Revista MEB3
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Revista MEB3
ISSN 2175-3172
MÚSICA
na educação básica
Vol. 3 - Número 3
Setembro de 2011
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL - ABEM
DIRETORIA NACIONAL
Presidente: Profa. Dra. Magali Oliveira Kleber - UEL/PR
Vice-Presidente: Profa. Dra. Jusamara Vieira Souza - UFRGS/RS
Presidente de Honra: Prof. Dr. Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo - UDESC/SC
Primeiro Secretário: Prof. Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz - UFPB/PB
Segunda Secretária: Profa. Ms. Flavia Motoyama Narita - UNB/DF
Primeira Tesoureira: Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida - UFPE/PE
Segunda Tesoureira: Profa. Ms. Vania Malagutti da Silva Fialho - UEM/PR
DIRETORIAS REGIONAIS
Norte: Prof. Dr. José Ruy Henderson Filho - UEPA/PA
Nordeste: Prof. Ms. Vanildo Mousinho Marinho - UFPB/PB
Centro-Oeste: Profa. Ms. Flavia Maria Cruvinel - UFG/GO
Sudeste: Profa. Dra. Ilza Zenker Joly - UFSCAR/SP
Sul: Profa. Dra. Cláudia Ribeiro Bellochio - UFSM/RS
CONSELHO EDITORIAL
Presidente: Profa. Dra. Luciane Wilke Freitas Garbosa - UFSM/RS
Editora da Revista MEB: Profa. Dra. Luciane Wilke Freitas Garbosa - UFSM/RS
Editora da Revista da ABEM: Profa. Dra. Maria Cecília de Araújo Rodrigues Torres - IPA/RS
Membros do Conselho Editorial: Prof. Dr. Carlos Kater - ATRAVEZ-OSCIP/SP
Profa. Dra. Cássia Virgínia Coelho de Souza - UEM/PR
Profa. Dra. Lilia Neves Gonçalves - UFU/MG
CDU 37.015:78
Ficha catalográfica elaborada por Anna Claudia da Costa Flores – CRB 10/1464 – Biblioteca Setorial do Centro de Educação/UFSM
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Editorial
E
m 2011 comemoramos os 20 anos da Associação Brasileira de Edu-
cação Musical ao mesmo tempo em que vislumbramos a música
participando dos currículos das escolas de educação básica. A Abem
é ampla e profundamente envolvida com a divulgação de conhecimentos
produzidos pela área e com as políticas educacionais brasileiras, especial-
mente com a implantação de práticas qualificadas, plurais, nas escolas do
país, e, com isso, tem sido referência para as práticas educacionais. Visando
contribuir com a demanda de professores que atuam nas escolas, a revista
Música na Educação Básica chega a seu terceiro número, comprometida
com as diferentes realidades de nosso país, trazendo reflexões originadas
de experiências e práticas de professores em sala de aula. Assinala-se ain-
da que em agosto passado findou-se o período destinado à adequação
das escolas de educação básica à Lei 11.769/08, a qual torna obrigatório
o ensino de música nas escolas brasileiras. Assim, a revista MEB 3 participa
desse importante período de acomodação das comunidades escolares à
rotina do ensino de música trazendo sete experiências com reflexões que
possibilitam aos educadores musicais outras formas de atuação em sala de
aula ou em diferentes espaços educativos.
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MÚSICA na educação bбsica
Minha voz, tua voz: falando e cantando na sala de aula, da colega Cláudia
Ribeiro Bellochio (UFSM), trata do uso da voz como mediadora das relações
entre as crianças, o professor e a música nas escolas de educação básica. A
autora discorre sobre a voz e a desafinação vocal, trazendo aos leitores “um
chumaço” de experiências envolvendo fala e canto como possibilidade de
prática musical para a sala de aula.
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MÚSICA na educação bбsica
Música, jogo e
poesia na educação
musical escolar
Viviane Beineke
As ilustrações deste artigo foram cedidas por Diego de los Campos (2006).
V. 3 N. 3 setembro de 2011
Viviane Beineke
[email protected]
Resumo: O texto discute alguns entrela- Music, game and poetry in school
çamentos e possibilidades de diálogo entre musical education
estudos sobre as culturas lúdicas da infância Abstract: The text talks about a few links
e a produção de música para crianças. Com and dialogue possibilities between studies
uma abordagem lúdica do ensino de música, o on childhood ludic culture and producing
texto focaliza o trabalho com canções brasilei- music for children. With the ludic approach of
ras arranjadas para jogos de copos, buscando music teaching, the text focuses the work with
possibilidades metodológicas que valorizem brazilian songs arranged for glasses games
a produção musical dos alunos. O repertório searching methodological possibilities which
abrange canções, parlendas e trava-línguas, value the students musical production. The
acompanhados com materiais simples, como repertory has traditional songs, tongue twister
copos plásticos e sons corporais. Inventando and jiber-jaber along with simple materials
novas formas de brincar e tocar as músicas, like plastic glasses and body sounds. Creating
procura-se favorecer a expressão criativa e new ways to play with music, looking for the
prazerosa da criança no fazer musical coletivo. creative and pleasant expression of children
Os arranjos foram concebidos para a prática while they create songs together in a group. The
musical no contexto escolar e permitem múl- arrangements were conceived to music playing
tiplas formas de utilização em sala de aula pelo at school and allow multiple ways of using it in
professor. classroom by the teacher.
BEINEKE, Viviane. Música, jogo e poesia na educação musical escolar. Música na Educação
Básica. Porto Alegre, v. 3, n. 3, setembro de 2011.
9
MÚSICA na educação bбsica
Uma discussão central para quem produz música para crianças é o que a diferencia
da música dos adultos. Procurando mapear o que faz com que as canções se tornem “in-
fantis”, Pescetti (2005) destaca três elementos: (1) as letras referentes ao mundo infantil;
(2) o trabalho com elementos musicais reduzidos/essenciais e (3) a presença do jogo. O
autor enfatiza que não é necessário haver essas três características ao mesmo tempo,
com a mesma densidade ou importância, porque a presença mais significativa de uma
delas pode permitir que a outra receba um tratamento mais complexo. Para Pescetti
(2005), o elemento mais importante na caracterização da canção infantil é a presença
do jogo. O autor esclarece que a canção não precisa ser um jogo em si, mas que o com-
positor, o arranjador ou o intérprete tenham jogado e joguem ao compor, arranjar ou
*
1. Essas reflexões fazem parte do Movimento Latino-americano e Caribenho da Canção Infantil, gestado nos encontros que se realizam
desde 1995 em diferentes países, com a finalidade de apresentar propostas musicais para a infância no continente. Buscando desenvolver
as identidades culturais dos participantes através do intercâmbio de experiências, do conhecimento mútuo entre educadores e compo-
sitores, são elaboradas reflexões conjuntas sobre os trabalhos realizados, sempre com a preocupação em respeitar a enorme diversidade
de propostas. Esse movimento caracteriza-se por resultar de uma convocatória criada por artistas, educadores, produtores e diferentes
personalidades preocupadas com a qualidade musical dos trabalhos sob um enfoque educativo responsável e que não ignore o direito das
crianças de construir uma identidade cultural própria (Brum, 2005).
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interpretar a música; que “tenham jogado com as palavras, com a linguagem musical,
com as possibilidades timbrísticas e interpretativas” (2005, p. 24). Para ele, é o caráter
lúdico de uma música, ou de uma aula, ou de um programa de rádio, que permite que
se mantenha o “clima infantil”, mesmo quando se apresentam materiais complexos que
não são dirigidos exclusivamente às crianças.
Escola e brincadeira
na sala de aula
No contexto do brincar, é importante diferenciar a brincadeira que acontece na sala
de aula da brincadeira do jogo espontâneo, praticado pelas crianças sem intervenção
nem orientação dos adultos. Esses jogos podem ser facilmente observados quando as
crianças brincam em espaços não escolarizados, o que não diminui a importância do
papel do educador em estabelecer e participar do brincar na escola. Por isso, é funda-
mental que os educadores reconheçam o seu papel como mediadores do brincar na
educação.
As crianças não precisam saber por que brincam e o que estão aprendendo em
suas brincadeiras, mas os professores precisam compreender como o brincar pode fazer
parte do seu trabalho. Brincando com as crianças, o educador tem um papel e uma fun-
ção diferentes da criança que brinca. É necessário que o educador se aproprie do gesto
de brincar e perceba como ele é importante para a criança, para que possa dar signifi-
cado e direção ao próprio fazer de educador (Pereira, 2005a). Para a criança, a brincadeira
é uma forma de expressão, e esse significado precisa estar presente também nas brinca-
deiras estabelecidas na escola. Se o brincar se estabelece na sala de aula apenas como
ferramenta para o ensino, ele perde seu potencial criador, imaginativo, de possibilidade
de expressão, reinvenção e ressignificação das suas ações.
Leite (2002) salienta que os professores também precisam brincar, para que possam
assumir um caráter mediador com as crianças, ampliando o seu acervo de experiências,
apresentando novos jogos ou outras regras para as brincadeiras. O adulto não brinca
como uma criança, mas pode conectar-se ao universo infantil ao brincar. Por isso, brincar
de maneira infantilizada reflete uma concepção ingênua de infância, que contradiz a
“atitude da criança que brinca” (Pereira, 2005a, p. 25).
* 2. O projeto “Produção de material didático para o ensino de música na escola” integra o Programa NEM – Núcleo de Educação Musical
da Universidade do Estado de Santa Catarina (www.ceart.udesc.br/nem), um Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão que visa a forma-
ção de professores de música para a escola pública. O projeto objetiva a produção de material didático para o ensino de música na escola
fundamental e, ao mesmo tempo, é uma atividade que complementa a formação do acadêmico participante, tornando-o mais crítico em
relação ao material didático que utiliza e capaz de produzir seu próprio material. De caráter permanente, o projeto iniciou em 2001 sob
coordenação da professora Viviane Beineke.
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Dica
Conheça também os CDs Abra a roda tin do lê
lê, de Lydia Hortélio (Teatro Escola Brincante)
e Pandalelê (Selo Palavra Cantada).
Para cada música elaboramos um jogo musical que permitisse às crianças, além de
cantar, participar do arranjo e brincar coletivamente, interagindo com a música de di-
versas formas: tocando em grupo, criando e recriando arranjos, improvisando, ouvindo
e analisando. Nessas propostas, utilizamos materiais simples e acessíveis, procurando fa-
vorecer a expressão criativa e prazerosa da criança no fazer musical coletivo. Em um pro-
cesso lúdico de criação, objetos do cotidiano tiveram seu uso modificado: copos plásti-
cos e cabos de vassoura se tornaram instrumentos musicais, a flauta doce tornou-se um
instrumento de percussão e sonoridades corporais foram exploradas. Experimentando
novas maneiras de brincar, fomos construindo um universo de possibilidades sonoras
e musicais. Assim, os movimentos da capoeira foram representados por improvisos uti-
lizando sons do corpo; jogos de mãos imitam o toque do berimbau e os tambores do
maracatu, enquanto a flauta doce, percutida, marca o tic-tac do relógio4 .
Refletindo sobre a forma como os jogos poderiam ser apresentados aos professores,
optamos por não definir detalhes de execução musical nem de arranjo. Com uma con-
cepção de escrita musical comumente utilizada na música popular, escrevemos melo-
dia, texto e acompanhamento das músicas, como elementos que podem desencadear o
jogo, a criação de arranjos ou sua reinvenção em sala de aula, mas sem predefinir como
esses elementos poderiam ser trabalhados. Nesse sentido, as brincadeiras que apresen-
tamos são apenas pontos de partida ou referências para o trabalho do professor em
* 3. Um dos resultados do projeto consiste no conjunto de livro, CD e CD-ROM Lenga la Lenga: jogos de mãos e copos, publicado no Brasil
pela Editora Ciranda Cultural (2006) e em Portugal pela Editora Foco Musical (2009). No Uruguai, CD e CD-ROM foram editados pelo selo
Papagayo Azul (2007).
4. As brincadeiras musicais que deram origem aos arranjos do CD foram criadas por: Áurea Demaria Silva, Deodósio Juvenal Alves Júnior,
Gabriela Flor Visnadi e Silva, Gisele Garcia Vianna, Lourdes Saraiva, Ronaldo Steiner, Thiago Paulo Mützenberg, Vanilda L. F. Macedo
Godoy e Viviane Beineke. Participaram do trabalho de gravação do CD os músicos: Áurea Demaria Silva, Deodósio Juvenal Alves Júnior,
Fernanda Rosa da Silva, Francisco Emilio Neis, Gabriela Flor Visnadi e Silva, Luiz Sebastião Juttel, Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas, Vanilda
L. F. Macedo Godoy e Viviane Beineke, além das crianças Bruno, Janis, João Vinícius e Yolanda.
sala de aula. Não estão sendo propostas experiências metódicas nem sistemáticas, para
serem reproduzidas, através dos jogos que propusemos, porque estaríamos indo contra
os princípios que geraram o trabalho: o seu caráter lúdico e brincante.
Analisando as crianças em ação, pudemos observar como as menores se relacionam
com as brincadeiras musicais. Elas olham as crianças mais velhas realizando as músicas e,
com toda a naturalidade, inventam outras formas de realizar os jogos rítmicos, entrando
na brincadeira. Para o professor, poderia surgir uma preocupação sobre o nível de dificul-
dade dos jogos de copos, mas as crianças nos mostram que este não é um problema, à
medida que elas mesmas encontram uma forma de brincar adequada à sua habilidade
musical e instrumental. Essa é uma ideia que deveria sempre permear a realização das
músicas, pois observando como as crianças se apropriam das brincadeiras poderemos,
com cada grupo, de diferentes faixas etárias, criar novas formas de jogar e fazer música
em conjunto.
Nesse sentido, não nos preocupamos em estabelecer a faixa etária a que o material
se destina, entendendo que o jogo e a brincadeira não são práticas exclusivas das crian-
ças nem da infância. Em qualquer idade podemos brincar, atribuir significados próprios
e transformar os jogos, apropriando-nos de diferentes formas de brincar e fazer música
coletivamente. Nessa perspectiva, cada professor, cada criança ou grupo interagirá de
forma diferente com as canções, dependendo dos seus interesses, conhecimentos ou
habilidades musicais.
Compartilhamos então algumas atividades desenvolvidas a partir desse trabalho e
começamos pelo Rabo do Tatu, um jogo de copos criado a partir de tradicional parlenda
infantil.
Legenda
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Como brincar
Em duas rodas, uma dentro da outra, as crianças sentam-se de
frente umas para as outras. Na roda de dentro as crianças tocam
flauta e na de fora cada criança tem à sua frente um copo plástico.
O grupo deve combinar a forma de executar a música, alternando
a parte falada com o acompanhamento de copos e a parte para
flauta doce. A cada repetição, o andamento vai sendo acelerado.
O jogo também pode ser realizado sem a parte para flauta doce.
O jogo é construído a partir de três elementos que podem ser combinados de inú-
meras maneiras, explorando sobreposições, variações de dinâmica e andamento: o texto
falado, o jogo de copos e uma melodia para flauta doce, com apenas três notas. No final
da brincadeira, tocando cada vez mais rápido, o jogo vai se “desmanchando”, trazendo
nova sonoridade ao trabalho. E, se tudo terminar com o grupo dando risada, melhor
ainda, porque então a brincadeira deu certo! A brincadeira “dá certo” quando o jogo
começa a “dar errado” e não é mais possível acompanhar a música, quebrando a métrica
estabelecida no jogo. Qual a graça de brincar se tudo sempre “dá certo”? A gargalhada
dos participantes no final da música, com copos espalhados por todo lado, totalmente
envolvidos, nos revela que a brincadeira realmente aconteceu, num fazer musical movi-
do pela alegria plena de quem brinca “por brincar” e sem medo de errar. Como diria Pe-
reira (2005a, p. 20), estão todos em “estado de brinquedo”. Convém salientar que na área
musical, ainda tão cheia de tradicionalismos e preconceitos sobre quem pode/sabe ou
não fazer música, isso é muito importante. Dessa maneira, o jogo musical favorece uma
relação com o fazer musical na qual errar é permitido, porque o que convencionalmente
seria um “erro” faz parte da brincadeira.
Dica
Assista a uma apresentação do Rabo do Tatu
acessando o canal “musicanupeart” no YouTube.
Repare que nessa execução a cada repetição da
música um dos participantes faz um improviso
com os copos e depois são agregados instru-
mentos musicais ao arranjo.
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Como brincar
Em roda, todos cantam a canção, passando os copos no pulso. O
grupo vai acelerando o andamento, provocando o “erro”. Aqueles
que “erram” vão formando uma nova roda no centro e acompa-
nham a canção com o jogo de copos sugerido acima.
* 5. Canção procedente de Cuiabá, Mato Grosso, recolhida por Iris Costa Novaes e registrada pelo Duo Rodapião no CD Dois a dois. O termo
“zabelinha” deriva de “as abelhinhas”.
Jogo de palavras
“[...] eu acho que todo poeta é apaixonado por palavras! Poeta
adora mexer e brincar com elas, examinar o som e o sentido, até
inventar e aprender palavras novas.” (Lima, 2006, p. 43)
Legenda
Jogo de copos
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Como brincar
Em roda, os brincantes cantam o refrão e executam o jogo de copos,
metade tocando o primeiro padrão e metade tocando o segundo. Os
versos são cantados por apenas um participante; cada brincante poderá
inventar um novo verso ou cantar um dos versos sugeridos abaixo.
Refrão:
Marinheiro encosta o barco Quem me dera a sua mão,
Que a morena quer embarcar Para eu dar um aperto nela,
Iáiá eu não sou daqui Para ver se ainda está
Eu não sou dali Como de primeiro era.
Eu sou do Pará.
Quem me dera, dera, dera,
Versos: Quem me dera só pra mim,
A maré que enche e vaza Receber do meu amor
Deixa a praia descoberta. Um galhinho de jasmim.
Vai-se um amor e vem outro,
Nunca vi coisa tão certa. E você, dona Lydia,
Passe a mão em seus cabelos,
Que do céu vem caindo
Dois pinguinhos de água-de-cheiro.
Marinheiro encosta o barco é uma roda de verso, recolhida por Lydia Hortélio6 . Lydia
explica que as rodas de verso configuram ritos de passagem da infância para a adoles-
cência, em que os versos são inventados pelos participantes que cantam na roda. Na ver-
são aqui apresentada, reproduzimos os versos sugeridos por Lydia, a quem dedicamos
nosso trabalho, e deixamos a sugestão de que novos versos sejam inventados ou adap-
tados à canção. Repare que o um dos acompanhamentos sugeridos utiliza os mesmos
movimentos que o acompanhamento de Zabelinha, variando apenas o ritmo.
Conheça também
KATER, Carlos et al. (*) Música na escola: jogos e instrumentos. Belo Horizonte: Editora
Projecta, 2009.
(*) Junto com José Adolfo Moura, Maria Amália Martins, Maria Betânia Parizzi Fonseca,
Matheus Braga e Rosa Lúcia Mares Guia.
* 6. Canção registrada por Lydia Hortélio no CD Abra a roda, tin do lê lê, com versos de Elisa Grota Funda - Serrinha/Bahia.
Legenda
O acompanhamento com copos pode ser realizado de duas maneiras: cada participante
jogando sozinho ou em roda, com os copos passando de um para outro.
Como brincar
Com os brincantes em roda, a canção é acompanhada pelo jogo de
copos. No início, o jogo pode ser feito individualmente e depois os
copos começam a ser passados na roda. Entre uma repetição e outra, o
grupo pode combinar de fazer improvisos com os copos.
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a passagem dos copos de um para outro na roda fazia toda a diferença: o deslocamento
de um trabalho que focaliza o desafio individual, virtuosístico, tão valorizado na área da
música, para um fazer coletivo, que para funcionar depende da colaboração no grupo. É
justamente nessa passagem do copo entre os brincantes que se estabelece o jogo cole-
tivo, que depende tanto do desempenho individual como grupal. Por isso, é tão impor-
tante estarmos atentos ao que as crianças nos dizem, pois podemos sempre aprender
com elas, que nos dão um retorno vivo e repleto de significações sobre o trabalho que
estamos desenvolvendo. Sobre isso, podemos refletir também que na relação brincadei-
ra e escola é preciso considerar que nem sempre o que propomos para a criança como
brincadeira significa brincadeira para ela. Elas precisam “se tornar donas” (Pereira, 2005b,
p. 149) do trabalho para que se estabeleça o brincar em sala de aula.
Dica
No blog www.lengalalenga.blogspot.com você
pode conhecer várias outros jogos, criados a
partir das atividades aqui sugeridas.
Você troca?
Travadinhas Você troca
O pobre do grilo do brejo. um canguru de pijama
Prendeu o brinco no prego. por um urubu na cama?
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Considerações
Elaborar materiais didáticos é sempre um desafio para professores e professoras,
quando não se deseja oferecer “receitas” para serem “aplicadas”. Acreditamos que a pro-
dução de materiais para o trabalho com música está ligada a processos de criação e re-
criação, sempre descortinando possibilidades de um trabalho, de outro e de mais outro.
Interessante seria se, como diz Pescetti, a experiência musical com as crianças pudesse
“incluir o professor como um ser humano com gostos e vivências para compartilhar”
(2005, p. 39). Para isso, o professor também precisa apropriar-se criativamente das can-
ções, dos jogos e brincadeiras. É esse o sentido que move nosso
projeto: experimentar, analisar, adaptar, produzir e reinventar
materiais didáticos para o ensino de música na escola. Nes-
se sentido, consideramos essencial que os professores se
tornem menos consumidores e mais produtores de ma-
terial didático, na busca por construir
aprendizagens musicais significati-
vas para os seus alunos.
Agradeço a Cláudia Ribeiro Bellochio e Áurea Demaria Silva pela leitura do texto e sugestões.
24 Viviane Beineke
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Sites
6° Encontro da Canção Infantil Latino-americana e Caribenha (para acessar os
textos completos das palestras acesse o link “programação”)
www.cp.ufmg.br/6encontro
Referências
BEINEKE, V.; FREITAS, S. P. R. Lenga la Lenga: jogos de mãos e copos. São
Paulo: Ciranda Cultural, 2006.
26 Viviane Beineke
V. 3 N. 3 setembro de 2011
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zonte: Editora UFMG; Pró-Reitoria de Extensão/UFMG,
2005b. p. 141-152.
Resumo: Meio ambiente é um dos temas Echoes: music education and the
transversais mais prementes da educação environment
e, portanto, conteúdo obrigatório também Abstract: Environmental education is
da educação musical. Esses dois campos a key subject in contemporary school
do conhecimento convergem em diversos curriculum. Thus, it is also a mandatory
pontos, que podem ser percebidos em três subject in music education. These two
eixos: o pragmático, o da paisagem sonora fields of knowledge merge into many points,
e o ético-estético. Por meio de atividades which can be perceived in three strains:
de apreciação musical, construção de the pragmatic, the soundscape and the
instrumentos, sonorização e criação, e ethic-aesthetic ones. Through activities
da discussão sobre temas como ecologia that include music listening, construction
sonora, acústica, tecnologia e saúde of instruments, creation, and discussion of
pode-se promover a valorização dos themes such as sound ecology, acoustics,
produtos naturais e culturais assim como technology and health, it may be possible
o senso de pertencimento e a educação da to promote the valuing of natural and
sensibilidade visando o desenvolvimento cultural products, the sense of belonging,
ético e estético. and the education of sensitivity aiming at
ethical and aesthetical development.
Palavras-chave: educação musical e
ambiental; música e meio ambiente; Keywords: musical and environmental
paisagem sonora education; music and environment;
soundscape
29
MÚSICA na educação bбsica
Francesa de origem, nascida na Namíbia, a menina cresceu no Kalahari. Seu pai pro-
duzia documentários sobre a natureza. Ensinou-lhe não a temer, mas a cuidar e a ter
cuidado com os animais. Quando ela era bebê, Abu lhe espantava os mosquitos com a
tromba. Com tartaruguinhas, montava formas na areia. Tippi desenvolveu uma relação
de respeito mútuo com seus co-habitantes. Não se impunha a eles: era um igual. Creio
que falavam a mesma língua. Olhavam-se com olhos cúmplices.
*
1. Disponível em www.ceciliacavalierifranca.blogspot.com.
que convida ao canto – “Será que o sapo é?” O mote da introdução anuncia, desconfiado:
“A Tippi é uma história real, mas essa de o sapo ser príncipe, não sei…”
O assunto é quase religioso, uma vez que trata de conexão com a natureza, com os
outros e conosco mesmos. A questão ambiental é também social, cultural, educacional,
científica, política e econômica – estratégica, portanto. Lideranças políticas, cientistas e
formadores de opinião em todo o mundo estão chamando atenção para desequilíbrios
ambientais em vários níveis: esgotamento do solo, uso indiscriminado de agrotóxicos,
lixo, contaminação da água, fome, violência, poluição sonora, desrespeito a direitos hu-
manos básicos e ataques à cidadania.
No Brasil (2005, p. 65), a política nacional de educação ambiental foi definida pela Lei
9.795/1999, Art. 1º, no ProNEA, como
Eixos articuladores da
interdisciplinaridade
Educação musical e educação ambiental possuem vários pontos de contato. Vejo tal
afinidade operando em três eixos: o pragmático, ou das atividades, o da paisagem sonora
e o ético-estético. Ressalvo que os eixos não são mutuamente excludentes; ao contrário,
podem fortuitamente operar de maneira integrada.
Eixo pragmático
Esse eixo, mais direto e imediato, envolve temas como acústica, tecnologia, reper-
tório e construção de instrumentos, que acolhem projetos interdisciplinares entre meio
ambiente, ciências, geografia, história e música. Diversas propostas são bastante conhe-
cidas: sonorizações criativas e imitativas, reconstituições de diferentes ambientes sono-
ros, ecos musicais e não musicais, coletâneas de sons de antigamente e especulações
sobre sons do futuro (Schafer, 1991), como na Figura 2, etc.
Experiências
A intensidade de um som depende da quantidade de energia produzida. Quando
essas ondas são muito intensas, podem ser sentidas no nosso próprio corpo e fazer ob-
jetos, vidraças e paredes vibrarem. Superfícies duras refletem melhor o som do que su-
perfícies macias, que o absorvem. Para demonstrar esses fenômenos, as crianças podem
fazer experiências como estas:
1) Espalhe um pouco de sal ou açúcar sobre uma mesa. Bata forte em um tambor ou
outro objeto, próximo à substância. Observe que os cristais de sal ou açúcar vão pular.
Por que isso acontece? Depois, coloque a substância sobre um pano. O que acontece
dessa vez? Por quê?
Repertório
Uma grande variedade de obras, de Vivaldi a Toquinho e Vinícius, passando por gru-
pos folclóricos e artistas independentes, tocam direta ou tangencialmente questões
pertinentes à natureza, à ecologia e ao bem comum. A breve coletânea que se segue
(Quadro 2) pode ser largamente ampliada pelo professor e pelos próprios alunos.
Temáticas da natureza
Sinfonia nº 6 (Beethoven)
Os planetas (Gustav Holst)
As quatro estações (Vivaldi)
Carnaval dos animais (Saint-Saens)
Floresta do Amazonas (Villa-Lobos)
Águas da Amazônia (Philip Glass, interpretado pelo Grupo Uakti)
Temáticas urbanas
Ionization (Edgar Varèse)
Le grand macabre (Gyorgy Ligeti)
Silêncio
4’33’’ (John Cage)
Silêncio (Márcio Coelho)
Tippi, Valsa da aranha, Peix’, Noir, o gato, Chuva, O coqueiro da praia, Duna, Bicho, Forro-
ck da bicharada, Cavalo-marinho, Mapa e Pele, de minha autoria, estão disponíveis em
www.ceciliacavalierifranca.blogspot.com.
A canção Pele (Figura 3) chama a atenção para matérias-primas das quais são feitos
instrumentos conhecidos pelas crianças.
Construção de instrumentos
Livros
Música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança (Brito,
2003)
O meu primeiro livro de música (Drew, 1993)
Para fazer música, v. 1 e v. 2 (França, 2008, 2010)
Sites
www.nyphilkids.org/lab/main. phtml – New York Philarmonic – Kidzone: instrumentos
alternativos
www.meloteca.com/pedagogia-musica-ambiente.htm – Site de música e artes, de
Portugal; link “educação” - “reciclagem”
www.instrumentosalternativos.hpg.com.br – Site sobre livro de instrumentos alter-
nativos, de Júlio Feliz
Figura 4. Construção de
instrumentos a partir de reciclá-
veis (França, 2010, p. 65).
Para que esse processo não se resuma a oficina de reciclagem, os instrumentos cons-
truídos devem, oportunamente, ser utilizados em criações e performances, tomando-se
o devido cuidado com a sonoridade e com o resultado expressivo. A grafia analógica
também pode ser trabalhada de maneira intuitiva ou sistematizada (Figura 5).
Obras indispensáveis
O ouvido pensante (Schafer, 1991) e A afinação do mundo (Schafer, 1997).
Música e meio ambiente: ecologia sonora (Fonterrada, 2004).
Eixo ético-estético
Ecos
Referências
AZEVEDO, F. A.; VALENÇA, M. Z. Por uma ética e SCHAFER, M. A afinação do mundo. Tradução de
uma estética ambientais. Revista Intertox de Toxi- Marisa Fonterrada. São Paulo: Unesp, 1997.
cologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 2, n. 1, p.
3-42, 2009. SILVA, M. A. a paisagem sonora e sua relação com
o ensino de música: breve relato acerca da pesquisa.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâme- Revista do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ecolo-
tros curriculares nacionais: meio ambiente/saúde. gia Sonora GEPES/UFMA, n. 2, 2010. Disponível em:
Brasília, 1997. <http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma>.
Acesso em: 5 fev. 2010.
______. Secretaria de Educação Ambiental. Parâ-
metros curriculares nacionais: meio ambiente/saú- SWANWICK, K. Musical knowledge: intuition, analy-
de. Brasília, 1998. sis and music education. London: Routledge, 1994.
______. Ministério do Meio Ambiente. Programa Na- ______. Teaching music musically. London: Routled-
cional de Educação Ambiental – ProNEA. Brasília, ge, 1999.
2005.
VAZ, A. Poluição sonora, um inimigo invisível. 2009.
BRITO, T. A. Música na educação infantil: propostas Disponível em: <http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?
para a formação integral da criança. São Paulo: Pei- menuid=6&cid=26398&bl=1&viewall=true>. Acesso
rópolis, 2003. em: 5 fev. 2010.
Resumo: Este texto propõe o uso de balões Sfuuuuu! Schiiii! Bum! Ploft! Baloons in
como instrumento musical. As propostas são music class
fundamentadas no uso de diferentes sons para Abstract: This paper proposes the use of
a execução e criação musical. As sugestões de balloons as musical instruments. The proposals
atividades foram desenvolvidas para o uso em are based on the use of different sounds to play
sala de aula, pensando na educação básica e and create music. The activities suggested were
envolvendo toda a turma. Propomos práticas developed for elementary school classwork
musicais que envolvem a exploração sonora, a involving the whole class. We propose musical
criação e execução musical, a leitura e escrita practices that involve the exploration of sound,
de partituras, além de ideias para registro creation and musical performance, reading
audiovisual. and writing of musical scores, and ideas for
audiovisual recordings.
Palavras-chave: instrumentos musicais;
criação musical; leitura e escrita de partitura Keywords: musical instruments; musical
creation; reading and writing of musical scores
ARALDI, J. e FIALHO, V. M. Sfuuuuu! Schiiii! Bum! Ploft! Balões na aula de música. Música
na Educação Básica, v. 3, n. 3, p. 42-55, 2011.
43
MÚSICA na educação bбsica
A partir da exploração, organize com o grupo todo uma peça musical que tenha
começo, meio e fim. Para isso, pode contar uma história, criando um clima que contri-
bua na inspiração para a composição. Ou, ainda, escolher uma música já conhecida para
fazer o acompanhamento. Ou mesmo ir compondo um mosaico sonoro com intenções
musicais, desenvolvendo contrastes, agrupando diferentes tipos de sons, criando frases
e organizando um discurso musical. Com a música pronta sugira o registro em audiovi-
sual e também escrito, montando uma partitura.
No link abaixo temos um exemplo dos balões sendo utilizados como percussão na
música Bad romance, de Lady Gaga. A performance foi desenvolvida no primeiro semes-
tre de 2011 pelos dos alunos da disciplina de Prática de Conjunto II da Graduação em
Música da Universidade Estadual de Maringá.
Lady Gaga: cantora e compositora pop americana que lançou seu primeiro disco
em 2008. Entre 2009 e 2011 suas músicas ficaram entre as mais ouvidas mundialmente.
Ganhou projeção, especialmente, por explorar as redes sociais na internet.
longo, curto, forte, fraco, e outras. Um som pode estar em mais de uma categoria e de
acordo com suas qualidades sonoras e formas de tocar cria-se o símbolo que o repre-
senta.
Podem-se aproveitar as cores dos balões e relacioná-las a diferentes sonoridades,
como sons fortes com cores escuras e sons pianos com cores mais claras. Além disso,
as cores podem ser exploradas utilizando uma mesma cor para cada naipe, e utilizar
essa mesma cor na voz correspondente. Nesse contexto, pode-se ainda considerar o
movimento de extrair os sons, e representá-lo de forma escrita, de modo que o som, a
imagem e o movimento possam ser expressados no registro sonoro.
Na sequência monte uma partitura com os símbolos desenvolvidos. Nessa fase é
fundamental que o registro em partitura seja amplamente discutido, de modo que cada
som seja realmente visualizado no símbolo gráfico criado. Isso porque “as informações
musicais contidas na partitura devem fazer um sentido para o ouvinte-leitor” (Souza,
2003, p. 213).
Para a elaboração da partitura você pode utilizar canetas coloridas, massinha de mo-
delar, recortes de jornais, barbantes, EVA e outros materiais.
Tendo como base essa atividade podem-se trabalhar diversos conteúdos musicais,
como forma, instrumentação, leitura e escrita, conceitos relacionados aos elementos do
som (timbre, duração, intensidade, altura, densidade) e da música (instrumentação, rit-
mo, melodia/harmonia, dinâmica, expressão e outros).
A partir da exploração dos sons e sua representação gráfica, é possível trabalhar tam-
bém com a ideia de uma videopartitura. Os alunos podem desenhar em uma folha e
posteriormente digitalizar as imagens, e gravar a composição. Em seguida utilizar um
editor de vídeo para sincronizar a partitura e o som. Se não for possível a edição de um
vídeo, é possível montar o vídeo ao vivo, filmando a partitura enquanto os alunos a exe-
cutam. Isso também proporciona a ideia de uma videopartitura, onde é possível visuali-
zar os sons executados. E as possibilidades de ler e escrever não param por aí…
O vídeo abaixo traz um exemplo de uma peça criada e registrada em partitura pe-
los alunos do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal da Paraíba, na
disciplina Oficina de Música IV, no segundo semestre de 2010. O nome da música é
Embolando e a execução foi guiada pela apresentação da partitura em Power Point, que
contribuiu para uma visualização dos sons executados; além disso, o próprio “trocar” de
imagem era uma forma de regência utilizada com o grupo.
50
* 1. Você pode baixar o programa Audacity gratuitamente no site: http://audacity.sourceforge.net/.
No link abaixo você pode conferir uma releitura da música We will rock you da ban-
da de rock Queen. Esse trabalho foi desenvolvido com alunos da disciplina Oficina de
Música IV, do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal da Paraíba, no
segundo semestre de 2010, culminando com a apresentação da turma em um evento
de performance promovido pela mesma universidade.
Queen: banda de rock britânica, iniciada no final da década de 1960 por estudantes
do Imperial College em Londres. Destacaram-se pelas grandes produções de seus con-
certos e videoclipes, onde utilizavam jogos de luzes e efeitos especiais. Musicalmente,
suas composições tinham o propósito de envolver a plateia, com palmas, bem como o
uso de outros instrumentos além dos comumente utilizados no rock, como, por exem-
plo, instrumentos de orquestra e sons eletrônicos.
A (re)leitura de partitura pode ser feita a partir dos registros de música contempo-
rânea. Por exemplo, pode-se fazer um recorte de uma obra como a Artikulation (Figura
8), do compositor húngaro György Sándor Ligeti, e executá-la com os balões. Para isso,
pode-se inicialmente fazer uma leitura da forma como a turma entende que a partitura
sugere, discutindo cada símbolo e que som ele pode representar. Nessa análise podem-
se considerar inclusive as cores dos símbolos, relacionando-as às cores dos balões. Evi-
dentemente a sonoridade dos balões será distinta da original da peça, que é feita com
Considerações finais
Neste texto apresentamos algumas das possibilidades do uso do balão como um
instrumento musical. Para isso entendemos ser fundamental que o educador musical
tenha uma compreensão ampla sobre o que é um instrumento musical. Dessa forma,
em um processo de ensino e aprendizagem musical pode-se fazer uso de diferentes
recursos com finalidades didáticas.
Mas por que o balão? Para além da acessibilidade que esse material proporciona,
é possível vislumbrar o quanto o trabalho com os balões pode ser um estímulo para
propostas criativas de práticas e criações musicais coletivas. O balão pode ser utilizado
tanto em releituras de músicas que já existem como na própria “imitação” de outros ins-
trumentos. Além disso, é possível também extrair sonoridades que são únicas desse ins-
trumento. Dessa forma, o balão pode ser utilizado como um instrumento em potencial
de criação e execução musical, fazendo da aula de música uma verdadeira festa!
Referências
FIALHO, V. M.; ARALDI, J. Fazendo rap na escola. Música na Educação Básica, v.
1, n. 1, p. 76-82, 2009. Disponível em: <http://www.abemeducacaomusical.org.
br/noticia_revista_musica_escola.html>. Acesso em: 10 abr. 2011.
GOODMAN, E. Lady Gaga: critical mass fashion. [S.l.]: St. Martin’s Press, 2010.
IAZZETTA, F. A importância dos dedos para a música feita nas coxas. In: CON-
GRESSO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRA-
DUAÇÃO EM MUSICA, 15., 2005, Rio de Janeiro. Anais… Rio de Janeiro: Anp-
pom, 2005. p. 1238-1245. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/prof/iazzetta/
papers/anppom_2005.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2011.
SOUZA, J.; FIALHO, V. M.; ARALDI, J. Hip hop: da rua para escola. Porto Alegre:
Sulina, 2008.
BELLOCHIO, C. R. Minha voz, tua voz: falando e cantando na sala de aula. Música na
Educação Básica, v. 3, n. 3, p. 56-67, 2011.
57
MÚSICA na educação bбsica
Neste início de conversa, professor e/ou professora, ouça as vozes das crianças, dos
estudantes. Ouça a sua voz!
Ouvir, perceber e buscar compreender como a criança brinca, canta e fala é uma
condição sensível ao mundo no qual um professor trabalha. Da relação direta que os (as)
docentes estabelecem, no dia a dia, com os alunos e as alunas é que derivam propostas
pedagógicas que aproximem o cotidiano das proposições pedagógicas de ensinar e de
aprender.
De esses “aconteceres”, comuns na infância, é que surge o convite para que os pro-
fessores e as professoras ouçam atentamente a atividade de brincar de fazer música vivida
pelas crianças. Ao que me parece, sem a intencionalidade da escuta pelos adultos, a
experiência das crianças não passará de experimentação pessoal a elas mesmas. E veja,
as experiências musicais da infância podem ser muito ricas se ouvidas, refletidas, instiga-
das. Ouvir é condição para apreciar em música. O ouvir musical é parte da atividade de
apreciação presente no processo de aprender música.
Ou, seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que
brinca. (Galeano, 2007, p. 76)
Colega – pense sobre a história expressa por Galeano e em todas as coisas boas e
não boas que fazemos cotidianamente quando estamos ensinando. Quantas vezes e por
quanto tempo já silenciamos nossas crianças? Quantas vezes e por quanto tempo já nos
silenciaram? Por que já silenciamos e nos deixamos silenciar?
Reforço o convite a você que trabalhará com esse tópico que, antes de mais nada,
se disponibilize a ouvir as manifestações vocais das crianças pequenas, desde bebês que
não possuem a fala articulada até as produções vocais de crianças maiores. O que os
*
1. O abecedário de Gilles Deleuze é uma realização de Pierre-André Boutang, produzido pelas Éditions Montparnasse, Paris.
No Brasil, foi divulgado pela TV Escola, Ministério da Educação. Tradução e legendas: Raccord. Pode ser acessado em: http://
intermidias.blogspot.com/2009/09/abecedario-de-deleuze-para-download.html.
bebês fazem com sua voz? Em que situações utilizam-se da voz e para que fazem uso?
Ouça muitas falas e canções, de crianças e de adultos.
Faça isso com você também! Ouça-se constantemente! Se tiver tempo, anote tudo.
Faça registros de suas atenções aos sons vocais. Pense sobre o que você ouve. Se puder,
grave e ouça as gravações.
Ouça muito a sua voz e outras vozes que existem perto de você, de algumas pessoas
falando e outras cantando. Não esqueça que, para ouvir, é preciso, simplesmente, ouvir
e, aos poucos, ir entrando no universo do que está sendo ouvido, cada vez apreciando
mais e mais. Descubra e (re)descubra diferentes formas de sua voz existir sonoramente,
falando e cantando. Perceba, nos seus alunos e nas suas alunas, as diferentes formas pe-
las quais eles vão utilizando-se de sons da voz. Busque, no YouTube,– musicais somente
com a voz; percussão vocal; só voz; etc.
Também não esqueça que é preciso pensar sobre o que lhe toca e produz sentidos;
na experiência, pense acerca de suas formas de contato com o mundo vocal. Pense que
“a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se pas-
sa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao
mesmo tempo, quase nada nos acontece” (Bondiá, 2002, p. 20).
Pensar sobre a sua experiência poderá promover sua forma de pensar proposições
para o ensino. Na realidade, provoque-se à compreensão e à escuta sensível de si e do
mundo. Não esqueça também de cantar, viver a experiência da execução musical vocal.
Pense sobre os versos da canção de Tom Jobim. O que eles lhe dizem? O que repe-
tem de tudo aquilo que você já ouviu em sua vida? Imagine-se ensinando uma canção
ou um rap para seus alunos e suas alunas…! O que lhes dizer quando os sons que saem
de suas bocas (e também) as imagens de seus corpos não são aquelas que você deseja-
ria estar ouvindo?
*
2. Se você deseja aprofundar leituras sobre o rap, leia Hip hop: da rua para a escola (Souza; Fialho; Araldi, 2005). Procure também outras
referências na internet, digitando “hip hop”.
Aos poucos você irá percebendo que o “problema” não está na afinação/desafinação
produzida, mas na forma pela qual você anda ouvindo o que será emitido. Isso também
vale para seus alunos e suas alunas, para as crianças.
Mas, vejamos algumas causas frequentemente apontadas e que podem levar ao que
se considera como desafinação da criança. As causas adicionam questões de natureza
social e biológica. Contudo, fica evidenciada a alta repercussão de questões sociais que
acabam por afetar a afinação. ³
Veja, aqui é preciso pensar sobre o que seria música de má qualidade cantada. Mui-
tos cantores atuais, como os rappers ou MCs, executam suas músicas vocais de modo
diferente dos modelos melódicos e rítmicos de canções tradicionais do repertório in-
fantil, mas isso não os caracteriza como modelos inadequados. O modelo inadequado
é aquele que pretende ser melódico e falha na execução correta de alturas sonoras, de
estruturas rítmicas, etc.
*
3. Essas causas foram expostas, a partir de uma obra, por Marisa Fonterrada (professora da Universidade Estadual Paulista – Unesp), em
curso realizado pela Fecors (Federação de Coros do Rio Grande do Sul) em Porto Alegre no ano de 1984.
Percebe-se, pois, que existem muitas causas para que a voz não soe como gostarí-
amos que ela soasse. No entanto, o mais grave é a lesão na cóclea, que compromete a
audição e a consequente emissão do que se ouve. As demais causas parecem superáveis
com trabalho diário, cuidados, escutas, etc.
Por fim, duas atividades simples que podem ser trabalhadas na escola.
Brincando com a voz: esta é uma experiência bem legal! Fale. Fale de diferentes ma-
neiras. Fale mais forte e mais fraco. Sussurre. Murmure. Grite. Fale uma mesma palavra ou
frase de diferentes maneiras. Invente frases engraçadas para serem faladas: Por exemplo:
o pinto e a pinta passeiam de ponta a ponta no planeta pintado. Fale essa frase explorando
os pp; os nn. Fale rapidamente, lentamente. Invente. Crie outras formas de brincar com
os sons da voz com seus alunos e suas alunas.
Escolha um pequeno poema e o interprete com as muitas possibilidades de sua voz.
Faça o mesmo criando seu próprio poema. Incentive sua turma a criar. Não esqueça de
se ouvir!
Outra ideia para brincar com a voz é criar melodias para muitas coisas. Comece can-
tando de muitas maneiras o seu nome, o nome das crianças. Um jeito legal para explorar
a construção de melodias é pensar em levar a sua voz para dar um passeio.
Imagine que está fazendo desenhos no ar. Na sua mão, há uma varinha que guiará a
construção dos seus desenhos melódicos. Pense em fazer linhas retas, sinuosas, longas
e curtas. Linhas mais pesadas e mais leves. A cada movimento que você der, emita um
som e continue a representar sonoramente os desenhos que vão sendo construídos.
Vale lembrar que, para movimentos ligados, os sons são ligados, e, para movimentos
não ligados, os sons são separados. Brinque! Brinque com você e também seja regente
de um grupo, indicando-lhes como você gostaria que os sons fossem sendo realizados.
Estimule as crianças a também serem regentes. Ouça atentamente as melodias que vão
sendo construídas. Grave-as, ouça e aprecie com a sua turma. 4
* 4. No n. 2 de Música na Educação Básica, o texto de Ciszevski (2010) traz algumas ideias de exploração vocal na seção “Criando por meio
da voz...”; vale a pena conferir. No mesmo número da revista, outra referência é o texto “Explorando possibilidades vocais: da fala ao
canto”, de Schmeling e Teixeira (2010).
No livro de Murray Schafer (1991), O ouvido pensante, nos capítulos “Limpeza de ouvi-
dos” e “Quando as palavras falam”, você terá várias ideias de trabalhos com a voz. Leia-os
atentamente, exercite as sugestões e as reinvente, antes de fazê-los com suas crianças e
seus estudantes. Se necessário, adapte-os. O desafio profissional do professor é o de po-
tencializar a construção de conhecimentos a partir do já existente, implicando a criação
de situações de ensino novas. Invente! Crie!
Musicando poesias: musicar poesias é uma atividade legal. Você pode pensar em
fazer um rap, em criar melodias ou misturar as duas formas. O legal é se os estudantes fo-
rem desafiados a construírem musicalmente a partir dessas obras, mas isso será possível
após terem domínio de leitura da língua portuguesa.
Duas obras bem bacanas são os livros de poesia Ou isto ou aquilo, de Cecilia Meireles
(1990), e Delícias e gostosuras, de Ana Maria Machado (2005).
Trago, da segunda obra, uma poesia:
Essa poesia possui um universo musical explícito ao combinar duas canções de domí-
nio público. No primeiro verso, a canção Lá vem a sinhá marreca e, no segundo, Minha ma-
chadinha. Com essa poesia podem ser exploradas muitas formas de construções musicais.
Uma delas é falar os versos como se fossem um rap ou cantar os versos com as melodias
das canções que originaram a criação da poesia. Poderiam também ser combinadas exe-
cuções de rap com as melodias de domínio público. Vá tentando. Experiencie! Construa
junto com as crianças formas de musicar poesias que sejam interessantes ao processo de
educação musical da turma. Boa sorte nas suas investidas!
sofisticados. O mais legal é viver a experiência e buscar sentidos no que está sendo vivido.
Novamente, a experiência precisa fazer-lhe sentido, tocar-lhe sensível e esteticamente com
o mundo. Não se esqueça de também cantar estilos diversificados de músicas vocais: can-
ções e raps são ótimas práticas. Lembre que processos de educação musical que se utilizam
da voz poderão também ser uma maneira muito bacana de conhecer e cantar canções
diferentes (ninar, trabalho, mídia, folclóricas, etc.), de diferentes lugares e formas. Tente ouvir
e perceber as diferenças entre as canções do Rio Grande do Sul e as canções do Nordeste,
ou do Norte. Nesse universo existe uma riqueza expressiva rica que poderá ser explorada
nas experiências vocais. Diante disso, brinque com a sua voz. Imite com a sua voz. Construa
uma relação vocal com o mundo sonoro, cantando e falando. Declame. Interprete poesias.
Crie diferentes expressões para a sua execução musical com a voz: triste, alegre, etc. Acre-
dite, é possível.
Referências
BONDIÁ, J. L. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira
de Educação, n. 19, p. 20-28, 2002.
SOUZA, J.; FIALHO, V. M.; ARALDI, J. Hip hop: da rua para escola. Porto Alegre:
Sulina, 2005. Acompanha 1 CD. (Coleção Músicas).
Resumo: O texto apresenta ideias para o Once upon a time… Between sounds,
ensino de música na educação básica a partir songs and stories
da sonorização de histórias, sendo abordadas
diferentes perspectivas para o trabalho do Abstract. The text presents ideas for music
professor especialista e não especialista em teaching in basic education from music
música. Atividades com histórias são um meio stories, being addressed different perspectives
eficiente de desenvolver conteúdos musicais, to the work of specialist and not specialist
envolvendo e motivando as crianças para o music teacher. Activities with stories are an
fazer musical. A proposta possibilita integrar efficient mean to develop musical contents,
diferentes tipos de histórias a atividades involving and motivating children to the
de composição, apreciação e performance, musical experience. The proposal makes it
potencializando o desenvolvimento da possible to integrate different types of stories
expressão, percepção, interpretação e to the compositional activities, appraisal and
criatividade em música. As histórias performance, leveraging the development
sonorizadas representam ainda um meio of expression, perception, interpretation
de articular as linguagens artísticas em uma and creativity in music. The musical stories
proposta curricular integrada. still represent a mean to articulate artistic
languages in an integrated curriculum
Palavras-chave: educação musical; música proposal.
na escola básica; histórias sonorizadas
Keywords: musical education; music at the
basic school; music stories
REYS, M. C. D. Era uma vez... Entre sons, músicas e histórias. Música na Educação Básica,
v. 3, n. 3, p. 68-83, 2011.
69
MÚSICA na educação bбsica
grupo pode significar uma necessidade, pois a grafia permite lembrar uma sequência de
acontecimentos sonoros, quais os materiais/instrumentos utilizados, além de outros de-
talhes como caráter expressivo, nuanças de dinâmica, informações sobre altura, duração
dos sons, mudanças de timbre, entre outros.
Você sabia…
… que a notação musical tradicional foi inventada por
um monge beneditino italiano chamado Guido d’Arezzo
pela necessidade de registrar com maior precisão os hinos
religiosos? Ele também deu o nome às sete notas musicais a
partir da letra do hino a São João Batista:
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Johannes
Com base em estudos de Vygotski, Frederico (2007, p. 5) lembra ainda que a gra-
fia musical como parte do processo de sonorização de histórias tem valor ao exercitar
a criatividade e construir conhecimento musical, não importando como “escrevem as
crianças, mas sim que elas mesmas são suas autoras, as criadoras, que se exercitam na
imaginação criadora, na sua materialização”.
Recursos materiais
Certa vez, em uma escola que eu trabalhava, havia uma professora muito louca, de
cabelos vermelhos e riso fácil. Ela era responsável pela “hora do conto” e em sua sala ha-
via, entre outras coisas, um baú. Eu acho que esse baú era meio mágico, pois dele saiam
coisas inacreditáveis! Minha sala ficava ali perto e às vezes eu tinha era vontade de errar
de sala, só para ver o que é que havia escondido no baú.
*
1. Pode-se conseguir um ótimo efeito sonoro construindo
instrumentos com material reciclável.
Dedoches de feltro.
Clássicos infantis
Eu não poderia começar de outro jeito, senão lembrando as histórias da minha infân-
cia. Quando comecei a trabalhar como educadora musical, fiz o que imagino que muitos
professores fazem, recorri às memórias. Lembrei das aulas de música na pré-escola, das
brincadeiras de roda, das bandinhas e das canções. Lembrei também dos disquinhos
coloridos que meu pai comprava para mim.
Estas são duas das minhas histórias preferidas, dê uma espiada e é claro, preste aten-
ção às possibilidades sonoras e às músicas, elas são sucesso garantido!
Sites
http://www.4shared.com/account/file/92336003/a47c8e6f/disquinho_-_O_Cabra_Ca-
brez.html
http://www.4shared.com/account/file/131694005/cf275ab0/disquinho_-_O_lobo_e_
os_tres_cabritinhos.html
Uma história antiga e cheia de sons, boa para começar a aventura. Você pode utilizar
um livro, contar a versão que mais gosta ou ainda usá-la para criar outra. Experimente
usar lixas para produzir o som do serrote, pauzinhos, plásticos ou jornais. Além de explo-
rar os timbres e outros materiais da música, é possível trabalhar conteúdos como caráter
expressivo e forma. Não se esqueça das muitas possibilidades a partir de sons vocais e
corporais que os alunos podem criar.
Voice
Frè re Jac ques Frè re Jac ques Dor mez vous? Dor mez vous?
5
Son nez les ma ti nes Son nez les ma ti nes Ding Ding Dong Ding Ding Dong
O trem de ferro
Quando sai de Pernambuco
Vai fazendo fuco-fuco
Até chegar no Ceará
Você sabia que o tema “trem” tem inspirado muitos artistas e gerado
inúmeras obras de arte? Que tal criar ou viajar com outros trens?
Maria fumaça, de
Trenzinho, de Cecília Cavalieri França
João Gilberto
O trenzinho do caipira,
O trem de ferro, com
de Villa-Lobos com letra
poema de Manuel
O trenzinho do caipira, de Ferreira Gullar, na
Bandeira e música de
de Heitor Villa-Lobos voz de Zé Ramalho
Tom Jobim
Criando histórias
Trago aqui o relato de uma experiência junto a um grupo de alunos
de musicalização na faixa etária de 6 a 7 anos de idade. Havia preparado
a aula e daria continuidade ao assunto da semana anterior. Duas das mi-
nhas alunas, entretanto, haviam assistido na véspera ao filme Tubarão².
Estavam muito impressionadas com a história do filme e relatavam como
o tubarão atacava as pessoas na praia. Após ouvi-las tentei iniciar a aula
como de costume, mas logo percebi que o tema trazido por elas interes-
sava a todos e poderia ser explorado a fim de podermos dar continuidade
ao trabalho de musicalização. Foi então que propus que fizéssemos a “nossa”
história do tubarão. Como esperado, a proposta foi imediatamente aceita e des-
pertou grande interesse da turma.
* 2. Filme de Steven Spielberg, baseado no romance de Peter Benchley, com trilha sonora de John Williams.
3. O termo “paisagem sonora”, divulgado pelo compositor e educador Murray Schafer na década de 1960, refere-se às características sono-
ras de um determinado ambiente, ou seja, cada ambiente tem sua própria paisagem sonora. Para Schafer (2001), o termo pode referir-se
a ambientes reais ou a composições musicais que retratam um ambiente.
Figura 4. Ataque
do tubarão.
Figura 5.
Barco salva-vidas.
Preciosidades
Mil pássaros
Palavra Cantada
http://www.4shared.com/get/8TEiy5rv/
Contos, cantos
Audiolivro-Doze_lendas_brasile.html e acalantos
Lá vem história
http://repertoriosinfonico.blogspot.com/2007/07/prokofiev-alexandre-pedro-e-o-
lobo.html
Referências
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FREDERICO, R. O conto sonoro, uma forma de explorar a escrita musical. In: CON-
GRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 16., 2007, Campinas. Anais… Campinas: Unicamp,
2007. Disponível em: <http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/
sem13pdf/sm13ss18_02.pdf.>. Acesso em: 30 nov. 2010.
Sonorizando histórias
e discutindo a educação
musical na formação e
nas práticas de pedagogas
Kelly Werle
V. 3 N. 3 setembro de 2011
Kelly Werle
[email protected]
Resumo: O texto traz contribuições para se Vocalizing histories and discussing the
pensar a formação e a atuação musical e pe- musical education in the formation and
dagógico-musical de professoras da educação practices from pedagogues
infantil e anos iniciais do ensino fundamental,
tendo sido originado a partir da conclusão Abstract: The text brings contributions to
de uma dissertação de mestrado vinculada think the formation and music and music-
ao PPGE/UFSM. Apresenta como objetivo pedagogical performance of teachers from
discutir a educação musical na formação kindergarten and first years of elementary
acadêmico-profissional do curso de Pedago- school, it had been originated from a masters’
gia, bem como dialogar sobre a possibilidade degree research articulated to PPGE/UFSM.
de trabalhar com a educação musical a partir It has as aim to discuss the musical education
de histórias sonorizadas, prática adotada por at profession-academic formation at Pedagogy
estagiárias da Pedagogia/UFSM, no decorrer da course, as well as to dialogue about the
pesquisa de mestrado. possibility of dealing with musical education
through the vocalized histories, practice
Palavras-chave: educação musical; formação adopted by trainers from Pedagogy/UFSM,
de pedagogas; histórias sonorizadas throughout the master’s research.
85
MÚSICA na educação bбsica
A mъsica está presente em nossa vida e permeia nossas relações e construções com o mun-
do desde muito cedo. Basta exercitarmos um pouco nossa memória para percebermos
que crescemos e nos constituímos humanos envoltos por um ambiente sonoro musical
característico de nosso cotidiano e contexto social e cultural, repleto de sentidos e sig-
nificados que nos são únicos.
Assim, não existe uma pessoa amusical, pois “a musicalidade é uma característica da
espécie humana e […] todos os seres humanos estão aptos a se desenvolverem musi-
calmente” (Figueiredo; Schmidt, 2008).
Essa concepção acerca da música também pode ser levada para a discussão quan-
do pensamos na professora¹ que atua com a educação infantil e anos iniciais. Pois
refletir sobre o trabalho com a educação musical na escola implica considerar essas
múltiplas relações e construções acerca da música que perpassam pela trajetória pes-
soal e profissional.
* 1. Utilizo o gênero feminino devido à expressividade de mulheres atuando como professoras nesses níveis de ensino.
2. Tomo por formação acadêmico-profissional o conceito adotado por Diniz-Pereira (2008), o qual opta por esse termo em detrimento de
“formação inicial” porque acredita que a formação inicia-se muito antes da entrada em um curso superior. Assim, o autor defende a utili-
zação do termo “formação acadêmico-profissional” para a etapa da formação que acontece no interior das instituições de ensino superior.
86 Kelly Werle
V. 3 N. 3 setembro de 2011
Nesse contexto, foi desenvolvida uma pesquisa de mestrado tendo como lócus a
música no estágio supervisionado do curso de Pedagogia da UFSM, a qual originou este
texto. No decorrer da pesquisa, que possuiu caráter participante, buscou-se investigar
como as estagiárias concebem, organizam e potencializam a música no processo de
construção da docência, através de um grupo composto por quatro estagiárias. A partir
dos resultados obtidos se identificou as histórias sonorizadas como práticas recorrentes
adotadas pelas estagiárias no trabalho com a educação musical, as quais eram criadas
a partir de interesses demonstrados pelas crianças e temáticas que estavam sendo de-
senvolvidas.
A seguir se apresenta os registros de uma história sonorizada criada por uma estagi-
ária participante da pesquisa4 e desenvolvida em uma turma de educação infantil, com
crianças de 3 anos de idade.
*
3. Projeto de extensão coordenado pela Profª Drª Cláudia Ribeiro Bellochio e pela Profª Drª Luciane Wilke Freitas Garbosa, o qual oferta
gratuitamente oficinas musicais, ministradas por licenciandos em Música, para acadêmicos do curso de Pedagogia e outras graduações,
bem como comunidade em geral.
4. Em virtude do limite da extensão de palavras para estruturação do texto, será relatada a história sonorizada de apenas uma das quatro
participantes da pesquisa.
88 Kelly Werle
V. 3 N. 3 setembro de 2011
Através das narrativas de histórias as crianças também passam a dar sentido e sig-
nificado às diferentes situações cotidianas vividas, compreendendo os processos que
compõem o ciclo da vida.
Girardello (2007) aponta alguns aspectos que considera fundamentais ao narrar uma
história, dentre eles a voz e a presença. Considera a voz importante, pois entende que
Nesse sentido, as histórias podem se tornar um recurso para o trabalho com a músi-
ca, a partir do momento em que se busca torná-las mais expressivas e sonoras. A forma
como se narra uma história, variando a entonação de voz conforme as diferentes partes:
ora mais grave, mais agudo, pronunciando mais rápido ou lentamente, suave ou mais
forte, enriquecem a história e despertam as crianças para as variações sonoras que estão
ocorrendo. “O faz de conta deve estar sempre presente, e fazer música é, de uma maneira
ou de outra, ouvir, inventar e contar histórias.” (Brito, 2003, p. 161).
As histórias sonorizadas são uma possibilidade para o trabalho com música de
fácil acesso para professoras da educação infantil e anos iniciais, pois conhecem
o contexto de suas turmas, sendo possível identificar os elementos e temas que
lhes são mais significativos e que podem aguçar ainda mais a imaginação e
a criatividade, contribuindo para a construção da história sonorizada.
Além disso, nesse tipo de atividade não se fazem necessárias habili-
dades vocais ou o uso de instrumentos musicais convencionais, podendo
ser utilizados a voz, o corpo ou objetos sonoros.
De acordo com Brito (2003), a professora pode contar e sonorizar sua his-
tória ou também realizar a atividade com o auxílio das crianças. Contudo, é
importante analisar previamente o tipo de história que se pretende trabalhar,
bem como as possibilidades de momentos com maior ênfase sonora. Sugere
que sejam feitas opções por histórias mais breves, com texto e enredo mais
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V. 3 N. 3 setembro de 2011
Parte II
Realizar uma história sonorizada junto aos alunos implica elaborar um enredo e um
cenário sonoro através do qual será contada ou vivenciada, conforme a situação exem-
plificada. A história a ser sonorizada pode ser alguma já conhecida de livros infantis, uma
adaptada ou construída pela professora e, até mesmo, pode ser construída em conjunto
com as crianças.
Os elementos a serem utilizados para sonorizar uma história podem variar conforme
as possibilidades de materiais disponíveis.
Podem ser utilizados objetos sonoros confeccionados pelas próprias crianças, como
por exemplo: tambores feitos com latas de diversos tamanhos; chocalhos feitos com
diversos tipos de potes de iogurte acrescido de pedrinhas, clipes, sementes, areia, etc.
; móbiles feitos com chaves, parafusos ou guizos pendurados em um barbante fixados
em uma base ; reco-reco e claves feitos com pequenos bastões de madeiras; lixas ; pau
de chuva confeccionado a partir de um tubo de papel de comprimento extenso; etc.
Negativos de exame de raios X costumam causar um bom efeito quando são segurados
em uma extremidade e sacudidos aleatoriamente, produzindo um som semelhante ao
de trovoadas. Da mesma forma, pedaços de mangueiras amarelas, frequentemente uti-
lizadas para passar a fiação elétrica em construções, obtêm bom efeito sonoro quando
são segurados em uma das extremidades e balançados rapidamente em movimentos
circulares, o que se assemelha com o som do vento.
Por outro lado, também podem ser usados objetos da própria sala de aula dos quais
seja possível extrair algum tipo de som, como, por exemplo, passar o lápis ou caneta na
mola do caderno, abrir e fechar o zíper do estojo ou da mochila, friccionar o giz no qua-
dro, dentre outros. Pode-se desafiar os alunos a explorar as possibilidades sonoras da sala
de aula para criar um cenário sonoro para a história.
92 Kelly Werle
V. 3 N. 3 setembro de 2011
Parte III
***
*
6. Para que essa propriedade possa ser compreendida mais facilmente pela criança, pode-se fazer referência ao som agudo associando-o a
um som mais “fino”, ao passo que um som grave pode ser referido como um som mais “grosso”.
94 Kelly Werle
V. 3 N. 3 setembro de 2011
Referências
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Paulo: Simcam, 2008. Disponível em: <http://www.
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ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11769.htm>. Revista do educador. Edição n° 7. São Paulo: Editora
Acesso em: 15 abr. 2011. Lua, 2006. Acompanha Cd de canções infantis.
Poemas, parlendas,
fábulas, histórias e
músicas na literatura
infantil
Caroline Cao Ponso
V. 3 N. 3 setembro de 2011
Resumo: Este artigo propõe uma reflexão Poems, nursery rhymes, fables, stories
sobre o uso dos livros de literatura infantil na and song in children’s literature
aula de música. A literatura traz consigo um
universo a ser explorado pela música como Abstract: This article proposes a reflexion
poemas, parlendas, lendas, fábulas, quadrinhas, about the use of children’s literature in music
trava-línguas, provérbios, adivinhas e as lessons. Literature carries a universe within to
histórias infantis. O artigo é fundamentado be explored such as poems, folklore, fabules
nos estudos interdisciplinares (Fazenda, 1994, and children’s stories. The article is based on
2002), projetos de trabalho (Hernandez, 2000) interdiciplinary studies (Fazenda, 1994, 2002),
e práticas interdisciplinares em música (Ponso, work projects (Hernandez, 2000) and interdici-
2011). Utilizar a literatura na aula de música plinary practices in music (Ponso, 2008). Using
a fim de possibilitar experiências práticas literature in music lessons aiming to enable
como a composição de temas musicais, practical experiences such as the composi-
sonorização de histórias, récitas poéticas tion of music themes, musical stories, recited
ou teatros musicados, pode intensificar o poems and musical drama might enhance the
diálogo das práticas infantis cotidianas com o dialogue between children’s practice and musi-
conhecimento musical. cal knowledge.
97
MÚSICA na educação bбsica
Na educação infantil
“A contação de histórias na educação infantil é sempre um momento
significativo de aprendizado na turma. Através da expressão corporal,
da interpretação e técnica vocal, a forma de contar a história torna-se
envolvente, cativante e emocionante para as crianças, incentivando-as à
leitura e estimulando a imaginação. As crianças participam do enredo da
história a ponto de imaginarem-se os próprios personagens. O exercício de
envolver os alunos na história e proporcionar atividades de desenho, teatro
e músicas sobre o livro complementa a contação.” (Ponso, 2011, p. 24)
Utilizar os livros de literatura na aula de música não significa desmerecer o valor que
o livro por si só possui. Os livros infantis cumprem sua função como literatura, um traba-
lho voltado para a imaginação e a fantasia que transformam e enriquecem o leitor. No
entanto, utilizamos o maior número de materiais pedagógicos em favor da experiência
musical interdisciplinar, do aprendizado coletivo, sem barreiras disciplinares.
Figura 1. Tem gato na tuba (Braguinha; Ribeiro, 2005). Figura 2. Pombinha branca (De Paula, 2010).
* 1. Coleção “Disquinho”, da Warner Music Brasil. A coleção original é das décadas de 1960 e 1970. Foram lançadas pela Continental 50
histórias infantis com melodias e versos de Braguinha e arranjos orquestrais de Radamés Gnatalli, em formato de vinil colorido.
ambientes sonoros, cenários, ações ou diálogos tendo como base as histórias da litera-
tura infantil amplia o desenvolvimento cognitivo da criança. Para ela é muito importante
sentir-se e perceber-se atuante nas atividades de sala de aula.
As fábulas, características histórias de animais personificados com moral no final,
chamam a atenção das crianças, principalmente na faixa etária de 3 a 5 anos de idade.
A história clássica do sapo que queria ir à festa no céu e escondeu-se na viola do
urubu pode ser apresentada de duas maneiras diferentes. Uma delas é recontada por
Ana Maria Machado (2004) no livro Festa no céu e a outra versão é apresentada pela co-
leção “Disquinho”, na qual a história é contada por um narrador e pelos personagens da
história, ora falada e ora cantada.
Os alunos podem comparar a versão com áudio e a versão literária ilustrada. Na ver-
são do disco, o sapo foi à festa escondido na viola, e na versão do livro o jabuti escondeu-
se na viola do urubu, resultando em finais diferentes, pois o sapo ficou achatado para
sempre e o jabuti quebrou o seu casco e teve que remendá-lo.
Na comparação entre as duas histórias, além dos personagens principais serem di-
ferentes, os alunos relataram o modo como a história foi contada, com sons e músicas
no disco ou somente a leitura oral do livro. Essa experiência foi importante para chamar
a atenção dos alunos quanto à importância do áudio na história, à maneira como os
instrumentos trouxeram vida aos personagens e aos sentimentos de euforia, tristeza e
suspense nela presentes.
A coleção “Disquinho” e outras coleções de histórias clássicas musicadas em CD po-
dem ser utilizadas em aula em parceria com os livros de literatura contendo a mesma
história. Alguns clássicos como Três porquinhos, Chapeuzinho Vermelho e A tartaruga e a
lebre foram transformados em desenhos animados e podem ser utilizados nessa ativi-
dade. Analisar a mesma história em livro, CD, vídeo e teatro permite à criança diversos
olhares sobre um mesmo enredo, levando-a a questionamentos, críticas e comparações
favoráveis ao seu crescimento.
No ensino básico
O trabalho com música na escola básica pode, muitas vezes, ser solitário e restrito ao
período da aula de música; no entanto, o livro pode servir como um ponto de diálogo
entre o professor de música e o professor de referência.
Esse trabalho pode ser considerado interdisciplinar segundo os pressupostos da
interdisciplinaridade apresentados por Fazenda (1994, 2002). A autora comenta que a
atitude interdisciplinar não é o resultado de uma simples síntese de um trabalho, mas
de sínteses imaginativas e audazes; ela não é uma categoria de conhecimento, mas de
ação, sendo assim se desenvolve a partir do desenvolvimento das próprias disciplinas.
A música em interação com outras disciplinas produz essa ação com características di-
ferenciadas, desenvolvendo os conteúdos intrínsecos à música e às outras áreas do co-
nhecimento.
A biblioteca da escola ou a biblioteca da sala podem servir como a primeira ativida-
de desafiadora do ano, como uma brincadeira de caça ao tesouro entre os professores
e alunos, na busca por livros que falem de música. O professor pode entrar em contato
com editoras de literatura infantil, na busca por livros mais recentes e que contenham a
temática musical.
Figura 8. Pandorga da lua (Brasil, J., 2005). Figura 9. Cantigas de ninar vento (Biazetto; Souza; Herrmann, 2007).
sonora dos videogames. Contextualizar essas músicas em uma linha de tempo e buscar
significância e importância para elas é um trabalho que pode ser feito com as crianças.
O livro A orquestra tintim por tintim (Hentschke et al., 2005) visa, de forma clara e inte-
ressante, apresentar a orquestra sinfônica para as crianças. Nele, encontramos ilustrações
de músicos-crianças apresentando as famílias da orquestra – cordas, madeiras, metais e
percussão – além de informações sobre a partitura, o maestro e dicas de como ouvir um
concerto.
* 2. Obra orquestral do compositor russo Sergei Prokofiev. Foi composta em 1936 com o objetivo pedagógico de mostrar os instrumentos da
orquestra às crianças.
Outras histórias
Na história de Igor, o passarinho que não sabia cantar (Kitamura, 2006), a temática
abordada é o cantar afinado ou desafinado. As ilustrações são impressionantes e o canto
é representado por um desenho abstrato que pode ser interpretado de várias maneiras,
inclusive com relação à grafia musical. Muitos elementos estão presentes na história, de
instrumentos à formações de grupos musicais. Uma atividade interessante relacionada a
esse livro é a composição de música vocal com registro de escrita musical aleatória.
Figura 11. Os gêmeos do tambor Figura 12. Igor, o passarinho que não sabia voar Figura 13. O canto de Bento (Honora, 2008).
(Barbosa, 2006). (Kitamura, 2006).
O canto de Bento (Honora, 2008) é uma história em que um pássaro nasce filho de um
famoso maestro. Todos aguardam para ouvir o primeiro canto do passarinho, no entanto
ele não se realiza como o esperado, uma vez que o passarinho não possui canto, não
consegue emitir sons. Ao final do livro o personagem aprende uma maneira diferente de
expressar-se e “canta” com suas asas. Podemos abordar a inclusão de crianças portadoras
de necessidades especiais. Uma atividade que pode ser relacionada ao livro é a de cantar
a tríade maior relacionando-a a gestos do corpo. A tônica pode ser com as mãos na cin-
tura, a terça com as mãos no ombro e a dominante com as mãos na cabeça. Muitas va-
riações podem resultar dessa atividade, desde gestos diferentes até os sons utilizados.
O livro Os gêmeos do tambor (Barbosa, 2006) conta a história de dois irmãos gêmeos
do povo massai, nômades da África. Apresenta a história e a cultura desse povo, poden-
do ser um ótimo desencadeador de um projeto sobre instrumentos de percussão.
Conclusões
Muitos outros livros podem ser trabalhados na aula de música. Não é preciso que
a temática musical esteja explícita no enredo ou nas ilustrações. Muitos projetos com
música nascem da curiosidade dos alunos e de sugestões que surgem em aula se nos
permitirmos ouvi-los.
Referências
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108
V. 3 N. 3 setembro de 2011
• Para a submissão do artigo aos pareceristas ad hoc, o arquivo deve ser enviado
em formato DOC, com identificação do(s) autor(es) e também em arquivo PDF,
sem identificação do(s) autor(es). Em ambos as imagens devem estar inseridas
no texto.
• Após a aprovação do artigo, a versão final deverá ser encaminhada sem as ima-
gens, com marcações no texto sobre os locais de inserção.
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resolução mínima de 300 dpi. As imagens devem ser nomeadas de acordo com
a indicação que consta no texto (figura 1, figura 2, etc.). Além disso, não devem
ser coladas em arquivo do Word. Recomenda-se a utilização dos programas Fina-
le ou Sibelius para a editoração de partituras, pois estes permitem a geração de
imagens TIF em alta resolução.
• Encaminhar curriculum vitae resumido com extensão máxima de 100 palavras,
contendo dados sobre formação, atuação e principais publicações.
Mesmo no caso das citações indiretas (paráfrases), a fonte deverá ser indicada, infor-
mando-se também a(s) página(s) sempre que houver referência não à obra como um
todo, mas sim a uma ideia específica apresentada pelo autor.
Livros
SOBRENOME, Inicial do(s) prenome(s) do(s) Autor(es). Título do trabalho: subtítulo [se
houver]. edição [se não for a primeira]. Local de publicação: Editora, ano.
Exemplo:
SWANWICK, K. Ensinando música musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina
Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.
109
MÚSICA na educação bбsica
Exemplo:
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handbook of musical development. Oxford: Oxford University Press, 2006. p. 415-437.
Artigos em periódicos
SOBRENOME, Inicial do(s) prenome(s) do(s) Autor(es) do Artigo. Título do artigo. Título do
Periódico, Local de publicação, número do volume, número do fascículo, página inicial-
final do artigo, data.
Exemplo:
BRITO, T. A. de. A barca virou: o jogo musical das crianças. Música na Educação Básica.
Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 11-22, 2009.
Exemplo:
WELSH, G. et al. The National Singing Programme for Primary schools in England: an
initial baseline Study. In: INTERNATIONAL SOCIETY FOR MUSIC EDUCATION WORLD
CONFERENCE, 28., 2008, Bologna. Proceedings... Bologna: ISME, 2008. p. 311-316. 1
CD-ROM.
A exatidão das referências constantes na listagem ao final dos trabalhos bem como a
correta citação ao longo do texto são de responsabilidade do(s) autor(es) do trabalho.
110
V. 3 N. 3 setembro de 2011
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