Os Limites Do Prazer

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OS LIMITES DO PRAZER

(extraído do livro, “O Propósito da Família”, de Luciano Subirá, publicado por Orvalho.Com)

A intimidade física entre o casal faz parte do plano de Deus e deve ser vivida
intensamente no lar cristão. Mas precisamos ter consciência de que há limites para o
prazer. Assim como o prazer de comer pode ultrapassar o seu limite e transformar-se em
gula, que é pecado, e o prazer de se deitar e dormir, repondo energias e obedecendo um
princípio bíblico de descanso, pode se transformar em preguiça, que é também é
reprovado pela Bíblia, assim também o prazer sexual do casal cristão tem seus limites.
Seus limites não se prendem tanto à intensidade ou frequência do ato, mas ao que é feito
entre o casal. Deus exige honra tanto para com o matrimônio como também para a pureza
do leito do casal:

“Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus
julgará os impuros e adúlteros”.
Hebreus 13.4

Este texto fala acerca de honra, e a palavra traduzida do original grego como
“honra” é a palavra “timiotatos”, que signifca: “de grande valor, precioso; mantido em honra,
estimado, especialmente querido”. O versículo também especifca duas coisas distintas que
merecem honra:
1) o matrimônio;
2) o leito sem mácula.
Isto fca ainda mais claro na menção de que Deus exercerá juízo sobre dois tipos de
gente que falta com a honra devida a estas duas coisas:
1) os impuros (que maculam o leito);
2) os adúlteros (que desonram o matrimônio).
Veja bem, nós honramos o matrimônio através de nossa fdelidade conjugal (não
adulterando), mas mesmo na relação sexual exclusiva entre os casados – onde não há
adultério – pode haver impurezas; por isso o conselho bíblico de que também é necessário
conservar o leito sem mácula; ou seja, não podemos achar que o pecado sexual que um
casal cristão venha a cometer seja só o adultério. Há certas coisas que maculam o leito de
um casal que nunca adulterou, o que nos faz compreender que nem tudo seja admissível
dentro da relação íntima de um casal. Há algumas práticas que maculam o leito do casal e
que acaba se classifcando como uma relação impura. Não cremos que dentro de quatro
paredes vale tudo, como alguns ensinam. Há alguns limites para o prazer; a Palavra de
Deus nos revela isto.
Portanto, temos aqui um fato bíblico: algumas coisas feitas entre um casal que não
cometem o pecado do adultério podem macular o leito e ser vistas como impurezas.
Porém, a grande difculdade não é saber que existe práticas que maculam o leito conjugal,
e sim determinar quais são estas práticas.
Tenho visto muitos pregadores e líderes defnindo (ou tentando defnir) quais são
os limites do prazer sexual de um casal cristão, porém, muitos deles estão ensinando sem
nenhuma base bíblica para o que dizem. Eu não posso aceitar isto; quero andar na Palavra
de Deus! Não quero pecar contra Ele; entretanto, eu também não quero andar preso a
preconceitos e mandamentos de homens.

A QUESTÃO DO SEXO ORAL

As questões mais discutidas dentro da questão de limites na intimidade sexual


envolvem a prática do sexo oral; a grande maioria dos líderes sequer discute a prática de
sexo anal, tendo-a como, senão condenável, no mínimo desaconselhável. Eu mesmo tenho
sido muito questionado ao longo dos anos de ministério pastoral, tanto por casais que
amam a Deus e não querem errar, como por pastores e líderes que tem buscado ajuda para
poderem aconselhar de modo efetivo.
E quero que você leia com atenção porque não estou tentando fazer nenhuma
apologia a nada aqui; meus pensamentos a partir deste ponto visam tão somente
questionar, de forma legítima, e bíblica, o que chamamos de pecado e porque o fazemos.
Aliás é melhor primeiro tentar entendermos a defnição de pecado antes de começar
a discutir se alguma coisa é ou não pecado. O conceito bíblico do que é pecado é visto
como sendo uma transgressão da lei:

“Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão
da lei.”
1 João 3.4

Logo, pecado é a quebra de um mandamento estabelecido pela Palavra de Deus.


Portanto, quando alguém faz algo que a Bíblia não proíbe (nem direta e nem
indiretamente), não está pecando. Se não há violação da lei, não existe pecado! Este é o
primeiro ponto a ser estudado com atenção. A Palavra de Deus não fala abertamente sobre
quais são os limites do prazer, e isto é um fator que acaba gerando muita confusão nas
discussões que se dão em torno do assunto.
A Bíblia diz que o sexo é só para o casamento e que não deve ser feito antes e,
mesmo depois do casamento, só com o cônjuge e mais ninguém. A Palavra de Deus
condena toda e qualquer relação incestuosa. As Escrituras também mostram que toda
relação homossexual é abominação, bem como a bestialidade (sexo com animais). Mas
sejamos sinceros, não há um texto que diga claramente o que um casal pode e não pode
fazer! Os textos que alguns tentam usar para isto são aplicações equivocadas, e vou falar
sobre isto mais adiante.
Portanto, se a Palavra de Deus não fala abertamente sobre quais são os limites do
prazer, não posso chamar de pecado, algo que a Bíblia não diz que é. Contudo, aquilo que
não é pecado para um pode ser para outro. E penso que é aqui que muitos erram ao tentar
tratar do assunto só de forma generalizada.
Por exemplo, se a Palavra de Deus não proíbe algo, mas eu penso (ainda que
equivocadamente), ACREDITO que ela proíba, então minha crença – ainda que
equivocada – pode me levar a pecar. Paulo ensinou isto em sua Epístola aos Romanos:
É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão
venha a tropeçar ou se ofender ou se enfraquecer. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante
Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem
dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é
pecado.”
Romanos 14.21-23

O que não procede da fé é pecado. Portanto, mesmo que não haja um mandamento
específco das Escrituras condenando determinadas práticas sexuais, mas alguém acredita
que não deveria fazer aquilo – talvez por ter sido ensinado assim – esta pessoa peca se vier
a fazer aquilo.
A Bíblia diz que bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.
Se a pessoa aprova, não deve ter dúvidas depois, senão estará pecando, uma vez que sua
decisão não procede da fé. Mas muitos casais que aprovam o sexo oral e defendem isto
com seus argumentos racionais acabam nos admitindo que muitas vezes, lá no fundo,
surge uma dúvida, um questionamento se realmente estão ou não certos. Então a questão
é que, mesmo não sendo claramente proibido na Bíblia, este casal está diante de um limite.
Pode não ser o limite para outros, mas será para eles!
Por exemplo, uma moça que, por toda a sua vida, foi ensinada em uma igreja
“super-ultra-hiper-pentecostal” que cortar o cabelo é pecado – ainda que a Bíblia não
ensine isto – e acaba cortando seu cabelo, não porque tenha recebido luz bíblica sobre o
assunto, mas violando sua própria crença e consciência, então ela está pecando.
Assim sendo, não posso afrmar que a Bíblia chame de pecado determinadas
práticas sexuais, mas isto não quer dizer que, se alguém fzer isto sem esta luz e fé, não
estará pecando. Se o que uma pessoa faz (em seu ato conjugal) não procede da fé, e ela vier
a ter dúvidas depois, esta pessoa está pecando ao fazer aquilo. Contudo, ainda assim, não
quer dizer que qualquer outra pessoa que vier a fazer a mesma coisa também esteja
pecando.

SEGUINDO A CONSCIÊNCIA

Paulo aconselhou os irmãos de Colossos:

“Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só
corpo; e sede agradecidos.”
Colossenses 3.15

Temos um “juiz”, um “árbitro” interior. Se nosso coração tem paz, sintamo-nos


livres para seguir adiante; se não, então devemos corrigir aquilo que tem tirado nossa paz.
O apóstolo João também ensinou sobre isto: “Amados, se o coração não nos acusar, temos
confança diante de Deus” (1 Jo 3.21).
Já aconselhei muitos casais em que um dos cônjuges afrmava ter a liberdade para
certa prática sexual, porém o outro não conseguia partilhar da mesma liberdade. Meu
conselho, em situações como essa, é nunca violar a consciência do outro e andarem em
pleno acordo, em mútuo consentimento. Algo não precisa ser errado para todo mundo
para que também o seja para você. Por outro lado há pessoas fazendo algumas coisas que
eu jamais faria ou aconselharia e alegam estar em paz e de coração limpo. Eu não fui
chamado para defnir os limites deles; naquilo em que a Palavra de Deus silencia eu não
posso dizer nada. Entretanto, naquilo que a Palavra é clara eu vou proclamar em alto e
bom som!
Isto signifca que estamos tentando advogar algum tipo de prática sexual? Não,
absolutamente não. Esta não é nossa intenção ou propósito. Já disse que não creio que vale
tudo entre quatro paredes. Mas isto não signifca que meus limites sejam os mesmos de
outras pessoas! O problema de alguns líderes é que as pessoas querem que ELES digam o
que elas devem fazer e eles acabam aceitando esta pressão (alguns, na verdade, parecem
gostar disto). Deus não me chamou para governar a casa de ninguém, só a minha própria!
Mas Ele me chamou para ensinar as pessoas o que a Sua Palavra diz. Depois, de saber o
que ela diz, cada um decida se vai ou não obedecer e como deve fazer isto.
Quando me perguntam sobre a questão do sexo oral eu normalmente respondo que
não proíbo (não prego contra) e nem aconselho (nem prego a favor). Mas costumo indagar
porque as pessoas estão me perguntando aquilo. Muitas vezes a pessoa está lidando com
um “sinal vermelho” que já está lá dentro dela, em sua consciência. Outras vezes a razão
da pergunta é porque alguém tentou convencê-los de que é errado e eles não conseguem
se sentir ultrapassando nenhum limite.
Já decidi faz tempo que não serei eu que irei determinar quais são os limites do
prazer. Ensinarei sobre seguir a consciência e que tudo o que não procede da fé é pecado.
O resto é responsabilidade de cada um.
Antes de falar de que o que não procede da fé é pecado, o apóstolo Paulo mostrou
que há crentes que possuem diferentes níveis de entendimento e de crença:

Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode
comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não
julgue o que come, porque Deus o acolheu. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos
os dias. Cada um tenha opinião bem defnida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia
para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come
para o Senhor não come e dá graças a Deus.”
Romanos 14.1-3,5-6

Ele instruiu a igreja em Roma a não fcar discutindo para tentar saber quem estava
certo e quem não estava – embora manifestou sua opinião ao chamar um deles de débil na
fé. Ele enfatizou que não deve haver desprezo ou julgamento entre pessoas que crêem de
forma diferente acerca de detalhes que envolvem a vida cristã.
Portanto, a primeira coisa que devemos estabelecer é que algumas convicções
devem ser mantidas no nível pessoal. O problema é que as pessoas querem estabelecer os
limites dos outros sem que a Bíblia o faça! Os que são, por exemplo, radicalmente contra o
sexo oral querem proibir a todos; enquanto que os que dizem sentir liberdades para isto
querem convencer os que não sentem a mesma liberdade a fazer o que eles fazem. Porém,
temos que nos lembrar do que Paulo afrmou aos crentes de Roma: “ A fé que tens, tem-na
para ti mesmo perante Deus” (Rm 14.22). Há convicções que não devem ser debatidas; elas
devem ser só suas e de mais ninguém.

A QUESTÃO DO SEXO ANAL

Se a nossa preocupação é viver a Palavra de Deus em nosso casamento, devemos


procurar ver o que ela ensina a respeito. Um versículo que sempre ouvi ser apresentado
para falar contra o sexo anal (e também oral) é este:

“Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o
modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens
também, deixando o contato natural da mulher, se infamaram mutuamente em sua sensualidade,
cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu
erro.”
Romanos 1.26,27

Quando a Bíblia diz que “mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro,
contrário à natureza”, está se referindo a que? Ao fato de que as mulheres passaram a se
envolver com mulheres e homens com homens, o que é um tipo de pecado repetidamente
condenado nas Escrituras.
No entanto, tenho visto este texto ser usado contra o sexo anal e oral alegando que
os homens, quando mantinham suas relações com outros homens, dependiam da
penetração anal, e que as mulheres, em suas relações com outras mulheres, por estarem
desprovidas da possibilidade natural de penetração, então mantinham a forma de sexo
oral.
Mas usar este texto para estabelecer os limites do prazer seria transformar o pecado
aqui condenado do homossexualismo em apenas um pecado de ultrapassar os limites do
prazer. Isto é errado! É quase o mesmo que dizer que se estes homens e mulheres apenas
se beijassem e mantivessem um contato de carícias não estariam errando!
O que este texto está dizendo não é a respeito do QUÊ se faz (se é oral ou anal), e
sim COM QUEM se faz uma prática sexual errada. A relação é denominada pelo apóstolo
Paulo como contrária à natureza por se ter abandonado o padrão de que desde o princípio
Deus fez homem e mulher para se relacionarem (e sob a aliança matrimonial), e não cabe,
no plano de Deus a prática homossexual (Lv 18.22). Assim como também a Bíblia condena
a bestialidade (sexo com animais – Lv 18.23), pois ambos são contrários à natureza.
Porém, acredito que a frase “contrário à natureza” também se aplique como
advertência à penetração num orifício do corpo que não foi projetado para isso. Ainda
bem que o orifício do ouvido é pequeno o sufciente para não aumentar essas polêmicas!
O texto bíblico que, em minha opinião, dá a entender que o sexo anal é errado (além
de toda a questão da anatomia do corpo humano) é o seguinte:

“Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem
impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem
avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes
alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santifcados, mas fostes justifcados em o nome do
Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.”
1 Coríntios 6.9-11

Uma lista de práticas pecaminosas é feita neste texto, falando de coisas que muitos
de nós cometemos antes de sermos salvos e santifcados por Deus. Nesta lista temos
quatro diferentes pecados de ordem sexual que são mencionados: “...nem impuros... nem
adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas...”. Examinemos estas palavras que Paulo
empregou aqui: de acordo com a Concordância de Strong, a palavra do original grego
traduzida como “impuros” é “pornos”, que signifca: “1) homem que prostitui seu corpo à
luxúria de outro por pagamento; 2) prostituto; 3) homem que se entrega à relação sexual ilícita,
fornicador”. Já a palavra traduzida por “adulteros”, é “moichos” e signifca: “adúltero”
(metaforicamente pode se referir a alguém que é infel a Deus, descrente). A palavra
“efeminados” no grego é “malakos” e signifca “1) mole, macio para tocar; 2) metaforicamente
(e num mal sentido): afeminado; de um rapaz que mantém relações homossexuais com um homem;
de um homem que submete o seu corpo a lascívia não natural”. Já a palavra “sodomitas” vem do
grego “arsenokoites” e signifca: “alguém que se deita com homem e com mulher, sodomita,
homossexual”.
Agora observe: Paulo fala de alguém que se prostitui e fornica (pecados sexuais dos
solteiros), depois fala de alguém que adultera (pecado sexual de alguém casado), então
fala de alguém afeminado e que mantém relações sexuais com outro homem (pecado de
sexualidade contrária à natureza). Quando parece não ter mais nenhum pecado de ordem
sexual não abordado, ele acrescenta “sodomita”; portanto, não creio que ao falar do
sodomita ele esteja se referindo só ao homossexualismo em si, mas à prática de sexo anal
que, ao longo dos séculos e culturas tem sido usada para falar especifcamente acerca da
penetração anal (independentemente de ser feita com homem ou mulher). Ao meu
entender, diferentemente do sexo oral, temos aqui, uma restrição bíblica e não só uma
questão de consciência.
E, além do princípio bíblico (que é, sem dúvida, o fator mais importante para
formar nossa opinião), concordo plenamente com a posição do Dr. Douglas E. Rosenau,
psicólogo e terapeuta familiar e sexual, em seu livro “Celebração do Sexo”, onde ele afrma
o seguinte (página 53): “Vamos conversar de maneira breve a respeito do sexo anal. Muitos
homens cristãos têm permitido que o sexo anal se torne uma verdadeira obsessão, em detrimento do
resto do relacionamento. Eles se fxam neste comportamento como sendo um símbolo de variedade
ou aventura. O tecido vaginal foi concebido por Deus para ser usado no relacionamento sexual,
porém o ânus não. Com hemorróidas e a fragilidade da área retal, é mais sensato não fazer do ânus
uma área de excitação sexual. É extremamente fácil provocar ferimentos ou lesões na área retal.
Ainda, muitas bactérias presentes ali podem interferir negativamente no equilíbrio bacteriológico da
vagina e provocar infecções vaginais.”

A QUESTÃO DA MASTURBAÇÃO

Recordo-me de certa ocasião em que, em um acampamento de jovens, ouvi que a


base bíblica contra a masturbação (a que chamaram de “onanismo”) podia ser encontrada
num texto do Antigo Testamento:

“Judá, pois, tomou esposa para Er, o seu primogênito; o nome dela era Tamar. Er, porém, o
primogênito de Judá, era perverso perante o Senhor, pelo que o Senhor o fez morrer. Então, disse
Judá a Onã: Possui a mulher de teu irmão, cumpre o levirato e suscita descendência a teu irmão.
Sabia, porém, Onã que o flho não seria tido por seu; e todas as vezes que possuía a mulher de seu
irmão deixava o sêmen cair na terra, para não dar descendência a seu irmão. Isso, porém, que fazia,
era mau perante o Senhor, pelo que também a este fez morrer.”
Gênesis 38.6-10

Onã, flho de Judá (nome do qual se originou a expressão “onanismo”), como


vemos no texto bíblico, praticou o chamado “coito interrompido”, medida
anticoncepcional antiga. Não enxergo de modo algum aqui a prática da masturbação,
porque se trata de uma relação sexual normal entre um homem e uma mulher.
O que aconteceu de errado foi ele se aproveitar sexualmente repetidas vezes de sua
cunhada quando tinha a clara intenção de não gerar um flho que sustentasse o nome e
descendência de seu falecido irmão. Se Onã não queria a responsabilidade de gerar um
descendente, não deveria possuir a viúva. Este costume que já existia entre os povos
antigos, acabou sendo dado posteriormente por Deus a Moisés como um mandamento a
ser cumprido:

“Se irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem flhos, então, a mulher do que morreu
não se casará com outro estranho, fora da família; seu cunhado a tomará, e a receberá por mulher, e
exercerá para com ela a obrigação de cunhado. O primogênito que ela lhe der será sucessor do nome
do seu irmão falecido, para que o nome deste não se apague em Israel. Porém, se o homem não quiser
tomar sua cunhada, subirá esta à porta, aos anciãos, e dirá: Meu cunhado recusa suscitar a seu
irmão nome em Israel; não quer exercer para comigo a obrigação de cunhado. Então, os anciãos da
sua cidade devem chamá-lo e falar-lhe; e, se ele persistir e disser: Não quero tomá-la, então, sua
cunhada se chegará a ele na presença dos anciãos, e lhe descalçará a sandália do pé, e lhe cuspirá no
rosto, e protestará, e dirá: Assim se fará ao homem que não quer edifcar a casa de seu irmão; e o
nome de sua casa se chamará em Israel: A casa do descalçado.”
Deuteronômio 25.5-10

O problema é que destorcem o que ocorreu no relato de Onã para dizer que o
pecado do “onanismo” (que atraiu a ira de Deus) é derramar o sêmen no chão, logo quem
se masturba e derrama seu sêmen no chão está cometendo “o mesmo pecado”. É
impressionante a violência à interpretação bíblica que algumas pessoas fazem para tentar
estabelecer (não só equivocadamente, mas muitas vezes até desonestamente) uma
doutrina. Se o problema em questão fosse derramar o sêmen, então as mulheres poderiam
se masturbar à vontade! O erro seria só para os homens que derramam seu sêmen por
terra... Oh, por favor!
A verdade é que não há um texto bíblico que fale acerca da masturbação, mas
quando estamos ministrando os solteiros, sempre procuramos ensinar que, além da
questão da consciência (onde todos sentem condenação e interiormente sabem que estão
errados nesta prática), ainda temos que levar em conta o propósito do sexo. Deus nos fez
como seres sexuais não só para procriação, mas para expressar amor ao cônjuge.
Praticamos o sexo à dois, não apenas para ter, mas principalmente para oferecer prazer a
pessoa que amamos; logo um ato sexual realizado sozinho está absurdamente contrário ao
propósito divino para o sexo. É por estes princípios, e somente por eles, que nos
manifestamos contrários à prática da masturbação.
Ao lidarmos com a questão dos solteiros isto é um assunto praticamente resolvido,
sem problemas. Mas normalmente a pergunta dos CASADOS é esta:
“Podemos proporcionar prazer sexual ao nosso cônjuge desta forma?”
Aqui temos uma simples questão de aplicação lógica. A masturbação é errada para
o solteiro porque fere o propósito do sexo, e é uma prática individual (modalidade
inexistente de sexo na Bíblia). Porém, quando um casal resolve mutuamente praticar o
estímulo genital (alguns terapeutas preferem esta defnição) um ao outro, cada um
oferecendo prazer ao seu cônjuge, não sendo uma prática egoísta ou solitária, e cumprindo
assim o propósito do sexo, entendo que não há nada condenável nisto.
Portanto, a menos que alguém encontre um limite em sua própria consciência, o
que creio é que não temos uma violação bíblica neste assunto e nem tampouco algo que
contrarie o propósito do sexo entre o casal.

CUIDADO COM OS PADRÕES MUNDANOS

Uma coisa importantíssima, que não podemos deixar de levar em conta quando
tratamos da questão dos limites do prazer, é que não podemos nos conformar com os
padrões mundanos:

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a
boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12.1,2

A Bíblia é muito direta sobre o assunto; não podemos tomar a forma deste mundo.
Hoje em dia somos muito “bombardeados” pela mídia, que despeja sobre nós o tempo
todo os padrões mundanos de relação sexual.
Uma coisa que ajuda a estabelecer os limites é checar a motivação e origem de
alguns desejos que se manifestarão em nosso íntimo. Em uma certa ocasião, um irmão me
perguntou se era certo ou errado trazer um pouco de certas comidas e bebidas para seus
‘jogos sexuais” com a esposa. Respondi a pergunta dele com outra:
“Você se inspirou em Cantares, que diz: ‘O teu umbigo é taça redonda, a que não falta
bebida’ (Ct 7.2) ou no flme ‘9 e ½ Semanas de Amor’ (que tem uma conhecida cena de
amor feita na cozinha) para planejar este momento?”
E a resposta dele foi:
“Valeu, ein pastor? Já entendi tudo. Aliás, o senhor também acertou o flme...”
A questão não é só o quê você faz, mas sim porque faz. Afrmei anteriormente que
não tenho base bíblica para proibir nem encorajar o sexo oral; contudo já estive dando
aconselhamentos em que o marido acaba confessando que nem tinha tanto prazer assim
neste tipo de prática, mas cresceu assistindo flmes pornográfcos e era obsecado com tal
idéia. Num momento como este vemos que há uma infuência mundana dominando um
crente como este e a questão não é mais se aquela prática é lícita ou não, mas sim que,
nestes termos certamente será problemática. Sem contar as queixas de esposas que a Kelly
e eu já ouvimos, que embora algumas delas, particularmente, não vissem nenhum
problema no sexo oral em si, ainda assim sentiam-se muito mal quando seus maridos,
como este que mencionei, as nivelam com as atrizes pornôs que eles cobiçavam quando
ainda estavam no mundo e no pecado.
Então devemos nos questionar:
“Quanto do mundo estamos trazendo para nosso lar e leito conjugal?”
Lembrando que não há meio termo:

“Inféis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
Tiago 4.4

Muita gente gasta tempo tentando descobrir o que é proibido e o que não é na
relação íntima conjugal. Porém as Escrituras nos ensinam a tratar não só com a questão de
proibido ou permitido. Paulo declarou:

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas
eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.”
1 Coríntios 6.12

“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas
edifcam.”
1 Coríntios 10.23

Logo, o que conta não é só aquilo que é o certo ou o errado, o proibido ou o


permitido, mas se aquilo exerce algum tipo de domínio sobre mim ou não; se é algo que
convém ou não; se me traz ou não edifcação.

SEXO NO PERÍODO MENSTRUAL

Na Antiga Aliança, o sexo na menstruação era proibido (Lv 12.2; 15.19,24; 20.18; Ez
22.10). Na verdade, não só o ato sexual, mas qualquer forma de contato era vedada. O
casal nem podia compartilhar o mesmo leito neste período! Hoje, sob as reformas da Nova
Aliança em que vivemos (Hb 9.10), não temos nenhuma ordenança bíblica que estabeleça
alguma restrição para a relação sexual durante o período menstrual da esposa.
Contudo, os limites do prazer não defnidos somente pelo fato de haver macula
espiritual ou não. Às vezes, os limites são estabelecidos de acordo com um consenso ao
qual o casal chega, levando-se também em consideração outros fatores.
O corpo da mulher enfrenta certas mudanças biológicas durante o período
menstrual; muitas delas passam por grande desconforto e até mesmo dor. Além de
incomodadas, muitas estarão também indispostas, o que indica a necessidade de “um
tempo”, o que é muito justo e merecido, além de uma ótima oportunidade para que o
marido se dedique à oração.
Existe ainda a questão higiênica e saudável. Este é um momento onde o equilíbrio
bacteriológico pode ser afetado. É claro que há formas de se driblar este risco, como o uso
de preservativos, ou ainda o sexo no banho (no começo ou fm do período onde não há o
“grande fuxo”). Porém, ao meu entender, isto deveria ser fruto de uma iniciativa da
própria esposa, e não uma “pressão” imposta pelo marido desprovido de domínio próprio
– virtude imprescindível para a vida cristã.
Eu diria que o sexo no período menstrual é desaconselhado, a menos que o casal,
em comum acordo, encontre as formas de driblar o desconforto. Mas de forma alguma
poderia dizer que isto é um limite para o prazer que, se desrespeitado, traria mácula ao
leito conjugal.

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