexão que não se voltem à
produção, resultando, então, num estilo de vida repetitivo. Assim, na disputa por audiência, vence aquele
que transmitir o conteúdo mais empolgante antes dos concorrentes. Nesse contexto, ações como as de
Bacci justificam-se, uma vez que a noticiação – ou maculação – das personagens na tela reduz-se apenas a
entretenimento.
Consequentemente, imerso nessa rotina, o herói de sua vida acaba por não ser o indivíduo, mas,
na verdade, a própria mídia. Diante disso, a identidade pessoal, entendida como as características próprias
que distinguem um elemento, é baseada na história familiar, nas crenças e em diversos outros fatores.
Entretanto, embora cada um possua seu próprio processo de individualização, na sociedade produtiva, o
sujeito nada mais é do que apenas mais um entre milhares, ou seja, um personagem secundário como
tantos outros. Nesse sentido, uma bandeira ucraniana tornar-se um símbolo neonazista, como ocorreu em
uma recente manifestação, é algo amplamente compartilhado, já que essa situação fora do comum tira o
sujeito da produtividade de seu hábito monótono.
Por fim, visto que a maior parte das pessoas pertence à categoria dos figurantes, cativará o público
o canal de comunicação que melhor os retirar de sua rotina. Dessa maneira, os fatos são modificados a fim
de que se resulte audiência. Por conseguinte, apesar de não ser o público que domine os acontecimentos,
é ele quem domina o que será transmitido, visto que há uma relação mútua entre mídia e telespectador.
Assim, enquanto as pessoas não foram protagonistas, reportagens falsas continuarão a serem transmitidas.
4) Tema: Disseminação da violência urbana no Brasil (Aula 7)
Durante o Renascimento Urbano na Baixa Idade Média, houve a expansão daquilo que hoje reconhecemos
como violência. A reestruturação da sociedade em centros comerciais alavancou uma nova classe social, os
burgueses, e isolou ainda mais os indivíduos distantes dessa nova rede de sustentação econômica – o que abriu
espaço para o roubo como único meio de sobrevivência. Similar na essência, o Brasil sofre com uma disseminação
contagiosa da violência na atualidade. Em um cenário de desigualdade, o individualismo fica cada vez mais vigente
e com isso características sociais que incitam a violência crescem exponencialmente.
De início, a empatia passa a inexistir entre os brasileiros. Análogo aos tempos medievais, a permanência e
manutenção de um sistema capitalista cada vez mais voraz acaba por estreitar a perspectiva dos indivíduos – nada
importa a não ser o seu sucesso devido ao seu dinheiro. Evidencia-se tal fato quando há no país o aumento das
favelas e o descaso do Estado com elas, ou quando o discurso “bandido bom é bandido morto” torna-se uníssono
na sociedade. Dessa forma, o índice de violência cresce muito e o Brasil moderno fantasia-se de um passado
medieval.
Consequentemente, fatores sociais que ratificam a violência permeiam-se e crescem. Esse individualismo
exacerbado permite que a falta de perspectiva entre os isolados da sociedade instale-se entre eles. A falta de
educação, emprego, salário digno e outros fatores acaba por incitar mais ainda a violência e o roubo como solução
para a sobrevivência. Um ser humano marginalizado em uma favela possui estatisticamente grandes chances de
acabar no tráfico de drogas e outros tipos de crime – de acordo com dados do IBGE, a maioria dos presos por
homicídio e roubo são negros e de periferia. Assim, sem o glamour das fantasias medievais, o indivíduo envolvido
na violência torna-se cada vez mais comum na sociedade brasileira.
Por fim, nota-se que a desigualdade social é um alicerce para a fundamentação de um individualismo que
permite o isolamento de classes sociais desfavorecidas. Isso incita a violência como mecanismo de sobrevivência e
instaura os tempos medievais no Brasil moderno.
Um grande abraço e meu desejo sincero de ótimas férias! Até a volta!