Caso Clínico 1 Resolvido

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GRUPO 1: Arthur Girardi Francalin Laureano; Carlos Henrique de Oliveira; João Vitor

Hernandez; Julia de Lamare dos Santos; Leticia Cristina de Abreu; Lucas Guilherme Toshio
Takeuti Wada; Maria Antonia Vieira; Maria Fernanda Lopes; Sofia Ortolan Diel.

Caso clínico: Paciente afrodescendente, 36 anos, se apresentou ao Hospital Universitário


Regional de Maringá apresentando dor abdominal. Na admissão reportou disúria, frequência
e urgência miccional por 1 semana, sem histórico médico de doenças sexualmente
transmissíveis ou drogas de abuso e no momento não fazia uso de nenhuma medicação.
Após a consulta médica apresentou batimentos cardíacos normais, pressão arterial
123/59mmHg, temperatura 37.6°C. Foram solicitados exames de sangue e urina.

Tabela 1. Exame de sangue da paciente


Exame Resultado Valor de Referência
Ht 17% 26 a 45% (F)
Hb 12 g/dL 12 a 16 g/dL
Leucócitos 25000 4000 a 10000/mm3
Creatinina 0,8 mg/dL 0,6 a 1,2 mg/dL
Glicose 280 g/dL 65 a 99 mg/dL
Normal: Inferior a 5,7%
HBA1C 10,60% Risco aumentado para DM: 5,7 a 6,4%
DM: Igual ou superior a 6,5%
B-HCG Positivo
DM: Diabetes mellitus

Tabela 2. Exames Físicos da urina analisada da paciente


Exame Resultado Valor de Referência
Cor Amarelo Citrino -
Aspecto Turvo -
Volume 50 mL -
Densidade 1,020 1,010 a 1,030
pH 5,5 5,0 a 6,5
Depósito Moderado

Tabela 3. Exames Químicos da urina analisada da paciente


Exame Resultado Valor de Referência
Proteínas Presente (+) Negativo
Glicose Presente (++) Negativo
Cetonas Negativo Negativo
Sangue Presente (+) Negativo
Bilirrubina Negativo Negativo
Urobilinogênio Normal Normal

Nitrito Presente (+++) Negativo

Tabela 4. Sedimentoscopia da urina analisada da paciente


Exame Resultado Valor de Referência
Células
500/mL Até 10000 células/mL
epiteliais
Hemácias 18000/mL Até 5000 hemácias/mL
Leucócitos 100000/mL Até 7000/mL
Filamento de
+ -
muco
Cilindros Ausentes Ausentes

Cristais Ausentes Ausentes

Bacterioscopia BGN (+++) Ausentes

Cultura de urina: Desenvolvimento de bactérias Gram-negativas com características


bioquímicas e morfológicas de Escherichia coli.
Antibiograma: Sensível e todos os antibióticos testados
O tratamento foi realizado com Cefalexina (500 mg via oral de seis em seis horas, por
sete dias) e foi orientado a paciente para repetir o exame de urina 7 dias após o término
da antibioticoterapia.

Resolução do Caso:

A paciente relatou dor abdominal, dor ao urinar (disúria) e aumento da micção,


sintomas que podem indicar alguma patologia no trato urinário (TU), justificando assim a
realização de exames de urina (para avaliação do TU) e de sangue (para informações do
estado geral da paciente).
Ao realizar os exames de sangue, percebe-se que a paciente está grávida, porque o
B-HCG foi positivo; entretanto, não se sabe a idade gestacional, devido ao fato do exame
ser qualitativo. Ainda, também percebe-se que a paciente provavelmente é diabética, com
os resultados tanto da glicemia, quanto da hemoglobina glicada, ultrapassando os valores
de referência. Além disso, o alto valor da hemoglobina glicada mostra que não houve
tratamento efetivo da diabetes/controle glicêmico nos últimos 3 meses pelo menos, o que
corrobora com a anamnese, onde a paciente relatou que não utiliza nenhum medicamento,
provavelmente por não ter o diagnóstico da diabetes. A Organização Mundial da Saúde
preconiza que glicemia igual ou superior a 126 mg/dL caracteriza Diabetes mellitus mesmo
em gestantes, e não diabetes gestacional.
Outro resultado que chama a atenção é o hematócrito (Ht) muito baixo, o que
indicaria redução da quantidade de hemácias no sangue, entretanto, estas estão
aparentemente normais (uma vez que a hemoglobina se encontra dentro dos valores de
referência). O Ht baixo e a hemoglobina normais podem sugerir um quadro infeccioso,
possivelmente no TU, onde a paciente relatou sintomas. Isso se corrobora também pela
leucocitose, que possivelmente indica uma processo inflamatório e/ou infeccioso ativo,
levando à maior produção e circulação de leucócitos para combater o agente agressor.
Diante disso, essa hipótese de processo infeccioso no TU é confirmada pelo exame
de urina. No exame físico pode-se perceber depósito, indicando presença de elementos não
solúveis, como bactérias, células, cristais, etc. No exame químico pode-se observar
proteinúria (+), glicosúria (++) e hematúria (+), indicando lesão e/ou comprometimento
glomerular, tubular, ou intersticial, afetando a capacidade de filtração. Também observa-se a
presença moderada de nitritos, indicando a presença de bactérias redutoras de nitrato. Na
sedimentoscopia foram visualizadas grandes quantidades de bactérias bacilo
Gram-negativas (que pela grande quantidade de bactérias, difícil de ser contaminação), e
também hemácias e abundante leucocitúria (mais um indicativo de lesão glomerular/capilar,
comum em infecções renais), comprovando assim a infecção no TU. Posteriormente, na
urocultura foram identificados que as bactérias presentes eram de Escherichia coli, bactéria
presente na microbiota intestinal e um dos principais patógenos causadores de infecção
urinária.
Diante disso, sabe-se que DM é um fator de risco para o desenvolvimento de
infecções por conta de fatores como a diminuição de atividade de neutrófilos, alteração na
aderência ao endotélio, quimiotaxia e opsonização, e resposta imune celular lentificada.
Sendo assim, alguns quadros infecciosos são mais frequentes em diabéticos do que na
população geral, como a infecção urinária (risco duas vezes maior em diabéticos). Ainda, a
hiperglicemia contribui para as infecções do TU pois leva à glicosúria, que pode servir de
substrato para as bactérias se desenvolverem ainda mais rapidamente.
Além disso, outro importante fato no desenvolvimento de ITU envolve a maior
frequência da patogenia em pessoas do sexo femino devido à curta distância entre o ânus e
o meato uretral externo. Assim, mulheres podem acabar levando bactérias da sua microbiota
intestinal ao períneo e introito vaginal, permitindo a ascensão ao TU inferior. No caso da E.
coli, além de ampla presença na microbiota intestinal, permitindo maior chance de migração
e infecção, a espécie também possui fímbrias, facilitando a adesão à mucosa e também a
protegendo da esfoliação celular e do fluxo urinário, permanecendo unidas na mucosa.
Ademais, quando grávida, a depender do estado gestacional, há uma maior retenção da
urina, favorecendo também a infecção urinária.

Hipótese de diagnóstico
Diante das exposições supracitadas, percebe-se que a paciente possui diversos
fatores de risco para o desenvolvimento de infecções urinárias, como ser do sexo mais
afetado, ter diabetes mellitus, e também estar grávida. Assim, o início da patogênese
provavelmente deu-se com a colonização do introito vagial ou meato uretral pela E. coli da
microbiota, com a migração do patógeno até a bexiga pode ter acontecido pela aderência
das bactérias às mucosas facilitada pelas fímbrias. Na bexiga, ocorreu multiplicação dessas
bactérias devido ao ambiente ali encontrado: devido à diabetes não controlada havia alta
quantidade de glicose na urina, já que o excesso de glicose não era filtrado pelos rins, uma
vez que ultrapassa os limites de absorção, eliminando o excesso na urina, com a glicosúria
proporcionando substrato para as bactérias crescerem. Ainda, devido à gravidez, houve
perda do peristaltismo dos ureteres e da capacidade de esvaziamento da bexiga, permitindo
maior estase urinária, favorecendo também a multiplicação microbiana.
Nesse sentido, após a colonização inicial, devido aos fatores inerentes à gravidez e à
diabetes, houve evolução do quadro para uma infecção sintomática do trato urinário, com
sintomas como disúria, urgência urinária e dores abdominais devido ao fato das bactérias na
bexiga estarem causando uma cistite aguda.
Além disso, os glomérulos também sofreram lesões devido à DM não tratada,
levando ao rompimento das membranas estruturais e/ou funcionais dos vasos glomerulares,
além de lesões nos túbulos renais, permitindo a passagem de ainda mais glicose para urina,
além de hemácias, proteínas e leucócitos, explicando por exemplo então que a presença de
proteínas na urina provavelmente se deu mais por conta dessa consequência por conta da
DM, e não por conta da cistite em si.
Sendo assim, a paciente provavelmente foi diagnosticada com um quadro de cistite
(infecção do TU inferior/bexiga), devido ao fato de ser uma paciente mais vulnerável a esse
tipo de infecção, além da paciente provavelmente ter danos glomerulares devido à diabetes
melittus. Os exames realizados auxiliam em tal diagnóstico pela presença de bactérias
(E.coli) na urina e também pela presença de proteinúria, grande leucocitúria e hematúria
presentes.

Ainda, para evitar confusões com o diagnóstico pielonefrite X cistite, na pielonefrite há mais
proteinúria (cerca de 3 cruzes no exame químico já é um indicativo), além da presença de
cilindros na urina, fatos que não foram observados na amostra analisada da paciente.

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