Fdocumentos - Tips Os Maias em Analise

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OS MAIAS – POR CAPÍTULOS

Cap. Tópicos
- Apresentação do Ramalhete (casa de residência, em Lisboa, de Afonso da Maia e seu neto, Carlos da Maia).
- Apresentação da família Maia com destaque para a caracterização física e psicológica de Afonso da Maia.
- Exílio de Afonso da Maia por ser partidário das ideias liberais.
- Casamento de Afonso da Maia com D. Maria Eduarda Runa, uma mulher conservadora e com ideais opostos aos
I do marido.
- Nascimento de Pedro da Maia.
- Educação de Pedro da Maia (modelo educacional imposto pela mãe e contrário aos valores de Afonso da Maia).
- Morte de D. Maria Eduarda Runa.
- Semelhanças entre Pedro e um avô materno (louco, que se enforcou).
- Casamento de Pedro da Maia com Maria Monforte (uma mulher muito elegante e muito bela, com toilettes
deslumbrantes).
- Partida de Pedro e Maria Monforte para Itália, onde tencionam passar o Inverno «numa felicidade de novela».
- Maria Monforte, enfastiada de Roma, suspira por Paris e deseja «gozarem ali um lindo Inverno de amor”.
- Gravidez de Maria e regresso a Lisboa.
- Pedro da Maia, antes de partir, escreve uma carta comovida ao pai, Afonso da Maia, informando-o do seu
regresso e dando-lhe a notícia de que iria ter um neto.
- Chegada a Lisboa. Ida de Pedro a Benfica (onde era suposto encontrar o pai que, por sua vez, tinha partido para a
quinta de Santa Olávia). Afastamento de Pedro e Afonso.
II - Pedro e Maria fixam-se em Arroios.
- Nascimento da filha, Maria Eduarda (Pedro, magoado com a atitude do pai, não o informa do nascimento da neta).
- Quando Mª Eduarda faz um ano, já “as senhoras” aceitam Mª Monforte.
- Nascimento de Carlos Eduardo da Maia. Tentativa de reconciliação de Pedro com o pai.
- Pedro fere, acidentalmente, Tancredo, um napolitano, e acaba por hospedá-lo em sua casa.
- Tancredo (tal como Alencar) começa a frequentar os serões na casa de Arroios.
- Baptizado de Carlos.
- Fuga de Maria com Tancredo. Maria leva com ela a filha.
- Ida de Pedro a casa do pai levando consigo o filho.
- Suicídio de Pedro da Maia.
- Partida de Afonso da Maia com o neto para a quinta de santa Olávia. Todos os criados o acompanham.
- Alguns anos mais tarde, Vilaça, procurador dos Maias, vai, nas vésperas da Páscoa, a Santa Olávia.
- Mr. Brown é o preceptor de Carlos da Maia, que é educado segundo o modelo inglês.
- Eusebiozinho recebe uma educação tipicamente à portuguesa, o que contrasta com a educação de Carlos.
- Crítica da educação de Carlos pelos criados e frequentadores da quinta de Santa Olávia.
III - Afonso da Maia confirma ao neto que seu pai, num momento de loucura, se tinha suicidado.
- Vilaça diz que Alencar tinha visto, na casa de Mª Monforte, a foto de uma menina.
- Tentativas, por parte de Afonso da Maia, de localizar a neta (Maria Eduarda, filha de Pedro da Maia e Mª
Monforte).
- Vilaça morre de apoplexia e deixa ao filho, Manuel Vilaça, a procuradoria da casa dos Maias.
- Carlos entra na Faculdade de Medicina em Coimbra.
- Carlos encontra-se em Coimbra matriculado em Medicina.
- Carlos habita uma linda casa em Celas.
- Vida boémia de Carlos em Coimbra.
- Terezinha é uma rapariga feia; Eusebiozinho vai casar.
-Início da relação de amizade entre Carlos e João da Ega, que cursava Direito.
- Dandismo e diletantismo de Carlos e de João da Ega.
- Carlos tem um romance adúltero com Hermengarda e depois com a espanhola Encarnacion.
IV - Festa da formatura de Carlos, em Celas.
- Partida de Carlos para uma longa viagem pela Europa, durante um ano.
- Chegada de Carlos a Lisboa, no Outono de 1875, instalando-se no Ramalhete.
- Projectos grandiosos de Carlos - montar um consultório luxuoso e um laboratório (dificuldades de Carlos em
concretizar os seus projectos).
- Ega, exuberante e feliz, visita Carlos e anuncia-Ihe a publicação do seu livro Memórias de um Átomo.
- Fala-se de Craft e dos frequentadores habituais do Ramalhete.
- Falam da relação de Ega com Raquel Cohen.
- Alude-se à importação que caracteriza Portugal: «Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências,
estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete.»
- Serões no Ramalhete: Afonso da Maia e os seus amigos jogam whist e bilhar.
- Habituais frequentadores do Ramalhete: D. Diogo, general Sequeira, Vilaça, Cruges, marquês Silveirinha (o
Eusebiozinho de Santa Olávia) e conde Steinbroken.
- Carlos visita a sua primeira doente e salva-a de uma pneumonia.
- Fala-se dos Gouvarinhos.
V - Carlos, enquanto diletante, desinteressa-se do seu laboratório.
- Idílio do Ega com a mulher do Cohen. Fala-se de Raquel Cohen.
- João da Ega lê entusiasticamente a Carlos um episódio das Memórias de um Átomo intitulado «A Hebreia» (nítida
alusão a Raquel Cohen).
- Ega propõe a Carlos ser apresentado aos Gouvarinhos, que desejavam conhecê-lo, especialmente a condessa.
- Carlos conhece a condessa numa soirée em S. Carlos.
- Carlos visita de surpresa a Vila Balzac (casa onde Ega se instala para se encontrar com Raquel Cohen).
VI - Fala-se de D. Juan.

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- Carlos, através de Ega, conhece Craft.
- Caracterização de Craft
- Ega, para homenagear Cohen, dá um jantar no Hotel Central.
- Carlos, ao dirigir-se para o jantar, vê, no peristilo do Hotel Central, uma senhora muito elegante,
«maravilhosamente bem feita" e «com um passo soberano de deusa". (Mª Eduarda).
- No jantar discute-se: literatura (Romantismo e Naturalismo), política, finanças, arte e crítica literária.
- Caracterização de Alencar.
- Alencar conta a Carlos por que razão sua mãe lhe deu o nome de Carlos Eduardo.
- Alencar defendia o Romantismo e Ega o Naturalismo. Craft também é contra o Realismo / Naturalismo.
- Ega fala com Carlos sobre Mª Monforte.
- Sonho de Carlos com a deslumbrante mulher que vira no peristilo do Hotel Central.
- Craft é íntimo no Ramalhete.
- Caracterização de Dâmaso Salcede (caricatura).
- Dâmaso quer, a todo o custo, ser amigo de Carlos.
- Anúncio do baile de máscaras em casa dos Cohen (dia de anos da Raquel).
- Lição de esgrima a Dâmaso.
- Carlos encontra no Aterro a senhora que vira no peristilo do Hotel Central (os olhos de ambos fixam-se
VII profundamente).
- Nova visão de Mª Eduarda.
- A condessa de Gouvarinho vai ao consultório de Carlos sob pretexto de o filho estar doente, movida pelo interesse
que tinha em se encontrar com Carlos.
- Dâmaso desaparece do convívio do Ramalhete para acompanhar os Castro Gomes (Mª Eduarda e o “suposto”
marido) a Sintra.
- Taveira diz a Carlos que Dâmaso tinha ido para Sintra com os Castro Gomes.
- Carlos convida Cruges a acompanhá-lo a Sintra (no intuito de ver a senhora que encontrara no Aterro).
- Partida de Carlos com Cruges para Sintra, para se encontrar com a senhora que vira no Hotel Central.
- Inicialmente Carlos pensara alojar-se no Lawrence, mas decide repentinamente ir para o Nunes.
- Carlos pensa e reflecte sobre os motivos que o levaram a Sintra: «mas havia duas semanas que ele não avistara
certa figura que tinha um passo de deusa pisando a Terra, e que não encontrava o negro profundo de dois olhos
que se tinham fixado nos seus".
- Carlos encontra, no Nunes, Eusebiozinho com duas espanholas. Eusebiozinho apresenta-lhe o seu amigo Palma.
- Passeio de Carlos e Cruges com intuito de encontrarem a senhora do Hotel Central.
VIII - Encontro com Alencar.
- Ida dos três a Seteais.
- Carlos sabe, por meio de um criado do Lawrence, que os Castro Gomes haviam já partido para Mafra e depois
iriam para Lisboa.
- Desapontamento e desilusão de Carlos - «Sintra, de repente, pareceu-lhe intoleravelmente deserta e triste».
- Regresso de Carlos a Lisboa com Cruges e Alencar.
- Cruges esquecera-se das queijadas que prometera à mãe aquando da partida para Sintra.
- Soirée dos Cohen.
- Carlos recebe um convite do Gouvarinho para jantar.
- Dâmaso pede a Carlos para fazer uma visita médica à filha dos Castro Gomes que se encontrava doente. Os
Castro Gomes tinham partido para Queluz.
- Contacto de Carlos com a intimidade da mulher que ama, apesar da sua ausência.
- Dâmaso tenciona ter um romance com a mulher de Castro Gomes, logo que ele partisse para o Brasil.
- Chegada de Ega a casa de Carlos, mascarado de Mefistófeles. Ega, desesperado e ultrajado, conta a Carlos que
tinha sido «posto na rua» pelo Cohen.
IX - Intenção de Ega em desafiar Cohen para um duelo.
- Carlos e Craft tentam acalmar e aconselhar Ega.
- Os três amigos aguardam na vila Balzac o possível desafio de Cohen; todavia, quem chega é a srª Adélia, criada e
confidente de Raquel, que os informa da partida dos Cohen para Inglaterra, após se terem reconciliado.
- Fim do romance entre Ega e Raquel Cohen.
- Partida de Ega para Celorico.
- Carlos continua apaixonado pela mulher de Castro Gomes, no entanto não quer pedir a Dâmaso que a apresente.
- Carlos vai lanchar a casa dos Gouvarinhos.
- O idílio entre Carlos e a condessa de Gouvarinho durou três semanas.
- Ega encontra-se em Celorico e anda a escrever uma comédia que se deveria chamar O Lodaçal.
- Carlos continua a ver a mulher de Castro Gomes e decide pedir a Dâmaso que lha apresente (o que não se
verificou).
X - Corridas no hipódromo de Belém.
- Carlos joga num cavalo contra o «campo» e ganha.
- Dâmaso informa Carlos que Castro Gomes partira para o Brasil.
- Carlos recebe um bilhete de Mª Eduarda para, no dia seguinte, ir visitar uma pessoa de família que se encontrava
doente (Miss Sara).
- Carlos visita Madame Castro Gomes na rua de S. Francisco.
- Carlos ouve pela primeira vez o nome da mulher de Castro Gomes: Maria Eduarda.
XI - Carlos observa Miss Sara e diagnostica-lhe uma bronquite ligeira, necessitando de ficar de cama pelo menos
durante quinze dias.
- Início da relação amorosa entre Carlos e Mª Eduarda (Carlos visita diariamente Mª Eduarda).
- Carlos desloca-se a Santa Apolónia e encontra o Gouvarinho que vai com a mulher para o Porto, o que, aliás, o
liberta «de um incómodo compromisso». Dâmaso ia a Penafiel para o funeral de um tio.
- Dâmaso e Carlos encontram-se em casa de Maria Eduarda.

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- Ega escreve a Carlos anunciando-lhe a sua chegada a Lisboa.
- Regresso dos Cohen a Lisboa.
- Ega regressa a Lisboa e instala-se no Ramalhete.
XII - No comboio, a condessa convidou Ega e Carlos a jantarem na segunda-feira.
- Ega abandona a comédia O Lodaçal e tencionar continuar as Memórias.
- Afonso da Maia critica a ociosidade de Carlos e de Ega.
- Dâmaso, em tom difamatório, informa Ega da relação amorosa de Carlos com Maria Eduarda.
- Ega e Carlos vão jantar a casa dos Gouvarinhos onde está Sousa Neto (oficial superior da Instrução Pública).
- Carlos frequenta a casa de Maria Eduarda.
- Dâmaso vai à Rua de S. Francisco e Maria Eduarda recusa recebê-lo.
- Carlos aluga a Craft uma casa (A Toca) , nos Olivais, para aí alojar Maria Eduarda.
- Carlos e Mª Eduarda declaram-se.
- Carlos confidencia os seus amores a Ega.
- Ega espera ansiosamente uma carta de Raquel Cohen.
- Ega cruza-se com Cohen na Rua do Ouro.
- Carlos recebe uma carta da Gouvarinho a acusá-lo de ele faltar ao rendez-vous em casa da titi.
- Ega e Alencar informam Carlos da infâmia de Dâmaso contra ele e Maria Eduarda.
- Carlos encontra no Chiado o Gouvarinho, o Cohen e o Dâmaso e ameaça este de lhe arrancar as orelhas no caso
de continuar a difamá-lo.
XIII - Carlos e Maria Eduarda visitam a casa que alugaram a Craft (A Toca), onde se dá a consumação do incesto
(inconsciente).
- Festa dos anos de Afonso da Maia.
- O marquês alude aos amores entre Dâmaso e Raquel.
- A condessa de Gouvarinho aparece numa tipóia, às 9 horas da noite, para conversar com Carlos. Ruptura
sentimental entre os dois.
- Teles da Gama, a pedido de Dâmaso, vai falar com Carlos para saber se quando este ameaçou Dâmaso de lhe
arrancar as orelhas tinha ou não intenção de o ofender.
- Partida de Afonso da Maia para Santa Olávia, no dia em que Carlos instalara, nos Olivais, Maria Eduarda.
- Partida de Ega para Sintra, deixando uma carta a Carlos.
- Os Cohen também foram para Sintra passar o Verão.
- Carlos e Maria Eduarda continuam no seu idílio amoroso (Mª Eduarda já recebe Carlos à noite) e projectam uma
viagem a Itália nos fins de Outubro.
- Carlos surpreende, a altas horas da noite, Miss Sara deitada na relva com um homem que parecia um jornaleiro.
- Ega escreve a Carlos e diz-lhe, muito ciumento, que Dâmaso aparecia em toda a parte com a Cohen e manifesta o
desejo de «dar bengaladas no Dâmaso».
- Craft, ao regressar de Santa Olávia, diz a Carlos que o avô está muito desgostoso por ele ainda não o ter visitado.
- No dia da partida de Carlos para Santa Olávia, Maria Eduarda visita o Ramalhete e aí encontra pela primeira vez
Ega.
- Mª Eduarda acha Carlos parecido com a sua mãe. Falam dela.
XIV - Castro Gomes recebe uma carta anónima onde lhe relatam os amores de Carlos e de Maria Eduarda.
- Castro Gomes visita Carlos e mostra-lhe a carta. Informa-o que Maria Eduarda não é sua mulher nem ele é o pai
de Rosa. Diz-lhe que ela é Madame Mac Gren.
- Carlos, com esta revelação, fica profundamente humilhado e conclui que a mulher por quem estava apaixonado
não passava de uma «cocotte». Carlos desabafa com Ega acerca desta situação.
- Ega diz que deve ter sido Dâmaso a escrever a carta anónima.
- Carlos vai a casa de Maria Eduarda com a intenção de lhe remeter um cheque e de se despedir com palavras
frias.
- No caminho para os Olivais, Carlos encontra a criada de Maria que lhe diz que Castro Gomes tinha estado com a
senhora e que ela ficara muito transtornada e que queria ir ao Ramalhete.
- Melanie diz que Mª Eduarda já não vivia do dinheiro de Castro Gomes. Empenhava as jóias.
- Maria Eduarda, em tom justificativo e explicativo, fala a Carlos do seu passado.
- Após esta conversa, Carlos, que inicialmente recriminava Maria, fica comovido e convence-se que ela não era a
mulher vulgar que imaginara e acaba por pedi-la em casamento.
- Maria Eduarda conta a Carlos todo o seu passado:
· nascera em Viena;
· não sabia nada do pai, apenas que era nobre e belo;
· tinha uma irmã que morrera;
· lembrava-se do avô (materno) que lhe contava histórias de navios;
· foi educada num colégio de freiras;
· recorda a vida da mãe (pouco edificante e com vários amantes);
· juntou-se com Mac Gren, um irlandês que morrera na guerra, e de quem tem uma filha: Rose;
· vida difícil para Maria, a mãe e a filha;
. partida para Londres;
· regresso a Paris, onde Maria, sem amor, se junta a Castro Gomes.
- Carlos conta a Ega a história de Maria e sente-se apreensivo por saber que o avô nunca irá compreender o
XV passado dela.
- Ega sugere que Carlos case apenas com Maria após a morte do avô.
- Carlos visita a Toca com Ega.
- Jantar na Toca com Ega e o maestro (Cruges).
- Apresentação do marquês de Sousela a Maria (madame MacGren).
- Carlos convida o marquês para jantar na Toca.
- Serões na Toca, com Ega e o marquês.

3
- Carlos recomeça a sua actividade, compondo artigos de medicina para a Gazeta Médica e rascunhos para o seu
livro Medicina Antiga e Moderna.
- Palma Cavalão publicara, a pedido de Dâmaso, na Corneta do Diabo, um artigo difamatório contra Carlos, em que
aludia num tom infame e em calão aos seus amores com Maria Eduarda.
- Ega informa Carlos de que tinha suprimido, mediante pecúnia, toda a tiragem, com excepção de dois números, um
para a Toca e outro para o Paço.
- Carlos e Maria Eduarda vêem Guimarães, tio de Dâmaso.
- Ega vai falar com o Palma e propõe-lhe que, a troco de dinheiro, identifique a pessoa que lhe encomendou o artigo
difamatório contra Carlos e lhe forneça as respectivas provas.
- Palma diz-lhe que foi Dâmaso e que Eusébio também tinha colaborado.
- Carlos envia Ega e Cruges a casa do Dâmaso a desafiá-lo ou para um duelo ou a retratar-se.
- Dâmaso opta por assinar uma carta, redigida por Ega, afirmando que tudo o que fizera publicar na Corneta sobre
Carlos e Maria fora invenção falsa e gratuita e se devia a um estado de embriaguês, hábito hereditário.
- Mª Eduarda vai morar para a Rua de S. Francisco.
- Ega, Craft e Taveira vão ao Ginásio (teatro). Ega vê Dâmaso com Raquel e fica com ciúmes.
- Afonso da Maia regressa de Santa Olávia e Carlos e Ega contam-lhe o episódio comprometedor de Dâmaso,
omitindo-lhe os amores de Carlos.
- Devido aos ciúmes, Eha manda publicar a carta de Dâmaso no jornal A Tarde, a troco de dinheiro.
- É publicada, n`A Tarde, a notícia da partida de Dâmaso para Itália.
- Ega vai jantar à Rua de S. Francisco com Carlos e Maria Eduarda.
- A instâncias de Ega, Carlos vai ao sarau de beneficência, em favor das vítimas das cheias, no Teatro da Trindade.
- No sarau, no Teatro da Trindade, intervêm:
· Rufino (que fala da caridade e do progresso, recorrendo a imagens pouco originais e num registo inflamado e
apelando à emoção e à sensibilidade do público);
· Alencar (que recita uma poesia intitulada «A Democracia”);
· Cruges (que toca a Sonata Patética de Beethoven).
- Guimarães (tio do Dâmaso) pede a Alencar para ser apresentado a Ega, por se sentir atingido com o teor da carta
que Ega redigira e que Dâmaso declarava ter sido coagido a assiná-Ia.
- Guimarães lê a Ega a carta que Dâmaso lhe escreveu.
- O intuito de Guimarães era que Ega declarasse que não o considerava bêbado.
XVI - Carlos agride Eusebiozinho por este ter intervido no caso da Corneta.
- Guimarães confia a Ega - por saber que é íntimo de Carlos - um cofre que continha papéis importantes e que lhe
tinha sido confiado, em Paris, pela mãe de Carlos, antes de morrer.
- Ega fica surpreendido e equivocado quando Guimarães, que estava de partida, lhe pede para entregar o cofre ou a
Carlos ou à irmã.
- Perante a estupefacção de Ega, Guimarães «revela-lhe candidamente» que Maria Eduarda era irmã de Carlos,
pensando que Ega estava ao corrente desta situação.
- O que Guimarães relata a Ega, acerca de Maria Eduarda, coincide com a história que esta contara a Carlos.
- Ega, horrorizado, dirige-se com o cofre ao Ramalhete e resolve pôr Vilaça ao corrente desta situação e pede-lhe
para ser ele a dar a notícia a Carlos.
- Ega procura Vilaça para lhe contar o parentesco entre Carlos e Maria Eduarda e lhe entregar o cofre.
- Ega leu um documento do cofre, assinado por Maria Monforte da Maia, em que declarava que Maria Eduarda era
filha de seu marido, Pedro da Maia, e que ela era nora de Afonso da Maia.
- Vilaça entrega a Carlos os papéis do cofre.
- Carlos vai pedir explicações a Ega, que lhe conta pormenorizadamente a conversa que tinha tido com Guimarães.
- Carlos conta ao avô as terríveis revelações, esperançado de que ele soubesse alguma coisa que pudesse
desmentir o que lhe tinha sido contado.
- Afonso da Maia diz a Ega que conhecia a paixão e os amores entre Carlos e Maria Eduarda.
- Carlos dirige-se a casa de Maria Eduarda para esclarecer a situação em que se encontra; todavia não consegue
fazê-lo; dominado pela paixão e atracção física «dorme com ela na plena consciência da consanguinidade».
XVII - Carlos visita várias vezes Mª Eduarda, com quem mantém a relação.
- Carlos regressa ao Ramalhete, vindo de casa de Maria Eduarda e encontra o avô, cujos olhos esgazeados e
cheios de horror o fixam profundamente, lendo o seu segredo.
- Afonso diz a Ega que sabe onde Carlos dorme (mandou segui-lo).
- No dia seguinte, Afonso da Maia morre.
- Maria Eduarda manda uma coroa de flores.
- Carlos parte para Santa Olávia.
- Ega revela a Maria Eduarda o sucedido, pede-lhe que parta para Paris e dá-lhe dinheiro e a carta da mãe onde se
revelava o segredo.
- Partida de Maria Eduarda para Paris e de Ega para o Norte. Apanham os dois o mesmo comboio e despedem-se
no Entroncamento, onde Ega vê Maria Eduarda pela última vez.
- A Gazeta Ilustrada noticia, na sua coluna do High Life, a viagem de Carlos e de João da Ega.
- Passado ano e meio, Ega regressa a Lisboa e anuncia o seu novo livro: Jornadas da Ásia.
- Nos finais de 1886, Carlos escreve a Ega dizendo-lhe que virá a Portugal, após uma ausência de quase dez anos.
- Em Janeiro de 1887, Carlos e Ega almoçam no Hotel Bragança.
- Visitam ambos o Ramalhete e comentam o casamento de Maria Eduarda com um fidalgo francês.
XVIII - Ambos passeiam por Lisboa e comentam a estagnação, a indolência, a decadência e a ociosidade em que
continua mergulhado o país.
- Falam do casamento de Dâmaso.
- Ambos explanam a sua filosofia e teoria da vida: nada desejar e nada recear e comentam que falharam a vida, isto
é: «falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação».
- Ambos desatam a correr para apanhar o americano que, entretanto, viram ao longe, no escuro, com a sua lanterna

4
vermelha.
1- TÍTULO E SUBTÍTULO
Os Maias – estudo de uma família fidalga onde se destaca um nobre carácter como Afonso da Maia, Pedro, o
protótipo do herói romântico, e Carlos, um homem elegante, culto, de rara sensibilidade e bom gosto.
Através do título, podemos considerar as seguintes gerações:
. Caetano da Maia – Portugal Miguelista (decadência do absolutismo)
. Afonso da Maia – Portugal Liberal (lutas liberais (liberalismo / absolutismo)
. Pedro da Maia – Portugal Ultra-romântico (crises do liberalismo)
. Carlos da Maia – Portugal pós-romântico (decadência do liberalismo)
Episódios da vida romântica – episódios (jantares, corridas, saraus) em que, num plano autónomo em relação à
intriga, se delineia um fresco dos costumes da sociedade portuguesa da Regeneração.
2- ACÇÃO
N`Os Maias é possível definir dois níveis de acção:
. a crónica de costumes – para a qual remete o subtítulo “Episódios da Vida Romântica” – que engloba a
representação de cenários e ambientes onde personagens (principais e figurantes) agem e interagem.
. a intriga – constituída fundamentalmente pelos amores de Carlos e Mª Eduarda, assim como pelo desfecho trágico,
isto é, a descoberta do incesto e a morte de Afonso da Maia.

2.1 - Acção Secundária


Numa tentativa de explicação dos antecedentes familiares de Carlos, em flash-back (recuo no tempo), com início na
página 13 (“Esta existência nem sempre assim correra...»), são-nos dadas breves referências à existência tranquila de
Caetano da Maia, sob padrões do absolutismo vigente, à juventude movimentada de Afonso guiado pelas ideias
liberais, e é-nos narrada a história de Pedro da Maia (sua educação tradicional e seus amores trágicos com Maria
Monforte). Esta síntese histórica de três gerações da família Maias é-nos dada em narrativa de ritmo acelerado. As
funções cardinais ou núcleos desta intriga relativa a Pedro da Maia são (segundo Carlos Reis, in Introdução à Leitura
d'Os Maias):
F1 Pedro vê Maria Monforte (pág. 22)
F2 Pedra namora Maria Monforte (pág. 26)
F3 Pedro casa com Maria Monforte (pág. 30)
F4 Maria Monforte foge (pág. 44)
F5 Pedra suicida-se (pág. 52)
Deve notar-se que esta pequena intriga de que Pedro da Maia é protagonista, com a insistência sobre a sua educação,
sobre o temperamento doentio da mãe Maria Eduarda Runa e sobre as suas próprias tendências românticas, funciona
como um precedente familiar explicativo de muita coisa que se passará na vida de Carlos e de Maria Eduarda. Esta
intriga secundária d' Os Maias está, pois, para a intriga central como a causa está para o efeito.
Neste particular, este romance segue a técnica naturalista (positivista): dadas determinadas causas, seguem-se
infalivelmente determinados efeitos (determinismo hereditário). Esta intriga secundária (de Pedro) existe, pois, em
função da intriga central (de Carlos).

2.2 Acção Central (Intriga Central)


A intriga central (do cap. III até ao fim) apresenta a história dos Maias a partir do Outono de 1875, quando a família se
encontrava «reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já, quase um antepassado, mais
idoso do que o século, e seu neto Carlos», centrando-se sobretudo nos amores trágicos de Carlos e Maria Eduarda.
São estas (Carlos dos Reis, op. cit.) as funções cardinais ou núcleos da intriga principal:
F1 Carlos vê Maria Eduarda (pág. 156)
F2 Carlos visita Rosa (pág. 257)
F3 Carlos conhece Maria Eduarda (pág. 350)
F4 Declaração de Carlos (pág. 409)
F5 Consumação do incesto (pág. 438)
F6 Encontro de Maria Eduarda com Guimarães (pág. 537)
F7 Revelações de Guimarães a Ega (pág. 615)
F8 Revelações de Ega a Carlos (pág. 640)
F9 Revelações de Carlos a Afonso (pág. 645)
F10 Incesto consciente (pág. 658)
F11 Encontro de Carlos com Afonso (pág. 667)
F12 Morte de Afonso (pág. 668)
F13 Revelações a Maria Eduarda (pág. 683)
F14 Partida de Maria Eduarda (pág. 687)
Poderíamos reduzir estes núcleos aos momentos mais dinâmicos da narrativa, isto é, aos pontos fundamentais da
intriga:
F1 Carlos vê Maria Eduarda
F2 Carlos conhece Maria Eduarda
F3 Declaração de Carlos
F4 Consumação do incesto
F5 Revelação
5
F6 Separação de Carlos e Maria Eduarda.
Já dentro da intriga central há outras acções secundárias:
. episódio romântico de Carlos com a mulher do empregado do Governo Civil de Coimbra (cap. IV);
. ligações com a espanhola Encarnacion, que trouxera de Lisboa para Coimbra (cap. IV);
. ligações adúlteras de Carlos com a condessa de Gouvarinho (caps. V, VI, VII, IX, X, XI, XII, XIII);
. relações adúlteras de João da Ega com Raquel Cohen (caps. IV, V, VI);
. a história de Eusebiozinho, molengão e tristonho, da sua educação sob as saias da mãe, do fracasso do seu
casamento, pois, no dizer de Ega, era «derreado à pancada pela mulher» (caps. III, IV, VIII);
. a sequência da Corneta do Diabo em que aparece um artigo injurioso contra Carlos, da responsabilidade de
Dâmaso, conseguindo Ega evitar a sua divulgação (cap.. XV).
As acções secundárias assinaladas, parecendo que não, todas elas têm uma certa ligação com a acção central. Assim,
essas episódicas e superficiais relações amorosas de Carlos têm a função de realçar, por um processo antitético, o
profundo amor existente na relação Carlos / Maria Eduarda. A educação de Eusebiozinho, tal como a de Pedro da Maia,
serve de contraponto à educação moderna, de tipo inglês, que Afonso da Maia fizera ministrar ao seu neto Carlos. Mais
estreita é ainda a ligação entre o episódio da Corneta do Diabo e a linha central do romance. Com efeito, a ligação
amorosa Carlos / Maria Eduarda vinha frustrar as aspirações de Dâmaso, pelo que este faz publicar o artigo. Além
disso, é a carta vergonhosa que Ega escreve a Dâmaso (em consequência do artigo) que provoca o encontro daquele
com Guimarães, o qual, como destinador, revelará o fatídico segredo que desencadeará a tragédia.
A INTRIGA CENTRAL desenvolve-se num ritmo extraordinariamente lento, devido não só às acções secundárias
inseridas por alternância na acção central, mas também, e sobretudo, aos longos EPISODIOS, mais descritivos do que
narrativos, de crítica social. Estes quadros, sendo MOMENTOS DE PAUSA ou CATÁLISES, travam o ritmo da narrativa,
pois são momentos estáticos em que personagens e tipos sociais se exibem demoradamente.
Destaquemos os seguintes episódios de crítica social:
. o jantar no Hotel Central, (cap. VI),
. as corridas no hipódromo (cap. X),
. o jantar na casa dos Gouvarinhos (cap. XVI),
. o passeio pela baixa lisboeta (cap. XVIII) em que Carlos e Ega comentam com pessimismo o passado das suas
vidas e os males da sociedade portuguesa.
Note-se que também estes quadros de crítica social têm pontos de contacto com a acção central. Em todos eles,
intervém o protagonista Carlos e é fácil ver certas motivações relacionadas com a sua paixão por Maria Eduarda. Por
exemplo, foi às corridas para ver Maria Eduarda e foi no fim do espectáculo que recebeu uma carta dela. No
pessimismo de Carlos e Ega no episódio final paira ainda a sombra, embora já longínqua, da tragédia do amor
incestuoso.
De notar que se dá neste último episódio como que a fusão do plano da tragédia (intriga) com o plano da comédia
(crítica de costumes). Assim se compreende que Carlos tenha conservado, até ao eclodir da tragédia, uma aparente
dignidade e venha agora a cair num certo ridículo quando, ao mesmo tempo que corria juntamente com Ega para
apanhar o americano, repetia que não mais correria para nada deste mundo.
Há, portanto, n' Os Maias dois planos que só não dizemos paralelos porque se tocam em vários pontos: o plano da
intriga (plano da tragédia) e o plano da crítica de costumes (plano da comédia).
2.3 – Delimitação da acção
Se considerarmos apenas a acção central (a intriga propriamente dita, que foca os amores Carlos / Maria Eduarda),
trata-se de uma NARRATIVA FECHADA. Com efeito, as personagens morrem, ou fisicamente como Afonso, ou
moralmente como Carlos e Maria Eduarda, ficando desmotivados para qualquer acção romanesca: Maria Eduarda
casa-se e Carlos adapta-se a uma situação inócua de «homem rico que vive bem», entregando-se apenas «a essa
coisa estúpida e sempre eficaz que se chama distrair...» A própria solidão do Ramalhete, coração da família, em ruínas
no final, é bem o símbolo da desintegração dos Maias.
Mas, atendendo ao subtítulo «Cenas da Vida Romântica» e as correspondentes descrições dos ambientes sociais,
também se poderá considerar uma acção aberta a crónica dos costumes, que na realidade não foi fechada, podendo
eventualmente continuar.
2.4 - Dimensão trágica d' Os Maias
A intriga central d' os Maias é dotada das características fundamentais da tragédia clássica. Apontemos as principais:
Protagonista Ser de condição superior, de ascendência nobre – Carlos e Mª Eduarda (seres dotados de
condição superior e acariciados pela felicidade; provocam a inveja dos deuses)
Tema da intriga Incesto (tema clássico; é também o tema da tragédia O Rei Édipo, de Sófocles)
Fatum Agente da destruição do protagonista.
.”Todo dobrado sobre a bengala, vencida enfim por aquele implacável destino que depois de o
(Destino, anankê) ter ferido na idade da força com o desgraça do filho – o esmagava ao fim da velhice com a
desgraça do neto” (cap. XVII)
.”Sentia-o profundo, absorvente, eterno, e para bem ou para mal tornando-se daí por diante e,
para sempre, o seu irreparável destino” (cap. XIII)
.Carlos vê na semelhança de nomes, Carlos Eduardo e Maria Eduarda “a concordância dos
seus destinos” (cap. XI)
Peripécia Encontro de Guimarães com Ega. (súbita mudança dos acontecimentos)
Reconhecimento .Revelações de Guimarães a Ega sobre a identidade de Mª Eduarda.
(Anagnórise) .Revelações fatídicas contidas na carta de Maria Monforte.
Catástrofe .Morte de Afonso
.Partida de Maria Eduarda vestida de negro para França
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.Viagem de Carlos – abandona Lisboa
Mensageiro Guimarães
Presságios São numerosos ao longo da obra. Eis alguns exemplos:
.Quando Afonso vê Maria Monforte pela 1ª vez “olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate
(Vão preparando que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-lo todo – como uma
o leitor para o larga mancha de sangue alastrando a caleche” (cap. I) – a mancha de sangue é indício da
desenlace trágico; consanguinidade entre Carlos e Mª Eduarda, isto é, de relação incestuosa.
afirmações ou .Vilaça, tentando demover a vontade de Afonso ir instalar-se no Ramalhete, “aludia (…) a uma
acontecimentos lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete” (cap. I)
que prevêem uma . Quando se refere um antepassado materno de Pedro, que enlouquecera e se enforcara –
fatalidade “este homem extraordinário com que na casa se metia medo às crianças, enlouquecera – e
inevitável) julgando-se Judas enforcara-se numa figueira” (cap.I)
.Maria Monforte escolhe para seu filho o nome de Carlos Eduardo, nome marcado pelo estigma
da extinção de uma família, Carlos Eduardo Stuart, o último dos Stuarts. (cap.II)
. Ega, embora com uma certa ironia, avisava Carlos envolvido no grande amor: «… hás-de vir a
acabar, desgraçadamente como ele (Pedro) numa tragédia infernal...» (VI)
. “E, pouco a pouco, foi-lhe surgindo na alma um romance, radiante e absurdo: um sopro de
paixão, mais forte que as leis humanas, enrolava violentamente, levava junto o seu destino e o
dela” (cap. VIII)
. Carlos, ao olhar para Rosa, pensa “Os olhos da mãe eram negros; os do pai de azeviche e
pequeninos: de quem herdara ela aquelas maravilhosas pupilas de um azul tão rico, líquido e
doce?” (cap. IX)
. Depois de Carlos ter ganho no jogo, durante as corridas, a «vasta ministra da Baviera» disse-
lhe “mefiez-vouz!” (sorte no jogo...) (cap. X)
. “-A gente, Craft, nunca se sabe se o que lhe sucede é, em definitivo, bom ou mau.
Ordinariamente é mau – disse o outro friamente, aproximando-se do espelho a retocar com
mais correcção o nó da gravata branca” (cap. X)
.Em casa de Mª Eduarda, 3 lírios brancos (símbolo de pureza) murchavam dentro de um vaso
do Japão (cap. XI) – símbolo do aniquilamento / destruição dos 3 membros que restavam da
família (inocentes), devido à relação incestuosa entre Carlos e Mª Eduarda.
.A semelhança de nomes Carlos Eduardo e Mª Eduarda – indicia a concordância dos seus
destinos - “Maria Eduarda, Carlos Eduardo… Havia uma similitude nos seus nomes. Quem
sabe se não pressagiava a concordância dos seus destinos!”(cap.XI)
. Carlos achava que Maria Eduarda era psicologicamente parecida com o avô (“e nestas
piedades Carlos achava-lhe semelhanças com o avô»). (cap. XI)
. Mª Eduarda acha Carlos parecido com sua mãe (cap. XIV)
. Afonso: “O que o irritava sobretudo era ver, nesta aquisição inesperada de uma casa de
campo, outro sintoma do grave e do fundo segredo que pressentia na vida de Carlos”
. “e agora, só pelo modo como Carlos falava daquele grande amor, ele sentia-o profundo,
absorvente, eterno, e para bem ou para mal, tornando-se daí por diante, e para sempre, o seu
irreparável destino” (cap. XII)
. “e assim ficaram, mudos, cheios de ansiedade, traspassando-se com os olhos, como se se
tivesse feito uma grande alteração no Universo, e eles esperassem, suspensos, o desfecho
supremo dos seus destinos” (XII)
. “conhece-me tão pouco, para irmos assim ambos, quebrando por tudo, criar um destino que é
irreparável” (cap. XII)
. O narrador, ao descrever o quarto (na Toca) em que se consumaria o incesto:
. «o leito (...) bordado a flores de oiro, (...) enchia a alcova, esplêndido e severo, e como
erguido para as volutptuosidades grandiosas de uma paixão trágica.».(cap. XIII);
. ”desmaiavam, na trama de lã, os amores entre Vénus e Marte” (irmãos) – relação incestuosa
(cap. XIII)
. “Uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro dum prato de cobre” – Afonso
sacrificado pela relação dos netos (cap. XIII)
. “Os olhos de Maria perdiam-se outra vez na escuridão – como recebendo dela o presságio de
um futuro onde tudo seria confuso e escuro também” (XIV)
3- O ESPAÇO
a) ESPAÇO GEOGRÁFICO (físico) - centra-se no Ramalhete, Lisboa e seus arredores, como Olivais e Sintra. O
Ramalhete é o centro, como que o coração da família onde todos os acontecimentos se vêm reflectir. O espaço alarga-
se por vezes: Santa Olávia, onde Carlos é educado pelo avô na sua infância, Coimbra, onde Cartas frequentou o liceu e
a universidade, e o estrangeiro (Londres, Paris, etc., por onde Cartas andou após os seus estudos e após o desfecho
da tragédia.
Como espaço físico merecem referência os espaços exteriores ou extra-urbanos, como Sintra, considerada, já no
tempo, como um dos melhores espaços rústicos para o lazer da alta burguesia lisboeta. Eça serve-se da descrição
desses espaços não só para localizar as acções, mas também e sobretudo para revelar a sua arte extraordinária em
quadros impressionistas que reflectem quase sempre o estado de espírito das personagens. Mais importantes, porém,
são os espaços interiores (fechados), uma espécie de prolongamento das personagens e reflectindo o seu estado de
espírito.
ROTEIRO GEOGRÁFICO DE LISBOA N`OS MAIAS
ESPAÇO GEOGRÁFICO ACÇÃO D`OS MAIAS
Largo da Abegoaria (Em Lisboa, a Carlos e Eusebiozinho: neste largo, Carlos espanca o Eusebiozinho, por

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nascente do Chiado, hoje largo Rafael ocasião do sarau do Teatro da Trindade, por ele andar metido na
Bordalo Pinheiro, onde se situava, no «maroteira da Corneta». (cap. XVI)
número 10, o Casino Lisbonense,
local em que decorreram as
Conferências Democráticas do
Casino.)
Calçada do Alecrim (Actual Rua do Carlos da Maia: neste arruamento ficava a loja de «bric-à-brac» do judeu
Alecrim, em Lisboa; percurso Abraão, frequentada por Carlos da Maia. (cap. VI)
fundamental das personagens de Eça
nas deslocações entre o Chiado e o
Aterro, hoje Avenida 24 de Julho à
beira-rio, onde se situava o Hotel
Central.)
Largo das Amoreiras (Em Lisboa, ao Condessa de Gouvarinho e Carlos da Maia: a condessa de Gouvarinho aí
Rato.) se apeia, depois de um passeio com Carlos, «A condessa tinha descido no
Largo das Amoreiras. E Carlos aproveitara a solidão da Patriarcal para se
desembaraçar do calhambeque de assento duro, onde durante a última
hora sufocara, sem ousar descer as vidraças, com as pernas adormecidas
enfastiado de tantas sedas amarrotadas e de beijos intermináveis que ela
lhe dava na barba...» (cap. X)
Aterro (Designação corrente na Carlos da Maia: era o caminho mais curto entre a Baixa e o «Ramalhete»,
época, relativa ao arruamento «... ao longo do Aterro, Carlos retardando os passos, resumia, retocava
marginal que em 1867 foi construído esse plano, ensaiando mesmo consigo, baixo, palavras que lhe diria.» (cap.
em terreno conquistado ao rio Tejo, XVII)
hoje Avenida 24 de Julho. Parte do
Cais do Sodré, passando ao lado do
Largo de Santos.)
Hotel Bragança (Situava-se na Rua Carlos e Ega: «Com efeito, Carlos pouco se demorou em Resende. E numa
do Ferragial de Cima, hoje Rua Victor luminosa e macia manhã de Janeiro de 1887, os dois amigos, enfim juntos,
Córdon, no nº 45, num edifício de almoçavam num salão do Hotel Bragança, com as duas janelas abertas
traça neogótica, todo azulejado, com para o rio.» (cap. XVIII)
belas vistas sobre o rio Tejo.)
Praça de Camões (Ponto de encontro Carlos da Maia, de regresso a Portugal, 10 anos depois do seu exílio,
de quatro eixos que aí se cruzam: constata a permanência nesse local dos aspectos decadentes do País:
Rua Garrett, Rua do Loreto e Calçada «Nada mudara. A mesma sentinela sonolenta rondava em torno à estátua
do Combro; Rua da Misericórdia e triste de Camões: Os mesmos reposteiros vermelhos, com brasões
Rua do Alecrim.) eclesiásticos, pendiam nas portas das duas igrejas. O Hotel Aliança
conservava o mesmo ar mudo e deserto. Um lindo sol dourava o lajedo;
batedores de chapéu à faia fustigavam as pilecas; três varinas de canastras
à cabeça, meneavam os quadris, fortes e ágeis na plena luz. A uma
esquina, vadios em farrapos fumavam; e na esquina defronte, na Havaneza,
fumavam também outros vadios, de sobrecasaca, politicando.» (cap. XVIII)
Hotel Central Maria Eduarda, Carlos da Maia, Dâmaso Salcede, Ega, Alencar, Cohen:
(Com janelas abertas sobre o rio Tejo, neste Hotel se hospedou Maria Eduarda; no seu vestíbulo de entrada
no nº 27, ao Cais do Sodré.) Carlos vê pela primeira vez Maria Eduarda; é ainda no Hotel Central que
Carlos da Maia conhece Dâmaso; passa-se no Hotel Central a discussão
entre Ega, partidário do Naturalismo, e Alencar, partidário do Romantismo:
«Dâmaso, muito pálido, quase sem voz, ia de um ao outro:
- Oh! meninos, oh! meninos, aqui, no Hotel Central!
Jesus!... Aqui no Hotel Central!...
E, de entre os braços de Cohen, Ega berrava, já rouco:
- Esse pulha, esse cobarde... Deixe-me Cohen! Não, isso hei-de esbofeteá-
Io!...» (cap. VI)
Descrição do Hotel Central: «Fora um dia de Inverno suave e luminoso, as
duas janelas estavam ainda abertas. Sobre o rio, no céu largo, a tarde
morria, sem uma aragem, uma paz elísia, com nuvenzinhas muito altas,
paradas, tocadas de cor -de- rosa; as terras, os longes da outra banda já se
iam afogando num vapor aveludado, de tom de violeta; a água jazia lisa e
luzidia como uma bela chapa de aço novo; e aqui e além, pelo vasto
ancoradouro, grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros, dois
couraçados ingleses, dormiam, com as mastreações imóveis, como
tomados de preguiça, cedendo ao afago do clima doce...» (cap. VI)
Rua do Ferragial Banqueiro Cohen morava nesta rua: «E o Alencar, perante esta intimação
(Hoje Rua Victor Córdon; no nº 45 do Cohen, o respeitado director do Banco Nacional, o marido da divina
localizava-se o Hotel Bragança, Raquel, o dono dessa hospitaleira casa da Rua do Ferragial onde se
frequentado por muitas personagens jantava tão bem, recalcou o despeito - admitiu que não deixava de haver
queirosianas.) talento e saber.» (cap. VI)
Graça Carlos aponta a encosta da Graça como uma coisa «genuína» no meio do
(Freguesia de Lisboa.) «postiço» com que ele e o seu amigo João da Ega vêem, em 1877, o
ambiente geral de Lisboa: «E mostrava os altos da cidade, os velhos
outeiros da Graça e daí lembrando o frade pingue e pachorrento, beatas de
mantilha, tardes de procissão, irmandades de opa atulhando os adros, erva-
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doce juncando as ruas, tremoço e fava rica apregoada às Penha, com o seu
casario escorregando pelas encostas ressequidas e tisnadas de sol. No
cimo assentavam pesadamente os conventos, as igrejas, as atarracadas
vivendas eclesiásticas, esquinas, e foguetes no ar em louvor de Jesus.»
(cap. XVIII).
Largo dos Jerónimos É referenciado antes da cena da corrida de cavalos no hipódromo de
(A nascente do mosteiro dos Belém: «Era um dia já quente, azul ferrete, com um desses rutilantes sóis
Jerónimos em Lisboa.) que inflamam as pedras da rua, douram a poeira baça do ar, põem fulgores
de espelho pelas vidraças, dão a toda a cidade essa branca faiscação de
cal, de um vivo monótono e implacável, que na lentidão das horas de Verão
cansa a alma, e vagamente entristece. No Largo dos Jerónimos, silencioso,
e a escaldar na luz, um ónibus esperava.» (cap. X)
Avenida da Liberdade No capítulo final d' Os Maias surge como símbolo de uma Lisboa
provinciana sem grande capacidade de renovação. O monumento aos
Restauradores, inaugurado em Abril de 1886, é referido neste capítulo, em
termos depreciativos. Em 1882 havia começado a demolição das grades e
vedação do Passeio Público, jardim cuja entrada se situava onde é hoje o
monumento aos Restauradores. (cap. XVIII)
Rua de S. Francisco, Aí se situa o «Ramalhete», a casa dos Maias em Lisboa. Carlos aí residiu
às Janelas Verdes (Hoje Rua do apenas dois anos, mas «só ali no Ramalhete, ele vivera realmente daquilo
Presidente Arriaga.) que dá sabor e relevo à vida - a paixão». (cap. XVIII)

Largo do Pelourinho Aqui se situava a hospedaria do Sr. Guimarães onde ele guardava os
(Denomina-se hoje Praça do papéis da Monforte que continham o segredo da identidade de Maria
Município.) Eduarda. (cap. XVII)
Estação de Santa Apolónia Por Santa Apolónia passarão Maria Eduarda, Afonso da Maia, Carlos e
(O edifício da estação foi inaugurado Ega, Vilaça e os Gouvarinho. De Santa Apolónia partirá, para sempre, Maria
em (1/5/1865.) Eduarda, no final da tragédia: «No dia seguinte na estação de Santa
Apolónia, Ega, que viera cedo com o Vilaça, acabava de despachar a sua
bagagem para o Douro, quando avistou Maria, que entrava trazendo Rosa
pela mão. Vinha toda envolta numa grande peliça escura, com um véu
dobrado, espesso como uma máscara.» (cap. XVII)
Teatro da Trindade (Situava-se na É referido no episódio do sarau literário da Trindade. (cap. XVI)
Rua de S. Roque, hoje Rua da
Misericórdia.)
Largo de Santa Justa (Na Baixa de É neste largo que é referido o Lisbonense, à porta do qual Palma Cavalão,
Lisboa, no cruzamento da Rua de proprietário e redactor da Corneta do Diabo, espera Carlos e João da Ega,
Santa Justa com a Rua dos vendendo-lhes num gabinete do andar superior «um cubículo, com uma
Fanqueiros.) janela gradeada por onde resvalava uma luz suja de saguão», o segredo da
autoria do artigo insultuoso para Carlos que a Corneta publicara. Palma
recebe 100000 réis e denuncia Dâmaso. A sordidez do ambiente descrito
coaduna-se aqui com a baixeza do Palma jornalista. (cap.XV)
Rampa de Santos (Em Lisboa, hoje É o palco da cena final, onde Eça simboliza as contradições que enredam
Calçada Ribeiro Santos.) as suas personagens, quando Ega e Carlos afirmam a inutilidade de todo o
esforço e o desígnio de não apressarem o passo por nada desta vida,
desatando logo em seguida a correr desalmadamente, para apanhar um
«americano» que avistam ao longe, cá em baixo, no Largo de Santos. (cap.
XVII)
Casa Havaneza (Era a tradicional Depois de revisitarem os locais conhecidos, Carlos pergunta a Ega, já no
importadora de cigarros e charutos, Ramalhete, se não sentira saudades.
tabacos estrangeiros, em especial Carlos respondeu:
charutos de Havana. Aqui se reuniam «- Para quê? Para arrastar os passos tristes desde o Grémio até à Casa
os «elegantes do Romantismo», Havaneza?»;
personalidades da burguesia e da «E a pequena Lisboa que vive entre o Grémio e a Casa Havaneza".» (cap.
política para amena cavaqueira.) XVIII)

Grémio Literário (Clube de que Eça


era sócio, situava-se na Rua de S.
Francisco, hoje Rua Ivens, nº 37. Foi
fundado por Almeida Garrett e
Rodrigo da Fonseca Magalhães.
Quatro portas adiante, em direcção à
Travessa da Parreirinha, hoje Rua
Capelo, ficava o primeiro andar onde
residiu Maria Eduarda.)
b) ESPAÇO SOCIAL - corresponde ao espaço em que o autor podia surpreender a alta sociedade lisboeta, que vivia de
festas e reuniões.
Trata-se de espaços interiores, ou fechados, abertos apenas à alta sociedade, onde o escritor focava precisamente
esses ambientes sociais. Citemos alguns: o jantar no Hotel Central, onde, entre outros assuntos, a discussão anda
sobretudo à volta da oposição entre duas concepções literárias antagónicas: o romantismo simbolizado nas ideias e na
linguagem declamatória de Alencar (poeta ultra-romântico) e o naturalismo mais radical defendido por Ega; o jantar na

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casa dos Gouvarinhos em que se ridicularizam pessoas e ideias; as corridas no hipódromo em que se satiriza uma
sociedade superficial e imitadora do que é estrangeiro; o episódio do jornal A Tarde, em que se critica o jornalismo
corrupto na esfera de clientelas políticas; o sarau no teatro da Trindade, onde se põe a nu a inutilidade de uma oratória
balofa, o lirismo ultra-romântico de Alencar e a falta de gosto artístico de uma sociedade que bateu palmas a isto tudo,
mas não ouviu a talentosa exibição musical de Cruges.
ESPAÇO TEMAS TRATADOS / CRÍTICA SOCIAL
SOCIAL
(AMBIENTES)
Serão em Educação tradicional portuguesa / educação tipicamente inglesa.
Santa Olávia (Santa Olávia - quinta no Douro, onde o autor só nos leva no princípio da história para assistirmos
à sadia e alegre infância de Carlos, ficará no romance como um fundo distante e presente de
pureza, saúde, e acção fecunda: é o bom Portugal rústico e forte, que o modernismo fútil, o
cosmopolitanismo do século, a ilusão da grande vida fazem esquecer)
Jantar no Hotel Contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta.
Central Literatura (Romantismo / Realismo - Naturalismo).
Concepção da Arte.
Critica literária.
Situação financeira de Portugal.
Mentalidade limitada e retrógrada da elite lisboeta.

«em última análise, o que todo este episódio do jantar do Hotel Central representa é o esforço
frustrado de uma certa camada social (por ironia a mais destacada) para assumir um
comportamento digno e requintado», Carlos Reis
Corridas Desejo de imitar o estrangeiro.
Mentalidade provinciana.
«inadequação da atmosfera mundana e cosmopolita das corridas no universo social português»,
Carlos Reis
Jantar do Instrução / Ensino.
conde de Concepção da educação da mulher.
Gouvarinho Mediocridade mental e superficialidade de juízos dos mais destacados funcionários do Estado
(conde de Gouvarinho e Sousa Neto).
«o nível da crónica de costumes evidencia especialmente a mediocridade mental dos figurantes
referidos: nos comentários acerca da educação das mulheres, na referência a Proudhon, na
curiosidade de Sousa Neto em relação ao estrangeiro. O que fundamentalmente se denuncia é a
superficialidade de juízos dos mais destacados funcionários do Estado, aliada a uma evidente (e
natural...) incapacidade de diálogo», Carlos Reis
Redacção do Parcialidade do jornalismo da época.
jornal A Tarde Clientelismo partidário.
Vingança política.
Dependência política.
Representantes políticos do espaço lisboeta e do espaço provinciano «ingenuamente suspensos
da verborreia do Neves, os representantes do espaço provinciano não deixam de manifestar o
"vago medo que aquele 'robusto' talento lhes pedisse, num vão de janela, duas ou três moedas".
O que nos parece elucidativo como denúncia da contrapartida económica que a província, ainda
por cima, devia à capital como retribuição da situação de dependência citada.», Carlos Reis
Sarau no Superficialidade dos temas das conversas e ignorância da classe dirigente.
Teatro da Alheamento perante a música tocada por Cruges.
Trindade Poesia Ultra-romântica mascarada de lirismo piegas e de conotações sociais (Alencar).
Oratória oca dos políticos (Rufino).
«Para além das banalidades que o orador solta (...) o que aqui está em causa também são dois
vícios fundamentais deste tipo de oratória: o recurso a imagens de originalidade duvidosa (...) e o
modo como o auditório se deixa inflamar (...) por tiradas ocas que, à custa de lugares-comuns de
retórica fácil, apelam à sensibilização de um público deformado pelos excessos líricos do Ultra-
romantismo.", Carlos Reis
Passeio final Dimensão simbólica deste episódio.
de Carlos e Degradação progressiva do país (ociosidade, provincianismo, temperamento português mole e
Ega em Lisboa apaixonado).
«Desiludido com o presente liberal e constitucional de feição decadente (não obstante os esforços
para transformar o aspecto físico da capital), o protagonista vira-se para o passado recente; e
reconhecendo nele uma autenticidade que o presente afrancesado postergou, descortina também
defeitos que, nem por se deverem a causas diversas (o saudosismo inoperante, a intolerância
ideológica, etc.), são mais desculpáveis”, Carlos Reis

EPISÓDIOS DA VIDA ROMÂNTICA

O JANTAR NO HOTEL CENTRAL (VI)


Objectivos: Intervenientes
. homenagear o banqueiro João da Ega promotor da homenagem e representante do Realismo /
Jacob Cohen Naturalismo

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. proporcionar a Carlos um Cohen o homenageado, representante das Finanças
primeiro contacto com o Tomás de o poeta ultra-romântico
meio social lisboeta Alencar
. apresentar a visão crítica Dâmaso o novo-rico, representante dos vícios do novo-riquismo burguês
de alguns problemas Salcede
. proporcionar a Carlos a Carlos da o médico e o observador crítico
visão de Mª Eduarda Maia
Craft o britânico, representante da cultura artística e britânica
TEMAS DISCUTIDOS
A Literatura e a crítica literária
Tomás de Alencar João da Ega
. opositor do Realismo-Naturalismo . defensor do Realismo / Naturalismo
. incoerente: condena no presente o que cantara no . exagera, defendendo o cientificismo na literatura
passado (o estudo dos vícios da sociedade) . não distingue Ciência e Literatura
. falso moralista: refugia-se na moral, por não ter outra
arma de defesa; acha o Realismo / Naturalismo imoral
. desfasado do seu tempo
. defensor da crítica literária de natureza académica.
- preocupado com aspectos formais em detrimento da
dimensão temática
- preocupado com o plágio
Carlos e Craft O narrador
. recusam o ultra-romantismo de Alencar . recusa o ultra-romantismo de Alencar
. recusam o exagero de Ega . recusa a distorção do Naturalismo contido nas
. Carlos acha intoleráveis os ares científicos do realismo afirmações de Ega
. Carlos defende que os caracteres se manifestam pela . afirma uma estética próxima da de Craft: “estilos novos,
acção tão preciosos e tão dúcteis”; tendência parnasiana
. Craft defende a arte como idealização do que de melhor
há na natureza
. Craft defende a arte pela arte
Próximos da doutrina estética de Eça quando defende para a literatura uma nova forma
As finanças
. O País tem absoluta necessidade dos empréstimos ao estrangeiro
. Cohen é calculista cínico: tendo responsabilidades pelo cargo que desempenha, lava as mãos e afirma alegremente
que o País vai direitinho para a bancarrota
A história e a política
João da Ega Tomás de Alencar
. aplaude as afirmações do Cohen . teme a invasão espanhola: é um perigo para a
. delira com a bancarrota como determinante da agitação independência nacional
revolucionária . defende o romantismo político:
. defende a invasão espanhola - uma república governada por génios
. defende o afastamento violento da Monarquia - a fraternização dos povos
. aplaude a instalação da República . esquece o adormecimento geral do país
. a raça portuguesa é a mais covarde e miserável da
Europa: “Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.”
Próximo de Eça que defende uma catástrofe nacional
como forma de acordar o país.
Jacob Cohen Dâmaso Salcede
. há gente séria nas camadas políticas dirigentes . se acontecesse a invasão espanhola, ele “raspava-se”
. Ega é um exagerado para Paris
. toda a gente fugiria como uma lebre
Conclusões a retirar das discussões
. a falta de personalidade:
- Alencar muda de opinião quando Cohen o pretende
- Ega muda de opinião quando Cohen quer
- Dâmaso, cuja divisa é “Sou forte”, aponta o caminho fácil de fuga
. a incoerência: Alencar e Ega chegam a vias de facto e, momentos depois, abraçam-se como se nada tivesse
acontecido
. acima de tudo: a falta de cultura e de civismo domina as classes mais destacadas, salvo Carlos e Craft

AS CORRIDAS DE CAVALOS (X)


Objectivos
. novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei
. visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos
. tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris
. cosmopolitanismo (postiço) da sociedade
. possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que viu à entrada do Hotel Central
As corridas
. 1ª corrida. a do 1º prémio dos “Produtos”
. 2ª corrida: a do Grande Prémio Nacional

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. 3ª corrida: a do Prémio de El-Rei
. 4ª corrida: a do Prémio de Consolação
Visão caricatural
. o hipódromo parecia um palanque de arraial
. as pessoas não sabiam ocupar os seus lugares
. as senhoras traziam “vestidos sérios de missa”
. o bufete tinha um aspecto nojento
. a 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria
. as 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente
Conclusões a retirar
. fracasso total dos objectivos das corridas
. radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta
. o verniz de civilização estalou completamente
. a sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça
O JANTAR DOS GOUVARINHOS
Objectivos Alvos visados
.reunir a alta burguesia e Conde de .voltado para o passado
aristocracia Gouvarinho .tem lapsos de memória
.comenta muito desfavoravelmente as mulheres
.reunir a camada dirigente do .revela uma visível falta de cultura
País .não acaba nenhum assunto
.não compreende a ironia sarcástica do Ega
.radiografar a ignorância das .vai ser ministro
classes dirigentes Sousa Neto .acompanha as conversas sem intervir
.desconhece o sociólogo Proudhon
.defende a imitação do estrangeiro
.não entra nas discussões
.acata todas as opiniões alheias, mesmo absurdas
.defende a literatura de folhetins, de cordel
.é deputado
Superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado; incapacidade de diálogo por manifesta falta
de cultura.
A IMPRENSA
Objectivos Jornais atingidos
.passar em revista a situação A “corneta do .o director é o Palma “Cavalão”, um imoral
do jornalismo nacional Diabo” .a redacção é um antro de porcaria
.publica um artigo contra Carlos mediante dinheiro
.confrontar o nível dos jornais .vende a tiragem do número do jornal onde saíra o artigo
com a situação do País .publica folhetinzinhos de baixo nível
“A Tarde” .o director é o deputado Neves
.recusa publicar a carta de retractação de Dâmaso porque o
confunde com um seu correligionário político
.desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de
vingança contra o inimigo político
.só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos
O baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; tais jornais, tal País.
O SARAU DO TEATRO DA TRINDADE
Objectivos Os oradores
.ajudar as vítimas das Rufino .o bacharel transmontano
inundações do Ribatejo .o tema do Anjo da Esmola
.apresentar um tema querido .o desfasamento entre a realidade e o discurso
da sociedade lisboeta: a .a falta de originalidade
oratória .o recurso a lugares-comuns
.reunir novamente as várias .a retórica oca e balofa
camadas das classes mais .a aclamação por parte do público tocado no seu sentimentalismo
destacadas, incluindo a Alencar .o poeta ultra-romântico
família real .o tema da democracia Romântica
.criticar o Ultra-Romantismo .o desfasamento entre a realidade e o discurso
que encharcava o público .o excessivo lirismo carregado de conotações sociais
.contrastar a festa com a .a exploração do público seduzido por excessos estéticos
tragédia estereotipados
.a aclamação do público
As classes dirigentes alheadas da realidade; uma sociedade deformada pelos excessos líricos do Ultra-Romantismo;
tal oratória, tal País.
O EPISÓDIO FINAL: O PASSEIO DE CARLOS E EGA
Locais visitados
Hotel Bragança Carlos e Ega almoçam em amena cavaqueira. Destacam-se:
. a ociosidade voluntária do Ega e o seu envelhecimento
. a política, uma ocupação dos inúteis

12
. a visita do Alencar, mais velho, mas sempre com verbe romântica
. a visita do Cruges, mais velho, mas sempre bom compositor
. o convite de Carlos para um jantarinho à portuguesa
A Romagem sagrada (o passeio)
Largo de . nada mudara
Camões . Camões triste: séc. XVI vs séc. XIX
. a mesmice, a estagnação, a ociosidade
Pelo Chiado . as coisas: nada mudara
. as pessoas:
. o Dâmaso, mais velho, mais nédio, casado e traído
. a Adosinda, uma mulher inverosímil, alvo da troça
. o Craft, doente, alcoolizado
. o Taveira sempre com alguma espanhola
. a besta do Steinbroken, em Atenas
Pela Avenida As coisas:
. o obelisco, símbolo do fontismo fracassado
. os prédios velhos mas repintados
. o castelo, sórdido e tarimbeiro
As pessoas:
. a nova geração, ajanotada, ociosa, exibicionista e postiça
. o Eusébio, casado com uma mulher que o desanca
. o Cavalão, tornado político
. o Alencar, o único português genuíno
No Ramalhete A passagem pelo inferno: a catarse
. um ar de claustro abandonado
. os móveis quebrados ou embrulhados em lençóis de algodão (morte)
. os móveis ricos da Toca a caminho da destruição = promiscuidade de lixo
. o famoso jardim: a ferrugem cobria os membros de Vénus Citereia
. o cipreste e o cedro envelhecem juntos
. a cascata: a água caía gota a gota
O Ramalhete em ruína = sinédoque de Lisboa = sinédoque de Portugal
Conclusão individual provisória: Completo fracasso de Carlos e Ega – o seu permanente romantismo = indivíduos
inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão
c) ESPAÇO PSICOLÓGICO – é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. Na
obra, este espaço aparece, sobretudo, em função da personagem Carlos da Maia e é veiculado através das seguintes
situações:
Sonho Carlos vê Mª Eduarda, a 1ª vez, em frente ao Hotel Central e a imagem desta causa-lhe uma
impressão profunda. Mais tarde, é narrado o seu sonho, em que Mª Eduarda reaparece como uma
deusa (cap. VI)
Imaginação Procurando avidamente encontrar Mª Eduarda em Sintra, aonde se deslocara com Cruges para esse
fim, Carlos imagina languidamente as formas do corpo desta. (cap. VIII)
Emoções e Através da focalização interna, são dadas a conhecer as emoções e as reflexões de Carlos a
reflexões propósito de Mª Eduarda e da sua relação com esta. (cap. XIV)
Memória Carlos relembra a morte do avô como a morte de uma fase da sua existência (cap. XVII)
É de notar que, em relação às duas primeiras formas de espaço psicológico apresentadas, o sonho e a imaginação de
Carlos, estas funcionam como factores indiciais da acção, apontando, portanto, para a relação amorosa que se
estabelecerá entre Carlos e Mª Eduarda.
As emoções e as reflexões de Carlos traduzem a sua formação e os seus valores.
Em relação a Ega, são expostos os seus pensamentos e emoções, a propósito de Carlos e de Mª Eduarda, no cap. XVI.
Este espaço prende-se directamente com a ideologia da obra, apontando o absurdo como algo que leva à união de
Carlos com a sua própria irmã.
4- O TEMPO
INTRODUÇÃO ANALEPSE ACÇÃO PRINCIPAL APÓS A TRAGÉDIA PASSADOS 10
1875 De 1820 a 1875 De 1875 a 1877 (prática do incesto, ANOS
(pág. 13-95) morte de Afonso) Finais de 1886 /
1877 Princípios de 1887
Descrição do Juventude de Afonso Contacto de Carlos Viagem de Carlos e Passeio de Carlos e
Ramalhete: “A casa da Maia. com o meio social Ega: “Semanas Ega em Lisboa: “E
que os Maias vieram Exílio de Afonso. lisboeta (referência depois a Gazeta numa luminosa e
habitar em Lisboa, Casamento de ao espaço social). Ilustrada trazia na macia manhã de
no Outono de 1875, Afonso com Mª Intriga principal: sua coluna do High Janeiro de 1887, os
era conhecida na Eduarda Runa. amores de Carlos Life esta notícia: o dois amigos, enfim
vizinhança da Rua Infância de Pedro. com Mª Eduarda. distinto e brilhante juntos, almoçavam
de S. Francisco de Juventude, amores e Acções secundárias: sportmen, o sr. num salão do Hotel
Paula, e em todo o casamento de amores de Carlos Carlos da Maia, e o Bragança, com as
bairro das janelas Pedro. com a condessa de nosso amigo e duas janelas abertas
verdes, pela Casa do Suicídio de Pedro. Gouvarinho; amores colaborador João da para o rio”
Ramalhete, ou Infância e educação de Ega com Raquel Ega, partiram ontem
simplesmente de Carlos em Santa Cohen. para Londres”
13
Ramalhete” I Olávia.
Carlos cursa
Medicina em
Coimbra.
Primeira viagem de
Carlos pela Europa.
Cerca de 5 páginas Cerca de 85 páginas Cerca de 590 pág. Cerca de 2 páginas Cerca de 25 páginas
TEMPO HISTÓRICO - CENÁRIOS IDEOLÓGICOS EM TENSÃO INTERACTIVA
De 1820 a 1887
Cenários ideológicos em tensão interactiva:
· Absolutismo moribundo; · Liberalismo nascente;
· Idealismo romântico de meados do século;
· Positivismo;
· Regeneração;
. Fatalismo muçulmano (reclamado no episódio final).
Cenários ideológicos em tensão interactiva que geram conflitos:
· conflitos de Afonso com o pai: «e ter justamente por filho um jacobino, parecia-lhe uma provação comparável só às
de Job»;
· conflitos de Afonso com os seus correlegionários liberais: «Teve longos conflitos com os chefes liberais: foi acusado
de vintista e demagogo; descreu por fim do Liberalismo»;
· conflito de Ega com Alencar no jantar do Hotel Central (Ega defensor do Naturalismo e Alencar defensor do Ultra-
romantismo): «Cohen e Dâmaso assustados, agarraram-no; Carlos puxara logo para o vão da janela o Alencar que
se debatia, com os olhos chamejantes, a gravata solta. Tinha caído uma cadeira; a correcta sala, com os seus divãs
de marroquim, os seus ramos de camélia, tomava um ar de taverna, numa bulha de faias, entre a fumaraça de
cigarros» ;
· conflito de Ega com Cohen (na soirée dos Cohen): «Ele vem direito a mim, e diz-me: «Você, seu infame, ponha-se
já no meio da rua... Já no meio da rua, senão, diante desta gente, corro-o a pontapés!» ;
· conflitos de Carlos e Ega com Dâmaso (carta publicada na Corneta do Diabo);
. conflito desencadeado pelo poema «A Democracia» declamado por Alencar no sarau do Teatro da Trindade:
«Numa festa de sociedade, sob a protecção da rainha, diante de um ministro da Coroa, falar de barricadas, prometer
mundos e fundos às classes proletárias... É perfeitamente indecente».
4.1 Tempo da História / Cronológico / Diegético
É fácil delimitar n' Os Maias o tempo da história, o qual, como tempo cronológico, é linear e uniforme.
Assim, pode identificar-se, embora não com rigor, a altura em que Afonso da Maia, para desgosto de seu pai Caetano
da Maia, miguelista, fora «o mais feroz jacobino de Portugal» e «atirava foguetes da lágrimas à Constituição» (entre
1820 e 1822); é clara a indicação da data 1875, em que Afonso da Maia e Carlos começaram a habitar o Ramalhete (“A
casa que os Maias vieram habitar no Outono de 1875»); a data de «Janeiro de 1877», em que Carlos e Ega partem
para o estrangeiro, também é facilmente identificável (“nos primeiros dias do Ano Novo»); finalmente, surge a última
data, a de 1887 (no último capítulo) que marca o reencontro de Carlos e Ega, após o termo da ausência daquele no
estrangeiro (“numa luminosa e macia manhã de Janeiro de 1887»).
4.2 Tempo do Discurso (narrativo)
PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DO TEMPO DO DISCURSO
Analepses Recuos no tempo.
Anacronia Têm 3 finalidades:
. dar a conhecer o passado das personagens como forma de instaurar a acção
principal; os antecedentes apresentados permitem a coerência da diegese, isto é,
alteração da da história narrada, preparando a intenção e coesão quer ao nível da evolução
ordem temporal dos acontecimentos, quer no âmbito da análise crítica, que se entrelaça com a
mensagem final da obra.
. caracterizar as personagens – educação, meio e vivências
. optar pelo modelo naturalista na construção da diegese – sendo o indivíduo
um produto da educação que lhe foi ministrada e do meio ambiente em que se
insere, as analepses permitem reconstruir as personagens como um todo,
organicamente coeso, se tivermos em conta o feixe disseminativo de influência a
que elas estão sujeitas, ou seja, a própria incoerência torna-se uma visão
naturalista das situações, fruto de uma observação minuciosa e de posteriores
ilações de tipo experimentalista.
Anisocronias Resumos Sumário do que ocorreu durante determinados períodos para, depois, poder
prosseguir a narrativa, de modo a que a estrutura formal e ideológica da mesma
Não há seja perceptível.
correspondência Por vezes, o resumo é, simultaneamente, uma alnalepse. (caso do recuo
entre o tempo da temporal inicial, que abrange cerca de 50 anos: a juventude de Afonso até à
história e o tempo instalação de Carlos em Lisboa).
da narrativa. Elipses O narrador omite períodos temporais que são sugeridos ao nível da história. No
início da obra, há elipses, pois o narrador destaca apenas aqueles
Neste caso, o acontecimentos cujo sentido é pertinente para a compreensão da intriga principal.
tempo do discurso Também há elipse em relação ao desenvolvimento e maturação de Carlos, pelo
é menor que o da que a influência naturalista não é seguida de forma absoluta.
história. No final da obra, a elipse sugere o desgaste psicológico a que as personagens

14
A anisocronia foram sujeitas, assim como a angústia nostálgica perante o facto de que o tempo
mais evidente é a passado é irreversível, o que se prende, aliás, com a concepção absurdista da
desproporção existência e com o saudosismo que impregna os diálogos e movimentos de
entre os 60 anos Carlos e de Ega.
da vida dos Maias
(tempo da
história) e as
cerca de 90
páginas que os
cobrem (tempo do
discurso).
Isocronia A cena Processo utilizado por Eça para conseguir a isocronia.
dialogada Consiste em criar uma atmosfera e uma formulação temporal idêntica à da
Tentativa de representação teatral, que o mesmo é dizer, idêntica à autêntica duração dos
conceder ao episódios em questão.
tempo do discurso Para a dimensão teatral da cena dialogada contribuem:
uma duração . a utilização do discurso directo (e todo indirecto livre)
semelhante à do . a cuidadosa descrição dos cenários que enquadram a acção
tempo da história. . a referência pormenorizada à movimentação e ao jogo fisionómico das
Tal procedimento personagens
visa tornar a
Exemplos:
narrativa mais
. suicídio de Pedro
demorada e,
. jantar do Hotel Central
desse modo,
. corridas de cavalos
focando
. Sarau no Teatro da Trindade
intensamente
. visita de Carlos a Rosa
determinados
. revelação da identidade de Mª Eduarda a Carlos e ao avô, feita por Ega
acontecimentos,
. alguns momentos de monólogo interior, em que as principais personagens
estes assumem
(Carlos e Ega, por exemplo) revelam as suas inquietações, os seus sonhos, os
maior importância
seus fantasmas, as suas dúvidas ou mesmo angústias.
no
desenvolvimento
da história.
O tempo do discurso (tempo da narrativa) não é linear como sucede com o tempo da história. O discurso d' Os Maias
começa assim: «A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da
Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das janelas verdes, pela casa do Ramalhete...» Se localizarmos esta
data (1875) no esquema que representa o tempo histórico, notamos que o discurso começa para lá do meio do tempo
histórico, isto é, já no começo da acção central do romance. No entanto, após uma breve história do Ramalhete, da sua
reconstrução (dez páginas), o discurso volta-se para os tempos mais antigos dos Maias. É assim que, na pág. 13,
começa esta longa ANALEPSE, ou . flash-back: «Esta existência nem sempre assim correra com a tranquilidade larga e
clara de um belo rio de Verão». Com este recuo no tempo, de cerca de sessenta anos, o autor tem por finalidade
recuperar a história dos Maias no espaço de três gerações (absolutismo de Caetano da Maia, liberalismo de Afonso e
seus exílios, romantismo e tragédia de Pedro da Maia). É sobre a história de Pedro da Maia, sua educação tradicional e
amores trágicos que esta analepse incide mais directamente, constituindo como que uma intriga introdutória à intriga
central. Dentro desta analepse, encontra-se ainda a formação de Carlos, incluindo os seus estudos e devaneios em
Coimbra.
. Só na pág. 95 (cap. IV) é que termina esta longa analepse, que, numa perspectiva naturalista, existe em função de
Carlos, isto é, tem o fim de explicar os seus antecedentes hereditários: «E então Carlos Eduardo partia para uma longa
viagem pela Europa. Um ano passou. Chegara esse Outono de 1875: e o avô, instalado enfim no Ramalhete, esperava
por ele ansiosamente».
Recuperava-se, portanto, aqui o presente da história: Afonso da Maia e Carlos instalados no Ramalhete, o centro onde
todos os acontecimentos da trágica história de amor se haveriam de repercutir.
É interessante notar que toda a analepse, que se desenvolve ao longo dos primeiros quatro capítulos, não pretende
explicar os antecedentes familiares de Maria Eduarda, mas apenas os de Carlos. É certamente por isso que se opera
uma outra analepse (da pág. 506 a 515 – cap. XV) em que Maria Eduarda conta a Carlos pormenores da sua infância,
educação e atribulações pessoais. Note-se que, enquanto na primeira longa analepse o ponto de vista era do narrador
omnisciente, aqui há a focalização interna em Maria Eduarda, que conta o que sabe, e só o que sabe, ficando portanto
o mistério, que será revelado por Guimarães (o mistério era necessário para manter até ao clímax o segredo da
paternidade de Maria Eduarda).
Há ainda outra analepse contida numa carta de Maria Monforte encontrada no célebre cofre trazido por Guimarães, em
cujo sobrescrito se lia:
«Pertence a minha filha Maria Eduarda», que acabava de esclarecer o mistério da paternidade desta personagem e que
Ega leu perante o espanto de Vilaça.
O narrador omnisciente manteve-se à margem destas revelações feitas por Maria Eduarda, para que não se
ultrapassasse o conhecimento que ela tinha das suas origens, isto é, para que não se revelasse o segredo da sua
paternidade senão no momento exacto de uma intriga com características de tragédia.
4.3- Tempo psicológico
É o tempo conforme é vivido pela personagem. Não podendo ser considerada com objectividade, por não ser rigorosa,
esta modalidade de tempo é, no entanto, muito importante para a compreensão do íntimo da personagem e do modo
como ela perspectiva a vida, sobretudo os acontecimentos do passado, as suas próprias grandezas e misérias.

15
. a noite em que Pedro se dá conta da fuga de Maria Monforte e o comunica a seu pai
. as reflexões de Carlos sobre o passado de seus pais
. o arrastamento e a monotonia das horas de consultório
. no episódio final, quando Carlos e Ega visitam o Ramalhete, cerca de 10 anos depois do desenlace trágico, é nítida
a nostalgia com que Ega recorda o tempo perdido
5 - PERSONAGENS
Há n' Os Maias as duas espécies de caracterização: a DIRECTA, feita sobretudo pelo narrador através do retrato mais
ou menos pormenorizado, que aparece quando surgem pela primeira vez em cena as personagens, e a INDIRECTA,
dada pela actuação das mesmas, que confirmam, no geral, a directa.
Podemos dividir as personagens em dois grupos: personagens da comédia (cenas da vida romântica) e personagens da
tragédia (intriga central).
As personagens da comédia, ou dos ambientes (episódios de crítica social), com excepção de Carlos e Ega que aí
gozam no geral do privilégio do ponto de vista, são personagens PLANAS, verdadeiros tipos sociais que encarnam os
defeitos da época.

Destaquemos algumas dessas personagens:


· DÂMASO SALCEDE, o tipo do novo-rico, sem personalidade, ridiculamente gorducho e gabarola. Note-se que
Dâmaso, além de personagem da crónica de costumes, é também, como o seu tio Guimarães, personagem da intriga.
Com efeito, era Dâmaso que Carlos procurava no hipódromo para que lhe proporcionasse o encontro com Maria
Eduarda e seria Guimarães, com o fatídico cofre, que provocaria o desenlace trágico ·
. EUSEBIOZINHO (Silveira) surge logo de criança, educado sob as saias da mãe e das tias, como antítese de Carlos,
educado à maneira inglesa. Como adulto é o tipo do molengão, tristonho e corrupto. Ainda se casou, mas cedo perdeu
a mulher, passando a viver tristemente «afogado numa gravata de viúvo».
· TOMÁS DE ALENCAR é uma autêntica personagem tipo que nos aparece logo caracterizado directamente a partir do
seu retrato, ou melhor, da sua caricatura, tal o exagero dos traços (pág. 159), como o protótipo do poeta ultra-romântico.
Esta caracterização directa é plenamente confirmada através da sua actuação, da sua linguagem declamatória, do seu
nacionalismo exacerbado, do seu apego ao que é antigo, dos títulos piegas dos seus livros e dos seus ataques ao
realismo (essa «literatura latrinária»).
Esta é uma das personagens que nos aparece logo de início completamente desenhada. Através de todo o romance,
nada de novo surge nesta personagem: sempre igual a si próprio, Alencar é o tipo, ou melhor, a caricatura mais bem
conseguida deste romance.
PERSONAGEM-TIPO REPRESENTATIVIDADE SOCIAL
Conde de Gouvarinho ministro e par do Reino, político incompetente;
Condessa de Gouvarinho amante de Carlos, sensual, provocante, adúltera;
Guimarães democrata e simpatizante do comunismo, portador da carta que provoca o
reconhecimento e desencadeia a catástrofe;
Steinbroken ministro da Finlândia, entusiasta da Inglaterra, grande entendedor de vinhos, uma
autoridade no whist e um bom barítono;
Taveira empregado no Tribunal de Contas, «onde se fazia um bocado de tudo para matar o
tempo... até contas»;
Cruges o «maestro, pianista, com uma pontinha de génio», um homem moralmente são e
tímido;
Neves director da Tarde, símbolo do jornalismo político e parcial; deputado e político;
Palma “Cavalão” director da Corneta do Diabo, símbolo do jornalismo corrupto;
Craft um inglês amigo de Ega e de Carlos, rico, boémio, culto e coleccionador de
bricabraque;
Jacob Cohen judeu banqueiro, representante da alta finança;
Rufino deputado por Monção, símbolo da oratória parlamentar, usando e abusando de uma
retórica balofa e oca com uma mentalidade profundamente provinciana e retrógrada;
Vilaça o procurador honesto, fiel ao seu amo, calmo e que acredita no progresso. Tipifica o
burguês típico e conservador;
Sousa Neto representante da Administração Pública (oficial superior da Instrução Pública);
Dâmaso obcecado do «chique a valer»; filho de um agiota e que se dá ares de aristocrata.
As personagens da intriga trágica, embora algumas delas possam potencialmente ser algo MODELADAS, como Carlos
e Ega, dotados de uma certa profundidade psicológica revelada pelas suas frequentes atitudes inesperadas, a verdade
é que o autor não se preocupou a explorar, pela introspecção, o íntimo dramático de nenhuma delas.
Assim, poderia explorar o drama íntimo de Pedro ao ver-se abandonado por sua mulher, mas prefere pôr-lhe fim ao
conflito interior pelo suicídio; poderia desenvolver o drama interior de Carlos e Maria Eduarda ao saberem-se irmãos,
mas prefere fazê-los ir para o estrangeiro; poderia investigar o drama íntimo de Afonso (aliás uma personagem
potencialmente modelada), após ter conhecimento das relações incestuosas do seu neto e neta, mas fá-lo morrer
imediatamente. Conclui-se, portanto, que mesmo as personagens da intriga trágica são dotadas de um certo
esquematismo que as priva de profundidade psicológica - são, pois, personagens PLANAS.
Vejamos agora as características das personagens mais importantes da intriga trágica:
PERSONAGENS DA INTRIGA PRINCIPAL
Pondo de parte o período revolucionário da sua juventude, em que, para desgosto de seu pai, fora «O
mais feroz jacobino de Portugal», Afonso da Maia, quer sofrendo corajosamente a tragédia de seu filho
Pedra, quer orientando a educação de seu neto Carlos e sendo a maior vítima da tragédia dos seus
amores incestuosos, conserva sempre a mesma dignidade, é sempre uma personalidade clássica.
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Antecipadamente marcado para a fatalidade dramática, nunca se deixou dissolver na comédia da vida.
A caracterização directa que dele faz o narrador (ver retrato, pág. 12) nunca foi contradita pela sua
actuação na vida real (caracterização indirecta). Veja-se, por exemplo, a maneira estóica como ele
suporta o desastre do filho Pedro e sobretudo a tragédia do neto Carlos. Ao encontrar-se pela última vez
Afonso com Carlos, «Afonso... lívido, mudo, espectral..., os dois olhos vermelhos, esgazeados, cheios de horror,
da Maia caíram sobre ele, varando-o até às profundidades da alma... Depois, sem uma palavra... os passos
perderam-se no interior da casa, lentos, abafados, cada vez mais sumidos, como se fossem os
derradeiras que devesse dar na vida».
Afonso, como vítima de duas tragédias, bem poderia ser uma personagem profundamente modelada, se
o autor fosse mais fadado para a análise interior. No entanto, esta personagem não ultrapassa o
esquematismo das funções que lhe foram destinadas no romance. Embora potencialmente modelada, na
realidade pouco se eleva acima de personagem plana.
Lendo com atenção o retrato de Pedro (pág. 20), verificamos que se trata de um retrato pormenorizado, à
maneira naturalista, em que ressaltam os elementos psicossomáticos (pequenino e nervoso, abúlico,
Pedro passivo, instável), a hereditariedade (mais ligado aos Runas do que aos Maias), o meio ou ambiente,
da Maia primeiro de religiosidade piegas e depois de «romantismo torpe».
Segundo a lógica do Naturalismo, tal constituição, tal educação e tal ambiente levariam seguramente a
um casamento de «amor à primeira vista», falhado, e ao suicídio.
Vejamos o retrato de Carlos (pág. 96). Ao contrário do de Pedro, é menos pormenorizado, mais físico do
que moral, muito incompleto para estar dentro dos processos naturalistas. A caracterização de Carlos vai
Carlos ser feita indirectamente ao longo da intriga, deduzindo-se da sua actuação. Assim a sua vocação pela
da Maia medicina é-nos revelada pela atracção de Carlos pelas estampas anatómicas, as suas tendências
boémias são sugeridas pelos seus amores fortuitos em Coimbra, o seu requintado gosto artístico
apercebe-se da sua actuação na decoração do Ramalhete, o seu diletantismo é denunciado pelas suas
actividades dispersivas (armas, cavalos, bricabraque, literatura, medicina, etc.), enfim, as relações sociais
de Carlos revelá-Io-ão como uma das personagens, apesar de tudo, mais válidas no contexto sócio-
cultural em que se movimentava, não obstante ele e o seu melhor amigo, Ega, se verem obrigados a
concluir, no fim do romance, que falharam na vida, como «indivíduos inferiores que se governam pelo
sentimento e não pela razão».
Assim se conclui que Carlos, tal como Ega, falharam na vida, porque seguiram na prática aquilo que
sempre repudiaram em teoria: o romantismo.
Carlos é o protagonista (personagem principal) da intriga central e goza quase continuamente do
privilégio do ponto de vista, mediante a focalização interna que o narrador pratica nele muito
frequentemente.
Leiamos, no cap. XV, pág. 508, um texto onde, em flash-back, é caracterizada Maria Eduarda (ela própria
fala da sua infância, do ambiente em que vivia, para se justificar perante Carlos). A insistência sobre a
infância e a juventude, idades em que se forjam as personalidades, e sobre a influência do meio é um
elemento que torna esta caracterização (directa) própria do romance naturalista. Mas o facto de o
narrador apenas referir, em indirecto, as palavras de Maria Eduarda, que, autocaracterizando-se, será
forçosamente subjectiva, afasta esta caracterização dos moldes do rigor científico naturalista. De
qualquer modo, esse relato da sua vida passada é mais uma explicação das suas relações amorosas
anteriores à de Carlos do que a explicação dos seus amores trágicos com Carlos.
Maria A caracterização directa que o narrador faz de Maria Eduarda (págs. 156-157), num retrato
Eduard verdadeiramente clássico (“uma senhora alta, loira... com a sua carnação ebúrnea... com um passo
a soberano de Deusa maravilhosamente bem feita...») é de molde a apresentá-la como uma personagem
suficientemente digna para constituir, com Carlos, um par ideal de amores trágicos. E o que é certo é que
Maria Eduarda, pela sua actuação ao logo da intriga, confirma, de certo modo, essa dignidade que o
retrato sugere.
Assim, é possível surpreender nela um certo aprumo interior, quando, vivendo já com Carlos, vende as
suas jóias para não ter de se servir das de Castro Gomes, e quando, no desenlace trágico, desaparece
em dignidade silenciosa, despedindo-se de Ega, que lhe comunicou a verdade fatal: «Ela, de pé, moveu
de leve o braço num lento adeus. E foi assim que ele, pela derradeira vez na vida, viu Maria Eduarda».
Maria Eduarda, que, tal como Afonso, nunca se dissolveu claramente nó mundo da comédia, é também
uma personagem de tipo clássico talhada para a tragédia.
Figura esgrouviada e seca... nariz adunco, um quadrado de vidro entalado no olho direito» (ver retrato
pág. 92), Ega é bem um retrato, ou um alter-ego do próprio Eça de Queirós (note-se a semelhança dos
nomes Ega e Eça). Se no físico é semelhante a Eça, é-o ainda mais no psíquico: «grande fazedor de
frases», e sempre pronto a olhar o mundo e a vida com olhos sarcásticos e irónicos.
Amigo íntimo de Carlos, desde Coimbra, onde se formou em direito, também como ele foi em Lisboa um
diletante falhado e corrompido pelo romantismo de uma sociedade que ele tanto criticava. Adepto em
literatura do naturalismo mais rígido, Ega nunca, no entanto, chegou a escrever a obra que anunciara -
Memórias de um átomo. É ao mesmo tempo crítico e criticado, personagem da intriga trágica como
confidente de Carlos, mas também personagem por vezes ridicularizada em episódios de crítica social,
João da como quando se vê obrigado à estar de acordo com o senhor Cohen, só porque ele tem uma linda
Ega mulher, ou quando é escorraçado da casa do mesmo senhor.
Ega é frequentemente contraposto a Alencar, até porque os dois são símbolos, o primeiro do Naturalismo
e o segundo do Romantismo. Ega é sempre valorizado pelo narrador em detrimento de Alencar, até
porque Ega representa a ideia de um Portugal mais moderno, ao passo que Alencar é o símbolo de um
ultra-romantismo decadente. Enquanto Alencar é, como se viu, uma personagem perfeitamente plana,
Ega é uma personagem mais individualizada, até mesmo um pouco modelada.
No fim do romance dá-se um esbatimento da antítese Ega / Alencar.
Não é que Alencar se tenha aproximado mais de Ega, mas o inverso.

17
Este é que, desiludido pelo descalabro de uma sociedade há cinquenta anos constitucionalista, e pelo
seu próprio fracasso, se sente mais próximo de Alencar: «E aqui tens tu, Carlinhos, ao que nós
chegámos...
tão profundamente tem baixado o carácter e o talento, que de repente o nosso velho Tomás, o homem da
Flor de Martírio, o Alencar de Alenquer, aparece com as proporções de um génio e dum justo». Também
aqui Ega surge semelhante a Eça, o qual, tomando consciência do exagero e do pessimismo crítico em
relação ao Romantismo e a Portugal, acabaria por exaltar o pitoresco da paisagem e dos costumes
nacionais em A Cidade e as Serras.

6- NARRADOR
O Realismo e o Naturalismo privilegiam a utilização do narrador heterodiegético, pois este tipo de narrador é o que
melhor serve o código ideológico em que se inscrevem as produções literárias destes movimentos, uma vez que se
pretende retratar a sociedade de forma objectiva.
Contudo, surge também na obra outro tipo de narrador – o narrador homodiegético.
a) Narrador heterodiegético
Narrador heterodiegético – surge como uma entidade exterior à história, como um estranho ou um observador, com
uma função meramente narrativa, que relata os acontecimentos sem os viver, mantendo a isenção.
As marcas linguísticas, discursivas e diegéticas deste tipo de narrador são as seguintes:
NARRADOR HETERODIEGÉTICO
marcas . formas verbais na 3ª pessoa
linguísticas . pronomes e determinantes na 3ª pessoa
. discurso indirecto livre (nesta obra)
marcas . apresentação temporal dos acontecimentos numa situação ulterior à história (isto é, o
discursivas, ao narrador já conhece todos os momentos da intriga, o que lhe permite organizar o tempo do
nível da discurso, alterando a sua ordem cronológica)
organização
temporal
marcas diegéticas . assume uma posição de transcendência em relação ao relato, funcionando como um
(ao nível da demiurgo (arquitecto; literariamente, neste contexto, significa deus, mediador ou criador);
história) pode também adoptar o ponto de vista de uma determinada personagem (no caso da
focalização interna); pode, finalmente, intervir com a função de formular comentários ou
juízos.
N`Os Maias, relata os acontecimentos de 2 formas:
. apresentando uma neutralidade, que se manifesta através da presença apagada do narrador, pelo que cumpre uma
função apenas comunicativa
. apresentando uma intervenção mais ou menos explícita, quer através de um discurso valorativo (traduzido, por
exemplo, através do adjectivo ou do advérbio de modo), quer pela recorrência a um estilo modalizante (é o caso do
discurso indirecto livre, das relações de tipo analógico que o narrador estabelece, ainda a nível estilístico ou da
apreciação que efectua através do verbo modal “parecer”.
O narrador pode também ter uma função interventiva, quando comenta comportamentos ou formas de estar das
personagens. Ex: “Pobre Alencar! O Naturalismo; esses livros poderosos e vivazes, tirados a milhares de edições;
essas rudes análises, apoderando-se da Igreja, da Realeza, da Burocracia, da Finança, de todas as coisas santas, …”
b) Narrador homodiegético
Narrador homodiegético – personagem da história, que revela as suas próprias vivências (não é protagonista).
As marcas linguísticas, discursivas e diegéticas deste tipo de narrador são também específicas:
NARRADOR HOMODIEGÉTICO
marcas . formas verbais na primeira pessoa
linguísticas . pronomes e determinantes na primeira pessoa

marcas . referências temporais fragmentárias, neste caso, o narrador relata apenas acontecimentos
discursivas, ao relativos a um determinado período da sua vida
nível da
organização
temporal
marcas diegéticas . distância em relação à personagem central da obra, que pode evidenciar-se de várias
(ao nível da formas: distância afectiva, moral, ideológica – no caso d`Os Maias, Maria Eduarda, ao revelar
história) o seu passado a Carlos, sujeita-se aos juízos de valor que sobre a sua personagem possam
recair, tendo em conta a formação pessoal, moral e social do protagonista que, por sua vez, é
convidado a manifestar o seu código ideológico.
N`Os Maias é uma personagem que toma o papel de narrador. É o caso, por exemplo, quando Maria Eduarda relata a
Carlos toda a sua vida passada, assumindo-se, assim, como a relatora dos acontecimentos.
FOCALIZAÇÃO DA NARRATIVA
Serve os seguintes objectivos:
. estabelecer a coesão entre os diferentes acontecimentos narrados, de modo a permitir a construção
lógica da estrutura interna da obra

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. permitir a veiculação do modelo naturalista
. conduzir à reflexão do leitor, pois, através da conexão entre os vários episódios narrados,
apresenta-se a dimensão ideológica da obra
omnisciente
O narrador (cap. I, II) perspectiva:
. a reconstrução do Ramalhete
. a figura de Afonso da Maia
. a infância e a juventude de Carlos
. os estudos de Carlos em Coimbra
. o retrato de Ega
. o retrato de Eusebiozinho
. o retrato de Dâmaso
Serve os seguintes objectivos:
. valorizar o universo psicológico de Carlos e, consequentemente, a sua subjectividade
. proporcionar a visão crítica da sociedade da época
Vilaça (pai) - cap. III - perspectiva:
. a educação de Carlos em oposição à de Eusebiozinho
Carlos (cap. IV até ao fim, exceptuando o cap. XVI) perspectiva:
. Mª Eduarda, à entrada do Hotel Central, na rua e no Aterro
. os episódios da crónica dos costumes:
interna
. Jantar no Hotel Central
. Corridas
. Jantar em casa dos Gouvarinho
. a cidade de Lisboa e a sua sociedade, 10 anos após o desenlace
Ega (cap. XV e XVI) perspectiva:
. o episódio dos Jornais (A Corneta do Diabo e A Tarde)
. o Ramalhete fechado
. a sua própria consciência, em momentos já indicados no espaço psicológico
Serve os seguintes objectivos:
externa . caracterizar as personagens, estabelecendo a relação implícita entre a sua caracterização
psicológica e o seu aspecto exterior
. sugerir a relação entre o aspecto das personagens e o seu papel na trama da crónica de costumes
. descrever os espaços físicos em que as personagens se movimentam, propondo uma relação
metonímica entre estas e esses espaços (pensemos no gosto exagerado que Carlos manifesta pelo
luxo e na decoração dos ambientes que funcionam como o seu espaço de intimidade)
. fazer a descrição de espaços naturais (como é o caso de Sintra)

7 - SIMBOLOGIA N`OS MAIAS


Elementos Descodificação do simbolismo
O Jardim do Ramalhete:
A estátua de Vénus Citereia Simbolizam o percurso da família Maia.
. “enegrecendo a um canto na lenta humidade das Desde o início, desabitado, quando Afonso vive no retiro
ramagens silvestres” – I campestre de Santa Olávia, o Ramalhete não tem vida;
. “parecendo agora, no seu tom claro de estátua de em seguida, habitado, preparado para receber Carlos,
parque, ter chegado de Versalhes” – I torna-se símbolo da esperança e da vida: a estátua e a
. “uma ferrugem verde, de humidade, cobria os grossos cascata transformam-se. É como que um renascimento;
membros de Vénus de Citereia” - XVIII finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a
A cascata cascata chorando, esfiando as últimas gotas de água, a
. “uma cascatazinha seca” – I estátua coberta de ferrugem. Tudo aponta para um
. “E desde que a água abundava, a cascatazinha era carácter funéreo, uma espécie de cemitério areado e
deliciosa” – I limpo, tendo como guardas o cipreste e o cedro –
. “Por entre as conchas da cascata, o fio de água punha o árvores que, pela sua longevidade, significam a vida e a
seu choro lento” – XVII morte. Foram testemunhas das várias gerações dos
. “mais lento corria o prantozinho da cascata, esfiado Maias que se foram.
saudosamente, gota a gota” – XVIII
O cipreste e o cedro
. “um pobre quintal inculto, abandonado às ervas bravas,
com um cipreste, um cedro” – I
. “o cipreste e o cedro envelhecendo como dois amigos
tristes” – I
. “o cipreste e o cedro envelheciam juntos, como dois
amigos, num ermo” - XVIII
A Toca Toca é o nome dado à habitação de certos animais, o
. “o melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que que, desde logo, parece simbolizar o carácter
nós lhe dávamos. Nós chamávamos-lhe a Toca” – XIII animalesco deste relacionamento amoroso. Carlos
. “só o meter a chave devagar e com uma inútil cautela na introduz a chave no portão da Toca com todo o prazer,
fechadura daquela morada discreta, foi para Carlos um o que sugere não só o símbolo do poder mas também o
prazer” – XIII do prazer das relkações incestuosas (símbolo fálico); da
. “uma tarde, (…) experimentaram ambos essa chave” – segunda vez que se alude à chave, os dois
XIV experimentam-na. É evidente que a chave se torna
. “tapeçarias, onde desmaiavam, na trama de lã, os símbolo da mútua aceitação e entrega.

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amores de Vénus e Marte” – XIII Os aposentos de Maria simbolizam o carácter trágico da
. “onde se distinguia uma cabeça degolada” – XIII sua relação, a profanação das leis humanas e cristãs, a
. “uma enorme coruja fixava, no leito de amor, os seus sensualidade pagã e excessiva.
dois olhos redondos e agoirentos” – XIII Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os
. “o famoso armário, o “móvel divino” de Craft” – XIII avangelistas, a religião e os troféus agrícolas, o
. “na base quatro guerreiros” – XIII trabalho; qualidades que terão existido um dia nesta
. “a peça superior era guardada aos quatro cantos pelos família (e e Portugal da Epopeia) e que agora estão
quatro evangelistas” – XIII completamente arredadas.
. “espigas, foices, cachos de uvas e rabiça de arados” – Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa
XIII atitude hedonista e desprezadora de tudo e de todos.
. “dois faunos, recostados em simetria, indiferentes aos O ídolo japonês remete para a sensualidade exótica,
heróis e aos santos” – XIII heterodoxa, bestial desta ligação incestuosa.
. “Mas o que mais lhe agradou foram as belas faianças” –
XIII
. “era ao centro um ídolo japonês de bronze, um Deus
bestial” - XIII
A estátua de Camões Desiludido com o presente liberal e constitucional de
Capítulo XVIII feição decadente (não obstante os esforços para
transformar o aspecto físico da capital), o protagonista
vira-se para o passado recente; e reconhecendo nele
uma autenticidade que o presente afrancesado
postergou, descortina também defeitos que, nem por se
deverem a causas diversas (o saudosismo inoperante, a
intolerância ideológica, etc), são mais desculpáveis.
Pelo que só resta uma amarga nostalgia do passado
mais recuado, simbolizado pela figura de Camões.
Ideologicamente, aponta-se, no final, na direcção de um
nacionalismo depurado da miopia saudosista do
Portugal absolutista; isto é, descrendo do presente
estagnado como do passado recente, cultural e
ideologicamente ultrapassado, Carlos parece sugerir
que a identidade nacional só se reconstitui com a
recuperação dos valores de uma autenticidade
esquecida, mas capaz de conferir algum sentido a
eventuais esforços de restauração histórica.
Símbolos cromáticos
Vermelho Carácter duplo: ora feminina e nocturna, de poder
. “aquela sombrinha escarlate (…) quase o envolvia, centrípeto, ora masculina e divina, de poder centrífugo.
parecia envolvê-lo todo – como uma larga mancha de Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um
sangue” – I vermelho feminino, fogo que desencadeia a libido,
. “ao lado de Maria, com uma camélia escarlate na despertam a sensualidade à sua volta. Espalham,
casaca” – I outrossim, a morte. É que a paixão excessiva é
. “abria lentamente um grande leque negro pintado de destruidora. Provoca o suicídio em Pedro, a morte de
flores vermelhas” – XI Afonso e o desejo da morte em Carlos. Os olhos
. “todas as cadeiras eram forradas de repes vermelhos” – vermelhos do avô, caminhando para a morte, vararam
XI Carlos de tal forma que este pensou demoradamente na
. “transparentes novos de um escarlate estridente” – VI morte.
O vermelho da casa de Ega – a Vila Balzac – é tão
intensivo que indicia a dimensão essencialmente
libidinosa, carnal e efémera dos encontros de amor com
Raquel Cohen
Amarelo e dourado Indicia o carácter ardente da paixão. É uma cor dupla:
. “uma senhora loura, os cabelos loiros, de um oiro fulvo” luz do ouro – de essência divina – e luz da terra – Verão
–I e Outono. No primeiro caso, é a cor dos deuses, veículo
. “uma senhora alta, loira” – VI do poder, da juventude e da eternidade; no segundo, é
. “era toda forrada, paredes e tecto, de um brocado anunciadora da velhice, do Outono, da proximidade da
amarelo, cor de botão-de-oiro” - XIII morte.
Negro Morte claramente prefigurada na cor negra, símbolo de
. “seus olhos muito negros” – III uma paixão possessiva e destruidora.
. “o negro profundo de dois olhos que se fixaram nos
seus” – VII
. “dois olhos maravilhosos e irresistíveis” - I
Maria Monforte e Maria Eduarda, mãe e filha, conjugam estas três cores: cabelos de ouro, olhos pretos e leque negro
pintado de flores vermelhas, sombrinha escarlate. Elas são a vida e morte, o divino e o humano, a aparência e a
realidade; a força que se torna fraqueza.

8 – LINGUAGEM E ESTILO
"Eça de Queirós é um dos dois ou três grandes artistas que mais modelaram a língua portuguesa, e pode dizer-se que
das suas mãos saíram a técnica e os paradigmas estilísticos ainda hoje mais correntes na nossa língua literária."
António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa
Ao nível lexical (utilização vocabular)
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. combinação de palavras que leva à alteração do sentido denotativo das mesmas
. introdução de vocabulário dos registos de língua familiar e corrente, que caracteriza o tom oralizante e, por vezes,
concretiza a função crítica
. criação de neologismos estilísticos
. estrangeirismos (anglicanismos – vocábulos de origem inglesa – e galicismos – vocábulos de origem francesa)
Ex: “calou-se; ocupou-se só dele, quis saber que tal ele achava aquele st Emilion, e, quando o viu confortavelmente
servido de solenormande, lançou com grande alarde de interesse esta pergunta” (VI)
Ex: “Eu agora ando bem… Mas muito blasé” (VII)
O adjectivo expressivo
Adjectivação que animiza dados objectivos ."por cima uma tímida fila de janelinhas..."
."casarão de paredes severas..."
Adjectivação dupla (em que um dos adjectivos aponta ."fértil e estúpida província espanhola…"
para a realidade emocional) ."os seus dois olhos redondos e agoirentos"
Adjectivação tripla .”traziam (Pedro) dias e dias mudo, murcho, amarelo..."
(ou utilização de ainda mais adjectivos para caracterizar ."longos, espessos, românticos bigodes grisalhos"
a mesma realidade)
Adjectivo com valor adverbial ."Carlos (...) deu uma volta curiosa e lenta pela sala”
O advérbio de modo com função caracterizadora, caricatural e crítica
formação a partir do adjectivo -neologismos "pulhamente"
valor metafórico do advérbio "molemente"
função satírica do advérbio "O conde, modestamente, protestou"
funcionamento do advérbio com valor semântico oposto "(...) enquanto Cruges, ao lado, de mãos atrás das
àquele que é sugerido pelo verbo costas, e a face erguida para o terraço, bocejava
desconsoladamente"
"Dâmaso sorria também, lividamente"

Adverbiação dupla "Cruges respirava largamente, voluptuosamente"


(em que um dos advérbios aponta para a realidade
emocional)
Adverbiação tripla "ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente,
marchando um para o outro"
Adverbiação com efeito de superlativação ”Ser verdadeiramente ditoso."

O diminutivo / sufixo como forma de caracterização das personagens e de crítica:


Usado normalmente "Mas o menino, molengão e tristonho, não se descolava dos saias da titi: teve ela de o pôr de
com intenções de pé, ampará-Io, para que o tenro prodígio não aluísse sobre as perninhas flácidas; e a mamã
ironia e caricatura prometeu-lhe que, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ela... Isto decidiu-o (…)
Disse-a toda - sem se mexer, com as mãozinhas pendentes, os olhos mortiços pregados na
titi."

“Carlos cumprimentou as irmãs Taveira, magrinhas, loirinhas, ambas correctamente vestidas


de xadrezinho”
Tal como o adjectivo e o advérbio, o verbo é utilizado de forma expressiva e inovadora.
O tempo verbal mais frequente na prosa de Eça de Queirós, como em todos os escritores realistas e impressionistas, é
o imperfeito. O gerúndio, também muito frequente, é usado para retardar a acção em descrições mais detalhadas e
demoradas.
O verbo
Verbos derivados de cor (a provocar um ."estátua de mármore (...) enegrecendo a um canto"
efeito impressionista)
Uso metafórico do verbo ."os dois olhos do velho(...) caíram sobre ele, ficaram sobre ele,
varando-o até às profundidades da alma, lendo lá o seu segredo."
Animização através do verbo ."o alto repuxo cantava"

."as paredes (…) onde já desmaiavam as rosas das grinaldas e as


faces dos cupidinhos."
Utilização do gerúndio ."Ega andava-se formando em Direito, mas devagar, muito
pausadamente - ora reprovado, ora perdendo o ano."
Criação de neologismos (verbos novos .”na Havanesa fumavam também outros vadios, de sobrecasaca,
com sentido cómico ou irónico) politicando."
formas verbais que conotam a "Assim atacado entre dois fogos, Ega trovejou"
acção/caracterização das personagens ou
a descrição
o verbo como expressão das emoções, "O criado, que entrava do outro lado com a cafeteira, estacou, afiando
sentimentos ou intenções das o olho curioso, farejando escândalo"
personagens
Ao nível semântico
Figuras de estilo

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Ironia ."O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi"
. “D. Ana, depois de bocejar de leve, retomou a sua ideia:
permite a crítica à mediocridade do -Sem contar que o pequeno está muito atrasado. A não ser um bocado
povo português, servindo a construção inglês, não sabe nada… Não tem prenda nenhuma!
da crónica de costumes - Mas é muito esperto, minha rica senhora! – acudiu Vilaça.
- É possível – respondeu secamente a inteligente Silveira”
Metáfora ."barba de neve aguda e longa"
."o jardim, bem areado, limpo e frio na sua nudez de Inverno"
Aliteração .”passos lentos, pesados, pisavam surdamente o tapete"
Hipálage – surge com função . "passou os dedos lentos pela testa"
caracterizadora, como tradução dos . “Tentou, todavia, uma garfada tímida”
sentimentos das personagens e . “As tias, fazendo as suas meias sonolentas”
também com carácter irónico. . “cofiava silenciosamente os seus longos bigodes tristes.”
Sinestesia ."... e transparentes novos de um escarlate estridente." (sensação visual e
auditiva)
.”… a poncheira fumegou num aroma doce e quente de conhaque e limão”
Ao nível sintáctico:
-construção frásica flexível (afasta-se do rigor erudito)
-repetição estilística
-construção sintáctica próxima da estrutura francesa
-utilização de frases curtas
-nova organização dos vocábulos na frase
-recorrência a paralelismos
Ao nível fónico:
-utilização da aliteração
-os ritmos ligados aos aspectos semânticos e ideológicos
-repetições fónicas
9 - MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO
Narração / Descrição
A obra Os Maias é um texto narrativo, onde são inseridos descrições como forma de caracterização de personagens e
de ambientes.
Ao nível da descrição, é de salientar a marca impressionista na apresentação paisagística (o Impressionismo é um
movimento estético que surgiu associado às artes plásticas e que consiste na sugestão de uma impressão, sem que,
para tanto, seja apresentado o recorte nítido do objecto pintado; em literatura é, igualmente, traduzido pela impressão
sugerido ao nível da cor, da luminosidade, da forma e do plano). Atentemos no exemplo que se segue, referente à
descrição de Sintra:
"Os muros estavam cobertos de heras e de musgos: através da folhagem, faiscavam longas flechas de sol. Um ar subtil
e aveludado circulava, rescendendo às verduras novas; aqui e além, nos ramos mais sombrios, pássaros chilreavam de
leve; e naquele simples bocado de estrada, todo salpicado de manchas do sol, sentia-se já, sem se ver, a religiosa
solenidade dos espessos arvoredos (...)"

"E dali olhava, enlevada mente, a rica vastidão de arvoredo cerrado, a que só se vêem os cimos redondos, vestindo um
declive da serra como o musgo veste um muro, e tendo àquela distância, no brilho da luz, a suavidade macia de um
grande musgo escuro. "
10 - MODOS DE EXPRESSÃO
Para além do diálogo e do monólogo de algumas personagens, é de reter a utilização do discurso indirecto livre.
O discurso indirecto livre consiste na união entre a voz do narrador e a de uma determinada personagem. Assim,
apresenta marcas do discurso directo, ainda que não seja introduzido pelo travessão, o sinal gráfico que introduz este
tipo de discurso. São de salientar as seguintes marcas:
Ao nível do discurso directo

· Pontuação que traduz as opiniões e sentimentos das personagens: ponto de exclamação, reticências, ponto de
interrogação
· Frases de tipo exclamativo e interrogativo
Ao nível do discurso indirecto

· Utilização da terceira pessoa do plural · Pronomes na terceira pessoa · Tempos verbais utilizados na narração ·
Utilização de interjeições ou de locuções interjectivas · Utilização de deíticos (vocábulos que dão indicações temporais e
espaciais)
Reparemos, então nas transcrições que se seguem, nas quais é utilizado o discurso indirecto livre:
"Ali todos eram homens de asseio, de sala, hem? Então, que se não mencionasse o "excremento!"
''Em resumo, era um telhudo. E a vida daquele homem era misteriosa... Que diabo estava ele a fazer em Lisboa? Ali
havia dificuldades de dinheiro... E eles não se davam bem. Na véspera houvera decerto uma questão. Quando ele
entrara, ela estava com os olhos vermelhos e enfiada; e ele nervoso, a passear pela sala, a retorcer a barba... Ambos
contrafeitos, uma palavra cada quarto de hora... "

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O discurso indirecto livre surge na obra como forma de caracterizar as personagens e apresenta, igualmente, uma
função caricatural, ligada à crónica de costumes.
Discurso indirecto livre
Falas das personagens ."Maria, que procurava os «nocturnos» de Chopin, voltou-se:
incorporadas no discurso do -É esse grande orador de que falavam na Toca?
próprio narrador Não, não! Esse era outro, a sério, um amigo de Coimbra, o José Clemente,
homem de eloquência e de pensamento... Este Rufino era um ratão de pêra
grande, (...) e sublime nessa arte, antigamente nacional e hoje mais
Frequentemente o discurso particularmente provinciana, de arranjar, numa voz de teatro e de papo,
indirecto livre alterna com o combinações sonoras de palavras...
discurso directo -Detesto isso! -rosnou Carlos."
O discurso indirecto livre é uma das marcas do estilo de Eça de Queirós, que o usa para nos fazer ouvir as
personagens, para conferir vivacidade ao discurso ou para criar ironia. Este processo torna também a narração mais
livre e próxima da linguagem falada.
11 - MITOS REFERIDOS NA OBRA
MITO DE D. JUAN
- aventureiro sedutor e sem piedade
- originário do folclore medieval espanhol, ligado à figura do fidalgo Miguel
- No Renascimento encarna o paganismo (gozador e brilhante, libertinagem demoníaca)
Origem no séc. XVII, na obra escrita por um padre sob um pseudónimo chamado El burlador de Sevilha.
Conta a história de um conquistador nato, mas feio, que seduzia as mulheres e depois as abandonava sem cumprir as
promessas feitas.
Segundo Freud, estudos psicanalíticos concluíram que este tipo de homem sofre de um complexo de Édipo mal
superado. Seduzem as mulheres que se tornam mais apetecidas se forem casadas. Uma vez seduzida, a mulher
percebe que ela nunca pode preencher o ideal de mulher que ele tem dentro de si e que é a mãe. Os adversários que
ele enfrenta representam o pai.
Recriado no séc. XIX pelo dramaturgo espanhol Tirso de Molina.
É um homem que necessita de seduzir o tempo todo, que tem o compromisso, que se apaixona por mulheres difíceis
mas, uma vez conquistadas, perde o interesse.
Raramente se apega a alguém, partindo de imediato para outra conquista.
Para um Don Juan interessa apenas o instante do prazer e a vitória da conquista, já que os sentimentos dos outros não
são tidos em consideração.
Segundo Carlos Fuentes, escritor sul-americano, D. Juan diz “Nenhuma mulher me interessa se não tiver amante,
marido, confessor ou Deus, ao qual pertença”
Presença deste mito na personagem Carlos da Maia: Páginas 151-152

MITO DE SATÃ
“O satanismo pode dizer-se que é o realismo no mundo da poesia. É a consciência moderna (a turva e agitada
consciência do homem contemporâneo) revendo-se no espectáculo das suas próprias misérias e abaixamentos,
extraindo dessa observação uma psicologia sinistra, toda de mal, contradição e frio desespero. É o coração do homem
torturado e desmoralizado…”
Antero de Quental, 5 / 12 / 1869, in Primeiro de Janeiro
- Homem fatal, revoltado, acusador, subversivo
- Põe em causa o status judaico-cristão
- Opõe-se à norma, simboliza o mal

Carlos Fradique Mendes – poeta satânico inventado (mas levado a sério) por Eça e Antero de Quental
- surgiu publicamente com vários poemas sob o título Poemas do Macadam, em 1869 em Revolução de Setembro e
Primeiro de Janeiro
- reapareceu postumamente como autor de cartas publicadas por Eça, a partir de 1888, ano da sua morte e,
curiosamente, do nascimento de Fernando Pessoa
- de acordo com a sua biografia inventada por Eça, nasceu na Ilha Terceira, em 1830 e morreu em Paris em 1888
(sepultura perto de Balzac)
- segundo Carlos Reis, é um esboço heteronímico, um precursor da humanidade que está para vir (com Pessoa)

Vestígios do mito de Satã na personagem João da Ega:


- aspecto físico bizarro
- espírito revolucionário e contestatário
- em constante desacordo com tudo o que o rodeia
- temperamento impulsivo e irreverente (“verve” incontrolável)
- amores adúlteros e escandalosos
- ateu
- aderente fervoroso das teorias filosóficas e políticas da época
- naturalista em teoria e romântico na prática
- pouco empenho num trabalho sério e continuado

Páginas 92-93 – juventude enquanto estudante em Coimbra (1ª referência ao mito Satã)
Páginas 105, 108-109 – retrato em Lisboa – dandy, diletante

23
Página 145 – Vila Balzac (este local é o reflexo da dualidade literária e da personalidade de Ega, que se divide entre o
Romantismo e o Realismo)
Páginas 136, 150- 151 – Mefistófeles de Celorico
DEFINIÇÕES
Dandismo- é a moda, a elegância, a ociosidade entre o cavalo e o canapé, mas também o prazer das amizades
masculinas.
Dandy – indivíduo que veste com esmero excessivo; janota, peralta. Anda sempre de acordo com a moda.
Diletantismo – inicialmente adoptado pelos amadores das belas-artes (que investigavam fundamentalmente a arte
antiga grega e oriental), a designação passou a ser usada posteriormente com outros sentidos, sendo, no entanto,
constante a ideia do comprometimento com qualquer doutrina.

MEIOS DE TRANSPORTE

- Vitória – espécie de carruagem puxada a cavalos. (cap. X)


- Break – carro puxado por cavalos, para muitas pessoas. (cap. IV)
- Caleche – carruagem de 4 rodas e 2 assentos, descoberta na frente. (cap. X)
- Coupé – carruagem de aluguer fechada, com estores e vidros, normalmente de 2 lugares, onde se podem encontrar
casais de amorosos a recato de olhares indiscretos. (cap. III)
- Tipóia – carruagem velha. (cap. V)
- Americano – carro de 4 rodas puxado por cavalos sobre carris de ferro. (cap. XVIII)
- Sege – antiga carruagem com 2 rodas e 1 só assento, fechada com cortinas na frente. (cap. II)
- Dog-cart – carruagem de rodas altas. (cap. X)
- Char-à-bancs – carruagem provida de assentos laterais para mais de 4 pessoas, em geral aberta nos lados. (cap. X)
12 – OS MAIAS EM EXAME
1997, 1ª fase, 1ª chamada
“Agora começava a divertir-se. Apenas vira de relance «Vladimiro», e gostara da cabeça ligeira do potro, do
seu peito largo e fundo; mas apostava sobretudo para animar mais aquele recanto da tribuna, ver brilhar gulosamente
os olhos interesseiros das mulheres. Teles da Gama ao lado aprovara-o, achava aquilo patriótico e chique.
É "minhoto"! - gritou de repente Taveira.
Na volta, com efeito, fizera-se uma mudança. Subitamente "Rabino" perdera terreno resistindo à subida, com o
fôlego curto. E agora era "Minhoto", o cavalicoque obscuro de Manuel Godinho, que se arremessava para a frente,
vinha devorando a pista, num esforço contínuo, admiravelmente montado por um jóquei espanhol. E logo atrás vinham
as cores escarlates e brancas de Darque: ao princípio ainda pareceu que era "Rabino": mas, apanhado de repente num
raio oblíquo de sol, o cavalo cobriu-se de tons lustrosos de baio-claro, e foi uma surpresa ao reconhecer-se que era
"Vladimiro"! A corrida travava-se entre ele e "Minhoto".
Os amigos de Godinho, precipitando-se para a pista, bradavam, de chapéus no ar:
- "Minhoto"! "Minhoto"!
E em redor de Carlos, os que tinham apostado pelo campo contra "Vladimiro" faziam também votos por
"Minhoto", em bicos de pé, junto do parapeito da tribuna, estendendo o braço para ele, animando-o:
- Anda "Minhoto"!... Isso, assim!... Aguenta, rapaz!... Bravo!... "Minhoto"! "Minhoto"!
A russa, toda nervosa, na esperança de ganhar a poule, batia as palmas. Até a enorme Craben se erguera,
dominando a tribuna, enchendo-a com os seus gorgorões azuis e brancos: - enquanto que, ao lado dela, o conde de
Gouvarinho, também de pé, sorria, contente no seu peito de patriota, vendo naqueles jóqueis à desfilada, nos chapéus
que se agitavam, brilhar civilização...
De repente, de baixo, de ao pé da tribuna, de entre os rapazes que cercavam o Darque, uma exclamação
partiu.
"Vladimiro"! "Vladimiro"!
Com um arranque desesperado o potro viera juntar-se a "Minhoto": e agora chegavam furiosamente, com
brilhos vivos de cores claras, os focinhos juntos, os olhos esbugalhados, sob uma chuva de vergastadas.
Teles da Gama, esquecido da sua aposta, todo pelo Darque, seu intimo, berrava por "Vladimiro". A russa, de
pé num degrau, apoiada sobre o ombro de Carlos, pálida, excitada, animava "Minhoto" com gritinhos, com pancadas de
leque. A agitação daquele canto da tribuna estendera-se em baixo ao recinto - onde se via uma linha de homens, contra
a corda da pista, bracejando. Do outro lado, era uma fila de rostos pálidos, fixos numa curta ansiedade. Algumas
senhoras tinham-se posto de pé nas carruagens. E através da colina, para ver a chegada, dois cavaleiros, segurando
com as mãos os chapéus baixos, corriam à desfilada.
- "Vladimiro"! "Vladimiro"! - foram de novo os gritos isolados, aqui, além.
Os dois cavalos aproximavam-se com um som surdo das patas, trazendo um ar de rajada.
"Minhoto"! "Minhoto"!
"Vladimiro"! "Vladimiro"!
Chegavam... De repente o jóquei inglês de "Vladimiro", todo em fogo, levantando o potro que lhe parecia fugir
de entre as pernas, esticado e lustroso, fez silvar triunfantemente o chicote, e de um arremesso directo lançou-o além
da meta, duas cabeças adiante do "Minhoto", todo coberto de espuma.
Então em volta de Carlos foi uma desconsolação, num longo murmúrio de lassidão. Todos perdiam, ele
apanhava a poule, ganhava as apostas, empolgava tudo. Que sorte! Que chance! Um adido italiano, tesoureiro da 40
poule, empalideceu ao separar-se do lenço cheio de prata: e de todos os lados mãozinhas calçadas de gris-perle, ou de
castanho, atiravam-lhe com um ar amuado as apostas perdidas, chuva de placas que ele recolhia, rindo, no chapéu.
- Ah, monsieur - exclamou a vasta ministra da Baviera, furiosa - méfiez-vous... Vous connaissez le proverbe:
heureux au jeu...
- Hélas! madame! - disse Carlos, resignado, estendendo-lhe o chapéu.

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E outra vez um dedo subtil tocou-lhe no braço. Era o secretário de Steinbroken, lento e silencioso, que lhe
trazia o seu dinheiro e o dinheiro do seu chefe, a aposta do reino da Finlândia.

Analise cuidadosamente o texto transcrito, salientando:


I. Assunto e seu desenvolvimento.
2. Linguagem e recursos de estilo.
3. Intenção deste passo.
4. Marcas do autor e da época.
5. Outros comentários que eventualmente lhe ocorram.
N.B. Todas as afirmações devem ser documentadas.

ANÁLISE PUBLICADA NA IMPRENSA


1. Eça de Queirós descreve-nos nesta passagem de Os Majas, uma das mais expressivas deste romance, uma corrida
de cavalos. Com a sua ironia mordaz, critica as pessoas chiques da tribuna, mostrando-nos como o resultado de uma
corrida de cavalos pode fazer estalar o verniz frágil de gente aparentemente fina, que acaba por comportar-se da
maneira mais descomposta.
O tema é desenvolvido através duma gradação que, num primeiro momento, é ascendente, desde o início do despique
entre "Minhoto" e "Vladimiro" até à chegada deste à meta, o ponto máximo, e, num segundo momento, é descendente,
descrevendo-nos a reacção de desânimo dos que perderam a aposta.
2. Todo o trecho está escrito num estilo coloquial, e é dominado por uma sensação de movimento e de ruído. A cena
começa a agitar-se a partir do grito de Taveira, num crescendo em que as frases curtas, constituídas apenas por
vocativos, as reticências, as exclamações vão transmitindo ao leitor o desenrolar da cena do despique entre os dois
cavalos. A sensação de movimento é transmitida pelo recurso a verbos que transmitem uma ideia de rapidez e de
agitação que, em alguns casos, é reforçada pelo advérbio: «Era "Minhoto" (...) que se arremessava para a frente, vinha
devorando a pista», com a construção perifrástica a denotar a intensidade progressiva do desenrolar da acção, «os
amigos de Godinho, precipitando-se para a pista», «chapéus que se agitavam», «chegavam furiosamente (...) os olhos
esbugalhados», «homens (...) bracejando», «dois cavaleiros corriam à desfilada», «levantando o potro (…) lançou-o
além da meta», “uma linha de homens (…) bracejando».
Paralelamente, a descrição é dominada por uma sugestão de ruído, dada por toda a série de gritos de incitamento aos
cavalos favoritos «Minhoto!», «Vladimiro!» e por expressões como «Os amigos de Godinho (…) bradavam» «A russa
batia as palmas», “Teles da Gama berrava por Vladimiro», «a russa (...) animava «Minhoto» com gritinhos», «som surdo
das patas, trazendo um ar de rajada», «fez silvar triunfantemente o chicote», “um longo murmúrio de lassidão».
De notar, ainda, o recurso aos galicismos chique, poule, chance, gris-perle a sugerir um cosmopolitismo snobe, o
emprego dos diminutivos cavalicoque, gritinhos, mãozinhas a denunciar o ridículo das situações a que se referem, a rica
adjectivação, em que Eça é um mestre, umas vezes binária «peito largo e fundo», «achava aquilo patriótico e chique»,
«A russa (...) pálida e excitada», «potro (...) esticado e lustroso», “o secretário, lento e silencioso»), outras vezes
expressiva («a enorme Craben», «um dedo subtil», «a vasta ministra da Baviera», «curta ansiedade»), aliada ao vigor
do advérbio «brilhar, gulosamente», «admiravelmente montado», «fez silvar triunfantemente o chicote»).

3. Com este passo, integrado no contexto a que pertence, quis o autor criticar um dos nossos mais salientes defeitos: o
de querermos ser os primeiros em tudo, cansando-nos rapidamente, permitindo que outros, a seguir, venham colher o
fruto do nosso esforço desordenado (o jóquei inglês “Vladimiro» deixou primeiro o «Minhoto» cansar-se para depois o
vencer facilmente). No fim, consolamo-nos com a ideia de que ganhamos moralmente.
Satiriza o patriotismo provinciano e ridículo que vê em jogo, numa corrida de cavalos, o prestígio da Pátria. Como
«Minhoto» era um cavalo português, a sua vitória seria um acto patriótico (“Gouvarinho (…) contente no seu peito de
patriota», «Teles da Gama (…) achava aquilo patriótico»). Este aspecto conserva uma actualidade flagrante.

4. O texto apresenta marcas inconfundíveis do autor, patentes na ironia fina e contundente que domina a narração, no
tom de crítica quase sarcástico com que atinge determinadas personagens, no seu estilo coloquial, e é
simultaneamente, o documento de uma época, caracterizada pela futilidade, pela decadência moral, social e política e
pela inversão de valores operada na Lisboa burguesa dos fins do séc. XIX.

5. Em todo o texto há uma análise psicológica profunda, patenteada na observação do comportamento das
personagens na tribuna: mesmo os que não tinham apostado em «Minhoto» aclamavam-no porque era o provável
vencedor. As pessoas têm tendência para se aperceber apenas do que é evidente (só Carlos notou as possibilidades de
«Vladimiro»), e gostam sempre de se solidarizar com o vencedor. Não sabem perder. A reacção final que adoptam é
desconcertante: «o adido italiano (...) empalideceu», «atiravam-lhe com um ar amuado as apostas perdidas», «a vasta
ministra da Baviera, furiosa», «o secretário lento e silencioso».

1979 – 1ª fase, 2ª chamada


TEMA DE DESENVOLVIMENTO
"O campo - disse então D. Diogo, passando gravemente os dedos pelos bigodes - tem certa vantagem para a
sociedade, para se fazer um pequeno piquenique, para uma burricada, para uma partida de croquet... sem campo não
há sociedade” .

Apoiando-se nesta opinião manifestada por D. Diogo, redija uma composição em que mostre:

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- a importância do espaço "campo" em "Os Maias".
- a função que esse espaço desempenha na caracterização das personagens.

SOLUÇÃO PUBLICADA NA IMPRENSA


«Os Maias», como qualquer outro romance realista, passa-se em grande parte, em espaços urbanos. Mas, tal como um
Cesário Verde, notamos que Eça não esqueceu os arredores da capital, isto é «um campo» muito especial «pois é
apenas o prolongamento da cidade, habitado em certas épocas do ano por gente citadina. Desses arredores, excluímos
Sintra, pelo seu afastamento em relação à cidade mas igualmente frequentada na Primavera e Verão por lisboetas
endinheirados. Notemos contudo que é o único «campo» que Eça descreve um pouco mais pormenorizadamente.
Bastante afastada da capital, temos a Quinta da Santa Olávia, nas margens do Douro, da qual frequentemente se fala
mas nunca se descreve. Igualmente se alude, um pouco de raspão, à Quinta de Lagoaça onde viviam D. Ana e D.
Eugénia e os filhos desta: Teresinha e Eusebiosinho.
Nas cenas finais do romance, focam-se os Olivais, onde Carlos e Maria Eduarda vivem o fim do seu romance amoroso.
O espaço «campo» em os Maias é importante na medida em que se completa a vida da capital, de que é apenas um
simples prolongamento.
A Quinta da Santa Olávia concorre para a caracterização de Afonso, Carlos em criança e Eusebiosinho; Sintra para
sublinhar a paixão de Carlos por Maria Eduarda; nos Olivais passam-se, como já dissémos, grande parte do romance
amoroso entre Carlos e Maria Eduarda, bem assim corno a tragédia desencadeada pelo incesto.

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