Estudo de Caso 2

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO
TRABALHO

GABRIELA RODRIGUES ARAUJO

A PERCEPÇÃO DO ADOECIMENTO PSÍQUICO EM DOCENTES DO CURSO DE


PSICOLOGIA: UM ESTUDO DE CASO

FORTALEZA-CEARÁ
2018
GABRIELA RODRIGUES ARAUJO

A PERCEPÇÃO DO ADOECIMENTO PSÍQUICO EM DOCENTES DO CURSO DE


PSICOLOGIA: UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Especialização em Psicologia
Organizacional e do Trabalho do Centro de
Estudos Sociais Aplicados da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial à
obtenção da certificação de especialista em
Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Orientador: Prof. Ms. Daniel Parente Nogueira

FORTALEZA-CEARÁ
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Sistema de Bibliotecas

Araujo , Gabriela Rodrigues .


A percepção do adoecimento psíquico e em docentes
do curso de psicologia: um e estudo de caso [recurso
eletrônico] / Gabriela Rodrigues Araujo . - 2018.
1 CD-ROM: 4 ¾ pol.

CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do


trabalho acadêmico com 51 folhas, acondicionado em
caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm).

Monografia (especialização) - Universidade


Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais
Aplicados, Especializaçao em Psicologia
Organizacional e do Trabalho, Fortaleza, 2018.
Orientação: Prof. Me. Daniel Parente Nogueira.

1. Psicodinâmica do Trabalho. 2. Adoecimento. 3.


Estigma. 4. Docentes. 5. Psicologia. I. Título.
GABRIELA RODRIGUES ARAUJO

A PERCEPÇÃO DO ADOECIMENTO PSÍQUICO EM DOCENTES DO CURSO DE


PSICOLOGIA: UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Especialização
em Psicologia Organizacional e do
Trabalho do Centro de Estudos Sociais
Aplicados da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial à obtenção
da certificação de especialista em
Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Orientador: Prof. Ms. Daniel Parente


Nogueira

Aprovada em: 14 de novembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS

Agradecer primeiramente a Deus pelo dom da vida e sabedoria e por estar presente em
todas as minhas escolhas e conquistas. Quero agradecer também aos meus amados e
queridos pais, Maria Joseneide Rodrigues Araújo e José Guedes de Araújo pelo
carinho, compreensão e apoio neste momento tão importante.

Ao meu companheiro que esteve presente em todos os momentos bons e difíceis


Jhonatan Costa Muniz por sempre acreditar em meu potencial, me motivando a nunca
deixar que eu desistisse de um sonho.

À minha amiga de infância Renata de Araújo e Silva, por sempre estar disponível e me
ajudar no decorrer do processo de elaboração desta pesquisa, com apoio e dicas de
construção do trabalho, acreditando e me ajudando concluí-la.

Meu agradecimento ao meu orientador Ms. Daniel Parente Nogueira, pelas importantes
considerações feitas e supervisões realizadas ao meu trabalho, por sempre entender e
compreender a forma crítica que abordo o tema e questões relacionadas a profissão.

À Universidade Estadual do Ceará pelo espaço, assim como toda a equipe do Centro
de Estudos Aplicados, Coordenação do Núcleo – Lato Senso, por estarem de prontidão
para me atender, assim como todos os professores que fizeram parte da Pós
Graduação do Curso de Psicologia Organizacional e do Trabalho, turma XI, que
deixaram sua marca registrada em minha vida profissional através dos ensinamentos
repassados.
“Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana.”
(Carl Jung)
RESUMO

O trabalho possui valor e lugar significativo na vida dos sujeitos. Entretanto, o trabalho
também pode contribuir para o desenvolvimento de doenças psíquicas e físicas nestes
sujeitos. A temática sobre a Psicodinâmica do Trabalho com docentes do curso de
Psicologia ainda é pouco estudada. A análise do tema possibilitou relembrar as
vivências da Graduação em Psicologia, que em vários momentos os professores se
encontravam exaustos e irritados devido às provas, trabalhos e problemas pessoais.
Após esta análise e reflexão buscou-se compreender qual a percepção desses
profissionais sobre o sofrimento desenvolvido pelo trabalho, se estes percebem-se
inseridos nesta dinâmica de sofrimento e quais os mecanismos de defesa
desenvolvidos individualmente e em grupo para amenizar este sofrimento. O
questionamento que norteia este trabalho é: será que por se tratarem de docentes da
área de psicologia, estes possuem mais facilidade em perceber problemas psíquicos
decorrentes ao seu trabalho? Tendo como objetivo geral investigar a psicodinâmica do
trabalho na área acadêmica com profissionais de Psicologia. Os objetivos específicos
caracterizam-se por: (I) analisar professores da área de psicologia, observando se
possuem mecanismos de defesa para tornar a profissão menos ofensiva à sua saúde
psíquica; e (II) verificar se docentes da área de Psicologia percebem as estratégias em
grupo como enfrentamento de possíveis adoecimentos psíquicos decorrente do
trabalho. Para tal, realizou-se uma pesquisa qualitativa e descritiva com procedimentos
de pesquisa bibliográfica e um estudo de caso nos termos descritos por Triviños (1987),
por meio de entrevista estruturada com amostragem por conveniência. A análise das
entrevistas permite concluir que os docentes têm a percepção do sofrimento físico e
psíquico, especialmente quando estes se queixam de sobrecarga e exaustão,
percebendo-se afetados e considerando que este sofrimento ocorre em decorrência do
trabalho. Além disso, os docentes também têm a percepção do sofrimento dos colegas
de trabalho inseridos na mesma dinâmica, mas uma percepção de forma mais sutil na
maioria das vezes. Os resultados desse estudo permitiram também levantar alguns
questionamentos e sugerir possíveis melhorias para a saúde psíquica e física do
docente.
Palavras-chave: Psicodinâmica do Trabalho. Adoecimento. Estigma. Docentes.
Psicologia.
ABSTRACT

The work has significant value and place in the life of the subjects. However, work may
also contribute to the development of psychic and physical illnesses in these subjects.
The thematic on the Psychodynamics of Work with professors of the Psychology course
is still little studied. The analysis of the theme made it possible to recall the experiences
of the Psychology Degree, which at various times professors were exhausted and
irritated due to their personal tests, problems and problems. After this analysis and
reflection, we sought to understand the perception of these professionals about the
suffering developed by the work, if they perceive themselves inserted in this dynamic of
suffering and what the defense mechanisms developed individually and in group to
soften this suffering. The question that guides this work is: are they because they are
teachers in the area of psychology, they are easier to perceive psychic problems due to
their work? The main objective was to investigate the psychodynamics of the work in the
academic area with professionals of Psychology. The specific objectives are: (I) to
analyze if professors in the area of psychology, observing if they have defense
mechanisms to make the profession less offensive to their psychic health; and (II) to
verify if professors of Psychology perceive group strategies as coping with possible
psychic illnesses due to work. For that, a qualitative and descriptive research was
carried out with bibliographic research procedures and a case study in the terms
described by Triviños (1987), through a structured interview with convenience sampling.
The analysis of the interviews allows us to conclude that the professors have the
perception of physical and psychological suffering, especially when they complain of
overload and exhaustion, perceiving themselves affected and considering that this
suffering occurs as a result of work. In addition, the professors also have the perception
of the suffering of co-workers embedded in the same dynamic, but a perception more
subtly most of the time. The results of this study also allowed us to raise some questions
and suggest possible improvements to the psychic and physical health of the professor.

Keywords: Psychodynamics of Work. Sickness. Stigma. Professors. Psychology.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
2 PSICODINÂMICA DO TRABALHO ......................................................................... 16
3 ADOECIMENTO, FATORES DE ADOECIMENTO, ESTIGMAS ............................. 23
4 METODOLOGIA...................................................................................................... 30
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 33
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 38
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 41
APÊNDICE. ............................................................................................................. 43

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............44


11

1 INTRODUÇÃO

Ao observar o cotidiano é possível perceber que as indagações e


questionamentos são características essenciais do ser humano, que se questiona
sobre todos os aspectos da humanidade, sociedade e principalmente sobre o próprio
eu, eu que pode-se analisar, como também ser analisados por outros, e seguimos
vivendo nesta constante troca de analises, percepções e questionamentos.
Em meio a esses questionamentos de estar em constante melhoria pessoal
assim como profissionalmente, no curso de Pós Graduação em Psicologia
Organizacional e do Trabalho da Universidade Estadual do Ceará, no qual teria por
objetivo estudar algo que fosse voltado a temas em que houvessem identificação,
como a saúde mental, concomitante ao estudar assuntos da disciplina de
Psicodinâmica do Trabalho, que abordava aspectos sobre adoecimento psíquico
decorrente ao trabalho houve a identificação com o tema, e após reflexões o desejo de
um aprofundamento teórico sobre este tema.
Analisar o tema da Psicodinâmica do Trabalho, possibilitou relembrar as
vivências durante a graduação em Psicologia, recordações dos professores que
agregaram conhecimentos durante toda a trajetória de cinco anos, e que, durante esse
tempo, foram presenciados momentos em que muitos professores se encontravam
exaustos diante da grande carga horária, uma alta demanda de provas, trabalhos de
alunos, além de problemas pessoais que, de certa forma, juntos aos problemas
profissionais se tornavam um fardo.
Após estas recordações, foi escolhido estudar sobre essa temática, sobre o
adoecimento psíquico de professores, mas sem deixar de lado experiências
vivenciadas, tendo como foco principal professores que são psicólogos.
Estes sujeitos, além de docentes, são também psicólogos, exercendo papel
importante e decisivo, no momento de atendimento a pessoas que precisam de amparo
que precisam encontrar em si um equilíbrio em todas as esferas de sua vida para
assim conseguir aplicar seus conhecimentos teórico e prático com efetividade.
Mas para que isso ocorra é preciso um grande esforço por parte do
profissional compreender suas questões e seus problemas, é neste momento que entra
12

a Psicodinâmica do Trabalho, com foco em entender se estes profissionais docentes e


psicólogos conseguem ter a percepção em seu meio de trabalho sobre fatores que
resultam no sofrimento psíquico pessoal, como também do grupo.
Estes mesmos sujeitos que detêm conhecimentos sobre a psique humana,
encontram-se inseridos em uma dinâmica constante de adoecimentos psíquicos, e
diante algumas atividades laborais possuem maior incidência de problemas
relacionados a saúde devido ao trabalho, física ou psicológica.
Conforme informa o Ministério da Saúde (2001) os trabalhadores podem
adoecer e até mesmo morrer em decorrência de suas atividades laborais, decorrente
da profissão ou pelas condições e situações adversas, dentre as inúmeras doenças
podem ser citadas algumas que são especificas e relacionadas ao trabalho:

Doenças comuns (crônico-degenerativas, infecciosas, neoplásicas, traumáticas,


etc.) eventualmente modificadas no aumento da freqüência de sua ocorrência
ou na precocidade de seu surgimento em trabalhadores, sob determinadas
condições de trabalho. A hipertensão arterial em motoristas de ônibus urbanos,
nas grandes cidades, exemplifica esta possibilidade; doenças comuns que têm
o espectro de sua etiologia ampliado ou tornado mais complexo pelo trabalho. A
asma brônquica, a dermatite de contato alérgica, a perda auditiva induzida pelo
ruído (ocupacional), doenças músculo-esqueléticas e alguns transtornos
mentais exemplificam esta possibilidade, na qual, em decorrência do trabalho,
somam-se (efeito aditivo) ou multiplicam-se (efeito sinérgico) as condições
provocadoras ou desencadeadoras destes quadros nosológicos; agravos à
saúde específicos, tipificados pelos acidentes do trabalho e pelas doenças
profissionais. A silicose e a asbestose exemplificam este grupo de agravos
específicos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p.27).

Deste modo a pesquisa trata-se da percepção dos docentes do curso de


psicologia sobre o seu autoconhecimento e conhecimento profissional. Se este
profissional se reconhece inserido em uma dinâmica de trabalho adoecedora, e
percebe-se suas estratégias de defesa para evitar danos a sua saúde psíquica.
Buscou-se estudar e compreender de como seria o enfrentamento dos
docentes do curso de psicologia sobre a questão da psicodinâmica do trabalho, diante
a todos os seus conhecimentos prévios sobre a psique e o adoecimento psíquico.
Tendo como questionamento, de que forma docentes do curso de psicologia
se percebem inseridos em um ambiente de trabalho que ocasiona sofrimento psíquico,
e como estes sujeitos conseguem lidar com este sofrimento.
13

Buscou-se compreender também o estigma relacionado à profissão do


Psicólogo, no qual o colocam no papel de mediador de conflito, esquecendo-se o lado
pessoal deste sujeito, pois além da profissão existe um ser humano que passa a ser
suscetível a adoecimentos, angústias, frustações e até dúvidas de como resolver suas
questões.
Como psicólogo e professor conhecedor sobre adoecimento em várias
vertentes, é perceptível reconhecer que ele/ela está sobre a influência da dinâmica do
seu trabalho e que o grupo pode elaborar maneiras de amenizar, o ambiente de
trabalho e torná-lo mais agradável, refletindo em sua qualidade de vida pessoal e
profissional.
Portanto, este trabalho foi elaborado a partir de uma revisão da literatura
especializada, com informações que abordaram a temática e que possibilitaram realizar
uma breve contextualização sobre a história das patologias no trabalho.
Após, foi relatado a origem dos processos de trabalho, como também o
aprofundamento e compreensão da Psicodinâmica do Trabalho e, posteriormente,
compreender a discussão teórica sobre o fenômeno do sofrimento psíquico do indivíduo
que se encontra no papel de professor e psicólogo em decorrência ao trabalho, no qual
pode ocasionar no sujeito sintomas de adoecimento.
A questão de pesquisa que norteia este trabalho é: por tratar-se de docentes
da área de psicologia, estes possuem mais facilidade em perceber problemas psíquicos
decorrentes ao seu trabalho.
O objetivo geral desta pesquisa é investigar a psicodinâmica do trabalho na
área acadêmica com profissionais de Psicologia.
Tendo como objetivos específicos analisar professores da área de
psicologia, observando se possuem mecanismos de defesa para tornar a profissão
menos ofensiva à sua saúde psíquica; e verificar se docentes da área de Psicologia
percebem que as estratégias em grupo ajudam a enfrentar possíveis adoecimentos
psíquicos decorrente do trabalho.
O pressuposto deste trabalho é, uma vez que se trata docentes da área de
psicologia, estes profissionais possuem mais facilidade ou não em perceber problemas
psíquicos decorrentes do seu trabalho.
14

A metodologia utilizada neste trabalho acadêmico se deu através de uma


pesquisa de cunho qualitativo que busca compreender aspectos subjetivos dos sujeitos
entrevistados, os objetivos do trabalho foi estudado de forma descritiva na qual tem o
intuito de descrever determinadas populações ou grupo.
Buscou-se compreender fatores relacionados a Psicodinâmica do Trabalho
com docentes de uma IES do curso de psicologia, o procedimento de pesquisa
utilizado foi a bibliografia e, as técnicas utilizadas foram a de observação sistemática
na qual requer um controle e estruturação e planejamento prévio.
Com a utilização do método de coletada de dados a entrevista estruturada,
deixando com que o entrevistado exponha aspectos subjetivos e impressões acerca do
tema abordado, mas sem fugir do foco das perguntas realizadas.
A metodologia de estudo aplicada foi um estudo de caso nos termos
descritos por Triviños (1987), que tem por objetivo compreender e aprofunda-se o
estudo em uma determinada realidade, se tratando do grupo de professores e
psicólogos.
A aplicação da entrevista foi realizada de forma individual em um encontro, a
entrevista foi aplicada em uma amostra por conveniência com 2 participantes. O local
de pesquisa foi uma Instituição de Ensino Superior particular localizada na cidade de
Fortaleza, estado do Ceará.
Este trabalho é composto por 6 partes, incluindo esta introdução e as
considerações finais, a sessão 2 trata-se sobre a Psicodinâmica do Trabalho, e como
foi elaborada questões sobre adoecimento psíquico no trabalho, sendo elaborado com
a teoria principal de Dejours, no qual demonstra que o trabalho laboral também é um
fator determinante em relação ao sofrimento psicológico e físico.
Na sessão 3, aborda-se temas em relação ao sofrimento do docente, assim
como o estigma criado em relação à doença, reflexão sobre questões do conceito do
normal e patológico diante ao sofrimento de um indivíduo.
Estes procedem a metodologia, na qual foi descrito o processo metodológico
utilizado neste trabalho, e posteriormente a análise de resultados, na qual é feita a
descrição analítica dos principais aspectos encontrados nas entrevistas realizadas.
15

Posteriormente as considerações finais embasadas na análise de dados, com


sugestões de possível aprofundamento teórico e observação acerca do tema.
16

2 PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Ao estudar sobre o tema adoecimento psíquico, não há como deixar de falar


do primeiro autor que trabalhou e realizou pesquisas com a temática da Psicodinâmica
do Trabalho, Christophe Dejours.
Dejours, é um médico francês, com formação em psicossomática e
psicanálise e também é diretor científico do Laboratório de Psicologia do Trabalho e da
Ação no CNAM de Paris (LANCMAN & SZNELMAN, 2004). Sua teoria teve grande
importância e chegou ao Brasil no ano de 1987, com a 1ª edição de seu livro A Loucura
do Trabalho (DEJOURS, 1992).
É mais fácil falar da doença do que da saúde, os indicadores da doença são
mais pontuais, localizáveis e externáveis do que os indicadores da saúde, pois estes
envolvem uma multiplicidade de olhares e contextos (SANTOS, 2009). E devido a isso
focaliza-se o estudo no adoecimento e estratégias para evitar possíveis danos
psíquicos dos trabalhadores. “à noção de sofrimento antes de tudo, é um estado de
luta do sujeito contra forças que o estão empurrando em direção à doença mental.”
(DEJOURS, 1992, p. 10)

A psicopatologia do trabalho, em seus primórdios, apresentava principal


enfoque nas doenças mentais que, supostamente, eram provocadas pelo
ambiente de trabalho; essa vertente de investigação produziu importante
literatura sobre doenças de trabalhadores que estavam sujeitos à exposição de
agentes toxicológicos, que prediz condição inerente a certos postos de trabalho
(HOFFMANN et al., 2017, p.262).

“A Psicopatologia do trabalho, de Christophe Dejours, busca o nexo causal


entre determinadas organizações e condições de trabalho e o adoecimento mental.”
(VIEIRA, 2014, p.116). E para conseguir compreender melhor a questão da
psicodinâmica do trabalho e suas questões relacionadas ao sofrimento psíquico, como
se organizou a história da saúde dos trabalhadores, questões como qualidade de vida
e condições de trabalho, diante disto faremos uma breve contextualização acerca do
assunto.
Dejours sendo o pioneiro nesta temática, relata como era a situação dos
funcionários no século XIX, “os salários são muito baixos e, com frequência,
17

insuficientes para assegurar o estritamente necessário. Os períodos de desemprego


põem imediatamente em perigo a sobrevivência da família. A moradia se reduz,
frequentemente, a um pardieiro.” (DEJOURS, 1992, p. 14). A insegurança em relação
ao trabalho pode vir a prejudicar a autoconfiança e estabilidade do funcionário, assim
como a sua satisfação.
“Compreende-se facilmente que as lutas operárias neste período histórico
tenham essencialmente dois objetivos: o direito à vida ou à sobrevivência e a
construção do instrumento necessário à sua conquista: a liberdade de organização.”
(DEJOURS, 1992, p. 17). Neste período o trabalhador apenas tinha como objetivo
manter-se saudável para poder prover sua sustentação e de sua família.
Ao relatar este fato Dejours se refere a classe de operários da época, que
apesar do “o desenvolvimento industrial-tecnológico, a carga física do trabalho diminui,
sendo estabelecidas novas condições, descobrindo-se, então, sofrimentos insuspeitos
e, assim, acentua-se a dimensão mental do trabalho.” (RODRIGUES et al. 2006).
Contudo mesmo com o passar do século, esta situação pode ser considerada como
atual, no sentido de que os trabalhadores ainda possuem insegurança em relação ao
trabalho.
Neste mesmo período houve a implementação da forma de trabalho Taylor,
que tem como objetivo a fragmentação do serviço prestado e o aumento da produção
em massa. “O trabalho taylorizado cuja organização é tão rígida que domina não
somente a vida durante as horas de trabalho, mas invade igualmente, o tempo fora do
trabalho.” (DEJOURS1992, p 37).

Se levarmos em conta o custo financeiro das atividades fora do trabalho


(esporte, cultura, formação profissional) e do tempo absorvido pelas atividades
inelásticas (tarefas domésticas, deslocamentos), poucos são os trabalhadores e
as trabalhadoras que podem organizar o lazer de acordo com seus desejos e
suas necessidades fisiológicas ((DEJOURS, 1992, p. 45).

Com base na ideia de Dejours (1992), entende-se que quanto mais rígida for
a organização do trabalho, mais o sujeito se sentirá despersonalizado diante a ser
impedido de expor suas ideias, criatividade e tomada de decisão, fazendo com que
18

sinta-se como se fosse apenas mais uma peça dentro da empresa e não um
funcionário participante.
A maioria dos trabalhadores ignora o sentido do trabalho e o destino de sua
tarefa. A falta de sentido da tarefa individual e o desconhecimento do sentido da
tarefa coletiva só tomam a sua verdadeira dimensão psicológica na divisão e na
separação dos homens (DEJOURS, 1992, p. 40).

Dejours (1992) relata que a forma de trabalho que Taylor implementou


acaba sendo prejudicial ao sujeito, e que seria uma forma errônea de absorver com
maior qualidade e aproveitamento o trabalho do homem e seu corpo, no sentindo que
se “o operário consegue encontrar o melhor rendimento de que é capaz respeitando
seu equilíbrio fisiológico e que, desta forma, ele leva em conta não somente o
presente, mas também o futuro. ” (DEJOURS, 1992, p. 42). O funcionário conseguiria
ser mais lucrativo para a empresa e o principal respeitaria as limitações físicas,
evitando o desgaste e possíveis doenças, assim ambos sairiam ganhando.
Para Tittoni e Nardi (2008, p.70) “as condições e a organização do trabalho
ou ressaltando as experiências e vivências dos trabalhadores no seu cotidiano de
trabalho, as questões relativas à subjetividade e à saúde mental estão presentes em
estudos com trabalhadores de vários setores produtivos” sendo fatores importantes
para o estudo do sofrimento no trabalho.
Dejours (1994) informa que as investigações na área da Psicopatologia do
Trabalho centram-se, não mais na direção das doenças mentais, mas, nas estratégias
elaboradas pelos trabalhadores para enfrentarem, mentalmente, a situação de trabalho
(apud RODRIGUES et al. 2006).

A normalidade é considerada um enigma na nova dinâmica da Psicopatologia


do Trabalho, pois, a maioria dos trabalhadores não consegue preservar um
equilíbrio psíquico e manter-se na normalidade, a exceção passou a ser a
regra, ou seja, a regra hoje é o sofrimento e não a normalidade (RODRIGUES
et al. 2006).

Complementando esta ideia Dejours (1994) faz a sua consideração ao citar


“O equilíbrio seria o resultado de uma regulação que requer estratégias defensivas
especiais, elaboradas pelos próprios trabalhadores; porém, a normalidade conquistada
19

e conservada pela força é trespassada pelo sofrimento.” (apud RODRIGUES et al.


2006).
Considerando a citação de Rodrigues e Colaboradores (2006) fazem
levantar o questionamento de que devido aos fatores estressantes fazerem parte do
dia-a-dia do funcionário chega ao ponto de refletir se a normalidade que se tornou a
exceção ao meio do sofrimento em decorrência do trabalho e “da aparição de
problemas psíquicos que provocavam uma fragilização que favorecia o aparecimento
de doenças do corpo.” (HOFFMANN et al, 2017, p 262).
Diante disto, Rodrigues e colaboradores esclarecem sobre o adoecimento
psíquico

Pode então ultrapassar seus conceitos filosóficos, econômicos e sociológicos,


passando a ser definido como uma psicopatologia, sendo que a etiologia (o
agente causal) dessa psicopatologia tem sua origem nas pressões do trabalho;
pressões essas que põem em xeque o equilíbrio psíquico e a saúde mental, na
organização do trabalho (DEJOURS apud RODRIGUES et al. 2006).

Dejours (1998) afirma que as relações de trabalho, dentro das organizações,


frequentemente, despojam o trabalhador de sua subjetividade, excluindo o sujeito e
fazendo do homem uma vítima do seu trabalho (apud RODRIGUES et al. 2006).
Com base nas observações e estudos na teoria de Dejours ele afirma que

Um dos mais cruéis golpes, que o homem sofre com o trabalho é a frustração
de suas expectativa iniciais sobre o mesmo, à medida que a propaganda do
mundo do trabalho promete felicidade, e satisfação pessoal e material, para o
trabalhador; porém, quando lá adentra, o que se tem é infelicidade e, na maioria
das vezes, a insatisfação pessoal e profissional do trabalhador,
desencadeando, então, o sofrimento humano nas organizações (RODRIGUES
et al. 2006).

Um fato importante sobre o sofrimento humano no trabalho, “Não se sabe o


que significa sentir-se bem no corpo. A gente não conhece o corpo; logo, para falar
dele, é preciso que haja uma dor. Quando esta dor se torna insuportável ou torna
impossível o trabalho, somente então se decide consultar um médico” (DEJOURS,
1992, p.33).
20

A dor do corpo citado por Deujous (1992) os operários procuravam ajuda


médica quando não havia uma outra forma de suportar aquele sofrimento, ainda mais
sem entender qual a sua real causa.
Para Dejours (1998),

a primeira vítima do sistema não é o aparelho psíquico; mas, sim, o corpo dócil
e disciplinado, entregue às dificuldades inerentes à atividade laborativa; e,
dessa forma, projeta-se um corpo sem defesa, explorado e fragilizado pela
privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental (apud RODRIGUES
et al. 2006).

Nesta fala Dejours traz o questionamento sobre o adoecer do corpo, e qual o


significado disto para o homem, logo no momento em que há estigmas voltados ao não
poder trabalhar e não ser produtivo devido a uma doença que normalmente foi
decorrente do trabalho, devido a questões de insalubridade ou até mesmo local físico
ou outros fatores, pois “Para o homem a doença corresponde sempre à ideologia da
vergonha de parar de trabalhar. ” (DEJOUS, 1992, p. 33).
De acordo com Dejours (1992), o adoecer para o funcionário é como se
trouxesse para si a vergonha da impossibilidade de ser um operário produtivo e que
possa ser uma pessoa ativa financeiramente, para alguns naquela época a doença e a
ausência do trabalho era classificada como se fosse “vagabundagem” da pessoa
acometida pela enfermidade.

A doença é outra norma que altera o funcionamento do organismo, atrofiando


sua interação com o sistema vivo, e a saúde implica criar um movimento para
se restabelecer ou instituir novas normas de interação e influência mútua com
o meio. Em termos de normatividade, a saúde significa uma norma de vida
superior, enquanto a doença, um modo de vida inferior (SANTOS, 2009, p.
288).

Santos (2009, p. 287) complementa que “A saúde é a vida no silêncio dos


órgãos, corrobora com a ideia de que a disposição do organismo só se torna um
problema, uma preocupação, quando está ameaçada.”
Dejours (1992, p. 34), ainda relata que “Além da doença, a ideologia da
vergonha consiste em manter à distância o risco de afastamento do corpo ao trabalho
e, consequentemente, à miséria, à subalimentação e à morte.”.
21

Fazendo com que o trabalhador se force a qualquer custo para evitar que
fique doente, tanto fisicamente como psicologicamente. “Os indivíduos mobilizam suas
inteligências em busca de estratégias para lutar contra as adversidades do cotidiano,
as doenças, a loucura e a morte.” (SANTOS, 2009, p 287).
Para Dejours esse esforço mental que o sujeito realiza, pode-se dizer que
seja uma
Ideologia defensiva tem sempre um caráter vital, fundamental, necessário. Tão
inevitável quanto a própria realidade, a ideologia defensiva torna-se obrigatória.
Ela substitui os mecanismos de defesa individuais (DEJOURS, 1992, p. 36).

Diante a este fenômeno, Dejours (1992) informa que o homem se esforça


para se enquadrar a ter determinado comportamento que a empresa o impõe, e devido
a isso o sujeito, mesmo fora do seu ambiente de trabalho ele continua condicionado a
ser uma extensão do seu comportamento. Por tanto, considerado “Despersonalizado no
trabalho, ele permanecera despersonalizado em sua casa.” (DEJOURS, 1992, p. 46).
Para Dejours (1992),

o trabalho adquire sentido adoecedor quando sua organização não permite ao


trabalhador emprestar sua subjetividade à atividade realizada e construir um
modelo de gestão paralela para conseguir sobreviver naquele ambiente de
modo mais ou menos saudável (apud SANTOS, 2009, p. 290).

Como forma de proteger sua integridade psíquica, os sujeitos usam de


alternativas para se tornarem insensíveis as situações que ocorrem no âmbito de
trabalho, porém usam desta ferramenta apenas para de auto proteger. “É necessário
reconhecer que, de modo singular, cada indivíduo ou grupo busca encontrar na vida
mecanismos de enfrentamento para as adversidades do cotidiano. Desta forma,
mantém a integridade, diga-se saúde, física e mental.” (SANTOS, 2009, p. 288).
Santos (2009, p. 289) relata que “A partir do sofrimento, os sujeitos podem
elaborar estratégias de enfrentamento e de fuga que se caracterizam como recursos
para uma convivência saudável no espaço organizacional.”
De acordo com Dejours (1996, apud SANTOS, 2009, p. 289) o sofrimento
do ser humano pode ser classificado em dois tipos: sofrimento criativo e sofrimento
patológico, no qual o sofrimento criativo é caracterizado como sendo a luta do sujeito
22

contra o seu sofrimento, chegando a elaborar alternativas que visem resguardar e


promover a sua saúde.
Em contrapartida, o sofrimento patológico é considerado como sendo
inverso ao sofrimento criativo, pois a luta do sujeito vai em direção contraria, por mais
que busque soluções para resguardar sua saúde, as alternativas acabam sendo
desfavoráveis para a sua saúde.
Ainda sobre o sofrimento criativo e o patológico, “No primeiro caso, para o
sujeito enfrentar as adversidades encontrando satisfação na atividade realizada, e no
segundo, para não se desgastar, poupando energia, e para não se desestruturar física
e psiquicamente.” (SANTOS, 2009, p. 289).

No movimento saúde-trabalho, satisfação-insatisfação, sofrimento-prazer, os


indivíduos mobilizam suas inteligências e seus recursos disponíveis na busca
de soluções criativas para tornar a atividade desenvolvida possível e, ao
mesmo tempo, para obter resultados positivos no exercício dessa atividade
(SANTOS, 2009, p. 289).

Santos (2009, p. 289) acredita que “as estratégias defensivas só se


configurarão como mecanismo de saúde quando parte da energia pulsional oriunda da
tensão do sofrimento é canalizada para algo socialmente produtivo.”
Ao decorrer das discussões entre os autores, observamos que todos
utilizaram a teoria da psicodinâmica do trabalho de Dejours, cada um realizou suas
considerações especificas, entretanto, o que prevaleceu foi que todos foram
condizentes e de acordo com o que Dejours trabalhou acerca do tema.
23

3 ADOECIMENTO, FATORES DE ADOECIMENTO, ESTIGMAS

Ao tentar buscar alguma resposta para a problematização de pesquisa,


Dejours (1992) aborda a questão do sofrimento em um público fabril, com a
constituição da ideia ainda do Taylorismo, mesmo assim foi-se possível captar alguns
aspectos que podem ser trazidos para a atualidade e ser abordado para o público alvo
em que este trabalho acadêmico pretende estudar, levando em consideração o aspecto
normativo e patológico do adoecimento, assim como o estigma gerado em volta do
sofrimento do sujeito.
Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o
termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava
evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem
os apresentavam (GOFFMAN, 2004, p.5).

O estigma, segundo Goffman (2004), acontece quando a sociedade


normalmente possuí meios para categorizar atributos as pessoas tanto físicos e
psicológicos, e classificá-las como normais ou as que fogem desta norma, essas
categorias que a pessoa possuí são a sua identidade. Contudo a pessoa pode possuir
algum atributo que seja diferente da maioria das pessoas, e logo são consideradas
como indesejáveis, inúteis e excludentes. O termo estigma nessas situações tem cunho
valor depreciativo, por conta dessas implicações existem pessoas que se escondem
para evitar tais rótulos.
Canguilhem (2009), sobre os atributos da normalidade e patologia, afirma
que “há uma relatividade da saúde e da doença bastante confusa para que se ignore
onde termina a saúde e onde começa a doença.” (p. 71).

A fronteira entre o normal e o patológico é imprecisa para diversos indivíduos


considerados simultaneamente, mas é perfeitamente precisa para um único e
mesmo indivíduo considerado sucessivamente. Aquilo que é normal, apesar de
ser normativo em determinadas condições, pode se tornar patológico em outra
situação, se permanecer inalterado (CANGUILHEM, 2009, p. 71).

Goffman (2004) esclarece que a manipulação do estigma sempre vai estar


presente na sociedade, onde constantemente estamos colocando preconcepções nas
pessoas. Decorrente deste processo criamos inconscientemente expectativas
24

normativas que definem as normas para a identidade, tornando-se exigências, incluindo


no modo de adoecer.
Goffman (2004, p.6) esclarece “assim, deixamos de considerá-lo criatura
comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída”, potencializando
apenas as limitações e a doença que este sujeito possuí, desclassificando as suas
potencialidades. Após adoecer o sujeito é apenas visto pela doença que o acomete,
sendo deixado de lado as atribuições pessoais do indivíduo. Todos são tidos como
normais, contudo ignoramos ter feito estas exigências, até surgir um momento em que
surge uma questão factual.
Goffman (2004) pode-se considerar que todo ser humano inserido em uma
sociedade e dentro de uma cultura sofre com a questão do estigma, tanto nas
diferenças tradicionais que são aquelas significantes como nas diferenças sutis, em
consequência disso todos sofrem com o estigma de uma maneira parecida fazendo
parte do mesmo grupo, complementando o raciocínio de Goffman

“O adoecimento é também tratado de forma individual e vivenciado como algo


individual no momento em que a sua ligação com o processo e a organização
do trabalho são ocultados ou negados. A consequência é que os trabalhadores
se sentem sós e responsáveis pelo próprio adoecimento.” (TITTONI; NARDI,
2008, p.78).

Diante do estigma produzido pela sociedade o trabalhador sente-se culpado


por estar doente, e de não ter feito algo para evitar a situação. “Esta traduz-se em um
sentimento coletivo de vergonha que faz com que os trabalhadores evitem demonstrar
seu adoecimento em razão de uma concepção dominante pautada pela acusação a
quem está doente.” (TITTONI; NARDI, 2008, p.78).
Com a vergonha e o medo de se sentirem fora da norma do normal, os
trabalhadores fazem de tudo para esconder ou fingir que não estão doentes, por medo
de serem rejeitados e estigmatizados pelos seus colegas de trabalho e superiores.

O questionamento da veracidade da doença por parte dos profissionais da


saúde sugere a representação de que quem adoece é vagabundo e não quer
trabalhar, associando doença e não trabalho. A culpabilização do doente
(individualização) e o descaso com as condições e organização do trabalho
são fontes geradoras de vivências de sofrimento (TITTONI; NARDI, 2008, p.78-
79).
25

A citação acima demonstra o estigma voltado a visão da doença como se


fosse a falta de vontade de trabalhar, ou seja, o trabalhador deixa de ser produtivo para
a empresa e sendo questionado sobre a veracidade dos fatos deste adoecimento,
mediante as informações o trabalhador precisa passar uma imagem e postura
condicionada de um trabalhador que traz para a empresa apenas lucro.
Para Dejours (1992, p. 46) “O homem inteiro que é condicionado ao
comportamento produtivo pela organização do trabalho, e fora da fábrica, ele conserva
a mesma pele e a mesma cabeça.” A citação explica que a profissão de professores,
que após o término de sua jornada de trabalho, muito destes profissionais levam para
suas casas trabalho, ou seja, existe uma continuação das obrigações.
O comportamento que este profissional desenvolveu no trabalho fica
condicionado a possuir o mesmo comportamento na sua vida pessoal, sendo assim há
diminuição do tempo livre e despersonalização deste profissional na vida pessoal. “O
tempo fora do trabalho não seria nem livre e nem virgem, e os estereótipos
comportamentais não seriam testemunhas apenas de alguns resíduos anedótico.”
(DEJOURS, 1992, p. 46).
Seria como se o sujeito fosse visto e até mesmo se considera apenas com a
sua personalidade profissional por tempo integral, esquecendo-se de sua subjetividade
e personalidade apenas como sujeito. “Este sofrimento pode ser incrementado pelo
fato de que o trabalho reflete na vida privada dos profissionais da educação superior, e
consequentemente na vida social destes trabalhadores.” (ROZENDO; DIAS, 2013, p.
628).
Completando o raciocínio Dejours (1992, p. 47) fala que seria “uma espécie
de vigilância permanente para não deixar apagar o condicionamento mental ao
comportamento produtivo.” Diante disto existe a contaminação do tempo que deveria
ser livre, mas a ideia principal seria a impossibilidade do sujeito ser espontâneo, como
se sua personalidade como um indivíduo singular ficasse encoberta pela imagem
profissional que este possuí dentro da instituição de trabalho.
26

Tudo se passava como se o trabalho físico, isto é, a atividade motora, fosse


regulada, modulada, repartida e equilibrada em função das aptidões e do
cansaço do trabalhador por intermédio da programação intelectual espontânea
do trabalho [...]o corpo obedecia ao pensamento, que por sua vez era
controlado pelo aparelho psíquico, lugar do desejo e do prazer, da imaginação
e dos afetos.” (DEJOURS, 1992, p. 43).

Este funcionário está sendo conduzido inconscientemente a manter um


estado de vigilância, o corpo pode ser visto da maneira fisiológica e psicológica, o
homem que fica em constante estado de alerta pode vir um dia a padecer, pois o corpo
não vai ter sempre a mesma energia para que o estado de alerta permanece ativo
constantemente.
Canguilhem (2009) complementa que “O indivíduo é que avalia essa
transformação porque é ele que sofre suas consequências, no próprio momento em
que se sente incapaz de realizar as tarefas que a nova situação lhe impõe.” (p. 71).
Pois para o autor, entende-se que para o indivíduo ter suas funções fisiológicas e
psicológicas consideradas normais deve-se haver um equilíbrio do corpo, sem excesso
ou falta, assim se mantém no estado normal, ou seja, equilibrado.
A ideia do normal e do patológico estão sempre interligados, sendo apenas
o sujeito que pode distinguir como está o seu estado de saúde. Haja vista que é
variável a situação para cada indivíduo acerca da patologia, pois esta é vivenciada e
compreendida da maneira singular pelo sujeito, “portanto, é preciso começar por
compreender que o fenômeno patológico revela uma estrutura individual modificada. É
preciso ter sempre em mente a transformação da personalidade do doente.”
(CANGUILHEM, 2009, p. 72).
Para Canguilhem (2009, p.18) “o fenômeno patológico tem sempre seu
análogo em um fenômeno fisiológico, não constituindo nada de radicalmente novo”.
Entende-se que para o indivíduo ter suas funções fisiológicas e psicológicas
consideradas normais deve-se haver um equilíbrio do corpo, sem excesso ou falta,
assim se mantém no estado normal, ou seja, equilibrado.
Não há uma regra para existir o sofrimento ou não no individuo decorrente
ao trabalho, “cada indivíduo possui individualidade histórica e que o trabalho faz parte
da história dos homens. Nesta visão, todo indivíduo é portador de inúmeras
27

capacidades em suas relações com o trabalho e ao executar qualquer tarefa transmite


afeto e subjetividade ao produto.” (ROZENDO; DIAS, 2013, p. 264).
Fazendo-se entender que o trabalho causando sofrimento ou não, é
necessário para a identidade do sujeito, assim como sentimento de pertencimento a
um grupo e sensação de utilidade. Vieira (2014, p.117) confirma isto ao citar “o trabalho
ocupando uma centralidade na constituição da identidade do indivíduo e implicação na
interação social.”
Rozendo e Dias (2013, p. 629) consideram que “o processo de saúde e
doença é também construído no trabalho, de natureza biológica, psicológica e social.”
Existem diferenças no modo de reagir as adversidades do trabalho, pois os sujeitos
interpretam de maneira individual, dependendo da história de vida de cada um, pois
“Mesmo intenso, o sofrimento é razoavelmente bem controlado pelas estratégias
defensivas, para impedir que se transforme em patologia. Resta saber se as
descompensações são sempre evitáveis ou evitadas” (DEJOURS, 1992, p. 120).
Pois, Dejours (1992) e Canguilhem (2009) acreditam no sofrimento causado
pelo trabalho, para Dejours o sofrimento tem cunho fisiológico e psicológico, enquanto
que Canguilhem tem um olhar mais voltado para a medicina.
Para isso Canguilhem (2009, p.18) explica melhor a sua teoria “A distinção
entre o normal e o fisiológico e o anormal ou patológico seria, portanto, uma simples
distinção quantitativa, se nos prendermos aos termos excesso e falta. Essa distinção é
válida para os fenômenos mentais, assim como para os fenômenos orgânicos”
Podemos neste momento refletir que nem sempre o sofrimento pode ser
visto, pois os profissionais criam defesas para tentarem, de certa forma, conseguir lidar
com suas insatisfações e frustações, evitando que venham adoecer mediantes
processos de sublimação, sendo confirmada pela citação “as neuroses, psicoses e
depressões em situação de trabalho são compensadas, precisamente, pela utilização
dos sistemas defensivos. ” (DEJOURS, 1992, p 120).

Relação homem-organização do trabalho: a fadiga, que faz com que o aparelho


mental perca sua versatilidade; o sistema frustração agressividade reativa, que
deixa sem saída uma parte importante da energia pulsional; a organização do
trabalho, como correia de transmissão de uma vontade externa, que se opõe
aos investimentos das pulsões e às sublimações... (DEJOURS, 1992, p. 122).
28

Com a citação da obra de Dejours (1992) entende-se que além dos aspectos
pessoais também existem os aspectos externos que possam fazer com que o
profissional desenvolva a frustação, podendo ocasionar sintomas que poderão
posteriormente a vir desenvolver algum sintoma de adoecimento.
“Até indivíduos dotados de uma sólida estrutura psíquica podem ser vítimas
de uma paralisia mental induzida pela organização do trabalho.” (DEJOURS, 1992,
p.45). Ao analisarmos a citação de Dejours, pode-se dizer que não há distinção de
classes econômicas ou intelectuais, em algum momento da vida o sujeito pode sofrer
em decorrência ao trabalho.
Mesmo os profissionais que possuem um grau de conhecimento sobre
adoecimento psíquico, docentes que também são psicólogos, esses trabalhadores
também podem ser acometidos e se encontrarem nesta situação, se percebendo ou
não como um profissional que sofre em virtude ao trabalho.
Para Rozendo e Dias (2013, p. 625) “A saúde mental destes profissionais é
comprometida, pois as angústias e insatisfações estão presentes no âmbito do trabalho
docente, podendo ser a instituição, a convivência, a burocracia, a alienação, a
remuneração, a incapacidade de mudança, as intensificações do ritmo de trabalho”

Os fatores como sobrecarga do trabalho em docentes fazem com que o


trabalho deixe de ser prazeroso em virtude das dificuldades diárias, “as exigências
excessivas aliadas à falta de recursos, a burocratização do trabalho, a cultura de
avaliação, a falta de tempo para si tem levado ao adoecimento.” (HOFFMANN et al,
2017, p.257).
Neste sentido, a saúde mental destes profissionais é condição por ser de
extrema responsabilidade para a educação, sendo sua função além de
informativa e comunicativa um compromisso com a formação dos sujeitos
humanos de maneira contínua. (ROZENDO; DIAS, 2013, p. 625).

Mesmo havendo o conhecimento da importância da saúde mental dos


professores para se obter um trabalho de qualidade, continua sendo uma profissão
com alto índice de adoecimento. “A precarização do trabalho docente das IES e a
29

cultura do produtivismo como fatores que permeiam as rotinas de trabalho e colaboram


para o adoecimento” (HOFFMANN et al, 2017, p.262).
Dentre os professores de IES, existe a categoria dos professores da área do
curso de psicologia, estes mesmos profissionais estão inseridos na mesma rotina de
trabalho em que o produtivismo parece ser mais prioridade em relação a qualidade de
ensino.
Devido a insuficiência de material em que aborda o sofrimento em docentes
do curso de psicologia, apenas através das entrevistas realizadas e com a análise dos
resultados pode-se ter uma ideia de como eles se percebem dentro desta dinâmica.
30

4 METODOLOGIA

A pesquisa deu-se através dos procedimentos de pesquisa bibliográfica na


qual Santos (2012) explica que a pesquisa bibliográfica é constituída a partir de
documentos já elaborados e publicados, podendo ser em forma de livros físicos ou
encontrados na internet, são obras consideradas públicas, onde podem ser
pesquisadas em sites de trabalhos científicos, na plataforma Scielo.
Trata-se de uma pesquisa que tem como método a forma qualitativa, pois
trabalha com aspectos subjetivos dos sujeitos pesquisados, mediante a qual foi
abordado aspectos e “situações nas quais a evidência qualitativa é usada para captar
dados psicológicos que são reprimidos ou não facilmente articulados como atitudes,
motivos, pressupostos, quadros de referência” (HAGUETTE, 1992, p.64).
Os objetivos foram estudados na forma descritiva, pois “as pesquisas
descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre
variáveis”. (GIL, 2002, p.42)
“São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma
de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas
de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática”. (GIL, 2002,
p.42)
Sendo desta forma a técnica de análise utilizada foi a observação
sistemática, na qual requer possuir, “observação planejada, estruturada ou controlada
e sugere um planejamento prévio, um plano de ação e uma avaliação dos resultados”
(SANTOS, 2012, p.172).
A metodologia deste trabalho trata-se de um estudo de caso, que
caracteriza-se, “estes estudos têm por objetivo aprofundarem a descrição de uma
determinada realidade. ” (TRIVIÑOS, 1987 p. 110) A realidade que foi estudada refere-
se a uma amostra por conveniência de 2 professoras de uma instituição de ensino
superior particular.
Triviños (1987, p. 111) afirma que o “estudo de caso fornece o
conhecimento aprofundado de uma realidade delimitada que os resultados atingidos
31

podem permitir e formular hipóteses para o encaminhamento de outras pesquisas. ” A


realidade delimitada deste trabalho é a IES e como estas professoras e psicólogas se
percebem em meio ao sofrimento ocasionado pelo trabalho da docência.
O método de entrevista escolhida para a coleta de informações e dados
utilizada foi a estruturada pois tem como função “ obter, dos entrevistados, respostas
às mesmas perguntas, permitindo que todas elas sejam comparadas com o mesmo
conjunto de perguntas, e que as diferenças devem refletir diferenças entre os
respondentes e não diferenças nas perguntas" (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.197).
Esta pesquisa compreende aspectos subjetivos dos sujeitos, fazendo com
que os entrevistados se sintam livres para expor suas experiências e emoções acerca
do tema abordado de acordo com as perguntas realizadas no formulário.
O local escolhido para realizar a pesquisa foi uma instituição de ensino
superior particular localizada na cidade de Fortaleza, Ceará em que a pesquisadora
responsável por esta pesquisa concluiu a graduação, tem como sujeitos envolvidos
professores do curso de Psicologia.
O recrutamento dos entrevistados ocorreu por meio de solicitação para a
participação por e-mail, convidando o professor a participar da entrevista, os
entrevistados são profissionais da mesma instituição de ensino superior.
Foi realizado um encontro individual, de acordo com o discurso e disponibilidade
dos profissionais, no encontro foi realizada a aplicação de uma entrevista sobre a
psicodinâmica do trabalho, no qual foram levantados problematizações e
questionamentos, como duvidas e certezas sobre o tema, foram realizadas entrevistas
com 2 profissionais de forma individual.
Tendo como critérios de inclusão funcionários do sexo feminino, relevando
possuir maior número de profissionais nesta área, que trabalham na instituição a partir
de 2 anos efetivos, seja responsável por lecionar mais de uma disciplina no curso de
psicologia, tenha considerável envolvimento nas atividades acadêmicas da instituição
assim como com seus alunos.
O registro do discurso dos entrevistados se deu através do uso de um
gravador, sendo registrados todas as respostas, opiniões e até possíveis
levantamentos e dúvidas a respeito da temática. Todos os profissionais selecionados
32

concordaram em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, no qual foi


explicado para os entrevistados da pesquisa que seus nomes não serão revelados
para assim manter o sigilo dos profissionais.
Sempre seguindo as normas regulamentadoras de pesquisa com seres
humanos, “respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia,
reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e
permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e
esclarecida” (CNS/MS, 2012).
33

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A coleta de dados ocorreu por meio de uma entrevista estruturada que


visava obter respostas de cunho qualitativas dos entrevistados, o formulário de
entrevista foi estruturado em quatro perguntas que tinham como objetivo compreender
a percepção do profissional acadêmico, enquanto psicólogo, acerca da existência e
reconhecimento do sofrimento decorrente ao trabalho, uma percepção individual assim
como dos demais colegas de trabalho acerca do sofrimento e quais os mecanismos de
defesa elaborados individualmente pelo profissional, assim como os mecanismos de
defesa elaborados em grupo.
O convite para as docentes do curso de psicologia foi realizado para oito
professoras com o intuito de obter pelo menos 4 entrevistas, mas não houve o
interesse diante a pesquisa, e até mesmo a recusa. Por fim apenas duas professoras
deram resposta positiva sobre a entrevista.
A partir disso foram entrevistadas duas docentes, idades em média acima de
30 anos, com experiência na área acadêmica no mínimo de 7 anos, e com experiência
em atendimento de forma clínica, a finalidade das entrevistas seriam confirmar ou
refutar a abordagem teórica aplicada neste trabalho acadêmico.
As entrevistas foram analisadas de forma individual e posteriormente
comparadas as informações entre ambas, na qual fazem-se complementação uma de
outra com a teoria.
Ambas as docentes e psicólogas entrevistadas, cuja a identidade foi
preservada e serão mencionadas a partir de agora pelas siglas D.L.M.S e R.C.M,
afirmaram que existe a percepção de sofrimento causado pelo trabalho.

D.L.M.S: “eu como professora e psicóloga se percebo se existe um sofrimento


no ambiente acadêmico devido ao trabalho, sim, sem dúvida, é independente
de ser professora psicóloga né como docente do ensino superior”.

R.C.M: “então a carga horária excessiva acabava e a intensidade desse


trabalho, é porque 60 alunos são muitas provas, acabava me trazendo um
adoecimento psíquico, eu via a nível mais de estresse, no meu caso porque eu
gostava muito da minha profissão [...], mas ficava estressada, não tinha como,
que é muita coisa, principalmente você sente estressado entendeu”.
34

Diante as informações obtidas, Rozendo e Dias (2013) confirmam ao citar


que de fato os professores

Revelam sofrimento psíquico vinculado a características do ambiente e


condições de trabalho nas instituições acadêmicas de ensino superior,
apresentando influencias das relações sociais no contexto laboral e no
desempenho da função de docência, e indicando que a relação entre o
trabalho e o psiquismo vincula-se profundamente com a saúde física e mental
dos professores universitários. (ROZENDO; DIAS, 2013, p.626)

Existe também a exaustão em decorrência da carga horaria e o excesso de


trabalho a ser realizado para além da instituição, no sentindo de obrigação do trabalho
ser realizado em casa também. Para além das atividades acadêmicas como estarem
sempre atualizados, sendo a fala da entrevistada D.LM. S, “se atualizando e tendo que
estudar, tendo que estar sempre antenado ao que surge, nesse sentido existe esse
contexto de trabalho que por si só já é digamos já é propício a adoecimento”
Diante disto Rozendo e Dias (2013, p.627) confirmam tal fato ao relatarem,
“este sofrimento agrava-se com as inovações tecnológicas na contemporaneidade, pois
se tornam obrigatórias novas formas de saber.”
As entrevistadas também ressaltaram adoecimentos para além da esfera
psicológica, mas também como sintomas físicos.

D.L.M.S: “ percebo isso, esse sofrimento né, esse adoecimento tanto em mim
como nos colegas em termos de nível de adoecimentos, adoecimentos mesmo
físicos como doenças, pegar viroses facilmente, crises de enxaqueca,
problemas gastrointestinais, alergia e o sofrimento mais no aspecto psicológico
psíquico, como com sintomas de depressão. ”

R.M.C: “eu tinha muita faringite, enxaqueca, cansaço físico mesmo era muito
cansada eu era sonolenta porque meu organismo não aguentava aquilo tudo,
porque hoje principalmente eu entendo que a gente realmente precisa
descansar, precisa do seu tempo livre do seu ócio se não seu corpo ele não
aguenta, então sofrimento e adoecimento sim”.

Diante as falas, pode-se confirmar este sofrimento físico e psíquico,

Trabalho nas instituições acadêmicas de ensino superior, apresentando


influencias das relações sociais no contexto laboral e no desempenho da
função de docência, e indicando que a relação entre o trabalho e o psiquismo
vincula-se profundamente com a saúde física e mental dos professores
universitários. (ROZENDO; DIAS, 2013, p.626)
35

Hoffman et al (2017) complementa ao citar “ao incorporar tal realidade o


trabalho docente legitima o sofrimento que parece ser indissociável a própria
existência, articulado sob o prisma da produtividade e do desempenho”. Em
conformidade ao que Hoffman et al (2017) traz sobre a produtividade e desempenho,
uma das professoras citou sobre tal fato.

R.C.M: “nós professores somos horistas, então quanto mais você trabalha mais
você ganha, quanto menos você trabalha menos e ganha é uma coisa fixa,
assim fixa só aquele semestre né, mas enfim essa questão que acaba te
levando nessa roda de querer trabalhar as mais para ganhar um pouco mais
dinheiro”.

Sobre a temática do sofrimento dos colegas houve a percepção por parte de


ambas as docentes, mas uma relatou tal fato com mais precisão nesta situação.

R.C.M. “noto que as pessoas, que os colegas que ainda não tem um trabalho
assim pessoal de psicoterapia e não conseguem entender que ensinam alunos
[...] tem professor que ensina adulto mas quer mandar na vida do aluno né, fica
estressado por que não entregou trabalho, fica estressado porque não fez o
trabalho direito, fica estressado porque não tá indo para aula, gente ele é
adulto, ela escolhe o que ele quer, não é uma criança que tem que ficar no pé
assim né, então esses ainda fica mais doente do que eu”.

Sobre a percepção de mecanismos de defesa em grupo, ambas as docentes


também perceberam a constituição e sua eficácia, apesar de uma ter total percepção e
outra ser de forma mais sutil.

D.M.L.S: “pelo menos o meu grupo a gente encontra, não constantemente,


mas eventualmente algumas estratégias que podem parecer bem bobas, e
simples, mas é elas funcionam pelo menos para mim né de alguma forma, elas
minimizam esse estresse, que às vezes a gente se encontrar, durante o dia a
mesma rotina tomar um café, e conversar sobre assuntos que não são
relacionados ao ambiente laboral né, rir um pouco e contar piadas, ou seja,
falar amenidades para tentar dissipar um pouco essa pressão essa cobrança
que acaba gerando sofrimento e adoecimento.”

R.M.C: “aí na hora do jantar gente se sentava muitas vezes juntos com os
meus colegas, entendeu, tomar um café ali na cantina a gente faz esse tipo de
coisa daí tinha, mas eu também tenho, eu acho que é muito movimento mesmo
do grupo de tentar sair, nessas horas a gente conversa sobre os meus
problemas na Instituição, dificuldades com os alunos também alguns problema
pessoal”.
36

R.M.C ainda citou um ocorrido pessoal:


“eu tava começando a não querer ficar dentro da sala de aula, tava sentindo
muita ação de aula com os alunos, mas eu sabia que era estresse, mas a
minha colega me viu que eu tava muito mal no intervalo, aí ela perguntou para
mim, e falei que estava tão estressada que eu não estava nem conseguindo
ouvir a voz dos alunos para entregar as provas e eu não estava bem e ela
disse que entregaria por mim, e falou para descansar.”

A docente encarou tal acontecimento como sendo a ajuda dos integrantes do grupo de
professores entre si, visando o bem-estar do outro.
Na maioria das questões ambas as professoras concordaram em grande
parte das perguntas e tiveram respostas parecidas e em algumas estavam interligadas,
porém houve informações que foram bem particulares de cada entrevistada.
D.M.L.S cita que:

“os alunos eles nos solicitam uma atenção para além da relação professor-
aluno, deixa eu tentar explicar, é muitos solicitam que a gente escute os seus
problemas, alguns entram no curso acreditando que o curso é para resolver os
seus problemas existentes, problemas psicológico dos familiares e aí eles
solicitam demais né, a nossa atenção sentir de ouvir de dar orientação de dar
conselhos da encaminhamento né, porque na percepção deles, é, nós temos
também essa função né.”

De certa forma, esta visão do profissional docente e psicólogo para além da


esfera professor-aluno, faz com que o profissional fica mais ainda sobrecarregado
diante todas as demandas. Sendo confirmada pela teoria que cita, “em relação ao
indivíduo, é considerado elemento fundamental no processo ensino-aprendizagem cuja
atenção e experiência do professor irão influenciar diretamente o destino deste
profissional “. (HOFFMAN et al, 2017, p.258)
R.M.C ainda relatou um assunto corriqueiro no meio acadêmico, as
avaliações do ENADE, no qual foi observado que causava bastante incomodo em
relação aos procedimentos que eram impostos.

“Por conta do sistema Enade avaliação, querem que a gente monte banco de
questões para faculdade, o estilo do Enade, são questões complexas e difíceis
de montar entendeu, e não dão um treinamento para isso, assim apenas dizem
façam e não dizem muito bem como, então por conta dos bastidores tem uma
série de pressões também além de querem que a gente faça coisas que
atraiam os alunos ao curso, pessoas novas matrículas naquele curso, curso de
extensão, palestra, assim querem que a gente dê conta de todos os contatos
37

sendo que a gente já tem todas as carga pesada para dar conta do dia a dia de
sala de aula mesmo”.
Vieira (2014) confirma ao falar “os professores estão imersos em um conflito
cotidiano entre o que é exigido, o que desejam e o que realmente é possível fazer
diante dos obstáculos, das condições e da organização atual do trabalho.” (p.117)
Dejours (1992) também contribui teoricamente acerca da discussão
levantada pela professora R.M.C, ao citar “ em certas condições emerge um sofrimento
que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos,
de esperanças e de desejos e uma organização do trabalho que os ignora” (p.24 apud
HOFFMAN et al, 2017, p.268)
Outro ponto citado pela entrevistada R.C.M. foi:

“nunca vi treinamento para uma melhor relação professor-aluno, como você


cuidar da sua saúde, uma conversa sobre isso, então para você que na minha
experiência ouvir só teve uma vez que levaram ao fonoaudiólogo achei muito
bom treinamento de técnica vocal.”

Diante a fala, Vieira (2014, p. 117) confirma ao citar que tudo isso decorre de
uma “série de fatores relacionados ao adoecimento: o tipo de trabalho exercido, tendo
em vista a responsabilidade [...], o excesso de trabalho, à perda da autonomia, a
sobrecarga de trabalho burocrático, ao quadro social e econômico.”
Sendo assim, foi possível confirmar com a teoria abordada neste trabalho os
aspectos sobre a percepção do sofrimento e a visão das docentes do curso de
psicologia sobre a sua vivencia acadêmica, questionamentos e possíveis melhorias
para evitar maiores danos psíquicos.
38

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos questionamentos levantados em relação a temática, A Percepção


do adoecimento psíquico em docentes do curso de Psicologia: Um estudo de caso,
este estudo poderá como material de pesquisa dar continuidade ao estudo do tema.
A questão de pesquisa que norteia este trabalho é: por tratar-se de docentes
da área de psicologia, estes possuem mais facilidade em perceber problemas
psíquicos decorrentes ao seu trabalho.
O objetivo geral deste trabalho foi investigar a psicodinâmica do trabalho na
área acadêmica com profissionais do curso de psicologia, e este foi entendido que na
dinâmica de trabalho desses docentes existe a presença de um sofrimento, psíquico e
físico, sendo comprovado através dos relatos das entrevistadas, que este sofrimento
ocasiona exaustão e doenças físicas tais como gripes, enxaquecas, doenças
gastrointestinais e até depressão.
Um dos objetivos específicos deste trabalho, que pretende analisar
professores da área de psicologia, se estes desenvolviam mecanismos de defesa para
tornar a vida profissional mais saudável, e foi entendido após as entrevistas, que sim,
que as professoras tentam encontrar maneiras de forma consciente e inconsciente um
alivio para a sobrecarga do trabalho. Variando da maneira mais simples, através da
realização de atividades diárias que trazem prazer, como também a psicoterapia.
Outro objetivo especifico desta pesquisa foi verificar se os docentes área de
psicologia conseguiam elaborar estratégias em grupo para enfrentar possíveis
adoecimentos psíquicos decorrente do trabalho, e foi possível confirmar através da
amostra. As profissionais relataram momentos em grupo, como sendo uma forma de
amenizar a sobrecarga e estresse do trabalho.
Nas instituições de ensino superior particular, as estratégias criadas em
grupo por mais que sejam simples elas fazem com que os profissionais tenham
naquele momento uma maneira de tornar o ambiente de trabalho, com suas
responsabilidades e cobranças mais leve.
Diante dos estudos, despertou-se a preocupação em aprofunda-se na
temática com o intuito de refletir acerca de possíveis intervenções futuras, que poderão
39

ser realizadas com professores, com o intuito diminuir o desgaste físico e adoecimento
psíquico.
Através das entrevistas foi possível observar que apesar do número restrito
de entrevistados, estes profissionais têm a percepção de estarem inseridos nesta
dinâmica de trabalho, que causa adoecimentos.
Sugere-se que é necessário fortalecer o olhar para aqueles profissionais que
ainda não possuem esta percepção, que não conseguem ver uma possibilidade de
manter uma estratégia de defesa para que venha amenizar esse sofrimento.
Que pode vir a fortalecer a ideia, de que o professor é um ator importante na
trajetória de seus alunos, reconhecido pela sua relevância social, e este profissional
necessita deste reconhecimento, afim de aflorar o sentimento de mais valia e de um
trabalho bem feito, e que há um sentindo em fazê-lo.
Diante do estudo e da análise dos resultados, que reafirma o adoecimento
psíquico e todos os seus fatores e o que eles podem acarretar no indivíduo,
recomenda-se que as instituições de ensino superior realizem trabalhos que viabilizem
a prevenção do sofrimento psíquico, no intuito de diminuir reduzir o afastamento dos
profissionais de suas funções em decorrência desse adoecimento.
Sugere-se também, entender até que ponto ultrapassa o limiar do saudável
as pressões realizadas pelas instituições sobre o profissional, deixando-se a ideia de
que o trabalho pode ter uma maior qualidade laboral e mais prazeroso se houver um
equilíbrio em relação ao professor expor seus projetos e desejos e a instituição saber
lidar de maneira mais acolhedora em relação as inovações e ideias dos professores
diante os alunos.
Analisando não apenas o aspecto do profissional e institucional, mas
também a relação professor e aluno, propõe-se refletir a importância de uma boa
ligação, mas sem fazer com que o profissional se sinta sufocado com as atividades,
evitando criar uma relação que transpassa a visão de professor e aluno.
Profissionais que estão saudáveis, fisicamente e psicologicamente podem
trabalhar melhor, desenvolvem o sentimento de que o trabalho em si possui relevância,
desenvolvendo o sentimento de prazer e realização pessoal.
40

Preconiza-se aos profissionais compreenderem que por mais que seu


trabalho tenha uma responsabilidade, o desejável seria refletir sobre suas atuações
laborais, e buscar a compreensão de qual seja o limiar do que realmente deve ser feito
como sujeito e profissional e o que extrapola a atividades para além de sua função
como docente.
Espera-se que este trabalho tenha respondido ao que se propôs estudar
inicialmente, e que possa vir a incentivar às novas pesquisas em relação aos docentes
do curso de psicologia, entender melhor a dinâmica de trabalho e aprofundar em
possíveis melhorias na dinâmica laboral e questionamentos que foram abordados nesta
pesquisa.
41

REFERÊNCIAS

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Ações Programáticas Estratégicas. Doenças relacionadas ao trabalho - Manual de
Procedimentos para os Serviços de Saúde. Brasília, 2001. 580 p. (Série
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<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3114962/mod_resource/content/1/O_Normal_e
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Cientifica Eletrônica de Psicologia. Ano IV – Número 7 – Novembro de 2006.
Faculdade de Ciências da Saúde de Garça FASU/FAEF. Ed. FAEF. Garça/SP.
Disponível
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42

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Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1415-47142014000100009>. Acesso em: 20
out. 2018.
43

APÊNDICE
44
APÊNDICE A - termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

CENTRO DE ESTUDOS APLICADOS – CESA


COORDENAÇÃO DO NÚCLEO – LATO SENSO
CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO
TURMA XI

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pesquisador(a): Gabriela Rodrigues Araújo - CRP 11/12560

Esta pesquisa intitulada PSICODINAMICA DO TRABALHO: COMPREENSÃO DO


FENÔMENO DO ADOECIMENTO PSÍQUICO EM DOCENTES DO CURSO DE
PSICOLOGIA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE FORTALEZA tem
como objetivo principal realizar um estudo que busca compreender e investigar a psicodinâmica
do trabalho na área acadêmica com professores do curso de Psicologia, observando se estes
possuem mecanismos de defesa para tornar a profissão mais saudável à sua saúde psíquica, e
verificar se docentes da área de Psicologia conseguem elaborar estratégias em grupo para
enfrentar possíveis adoecimentos psíquicos decorrente do trabalho.
Esse trabalho é parte da Monografia da autora. A divulgação do trabalho terá finalidade
acadêmica. A participação é voluntária, cabendo aos participantes o direito de retirar-se do
estudo em qualquer momento, sem prejuízo algum e sendo garantido o sigilo da identificação
dos participantes.
Diante disso, pedimos a colaboração para responder as perguntas, lembrando
que a sua participação nessa pesquisa é livre e espontânea, podendo ser interrompida a qualquer
momento, se assim for de sua vontade.

Eu, declaro
ter sido informado(a) e concordo em participar, como voluntário da presente pesquisa.

Data: / / .
CONTATO: Se você tiver alguma dúvida em relação a este estudo, poderá entrar em contato
com a pesquisadora Gabriela Rodrigues Araujo por meio do telefone (85) 3225-8729 da
Secretaria Centro de Estudos Aplicados – CESA, Coordenação do Núcleo – Lato Senso, do
Curso de Especialização em Psicologia Organizacional e do Trabalho, Turma XI, situada Av. Dr.
Silas Munguba, 1700 - Campus do Itaperi, Fortaleza – CE.

ENTREVISTA:

1. Você, como professora e psicóloga, possuí a percepção que existe um


sofrimento/adoecimento pessoal devido ao trabalho? Se sim, de que forma?

2. Consegue perceber o sofrimento/adoecimento dos seus colegas de trabalho que são


professores? Como isso ocorre?

3. Percebe se existe alguma estratégia de defesa pessoal que você utiliza para evitar o
sofrimento? Quais seriam elas?

4. Consegue perceber se existe alguma estratégias de defesa criada em grupo para


evitar o sofrimento? Quais seriam?
Entrevista 1 – 23/10/2018 – D.L.M.S.

Entrevistadora: Bom dia, a gente vai realizar entrevista do curso de Pós-Graduação da


UECE, o trabalho com o tema sobre a psicodinâmica do trabalho compreensão do
fenômeno do adoecimento psíquico em docentes do curso de psicologia de uma
instituição de ensino superior de Fortaleza.

Eu queria saber de você as suas percepções como profissional, como sujeitos inseridos
nessa dinâmica sobre a questão do adoecimento, se você percebe o adoecimento no
trabalho, se há uma forma de estratégias em grupos também, assim como estratégias
de defesas pessoais.

Entrevistada: Tá, então vamos lá, se eu como professora e psicóloga se percebo se


existe um sofrimento no ambiente acadêmico devido ao trabalho, sim, sem dúvida, é
independente de ser professora, psicóloga né, como docente do ensino superior, eu
percebo um ambiente que gera bastante cobrança, que gera, que solicita de nós
docentes um esforço muito grande tanto física como mental, a questão da carga
horária, a questão do cumprimento de prazos na questão do demanda de disciplinas,
sabendo que o professor além de trabalhar em sala de aula ele trabalha em casa,
preparando as aulas, preparando as avaliações, corrigindo provas e relatórios, se
atualizando e tendo que estudar, tendo que está sempre antenado ao que surge, nesse
sentido existe esse contexto de trabalho que por si só já é digamos, já é propício a
adoecimento e como professora de psicologia, percebo detalhes que a questão de que
os alunos eles nos solicitam uma atenção para além da relação professor-aluno, deixa
eu tentar explicar, é muitos solicitam que a gente escute os seus problemas, alguns
entram no curso acreditando que o curso é para resolver os seus problemas existentes,
problemas psicológico dos familiares e aí eles solicitam demais né, a nossa atenção
sentir de ouvir de dar orientação de dar conselhos da encaminhamento né, porque na
percepção deles, é, nós temos também essa função né. E isso eu considero uma
exaustão também, uma exaustão emocional né, que é uma sobrecarga para além da
rotina né da dinâmica de ser professor, percebo isso, esse sofrimento né esse
adoecimento tanto em mim como nos colegas em termos de nível de adoecimentos,
adoecimentos mesmo físicos como doenças, pegar viroses facilmente, crises de
enxaqueca, problemas gastrointestinais, alergia e o sofrimento mais no aspecto
psicológico psíquico, como com sintomas de depressão, com nível de estresse
exacerbado, às vezes com comportamento mais irritado, mais facilmente irritável né,
então acredito que isso tudo é fruto desse contexto. Em estratégias de defesa pessoal
assim que utilizo, é complicado né por conta das cobranças, eu particularmente assumo
outras coisas além do que é da academia né, da universidade, coisas de psicóloga
autônoma, que também acabam por exacerbando esse quadro, mas eu tento dosar,
assim dosar momentos de relaxamento, momentos em que eu tento desligar de tudo de
todas essas atribuições, de realmente me isolar né, me direcionar mais para minha
família, para questão do autocuidado, então durante o dia eu tenho que pelo menos
tirar um momento para esse momento de autocuidado né, de cuidar de mim. E assim
até de maneira informal em grupo enquanto professores pelo menos o meu grupo a
gente encontra, não constantemente, mas eventualmente algumas estratégias que
podem parecer bem bobas, e simples, mas é elas funcionam pelo menos para mim né
de alguma forma, elas minimizam esse estresse, que às vezes a gente se encontrar,
durante o dia a mesma rotina tomar um café, e conversar sobre assuntos que não são
relacionados ao ambiente laboral né, rir um pouco e contar piadas, ou seja, falar
amenidades para tentar dissipar um pouco essa pressão essa cobrança que acaba
gerando sofrimento e adoecimento.
Entrevista 2 – R.C.M. – 23/10/2018

Entrevistadora: Boa tarde vamos iniciar a pesquisa da do curso de psicologia


organizacional e do trabalho com o tema psicodinâmica do trabalho compreensão do
fenômeno do adoecimento psíquico em docentes do curso de psicologia de uma
instituição de ensino superior, você como professora psicóloga qual Sua percepção
sobre o trabalho se causa o adoecimento e quais são as suas técnicas de defesa de
estratégias de defesa pessoal e como é o seu olhar em relação ao grupo do trabalho
também.

Entrevistada: Vamos lá né, é a profissão de professor universitário, eu percebo a assim


profissão que particularmente eu me identifico muito, gosto muito de estar em sala de
aula, é aquela coisa assim que eu me lembro que tinha dias que eu estava assim as
vezes cansadas, desmotivada, passando por algum problema, mas quando eu entrava
em sala de aula passava, então para mim realmente é uma profissão que me motiva
que me traz paixão e eu acho que isso é o que fazia eu aguentar o dia a dia na
universidade a nível de estresse e adoecimento mesmo, esse último, esse ano eu estou
afastada né, fui demitida final do ano então tem quase um ano aí que eu me afastei,
mas eu acho que eu ainda estou me recuperando de tudo que foi, eu fiquei 7 anos
saindo de uma faculdade para outra mas por fim eu tava em duas universidades, eu
tinha uma carga horária de 39 horas em sala de aula, dentro da sala de aula, e tinha
mais de 10 horas administrativas né, para projetos e tal, que também me tomava um
tempo né, mas não era isso em sala de aula, só que eu tinha uma carga horária muito
extensa, quê que acontece que observa nós professores somos horistas, então quanto
mais você trabalha mais você ganha, quanto menos você trabalha menos e ganha é
uma coisa fixa, assim fixa só aquele semestre né, mas enfim essa questão que acaba
te levando nessa roda de querer trabalhar as mais para ganhar um pouco mais dinheiro
porque capitalismo na gente acaba se encantando, aí com a questão financeira para
poder enfim né, ter uma melhor qualidade de vida, acesso a mais bem serviços né,
enfim então uma coisa que observo que a gente em geral, no qual a gente acaba tendo
uma carga horária muito extensa de trabalho, e é um trabalho que é desgastante
porque, para você chegar dentro de uma sala de aula e preparar uma aula tem toda
uma preparação prévia, de você estudar, de você montar, de você pensar a melhor
estratégia metodológica de apreciação de conteúdo por parte dos alunos e depois
tenho o pós, principalmente na época das provas né, que é a condensação de todo
esse conteúdo, o aluno faz uma prova e depois a gente tem que corrigir, eu passei já
finais de semanas e feriados inteiros corrigindo provas, então que fora que está na sala
de aula você falando é um desgaste físico mesmo, e o que acontece hoje na
experiência em instituições particulares, só tive experiência em pública na época do
mestrado, como monitora, mas enquanto professor em universidade particular, boa
parte das turmas que eu dei aulas, eram turmas enormes, 60 alunos, então para você
falar para 60 alunos, as vezes o aluno ele perde a atenção, aí não presta atenção e
começa a conversar você tem que ter aquele controle da turma, vai ficar em pé falando
gritando para 60 alunos, não estando calados, tem desgaste vocal, então eu vejo que
tem desgaste físico mesmo e o excesso de carga horária. E que entra acabei entrando
aí você tá vou pegar o final de semana para descansar muitas vezes eu não fazia isso,
eu passava o final de semana preparando aula ou corrigindo prova, então a carga
horária excessiva acabava e a intensidade desse trabalho, é porque 60 alunos são
muitas provas, acabava me trazendo um adoecimento psíquico, eu via a nível mais de
estresse, no meu caso porque eu gostava muito da minha profissão e eu também sou
uma pessoa que faço terapia a muitos anos, então eu não ficava tão ansiosa com isso
né, já tinha um trabalho de fundo nesse sentido, mas ficava estressada, não tinha como
que é muita coisa principalmente você sente estressado entendeu, e às vezes vi um
aluno assim assistindo essa pergunta e você tinha que respirar respirar para não deixar
aquele estresse respingar no aluno porque não tinha nada a ver com ele, tinha a ver
com outras mesmas questões, Geralmente eu conseguia fazer isso né espero ter
conseguido sempre mas também pode ter acontecido de não ser tão educada, pode
acontecer né, agora eu sei também sabe que existe muito adoecimento físico mesmo,
por exemplo depois que eu saí em Outubro a 10 meses eu não gripei uma vez esse
ano, sendo que ano passado tomei corticoide mais de 3 vezes, eu tinha muita faringite,
enxaqueca, cansaço físico mesmo era muito cansada eu era sonolenta porque meu
organismo não aguentava aquilo tudo, porque hoje principalmente eu entendo que a
gente realmente precisa descansar, precisa do seu tempo livre do seu ócio se não seu
corpo ele não aguenta, então sofrimento e adoecimento sim. Consegue perceber o
sofrimento adoecimento seus colegas de trabalho que são professores, consigo
observar as mesmas questões, e noto que as pessoas, que os colegas que ainda não
tem um trabalho assim pessoal de psicoterapia e não conseguem entender que
ensinam alunos porque tem professor que ensina adulto tem professor que ensina
adulto mas quer mandar na vida do aluno né, fica estressado por que não entregou
trabalho, fica estressado porque não fez o trabalho direito, fica estressado porque não
tá indo para aula, gente ele é adulto, ela escolhe o que ele quer, não é uma criança
que tem que ficar no pé assim né, então esses ainda fica mais doente do que eu, assim
nesse sentido porque tinha toda essas cobranças, que no meu entendimento, claro que
você deve ter uma preocupação, deve tentar acompanhar esse aluno mas querer que
ele faça, você não é pai dele, nem pai e nem mãe consegue isso, imagina o professor
de uma cadeira na faculdade né. Então eu notava tanto físico como em alguns colegas
o grau de estresse mais alto e também percebi muito quadro de ansiedade mesmo,
ficando muito ansiosa para lidar com esse dia a dia de aula, faculdade tem os prazos,
cobram da gente, muitas vezes os alunos eles não sabem né, mas nos bastidores a
gente tem uma serie de prazo para cumprir, lançamento de notas, de alimento de
sistema, hoje em dia as faculdades por conta do sistema Enade avaliação, querem que
a gente monte banco de questões para faculdade, o estilo do Enade são questões
complexas e difíceis de montar entendeu, e não dão um treinamento para isso, assim
apenas dizem façam e não dizem muito bem como, então por conta dos bastidores tem
uma série de pressões também além de querem que a gente faça coisas que atraiam
os alunos ao curso, pessoas novas matrículas naquele curso, curso de extensão,
palestra, assim querem que a gente dê conta de todos os contatos sendo que a gente
já tem todas as carga pesada para dar conta do dia a dia de sala de aula mesmo.
Percebe-se se existe estratégia de defesa o pessoal que você utiliza para evitar o
sofrimento? Psicoterapia, psicoterapia, muitos anos de psicoterapia no meu caso, foi
isso mesmo de realmente entender o que cabe a mim que acaba o outro e não ficar
querendo dar conta do papel que cabe ao outro, mas só terapia da conta nesse sentido
mas eu sentia muito adoecimento físico mesmo, muito cansaço muito estresse né,
então é difícil. Consegue perceber se existe alguma estratégia defensiva criada em
grupo para evitar o sofrimento quais seriam? eu vejo assim estratégia de defesa pelo
menos das instituições que eu trabalhei assim, pessoal do meu setor era muito parceiro
e a gente se ajudava muito assim apoiava, percebia que um colega estava mais assim
a gente parava para conversar e ouvir mas a gente entra gente entendeu às vezes para
dar um apoio em um palestra, as vezes já cheguei na sala dos professores no período
entre o final do mês estava 1000 de estresse tão grande que eu tava começando a não
querer ficar dentro da sala de aula tava sentindo muita ação de aula com os alunos,
mas eu sabia que era estresse mas a minha colega me viu que eu tava muito mal no
intervalo, aí ela perguntou para mim, e falei que estava tão estressada que eu não
estava nem conseguindo ouvir a voz dos alunos para entregar as provas e eu não
estava bem e ela disse que entregaria por mim, e falou para descansar. nessas
pessoas existe essas estratégias são coisas pessoais e muito da sensibilidade de cada
um, não que a instituição promovesse esses momentos para isso, em realidade todo
semestre tem treinamento para os professores, inclusive depois eu descobri que é uma
obrigatoriedade pelo MEC, mas os treinamentos a gente é sempre assim como fazer
questões para o Enade, vocês tem que fazer tantas questões para o Enade, o que
compensa mais interessante para os alunos, sempre assim sabe, para o funcionamento
dos pontos que instituição achasse mais estratégicos para conseguir alunos e as notas
do Enade, está sendo até hoje nunca vi treinamento para uma melhor relação professor-
aluno, como você cuidar da sua saúde, uma conversa sobre isso, então para você que
na minha experiência ouvir só teve uma vez que levaram ao fonoaudiólogo achei muito
bom treinamento de técnica vocal, pronto, foi o único, o resto como sempre fazer
questões e todo muito por cima que no fundo não ensinava muito como fazer né, é
pensando nessas horas assim a gente tinha, eu trabalhava de tarde e noite aí na hora
do jantar gente se sentava muitas vezes juntos com os meus colegas, entendeu, tomar
um café ali na cantina a gente faz esse tipo de coisa daí tinha, mas eu também tenho,
eu acho que é muito movimento mesmo do grupo de tentar sair, nessas horas a gente
conversa sobre os meus problemas na Instituição, dificuldades com os alunos também
alguns problema pessoal, era também muito final, 10 horas da noite final de aulas
estava no computador para intermediários e tudo, mas assim mesmo.

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