Cultura Tropeira em Castro

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

LUCIMARA DA SILVA FITZ

O TROPEIRISMO NO PARANÁ “A CULTURA TROPEIRA EM


CASTRO”

Ijuí

2013
LUCIMARA DA SILVA FITZ

O TROPEIRISMO NO PARANÁ “A CULTURA TROPEIRA EM


CASTRO”

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de História da
Universidade regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul –
UNIJUÍ, como requisito final para a
obtenção do grau de Licenciatura
Plena em História.

Orientador: Ivo Canabarro

Ijuí/RS

2013
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos meus alunos que fizeram e fazem


parte da minha vida, por serem o incentivo e razão dessa caminhada.
Agradecimentos

Sou grata a Deus por ser dono dos meus pensamentos, por me inspirar, por ser mestre
das minhas ações e por ter permitido concretizar mais um projeto da minha vida.

A minha família pais e irmãos que estiveram ao meu lado fazendo parte de todo esse
ciclo, pela motivação e apoio incondicional.

Aos amigos e colegas em especial aos professores Ivo Canabarro, pelas orientações e
ensinamentos, por acreditarem em meu trabalho meus sinceros agradecimentos e o meu muito
obrigado.
Sumário

- Introdução................................................................................... 06

1. Tropeiro e tropeirismo ....................................................... 08

2. Transportando Cultura ...................................................... 21

3. Cultura tropeira na atualidade ....................................... 26

- Considerações finais ................................................................ 38

- Referências ................................................................................ 40
INTRODUÇÃO

O que motivou a escolha do tema “Tropeirismo no Paraná: Cultura Tropeira em


Castro”, deve-se a valorização e preservação da cultura tropeira no Paraná
principalmente na região dos Campos Gerais.

O tema desta pesquisa, desde os primeiros esboços do projeto, está centrado no


tropeirismo, mas não tem seu objeto contextualizado no passado. Os desdobramentos
deste fato histórico apresentam elementos de teor qualitativo que subsidiam e norteiam
esta pesquisa na premissa da compreensão das consequências da cultura tropeira na
atualidade, numa proposta de reflexão sobre um passado que se faz presente recriado na
memória e na cultura.

O tropeirismo foi um acontecimento histórico que teve início do século XVIII.


Dos campos do Rio Grande do Sul vinham numerosas tropas até a feira de Sorocaba
São Paulo, onde os animais eram comercializados e seguiam para as regiões
mineradoras de Minas Gerais, o trajeto percorrido pelos tropeiros como eram chamados
os homens que conduziam as tropas deu origem a várias cidades, principalmente em
terras paranaenses esse trajeto é conhecido como rota dos tropeiros.

Os caminhos abertos pelos tropeiros no início do século XVIII continuaram


servindo como principais vias para o comércio e a integração entre o extremo sul e o
restante do país, o ciclo do tropeirismo se estendeu até o início do século XX e compôs
a identidade histórica e cultural da região dos Campos Gerais no Paraná assim como
contribuiu para o desenvolvimento econômico brasileiro possibilitando a comunicação
com o extremo sul do país.

O interesse por essa temática foi centrado na análise da cultura deixada pelos
tropeiros que ao deslocarem-se sobre o lombo de cavalos e mulas, conduzindo rebanhos
de gado bovino, muar, ovino, suíno e equino, entre outros. Transportaram não somente
as mercadorias destinadas a suprir as necessidades de regiões localizadas a centenas de
quilômetros, dinamizando a economia, mas também e principalmente foram grandes

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colaboradores na construção de uma identidade e repertório patrimonial que ao longo
dos anos foi se consolidando como a cultura tropeira.

Pesquisar o ciclo do Tropeirismo e sua influência na formação da cultura


paranaense resgatando a história dos tropeiros principalmente no que se refere aos
aspectos sociais, econômicos e culturais, buscar o conhecimento e preservação da
influência tropeira no modo de vida, costumes e tradições da população que foi se
estabelecendo nas cidades e núcleos-pastoris dos Campos Gerais que surgiram com a
rota dos tropeiros ganha relevância porque a história e a herança cultural do tropeirismo
para o estado do Paraná são evidentes em muitas manifestações. Nas cidades
paranaenses que compõem a rota dos tropeiros, através de materiais bibliográficos,
museus ou casas da cultura tropeira, arquitetura e culinária entre outras fontes que
contribuem para a formação da identidade histórica regional observam-se traços
peculiares dessa cultura que são característicos de muitas cidades paranaenses.

Na busca de memórias e referenciais históricos centrados no tempo passado, na


construção da identidade e na ativação de repertórios patrimoniais no tempo presente,
reafirma-se o compromisso com a valorização da diversidade étnico cultural e o
reconhecimento da identidade social, resgatando a importância desse ciclo na
constituição social, econômica e cultural do Paraná.

Numa proposta de pesquisa qualitativa, foi realizado análise documental e


levantamento bibliográfico, pesquisa de aspectos de cultura material do patrimônio
cultural paranaense relativo ao tropeirismo em pesquisa de campo com visitas ao Museu
do Tropeiro localizado na cidade de Castro, que foi uma cidade formada pela passagem
dos tropeiros.

O trabalho organiza-se em três etapas. Num primeiro momento, esboça-se a


narrativa dos fatos históricos referentes às atividades tropeiras. Em um segundo
momento, destaca-se alguns aspectos da cultura que os tropeiros “transportaram”
juntamente com as mercadorias. Num terceiro momento, realiza-se uma reflexão sobre
que permanece desta cultura, assim como as contribuições para a criação ou expansão
de conceitos numa linguagem mais contemporânea e globalizada, reportando-se ao
Paraná e mais especificamente à cidade de Castro.
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1 TROPEIRO E TROPEIRISMO

No século XVIII um importante caminho foi aberto, onde até então eram trilhas
percorridas somente por indígenas, essas trilhas também eram usadas por portugueses e
espanhóis ao embrenhar-se para exploração do território. O tropeirismo tem a sua
origem vinculada com a abertura dessas primeiras trilhas. Entre essas trilhas, destacam-
se o caminho do Peabiru que ligava Capitania de São Vicente (interior de São Paulo)
passando por quatro países: Brasil (em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato
Grosso do Sul), Bolívia, Paraguai chegando a Cusco no Peru e o caminho de Itupava,
que interliga as planícies litorâneas ao primeiro planalto paranaense.

A ocupação das terras brasileiras pelos portugueses começou pelo litoral e após
um século de exploração das riquezas encontradas, resolveram ir à busca de ouro pelo
interior do Brasil. No entanto a maior dificuldade encontrada era o transporte, não
somente de pessoas, mas também das mercadorias e outros recursos que seriam
indispensáveis durante a viagem ou caso se estabelecessem em algum lugar para
pernoite. Inicialmente esse transporte era feito por índios, negros escravizados e
mamelucos assalariados.

Segundo Nadalin (2001, p. 32) os portugueses ao se apossarem das terras


brasileiras colocaram em prática alguns expedientes considerados brutais e para garantir
o domínio e expansão das terras conquistadas estratégias de povoamento e comércio
foram desenvolvidas, entre elas “[...] a introdução de cabeças de gado, de cavalos e
muares para o abastecimento e transporte na colônia [...]” que a partir do século XVIII
seriam considerados coadjuvantes da atividade econômica mais lucrativa da época: o
tropeirismo, cuja finalidade era a comercialização do gado oriundo da região Sul,
conduzidos para as regiões de Sorocaba, de São Paulo e de Minas Gerais.

A quantidade expressiva de extração de ouro na região de Minas Gerais atraiu


muitas pessoas de modo que a população daquele lugar cresceu de forma intensa e,
como se dedicavam exclusivamente à extração do ouro, não produzia seus alimentos,
sendo necessário trazerem de outras regiões tudo o que precisavam.

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No sul do Brasil, a existência de campos propícios para a criação do gado foi
uma alternativa encontrada para que a economia mineradora não se estagnasse. O
interesse manifestado pela Coroa Portuguesa, além das cobranças de impostos sobre a
extração do ouro, não se limitou apenas aos lucros que obteria com a exploração do
comércio que, possivelmente, se estabeleceria quando da compra e venda dos rebanhos
de gado bovino e muar.

(Fonte: Revista Globo Rural, Edição Especial, fascículo 1:1, In: ZUCCHERELLI, 2008,
p. 13)
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Além de fazer prosperar a economia brasileira e, especialmente das regiões por
onde passava o Caminho do Viamão constituía um importante meio de arrecadação
fiscal, que por concessão da coroa portuguesa era administrado por fidalgos de
confiança. Fazia-se também presente o interesse militar que sob as ordens do governo
de São Paulo as tropas militares seguiam por esse caminho, deslocando-se de São Paulo
ao sul da América Latina, deslocando-se até às regiões do Rio da Prata, a fim de agir
defensivamente às incursões espanholas nos espaços ocupados por portugueses. Como
afirma Nadalin (2001, p. 48) “Ora, a pecuária e guerras estão intimamente ligadas à
política colonial no sul”.

O Caminho do Viamão foi pensado e traçado para atender a necessidade de


viabilizar o deslocamento por terra das tropas, principalmente, do sul do Brasil para as
regiões que se desenvolviam rapidamente – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais –
visto que os caminhos primitivos, as trilhas, não perfaziam um traçado satisfatório e por
um caminho que ligasse esses dois pontos de forma mais acelerada seria possível
reduzir o preço do gado em virtude de que as despesas com a tropa e com os animais
reduziriam e, principalmente o desgaste do gado destinado à venda.

Sendo o gado um gênero fundamental para o consumo da carne e


principalmente pelo transporte também, por sua vez, demanda em cultivo de campos de
pastagem. O Caminho das tropas aberto no Sul do Brasil, o Caminho de Viamão,
interligava as grandes pastagens dos Campos e dos Pampas do Rio Grande do Sul com
Sorocaba - SP, onde se realizavam grandes feiras desses animais, o que promovia o
comércio de outros produtos, causando grande movimentação nesse povoado que
rapidamente prosperava. Iniciava-se, como coloca Straforini (2001), um sistema social,
cuja repercussão foi de extrema importância para a expansão e a ocupação do território
brasileiro, principalmente a partir do século XVIII.

Macedo (2003), por ocasião dos 150 anos do Paraná e 503 anos do Brasil faz
um apanhado sobre fases e elementos da cultura paranaense, enfocando que o Ciclo do
Tropeirismo começou por volta de 1731, com o português Cristóvão Pereira de Abreu,
que abriu estrada ligando Curitiba a Sorocaba, conduzindo a primeira tropa de mulas e
gado.

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A criação de gado não exigia tantos recursos de capital e mão de obra como a
lavoura e a mineração, fator que incitou pessoas que tinham se estabelecido em outros
lugares, principalmente no litoral, saíssem da costa brasileira e se dirigissem ao interior,
muitos instalaram-se nos locais de pouso das tropas ou então nas proximidades do
Caminho do Viamão.

As necessidades dos povoados que surgiam ao longo do caminho fez com que
os tropeiros expandissem seu comércio para atender a demanda. O fluxo das tropas pelo
Caminho do Viamão acontecia em dois sentidos: ao se deslocarem para venda de gado
muar, cavalar e vacum, e quando retornavam traziam as mercadorias encomendadas
pelos moradores dos locais por onde passavam com a tropa.

Silva (2005) menciona dois tipos de tropa e descreve a função de cada uma
delas:

A tropa arreada era composta pelo conjunto de animais equipado com


cangalhas. Nestas cangalhas eram penduradas as canastras ou as bruacas
contendo mercadorias.
Cada tropa era conduzida pelos arrieiros ou camaradas – homens que
andavam a pé, atrás de cada lote, cuidando para que nenhum animal se
desgarrasse. As mulas carregavam mantimentos, louças, roupas, utensílios,
enfim, levavam para o interior aquilo que existia na cidade ou havia sido
encomendado. Ao retornar, era comum a tropa trazer a produção local para os
mercados. Até mesmo se desviar por outras veredas, dependendo do interesse
comercial do tropeiro.
A tropa chucra ou braba era formada por animais selvagens, oriundos
principalmente das planícies platinas, que eram domados ao logo do
caminho. Eram animais rústicos, de grande resistência e caminhavam por
caminhos bem difíceis. Eram comercializados geralmente em Sorocaba e dali
seguiam para os seus destinos, nas minas, lavouras ou para formarem novas
tropas. (SILVA, 2005, p. 113)

O tropeirismo foi uma das atividades complementares à economia mineradora


que ocorria no Paraná e, principalmente, em Minas Gerais. O transporte do gado e
outros gêneros solicitados pelas populações que se estabeleciam nos pontos de pernoite
ou estadia dos tropeiros eram feito no lombo dos animais, principalmente de muares que
são animais facilmente domados, com agilidade para percorrer regiões serranas
rodeadas de abismos e florestas, de montanhas e de solos áridos. De acordo com Ferraz
(2002) esses animais de índole dócil, não são exigentes quanto à alimentação, convivem
com nevascas, ventanias e toda a hostilidade da natureza, tornando-se muito requisitado

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para transporte a longas distâncias, tanto que a Coroa Portuguesa logo se encarregou de
tomar providências quanto ao monopólio do comércio desses animais.

O transporte sobre o lombo de mulas levava meses de caminhada, mas era um


comércio lucrativo, pois os animais vendidos eram muito procurados, especialmente as
mulas que eram mais resistentes que o cavalo com grande capacidade para suportar
peso.

De acordo com os conhecimentos e experiências dos tropeiros a rota escolhida


para se deslocarem do Sul ao Norte foi através dos Planaltos, pois o litoral tornava-se
inadequado devido a questões climáticas (excesso de calor) o que ocasionava a
infestação por insetos.

Devido à distância do Rio de Janeiro o Caminho do Viamão se estabeleceu


como a principal rota terrestre ligando territórios do Sul com as demais regiões
consumidoras do Brasil. O transporte de mercadorias deixou de ser exclusivo da rota
marítima, visto que a região onde as minas auríferas estavam sendo exploradas poderia
ser feito o escoamento por esse caminho, pela rota marítima estava sendo um transtorno
conseguir os artigos que se precisava. A respeito destas questões Nadalin (2001) tece
algumas considerações colocando que:

Em função dessas exigências cruciais para a própria continuidade do ciclo


que se inaugurava, reorganizava-se a colônia, evidentemente com a
interveniência das autoridades portuguesas. Ao norte e ao sul, o gado
valorizava-se, e providências eram tomadas para organizar o envio da carne
“em pé” ao mercado carente ao leste, para onde ia o ouro, vinha de volta os
alimentos importados, transportado por tropas de mulas. (NADALIN, 2001,
p.48)

O Caminho do Viamão firmou-se como a principal via de transporte,


comunicação e, consequentemente, de integração das regiões pelas quais transitavam,
oportunizando um sistema de intercâmbio, tanto de bens materiais quando culturais,
atendendo interesses recíprocos de interdependência entre os sujeitos envolvidos nessa
dinâmica: tropeiro e os moradores dos povoados que foram surgindo.

O tropeirismo ficou caracterizado como um ciclo econômico de longa duração


compreendendo um período que foi desde século XVIII, até as primeiras décadas do
século XX, sendo que durante este período atendeu as exigências mais emergentes do

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mercado e comércio de cada época respectivamente: no século XVIII bois e mulas para
Minas Gerais, para São Paulo cafeeiro no século XIX e primeiras décadas do XX e para
o norte do Paraná como extensão da cafeicultura paulista; e, por último, atendendo a
demanda dos frigoríficos.

As inúmeras estradas e picadas que foram abertas propiciaram que ao longo


dos séculos que perdurou essa economia outros sustentáculos da sociedade se
arraigassem alcançando dimensões para além dos pretensiosos e gananciosos anseios de
aquisição, manutenção ou expansão da propriedade ou de bens materiais. As marcas
históricas que se registram foram tecidas na rotina de homens que de uma forma
peculiar conseguiam a confiança dos moradores das localidades por onde esses
caminhos passavam.

Diante da grandiosidade dessas marcas, mais especificamente o repertório


cultural, o comércio e transporte do gado e outros produtos que abasteciam o mercado
das épocas em que o tropeirismo ganhou espaço enquanto suporte econômico fica
relegado a um segundo plano, mas as ações dos personagens que tiveram a ousadia de
mostrar rumos alternativos para um legado cultural diversificado se eternizaram na
memória e na cultura de povos de muitas cidades atualmente existentes.

Silva (2005, p. 109), coloca que “a palavra “tropeiro” deriva de tropa, numa
referência ao conjunto de homens que transportavam gado e mercadoria no Brasil
Colônia, Império e, em algumas regiões até o Brasil República”.

Os tropeiros, proprietários ou condutores de tropas, transportavam gêneros


alimentícios, produtos manufaturados, inclusive os importados da Europa, e também
faziam intercâmbio de informações.

Silva (2005) descreve as atividades do tropeiro colocando que:

O tropeiro era, antes de tudo, um comerciante. A compra e venda de animais,


o uso no transporte de mercadorias que adquiria no centro e vendia no
interior (ou vice versa) fizeram dele um propagador das relações econômicas.
(SILVA, 2005, p 111)

Silva (2005, p. 114) menciona Riesemberg ao reportar-se às características dos


tropeiros. Na transcrição do texto de Riesemberg o tropeiro é descrito como “aquele tipo

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de longos cabelos pretos e quase sem barba, tez bronzeada, tórax amplo e cabeça, mãos
e pés pequenos [...]”.

O tropeiro além das atividades já descritas transmitia notícias, contava causos e


difundia costumes, enfim sua participação foi de extrema importância no cenário deste
fato histórico, visto que atuou como emissário e agente cultural, levando recados,
receitas e novidades, mantendo informadas as pessoas que habitavam em lugares
distantes e isolados.

Na visão histórica de Wachowicz (1998) tropeiro, dono das tropas era um


homem de posses, com destaque na sociedade.

Straforini (2001) descreve como que essas tropas eram organizadas: cada
componente tinha uma função específica dentro do grupo. O condutor era como se
denominava o tropeiro cuja função era conduzir a tropa; o camarada tinha ligação com
os donos das mercadorias e fazendeiros e supervisionava os escravos envolvidos na
caravana; o cozinheiro preparava as refeições para toda tropa e também fazia parte da
tropa o aprendiz que acompanhava os longos trajetos realizados pelos tropeiros para
aprender sua futura profissão. Silva (2005) relata que o proprietário era o tropeiro chefe,
sendo muito raro não estar com a tropa, mas quando isto acontecia, designava um
capataz.

De acordo com Trindade (1992):

“ O tropeiro propriamente dito era o dono do negócio, dos animais que ele
punha em marcha com os seus camaradas. Podia não ser o único dono, mas
tinha algum capital empregado nesta atividade, alguma participação, como,
por exemplo, comandar a transação e a viagem. Por isso, chefiava, decidia”.
(TRINDADE, 1992, p.38)

Fraga (2004) faz uma análise do “suposto” perfil psicológico do tropeiro, assim
como a bravura de suas atitudes, salientando que:

Foi aquele homem destemido e laborioso – que (tanto na sua empresa rural,
como a repontar as tropas de alimárias, por longo tempo e distância) se
constituiu no formador de comunidades rurais e urbanas […]. Homem, quiçá
rude, ao mesmo tempo dócil, porque lapidado pelas arestas de sua faina a
desbravar caminhos inóspitos, onde por vezes, obrigava-se dormir ao relento
[…].(FRAGA, 2004, p. 601).

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Torna-se imperativo salientar que o vasto repertório cultural deixado pelas
ações dos tropeiros foi difundido entre gerações e se perpetuando justamente pela forma
da expressividade e simplicidade com que se relacionavam com as pessoas que
precisavam de seus préstimos. De um lado o respeito e o altruísmo do tropeiro, por
outro a admiração e a confiança com que os moradores se reportavam a eles ou aos
feitos desses personagens históricos que fizeram do seu trabalho uma ponte ligando
diversificadas e diferenciadas culturas.

Silva (2005) transcreve um dos escritos do padre André João Antonil que situa
com minúcias o cotidiano dos tropeiros:

Essas viagens se realizavam a pé ou com burros, cavalos e mulas, formando


tropas. Geralmente de São Paulo às “minas dos Cataguás” se levava até dois
meses, “marchando à paulista”, isto é, caminhando do alvorecer até o meio-
dia e, excepcionalmente, até as duas da tarde. Nas paradas de cada dia, os
viajantes, além de descansar, procuravam na floresta por peixe, caça, mel de
pau e outros alimentos básicos.
O caminho que saía da vila de São Paulo passava primeiro pelo Vale do
Paraíba, transpunha a serra da Mantiqueira e, chegando à serra do Itatiaia, se
dividia em dois: um para a direção do Caeté, Ribeirão do Carmo e Ouro
Preto, e outro em direção ao Rio das Velhas.
Nestes roteiros foram surgindo pontos de pousada mais freqüentados, onde
se desenvolveram roças de mantimentos como milho, feijão, banana e
abóbora, a serem vendidos aos viajantes. (ANTONIL, In: SILVA, 2005, p.
110)

Trindade (1992) coloca que conforme a procedência e destino da tropa a


distância a ser percorrida diariamente podiam sofrer variações.

Wachowicz (1998) relata algumas atividades que foram sendo desenvolvidas


justamente para atender as necessidades que foram surgindo:

Nos locais destinados ao pernoite, estabeleciam-se negociantes, que


construíam algum cercado, para alugá-lo ao tropeiro, para que os animais
pudessem passar a noite sem perigo de se extraviarem. Com o decorrer do
tempo, estes pousos vão aumentando e recebendo sempre novos moradores,
como ferreiros, arreadores, simples empregados, etc. (WACHOWICZ, 1988,
p. 102)

Maia e Maia (1981) fazem uma descrição de como era o local de pouso. Para
oferecer acomodações tanto os componentes da tropa, quanto aos animais transportados
ou que serviam como meio de transporte o grande rancho era aberto, coberto de sapé ou
telhas comuns, sendo que nas imediações desse rancho havia um grande cercado, para

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que se soltassem os animais. Geralmente o pouso ficava em uma fazenda, à beira da
estrada.

Era comum que logo em seguida à definição e organização dos lugares de


pouso, mais propriamente a construção dos ranchos, os fazendeiros erigissem uma
capela, como símbolo de fé e de sua devoção.

A realização das pequenas transações comerciais com os moradores da região


foi um dos pilares que favoreceu para que o tropeirismo se consolidasse como um dos
ciclos econômico mais longo. Paralelo a essa economia um modo de vida de toda uma
sociedade foi-se delineando.

Os fatos históricos não podem ser entendidos a partir de ações individuais, mas
como uma construção em que a participação de todos os agentes sociais: individuais e
coletivos são parte do processo das formações sociais e dos sujeitos históricos.

Os tropeiros deram vazão a um novo tipo de relacionamento que veio dar outra
conotação as relações sociais já existentes. As pessoas que chegaram e passaram a se
agregar nos lugares de pouso dos tropeiros constituíram um modelo de sistema social e
comercial. Uma fusão de culturas se instaurava nessas migrações. Os novos moradores
tinham que adaptar-se aos modos de vida local, mas, em contrapartida, contribuíam com
as experiências e conhecimentos e para manter sua própria subsistência e atender as
necessidades dos tropeiros procuravam fornecer os recursos necessários tais como
curtumes, armazéns, ferrarias, compradores de couro, que de uma forma ou outra foram
incluídos nesta formação.

As bodegas, as vendas que se estabeleceram à beira dos caminhos, com oferta


de charque e aguardente, gradativamente começaram a crescer transformando-se em
casas de secos e molhados e outros pontos comerciais.

O tropeiro, personagem central do tropeirismo, cuja atividade estava


diretamente ligada ao animal, propiciou a integração do sul do Brasil às demais regiões
para onde forneciam produtos, foi o agente, também, propagador de muitos costumes,
causos, enfim de uma cultura que é reconhecida na história. O legado cultural destes

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reais personagens ainda é encontrado nos costumes, na alimentação, na arquitetura e no
modo de vestir, fazendo parte das tradições de algumas cidades do Paraná.

Silva (2005, p. 115) utiliza-se das palavras de Lazier para descrever o tropeiro
paranaense:

“ pertenciam à classe média (alta e média). (...) Alguns mais instruídos, outros
menos aptos (...) o viajar contínuo, o contacto com gentes de diversos
lugares, das mais diferenciais culturas, o conhecimento e o respeito, aos
hábitos e costumes dos moradores visitados, incutiu-lhes concepções
liberais”. ( SILVA, 2005, p. 115).

É perceptível, pelo olhar histórico, que a organização social a qual pertenciam


não era uma barreira que os impedia compartilhar o gosto pela aventura, pela vida
simples próxima da natureza e dos animais, a obediência às regras colocadas no grupo e
o acatamento aos códigos e posturas de convivência. Trindade (1992) enfatiza que:

“(...) Todos compartilhavam do prolongado isolamento, da rusticidade do


pouso noturno, dos terrenos ou rios de travessia estafante ou arriscada, do
possível ataque de feras ou de guerreiros indígenas.”(TRINDADE, 1992, p.
38)

Portanto, apesar da forte hierarquização que havia no grupo e que era denotada
até mesmo nos modos de se vestir, as atitudes eram de respeito, não havendo privilégio
em relação a acomodações ou aos riscos aos quais estavam expostos.

O tropeirismo além de configurar-se como ciclo econômico e social, teve uma


relação direta com o processo de formação de cidades no Paraná, principalmente na
região dos Campos Gerais onde, como coloca Nadalin (2001, p.51) “além de currais e
povoados, os Campos Gerais passaram de zona de passagem para zona produtora”.

A partir de um enfoque que considera os aspectos histórico-culturais pode-se


definir que Campos Gerais abrange o espaço geográfico rico em tradições, destacando-
se o período da ocupação e do desenvolvimento do tropeirismo.

Em relação ao povoamento do território paranaense Martins (1995) coloca que:

O comércio e a criação de gado tiveram, pois uma influência decisiva no


povoamento do território paranaense, muito maior certamente que a
mineração do ouro, que não fixava populações senão muito
excepcionalmente como são os casos de Paranaguá no litoral e Curitiba e São
José dos Pinhais no Planalto. (MARTINS, 1995, p. 270)

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O tropeirismo possibilitou ao Paraná muito mais do que o desenvolvimento
econômico. A ampliação de sua ocupação territorial de forma mais consistente se dá a
partir da passagem das tropas pelos Campos Gerais, ressaltando que cada pouso
originou uma vila, uma cidade.

Torna-se imprescindível salientar que tanto o Paraná quanto Curitiba foram


extremamente beneficiados com a intensa passagem das tropas, pois Curitiba ainda era
uma pequena vila e teve seu desenvolvimento marcado pela atividade comercial
estimulada pela passagem dos tropeiros, mas como afirma Martins (1995):

Aos poucos as atividades dedicadas à criação pastoril foram se transferindo


para os Campos Gerais, ao longo do caminho de São Paulo aos campos de
Vacaria, no Rio Grande do Sul, e ao longo desse caminho foram fundando
novos arraiais dos quais nasceram Jaguariaíva, Castro, Ponta Grossa,
Palmeira e Lapa e, no raio de ação dessas cidades de hoje, outros povoados
de criadores. (MARTINS, 1995, p. 266)

Devido às grandes e significativas vantagens deste novo tipo de atividade


segundo Ferreira citado por Silva (2005) fazendeiros paulistas fizeram as primeiras
ocupação das terras dos Campos Gerais para a criação e ou invernada de gado, cavalos e
muares ao longo do Caminho, no entanto não tinham a intenção de povoamento.
Segundo Wachowicz (2002, p.79) “ocupação desses campos foi encarada como um
negócio para ser explorado e dar lucro”.

Martins (1995, p.266) coloca que ao longo deste caminho estabeleceram-se


fazendas, acrescentando que o ciclo do tropeirismo foi “muito mais propiciador de
fortunas do que o da mineração”.

Wachowicz (2002) complementa que essas fazendas se estruturaram com fins a


proporcionar os recursos necessários para as tropas, enfatiza, ainda, que alguns dos
tropeiros mais renomados eram donos dessas fazendas.

Os tropeiros buscavam para pernoitar ou para estabelecer-se para a engorda do


gado e assim alcançar um preço melhor, principalmente às regiões dos campos, com
extensos pastos naturais, com vegetação predominante de gramíneas, alimento para o
gado vacum, cavalgar e muar.

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Em alguns pontos de pouso que ofereciam as condições propícias, no entanto, e
também, eram as intempéries da natureza que forçavam uma parada mais longa dos
tropeiros como é o caso do rio Iapó, que corta a atual cidade de Castro. Com a
precipitação de chuvas as terras às margens do rio Iapó tornavam-se alagadas durante
alguns períodos do ano.

Com a denominação de Pouso do Iapó, esta região constituiu-se num dos


pontos de pousada das tropas o que favoreceu a população local que expandiu
possibilidades para além do cultivo da terra e da criação de animais, passaram a se
envolver nas atividades tropeiras como intermediários na compra do gado no Rio
Grande do Sul, sua invernagem nos Campos Gerais e a venda nas feiras de Sorocaba.

A região de Castro, por estar na chamada rota dos tropeiros e também por estar
situada em um local geograficamente propício ao tipo de atividade desenvolvida
recebeu um impulso ao seu desenvolvimento.

Castro teve a sua origem ligada ao requerimento da sesmaria por Pedro Taques
de Almeida, cuja finalidade era a implantação de currais e invernadas para criação de
bovinos e muares. Com a inauguração da Sesmaria de Sant´Ana do Iapó dá-se início à
ocupação dos Campos Gerais.

As primeiras sesmarias dos Campos Gerais foram concedidas a vários


integrantes da família de Pedro Taques de Almeida: o latifúndio compreendia
as áreas dos atuais municípios de Jaguariaíva, Piraí do Sul, Castro e parte de
Ponta Grossa. Dos seus beneficiados, membros da sociedade paulista, apenas
Inácio Taques de Almeida passou a residir na região. (DITZEL e LAMB,
DICIONÁRIO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DOS CAMPOS GERAIS.)

Com o intuito de colonizar terras no Brasil o rei de Portugal doava grandes


porções de terra para um requerente. Quem se dispusesse para tal objetivo e
demonstrasse interesse numa porção de terra mandava antecipadamente para o local
alguns escravos e alguns animais, sendo que após algum tempo comunicava ao rei já ter
condições e já estar ocupando o espaço requerido.

Por constituir-se geograficamente privilegiado Pouso do Iapó desenvolveu-se


se transformando na Freguesia de Sant’Ana do Iapó, pois já contava com uma capela,
que foi construída as margens do Iapó, um vigário, moradores regulares, companhia de
cavalaria, fazendas povoadas, comércio e, principalmente o constante tráfego de tropas.
19
Em 1788, a Freguesia de Sant’Ana do Iapó foi elevada a categoria de vila,
denominando-se Vila Nova de Castro. No início do século XIX, Castro já era uma vila
reconhecida por seu envolvimento nas atividades tropeiras e pecuaristas.

Fonte: Rota dos Tropeiros – entrada da cidade de Castro.

Mesmo recebendo grande quantidade de imigrantes europeus, Castro preserva


enquanto patrimônio cultural, o legado deixado pelos tropeiros, permitindo que as raízes
dessa cultura não fiquem estáticas e presas ao passado, mas que se entrelacem nas
minúcias do cotidiano dos moradores da cidade.

Numa época em que a escravidão constituía-se como ponto de referência em


trabalho e, portanto, com a conotação de humilhação e de servidão e de uma sociedade
senhorial cujos pilares da moral pautavam-se na valorização do ócio o movimento
tropeirista teve grande relevância na introdução de um novo modo de pensar, atribuindo
valor ao trabalho humano, independente de etnias. O jeito aventureiro de encarar essas
jornadas no transporte de mercadorias em cima do lombo de mulas abre a possibilidade
de uma leitura de que esses foram passos introdutórios e inovadores de conceitos e
valores dignificando o trabalho e as pessoas que o executam.

20
2 TRANSPORTANDO CULTURA

Os seres humanos se destacam dos outros seres vivos pela aquisição da


capacidade de agir sobre a natureza, ou seja, mudar, pensar logicamente, adaptando-a
aos seus interesses, aos seus modos de vida.

Em cima do lombo de mula tropeiros desbravavam matas, enfrentavam as


intempéries da natureza, sabiam calcular com exatidão qual local do rio era mais
apropriado para a travessia, enfim fatos, conhecimento, crendices, superstições
incrementam a sabedoria tropeira. Flores descreve a dimensão da “aventura” tropeira:

A atividade tropeira pertence á época das trilhas em lugar das estradas,


quando os rios eram vadeados por passos e a produção dos agricultores
precisava ser transportada rapidamente a distantes centros consumidores
(FLORES, 1995, p. 135).

Para enfrentar os desafios impostos pela longa viagem era necessário como
frisa Silva (2005, p. 116) “indumentária tropeira precisava ser resistente”. O vestuário
característico do tropeiro era composto de

“um chapelão de feltro de abas viradas, ou um chapéu de copa alta e aba reta.
[...]. O lenço era passado ao redor do pescoço de forma folgada ou então
atado à cabeça com as pontas caídas às costas. Vestia camisa e calça de pano
forte e usava botas de couro flexível até a altura da coxa, embora,
dependendo do clima e do terreno, pudessem ser dobradas. Ainda
compunham a indumentária, o pala ( que era jogado sobre os ombros e
possuía uma abertura no centro por onde enfiava a cabeça) e o poncho
( usado nos dias frios ou como coberta para dormir, que era confeccionado
em fio de lã, em tear rústico). Os mais abastados tinham ponchos importados,
industrializados e forrados de baeta vermelha, bem comprido, geralmente
retangular, os quais cobriam amplamente o tropeiro e a cavalgadura, quando
do cavaleiro montado.[...] Nas varias léguas que caminhava, o tropeiro
protegia os pés com alpercata. (SILVA, 2005, p. 116)

Segundo Straforini (2001) o vestuário do tropeiro, além de protegê-lo


fisicamente, também fazia uma distinção hierárquica entre os componentes da tropa. Os
historiadores descrevem a forma que os donos de tropa se trajavam que era com tecidos
rústicos e resistentes, chapéu de feltro, botas de couro flexível até a altura das coxas e
mantas de baeta sobre os ombros, mas não se tem um relato mais detalhado sobre como
os outros membros se vestiam, salienta-se, entretanto que não faziam uso de botas e
nem de chapéu.

21
Além dos trajes característicos para facilitar a viagem e os imprevistos que nela
ocorressem a alimentação do tropeiro também era simples e prática:

[...]feijão preto sem caldo e com farinha de mandioca ou biju, linguiça e


toucinho, para facilitar o transporte e conservação.[...] carne seca, pó de café,
açúcar mascavo, cristal ou rapadura. Algumas tropas levavam, também, o
arroz. (SILVA, p. 112 -118)

Conforme relata Silva (2005) o fogão do tropeiro era a trempe, onde colocava-
se a ciculateira para o preparo do café e também o caldeirão onde era preparada a
simples comida do tropeiro.

Além do caldeirão outros utensílios de cozinha eram carregados nas viagens:

um saco de mantimentos, um caldeirão de ferro com tampa, para o feijão;


uma panela de ferro de três pés, um coador e sua armação; xícaras de folha de
ferro batido ou canequinhas esmaltadas, colheres e cuia. (Fonte: (DARGEL,
2009)

O tropeirismo contribui muito para o que houvesse disseminação de valores


culturais de uma determinada região para outra, abrindo espaço, não somente em termos
geográficos, mas também para que propagasse uma gama de conhecimentos, ampliando
o repertório cultural dos povoados por onde passavam. É incontestável a importância da
atividade e do ir e vir desses agentes para a formação social contemporânea do Sul do
Brasil.

Quando o Brasil ainda não havia caminho de ferro nem estrada de rodagem;
quando o carro de bois, gemendo nos cocões, era veículo preferido para o
transporte de cargas em terreno pouco acidentado; quando os caminhos nada
mais eram do que os espaços naturais entre as árvores ou não passavam das
trilhas abertas pelos carregadores humanos e pelas patas da gadaria; quando
uma população escassa pulverizava-se numa base física de imensas propor-
ções; quando os núcleos de ocupação se perdiam na vastidão da hinterlândia
brasileira, foi a tropa de muares, silenciosa e heróica, varando sertões, atra-
vessando ravinas, rasgando matas, vadeando rios, galgando paredões escarpa-
dos, equilibrando-se em abruptos declives, que assegurou – e manteve – a cir-
culação de produtos e de mercadorias, canalizando vida e civilização para o
grupos humanos que se haviam enfurnado Brasil a dentro. ( GOULART,
1961, p. 15).

A absorção das práticas culturais, ao longo das gerações, sofre processos de


ressignificação no e pelo espaço-tempo, pois ao serem inseridas em contextos sociais
diferenciados e também pela leitura de mundo feita pelos componentes desse contexto
social fragmentos dessas práticas ganham maior importância que outros.

22
Silva (2005) destaca a relevância do papel do tropeiro enquanto um propagador
dessa diversidade cultural, colocando que a característica expansionista da atividade
tropeira não ficou restrita somente pela conquista do espaço territorial, mas também:

[...] pela adequação das mais diferentes tradições, usos e costumes da época,
numa miscigenação portuguesa, espanhola, negra e indígena; fator que
determinaria a música, a culinária, hábitos do vestiário, moral, religiosidade,
práticas de medicina e organização social. (SILVA, 2005, p. 109)

A influência tropeira é considerada como um processo civilizador, pois


contribuiu para a expansão cultural fazendo a integração do Brasil Meridional e deu
sentido ao modo com que os povoados assistidos por eles encaravam a vida e as
oportunidades que ela proporcionava.

O Instituto Centro-Brasileiro de Cultura disponibiliza na internete uma


coletânea de textos organizada por Hugo de Carvalho Ramos - Tropas e Boiadas. Pela
narrativa é possível identificar situações que historiadores relatam visto, obviamente,
por outra perspectiva. Do texto Caminho das tropas os trechos a seguir remete a um
estilo de vida peculiar do tropeiro:

[...] O tropeiro empilhou a carregação fronteira aos fardos do dianteiro, e


recolheu depois uma a uma as cangalhas suadas ao alpendre. Abriu após um
couro largo no terreiro, despejou por cima meia quarta de milho, ao tempo
que o resto da tropa ruminava em embornais a ração daquela tarde. O cabra,
atentando na lombeira da burrada, tirou dum surrãozito de ferramentas,
metido nas bruacas da cozinha, o chifre de tutano de boi, e armado duma
dedada percorreu todo o lote, curando aqui uma pisadura antiga, ali raspando,
com a aspereza dum sabugo, o dolorido dum inchaço em princípio, aparando
além com o gume do freme os rebordos das feridas de mau caráter. Só então
tornou à roda dos camaradas, ao pé do fogo do cozinheiro, no interior do
rancho, onde chiava atupida a chocolateira aromatizada do café.(...) borralho
o focinho curto, cupidamente...
– Já vem chegando a boquinha da noite, minha gente – avisou o arrieiro
saindo da barraca e chegando até o parapeito do rancho, olha o encosto da
tropa. – Uma peia garantida nesse macho crioulo, ó Joaquim, que não dê
outro sumiço; olá, mudem o polaco da madrinha, bate soturno esse cincerro.

23
Guiada pelo chocalho da madrinha, levada no cabresto, à mão do dianteiro, a
tropa desatrelada enveredou pela devesa, redambalando por intervalos cada
polaco das cabeças de lote nos torcicolos abrutalhados da vereda, ribanceira
abaixo. (...)
Um tropeiro sacou do piquá que trouxera a tiracolo, o pinho companheiro
dessas caminhadas no sertão; apertou a chave da prima e pigarreou pelo
cordame um lundu, todo repassado de ais e suspiros.
– Cabra malvado, faz tristeza essa viola – disse alguém, o pensamento longe,
perdido no arraial, onde deixara, certo, saudades e cuidados. – Diga antes um
caso, daqueles que nos contava, quando na boiada do Antão...(RAMOS,
1917)

Sobre o lombo das mulas viajava a riqueza de um folclore, eternizando causos,


lendas, ritmos musicais como o citado Lundu.

Do texto À beira do pouso no trecho selecionado monta um cenário de como


fluíam os relacionamentos nos locais de pouso, as questões climáticas que forçava a
uma parada maior e para se passar o tempo causos e mais causos faziam parte do
repertório da conversa, destaca-se que quase sempre era a beira de uma fogueira. Este
conto data-se de Janeiro – 1912.

Contavam casos. Histórias deslembradas do sertão, que aquela lua


acinzentada e friorenta de inverno, envolta em brumas, lá do céu triste e
carregado, insuflava perfeita verossimilhança e vida animada.
Pela maioria, contos lúgubres e sanguinolentos, eivados de superstições e
terrores, passados sob o clarão embaçado daquela mesma lua acinzentada e
friorenta de inverno, no seio aspérrimo das solidões goianas.
Acocorados à sertaneja sob a copa desfolhada do pouso – um jatobá
gigantesco – aquentavam fogo, a petiscar baforadas grossas dos cigarrões de
palha, ouvidos atentos ao narrador.
A cangalhada, vermelha à luz da fogueira e rebuçada em ligais, amontoava-
se em forma de toca ao pé da árvore, resguardando o carregamento, e, na
necessidade, dado o mau tempo, todo o pessoal. Uma neblina leve e hibernal,
esgarçada e refeita aos raios mortos da lua, embuçava ao fundo a campina,
onde cincerros de tropa badalavam intermitentes.
E, sob aquele céu frio e austral de maio, estiolava-se ressequida a vegetação
tenra e rasteira dos campos goianos.
O arrieiro, mestiço traquejado e serviçal, na sua voz grossa e arrastada de
cuiabano, arrematava o final dum conto de lobisome.(RAMOS, 1912)

Ao final de cada dia de jornada paravam nos pontos de pouso, já demarcados, e


em volta da fogueira, os tropeiros se reuniam para se alimentar, descansar e esperar a
noite passar, tomando café tropeiro, contando os “causos”, histórias e lendas. Nessas
paradas, que por vezes se prolongavam por dias e esta rotina se repetia todas as noites
24
os moradores dos arredores também se achegavam para escutar “os causos” e as
“modas”.

São esses singulares detalhes que fizeram com que tropeiros e seus feitos
fiquem eternizados em músicas, contos, poesias, pois esses nuances da cultura
transcendem o espaço, o tempo, às questões econômicas, sociais e políticas. O
repertório musical que faz alusão à figura do tropeiro é bem diversificado, destaca-se
neste trabalho a música de Teixeirinha : Tropeiro Velho

Tropeiro velho de tanta tristeza esconde o rosto na aba do chapéu


Olha os cravados no fogo do chão olha a fumaça subindo pro céu
Quebra de um tapa o seu chapéu na testa esqueça os teus oitenta janeiros
Repare os campos lá vem a boiada pela estrada gritando tropeiro
Tropeiro velho não levanta os olhos não tem mais força é o peso da idade
Acabrunhado à beira do fogo está morrendo de tanta saudade Bis
Tropeiro velho sou um moço novo uma proposta te farei agora
Me dá teu pala o relho e o chapéu bombacha e botas e o par de esporas
Me dá o cavalo e o arreio completo vou continuar no teu lugar tropeando
Tropeiro velho levantou os olhos sentado mesmo me abraçou chorando
Beijou meu rosto e foi fechando os olhos entregou tudo e morto tombou
Morreu feliz porque vou continuar as tropeadas que ele tanto amou Bis
Enterrei ele na beira da estrada pra ver a tropa que passa e se vai
Vejam na cruz vocês vão saber tropeiro velho era o meu próprio pai
Adeus meu pai tropeiro dos pampas teu pensamento cumprirá teu filho
Estou fazendo aquilo que fizeste grita a boiada em cima de um lombilho
Tropeiro velho hoje descansa em paz estou fazendo aquilo que ele fez
Os anos passam também fico velho vou esperando chegar minha vez
( TEIXEIRINHA)

Trechos da poetisa de Cecília Meireles enfatizam, inclusive, ideias que eram


disseminadas entre os tropeiros contra as cobranças exigidas pela Coroa Portuguesa
para que se pudesse transitar pelo Caminho do Viamão:

“ ... Passou um macho rosilho./ E, sem parar o animal, / falava contra o


governo, / contra as leis de Portugal. Nós somos simples tropeiros, / por estes
campos a andar. / O louco já deve ir longe: / mas ainda o vemos pelo ar...”
( CRUZ, 2011, p. )

É notável a grande influência e responsabilidade do tropeiro na transmissão de


uma diversidade cultural nos vastos lugares pelos quais passou.

25
3 CULTURA TROPEIRA NA ATUALIDADE

Inicialmente faz-se necessário conceituar cultura. Conforme Forquim (1993)


cultura pode ser definida como um modo determinado de vida, um modo de pensar, de
viver das pessoas, compartilhamento de significados, de sentidos, de valores, de
comportamentos de determinado grupo social, sendo que nos diferentes grupos sociais
ocorre um processo de seleção: determinados elementos da cultura são selecionados, e
outros não.

Sobre esta questão Canclini (2000) pontua que:

“ (...) Toda cultura é resultado de uma seleção e de uma combinação, sempre


renovada, de suas fontes. Dito de outra forma: é o produto de uma encenação,
na qual se escolhe e se adapta o que vai ser representado, de acordo com o
que os receptores podem escutar, ver e compreender. As representações
culturais, desde os relatos populares até os museus, nunca apresentam os
fatos, nem cotidianos, nem transcendentais; são re-apresentações, teatro,
simulacro”. (CANCLINI. 2005: 201)

Conceitos e elementos da cultura tropeira também passam por essa seleção,


atendendo interesses peculiares de cada região. Esses interesses são norteados por uma
leitura de mundo fornecida pelas experiências individuais e coletivas que
concomitantemente com as perspectivas vão categorizar, eleger e até mesmo adaptar os
mais significativos incluindo-os ao seu repertório cultural.

Conforme Pesez (1990, p. 181), a cultura material “é a relação do homem com


os objetos, pois o homem não pode estar ausente quando se trata de cultura”.

A interação baseada em motivos e razões para a realização de algo, depende de


ações conscientes. Situar as ações que ocorrem neste contexto histórico e social, e
afirmar que são estas algumas das condições para a produção da existência dos
personagens que anonimamente ou não deixaram legados culturais para populações
futuras é reportar-se a Marx (1986), que afirma que ao produzir as condições materiais
para sua existência o homem também produz sua consciência. Portanto há
intencionalidade nesta ação que também é consciente.

Essa consciência, de acordo com Marx (1986), o homem produz ao produzir as


condições materiais para sua existência. Assim, o modo de pensar e conceber o mundo
26
que o cerca é produzido pelo próprio homem, tendo como referencial a sua consciência.
Peixoto (2003) com muita propriedade pondera sobre esta questão:

Portanto, o homem faz-se de modo dialético – ao construir o mundo e a


história, e ao ser por eles construído – no embate com a natureza para a
obtenção e construção dos meios de subsistência; é na ação sobre a natureza
que o homem processa a objetivação de sua subjetividade nos objetos que
cria – constrói ao mesmo tempo em que promove a subjetivação do mundo
objetivo, imprimindo-lhe a marca do humano, quer dizer, humanizando-o.
(PEIXOTO, 2003, p. 42).

Da necessidade que surge para a produção de condições materiais para atender


determinados grupos sociais e econômicos, o tropeirismo, numa primeira instância,
viabilizou que o objetivo fosse alcançado. O êxito, porém, foi uma consequência da
atuação de inúmeros personagens que colaboraram para que o caráter social em que as
tropas estavam imbuídas desse vazão a relações socioculturais intensas. As implicações
das ações deste movimento além de transformar espaços por onde tropeiros passavam
com o gado, criaram, também, novas necessidades, principalmente ao disseminarem por
onde passavam suas ideias, seus costumes, seus saberes e fazeres cotidianos.

A cultura engloba a etnia, a religiosidade, a origem, a escolaridade, a culinária, a vestimenta, a


língua. Esses aspectos diversificam em espaços e tempos de acordo com os elementos considerados

relevantes e selecionados pelos diferentes grupos sociais, pois como afirma Pinto (1985, p. 135) “A
cultura é um produto do existir do homem, resulta de vida concreta no mundo que
habita e das condições, principalmente sociais, em que é obrigado a passar a existência”.
Diante deste pressuposto a diversidade cultural abarca as diferenças culturais que existem entre as
pessoas correspondendo a variedade e convivência de ideias, concepções e formas de organizar-se
socialmente.

De acordo com Souza (2004, p. 479) a […] diversidade cultural tornou-se traço
marcante da Região Sul, resultante direta do tropeirismo. Esse traço marcante da cultura
tropeira deve-se as etnias incluídas entre os componentes da tropa e os moradores das
regiões afins, aspectos culturais absorvidos de forma diferenciada e que ao serem
transmitidos uma cadeia de significados vai sendo criada.

O tropeirismo surgiu há quase 300 anos, inicialmente com a finalidade de


atender necessidades da população que se estabeleceu na a atual região de Minas Gerais,
mas sua contribuição extrapolou os objetivos econômicos, foi decisivo no processo de

27
ocupação e integração territorial, de impacto na constituição social das populações por
onde o caminho das tropas teve sua rota estabelecida. A atividade mineradora fez surgir
uma nova forma de mercado interno no Brasil colonial, mas oportunizou o surgimento
de povoados que acabaram se transformando em cidades, dentro de um processo de
crescimento econômico e populacional, que apresenta ampla transformação nas formas
e interrelacionamento no processo social, pela diversidade de informações e aspectos
culturais aos quais se deu vazão nestes povoados.

“ As atividades ligadas à pecuária e ao tropeirismo, desenvolvidas a partir da


primeira metade do século XVIII, ao longo dos chamados “Caminhos das
Tropas”, marcaram profundamente a história da região, atravessada por esses
roteiros, determinaram a particular ocupação do espaço, induziram o
surgimento de assentamentos urbanos e núcleos agro-pastoris, influenciaram
o modo de vida, os costumes e as tradições da população aí estabelecidas.
Algumas marcas de todo esse processo são ainda visíveis: muitas delas
porém estão desaparecendo, com prejuízo para o conhecimento e a
preservação de importante segmento da história de uma das formas de
ocupação e povoamento do Brasil Meridional”. (POLINARI, 1989, p. 11)

Martins (1995, p. 274) afirma que foi o “ciclo pastoril e tropeiro, mais criador
de êxitos felizes que os que deram origem às entradas de preiadores de índios e de
caçadores de pepitas auríferas”. A seguir complementa citando João Ribeiro:

Foi a criação “o quase único aspecto tranquilo da nossa cultura: por ela
abriram-se as comunicações terrestres iniciadas pela conquista e conservou-
se, como ainda hoje se conserva, nas estâncias sertanejas, o verdadeiro ou
único tradicionalismo da vida nacional”. (João RIBEIRO, História do Brasil,
p. 184, in MARTINS, 1995, p.274)

Straforini (2001), faz algumas considerações em relação a alimentação do


tropeiro colocando que devido às condições das viagens, os tropeiros não dispunham de
alimentos variados, sendo que priorizavam aqueles de procedência mais barata, mas que
ao mesmo tempo davam maior sustância. Silva (2005, p.112) reporta-se a Luis da
Câmara Cascudo ao complementar com detalhes como era organizado o farnel da
viagem: “o saquinho com paçoca, carne assada e farinha de mandioca pisadas no pilão,
estava sempre presente em todo o sertão”. Segundo afirma o tropeirismo:

“ além de unir as regiões sulinas, ter grande importância no desenvolvimento


econômico, no povoamento e contribuir para a formação de uma identidade
regional a herança tropeira deixou importante marca na culinária. (SILVA,
2005, p. 118)

28
Silva (2005) relata que “a atividade tropeira também influenciou a culinária
regional com o arroz tropeiro, o feijão sacudido e a paçoca”, sendo que na atualidade os
costumes tropeiros em relação a alimentação são muito difundidos, como o consumo do
feijão tropeiro (que recebe outros nomes e variações de acordo com a região), café
tropeiro, charque, paçoca, consumo de farinha de mandioca ou farinha de milho,
chimarrão – muitos desses hábitos. Também espalharam a cultura do chimarrão.

Koch (2004) em relação à culinária da capital paranaense analisa que esta


sofreu influência dos tropeiros Viamão e os boiadeiros da Estrada Boiadeira porque:

[...] seus moradores eram obrigados a se deslocar para a sede política do


Estado para resolver problemas administrativos, como também resolver
questões judiciais e outras atividades ( industriais, bancárias e religiosas...)
que tinham os endereços mais representativos na capital. Cada um deles, de
uma forma ou de outra, contribuiu para aplicabilidade da miscigenação
alimentar que, apesar de tudo isto, a capital jamais teve um único prato típico
próprio, como igualmente, ninguém estudou a respeito. ( KOCH, 2004, P. 23)

Em Castro o prato típico e oficial da cidade é o Castropeiro. Essa iguaria é


feita basicamente de carnes de gado bovino e suíno, sempre acompanhadas de feijão
tropeiro, quibebe, arroz, legumes refogados e uma salada, sendo que como sobremesa
sugere-se arroz doce, cocada de doce de abóbora. Os tropeiros não comiam salada
durante as refeições, os vegetais eram refogados e dessa maneira eram inseridos na
alimentação.

O museu do Tropeiro, em Castro, apresenta outros pratos consumidos na


localidade: o feijão com lingüiça e o charque, até hoje consumidos na região;
o arroz carreteiro; o puchero, feito à base de batatas, e a ambrósia, servida
como sobremesa. Além desses, o pernil de porco à pururuca e o lombo de
porco assado eram típicos do cardápio da região, considerando-se que em
Castro o consumo da carne suína era bem superior ao consumo da carne
bovina. Com acompanhamento, não faltava à mesa do castrense o arroz
branco ou o arroz de forno, preparado com queijo, ervilha, clara de ovos
batida e salpicado com queijo ralado para cobrir. Outro prato consumido no
município de Castro era o barbudinho, preparado com feijão cozido
misturado com couve bem picadinha; a quirera cremosa com suã ou
costelinha de porco; as canjas de galinha ou a galinha assada com farofa de
miúdos; paçoca de carne e de pinhão e o pinhão assado. O virado de ovo, um
dos componentes do Castropeiro, era bastante consumido na região. Nas
fazendas, ele era feito com ovos e queijo Fresco.
Os embutidos presentes no cardápio da localidade eram o chouriço, o salame
rosa, a lingüiça feita em casa e o charque, que também era uma maneira de
conservar a carne. Utilizavam-se muitos temperos à época dos tropeiros,
tempos esses que, com o passar dos tempos, foram incorporados aos hábitos
da população atual. O uso de temperos do campo, tais como manjerona,
sálvia e tomilho para os preparados de carnes e, principalmente o bouquet-

29
garni de salsa e a cebolinha verde para o tempero do feijão, são até hoje
utilizados tanto no feijão tropeiro do museu como no Castropeiro.
(MARTINS, MASCARENHAS, 2008, p. 35)

As receitas das comidas típicas variam de uma região par outra, com acréscimo
ou supressão de algum ingrediente ou até mesmo na denominação.

Paçoca de Carne
Ingredientes
1 kg de carne bovina
½ kg de carne suína
300 g de farinha de mandioca
Cheiro Verde
1 cebola grande picada
2 dentes de alho
Sal a gosto
5 colheres de sopa de óleo
Modo de preparo:
Limpe a carne e corte-a em cubos. Frite muito bem, coloque os
temperos e, por último, o sal.
Retire a carne e coloque em outra vasilha, em seguida misture
a farinha. Soque-as em um pilão até desfiar toda a carne.
(Fonte: Projeto Campos Gerais em Quadrinhos)

Fonte: BACH, 2012, p.332


30
Os tropeiros, por onde passavam, além de influenciarem na culinária também
introduziram novos vocábulos. Os tropeiros vindos de Sorocaba denominavam de
riacho ou córrego os rios pequenos, os tropeiros que vinham do sul em direção ao norte,
nomeavam os pequenos rios de lajeados ou arroios.

Essa riqueza e ampla variedade vocabular que não ficou restrita a determinada
região, teve seus significados inseridos em populações diversas, sendo habitualmente
utilizados e repassado ás futuras gerações, assim como dizeres e provérbios:

• Burro velho não pega trote, quer dizer que com o passar dos anos, é mais difícil
aceitar as mudanças.
• Quem lava cabeça de burro perde o trabalho e o sabão: discutir com teimoso é
perda de tempo.
• Onde vai o cincerro vai a tropa: onde o líder vai, leva consigo o grupo.
• Pela andadura da besta se conhece o montador: pelos atos se conhece a pessoa.
Picar a mula: ir embora.
• Dar com os burros n’água – Trabalho ou coisa que não deu certo.
• Teimoso como uma mula.
• Tem caveira de burro – Coisa azarada.
• Estar com a tropa ou estar com o burro na sombra : Estar tranquilo, com
sucesso.
• Picar a mula
• Cor de burro quando foge.
• É bater na cangalha que o burro entende.
• Deixar de ser besta.
• Não ser burro.
• Ser uma besta quadrada.
• Dizer besteira.
• Fazer burrice
• Ficar emburrado.
• Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha.
(Fonte: Tropeirismo – Castro – PR, Nº 2)
31
No folclore paranaense, há grandes manifestações místicas, crendices e lendas
ou causos, cujas origens remontam do período do tropeirismo. Algumas manifestações
folclóricas de outras etnias que compuseram a ocupação do espaço paranaense fazem
parte do tradicionalismo dos tropeiros, como é o caso de algumas do Fandango, que é
uma dança de origem espanhola, mas que adaptada pelos próprios tropeiros era
acompanhada pela viola. Constitui-se numa dança de desafio,

[...] marcada por sapateado, palmas e exibição de destreza. Os passos mantêm


denominações que remetem à tradição rural e tropeira: bate-na-bota, varginha
simples, palmeada, cerradinho, quebra-chifre, entre outras. Dançava-se o
fandango nos pousos e festas. Os participantes utilizam chapéus, botas,
lenços amarrados no pescoço e chilenas, isto é, esporas cujas rosetas
denteadas são substituídas por rosetas de metal, que retinem nas batidas dos
pés. (QUEIRÓZ, 2010)

Como esses aspectos culturais não eram impostos, não exigindo rigorosidade
nas suas manifestações, eram uma maneira de ver a vida, de passar o tempo, foram aos
poucos sendo mesclados e incorporados pelas populações que foram se formando ao
longo do caminho dos tropeiros. Os ritmos como as toadas, a catira, o cururu, xotes,
milongas, vaneiras, guarânias, chamamés retratam a alma de povos e, de acordo com a
recepção e percepção dos mesmos se perpetuam se incorporando às manifestações
folclóricas regionais, e de uma forma distinta denota a riqueza cultural, inclusive, pela
variedade de sotaques e de linguagem e até mesmo os significados de palavras e
expressões.

Outras manifestações se registram, mas é através de tímidas iniciativas que vão


sendo resgatadas e difundidas enquanto legado cultural tropeiro. Essas e outras
influências tropeiras em relação a atitudes forma incorporadas ao jeito de ser das
pessoas, que por um ou outro motivo, tinham admiração por esse personagem típico da
sociedade de antigamente.

A casa que abriga o Museu do Tropeiro foi construída no século XVIII, pela
família Carneiro Lobo. Abriga um acervo cultural de grandiosa relevância sendo
considerado o mais completo do gênero no país. Dentre estes os acessórios utilizados
pelas tropas como registra a foto.

32
Fonte: Rota dos Tropeiros. - Museu de Castro.

Há, também uma listagem com nomes de alguns desses tropeiros, destacando-
se o código do tropeiro.

Fonte: LOPES, H. - Tropeiros da cidade de Castro e Código de Honra

33
Das cidades paranaenses que tem sua origem ou desenvolvimento ligado à
passagem das tropas é na cidade de Castro que se encontra o maior arquivo documental
e peças expostas no museu e casas de exposições artísticas, sendo ser considerado o
acervo mais importante do tropeirismo. A valorização desse fato histórico está
registrado através das minúcias da arquitetura referentes aos séculos XVIII e XIX, no
atual centro histórico.

A Fazenda Capão Alto constitui-se como um espaço histórico cultural, pois


quando da passagem das tropas suas terras foram amplamente favoráveis ao descanso
dos tropeiros com suas tropas devido à presença de água e pastagem para os muares.

Fonte: Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Fazenda Capão Alto.

Macedo (2003) coloca que o acervo cultural relativo ao movimento tropeirista


encontra-se:

em grande parte armazenada no esplêndido MUSEU DO TROPEIRO da


Cidade de Castro. E ainda no MUSEU CASA JOAQUIM LACERDA na
Lapa. Na CASA DE JESUÍNO MARCONDES, em Palmeira. Na Capela de
Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá, na PAISAGEM E MATRIZ DE
PALMEIRA e nas ermidas e fazendas depois da serra do Purunã.
( MACEDO, 2003)

A cidade paranaense da Lapa também estava na rota dos tropeiros e possui um


Museu do Tropeiro, instalado na Casa Vermelha. Conta também com um Monumento
ao Tropeiro, criado pelo artista Poty Lazzaroto.
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Fonte: Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Painel Monumento ao
Tropeiro – Lapa – Pr.

A herança cultural repassada pelo tropeirismo pauta-se criação de valores


próprios e muito arraigados. Entendendo-se que todas as manifestações materiais de
cultura criadas por esses homens em épocas tão remotas, sobreviveram ao tempo
absorvendo outros aspectos de acordo com o tempo e o espaço em que são relembradas
e reapresentadas, pois a história é reconstruída e fragmentos desta são recompostos
outros ficam nas páginas do esquecimento.

Embora o “Tropeirismo” seja considerado um fato histórico de extrema


importância na integração de diversas regiões do Brasil, principalmente da região Sul, o
material bibliográfico disponível para consulta e leitura é bastante limitado. No entanto
algumas ações para a preservação dos valores culturais e consequentemente ambientais
estão se dimensionando como uma tendência da atualidade, assim como o entendimento
de que o passado é uma referência irrefutável para intervir em questões presentes.

Como exemplo dessas ações que estão se deflagrando destaca-se o Projeto


“Rota dos Tropeiros” é um projeto turístico, lançado em 2002, para a região dos
Campos Gerais, no Paraná que, como salienta Silva (2005, p. 126), tem como proposta
“resgatar a memória dos caminhos tropeiros e sua importância econômica, cultural,
mística e social, na formação do Paraná atual”. Embora seu principal objetivo, esteja
voltado para o desenvolvimento econômico da região Zuccherelli (2008) coloca que:

Esse projeto se “apropria” de um fato histórico – o Tropeirismo – tido como


de importância para a região. Na sua implantação e desenvolvimento, o
projeto reuniu, de um lado, agentes institucionais públicos e privados –
chamados “parceiros” – e, de outro lado, os “empreendedores” – agentes
35
sociais cujos “negócios”, bens ou práticas culturais fazem parte do trajeto, o
que os torna os “principais alvos” deste projeto.( ZUCCHERELLI, 2008, p.7)

A mestranda ainda coloca em sua dissertação sobre os estabelecimentos que


surgiram destacando a temática dos “tropeiros”. Relacionados abaixo os citados e que
constam no estado do Paraná.

• Restaurante Lipski, na Lapa


• Hotéis-fazendas localizados no “caminho das tropas”, na região dos
Campos Gerais, com oferta de “comida tropeira”.
• “Clube dos Tropeiros” – de Rio Negro e da Lapa

É notável que grande parte das tradições que fazem parte da memória histórica
e cultural dos municípios que compõem a dos Campos Gerais tem sua origem pelo fato
da passagem das tropas. A fé, a devoção sempre foram características marcantes dos
tropeiros. Da religiosidade vivida intensamente pela maioria dos componentes das
tropas originou-se histórias como as da aparições da Virgem Maria, do Monge João
Maria, essas e outras histórias de fé eram contadas e recontadas ao redor de fogueira ou
durante os longos percursos das viagens.

Nos locais de pouso e longas paradas devido à questões já abordadas neste


trabalho sempre que um rancho se estabelecia também era construído uma capela como
sinal de fé. Piraí do Sul no Paraná, que foi um dos locais de parada das tropas, todos os
anos presta homenagem ao Menino Deus em uma festa que busca fidelidade aos tempos
dos tropeiros e cuja imagem original foi trazida por eles, no século XVIII, das ruínas
das missões jesuítas de Sete Povos, no Rio Grande do Sul, para a primeira capela da
cidade paranaense.

Algumas das Igrejas, cerimônias, festas, eventos religiosos nas cidades por
onde passaram as tropas são os maiores e inquestionáveis exemplos de que a fé foi uma
herança deixada pelos tropeiros. No Paraná destacam-se:

Capela do Mosteiro em Campo do Tenente; Mosteiro da Ressurreição em


Ponta Grossa; Santuário de Nossa Senhora das Brotas em Piraí do Sul (Nossa Senhora

36
das Brotas é a padroeira da Rota dos Tropeiros e 14 capelinhas de pedra – Palmeira.
( Fonte: Rota dos Tropeiros.)

De acordo com Zuccherelli (2008) no Paraná o dia 05 de outubro é


comemorado o “Dia do Tropeiro” e a Lei n° 14356, de 2004 institui a primeira semana
do mês de outubro como sendo a “Semana do Tropeiro”.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conceituação expressa por Macedo (2003) em relação à cultura define os


fatos históricos referentes ao tropeirismo, assim como a inserção sutil desse legado
cultural na atualidade das várias regiões brasileira por onde se fez presente a voz e os
feitos desses homens: “Não é coisa morta. Pressupõe ação e interação. Vida. Troca.
Memória. Produção. Culto. A repetição solene dos mistérios da vida, até torná-los
eternos.” O tropeiro foi inegavelmente o grande responsável por estabelecer as
comunicações entre a diversidade cultural apresentada nos diferentes espaços ocupados
por imigrantes, forçados ou livres, migrantes e até mesmo dos indígenas, possibilitando
que essas povoações construíssem suas identidades.

O tropeiro na sua atividade de comércio e transporte construiu no seu cotidiano


uma realidade em que se criava e recriava cultura. Através do acúmulo de diversificadas
e ricas experiências e o repasse das mesmas ao longo do caminho para todos os que
usufruíram da sua companhia, nos locais de pouso ou nas viagens, tornou menos árdua
sua jornada de trabalho sendo ao mesmo tempo portador de produções impregnadas de
significados da diversidade cultural.

As diversas origens culturais que apresentava e representava, provocou uma


percepção mais ampla, alimentando e fornecendo elementos para a cultura brasileira, pois,
infere-se a partir da concepção de trabalho vigente na época e até mesmo pelas pessoas que o
executavam, que alguns aspectos que integraram-se à cultura brasileira, principalmente os
valorizados pelos negros e índios seriam negligenciados totalmente. Embora ainda seja evidente
a restrição da abertura que se dá a manifestação e valorização dessas culturas.

As configurações culturais específicas de cada etnia que compõe a sociedade


brasileira estão, de certa forma, emaranhada às demais pela absorção e adaptação das
mesmas no ambiente de vivência das populações que delas foram beneficiadas ao longo
do Caminho do Viamão, pela influência discreta da cultura tropeira.

Como Macedo (2003) frisa:

Cultura de um mundo povoado de mulas-madrinhas, guaiacas, preparo das


mantas de charque, cuias de chimarrão, mates para senhoras, laços e arreios,
estribos de prata, ponchos, palas, xales, cirandas, quadrilhas e "xulas".
( MACEDO, 2003. Fonte:

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Os tropeiros desbravaram sertões, possibilitaram a integração entre os aspectos
econômicos, sociais e culturais da população brasileira em especial no processo de ocupação
dos Campos Gerais no Paraná, dando origem a cidades como Castro, Lapa, Palmeiras entre
outras.

A valorização das raízes que marcaram a identidade cultural desse movimento são
notórias na maioria das cidades paranaenses que tiveram sua origem ou desenvolvimento ligado
ao tropeirismo, sendo marcante na constituição social os hábitos tropeiros, mesmo que de forma
sutil, mas indelével.

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5 REFERÊNCIAS

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