Fichamento Antropologia Estrutural - Levi Strauss

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UFRPE - CIÊNCIAS SOCIAIS - TEORIA ANTROPOLÓGICA CLÁSSICA - DISC.

LUCAS RODRIGUES

FICHAMENTO: ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL - CAP 1 - LEVÍ-STRAUSS

No texto, introdução: história e etnografia o empreendimento de Lévi-Strauss é o de criar uma


disciplina quase do zero, de certo já existe uma antropologia consolidada mas ele procura uma
nova antropologia crítica aos antropólogos anteriores. A exemplo o Evolucionismo e difusionismo,
o particularismo de franz boas, a quem ele mais se aproxima, além de Malinowski e seus estudos
sincrônicos por exemplo. Por fim ele define antropologia (nesse primeiro momento) em oposição a
história e crítica a sociologia que não estaria ainda atingindo seu objetivo científico e quando o
fazia, era a etnografia que acabava por se fazer.

“Deixaremos de lado, neste artigo, o termo sociologia, que desde o início do século ainda não fez
por merecer o sentido geral de corpus do conjunto das ciências sociais, desejado para ele por
Durkheim e Simiand.Tomada na acepção que lhe davam, ainda corrente em vários países da Europa
e inclusive na França, de reflexão acerca dos princípios da vida social e das idéias que os homens
tiveram e têm a esse respeito, a sociologia equivale à filosofia social e se mantém alheia a nosso
estudo. E se virmos nela, como ocorre nos países anglo-saxões, um conjunto de pesquisas positivas
a respeito da organização e do funcionamento das sociedades do tipo mais complexo, a sociologia
se torna uma especialidade da etnografia, sem poder almejar, em razão da própria complexidade de
seu objeto, atingir resultados tão precisos e ricos quanto esta última, cuja consideração apresenta,
por essa razão, um maior valor tópico do ponto de vista metodológico.” p.14

Logo em seguida o antropólogo francês dá a definição de etnografia e etnologia, algo provisório


mas que seria instrumental naquele momento. Uma descritiva da vida grupos humanos a outra
comparativa. Ambas analíticas.

“Resta definir a própria etnografia, e a etnologia. Distingui-las emos, de modo bastante sumário e
provisório, mas suficiente para um início de investigação, dizendo que a etnografia consiste na
observação e análise de grupos humanos tomados em sua especificidade, visando a restituição, tão
fiel quanto possível, do modo de vida de cada um deles. A etnologia, por sua vez, utiliza de modo
comparativo (e com finalidades que haveremos de determinar adiante) os documentos apresentados
pela etnografia.” p.14

É válido ainda notar a formação do conceito de ciência antropológica em oposição ao de sociologia


e história respectivamente. A sociologia Para lévi-strauss só estará completa quando tivermos uma
teoria que unifique o pensamento de sociedades ditas primitivas ou mais complexas poderemos
considerar a sociologia como ciência de fato. Dando a esta um status de coroamento do pensamento
social. Já a história o problema parece ser o seguinte. Se os etnólogos forem tratar da dimensão
diacrônica não poderam fazer comparações pois cada história possui suas particularidades e muitos
povos têm uma relação com o passado inacessível ao pesquisador. E mesmo usando um método
sincrônico estamos tentando entender o presente sem passado.

“...se, eventualmente, os resultados do estudo objetivo das sociedades complexas e das sociedades
ditas primitivas puderem ser integrados, para fornecer conclusões universalmente válidas do ponto
de vista diacrônico ou sincrônico, a sociologia, tendo atingido sua forma positiva, perderá
automaticamente o primeiro sentido que apontamos, e passará a merecer aquele que sempre
almejou, de realização das ciências sociais. Ainda não chegamos lá…” “ ou nossas ciências se
debruçam sobre a dimensão diacrônica dos fenômenos, isto é, a sua ordem no tempo, e se tornam
incapazes de fazer-lhes a história, ou buscam trabalhar como os historiadores, e a dimensão
temporal se lhes escapa.” p.15

Essa noção de oposição entre diacronismo e sincronismo parece nos levar às teorias do passado:
evolucionismo e difusionismo respectivamente. Mas essa associação é redutora, essas teorias não
falharam por não conseguir resolver a dicotomia história vs funcionalismo. Tylor evolucionista
acreditava em entender a história muito superficialmente, mas interessado em produzir leis que
expliquem a cultura. Tomava como referência o método darwinista. se importando mais com a
criação de esqueleto teórico nomotético baseado na aparência, sem procurar entender o significado
totêmico das obras humanas que dá sentido às produções culturais. Para o etnólogo inglês as
produções culturais materiais ou não são a prova de uma espécie, uma repartição do gênero
humano, algo que Lévi-strauss o nega de forma simples e sofisticada:

“ “Para um etnólogo, diz Tylor, o arco ea flecha constituem uma espécie, o costume de deformar a
cabeça das crianças é uma espécie, o hábito de agrupar os números em dezenas é uma espécie. A
distribuição geográfica desses objetos e sua transmissão de uma região a outra devem ser estudadas
do mesmo modo que os naturalistas estudam a distribuição geográfica de suas espécies animais ou
vegetais TYLOR APUD LÉVI-STRAUSS ”. Nada mais perigoso, porém, do que essa analogia. (...)
A validade histórica das reconstruções dos naturalistas é garantida, em última análise, pelo elo
biológico da reprodução. Ao contrário, um machado nunca engendra outro machado;entre dois
instrumentos idênticos, ou entre dois instrumentos diferentes mas cuja forma de algum modo se
assemelha, houve e haverá sempre uma descontinuidade radical, decorrente do fato de que um não
provém do outro, mas cada um deles de um sistema de representação.” p.16

A noção de história e antropologia permeia ainda mais o pensamento do antropólogo. Ao pensar o


desenvolvimento das teorias evolucionistas, o difusionista evoca Franz Boas. Os dois primeiros
precisavam sempre criar um referencial em detrimento do outro. no caso dos mais antigos seu
referencial era a cultura europeia, o segundo quebrava essa particularidade mas ainda expunha seu
pensamento precipitado. Algo que segundo Boas não teria sustentação científica.

“Os “ciclos” ou os “complexos” culturais dos difusionistas são, como os “estágios” dos
evolucionistas, fruto de uma abstração à qual sempre irá faltar a corroboração de testemunhos. Sua
história é conjectural e ideológica.” p.18 “Em relação à história, Boas começa por uma declaração
de humildade: “Em matéria de história dos povos primitivos, tudo o que os etnólogos elaboraram se
reduz a reconstruções, e não pode ser outra coisa” p.19 “Infelizmente nós não dispomos de nenhum
fato que lance uma luz qualquer sobre estes “desenvolvimentos”” BOAS APUD LÉVI-STRAUSS

O particularismo histórico de Boas surge na tentativa de elucidar a antropologia sobre o trabalho


feito pelas duas escolas a se destacar na disciplina. criticou ainda o descaso feito pelos
evolucionistas da “história detalhada”. Ele acredita em um modo de estudar a cultura com um
estudo que por abstração isole geograficamente o objeto para determinar os processos históricos e
psíquicos essenciais das tribos. Mas lévi-strauss não se satisfaz e passa a criticar boas. Ele mostra
como os estudos históricos são frágeis no campo da antropologia. Uma tribo pode ser
extremamente diversa, sendo às vezes oposta em polos diferentes. ficam ocultas, pela falta de
documentação, seus ponto de partidas históricos assim como os mais diversos acontecimentos
historiográficos. Quando bem sucedido o método pode alcançar uma dimensão da história muito
raza, uma microhistória ou mesmo a um agnosticismo histórico.
“Designa-se pelo nome de organização dualista um tipo de estrutura
social encontrado com freqüência na América, na Ásia e na Oceania, caracterizado pela divisão do
grupo social – tribo, clã ou aldeia – em duas metades (...) Afastemos desde já as interpretações
evolucionista e difusionista. A primeira, que tende a considerar a organização dualista como um
estágio necessário do desenvolvimento da sociedade, teria antes de determinar uma forma simples
de que as formas observadas seriam realizações particulares, sobrevivências ou vestígios e, em
seguida, postular a presença dessa forma, no passado, entre povos nos quais nada comprova que
uma divisão em metades tenha jamais existido. O difusionismo, por sua vez, escolherá um dos tipos
observados, geralmente o mais rico e mais complexo, como representante da forma primitiva da
instituição, e localizará sua origem na região do mundo em que se encontra mais bem ilustrada,
sendo todas as outras formas resultado de migração e empréstimos a partir do foco de difusão. Em
ambos os casos, designa-se arbitrariamente um tipo, dentre todos os que são fornecidos pela
experiência, e faz-se dele o modelo, ao qual se trata de ligar todos os demais, por um método
especulativo. ” p.24-25

Essas dificuldades levaram Malinowski a optar por um caminho diferente, o do sincronismo.

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