Estudo de Caso 2
Estudo de Caso 2
Estudo de Caso 2
FORTALEZA-CEARÁ
2018
GABRIELA RODRIGUES ARAUJO
FORTALEZA-CEARÁ
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Sistema de Bibliotecas
BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
Agradecer primeiramente a Deus pelo dom da vida e sabedoria e por estar presente em
todas as minhas escolhas e conquistas. Quero agradecer também aos meus amados e
queridos pais, Maria Joseneide Rodrigues Araújo e José Guedes de Araújo pelo
carinho, compreensão e apoio neste momento tão importante.
À minha amiga de infância Renata de Araújo e Silva, por sempre estar disponível e me
ajudar no decorrer do processo de elaboração desta pesquisa, com apoio e dicas de
construção do trabalho, acreditando e me ajudando concluí-la.
Meu agradecimento ao meu orientador Ms. Daniel Parente Nogueira, pelas importantes
considerações feitas e supervisões realizadas ao meu trabalho, por sempre entender e
compreender a forma crítica que abordo o tema e questões relacionadas a profissão.
À Universidade Estadual do Ceará pelo espaço, assim como toda a equipe do Centro
de Estudos Aplicados, Coordenação do Núcleo – Lato Senso, por estarem de prontidão
para me atender, assim como todos os professores que fizeram parte da Pós
Graduação do Curso de Psicologia Organizacional e do Trabalho, turma XI, que
deixaram sua marca registrada em minha vida profissional através dos ensinamentos
repassados.
“Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana.”
(Carl Jung)
RESUMO
O trabalho possui valor e lugar significativo na vida dos sujeitos. Entretanto, o trabalho
também pode contribuir para o desenvolvimento de doenças psíquicas e físicas nestes
sujeitos. A temática sobre a Psicodinâmica do Trabalho com docentes do curso de
Psicologia ainda é pouco estudada. A análise do tema possibilitou relembrar as
vivências da Graduação em Psicologia, que em vários momentos os professores se
encontravam exaustos e irritados devido às provas, trabalhos e problemas pessoais.
Após esta análise e reflexão buscou-se compreender qual a percepção desses
profissionais sobre o sofrimento desenvolvido pelo trabalho, se estes percebem-se
inseridos nesta dinâmica de sofrimento e quais os mecanismos de defesa
desenvolvidos individualmente e em grupo para amenizar este sofrimento. O
questionamento que norteia este trabalho é: será que por se tratarem de docentes da
área de psicologia, estes possuem mais facilidade em perceber problemas psíquicos
decorrentes ao seu trabalho? Tendo como objetivo geral investigar a psicodinâmica do
trabalho na área acadêmica com profissionais de Psicologia. Os objetivos específicos
caracterizam-se por: (I) analisar professores da área de psicologia, observando se
possuem mecanismos de defesa para tornar a profissão menos ofensiva à sua saúde
psíquica; e (II) verificar se docentes da área de Psicologia percebem as estratégias em
grupo como enfrentamento de possíveis adoecimentos psíquicos decorrente do
trabalho. Para tal, realizou-se uma pesquisa qualitativa e descritiva com procedimentos
de pesquisa bibliográfica e um estudo de caso nos termos descritos por Triviños (1987),
por meio de entrevista estruturada com amostragem por conveniência. A análise das
entrevistas permite concluir que os docentes têm a percepção do sofrimento físico e
psíquico, especialmente quando estes se queixam de sobrecarga e exaustão,
percebendo-se afetados e considerando que este sofrimento ocorre em decorrência do
trabalho. Além disso, os docentes também têm a percepção do sofrimento dos colegas
de trabalho inseridos na mesma dinâmica, mas uma percepção de forma mais sutil na
maioria das vezes. Os resultados desse estudo permitiram também levantar alguns
questionamentos e sugerir possíveis melhorias para a saúde psíquica e física do
docente.
Palavras-chave: Psicodinâmica do Trabalho. Adoecimento. Estigma. Docentes.
Psicologia.
ABSTRACT
The work has significant value and place in the life of the subjects. However, work may
also contribute to the development of psychic and physical illnesses in these subjects.
The thematic on the Psychodynamics of Work with professors of the Psychology course
is still little studied. The analysis of the theme made it possible to recall the experiences
of the Psychology Degree, which at various times professors were exhausted and
irritated due to their personal tests, problems and problems. After this analysis and
reflection, we sought to understand the perception of these professionals about the
suffering developed by the work, if they perceive themselves inserted in this dynamic of
suffering and what the defense mechanisms developed individually and in group to
soften this suffering. The question that guides this work is: are they because they are
teachers in the area of psychology, they are easier to perceive psychic problems due to
their work? The main objective was to investigate the psychodynamics of the work in the
academic area with professionals of Psychology. The specific objectives are: (I) to
analyze if professors in the area of psychology, observing if they have defense
mechanisms to make the profession less offensive to their psychic health; and (II) to
verify if professors of Psychology perceive group strategies as coping with possible
psychic illnesses due to work. For that, a qualitative and descriptive research was
carried out with bibliographic research procedures and a case study in the terms
described by Triviños (1987), through a structured interview with convenience sampling.
The analysis of the interviews allows us to conclude that the professors have the
perception of physical and psychological suffering, especially when they complain of
overload and exhaustion, perceiving themselves affected and considering that this
suffering occurs as a result of work. In addition, the professors also have the perception
of the suffering of co-workers embedded in the same dynamic, but a perception more
subtly most of the time. The results of this study also allowed us to raise some questions
and suggest possible improvements to the psychic and physical health of the professor.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
2 PSICODINÂMICA DO TRABALHO ......................................................................... 16
3 ADOECIMENTO, FATORES DE ADOECIMENTO, ESTIGMAS ............................. 23
4 METODOLOGIA...................................................................................................... 30
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 33
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 38
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 41
APÊNDICE. ............................................................................................................. 43
1 INTRODUÇÃO
2 PSICODINÂMICA DO TRABALHO
Com base na ideia de Dejours (1992), entende-se que quanto mais rígida for
a organização do trabalho, mais o sujeito se sentirá despersonalizado diante a ser
impedido de expor suas ideias, criatividade e tomada de decisão, fazendo com que
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sinta-se como se fosse apenas mais uma peça dentro da empresa e não um
funcionário participante.
A maioria dos trabalhadores ignora o sentido do trabalho e o destino de sua
tarefa. A falta de sentido da tarefa individual e o desconhecimento do sentido da
tarefa coletiva só tomam a sua verdadeira dimensão psicológica na divisão e na
separação dos homens (DEJOURS, 1992, p. 40).
Um dos mais cruéis golpes, que o homem sofre com o trabalho é a frustração
de suas expectativa iniciais sobre o mesmo, à medida que a propaganda do
mundo do trabalho promete felicidade, e satisfação pessoal e material, para o
trabalhador; porém, quando lá adentra, o que se tem é infelicidade e, na maioria
das vezes, a insatisfação pessoal e profissional do trabalhador,
desencadeando, então, o sofrimento humano nas organizações (RODRIGUES
et al. 2006).
a primeira vítima do sistema não é o aparelho psíquico; mas, sim, o corpo dócil
e disciplinado, entregue às dificuldades inerentes à atividade laborativa; e,
dessa forma, projeta-se um corpo sem defesa, explorado e fragilizado pela
privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental (apud RODRIGUES
et al. 2006).
Fazendo com que o trabalhador se force a qualquer custo para evitar que
fique doente, tanto fisicamente como psicologicamente. “Os indivíduos mobilizam suas
inteligências em busca de estratégias para lutar contra as adversidades do cotidiano,
as doenças, a loucura e a morte.” (SANTOS, 2009, p 287).
Para Dejours esse esforço mental que o sujeito realiza, pode-se dizer que
seja uma
Ideologia defensiva tem sempre um caráter vital, fundamental, necessário. Tão
inevitável quanto a própria realidade, a ideologia defensiva torna-se obrigatória.
Ela substitui os mecanismos de defesa individuais (DEJOURS, 1992, p. 36).
Com a citação da obra de Dejours (1992) entende-se que além dos aspectos
pessoais também existem os aspectos externos que possam fazer com que o
profissional desenvolva a frustação, podendo ocasionar sintomas que poderão
posteriormente a vir desenvolver algum sintoma de adoecimento.
“Até indivíduos dotados de uma sólida estrutura psíquica podem ser vítimas
de uma paralisia mental induzida pela organização do trabalho.” (DEJOURS, 1992,
p.45). Ao analisarmos a citação de Dejours, pode-se dizer que não há distinção de
classes econômicas ou intelectuais, em algum momento da vida o sujeito pode sofrer
em decorrência ao trabalho.
Mesmo os profissionais que possuem um grau de conhecimento sobre
adoecimento psíquico, docentes que também são psicólogos, esses trabalhadores
também podem ser acometidos e se encontrarem nesta situação, se percebendo ou
não como um profissional que sofre em virtude ao trabalho.
Para Rozendo e Dias (2013, p. 625) “A saúde mental destes profissionais é
comprometida, pois as angústias e insatisfações estão presentes no âmbito do trabalho
docente, podendo ser a instituição, a convivência, a burocracia, a alienação, a
remuneração, a incapacidade de mudança, as intensificações do ritmo de trabalho”
4 METODOLOGIA
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
D.L.M.S: “ percebo isso, esse sofrimento né, esse adoecimento tanto em mim
como nos colegas em termos de nível de adoecimentos, adoecimentos mesmo
físicos como doenças, pegar viroses facilmente, crises de enxaqueca,
problemas gastrointestinais, alergia e o sofrimento mais no aspecto psicológico
psíquico, como com sintomas de depressão. ”
R.M.C: “eu tinha muita faringite, enxaqueca, cansaço físico mesmo era muito
cansada eu era sonolenta porque meu organismo não aguentava aquilo tudo,
porque hoje principalmente eu entendo que a gente realmente precisa
descansar, precisa do seu tempo livre do seu ócio se não seu corpo ele não
aguenta, então sofrimento e adoecimento sim”.
R.C.M: “nós professores somos horistas, então quanto mais você trabalha mais
você ganha, quanto menos você trabalha menos e ganha é uma coisa fixa,
assim fixa só aquele semestre né, mas enfim essa questão que acaba te
levando nessa roda de querer trabalhar as mais para ganhar um pouco mais
dinheiro”.
R.C.M. “noto que as pessoas, que os colegas que ainda não tem um trabalho
assim pessoal de psicoterapia e não conseguem entender que ensinam alunos
[...] tem professor que ensina adulto mas quer mandar na vida do aluno né, fica
estressado por que não entregou trabalho, fica estressado porque não fez o
trabalho direito, fica estressado porque não tá indo para aula, gente ele é
adulto, ela escolhe o que ele quer, não é uma criança que tem que ficar no pé
assim né, então esses ainda fica mais doente do que eu”.
R.M.C: “aí na hora do jantar gente se sentava muitas vezes juntos com os
meus colegas, entendeu, tomar um café ali na cantina a gente faz esse tipo de
coisa daí tinha, mas eu também tenho, eu acho que é muito movimento mesmo
do grupo de tentar sair, nessas horas a gente conversa sobre os meus
problemas na Instituição, dificuldades com os alunos também alguns problema
pessoal”.
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A docente encarou tal acontecimento como sendo a ajuda dos integrantes do grupo de
professores entre si, visando o bem-estar do outro.
Na maioria das questões ambas as professoras concordaram em grande
parte das perguntas e tiveram respostas parecidas e em algumas estavam interligadas,
porém houve informações que foram bem particulares de cada entrevistada.
D.M.L.S cita que:
“os alunos eles nos solicitam uma atenção para além da relação professor-
aluno, deixa eu tentar explicar, é muitos solicitam que a gente escute os seus
problemas, alguns entram no curso acreditando que o curso é para resolver os
seus problemas existentes, problemas psicológico dos familiares e aí eles
solicitam demais né, a nossa atenção sentir de ouvir de dar orientação de dar
conselhos da encaminhamento né, porque na percepção deles, é, nós temos
também essa função né.”
“Por conta do sistema Enade avaliação, querem que a gente monte banco de
questões para faculdade, o estilo do Enade, são questões complexas e difíceis
de montar entendeu, e não dão um treinamento para isso, assim apenas dizem
façam e não dizem muito bem como, então por conta dos bastidores tem uma
série de pressões também além de querem que a gente faça coisas que
atraiam os alunos ao curso, pessoas novas matrículas naquele curso, curso de
extensão, palestra, assim querem que a gente dê conta de todos os contatos
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sendo que a gente já tem todas as carga pesada para dar conta do dia a dia de
sala de aula mesmo”.
Vieira (2014) confirma ao falar “os professores estão imersos em um conflito
cotidiano entre o que é exigido, o que desejam e o que realmente é possível fazer
diante dos obstáculos, das condições e da organização atual do trabalho.” (p.117)
Dejours (1992) também contribui teoricamente acerca da discussão
levantada pela professora R.M.C, ao citar “ em certas condições emerge um sofrimento
que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos,
de esperanças e de desejos e uma organização do trabalho que os ignora” (p.24 apud
HOFFMAN et al, 2017, p.268)
Outro ponto citado pela entrevistada R.C.M. foi:
Diante a fala, Vieira (2014, p. 117) confirma ao citar que tudo isso decorre de
uma “série de fatores relacionados ao adoecimento: o tipo de trabalho exercido, tendo
em vista a responsabilidade [...], o excesso de trabalho, à perda da autonomia, a
sobrecarga de trabalho burocrático, ao quadro social e econômico.”
Sendo assim, foi possível confirmar com a teoria abordada neste trabalho os
aspectos sobre a percepção do sofrimento e a visão das docentes do curso de
psicologia sobre a sua vivencia acadêmica, questionamentos e possíveis melhorias
para evitar maiores danos psíquicos.
38
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ser realizadas com professores, com o intuito diminuir o desgaste físico e adoecimento
psíquico.
Através das entrevistas foi possível observar que apesar do número restrito
de entrevistados, estes profissionais têm a percepção de estarem inseridos nesta
dinâmica de trabalho, que causa adoecimentos.
Sugere-se que é necessário fortalecer o olhar para aqueles profissionais que
ainda não possuem esta percepção, que não conseguem ver uma possibilidade de
manter uma estratégia de defesa para que venha amenizar esse sofrimento.
Que pode vir a fortalecer a ideia, de que o professor é um ator importante na
trajetória de seus alunos, reconhecido pela sua relevância social, e este profissional
necessita deste reconhecimento, afim de aflorar o sentimento de mais valia e de um
trabalho bem feito, e que há um sentindo em fazê-lo.
Diante do estudo e da análise dos resultados, que reafirma o adoecimento
psíquico e todos os seus fatores e o que eles podem acarretar no indivíduo,
recomenda-se que as instituições de ensino superior realizem trabalhos que viabilizem
a prevenção do sofrimento psíquico, no intuito de diminuir reduzir o afastamento dos
profissionais de suas funções em decorrência desse adoecimento.
Sugere-se também, entender até que ponto ultrapassa o limiar do saudável
as pressões realizadas pelas instituições sobre o profissional, deixando-se a ideia de
que o trabalho pode ter uma maior qualidade laboral e mais prazeroso se houver um
equilíbrio em relação ao professor expor seus projetos e desejos e a instituição saber
lidar de maneira mais acolhedora em relação as inovações e ideias dos professores
diante os alunos.
Analisando não apenas o aspecto do profissional e institucional, mas
também a relação professor e aluno, propõe-se refletir a importância de uma boa
ligação, mas sem fazer com que o profissional se sinta sufocado com as atividades,
evitando criar uma relação que transpassa a visão de professor e aluno.
Profissionais que estão saudáveis, fisicamente e psicologicamente podem
trabalhar melhor, desenvolvem o sentimento de que o trabalho em si possui relevância,
desenvolvendo o sentimento de prazer e realização pessoal.
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REFERÊNCIAS
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002. 171 p.
TITTONI, J.; NARDI, HC. Saúde mental e trabalho: reflexões a partir de estudos com
trabalhadores afastados do trabalho por adoecimento profissional. In JACQUES,
MGC., et al. org. Relações sociais e ética [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein
de Pesquisas Sociais, 2008. p. 7080. Available from SciELO Books. Disponivel em :
<http://books.scielo.org> Acesso em : 18 out. 2018.
APÊNDICE
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APÊNDICE A - termo de consentimento livre e esclarecido
Eu, declaro
ter sido informado(a) e concordo em participar, como voluntário da presente pesquisa.
Data: / / .
CONTATO: Se você tiver alguma dúvida em relação a este estudo, poderá entrar em contato
com a pesquisadora Gabriela Rodrigues Araujo por meio do telefone (85) 3225-8729 da
Secretaria Centro de Estudos Aplicados – CESA, Coordenação do Núcleo – Lato Senso, do
Curso de Especialização em Psicologia Organizacional e do Trabalho, Turma XI, situada Av. Dr.
Silas Munguba, 1700 - Campus do Itaperi, Fortaleza – CE.
ENTREVISTA:
3. Percebe se existe alguma estratégia de defesa pessoal que você utiliza para evitar o
sofrimento? Quais seriam elas?
Eu queria saber de você as suas percepções como profissional, como sujeitos inseridos
nessa dinâmica sobre a questão do adoecimento, se você percebe o adoecimento no
trabalho, se há uma forma de estratégias em grupos também, assim como estratégias
de defesas pessoais.