Ergonomia Básica Trabalho A Quatro Mãos

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Ergonomia Básica – Trabalho a quatro mãos

Professora Julita Simone Therezinha Rentschler

De modo geral, o termo Ergonomia pode ser definido como o


conjunto de conhecimentos que visa adaptar a situação de trabalho
às necessidades dos trabalhadores. O exercício profissional em
Odontologia impõe um desgaste físico e mental aos profissionais
sendo que a má postura e suas consequências constituem a queixa
mais frequente. As exigências físicas e psicológicas que cada tipo
de ocupação impõe ao trabalhador são chamadas cargas de traba-
lho.

Na Odontologia, podemos observar os seguintes tipos de car-


ga:

 Cargas biológicas: bactérias, fungos, vírus, parasitas, etc.


 Cargas químicas: gases, vapores, fumaças, poeiras, etc.
 Cargas físicas: ruído, temperatura, ventilação, iluminação, etc.
 Cargas psíquicas: atenção e responsabilidade que a tarefa
exige, elementos que geram estresse.
 Cargas mecânicas: esforço físico e visual, deslocamentos,
posições de trabalho, etc.

A posição do dentista sentado e o paciente deitado usada


amplamente nos dias de hoje teve seu início a partir dos anos 50.

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A posição de decúbito dorsal (deitado de costas), além de re-
presentar uma posição de maior conforto para o paciente, favorece
o fechamento natural da orofaringe, com o posicionamento da lín-
gua para trás. Esta posição facilita a visão do operador e do auxiliar.
A altura da cabeça do paciente deitado deve estar a 85 cm do solo
e corresponder à altura da crista ilíaca do profissional corretamente
sentado. Porém, existem alguns pacientes, como os hipertensos,
asmáticos, respiradores bucais, obesos, bem como gestantes de-
pois do quinto mês de gestação, que apresentam restrições quanto
ao tratamento na posição deitada. As técnicas de moldagem com
materiais hidrocoloides também aumentam os transtornos com o
paciente deitado. Alguns instrumentais e técnicas foram construídos
na perspectiva do trabalho com o dentista em pé como os fórceps
para exodontias.

A postura sentada, ergonomicamente correta para o trabalho


em Odontologia, é também chamada de “postura de pianista” e ca-
racteriza-se por:

- Cadeira odontológica totalmente na posição horizontal;

- Tronco do operador permanece o mais vertical possível;

- Garantir que a altura do paciente permita ao operador permanecer


com os braços verticais e os cotovelos tocando seu corpo;

- Garantir que as coxas do operador permaneçam em um plano ho-


rizontal, com uma inclinação mínima de 10 graus no sentido hori-
zontal;

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- Permitir que as pernas do operador fiquem abertas, formando um
triângulo equilátero; a boca do paciente deve estar no centro deste
triângulo e os pés do operador totalmente apoiados no chão;

- Garantir que a distância focal adequada ( em torno de 30 a 35 cm)


seja obtida sem que a cabeça do operador incline mais que 20
graus para baixo;

- Garantir que todos os instrumentais e equipamentos a serem utili-


zados permaneçam próximos ao operador e instrumentador em um
espaço com um círculo de raio de 50 cm cujo centro é a boca do
paciente – Zona de Transferência.

Conforme convenção definida pela ISO/FDI (Internacional


Standart Organization/Federacion Dentaria Internacional) a análise
para a localização de equipamentos em Odontologia deve idealizar
o mostrador de um relógio onde o centro que corresponde ao eixo
dos ponteiros do relógio é a boca do paciente deitado. Em torno do
centro são traçados 3 círculos concêntricos ( A,B e C) de raios de
0,5 m, 1,0 m e 1,5 m, respectivamente.

A posição de 12 horas ou zero hora corresponde à posição


atrás da cadeira (da cabeça do paciente).

A área limitada pelo círculo “A” (0,5m de raio) corresponde à


chamada zona de transferência, onde tudo que se transfere à boca
deve estar situado, como por exemplo, os instrumentos e as pontas
do equipo. Nesta área devem estar situados os dois mochos, um
para o operador e outro para o auxiliar / instrumentador. O círculo
“B” (raio de 1 m) limita a zona de trabalho (área útil de trabalho ou

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espaço máximo de pega). Esta zona corresponde ao espaço alcan-
çado com o movimento do braço estendido. Nesta área, devem es-
tar localizados as mesas auxiliares e os equipamentos.

B - raio 1m

A - raio 0,5m

O operador que é destro deve estar com seu mocho entre as


posições de 9h e 10h até a posição entre 12h e 1h. Já para o ope-
rador que é canhoto, as posições variam entre 3h e 4h até a posi-
ção entre 11h e 12 h. A posição fixa em zero hora pode ser realiza-
da com a visão indireta através do espelho.
A posição do auxiliar / instrumentador varia nas posições 2h a
4 h. A cabeça do paciente deverá ser movimentada verticalmente
para a direita ou esquerda, conforme o lado de trabalho, até 45
graus.
O trabalho com troca de instrumentais a quatro mãos pode re-
presentar um fator fundamental para a manutenção da posição er-
gonomicamente correta, na medida em que diminui a necessidade
de movimentação do operador. Além disso ,no trabalho a 4 mãos, o
auxiliar realiza aspiração de saliva e a retração de tecidos moles,
aumentando para o operador o acesso e a visão do campo de tra-
balho.

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A troca de instrumental a 4 mãos e a delegação de tarefas re-
presenta uma possibilidade de aumento de produtividade, com me-
nor esforço e menor fadiga. A preparação prévia do instrumental em
bandejas e de materiais na mesa clínica é fundamental para a or-
ganização do trabalho. As técnicas adequadas de sucção eliminam
a perda de tempo (pois diminuem a necessidade do paciente cus-
pir).

São objetivos e princípios do trabalho a 4 mãos:

 Permitir que as mãos do operador permaneçam próximas


da cavidade bucal do paciente, diminuindo esforços e cola-
borando para o aumento da produtividade;
 Facilitar o trabalho do operador pelo afastamento, retração
e proteção dos tecidos da cavidade bucal, como língua e
bochechas, propiciando o aumento do campo visual do
operador;
 Permitir a sucção adequada do campo operatório.

Para que esta técnica apresente bons resultados durante o


atendimento é importante que:

 O auxiliar conheça os passos da técnica que está sendo de-


senvolvida para que possa se antecipar às necessidades da
mesma;
 A comunicação entre operador e auxiliar seja precisa;

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 A bandeja clínica esteja preparada e colocada a uma altura
que fique mais ou menos 5 cm abaixo do nível do cotovelo de
quem vai manuseá-la;
 Os movimentos do operador e do auxiliar devem ser contí-
nuos e suaves;
 O auxiliar deverá usar fundamentalmente a mão esquerda pa-
ra os movimentos de troca de instrumental. A mão direita será
usada para a entrega de instrumentos mais pesados, além de
estar sempre ocupada com a tarefa de utilização do sugador,
afastamento e proteção dos tecidos bucais;
 Na ordem de troca de instrumental, primeiramente o auxiliar
deve retirar o que está sendo usado pelo operador para em
seguida entregar o próximo instrumento a ser utilizado;
 A troca de instrumental deve ser realizada em área própria,
abaixo do queixo do paciente (zona de transferência);
 O auxiliar deve pegar o instrumental de forma a facilitar seu
recebimento pelo operador;
 O auxiliar deve segurar o instrumento solicitado pelo operador
pelo lado oposto de sua parte ativa e colocá-la paralela ao ins-
trumento que está em uso.

A sequência para a transferência de seringa de anestesia é a


seguinte:

 O operador coloca a mão com a palma voltada para cima na


área de transferência;

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 O auxiliar coloca o corpo da seringa entre os dedos indicador
e médio do operador. Em um segundo movimento, o auxiliar
remove a capa protetora da agulha;
 O operador efetua a anestesia;
 Terminada a anestesia, o operador abre a mão e o auxiliar
segura a seringa;
 O operador solta a seringa e o auxiliar a toma em sua mão.

Além da troca de instrumental, o auxiliar manipula e entrega


materiais ao operador que também deve seguir alguns cuidados:
 o auxiliar deve dispor, com antecipação, dos materiais
que serão utilizados pelo operador;
 os materiais devem ser manipulados imediatamente an-
tes do seu uso;
 os materiais devem ser apresentados ao operador tão
próximo da boca do paciente quanto seja possível, sem-
pre atendendo ao fato de que a bandeja de instrumental
seja mantida em ordem durante todo tempo de trabalho.

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