(Artigo) Vacina de Dna

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Semina: Ciências Agrárias

ISSN: 1676-546X
[email protected]
Universidade Estadual de Londrina
Brasil

Satiko Kano, Flora; Vidotto, Odilon; Vidotto, Marilda Carlos


Vacina de DNA: aspectos gerais e sua aplicação na medicina humana e veterinária.
Semina: Ciências Agrárias, vol. 28, núm. 4, octubre-diciembre, 2007, pp. 709-726
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=445744086025

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Vacina de DNA: aspectos gerais e sua aplicação na medicina humana e veterinária

Vacina de DNA: aspectos gerais e sua aplicação na


medicina humana e veterinária

DNA vaccines: general concerns and its applications in


human and veterinary medicine

Flora Satiko Kano1; Odilon Vidotto2; Marilda Carlos Vidotto3*

Resumo
A vacinação com DNA é uma das mais promissoras técnicas de imunização contra uma variedade de
patógenos e tumores, para os quais os métodos convencionais não tem sido eficientes. Vacinas de DNA
são capazes de induzir resposta imune humoral e celular, tanto para resposta de linfócitos CD4+ quanto
CD8+, sem a necessidade de microrganismos vivos. Apesar do grande potencial de induzir imunidade
protetora, a vacina de DNA nem sempre apresenta bons resultados. A imunidade depende de vários
fatores como a seleção do gene alvo, construção do vetor de expressão, freqüência e via de administração
da vacina, quantidade de DNA, localização do antígeno codificado pelo plasmídio e idade, saúde e
espécies de animais vacinados. Esta revisão relata o desenvolvimento de algumas vacinas de DNA para
doenças de interesse na medicina veterinária e humana.
Palavras-chave: Anaplasma marginale, vacina de DNA, bovinos, resposta humoral, resposta celular

Abstract
The vaccination with DNA is one of the most promising immunization techniques against a pathogens
variety and tumors, for which the conventional methods have not been efficient. DNA vaccines are
capable to induce immune humoral and cellular response, directed to lymphocytes CD4+ and CD8+,
without the necessity of live microorganisms. In spite of the great potential of inducing protective
immunity, the DNA vaccine not always has success. The immunity depends on several factors such as
the selection of the target gene, construction of the expression vector, frequency and via of administration
of the vaccine, amount of DNA, location of the antigen codified by the plasmid and age, health and
species of vaccinated animals. This revision shows the development of some vaccines of DNA for
diseases of interest in the veterinary and human medicine.
Key words: Anaplasma marginale, DNA vaccine, cattle, humoral response, cellular response

1
Médica Veterinária, Dra. Pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal
2
Professor Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (DMVP), CCA, UEL
3
Professora Sênior do DMVP, CCA, UEL. E-mail: [email protected]
* Autor para correspondência
Recebido para publicação 15/07/07 Aprovado em 10/11/07
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Introdução induzido por este tipo de vacina despertou interesse


da comunidade científica.
A vacinação é a medida mais eficiente e menos
dispendiosa para evitar doenças infecciosas. Apesar Diversos trabalhos têm demonstrado a indução
dos grandes benefícios das vacinas existentes, há da imunidade protetora em camundongos pela
ainda muitas doenças para as quais não existem imunização genética contra uma variedade de
vacinas. Recentemente tem ocorrido o ressurgimento microrganismos como vírus (DAVIS; McCLUSKIE,
de várias doenças, principalmente nos países em 1999), bactérias (STRUGNELL et al., 1997) e
desenvolvimento. protozoários (KALINNA, 1997), contra o câncer
(LIU et al., 2004) e algumas doenças autoimunes
Diversas estratégias têm sido utilizadas para o
(RAMSHAW et al., 1997). Na medicina humana, as
desenvolvimento de diferentes tipos de vacinas. As
pesquisas com vacinas de DNA têm sido direcionadas
vacinas de primeira geração foram produzidas com
principalmente para a AIDS, malária e tuberculose
microrganismos vivos e atenuados, como a vacina
(WANG et al., 1998, WANG et al., 2005; ZHANG
BCG contra a tuberculose, ou mortos e inativados
et al., 2007). A utilização da vacinação por DNA na
como a vacina contra a Bordetella pertussis
terapia contra tumores gerou resultados satisfatórios
(BLOOM, 1989). Na última década, o grande avanço
(LIU et al., 2004) e, recentemente, resultou no
da biologia molecular permitiu a introdução de novas
controle de crescimento de melanoma em estágio
estratégias para a obtenção e a produção de antígenos
avançado (LIAO et al., 2006).
e foram otimizadas novas maneiras de se administrar
e apresentar esses antígenos para as células do A administração de uma única dose de plasmídio
sistema imune. Estas estratégias permitiram o pode proporcionar um amplo espectro de resposta
desenvolvimento de vacinas mais seguras, eficazes imune, incluindo a ativação dos linfócitos T CD8+ e
e polivalentes. Entre estas estão as de subunidades, linfócitos T CD4+, os quais secretam citocinas e têm
consideradas de segunda geração, constituídas de função reguladora na produção de anticorpos
antígenos purificados e provenientes de fontes (KOWALCZYK; ERTL, 1999). O sucesso da
naturais ou sintéticas, e antígenos recombinantes. As imunização com DNA depende, principalmente, da
vacinas gênicas ou de terceira geração surgiram com natureza dos antígenos, da freqüência e via de
a introdução de genes ou fragmentos de genes, que administração, da concentração de DNA
codificam antígenos potencialmente imunogênicos, administrada, da localização celular do antígeno
em vetores virais ou em DNA plasmidial codificado pelo plasmídio (secretado, ligado à
(RODRIGUES JR et al., 2004). membrana ou citoplasmático), da idade e saúde do
hospedeiro e da espécie dos animais vacinados
A vacina de DNA foi descrita em 1990, quando o
(RAINCZUK et al., 2003; MOREL et al., 2004;
plasmídio contendo um gene repórter que codifica a
ROBINSON, 1997; FYAN et al., 1993).
â-galactosidase expressou a proteína após a
inoculação direta no músculo de camundongos O material genético dos microrganismos é pouco
(WOLFF et al., 1990). Este estudo avaliou fatores estável na célula humana devido ao tamanho da
que determinam a eficiência da transferência do gene molécula de DNA e à repulsão existente entre as
e da imunogenicidade conferida pela inoculação do cargas negativas da membrana da célula e do DNA.
plasmídio. Posteriormente, a inoculação de DNA que Quando o material genético não é transfectado à
codifica uma proteína imunogênica do vírus influenza célula, rapidamente é degradado pelas nucleases
conferiu imunidade protetora em camundongos (LEVY et al., 1996) e não haverá produção de
(ULMER et al., 1993). A partir destes resultados, o anticorpos pela ausência da expressão protéica. Para
entendimento sobre o mecanismo imunológico facilitar a entrada do DNA na célula são utilizadas,

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em geral, partículas virais e lipossomas (PERKINS imunização dependendo do gene em questão


et al., 2005; BRIANE et al., 2002), mas há reações (GLENTING; WESSELS, 2005).
adversas. No caso das partículas virais o risco está
Um dos vetores utilizados nas vacinas de DNA é
na toxicidade dos vírus, que podem se integrar à célula
o plasmídio bacteriano, desenvolvido originalmente
(GLENTING; WESSELS, 2005). Melhorar a
para expressão in vitro de proteínas em células de
propagação pelas células é de grande
mamíferos (DAVIS; McCluskie, 1999). Os plasmídios
importância para o desenvolvimento de vacinas
apresentam maior segurança biológica, baixo custo,
de DNA, uma vez que a indução efetiva da
fácil produção, relativa estabilidade e capacidade
imunidade tem requerido várias imunizações
genômica de 2 a 19 kilobases, que podem ser
utilizando concentrações altas de plasmídios
transferidos para as células musculares.
(MWANGI et al., 2005).
Os plasmídios utilizados como vacinas devem
conter os seguintes elementos essenciais: i) um
Construção da Vacina de DNA promotor de expressão para células de mamíferos; ii)
sinal de poliadenilação (poliA) do transcrito (mRNA),
A vacina é baseada na tecnologia do DNA
iii) um marcador de seleção; iv) uma origem de
recombinante que envolve a transferência de um
replicação procariótica e v) sítio de múltipla clonagem
determinado gene (transgene), que codifica uma
onde é inserido o gene de interesse. Outras seqüências
proteína (imunógeno), dentro de um vetor de
também são importantes como intron que aumenta a
expressão para células eucarióticas (WAINE;
atividade do promotor, peptídeo sinal e seqüências de 6
McMANUS, 1995).
nucleotídeos com função imunoestimulatória
Durante a década de 90, diferentes vetores que (GURUNATHAN et al., 2000; GLENTING;
expressam genes em células de mamíferos foram WESSELS, 2005), como mostra a Figura 1.
desenvolvidos, bem como novos métodos de
transferência gênica direta (AZEVEDO et al., 1999).
Um vetor ideal deve carrear grande capacidade
genômica; ser de fácil produção; direcionar a resposta
imune para tipos específicos de células; não permitir
replicação autônoma do DNA; garantir uma
expressão gênica por longo período; não ser tóxico;
e não induzir reações de tolerância e auto-imune nos
hospedeiros (GLENTING; WESSLES, 2005). Os
vetores virais e plasmidiais são os mais utilizados na
transferência gênica direta.
Os vetores virais são de fácil propagação entre Figura 1. Representação esquemática das principais
as células, eficazes na ativação tanto da resposta características genéticas de um vetor plasmidial utilizado
imune humoral quanto celular e requerem muitas na vacina de DNA. Fonte: Glenting e Wessels (2005)
vezes, apenas uma aplicação (SEDEGAH et al.,
1998). Entretanto, têm a desvantagem de serem Os plasmídios que possuem um forte promotor e
derivados de patógenos; apresentarem risco de que induzem a expressão em altos níveis da proteína
mutagênese insercional; inativação pelo sistema em células eucarióticas, induzem uma melhor
complemento; e serem contra-indicados para resposta imune (GARMONY et al., 2003). Os
pessoas com imunodepressão. Portanto, os vetores promotores de origem vírica como do citomegalovírus
virais são de interesse limitado para o propósito de humano (hCMV) ou do vírus Simius 40 (SV40)
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induzem forte expressão protéica quando comparados Vantagens e os Potenciais Problemas das Vacinas
com outros promotores (NORMAN et al., 1997, de DNA
GARMONY et al., 2003), embora promotores de
As vacinas de DNA oferecem uma série de
expressão alternativos como do vírus do sarcoma
vantagens quando comparadas às vacinas clássicas,
(RSV) possam ser utilizados. A expressão de um
em termos econômicos e técnicos. O custo de
gene varia conforme o elemento regulatório. A
produção das vacinas gênicas em larga escala é
expressão da glicoproteína D (gD) do herpesvírus
consideravelmente menor ao custo de produção das
bovino 1 (BoHV-1) sob o controle do promotor do
vacinas compostas de fração subcelular, proteínas
citomegalovírus foi superior ao promotor originado
recombinantes e peptídeos sintéticos (WHALEN,
do vírus do sarcoma humano. Entretanto, a
1996, ROBINSON, 1997). O controle de qualidade
característica do gene em questão pode influenciar
é mais fácil, a comercialização não necessita de uma
na expressão protéica sob a regulação do mesmo
rede de refrigeração, pois estas vacinas são estáveis
promotor. A expressão da hemaglutinina do
à temperatura ambiente e podem ser liofilizadas
parainfluenzavírus bovino 3 e o gene OMLA do
(WAINE; McMANUS, 1995). Estes fatores
Actinobacillus pleuropneumoniae sob a regulação
facilitam o transporte, a distribuição e o
do promotor hCMV foi significativamente superior
estabelecimento de amplos programas de imunizações
ao gene da gD do BoHV-1 (van DRUNEN LITTEL-
em regiões de difícil acesso, o que seria interessante
van den HURCK et al., 1999).
para a realidade brasileira e de outros países em
Posteriormente à região do promotor de expressão desenvolvimento (AZEVEDO et al., 1999,
há uma região de múltiplos sítios de clonagem, seguida GLENTING; WESSLES, 2005).
do gene da seqüência de poliadenilação (poliA), para
A principal vantagem da vacina de DNA é que
proporcionar estabilidade à fita do RNA mensageiro
assim como as vacinas atenuadas ela induz a
(RNAm). A origem da seqüência de poliA mais
produção de anticorpos e de resposta imune celular,
utilizada é originada do gene do hormônio de
tanto linfócitos T auxiliares (CD4 +) quanto T
crescimento bovino (BGH) ou do SV40 (XU, et al.,
citotóxico (CD8+) (van TIENHOVEN et al., 2001,
2001, GARMONY et al., 2003).
NAGATA et al., 2004). Adicionalmente, as vacinas
Os genes bacterianos de resistência aos gênicas não são afetadas pelos anticorpos maternos,
antibióticos como a ampicilina e a kanamicina são os não apresentam risco de reversão da atenuação e
marcadores de seleção mais utilizados. Entretanto, a podem ser produzidas contra agentes infecciosos de
tendência é a substituição por vetores que não utilizam difícil cultivo e atenuação. A vacina pode ainda ser
genes de resistência aos antimicrobianos devido ao co-administrada para multiagentes ou multiepitopos
risco do plasmídio transformar a microbiota do de um determinado agente infeccioso (HAN et al.,
hospedeiro e disseminar a resistência aos 1999, DOOLAN; HOFFMAN, 1997).
antimicrobianos (GLENTING; WESSELS, 2005). A
No caso de indivíduos imunocomprometidos, um
origem de replicação bacteriana é derivada da
grupo com alto risco de desenvolver uma doença, a
Escherichia coli ColE1 que está presente nos
vacina de DNA seria interessante, pois uma vacina
plasmídios de clonagem da série pUC. Esta origem
comercial como por exemplo contra a tuberculose
de replicação proporciona um elevado número de
(BCG) é contra-indicada (WHALEN, 1996). Em
cópias de plasmídios, a qual permite a obtenção de
crianças e idosos, cujo sistema imunológico se apresenta
grande quantidade de plasmídios purificados
imaturo ou deficiente, a avaliação da vacina de DNA
(AZEVEDO et al., 1999, GURUNATHAN et al.,
não apresentou os riscos proporcionados pelas vacinas
2000, GARMONY et al., 2003).
vivas atenuadas (SIEGRIST, 1997).

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A tecnologia do DNA recombinante permite antígenos (BOYLE et al., 1998; LATOUCHE &
modificações nas seqüências gênicas, objetivando a SADELAIN, 2000). As células musculares,
melhoria na resposta imunológica do hospedeiro, tais provavelmente, liberam antígenos localmente, os
como incorporações de seqüências quais são processados pelas células apresentadoras
imunoestimulatórias (ISS), seqüências de genes que de antígenos (APCs), tais como as células dendríticas
codificam interleucinas e genes virais que codificam e as de Langerhans (RAZ et al., 1993, WOLFF et
proteínas que melhoram a propagação em células al., 1990, MUMPER & LEDEBUR, 2001).
(RAINCZUK et al., 2003; ZHENG et al., 2005).
No mecanismo proposto (Figura 2), após a
Os riscos que podem ser gerados com vacinas inoculação intramuscular, o DNA é incorporado às
de DNA, como a integração do plasmídio ao genoma células musculares (miócitos) e/ou células APC. Os
hospedeiro, gerando mutagênese pela ativação de DNAs que forem endocitados pelas células no sítio
protoncogenes ou pela inativação de genes de inoculação permanecem no núcleo celular sem
supressores de tumor, estão sendo avaliados. Estudos ocorrer incorporação ao genoma da célula
têm mostrado baixa probabilidade de ocorrer hospedeira. As vias metabólicas da célula hospedeira
integração do plasmídio. Três diferentes vacinas de são utilizadas para os processos de transcrição do
DNA contendo genes virais foram avaliadas em DNA inoculado e, em seguida, o RNA mensageiro é
camundongos, e se a integração tivesse ocorrido, a traduzido para que ocorra a síntese do antígeno
freqüência seria de oito integrações do DNA por protéico relacionado ao agente infeccioso. Os
células diplóides. Isto seria três vezes abaixo da antígenos expressos endogenamente são processados
freqüência de mutação espontânea. Contudo, ensaios pelas APCs e os fragmentos resultantes complexados
de integração são necessários para todos os DNA com moléculas de classe I que são codificadas por
plasmidiais que serão usados em vacinas para uso genes do complexo de histocompatibilidade (MHC
clínico. Outros riscos incluem a indução de I). Em seguida, estes peptídeos são apresentados na
tolerância, devido à apresentação do antígeno em superfície celular para o reconhecimento e ativação
longo prazo, ou reações auto-imunes devido à indução específica de linfócitos T CD8 citotóxicos. Alguns
de anticorpos anti-DNA. Os níveis destes anticorpos dos antígenos produzidos pelas células musculares
têm aumentado de 20-30% em seres humanos, mas são secretados para o espaço extracelular, onde
não induzem qualquer doença com os títulos podem tanto estimular linfócitos B a produzir
apresentados, ao contrário do aumento de 100-1000 anticorpos específicos como ser endocitados por
vezes detectado em pacientes com doenças auto- outras células apresentadoras de antígenos. No
imunes (HENKE, 2002). processo de endocitose os antígenos passam do
compartimento extracelular para o interior das células
APC e, por este motivo, são considerados antígenos
Mecanismo de Ação e Indução da Resposta exógenos e assim processados em compartimentos
Imune celulares diferentes daqueles realizados quando o
Inicialmente os mecanismos de processamento e antígeno é originado dentro da célula. Os fragmentos
apresentação de antígenos em células musculares de antígenos exógenos são complexados com
foram questionados, uma vez que estas células não moléculas da classe II e apresentados na superfície
expressam antígenos associados ao complexo das células apresentadoras para o reconhecimento e
principal de histocompatibilidade de classe II (MHC ativação de linfócitos T CD4 auxiliares. As vacinas
II), moléculas co-estimuladoras B-7 e ao antígeno-3 de DNA são, portanto, capazes de induzir ambos os
associado à função do leucócito (LFA-3), presentes tipos de imunidade protetora, humoral e celular, com
em células especializadas em apresentação de a estimulação de linfócitos T CD4+ e T CD8+, sem

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alguns dos possíveis riscos associados às vacinas com No plasmídio contendo o transgene, pode-se
organismos vivos (HENKE, 2002). clonar os genes que codificam os componentes
estimuladores da resposta imune (IL-2, IL-12 e IFN-
Após o processamento e apresentação de antígenos
g) ou mesmo co-administrar os plasmídios
pelas APCs são produzidas citocinas, como a IL-12,
recombinantes que codificam estas citocinas. Isto
que estimula a diferenciação das células T virgens em
auxilia no processo de reconhecimento antigênico
Th1 efetoras (SIN et al., 1999). Por sua vez, as células
entre as APCs e os linfócitos (RAZ et al., 1993;
Th1 produzem citocinas como o IFN-g que pode atuar
XIANG et al., 1997).
na célula alvo que carreia o transgene (OLIVEIRA et
al., 1998; NAGATA et al., 2004) e melhorar a expressão A imunidade adquirida pela vacina de DNA
de moléculas de MHC classe II pelas células persiste por longo período de tempo devido à
apresentadoras de antígenos, facilitando a apresentação constante produção endógena do antígeno pela célula
do antígeno e a ativação da célula T. hospedeira e à capacidade destes antígenos
estimularem linfócitos de memória imunológica
(SNADEEP et al., 1996).
A imunidade humoral é responsável por uma
significativa resposta preventiva nas infecções e a
IgG2a tem sido o isotipo predominantemente induzido
pelas vacinas de DNA plasmidial (VERCAMMEN
et al., 2000; OÑATE et al., 2003). O IFN-g produzido
pelo linfócito Th1 é uma importante citocina
moduladora de células B para a secreção de IgG2a
antígeno específico. Em muitas infecções por
microrganismos intracelulares em camundongos a
resposta humoral é caracterizada pelo predomínio
dessa imunoglobulina (COUTELIER et al., 1991,
NAGATA et al., 2004). Por outro lado, a produção
de imunoglobulinas IgG1 e IgE específicas,
dependem, em parte, da presença da interleucina 4
(IL-4) produzida pela subpopulação de linfócitos T
auxiliares (Th2) (SNAPPER et al., 1988).
Fatores como dose de antígeno, tipo de patógeno,
a espécie animal, via de infecção ou imunização,
Figura 2. Hipótese mais aceita do mecanismo de ação da formulação da vacina, e a forma do antígeno (solúvel
vacina de DNA utilizando DNA plasmidial. Após a ou associado) influenciam no desenvolvimento do tipo
imunização com vacina de DNA o antígeno pode ser de resposta imune (FYAN et al. 1993, MOREL et
apresentado às células T pelas células apresentadoras de
antígenos (APCs) ou células somáticas (células
al. 2004, JIN et al., 2004, NAGATA et al., 2004).
musculares) transfectadas com o DNA plasmidial
expressando antígenos. Estas células, particularmente as
células somáticas, podem liberar antígeno para outra APC, Adjuvantes para Vacina de DNA e seu Papel na
pela secreção ou por apoptose das células transfectadas. Imunidade Inata
Estas APCs podem então, apresentar antígeno para
células T CD4+ e CD8+. Fonte: adaptado http:// Nas vacinas de subunidade, tais como as vacinas
www.brookscole.com constituídas por proteínas recombinantes,

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freqüentemente há necessidade da utilização de incorporação do gene do GM-CSF de suíno na vacina


adjuvantes para aumentar a imunogenicidade do de DNA contra a Doença de Aujeszky (DA)
antígeno (ULMER et al., 2006). Os adjuvantes, em demonstrou aumento da proteção clínica de suínos,
sua maioria, são moléculas derivadas de patógenos proporcionada pelo aumento da atividade de célula
como o lipídeo monofosforil; derivados de saponina T (SOMASUNDARAM et al., 1999). A adição do
QS21; adjuvantes químicos como o levamisol e a gene que codifica o IFN-ã à vacina de DNA contra
bupivacaína; e seqüências CpG que ativam células vírus da imunodeficiência felina (FIV) também
do sistema imune inato. Uma vez ativada essas aumentou a proteção clínica revelando um
células modulam e direcionam para a resposta imune decréscimo da carga viral após a infecção (HOSIE
adquirida ou adaptativa (SINGH & O’HAGAN, et al., 1999). Entretanto, a incorporação do gene do
2002; LIMA et al., 2004, JIN et al., 2004). IFN-ã suíno reduziu a proteção clínica contra a DA
(SOMASUNDARAM et al., 1999).
As seqüências CpG imunoestimulatórias são
originadas de DNA bacteriano, não metiladas com Outra citocina particularmente interessante, a IL-
dinucleotídeos CpG flanqueados por purinas e 15, semelhante a IL-2, tem importante participação
pirimidinas, diferentemente do DNA de vertebrados. na proliferação das células T de memória CD8+
Estas seqüências podem estar presentes em (KUTZLER et al., 2005). Porém, o DNA plasmidial
plasmídios bacterianos ou ser associadas ao plasmídio que codifica a IL-15 tem o seu uso limitado devido
recombinante para aumentar a efetividade da vacina. sua regulação complexa, que resulta na baixa
O sistema imune de vertebrados detecta a presença expressão da citocina in situ. Contudo, em recente
do DNA CpG estranho pela ligação com o receptor estudo, uma forma do plasmídio IL-15 aumentou a
Toll-like (TLRs) das células APCs e liberação de proliferação, longevidade e função efetora das células
citocinas, os quais estimulam a resposta imune T CD8+, quando medida pelo aumento da
adquirida (SINGH; O’HAGAN, 2002). O efeito imunogenicidade e eficácia protetora da vacina de
adjuvante das sequências CpG é influenciado pela DNA para influenza e HIV em camundongos
presença do antígeno e liberação do DNA (SINGH (KUTZLER et al., 2005).
et al., 2000; COBAN et al., 2005). Existem
Genes de receptores estimulatórios (NKG2D)
controvérsias sobre o efeito adjuvante das seqüências
encontrado nas células natural killer (NK) e nas
CpG porque nem sempre a incorporação em plasmídio
células T citotóxica também podem ser incorporados
demonstrou melhora na resposta imune. Entretanto,
ao DNA plasmidial. Esta incorporação demonstrou
há resultados que demonstram o aumento da
aumento da eficácia das vacinas de DNA contra o
imunogenicidade da vacina (ULMER et al., 2006).
câncer em camundongos (ZHOU et al., 2005).
Seqüências que codificam citocinas, quimiocinas
e moléculas co-estimulantes podem ser incorporadas
ou co-administradas aos plasmídios recombinantes Vias de Administração da Vacina de DNA
para modular a resposta imune (ULMER et al., 2006). A administração da vacina de DNA utilizando a
As citocinas avaliadas como adjuvantes incluem IL- inoculação direta do plasmídio pelas vias intratraqueal,
1, IL-2, IL-12, IFN-ã e o fator estimulante de intravenosa, intrabursal, intraorbital, intradérmica,
macrófago granulocítico (GM-CSF) (PASQUINI et intramuscular, oral, subcutânea e via mucosa
al., 1997). Contudo, todas estas moléculas exibem demonstraram sucesso na indução da resposta imune
toxicidade relacionada à dose. Genes que codificam em todas as vias testadas (FYNAN et al., 1993;
citocinas, incluindo IL-2, IL-4, IFN-ã foram testados ULMER et al., 1997; UCHIJIMA et al., 1998; REN
para avaliar a habilidade de ampliação da resposta et al., 2002; YOSHIDA et al., 2000; CONG et al.,
imune em camundongos (DUFOUR, 2001). A 2005, LI, et al., 2006). Entretanto, algumas vias
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proporcionaram maior ou menor nível de expressão administradas pela via i.d., induziram altos títulos de
de antígenos influenciando diretamente na anticorpos. Contudo apenas o vetor MCP-3
imunogenicidade da vacina. apresentou resposta imune protetora pela imunização
com DNA plasmidial. A proteção utilizando o vetor
Os níveis de expressão dos antígenos obtidos
VR1020 foi observada apenas após o reforço da dose
pelas diferentes vias de administração parecem estar
com proteínas recombinantes (RAINCZUK et al.,
relacionados com a quantidade de células
2003).
transfectadas obtidas após administração dos
plasmídios. A via intramuscular (i.m.) e a intradérmica A localização celular da proteína, influenciada pela
(i.d.) liberam o DNA plasmidial no meio extracelular, via, é importante no tipo de resposta imune gerada
localização pela qual, a maioria do DNA é (LEWIS et al., 1999, MOREL et al., 2004).
rapidamente degradada pelas nucleases (LEVY et Geralmente, a imunização pela via i.m. induz
al., 1996). Diferentemente, o sistema gene gun libera preferencialmente a resposta Th1, enquanto que o
o DNA dentro das células amenizando a perda inicial sistema gene gun administrado na derme, estimula
do DNA. Nos trabalhos iniciais avaliando as vias de a reposta Th2 ou uma resposta balanceada Th1/Th2,
administração da vacina foi necessária uma caracterizando a resposta imune humoral
concentração de DNA pela via intramuscular 100 (NAFTZGER et al., 1996; WEBER et al., 1998).
vezes maior que o sistema gene gun para Entretanto, a imunização de camundongos por sistema
proporcionar uma resposta imune equivalente gene gun com plasmídios que codificam proteínas
(ROBINSON, 1997). (ovoalbumina) citoplasmáticas e transmembrana
induziram forte resposta imune Th1 e CD8+ (MOREL
O sistema gene gun utilizado para vacinas de
et al., 2004). O predomínio da resposta Th1,
DNA foi avaliado em bovinos, eqüinos, suínos, caninos
determinada pelos títulos de IgG2a (razão de IgG2a/
e em aves (FYAN et al., 1993; MACKLIN et al.,
IgG1 =3), também foi demonstrado em camundongos
1998; VANROMPAY et al., 1999). Em galinhas, o
imunizados com o plasmídio contendo o gene da
gene gun foi o sistema mais eficiente para a liberação
proteína do envelope do vírus da encefalite japonesa.
da vacina de DNA para influenza (FYNAN et al.,
Por outro lado, quando os plasmídios foram
1993). Em perus, a combinação das vias i.m. e
administrados revestidos com micropartículas
intranasal induziu equivalente proteção contra a
catiônicas foram observadas tanto a resposta Th1
Clamydia psittaci comparada à liberação obtida pelo
quanto Th2 e os títulos de anticorpos IgG2a e IgG1
gene gun (VANROMPAY et al., 1999). Por outro
foram similares (razão of IgG2a/IgG1 =1.13) (KAUR
lado, em suínos as imunizações pela via i.m. da vacina
et al., 2004).
de DNA contra peste suína clássica induziram mais
altos títulos de anticorpos do que pelo sistema gene
gun (ANDREW et al., 2000). Assim, a eficácia da
Recentes Avanços para Aumentar a
vacina de DNA varia com vários fatores que podem
Imunogenicidade da Vacina de DNA
influenciar nestas vias de administração, como vetor,
adsorção às partículas, a espécie animal e o patógeno. A vacina de DNA tem apresentado baixa
imunogenicidade em primatas, entretanto duas
O tipo de vetor utilizado nas imunizações com
vacinas foram recentemente licenciadas para animais,
DNA na geração da resposta imune protetora
uma contra o vírus da febre do Nilo do Ocidente em
adquirida foi relatado. A imunização de camundongos
eqüinos e a outra contra vírus da necrose
com os vetores VR1020 (expressa proteína
hematopoiética infeciosa em salmão (ULMER et al.,
secretória) e o vetor que expressa a proteína
2006). Provavelmente, a falha da vacina de DNA
quimotática associada ao monócito 3 (MCP-3),
em induzir forte resposta imune em seres humanos é

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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 28, n. 4, p. 709-726, out./dez. 2007
Vacina de DNA: aspectos gerais e sua aplicação na medicina humana e veterinária

a baixa produção de antígenos, a liberação celular de imunogenicidade em primatas é usualmente obtido


do DNA plasmidial e a estimulação ineficiente do somente pelo uso de vetores virais vivos, como
sistema imune inato ineficiente. Os esforços para adenovírus recombinante (ULMER et al., 2006).
aumentar estes aspectos da vacina de DNA Outra recente tecnologia de liberação física do
aumentaram sua eficácia em animais (ULMER et plasmídio usa tattooing com o objetivo de administrar
al., 2006). o DNA nas células da pele (BINS et al., 2005). Esta
técnica, a qual é similar à vacinação efetiva com a
Alterações nos vetores têm sido realizadas para
varíola, parece diminuir o tempo requerido para a
melhorar a potência da vacina como alteração no
indução de resposta imune potente e protetora. Isto
vetor para aumentar a eficiência do promotor;
deve estar relacionado com a rápida produção do
utilização de seqüência líder alternativa e substituição
antígeno após a vacinação.
de códons de mamíferos pelos usados por patógenos.
Esta última alteração, a construção de vetores com Uma segunda estratégia para liberação da vacina
otimização de códons, é para evitar as limitações do de DNA envolve a tecnologia baseada em
conteúdo celular de tRNA com códons virais e micropartículas para as APCs alvo. A eficácia das
bacterianos, uma vez que os requerimentos para a vacinas de DNA aumenta se o material genético for
tradução do mRNA do patógeno são diferentes dos revestido por microesferas biodegradáveis que o
das células de mamíferos. A otimização do códon protegem e liberam de forma gradual nas células do
resultou no aumento da expressão do antígeno gp120 organismo vacinado. Partículas de 1-3 µm de diâmetro
do HIV, contribuindo para uma melhor disponibilidade são rapidamente fagocitadas pelos macrófagos e
de tRNA e maior estabilidade do mRNA específico células dentríticas (DCs). Duas distintas formulações,
(WANG et al., 2005). baseadas em polímeros (ácido láctico e ácido glicólico
PLG) e lipídio catiônico foram relatadas
A captação do DNA plasmidial pelas células após
recentemente. Estas formulações mostraram-se
a injeção é ineficiente. Somente uma pequena
efetivas para a liberação da vacina de DNA para o
proporção do material injetado é internalizada pelas
HIV em modelos primatas (OTTEN et al., 2005) e
células que resulta em sucesso na transfecção, isto
antrax em coelhos (HERMANSON et al., 2004). Em
é, produção de antígeno pelas células do animal
ambos os casos, a interação de moléculas de DNA
vacinado. Entretanto, duas estratégias têm sido
plasmidial carregadas negativamente com a
utilizadas para aumentar a potência da vacina: i)
formulação carregada positivamente é crucial para
liberação física para alcançar altos níveis de antígenos
liberação do DNA dentro das APCs, resultando no
e ii) formulação com micropartículas para células alvo
aumento da apresentação do antígeno para o sistema
apresentadoras de antígenos (APCs) (ULMER et
imune. Os polímeros PLG são biocompatíveis com
al., 2006).
as membranas celulares, pois são produzidos pelo
Uma efetiva tecnologia de liberação física do organismo humano e as microesferas não são tóxicas
plasmídio usa a eletroporação (EP) in situ para a e liberam o material genético de forma gradual, o
liberação do vetor diretamente dentro das células. que garante a produção contínua de antígenos e
Esta tecnologia foi adaptada para uso em animais anticorpos. A quantidade de cada substância nas
vivos, pelo qual um campo elétrico é criado nos microesferas determina o ritmo da liberação do DNA.
tecidos perto do sítio de inoculação da vacina. A EP (RODRIGUES JR et al., 2004).
aumenta substancialmente a produção de antígenos
Uma das razões pela quais as vacinas de DNA
e a resposta da célula T em primatas não-humanos,
são menos potentes que as vacinas vivas atenuadas
produzindo altos níveis de célula T CD8+ como 5%
é que o DNA não se distribui de maneira uniforme
do total de célula T (OTTEN et al., 2006). Este nível
entre as células inicialmente transfectadas, enquanto
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Kano, F. S.; Vidotto, O.; Vidotto, M. C.

o número das células infectadas pelo microrganismo seres humanos (MacGREGOR et al., 1998). O HIV
atenuado aumenta quando este se replica. Esforços possui uma glicoproteína do envelope altamente
têm sido realizados para aumentar o trânsito variável e a maioria dos anticorpos gerados são muito
intracelular do antígeno, explorando a capacidade de específicos para essa proteína. Em contraste, a
espalhamento célula-célula da proteína VP22 do resposta celular pode ser direcionada contra epítopos
herpesvírus humano tipo1 ou do BoHV-1. Vários que são derivados de várias proteínas, incluindo
grupos têm demonstrado que construções de DNA, aquelas altamente conservadas entre diferentes
que codificam proteínas de fusão da VP22 ligada a estirpes virais. As atuais pesquisas têm focado o uso
antígenos, aumentam a resposta imune em do DNA na primo-vacinação, seguida de um reforço
camundongos (KIM et al., 2004; PERKINS et al., heterólogo utilizando um vetor viral, pois a primo-
2005) e bovinos (ZHENG et al., 2005). Contudo, há vacinação com DNA demonstrou ser mais potente
controvérsia nesses resultados. Alguns grupos em primatas não-humanos (ULMER et al., 2006).
mostraram que proteínas fusionadas com VP22
A vacina de DNA contra o HIV induziu resposta
aumentam o espalhamento intracelular quando
imune mediada por células (CMI) em camundongos,
avaliado in vitro (MWANGI et al., 2005), ou pelo
mas estimulou fraca produção de IFN-g pelas células
número de células dendríticas transfectadas em
T em primata não-humano e também em seres
nódulos linfáticos (KIM et al., 2004). A incorporação
humanos. A análise de esplenócitos de camundongos
do gene da VP22 proteína de fusão do BoHV-1
BALB/c imunizados com uma única dose de vacina
demonstrou aumento da aquisição do DNA plasmidial
de DNA demonstrou duas populações de linfócitos
pelas células dendríticas e macrófagos, o qual,
T, o CD4+ e CD8+, que foram específicos para os
melhorou a resposta celular de linfócitos T auxiliar
antígenos do HIV. Os linfócitos CD8+ produtores e
(CD4+) com quantidades menores de DNA plasmidial
não-produtores de IFN-g foram detectados nos
(MWANGI et al., 2005). Contudo, um estudo não
estágios inicial e intermediário após a imunização
constatou a diferença na distribuição das proteínas de
(ARRODE et al., 2007).
fusão-VP22 e que o antígeno isoladamente, obtido da
transfecção do respectivo plasmídio dentro das células Vacinas de DNA para a hepatite B foram
de mamíferos, aumentou a resposta imune in vivo analisadas em suínos e primatas não-humano. Três
(PERKINS et al., 2005). Mais estudos são necessários doses da vacina induziram títulos de anticorpos
para elucidar o modo de ação desta estratégia. protetores nos animais e a resposta em suínos foi
comparável aos títulos induzidos com três doses da
vacina comercial com proteínas recombinantes
Vacina de DNA na Medicina Humana e (FULLER at al., 2006). Em humanos, esta vacina
Veterinária constituída do antígeno sAg induziu resposta celular
CD8+ e CD4+ significativa em 100% dos indivíduos
Vacinas de DNA mostraram serem efetivas para
(ROY et al. 2000).
várias doenças causadas por vírus, bactérias, protozoários
e também para tumores. Conseqüentemente, esse tipo Vacinas de DNA para os vírus da influenza
de vacina contribui para o controle de doenças (MACKLIN et al., 1998) e do sarampo também
infecciosas, parasitárias e na terapia oncogênica em foram analisadas em suínos e macacos por gene gun,
medicina humana e veterinária. mas induziram produção de anticorpos duas a dez
vezes menor do que as respectivas vacinas virais
As vacinas de DNA que codificam antígenos
com vírus inativado. Contudo, estas vacinas de DNA
virais têm sido as mais investigadas e aquelas
ainda mostraram proteção significativa contra a
específicas para o HIV foram as primeiras vacinas
infecção, demonstrando que, embora a vacina de
contra doenças infecciosas a serem avaliadas em

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Vacina de DNA: aspectos gerais e sua aplicação na medicina humana e veterinária

DNA induza imunogenicidade mais baixa, quando demonstrou efeito sinérgico nos macacos infectados
comparado com as vacinas existentes, os níveis são com tuberculose, determinando 100% de
ainda suficientes para proporcionar proteção sobrevivência. Estes dados indicam um novo modelo
(FULLER et al., 2006). de vacina de DNA contra o M. tuberculosis que pode
ser utilizado para os ensaios clínicos fase inicial em
A vacina de DNA para a raiva administrada
humanos (OKADA et al., 2007).
em macacos por gene gun, similarmente à vacina
para o vírus da influenza, induziu comparável A administração inicial do DNA plasmidial
produção de anticorpos e proteção contra infecção contendo o gene da proteína 58 (Ag85B) do M.
letal com vírus da raiva, como na vacina produzida tuberculosis demonstrou proteção contra a infecção
em células diplóides (LODMELL et al., 1998). pelo M. tuberculosis e associou-se a participação de
linfócitos CD4+ específicos ao Ag58B na produção
Entre as vacinas de DNA para infecções
de IFN-g e de controle do crescimento
bacterianas, a vacina para o controle da tuberculose
intramacrofágico do M. tuberculosis.
humana e bovina foi uma das primeiras vacinas
Surpreendentemente, essa proteção foi eliminada
estudadas. O antígeno MPB83 do Mycobacterium
após o reforço vacinal com a proteína recombinante
bovis demonstrou boa proteção em camundongos
(rAg58B). Segundo os autores, a perda da proteção
imunizados quando desafiados com cepas virulentas
foi relacionada com a excessiva proliferação de
e estimulou resposta mista de IgG1 e IgG2a.
linfócitos CD4+ e à produção de IFN-g em resposta
Posteriormente, a imunogenicidade da vacina foi
à proteína Ag58B. Estudos realizados no Brasil,
avaliada em bovinos que apresentaram alta taxa de
utilizando a proteína P58 do Mycobacterium na
resposta proliferativa ao antígeno MPB83
construção de uma vacina de DNA, identificaram
(CHAMBERS et al., 2000). A utilização do gene da
uma atividade anti-cancerígena importante deste gene
proteína hsp65 do M. tuberculosis foi avaliada na
em pacientes com melanoma, um dos mais graves
imunização genética de camundongos BALB/c pela
tumores de pele. Após o tratamento houve a remissão
via intramuscular nas formas “nua” (naked) e sistema
do tumor em dois pacientes com diagnóstico de
gene gun. A administração do plasmídio pelo sistema
melanoma (RODRIGUES JR et al., 2004).
gene gun induziu resposta imune com doses 100 vezes
menor do que as requeridas pela imunização i.m. Para o controle da brucelose, uma vacina de DNA
Contudo, a imunização i.m. protegeu os camundongos contendo o gene da enzima superóxido desmutase
e a imunização pelo sistema gene gun induziu a (SOD) de Brucella abortus foi construída com o
resposta Th2 com altos títulos de IL-4 e IL-10, mas objetivo de diminuir os riscos de contaminação dos
não protegeu os camundongos contra o desafio com manipuladores com a utilização da vacina viva
cepas virulentas (LIMA et al., 2001). atenuada (cepas B19 e RB51) (VELIKOVSKY et
al., 2002). Camundongos BALB/c receberam três
A associação do gene da hsp65 de M. tuberculosis
doses por via i.m. e apresentaram altos títulos de
à expressão da IL-12 induzida pelo vírus
anticorpos com predomínio da IgG2a e proliferação
hemaglutinante do Japão (HVJ) incorporada ao
de linfócitos com produção de IFN-g. O grau de
lipossoma (HSP65+IL-12/HVJ) demonstrou melhor
proteção dos camundongos desafiados com 104 UFC
eficácia na proteção de camundongos e de cobaios
da cepa B. abortus 2308, após cinco semanas da
quando comparados com a vacina BCG. Em macacos
última imunização, foi similar aos animais vacinados
Cynomolgus, esta formulação apresentou eficácia na
com a cepa vacinal RB51 (OÑATE et al., 2003).
proteção relacionada à mortalidade, peso corporal,
Posteriormente, camundongos foram imunizados com
achados radiográficos e imunogenicidade. A
esta mesma construção pela via intraesplênica para
combinação da vacina HSP65+IL-12/HVJ e BCG
induzir resposta celular. Até o final do experimento
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Kano, F. S.; Vidotto, O.; Vidotto, M. C.

não foram detectados anticorpos específicos para a antígenos do protozoário mostraram que alguns genes
SOD. Na estimulação de esplenócitos, foi detectada interferem negativamente, inibindo a expressão de
secreção de IFN-g, mas não de IL-4 e apenas a um outro antígeno (SEDEGAH et al., 2004).
população de CD8+ apresentou atividade citotóxica.
A imunização de camundongos com os plasmídios
Após quatro semanas da imunização, camundongos
contendo os genes que codificam as proteínas GRA1,
foram desafiados intraperitonialmente com cepas
GRA7 e ROP2 de Toxoplasma gondii induziu
virulentas de B. abortus, mostrando proteção superior
imunidade protetora parcial contra desafios letais. Na
à via i.m. (MUÑOZ-MONTESINE et al., 2004).
linhagem de camundongos C3H a razão Ig2a/IgG1
Para o Staphylococcus aureus a vacina de foi maior quando comparada às linhagens BALB/c
DNA contendo um gene importante da adesina da e C57BL/6 de camundongos. Coincidentemente, a
bactéria (ClfA) induziu a produção de anticorpos porcentagem de proteção contra desafios letais com
específicos e resposta celular em vacas em lactação. cistos de T. gondii foi maior em camundongos da
A inclusão de adjuvantes com os plasmídios diminuiu linhagem C3H (VERCAMMEN et al., 2000).
a variabilidade da resposta entre os animais e a
Para Taenia solium a imunização com DNA
resposta de anticorpos foi altamente direcionada para
plasmidial contendo o gene do antígeno B de
IgG2 no soro e leite, ocorrendo uma fraca resposta
Cisticercus cellulosae conferiu 92,6% de proteção
de IgG1 específica para ClfA sem adjuvante. A
quando os suínos foram desafiados com ovos de
estratégia de se utilizar um reforço com proteínas
Taenia solium. Quatro de cinco animais imunizados
induziu anticorpos que aumentaram a fagocitose e
com 1000 mg de plasmídio recombinante e desafiados
diminuíram a adesão da bactéria. Os resultados
não apresentaram cistos viáveis de cisticercose.
sugerem que a injeção intramuscular do plasmídio
Entretanto, a imunização com 200 mg de plasmidio
codificando ClfA de S. aureus gera resposta Th1
recombinante não foi capaz de impedir a formação
em vacas leiteiras e a estratégia de vacinação
de cistos viáveis (GUO et al., 2007).
combinando adjuvantes moleculares e reforço com
adesinas será um importante componente da vacina Vacina de DNA contra a anaplasmose bovina tem
contra a mastite bovina ocasionada pelo S. aureus sido investigada com diferentes proteínas de
(NOUR EL-DIN, et al., 2006). superfície (MSPs). O gene (msp1a) que codifica
MSP1a do Anaplasma marginale foi inserido no
A vacina de DNA contra a leptospirose que
plasmídio pVCL, vetor de células de mamíferos. A
codifica uma proteína associada à hemólise (Hap1)
soroconversão, após a inoculação de camundongos
foi avaliada em gerbil. Após três semanas da
e de bovinos com o DNA plasmidial contendo o gene
imunização os animais foram protegidos contra o
msp1a, foi demonstrada após 21 dias e seis a oito
desafio com a Leptospira interrogans patogênica
semanas, respectivamente. Em bovinos a produção
(BRANGER et al., 2005).
de imunoglobulina foi restrita ao isotipo IgG1, embora
Genes que codificam proteínas do Plasmodium a estimulação de linfócito T auxiliar também foi
falciparum, agente da malária, foram relatados como verificada com a produção de IFN-g
seguros e imunogênicos para seres humanos (WANG (ARULKANTHAN et al., 1999). A imunização de
et al., 1998; EPSTEIN et al., 2004; WANG et al., bovinos utilizando apenas o gene que codifica a
2005). Estudos com diferentes proteínas do MSP1b em plasmídio de expressão para células de
Plasmodium spp estão sendo desenvolvidos na mamíferos (pcDNA3.1./msp1b), não estimulou
tentativa de caracterizar e eleger os antígenos mais satisfatoriamente a produção de anticorpos no período
imunogênicos e protetores para a doença. Tentativas de vacinação, mostrando a necessidade de mais
de utilização de diversos genes para mimetizar os estudos para o desenvolvimento de uma vacina de

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Vacina de DNA: aspectos gerais e sua aplicação na medicina humana e veterinária

DNA para o controle da anaplasmose (ANDRADE formulação da vacina, presença ou ausência de


et al., 2004). A eficácia de uma vacina de DNA seqüências imunoestimulatórias, presença de
expressando 2 fatores de crescimento hemopoiético, plasmídio adicional ou na forma de vacina de DNA
a tirosina kinase 3 e o fator estimulante de macrófago, multivalente, influenciam no desenvolvimento do tipo
foi avaliada, demonstrando que estes fatores de resposta imune. Estes fatores podem ser
aumentam o número de células dendrídicas no sítio otimizados para melhorar a resposta imune no modelo
de imunização e aumenta a resposta das células CD4+ de espécie animal para cada doença.
para MSP1a de A. marginale (MWANGI et al., 2002).
A vacina para anaplasmose incorporando a proteína
VP22 do BoHV-1 demonstrou a habilidade desta Referências
proteína melhorar a expressão da MSP1a de A. ANDRADE, G. M.; MACHADO, R. Z.; VIDOTTO, M. C.;
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