TCC Dereck
TCC Dereck
TCC Dereck
SANTARÉM – PARÁ
2013
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SANTARÉM - PARÁ
2013
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TERMO DE APROVAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel no curso de Direito, da Universidade Federal do Oeste do Pará pela seguinte banca
examinadora:
_________________________________________
Professor(a) – Examinador(a) 1
_______________________________________
Professor(a) – Examinador(a) 2
AGRADECIMENTOS
paciência, pelo sorriso, pelo abraço, pela mão que sempre se estendia quando eu precisava.
Serei eternamente grato a todas vocês.
Por fim, em nome de Ana Francisca, Andreia Carvalho, Francilma Oliveira, Hoane
Viana e Hian Freitas, agradeço a todos os meus amigos, essenciais em todas as etapas da minha
vida.
7
RESUMO
ABSTRACT
This study focus on child and adolescent labor protection in the Brazilian juridical order. Its
main aim is to understand how the treatment for the work by adolescent is framed in the
Brazilian legislation, as well as to reflect upon the objective of this protection. Using the
deductive reasoning in the different stages of the research, we retrieved the following
techniques: referent, category, operational concept and bibliographic research. Faced with the
research we concluded that, guaranteed by the Federal Constitution, the Principle of the
Integral Protection defends the effective psychological, biological and physical of the
adolescent, through public politics which receive the special and differentiated character, with
priority over other politics. Convention n.138 on the minimal age for work admission and
convention n. 182 on the worse kinds of children work, both by the International Labor
Organization, besides the convention of the rights of the child of 1990, the United Nation
Organization, ratified by Brazil, serve as a guide for the juridical constitutional order, in
relation to child and adolescent labor and protection. The Federal Constitution of 1988, with the
Constitutional Amendment n.20/98, prescribe that labor is permitted only by the age of 16,
except as an apprentice, as of 14 years old. The laws found in the country, for instance, also
impose limits for these developing beings enter in the labor market, not allowing their insertion
on hazardous or unhealthy, heavy and night shift work, under penalty of configuring the so
called child labor. Hence, once the research was over, it was verified that the lawful processing
of child and adolescent labor protection should be understood as a way to ensure child and
adolescent full development, and not as an obstacle for labor, considering that, within the
established boundaries and combined with education, it contributes significantly to the
individual professional training and qualification and his insertion in the labor market.
Key words: Child-Adolescent labor, Brazilian Child and Adolescent legislation, Doctrine of
Integral Protection, child labor.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL ...................... 15
1.1 Período Colonial ............................................................................................................. 15
1.2 Período Imperial ............................................................................................................. 17
1.3 Período Republicano ....................................................................................................... 19
1.4 Período do Direito do Menor .......................................................................................... 21
2 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO DIREITO INTERNACIONAL ..................... 24
2.1 Direitos Humanos e sua internacionalização .................................................................. 24
2.2. SISTEMA HOMOGÊNEO DE PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE....... ............................................................................................................ 25
2.2.1. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) ............................................. 25
2.2.2. Pactos de Nova Iorque (1966) ................................................................................ 26
2.3. SISTEMA HETEROGÊNEO DE PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE... ................................................................................................................ 27
2.3.1. Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Convenções ............................... 27
2.3.1.1. Convenção n. 138 da OIT e Recomendação n. 146 ..................................... 28
2.3.1.2. Convenção n. 182 da OIT e Recomendação n. 190 ..................................... 31
2.3.2. Declaração de Genbra – Carta da Liga sobre a Criança (1924) ............................. 33
2.3.3. Declaração dos Direitos da Criança (1959) ........................................................... 35
2.3.4. Convenção sobre os direitos da Criança (1989)..................................................... 37
2.3.5. Convenção Ibero-americana sobre os Direitos dos Jovens .................................... 39
3 O TRATAMENTO CONFERIDO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ..................................................................... 41
3.1 Legislação Brasileira ...................................................................................................... 41
3.2 Sujeitos de Direitos: menor, crianças, adolescentes e jovens ......................................... 42
3.3 Doutrina da Proteção Integral e o Sistema de Proteção aos Direitos da Criança e do
Adolescente ............................................................................................................................ 44
3.4 Dever de efetivação direitos da criança e do adolescente ............................................... 48
3.5 Critérios de interpretação do Direito da Criança e do Adolescente ................................ 49
11
INTRODUÇÃO
1
“Método é a forma lógico-comportamental no qual se baseia o pesquisador para investigar, tratar os dados colhidos
e relatar os resultados”. (PASOLD, 2009, p. 110).
2
Para Pasol (2009) Método dedutivo consiste em estabelecer uma formulação geral e, em seguida, buscar as partes
do fenômeno de modo a sustentar a formulação geral: este é denominado método dedutivo.
3
“Técnica é um conjunto diferenciado de informações, reunidas e acionadas em forma de instrumental, para realizar
operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas de pesquisa”. (GUSTIN, 2006, p.
145).
4
Segundo Gustin (2006) técnica do referente é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado,
delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.
5
“Palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma ideia”. (PASSOLD, 2009, p. 145).
6
“Definição estabelecida ou proposta par a uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição aceita
para efeito as ideias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito” (GUSTIN, 2006, p. 40).
7
Ensina Pasold (2009) que Pesquisa bibliográfica consiste em Técnica de investigação em livros, internet,
repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais.
14
trabalhador e outras formas de trabalho proibidas ao menor que configuram o chamado trabalho
infantil.
Neste contexto é que se pretende desenvolver este estudo, demonstrando que o trabalho
do adolescente pode ser exercido de forma saudável sem atrapalhar o desenvolvimento físico,
moral, psicológico, social e educacional desses seres detentores de direitos especiais.
15
8
“Nesse cenário, a mortalidade precoce dos adultos e os altos índices de mortalidade infantil criavam um ambiente
no qual a percepção das etapas de desenvolvimento ainda era tênue e pouco significativa. A invisibilidade da
infância nesta época permitia a convivência com a morte de crianças sem uma profunda comoção entre os adultos,
pois se considerava uma conseqüência natural”. (SCHUELER, 2000, p. 25).
9
“O ensino de um ofício para crianças também foi um elemento de preocupação para os jesuítas, que entendiam o
trabalho como condição de dignidade, ou ainda, o caminho para a própria salvação”. (VERONESE; CUSTÓDIO,
2013, p. 20).
16
10
“Em que pesem as mais variadas críticas, as quais evidenciam que muitas práticas jesuíticas acabavam por
instrumentalizar a população indígena, não podemos desconsiderar a forte experiência comunitária desenvolvida.
Tanto que muitos jesuítas, contrários à exploração dos índios, foram expulsos pelo Marquês de Pombal, acusados de
conspiração e defesa dos índios, prova disso é que, uma vez ausentes os jesuítas, muitas aldeias foram dizimadas
pelos colonos. Portanto, não podemos, de modo algum, ignorar que tal presença humanizou esse processo inicial de
colonização, e ainda propunha tratar de modo igual os habitantes desta nova terra, em especial os pequenos índios”.
(CHABOULEYRON, 1999, p. 55).
11
“A descoberta da infância, na Europa, como etapa específica de desenvolvimento humano, trouxe reflexos nas
práticas institucionais no Brasil Colonial, inclusive com a reprodução dos modelos de acolhimento das Rodas dos
Expostos”. (MARCÍLIO, 1999, p. 52),
17
O trabalho doméstico foi uma das formas mais frequentes de contrapartida recebidas
pelas famílias acolhedoras. As crianças também se ocupavam nos serviços dentro da
própria instituição que mantinha a Roda dos Expostos, principalmente a partir dos 7 anos
de idade, considerando o momento ideal para o início do trabalho. Essa condição era
valorizada, pois, para as famílias e para as Rodas, era uma oportunidade de mão-de-obra
gratuita, com uso do trabalho infantil legitimado pela caridade, ou seja, a exploração
transfigurada em virtude. (VERONESE; CUSTÓDIO, 2013, p. 25).
Assim, a roda dos expostos nada mais era que uma forma de legitimar novamente o
trabalho realizado por crianças, já que estas, na maioria das vezes, se encontravam nestes lugares
na total miserabilidade.
No Brasil Colonial, a infância como etapa específica de desenvolvimento, vai sendo
reconhecida na medida em que se estabelecem as práticas de institucionalização, educação e
assistência, modeladoras de uma forma característica de divisão social.
12
“No campo educacional, as escolas de primeiras letras foram disseminadas em algumas localidades no Brasil e
contavam, inclusive, com a colaboração de instituições religiosas e privadas. Preocupações com o amparo e a
instrução da mocidade desamparada, a proteção de meninas e a caridade humanitária alcançavam o status de ação
patriótica”. (VERONESE; CUSTÓDIO, 2013, p. 27).
19
Para Moraes Filho (2010) embora a ideia de menoridade tenha suas raízes no
Brasil Imperial, sua consolidação jurídica só foi representada pela edição do primeiro Código de
Menores, Decreto n° 17.934-A/1927, elaborado por uma comissão de juristas, liderada pelo então
Juiz de Menores do Rio de Janeiro, José Cândido de Mello Mattos.
O novo código procurou consolidar todas as legislações relativas à menoridade e
também ao trabalho de menores, como pode ser observado no Capítulo IX. Estabelecendo a idade
mínima para o trabalho em 12 anos, a proibição do trabalho nas minas e de trabalho noturno aos
menores de 18 anos e na praça pública aos menores de 14 anos, entre outras limitações (BRASIL,
1927).
Nas palavras de Veronese e Custódio:
O Código de Menores de 1987 conseguiu corporificar leis e decretos que, desde 1902,
propunham-se a aprovar um mecanismo legal que desse especial relevo à questão do
“menor”, pois veio alterar e substituir concepções obsoletas, com as de discernimento,
culpabilidade, penalidade, responsabilidade, pátrio poder, passando a assumir a
assistência ao menor de idade sob a perspectiva educacional. Em suma, a reforma da
legislação social proposta pelo Estado nas três primeiras décadas do século XX,
22
13
Assevera Lima (2012, p. 10) que “quanto mais se diminui o limite de idade para o labor de crianças, mais se
legitima a desigualdade social, a miséria, a evasão escolar, dentre outros problemas marcantes na vida de meninos e
meninas”.
24
14
“Para que os direitos humanos se internacionalizassem foi necessário redefinir o âmbito e o alcance do tradicional
conceito de soberania estatal, a fim de permitir o advento dos direitos humanos como questão de legítimo interesse
internacional. Foi ainda necessário redefinir o status do individuo no cenário internacional, para que se tornasse o
verdadeiro sujeito do Direito Internacional”. (PIOVESAN, 2008, p. 111).
15
“Os documentos internacionais podem proteger direitos de todos os seres humanos, ou apenas de algum grupo
especial, geralmente composto por excluídos, nesse passo, é possível apontar a existência de dois sistemas de
proteção: homogêneo e heterogêneo. No sistema homogêneo identifica-se verdadeira universalidade, pois, os direitos
de todos os seres humanos são tutelados e não de um grupo específico. Consubstancia-se e, um sistema “posto à
disposição de todos os destinatários de normas que o compõem, de forma indistinta. Ao contrário do sistema
homogêneo de proteção, disponibilizado de forma indistinta à universalidade de pessoas, o sistema heterogêneo de
25
Neste sentido, o Direito Internacional dos Direitos Humanos das Crianças e dos
Adolescentes, também é composto de dois sistemas de proteção o homogêneo e o heterogêneo.
Artigo XXV 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a
sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de
subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as
crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-
profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no
mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade
humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre
todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero de instrução que será ministrada
a seus filhos. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).
proteção tem por foco um grupo merecedor diante de várias circunstâncias – como a exclusão histórica – de atenção
especial, como ocorre com a criança, as mulheres, os portadores de necessidades especiais e outros”. (MOCACO,
2000).
26
1. Toda criança, terá direito, sem discriminação alguma por motivo de cor, sexo,
religião, origem nacional ou social, situação econômica ou nascimento, às medidas de
proteção que a sua condição de menor requerer por parte de sua família, da sociedade e
do Estado.
2. Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e deverá
receber um nome.
3. Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade (BRASIL, 1992).
Por sua vez, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(Decreto n° 591/92), em seu art. 10, enfatizou a necessidade de proteção da criança e do
adolescente em relação a alguns tipos de trabalho a saber: a) trabalhos nocivos à moral; b)
trabalhos nocivos à saúde; c) trabalhos que coloquem em risco a vida e, d) trabalhos que venham
a prejudicar o desenvolvimento normal, também determina que os Estados devem estabelecer
limites de idade, sob os quais fique proibido e punido por lei o emprego assalariado da mão de
obra infantil, in verbis:
ARTIGO 10
Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que:
1. Deve-se conceder à família, que é o elemento natural e fundamental da sociedade, as
mais amplas proteção e assistência possíveis, especialmente para a sua constituição e
enquanto ela for responsável pela pela criação e educação dos filhos. O matrimônio deve
ser contraído com livre consentimento dos futuros cônjuges.
2. Deve-se conceder proteção às mães por um período de tempo razoável antes e depois
do parto. Durante esse período, deve-se conceder às mães que trabalhem licença
remunerada ou licença acompanhada de benefícios previdenciários adequados.
3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção e de assistência em prol de todas as
crianças e adolescentes, sem distinção por motivo i de filiação ou qualquer outra
condição. Devem-se proteger as crianças e adolescentes contra a exploração econômica
e social. O emprego de crianças e adolescentes em trabalhos que lhes sejam nocivos à
saúde ou que lhes façam correr perigo de vida, ou ainda que lhes venham a prejudicar o
desenvolvimento normal, será punido por lei. Os Estados devem também estabelecer
limites de idade sob os quais fique proibido e punido por lei o emprego assalariado da
mão-de-obra infantil (BRASIL, 1992).
27
16
Entende Monaco (2000) que a convenção é o instrumento mais eficaz no caminho de um direito internacional do
trabalho uniforme e homogêneo.
17
“A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho: Convocada em Genebra pelo Conselho de
Administração do Secretariado da Organização Internacional do Trabalho e reunida a 06 de junho de 1973, em
sua qüinquagésima oitava sessão; Após ter decidido adotar diversas propostas relativas à idade mínima de admissão
ao emprego, assunto que constitui o quarto ponto da agenda da sessão; Levando em consideração os dispositivos das
seguintes convenções: Convenção sobre a idade mínima (indústria), 1919; Convenção sobre a idade mínima
(trabalho marítimo), 1920; Convenção sobre a idade mínima (agricultura), 1921; Convenção sobre a idade mínima
(paioleiros e foguistas), 1921; Convenção sobre a idade mínima (trabalhos não industriais), 1932; Convenção
(revisada) sobre a idade mínima (trabalho marítimo), 1936; Convenção (revisada) sobre a idade mínima (indústria),
1937; Convenção (revisada) sobre a idade mínima (trabalhos não industriais), 1937; Convenção sobre a idade
mínima (pescadores), 1959; e Convenção sobre a idade mínima (trabalho subterrâneo), 1965; Considerando que
chegou o momento de adotar um instrumento geral sobre o tema que, gradualmente, substitua os instrumentos
atuais, aplicáveis a setores econômicos limitados, a fim de obter a abolição total do trabalho de crianças; e Tendo
decidido que tal instrumento assuma a forma de uma convenção internacional, adota no vigésimo sexto dia de junho
de mil novecentos e setenta e três, a seguinte convenção, que será denominada Convenção sobre a Idade Mínima,
1973”. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1973).
18
“Artigo 2º 1. Todo Membro que ratificar esta Convenção especificará, em declaração anexa à ratificação, uma
idade mínima para admissão a emprego ou trabalho em seu território e nos meios de transporte registrados em seu
território; ressalvado o disposto nos Artigos 4º e 8º desta Convenção, nenhuma pessoa com idade inferior a essa
idade será admitida a emprego ou trabalho em qualquer ocupação. 2. Todo País-membro que ratificar esta
Convenção poderá notificar ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, por declarações subseqüentes,
que estabelece uma idade mínima superior à anteriormente definida.3. A idade mínima fixada nos termos do
parágrafo 1º deste Artigo não será inferior à idade de conclusão da escolaridade obrigatória ou, em qualquer
hipótese, não inferior a quinze anos. 4. Não obstante o disposto no Parágrafo 3º deste Artigo, o País-membro, cuja
economia e condições do ensino não estiverem suficientemente desenvolvidas, poderá, após consulta às organizações
de empregadores e de trabalhadores concernentes, se as houver, definir, inicialmente, uma idade mínima de quatorze
anos.5. Todo País-membro que definir uma idade mínima de quatorze anos, de conformidade com o disposto no
parágrafo anterior, incluirá em seus relatórios a serem apresentados sobre a aplicação desta Convenção, nos termos
29
pode ser inferior àquela de conclusão da escolaridade compulsória ou, em qualquer hipóteses, não
inferior a 15 (quinze) anos.
Importa ressaltar que diferente do paradigma adotado pela Convenção 138 da OIT,
o Estatuto da Criança Adolescente elege a idade de 18 (dezoito) anos.
No art. 7°. Item 119, admite-se o emprego ou trabalho de jovens entre 13 (treze) e
15 (quinze) anos, em serviços leves, desde que: i) não prejudiquem sua saúde ou
desenvolvimento; e, ii) não prejudiquem sua frequência escolar, sua participação em programas
de orientação profissional ou de formação aprovada pela autoridade competente, ou sua
capacidade de se beneficiar da instrução recebida.
Foi ressalvado aos Estados Membros cuja economia e condições de ensino não
estivessem suficientemente desenvolvidas, a possibilidade de definirem a idade mínima de 14
(quatorze) anos, proibindo-se. De qualquer forma, o exercício de trabalho que prejudique a saúde,
a segurança e a moral do jovem. Consta ainda regra segundo a qual não será inferior a 18
(dezoito) anos de idade mínima para admissão a qualquer tipo de empregou ou trabalho que, por
sua natureza ou circunstância em que for executado, possa prejudicar a saúde, a segurança e a
moral do adolescente (ROSATO; LÉPORE, 2012).
No Brasil a Constituição Federal de 1988, estabeleceu inicialmente, em seu art. 7°,
inciso XXXIII, a proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de 18
(dezoito) anos, e de qualquer trabalho aos menores de 14 (quatorze) anos, salvo na condição de
aprendiz (BRASIL, 1988).
Por sua vez, assevera a Recomendação 146, inciso IV, §§ 12 e 13, que devem ser
aplicadas ao trabalho dos menores de 18 (dezoito) anos condições satisfatórias, que incluem: o
provimento de uma justa remuneração e sua proteção, tendo em vista o princípio de salário igual
para trabalho igual; a rigorosa limitação das horas diárias e semanais de trabalho e a proibição de
horas extras, de modo a deixar tempo para a educação, descanso e lazer; um período consecutivo
mínimo de doze horas de repouso noturno e o repouso semanal, à concessão de férias anuais e
remuneradas de pelo menos quatro semanas e nunca mais curtas do que as concedidas a adultos;
31
20
“A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho: Convocada em Genebra pelo Conselho de
Administração da Repartição Internacional do TrabaIho e reunida naquela cidade em 1º de junho de 1999 em sua
octogésima sétima reunião; Considerando a necessidade de adotar novos instrumentos para a proibição e
eliminação das piores formas de trabalho infantil, principal prioridade da ação nacional e internacional, incluídas a
cooperação e a assistência internacionais, como complemento da Convenção e Recomendação sobre a idade
mínima de admissão ao emprego, 1973, que continuam sendo instrumentos fundamentais sobre o trabalho infantil;
Considerando que a eliminação efetiva das piores formas de trabalho infantil requer uma ação imediata e abrangente
que leve em conta a importância da educação básica gratuita e a necessidade de liberar de todas essas formas de
trabalho as crianças afetadas e assegurar a sua reabilitação e sua inserção
social ao mesmo tempo em que são atendidas as necessidades de suas famílias; Recordando a Resolução sobre a
eliminação do trabalho infantil, adotada pela Conferência lnternacional do Trabalho em sua 83ª reunião, celebrada
em1996; Reconhecendo que o trabalho infantil é em grande parte causado pela pobreza e que a solução no longo
prazo está no crescimento econômico sustentado conducente ao progresso social, em particular a mitigação da
pobreza e a educação universal; Recordando a Convenção sobre Direitos da Criança adotada pela Assembléia Geral
das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989; Recordando a Declaração da OIT relativa aos princípios e direitos
fundamentais no trabalho e seu seguimento, adotada pela Conferência Internacional do Trabalho em sua 86ª
reunião, celebrada em 1998; Recordando que algumas das piores formas de trabalho infantil são objeto de outros
instrumentos internacionais, em particular a Convenção sobre o trabalho forçado, 1930, e a Convenção suplementar
das Nações Unidas sobre a abolição da escravidão, o tráfico de escravos e as instituições e práticas análogas a
escravidão, 1956; Tendo decidido adotar diversas propostas relativas ao trabalho infantil,
questão que constitui o quarto ponto da agenda da reunião, e Tendo determinado que essas propostas tomem a forma
de uma convenção internacional. Adota, com data de dezessete de junho de mil novecentos e noventa e nave, a
seguinte Convenção, que poderá ser citada como Convenção sobre as piores formas de trabalho infantil, 1999”.
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1999).
21
“No mesmo ano, a OIT adotou a Recomendação nº 190, indicando os programas de ação para a eliminação das
piores formas de labor infantil e solicitando aos Países-Membros que identifiquem, denunciem e impeçam que os
infantes exerçam tais atividades. Recomendava, ainda, que fosse dada atenção especial às crianças mais jovens, às do
sexo feminino e ao problema do trabalho oculto. A Recomendação assinala, de maneira exemplificativa,
modalidades de trabalho perigoso: aqueles em que a criança submete-se a abusos psicológicos, físicos e sexuais; as
atividades executadas em condições insalubres ou em condições especialmente difíceis; os trabalhos subterrâneos,
debaixo d’água, em lugares confinados ou em alturas perigosas; as atividades realizadas com máquinas, ferramentas
32
Por sua vez, o art. 4°, item 1, da referida Convenção determina que os tipos de
trabalho a que se refere o art. 3°, alínea “d”, serão definidos pela legislação nacional ou pela
autoridade competente, após consulta com as organizações de empreendedores e de trabalhadores
interessadas, levando em consideração as normas internacionais pertinentes.
No Brasil o referido dispositivo foi regulamentado, por meio do Decreto n.
6.481/08, que aprovou a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), que enumera as
e equipamentos de risco, bem como os que envolvam manipulação ou transporte de cargas pesadas. A
Recomendação propõe que, visando pôr em prática os programas de erradicação das piores formas de trabalho
infantil, sejam compilados e atualizados dados estatísticos acerca da natureza e do alcance do trabalho da criança e
do adolescente. Sugere que os países ratificantes criem um forte sistema de monitoramento e de sanções para os
envolvidos, além de propor: o desenvolvimento de políticas empresariais que visem à promoção dos fins da
Convenção, a melhoria da infra-estrutura educacional e da capacitação de professores, a promoção de emprego e de
formação profissional aos pais das crianças, bem como a sensibilização dos adultos das famílias sobre a gravidade da
questão do trabalho infantil”. (LIMA, 2005, p. 178).
33
atividades proibidas aos menores de 18 (dezoito) anos22. O art. 2°, do referido decreto, traz
exceções a proibição das atividades enumeradas na Lista TIP, nas seguintes hipóteses:
22
“Art. 4o Para fins de aplicação das alíneas “a”, “b” e “c” do artigo 3 o da Convenção no 182, da OIT, integram as
piores formas de trabalho infantil: I - todas as formas de escravidão ou práticas análogas, tais como venda ou tráfico,
cativeiro ou sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou obrigatório; II - a utilização, demanda, oferta, tráfico
ou aliciamento para fins de exploração sexual comercial, produção de pornografia ou atuações pornográficas; III - a
utilização, recrutamento e oferta de adolescente para outras atividades ilícitas, particularmente para a produção e
tráfico de drogas; e IV - o recrutamento forçado ou compulsório de adolescente para ser utilizado em conflitos
armados”. (BRASIL, 2000).
34
23
“A Liga das Nações foi uma organização internacional criada em abril de 1919, quando a Conferência de Paz de
Paris adotou seu pacto fundador, posteriormente inscrito em todos os tratados de paz. Ainda durante a Primeira
Guerra Mundial, a idéia de criar um organismo destinado à preservação da paz e à resolução dos conflitos
internacionais por meio da mediação e do arbitramento já havia sido defendida por alguns estadistas, especialmente o
presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson. Contudo, a recusa do Congresso norte-americano em ratificar o
Tratado de Versalhes acabou impedindo que os Estados Unidos se tornassem membro do novo organismo. A Liga
possuía uma Secretaria Geral permanente, sediada em Genebra, e era composta de uma Assembléia Geral e um
Conselho Executivo. A Assembléia Geral reunia, uma vez por ano, representantes de todos os países membros da
organização, cada qual com direito a um voto. Já o Conselho, principal órgão político e decisório, era composto de
membros permanentes (Grã-Bretanha, França, Itália, Japão e, posteriormente, Alemanha e União Soviética) e não-
permanentes, estes últimos escolhidos pela Assembléia Geral. Não possuindo forças armadas próprias, o poder de
coerção da Liga das Nações baseava-se apenas em sanções econômicas e militares. Sua atuação foi bem-sucedida no
arbitramento de disputas nos Bálcãs e na América Latina, na assistência econômica e na proteção a refugiados, na
supervisão do sistema de mandatos coloniais e na administração de territórios livres como a cidade de Dantzig. Mas
ela se revelou impotente para bloquear a invasão japonesa da Manchúria (1931), a agressão italiana à Etiópia (1935)
e o ataque russo à Finlândia (1939). Em abril de 1946, o organismo se auto dissolveu, transferindo as
responsabilidades que ainda mantinha para a recém-criada Organização das Nações Unidas, a ONU”. (FUNDAÇÃO
GETÚLIO VARGAS, 2000).
35
II – A criança que estiver com fome deve ser alimentada; a criança que estiver doente
precisa ser ajudada; a criança atrasada precisa ser ajudada; a criança delinqüente precisa
ser recuperada; o órfão e o abandonado precisam ser protegidos e socorridos;
III – A criança deverá ser a primeira a receber socorro em tempos de dificuldades;
IV – A criança precisa ter possibilidade de ganhar seu sustento e deve ser protegida de
toda forma de exploração;
V – A criança deverá ser educada com consciência de que seus talentos devem ser
dedicados ao serviço de seus semelhantes (LIGA DAS NAÇÕES, 1984)
A Declaração dos Direitos da Criança foi adotada pela Assembleia das Nações
Unidas de 20 de novembro de 195924.
Para Veronese e Custódio (2013) a Organização das Nações Unidas proferiu a
Declaração dos Direitos da Criança, exemplo de documento interpretativo e complementar da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, tanto que se refere a esse documento em seu
preâmbulo, mas, na sequência “apresenta o problema dos direitos da criança como uma
especificação da solução dada ao problema dos direitos do homem”.
Baseada na Resolução 1.386, e denominada de Declaração dos Direitos da
Criança, de 1959, foi responsável por uma verdadeira alteração de paradigma, pois a criança
deixou de ser considerada objeto de proteção (agente passivo), para ser erigida a sujeito de
direito, e paralelamente, em sentido amplo a infância passou a ser considerada um sujeito
coletivo de direitos.
Dolinger (2003) aponta outra significativa diferença entre as Declarações.
Enquanto na de 1924, o art. III relata que a criança deve ser a primeira a receber socorro em
24
“A Declaração dos Direitos da Criança foi proclamada pela Resolução da Assembleia Geral 1386 (XIV), de 20 de
Novembro de 1959. Tem como base e fundamento os direitos a liberdade, estudos, brincar e convívio social das
crianças que devem ser respeitadas e preconizadas em dez princípios. Aprovada por unanimidade em 20 de
Novembro de 1959, pela Assembleia Geral da ONU. É integralmente fiscalizada pela UNICEF. Organismo
unicelular da ONU, criada com o fim de integrar as crianças na sociedade e zelar pelo seu convívio e interação
social, cultural e até financeiro conforme o caso, dando-lhes condições de sobrevivência até a sua adolescência”.
(ISHIDA, 2010, p. 166).
36
tempos de dificuldade, enquanto que o Princípio 8 da Declaração de 1959 diz que a criança está
entre os primeiros a receber a proteção e o socorro.
A Declaração dos Direitos da Criança traz em seu bojo, dez princípios quais seja:
Defendem Rossato e Lépore (2012) que dentre todos esses princípios, destaca-se o
primeiro, pelo qual todas as crianças (e não só um grupo delas) passaram a ser detentoras de
direitos. Não só os filhos de reis, de governantes, de detentores do capital, mas também os filhos
do proletariado e dos excluídos. A infância qualquer que fosse a origem, passou a ser considerado
como sujeito coletivo de direitos.
Ocorre que, assim como a Carta da Liga de 1924, o problema inicial de aplicação
da Declaração dos Direitos da Criança era a carência de coercibilidade, sendo considerada mera
enunciação de direitos, sem que o seu cumprimento pudesse ser exigido pelos seus Estados
Partes25.
Entende Dolinger (2003, p. 84) que “a Declaração dos Direitos da Criança da
ONU teria mais força em comparação às declarações em geral, pois foi aprovada por
unanimidade na Assembléia Geral das Nações Unidas”.
25
“Trata-se de um problema comum às Declarações de Direitos, que exigem complementação como, por exemplo, o
mesmo fenômeno que atingiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos e exigiu a edição dos Pactos de Direitos
de 1966”. (VERONESE, LÉPORE, 2013, p. 122).
37
A Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) foi adotada pela ONU, em 1989,
e ratificada no Brasil pelo Decreto n° 99.710/199026, por se tratar de direitos humanos aprovado
antes da Emenda Constitucional n° 45/2004, tem status de supra legalidade no sistema jurídico
brasileiro, conforme posição majoritária do Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 2010).
“Destaca-se como o tratado internacional de proteção de direitos humanos com
mais elevado número de ratificações” (ISHIDA, 2010, p. 123).
Para os fins da Convenção, a criança é todo indivíduo menor de dezoito anos,
salvo se, em conformidade com a lei aplicável à criança a maioridade seja alcançada antes (art.
1°). Neste sentido a Convenção não distingue crianças de adolescentes. O que não implica,
entretanto, que suas normas não protejam todo menor de 18 (dezoito) anos (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 1989).
Conforme assevera Machado (2003, p. 165) “a Convenção acolhe a concepção do
desenvolvimento integral as criança, reconhecendo-a como verdadeiro sujeito de direitos, que
exige proteção especial e absoluta prioridade”.
Nas palavras de Rossato e Lépore (2012) o documento é composto por
dispositivos que seguem a filosofia fundada na Declaração Universal dos Direitos do Homem,
cuidando não só dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos, mas também inclui
direitos humanitários e conceitos novos.
Entretanto, pode-se notar que nem todos os direitos consagrados nos documentos
de proteção homogênea foram repetidos na Convenção da Criança, o que não se apresenta como
um problema, pois é identificada a existência de um diálogo, entre as convenções sobre os
direitos humanos e a Convenção de 1989, de modo que todos os princípios consubstanciados nos
26
Decreto n° 99.710/90. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D99710.htm>.
Acesso em: 14 de Jan. 2013.
38
27
“Artigo 32 - 1. Os Estados Partes reconhecem à criança o direito de ser protegida contra a exploração econômica ou
a sujeição a trabalhos perigosos ou capazes de comprometer a sua educação, prejudicar a sua saúde ou o seu
desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social. 2. Os Estados Partes tomam medidas legislativas,
administrativas, sociais e educativas para assegurar a aplicação deste artigo. Para esse efeito, e tendo em conta as
disposições relevantes de outros instrumentos jurídicos internacionais, os Estados Partes devem, nomeadamente: a)
Fixar uma idade mínima ou idades mínimas para a admissão a um emprego; b) Adotar regulamentos próprios
relativos à duração e às condições de trabalho; e c) Prever penas ou outras sanções adequadas para assegurar uma
efetiva aplicação deste artigo”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1989).
28
“O Comité dos Direitos da Criança é o órgão criado em virtude dos art.º 43.º da Convenção sobe os Direitos da
Criança com o objectivo de controlar a aplicação, pelos Estados Partes, das disposições desta Convenção, bem como
dos seus dois Protocolos Facultativos (relativos ao Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados e à Venda de
Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil). Os Estados Partes apresentam relatórios ao Comité onde
enunciam as medidas adoptadas para tornar efectivas as disposições da Convenção (e, sendo caso disso, dos seus
Protocolos Facultativos). Os relatórios são analisados pelo Comité e discutidos entre este e representantes do Estado
Parte em causa, após o que o Comité emite as suas observações finais sobre cada relatório: salientando os aspectos
positivos bem como os problemas detectados, para os quais recomenda as soluções que lhe pareçam adequadas. Este
Comité dispõe também de competência para formular comentários gerais relativos a determinados artigos ou
disposições da Convenção, organizar debates temáticos sobre matérias cobertas pela mesma, solicitar a realização de
estudos sobre questões relativas aos direitos da criança e elaborar recomendações de ordem geral com base na
informação recolhida a partir dos relatórios estaduais ou de outras fontes”. (COMITE DOS DIREITOS DA
CRIANÇA, 2006).
39
interesses da criança (art. 3°); 3) princípio do direito à vida e à sobrevivência (art. 6°); e, 4)
princípio do direito a expressar sua opinião (art. 12).
No entendimento de Mônaco:
29
“A Consolidação das Leis do Trabalho sofreu diversas alterações no Capítulo IV, denominado Da proteção do
trabalho do menor, do Título III, que estabelece as normas especiais de tutela do trabalho. Os artigos desse citado
Capítulo e is de ns. 17, § 1° (carteira profissional), 134, § 2° (período de férias), 136, § 1° (época de férias de
membros da mesma família); § 2° (época da concessão de férias), 461 (isonomia salarial – que também diz respeito
ao adolescente) e 529, “b” (que estabelece idade para o exercício do direito do voto no sindicato)”. (PORTELA,
2010, p. 234).
30
“A Constituição Federal de 1988 trouxe a lume seis princípios básicos com relação à proteção do trabalho do
adolescente: Princípio da Idade Mínima (art. 7°, XXXIII e art. 227, § 3°, inciso I, CF/88); Princípio da Tutela
Especial (art. 7°, XXXIII, e art. 227, §3°, inciso I); Princípio da aprendizagem e formação para o trabalho (art. 7°,
XXXIII, e art. 214); Princípio da Integração ao Mercado do Trabalho (art. 203, III); Princípio das garantias
trabalhistas (art. 7°, XXXIII, e art. 227, §3°, inciso I) e Princípio da Garantia da Educação – qualificação para o
trabalho (art. 205)”. (MORAES FILHO; MORAES, 2010, p. 605).
31
“O Estatuto da Criança e do Adolescente foi estabelecido pela Lei n° 8.069, de 13.6.1990, sendo dividido em dois
Livros, sendo Parte Geral e o segundo Parte Especial. Os principais artigos do Estatuto que dizem respeito
especificamente aos direitos trabalhistas são os de números 4, 60 até 69, 94, 98, 120, 124, 136 e 201”. (ISHIDA,
2010, p. 127).
42
Decreto Lei 4.134/0233 e o Decreto n° 3.597/0034. Adiante será feito um estudo sobre a aplicação
desses dispositivos legais na consolidação da Doutrina da Proteção Integral.
32
“A Lei 9.034/1996, preocupa-se com a preparação do adolescente para o trabalho desde o ensino básico, além de
possuir um capítulo próprio à respeito da educação profissional (III do título V)”. (MORAES FILHO; MORAES,
2010, p. 500).
33
O Decreto 4.134/2002, ratificou no a Convenção n° 138, complementada peça Recomendação 146
34
O Decreto 3.597/2000 ratificou a Convenção n° 182 e a Recomendação 190.
35
“No sentido técnico-jurídico designa a pessoa que não tinha ainda atingido a maioridade. É, assim, aquela que não
tem 18 anos completos, exigidos por lei, para que seja considerado capaz”. (NASCIMENTO, 2000, p. 186).
36
“Considera-se a pessoa até 12 anos incompletos”. (BRASIL, 1990).
37
“ Nomina-se de acordo com a Lei n° 8.069/90, de 13.7.1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a pessoa entre
12 e 18 anos de idade”. (SILVA, 2008, p. 70).
38
“Jovem é o indivíduo com idade entre 15 e 29 anos, conforme determina a Lei n. 11.129/05”. (ROSSATO;
LÉPORE, 2012, p. 76).
39
“A palavra menor normalmente é utilizada no Direito Civil ou Penal para significar inimputabilidade daquela
pessoa, o que não ocorre no Direito do Trabalho. No Direito Civil, faz-se a distinção entre menor de 16 anos ou
impúbere, que deve ser representado pelos pais para a prática de atos civis e que é absolutamente incapaz (art. 3º, I,
do CC). São relativamente incapazes os maiores de 16 anos e os menores de 18 anos (art. 4], I, do CC), que são os
menores púberes, que serão assistidos pelos progenitores. A capacidade absoluta dá-se aos 18 anos, ou seja, quando
cessa a menoridade (art. 5º do CC). No Direito Penal, considera-se que os menores de 18 anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial (art. 27 do CP, que foi elevado ao nível
de dispositivo constitucional no art. 228 da Constituição). A rigor, a palavra menor nada significa, apenas coisa
pequena. O jovem, ou a juventude, é a faixa de idade compreendida entre 15 e 24 anos. O termo menor, porém, tem
sido utilizado mais para demonstrar a incapacidade daquela pessoa para os atos da vida jurídica. Tem, assim, a
palavra natureza civilista. As legislações estrangeiras costumam empregar as seguintes palavras para tratar da
criança: child, em inglês; enfant, em francês; fanciulli, em italiano; nino, em espanhol. Os termos mais corretos são,
realmente, criança e adolescente. A criança pode ser entendida como a pessoa que está antes da fase da puberdade. A
puberdade é o período de desenvolvimento da pessoa, em que ela se torna capaz de gerar um filho. Já a adolescência
é o período que vai da puberdade até a maturidade. Como vemos, o menor não é incapaz de trabalhar, ou não está
incapacitado para os atos da vida trabalhista; apenas, a legislação dispensa-lhe uma proteção especial. Daí por que os
termos a serem empregados são criança ou adolescente. A atual Constituição, nesse aspecto, adotou a referida
nomenclatura, mais acertada. Há no inciso II do art. 203 uma regra de assistência social destinada a dar amparo “às
crianças e adolescentes”. O Capítulo VII do Título VIII “Da Ordem Social” da Constituição empregou
expressamente a denominação “Da Criança e do Adolescente”, destinando proteção especial a essas pessoas; utiliza a
Constituição a expressão criança e adolescente no art. 227, § 1º, II, § 3º, III, § 4º, § 7º. Quando o constituinte quis
referir-se à incapacidade, utilizou a expressão menor, como no art. 228, que informa ser o menor de 18 anos
penalmente inimputável. Andou certo o constituinte ao tratar da questão, adotando expressão com origem na
legislação italiana, pois a palavra menor mostra um indivíduo que ainda não atingiu pleno desenvolvimento
psicossomático, normalmente abrangendo a pessoa entre 12 e 18 anos, ficando a juventude para as pessoas entre 15 e
24 anos, prestes a entrar para o mercado de trabalho”. (MARTINS, 2005, p.613).
43
40
“Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade”. (BRASIL, 1990).
44
41
“Os direitos fundamentais ganham a característica de fundamentais quando inseridos nos textos constitucionais”.
(SARLET, 2009, p. 29)
46
titularidade de direitos fundamentais, e determinar que o Estado os promova por meio de políticas
públicas.
O caput do art. 227 da Constituição Federal afirma ser dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Em verdade, o art. 227 representa o metaprincípio da prioridade absoluta dos
direitos da criança e do adolescente, tendo como destinatários da norma a família, a sociedade e o
Estado.
Para Rossato e Lépore (2012) pretende-se que a família se responsabilize pela
manutenção da integridade física e psíquica, a sociedade pela convivência coletiva harmônica, e o
Estado pelo constante incentivo à criação de políticas públicas. Trata-se de uma responsabilidade
que para ser realizada, necessita de uma integração, de um conjunto devidamente articulado de
políticas públicas. Essa competência difusa, que responsabiliza uma diversidade de agentes pela
promoção da política de atendimento à criança e ao adolescente, tem por objetivo ampliar o
próprio alcance da proteção dos direitos infanto-juvenis. Note-se que a fundamentalidade desses
dispositivos é tamanha que contou com reprodução praticamente integral no art. 4° do Estatuto da
Criança e do Adolescente.
Neste sentido, Silva (2008) assevera que a Constituição Federal é minuciosa e
redundante na previsão de direitos e situações subjetivas envolvendo crianças e adolescentes,
uma vez que especifica, em relação a eles, direitos já consignados para todos em geral, como os
direitos previdenciários e trabalhistas, mas estatui importantes normas tutelares especialmente das
pessoas em desenvolvimento abandonadas e das dependentes de drogas e entorpecentes,
postulando ainda, punição severa ao abuso, violência e exploração sexual da criança e do
adolescente.
Adiante se fará uma breve demonstração dos dispositivos de proteção a criança e
adolescente prescrito na Constituição Federal de 1988.
O § 1° do art. 227, determina ser dever do Estado promover programas de
assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não
47
Em adição, segundo o § 2° do art. 227 deverá a lei ordinária dispor sobre normas
de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de
transporte coletivo, a afim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Não satisfeito em enunciar prioridade absoluta, o constituinte tratou de elencar no
§ 3° do art. 227 os aspectos que aumentariam a proteção especial à criança e ao adolescente,
dentre os quais se destacam a idade mínima de 14 (quatorze) anos para admissão ao trabalho na
condição de aprendiz, a garantia de direitos previdenciários e trabalhistas, e o acesso do
trabalhador adolescente à escola.
Ainda no mesmo dispositivo supracitado, o constituinte discriminou normas
relativas ao cometimento e consequências do ato infracional, determinando, por exemplo, a
garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação
processual e defesa técnica por profissional habilitado, e exigindo obediência aos princípios de
brevidade, excepcionalidade e respeito e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa de liberdade. Para finalizar,
a Constituição traz normas referentes às pessoas em desenvolvimento que necessitam de proteção
especial, determinando o estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos
fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob forma de guarda, de criança ou
adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.
Por sua vez, o § 4°do art. 227 da Constituição Federal determina que a lei punirá
severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. Note-se que
o constituinte foi enfático, ao adotar a expressão severamente. No § 5° do art. 227 enuncia que a
adoção por estrangeiros é permitida, nos termos da lei especial, que é o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Já o § 6° estabelece a isonomia entre os filhos, independentemente da sua condição
48
Porém, importe observar que nos casos de redução da jornada de trabalho, nada
impede a redução dos salários do menor.
Trabalho infantil seria o trabalho prestado por quem tem idade inferior àquela prevista
por lei. A Convenção nº 182 da Organização Internacional do Trabalho afirma que, para
o efeito de aplicação da referida norma internacional, deverá ser considerada criança, a
pessoa com idade inferior a dezoito anos e Diretiva nº 94/33 da União Européia faz
idêntica afirmação em relação à idade inferior a quinze anos. (OLIVEIRA, 2001).
Como já visto, o art. 7º, inciso XXXIII da CF de 1988, alterado pela EC n.º 20, de
15 de dezembro de 1988, proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de 18
(dezoito) anos de idade e de qualquer trabalho aos menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de 14 (catorze) anos. O art. 60 do ECA, também preconizava a
proibição de qualquer trabalho aos menores de 14 (catorze) anos, salvo na condição de aprendiz,
conforme a seguinte redação: “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre, a menores de
dezoito, de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
dos quatorze anos”.
Para Machado (2003, p. 02), “as normas jurídicas que definem a idade mínima ao
trabalho, têm suma importância, pois assinalam um marco importante: abaixo da idade mínima o
trabalho é proibido”.
Nas palavras de Martins (2005), o ideal seria que crianças e adolescentes
pudessem ficar no seio familiar, usufruindo as atividades escolares necessárias, sem entrar
diretamente no mercado de trabalho, até por volta dos 24 (vinte e quatro) anos, obtendo plena
formação moral e cultural, mas, no caso de nosso país, isso se tem verificado impossível.
O termo “trabalho infantil”, é entendido como aquelas atividades econômicas e/ou
atividades de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por
crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos, ressalvada a condição de
aprendiz a partir dos 14 (catorze) anos, conforme prevê a Magna Carta de 1988.
No que concerne à proteção do trabalhador adolescente e do jovem adulto, será
considerado todo trabalho desempenhado por pessoa com idade entre 16 (dezesseis) e 18
(dezoito) anos incompletos e, na condição de aprendiz, de 14 (catorze) a 24 (vinte e quatro) anos
incompletos, conforme determina a recente Lei n.º 11.180, de 23 de setembro de 2005, desde que
preenchidos os requisitos mencionados em seu art. 2º.
A utilização da expressão “trabalho infantil” serve para facilitar a distinção do
trabalho dos adolescentes, com idade na qual o trabalho é permitido, desde que não prejudique o
seu processo de formação e desenvolvimento moral, social, cultural, psíquico e físico, não
prejudicando principalmente sua frequência escolar.
57
Sob o aspecto quantitativo, porque crianças e adolescentes tem mais direitos que os
próprios adultos. Em comum, encontram-se todos os direitos individuais e sociais
reconhecidos ao ser humano em atenção ao princípio da igualdade. Porém, são
assegurados às crianças e adolescentes outros direitos fundamentais, não positivados
para os adultos. E assim ocorre em razão da peculiar situação de desenvolvimento em
que se encontram. (VERONESE; CUSTÓDIO, 2013, p. 230)
42
“É inequívoco que os direitos indicados no caput do art. 227 e seu parágrafo terceiro e no art. 228 são direitos
fundamentais da pessoa humana: a própria natureza deles assim o faz. E nesse sentido, assevera: “Com o perdão da
obviedade: se o caput do art. 5° da CF menciona a vida, a liberdade, a igualdade, para depois especificar os inúmeros
desdobramentos (ou facetas) desses direitos nos seus incisos, e se o art. 227, caput, refere-se expressamente à mesma
vida, liberdade, dignidade, para em seguida desdobrá-las, seja no próprio caput, seja no parágrafo 3°, seja no art.
228, evidente que se trata de direitos da mesma natureza, ou seja, direitos fundamentais da pessoa humana”.
(MACHADO, 2003, p. 106).
43
Sobre a noção de Estado Democrático de Direito e a realização dos direitos fundamentais, observou Piovesan: “A
noção de Estado Democrático de Direito está, pois, indissociavelmente ligada à realização dos direitos fundamentais.
É desse liame indissolúvel que exsurge aquilo que se pode denominar de plus normativo do Estado Democrático de
Direito. Mais do que uma classificação de Estado ou de uma variante de sua evolução histórica, o Estado
Democrático de Direito faz uma síntese das fases anteriores, agregando a construção das condições de possibilidades
para surgir as lacunas das etapas anteriores, representadas peça necessidade do resgate das orinessas da modernidade,
tais como igualdade, justiça social e a garantia dos direitos humanos fundamentais”. (PIOVESAN. 2008, p.107).
58
Recordemos, nesse passo, que a Convenção 138, da OIT fixou em quinze anos a idade
mínima para o trabalho, facultando, todavia, ao país cuja economia e meios de educação
estejam insuficientemente desenvolvidos, que esse limite seja de quatorze anos. Este,
sem dúvida, é o caso do Brasil, o qual, paradoxalmente, e ao contrário do que se verifica
e, países plenamente desenvolvidos, estabeleceu a idade mínima para o trabalho em
dezesseis anos, só admitindo contrato de aprendizagem a partir dos quatorze anos.
(SUSSEKIND, 2005, p. 160).
Inicialmente o Brasil adotou como idade mínima para o trabalho quatorze anos.
Contudo, com a Emenda Constitucional n. 20/1998 houve alteração da norma constitucional, de
modo que a idade mínima para o desempenho de qualquer trabalho passou a ser de dezesseis
anos, salvo na condição de aprendiz (art. 7°, XXXIII da CF)44.
Posteriormente, com o Dec. n. 4.134/2002, determinou a execução da Convenção
da OIT. De acordo com o art. 2°, daquele Decreto, considerou-se para, todos os fins, como sendo
de dezesseis anos a idade mínima para admissão a empregou ou trabalho.
Para Rossato e Lépore (2012, p. 80) “se a idade mínima para o exercício do
Trabalho não for observada estar-se-à diante do trabalho infantil, proibido constitucionalmente”.
44
“As Constituições de 1824 (Imperial) e a Republicana de 1891 nada dispuseram a respeito. A primeira
Constituição Federal a cuidar da questão foi a de 1934 (art. 121, letra d), seguindo-lhe a Constituição Federal de
1937 (art. 137, letra J), ambas estabelecendo o limite de quatorze anos para o trabalho, princípio mantido pela Carta
Magna de 1946 (art. 157, IX). Esse limite foi reduzido para doze anos, pela Constituição Federal de 1967 (art. 158,
X)”. (ALMEIDA, 2006, p. 166).
60
segundo será considerada a atividade executada entre as vinte horas e as quatro horas do dia
seguinte (VERONESE; LÉPORE, 2013).
Esse horário deve ser estendido também aos adolescentes, sobrepondo-se à regra
geral, naquilo que beneficiar o adolescente, considera-se noturno aquele desempenhado entre as
vinte e uma (e não vinte e duas) horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte. De outro lado,
para o trabalho na pecuária, considera-se noturno e executado entre as vinte horas de um dia e as
cinco horas do dia seguinte.
Para Rossato e Custódio o trabalho na pecuária realizado por menor de dezoito
anos – o horário não termina às quatro horas, como é a regra geral constante da Lei n. 5.889/73,
mas deve estender-se até as cinco, como previsto na Constituição Federal, CLT e Estatuto.
Porém, em sentido diverso Carrion (2011) sustenta que o trabalho noturno, na atividade pecuária,
segue o parâmetro fixado pela Lei 5.889/73, portanto entre 20 e 4 horas.
A lei ainda faculta ao juiz da Vara da Infância e da Juventude autorizar a
execução de atividades por menores de dezoito anos, em horário noturno “em teatros, circos e
similares, o que alcança as televisões, seja em logradouros públicos (art. 406 c/c art. 405, §§ 2° e
3°, alíneas “a” e “b”, da CLT)”.
De acordo com o art. 3°, da Convenção 182 da OIT, a expressão “piores formas
de trabalho infantil” abrange: a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão,
tais como a venda e tráfico de crianças, a servidão por dívidas e a condição de serviço, e o
trabalho forçado ou obrigatório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; b) a
utilização, o recrutamento ou a oferta
61
Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na
condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.
Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à
sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e
locais que não permitam a freqüência à escola
Art. 405 - Ao menor não será permitido o trabalho:
§ 3º Considera-se prejudicial à moralidade do menor o trabalho:
a) prestado de qualquer modo, em teatros de revista, cinemas, buates, cassinos, cabarés,
dancings e estabelecimentos análogos;(Incluída pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
b) em emprêsas circenses, em funções de acróbata, saltimbanco, ginasta e outras
semelhantes;
c) de produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes, desenhos,
gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que possam, a juízo da
autoridade competente, prejudicar sua formação moral;(Incluída pelo Decreto-lei nº 229,
de 28.2.1967)
d) consistente na venda, a varejo, de bebidas alcoólicas. (Incluída pelo Decreto-lei nº
229, de 28.2.1967). (BRASIL, 1967).
45
“Duração de trabalho compreende noção mais ampla e abrange o lapso temporal de labor ou disponibilidade do
empregado perante seu empregador em virtude do contrato, considerados distintos parâmetros de mensuração: dia
(duração diária, ou jornada), semana (duração semanal). A jornada por sua vez representa o tempo diário em que o
empregado tem de se colocar em disponibilidade perante seu empregador, em decorrência do contrato. E o horário de
trabalho significa o lapso temporal entre o início e o fim de certa jornada laborativa”. (DELGADO, 2011, p. 234).
63
Como se vê, o banco de horas é vedado ao menor, nos moldes em que existe, na
medida em que as horas devem necessariamente ser compensadas na mesma semana, cuja carga
horária não pode passar das 44 horas previstas constitucionalmente.
No segundo caso, para Lépore e Rossato (2012), são requisitos da jornada
extraordinária:
a) incidência de motivo de força maior, assim compreendido “todo acontecimento
inevitável, em relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este não
ocorreu, direta ou indiretamente” (art. 501, caput, CLT), conferindo a legislação
tratamento único para a força maior e o caso fortuito. b) limite máximo de quatro horas
por dia, os quais, somando-se às oito horas regulares, chega-se ao máximo de doze horas
referidos no inciso II do art. 413; c) não basta que haja força maior a justificar o trabalho
extraordinário do menor. Além disso, o seu trabalho deve ser imprescindível ao
funcionamento do estabelecimento; d) comunicação da ocorrência da sobrejornada por
motivo de força maior à Delegacia , Regional do Trabalho; e, e) pagamento de
acréscimo de 50 %.
Nos termos do ar. 227, § 3°, III, da Constituição Federal, a proteção especial
abrangerá a garantia do trabalhador adolescente à escola. Além disso, estabelece o Estatuto a
proibição do trabalho pelo adolescente quando realizado em horários e locais que não permitam a
frequência à escola (art. 67, IV).
65
O adolescente poderá firmar contrato e recibo pelo pagamento dos salários. Neste
sentido, já decidiu o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região:
Menor de idade tem capacidade relativa. Do art. 439 da CLT, que indica as limitações de
suas manifestações de vontade, deduz-se que o menor pode contratar independentemente
de assistência de seus responsáveis. Presume-se existir autorização pela posse da carteira
de trabalho, posto que sua expedição está condicionada à autorização expressa de seu
responsável legal. Se houvesse o impedimento do menor firmar contrato sem assistência,
sua nulidade ou descaracterização (prazo determinado para prazo indeterminado, por
exemplo), estariam previstas pelo legislador no Capítulo IV da CLT – da Proteção do
Trabalho do Menor. Não havendo qualquer proibição legal, prevalece válido o contrato
experimental firmado pelo reclamante menor de 18 anos de idade” (TRT/SP, RO
15.166/85, rel. Valentin Carrion, AC. 17.11.1996).
Almeida (2005) entende que a assistência pode ser suprida com a assinatura do
respectivo sindicato e cita, para tanto, o seguinte julgado: “A assistência sindical prestada nos
termos do § 1°, do art. 477 da CLT, supre aquela prevista no art. 439” (TRT/SP RO
0290002440497 rel. Juiz Roberto Rerraiolo, DOE, 10.09.2002. p. 126).
E acrescenta que: “sem o atendimento a uma ou outra exigência (responsáveis
legais ou sindicato), a quitação é nula de pleno direito”.
Assim também é o entendimento majoritário da jurisprudência pátria:
Pedido de dispensa e termo de rescisão firmados por menor, sem assistência do
responsável, hão de ser considerados nulos, por ausência de formalidade essencial
(TRT/RJ, RO 15.756/93, 1ª T., rel. Carlos José Schefer, DJ 31.07.1995, p. 215).
Prescreve o art. 482, alínea “d”, da CLT, a condenação criminal constitui justa
causa para a demissão, desde que haja o trânsito em julgado da sentença penal e não seja deferida
a suspensão da pena.
Trazendo para a questão do trabalho do adolescente, faz-se o seguinte
questionamento: a aplicação da medida socioeducativa ao adolescente, importaria na demissão
por justa causa?
67
Há previsão nos artigos 434 d 438 da CLT de penalidades que devem ser
impostas aos empregadores que burlem a legislação pertinente aos adolescentes, com
possibilidade de aplicação de pena de multa.
46
As medidas sócioeducativas, consistem em medidas jurídicas aplicadas ao adolescente autor de ato infracional.
São dividas em medidas sócio-educativas em meio aberto – quando o adolescente poderá permanecer em liberdade,
sob a guarda de sua família vivendo em comunidade – e medidas restritivas de liberdade – aquelas em que o
adolescente ou tem a sua liberdade parcial ou totalmente restrita. São medidas de meio aberto: advertência, obrigação
de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida. Por sua vez, são medidas restritivas de
liberdade a semiliberdade e a internação. (ROSSATO; LÉPORE, 2012. p. 93).
47
“Ao aplicar-se a medida socioeducativa da internação, com prazo indeterminado, a liberdade do adolescente estará
totalmente restrita, na medida em que o mesmo deverá permanecer em entidade de atendimento”. (MACHADO,
2003, p. 100).
68
4.4. Aprendizagem
4.4.1. Conceito
4.4.2. Espécies
Existem na doutrina dois tipos de aprendizagem: a aprendizagem empresarial e a
aprendizagem escolar de formação profissional. Adiante serão estudadas de forma detalhada cada
uma delas.
48
É o principal espaço para discussão e formulação das políticas de atenção a infância e adolescência no município.
É o órgão que deve deliberar e exercer o controle do atendimento às crianças e aos adolescentes em todos os níveis,
previsto na Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. (BRASIL,
1990).
70
entidade deve exigir que a empresa tomadora lhe repasse todo o numerário bastante para
cobrir tudo o que é devido ao adolescente aprendiz e os ônus que a entidade tem como
empregadora. (OLIVEIRA, 2008, p. 129).
4.4.3. Requisitos
Conjugando-se o § 1° do art. 428 da CLT, responsável por estabelecer alguns
pressupostos, ao art. 63 do ECA, disciplinador de alguns princípios, tem-se que para a válida
consideração da aprendizagem devem ser respeitados:
a) anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social;
Nascimento (2009) ensina que até 18 anos, o menor depende de autorização do
responsável para contratar trabalho. A carteira de trabalho, para a qual já se faz necessário essa
permissão, basta como prova da existência dessa outorga.
As anotações serão feitas normalmente, nos campos destinados aos contratos de
trabalho (ISHIDA, 2010).
b) matrícula e freqüência do aprendiz na escola em ensino regular
Trata-se de um requisito que se alinha à exigência insculpida no art. 205 da
Constituição Federal, que toma a educação como um direito de todos e dever do Estado e da
família, que será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
trabalho.
No mesmo sentido enuncia o art. 53 do ECA, ao determinar que a criança e o
adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Desta feita, a aprendizagem só se configura como uma atividade positiva para a
formação da pessoa em desenvolvimento se estiver alinhada à freqüência escolar, sob pena de se
71
tornar, ao mesmo tempo, inconstitucional e ilegal, apresentando-se como prática vedada pelo
ordenamento jurídico (VERONESE; CUSTÓDIO, 2013).
Chama a atenção, no entanto, a regra insculpida no §7°, do art. 428 da CLT,
segundo a qual nas localidades onde não houver oferta de ensino médio para o cumprimento da
exigência supracitada, a contratação do aprendiz poderá ocorrer sem freqüência à escola, desde
que já tenha concluído o ensino fundamental.
Trata-se de regra bastante razoável, uma vez que não se pode impedir a
profissionalização de um adolescente ou jovem (direito reconhecido com absoluta prioridade pelo
art. 227 da Constituição Federal) devido a ineficiência estatal em ofertar o ensino médio em todas
as localidades (conforme determina o art. 208 da CF, com redação dada pela EC 59/2009).
Mantendo-se o tratamento diferenciado aos portadores de necessidades especiais,
a CLT, no § 6°, de seu art. 428, estabelece a regra que, para os fins do contrato de aprendizagem,
a comprovação da escolaridade de aprendiz portador de deficiência mental deve considerar,
sobretudo, as habilidades e competências relacionadas com a profissionalização, não se
vinculando às normas regulares de comprovação de matrícula e frequência escolar.
c) inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação de
entidade qualificada em formação técnico profissional metódica
Nascimento entende que a inscrição em programa de aprendizagem é:
É um ato de controle para que uma instituição credenciada a ministrar aprendizagem
forneça o programa, o acompanhamento, as fases em que, na prática, a aprendizagem
será desenvolvida no estabelecimento do empregador, onde executará, com zelo e
diligência, as tarefas próprias da sai condição e que serão aquelas que o programa da
instituição em que está inserido mencionará. O empregador encarrega-se de dar
cumprimento ao programa que na empresa será ministrado, de acordo com os critérios
que estabelecer como órgão de qualificação da mão de obra do aprendiz.
(NASCIMENTO, 2009, p. 345)
Poderá ser aprendiz toda pessoa que tenha entre 14 e 24 anos de idade. Portanto,
como regra, poderá ser aprendiz o adolescente (porque o ECA considera como tal a pessoa entre
12 e 18 anos), e o jovem (porque a legislação brasileira de acesso ao trabalho entende como tal a
pessoa entre 15 e 29 anos).
Essa determinação legal só encontra exceção no caso dos deficientes (melhor
designados como portadores de necessidades especiais), que não se submetem à limitação de
idade podendo ser aprendizes até mesmo após os 24 anos.
4.4.3.2. Empregador
a) Jornada de Trabalho
A duração do trabalho do aprendiz não excederá 6 (seis) horas diárias, sendo
vedadas a prorrogação e a compensação de jornada. Este limite poderá ser de até 8 (oito) horas
diárias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas forem
computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica, nos termo do art. 432 da CLT.
b) Duração da Aprendizagem
Quanto a duração, há regra clara no § 3°, do art. 428 da CLT, no sentido que o
contrato de aprendizagem é por tempo determinado, e não poderá ser estipulado por mais de 2
(dois) anos, exceto quando se tratar de aprendiz portador de deficiência.
c) Local e atividades de aprendizagem
Segundo redação do § 4° do art. 428 da CLT:
74
A formação técnico profissional a que se refere o caput deste artigo caracteriza-se por
atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade
progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho (BRASIL, 1967).
a) Remuneração
Como trabalhador que é, o aprendiz faz jus à contraprestação salarial. Nessa
linha, vale ressaltar o disposto no art. 7°, XXX, da Constituição Federal, que veda as diferenças
de salário em razão da idade.
Ao menor aprendiz salvo condição mais favorável. Será garantido o salário
mínimo hora (art. 428, § 2° da CLT).
Também pode o aprendiz adolescente firmar recibo pelo pagamento dos salários.
Tratando-se, porém, de rescisão do contrato de trabalho, é vedado ao adolescente dar, sem
assistência dos seus responsáveis legais, quitação ao empregador pelo recebimento da
indenização que for devida (art. 439 CTL).
Neste ponto, vale o esclarecimento a respeito da regra disposta no art. 64 do
ECA, que garantia bolsa de aprendizagem ao adolescente de até quatorze anos.
Referida norma está revogada pelo art. 7° XXXIII, da CF, que, com redação dada
pela EC 20/98, só admite a aprendizagem ao adolescente de até quatorze anos.
Por ter condição de trabalhador, o aprendiz tem direito a reclamar por suas
verbas trabalhistas, beneficiando-se, assim, da regra disposta no art. 449 da CLT, segundo a qual
contra os menores de 18 (dezoito) anos não corre nenhum prazo de prescrição.
Para Nascimento (2005):
Qualquer que tenha sido a época, quer da lesão do direito, que mesmo da rescisão do
contrato do trabalho, até os 20 anos, o menor poderá mover reclamação trabalhista. Os
prazos para reclamar fixados peça Constituição Federal (art. 7°, XXIX) começam,
75
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho procurou demonstrar que o Brasil possui uma das legislações
mais avançadas do mundo no que tange à proteção do trabalho da criança e do adolescente. Tanto
é assim que a idade mínima para o ingresso no mercado de trabalho é de 16 (dezesseis) anos, ao
passo que a Convenção n.º 138 da OIT fixa em 15 (quinze) anos (para os países desenvolvidos) a
idade limite para a entrada no mercado de trabalho.
É preciso reconhecer que o Direito da Criança e do Adolescente instaurou um
sistema de garantias de direitos para a proteção trabalhista a criança e ao adolescente. Desse
modo promoveu um reordenamento institucional, redistribuindo responsabilidades para a família,
para a sociedade e para o Estado, visando assegurar os direitos fundamentais.
A utilização da mão-de-obra infantil e do adolescente está inclusa na história do
Brasil desde o período colonial, uma vez que eram tratados como adultos mirins sem qualquer
direito a tutela especial.
As primeiras manifestações do Estado quanto à proteção do adolescente já traziam
em seu bojo a necessidade da profissionalização como uma das soluções dos problemas sociais.
O Estado, através de políticas públicas almeja viabilizar a profissionalização do
adolescente mediante o ensino técnico e profissionalizante, com o fim de ser inserido no mercado
de trabalho como mão-de-obra qualificada, e não se submeter a qualquer tipo de trabalho noturno
e perigoso.
Com a Constituição Federal de 1988, o ordenamento jurídico brasileiro instituiu o
princípio da proteção integral que confere a criança e ao adolescente tratamento diferenciado, os
fazendo dignos de absoluta prioridade frente aos direitos e garantias fundamentais. A proteção
integral ao atribuir absoluta promoção dos direitos reconhecidos as crianças e aos adolescentes,
revela sua importância como norma auxiliadora e interpretativa no caso concreto, devido a sua
falta de rigidez.
Da mesma forma, a Consolidação das Leis do Trabalho e o Estatuto da Criança e
do Adolescente versam sobre a idade mínima para o ingresso no trabalho, as formas de trabalho
autorizadas ao adolescente, as formas de proibição, o instituindo como componente de formação
profissional ao aliar o ensino à prática e a permissão do trabalho na condição de aprendiz para os
maiores de 14 (quatorze) anos.
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