Qualidade Da Energia Eletrica - Apostila

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DEPARTAMENTO DE ELETROTÉCNICA

QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA

Prof. Joaquim Eloir Rocha

CURITIBA
2016
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO À QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA


1.1. O que é qualidade da energia elétrica ..................................... 3
1.2. Importância da Qualidade da Energia Elétrica ......................... 3
1.3. Conceito de Carga não Linear ................................................. 5
1.4. Problemas típicos de qualidade de Energia ............................. 6
2. HARMÔNICOS
2.1. Definição e introdução ao conceito .......................................... 7
2.2. Indicadores de qualidade harmônica ....................................... 8
2.3. Cargas que produzem harmônicos .......................................... 11
2.4. Medição das correntes e tensões com conteúdo harmônico ... 13
3. VARIAÇÕES DE TENSÃO
3.1. Interrupções ........................................................................... 15
3.2. Variações de tensão de curta duração ................................... 16
3.3. Sistemas restauradores de energia ........................................ 18
4. FLUTUAÇÃO DE TENSÃO
4.1. Definição e introdução ao conceito ......................................... 21
4.2. Soluções para atenuar a flutuação de tensão ......................... 22
5. TRANSITÓRIOS
5.1. Transitório impulsivo ............................................................... 25
5.2. Transitório oscilatório ............................................................. 27
6. DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO
6.1. Causas do desequilíbrio de tensão ......................................... 29
6.2. Consequências do desequilíbrio de tensão ............................. 30
7. TENSÃO EM REGIME PERMANENTE
7.1. Regulação da tensão de atendimento ..................................... 31
7.2. Métodos aplicados na regulação da tensão ............................ 33
8. FATOR DE POTÊNCIA ................................................................... 34
9. VARIAÇÃO DE FREQUÊNCIA ....................................................... 36

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1. INTRODUÇÃO À QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA

1.1. O QUE É QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA

A qualidade da energia elétrica tem várias definições para descrever o


mesmo conjunto de fenômenos que afetam a amplitude e a forma de onda
da tensão e corrente. Uma definição é a freqüência e severidade dos
desvios na amplitude e forma de onda da tensão e da corrente. Outra
definição diz que é qualquer problema na tensão, na corrente ou desvio na
freqüência que resulte em falha ou prejudique a operação dos
equipamentos. Uma terceira definição afirma que um sistema elétrico com
excelente qualidade da energia elétrica é caracterizado pelo fornecimento de
energia em tensão com forma de onda senoidal pura, sem alterações em
amplitude e freqüência, como se emanasse de uma fonte de potência
infinita.
Quando se afirma que uma instalação elétrica tem qualidade de
energia pobre, significa que a onda da tensão e/ou a onda da corrente
elétrica têm suficientes desvios das normas a ponto de prejudicar o
funcionamento ou levar à falha de equipamentos. Quando uma instalação
elétrica tem boa qualidade de energia, significa que o nível dos desvios das
normas é baixo e, portanto, os equipamentos funcionam sem problemas.
Uma vez que a sensibilidade varia de um tipo de equipamento para
outro, o que pode ser considerado qualidade de energia baixa para um
equipamento pode ser aceitável para outro equipamento. Ainda assim, a
confiabilidade do sistema de produção é afetada se os desvios em relação
aos indicadores das regulamentações não são seguidos.

1.2. IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA

Outro aspecto importante da qualidade da energia elétrica é o seu


efeito na eficiência energética. Permitir que o sistema elétrico tenha um alto
conteúdo harmônico caracteriza baixa qualidade da energia e provoca
perdas adicionais na distribuição dessa energia. A circulação de harmônicos
provoca perdas por efeito Joule nos condutores, transformadores e outros
equipamentos.

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Parece paradoxal, mas a ênfase no aumento da eficiência energética
conduziu ao uso intensivo da eletrônica de potência e isso aumentou a
quantidade de harmônicos injetados na rede elétrica. Por exemplo, o uso
das fontes chaveadas em substituição às antigas fontes lineares melhorou o
rendimento dos equipamentos, mas introduziu a injeção de harmônicos no
sistema elétrico. Sempre é possível melhorar as topologias adotadas nos
equipamentos que utilizam a eletrônica de potência e, assim, reduzir
sensivelmente a geração de harmônicos. Outra solução é a utilização de
filtros.
Atualmente, os equipamentos utilizam mais eletrônica embarcada e,
por isso, estão mais sensíveis às variações nos parâmetros da rede elétrica.
Esses parâmetros podem ser os níveis de distorção da onda ou a variação
da amplitude da mesma.
Um sistema elétrico que não entrega uma amplitude de tensão
adequada pode provocar o mau funcionamento de um equipamento e até
mesmo a sua falha. Um nível de tensão inadequado também caracteriza
baixa qualidade da energia, além de poder provocar maiores perdas no
sistema elétrico.
As agências reguladoras de energia elétrica são as responsáveis por
definir os indicadores que determinam se o sistema elétrico está
funcionando dentro do que é considerado satisfatório em termos de
qualidade da energia. A preocupação dos órgãos reguladores é a qualidade
do produto, ou seja, da forma de onda, da sua amplitude ou distorção e,
também, com a qualidade do serviço, ou seja, o número de interrupções de
energia e sua duração.
Não apenas a concessionária é responsável pela qualidade da
energia, também o usuário pode poluir o sistema elétrico com a injeção de
harmônicos de corrente. Cargas não lineares, como conversores de
freqüência para acionamento de motores, UPS, computadores, entre outras
cargas, geram correntes distorcidas que podem promover a distorção da
onda de tensão, espraiando o problema da qualidade para toda a instalação.
Um baixo fator de potência também caracteriza uma pobre qualidade
da energia da instalação, pois a circulação de uma potência reativa causa
perdas por efeito Joule nos condutores e transformadores. Também, a
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potência reativa ocupa espaço da seção do condutor reduzindo a
capacidade de transferir potência ativa.

1.3. CONCEITO DE CARGA NÃO LINEAR

Uma carga é dita não linear quando distorce a forma de onda de corrente
mesmo quando alimentada com uma forma de onda de tensão senoidal. O exemplo
mais comum é o uso de um retificador a diodo com um filtro capacitivo na saída. Neste
tipo de carga, a corrente só circulará quando a tensão instantânea da fonte superar a
tensão do capacitor de filtro, ou seja, a corrente só entrará no retificador quando a
onda da tensão estiver próxima do seu pico. Em conseqüência, a corrente será
pulsada e, portanto, não senoidal. Na Fig. 1.1 mostra-se a topologia de um retificador
com filtro capacitivo e na Fig. 1.2 representa-se a corrente pulsada na saída do
retificador a diodos.

Fig. 1.1 - Retificador monofásico com filtro capacitivo

Fig. 1.2 – Corrente pulsada tracejada

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O retificador faz parte da categoria de cargas não lineares na qual estão os
equipamentos eletrônicos tais como inversores, UPS, televisores, microondas,
computadores e outros. Outra categoria de equipamentos que são cargas não lineares
são aqueles que possuem núcleo magnético saturado, tais como: reatores e
transformadores de núcleo saturado. Neste caso a deformação da corrente decorre da
não linearidade do circuito magnético. Esses equipamentos são projetados para
funcionarem na região de saturação da curva de magnetização. Ainda outra categoria
de cargas não lineares são os equipamentos que geram arcos elétricos, tais como:
fornos a arco e máquinas de solda.

1.4. PROBLEMAS TÍPICOS DE QUALIDADE DE ENERGIA

O termo qualidade da energia elétrica ou simplesmente qualidade de energia é


aplicado a uma grande variedade de fenômenos eletromagnéticos dos sistemas
elétricos. A recomendaçã IEEE Standard 1159-1995 define com exatidão cada um dos
fenômenos existentes procurando evitar a ambigüidade entre os conceitos. Os
Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional –
PRODIST, no seu módulo 8, define alguns dos fenômenos discutidos neste texto.
Conhecer a diferença entre uma interrupção e um transitório oscilatório, por
exemplo, faz uma grande diferença quando é feita uma decisão de compra para um
equipamento de correção do problema. Um erro na identificação do problema trás
conseqüências financeiras quando equipamentos de correção não são apropriados
para a solução do problema causado pelo fenômeno existente.
Os aspectos considerados da qualidade do produto em regime permanente ou
transitório são: os harmônicos, as variações de tensão de curta duração, a flutuação
de tensão, os transitórios, os desequilíbrios de tensão, a tensão em regime
permanente, o fator de potência e a variação de freqüência.
Cada um destes fenômenos será discutido nos capítulos seguintes procurando
esclarecer a grande abrangência dos fenômenos que caracterizam a qualidade da
energia elétrica em uma instalação.

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2. HARMÔNICOS

2.1. DEFINIÇÃO E INTRODUÇÃO AO CONCEITO

As distorções harmônicas são fenômenos associados com deformações nas


formas de onda das tensões e correntes em relação à onda senoidal da freqüência
fundamental. A Fig. 2.1 mostra uma forma de onda distorcida.

Fig. 2.1 – Forma de onda distorcida

Os harmônicos são uma representação matemática de uma forma de onda


distorcida. Através da Transformada de Fourier, uma onda periódica e distorcida
(função periódica) pode ser substituída por uma soma de ondas senoidais puras com
frequências múltiplas da fundamental. A Fig. 2.2 mostra um conjunto de três senóides
sendo uma de mesma freqüência da onda originária e outras duas de freqüências
diferentes e múltiplas da fundamental cuja soma reconstitui a forma de onda distorcida
da Fig. 2.1. Tanto a freqüência quanto a amplitude dos harmônicos são diferentes para
reconstituir a onda verdadeira distorcida. A componente de mesma freqüência da onda
originária é chamada de onda fundamental. A técnica de se tratar a distorção da onda
como um conjunto de componentes - fundamental mais harmônicas - é uma forma de
facilitar a análise e os cálculos necessários para se mensurar o fenômeno da distorção
das ondas.

Fig. 2.2 – Onda fundamental e componentes harmônicas da onda distorcida

O conceito de harmônico está vinculado a uma abstração matemática, ou seja,


não existem harmônicos circulando na rede elétrica. Através de uma análise física do
fenômeno, o que existem são ondas distorcidas.

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Os harmônicos de corrente são produzidos por cargas não lineares, tais como
equipamentos de eletrônica de potência. Essas cargas geram correntes não senoidais
mesmo sendo alimentadas com tensão senoidal. Essas correntes distorcidas ao
circularem pela impedância do sistema, que é constituída pela impedância da fonte
mais impedância da fiação e transformadores, provocam a distorção da onda de
tensão. Essa é a origem dos harmônicos de tensão, pois a concessionária produz, na
geração, uma onda senoidal pura de tensão.
Os harmônicos de amplitudes relevantes costumam ser de ordem ímpar, ou
seja, h=1, h=3, h=5, etc., porque as ondas de tensão ou corrente costumam ter
simetria ímpar e, portanto, o semiciclo positivo da onda tem simetria com o semiciclo
negativo da onda. Como na prática não existe uma simetria exata, ao se analisar o
espectro de uma forma de onda real, aparecem algumas componentes de ordem par
de amplitude pequena. Para fins didáticos considera-se que não existem harmônicos
de ordem par para a maioria das cargas. Uma exceção é o caso dos fornos a arco em
que as componentes harmônicas de ordem par são relevantes.
Outro conceito importante é a não existência de harmônicos de ordem três e
suas múltiplas quando se trata de cargas trifásicas alimentadas a três fios. Nesse
caso, não existe um caminho de retorno pelo neutro para o terceiro harmônico e seus
múltiplos ímpares uma vez que esses harmônicos são de sequência zero. Considera-
se que os sistemas trifásicos estão balanceados quanto às suas tensões, pois assim o
terceiro harmônico e suas múltiplas são de sequência zero.

2.2. INDICADORES DE QUALIDADE HARMÔNICA

Foram criados vários indicadores de distorção harmônica com o intuito de


permitir a quantificação e enquadramento da poluição harmônica de determinada
instalação quanto à conformidade com as regulamentações.
A distorção harmônica individual é a relação entre a amplitude da harmônica de
ordem “h” e a correspondente grandeza (corrente ou tensão) fundamental. A equação
2.1 mostra a formulação da distorção harmônica individual da corrente de ordem
harmônica h, em percentual.

% = × 100 (2.1)

→ ℎ ô ℎ

8
A equação 2.2 mostra a formulação da distorção harmônica individual da
tensão de ordem harmônica h, em percentual.

!
% = × 100 (2.2)
!

→ ℎ ô "ã ℎ
→ "ã

Por exemplo, determinada instalação pode ter uma distorção harmônica de


terceira ordem na corrente de 15% e uma distorção harmônica de quinta ordem na
corrente de 8%. Isso significa que nessa instalação a amplitude do terceiro harmônico
de corrente é 15% em relação à amplitude da corrente fundamental, enquanto que a
amplitude do quinto harmônico de corrente é 8% em relação à amplitude da corrente
fundamental.
A distorção harmônica total é a relação entre o valor eficaz das componentes
harmônicas e a correspondente grandeza (corrente ou tensão) fundamental. A
equação 2.3 mostra a formulação da distorção harmônica total da corrente, em
percentual.

$ %% & '% & (% & )% & ….


# % = × 100 (2.3)

$ ,, + . + / + 0 + … . →
, , ,
" ℎ ô "

A determinação de limites para as distorções na corrente e na tensão é


fundamental para atenuar ou impedir os efeitos deletérios que esses fenômenos
podem causar. Esses limitem servem de guia para os usuários que aos segui-los
garantem o adequado funcionamento dos equipamentos da instalação.
Existem organismos internacionais que estabelecem regulamentações a
respeito de harmônicos. O IEC (International Electrotechnical Commission) é uma
organização não governamental de normatização internacional. O IEEE (Institute of
Electrical and Electronic Engineers) também é uma organização não governamental
de normatização internacional. A norma IEC 61000-3-2 define limites para a emissão
de harmônicos para equipamentos que solicitam correntes até 16 A por fase. Válida
para baixa tensão, mas as tensões devem ser superiores ou iguais a 220 V. A norma

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61000-3-4 trata dos equipamentos que solicitam mais de 16 A. Existe uma vasta
quantidade de normas da família 61000 que deve ser consultada.
Outra regulamentação bastante consolidada é a IEEE 519-1992 que sofreu
alterações e atualmente é chamada IEEE 519-2014. É um documento largamente
adotado para controle dos harmônicos no ponto de acoplamento elétrico entre a
indústria e a concessionária. A filosofia desta norma é não se preocupar com o que
ocorre no interior da instalação e sim com o que a instalação pode injetar na rede e,
portanto, atingir outros consumidores.
A regulamentação brasileira que trata de limites harmônicos está no módulo 8
do PRODIST (Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional). Nesse documento, são estabelecidas a terminologia, a metodologia de
medição, a instrumentação e os valores de referência para as distorções de tensão
harmônicas. A resolução normativa que descreve o PRODIST, atualmente, não define
limites para os harmônicos de corrente, somente para harmônicos de tensão.
Na tabela 2.1, são apresentados os valores de referência globais das
distorções harmônicas totais (em porcentagem da tensão fundamental). Observa-se,
na tabela, que a regulamentação brasileira admite uma distorção de tensão, na baixa
tensão, de até dez por cento.
Na Tabela 2.2, estão definidos os níveis de referência para distorções
harmônicas individuais de tensão (em porcentagem da tensão fundamental).

Tabela 2.1 – Distorções harmônicas totais de tensão

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Tabela 2.2 – Distorções harmônicas individuais de tensão

2.3. CARGAS QUE PRODUZEM HARMÔNICOS

Os harmônicos de corrente são causados por cargas não lineares. Essas


cargas possuem chaves semicondutoras que recortam a onda de corrente.

Algumas cargas monofásicas que geram harmônicos de corrente são: fontes


chaveadas, lâmpadas fluorescentes, pequenas fontes de energia ininterrupta, etc.
Deve-se lembrar que computadores, televisores, equipamentos de som, etc., possuem
fontes chaveadas como meio de alimentação.

O terceiro harmônico e seus múltiplos ímpares fazem parte do espectro


harmônico das correntes de cargas monofásicas. Esses harmônicos são de sequência
zero e necessitam de um caminho de retorno para circularem. O circuito neutro
fornece esse caminho de retorno para as correntes de sequência zero.

A Fig. 2.3 apresenta um espectro harmônico de correntes para fontes


chaveadas. A amplitude dos harmônicos são função da impedância da rede e do valor
da capacitância na saída do retificador. Pode-se observar a existência do terceiro,
nono e décimo quinto harmônicos de corrente. Os demais harmônicos característicos
de cargas trifásicas também estão presentes.

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Fig. 2.3 – Espectro harmônico de uma fonte chaveada típica.

Algumas cargas trifásicas que geram harmônicos de corrente são:


acionamentos de velocidade variável, também chamados de conversores de
freqüência para acionamento de motores, grandes fontes de energia ininterrupta,
fornos a arco, etc. Com exceção dos fornos a arco, as demais cargas trifásicas
costumam ter o quinto harmônico como o primeiro harmônico do espectro. O forno a
arco é uma carga especial que gera, inclusive, harmônicos de ordem par. Essa carga
especial não será discutida aqui, pois deseja-se discutir as características gerais das
cargas que geram harmônicos.

Na Fig. 2.4 é mostrada a topologia básica adotada nos conversores de


freqüência usados para acionar motores de indução. Esses conversores são os
principais causadores dos harmônicos de corrente existentes em instalações
industriais. Trata-se de um retificador trifásico em ponte completa em cuja saída
encontra-se um banco de capacitores eletrolíticos, não apresentados na figura.

Essa topologia gera um conteúdo harmônico em que o quinto harmônico é o


seu primeiro componente.

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Fig. 2.4 – Retificador na entrada de um conversor de freqüência

2.4. MEDIÇÃO DAS CORRENTES E TENSÕES COM CONTEÚDO HARMÔNICO

Os medidores eletrônicos utilizados para avaliação de indicadores de qualidade de


energia elétrica deverão respeitar os parâmetros e metodologias de medição
estabelecidas no PRODIST, Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica.

A medição do conteúdo harmônico de uma instalação é uma parte essencial da


investigação global para se determinar a qualidade da energia elétrica dessa
instalação elétrica. As medições devem quantificar o conteúdo harmônico das
correntes geradas pelas cargas não lineares presentes na instalação sob análise.
Todos os circuitos devem ser analisados quanto ao conteúdo harmônico das tensões e
das correntes. É importante inventariar as cargas que estão ligadas durante as
medições, pois assim é possível fazer uma análise precisa das condições do sistema
elétrico.

As medições devem ser trifásicas para identificar o conteúdo harmônico das correntes
e tensões em cada uma das fases. A corrente de neutro também deve ser avaliada
para verificar, principalmente, o conteúdo de terceiro harmônico.

Recomenda-se que o registro das tensões e correntes seja realizado por todo o
período de vinte e quatro horas, durante sete dias consecutivos. Assim, as variações
normais do perfil dessas correntes e tensões, em função da variação das cargas
energizadas, serão registradas ao longo do ciclo de trabalho da instalação.

Os analisadores realizam o registro em memória de massa das grandezas de


interesse para posterior análise. Utiliza-se um programa computacional dedicado onde
os dados podem ser descarregados. Esses dados são minerados pelos algoritmos do

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programa e situações de ultrapassagem de indicadores são explicitadas em relatórios
padrão. É possível editar esses relatórios para personalizá-los.

Nesses registradores, a tensão e a corrente são amostrados, na forma de pontos


digitalizados, e armazenados na memória. A onda armazenada é então processada
através da técnica FFT – Fast Fourier Transform, utilizando software implementado em
microprocessador. Em geral, esses medidores, além de realizarem o registro, também
disponibilizam uma saída de dados em tempo real através de um display. Assim, é
possível acompanhar o comportamento do sistema.

A Fig. 2.5 mostra um esquema elétrico de ligação de um analisador portátil de


qualidade de energia. Esse registrador analisa diversos parâmetros referentes à
qualidade da energia elétrica. Entre esses parâmetros está o espectro harmônico de
tensões e correntes.

Fig. 2.5 – Esquema de ligação de um analisador de qualidade de energia

3. VARIAÇÕES DE TENSÃO

Os sistemas elétricos estão sujeitos a uma ampla variedade de problemas de


qualidade de energia que podem interromper os processos de produção, afetar
equipamentos sensíveis e causar indisponibilidade e prejuízos. As interrupções e as
VTCD (variações de tensão de curta duração) são as principais causas de parada de
processos industriais ou comerciais.

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3.1. INTERRUPÇÕES

As interrupções de energia são eventos de tensão zero ou menor que 0,1 pu


(em função da tensão residual de motores) e podem ser causadas pelo clima, mau
funcionamento de equipamento, operação de religamento ou interrupção no sistema
de transmissão. As causas das faltas temporárias costumam ser galhos de árvores
que se agitam ao vento ou descargas atmosféricas que geram frentes de ondas com
nível de tensão superior à capacidade de isolamento dos isoladores. A possível causa
de uma falta permanente é a queda de um poste por abalroamento.
Para evitar a parada do processo durante uma interrupção é necessário
possuir algum tipo de energia armazenada. Sistemas de energia ininterrupta, os
chamados UPS, podem ser usados para manter a instalação toda, ou apenas as
cargas mais críticas, funcionando durante as interrupções. Os UPS, também
chamados de No-breaks, são equipamentos que armazenam energia em banco de
baterias. A energia armazenada nas baterias precisa passar por um inversor de
freqüência, no caso em que se deseja alimentar as cargas com corrente alternada. A
autonomia do banco de baterias vai depender do tempo que se deseja que a UPS
mantenha as cargas funcionando sem energia da Concessionária.
O UPS pode manter o sistema alimentado por vários minutos ou horas,
dependendo da capacidade da bateria em relação ao consumo das cargas. O UPS
pode ser usado, também, para alimentar o sistema por apenas alguns segundos até
que o gerador de emergência tenha condição de assumir a carga. O gerador de
emergência leva alguns segundos para estar pronto para assumir a carga.
As interrupções costumam ser eventos de curta duração. A grande maioria das
interrupções de energia tem duração inferior a 30 segundos. Por isso, os sistemas de
suprimento de energia ininterrupta podem ser baseados em banco de baterias.
Existem módulos comerciais de sistemas com baterias que permitem que uma
indústria inteira continue a funcionar por algum tempo.
O PRODIST – módulo 8, classifica as interrupções em: interrupção
momentânea de tensão e interrupção temporária de tensão. A interrupção é
considerada momentânea quando a sua duração é inferior ou igual a três segundos. A
interrupção é considerada temporária quando a sua duração é superior a três
segundos e inferior a três minutos.
Embora o tempo de duração das interrupções, que são mais freqüentes,
estejam na faixa de até trinta segundos, o tempo de parada do processo industrial
pode ser enorme pois, em geral, independe do tempo de interrupção.
O tempo de parada da operação causa perda de produção e lucros cessantes.

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3.2. VARIAÇÕES DE TENSÃO DE CURTA DURAÇÃO

As VTCD (variações de tensão de curta duração) são desvios significativos no


valor eficaz da tensão em curtos intervalos de tempo. Os dois tipos de VTCD são o
afundamento de tensão e a elevação de tensão.
Para que seja caracterizado um afundamento de tensão, o valor eficaz da
tensão em relação à tensão de referência deve ser superior ou igual a 0,1 pu e inferior
a 0,9 pu.
O afundamento é classificado em afundamento momentâneo de tensão e
afundamento temporário de tensão. O afundamento é classificado como momentâneo
quando o seu tempo de duração é superior ou igual a um ciclo e inferior ou igual a três
segundos. Ele é classificado como temporário quando o seu tempo de duração é
superior a três segundos e inferior a três minutos.
Para que seja caracterizada uma elevação de tensão, o valor eficaz da tensão
em relação à tensão de referência deve ser superior a 1,1 pu.
A elevação é classificada em elevação momentânea de tensão e elevação
temporária de tensão. A elevação é classificada como momentânea quando o seu
tempo de duração é superior ou igual a um ciclo e inferior ou igual a três segundos.
Ela é classificada como temporária quando o seu tempo de duração é superior a três
segundos e inferior a três minutos.
A severidade da VTCD, medida entre fase e neutro, de determinado
barramento do sistema de distribuição é também caracterizada pela freqüência de
ocorrência e não só pela sua amplitude e duração. O indicador a ser utilizado para
conhecimento do desempenho de um determinado barramento do sistema de
distribuição com relação às VTCD corresponde ao número de eventos agrupados por
faixas de amplitude e de duração.
Na Fig. 3.1 é apresentada uma oscilografia de uma onda de tensão afundada
(sag em inglês). Observa-se que a onda de tensão diminui a sua amplitude durante
alguns ciclos e em seguida retorna para a sua amplitude normal.
Na Fig. 3.2 é apresentada uma oscilografia de uma onda de tensão elevada
(swell em inglês). Observa-se que a onda de tensão aumenta a sua amplitude durante
alguns ciclos e em seguida retorna para a sua amplitude normal.
Os afundamentos podem ser causados por faltas no sistema elétrico da
concessionária, partida de grandes motores ou a corrente de inrush de
transformadores. A razão mais comum é o curto-circuito em redes de distribuição.
Nesse caso, a tensão do barramento em que o circuito submetido ao curto está
conectado é afundada, devido ao elevado valor da corrente de curto. Os demais

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alimentadores, conectados ao mesmo barramento, ficam submetidos a essa tensão
afundada.

Fig. 3.1 – Exemplo de afundamento de tensão

Fig. 3.2 – Exemplo de elevação de tensão

O afundamento prejudica o funcionamento de equipamentos sensíveis como


controladores programáveis e conversores de freqüência que acionam motores de
indução.
As elevações de tensão são causadas por faltas monofásicas (curto-circuito
fase-terra) no sistema elétrico da concessionária. A fase em curto tem a sua tensão
reduzida enquanto as outras duas têm as suas tensões elevadas.
A elevação de tensão danifica os supressores de sobretensão, pois estes são
dimensionados para drenar uma energia concentrada em dezenas de microssegundos
e a elevação de tensão tem um tempo de duração de dezenas de milissegundos.
A partir da década de 1970, os fabricantes de computadores e usuários
chegaram a um consenso quanto à qualidade da energia que era necessária para
assegurar o adequado funcionamento dos computadores. Eles propuseram um gráfico
com duas curvas delimitando a tensão máxima e a tensão mínima, em função do
tempo, para o correto funcionamento dos computadores da época. Estava criada a
curva CBEMA (Computer and Business Equipment Manufacturer’s Association).
Equipamentos bem projetados deviam tolerar afundamentos definidos pela curva
CBEMA. Na verdade, a curva de tolerância de tensão CBEMA inclui afundamentos de
tensão, elevações de tensão e transitórios.
A Fig. 3.3 apresenta a curva de tolerância CBEMA.

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Fig. 3.3 – Curva de tolerância CBEMA

Em 1996, houve uma revisão dos limites da curva CBMA. Foi criada a curva
ITIC (Information Technology Industry Council) que é mais adequada aos
equipamentos atuais de tecnologia da informação. O objetivo da curva é melhor
determinar a capacidade que determinado equipamento deve ter em suportar eventos.
A Fig. 3.4 apresenta a curva de tolerância ITIC.

Fig. 3.4 – Curva de tolerância ITIC

3.3. SISTEMAS RESTAURADORES DE ENERGIA

Um método bastante usado para evitar que cargas sensíveis sejam


prejudicadas pela existência de afundamentos de tensão é o uso de restauradores
dinâmicos de tensão (DVR). A Fig. 3.5 mostra um esquema de DVR (Dynamic Voltage
Restorer). Nessa figura, pode-se observar que o DVR captura energia da rede
afundada para recuperar a tensão nominal durante o afundamento. O equipamento
utiliza um transformador em série com a carga sensível. Este transformador é
alimentado através de um inversor de freqüência. O inversor recebe energia de um
retificador que por sua vez recebe energia da rede afundada. A vantagem desse

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sistema é não utilizar nenhum sistema de acumulação de energia, pois estes exigem
muita manutenção.

Fig. 3.5 – Esquema de Restaurador Dinâmico de Tensão

Outro método bastante usado em circuitos que não podem sofrer interrupção
ou afundamento é o uso de sistema Flywheel. Esse sistema armazena energia cinética
em um volante de inércia. Basicamente, o Flywheel é composto de uma máquina
síncrona que é montada no mesmo eixo de um volante de inércia. A Fig. 3.6 mostra
um esquema de um Flywhell com o rotor da máquina síncrona no mesmo eixo do
volante de inércia.

Fig. 3.6 – Esquema básico de um Flywheel

Para que a energia elétrica seja transformada em energia cinética, a máquina


síncrona funciona como um motor síncrono. Assim, ele transforma energia elétrica em
mecânica, acelerando o eixo juntamente com o volante de inércia. Esse processo
continua até que se atinja a velocidade final desejada.

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A velocidade final costuma variar de oito mil rpm até vinte e cinco mil rpm,
dependendo do sistema de mancais utilizado. Ao se atingir a velocidade final a
máquina síncrona pode ser desligada, pois a inércia do sistema fará com que o
sistema continue rodando. Assim, a energia elétrica foi transformada em energia
cinética.
Para que o sistema continue rodando por um longo tempo sem a necessidade
da conexão da máquina síncrona é necessário que as perdas do sistema sejam
mínimas. Por exemplo, os mancais podem ser magnéticos e dentro da carcaça pode
ser criado um ambiente a vácuo.
Quando for necessário extrair a energia armazenada no sistema, a máquina
síncrona funcionará como um gerador síncrono. Esse sistema costuma ter uma
autonomia de alguns segundos, por exemplo, vinte segundos. Em seguida, um grupo
de motor a combustão e gerador acoplado deve assumir a carga. O gerador de
emergência não seria capaz de evitar a interrupção da energia, pois precisa de alguns
segundos para assumir a carga.
O sistema mais comumente usado para manter a energia disponível é o
Sistema de Energia Ininterrupta (UPS) suportado por bancos de baterias. São
tipicamente usados em centro de processamento de dados, sala de servidores,
computadores individuais, equipamentos eletrônicos. Também, podem ser usados
para garantir a continuidade da energia de uma grande instalação, desde que seja
dimensionado para isso.
A arquitetura básica de um UPS a bateria é composta de um retificador que
carrega o banco de baterias de forma controlada e de um inversor de freqüência para
transformar a energia armazenada na forma contínua em alternada. Em algumas
situações a carga é alimentada em corrente contínua. Uma chave estática, constituída
de tiristores, costuma fazer parte do sistema para limitar o fornecimento de energia
para cargas definidas. A Fig. 3.7 apresenta um esquema básico de UPS a bateria.

Fig. 3.7 – Esquema básico de um UPS a bateria

20
Existem várias topologias de UPS que fornecem diferentes graus de proteção
ao sistema. Genericamente, existem dois tipos de UPS: o tipo on-line e o tipo standby.
No UPS on-line, a energia que alimenta a carga sempre passa pelo sistema UPS e,
portanto, a bateria assume a carga sem nenhuma interrupção. No UPS standby, existe
uma pequena interrupção, mesmo que não perceptível pela carga.
O UPS pode manter o sistema alimentado por vários minutos ou horas,
dependendo da capacidade da bateria em relação ao consumo das cargas.
O UPS, também, pode alimentar o sistema por apenas alguns segundos até que o
gerador de emergência tenha condição de assumir a carga.

4. FLUTUAÇÃO DE TENSÃO

4.1. DEFINIÇÃO E INTRODUÇÃO AO CONCEITO

A flutuação de tensão é uma variação aleatória, repetitiva ou esporádica do


valor eficaz da tensão. Essa variação sistemática da tensão é de pequena dimensão,
normalmente com valores entre 90% e 110% da tensão nominal. A freqüência da
variação costuma ficar abaixo de 25 Hz. A Fig. 4.1 mostra uma oscilografia
esquemática de uma flutuação de tensão.

Fig. 4.1 – Exemplo de flutuação de tensão

Qualquer variação na intensidade da tensão de alimentação resulta em uma


variação do fluxo luminoso. Isto é conhecido como cintilamento (Flicker). Cintilamento
é um sintoma da flutuação de tensão. O problema é o incômodo provocado pelo efeito
da cintilação luminosa no ser humano.
Cintilamento é a impressão visual da variação do fluxo de luz quando sua
luminância varia no tempo. Lâmpadas incandescentes são mais sensíveis do que as
fluorescentes, portanto, em ambientes iluminados com lâmpadas fluorescentes, o
efeito do cintilamento é mais pronunciado.
O efeito fisiológico do cintilamento no ser humano é causar fadiga, redução do
nível de concentração, desconforto visual e irritabilidade. Além disso, pode afetar o

21
funcionamento de alguns componentes da instalação elétrica. Por exemplo, pode
dificultar a operação de contatores e relés, prejudicando o processo de produção.
A causa das variações de tensão é a variação da corrente de grandes cargas
flutuantes. A variação da corrente provoca a variação da tensão, pois essa corrente
circula pela impedância do sistema elétrico até atingir a carga. Os fornos a arco e os
acionadores de laminadores são exemplos de cargas que causam flutuação da
tensão.
Para a obtenção dos níveis de severidade de cintilação, associados à flutuação
de tensão, são definidos indicadores e procedimentos estabelecidos nos documentos
da IEC. Estes valores são derivados da medição e processamento das tensões dos
barramentos da instalação. A severidade de cintilação é uma representação
quantitativa do incômodo visual percebido pelas pessoas expostas ao fenômeno de
cintilação.
Os níveis de severidade de cintilação, causados pela flutuação de tensão, são
quantificados pelos indicadores: Indicador de Severidade de Cintilação de Curta
Duração – Pst e Indicador de Severidade de Cintilação de Longa Duração – Plt,
conforme descrição e recomendação da Comissão Internacional de Eletrotécnica na
Publicação IEC 61000-4-15 (Flickermeter – Functional and design specifications).
O indicador Pst representa a severidade dos níveis de cintilação associados à
flutuação de tensão verificada num período contínuo de dez minutos e é calculado a
partir dos níveis instantâneos de sensação de cintilação.
O indicador Plt representa a severidade dos níveis de cintilação causados pela
flutuação de tensão verificada num período contínuo de duas horas e é calculado a
partir dos registros de Pst.
Para a obtenção dos valores de severidade de cintilação são feitas medições e
processamento das tensões dos barramentos com classificação em faixas de
probabilidade de ocorrência. PstD95% é o valor diário do indicador Pst que foi
superado em apenas 5% dos registros obtidos no período de 24 horas.
PltS95% é o valor semanal do indicador Plt que foi superado em apenas 5% dos
registros obtidos no período de sete dias completos e consecutivos.

4.2. SOLUÇÕES PARA ATENUAR A FLUTUAÇÃO DE TENSÃO

Existem várias técnicas disponíveis para a atenuação do Flicker. A idéia é


reduzir a flutuação da tensão e, assim, reduzir o cintilamento (Flicker).

22
Basicamente, existem duas abordagens para resolver o problema. A primeira é
reduzir a variação do fluxo de potência, particularmente a sua componente reativa. A
segunda é aumentar a potência de curto-circuito em relação à potência da carga.
Para reduzir as variações de energia reativa no sistema de alimentação,
instalam-se compensadores dinâmicos, também chamados de estabilizadores
dinâmicos. Máquinas síncronas podem ser usadas para essa finalidade. A Fig. 4.2
mostra um compensador dinâmico baseado em máquina síncrona.

Fig. 4.2 – Compensador dinâmico baseado em máquina síncrona

Esse sistema é operado com controle de tensão em malha fechada e com um


controle rápido de corrente de excitação. Isso permite uma resposta rápida no controle
da corrente reativa da máquina.
Outra maneira de se reduzir as variações de energia reativa no sistema de
alimentação é o uso de compensadores estáticos de reativo. O reator controlado a
tiristor, associado a capacitor fixo, permite o controle da geração ou consumo de
reativo dependendo da necessidade do sistema elétrico. A Fig. 4.3. apresenta o
sistema descrito anteriormente. Na figura, pode-se observar que existe um capacitor
fixo em série com uma pequena indutância. A reatância equivalente desse ramo, em
60 Hz, é capacitiva. A indutância em série atenua a entrada de correntes com
freqüências harmônicas, pois o chaveamento dos tiristores gera harmônicos de
corrente no sistema. No outro ramo, encontra-se um indutor fixo em série com os
tiristores em anti-paralelo. O chaveamento dos tiristores controla a corrente de entrada
no indutor e, portanto, controla o consumo de reativo indutivo. É esse controle que
permite que o reativo que vem da fonte seja mantido aproximadamente constante.

23
Fig. 4.3 – Exemplo de compensador estático dinâmico

Na Fig. 4.4, mostram-se dois gráficos com a grandeza tensão representada


nos eixos verticais e o tempo nos eixos horizontais. No primeiro gráfico, existe uma
grande variação no valor eficaz da tensão. Isso caracteriza que existe flutuação na
tensão. Nessa situação o compensador estático não está ligado. No segundo gráfico,
com o compensador ligado, a variação do valor eficaz da tensão é minimizado,
evidenciando a eficácia do compensador adotado.

Fig. 4.4 – Gráficos da tensão sem e com compensador

Existem outros sistemas estáticos como os capacitores chaveados a tiristor, na


passagem por zero ou o STATCOM (Static Synchronous Compensator). O STATCOM
é um conversor eletrônico a fonte de tensão que atua gerando ou consumindo reativo,
dependendo da atuação do controle.
A segunda abordagem para resolver o problema da flutuação de tensão é
aumentar a potência de curto-circuito em relação à potência da carga. Esta
abordagem é mais bem aplicada na fase de projeto, pois os custos são menores do
que a sua execução com a instalação em funcionamento.

24
Ass medidas que podem ser adotadas para aumentar a potência de curto-
curto
circuito são definidas a seguir:

• Conectar a carga a um nível de tensão maior nominal;


nominal
• Instalar capacitores em série;
• Aumentar a potência nominal do transformador ou colocar outro transformador em
paralelo.

Uma técnica básica para reduzir o fenômeno da cintilação é usar


transformadores diferentes para separar a alimentação das cargas flutuantes da
alimentação do sistema de iluminação.

5. TRANSITÓRIOS

Os transitórios são perturbações de tensão e/ou corrente de duração muito


curta (até alguns milissegundos), mas magnitude alta e com um tempo de subida
muito rápido. Surgem dos efeitos das descargas atmosféricas (transitórios impulsivos)
ou do chaveamento de cargas muito grandes ou reativas (transitórios oscilatórios).

5.1. TRANSITÓRIO IMPULSIVO

Um repentino distúrbio devido a uma rápida mudança nas condições da


tensão. A sua duração varia de dezenas a centenas de microssegundos. A direção
desse transitório pode ser positiva ou negativa.
negativa A Fig. 5.1 apresenta uma oscilografia
o
mostrando um transitório impulsivo.

Fig. 5.1 – Oscilografia mostrando um transitório impulsivo

Os transitórios impulsivos surgem


surgem dos efeitos das descargas atmosféricas e
das descargas eletrostáticas. Eles podem causar desde perda ou corrupção de dados
até danos físicos ao equipamento.
O dano a equipamentos causado por descarga atmosférica é facilmente
reconhecido, pois esse é um fenômeno que ocorre em dias de tempestade. Não há a

25
necessidade de uma queda direta de um raio na instalação elétrica para que este
cause danos a equipamentos. Campos eletromagnéticos criados pela descarga
atmosférica induzem transitórios impulsivos em instalações próximas. A Fig. 5.2
mostra esquematicamente um relâmpago e um raio causando indução
eletromagnética em um sistema de distribuição.

Fig. 5.2 – Indução Eletromagnética causada por descarga atmosférica

Para a proteção de equipamentos sensíveis devido a presença de descargas


atmosféricas é necessário o uso de Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS).
Estes dispositivos limitam a amplitude dos surtos aos níveis de resistibilidade dos
equipamentos. Eles têm a capacidade de identificar a existência de um impulso e
aterrar transitoriamente o sistema elétrico de forma a descarregar a energia do
impulso para a terra.
As descargas eletrostáticas (ESD) são causadas pelo desequilíbrio entre a
quantidade de elétrons em relação à carga elétrica dos núcleos dos átomos. Quando
existe um excesso de elétrons em relação aos prótons, diz-se que o corpo está
carregado negativamente. Quando existem menos elétrons que prótons, o corpo está
carregado positivamente.
Em centros de processamento de dados ou instalações que manipulam placas
de circuito impresso, é importante dissipar o potencial de eletricidade estática. Nesses
locais são usados condicionadores de ar que promovem uma taxa de umidade relativa
em torno de 50% e, assim, diminuem a ocorrência de ESD.
O corpo humano deve ser mantido aterrado em locais onde se manipula placas
de circuito impresso, pois assim o potencial de ESD é dissipado.

26
5.2. TRANSITÓRIO OSCILATÓRIO

Um transitório é oscilatório quando ocorre uma mudança na condição de


regime permanente no sinal de tensão e/ou corrente oscilando na freqüência natural
do sistema. São decorrentes da energização de linhas, abertura de corrente indutiva,
eliminação de faltas, chaveamento de bancos de capacitores e transformadores.
A energização de banco de capacitores é a causa mais comum de transitório
oscilatório em uma instalação industrial. A Fig. 5.3 apresenta um oscilograma de uma
perturbação oriunda de energização de banco de capacitores.

Fig. 5.3 – Perturbação oriunda de energização de capacitores

Tipicamente, essa perturbação resulta em uma tensão transitória oscilatória


com uma freqüência entre 300 e 900 Hz. O pico, teoricamente, pode alcançar duas
vezes a amplitude da tensão, mas atinge, tipicamente, entre 1,3 e 1,5 p.u. O tempo da
perturbação costuma durar entre 0,5 e 3 ciclos dependendo do amortecimento do
sistema.
A razão da oscilação na tensão é que durante o processo de conexão do
capacitor, ocorre um transitório de sobrecorrente de elevada amplitude e freqüência.
Isso porque o capacitor está descarregado quando é ligado ao sistema elétrico e,
portanto, uma alta corrente é solicitada na energização do capacitor. Contatores para
conexão de capacitores com resistores de pré-carga evitam corrente de partida
excessiva.
Em contatores desenvolvidos especialmente para manobra de capacitores para
correção de fator de potência, o capacitor é pré-carregado através de resistores que
reduzem o pico de corrente. Após a pré-carga, os contatos principais se fecham,
permitindo a passagem da corrente nominal.
27
Outra solução para a conexão suave de banco de capacitores é o uso de
tiristores. O artifício que se utiliza é a conexão e o desligamento dos capacitores
quando suas correntes passam por zero. Esta operação é conhecida como “zero
crossing” e isenta a rede dos transitórios ocasionados na manobra dos capacitores.
Os danos causados pelas oscilações podem ocorrer imediatamente após a
ocorrência, como a falha de um equipamento ou a corrupção de dados em um sistema
digital. Também, os danos aos equipamentos podem ser progressivos, com cada
evento provocando um pouco mais de dano aos materiais de isolação até que a falha
ocorra.

6. DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO

As tensões geradas em sistemas trifásicos são senoidais, iguais em magnitude


e com defasamento de 120 graus entre essas fases. Contudo, as tensões existentes
no sistema de distribuição e nas instalações de baixa tensão podem estar
desequilibradas por diversas razões.
A natureza do desequilíbrio pode incluir desigualdade na magnitude das
tensões e desvios nos ângulos de fase. Os consumidores são responsáveis por
equilibrar as cargas para que o equilíbrio de tensão permaneça adequado para as
várias condições de funcionamento do sistema elétrico.
Normas internacionais como a EN-50160 ou a série IEC 61000-3-x
estabelecem o limite de 2% para a baixa e a média tensão e 1% para a alta tensão. No
Brasil, no PRODIST, módulo 8, o valor de referência nos barramentos do sistema de
distribuição, com exceção da baixa tensão, deve ser igual ou inferior a 2%.
Existem diversas maneiras de caracterizar o desequilíbrio de tensão. O método
preconizado pelo PRODIST, módulo 8, é o método das componentes simétricas.
Nesse método, o grau de desequilíbrio é definido pela relação entre os módulos da
tensão de seqüência negativa e da tensão de seqüência positiva.
A expressão para o cálculo do desequilíbrio de tensão é:

Alternativamente, pode-se utilizar a expressão abaixo, que conduz a resultados


em consonância com a formulação anterior:

28
Sendo:

No método do máximo desvio da tensão média, o grau de desequilíbrio é


definido como a relação entre o máximo desvio da tensão média e a tensão média. A
fórmula é apresentada a seguir:

6.1. CAUSAS DO DESEQUILÍBRIO DE TENSÃO

O desequilíbrio de tensão é um problema sério de qualidade de energia,


afetando principalmente os sistemas de distribuição de baixa tensão. Alguns dos
problemas gerados pelo desequilíbrio podem afetar significativamente o
funcionamento dos equipamentos conectados a ele.
A principal causa do desequilíbrio nas correntes e, em conseqüência, nas
tensões é o desequilíbrio na distribuição das cargas monofásicas. Em geral, o sistema
de cargas é equilibrado na fase de projeto, no entanto, estas cargas são ligadas e
desligadas de acordo com a necessidade. Assim, as correntes nas fases são
desequilibradas gerando desequilíbrios nas tensões em função de quedas de tensão
diferentes em cada fase.
A fonte de desequilíbrios também pode ser as linhas de transmissão aéreas.
Devido à distribuição geométrica dos condutores das fases, as capacitâncias
intrínsecas entre os condutores das diferentes fases não são iguais. Assim, as fases
têm diferentes parâmetros causando diferentes quedas de tensão na passagem da
corrente elétrica. A transposição das fases é o método utilizado para atenuar o
problema.

29
Atualmente, a tecnologia de micro geração distribuída apresenta desafios
importantes na garantia de níveis adequados de tensão e no equilíbrio da tensão entre
as fases. Na micro geração, é comum o uso de sistemas monofásicos ou bifásicos de
geração. Assim, cuidados especiais devem ser tomados para que as fases se
mantenham com tensão adequada na baixa tensão.
A geração distribuída é usualmente operada no modo de “não controle de
tensão”. Neste modo, a geração distribuída simplesmente fornece potência ativa a
um fator de potência constante e a tensão no circuito muda de acordo com o efeito
da inserção de potência. Existem indicadores que limitam o efeito da conexão da
geração nas amplitudes da tensão, no desequilíbrio e na distorção harmônica total.

6.2. CONSEQUÊNCIAS DO DESEQUILÍBRIO DE TENSÃO

O efeito da circulação da componente de sequência negativa num sistema


elétrico de potência resulta em perdas adicionais de energia, diminuição da
capacidade de transmissão de energia através da componente de sequência
positiva, aquecimento adicional de equipamentos e, principalmente, afeta a
operação de motores de indução.
Nos motores de indução, a presença da componente de sequência negativa
cria um componente de fluxo magnético que rotaciona em sentido inverso ao fluxo
principal. A consequência é a redução da eficiência, o aumento da temperatura,
redução do conjugado disponível, a existência de torque pulsante e a redução da vida
útil. A Fig. 6.1 mostra um gráfico com valores típicos da relação entre o grau de
desequilíbrio de tensão e o grau de desequilíbrio de corrente em um motor de indução.

Fig. 6.1 – Relação entre os graus de desequilíbrio de tensão e de corrente

Observa-se na Fig. 6.1 que mesmo um pequeno desequilíbrio de tensão


provoca um grande desequilíbrio de corrente no motor de indução.

30
O aquecimento adicional provocado pela existência de desequilíbrio de tensão
reduz a vida útil do motor de indução. Um motor que não esteja em seu carregamento
pleno ou em que a temperatura ambiente seja baixa permite um aumento do grau de
desequilíbrio sem afetar a vida útil esperada. A Fig. 6.2 mostra o comportamento
exponencial da perda de vida útil com o aumento do desequilíbrio de tensão.

Fig. 6.2 – Relação entre a perda de vida útil e o desequilíbrio

Os fabricantes de motores garantem a vida útil nominal para desequilíbrios de


até 1%. Esse desequilíbrio é baixo comparado com os desequilíbrios encontrados na
prática. Essa é uma das razões dos motores serem um pouco sobredimensionados
quando especificados por técnicos experientes. O sobredimensionamento prejudica a
eficiência e o fator de potência da instalação, mas garante a continuidade do processo
industrial.

7. TENSÃO EM REGIME PERMANENTE

Tanto os equipamentos da concessionária como os pertencentes aos


consumidores são projetados para operar em determinado nível de tensão. A
operação prolongada desses equipamentos em uma tensão fora de limites aceitáveis
pode afetar o seu correto funcionamento reduzindo a sua vida útil ou até mesmo
causando interrupções não programadas. Por isso, a tensão deve ser mantida dentro
de limites aceitáveis.

7.1. REGULAÇÃO DA TENSÃO DE ATENDIMENTO

A tensão em regime permanente é regulamentada, no Brasil, pela resolução da


ANEEL que define o PRODIST, em seu módulo 8. O termo regime permanente
compreende o intervalo de tempo da leitura de tensão, definido como sendo de dez
minutos, onde não ocorrem distúrbios elétricos capazes de invalidar a leitura.

31
Após a obtenção do conjunto de leituras válidas, deve ser calculado o índice de
duração relativa da transgressão para tensão precária (DRP) e o índice para tensão
crítica (DRC).
Para se caracterizar a tensão precária e a tensão crítica, define-se,
primeiramente, o conceito de tensão de atendimento. Esta é o valor eficaz de tensão
no ponto de entrega ou de conexão, obtido por meio de medição, podendo ser
classificada em adequada, precária ou crítica.
A conformidade dos níveis de tensão deve ser avaliada, nos pontos de
conexão à Rede de Distribuição, nos pontos de conexão entre distribuidoras e nos
pontos de conexão com as unidades consumidoras, por meio dos indicadores
estabelecidos no PRODIST, módulo 8.
Como exemplo de valores de tensão de atendimento adequados em 220 volts,
tem-se o seguinte intervalo: a tensão de linha deve permanecer no intervalo entre 201
e 231 volts.
Como exemplo de valores de tensão de atendimento precários em 220 volts,
tem-se os seguintes intervalos: entre 189 e 201 volts no valor inferior e entre 231 e
233 volts no valor superior.
Como exemplo de valores de tensão de atendimento críticos em 220 volts,
tem-se os seguintes intervalos: valores menores do que 189 volts e valores maiores do
que 233 volts.
Para a análise da tensão em regime permanente, apresenta-se um gráfico
semanal, totalizando, no mínimo, 1008 leituras válidas. O comportamento semanal da
tensão pode ser visualizado pela Fig. 7.1.

Fig. 7.1 – Perfil do valor eficaz da tensão ao longo de uma semana

Após a obtenção do conjunto de leituras válidas, quando de medições oriundas


por reclamação ou amostrais, devem ser calculados o índice de duração relativa da
transgressão para tensão precária (DRP) e o para tensão crítica (DRC) de acordo com
as seguintes expressões:

32
Onde nlp e nlc representam o maior valor entre as fases do número de leituras
situadas nas faixas precária e crítica, respectivamente.
O valor da Duração Relativa da Transgressão Máxima de Tensão Precária -
DRPM está estabelecido em 3%. O valor da Duração Relativa da Transgressão
Máxima de Tensão Crítica - DRCM está estabelecido em 0,5%.
Os valores apurados de DRP e DRC deverão ser registrados pela
concessionária e, se for o caso, devem ser tomadas providências para a normalização
e conformidade dos níveis de tensão.

7.2. MÉTODOS APLICADOS NA REGULAÇÃO DA TENSÃO

Os problemas relativos ao perfil de tensão nas redes elétricas são um dos mais
comuns problemas relacionados à qualidade da energia elétrica. Diferentes modos e
métodos de controle de tensão são utilizados para se manter o nível da tensão dentro
da faixa considerada adequada.
A localização de determinado consumidor ao longo da linha de distribuição
definirá se o nível de tensão da sua instalação está adequada. Isso porque a mesma
tensão “ideal” para um consumidor que esteja localizado próxima da subestação de
distribuição poderá ser inadequada para um consumidor localizado distante dessa
subestação.
O processo de regulação de tensão no sistema de distribuição de energia
elétrica deve ser iniciado desde a fase de planejamento, levando-se em consideração
as características e requisitos de qualidade de energia para os consumidores e de seu
crescimento temporal.
A principal dificuldade de fornecer aos consumidores tensões em faixas
apropriadas é o problema da queda de tensão durante o transporte da energia. A
queda da tensão na impedância do transformador que alimenta o consumidor é ponto
de maior queda de tensão.
A elevação do fator de potência, por meio de instalação de banco de
capacitores, reduz a corrente que vem da concessionária e, assim, reduz a queda de
tensão no transporte da energia elétrica. Essa solução é de iniciativa do consumidor,
mas a regulamentação penaliza a instalação com fator de potência baixo. A

33
Concessionária também utiliza bancos de capacitores em suas subestações de
distribuição com o objetivo de controlar o reativo e a tensão do sistema.
A regulação de tensão é feita normalmente através de reguladores de tensão
instalados na subestação de energia elétrica ou ao longo dos alimentadores, e o
controle de tensão desses reguladores é feita através dos relés de controle automático
de tensão (CAT). Por exemplo, a Concessionária pode introduzir pequenos bancos de
capacitores ao longo da linha de distribuição de média tensão que são conectados
automaticamente em função do nível de tensão.
O Regulador de Tensão Monofásico Automático é um autotransformador
imerso em óleo isolante. Ele é instalado ao longo do alimentador de distribuição
quando este é muito longo. Costuma regular a tensão de linha até +/- 10% com
intervalos de 0.625% da tensão nominal.
Os transformadores das subestações de distribuição possuem comutação sob
carga. Eles têm dispositivos de controle dos níveis de tensão chamados taps. Os taps
mudam a relação de transformação, permitindo que a tensão varie dentro de um
determinado intervalo. A alteração do valor eficaz da tensão permite o controle e a
redistribuição dos fluxos de potência reativa no sistema, melhorando o perfil de tensão.

8. FATOR DE POTÊNCIA

O fator de potência é definido como a relação entre a potência ativa e a


potência aparente. Esse indicador determina a eficácia com que a potência ativa está
sendo transferida para a carga. O fator de potência só pode ser considerado igual ao
cosseno do ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente no caso de ambas as
grandezas serem senóides puras, ou seja, não possuam componentes harmônicas.
A Fig. 8.1 mostra o triângulo de potências para grandezas puramente
senoidais.

Fig. 8.1 – Perfil do valor eficaz da tensão ao longo de uma semana

34
As cargas indutivas, como motores de indução, demandam grandes
quantidades de energia reativa para a criação do fluxo magnético. Essa potência não
realiza trabalho útil, mas gera perdas e ocupa espaço nos condutores para ser
transmitida. Por isso, ela deve ser produzida nas proximidades da carga que necessita
de reativo.
O fator de potência individual dos motores de indução pode variar de
aproximadamente 0,6, quando em vazio, para aproximadamente 0,93, quando a plena
carga. Esses valores variam de acordo com a potência e categoria do motor, além das
condições de carga. Por essa razão, é comum o uso de controladores automáticos de
fator de potência que atuam conectando e desconectando estágios de bancos de
capacitores. O fator de potência é registrado pela Concessionária e, caso o limite seja
ultrapassado, o usuário é penalizado na fatura de energia elétrica.
O uso de correto de banco de capacitores mantém o fator de potência no
intervalo de valores estabelecidos pela Concessionária. O capacitor tem a
característica de gerar o reativo que é consumido pelas cargas indutivas. Outra
maneira de abordar esse fenômeno é usar o conceito de troca de armazenamento de
energia entre os capacitores e indutores. Como ambas as cargas, indutores e
capacitores, estão submetidos a mesma onda de tensão e como o armazenamento de
energia do capacitor ocorre com um defasamento de 90 graus elétricos em relação ao
armazenamento de energia do indutor, quando um elemento está no período de
acumular energia o outro está devolvendo a energia anteriormente acumulada.
Percebe-se que, na realidade, e idealizando os componentes, a soma de energia entre
eles é zero. Então, a energia reativa não precisa ser gerada na usina e enviada pelo
sistema elétrico.
Como o uso de capacitores reduz a corrente eficaz circulando entre a
Concessionária e o Consumidor, os condutores podem ser de menor bitola, reduzindo
os custos do sistema de distribuição. A corrente no transformador também é reduzida
e isso permite um valor maior de transferência de potência ativa para um mesmo valor
de potência aparente do transformador. Ainda, tem-se a diminuição das perdas por
efeito Joule tanto nos condutores como nos enrolamentos dos transformadores, uma
vez que há uma diminuição no valor eficaz da corrente.
Para a aplicação de capacitores onde existe circulação de correntes
harmônicas, uma forma de atenuar a perda de vida útil do banco é sobredimensionar a
sua tensão nominal. Ou seja, utilizar um capacitor de 440 volts de valor nominal em
uma instalação elétrica cuja tensão nominal é 380 volts. Nesse caso, a potência
reativa nominal do capacitor não será mais produzida uma vez que a tensão sobre o
mesmo não é a nominal.

35
Se houver condição de ressonância entre o banco de capacitores e a
indutância do sistema elétrico em uma freqüência harmônica existente na instalação,
será necessário o uso de um filtro de dessintonia em série com os capacitores do
banco. Outra solução seria o uso de filtro passivo com a finalidade de filtrar as
harmônicas e corrigir o reativo da instalação. Neste caso, o dielétrico dos capacitores
deve ter características especiais, pois os harmônicos de correntes serão drenados
para dentro do filtro. A vantagem do uso do filtro é o confinamento dos harmônicos no
interior da instalação atenuando a injeção de harmônicos para a Concessionária.
Outra forma de correção do fator de potência é através de motores síncronos e
o controle da corrente de excitação de campo do mesmo. Esse método não costuma
ser usado devido ao preço do motor síncrono. O método poderia ser economicamente
viável se além de corrigir o fator de potência, essa máquina fosse usada para o
acionamento de cargas mecânicas.
Segundo o PRODIST, módulo 8, em uma unidade consumidora ou conexão
entre distribuidoras com tensão inferior a 230 kV, o fator de potência no ponto de
conexão deve estar compreendido entre 0,92 e 1,00 indutivo ou 1,00 e 0,92 capacitivo.
Para resumir as vantagens em se manter o fator de potência próximo da
unidade, podem ser citadas: a redução do preço da fatura de energia elétrica, a
liberação de capacidade em kVA dos transformadores, a liberação da capacidade de
transferir potência dos alimentadores, a redução nas perdas de energia para a
transferência de potência entre a Concessionária e o Consumidor e a menor queda de
tensão, devido à diminuição do valor eficaz da corrente, melhorando a regulação da
tensão nas instalações.

9. VARIAÇÃO DE FREQUÊNCIA

A frequência é um importante parâmetro para se avaliar as características de


operação de um sistema elétrico. A frequência é a mesma em todo o sistema elétrico
interligado, uma vez que está vinculada com a velocidade de rotação dos geradores
síncronos. Para que ela se mantenha constante é necessário haver um controle
centralizado cuidando do equilíbrio entre geração e consumo de energia. A
manutenção do valor da frequência entre os limites permitidos pelo órgão
regulamentador exige a existência de um Operador Nacional do Sistema para
controlar o despacho de carga.
No Brasil, de acordo com o PRODIST, módulo 8, o sistema de distribuição e as
instalações de geração conectadas ao mesmo devem, em condições normais de

36
operação e em regime permanente, operar dentro dos limites de freqüência situados
entre 59,9 Hz e 60,1 Hz. Quando da ocorrência de distúrbios no sistema de
distribuição, as instalações de geração conectadas ao sistema de distribuição devem
garantir que a freqüência retorne para a faixa de 59,5 Hz a 60,5 Hz, no prazo de 30
segundos após sair desta faixa. Essa tolerância existe para permitir a recuperação do
equilíbrio carga-geração. Existem outros indicadores e limites de tempo no caso de
oscilação do sistema elétrico após a ocorrência de um distúrbio no sistema. Essas
situações são detalhadas no PRODIST, módulo 8.
A seleção da frequência nominal de 50 Hz, na Europa, e de 60 Hz, nos
Estados Unidos, teve aspectos técnicos, históricos e interesses comerciais do final do
século 19.
O sistema de geração e transmissão em corrente alternada trifásica foi
desenvolvido no final do século 19 por Nikola Tesla, George Westinghouse e outros
colaboradores. Nesse período, existiram sistemas de corrente alternada em diversas
freqüências. Como os sistemas elétricos eram isolados, as freqüências eram definidas
de acordo com a conveniência do sistema primário de energia associado à tecnologia
de geração utilizada. Algumas fontes primárias eram baseadas em máquinas a vapor
enquanto outras em turbinas hidráulicas. Isso influenciava na velocidade de rotação do
eixo principal do sistema.
A geração de energia em frequências entre 16 Hz e 133 Hz foi usada em
diferentes sistemas. Por exemplo, por volta do ano 1890, era comum o uso de
geradores monofásicos de 8 pólos que operavam em 2000 rpm e produziam uma
tensão com a frequência de 133 Hz.
No final do século 19, a empresa Westinghouse, nos Estados Unidos, decidiu
produzir equipamentos para gerar em 60 Hz e a empresa AEG, na Alemanha, decidiu
produzir os seus equipamentos em 50 Hz. Essa duas grandes empresas definiram as
freqüências utilizadas até hoje no mundo inteiro.
Como vantagem para o uso da frequência de 60 Hz, tem-se a menor
quantidade de materiais e o menor volume de equipamentos eletromagnéticos como
transformadores e máquinas elétricas. Em contrapartida, a transmissão de energia em
longas distâncias é melhor em frequência mais baixas, pois menores são as
reatâncias do sistema e melhor a sua estabilidade.
Atualmente, o desenvolvimento da eletrônica de potência, permite o uso de
conversores de frequência em instalações industriais, adequando a frequência para as
necessidades do processo.

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