Neurobiologia Da Acção Da Cannabis
Neurobiologia Da Acção Da Cannabis
Neurobiologia Da Acção Da Cannabis
(1) acreditava-se que o uso primário de cannabis era bastante incomum, estando, na
grande maioria dos casos, associado ao uso de outras substâncias como álcool ou outra
droga ilícita;
(2) é relativamente recente o reconhecimento de uma verdadeira síndrome de
dependência associada ao uso da cannabis;
(3) também é recente a descoberta e isolamento de receptores canabinóides no cérebro
(Matsuda et al 1990).
Cognos Formação e Desenvolvimento Pessoal
Outros estudos têm sugerido também uma associação entre o uso prolongado da
cannabis e a presença de alterações electroencefalográficas (Struve et al 1999),
reforçando a hipótese de que esta substância pode produzir neurotoxicidade cumulativa.
encontram.se nos córtices límbico e de associação (Biegon and Kerman 2001), o que
parece explicar o importante impacto cognitivo associado à intoxicação aguda pela
cannabis.
A localização pré sináptica dos receptores CB1 sugere uma acção moduladora deste sobre
a liberação de neurotransmissores. Estudos com animais e, em menor número, com
humanos têm demonstrado efeitos de canabinóides na libertação de diferentes
neurotransmissores e neuromoduladores tais como glutamato, GABA, norepinefrina,
dopamina, serotonina, acetilcolina, histamina, prostaglandinas, e peptídeos opióides
(Schlicker and Kathmann 2001).
Na intoxicação aguda por cannabis ocorre sedação, prejuízos cognitivos que envolvem
dificuldade de consolidação de memória de curto prazo, alteração na avaliação do tempo,
prejuízo nas funções executivas, alterações da sensopercepção e alterações na
coordenação. Acredita-se que a maior parte destes sintomas sejam devido a acção
agonista do THC nos receptores CB1 e consequente modulação dos diversos sistemas de
neurotransmissão.
Já os efeitos motores agudos dos canabinóides parecem ser mediados por neunónios
GABAérgicos e glutamatérgicos localizados nos núcleos da base e cerebelo (Sanudo-Pena
et al 1999).
Efeitos de intoxicação aguda tais como taquicardia e xerostomia são mediados pela acção
do THC na libertação de acetilcolina; ao passo que efeitos em quadros de espasticidade
relacionam-se com interacções com múltiplos sistemas, incluindo GABAérgico,
glutamatérgico e dopaminérgico (Fan 1995; Mattes et al 1994).
Após uso repetido e regular, desenvolve-se tolerância à maior parte dos efeitos
farmacológicos de muitos dos canabinóides. Tal fenómeno deve-se principalmente a
alterações farmacodinâmicas baseadas em downregulation e/ou dessensibilização de
receptores (Di Marzo et al 2000; Rubino et al 2000).
Também tem sido consistentemente descrita uma síndrome abstinência após interrupção
abrupta de uso prolongado de cannabis, caracterizada por inquietação, irritabilidade e
insónia, sudorese, rinorreia, anorexia, diarreia e soluços (Budney etl al 2004).
técnica bastante imprecisa e incluíram usuários com história de abuso de várias outras
substâncias.
hipocampais.
(Cahn et al 2004) compararam 27 pacientes com esquizofrenia no seu primeiro episódio
com diagnóstico de abuso ou dependência de cannabis com 20 esquizofrénicos sem
história de abuso ou dependência de substâncias.
Não foram observadas diferenças entre os grupos no que se refere ao volume total do
cérebro, substância branca, substância cinzenta, cerebelo, ventrículos laterais e terceiro
ventrículo. Curiosamente, os pacientes com diagnóstico de abuso ou dependência não
apresentaram assimetria ventricular (ventrículo lateral esquerdo maior que o direito)
observada entre os que não tinham história de uso de substância.
and Wilson 1993; Mathew et al 1997; Mathew et al 1992; Mathew et al 2002; Volkow et al
1996).
As regiões mais frequentemente associadas a alterações agudas são os lobos frontais e
temporais, cerebelo e cíngulo anterior.
actividade cerebral em regiões como córtex pré-frontal e cíngulo anterior também foram
relatados aquando da execução de tarefas cognitivas por usuários crónicos de cannabis
(Block et al 2002; Gruber and Yurgelun-Todd 2005).
Conclusão
Considerando-se que a cannabis é das drogas ilícitas mais utilizada na actualidade e o
intenso debate acerca dos seus potenciais danos e mesmo potencial uso terapêutico, há
um número bastante limitado de estudos examinando os seus efeitos sobre cérebro
humano, especialmente entre os usuários crónicos. Os resultados dos estudos avaliando
a anatomia cerebral são inconclusivos ou conflitantes, devido ao pequeno número de
estudos, como ao tamanho reduzido das amostras examinadas (Crippa et al 2005).
Os estudos de neuroimagem funcional ‘em repouso’ mostram resultados mais
consistentes, implicando estruturas como córtex pré-frontal, cíngulo anterior e cerebelo
consistente com a distribuição cerebral dos receptores CB1. Os resultados apontam para
um aumento do fluxo sanguíneo e metabolismo cerebral na intoxicação aguda. Por outro
lado, o uso crónico de cannabis, está associado a uma diminuição fluxo sanguíneo e
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