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COLETÂNEA DE EXERCÍCIOS
(Versão do aluno)
Rio de Janeiro
2010.1
Expediente
Coordenação do Projeto
Coordenações Pedagógicas
Coordenação da Disciplina
Organização da Coletânea
Rio de Janeiro
2010.1
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SUMÁRIO
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UNIDADE 1: A Linguagem jurídica e suas especificidades
Semana 1
Objetivos
Estrutura de conteúdos
Indicação de Leituras
FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.), PALADINO, Valquiria da Cunha et al. Argumentação jurídica:
teoria e prática. 3 ed. cap. 1. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2008. Capítulo 1- “A linguagem e o
discurso jurídico à luz do século XXI”.
"Antigamente". In ANDRADE, Carlos Drummond de. Quadrante (1962). São Paulo: José Olympio,
2000. Disponível em: http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond07.htm.
Bibliografia do aluno
A linguagem e o discurso jurídico à luz do século XXI. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri, PALADINO,
Valquiria da Cunha (Orgs.) et al. Argumentação jurídica: teoria e prática. 3 ed. cap. 1. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 2008, cap. 1, p. 1 - 8.
FULLER, Lon L. O caso dos exploradores de caverna. Porto Alegre: Fabris (dentre outras), 2003.
Disponível em: http://www.ucb.br/relinter/download/lon_l._fuller_-__o_caso_dos_exploradores_
de _ cavernas. pdf
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Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Texto I
Questão 1
Questão 2
Texto II
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UNIDADE 1: A Linguagem jurídica e suas especificidades
Semana 2
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicação de Leitura
Modalizadores. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.) et al. Interpretação e produção de textos
aplicados ao Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008, cap.V, p.43 - 54.
Bibliografia do aluno
TELLES, Lygia Fagundes. Missa do Galo. In: Missa do Galo: variações sobre o mesmo tema. Machado
de Assis, Osman Lins, Antonio Callado, Lygia Fagundes Telles, dentre outros. São Paulo: José Olympio,
2008.
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Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Questão 1
Faça análise da modalização apresentada neste fragmento, extraído de uma sentença civil,
que traz como situação de conflito o fato de o juiz exigir que os funcionários que trabalham no
condomínio do prédio em que mora o chamem de Doutor:
[...]
Está claro que não quer, nem nunca quis o autor, impor medo de
autoridade, ou que lhe dediquem cumprimento laudatório, posto que é homem de notada grandeza
e virtude. Entretanto, entendo que não lhe assiste razão jurídica na pretensão deduzida. “Doutor"
não é forma de tratamento, e sim título acadêmico utilizado apenas quando se apresenta tese a uma
banca e esta a julga merecedora de um doutoramento. Emprega-se apenas às pessoas que tenham
tal grau, e mesmo assim no meio universitário. Constitui-se mera tradição referir-se a outras pessoas
de "doutor", sem o ser, e fora do meio acadêmico”.
Questão 2
Uma leitura eficiente deve captar tanto as informações explícitas quanto as implícitas,
portanto, um bom leitor deve ser capaz de ler nas entrelinhas, pois, se não o fizer, deixará escapar
significados importantes, ou pior ainda, concordará com ideias ou pontos de vista que rejeitaria se
percebesse. Assim, para ser um bom produtor de texto, é necessário que o emissor seja capaz de
utilizar os recursos disponíveis na língua a serviço da argumentação.
Com base nas noções de modalização apreendidas acima, assinale a alternativa que
corresponda aos sentidos enunciados pelo advérbio até.
a) O guarda pediu-lhe que voltasse até a faixa amarela e depositasse todo o seu material na
caixinha à esquerda: um celular e um molho de chaves. Assim o fez, mas, como estava vindo
de um dia inteiro caminhando sob um calor escaldante, sua aparência não era das melhores.
b) Leandro Gobatto é jogador profissional de futebol. Tem 23 anos e atuou defendendo os
clubes do Corinthians – SP, Nacional – SP, Cruzeiro – MG, Grêmio – RS e Juventus – SP.
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Chegou a servir a seleção brasileira sub-17 e sub-20, sem, entretanto, conseguir até agora
um grande destaque no mundo futebolístico.
c) Procon de São Paulo: aviso impresso aos consumidores - “Navegar pela Internet pode ser
uma experiência realmente interessante, mas requer cuidados! O acesso a alguns sites
(eróticos e de jogos, principalmente) pode fazer com que seu computador, até sem que você
perceba, seja desconectado do provedor local, reconectando-o automaticamente a outro
provedor, no exterior, gerando, assim, a cobrança de ligações internacionais ! ”
d) Art. 477, do Código Civil de 2002: Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das
partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar
duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe
incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.
e) O advogado Paulo Dallari disse que "a empresa concessionária do serviço público de
transporte deve procurar meios de dificultar fatos dessa natureza, até por sua
previsibilidade, pois a imprensa noticia todos os dias fatos similares, sendo notório que a
cidade de São Paulo - lamentavelmente - é uma das mais violentas do mundo, com alto
índice de homicídios e assaltos à mão armada".
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UNIDADE 1: A Linguagem jurídica e suas especificidades
Semana 3
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicação de leitura
Teoria da Argumentação como metodologia jurídica, segundo Perelman. In: FETZNER, Néli Luiza
Cavalieri, PALADINO, Valquiria da Cunha (Orgs.) et al. Argumentação jurídica: teoria e prática. 3 ed.
Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2008, cap. 7, p.155.
Bibliografia do aluno
Filme Tempo de matar. A Time to Kill (USA-1996) Direção: Joel Schumacher. Elenco: Matthew
McConaughey (Jake Tyler Brigance), Sandra Bullock (Ellen Roark) e Samuel L. Jackson (Carl Lee
Hailey). Drama. 149 minutos
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Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Texto I
Questão 1
Texto II
Que parte nossa busca a verdade? Nossa mente ou nosso coração? Eu quis provar que um
negro podia ser julgado com justiça no Sul... que somos todos iguais aos olhos da lei. Não é
verdade, porque os olhos da lei são humanos. Os de vocês e os meus. E até podemos nos ver
como iguais, mas a Justiça nunca será imparcial. Ela continuará sendo um reflexo de nossos
preconceitos. Até lá, temos o dever, perante Deus, de buscar a verdade. Não com nossos
olhos, com nossas mentes, porque o medo e o ódio fazem surgir o preconceito do convívio,
mas com nossos corações, onde a razão não manda [...].
Questão 2
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UNIDADE 1: A Linguagem jurídica e suas especificidades
Semana 4
Objetivos
Estrutura de conteúdo
− Parágrafo-padrão
− Estrutura do parágrafo-padrão
− Esquema redacional sobre desenvolvimento do parágrafo-padrão
− O tópico frasal e os tipos de desenvolvimento do parágrafo: tempo e espaço; enumeração;
contraste; causa e consequência; explicitação
− A importância do encadeamento dos parágrafos na estruturação do texto para a obtenção da
coesão e da coerência textual
Indicação de leitura
Bibliografia do aluno
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Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Questão 1
c) Embora a vida real não seja um jogo, mas algo muito sério, o xadrez pode ilustrar o fato de
que, numa relação entre pais e filhos, não se pode planejar mais que uns poucos lances
adiante. No xadrez, cada jogada depende da resposta à anterior, pois o jogador não pode
seguir seus planos sem considerar os contra-ataques do adversário, senão será prontamente
abatido. O mesmo acontecerá com um pai que tentar seguir um plano preconcebido, sem
adaptar sua forma de agir às respostas do filho, sem reavaliar as constantes mudanças da
situação geral, à medida que se apresentam. (Bruno Betelhem, adaptado)
Questão 2
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A. Entretanto ressalta-se que juízes e tribunais com essa configuração, ou seja, real e
efetivamente independentes, somente existem nos países em que vigora o Estado
Democrático de Direito.
a) A, C, D, E, B
b) B, D, C, E, A
c) C, B, E, A, D
d) D, A, B, C, E
e) B, E, C, D, A
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UNIDADE 2 – A estrutura da narrativa jurídica
Semana 5
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicação de leitura
Gênero e Tipologia Textuais. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.); VALVERDE, Alda; TAVARES,
Nelson. Interpretação e produção de textos aplicados ao direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008,
cap.III, p. 25 - 42.
Questão-problema
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Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Texto I
Entre os tantos capítulos de Memórias Póstumas, o de número quarenta e cinco é o que tem
chamado mais a atenção. Machado de Assis intitula-o “Notas”. O defunto narrador do romance, Brás
Cubas, nesse entrecho de um só parágrafo com pouco mais de dez linhas, expõe referências do que
redigiria se levasse a cabo o desenvolvimento, nos padrões convencionais, da passagem
desalentadora que retrataria o velório de seu pai. Observe como é original o capítulo XLV das
Memórias Póstumas, onde Brás Cubas fala do enterro de seu pai:
Soluços, lágrimas, casa arrumada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o
cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, tocheiros, convites, convidados
que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos
sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões de água benta, o fechar do caixão, a
prego e martelo, seis pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela
escada, não obstante os gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão até o coche
fúnebre, e o colocam em cima e trespassam e apertam as correias, o rodar do coche, o rodar
dos carros, um a um... Isto que parece um simples inventário, eram notas que eu havia
tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.
Questão 1
Texto I
Aos 100 anos, a Avenida Paulista permanece uma janela aberta para a modernidade.
Seus 2,5 km de extensão (ou 3818 passos) são percorridos diariamente por 1 milhão de
pessoas, em sua maioria mulheres, como revela pesquisa da companhia que mantém o metrô
correndo sob seu asfalto.
A Paulista fala 12 línguas, em 18 consulados ali instalados. Ao lado de poucos casarões do
passado, ela abriga edifícios "inteligentes" e torres de rádio e TV iluminadas como um marco
futurista.
Folha de São Paulo
Texto II
No âmbito da cultura brasileira, a Rua e a Casa ocupam lugares nitidamente distintos, que,
por sua vez, condicionam comportamentos francamente diferenciados: o que se faz na Rua não se
faz em Casa e vice-versa.
Se a Casa é o espaço do aconchego e da proteção, a Rua é o do desamparo e do
abandono."Sentir-se em casa e uma expressão da nossa língua que significa "estar à vontade",
"sentir-se abrigado, protegido"; ao contrário, "ir para o olho da rua" denota "desamparo social,
exposição ao risco, solidão".
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A Rua é o espaço da transgressão, onde vivem os malandros e marginais; é o território do
salve-se-quem-puder, onde prevalece a lei do cada um por si. Domínio do anonimato e da
despersonalização, é na Rua que um cidadão de bem pode ser molestado por autoridades de
segurança pública e tratado como um criminoso.
A casa e a rua, do antropólogo Roberto da Mata
Texto III
No início do século, a Paulista era a Avenida mais espaçosa da cidade, com três pistas
separadas para bondes, carruagens e cavaleiros. Era a mais bela, com quatro fileiras de magnólias e
plátanos. Era um fim de mundo, no final da Ladeira da Consolação. Lá residiam os imigrantes recém-
enriquecidos: Martinelli, Crespi, Matarazzo, Riskallah, Von Bullow. Após isso, aí pelos anos 50 e 60, o
acelerado processo de urbanização da cidade varreu dali os 24 casarões, como o que ocupava o nº 46
da Avenida. No seu lugar, surgiram prédios, alguns deles enquadrados entre os mais modernos do
mundo, como o Citibank e o Banco Sudameris.
Já completamente ladeada de prédios de porte, foi a recente inauguração do metrô que lhe
conferiu novo charme.
Com todos esses antecedentes, ela é hoje, apesar das contradições, a Avenida mais moderna,
mais dinâmica, mais nervosa da cidade, eleita pelos próprios moradores como o mais fiel retrato de
São Paulo.
Folha de São Paulo
Questão 2
Leia os três textos dados acima com atenção e classifique-os segundo a tipologia textual
(narração, descrição e dissertação/argumentação) e, em seguida, assinale a alternativa correta;
respeitando a ordem textual apresentada:
Questão 3
d) Como não há ocorrência anterior a outra, a ordem dos enunciados pode ser alterada sem
interferência no sentido básico do texto.
e) Em um dado momento, o texto deixa de ser descritivo e passa a ser narrativo, já que relatar
mudanças de estado constitui a característica essencial do texto narrativo.
I.
II. O olhar que capta tantas imagens, o olhar que se
depara com as múltiplas telas da mídia — telas-
painéis, telas-letreiros, telas-televisores, telas-
games, telas-monitores — esse olhar educado
pela e para a velocidade, saberá ainda deter-se?
Saberá fechar-se, para deixar refletir? Algum
antigo já disse: “Os olhos são o espelho da alma”.
Serão ainda? Ou converteram-se em espelhos
famintos das imagens velozes do mundo —
imagens que imaginavam devorar, mas que talvez
os devorem?
(Celso de Oliveira)
III. Nos dias de neblina intensa é muito difícil perceber se faz mau tempo.
(Millôr Fernandes)
de fato é restrito,
Verifique que os textos e a foto podem ser relacionados em função de um mesmo tema: O
olhar.
Questão 4
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UNIDADE 2 – A estrutura da narrativa jurídica
Semana 6
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicações de leitura
Metodologia do Relatório Jurídico. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri; PALADINO, Valquiria (Orgs.) et
al. Argumentação jurídica: teoria e prática. 3 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2008, cap. 2, p.18 -
21.
Narrativa Jurídica Simples e Narrativa Jurídica Valorada. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.);
VALVERDE, Alda; TAVARES, Nelson. Interpretação e produção de textos aplicados ao direito. Rio de
Janeiro: Forense, 2008, cap. IV, p.37 - 42.
Bibliografia do aluno
RELATÓRIO
A Empresa Energisa Minas Gerais S/A foi acusada por Raul Amaral de Medeiros, técnico de som de
Patrocínio de Muriaé, na Zona da Mata Mineira, de, no dia 18 de agosto de 2007 haver causado estragos em
sua aparelhagem como conseqüência de uma sobrecarga de energia.
O técnico de som contou que foi contratado para fazer a sonorização da 3ª Festa do Café na
comunidade de Queirozes, Município de Eugenópolis, em 18 e 19 de agosto de 2007. Ao chegar ao
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local na véspera do evento, já encontrou o palco montado e as instalações elétricas preparadas para
que os equipamentos fossem ligados, instalou cada aparelho na voltagem correspondente. No dia
18, durante um show, o palco começou a se encher de fumaça pelo início de um incêndio que
danificou seis amplificadores e dois alto-falantes de propriedade do técnico de som. Contido o
incêndio e ao ver que sua aparelhagem estava danificada, Raul comunicou ao público que não seria
possível prosseguir com a sonorização do evento. Essa declaração desagradou a plateia, que,
segundo o técnico, começou a dizer que seus equipamentos eram de má qualidade. Tentando dar
continuidade à festa, ele dirigiu-se à sua casa, onde possuía equipamentos sobressalentes, trouxe-os
e os instalou.
Em 24 de agosto de 2009, entrou em contato com a Energisa, antiga Companhia Força e Luz
Cataguases, e foi orientado a fazer um orçamento do conserto dos seus aparelhos. Providenciado o
orçamento e um laudo técnico, a empresa pediu um prazo de 15 dias para dar uma resposta. Depois
de vários dias, o técnico foi informado de que a empresa não ia arcar com as despesas, pois não
havia outro caso de queima de aparelhos elétricos naquele local.
Raul ficou sem poder trabalhar por mais de 80 dias por falta de equipamento. O técnico
declarou que, por conta do ocorrido ficou desacreditado e passou a escutar comentários maldosos.
A Energisa chamou o ocorrido de “meros dissabores”, discordou do efeito negativo da
situação sobre a imagem profissional do técnico e negou a informação de que a voltagem excessiva
teria provocado a falha da aparelhagem de som; disse que o defeito do equipamento de som não
prejudicou o prosseguimento da festa e afirmou que Raul não observou os procedimentos de
segurança e nem utilizou os dispositivos de proteção contra surtos (aterramento e
equipotencialização local).
É O RELATÓRIO.
Parte Prática
Texto I
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- Eles (os veteranos) jogavam tinta nos novatos. Até aí, não parecia tão anormal assim.
Entretanto todos começamos a sentir que ardia muito. Logo depois, surgiram manchas e vimos que
havia algum produto químico misturado na tinta. Houve muito pânico - disse a universitária, que
chegou a ser internada depois de sofrer lesões nos ombros e nos braços.
O reitor da UFVJM, Pedro Ângelo de Abreu, assegura que as vítimas receberão atendimento
clínico e psicológico. Ele afirma, ainda, que uma comissão interna de inquérito vai apurar os fatos.
- O Conselho Universitário criou um colegiado para investigar o que houve e avaliar as
punições, que podem chegar à expulsão. Todos os fatos serão averiguados, apesar de que o trote
não aconteceu dentro da universidade. Estamos colaborando inteiramente com a investigação
policial - afirmou o reitor.
Ontem, centenas de estudantes fizeram um protesto pelas ruas de Diamantina contra a
violência em trotes universitários.
- Infelizmente, existem essas práticas constrangedoras. Em Diamantina elas voltaram a
acontecer. Trotes violentos mostram que, no meio estudantil da UFVJM, importante Universidade
para a região, ainda há muitos alunos desajustados e despreparados para a convivência acadêmica -
ressaltou o delegado Mota Matos. O trote aconteceu no dia 4, durante uma festa, no centro
histórico de Diamantina.
(O GLOBO, BH, 15 de agosto de 2008)
Questão 1
Texto II
“Meu avô tinha deixado para minha avó uma casa em Atibaia. ‘Tinha deixado’ porque meu avô
morreu, isso já faz bem uns quinze anos. Mais um pouco, talvez. Sei que minha avó herdou tudo do
velho, inclusive essa casa de que estou falando. Bem, a velha ficou morando lá depois da morte do
marido, e não demorou mais do que oito ou dez meses (quem sabe um ano?), para que ela fosse
encontrar com o vovô, , lá no andar de cima. Saudades, você sabe. Foi aí que minha mãe contratou
advogado, para saber dos bens da mãe dela.
Eu sei que foi feito tudo nos conformes, e a minha mãe agora é dona legítima da casa de Atibaia. A
irmã dela, minha tia, aceitou ficar com um apartamento meio espremido, em um prédio velho lá no
Bom Retiro. É trouxa a titia, a casa de Atibaia é tão melhor, mais longe, tudo bem, mas com três
quartos, uma cozinha novinha que ela comprou junto comigo, eu fui com ela, colocamos uma
cozinha novinha, daquelas chiques, encomendadas na loja da Avenida Ibirapuera.
Do apartamento do Bom Retiro ninguém cuidava, também pudera, já foi comprado caindo os
pedaços. Mas acontece que naquela casa de Atibaia, como ninguém foi morar lá, mamãe colocou um
caseiro. No começo, bom menino, ele e a esposa e um filhinho. Eu joguei muita bola com o Jefferson,
filho dele, hoje grandalhão o desgraçado, foi criado com leite Ninho à custa do dinheiro que deveria
ser meu.
Entretanto, o pai dele, seu Assis (deve ser Francisco de Assis), diz que não vai sair de lá não. Diz que
está lá há mais de dez anos e ninguém foi ver o imóvel, o que é mentira, eu bem lhe disse que eu
jogava com o Jefferson, faz no máximo sete anos, e era no campo de futebol no quintal, eu e meu
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irmão plantamos grama nele. No campo, não no Jefferson. Bom, mas eles não querem sair de lá,
alegando que a casa agora é deles. Meu pai pagava o salário deles todos os meses, depois parou,
ficamos meio sem dinheiro, mas pagamos todos os impostos. Acho que o fato de não termos
dinheiro não justifica ele querer ficar com a casa. Na verdade, o vizinho diz que ele usa a casa para
fazer uns cultos estranhos e incorpora uns espíritos do Além. No entanto, isso não importa: eu quero
tirar todos eles da casa porque eu vou morar lá, eu e minha futura esposa, eu me caso no mês que
vem e não posso adiar o casamento. O doutor sabe, essas coisas precisam ser rápidas, me precipitei
e... Esquece, tem como me ajudar? Eu já disse que estou meio desprevenido”.
Questão 2
Produza um Relatório Informativo acerca do texto II, e faça uso não só da paráfrase, mas
também do padrão culto da língua.
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UNIDADE 2 – A estrutura da narrativa jurídica
Semana 7
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicação de leitura
Narrativa Jurídica Simples e Narrativa Jurídica Valorada. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.);
VALVERDE, Alda; TAVARES, Nelson. Interpretação e produção de textos aplicados ao direito. Rio de
Janeiro: Forense, 2008, cap. IV, p.37 - 42.
Bibliografia do aluno
Narrativa Jurídica Simples e Narrativa Jurídica Valorada. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.);
VALVERDE, Alda; TAVARES, Nelson. Interpretação e produção de textos aplicados ao direito. Rio de
Janeiro: Forense, 2008, cap. IV, p.37 - 42.
Assistir ao filme Vidas Secas (1963). RAMOS,Graciliano.Roteiro e Direção de Nélson Pereira dos
Santos. Elenco: Átila Iório, Maria Ribeiro e Jofre Soares. Família de retirantes, Fabiano, Sinhá Vitória,
o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia, pressionados pela seca, atravessam o
sertão em busca de meios de sobrevivência. Gênero: Drama. Duração: 103 min.
Assistir ao filme Morte e Vida Severina (Brasil, 1977) Gênero: Drama. Diretor Zelito Viana. Duração:
85 min. Colorido. Retirante nordestino atravessa o agreste e a zona da mata fugindo da seca e
esperando encontrar em Recife uma vida melhor. Adaptação do poema de João Cabral de Melo
Neto, musicado por Chico Buarque de Holanda.
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Modelo de narrativa jurídica valorada
A Empresa Energisa Minas Gerais S/A foi acusada por Raul Amaral de Medeiros, técnico de som de
Patrocínio de Muriaé, na Zona da Mata Mineira, de , no dia 18 de agosto de 2007 haver causado sérios
estragos em sua aparelhagem como conseqüência de uma sobrecarga de energia
O técnico de som contou que foi contratado para fazer a sonorização da 3ª Festa do Café na
comunidade de Queirozes, município de Eugenópolis, em 18 e 19 de agosto de 2007. Ao chegar ao
local na véspera do evento, como já encontrou o palco montado e as instalações elétricas preparadas
para que os equipamentos fossem ligados, instalou cada aparelho na voltagem correspondente. No
dia 18, durante um show, o palco começou subitamente a se encher de fumaça pelo início de um
incêndio que danificou seis amplificadores e dois alto-falantes de propriedade do técnico de som.
Contido o incêndio e ao ver que sua aparelhagem estava danificada, Raul comunicou ao público que
seria impossível prosseguir com a sonorização do evento. A paralisação do show provocou irritação
na plateia, que, segundo o técnico, começou a criticá-lo dizendo que seus equipamentos eram de
má qualidade. Tentando dar continuidade à festa, ele dirigiu-se à sua casa, onde possuía
equipamentos sobressalentes, trouxe-os e os instalou. Mesmo assim, a reação do público e dos
produtores do evento acabou colocando em xeque a credibilidade dos serviços prestados.
Em 24 de agosto de 2009, entrou em contato com a Energisa, antiga Companhia Força e Luz
Cataguases, e foi orientado a fazer um orçamento do conserto dos seus aparelhos. Contudo,
providenciado o orçamento e um laudo técnico, a empresa pediu um prazo de 15 dias para dar uma
resposta. Depois de vários dias, o técnico foi informado de que a Energisa questionava o laudo
técnico e não ia arcar com as despesas, pois não havia outro caso de queima de aparelhos elétricos
naquele local.
Raul ficou indignado com a empresa, pois ficou impedido de trabalhar por mais de 80dias
por falta de equipamento. O técnico declarou que, além do prejuízo financeiro, por conta do
ocorrido ficou desacreditado e passou a escutar comentários desabonadores.
A Energisa, qualificando as consequências do prejuízo de Raul como “meros dissabores”,
classificou como improcedente o efeito negativo da situação sobre a imagem profissional do técnico,
minimizou o impacto do defeito do equipamento de som no prosseguimento da festa e contestou a
informação de que a voltagem excessiva teria provocado a falha da aparelhagem de som, insistindo
que Raul não observou devidamente os procedimentos de segurança necessários e nem utilizou os
dispositivos de proteção contra surtos (aterramento e equipotencialização local).
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Aplicação prática e teórica
Parte prática
Texto I
Texto II:
No auto de Natal pernambucano “Morte e Vida Severina” (1954 e 1955), João Cabral de Melo
Neto narra a história de Severino, um retirante nordestino, um sem-nome que representa todos os
iguais a ele e, durante as 12 primeiras cenas, descreve sua peregrinação que segue do rio Capibaribe,
fugindo da morte e a encontra em todo lugar, chegando a perder suas esperanças de continuar sua
luta pela vida:
[...]
MELO NETO, João Cabral de Melo Neto - Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar S.A. 1994, pág. 171.
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Questão 1
Instruções:
O texto deverá ter no mínimo 20 (vinte) linhas escritas, com formas verbais na terceira
pessoa do singular.
Questão 2
A partir do texto II abaixo, produza uma narrativa jurídica valorada, sem se esquecer de
observar a polifonia e de responder aos elementos constitutivos desse tipo de texto
Texto II
Às 19h45, desta sexta-feira, 23/06/2000, o juiz da Vara Criminal de Planaltina (DF), Ademar
Silva de Vasconcelos, concedeu liberdade provisória ao lavrador Josias Francisco dos Anjos, 58 anos,
preso em flagrante, em Cuiabá, Mato Grosso, na última segunda-feira, 19/06/2000, quando raspava
a casca de uma árvore para fazer chá para sua mulher, que sofre de doença de Chagas.
Para justificar sua decisão, o juiz afirmou que várias pessoas em Planaltina extraem casca da
árvore para fazer incenso."Tenho optado por pena alternativa, suspendendo o processo por dois
anos e determinando o plantio de cem mudas da espécie, que é rara no cerrado", disse.
Por dois anos, o lavrador raspou a casca de uma árvore chamada almesca, em uma área de
preservação ambiental que fica às margens do córrego Pindaíba, em Planaltina (a 44 km de Brasília).
Anjos contou que passou a fazer isso quando soube que o chá de almesca melhorava as
condições de pessoas portadoras da doença de Chagas, como sua mulher, Erotildes Guimarães.
Na segunda-feira, quando repetia o ritual que realizava há dois anos, o lavrador foi
surpreendido com um tiro para o alto dado por soldados da Polícia Florestal. Foi preso em flagrante
delito, algemado, levado para a delegacia e enquadrado na Lei do Meio Ambiente.
O delegado Ivanilson Severino de Melo afirmou que Anjos causou "danos diretos ao
patrimônio ambiental", crime previsto no artigo 40 da lei ambiental. O delito é considerado
inafiançável. A punição é a prisão de um a cinco anos.
O lavrador foi colocado numa cela com outros cinco presos, acusados de homicídio e roubo.
Hoje, durante entrevista autorizada pela polícia, Anjos, demonstrando constrangimento, disse que
nunca roubou nada. "Eu não sei ler, nem escrever", afirmou. "Cá na minha ignorância, eu não sabia
que era crime tirar raspa de árvore, que foi Deus quem fez, para dar chá à minha mulher", declarou o
lavrador.
O ministro Sarney Filho foi visitar o preso e prestar-lhe solidariedade. Esteve na CPE
(Coordenação de Polícia Especializada) hoje à tarde e mandou, depois, uma equipe do Ibama
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(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para estudar providências
jurídicas a favor de Anjos. "No Brasil, ladrão de galinha vai preso, mas os grandes criminosos do
colarinho branco estão soltos", disse o ministro.
Os ambientalistas também protestaram. Dessa vez, a favor do acusado. "A gente tem coisa
muito mais relevante como as madeireiras dilapidando o patrimônio ambiental dentro de áreas
indígenas", disse Délcio Rodrigues do Greenpeace. Segundo ele, o governo admite que 70% da
madeira removida da Amazônia é retirada de forma ilegal. Rodrigues acredita que é preciso informar
às pessoas que raspam cascas de árvores que não o façam circundando todo o tronco, porque pode
matar a planta. "Essa prisão é um absurdo", disse André Lima, assessor jurídico do ISA. Em sua
opinião, deveria haver multa, levando-se em conta a situação financeira do acusado de cometer o
crime. "Se não houver nenhum tipo de punição, pode haver efeito multiplicador que danificaria o
ecossistema."
27
UNIDADE 2 – A estrutura da narrativa jurídica
Semana 8
A polifonia e a narrativa jurídica
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicação de leitura
A polifonia na narrativa jurídica. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.); VALVERDE, Alda; TAVARES,
Nelson. Interpretação e produção de textos aplicados ao direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008, cap.
VI, p. 55-63
Bibliografia do aluno
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. A cartomante. In: Várias Histórias e In: Contos: uma Antologia.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. (ou CD literário).
Disponível em http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp
Filmes em DVDs:
28
Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Texto I
Edson conheceu Guaraciara em 1994. Ele tinha acabado de se separar da primeira mulher,
com quem tem sete filhos. Ela era a vizinha nova, que chegou ao morro com três filhos. Os dois se
apaixonaram. Tudo ia bem, segundo Edson, até o carnaval de 1999. ”Ela colocou um shortinho
provocante para ir ao Sambódromo. Não gostei, mas ela disse que era carnaval e fomos”, contou
Edson ao Juiz José Geraldo Antonio. No sambódromo, a situação piorou. “Ela se comportou mal
comigo, só ficava com as amigas”, prosseguiu Edson. Os dois discutiram e ele saiu de casa. Quinze
dias depois voltaram a morar juntos. “Entretanto, ela estava meio esquisita comigo. Não deixava eu
fazer carinho, dizia que eu tinha outra mulher e, ainda, falava que todo mundo sempre tem outra
pessoa”.
A tensão chegou ao auge no domingo, 7 de março de 2002. Depois de trabalhar o dia inteiro
na oficina, ele voltou para casa levando cervejas. Tentou novamente se aproximar da mulher. Ela o
recusou. Os dois discutiram, um empurrou o outro e, segundo Edson, que mede cerca de 1,80 metro,
ela, de 1,58 metro, foi para a cozinha e voltou ao quarto trazendo uma faca. “Ela tentou me acertar,
eu me defendi com o braço, nos enrolamos, caímos na cama e quando eu vi a faca estava no peito
dela”, contou Edson. Depois, “sem controle” ele ainda deu mais três facadas na mulher e passou a se
esfaquear “porque queria morrer também”.
A amiga de Guaraciara, Regina Santos, que dormia na sala sem Edson saber, contou que
ouviu a amiga gritar por socorro, entrou no quarto e viu Edson de joelhos sobre as pernas da mulher
ainda dando facadas. Segundo Regina, ele correu atrás dela, enquanto Guaraciara se arrastava até a
porta, Edson continuou a se esfaquear na rua, pedindo que alguém o matasse até cair no chão e ser
socorrido. Ficou quatro dias internado no Hospital Souza Aguiar. Guaraciara chegou morta no
Hospital do Andaraí.
Na sua defesa, Nilo Batista argumentou que Edson matou a mulher por legítima defesa, sob
violenta emoção. Nilo fez várias citações da peça de Shakeaspeare. Começou repetindo Iago, o vilão
que convence Otelo de que Desdêmona o traía. “O ciúme é um monstro de olhos verdes que se
escarnece do próprio pasto em que se alimenta”, recitou Nilo. E para provar que Edson tinha
obsessão de acompanhá-la na morte, recorreu às falas de Otelo: “Mato-me para morrer sobre teu
beijo[...]. Açoita-me, diabo, para longe desta visão celestial”.
A promotora Gloria Márcia Percinoto começou argumentando que não era mais aceitável
que uma mulher fosse morta por recusar os carinhos do marido. Recusou a tese de legítima defesa;
mas, no final do julgamento, já admitia que Edson recebesse uma pena leve. Nilo Batista ponderou
que Edson já tinha recebido a sua pena. “Deus o puniu com a vida. Edson é um infeliz. Ele leva
consigo seu próprio algoz” Os argumentos funcionaram. Edson saiu a pé do Tribunal junto com três
amigos. Sua pena foi mais branda do que a da babá Adriana Flores, flagrada por uma câmara de
televisão, batendo no rosto de uma criança de dois anos. Adriana foi condenada a quatro anos de
prisão em regime fechado por crime de tortura. “Edson não merecia ir preso. Não é um perigo para a
sociedade. Quatro anos em regime aberto é uma pena justa”, disse Nilo, à saída do julgamento.
(Jornal do Brasil, 25 de maio de 2002)
Questão 1
A partir do texto I, destaque duas polifonias e produza uma narrativa jurídica valorada,
obedecendo à metodologia dada.
29
Texto II Texto III
Questão 2
A partir das charges apresentadas (textos II e III), pode-se afirmar que há nessas situações
comunicacionais a presença da polifonia? Fundamente a sua resposta.
30
UNIDADE 3 – Fatores de textualidade: a coesão e a coerência no texto jurídico
Semana 9
Objetivos
Estrutura de conteúdo
− Fatores de textualidade
− Coesão e coerência textuais
− A coesão textual e a charge: referenciação
− Mecanismos de coesão: referencial, sequencial e lexical
− Referenciação: situacional (coesão exofórica) e textual (coesão endofórica)
− Coesão exofórica: referente extratextual,fora do texto
− Coesão textual endofórica: referente expresso no próprio texto
− Coesão textual endofórica: anáfora (o referente precede o item coesivo) e catáfora (se o
referente vier depois do item coesivo)
Charge
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Indicação Bibliográfica
Coesão e Coerência textuais. In: PALADINO, Valquíria da Cunha et al. Coesão e coerência textuais. Rio
de Janeiro: Freitas Bastos, 2006, p.1 a 33.
A função persuasiva das fábulas. In: FETZNER, Néli Luiza Cavalieri, PALADINO, Valquíria da Cunha
(Orgs.) et al. Argumentação jurídica.Teoria e Prática.Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2006, Cap.9, p.268
- 272.
Atividade proposta
Bibliografia do aluno
A ceia. In. TELLES, Lygia Fagundes, Histórias do Desencontro, Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.
Texto I
O Globo, 01/03/2006
Disponível em: http://www.filologia.org.br/xicnlf/6/a_coesao_textual_e_a_charge.pdf
32
Faça uma análise cuidadosa de toda linguagem verbal e não- verbal constante do texto
chárgico; leia as explicações teóricas sobre os mecanismos de coesão e depois responda à questão
proposta acerca desse tema.
Questão 1
Texto II
Moral da história: Infelizmente, a razão do mais forte é a que sempre prevalece. (Nem
sempre o Bem derrota o Mal).
Questão 2
a) Partindo-se do texto, pode-se afirmar que há uma tese implícita defendida pelo narrador-
fabulista, embora se trate de texto narrativo? Justifique a sua resposta.
33
UNIDADE 3 – Fatores de textualidade: a coesão e a coerência no texto jurídico
Semana 10
Objetivo
Estrutura de conteúdo
Indicação Bibliográfica:
FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.); VALVERDE, Alda; TAVARES, Nelson. Interpretação e produção de
textos aplicados ao direito. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p.37- 41.
FETZNER, Néli Luiza Cavalieri, PALADINO, Valquiria (Orgs.) et al. Argumentação jurídica: teoria e
prática. 3 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2008, p.18-47.
Atividade proposta
Bibliografia do aluno
O advogado do Diabo (Caso Concreto do Leopoldo Heitor). In: ELLUF, Luiza Nagib. A paixão
no banco dos réus. São Paulo: Saraiva, 2002, p.45-52 .
34
Aplicação prática e teórica.
Texto I
2. O réu Leopoldo Heitor, por concessão do Dr. Juiz, encontra-se preso em seu sítio “Manga
Larga”, no Município de Rio Claro. De tal determinação o Promotor signatário reclamou ao
Egrégio Conselho de Justiça, estando em processamento a Reclamação nº 1.131. Permitiu,
ainda, S.Exa. pudesse o mesmo acusado manusear os autos em Cartório, tendo também
reclamado o órgão do MP, por meio da Reclamação nº 1.134;
3. Sem qualquer condição imposta à sua permanência em prisão domiciliar – onde recebe as mais
variadas visitas – ou as suas idas e vindas a cartório, goza o réu Leopoldo Heitor da mais ampla
liberdade, estabelecendo pleno contato com todos os cidadãos e, em especial, com os jurados
habituais, que não são muitos;
4. Em chegando à Comarca, o acusado Leopoldo Heitor entrega seu carro ao policial Kleber
Improta – que lhe faz as vezes de motorista e serviçal – e passeia pela cidade, e conversa com os
populares, e sugere sub-repticiamente sua inocência, como se fora um homem livre que nada
deve à Justiça;
5. A tão absurdeza, o Promotor de Justiça assiste atônito, sem meios para coibi-la, porque
amparada em decisão judicial incondicional; e teme pelo prestígio da Justiça;
6. Não há, pois, como assegurar a imparcialidade dos jurados, que formam previamente sua
convicção. Sob a influência da promoção pessoal do réu, que é consentida; o povo de Rio Claro,
magnânimo e piedoso, leal e grato, releva a morte da vítima Dana de Teffé para apiedar-se do
sofrimento do acusado e, à mercê de alguns favores outrora feitos à gente daquela terra, o réu
tem hoje a gratidão no voto que o absolve;
7. Submetidos os jurados a pedidos e pressões dos acólitos (aqueles que auxilias alguém,
assistentes) de Leopoldo Heitor, a sua imparcialidade está seriamente comprometida, em
detrimento da Justiça e da Lei;
8. Às escâncaras, tais fatos se evidenciam nos bares, nas ruas, na praça e até na Delegacia de
Polícia, onde o co-réu Hélio Vinagre completamente em outra camada do povo a cabala
descoberta sem a mística dos judeus; e para Eduardo Espínola Filho, o desaforamento se impõe
“quando o crime tenha de tal modo desequilibrado os sentimentos da população, provocando a
35
paixão exaltada dos habitantes, em favor dos acusados ou contra eles, que falte a segurança de
que os seus concidadãos os julgarão com imparcialidade”. (In Cód. Proc. Pen. Anot., v. IV, p.
336);
9. E tudo isso, Senhores Desembargadores, porque o julgamento se processa numa cidade pequena,
e onde todos se conhecem e são parentes ou amigos e onde muitos devem subserviência a uns
poucos; onde não se encontram as mínimas condições de habitabilidade para um povo e menos
ainda para a realização da justiça em processo tão rumoroso;
10. Por se tratar de uma população pequena e pacata, não possui o organismo policial, além do
Delegado, mais de seis funcionários, não dispondo, sequer, de uma só viatura. No clima
apaixonado em que se desenvolveu o processo e se desenvolverá o julgamento, um pequeno
tumulto poderá ter consequências imprevisíveis;
11. E a impossibilidade de atendimento pelo comércio – três bares, três armazéns e uma pensão
com apenas cinco ou seis quartos a tantos quantos demandarão a esta pequenina Comarca é
razão suficiente para que, prevalecendo o interesse da ordem pública numa cidade que não
conhece a desordem, seja aconselhado o desaforamento;
a) Acresce, ainda, que a sala de audiências, que não é outra senão a da Câmara Municipal, não
comporta, senão, reduzidíssimo número de assistentes, tanto que lá não se realizaram os
dois anteriores julgamentos dos réus. O próximo julgamento não se poderá realizar no
antigo Clube Fagundes Varela, que não mais existe (doc. junto), restando apenas o salão
paroquial na qual, em ocorrendo hipótese impeditiva, se impossibilitará por completo a
realização do júri;
IV. CONCLUSÃO
13. Diante das razões expostas sucintamente, deve o desaforamento ser determinado para melhor
ideal de Justiça;
14. Em tempo, o requerente informa a esse Colendo Tribunal que a Comarca próxima a se escolher
não deverá ser a de Piraí, porque lá subsistem os mesmos motivos que fundamentam o
presente pedido, sendo que lá o réu Leopoldo Heitor milita como advogado, tendo, inclusive,
audiência designada para o próximo dia 30, nos autos de inventário de Joaquina Ferreira de
Melo;
15. Pede venia, pois, o Requerente do Ministério Público para sugerir a esse Egrégio Tribunal Pleno,
a Comarca de Niterói, onde, sob a Presidência do Juiz Décio Itabaiana, o Tribunal do Júri da
Capital do Estado se colocou entre os melhores, senão o melhor Tribunal Popular do país. Caso a
sugestão seja recusada, propõe-se, então, a Comarca da Barra do Piraí que, sendo ainda mais
próxima, oferecerá as mesmas garantias e terá na Presidência do Excelso Juiz Otávio Ney Brasil a
serenidade e a firmeza necessárias ao bom andamento do feito.
E por ser de direito o que se requer, espera-se deferimento.
(Rio Claro, Inácio Nunes - Promotor de Justiça)
36
Questão 2
37
UNIDADE 3 – Fatores de textualidade: a coesão e a coerência no texto jurídico
Semana 11
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Trabalho de pesquisa:
A descrição é empregada largamente na redação jurídica porque a narrativa dos fatos, provas
e atos é tecida por meio da descrição destes, buscando os elementos e pormenores que apresentem
o quadro, segundo a versão da parte processual. Esclarece-se que descrição não é uma técnica
empregada com exclusividade no mundo jurídico, mas assenta os juízos dissertativos, robustecendo
a narrativa dos fatos.
O discurso do júri, referindo-se aqui aos aspectos linguísticos e retóricos, demonstra que as
narrativas da acusação e da defesa são construídas pela descrição dos fatos e estes elementos
descritivos funcionam como verdadeiros argumentos.
38
Observe o discurso da acusação:
Este é o acusado. Um acusado que vem aqui e mente, se Vossas Excelências observarem,
hoje ele diz que é casado consta do outro interrogatório que ele estava separado, procura
modificar aquilo que já declarou para o próprio juiz, procurando confundi-lo, procurando
inverter pequenos detalhes para se amoldar a uma possível e imaginária tese de defesa. É
um elemento perigoso, mesquinho. Mesquinho porque quando de uma discussão com um
funcionário da Same- Serviço de Assistência e Movimento de Educação- por uma questão de
água sacou de um revólver e, também, atirou. (RT,170 30-35)
Justificativa
Os dados descritivos do réu: mesquinho, perigoso, mentiroso, cruel, mau caráter, lento
(presentes não somente no fragmento acima, mas no conjunto da narrativa dos fatos, representada
pelo Promotor de justiça, tem a função dissertativa de criar uma imagem simbólica do acusado como
a de um elemento pernicioso à sociedade que deve ser punido.
Às vezes escapou que, em vez de justificar, passa a castigar. É o caso, senhores, típico do
acusado. Hoje mostraram um quadro aqui, que se não houvesse alguém para rebater, o
acusado apodreceria na cadeia. Excelências, nós vamos nos referir ao acusado como cidadão
honesto, trabalhador, não é vadio, não é malandro. O acusado foi vítima das circunstâncias.
Aconteceu um fato na vida do acusado. O acusado tem uma vida anterior ao crime, e tem
uma vida posterior como vou mostrar a Vossas Excelências. Não como disse a nobre
promotoria que o acusado praticou crimes. É o primeiro. Ele e primário. É o primeiro delito
do acusado. O outro, ele já pagou, Excelências. (RT,170 30-35).
Justificativa
Toda narrativa é a exposição de fatos (reais ou fictícios) que se passam em determinado lugar
e com certa duração, em atmosfera carregada de elementos circunstanciais.
De acordo com o tipo de narrativa, encontram-se presentes estes ou aqueles elementos,
podendo estar, assim, todos ou alguns deles, mas sempre há necessidade de permitir ao leitor ter um
registro da cena. Também, há de se notar a presença do ponto de vista. Dependendo da postura
temática do narrador, irá ele evidenciar certos acontecimentos em detrimento de outros, sendo a
seleção dos dados, portanto, uma tarefa dissertativa.
39
A característica básica da narrativa real é a consumação do fato. Destaca-se que o verbo no
pretérito perfeito do indicativo, indica ter ocorrido e consumado o fato narrado. Importante também
é a unidade, porque todos os fatos narrados devem inter-relacionar- se em íntima conexão, sendo a
disposição dos elementos responsável pela coerência textual.
Geralmente, numa Petição Inicial, processa-se a narrativa, utilizando-se de períodos curtos,
forma verbal, no pretérito perfeito do indicativo, indicando no início o tempo dos acontecimentos e
demais circunstâncias que permitem revelar como aconteceram os fatos e o porquê deles, na ordem
linear, para que dessa narrativa se chegue logicamente a uma conclusão, resultado ou consequência
do fato vivenciado pelas partes envolvidas. No relatório das sentenças, a narrativa deve contar os
acontecimentos processuais com precisão e objetividade, sob pena de nulidade, porque não há de
existir, neste momento, expressões ou adjetivações que precipitem o decisório.
Já as Alegações Finais do Processo Penal e, principalmente, no Tribunal do Júri, a narrativa
vale-se de atributos e circunstâncias com intenção dissertativa, como atesta o exemplo abaixo
(RT,170 30-35):
Justificativa
40
exigem, como o saber sociológico. Como é natural a presença de opiniões ou versões para um só
fato, a prevalência desta ou daquela se dá pela força argumentativa obrigatória no discurso jurídico.
Bibliografia do aluno
(Internet ou outras fontes) Pesquisar e selecionar uma peça jurídica (denúncia, alegações finais,
sentenças cíveis, trabalhistas, criminais) para o trabalho sobre parágrafos descritivos, narrativos e
dissertativos.
Parte Prática
Questão 1
Trabalho de pesquisa
Pesquisar e selecionar uma peça jurídica de seu maior interesse (denúncia, alegações finais,
sentenças cíveis, trabalhistas, criminais), identificando nos parágrafos que a constituem traços
descritivos, narrativos e dissertativos; justificando-os, segundo o seu entendimento do texto, isto é,
por que houve a necessidade de se descrever ou narrar, por exemplo, um fato ou um ato naquele
momento do texto e daquela forma. Ou melhor, qual foi a intencionalidade manifestada pelo
produtor daquele texto, segundo sua compreensão textual enquanto leitor.
Questão 2
Texto I
41
ordenou a suspensão da operação. “Esperamos uma segunda ordem da Justiça”, disse Teodoro
Nagano, gerente da empresa Agropel, que é proprietária da área.
“Cabia a mim avaliar a situação e preferi evitar o massacre”, disse Magela ao se reunir com a
juíza Odete Silva e explicou os motivos do recuo. A juíza aguarda um relatório dos oficiais da Justiça.
(Folha de São Paulo, 2006)
Texto II
42
UNIDADE 3 – Fatores de textualidade: a coesão e a coerência no texto jurídico
Semana 12
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicação Bibliográfica
Coesão e Coerência textuais. In: PALADINO, Valquiria da Cunha (Org.) et al. Teoria e prática: coesão
e coerência textuais. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2006, p.1 - 33.
Atividade proposta
Bibliografia do aluno
SANT’ANNA, Sérgio. “O monstro”.in Contos e novelas reunidos. São Paulo: Companhia das Letras,
1997,p.606-640. (Disponibilizado também no Sia, na pasta da Professora Neli Luiza Cavalieri Fetzneri)
43
Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Questão 1
A partir das informações acerca de coesão textual, aplique-as aos fragmentos discursivos
abaixo, transcritos de editorial do Jornal Folha de São Paulo, de 15-10-2008, reconhecendo os
operadores discursivo-argumentativos e apresentando uma análise sobre eles, que são,
simultaneamente, elementos de coesão e recursos essenciais para o direcionamento discursivo:
a) 1º §: “A inflação, depois que irrompe, é difícil de conter, porque a onda de preços altos vai se
propagando, uma coisa vai puxando a outra até não se poder mais identificar os pontos de
origem.”
b) 2º §: “[...] aumenta tarifas e o petróleo e não diminui seus gastos abusivos, mas ao contrário
os aumenta, e tudo isso vai onerando o custo Brasil [...].”
c) 3º §: “O Governo lança pacotes ditos desenvolvimentista, mas, paralelamente, cria novos
impostos...”
d) 4º §: “[...]: “será preciso fazer recomendações ao povo para que gaste menos, não estoque
produtos (pois dessa forma pressiona a demanda) e especule os preços.”
e) 5º §: “[...] segmentos do comércio converteram-se em verdadeiros Bancos e ganham não
apenas com o natural porcentual de lucro mas também nos juros altos que o crediário
rende.”
f) 6º §: “No Brasil ainda vigora uma memória de inflação descontrolada e isto é como uma
planta que está sufocada, porém viva...”
g) 7º §: “Enfim, deixar que a iniciativa privada se mova livremente, que aí sim gerará
crescimento seguro, contratará mais mão-de-obra, aumentará a produção e assim também
gerará mais tributação.”
Exemplificando:
O Paulo atrasou-se porque perdeu o carro dele, perder o carro constituiu causa para o fato
de o Paulo se atrasar; enquanto em O Paulo atrasou-se porque não vejo o carro dele, o fato de não
vir o carro dele é razão para se dizer que ele se atrasou (isto é, justifica o fato de se dizer que ele se
atrasou). Na justificativa, por não se tratar de fato, não há certeza da explicação apresentada, pois
Paulo pode ter ido de carona com algum amigo, por exemplo.
Questão 2
44
se presentificam nesse fragmento, justificando o direcionamento discursivo-semântico exercido por
cada um deles:
45
UNIDADE 4 – O discurso jurídico e suas estratégias discursivas
Semana 13
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Indicação Bibliográfica
Bibliografia do aluno
46
Aplicação prática e teórica
No ensaio "Ficção e confissão", estudo sobre a obra de Graciliano Ramos, o crítico Antonio
Candido faz a seguinte observação sobre Paulo Honório, o narrador do romance São Bernardo:
“Paulo Honório [...] é modalidade duma força que o transcende e em função da qual vive: o
sentimento de propriedade”.
Fragmento 1
O meu fito na vida foi apossar-me das terras de S. Bernardo, construir esta casa, plantar
algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a
pomicultura e a avicultura, adquirir um rebanho bovino regular.
Fragmento 2
A princípio o capital se desviava de mim, e persegui-o sem descanso, viajando pelo sertão,
negociando com redes, gado, imagens, rosários, miudezas, ganhando aqui, perdendo ali,
marchando no fiado, assinando letras, realizando operações embrulhadíssimas. Sofri sede e
fome, dormi na areia dos rios secos, briguei com gente que fala aos berros e efetuei
transações comerciais de armas engatilhadas.
Questão 1
Texto I
47
- E vocês precisarão da nossa força nos remos e dos nossos olhos para avistar a terra
- disse outro.
Então os mais gordos e apetitosos.
- Injustiça! - gritou um gordo. - Temos mais calorias acumuladas e, portanto, mais
probabilidade de sobreviver de forma natural do que os outros.
Os mais magros?
- Nem pensem nisso - disse um magro em nome dos demais.
Somos pouco nutritivos.
- Os mais contemplativos e líricos?
- E quem entreterá vocês com histórias e versos enquanto o salvamento não chega?
- perguntou um poeta.
Os mais metafísicos?
- Não esqueçam que só nós temos um canal aberto para lá - disse um metafísico,
apontando para o alto - e que pode se tornar vital, se nada mais der certo.
Era um dilema.
É preciso dizer que esta discussão se dava num canto do barco salva-vidas, ocupado
pelo pequeno grupo de passageiros de primeira classe do transatlântico, sob os olhares dos
passageiros de segunda e terceira classe, que ocupavam todo o resto da embarcação e não
diziam nada. Até que um deles perdeu a paciência e, já que a fome era grande, inquiriu:
- Cumé?
Recebeu olhares de censura da primeira classe. Mas como estavam todos,
literalmente, no mesmo barco, também recebeu uma explicação.
- Estamos indecisos sobre que critério utilizar.
- Pois eu tenho um critério - disse o passageiro de segunda.
- Qual é?
- Primeiro os indecisos.
Esta proposta causou um rebuliço na primeira classe acuada.
Um dos seus teóricos levantou-se e pediu:
- Não vamos ideologizar a questão, pessoal!
Em seguida levantou-se um ajudante de maquinista e pediu calma. Queria falar.
- Náufragos e náufragas - começou. Neste barco só existe uma divisão real, e é a
única que conta quando a situação chega a este ponto. Não é entre velhos e jovens, gordos e
magros, poetas e atletas, carentes e ateus... É entre minoria e maioria.
E, apontando para a primeira classe, gritou:
- Vamos comer a minoria!
Novo rebuliço. Protestos. Revanchismo não!
Mas a maioria avançou sobre a minoria. A primeira não era primeira em tudo? Pois
seria a primeira no sacrifício.
Não podiam comer toda a primeira classe, indiscriminadamente, no entanto. Ainda
precisava haver critérios. Foi quando se lembraram de chamar o Natalino. O chefe da
cozinha do transatlântico.
E o Natalino pôs-se a examinar as provisões, apertando uma perna aqui, uma
costela ali, com a empáfia de quem sabia que era o único indispensável a bordo.
O fim desta pequena história admonitória é que, com toda agitação, o barco salva-
vidas virou e todos, sem distinção de classes, foram devorados pelos tubarões. Que como se
sabe, não têm nenhum critério.
VERÍSSIMO, Luís Fernando “Critério”. In: O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2004.
Questão 2
48
UNIDADE 4 – O discurso jurídico e suas estratégias discursivas
Semana 14
Objetivos
− Verificar que o discurso jurídico, mediante escolhas lexicais, denuncia o poder do julgador e
a pretensão de que a verdade possua uma só versão.
− Observar o discurso jurídico sob o próprio contexto do discurso, do ordenamento sob o
qual se está analisando ou se estipulando o comportamento do indivíduo; da situação
discursiva( quem fala, onde (lugar físico) se fala, com que finalidade e de que posição se
fala.
− Compreender que quando o sujeito fala está em plena atividade de interpretação, está
atribuindo sentidos às próprias palavras em condições específicas.
Indicação de leitura
FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.) et al.Capítulo I- "A prática interpretativa do Direito".In A
interpretação e Produção de textos aplicados ao Direito.Rio de Janeiro: Forense,2008,p.1-8.
Bibliografia do aluno
ELUF, Luiza Nagib. A paixão no banco dos réus. Casos passionais célebres: de Pontes Visgueiro a
Pimenta Neves. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 3-14.
49
Aplicação prática e teórica
Parte Prática
Questão 1
Texto I
Fragmento 1
Desta forma, está o denunciado [...], incurso nas penas do Art- 214, c/c Art.-224, letra ‘a’,
225, § 1º, incisos I e II e art.- 226, inciso I, todos do Código Penal, motivo por que oferece a
presente denúncia, que espera seja recebida e autuada, citando-o para interrogatório e
demais termos do processo, intimando-se as testemunhas do rol abaixo, para deporem sob
as penas da lei, até final julgamento, tudo com ciência deste Órgão.
Nestes Termos
Pede-se Deferimento.
Fragmento 2
Desta forma, está o denunciado [...], incurso nas penas do artigo 214 c/c Art.224, letra ‘a’,
225, § 1º, incisos I e II e artigo 226, inciso I, todos do Código Penal, motivo por que oferece a
presente denúncia, que espera seja recebida e autuada, citando-o para interrogatório e
demais termos do processo, intimando-se as testemunhas do rol abaixo, para deporem sob
as penas da lei, até final julgamento, tudo com ciência deste Órgão.
Fragmento 3
Em outra sequência processual, o Promotor de Justiça requer que seja expedido mandado de
prisão preventiva ao acusado, expressando-se assim sobre este:
50
O Denunciado [...] é elemento sem eira nem beira, que cometeu delito considerado
hediondo, existindo notícias de não se tratar da primeira vez que comete o típico delito e
quando apurados os fatos, procurou fugir do flagrante.
O delito causou revolta na localidade de sua residência, sobretudo dos familiares do menor
(pessoas pobres e pouca cultura), demonstrando ser o elemento acéfalo de freios morais e
respeito ao ser humano, especialmente indefesos pela menoridade.
Fragmento 4
O delito causou revolta na localidade de sua residência, sobretudo dos familiares do menor
(pessoas pobres e pouca cultura), demonstrando ser o elemento acéfalo de freios morais e
respeito ao ser humano, especialmente indefesos pela menoridade.
Fragmento 5
Fragmento 6
Prossegue o juiz:
Consoante podemos notar, o delito [...] gera indignação. Isso significa, mais uma vez, o que
se vem assegurando, ou seja, que, quando alguém fala, adota uma forma comportamental
intencional que se rege por regras, as quais pressupõem as instituições que são as únicas
capazes de lhes atribuir sentido. É o Juiz, no papel de sujeito, únicas capazes de lhes atribuir
sentido. É o Juiz, no papel de sujeito, expressando um ponto de vista oriundo do lugar que
ocupa no discurso, alguém a quem compete “entender” necessária a custódia do acusado.
Fragmento 7
Ora, emana do respectivo inquérito policial uma presunção de periculosidade do agente que
demonstra ser avesso e indiferente aos ditames da justiça e da moral. (fls. 30 dos autos).
Fragmento 8
A Defesa juntou algumas jurisprudências sobre ‘Atentado violento ao pudor” pelo que seu
cliente estava respondendo, jurisprudências do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), de São
Paulo (TJSP), de recursos que foram julgados e providos, uns no sentido da Absolvição do
acusado, outros na desclassificação do crime para o artigo 61 da Lei de Contravenções
Penais (LCP), que é mais brando e trata de “importunar alguém, em lugar público ou
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acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor”, cuja penalidade é apenas a aplicação de
multa.
Além disso, a Defesa, argumentando inocência do réu selecionou vários trechos de
depoimentos da vítima e de testemunhas, argumentando terem estas alterado sua fala
desde o relato à autoridade policial até a fase Judicial, em que, tanto a vítima como seu
irmão, também menor, trouxeram informações diferentes. Destacou, ainda, que os
depoimentos prestados perante a autoridade policial, foram todos no dia 06 (seis) de agosto
do corrente ano, ou seja, somente 02 (dois) dias após o ocorrido.
Fragmento 9
E prossegue:
Desta forma Vossa Excelência não poderá aceitar somente o que recai como culpa sobre o
acusado, pois assim agindo não estará aplicando o princípio de ampla defesa e do
contraditório, princípio este fundamental para exercício do estado de Direito.
Fragmento 10
Pelas razões acima e amparado no elevado conhecimento jurídico de Vossa Excelência, crê o
acusado possa obter sua absolvição da imputação que lhe é feita, ou, no mínimo, seja tal
imputação desclassificada para o delito previsto no Artigo 61 da Lei de Contravenções
Penais, por acreditar no senso de direito e de Justiça que sempre norteou Vossa Excelência.
É o que se espera e se requer.
Fragmento 11
A Sentença Judicial, que vai das fls. 100 até 115 dos Autos, traz alguns trechos que merecem
análise. Como é a praxe, o Juiz faz uma resumida recapitulação dos fatos, desde a Denúncia pelo
Ministério Público até a Defesa elaborada pelo procurador do acusado. Depois, termina
ritualisticamente com as expressões:
É O RELATÓRIO.
Fragmento 12
Consoante se apurou nos autos, [...] irmão da vítima [...] percebeu algo diferente no
comportamento do irmão e percebeu que a vítima trazia consigo algumas moedas e
questionado a respeito, a princípio disse tê-las encontrado em um ‘matinho’, não obstante,
diante da insistência de [...] acabou contando que ‘Zé Maria’ havia lhe dado as moedas para
que não contasse o que ocorrera, ou seja, para que não revelasse que havia deitado sobre a
vítima...(fls. 104) [...] declarou às fls. 59 que o acusado já era seu conhecido, o convidou para
entrar em sua residência e o colocou deitado sobre a cama e na continuidade fez com que
[...]
Fragmento 13
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Deduz o culto defensor a ausência de provas. Não compartilho desse entendimento.
Conforme se infere dos autos a prova produzida é suficiente à reprimenda invocada como
reprovação à conduta do agente. (fls. 105 dos Autos)
Fragmento 14
Em face ao exposto e mais o que dos autos constam, CONCLUO que o pedido contido na
denúncia deve ser julgado PROCEDENTE para condenar o acusado [...] nas penas cominadas
no artigo 214 c/c artigo 224, “a” do Código Penal, e por estes motivos passo à análise da
resposta penal.
Questão 2
Texto II
53
O relacionamento com Mariquinhas começou em 1872. A moça tinha 15 anos e já contava
com o apelido de "Mariquinhas Devassa". Visgueiro a conhecera quando ela era ainda criança e, por
ser muito pobre, pedia esmola na rua.
A mãe de Mariquinhas, Luiza Sebastiana de Carvalho, agia como proxeneta, tirando bons
proveitos dos amantes da filha, mas quando esta iniciou sua ligação com o desembargador, a
genitora passou a reprovar as outras ligações da menina. Luiza tinha motivos para crer que Visgueiro
se casaria com a filha, se ela levasse a sério o relacionamento. Ouvira o desembargador dizer à
menina: "Minha filha, conserva-te por uns dias que eu caso contigo". Mariquinhas, porém, não
mostrava interesse em desposá-lo.
Contrariando as conveniências da época, Visgueiro não fez segredo de seu relacionamento
com a moça. Exibia-a publicamente, com muitas manifestações de paixão e surtos de ciúme.
Mariquinhas visitava-o, em casa, diariamente, e não raro dormia em sua residência.
Se a moça desaparecia momentaneamente, ele a procurava no cais do porto, na redação dos
jornais onde ela tinha clientes, nas igrejas, nas casas de prostituição. Certa vez, arrombou a porta do
quarto no qual a moça estava e teve uma crise de choro, ajoelhado aos pés da cama, ao vê-la nua e
zangada sobre o lençol, enquanto seu parceiro se esgueirava pela porta levando a roupa que pudera
recolher.
[...] Em seguida, o desembargador viajou para o Piauí, talvez fugindo da angústia pessoal e
dos comentários da sociedade maranhense. Não ficou fora muito tempo. Retomou ao Maranhão e
trouxe consigo o mulato Guilhermino Borges, homem forte, com 30 anos de idade, já no intuito de
ter ajuda no momento em que tivesse de dominar Mariquinhas fisicamente. Recomeçaram os
encontros com a moça.
Por essa época, Visgueiro encomendou um caixão de zinco ao funileiro Antônio José Martins
de Carvalho e um outro, de cedro, ao carpinteiro Boaventura Ribeiro de Andrade. Tudo isso constou
do processo que condenou Visgueiro, pois ambos foram ouvidos como testemunhas e reconheceram
os caixões por eles confeccionados. Ainda quando esteve em Teresina, o desembargador havia
comprado uma grande quantidade de clorofórmio e chegara a solicitar a fabricação de um caixão em
um estabelecimento local. Estas iniciativas foram confirmadas no processo por um chefe de polícia
do Piauí.
No dia 14 de agosto de 1873, Visgueiro executou o crime que já vinha preparando há algum
tempo.
Pontes Visgueiro e Maria da Conceição. In: ELUF, Luiza Nagib. A paixão no banco dos réus.
Casos passionais célebres: de Pontes Visgueiro a Pimenta Neves. São Paulo: Saraiva, 2002, p.
3-14.
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UNIDADE 4 – O discurso jurídico e suas estratégias discursivas
Semana 15
Objetivos
Estrutura de conteúdo
Leituras de Apoio
FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.); VALVERDE, Alda; TAVARES, Nelson. Interpretação e produção de
textos aplicados ao direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
PALADINO, Valquiria, FETZNER, Néli Luiza Cavalieri e BAHIA, Mariza Ferreira. A pontuação e a ordem
dos elementos na frase forense. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2009.2.
Bibliografia do aluno
FETZNER, Néli Luiza Cavalieri (Org.); VALVERDE, Alda; TAVARES, Nelson. Interpretação e produção de
textos aplicados ao direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
PALADINO, Valquiria, FETZNER, Néli Luiza Cavalieri e BAHIA, Mariza Ferreira. A pontuação e a ordem
dos elementos na frase forense. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2009.
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Aplicação prática e teórica
Parte prática
Texto I
Questão 1
Texto II
Um homem rico, à beira da morte, pediu caneta e papel para determinar como seriam
distribuídos os seus bens. Infelizmente, faleceu antes de fazer a pontuação e deixou o seu
testamento assim:
“Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate
nada aos pobres.” (Autor desconhecido)
Questão 2
Sendo assim, produziu-se o texto de quatro formas diversas. Portanto, a partir dessas
informações, apresente as supostas reescrituras, atendendo aos interesses de cada um deles.
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(1) Primeiramente, chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete:
(2) Em seguida, a irmã do morto chegou com outra cópia do escrito, pontuada deste modo:
(3) Logo após, surgiu o alfaiate que, pedindo a cópia do original, fez estas pontuações:
O Juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade; e um deles, mais sabido,
tomando outra cópia, pontuou-a assim:
(4) Pobres:
Questão 3:
a. O irmão da Maria Antonia que mora em São Paulo, não virá prestar depoimento.
b. O irmão da Maria Antonia, que mora em São Paulo, não virá prestar depoimento.
A partir dos exemplos acima, pode-se afirmar que a presença ou ausência de vírgulas dá
origem a orações diferentes devido à função semântica exercida por cada uma delas. Você concorda
com essa afirmativa? Justifique a sua resposta.
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