Cultura Tropeira em Castro
Cultura Tropeira em Castro
Cultura Tropeira em Castro
Ijuí
2013
LUCIMARA DA SILVA FITZ
Ijuí/RS
2013
DEDICATÓRIA
Sou grata a Deus por ser dono dos meus pensamentos, por me inspirar, por ser mestre
das minhas ações e por ter permitido concretizar mais um projeto da minha vida.
A minha família pais e irmãos que estiveram ao meu lado fazendo parte de todo esse
ciclo, pela motivação e apoio incondicional.
Aos amigos e colegas em especial aos professores Ivo Canabarro, pelas orientações e
ensinamentos, por acreditarem em meu trabalho meus sinceros agradecimentos e o meu muito
obrigado.
Sumário
- Introdução................................................................................... 06
- Referências ................................................................................ 40
INTRODUÇÃO
O interesse por essa temática foi centrado na análise da cultura deixada pelos
tropeiros que ao deslocarem-se sobre o lombo de cavalos e mulas, conduzindo rebanhos
de gado bovino, muar, ovino, suíno e equino, entre outros. Transportaram não somente
as mercadorias destinadas a suprir as necessidades de regiões localizadas a centenas de
quilômetros, dinamizando a economia, mas também e principalmente foram grandes
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colaboradores na construção de uma identidade e repertório patrimonial que ao longo
dos anos foi se consolidando como a cultura tropeira.
No século XVIII um importante caminho foi aberto, onde até então eram trilhas
percorridas somente por indígenas, essas trilhas também eram usadas por portugueses e
espanhóis ao embrenhar-se para exploração do território. O tropeirismo tem a sua
origem vinculada com a abertura dessas primeiras trilhas. Entre essas trilhas, destacam-
se o caminho do Peabiru que ligava Capitania de São Vicente (interior de São Paulo)
passando por quatro países: Brasil (em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato
Grosso do Sul), Bolívia, Paraguai chegando a Cusco no Peru e o caminho de Itupava,
que interliga as planícies litorâneas ao primeiro planalto paranaense.
A ocupação das terras brasileiras pelos portugueses começou pelo litoral e após
um século de exploração das riquezas encontradas, resolveram ir à busca de ouro pelo
interior do Brasil. No entanto a maior dificuldade encontrada era o transporte, não
somente de pessoas, mas também das mercadorias e outros recursos que seriam
indispensáveis durante a viagem ou caso se estabelecessem em algum lugar para
pernoite. Inicialmente esse transporte era feito por índios, negros escravizados e
mamelucos assalariados.
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No sul do Brasil, a existência de campos propícios para a criação do gado foi
uma alternativa encontrada para que a economia mineradora não se estagnasse. O
interesse manifestado pela Coroa Portuguesa, além das cobranças de impostos sobre a
extração do ouro, não se limitou apenas aos lucros que obteria com a exploração do
comércio que, possivelmente, se estabeleceria quando da compra e venda dos rebanhos
de gado bovino e muar.
(Fonte: Revista Globo Rural, Edição Especial, fascículo 1:1, In: ZUCCHERELLI, 2008,
p. 13)
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Além de fazer prosperar a economia brasileira e, especialmente das regiões por
onde passava o Caminho do Viamão constituía um importante meio de arrecadação
fiscal, que por concessão da coroa portuguesa era administrado por fidalgos de
confiança. Fazia-se também presente o interesse militar que sob as ordens do governo
de São Paulo as tropas militares seguiam por esse caminho, deslocando-se de São Paulo
ao sul da América Latina, deslocando-se até às regiões do Rio da Prata, a fim de agir
defensivamente às incursões espanholas nos espaços ocupados por portugueses. Como
afirma Nadalin (2001, p. 48) “Ora, a pecuária e guerras estão intimamente ligadas à
política colonial no sul”.
Macedo (2003), por ocasião dos 150 anos do Paraná e 503 anos do Brasil faz
um apanhado sobre fases e elementos da cultura paranaense, enfocando que o Ciclo do
Tropeirismo começou por volta de 1731, com o português Cristóvão Pereira de Abreu,
que abriu estrada ligando Curitiba a Sorocaba, conduzindo a primeira tropa de mulas e
gado.
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A criação de gado não exigia tantos recursos de capital e mão de obra como a
lavoura e a mineração, fator que incitou pessoas que tinham se estabelecido em outros
lugares, principalmente no litoral, saíssem da costa brasileira e se dirigissem ao interior,
muitos instalaram-se nos locais de pouso das tropas ou então nas proximidades do
Caminho do Viamão.
As necessidades dos povoados que surgiam ao longo do caminho fez com que
os tropeiros expandissem seu comércio para atender a demanda. O fluxo das tropas pelo
Caminho do Viamão acontecia em dois sentidos: ao se deslocarem para venda de gado
muar, cavalar e vacum, e quando retornavam traziam as mercadorias encomendadas
pelos moradores dos locais por onde passavam com a tropa.
Silva (2005) menciona dois tipos de tropa e descreve a função de cada uma
delas:
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para transporte a longas distâncias, tanto que a Coroa Portuguesa logo se encarregou de
tomar providências quanto ao monopólio do comércio desses animais.
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mercado e comércio de cada época respectivamente: no século XVIII bois e mulas para
Minas Gerais, para São Paulo cafeeiro no século XIX e primeiras décadas do XX e para
o norte do Paraná como extensão da cafeicultura paulista; e, por último, atendendo a
demanda dos frigoríficos.
Silva (2005, p. 109), coloca que “a palavra “tropeiro” deriva de tropa, numa
referência ao conjunto de homens que transportavam gado e mercadoria no Brasil
Colônia, Império e, em algumas regiões até o Brasil República”.
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de longos cabelos pretos e quase sem barba, tez bronzeada, tórax amplo e cabeça, mãos
e pés pequenos [...]”.
Straforini (2001) descreve como que essas tropas eram organizadas: cada
componente tinha uma função específica dentro do grupo. O condutor era como se
denominava o tropeiro cuja função era conduzir a tropa; o camarada tinha ligação com
os donos das mercadorias e fazendeiros e supervisionava os escravos envolvidos na
caravana; o cozinheiro preparava as refeições para toda tropa e também fazia parte da
tropa o aprendiz que acompanhava os longos trajetos realizados pelos tropeiros para
aprender sua futura profissão. Silva (2005) relata que o proprietário era o tropeiro chefe,
sendo muito raro não estar com a tropa, mas quando isto acontecia, designava um
capataz.
“ O tropeiro propriamente dito era o dono do negócio, dos animais que ele
punha em marcha com os seus camaradas. Podia não ser o único dono, mas
tinha algum capital empregado nesta atividade, alguma participação, como,
por exemplo, comandar a transação e a viagem. Por isso, chefiava, decidia”.
(TRINDADE, 1992, p.38)
Fraga (2004) faz uma análise do “suposto” perfil psicológico do tropeiro, assim
como a bravura de suas atitudes, salientando que:
Foi aquele homem destemido e laborioso – que (tanto na sua empresa rural,
como a repontar as tropas de alimárias, por longo tempo e distância) se
constituiu no formador de comunidades rurais e urbanas […]. Homem, quiçá
rude, ao mesmo tempo dócil, porque lapidado pelas arestas de sua faina a
desbravar caminhos inóspitos, onde por vezes, obrigava-se dormir ao relento
[…].(FRAGA, 2004, p. 601).
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Torna-se imperativo salientar que o vasto repertório cultural deixado pelas
ações dos tropeiros foi difundido entre gerações e se perpetuando justamente pela forma
da expressividade e simplicidade com que se relacionavam com as pessoas que
precisavam de seus préstimos. De um lado o respeito e o altruísmo do tropeiro, por
outro a admiração e a confiança com que os moradores se reportavam a eles ou aos
feitos desses personagens históricos que fizeram do seu trabalho uma ponte ligando
diversificadas e diferenciadas culturas.
Silva (2005) transcreve um dos escritos do padre André João Antonil que situa
com minúcias o cotidiano dos tropeiros:
Maia e Maia (1981) fazem uma descrição de como era o local de pouso. Para
oferecer acomodações tanto os componentes da tropa, quanto aos animais transportados
ou que serviam como meio de transporte o grande rancho era aberto, coberto de sapé ou
telhas comuns, sendo que nas imediações desse rancho havia um grande cercado, para
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que se soltassem os animais. Geralmente o pouso ficava em uma fazenda, à beira da
estrada.
Os fatos históricos não podem ser entendidos a partir de ações individuais, mas
como uma construção em que a participação de todos os agentes sociais: individuais e
coletivos são parte do processo das formações sociais e dos sujeitos históricos.
Os tropeiros deram vazão a um novo tipo de relacionamento que veio dar outra
conotação as relações sociais já existentes. As pessoas que chegaram e passaram a se
agregar nos lugares de pouso dos tropeiros constituíram um modelo de sistema social e
comercial. Uma fusão de culturas se instaurava nessas migrações. Os novos moradores
tinham que adaptar-se aos modos de vida local, mas, em contrapartida, contribuíam com
as experiências e conhecimentos e para manter sua própria subsistência e atender as
necessidades dos tropeiros procuravam fornecer os recursos necessários tais como
curtumes, armazéns, ferrarias, compradores de couro, que de uma forma ou outra foram
incluídos nesta formação.
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reais personagens ainda é encontrado nos costumes, na alimentação, na arquitetura e no
modo de vestir, fazendo parte das tradições de algumas cidades do Paraná.
Silva (2005, p. 115) utiliza-se das palavras de Lazier para descrever o tropeiro
paranaense:
“ pertenciam à classe média (alta e média). (...) Alguns mais instruídos, outros
menos aptos (...) o viajar contínuo, o contacto com gentes de diversos
lugares, das mais diferenciais culturas, o conhecimento e o respeito, aos
hábitos e costumes dos moradores visitados, incutiu-lhes concepções
liberais”. ( SILVA, 2005, p. 115).
Portanto, apesar da forte hierarquização que havia no grupo e que era denotada
até mesmo nos modos de se vestir, as atitudes eram de respeito, não havendo privilégio
em relação a acomodações ou aos riscos aos quais estavam expostos.
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O tropeirismo possibilitou ao Paraná muito mais do que o desenvolvimento
econômico. A ampliação de sua ocupação territorial de forma mais consistente se dá a
partir da passagem das tropas pelos Campos Gerais, ressaltando que cada pouso
originou uma vila, uma cidade.
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Em alguns pontos de pouso que ofereciam as condições propícias, no entanto, e
também, eram as intempéries da natureza que forçavam uma parada mais longa dos
tropeiros como é o caso do rio Iapó, que corta a atual cidade de Castro. Com a
precipitação de chuvas as terras às margens do rio Iapó tornavam-se alagadas durante
alguns períodos do ano.
A região de Castro, por estar na chamada rota dos tropeiros e também por estar
situada em um local geograficamente propício ao tipo de atividade desenvolvida
recebeu um impulso ao seu desenvolvimento.
Castro teve a sua origem ligada ao requerimento da sesmaria por Pedro Taques
de Almeida, cuja finalidade era a implantação de currais e invernadas para criação de
bovinos e muares. Com a inauguração da Sesmaria de Sant´Ana do Iapó dá-se início à
ocupação dos Campos Gerais.
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2 TRANSPORTANDO CULTURA
Para enfrentar os desafios impostos pela longa viagem era necessário como
frisa Silva (2005, p. 116) “indumentária tropeira precisava ser resistente”. O vestuário
característico do tropeiro era composto de
“um chapelão de feltro de abas viradas, ou um chapéu de copa alta e aba reta.
[...]. O lenço era passado ao redor do pescoço de forma folgada ou então
atado à cabeça com as pontas caídas às costas. Vestia camisa e calça de pano
forte e usava botas de couro flexível até a altura da coxa, embora,
dependendo do clima e do terreno, pudessem ser dobradas. Ainda
compunham a indumentária, o pala ( que era jogado sobre os ombros e
possuía uma abertura no centro por onde enfiava a cabeça) e o poncho
( usado nos dias frios ou como coberta para dormir, que era confeccionado
em fio de lã, em tear rústico). Os mais abastados tinham ponchos importados,
industrializados e forrados de baeta vermelha, bem comprido, geralmente
retangular, os quais cobriam amplamente o tropeiro e a cavalgadura, quando
do cavaleiro montado.[...] Nas varias léguas que caminhava, o tropeiro
protegia os pés com alpercata. (SILVA, 2005, p. 116)
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Além dos trajes característicos para facilitar a viagem e os imprevistos que nela
ocorressem a alimentação do tropeiro também era simples e prática:
Conforme relata Silva (2005) o fogão do tropeiro era a trempe, onde colocava-
se a ciculateira para o preparo do café e também o caldeirão onde era preparada a
simples comida do tropeiro.
Quando o Brasil ainda não havia caminho de ferro nem estrada de rodagem;
quando o carro de bois, gemendo nos cocões, era veículo preferido para o
transporte de cargas em terreno pouco acidentado; quando os caminhos nada
mais eram do que os espaços naturais entre as árvores ou não passavam das
trilhas abertas pelos carregadores humanos e pelas patas da gadaria; quando
uma população escassa pulverizava-se numa base física de imensas propor-
ções; quando os núcleos de ocupação se perdiam na vastidão da hinterlândia
brasileira, foi a tropa de muares, silenciosa e heróica, varando sertões, atra-
vessando ravinas, rasgando matas, vadeando rios, galgando paredões escarpa-
dos, equilibrando-se em abruptos declives, que assegurou – e manteve – a cir-
culação de produtos e de mercadorias, canalizando vida e civilização para o
grupos humanos que se haviam enfurnado Brasil a dentro. ( GOULART,
1961, p. 15).
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Silva (2005) destaca a relevância do papel do tropeiro enquanto um propagador
dessa diversidade cultural, colocando que a característica expansionista da atividade
tropeira não ficou restrita somente pela conquista do espaço territorial, mas também:
[...] pela adequação das mais diferentes tradições, usos e costumes da época,
numa miscigenação portuguesa, espanhola, negra e indígena; fator que
determinaria a música, a culinária, hábitos do vestiário, moral, religiosidade,
práticas de medicina e organização social. (SILVA, 2005, p. 109)
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Guiada pelo chocalho da madrinha, levada no cabresto, à mão do dianteiro, a
tropa desatrelada enveredou pela devesa, redambalando por intervalos cada
polaco das cabeças de lote nos torcicolos abrutalhados da vereda, ribanceira
abaixo. (...)
Um tropeiro sacou do piquá que trouxera a tiracolo, o pinho companheiro
dessas caminhadas no sertão; apertou a chave da prima e pigarreou pelo
cordame um lundu, todo repassado de ais e suspiros.
– Cabra malvado, faz tristeza essa viola – disse alguém, o pensamento longe,
perdido no arraial, onde deixara, certo, saudades e cuidados. – Diga antes um
caso, daqueles que nos contava, quando na boiada do Antão...(RAMOS,
1917)
São esses singulares detalhes que fizeram com que tropeiros e seus feitos
fiquem eternizados em músicas, contos, poesias, pois esses nuances da cultura
transcendem o espaço, o tempo, às questões econômicas, sociais e políticas. O
repertório musical que faz alusão à figura do tropeiro é bem diversificado, destaca-se
neste trabalho a música de Teixeirinha : Tropeiro Velho
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3 CULTURA TROPEIRA NA ATUALIDADE
relevantes e selecionados pelos diferentes grupos sociais, pois como afirma Pinto (1985, p. 135) “A
cultura é um produto do existir do homem, resulta de vida concreta no mundo que
habita e das condições, principalmente sociais, em que é obrigado a passar a existência”.
Diante deste pressuposto a diversidade cultural abarca as diferenças culturais que existem entre as
pessoas correspondendo a variedade e convivência de ideias, concepções e formas de organizar-se
socialmente.
De acordo com Souza (2004, p. 479) a […] diversidade cultural tornou-se traço
marcante da Região Sul, resultante direta do tropeirismo. Esse traço marcante da cultura
tropeira deve-se as etnias incluídas entre os componentes da tropa e os moradores das
regiões afins, aspectos culturais absorvidos de forma diferenciada e que ao serem
transmitidos uma cadeia de significados vai sendo criada.
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ocupação e integração territorial, de impacto na constituição social das populações por
onde o caminho das tropas teve sua rota estabelecida. A atividade mineradora fez surgir
uma nova forma de mercado interno no Brasil colonial, mas oportunizou o surgimento
de povoados que acabaram se transformando em cidades, dentro de um processo de
crescimento econômico e populacional, que apresenta ampla transformação nas formas
e interrelacionamento no processo social, pela diversidade de informações e aspectos
culturais aos quais se deu vazão nestes povoados.
Martins (1995, p. 274) afirma que foi o “ciclo pastoril e tropeiro, mais criador
de êxitos felizes que os que deram origem às entradas de preiadores de índios e de
caçadores de pepitas auríferas”. A seguir complementa citando João Ribeiro:
Foi a criação “o quase único aspecto tranquilo da nossa cultura: por ela
abriram-se as comunicações terrestres iniciadas pela conquista e conservou-
se, como ainda hoje se conserva, nas estâncias sertanejas, o verdadeiro ou
único tradicionalismo da vida nacional”. (João RIBEIRO, História do Brasil,
p. 184, in MARTINS, 1995, p.274)
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Silva (2005) relata que “a atividade tropeira também influenciou a culinária
regional com o arroz tropeiro, o feijão sacudido e a paçoca”, sendo que na atualidade os
costumes tropeiros em relação a alimentação são muito difundidos, como o consumo do
feijão tropeiro (que recebe outros nomes e variações de acordo com a região), café
tropeiro, charque, paçoca, consumo de farinha de mandioca ou farinha de milho,
chimarrão – muitos desses hábitos. Também espalharam a cultura do chimarrão.
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garni de salsa e a cebolinha verde para o tempero do feijão, são até hoje
utilizados tanto no feijão tropeiro do museu como no Castropeiro.
(MARTINS, MASCARENHAS, 2008, p. 35)
As receitas das comidas típicas variam de uma região par outra, com acréscimo
ou supressão de algum ingrediente ou até mesmo na denominação.
Paçoca de Carne
Ingredientes
1 kg de carne bovina
½ kg de carne suína
300 g de farinha de mandioca
Cheiro Verde
1 cebola grande picada
2 dentes de alho
Sal a gosto
5 colheres de sopa de óleo
Modo de preparo:
Limpe a carne e corte-a em cubos. Frite muito bem, coloque os
temperos e, por último, o sal.
Retire a carne e coloque em outra vasilha, em seguida misture
a farinha. Soque-as em um pilão até desfiar toda a carne.
(Fonte: Projeto Campos Gerais em Quadrinhos)
Essa riqueza e ampla variedade vocabular que não ficou restrita a determinada
região, teve seus significados inseridos em populações diversas, sendo habitualmente
utilizados e repassado ás futuras gerações, assim como dizeres e provérbios:
• Burro velho não pega trote, quer dizer que com o passar dos anos, é mais difícil
aceitar as mudanças.
• Quem lava cabeça de burro perde o trabalho e o sabão: discutir com teimoso é
perda de tempo.
• Onde vai o cincerro vai a tropa: onde o líder vai, leva consigo o grupo.
• Pela andadura da besta se conhece o montador: pelos atos se conhece a pessoa.
Picar a mula: ir embora.
• Dar com os burros n’água – Trabalho ou coisa que não deu certo.
• Teimoso como uma mula.
• Tem caveira de burro – Coisa azarada.
• Estar com a tropa ou estar com o burro na sombra : Estar tranquilo, com
sucesso.
• Picar a mula
• Cor de burro quando foge.
• É bater na cangalha que o burro entende.
• Deixar de ser besta.
• Não ser burro.
• Ser uma besta quadrada.
• Dizer besteira.
• Fazer burrice
• Ficar emburrado.
• Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha.
(Fonte: Tropeirismo – Castro – PR, Nº 2)
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No folclore paranaense, há grandes manifestações místicas, crendices e lendas
ou causos, cujas origens remontam do período do tropeirismo. Algumas manifestações
folclóricas de outras etnias que compuseram a ocupação do espaço paranaense fazem
parte do tradicionalismo dos tropeiros, como é o caso de algumas do Fandango, que é
uma dança de origem espanhola, mas que adaptada pelos próprios tropeiros era
acompanhada pela viola. Constitui-se numa dança de desafio,
Como esses aspectos culturais não eram impostos, não exigindo rigorosidade
nas suas manifestações, eram uma maneira de ver a vida, de passar o tempo, foram aos
poucos sendo mesclados e incorporados pelas populações que foram se formando ao
longo do caminho dos tropeiros. Os ritmos como as toadas, a catira, o cururu, xotes,
milongas, vaneiras, guarânias, chamamés retratam a alma de povos e, de acordo com a
recepção e percepção dos mesmos se perpetuam se incorporando às manifestações
folclóricas regionais, e de uma forma distinta denota a riqueza cultural, inclusive, pela
variedade de sotaques e de linguagem e até mesmo os significados de palavras e
expressões.
A casa que abriga o Museu do Tropeiro foi construída no século XVIII, pela
família Carneiro Lobo. Abriga um acervo cultural de grandiosa relevância sendo
considerado o mais completo do gênero no país. Dentre estes os acessórios utilizados
pelas tropas como registra a foto.
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Fonte: Rota dos Tropeiros. - Museu de Castro.
Há, também uma listagem com nomes de alguns desses tropeiros, destacando-
se o código do tropeiro.
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Das cidades paranaenses que tem sua origem ou desenvolvimento ligado à
passagem das tropas é na cidade de Castro que se encontra o maior arquivo documental
e peças expostas no museu e casas de exposições artísticas, sendo ser considerado o
acervo mais importante do tropeirismo. A valorização desse fato histórico está
registrado através das minúcias da arquitetura referentes aos séculos XVIII e XIX, no
atual centro histórico.
É notável que grande parte das tradições que fazem parte da memória histórica
e cultural dos municípios que compõem a dos Campos Gerais tem sua origem pelo fato
da passagem das tropas. A fé, a devoção sempre foram características marcantes dos
tropeiros. Da religiosidade vivida intensamente pela maioria dos componentes das
tropas originou-se histórias como as da aparições da Virgem Maria, do Monge João
Maria, essas e outras histórias de fé eram contadas e recontadas ao redor de fogueira ou
durante os longos percursos das viagens.
Algumas das Igrejas, cerimônias, festas, eventos religiosos nas cidades por
onde passaram as tropas são os maiores e inquestionáveis exemplos de que a fé foi uma
herança deixada pelos tropeiros. No Paraná destacam-se:
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das Brotas é a padroeira da Rota dos Tropeiros e 14 capelinhas de pedra – Palmeira.
( Fonte: Rota dos Tropeiros.)
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Os tropeiros desbravaram sertões, possibilitaram a integração entre os aspectos
econômicos, sociais e culturais da população brasileira em especial no processo de ocupação
dos Campos Gerais no Paraná, dando origem a cidades como Castro, Lapa, Palmeiras entre
outras.
A valorização das raízes que marcaram a identidade cultural desse movimento são
notórias na maioria das cidades paranaenses que tiveram sua origem ou desenvolvimento ligado
ao tropeirismo, sendo marcante na constituição social os hábitos tropeiros, mesmo que de forma
sutil, mas indelével.
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5 REFERÊNCIAS
FRAGA, A. M. Num olhar para além da saga de tropeiro. In: SANTOS, L. M. S.;
BARROSO, V. L. M. (Org.). Bom Jesus na rota do tropeirismo no Cone Sul. Porto Ale-
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MAIA, Tom; MAIA, Thereza Regina de Camargo. O folclore das tropas, tropeiros e
cargueiros no Vale do Paraíba. Rio de Janeiro: MEC-SEC: FUNARTE: Instituto Na-
cional do Folclore; São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura: Univ. de Taubaté, 1981.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. (Feuerbach) 5. ed. São Paulo:
HUCUTED, 1986
PESEZ, J. M. História da cultura material. In: LE GOFF, J. A História Nova. São Pau-
lo: Martins Fontes, 1990.
SANTOS, L. Burros de carga. In: Revista Brasileira de Geografia, v.2, n.4, IBGE,
1940.
41
SOUZA, J. O. C. de. A influência do tropeirismo na formação humana dos Campos de
Cima da Serra. In: SANTOS, L. M. S. dos; BARROSO, V. L. M. (Org.). Bom Jesus na
rota do tropeirismo no Cone Sul. Porto Alegre: Est, 2004.
www.vamoslerjornaldamanha.com.br/.../CamposGeraisEmQuadrinhos -Acesso em
29/01/2013
42