Hermeneutica Tercio Sampaio

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 3

3.

RESUMO DA OBRA

Ao iniciar o capítulo 5, discorre o autor acerca do uso das palavras, utilizadas pelas normas jurídicas enquanto
disciplinadoras da conduta humana. Diferencia sentido onomasiológico (corrente) do semasiológico
(normativo), afirmando como tarefa precípua da dogmática hermenêutica o estabelecimento do sentido das
normas, do significado de seus textos, sua força e alcance, processo que carece de regras para sua elaboração.

A seguir, traz o conceito de signos, como sendo entes caracterizados por sua mediatidade, que apontam para
algo diferente de si próprio. Os signos podem ser naturais ou artificiais, conforme elaborados, ou não, por ação
humana, sendo os últimos (artificiais), chamados de símbolos.

Distingue, ainda, entre símbolos que designam algo de forma individualizada (nomes), e os que o fazem de
forma geral (predicadores), podendo estes ser individualizados através do uso dos indicadores.

Como os símbolos não possuem significação, isoladamente, necessitam estar inseridos num contexto de
utilização pelo homem, através da fala. Falar é um ato de atribuir símbolos a alguma coisa. O conjunto de
símbolos entrelaçados numa estrutura complexa é chamado de língua. Diferentemente da língua, que é um
conjunto de símbolos, a fala nada mais é que a utilização atual da língua.

A construção da fala parte de algumas premissas: de que a significação dos símbolos é dada pelo seu uso; que
a maioria dos símbolos é vaga (seu campo de referência é indefinido) e ambígua (pode ser usado em um
campo de referência de diferente intensidade); que a utilização dos símbolos pode ser diferente de acordo com
suas diferentes funções pragmáticas, podendo ser de uso descritivo, expressivo, diretivo ou operativo.

A fala se caracteriza pelo fato de que, para haver um processo comunicativo completo, é necessário que haja
entendimento entre emissor e receptor. A mensagem conterá o relato – mensagem oriunda do emissor – e o
cometimento – mensagem captada pelo receptor. Logo, existirão duas formas de se entender a mesma
mensagem, podendo estas formas ser coincidentes ou não.

Essa dicotomia de entendimento se dá através da interpretação.

Esta interpretação suscita muitas polêmicas. Segundo o autor, Kelsen a distinguia entre a interpretação
autêntica – exercida por órgão competente, cuja decisão tem poder vinculante – e a interpretação doutrinária
que, ainda que se pronuncie a respeito do sentido da norma, não tem força vinculativa.

A primeira advém de um ato de vontade, balizado pela competência conferida ao órgão (juiz, legislador). Já a
segunda tem sua origem num ato de conhecimento.

Pela característica de vagueza e ambigüidade dos conteúdos normativos, a interpretação doutrinária tem seu
limite no instante em que constata a plurivocidade das normas, momento no qual cabe ao hermeneuta a tarefa
de decidir qual o mais coerente uso, dentre os possíveis, a ser aplicado ao caso concreto.

Preocupação presente ao processo interpretativo é estabelecer uma correta interpretação do texto da lei, o que
estabelece uma dicotomia entre a doutrina objetivista e a doutrina subjetivista. Enquanto aquela defende o
voluntas legis (vontade da lei), esta defende o voluntas legislatoris (vontade do legislador).

De acordo com os subjetivistas, a interpretação deve ser ex tunc (desde então), ou seja, a partir do
pensamento do legislador; já os objetivistas entendem que a compreensão se dá ex nunc (desde agora), ou
seja, do momento em que se faz necessária a interpretação do texto legal.

Essa dicotomia caracteriza o desafio kelseniano.

Após discorrer sobre cada uma das doutrinas (objetivista e subjetivista), o autor apresenta imperfeições de
cada uma, levando à conclusão de que são, ambas, insuficientes, por si sós, para resolver o problema
interpretativo.

A seguir, Ferraz Jr. trata da interpretação e da tradução, apresentando as teorias realista e idealista. A primeira
entende que a coisa (res) deva ser o ponto central da tradução. Já a segunda, entende que a tradução deve ter
como base a idéia, o pensamento acerca da coisa (res). Ambas são criticadas: a teoria realista pelo fato de que
ela parte da premissa de que a coisa (res) possui estrutura própria, independentemente da língua em que se
apresentam; a teoria idealista, por entender que não pode haver compreensão de pensamento sem que haja
um prévio entendimento da palavra traduzida.

Mais adiante, faz uma explanação acerca da violência simbólica e do uso competente da língua, onde afirma
que é imprescindível, não apenas a tradução, mas a competência do tradutor.
Discorre, ainda, sobre a Hermenêutica Dogmática, como sendo a língua (LH) que permite a tradução da
linguagem normativa (LN) para a linguagem da realidade (LR), destacando a figura do legislador racional.

À frente, preleciona o autor a respeito da interpretação e paráfrase, onde, ao final, conclui que a hermenêutica
realiza uma paráfrase, na busca do sentido da norma jurídica, utilizando de métodos peculiares, os chamados
métodos hermenêuticos, a saber: método lógico-sistemático, histórico-sociológico e telelológico-axiológico.

Ao tratar da função racionalizadora da hermenêutica, Ferraz Jr. explicita o Norte da aplicação da hermenêutica:
fornecer segurança jurídica, fundamentando não apenas o saber dogmático, sendo de preciosidade ímpar na
justa aplicação das normas presentes ao ordenamento jurídico, como também aproximando a linguagem
técnica do Direito de uma mais acessível à sociedade de modo geral.

Continuando, passa a explanar acerca dos métodos e tipos dogmáticos de interpretação. Os métodos
hermenêuticos de interpretação são: gramatical, lógico e sistemático; histórico, sociológico e evolutivo; e, por
fim, teleológico e axiológico.

No primeiro, busca-se entender a letra da lei, o significado de seu texto e seu entrelaçamento com as demais
normas presentes ao ordenamento jurídico.

Já no segundo, procura-se interpretar a norma dentro de um contexto de historicidade, buscando identificar as


particularidades da sociedade à época da criação da norma, se esta acompanhou a evolução dessa mesma
sociedade, etc.

Por fim, a interpretação teleológica e axiológica é aquela permeada de juízo de valor, na qual o hermeneuta
buscará a interpretação, dentre as possíveis, que melhor se adeqüe ao caso concreto.

Diante dos métodos interpretativos esclarecidos, existem, nos dizeres do autor, três possibilidades para o
resultado da interpretação de uma norma jurídica: a interpretação especificadora, que entende como correto e
suficiente o texto da lei, com ele concordando; interpretação restritiva, que reduz o alcance do texto legal, por
assim entender ser a vontade legislativa; e a interpretação extensiva, a qual busca ampliar o sentido e o
alcance da letra da lei.

A interpretação e a integração do direito são o ponto seguinte de Ferraz Jr. . Coloca-se, aqui, a preocupação
dos meios passíveis de serem utilizados pelo hermeneuta no preenchimento de lacunas deixadas pela lei, e os
limites a ele impostos.

Para o preenchimento de tais lacunas, pode o hermeneuta lançar mão de recursos como a analogia,
interpretação extensiva e indução amplificadora (instrumentos quase-lógicos), bem como dos costumes,
princípios gerais de direito e eqüidade (instrumentos institucionais).

Contudo, a utilização desses instrumentos não é desregrada. Existem limites à sua aplicação.

Primeiramente, esses princípios devem, via de regra, serem aplicados caso a caso, não estendendo seu poder
sobre os demais.

Alguns métodos sofrem restrições no seu uso, como exemplifica o autor com a analogia, proibida no Direito
Penal.

Por fim, encerra o capítulo 5 destacando a função social da hermenêutica, como sendo a de um agente aliviador
de tensões sociais, na medida em que confere segurança às relações jurídicas, enquanto instrumento de
decidibilidade, aproximando o direito daqueles que fazem parte da sociedade.

Ao iniciar o capítulo 6, passa a fazer uma explanação acerca da Teoria da Decisão Jurídica como sistema de
controle do comportamento, mostrando que a preocupação da ciência dogmática é o fornecimento de requisitos
técnicos para fundamentarem o trabalho de decidibilidade.A decisão, para Ferraz Jr., tem como finalidade
última não a de ser a solução ideal para os conflitos, mas a ação finalista que visa à absorção da insegurança,
transmutando incompatibilidades indecidíveis em alternativas decidíveis.

Tratando, a seguir, do conflito, o autor esclarece que este ocorre de forma institucionalizada, com uma
estrutura em que a vontade dos comunicadores sociais para se submeter à coordenação de um terceiro ator
social, institucionalizado, que passará a regular a situação conflituosa. Numa segunda situação, o conflito pode
se dar pelo questionamento da própria estrutura, da lei em si.

Como não pode o aplicador da lei abster-se de julgar, tem-se que todo conflito jurídico é finito.

A dicotomia decisão-conflito traz as duas formas de controle: o controle-disciplina e o controle-dominação. O


primeiro se relaciona ao poder de direito e o segundo, ao poder de fato.
Trata, em seguida, do processo silogístico da decisão, no qual a premissa maior (norma geral), juntamente com
a premissa menor (descrição do caso conflitivo) leva a uma conclusão, que é o ato decisório, stricto sensu.

Na aplicação da norma jurídica, existe um processo de subsunção, que é a adequação do fato à norma, que se
dá através do silogismo descrito acima.

Tratando, a seguir, do conceito de prova jurídica, explana o autor que o termo, oriundo do latim probus tem
sentido objetivo (constatação de fato ocorrido, comprovadamente) e sentido subjetivo (aprovar ou fazer
aprovar). Importante conceito a respeito da prova é o onus probandi, delineado pela conhecida máxima: "o
ônus da prova cabe a quem alega".

Explanando acerca da decisão e responsabilidade do decididor, autor mostra que o trabalho deste deve ser
fundamentado em procedimentos, que podem levar a uma programação condicional ou finalística.

Na teoria da argumentação, Ferraz Jr. discorre sobre os fatores externos ao direito e que nele influem, em
especial a retórica.

Posteriormente, têm-se os argumentos jurídicos, que expressa o que se costuma chamar de prova formal.

O argumento ab absurdo começa admitindo como verdadeira a proposição a ser examinada. A seguir,
aplicando-se a esta proposição as técnicas de interpretação, busca-se chegar à comprovação de que a mesma é
inaceitável.

Já o argumento ab auctoritate funda-se no prestígio da pessoa ou grupo, onde a força do argumento pode se
dar pela quantidade ou qualidade das decisões.

O argumento a contrario sensu consiste em, concluir, a partir de uma dada preposição, que algo por ela não
abrangido, lhe é contrário.

O argumento ad hominem serve para limitar a validade de uma determinada tese.

Já o argumento ad rem, ao contrário, entende-se válido para toda e qualquer pessoa.

O argumento a fortiori estabelece a passagem de uma proposição para outra, na qual devem valer razões
idênticas às da primeira. É a idéia de que "quem pode o mais, pode o menos".

A seguir, o argumento a maiori ad minus traz a idéia de que a validade de norma mais extensa engloba a de
norma menos extensa.

O argumento a minori ad maius, ao contrário, parte de uma norma menos extensa para outra mais extensa.

A pari é o argumento que relaciona entre si casos semelhantes.

A posteriori parte das conseqüências para as causas, em ordem inversa à usual.

O argumento a priori é o oposto, partindo da causa para conhecer e entender o efeito.

Argumento silogístico ou entinema permite a conexão entre proposições, de forma que uma relação entre uma
proposição inicial, que passe por proposições intermediárias para se chegar a uma proposição final, pode ser
condensada em uma relação única, entre as proposições inicial e final.

Por fim, tem –se o argumento exemplar, cuja idéia-base é o conceito de jurisprudência.

Diante do exposto, chega o autor ao fechamento do capítulo 6, enfatizando a função social da dogmática da
decisão, a qual fundamenta-se na construção de um sistema conceitual que tem como finalidade precípua a
diminuição de tensões sociais, impondo limites às relações de poder, evitando as situações de violências.

Você também pode gostar