Apresentação Individual - História Da Literatura

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O romance sob a tutela da

moral: a escrita ficcional


religiosa em terras brasileiras
Jeniffer Yara
Discurso da
Igreja sobre a
leitura: censura e
controle
“O dispositivo de controle de imprensa e das
leituras, instalado progressivamente ao longo
do século XIX, se caracteriza por uma
distribuição de papéis entre as diferentes
instâncias da Igreja: por um lado, o duplo
procedimento da censura ao que é escrito,
pelos bispos (mas limitado à literatura católica,
se não clerical) e, a partir dos anos 1850, pela
cúria romana (...); por outro lado, encoraja-se a
produção de livros religiosos (...), assim como a
sua divulgação pelas obras diocesanas ou
paroquiais dirigidas aos ‘bons livros’ [...]”
CHARTIER, HÉBRARD, 1995, p. 28 –29
O discurso
religioso presente
na ficção é tão
potente quanto nos
textos sagrados.
Autoria religiosa:
ficcional e jornalística

Censória
Divulgadora do
romance/ficção
Romances nos jornais doutrinários

Fabíola ou a Igreja das Catacumbas, Cardeal Wiseman


(Estrella do Norte, PA)

Cornelia Bororquia, Luis Gutiérrez


(O Santo Officio, PA)

O Parocho, Roselly de Lorgues, Antoine François Félix


(Tribuna Catholica, CE)

Páginas Soltas, Guilherme Dias


(O Pelicano, PA)

MELHOR para você


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Os autores
religiosos
brasileiros na
história da
literatura
Nuno Marques Pereira
(Cairu, 1652 — Lisboa, 9 de dezembro de 1728)
Foi um padre e escritor de cunho moralista luso-brasileiro
do barroco.

“Compendio narrativo do peregrino da america em que


se tratam varios discursos Espirituaes, e moraes, com
muitas advertencias, e documentos contra os abusos,
que se achão introdusidos pela malicia diabolica no
Estado do Brasil. Dedicado à Virgem da Vitória ,
emperatris do ceo, rainha do mundo, e Senhora da
Piedade, Mãy de Deos”

Foi publicado na “Officina de Manoel Fernandes da Costa, Impressor


do Santo Officio”, na primeira edição, de 497 páginas. O sucesso
desta fez com que se seguissem outras quatro, em 1731, 1752, 1760 e
1765, sendo que a segunda e a terceira obtiveram, além das licenças
ordinárias, o acréscimo do “Privilégio Real”.

MELHOR para você


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“Compêndio Narrativo do Peregrino
da América” (1728)
Afrânio Peixoto considera o primeiro romance brasileiro;
José Veríssimo diz: “não era romance nem novela, mas em
prosa e impressa era a primeira obra de imaginação escrita
por natural da terra” (1916, p. 54)
Temístocles Linhares: “O livro é pois mesmo uma ficção,
uma narrativa de viagem, de fundo alegórico, em que
contrastam as imagens pitorescas da vida brasileira de
então, aprendida não só através das figuras humanas como
também das habitações, dos trajes em uso, das festas
populares, da música, do teatro, dos costumes, da
alimentação, etc.” (LINHARES, p. 30)

“... O que ocorria era o herói entrar em cena para dar


conselhos ou avisos, comentando um por um, segundo a
ocasião...”
(LINHARES, p. 31) MELHOR para você
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“Compêndio Narrativo do Peregrino
da América” (1728)

“É relevante nessa narrativa o conteúdo social e


moralizante refletido pelas descrições e narrações
de situações e fatos, convertidos em modelos
exemplares subordinados à boa doutrina da
Igreja, conforme o autor [...]”

(CASTELLO, 1999, p. 103)

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Dom Domingos do Loreto Couto
( Recife, 1696-1762)

Domingos do Loreto Couto (Recife) foi um cronista


e religioso brasileiro, da Ordem de São Bento.
Pertenceu à Academia Brasílica dos Renascidos
(1759).

A sua obra Desagravos do Brasil e Glória de


Pernambuco, inédita até ao início do século XX,
reformulou a linha nativista pela busca de valores,
lendas e tradições entre portugueses, indígenas e
africanos, na formação brasileira. Foi publicada, a
primeira parte, nos Anais da Biblioteca Nacional, por
iniciativa de Capistrano de Abreu.

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Desagravos do Brasil e Glória de
Pernambuco (1757)
“Ressalta-se o espírito da obra, misto de crônicas históricas
e de casos exemplares, portanto, prosa moralista, além de
panegíricos e dados bibliográficos, repassado de certo valor
crítico.
[...]
Ainda se destaca a contribuição bibliográfica desta obra,
fonte reavaliável do estudioso de certas manifestações
artísticas do ensino ou da instrução pública e particular, e
sobretudo do historiador de nossas manifestações literárias
nos três séculos coloniais.”
(CASTELLO, 1999, pp. 100-101)

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“Essa duas obras talvez sejam o ponto de
maior relevo do desenvolvimento da prosa
escrita sobre o Brasil e no Brasil, já definida
como brasileira [...] Queremos dizer que
seus autores refletem a preocupação com o
conhecimento e a valorização do brasil, não
mais exclusiva ou predominantemente
através da paisagem física, mas agora pelo
relevo dado a acontecimentos notáveis aqui
ocorridos e a homens nascidos em nosso
meio.”
CASTELLO, 1999, p. 103
Frei Francisco de São Carlos
Francisco Carlos Teixeira da Silva (Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 1763 - idem 1829).

Francisco Carlos Teixeira da Silva (Rio de Janeiro, Rio


de Janeiro, 1763 - idem 1829). Ingressa no noviciado
do convento de São Boaventura em Macacu, vila
extinta do Rio de Janeiro, em 1778. Sua ordenação
sacerdotal ocorre em 1784, no convento de Santo
Antônio, Rio de Janeiro RJ. Entre 1790 e 1795 é
professor de Teologia Dogmática no seminário
diocesano em São Paulo SP. Em 1808 torna-se
pregador Régio e examinador da Mesa de
Consciência e Ordens, no Rio de Janeiro. No ano
seguinte faz a oração de ação de graças, recitada na
capela real, no aniversário da chegada da família
real ao Brasil. Sua oração fúnebre recitada na Igreja
da Cruz, nas exéquias da rainha D. Maria I, em 1816,
é publicada pela Imprensa Régia, no mesmo ano.
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Em 1819 ocorre a publicação de Assunção,
poema em oito cantos em honra da Santa
Virgem, pela Imprensa Régia. Esse poema
garante a Frei Francisco de São Carlos um lugar
de destaque na poesia árcade brasileira: trata da
glorificação da Virgem Maria e está ligado à
tradição camoniana. Mas, segundo o crítico José
Aderaldo Castello, "certo que por influência de
seu espírito religioso, se apresenta ligado ao
estilo mitológico, renega-o ao mesmo tempo, à
semelhança de Gonçalves de Magalhães (1811 -
1882), prenunciando uma atitude romântica,
embora sem a consciência crítica dela.

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Assunção (1819)

Antonio Candido expressa que São Carlos e Sousa


Caldas são considerados precursores do
Romantismo, pelos primeiros autores românticos,
pois “abandonam a imitação greco-latina a troco de
temas e sentimentos que os deslumbravam no
Gênio do cristianismo e nos Mártires, de
Chateaubriand, nas Meditações e Harmonias, de
Lamartine” (p. 227)

“O Assunção é uma epopéia religiosa em oito


cantos, de versos decassílabos emparelhados,
celebrando a subida da Virgem Maria aos céus.
Dirigem-na dois sentimentos igualmente intensos,
empenhado em contribuir para o brilho do culto
mariano e o desagravo de sacrilégios recentes da
Revolução Francesa” (CANDIDO, p. 229).
MELHOR para você
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Assunção (1819)
Castello (1999, p. 162) retoma o que Candido expressa sobre
São Carlos, e expõe que o autor renega o estilo mitológico,
antecipando a restrição que Gonçalves de Magalhães fará ao
estilo clássico e, em particular, à linguagem mitológica:

Fugi do canto divinal, sublime,


Vós, ó fábulas vãs, fugi: que é crime
manchá-lo da falaz mitologia
Com que a filha do Caos, a idolatria,

Banida já das terras, e dos mares,


Proscrita sem mais templos, nem altares,
Inda quer ostentar de majestade
Nas inóspitas aras da verdade! MELHOR para você
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Pe. Sousa Caldas
Antonio Pereira Sousa Caldas (Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 1762 – idem, 1814).

Sacerdote, orador sacro e poeta. Filho de


portugueses radicados no Brasil, aos oito
anos é enviado pela família para Portugal,
onde vive sob a tutela de um abastado tio.
Durante a adolescência estuda matemática
na Universidade de Coimbra. Devido a sua
afinidade com as ideias do iluminismo
francês é preso em 1781 pela Inquisição,
sob acusação de ser herege e blasfemo.
Como pena, é enviado para o convento de
Rilhafoles, onde vive durante seis meses.
MELHOR para você
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Poesias Sagradas (1821)

“Ressaltando-lhe o caráter religioso e


moralizador, admite que é missão de todo
poeta despertar o amor da virtude, os
sentimentos nobres e generosos, o horror ao
crime. É outra antecipação da atitude
igualmente religiosa e moralizante de
Gonçalves de Magalhães, várias vezes
exposta em páginas críticas ou nas próprias
composições deste poeta”
(CASTELLO, 1999, p. 163)

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Poesias Sagradas (1821)

“[...] Sousa Caldas revela inspiração e prenuncia


certos traços futuros. A tendência ética e
devocional se combina, em seu espírito forte e
irrequieto, ao pendor para a meditação; a
religião aparece como ponto de vista, servindo
para exprimir os sentimentos pessoais, dando
elementos para uma concepção de homem e
do mundo.” (CANDIDO, p. 232)

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“Destacadas do nosso contexto,
elas não passariam de diminutas
reflexões críticas e poéticas. Mas a
posição daqueles poetas, do ponto
de vista da perspectiva brasileira, é
importante para o estudo entre
nós da evolução de temas e
linguagem.”
CASTELLO, 1999, p. 162
Relações

» Destaque de prosa ficcional moralizante


nos jornais estudados;
» Presença de autores eclesiásticos:
nacionais e estrangeiros;
» Temas e discursos recorrentes;
» O romance e a poesia como suporte para
a veiculação do discurso religioso é
presente anteriormente aos jornais
pesquisados: há uma tradição na escrita
desses indivíduos.

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Referências

Histórias literárias: Livros, links e artigos:


CHARTIER, Anne-Marie. HÉBRARD, Jean. Os discursos da
Igreja. In: ______. Discursos sobre a leitura - 1880-1980.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. São São Paulo: Ática, 1995.
Paulo: Martins, 1964.
FREI Francisco de São Carlos. In: ENCICLOPÉDIA Itaú
CASTELLO, José Aderaldo Castello. A literatura brasileira: Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú
origens e unidade (1500-1960). 2 vols. São Paulo: Editora Cultural, 2021. Disponível em:
da Universidade de São Paulo, 1999. 1046 p. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa3115/frei-
francisco-de-sao-carlos. Acesso em: 25 de outubro de
LINHARES, Temístocles. História crítica do romance 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
brasileiro: 1728-1981. 3 vols. Belo Horizonte: Itatiaia ; São
SOUSA Caldas. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1987. 1733 p.
Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021.
VERÍSSIMO, José. Historia da literatura brasileira: de Disponível em:
Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908). 1o http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa22366/sousa
milheiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves & Cia, -caldas. Acesso em: 25 de outubro de 2021. Verbete da
1916. Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.

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Obrigada!
Jeniffer Yara
[email protected]
www.jenifferyara.com

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