1494 7060 2 PB

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

Artigos

Processo de dobramento
de chapas metálicas

Geraldo Magela Barbosa


Mestre em Engenharia - Escola Politécnica – USP;
Engenheiro Mecânico, licenciado em Matemática;
Professor do Departamento de Ciências Gerenciais – Uninove
São Paulo – SP [Brasil]
[email protected]

Nesta pesquisa, estuda-se a solução analítica do momento de


dobramento de uma chapa metálica sobre três cilindros. A si-
mulação numérica computacional na obtenção do raio final de
dobra é implementada com as formulações. Tensões residuais e
retorno elástico são medidos e comparados com os resultados
citados nas referências. Na formulação do problema, é mostrado
que o momento de dobramento, as tensões internas e a distri-
buição elástica podem ser expressas em função de parâmetros
geométricos (raio de dobramento e espessura) e propriedades do
material (módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, coefi-
ciente de resistência, expoente de encruamento). Os resultados
teóricos serão comparados com os resultados experimentais.
Palavras-chave: Dobramento de chapas. Retorno elástico.
Tensões residuais.

Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009. 109


1 Introdução retorno elástico e o encruamento, cujas magnitu-
des serão objeto de estudo deste trabalho.
O processo de conformação de chapas metá-
licas por dobramento tem sido usado amplamente
nas indústrias em razão do bom acabamento super- 2 Metodologia
ficial, redução de peso e baixo custo de fabricação.
Na dobra de chapas finas de metal, desde Para atingir os objetivos propostos nesta
que observados os limites de conformabilidade do pesquisa, optou-se pelo método analítico, que
material, não deverá ocorrer fratura ou dano de verificará o dobramento de uma chapa metálica
algumas de suas propriedades mecânicas. envolvendo propriedades mecânicas do material e
A alta taxa de produção de perfis variados por parâmetros geométricos da chapa.
dobramento de chapas metálicas tem máxima im- Foram consultadas bibliografias de diversos
portância na economia dos países industrializados, autores da área de conformação, e, diante de vasto
em particular na indústria automobilística. material atualizado, optou-se também por utilizar
As relações entre tensões e deformações são referências bibliográficas anteriores como no caso
complexas no dobramento. Dessa forma, deve-se de Dieter (1986) e Tan et al. (1994) por serem con-
considerar primeiro a deformação e a tensão na re- sideradas essenciais para este trabalho.
gião elástica. A análise e interpretação dos resulta- Dessa forma, neste estudo, primeiro anali-
dos devem levar em consideração a influência de va- sa-se o processo considerando soluções analíti-
riáveis metalúrgicas de acordo com ASM Handbook cas, que incorporam efeitos diversos, tais como
– Mechanical testing and evaluation (2000). encruamento do material e resistência ao escoa-
Segundo Helman e Cetlin (2005), o conheci- mento num modelo de chapa fina de aço ABNT
mento da geometria, do grau de deformação e das 1008. Nas relações constitutivas da elasticidade,
tensões que atuam no material durante a conforma- será levada em consideração a lei de Hooke, e
ção constitui valiosa ajuda na análise de possíveis nas relações constitutivas da plasticidade, a lei de
causas de defeitos e fraturas, permitindo precaver Hollomon. Serão incluídas deformações que não
formas de evitar tais inconvenientes. gerem danos à peça sendo dobrada.
Para Souza e Rolfe (2008), a variação dos Na solução analítica, utiliza-se, para cada ge-
parâmetros do material, de tensões e do expoente ometria prescrita, o momento total de dobramen-
de encruamento causa muita influência no retorno to, somando-se uma componente relativa às defor-
elástico da chapa após o dobramento, e esses va- mações elásticas a outra relativa às componentes
lores são muito maiores que o atrito de contato no plásticas de deformações. Retirado o esforço de
processo de dobra. conformação, ocorre o retorno elástico da chapa,
Assim, pesquisas têm sido feitas no estudo com mudança de geometria do produto conforma-
de dobrar chapas metálicas, e a verificação do re- do, e o desaparecimento das tensões elásticas.
torno elástico da chapa inicia-se com as soluções O objetivo deste trabalho é apresentar um
propostas para a dobra elastoplástica sob a condi- estudo sobre a modelagem do processo de dobra-
ção de deformação plana, bem como análises mais mento de chapa fina do aço ABNT 1008 com es-
aprofundadas do dobramento e do modelo, tais pessura t = 0,003m, largura unitária e conforma-
como a determinação das tensões, deformações, da por dobramento entre três cilindros.

110 Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009.


Artigos

O dobramento será feito a frio, e o material


utilizado, considerado isotrópico com encruamen-
to e homogêneo.
No cômputo do momento total, serão leva-
das em conta as relações constitutivas tanto na
região elástica quanto na elastoplástica para cál-
culo da integral variando de - t até t na espes-
2 2 Figura 1: Tensão e deformação distribuídas
sura da chapa. em um elemento de chapa
Será implementado o método numérico com- Fonte: o autor.

putacional de Dicotomia (Bissecção), utilizando-


se as formulações obtidas analiticamente, para As componentes de tração e cisalhamento são
determinar o raio final de dobramento após o re- incluídas como esforço interno no dobramento. O
torno elástico da chapa. momento de flexão nos diferentes estágios de do-
Os valores de tensão interna e tensões resi- bra será determinado como solução no processo
duais serão calculados mediante um raio final de de conformação.
dobramento rc = 0,135m em todas as posições na
espessura da chapa fina.
O perfil das tensões residuais, obtido pelas 4 Relações constitutivas
formulações, será comparado com resultados ex-
perimentais de difração de raios-X. As coordenadas principais de tensões e de-
formação estão relacionadas em regime elástico
(BEER; JOHNSTON, 2008) e podem ser escritas
3 Fundamentos do processo pela lei de Hooke:
de dobramento
εex = 1 [ σ x− ν ( σ y + σ z)]
A mecânica da conformação metálica consi- E
dera o material isotrópico e homogêneo. No en- (1a)

tanto, na maioria dos casos, a deformação do me-


tal entre as matrizes não é uniforme. O problema εey = 1 [ σ y− ν ( σ z + σ x)]
E
analítico principal consiste em predizer, de forma
(1b)
precisa, a deformação não uniforme e calcular as
tensões locais.
Como demonstrado na Figura 1, chapas finas
εez = 1 [ σ z− ν ( σ x+ σ y)]
E
têm os planos normais considerados planos duran- (1c)

te a dobra, que converge até o centro de curvatura.


Nesse modelo, as direções principais de ten- Das relações acima citadas, εe é a deforma-
são e deformação coincidem com as direções nor- ção, e o expoente e mostra que as relações estão no
mais, radiais e tangenciais, respectivamente, per- regime elástico. Tem-se E como módulo de elasti-
mitindo, assim, trabalhar apenas três variáveis em cidade [Pascal], ν como coeficiente de Poisson e σ
cada caso. como tensão [Pascal].

Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009. 111


As componentes do tensor das tensões σ es- plástica para materiais isotrópicos com carre-
tão restritas às componentes tangencial x, radial y gamento contínuo. Usa-se também para a pro-
e normal z, conforme Figura 2. porcionalidade entre deformações e tensões de
cisalhamento principal.

ε p x = 2K ⎡⎢σ x − 1 (σy + σ z)⎤⎥


3 ⎣ 2 ⎦

(3a)

ε p y = 2K ⎡⎢σ y − 1 (σ z + σ x )⎤⎥
3 ⎣ 2 ⎦ (3b)

ε p z = 2K ⎡⎢σ z − 1 (σ x + σ y)⎤⎥
3 ⎣ 2 ⎦
(3c)

Figura 2: Representação do dobramento


O valor 2K é conhecido como módulo
3
de chapas metálicas de plasticidade.
Fonte: o autor.
Em que εp é a deformação, e o expoente p
mostra que as relações estão no regime plástico. E
Na deformação plana, a componente z pode
ser considerada nula, lembrando que, quando as
que 2K é módulo de plasticidade
3
[ Pascal
1
], e σ, a
curvaturas aplicadas à chapa são muito grandes, tensão [Pascal].
as tensões σy são praticamente nulas e as equa- Assumindo o volume constante no regime
ções se reduzem a: plástico, simplifica-se:

σx
ε ex = ε p x = K (σ y − σ x)
E' (2a) 2
(4a)
−ν
εey = (1 + ν )σ x
E (2b) ε p y = K (σ x − σy )
2 (4b)

ε ez = 0
(2c) ε pz = 0
(4c)

e que E = módulo de elasticidade [Pascal] e ν =


coeficiente de Poisson, e E’ = E . Conforme Vladimirov, Pietryga e Reese
1 – ν2 (2009), a relação entre o endurecimento iso-
Esses equacionamentos são utilizados para trópico e cinemático pode ser estabelecida por
determinação das componentes de deformação uma expressão exponencial. Pode-se analisar a

112 Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009.


Artigos

sensibilidade no momento de dobra em relação 5 Momento de dobramento


a parâmetros geométricos como o raio da ferra-
menta, a espessura da chapa e a relação entre o Considera-se que, durante o dobramento
endurecimento isotrópico e cinemático. entre três cilindros no processo de conforma-
Para Marciniak (2002), os valores equi- ção de chapas metálicas, cada seção passa por
valentes de tensão e deformação para a maio- estados de deformação aos quais correspondem
ria dos metais podem ser correlacionados apenas tensões elásticas ou elastoplásticas.
pela lei de Hollomon, que relaciona tensões Da posição A até a posição E, na Figura 3,
e deformações por meio de uma expressão de observa-se que as tensões são pequenas na re-
potência equivalente. gião elástica (MARCINIAK, 2002).
n
σ = Kε
(5)

ε =
2
(
3 2
ε x + ε y2 + ε z2 )
(6)

σ =
3
2
( )
σ ' x2 + σ ' y2 + σ ' z2

(7)

Nas equações, σ é a tensão equivalente


[Pascal]; ε, a deformação equivalente; K, coefi-
ciente de resistência [Pascal], e n, expoente de
encruamento, sendo que essas expressões depen-
dem somente do tensor de tensões desviadoras σ’,
em que σ’x = σx - σh; σ’y = σy - σh; σ’z = σz - σh;
e que σh = σx + σy + σz .
3
Figura 3: Dobramento de chapa sobre três
As componentes radiais das tensões resi- cilindros
duais são pequenas quando comparadas com as Fonte: o autor.

tangenciais, e escrevem-se:
O dobramento ocorre a partir de zero, na
2 posição A, até o momento máximo M e de dobra
ε ≅ σx na região elástica, na posição E, e o momento
3
(8) fletor é definido como

−t / 2
3 M=∫ σx y dy
σ = σx t
/2
2
(9) (10)

Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009. 113


Tem-se que M é o momento total de dobra- 5.2 Momento – Região
mento por unidade de largura [N.m/m]; t, a es- elastoplástica
pessura da chapa [m]; σ, a tensão [Pascal], e y, a A partir da posição E, tem-se uma região de
distância da linha neutra da chapa até a posição seção com tensões elásticas seguida de outra no
estado elastoplástico.
considerada [m].
Segundo Vin (2000), a curvatura de uma
1
2
chapa pode ser estimada durante a aplicação do 1 −ν ⎡ K ⎤ 1− n
εx =
*
⎢ ⎥
esforço de dobra, o que gera o momento de do- 1 −ν +ν
2 ⎣E⎦
bramento. Pode-se, inclusive, estimar a forma da (14)

curva da chapa na ponta do punção.


Em que εx* é a deformação na região da cha-
5.1 Momento – Região elástica pa no regime elástico e elastoplástico; ν, o coefi-
O momento na região elástica é definido ciente de Poisson; K, o coeficiente de resistência
por: [Pascal]; E, o módulo de elasticidade [Pascal], e n,
o expoente de encruamento.
t3 1 O resultado, em geral, é a supressão das con-
Me = E'
12 r dições elásticas e elastoplásticas que estariam pre-
(11) sentes em qualquer seção após o ponto E.
O momento total de dobramento é:
E a tensão nesta região é representada por:
M = Me + M p
σ x = E’ ε x
e e
(15)
(12)

*
e ⎛ y⎞ y +y +t / 2
εx = l n ⎜1 + ⎟ ≅ M = 2∫ 0 σ xe y dy + 2 ∫ y σ xp y dy
*
⎝ r⎠ r
(13) (16)

Sendo
Nestas relações, Me é o momento na re-
gião elástica por unidade de largura [N.m/m], E y
E σ xe = 2
.
E’ =
1 – ν2
em que E é o módulo de elasticida- 1−ν r
(17a)
de [Pascal]; t, a espessura da chapa [m], r, o raio
de dobramento [m], σex , a tensão na região elás-
n +1 n
tica [Pascal]; εx , a deformação; e, a região elás- ⎛ 2 ⎞ ⎛ y⎞
σ xp =K⎜ ⎟ . ⎜ ⎟
tica, e y, distância da linha neutra da chapa até a ⎝ 3⎠ ⎝r⎠
(17b)
posição considerada [m]. Nesse caso, não ocorre
estiramento da chapa em razão do grande raio Nas equações acima, M é o momento total
de dobramento. do dobramento por unidade de largura [N.m/m];

114 Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009.


Artigos

M e, o momento na região elástica [N.m/m]; Mp , o Depois de a chapa passar pela máxima fle-
e
momento na região elastoplástica [N.m/m]; σx , a xão na posição B (Figura 3), o momento de dobra
tensão na região elástica [Pascal]; E, o módulo de decresce gradualmente até zero. Nessa fase de do-
elasticidade [Pascal]; ν, o coeficiente de Poisson; y, bramento, as tensões tentam aliviar-se por meio
a distância da linha neutra da chapa até a posição da deformação da chapa dobrada, que, com o re-
p
considerada [m]; r, o raio de dobramento [m]; σx , torno elástico, apresenta tensões residuais.
a tensão na região elastoplástica [Pascal]; K , o co-
De acordo com Asgari et al. (2008), depen-
eficiente de resistência [Pascal], e n, o expoente de
dendo das propriedades do material e dos parâ-
encruamento.
metros do processo de dobramento, há efeitos di-
Resolvendo a integral, chega-se ao momento
ferentes no retorno elástico de uma peça dobrada
na região elastoplástica que depende de parâme-
que podem ser estudados pelo modelo de elemen-
tros do material (E, K, ν, n) e parâmetros geomé-
tos finitos com análise estatística.
tricos (r, t):
Demonstra-se esse efeito considerando-se rb
⎧ n+1 ⎫
3 ⎪ ⎛ 2⎞ e rc os raios de dobramento antes e depois do re-
2⎛ K ⎞ 1−n ⎪
M = 2 Er ⎜ ⎟ ⎨
(1−ν2) 2 − ⎜⎝ 3⎟⎟⎠ ⎡

( ) ⎥
n+ 2 ⎪
1−ν2 ⎤ ⎪ ⎛ t ⎞ n
⎬+⎜ ⎟
Kt 2
⎝ E⎠ ⎪
⎪3 (1−ν +ν 2) 2 (n+ 2)
3 ⎢⎣

( )
1−ν +ν 2 ⎥⎦ ⎪ ⎝ r ⎠ (n+ 2) 3
n+1
torno elástico da chapa, respectivamente; ab, o
⎩ ⎭
ângulo de dobramento, e ac , o ângulo após o re-
(18) torno elástico.
Ao considerar que um elemento é desloca-
Em que, do a uma distância y de uma fibra neutra entre
duas seções separadas por ∆lb = (rb + y) · ab, após
M = momento total de dobramento por unida- o retorno elástico seu comprimento passa a ser
de de largura [N.m/m] ∆lc = (rc + y’) · ac , em que y ≅ y’ e rbab = rcac , de
E = módulo de elasticidade [Pascal] forma que
K = coeficiente de resistência [Pascal]
ν = coeficiente de Poisson e Δlc − Δlb
n = expoente de encruamento εx(y) =
Δlb
r = raio de dobramento [m] (19)
t = espessura [m]
e y.rb ⎛ 1 1 ⎞
ε x(y) = ⎜ − ⎟
6 Retorno elástico rb + y ⎜⎝ rc rb ⎟⎠
(20)

Segundo Dieter (1986), após a retirada do


esforço aplicado para dobrar a chapa, ela terá
Tem-se que εex(y) é a deformação após o re-
um retorno elástico decorrente da ductilidade torno elástico da chapa; y, a distância da linha
do material. neutra da chapa até a posição considerada [m]; rb,
Seu retorno elástico, após o dobramento, raio de dobramento [m], e rc , raio de dobramento
ocasiona efeitos de mudança em alguns parâme- após o retorno elástico [m].
tros, entre os quais o raio de dobramento e o ân- O momento do dobramento no retorno
gulo de dobra, conforme Chan (2004). elástico é

Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009. 115


t Em que σxr (y) é a tensão residual em qual-
/2
M' = 2∫ 0 σ xe y dy quer posição na espessura da chapa [Pascal];
(21) σx(y), a tensão interna causada na chapa durante
e
o dobramento [Pascal], e σx (y), a tensão elástica
na chapa após o descarregamento do dobramen-
⎛1 1⎞
M' = rb E' ⎜⎜ − ⎟⎟ h2 to [Pascal]. M é o momento total de dobramento
⎝ rc rb ⎠ (22)
por unidade de largura [N.m/m]; y, a distância
da linha neutra até a posição considerada [m]; K,
Em que o coeficiente de resistência [Pascal]; n, o expoen-
⎛ t⎞ p
te de encruamento, e εx , a deformação na região
⎜ rb + ⎟
2 2
h = − rbt + rb l n⎜ 2 ⎟ elastoplástica.
⎜⎜ r − t ⎟⎟
b
⎝ 2⎠
(23)

Tem-se M’ como o momento de dobramen- 7 Aplicações


to no retorno elástico por unidade de largura
[N.m/m]. As chapas são materiais caracterizados
Após o retorno elástico, o momento resul- geralmente pela ductilidade e pela grande fa-
tante é zero: cilidade de conformação. Normalmente, não
M + M’ = 0 apresentam elevados valores para as proprieda-
(24) des mecânicas, isso porque as cargas que su-
portarão em serviço são comumente baixas, em
De acordo com as equações (18) e (22), geral o próprio peso. Em razão das condições
tem-se de trabalho, esses produtos deveriam possuir
certa resistência à corrosão atmosférica, e mes-
1 1 M mo para determinadas aplicações, resistência
− =
rb rc rb E' h2 ao ataque de outros agentes químicos.
(25) Segundo Chiaverini (2008), os requisitos
essenciais a que os materiais da chapa devem
Tensões residuais são redistribuídas, segun- obedecer, para a maioria das aplicações, são
do o retorno elástico da chapa, depois de cessado os seguintes:
o esforço aplicado para dobrá-la.
Essas tensões são obtidas superpondo a ten- • Elevada trabalhabilidade, ainda que à custa
são elástica e a interna, conforme segue: da resistência mecânica, para maior facilida-
de de conformação. Quando se deseja certa
σxr (y) = σ x (y) + σ xe (y) resistência e principalmente rigidez, adota-se
(26) o corrugamento da chapa;
• Boa soldabilidade, para maior facilidade de
n +1
yM ⎛ 2 ⎞ pn
sua montagem em estruturas;
σ xr ( y) = − + K ⎜ ⎟ . εx
(rb + y)h 2
⎝ 3⎠ • Superfície sem defeitos, essencial no caso de
(27) sua aplicação em estampagem profunda;

116 Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009.


Artigos

• Aspecto superficial conveniente, igualmente Técnicas de dobramento utilizadas em cha-


exigido para a maioria das aplicações e obti- pas planas de metal podem desenvolver variados
do por acabamentos ou revestimentos super- perfis. Utilizam-se industrialmente os dobramen-
ficiais especiais; tos em V, em U e em L por prensa de cortina ou
• Baixo custo. prensa viradeira, além do dobramento entre três
cilindros ou o dobramento em perfiladora. O uso
A Associação Brasileira de Normas Técnicas de cada uma dessas técnicas depende do ferra-
(ABNT) define chapa fina entre os “produtos la- mental disponível e de especificidades do produto
minados planos de aço-carbono”, como chapa em questão.
com espessura compreendida entre 0,0003m e Segundo Pereira et al. (2009), no processo
0,006m, incluindo os extremos, e largura igual ou de dobramento, deve-se analisar as condições de
superior a 0,3m. contato entre a chapa e o raio da matriz, a resis-
A maior parte do aço utilizado em chapas é tência do material que a compõe e a qualidade da
do tipo de baixo carbono, cuja composição obede-
chapa para predizer a vida da ferramenta usada
ce aos seguintes limites:
no dobramento.
As expressões obtidas podem ser aplicadas
Carbono: 0,03 a 0,12%
para resolver o problema de dobra de chapas sobre
Manganês: 0,20 a 0,60%
três cilindros (Figura 3). Na aplicação, considera-
Fósforo: 0,04% (máx)
se conhecido o raio dobramento final rc de uma
Silício: 0,15% (máx)
chapa no ponto C, e deseja-se calcular o máximo
dobramento no ponto B, ou seja, o raio de dobra-
Com as seguintes propriedades mecânicas:
mento inicial rb que deverá ser a forma inicial da
chapa dobrada.
Limite de escoamento: 180 a 225 MPa
Da equação (25), conclui-se que
Limite de resistência à tração: 285 a 340 MPa
Alongamento: 22% a 28% (até 40) M 1 1
Dureza Brinell: 82 a 110 2
+ − =0
rb E' h rc rb
(28)
Os aços baixo carbono apresentam a melhor
trabalhabilidade tanto no que se refere à sua ob-
tenção por laminação como no que diz respeito à Dessa forma, deseja-se ter o raio final
sua facilidade de conformação posterior. rc = 0,135m após retirado o momento de dobra-
O esforço aplicado em uma chapa plana de mento (esforço aplicado).
metal durante o dobramento muda sua forma Por meio da equação (25), obtém-se uma
(Figura 2), gerando tensões de tração na parte su- função que depende unicamente do raio de do-
perior e tensões de compressão na parte inferior. bramento rb e pode-se resolvê-la pelo uso de um
Depois de retirado o esforço de conformação, método numérico computacional:
ocorre o retorno elástico à sua geometria altera-
da, resultando, a partir daí, a presença de tensões M (rb ) 1 1
f (rb ) = + −
residuais na geometria final da chapa dobrada rb E' h (rb )
2 rc rb
(BEER; JOHNSTON, 2008). (29)

Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009. 117


Adota-se o Método da Dicotomia por ser mais simula-se o raio de dobramento r b pelo Método
simples na obtenção das raízes de uma equação. da Dicotomia (Bissecção), e, como solução nu-
O algoritmo do Método da Dicotomia des- mérica computacional mais simples para so-
creve que, para calcular um valor aproximado de lução do problema, obtém-se os resultados da
uma raiz isolada x ∈ (a ,b) da equação f(x) = 0, Tabela 1.
com certo grau de precisão E > 0, é necessário Por meio do Método da Dicotomia (Bissec–
que a função satisfaça as hipóteses do Teorema da ção), e utilizando o equacionamento anterior,
Existência e Unicidade: deve-se dobrar a chapa de aço ABNT 1008 com
um raio de dobramento r b = 0,121m para obter,
(i) a função f(x) é continua em (a, b) após o retorno elástico da chapa, raio final de
(ii) f(a) . f(b) < 0 uma única raiz no inter- dobramento de rc = 0,135m.
valo As medições das tensões residuais por di-
fração de raios-X foram obtidas do trabalho de
Tan, Li e Persson (1994). A técnica da difração
Verificado o Teorema, segue-se o algoritmo:
de raios-X, citada na Figura 4, tem como prin-
cípio a medição do espaçamento entre planos
1° Para calcular f(a) e f(b) sem perda de genera-
da rede cristalina dos materiais. Por meio do
lidade foi admitido f(a) < 0 e f(b) > 0
uso de feixes estreitos de raios-X, a medida é
a+b b−a feita pela posição angular da linha de difração,
2° Calcular x0 = e E0 =
2 2 a partir da lei de Bragg. Para mais detalhes do
método veja, por exemplo, Dieter (1986) e Tan
3° Se E 0 ≤ E, x0 é o valor procurado
et al. (1994).
Obtêm-se, neste método, as principais ten-
4° Se E 0 > E , calcular f (x0)
sões residuais:

5° Se f (x0) = 0, então x0 é a raiz procurada


• macrotensões (deslocamento do pico de di-
fração de raios-X)
6° Se f (x) < 0, substitui-se o valor de a por x0 e • microtensões (alargamento do pico de difra-
retorna-se ao 2° passo ção de raios-X)

7° Se f (x) > 0, substitui-se o valor de b por x0 Medidas feitas por difração de raios-X para o
e retorna-se ao 2° passo aço ABNT 1008, com espessura t = 0,003m e raio
final de dobramento rc = 0,135m, resultaram para
Mediante a função (29) para um aço ABNT as tensões residuais (Figura 4) na forma caracte-
1008 com os seguintes valores: rística em S. Essas tensões têm posições de picos
tanto no lado positivo de tração quanto no nega-
E = 210 GPa tivo de compressão e ocorrem aproximadamente
ν = 0,33 nas posições indicadas pela formulação analítica
K = 541 MPa da equação (27).
n = 0,252 As curvas de tensões residuais obtidas, de
t = 0,003m forma analítica e experimental, por difração

118 Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009.


Artigos

Tabela: 1 Solução pelo Método da Dicotomia para obter o raio de dobramento rb :

a+b En = b - a
n a b rb =
f(a) f(rb ) f(b)
n 2 n 2
0 0,12 0,16 0,14 – + + 0,02
1 0,12 0,14 0,13 – + + 0,01
2 0,12 0,13 0,125 – + + 0,005
3 0,12 0,125 0,1225 – + + 0,0025
4 0,12 0,1225 0,12125 – + + 0,00125
5 0,12 0,12125 0,120625 – – + 6,25 · 10 -4
6 0,120625 0,12125 0,1209375 – – + 3,125 · 10 -4
7 0,1209375 0,12125 0,12109375 – – + 1,5625 · 10 -4
8 0,12109375 0,12125 0,12117187 – + + 7,8125 · 10 -5
9 0,12109375 0,12117187 0,121132812 – – + 3,90625 · 10 -5
10 0,121132812 0,12117187 0,1211523438 – + + 1,953125 · 10 -5

Fonte: O autor.
>

Aço ABNT 1008


Posição vertical y (m)

0,0015
Tensões residuais por difração de raio-X
Tensões residuais analíticas
0,001

0,0005

-150 -100 -50 0 50 100 150


-0,0005 Tensões residuais (MPa) >

-0,001

-0,0015

Figura 4: Comparação entre os valores de tensões obtidos analiticamente neste trabalho e os valores
medidos experimentalmente por Tan, Li e Persson (1994)
Fonte: O autor.

de raios-X são idênticas, com resultados muito indústrias que utilizam a conformação de chapas
próximos. metálicas por dobramento para fabricação de vá-
rios perfis de peças.
As medidas simuladas de forma computacio-
8 Considerações finais nal geraram, pelo equacionamento desenvolvido,
resultados compatíveis com o esperado, podendo
O trabalho apresentado produziu bons resul- ser utilizadas por indústrias de conformação de
tados e pode ser aplicado, de modo proveitoso, em chapas por dobramento sobre três cilindros.

Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009. 119


ASGARI, S. A. et al. Statistical analysis of finite element
Os resultados das tensões residuais obtidos
modeling in sheet metal forming and springback
pela formulação correspondem perfeitamente aos analysis. Journal of Materials Processing Technology,
alcançados pela difração de raios-X, validando v. 203, n.1-3, p. 129-136, 2008.
todo o processo. BEER, F. P.; JOHNSTON JR, E. R. Resistência dos
Um desenvolvimento futuro para melhoria materiais. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2008.
deste trabalho seria incluir efeitos de dano no ma-
CHAN, W. et al. Finite element analysis of spring-
terial durante seu processamento e os fatores de back of V-bending sheet metal forming processes.
anisotropia do material, considerar os efeitos de Journal of Materials Processing Technology. v. 148,
Bauschinger e incluir fatores de inércia na análi- n. 1, p.15-24, 2004.
se para verificar seu efeito no momento final das CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos: características
grandezas em questão. gerais, tratamento térmicos, principais tipos. 7. ed. São
Paulo: Associação Brasileira de Metais, 2008.

Process of bending DIETER, G. E. Mechanical metallurgy. 3. ed. New York:


sheet metal McGraw - Hill, 1986.

In this research, it is studied the analytical solu- HELMAN, H.; CETLIN, P. R. Fundamentos da
tion for the moment of bending of sheet metal conformação mecânica de metais. 2. ed. São Paulo:
on three cylinders. The computational numerical Artliber, 2005.
simulation to obtain the final radius of bending MARCINIAK, Z.; DUNCAN, J. L.; HU, S.J. Mechanics
is implemented with the formulations. Residual of sheet metal forming. 2. ed. London: Butterworth-
stresses and springback are measured and com- Heinemann, 2002.
pared with results cited in the references. In the
problem formulation, it is shown that bending PEREIRA, M. P. et al. Contact pressure evolution at the
moment, distribution of residual stresses and die radius in sheet metal stamping. Journal of Materials
springback can be expressed as a function of Processing Technology. v.209, n.7, p.3532-3541, 2009.
geometric parameters (radius of bend and thick- TAN, Z.; LI, W. B.; PERSSON, B. On analysis and
ness) and material properties (Young modulus, measurement of residual stresses in the bending of sheet
Poisson’s ratio, resistance coefficient, work- metal. International Journal Mechanical Science. v. 36,
hardening index). The theoretical results will be n. 5, p. 483-491, 1994.
compared with the experimental results.
VIN, L. J. Curvature prediction in air bending of metal
Key words: Sheet bending. Springback. sheet. Journal of Materials Processing Technology.
Residual stresses. v. 100, n. 1-3, p. 257-261, 2000.

VLADIMIROV, I. N.; PIETRYGA, M. P.; REESE, S.


Prediction of springback in sheet forming by a new finite
Referências strain model with nonlinear kinematic and isotropic
ASM HANDBOOK, Mechanical testing and evaluation. hardening. Journal of Materials Processing Technology.
10 ed., v. 8. New York: Dana Medlin, 2000. v. 209, n. 8, p. 4062-4075, 2009.

Recebido em 12 dez. 2008 / aprovado em 18 fev. 2009

Para referenciar este texto


BARBOSA, G. M. Processo de dobramento de chapas
metálicas. Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009.

120 Exacta, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 109-120, 2009.

Você também pode gostar