Abordagem Familiar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – IBC


CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA
CENTRO REGIONAL DE REFERÊNCIA EM CRACK E OUTRAS DROGAS

Abordagem familiar no tratamento da


dependência química: uma revisão de
literatura

Stella Santos Junqueira


Orientador: Rodrigo Sinnott Silva

Rio Grande
Novembro 2014
Introdução
 Inicialmente estudos sobre dependência química tiveram foco
apenas no dependente, não considerando o papel da família e
suas implicações nesse processo.

 Hoje as famílias são uma grande fonte de ajuda no tratamento


da dependência, pois se considera a família como um sistema
que necessita de orientação e acompanhamento para que o
resultado do tratamento seja mais eficiente (CARDIM;
LOURENÇO, s.d).

 Atualmente existem locais para o tratamento da dependência


química que atendem o usuário e a família. No entanto, sem a
presença do dependente de drogas não ocorre o tratamento
dos seus familiares.

 A utilização de técnicas de tratamento pode promover


mudanças, criando efeitos positivos na interação familiar.
(FIGLIE, 2004).
Proposta
 Verificar a existência de prejuízo à família do
dependente químico;

 Compreender os efeitos do consumo de drogas e


sintomas que manifestam-se em familiares;

 Analisar tipos de abordagens no tratamento para


familiares de dependentes químicos, sem necessitar da
presença do usuário no tratamento;

 Compreender a contribuição que as intervenções


podem ter na convivência familiar;

 Investigar a importância da inclusão da família no


tratamento.
(FIGLIE, 2004)
Justificativa
 Dependência química causa grande impacto e
sofrimento a todos os membros da família;

 Abordagem direcionada a este grupo irá possibilitar


melhor qualidade de vida aos demais membros;

 Família pode servir como um estímulo para o consumo


de drogas ou desencadeadores de recaídas;

 Estudar e refletir sobre este assunto pode promover


mudanças positivas de padrões familiares;

 A Terapia Familiar tem evidenciado a efetividade no


engajamento e na permanência dos usuários e seus
familiares no tratamento.
(CORDEIRO; FIGLIE; LARANJEIRA, 2007, p.210).
Metodologia
 A pesquisa esteve pautada no método de revisão
sistemática da literatura sobre o tema “Abordagem
Familiar no Tratamento da Dependência Química”.

 A pesquisa foi iniciada online por artigos científicos por


intermédio da base de dados Scientific Electronic Library
Online (SCIELO) e Periódicos Eletrônicos em Psicologia
(PEPSIC), através de dissertações das principais
Universidades/Revistas Eletrônicas do país.

 Nas bases de dados foi acessada a literatura publicada


em periódicos eletrônicos brasileiros na área da
Psicologia e áreas afins nos últimos treze anos e, a partir
da análise dos resumos, foram selecionados os trabalhos
que abordassem o tema em questão.
Metodologia

 No total foram utilizadas três revistas de áreas afins a


Psicologia através de periódicos publicados no SCIELO.
Também foram pesquisados doze artigos disponíveis
nos periódicos e dissertações online. E por fim, sete
livros relacionados à inclusão da família no tratamento
da dependência química.
Discussão
 A família é um grupo social, tendo um papel decisivo na
educação.

 Com o tratamento da família seria possível identificar as


dificuldades e limitações que ocorreram no processo de
formação e educação do indivíduo com a problemática de
drogas.

 Pensar na família como um sistema, significa que as


influências entre seus membros sejam recíprocas e
circulares.

 Dessa forma, percebe-se que quando ocorre uma


situação imprevista, como algum problema no sistema
familiar, provavelmente isso irá atingir todos os membros
da família (SILVA; SILVA; MEDINA, 2012, p. 89).
Na dependência química muitas vezes as famílias
encontram dificuldades em manter esta conexão,
podendo ser causada em função das situações
estressantes que surgem ao longo da convivência e a
falta de conexão entre seus membros.

Vinculo
saudável

Comunica
apoiar -ção

Família
proteção afeto

Limites e
regras
coerentes
(SILVA; SILVA; MEDINA, 2012, p. 89).
Orientação aos pais e filhos
A adolescência é a faixa etária de maior vulnerabilidade para
experimentação e uso abusivo de substâncias psicoativas.
A vulnerabilidade dos adolescentes, está relacionada a diversos fatores:
 onipotência,
 busca de novas experiências,
 aceitação pelo grupo,
 conflitos psicossociais e existenciais,
 aspectos relacionados à família (estrutura e apoio).

 Muitos pais ou outros cuidadores, por vezes podem necessitar de


orientação e suporte para enfrentar a dependência química nesta
fase do desenvolvimento.

 É necessário ressaltar a importância de uma clara definição


hierárquica no sistema familiar.
(SILVA; PADILHA, 2011)
Principais fatores que protegem o
adolescente do uso de drogas

 Qualidade dos  Monitoramento e


vínculos familiares supervisão
 Estabelecimento de  Comunicação
regras e limites claros  Sensibilidade para os
 Expressões de afeto, sentimentos dos filhos
apoio e compreensão  Envolvimento positivo
Principais fatores familiares de risco ao uso e
abuso de substâncias psicoativas
 Relações afetivas precárias;
 Intromissão;
 Falta de nitidez de fronteiras;
 Falta de conexão entre seus membros;
 Ausência de regras e normas claras;
 Dificuldade para exercer limites;
 Situações de conflitos permanentes;
 Dificuldades de comunicação;
 Falta de apoio e de orientação;
 Controle através da culpa ou da autoridade;
 Falta de qualidade das relações familiares.
 A família pode atuar no sentido de proteção à
criança ou ao adolescente antes mesmo que ele
tenha um primeiro contato com as drogas, sendo
um fator preventivo ao uso de substâncias
psicoativas.
Co-dependente
• Auxiliar a família para que ela assuma a posição de
apoiar o dependente em sua recuperação;

• Trabalhar com seus membros o conceito de co-


dependência e de identificar comportamentos que
podem reforçar o comportamento aditivo.

 Ajudar a vencerem a crise com base na construção


da auto-estima, segurança e autonomia.

(FIGLIE, 2004 / SILVA; SILVA; MEDINA, 2012)


Impacto na vida de familiares

Filhos
 Fator hereditário;
 Baixa auto-estima;
 Estresse;
 Sentimentos de insegurança;
 Comportamentos de agressividade;
 Conflitos e dificuldades no relacionamento
familiar.
(FIGLIE; et al, 2009)
Estudos também evidenciam:
 Esposas de maridos dependentes de álcool
apresentam sofrimento, sentimentos de solidão,
frustrações e tristezas em virtude da deficiência no
exercício do papel de pai e esposo (Topo & Zago
(2005 apud ARAGÃO; MILAGRES; FIGLIE, 2009).

 Além disso, contribuem prejudicando a qualidade


da relação conjugal, com enfraquecimento do
vínculo conjugal mediante o decorrer do tempo de
exposição à doença (ARAGÃO; MILAGRES; FIGLIE,
2009).
O sofrimento gerado pelo uso de drogas pode indicar o
surgimento de fases que ocorrem conforme acontece a
evolução negativa ocasionada pelas drogas:

 1º Etapa: Preponderantemente o mecanismo de negação,


ocorrendo desentendimentos e muitas vezes os membros
deixam de conversar sobre o que pensam e sentem.

 2º Etapa: A família demonstra preocupação com a


questão, tentando controlar o uso da droga e conflitos
podem ocorrer no convívio social. Surgem algumas
mentiras associadas ao uso de drogas que criam um clima
de segredo familiar, onde acaba-se não conversando sobre
o assunto, mantendo a ilusão de que o uso de drogas não
está causando problemas na família.
 3º Etapa: Acontece uma grande desorganização familiar,
ajudando a ser um ponto facilitador para o uso. A família
acaba assumindo responsabilidades de atos que não são
seus, ocorrendo uma inversão de papeis e funções.

 4º Etapa: Caracterizada pelo cansaço emocional, podendo


surgir graves distúrbios de comportamento e de saúde em
todos os membros. Pode ocorrer o afastamento entre os
membros gerando um quadro de desestruturação
familiar.

Essas fases definem um padrão de evolução do impacto


que as drogas causam, mas não se pode afirmar que o
processo será o mesmo para todas as famílias.
(FIGLIE, 2004)
Importância da família

 A disponibilidade dos membros é


fator relevante para um bom
encaminhamento;

 E quanto maior é o número de familiares participantes do


grupo de terapia multifamiliar, melhor é a adesão do usuário;

 A avaliação familiar pode ser um auxílio no planejamento do


tratamento, fornecendo dados que colaboram com o
diagnóstico do dependente químico;

 Também funcionando como indicador do tipo de intervenção


adequada para a família e para o dependente.
(FIGLIE, 2004 / SEADI E OLIVEIRA, 2009 / CORDIOLI, 2008)
Aspectos importantes de serem trabalhados:
 Evitar falar o tempo todo sobre drogas, mantendo um diálogo saudável
sobre outros aspectos da vida;

 Estimular a capacidade de sair e se divertir, sem sentir culpa por ter


momentos agradáveis;
 Buscar aprender a estar apto para ouvir;

 Buscar trabalhar a sensação de que nada pode ser feito em


determinadas situações.

Resultado deste suporte:


 Os membros da família podem se sentir menos preocupados e ansiosos;
 Podem visualizar atividades, ou situações positivas, reestruturadoras de
sua saúde mental;
 Tornam-se mais envolvidos, conscientes de suas reações,
comportamentos, frustrações, assim podendo evitá-las.

(FIGLIE; et al, s.d / FIGLIE, 2004).


Terapia de grupo (grupo de pares)
• Os membros são divididos em grupos, e assim, podem
escutar de um par algo que não escutariam de um
profissional, pois o par passa por situações semelhantes,
com isso facilitando a mudança.

 Os grupos de multifamiliares são bastante eficazes, pois as


famílias compartilham da mesma problemática, sendo um
espaço de ajuda mútua.

 Possibilita a muitas famílias a construção ou a ampliação


da rede social muitas vezes empobrecida pela vergonha.

(FIGLIE, 2004 / SEADI; OLIVEIRA, 2009)


Grupo Amor Exigente
 Atua no apoio aos familiares, sendo um programa de
prevenção e orientação.

 É destinado para pais e educadores, pois ajuda a prevenir e


a solucionar problemas com a dependência, trabalhando
na organização da família e na proteção dos filhos.

 Através do grupo é possível que a família aprenda a


compreender melhor a doença e fazem com que o usuário
em tratamento sinta-se apoiado na sua recuperação.

Melo & Figlie (2004 apud SOUZA; PINHEIRO, s.d)


Serviços existentes de orientação familiar
 Na UNIAD – Unidade de Pesquisa em álcool e drogas –Departamento
de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo foi desenvolvido
um programa de acolhimento aos familiares, tendo alguns casos em
que os pacientes abandonaram o serviço, mas a família deu
continuidade ao tratamento.
 Resultados:
- clientela maior são de mulheres (maioria mães).
- dificuldade de esposas jovens auxiliarem seus maridos.
- mães de filhos dependentes químicos serem estimuladas ao ânimo e
esperança.
- dificuldade é com a imposição dos limites.

 Tal fato demonstra a peculiaridade deste tipo de amostra, bem como


a necessidade de levantamentos com este tipo de dado para a
constatação da clientela que procura esse tipo de serviço, assim
podendo ser pensado em trabalhos mais estratégicos para quem
busca ajuda, adequando o melhor tipo de tratamento (FIGLIE; et al,
s.d).
Outros serviços
 Silva e Pinto, (2012) também realizaram um estudo em uma
Comunidade Terapêutica do Município de Cascavel (Paraná), com o
intuito de identificar o reconhecimento de familiares na importância do
tratamento do dependente químico.

 Resultados:
- Os familiares sentiam bastante insegurança ao pensar no retorno do
membro em tratamento.

- Evidenciando a falta de assistência familiar e a necessidade dos


profissionais envolvidos no cuidado de auxiliar as famílias para o
momento da reabilitação social.

- Buscando sucesso e manutenção da recuperação, podendo dar


continuidade do tratamento.
 Do mesmo modo que Souza e Pinheiro (s.d), através de um
estudo realizado na comunidade terapêutica do Vale dos Sinos,
com dependentes químicos em tratamento, obteve as seguintes
informações:

 Resultados:
- Mostrou a importância do apoio da família, sendo de grande ajuda no
tratamento.

- Com a presença do grupo familiar, os pacientes sentiram-se


motivados a continuar o tratamento.

- A participação da família nos grupos de auto-ajuda é de extrema


importância para a compreensão da doença.
Discussão
 Informações como conceitos básicos
sobre dependência, tolerância,
síndrome de abstinência,
orientações de como agir e
conversar também são itens
importantes e necessários de
trabalhar com os familiares
envolvidos em grupos de ajuda.

 Pesquisa desenvolvida por Figlie, et


al (s.d) indica que é considerado
pelos familiares o caráter informativo
como um item importante e
eficiente para este tipo de serviço.
Contribuições da abordagem familiar:
 Previne recaídas;  A família percebe a
necessidade de apoio
 Modificação nas atitudes; afetivo, auto-ajuda,
paciência e compreensão;
 Adesão do cliente;
 Redução do impacto da
 Manutenção do engajamento dependência e seus danos
no tratamento; (psicológicos ou físicos);

 Proporciona a criação de  É mais efetiva que a


ações; terapia individual.

(CASTANON; LUIS, 2008 / CORDEIRO; FIGLIE; LARANJEIRA, 2007,/ FIGLIE; et al, s.d)
Considerações finais
 Percebe-se que diante das muitas opções de abordagens, e
resultados que comprovam a efetividade e eficiência da
aplicação das terapias focadas na família, ainda assim, muitos
serviços resistem em adotá-las.

 Assim, o objetivo da terapia familiar no contexto de drogas


deve então ser compreendida como a soma desses aspectos e a
combinação de fatores específicos, de cada família.

 O conjunto de objetivos da terapia familiar beneficia tanto o


usuário e sua família, como o próprio serviço.

(CORDEIRO; FIGLIE; LARANJEIRA, 2007, p. 212)


Considerações finais
As intervenções, cuja base é a família, podem ter
maior sucesso no engajamento, na retenção e no
resultado do que as intervenções focadas no
indivíduo.

Indivíduo

Programa
família de
tratamento

sociedade
(SCHENKER E MINAYO, 2004 / SOUZA; PINHEIRO, s.d)
Considerações finais
 A organização familiar é um aspecto importante no
prognóstico do quadro de dependência química.

 A abordagem com foco na família deve ser


fundamental em programas bem sucedidos.

 Porém alguns serviços existentes que oferecem grupos


de orientação, não levam em consideração a
necessidade de investigar, aprofundar ainda mais o
detalhamento do funcionamento familiar e o impacto
na vida dos pacientes.
Resultados
 O papel da terapia familiar torna-se indispensável.
Mas não diferente da complexidade presente na
prevenção, intervenções medicamentosas e
aplicação de abordagens terapêuticas, a terapia
familiar também ainda se apresenta como um
desafio.

 Por isso, a diversidade de modelos familiares


existentes no momento deve ser analisada
positivamente, e como resultado da necessidade de
ampliar o conhecimento da dinâmica do usuário – ir
além de perspectivas individuais, buscando atingir o
entendimento do usuário como um ser em relação
constante com sua família.
Resultados
 Os resultados indicaram que a terapia para familiares
produz melhor desfecho do que famílias que são
excluídas do tratamento.

 A intervenção é importante para modificar o


comportamento das interações familiares.

 Melhorando a comunicação, a habilidade de resolver


problemas e fortalecendo estratégias de
enfretamento, assim reduzindo os problemas e a
utilização do uso de drogas.
Referências
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Alegre: Artmed, 2011.
Obrigada pela presença!

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