Cozinha Francesa
Cozinha Francesa
Cozinha Francesa
FRANCESA
Elissa França
Movimento nouvelle cuisine
e seus grandes chefs
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Amplamente influenciado pelo trabalho pioneiro do chef Fernand Point,
na década de 1970, o movimento nouvelle cuisine nasceu da vontade dos
cozinheiros de reinventarem a cozinha francesa, tornando-a mais leve e
enaltecendo os seus produtos. E, embora não tenha se constituído uma
revolução, representou uma evolução da cozinha por meio da criatividade
e das técnicas apresentadas pelos grandes chefs.
O movimento nouvelle cuisine desempenhou um papel importante
na definição de uma “nova gastronomia”, ajudando a reconhecer ainda
mais o status social do cozinheiro. Ainda, influenciou a culinária das casas
de classe média, promoveu um alívio dos cardápios nos anos 1970 e
impulsionou a alta gastronomia em todo o mundo.
Child viu o novo movimento como uma afronta à lógica e grandeza da alta
cozinha francesa. Ela particularmente não gostava da propensão da nouvelle
cuisine por servir carne e vegetais malcozidos, que ela acreditava não desenvol-
ver adequadamente o “sabor essencial” dos ingredientes. Ela também acusou
Gault e Millau de “empurrar a nouvelle cuisine implacavelmente” ao ponto
de “intimidar” restaurantes que não adotaram um estilo da nouvelle cuisine.
O mesmo efeito se deu no Reino Unido, onde uma geração de chefs new
british emergiu afirmando que a comida britânica não era sinônimo de comida
ruim, ajudando a liderar um movimento em direção a alimentos e refeições
de alta qualidade.
O movimento nouvelle cuisine repercute até os dias atuais. As inovações
culinárias são constantes, porém de maneira evolucionária, e não revolucio-
nária, como foi necessário no começo daquele movimento.
O próximo passo foi o “perfeccionismo”, encabeçado pelo chef Joël Robu-
chon, intitulado “O Chef do Século” também pelos jornalistas Gault e Millau.
As técnicas e os mandamentos da nouvelle cuisine estavam presentes em sua
cozinha, porém sua culinária era autoral e impecável.
É possível encontrar em outras culinárias a inspiração da nouvelle cuisine,
ainda que com várias abordagens inovadoras, como a fusion food (cozinha de
fusão), em que se mesclam temperos, insumos e técnicas ocidentais e orientais,
sempre tendo como pano de fundo os princípios do movimento francês.
Os chefs franceses que começaram o movimento foram Paul Bocuse, Alain
Chapel, Jean Pierre Troisgros, Michel Guérard, Roger Vergé e Raymond Oliver.
Paul Bocuse
No ano de 1924, na pequena cidade de Collonges-au-Mont-d’Or, próxima a
Lyon, o avô de Paul Bocuse precisou vender o seu restaurante, que ficava na
parte de baixo da casa onde o neto nasceu e levava o sobrenome da família —
“Bocuse” —, além dos direitos ao uso do nome.
Tempos depois, o pai do chef abriu um novo restaurante, próximo ao antigo,
mas que não poderia usar o sobrenome da família, o que o deixava extrema-
mente triste. Paul Bocuse (Figura 1) trabalhou anos para conseguir resgatar o
antigo prédio da família e o direito de utilizar o seu nome novamente (Figura 2).
Movimento nouvelle cuisine e seus grandes chefs 5
Infelizmente, como faleceu no ano de 1959, o pai de Paul não pode ver a
vitória do filho, já que ele somente conseguiu fazê-lo no ano de 1966. Na-
quele momento, Paul Bocuse voltou a morar na sua casa, que fica no segundo
andar — onde permaneceu todo o restante da vida —, e instalou na fachada
do restaurante, orgulhosamente, uma enorme placa com o nome da família.
O restaurante de Paul Bocuse é um ícone da gastronomia moderna francesa,
já que o chef é considerado o “pai da nouvelle couisine”, tendo revolucionado
a forma dos preparos e as apresentações dos pratos.
Paul Bocuse passou a trabalhar com gastronomia depois de voltar de sua
participação na II Guerra Mundial, quando recebeu um tiro que passou a 2
cm do coração e foi ajudado pelos norte-americanos, que cuidaram dele até
sua pronta recuperação, depois de várias transfusões de sangue. Naquele
momento, ele fez sua primeira tatuagem, a do braço esquerdo: um galo, que
simboliza o país francês.
Ao voltar para casa, Bocuse passou a se aprimorar com chefs reconhecidos
na época, inicialmente com Eugénie Brazier, a primeira mulher a receber uma
estrela Michelin, que o ensinou, além de cozinhar, a cuidar da horta, ordenhar
vaca, lavar e engomar seu uniforme. Depois, foi para Paris, onde ficou pouco
tempo no restaurante três estrelas Lucas Carton, tendo trabalhado com Pierre
e Jean Troisgros. Por fim, foi trabalhar com o melhor chef da época, Fernand
Point, com o qual ficou oito anos. Point era um chef com mente brilhante que
já usava de maneira diferente os melhores ingredientes, além de menos gordura
e tempo de cocção menor, deixando o alimento com mais sabor e textura.
Michel Guérard
Um dos pioneiros do movimento nouvelle cuisine, Michel Guérard (Figura 6)
tinha um diferencial em relação aos demais: era extremamente preocupado com
a ingestão exagerada de calorias em uma refeição clássica francesa. Seu estilo
consistia em uma dieta saudável, com pouca gordura e extremamente atraente.
Sua carreira teve início em uma pequena padaria de sua cidade natal, na
qual descobriu sua habilidade em fazer doces. Viajou o país inteiro trabalhando
e aprendendo com grandes chefs confeiteiros e boulangers.
Em 1965, abriu seu primeiro restaurante, o Pot-au-Feu, conseguindo a sua
primeira estrela Michelin.
Algum tempo depois, casou-se e acabou assumindo o controle do Spa da
família de sua esposa, ao noroeste da França. Naquele momento, o desafio era
transformar uma cozinha que já existia, cheia de cremes e manteigas e com
um uso exacerbado de carne vermelha, em uma cozinha magra e atraente.
Batizou sua revolução de cuisine minceur (ou traduzindo, “cozinha magra
com pouca gordura”).
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Seu menu era elaborado para que cada refeição completa não ultrapassasse
600 kcal, abusando de legumes, frutas e ervas aromáticas e empregando
pouca quantidade de carnes vermelhas. O sucesso foi tanto que pessoas do
país inteiro viajavam até o Spa para se beneficiar dos encantos da sua comida.
Michel precisou registrar em seu nome a tendência da cuisine minceur.
O grande trunfo do seu estilo de cozinhar reside no fato de que ele não
abandonou as receitas e o estilo da nouvelle cuisine, mas apenas usa de técnicas
e montagem de pratos inovadores, mantendo em sua cozinha os nutrientes em
frutas e vegetais, destacando o sabor de cada elemento.
Roger Vergé
Na pequena cidade de Mougins, próxima a Cannes, há 30 anos o chef Roger Vergé
(Figura 7) abriu seu restaurante Moulin de Mougins. Seu estilo era de uma cozinha
fresca, com pescados do dia e temperados apenas com azeite e ervas aromáticas.
Ele lançou a cuisine du soleil (“a cozinha do sol”), visto que seu restaurante
estava situado na Côte D’Azur, na região mediterrânea da França, com uma cozinha
baseada em vegetais sazonais e uma despretensiosa culinária camponesa provençal.
O chef abriu a “École de Cuisine du Soleil”, também em Mougins, na qual
muitos chefs foram estudar, como Alain Ducassi e Dabiel Boulud.
O chef Vergé faleceu em 2015, aos 85 anos, por complicações em decor-
rência de diabetes.
Alain Chapel
Nasceu em 1937, em Lyon, e faleceu em 1990, em Avignon. Alain Chapel
(Figura 8) foi pupilo de dois grandes chefs, Jean Vignard e Fernand Point. Em
1967, assumiu o comando do restaurante da família — Mère Charles — em
Mionnay, ganhando duas estrelas Michelin em 1969 e a terceira em 1973.
Sua cozinha preservava os sabores e as texturas dos vegetais, com o uso
de creme de leite e manteiga, porém com a parcimônia da nouvelle cuisine;
cogumelos, o frango de Bresse, trufas, caranguejos e peixes compunham o
seu cardápio.
Como embaixador da culinária francesa, viajou bastante para ensinar as
técnicas da cozinha francesa, estando entre outros países, no Japão, nos Estados
Unidos (Dallas, Nova Iorque), na Suécia (Estocolmo) e na Alemanha (Bavária).
Com sua morte, o chef-executivo Philippe Jousse, que comandava o res-
taurante Kobe, no Japão, precisou retornar para a França e assumir a cozinha
do Mère Charles. Em 2012, o restaurante fechou.
Paul Haeberline
A família do chef Paul Haeberline tinha um restaurante em uma pousada
na cidade de Illhaeusern, na Alsácia, o L’Arbre Vert, fundado em 1878 e,
que durante a II Guerra, foi destruído. Haeberlin e seu irmão, Jean-Pierre,
reconstruíram-no em 1950, mudando o nome para L’Auberge de l’Ill.
Os irmãos queriam que o restaurante revolucionasse as concepções ante-
riores da cozinha francesa, com as técnicas da nouvelle cuisine para atingir
esse objetivo.
Em 1952, o restaurante recebeu sua primeira estrela Michelin, em 1957
veio a segunda e, após 10 anos, a última e tão sonhada terceira estrela foi
conquistada. As três estrelas Michelin foram ostentadas por mais 40 anos.
Paul Haeberline (Figura 9) foi pupilo do chef Édouard Weber, ex-cozinheiro
da família real Romanov, na Rússia. Sua cozinha era simples, remetendo aos
ingredientes locais, do solo, sazonais, com peixes frescos, tortas de frutas e
trufas negras.
Ingredientes:
500 mL de caldo de galinha
Peito de frango desossado
Sal de mesa
100 g aipo-rábano
Cabeças de 8 cogumelos de botão (1¼ polegadas ou 3 cm de diâmetro)
80 g trufas frescas
60 mL de vermute branco Noilly Prat®
60 g de foie gras cozido
250 g de massa folhada
1 gema de ovo
Modo de preparo:
A qualidade das trufas é importante para a preparação dessa sopa. Se possível, escolha
trufas frescas. Fora de temporada, use trufas preservadas. No caso de trufas preservadas,
1 grama corresponde a 30 gramas de trufas frescas por pessoa.
Ingredientes do salmão:
4 tranches de salmão (100 a 120 g cada um)
Sal e pimenta-branca moída na hora
Modo de preparo:
Ingredientes do molho:
250 mL de vinho Sauvignon blanc
125 mL de vermute ou martini
2 chalotas
375 mL de creme de leite
Folhas de azedinha
Sal e pimenta-branca moída na hora
Modo de preparo:
Modo de preparo:
Montagem:
Coloque o ovo em um suporte apropriado, quebre apenas a superfície,
coloque um aspargo ao vapor temperado com um pouco de sal e pimenta-
-do-reino moída na hora. Acrescente, delicadamente, o caviar. Sirva-o com
torradas de pão branco com manteiga.
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Modo de preparo:
Ingredientes:
1 frango de 1,6 kg
1 trufa cozida
1 cálice de vinho
Azeite, sal e pimenta a gosto
1 vessie (bexiga de porco)
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Modo de preparo:
Ingredientes:
2 kg de salmão
150 g de manteiga
1/4 litro de caldo de peixe
1/2 garrafa de vinho branco Riesling®
4 chalotas
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Para a mousse:
250 g de lúcio
1/4 de litro de creme de leite
2 ovos inteiros + 2 ovos separados
Sal, pimenta e noz-moscada a gosto
Modo de preparo:
VIAJANTE, M. Salmão com azedinha: prepare o jantar do dia dos namorados. 2017.
Disponível em: https://magaliviajante.com/salmao-com-azedinha-prepare-jantar-dia-
-dos-namorados/. Acesso em: 12 abr. 2019.
WIKIPEDIA. Paul Haeberlin (chef). 2018. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/
Paul_Haeberlin_(chef). Acesso em: 12 abr. 2019.
Leituras recomendadas
BOCOUSE, P. A cozinha de Paul Bocouse. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.
COZINHA EXPERIMENTAL. O movimento da “Nouvelle Cuisine Francesa”. 2012. Disponível
em: https://experimentalcozinha.wordpress.com/tag/fernand-point/. Acesso em:
12 abr. 2019.
ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Paul Haeberlin. [2010]. Disponível em: https://www.
britannica.com/biography/Paul-Haeberlin. Acesso em: 12 abr. 2019.
GASTRONOMICAE. Alain Chapel. 2008. Disponível em: http://gastronomicae.blogspot.
com/2008/09/alain-chapel.html. Acesso em: 12 abr. 2019.
GREAT CHEFS. Artichokes à la Barigoule. c2019. Disponível em: https://greatchefs.com/
recipes/artichokes-a-la-barigoule-food-recipes/. Acesso em: 12 abr. 2019.
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