Texto 7 - Classicismo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE


HISTÓRIA DAS ARTES – TEATRO / PROFESSORA HELENA PEDRA

7 - Classicismo

            Enquanto em Londres o teatro revolucionava dramaturgos do classicismo


francês disparavam sérias críticas a Shakespeare. As unidades de tempo e espaço
eram fundamentais na concepção dos franceses e o poeta inglês parecia desprezar
esses elementos da tese aristotélica. Tendo o Rei Sol Luiz XIV como grande
incentivador, os pensadores da Academia Francesa buscaram seguir de maneira
fidedigna às concepções aristotélicas, mostrando-se porém extremamente
pernósticos em relação às obras escritas, simplesmente por não possuírem o
grande vigor trágico que os atenienses possuíam.

            Porém o teatro francês não deixou de brilhar. Os autores Corneille (1606 –
1684), Racine e outros, obtiveram salvo-conduto dos críticos. Enquanto na Inglaterra
o povo mais humilde lotava os teatros; na França, os teatros recebiam a nobreza
francesa, com as roupas chiques, entradas triunfais e perucas enormes que
demonstravam o momento absolutista. Durante os doze últimos anos de sua vida,
Jean-Baptiste Molière (1622 – 1673) foi o artista mais aclamado por Luiz XIV, o que
valeu a Molière o prestígio da corte de Versalhes, mesmo sendo um artista da
classe média. Molière em seus textos não ia de encontro com o autoritarismo, de
forma que logo conseguiu seu espaço nos chiques salões da corte e nos teatros.
Porém Molière era um crítico que colocou em xeque alguns conceitos fortemente
edificados da época, como em “O Misantropo” , onde faz forte crítica à sociedade.
Em “O Tartufo”, Molière mexe com os brios dos clérigos, causando certo
descontentamento por parte da igreja. Outras peças em que o dramaturgo condena
sua sociedade são “Don Juan” e “O Burguês Fidalgo”.

            Com a burguesia em alta, mantendo os cofres dos estados europeus, foi
inevitável um aumento de peças teatrais voltadas para esse tipo de público. Assim,
os temas das histórias apresentados nos palcos de Inglaterra, França, Itália e
Alemanha eram todos constituídos ao redor do protagonista (o herói) que
normalmente expunha a visão do homem perfeito: rico, valente, com um bom
negócio, uma espada e uma boa mulher (ou seja: burguês!). Pelo teatro alemão,
quem respondia por tragédias políticas extremamente burguesas era o genial
Friedrich Schiller (1759 – 1805).

            Entre os principais dramaturgos desta época está o famoso Denis Diderot,
que, durante o Iluminismo, criou vários personagens influenciados por seu meio, de
sua vivência, de sua sociedade. Diderot criou uma das primeiras teorias para
interpretação, afirmando em seu ensaio Paradoxo Sobre Comediante (1830) que um
grande intérprete necessita apenas de um autocontrole para repassar para o público
emoções e sentimentos que não sente. Para Diderot, interpretação é igual à
sensibilidade. Essa teoria sobre interpretação do ator veio, de certa forma, cobrir um
vazio deixado por Aristóteles e Quintiliano (40? – 96), que, por sua vez, afirmava em
seus ensaios sobre dramaturgia que “o ator comove o espectador, porque comove a
si mesmo em primeiro lugar”.

            Nessa época é que surgiu nos contextos teatrais o famoso herói que não
perde uma única batalha, que sempre busca uma saída inteligente e bem articulada
para se desvencilhar dos perigos eminentes, sempre se saindo muito bem. Porém a
linguagem utilizada nos espetáculos dessa época era extremamente hermética e
intelectualizada, de forma que houve um distanciamento do teatro com as massas.

As diferenças sociais na França eram notáveis: com palácios incríveis de um lado e


casebres horrendos de outro, pompa e gracejos de um lado, fome e miséria de
outro. A distribuição de renda na França nessa época era bem desigual, de modo
que 3% da população obtinha 55% das terras, enquanto o resto do povo, os Sans-
cullotes (formados por trabalhadores, isso é, 97% da população) tinha apenas 45%
das terras do estado. Para comer, ou o trabalhador se tornava escravo no comércio
ou ia para o exército, que demandava de 33% das riquezas do estado. Aquele que
reclamava ou tentava algo contra os soldados do rei era julgado sumariamente e
levado para a odiada Bastilha, uma prisão de segurança máxima que era símbolo da
opressão francesa.

            Essa realidade culminou na Revolução Francesa (1789 – 1816), que levou o
partido Jacobino, liderado pelo genial Robespierre ao poder da França. O rei Luiz
XVI foi preso junto com sua esposa, a malfadada Maria Antonieta, e depois foi
executado na guilhotina. Essa revolução iria durar pouco mais de quinze anos, até a
era Napoleônica e o começo do Naturalismo na França, que substituiu o classicismo
e pernóstico heroísmo burguês por uma forma menos elitista, mais conceptual e
mais satisfatória de se fazer arte.

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