Recurso Extraordinario
Recurso Extraordinario
Recurso Extraordinario
supedâneo nos artigos 102, inciso III, alínea “a”, da Constituição da República
anexas.
1
RAZÕES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Lei n. 11.343/06.
2
Inconformado, o dominus litis interpôs recurso de apelação ao Egrégio
seguintes termos:
3
REQUISITOS LEGAIS - MATÉRIA JÁ ENFRENTADA - EMBARGOS
REJEITADOS. 1. Não se vislumbrando ambiguidade, obscuridade,
contradição ou omissão no julgado vergastado, não há que se falar em
acolhimento dos embargos de declaração. 2. Mesmo para fins de
prequestionamento, o acolhimento da irresignação exigiria que o meio
impugnativo em tela estivesse adequado às hipóteses do art. 619 do CPP. 3.
Embargos não acolhidos.2
aviltadas, não restou outra saída senão aviar o presente recurso extraordinário.
DELIMITAÇÃO DO TEMA
Busca-se o entendimento e real aplicação dos artigos: (i) 1º, inciso III, da
4
CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Federal (artigos 1º, inciso III, 5º, incisos XLVI, LVII, LIV e LXIII, e
93, inciso IX), nos termos do artigo 102, inciso III, alínea “a”, da
recorrente;
extraordinário.
pede, pois, nova análise probatória, mas tão somente a correta aplicação dos
direitos aviltados.
inválidas e não plenas que subsidiaram a condenação, tal como aplicadas pelo
5
causa de diminuição de pena, se revelam lícitas frente a Constituição da
é, indubitavelmente, de direitos.
revolvimento fático-probatório.
3
HC 98816, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em
29/06/2010, DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT VOL-02413-03 PP-00513.
4
Nas minudentes palavras do Ministro Relator: “É certo que não podemos revolver fatos e provas,
mas, por outro lado também, não podemos coonestar uma desproporção tão flagrante entre o fato e a pena
aplicada, senão voltamos um pouco ao reino de terror de Robespierre – aliás, um livro interessantíssimo
que me foi presentado por um eminente amigo e Colega e que me fez refletir bastante sobre o papel da
Justiça. Então, proponho aos eminentes Pares o deferimento da ordem, fundado no princípio da
razoabilidade, da proporcionalidade, sem que nos abalancemos a revolver fatos e provas, anulando a
decisão de segunda instância de São Paulo, para fazer prevalecer novamente a decisão de primeiro grau. É
a minha proposta” (ff. 08/09, do voto).
6
A mera revaloração jurídica dos elementos de prova utilizados na apreciação
dos fatos pelo magistrado de primeiro grau não implica reexame do acervo
fático-probatório, porquanto meramente jurídica a questão de fundo.
Precedente: HC 101.698/RJ, Rel. Luiz Fux, 1ª Turma, DJe 30.11.2011. 5
REPERCUSSÃO GERAL
5
HC 123779, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 03/03/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-053 DIVULG 18-03-2015 PUBLIC 19-03-2015; f. 01, do voto.
6
“A revaloração de elementos fático-jurídicos, em sede de recurso especial, não se confunde
com reapreciação de matéria probatória, por se tratar de quaestio juris, e não de quaestio facti.
Precedentes” (grifei).
7
“A valoração jurídica do fato distingue-se da aferição do mesmo, por isso que o exame da
presente questão não se situa no âmbito do revolvimento do conjunto fático-probatório, mas
importa em mera revaloração dos fatos postos nas instâncias inferiores, o que viabiliza o
conhecimento do habeas corpus. Precedentes: HC 96.820/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 28/6/2011; RE
99.590, Rel. Min. Alfredo Buzaid, DJ de 6/4/1984; RE 122.011, relator o Ministro Moreira Alves,
DJ de 17/8/1990” (grifei).
8
“A revaloração jurídica dos fatos postos nas instâncias inferiores não se confunde com o
revolvimento do conjunto fático-probatório. Precedentes: HC 96.820/SP, rel. Min. Luiz Fux, j.
28/6/2011; RE 99.590, Rel. Min. Alfredo Buzaid, DJ de 6/4/1984; RE 122.011, relator o Ministro
Moreira Alves, DJ de 17/8/1990” (grifei).
7
Nos termos do artigo 102, § 3º, da Constituição da República Federativa
subjetivo do processo.
Tribunal Federal.
Há, não se pode negar, clara ofensa a interesses difusos, vez que as
8
desrespeito às normas fundamentais, procedimentos de cunho inquisitorial,
Estado Juiz.
(peremptoriamente) Violador.
não se sente mais afeta a viver sua vida com tranquilidade e harmonia, dada a
fundamentais.
9
Consentir com tais ingerências é ser conivente com um direito de cólera
Por fim, vale a pena frisar que o acórdão fustigado viola, em muito, a
10
técnicas, e os vetores coerência e integridade, estes dois últimos agora
expressamente previstos no ordenamento jurídico brasileiro (Novo Código
de Processo Civil), são imprescindíveis.12
insegurança jurídica.
DO DIREITO
ABSOLVIÇÃO.
12
Idem; p. 202.
13 BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 7ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2013; p. 25.
11
4º Valoração (na sentença): o contraditório manifesta-se através
do controle da racionalidade da decisão (externada pela fundamentação)
que conduz à possibilidade de impugnação pela via recursal.14 (grifei e
destaquei)
ponderando o ônus das partes frente à presunção de inocência, a luz dos artigos
93, inciso IX, e 5º, inciso LIV, Da Constituição da República, busca aferir, sob o
prisma da persuasão racional, a quase verdade dos fatos (eis que a verdade
Neste contexto, como cediço, pela Dikelogía, não pode o julgador, ainda
14
LOPES JR. Aury / Direito processual penal – 13ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2016; p. 328, epub.
15
Idem, Ibidem; p. 758, epub.
12
É certo, com efeito, que, para que haja condenação, deve existir, antes,
coerente que aponte para a existência de um fato típico, ilícito e culpável, para
16
MARINONI, Luiz Guilherme; SARLET, Ingo; MITIDIERO / Curso de direito constitucional – 4.
Ed. ampl. – São Paulo: Saraiva, 2015; p. 808/809, epub.
17 Voto proferido no julgamento do HC n. 126.292, de relatoria do Ministro Teori Zavascki,
13
condenar o recorrente, posto que inexistente prova penal certa, produzida,
14
silêncio (fls. 168/168v).
Testemunha Em relatório circunstanciado de investigações de fls. 37/38, o
indireta. investigador de Polícia Civil Rafael Silvio Vidal de Castro, após
Nada sabe entrevistas, consignou que “apesar de Leonardo Moreira Costa negar a
sobre fatos. mercancia de drogas, durante levantamentos, foi arrecadado seu envolvimento
Privilegia o com a mercancia de drogas, o que pode ser confirmado através das informações
direito penal prestadas por Leonardo Maurício”. Na fase judicial, aduziu que “já ouviu dizer
do autor. que o acusado realmente é pessoa traficante de drogas” (fls. 137).
As testemunhas civis Matthias Karl Schaefle e Humberto Silva
Indiretas. de Oliveira Pinto confirmaram a regularidade das diligências policiais e a
Apenas delação do usuário Leonardo Maurício, negando a existência de qualquer
confirmam o coação ao usuário (fls. 04/05v e fls. 166/166v).
flagrante Ora, ressalto ser pacífica a jurisprudência no sentido de que os
delito policiais civis ou militares, mormente os que se encontravam no momento
promovido. e no lugar do crime, não estão impedidos de depor, pois não podem ser
considerados inidôneos ou suspeitos pela simples condição funcional. Os
depoimentos dos policiais que atuaram nas investigações merecem a
mesma credibilidade dos testemunhos em geral, somente podendo ser
desprezados se demonstrado, de modo concreto, que agiram sob
suspeição.
Enquanto isso não ocorra, se não defendem interesse próprio ou
escuso, mas, ao contrário, agem em defesa da sociedade, a palavra deles
serve como prova suficiente para informar o convencimento do julgador.
Citação de E, a meu sentir, inexistem nódoas nos incriminadores relatos dos
jurisprudênc milicianos, não se vislumbrando qualquer indício de interesse em
ia prejudicar o increpado, merecendo, assim, indiscutível valor como meio
inaplicável. de prova.
Os policiais A propósito, confira-se precedentes dos Tribunais Superiores:
não
presenciara “Esta Suprema Corte firmou o entendimento no sentido de que não há
m os fatos, irregularidade no fato de os policiais que participaram das
sendo meras diligências ou da prisão em flagrante serem ouvidos como
testemunhas testemunha” (STF, RHC 108586, Relator Min. RICARDO
indiretas. LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011,
Confusão na PROCESSO ELETRÔNICO DJe-172 DIVULG 06-09-2011 PUBLIC
aplicação 08-09-2011) – destaquei.
dos
precedentes. “Segundo entendimento desta Corte, o depoimento dos policiais
responsáveis pela prisão em flagrante do acusado constitui meio
de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente
Conclusão quando corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo
inidônea, legal (HC n.º 236.105/SC, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe
despida, 12/6/2014)” (STJ, AgRg no REsp 1505023/RS, Rel. Ministro
pois, de um SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
conjunto 01/09/2015, DJe 22/09/2015) – destaquei.
probatório
certo, para Dessa forma, somando-se as informações policiais de que o réu
além da estava envolvido com o tráfico de drogas com a confissão-delação do
dúvida usuário Leonardo Maurício, que não apresenta contradições, é imperiosa
razoável. a manutenção da condenação do réu pelo delito de tráfico de drogas,
mesmo porque, a única variante que contraria a uníssona versão
15
apresentada pelos milicianos é a apresentada pelo réu, a qual, contudo,
demonstra completa falta de verossimilhança 18. (grifei e destaquei)
próximo de uma delação, de pessoa que, a bem da verdade, foi pega, no dia dos
Provas
Como se pode ver, não existia (e nem nunca existiu), nos autos, prova
16
É que, conforme fundamentado no acórdão, o testemunho chave de
posto que flagrado na posse do material ilícito, podendo, a uma, ser tido como
usuário de drogas (art. 28, Lei n. 11,343/06), ou, a duas, como o verdadeiro
notadamente por ser visto em atitude suspeita, na data dos fatos, portando o
entorpecente, suas palavras devem ser (e deveriam ter sido) lidas com extremas
crime (no mínimo, o uso, como acima demonstrado), não produzir prova contra
si mesmo (artigo 5º, LXIII, CRFB/88 – nemo tenetur se detegere), não se exigindo,
depoimento de informante não podem servir como elemento decisivo para a condenação,
notadamente porque não lhes são exigidos o compromisso legal de falar a verdade19”).
algum, por parte de quem quer que seja, a suspeita de que referida testemunha
persecução estatal.
19AP 465, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 24/04/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014.
17
Ora, por que a investigação, a todo o tempo, apenas se deu sob a óptica
do fato (e não do autor)? Resta claro, assim, que, tendo referida testemunha
20NUCCI, Guilherme de Souza. Provas no processo penal. 4ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2015; p.
177, epub.
18
que ele mesmo realizou. São reações normais, tal como indagar do juiz se
ele, após condenar o réu, acredita mesmo na sua culpa.21 (grifei)
nada colaboram com a elucidação dos fatos, posto que são indiretos e não
plenos, nada sabendo, eles, com a certeza que subjaz necessária, sobre a
perpetração do crime.
fato criminoso. São, assim, na grande maioria dos casos, vagas, contaminadas,
19
isso (o que é vedado pela objetividade). Há ainda o imenso risco de existir
uma verbalização ampliada, até para valorização do papel assumido.
Ademais, a testemunha de 'ouvi dizer' nada presenciou e,
portanto, não corresponde aos requisitos de objetividade e
retrospectividade, na medida em que não teve a 'experiência probatória',
não conheceu diretamente do fato objeto da discussão na dimensão de
caso penal. A titulo de curiosidade, no sistema inglês existem três provas
passíveis de exclusão (exclusionary rules) e proibição valoratória:
a) hearsay: testemunha de ‘ouvi dizer’;
b) Bad character: prova sobre o mau caráter. Importante para evitar
o direito penal do autor (eis outra proibição de prova que poderíamos
adotar, especialmente no tribunal do júri);
c) Prova ilegal: concepção tradicional de proibição de valoração
probatória da prova ilícita.
Enfim, a testemunha de 'ouvi dizer' (hearsay) não é propriamente
uma prova ilícita, mas deveria ser evitada pelos riscos a ela inerentes e,
quando produzida, valorada com bastante cautela ou mesmo não valorada.
Existe uma insuperável restrição de cognição, pois não se trata de uma
testemunha presencial, daí decorrendo o completo desconhecimento do
fato e, portanto, um elevadíssimo risco de indução, deturpação e
contaminação, pois ela acaba sendo mera 'repetidora' de discurso alheio.22
(grifei)
contemplado.
condenatório penal.
Pugna-se, assim, pela real interpretação dos artigos 1º, inciso III, 5º,
22 Vide: https://www.conjur.com.br/2015-out-30/limite-penal-testemunho-hearsay-nao-prova-
ilicita-evitada2.
20
devido processo legal, se revalorar os elementos contidos no acórdão e,
CRFB/88) deve ser lido através daquele que, como cediço, guarda, de fato, os
21
Neste desiderato, certo é que, este Supremo Tribunal Federal, desde o
22
julgado, para afastar a incidência do artigo 33, § 4º, da Lei n. 11.343/06, como se
23
Supremo Tribunal Federal, que admitiu Repercussão Geral no Recurso
Extraordinário nº 635.659 para decidir sobre a tipicidade do porte de droga
para consumo pessoal.
4. E, em face dos questionamentos acerca da proporcionalidade do direito
penal para o controle do consumo de drogas em prejuízo de outras
medidas de natureza extrapenal relacionadas às políticas de redução de
danos, eventualmente até mais severas para a contenção do consumo do
que aquelas previstas atualmente, o prévio apenamento por porte de droga
para consumo próprio, nos termos do artigo 28 da Lei de Drogas, não deve
constituir causa geradora de reincidência.
5. Recurso improvido.26
PEDIDOS
Ex positis, requer:
(a) a contrariedade na aplicação dos 1º, inciso III, 5º, incisos LXIII, LVII e LIV, e
racional; e (b) a contrariedade na aplicação dos artigos 1º inciso III, e 5º, incisos
ser aplicada não prescindível causa de diminuição de pena, com todos seus
consectários legais;
26 REsp 1672654/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 21/08/2018, DJe 30/08/2018.
24
2) Subsidiariamente, caso Vossas Excelências entendam que o
desde já, pela imediata aplicação do artigo 1.033, do Código de Processo Civil
Brasileiro.
25