Manual Cancer Bucal
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Manual Cancer Bucal
INTRODUÇÃO
FATORES DE RISCO
TABAGISMO
Sabe-se que o tabaco é fator de risco para cânceres do pulmão, laringe, faringe, estômago,
pâncreas, bexiga e principalmente para a boca.
O tabagismo é um vício (hábito prejudicial) com intensa disseminação pelo mundo, estando
presente em praticamente todas as culturas.
O tabaco é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a maior causa isolada
e evitável de doenças e mortes no mundo.
Toda forma de tabaco, como cigarro, cachimbo, charuto, rapé, cigarro de palha, fumo de
rolo mascado e outras formas são nocivos à saúde.
No Brasil, a forma de tabaco mais utilizada é o cigarro, e em todos os seus tipos a
composição é semelhante, independente de ser “ligth”e com filtro especial, portanto, prejudicial à
saúde.
O cigarro é considerado pela OMS como o maior poluidor doméstico, sua fumaça possui
uma mistura de aproximadamente cinco mil elementos químicos diferentes e alguns desses são
comprovadamente cancerígenos.
A ação dos elementos carcinogênicos contidos no tabaco tem ação direta na mucosa
bucal, como irritante químico sobre as células, modificando-as por absorção desses produtos.
ETILISMO (ÁLCOOL)
A porção ultravioleta (UV) do espectro da luz solar produz dano celular tanto no epitélio
como no tecido conjuntivo subjacente e quando há exposição excessiva há risco de
desenvolvimento de carcinoma no lábio inferior.
Muitos fatores concorrem para a potencialização dos raios solares como agentes causais
(cancerígenos) do câncer de pele e na semimucosa do lábio inferior, devendo ser considerados
entre eles: quantidade de pigmentação melânica, sensibilidade da pele e semimucosa, tempo de
exposição à luz solar, tipo de radiação, ocupação do indivíduo, localização geográfica (latitude),
associação com outros elementos naturais (vento, temperatura, estação do ano), horários de
exposição ao sol, comprimento de onda dessas radiações, seu ângulo de incidência e
susceptibilidade individual.
A lesão cutânea (pele) e a lesão de semimucosa (vermelhão) de lábio inferior provocada
por exposição ao sol de forma cumulativa são mais comuns em pessoas de pele clara, com pouca
pigmentação melânica. Indubitavelmente, a melanina age como fator protetor, principalmente como
uma barreira física que impede a passagem dos raios ultravioleta.
Todos os indivíduos de pele clara que se expõem demasiadamente ao sol, principalmente
no horário das 09 às 17 horas devem se proteger. A exposição repetitiva ao sol sem os devidos
cuidados de proteção pode depois de 15 a 30 anos, ou até menos, levar ao aparecimento de
lesões hiperceratóticas (esbranquiçadas, ásperas) que podem desenvolver câncer de pele e na
semimucosa de lábio inferior.
Por esse motivo, pessoas expostas constantemente ao sol como marinheiros, pescadores,
surfistas, trabalhadores rurais, entre outros, devem receber cuidados de proteção como chapéus,
uso adequado de protetores solares e principalmente serem orientados para o risco de
desenvolvimento de câncer.
AGENTES INFECCIOSOS
Existem evidências da relação dos agentes viróticos com o câncer. Os vírus são
agressores intracelulares que deturpam o RNA (ácido ribonucléico) mensageiro, modificando o
código organizado e transmitido pelo DNA (ácido desoxirribonucleico) nuclear. É preciso manter a
concepção que a oncogênese é multifatorial, não sendo o vírus o único a ser considerado.
O Papiloma vírus humano (HPV), o vírus Epstein-Barr, o vírus do herpes tipo 6, o vírus do
herpes simples I e II, o citomegalovírus, o vírus tipo C da hepatite, o vírus da leucemia e linfoma T
são associado ao câncer bucal. Esses agentes biológicos têm sinergismo com o tabagismo,
etilismo, luz solar, dieta, aumentando o risco de neoplasia maligna na região.
Atualmente, o vírus do papiloma humano (HPV) é considerado o marcador de risco mais
importante para o câncer de colo de útero, na cavidade bucal sua ação parece denotar mais
estudos pois a prevalência na população em geral é muito superior aos casos de carcinoma bucal.
DIETA
É recente o estudo do papel da dieta alimentar como fator de risco para o câncer bucal, é
um tópico em evolução na oncologia. É importante salientar que existem poucos estudos
conclusivos da associação da dieta alimentar com o câncer de boca. Muitos componentes da dieta
alimentar têm sido relacionados com o processo de desenvolvimento do câncer, deficiências
nutricionais tornam a mucosa bucal mais predisposta (susceptível) a outros fatores de risco.
As deficiências nutricionais apresentam íntima relação com a condição geral do paciente,
favorecendo sobremaneira outros fatores para a carcinogênese.
As vitaminas, os oligoelementos e outros produtos da dieta alimentar se interagem no
sistema, geralmente se tornam interdependentes, ou seja, para se tornarem ativos necessitam de
interações.
Atualmente os antioxidantes têm recebido atenção especial principalmente como proteção
a tecidos epiteliais, porém entende-se que agem de forma sinérgica entre si diminuindo o risco de
neoplasias.
As vitaminas (A, B, C, D e E), selênio, cálcio têm sido relacionado a quimioprevenção e a
falta desses a maior risco de aparecimento de cânceres, portanto, o paciente bem nutrido, bem
alimentado, com alimentação saudável, com uma dieta rica em frutas, hortaliças, folhas verdes,
alimentos fibrosos, vitaminas e antioxidantes constituem um fator de proteção, diminuindo o risco
de câncer.
A utilização excessiva e prolongada de bebidas de temperatura muito baixa ou muito alta,
ácidas, condimentadas, salgadas, conservantes, ricas em corantes, com alto teor de gorduras
saturadas, de composição química irritativa, tem maior propensão a desenvolver alterações na
mucosa bucal e trato digestivo, sendo relacionadas ao aumento do risco de cânceres.
IDADE
SEXO
Os pacientes do sexo feminino têm maior risco para desenvolver o CEC de boca, apesar
deste apresentar maior incidência no sexo masculino. As proporções de incidência com relação ao
sexo variam de acordo com o país ou estado pesquisado, com cultura, e principalmente os vícios,
entre outros.
Nos últimos 20 anos, a incidência de CEC na boca teve aumento perceptível
estatisticamente no sexo feminino em relação ao sexo masculino, devido principalmente às
alterações sociais, culturais, dietas, vícios e costumes adquiridos pelas mulheres, e há também a
influência dos hormônios que influenciam a saúde bucal, agindo diretamente nos tecidos bucais,
afetando outros órgãos ou sistemas com repercussão na mucosa bucal, deve-se, portanto, esperar
aumento na incidência do CEC de boca no sexo feminino nas próximas décadas.
Na década de 60, a incidência do câncer de boca no sexo masculino em relação ao feminino
mostrava proporções que variavam de 13:1 a 8:1, já na década de 70 a proporção foi para 6:1,
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porém na década de 90 esta proporção diminuiu para 4:1. Atualmente esta proporção está entre
3:1 a 2,3:1.
COR
Pacientes brancos possuem maior incidência de câncer bucal quando comparados aos
pacientes não brancos. Com referência ao CEC de boca, a predominância de pacientes de cor
clara chega a representar aproximadamente 80% dos casos, devido a fatores como localização
geográfica, colonização, atividades econômicas, culturais, entre outros.
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LÁBIOS: Devem ser examinados com a boca fechada, observando seu contorno, brilho e a
linha úmida (linha de contato) entre o lábio superior e o inferior. Depois deve tracioná-los para
visualização da mucosa labial e com os dedos em forma de pinça (palpação bidigital) percorrer
toda a região.
MUCOSA JUGAL: na seqüência da mucosa labial, se faz o exame das muocsas jugais
(direita e esquerda) afastando a região com o paciente de boca aberta, visualizando desde a
comissura labial até proção retromolar. A palpação na sua porção anterior pode ser bidigital com
os dedos em forma de pinça, porém na sua porção posterior palpação deve ser dígito-palmar (com
a palma da mão sendo colocada em contato com a pele da bochecha.
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PALATO DURO: o paciente deve fazer leve inclinação coma cabeça para trás e estar com
a boca totalmente aberta, possibilitando a visualização do palato duro e face palatina do rebordo
gengival. Deve-se palpá-lo de forma digital, geralmente utilizando a polpa digital do dedo indicador.
LÍNGUA: a inspeção da língua deve iniciar pela sua movimentação (para fora, para os
lados, para baixo, para cima e tocar na região de palato duro), observar se há dificuldade ou
assimetria de movimentos. O paciente com a boca aberta e com a língua para fora deve-se
inspecionar do ápice até as papilas valadas. Após esses procedimentos o paciente com a boca
aberta, com al língua para fora, o profissional deve inspecionar e palpar a região de ápice e com o
auxílio de uma gaze colocada nesta região tracionar a língua forçando-a para melhor inspeção da
região posterior do dorso e das bordas, do ventre e região de soalho. A palpação é bidigital em
forma de pinça, nesse exame é importante observar as várias estruturas que ficarão à mercê dos
olhos do examinador, como tonsilas linguais, ventre da língua, assoalho bucal, porção lingual do
rebordo alveolar, orifícios excretores das glândulas salivares maiores, freio lingual, entre outros,
portanto deve-se examinar com cautela.
ASSOALHO BUCAL: o paciente deve estar com a boca aberta, com a língua levantada,
para visualização do soalho da boca e possibilidade de palpação. Com o dedo indicador pressione
todo o assoalho da boca para a região submandibular que dever ser aparada com a outra mão.
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LEUCOPLASIA
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QUEILITE ACTÍNICA
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É importante ressaltar que, muito embora o diagnóstico clínico seja relativamente fácil de
ser executado, é necessária a realização de biópsia incisional para avaliar o grau de modificações
histológicas presentes.
Proteção à exposição ao sol pelo uso de chapéus de abas largas ou longas, cremes e
batons fotoprotetores, são adequados conselhos clínicos para todos os pacientes de pele clara em
qualquer idade. Pacientes com diagnóstico de queilite actínica devem ter a explicação das causas
da injúria labial e a possibilidade do câncer no lábio inferior, e encorajá-lo a limitar a exposição
solar e deixar hábitos e vícios contribuitórios tais como o álcool e o fumo.
Quando, apesar das tentativas clínicas e terapêuticas de proteção e hidratação para
regressão da queilite actínica não surtirem efeito, opta-se então, por tratamento cirúrgico.
O acompanhamento do pacientes deve ser periódico e cuidadoso.
ERITROPLASIA
Talvez, dentre todas as lesões ditas cancerizáveis a eritroplasia seja a de ocorrência mais
rara em mucosa bucal, porém possui o maior potencial de malignização sendo considerada para
muitos autores como uma neoplasia maligna.
O termo eritroplasia é usado clinicamente representando uma alteração avermelhada. Os
fatores de risco associados as eritroplasias são os mesmos para o carcinoma de células
escamosas, portanto, é freqüente os pacientes serem etilistas e tabagistas crônicos.
Clinicamente as eritroplasias se apresentam como áreas avermelhadas geralmente
representadas por manchas e/ou erosões e/ou placas de dimensões variadas sem limites
definidos. Pode apresentar aspecto ligeiramente deprimido tendo maior incidência na região de
palato duro e palato mole, assoalho bucal, borda lateral da língua, região de trígono retromolar.
A eritroplasia associada a leucoplasia aumenta em até seis vezes seu potencial de
malignização carcinomatosa e geralmente já se apresentam como carcinoma in situ e recebe o
nome de Eritroplasia de Queyrat, sendo, considerado uma neoplasia maligna, devendo receber
tratamento específico.
Quando da hipótese de diagnóstico de eritroplasia, a biópsia incisional deve ser praticada
em região perilesional obtendo fragmento de tecido clinicamente normal e clinicamente alterado,
podendo ser utilizado o teste do azul de toluidina para seleção do local da biópsia.
O quadro histopatológico apresenta atipia epitelial, apresentando diversos graus de atrofia,
às vezes confundidos com carcinomas “in situ”. Aproximadamente 90% das eritroplasias
apresentam displasias acentuadas, onde dessas, mais da metade são graves ou severas e as
restantes já são transformações carcinomatosas “in situ”.
O tratamento de escolha para eritroplasia deve ser o cirúrgico com margem de segurança.
O paciente tratado de eritroplasia deve ser orientado em relação ao alto potencial de
malignização da lesão, dos fatores de risco associados e da possibilidade de recidiva. A
preservação deve ser permanente.
LÍQUEN PLANO
Das lesões precursoras do câncer o líquen plano desperta grande controvérsia, porém há
inúmeros relatos onde esse potencial de malignização carcinomatosa ocorre na evolução da
doença.
O líquen plano é doença autoimune e de características clínicas mucocutâneas, podendo
ocorrer na mucosa ou na pele, ou em ambos. Seu caráter é crônico podendo inclusive sofrer
modificações clínicas na sua evolução.
Não é excesso classificar o líquen plano como lesão cancerizável e preservá-lo
indeterminadamente, mesmo sabendo do baixo risco de transformação maligna.
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Tem-se observado que dentre as lesões de mucosa bucal, o líquen plano não é encontrado
comumente, mas nota-se que houve aumento na sua ocorrência nos últimos anos.
Freqüentemente ocorre em adultos após a terceira década de vida, com a maior incidência
no sexo feminino.
A relação entre líquen plano na boca e o estado emocional do paciente ainda parece
controverso, porém observa-se que alguns pacientes respondem, quando da presença de
distúrbios psicológicos, com modificações clínicas nas lesões de mucosa bucal. Acredita-se que
esse fator não seja a causa da etiologia do líquen plano, entretanto influências dessas alterações
emocionais devem fazer parte de melhor investigação do profissional.
É importante lembrar que o aspecto clínico do líquen plano é polimorfo. Das várias formas
de apresentação clínica do líquen plano a mais didática é a classificação na forma reticular e
erosiva.
A forma clínica mais comum é a reticular, geralmente assintomática e ocorre bilateralmente
na mucosa jugal, com ou sem envolvimento de outros sítios anatômicos intra ou extrabucais. Na
apresentação reticular, linhas brancas se intercruzam podendo haver nessa concruência formação
de pápulas ou placas brancas lineares, dando aspecto de rede.
A maior discussão em relação ao seu potencial de malignização incide na forma erosiva e
se ela ocorre apenas quando está associada à displasia ou se a lesão é área propícia à atuação de
agentes carcinogênicos.
A forma erosiva do líquen plano pode dificultar na diferenciação entre erosão e úlcera,
como pode vir acompanhada de placas brancas, áreas eritematosas, linhas brancas se
intercruzando e há casos de estar associado a bolhas. A forma erosiva apresenta sintomatologia
inespecífica, porém provoca desconforto ao paciente como: ardor, queimação, formigamento,
sensibilidade a alimentos ácidos ou condimentados, entre outros.
O líquen plano bucal pode apresentar períodos de remissão parcial ou total de suas
características clínicas e/ou sintomatológicas, podendo também se exacerbar em diversos graus.
O aspecto clínico do líquen plano pode apresentar, quando na forma reticular, certa
facilidade de diagnóstico, porém quando da forma erosiva, pode trazer dificuldades em relação às
hipóteses de diagnóstico pelo seu pleomorfismo clínico.
Dentre o diagnóstico diferencial destacam-se as leucoplasias, eritroplasias, candidíases,
reações medicamentosas, lúpus eritematoso, pênfigos, entre outros.
O exame complementar para diagnóstico final de líquen plano é a biópsia incisional e o
quadro histopatológico é característico, mostrando infiltrado inflamatório de linfócitos T em faixa, na
junção entre o epitélio e o tecido conjuntivo, apresenta hiperqueratose, acantose e aumento da
camada granulosa.
Na avaliação da evolução do líquen plano deve-se notar a existência de outras doenças
sistêmicas associadas, principalmente aquelas que provocam debilidade imunológica e/ou
psicológica.
Faz parte do tratamento a orientação do paciente quando do diagnóstico da doença, seu
caráter crônico, a necessidade de acompanhamento indeterminado e a possibilidade de
transformação maligna.
O tratamento geralmente é sintomático pelo caráter crônico da doença, podendo às vezes
ser associado a tratamento de suporte. Dependendo da fase clínica e da sintomatologia
apresentada, às vezes nenhum tratamento é necessário, outras, porém quando o paciente
apresenta queixas de incômodo pode ser recomendado corticóides tópicos. Quando a
sintomatologia não for controlada mesmo na presença de corticoterapia tópica deve-se lançar mão
da sistêmica.
Dependendo da apresentação clínica pode-se usar para preservação recursos como
observação clínica periódica e utilização do teste do azul de toluidina a 1%, na presença de
alterações em qualquer um dos métodos utilizados deve-se optar obrigatoriamente por biópsia no
local dessas alterações.
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NEVO
A hiperplasia fibrosa inflamatória de fundo de sulco tem como sinônimo epúlide fissurada,
freqüentemente relacionada a trauma mecânico por borda cortante de próteses, que determina a
proliferação tecidual, geralmente associado a um processo inflamatório.
Esta lesão apresenta-se como nódulo(s), em forma cordoniforme ou de pregas de tecido
hiperplásico geralmente no fórnix (fundo de sulco). São nódulos firmes, fibrosos, podendo estar
erodidos ou ulcerados.
A hiperplasia fibrosa inflamatória de palato tem como sinonímia hiperplasia papilar
inflamatória, é ocasionada pela irritação da prótese na região de palato duro. São nódulos de
crescimento lento, indolor, se superfície papilar, geralmente apresentam candidíase associada.
O tratamento consiste na remoção da prótese para diminuição dos sinais da inflamação,
remoção cirúrgica da lesão e confecção de nova prótese.
O risco de transformação maligna das hiperplasias fibrosas inflamatórias se houver é
pequeno, porém como a irritação mecânica crônica é considerada como provável fator para
carcinogênese e estas devem ser removidas.
Essas lesões são comumente encontradas em pacientes idosos que fazem uso de
próteses há muitos anos, se, adequação da saúde bucal e geralmente possuem outros fatores de
risco associados, como má nutrição, doenças sistêmicas e principalmente tabagismo e etilismo.
Não existe proporção do número de casos diagnosticados de HFI com transformação
carcinomatosa, podendo ser uma somatória de fatores carcinogênicos ou simplesmente uma
coincidência.
- ESTOMATITE NICOTÍNICA
A estomatite nicotínica é uma resposta ao calor e aos produtos gerados pela fumaça do
cigarro e como forma de proteção do organismo se produz mais queratina provocando uma
hiperqueratose.
Geralmente apresenta-se com área esbranquiçada abrangendo todo palato duro e mole
tornando a região áspera e opaca, às vezes se apresentando com áreas vermelhas e placas
brancas, pode na sua evolução apresentar no seu permeio pontos avermelhados, que
correspondem aos ductos das glândulas salivares menores inflamados.
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A anamnese e o exame físico são a base para a suspeita clínica, é o exame clínico (exame
do paciente) que orienta ou indica a realização ou solicitação de exames complementares.
A tomografia computadorizada (TC) pode ser solicitada para avaliação dos limites da lesão,
na possibilidade de invasão óssea, na avaliação de linfonodos, para estadiamento sempre com
vistas para o tratamento.
A ultrassonografia na avaliação de linfonodos regionais, o Raio-X de tórax para pesquisa de
possíveis metástases pulmonares devem ser solicitados. Quando houver suspeita de metástases
em outros órgãos, exames específicos devem ser solicitados.
A TC, ultrassonografia, cintilografia óssea, ressonância magnética, exames laboratoriais e
outros são auxiliares para o diagnóstico do câncer, pois a biópsia e anatomopatológico são os
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ESTADIAMENTO
Uma vez confirmado o diagnóstico de câncer, é fundamental que, antes de qualquer decisão
terapêutica, seja feita uma avaliação da disseminação da doença (metástases) com os diversos
procedimentos diagnósticos. Quando ocorrem metástases em geral os tratamentos propostos com
finalidade curativa (principalmente as cirurgias) são contra-indicados. Antes de adotar tratamento
radical, é preciso considerar que sempre há uma possibilidade de cura (ou de grandes benefícios)
com a utilização de quimioterapia, radioterapia ou terapêutica multidisciplinar.
Verifica-se que, apesar da sua variedade, os tumores malignos seguem um curso biológico
mais ou menos comum, que se inicia pelo crescimento e invasão local, segue pela invasão dos
órgãos vizinhos e termina com a disseminação regional e sistêmica. Essa evidência levou a União
Internacional Contra o Câncer (UICC) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) a desenvolver um
sistema de estadiamento dos tumores que tem como base à avaliação da dimensão do tumor
primário (T), a extensão da disseminação em linfonodos regionais (N) e a presença ou não de
metástases à distância (M) – Esta avaliação é denominada de estadiamento pelo sistema TNM de
classificação dos tumores malignos. Com o correr dos anos, foi desenvolvido um elaborado
conjunto de regras a fim de tornar o estadiamento cada vez mais eficaz e expressivo.
A combinação das diversas variantes de T, N e M, determinam os estádios clínicos que
variam entre I e IV na maioria dos casos.
O estadiamento clínico representa a mais importante arma de que dispõe o oncologista para
definir o planejamento do tratamento, oferecer indicadores prognósticos, contribuir na avaliação
dos resultados do tratamento e facilitar a troca de informações entre oncologistas.
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TRATAMENTO
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PREVENÇÃO
A prevenção de doenças se inicia com uma alimentação saudável, rica em frutas e vegetais,
alimentos ricos em vitamina A, C, E. Pacientes bem nutridos têm melhores condições de saúde.
Esse processo se inicia nos primeiros dias de vida e deve continuar em todas as idades do
indivíduo. Não menos importante são as condições de saneamento básico, acesso a educação e a
saúde.
As possibilidades de prevenção do câncer têm crescido à medida que se ampliam os
conhecimentos dos fatores de risco da doença.
Não se deve concluir que prevenção do câncer se resolve com afastamento dos agentes
cancerígenos ou fatores de risco, deve-se entender que esses elementos somente aumentam a
probabilidade de oncogênese, fazem parte de uma cadeia multifatorial.
Prevenir é não deixar acontecer, a partir do momento que os meios preventivos não foram
eficientes para impedir o aparecimento da neoplasia maligna, é então importante detecta-la em sua
fase inicial quando o câncer ainda é pequeno, pois quanto menor for o tumor quando do
diagnóstico, melhores são as condições de tratamento e cura da doença.
Os pilares básicos da prevenção do câncer bucal estão na formação adequada sobre
oncologia ao aluno de odontologia, manutenção do conhecimento de oncologia bucal ao
profissional formado, informação aos pacientes sobre os efeitos perniciosos do tabaco, do álcool e
de outros fatores de risco, estimular o paciente ao auto-exame de boca para detecção de lesões
bucais, principalmente as precursoras das neoplasias malignas e a consultar periodicamente o
cirurgião dentista para avaliação saúde bucal.
O cirurgião deve orientar seus pacientes desde a infância sobre os malefícios dos fatores de
risco e, uma vez já presentes, estimulá-los a diminuírem ou eliminá-los.
O profissional deve informar das alterações bucais frente aos agentes agressores,
principalmente o tabaco, álcool e luz solar e propiciar orientações sobre dieta, adequada proteção
solar, técnicas e possibilidades de tratamento para eliminar o tabagismo e o etilismo e alertar o
paciente para consultas periódicas para avaliação da saúde bucal.
Existem dificuldades no envolvimento do profissional com o paciente que possui o vício do
tabaco e do álcool, mas através de uma boa conversa, em momento oportuno na consulta, alguns
minutos dispendidos sobre o assunto podem se tornar importante na prevenção do câncer de
boca.
Sabemos que a mudança de atitude do paciente em relação aos fatores de risco depende de
informação, orientação e aspectos preventivos adquiridos, portanto, o cirurgião dentista deve fazer
parte dessa cultura preventiva.
Aproximadamente 95% dos casos de neoplasias malignas na boca são representados pelo
CEC, uma lesão ulcerada na parede da cavidade bucal, de fácil visualização, portanto devendo o
cirurgião dentista no exame clínico constar de metodologia para o exame dos tecidos moles da
boca (lábio, língua, assoalho bucal, fundo de sulco até a orofaringe) e não se ater somente a
dentes e gengiva.
O cirurgião dentista deve estar atento ao seu papel frente ao câncer bucal, tanto no
complexo processo da prevenção, como no diagnóstico precoce e no acompanhamento
continuado de pacientes antes, durante e após o tratamento oncológico.
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Quando os procedimentos não forem suficientes para evitar o aparecimento do câncer este
dever ser diagnosticado em suas fases iniciais ou o mais precocemente possível, trazendo
benefícios ao prognóstico e tratamento da neoplasia maligna, para tanto se deve realizar biópsia
toda vez que houver suspeita clínica de câncer.
- Diagnóstico precoce
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AUTO-EXAME
Este exame deve tornar-se um hábito a ser realizado de três em três meses, principalmente
no grupo de risco, que são pacientes com mais de 40 anos, tabagistas e etilistas, observando que
o auto-exame não substitui o exame do cirurgião dentista.
O que procurar:
- “Aftas”(para o paciente tudo é afta?),
- Feridas (úlceras),
- Crostas (“casca de ferida”– lábios e pele),
- Aumentos,
- Endurecimentos,
- Caroços,
- Bolinhas,
- Inchaços,
- Ínguas (Gânglios),
- Alterações de cor e/ou espessura (mancha escura, branca, vermelha, roxa,
marrom),
- Áreas
?? Doloridas,
?? Endurecidas,
?? Inchadas,
?? Sem sensibilidade,
?? Com formigamento,
?? Sensação de anestesia, entortamento da boca, dormências,
?? Dificuldade de movimentação de estruturas, como língua, assoalho de
boca,
?? Sangramentos,
- Dentes
?? Quebrados,
?? Fraturados,
?? Com cárie,
?? Com mobilidade,
?? Tortos,
?? Fora de posição,
- Próteses
?? Mal adaptadas,
?? Machucando,
?? Desgastadas,
?? Não substituídas/antigas,
- Sangue na saliva,
- Mau hálito,
Quando encontrar qualquer dessas alterações, que não necessariamente são cânceres
deve-se consultar um cirurgião dentista para melhor avaliação.
Vamos examinar a boca em seqüência, siga as instruções até se acostumar, é fácil, basta ter
atenção. Acompanhe lendo ou observando as figuras.
Lave as mãos, escove os dentes, remova as próteses se houver, enxágüe a boca e proceda
ao exame, que dever ser realizado em frente a um espelho em local bem iluminado.
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Comece observando seu rosto, veja se há presença de alguma das alterações comentadas,
palpe seu rosto e pescoço, comparando o lado direito com o lado esquerdo, deve haver simetria,
ou seja, o que se acha de um lado deve se encontrar do outro.
Agora vamos examinar os lábios. Primeiro o inferior, tracione, puxe para baixo com os
dedos, observe o vermelhão (parte entre pele e interior da boca), veja a parte interna do lábio.
Puxe de maneira que consiga ver todas as áreas, depois apalpe-os, pegue o polegar e o indicador
em forma de “pinça”e percorra toda a região. Repita o processo para o lábio superior.
A parte interna da bochecha deve ser visualizada e também palpada, para isso tracione e
afaste a bochecha pelos cantos da boca e depois pressione com o indicador e o polegar,
percorrendo toda a área da bochecha, desde perto do “canto da boca”até a região posterior. Faça
isso nos dois lados.
Agora observe a gengiva, passe a polpa do dedo indicador em toda a sua extensão, pelo
lado externo e pelo lado interno dos dentes, quando não houver dentes observe e pressione toda a
área.
Para examinar a língua, coloque-a para fora, faça movimentos para todos os lados. Depois
coloque a língua para fora e observe se há alterações, veja a ponta da língua, as partes laterais
(bordas), depois em cima da língua. Agora coloque a língua no “céu da boca” (palato) e com ela
levantada examine a parte de baixo. Vamos repetir o exame tracionando a língua, puxando-a para
fora com o auxílio de uma gaze ou toalha para que possamos observá-la por inteiro principalmente
na sua parte posterior, se der palpe.
O exame do assoalho da boca deverá ser feito com pequena inclinação para frente e para
baixo, com a língua levantada ou retraída, onde você consiga observar toda a região onde a língua
repousa; passe o dedo indicador de uma das mãos em toda a sua extensão, segurando por baixo
do queixo com os dedos da outra mão pressionando a região para cima.
Estamos quase acabando, examinaremos o “céu da boca” (palato), incline a cabeça para
trás, abra bem a boca, observe e palpe com o dedo indicador toda a sua extensão. Ainda com a
boca bem aberta faça “AAAAAAAA”prolongado e observe o fundo na garganta, as amígdalas e a
“campainha”.
Veja, esse procedimento deve acontecer de três em três meses, ou quando achar
necessário. Na presença de alterações deve-se obrigatoriamente procurar um cirurgião dentista
para avaliação.
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