Apostila Direito Do Consumidor - Alberto Rollo

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

PONTO 1 – NOÇÕES GERAIS.

1.1 – Introdução histórica aos direitos coletivos (nota de rodapé 30 da


obra “Manual de Direito Ambiental e Legislação Aplicável”, Max Limonad,
2ª edição, Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues).

O início da Revolução Industrial (2a metade do


século XVIII – por volta de 1760), marcou o início da preocupação com os
direitos difusos.
A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial por
razões diversas, dentre as quais:

- tinha excelente situação financeira, decorrente da exploração selvagem de


suas colônias;
- não tinha guerras em seu território;
- possuía as melhores bacias de carvão;
- possuía política expansionista reforçada pelo bloqueio continental e pela
posse da melhor e maior frota mercante;
- o governo cercou os campos a fim de obrigar a migração da população rural
para as cidades, gerando mão de obra barata.

Antes da Revolução Industrial a sociedade inglesa era


composta de:
a) nobres e clero;
b) artesãos e estrangeiros;
c) camponeses e escravos.

Os Artesãos quase sempre eram responsáveis pela


produção e comercialização dos produtos.
A revolução industrial extinguiu os artesãos e trouxe os
operários, que alienavam o trabalho, desconhecendo na maioria das vezes seu
produto.

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A produção parou de ser artesanal e passou a ser


industrial, aumentando a oferta. Houve a perda de qualidade dos produtos.
Acentuou-se o capitalismo e a competição do mercado.
As regras do mercado passaram a ser regidas pelo
liberalismo econômico, que trouxe benefícios e malefícios.

BENEFÍCIOS:

a) houve o desenvolvimento técnico-científico;


b) maior parcela da população teve acesso aos produtos, em razão da maior
oferta e menor custo;
c) os produtos ficaram passaram a ser fabricados em série;
d) houve o desenvolvimento das relações de crédito;
e) formaram-se as metrópoles e megalópoles;
f) houve o avanço do capitalismo.

MALEFÍCIOS:

a) houve o desaparecimento de alguns profissionais do mercado;


b) houve queda da qualidade dos produtos e ficou quase impossível reclamar,
porque não se sabia quem deveria ser o destinatário da reclamação;
c) houve diminuição da informação ao consumidor;
d) passou a vigorar o capitalismo selvagem;
e) houve queda da qualidade de vida;
f) surgiram novas técnicas de marketing, que enganavam os consumidores;
g) houve agressão ao meio ambiente;
h) o sistema jurídico passou a não mais fazer frente a essa nova realidade;
i) houve o descrédito do Judiciário.

Nas megalópoles houve decréscimo expressivo da


qualidade de vida, com a afronta a valores básicos do ser humano, que não
tinha condições adequadas de trabalho, moradia, saúde, lazer, etc..

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Constituições como a do México (1917) e de Weimar


(1919) incorporaram novos valores, como a preocupação com a proteção da
sociedade e do indivíduo, enquanto ser humano.
Surgem os Estados democráticos de direito:
a – criados e regulados por uma Constituição;
b – onde os agentes públicos são eleitos, periodicamente, pelo povo;
c – onde o poder é repartido entre órgãos estatais independentes, que se
fiscalizam mutuamente.
Passou-se a falar também em direitos de primeira
geração (individuais), de segunda geração (coletivos e sociais) e de terceira
geração (difusos).

1.2 – Conceito de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos


(art. 81, parágrafo único do CDC).

Direitos coletivos “lato sensu”:


- difusos;
- coletivos “strictu sensu”;
- individuais homogêneos.

A titularidade dos direitos difusos é indeterminável. Não


podem eles ser identificados, sequer, a um grupo, categoria ou classe de
pessoas. Encontram-se absolutamente espraiados pela sociedade,
pertencendo a todos os indivíduos, indistintamente. Exemplo: direito ao ar puro,
direito à saúde, ao trabalho, à segurança, à dignidade.

A titularidade dos direitos coletivos também é


indeterminável, posto que não estão ligados diretamente ao indivíduo. De outra
parte, tais direitos também não pertencem a toda a sociedade, estando
identificados a um grupo, categoria ou classe de pessoas. Só são beneficiados
os indivíduos pertencentes ao grupo, categoria ou classe, sendo que o
resultado da demanda atinge a todos de modo uniforme. Eventual benefício ao
patrimônio do indivíduo será reflexo. Ex: direito dos médicos de trafegar com

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seus carros em dia de rodízio em São Paulo; direito dos advogados de não
recolher o COFINS.

Já o direito individual homogêneo é individual na


essência, porque será incorporado diretamente ao patrimônio do indivíduo,
sendo coletivo apenas quanto à forma de tutela. Por economia processual é
utilizada uma única demanda para beneficiar inúmeras pessoas, sem os
malefícios do litisconsórcio multitudinário. Cada indivíduo será beneficiado pela
sentença de uma forma específica, incorporando ao seu patrimônio um
determinado valor.

DIREITOS TITULARIDADE RELAÇÃO


DIFUSOS Indeterminável Circunstância de fato
COLETIVOS Indeterminável Relação jurídica base
INDIVIDUAIS Determinável Origem comum
HOMOGÊNEOS

Conceitos legais (art. 81, parágrafo único da Lei nº 8078/90):

Direitos difusos são os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam


titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Direitos coletivos são os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja


titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base.

Direitos individuais homogêneos são aqueles que têm origem comum.

A distinção entre os direitos difusos, coletivos e individuais


homogêneos deve levar em conta o caso concreto, porque de um mesmo fato
podem decorrer conseqüências que afetam direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos.

1.3 – Tutela constitucional dos direitos coletivos “lato sensu”.

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Inúmeros dispositivos constitucionais cuidam dos direitos


coletivos “lato sensu”.

A Constituição Federal de 1988 inovou em matéria de


direitos coletivos:
- elevando-os, juntamente com os individuais, à categoria de fundamentais
(cláusula pétrea que não pode ser alterada pelo poder constituinte derivado);
- definindo o que os doutrinadores chamam de piso vital mínimo (mínimo que
a pessoa precisa para sobreviver com sadia qualidade de vida): educação,
saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à
maternidade e à infância, assistência aos desamparados (art. 6o da CF);
- colocando a ordem econômica a serviço do bem maior vida (o capital está a
serviço do ser humano, não podendo os empreendimentos econômicos atentar
contra valores deste).

De fato, se de um lado a Constituição Federal consagrou


o regime capitalista e a livre concorrência, de outro consagrou:
- o respeito à dignidade da pessoa humana, art. 1o, III da Constituição Federal;
- a defesa do consumidor e a proteção do meio ambiente, como princípios que
regem a ordem econômica, art. 170, V e VI da Constituição Federal;
- a inafastabilidade do controle jurisdicional, art. 5o, XXXV da Constituição
Federal;
- a tutela dos direitos e interesses coletivos pelo Ministério Público, art. 129, III
da Constituição Federal;
- os direitos e garantias individuais como cláusula pétrea, art. 60, §4° da
Constituição Federal;
- a defesa da moralidade administrativa, art. 37, da Constituição Federal;
- a proteção à criança e ao adolescente e ao idoso, artigos 226 e seguintes, da
Constituição Federal.

PREVISÃO CONSTITUCIONAL DA DEFESA DO CONSUMIDOR

O consumidor é tutelado pela Constituição Federal como


parte da intervenção do Estado na ordem econômica. Entendeu o constituinte

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que o consumidor é o vulnerável da relação jurídica e, a fim de restabelecer a


isonomia, mostrou-se necessária a sua proteção, que se dá através de vários
dispositivos constitucionais, a saber:

Art. 5o, XXXII da Constituição Federal: “o Estado promoverá, na forma da lei,


a defesa do consumidor;”;
Art. 150, §5o da Constituição Federal, que trata das limitações do poder de
tributar: “A lei determinará medidas para que os consumidores sejam
esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.”
Nos EUA, por exemplo, o imposto é cobrado separado. Essa regra vem sendo
cumprida, com relutância, também no Brasil, por exemplo, na cobrança dos
serviços essenciais: água, luz, telefone, gás, cujas contas distinguem o preço
do serviço do valor do imposto.
Art. 170, V e VI da Constituição Federal: “A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
... ... ...
V – defesa do consumidor;
VI – defesa do meio ambiente.”
O art. 175, parágrafo único, II e IV da Constituição Federal, que disciplina
a prestação de serviços públicos, exercidos diretamente ou sobre o
regime de concessão ou permissão, estabelece que:
“A lei disporá sobre:
...
II – os direitos dos usuários;
...
IV – a obrigação de manter o serviço adequado.”

O art. 48 do ADCT dispõe que:


“O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”. Demorou quase
dois anos, de 5 de outubro de 1998 a 11 de setembro de 1990.

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O estudo da proteção do consumidor acabou se


transformando em uma ciência autônoma, o Direito do Consumidor,
encarregado de disciplinar e estudar a relação entre o fornecedor e o
consumidor tendo por objeto a entrega de um produto ou a prestação de um
serviço.

PREVISÃO CONSTITUCIONAL DA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Na medida em que a sociedade tornou-se mais complexa,


surgiu a necessidade de proteger o meio ambiente, a fim de fomentar o
desenvolvimento sustentável e para resguardar a qualidade de vida dos
cidadãos.
Segundo a visão antropocêntrica do direito ambiental a
tutela do meio ambiente objetiva o ser humano, que deve viver com sadia
qualidade de vida.
A Constituição Federal cuidou da proteção do meio
ambiente, em diversos dispositivos, a saber:

Art. 225 da Constituição Federal – “caput” – “Todos têm direito ao meio


ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”.

Artigos 215 e 216 da Constituição Federal que tutelam as manifestações


culturais brasileiras, o patrimônio cultural brasileiro. As manifestações culturais
brasileiras (língua portuguesa, carnaval, capoeira, obras arquitetônicas como
as de Ouro Preto, Olinda, etc.) servem à identificação do povo brasileiro,
configurando fator de agregação.

Art. 21, XX da Constituição Federal – “Compete à União:


Instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transportes urbanos;”. Habitação, saneamento e
transporte são pressupostos para uma vida com um mínimo de qualidade, nos
termos do que já foi estabelecido no art. 6º da Constituição Federal.

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Art. 182 da Constituição Federal estabelece o desenvolvimento da função


social da cidade – “caput”: “A política de desenvolvimento urbano, executada
pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.”. A grande maioria das pessoas se
concentra nas cidades, dependendo diretamente do adequado
desenvolvimento destas a manutenção da sadia qualidade de vida. Uma cidade
que se desenvolve de forma desordenada, sem espaços verdes, sem áreas
públicas e sem regras de edificação, acaba depreciando a qualidade de vida
das pessoas.
Importante neste particular o Estatuto da Cidade, Lei nº 10257/2001.

A saúde e a proteção ao meio ambiente do trabalho estão previstas tanto


no art. 7o da Constituição Federal quanto no art. 200, VIII da Magna Carta:
“Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos
da lei:
Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.”. A
tutela do meio ambiente do trabalho impede que as pessoas trabalhem em
condições inadequadas, potencialmente lesivas à sua saúde, sem os
equipamentos de proteção.

Muito embora alguns autores ainda coloquem o direito


ambiental como sub-ramo do direito constitucional, trata-se de ciência
autônoma, encarregada do estudo e da tutela do meio ambiente (conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas).

PREVISÃO CONSTITUCIONAL DA DEFESA


DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Artigos 227 a 229 da Constituição Federal

Artigo 227, “caput” da Constituição Federal:

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“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.”.

Além da proteção constitucional, a criança e o


adolescente são tutelados pelo seu estatuto, Lei n° 8.069/89.

PREVISÃO CONSTITUCIONAL DA DEFESA DO IDOSO

Art. 230, “caput” da Constituição Federal: “A família, a sociedade e o Estado


têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes o direito
à vida.”.

O idoso também é tutelado pela Constituição Federal,


uma vez que tem maiores dificuldades de prover a sua subsistência, sendo
também reduzido, por vezes, o seu discernimento.
Os sucessivos maus-tratos concedidos aos idosos levou à
edição do denominado Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de
2003, que define idoso como a pessoa com idade igual ou superior a sessenta
anos.
Casos dos Estados Unidos dos idosos que eram levados
ao supermercado e lá deixados pelos seus filhos, para que o Estado os
abrigasse.
Dentre os direitos consagrados pelo Estatuto do Idoso,
estão:
- o atendimento preferencial junto a órgãos públicos;
- o atendimento prioritário da família, em detrimento do atendimento asilar;
- a proibição de demissões em razão da idade;

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- a concessão de benefício mensal, pelo Estado, de um salário mínimo àqueles


com idade a partir de 65 anos que não tenham condições de subsistência
própria ou provida por sua família;
- a proibição de discriminação em razão da idade, pelos planos de saúde.

PREVISÃO CONSTITUCIONAL DA PROBIDADE ADMINISTRATIVA

Art. 37 da Constituição Federal – “caput” - “A administração pública direta e


indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:”
As formas de lesão ao patrimônio público são as mais
diversas e estão definidas pela Lei de Improbidade Administrativa, Lei n° 8.429,
de 2 de junho de 1992.

PONTO 2 – DIREITOS DO CONSUMIDOR.

2.1 – Princípios que regem as relações de consumo.

Princípios são preceitos fundamentais. Violar um


princípio é mais grave do que violar uma norma. Ler “Conteúdo jurídico do
princípio da igualdade”, do Professor Celso Antonio Bandeira de Mello.

Os princípios que informam o direito do consumidor


estão previstos tanto na Constituição Federal quanto no CDC.

2.1.1 – Princípios previstos na Constituição Federal.

2.1.1.1 – Princípio da Dignidade da Pessoa humana (art. 1º, III da


Constituição Federal). (Livro do Professor Rizzatto págs. 15/17)

Segundo parte da doutrina, configura a garantia mais


importante inserida na Constituição Federal, por constituir o primeiro
fundamento de todo o sistema constitucional. É a partir da dignidade da

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pessoa humana que deverão ser interpretadas todas as demais garantias


constitucionais.
Para que a pessoa humana tenha respeitada a sua
dignidade, lhe devem ser assegurados concretamente, no mínimo, os
direitos sociais previstos no art. 6º da Constituição Federal:

“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho,


o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”

Se esse mínimo de direitos sociais não estiver


garantido “piso vital mínimo”, não há como se falar em dignidade da pessoa
humana.

2.1.1.2 – Princípio da Isonomia (art. 5º, “caput” da Constituição


Federal).

Aristóteles e Ruy Barbosa insistiam na necessidade de


aplicação da isonomia real, entendendo por esta a atitude de tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas
desigualdades.
Nem toda discriminação fere o princípio da isonomia,
na medida em que discriminações existem, por vezes, para restabelecer a
igualdade entre as pessoas. É justamente o que ocorre com os direitos do
consumidor.
Esse princípio constitucional penetra no direito do
consumidor na forma de princípio da vulnerabilidade do consumidor.

2.1.2 – Princípios previstos na Lei nº 8.078/90.

2.1.2.1 Princípio da vulnerabilidade do consumidor (art. 4º, I do CDC).

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O art. 5o, XXXII da Constituição Federal dispõe que: “o


Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;”. Como se
percebe, a própria Constituição Federal considera o consumidor o elo mais
fraco da relação de consumo, interpretação que decorre também do seu art.
170, V, que coloca a defesa do consumidor como princípio da ordem
econômica.
De um lado a Constituição Federal consagra o regime
capitalista e, de outro, tutela o consumidor, deixando clara a proibição do
capitalismo selvagem (lucro a qualquer custo) e o sistema de pesos e contra
pesos.
De seu turno, a Lei nº 8.078/90 reconhece, no art. 4º, I, a
vulnerabilidade do consumidor. Por isso mesmo, a fim de estabelecer a
isonomia real, deve ele ter em seu favor mecanismos supressores desta
condição de desvantagem.
A fragilidade do consumidor decorre de um aspecto de
ordem técnica e outro de cunho econômico.

DISTINÇÃO ENTRE VULNERABILIDADE E


HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR.

O consumidor é “ope legis” vulnerável, pelo quanto já


exposto, fato que desencadeia uma série de proteções da Lei nº 8.078/90.
Existem situações, porém, em que a fragilidade do consumidor é ainda
maior, nas quais ele, além de vulnerável, é hipossuficiente.
O que determina a hipossuficiência do consumidor é o
aspecto técnico. O desequilíbrio econômico em desfavor do consumidor,
quando existente, serve para acentuar ainda mais a hipossuficiência, que já
deve estar caracterizada no aspecto técnico.
Segundo a Professora Cecília Matos “A
hipossuficiência, característica integrante da vulnerabilidade, demonstra
uma diminuição de capacidade do consumidor, não apenas no aspecto
econômico, mas a social, de informações, de educação, de participação, de
associação, entre outros.” Dissertação de Mestrado apresentada na USP.

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2.1.2.2 – Princípio da Ação Governamental (art. 4º, II da Lei nº 8.078/90).

O princípio da ação governamental impõe ao Estado o


rigoroso cumprimento dos objetivos estabelecidos pela Política Nacional das
relações de consumo. Determina ele a intervenção do Estado na economia,
a fim de proteger o consumidor e impedir o desenvolvimento do capitalismo
selvagem (lucro a qualquer custo).
Decorre da limitação constitucional à ordem
econômica, estabelecida pelo art. 170, V da Constituição Federal.
Em decorrência desse princípio, cabe ao Estado,
exemplificativamente:

a) instituir órgãos públicos de defesa do consumidor;

b) incentivar a criação de associações civis que tenham por finalidade


a proteção do consumidor;

c) regular o mercado, preservando a qualidade, segurança,


durabilidade e desempenho dos produtos e serviços oferecidos ao
consumidor.

2.1.2.3 – Princípio da Harmonização dos Interesses dos Consumidores


e Fornecedores.

Não existe relação de consumo sem fornecedor.


Sendo assim, uma proteção desmedida do consumidor repercutiria de forma
nociva nas relações de consumo. A proteção do consumidor não pode, por
exemplo, frear o progresso tecnológico e econômico.
De outra parte, a experiência do liberalismo econômico
demonstrou que a intervenção do Estado é necessária, a fim de refrear a
busca imoderada do lucro pelos fornecedores.
A tônica do direito do consumidor, antes de mais nada, é
a harmonia entre as relações de consumidores e fornecedores. O fornecedor
tem direito ao lucro que, no entanto, não pode ser exagerado. Já o consumidor

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tem direito de acesso ao mercado de consumo, sem qualquer sorte de


discriminação.
A necessidade de intervenção do Estado só existirá, na
prática, se consumidores e fornecedores não chegarem a um consenso.
A harmonização dos interesses de consumidores e
fornecedores se dá através de dois instrumentos, a saber:

a) do ´marketing´ de defesa do consumidor (art. 4º, V do CDC):


caracterizado na criação de departamentos de atendimento ao consumidor,
criados pelos próprios fornecedores, estabelecendo vários caminhos de
contato com o consumidor (telefone, internet, fax, caixa postal);

b) da “convenção coletiva de consumo” (art. 107 do CDC): são pactos


entre entidades civis de consumidores e associações de fornecedores ou
sindicatos, regulando as relações de consumo, no tocante ao preço, à
qualidade, à quantidade, à garantia e características de produtos e serviços,
bem como às reclamações e composições de conflito de consumo. A
convenção coletiva de consumo tem por objetivo prevenir conflitos.

2.1.2.4 – Princípio da Educação e Informação.

Educação e informação são dois lados de uma mesma


moeda. A veiculação de informações, dos mais variados modos, permitirá a
educação do consumidor (assimilação e registro dessas informações).
O art. 4º, IV da Lei nº 8078/90, coloca lado a lado a
educação e informação de fornecedores e consumidores, denotando a sua
complementaridade.
Já o art. 6º, II e III, da mesma lei, parece estabelecer
distinção ao indicar que a educação estaria relacionada ao conhecimento
genérico dos direitos do consumidor, enquanto que a informação diria
respeito aos produtos e serviços, e às suas especificações. Tal distinção,
entretanto, não nos parece essencial.
Da leitura de tais dispositivos legais decorre a
interpretação de que o dever de informar e educar o consumidor é de todos:

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Estado, fornecedores, órgãos públicos, associações de defesa do


consumidor, sindicatos, etc..
A educação formal compreende as noções de direito
do consumidor passadas nos cursos de primeiro e segundo grau, bem como
através de cursos esparsos e nas disciplinas dos cursos de nível superior.
Fora do âmbito escolar e acadêmico, a educação do
consumidor, dita não formal, ocorre através de campanhas e ações educativas
visando sensibilizar a sociedade quanto às questões do mercado de consumo,
visando a harmonia entre consumidores e fornecedores. Ex:
- artigos em jornais;
- programas de televisão;
- programas criados por prefeituras SJC;
- informações através do IDEC e dos PROCONs; (procon às vezes informa
errado);
- manuais de informação e departamentos de atendimento ao consumidor
(evitam processos e aprimoram seus produtos e serviços com as sugestões
– caso empada).

2.1.2.5 – Princípio da Prevenção.

No direito do consumidor, a exemplo do que ocorre


com os direitos coletivos “lato sensu”, a tônica é a prevenção, ou seja, a
indenização é a última alternativa e que, no mais das vezes, não satisfaz às
expectativas dos consumidores.
Este princípio estabelece que as empresas devem
zelar pela qualidade dos produtos e serviços que colocam no mercado, bem
como pela forma de atrair os consumidores, a fim de preservar a integridade
física e psíquica destes.
Ao Estado, por sua vez, cabe fiscalizar, exercendo o
seu poder de polícia, retirando do mercado produtos nocivos ou inseguros.
O Ministério Público também tem amplos poderes de
fiscalização no inquérito civil, dispondo dos termos de ajustamento de
conduta, para rapidamente sanar irregularidades de menor monta.

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Se os mecanismos administrativos falharem, restará


sempre a via judicial, com ênfase nas tutelas de urgência, em razão da
crescente demora no julgamento dos processos.

2.2 – Relação de consumo.

A relação de consumo tem por sujeitos o consumidor e


o fornecedor e por objetos o produto ou o serviço. Necessário, portanto,
estabelecer quem é o fornecedor, quem é o consumidor e o que é o produto
e o que é o serviço.

2.2.1 – Definições de consumidor.

CONSUMIDOR (DEFINIÇÕES ARTIGOS 2º, “CAPUT” E PARÁGRAFO


ÚNICO, 17 E 29 DO CDC).

DEFINIÇÃO 1: “Art. 2º Consumidor é toda pessoa


física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.

DEFINIÇÃO 2: “Parágrafo único. Equipara-se a


consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.”

DEFINIÇÃO 3: “Art. 17 Para os efeitos desta Seção,


equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento.”

DEFINIÇÃO 4: “Art. 29 Para os fins deste Capítulo e


do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas
as pessoas determináveis ou não, expostas às
práticas nele previstas.”

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

As definições de consumidor, pela Lei nº 8078/90,


começam no individual mais concreto (art. 2º, “caput”) e terminam no geral
mais abstrato (art. 29). O primeiro dispositivo aponta o consumidor real, que
adquire concretamente um produto ou serviço. Já o segundo faz referência
a um ente abstrato, a um consumidor indeterminável, que pode até não
existir.
Havendo possibilidade de enquadramento no art. 2º,
“caput” do CDC, estará afastada a incidência dos demais dispositivos, que
tratam da equiparação aos consumidores.

2.2.1.1 – Comentários ao art. 2º, “caput” do CDC.

Consumidor é tanto a pessoa física ou natural quanto a


jurídica (microempresa, multinacional, pessoa jurídica civil ou comercial,
associação, fundação, etc.).
É consumidor não só aquele que adquire como aquele
que utiliza o produto ou serviço, ainda que não o tenha adquirido. Ex:
pessoa que compra cerveja para servir em festa, todos os que beberem a
cerveja, ainda que não a tenham adquirido, são consumidores.
A expressão destinatário final significa que só é
consumidor aquele que tem o intuito de se utilizar do produto ou serviço.
Quem emprega o produto ou serviço no ciclo de produção não é
consumidor. Quem compra para revender não é consumidor.
A questão, no entanto, é muito mais complicada do
que parece, uma vez fornecedores costumam adquirir bens, como
destinatários finais, que serão utilizados na sua atividade. Exemplo 1:
escritório de advocacia que adquire cadeiras para utilizá-las enquanto
durarem.
Nesse caso, o escritório de advocacia é destinatário
final das cadeiras, na medida em que a atividade do advogado não consiste
no fornecimento de cadeiras.
Entretanto, se esse mesmo escritório de advocacia,
anualmente, vendesse no mercado as cadeiras adquiridas no ano anterior,

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

visando o lucro (o que é vedado pela ética profissional), para comprar


novas, estaria excluído do conceito de consumidor (Exemplo 2).
Ou seja, a qualidade de consumidor do mesmo
adquirente dependeria do fato de empregar ou não o produto ou serviço
adquirido na sua atividade.
Surgiram na doutrina duas correntes, que tentaram
aclarar a questão: a dos finalistas e a dos maximalistas.
Para os finalistas, em princípio, deveria ser dada a
interpretação mais restrita à expressão “destinatário final”. Só seriam
destinatários finais aqueles que não utilizassem, DE FORMA ALGUMA, o
bem na sua atividade. Só seria consumidor, então, aquele que adquirisse
produtos e serviços para seu uso próprio ou para uso da família e dos
amigos. Nesse primeiro momento do pensamento dos finalistas, tanto no
exemplo 1 quanto no exemplo dois não estaríamos diante de consumidores.
O pensamento dos finalistas evoluiu na direção do
pensamento francês e belga, passando a admitir como consumidores
aqueles que não exploram economicamente o bem adquirido. No atual
momento do pensamento dos finalistas, admitem eles como consumidor o
escritório de advocacia do exemplo 1.
Segundo os maximalistas, deve ser dada uma
interpretação mais ampla à expressão “destinatário final”, uma vez que a Lei
nº 8078/90 tem por objetivo regular o mercado de consumo e não apenas
proteger o consumidor não profissional.
Para eles, a interpretação do conceito de consumidor
deve ser a mais ampla possível, abrangendo todos aqueles que consomem
o produto adquirido, ainda que seja na sua produção, para posterior
colocação no mercado. Seriam então consumidores, para essa corrente:
Exemplo 3 (Professora Cláudia Lima Marques) – a fábrica de toalhas que
compra algodão para transformar;
Exemplo 4 (Idem) – a fábrica de celulose que compra carros para o
transporte dos visitantes.

Seguimos a opinião do Professor Rizzatto, que nos


parece ser intermediária, para quem a solução do problema está na

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

distinção entre bens de consumo e bens de produção e na forma da sua


colocação no mercado.
Aquele que adquire bens típicos de produção (que
necessariamente são adquiridos para transformação e recolocação no
mercado de consumo) não está protegido pelo direito do consumidor. Trata-
se de inequívoca relação de direito comercial, na qual a aplicação do direito
do consumidor representaria sério entrave, sem falar na afronta ao princípio
da isonomia.
Há bens que, na prática, podem ser enquadrados
como bens de produção mas que são colocados no mercado como típicos
bens de consumo. A aquisição desses bens, ainda que por pessoa jurídica,
estará protegida pelo direito do consumidor. Exemplo 5 - aquisição de um
computador por escritório de advocacia. Exemplo 6 – Professor Rizzatto -
aquisição de caneta por um professor, para dar aula.
O CDC controla os produtos e serviços oferecidos no
mercado e produzidos para serem vendidos, independentemente do uso
que se vá deles fazer.
O art. 51, I do CDC estabelece distinção de tratamento
às pessoas jurídicas nos contratos de consumo quando ocorrerem,
simultaneamente, as seguintes hipóteses:
a) o tipo de venda esteja fora do padrão regular de consumo;
b) a qualidade do consumidor pessoa jurídica justifique a negociação prévia
de cláusula contratual limitador (empresa de porte considerável).
Segundo o Professor Rizzatto esta distinção reforça a
tese de que a pessoa jurídica está protegida pelo CDC quando adquire bens
de produção, oferecidos regularmente no mercado, para que o consumidor
comum possa adquiri-lo em idênticas condições.
Para o Professor Rizzatto, portanto, no exemplo 3 da
Professora Cláudia Lima Marques a fábrica de toalhas não seria
consumidora, porque o algodão por ela adquirido configura típico bem de
produção.
Quanto ao exemplo 4, o carro, assim como a caneta, é
um bem que pode ser de consumo ou de produção, dependendo da sua

19
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

destinação. Por isso, a fábrica de celulose seria consumidora, na medida em


que o bem é oferecido indistintamente no mercado.
Exemplo 7 – Milionário que adquire academia ou
indústria, para uso próprio, não é consumidor, por se tratarem de bens típico
de produção.
Exemplo 8 – A empresa que adquire jato executivo e
helicóptero é consumidora. Se adquirir 737 não será consumidora,
dimensão do avião o torna bem típico de produção.

2.2.1.2 – Comentários ao art. 2º, parágrafo único do CDC.

O art. 2º, parágrafo único do CDC equipara a


consumidores a coletividade de pessoas que, ainda que não possa ser
identificada, tenha, de alguma forma, participado da relação de consumo.
Enquadra a coletividade de pessoas, DETERMINÁVEL
OU NÃO, QUE NÃO SOFRA DANOS. Se estivermos diante de danos,
aplicar-se-á o conceito do art. 17 do CDC, posto que estarão as pessoas
lesadas enquadradas como “vítimas do evento”.
Essa regra destina-se à tutela coletiva dos interesses
dos consumidores nos casos, por exemplo, de colocação no mercado de
produtos ou serviços que exponham a perigo a saúde do consumidor.

2.2.1.3 – Comentários ao art. 17 do CDC.

O art. 17 do CDC equipara a consumidor as vítimas do


acidente de consumo que, ainda que não tenham sido consumidoras
diretas, foram atingidas pelo dano decorrente de uma relação de consumo.
Ex: TAM – dano decorrente de acidente de consumo
(desastre de avião), desencadeado pela prestação de serviço de transporte
aéreo. As vítimas terrestres do desastre são equiparadas a consumidores,
recebendo toda a proteção do CDC.

2.2.1.4 Comentários ao art. 29 do CDC.

20
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

O capítulo V do CDC, que trata das práticas


comerciais, equipara a consumidores todas as pessoas que, mesmo que
não possam ser identificadas, foram ou estão expostas às práticas
comerciais nele previstas. Segundo o Prof. Rizzatto, basta a existência de
qualquer prática comercial para que toda a população já esteja exposta a
ela.
Trata-se, segundo a doutrina, de um conceito difuso de
consumidor, sendo que o consumidor do art. 29 do CDC sequer precisa
existir no plano concreto.
Os exemplos de práticas comerciais abusivas estão
previstos no art. 39 do CDC.

2.2.2 Definição de Fornecedor (art. 3º, “caput” do CDC).

O conceito de fornecedor abrange um sem número de


pessoas, atingindo todas as pessoas físicas capazes ou jurídicas (todo e
qualquer modelo), bem como os entes desprovidos de personalidade.
“ATIVIDADE”: o conceito e a compreensão do termo
atividade é muito importante para identificar o fornecedor. Atividade = ação
humana com objetivo determinado. Compreende a produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Toda atividade, para caracterizar o seu realizador como
fornecedor, deve ser típica (comerciante estabelecido que exerce a atividade
descrita no seu estatuto) ou atípica (pessoa que exerce atividade diversa
daquilo que foi inicialmente programado).
Não se confunde a atividade esporádica com a eventual
(atípica). A atividade esporádica acontece de forma isolada enquanto que a
eventual acontece ciclicamente (de tempos em tempos), ainda que possa ser
sazonal (estudante que vende de ovos de páscoa ou enfeites de natal).
A venda esporádica vai indicar a existência de uma
relação de direito civil ou comercial. Tanto as atividades típicas como as
atípicas vão indicar a existência de uma relação de consumo.

21
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

A questão da regularidade ou eventualidade da atividade


é matéria de prova processual.
Toda pessoa jurídica pode ser consumidora ou
fornecedora. Quando tratou do fornecedor, o CDC cercou-se de maiores
cuidados no enquadramento da pessoa jurídica, a fim de evitar brechas. O
mesmo cuidado não teve o legislador quando tratou da pessoa jurídica
consumidora.
Fornecedor é qualquer pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, nacional ou estrangeira.

ENTES DESPERSONALIZADOS - FORNECEDORES

Um exemplo de ente despersonalizado fornecedor é a


massa falida. Quando é decretada a falência da pessoa jurídica subsistirão no
mercado produtos e resultados de serviços por ela oferecidos ou efetivados,
que continuarão sob a proteção do CDC.
A expressão entes despersonalizados abrange também
as “pessoas jurídicas de fato”, que, sem constituir pessoa jurídica,
desenvolvem atividade industrial, comercial, prestação de serviços, etc.. Ex:
Camelô / Vendedores Ambulantes.

FORNECEDOR PESSOA FÍSICA

Exemplos clássicos de relação de consumo envolvendo a


pessoa física fornecedora são os contratos firmados com profissionais liberais
(dentistas, médicos, advogados, etc.). O profissional liberal deve ser
responsabilizado segundo o CDC, com o diferencial da sua responsabilidade
que é subjetiva, como regra. Trata-se de uma exceção à regra do CDC que é a
responsabilidade objetiva.
Também temos a pessoa física como fornecedora nos
casos de desenvolvimento de atividade típica ou atípica de venda de produtos,
sem a formação de pessoa jurídica, visando o lucro. Ex. compra e venda de
automóveis visando o lucro, compra de jóias para vender na faculdade,
representantes da Avon, Natura, etc..

22
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

O camelô não configura exemplo de fornecedor pessoa


física porque constitui verdadeira sociedade de fato, na medida em que tem
sede de atendimento, horário de funcionamento, empregados, etc.. Daí o seu
enquadramento enquanto ente despersonalizado.
Existe uma grande diferença entre o camelô e a estudante
que vende pão de mel, porque o desenvolvimento da atividade da segunda se
dá de forma rústica e eventual. Trata-se de um meio termo entre a pessoa
física que nada vende e a sociedade de fato.
Segundo o CDC quem vende pão de mel na faculdade,
visando o lucro, é fornecedor. Também aqueles prestadores de serviços que
não se enquadram como profissionais liberais: encanador, eletricista, sapateiro,
tintureiro, etc, são fornecedores segundo o CDC.

FORNECEDOR É GÊNERO

O conceito de fornecedor configura gênero do qual são


espécies o fabricante, produtor, construtor, importador e comerciante. Tal
distinção é importante porque ora o CDC faz referência ao gênero fornecedor e
ora às espécies de fornecedor (fabricante, etc.). Não pode haver confusão, sob
pena de se incorrer em interpretação equivocada. Ex: o art. 32, “caput” do CDC
aplica-se tão somente aos fabricantes e importadores. Já o art. 40, “caput” faz
referência ao gênero fornecedor.

2.2.3 Definição de produto (art. 3º, §1º do CDC).

O conceito de produto está ligado à idéia de bem


(resultado da produção no mercado de consumo das sociedades capitalistas
contemporâneas). O conceito de bem é quase universal, sendo utilizado nos
mercados econômico, financeiro, de comunicações, etc..
Para a compreensão do tema há que se distinguir o
produto móvel do imóvel; material do imaterial e durável do não durável (art. 26
do CDC).

23
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Produto móvel ou imóvel: a sua distinção vem do direito civil. O art. 82 do CC


dispõe que “São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de
remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação
econômico-social.”. Já o art. 79 do CC estabelece que “São bens imóveis o
solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”.

Produto material e imaterial: o material é palpável e o imaterial não. Neste


particular, o objetivo do CDC foi abarcar toda e qualquer compra e venda,
fixando, para tanto, conceitos genéricos.

Produto durável ou não durável: estes conceitos foram trazidos para o CDC
em decorrência das atividades práticas e constam do art. 26, I e II do CDC.
Produto durável é aquele que não se extingue em decorrência do uso. Ele pode
ser utilizado várias vezes e leva tempo para se desgastar.
Para que o produto seja durável não há necessidade de
que ele seja eterno. Todos os produtos tendem à extinção, inclusive os
duráveis.
O fato do produto não se extinguir após um único uso não
lhe retira a característica de “não durável”. O que o define é a sua extinção em
decorrência do uso.
Produto descartável não se confunde com não durável. O
produto descartável, não previsto em lei, é o durável de baixa durabilidade, que
só pode ser utilizado uma vez. Trata-se, em verdade, de um meio termo entre o
produto durável, em sua forma de desgaste, e não durável, em sua forma de
extinção.
Enquanto o produto descartável permanece quase da
mesma forma após utilizado, o produto não durável perde totalmente sua
existência com o seu uso ou vai perdendo em decorrência da utilização. Ex:
pão francês.

2.2.4 Definição de serviço (art. 3º, §2º do CDC).

O CDC traz uma enumeração exemplificativa de serviços,


traduzida na expressão “qualquer”. Serviço é qualquer atividade oferecida no

24
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

mercado de consumo, como aquelas de natureza bancária, financeira, de


crédito e securitária.
Serviço = atividade (ação humana com objetivo
determinado).
Segundo as imposições do mercado, os serviços podem
ser duráveis ou não duráveis, art. 26, I e II do CDC. Em verdade, não haveria
como falar em serviço durável porque todo serviço se exaure em si mesmo.

SERVIÇOS DURÁVEIS SERVIÇO NÃO DURÁVEIS


São os serviços contínuos, cuja Exaurem-se após uma única
prestação se prolonga no tempo, prestação. Ex: serviços de transporte,
decorrentes de contrato (plano de de diversão, hospedagem, etc.
saúde, serviços educacionais, etc.).
São os serviços que deixam como
resultado um produto, ainda que não
se prolonguem no tempo. O produto
passa a fazer parte do serviço. Ex:
pintura da casa, instalação de
carpete, box, consertos em geral, etc.

NÃO SE VENDE PRODUTO SEM SERVIÇO

A venda de produtos traz em si, em decorrência do


mercado, a prestação de serviços de atendimento ao cliente (prestação de
serviços). A venda de um produto implica na prestação de um serviço. Já a
recíproca não é verdadeira: HÁ SERVIÇOS SEM PRODUTOS. Ex. advogado
que dá consulta. Já para vender sapato, por exemplo, tem que prestar serviço
(pegar o sapato para o consumidor, colocar no pé dele, enfim, atender o
consumidor).

O SERVIÇO SEM REMUNERAÇÃO

Serviço, segundo o CDC, é qualquer atividade oferecida


no mercado mediante QUALQUER FORMA DE REMUNERAÇÃO.

25
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Em não havendo remuneração, estará descartada a


incidência das normas do CDC, relativas à prestação de serviços, posto que,
para tanto, necessariamente o serviço deve ser remunerado.
A grande maioria dos serviços é remunerada, ainda que
indiretamente, permitindo a incidência das normas do CDC.Remuneração,
neste particular, é qualquer forma de repasse de custo, direta ou indireta.

PRODUTO GRATUITO OU “AMOSTRA GRÁTIS”

Quanto ao produto, a lei não faz qualquer distinção


quanto à sua gratuidade. “Ubi lex non distingue interpretat distinguere non
debet”, o que implica no fato de que o produto gratuito está garantido pelo
CDC. A amostra grátis submete-se às regras dos demais produtos, quanto aos
vícios, defeitos, prazos de garantia, etc..

SERVIÇOS PÚBLICOS

Os serviços podem ser privados e públicos, regulados


pelo art. 22 do CDC. O CDC engloba todas as modalidades de serviços
públicos, exercidos diretamente pelo Estado ou sob o regime de concessão,
permissão, etc..
Também no que concerne aos serviços públicos não há
necessidade de que o seu pagamento seja direto. Se a remuneração dos
serviços for abrangida pelo pagamento de impostos é o quanto basta. O Estado
não faz nada de graça. Todas as suas ações decorrem do pagamento de
impostos e taxas pelos contribuintes.

2.3 – Política nacional das relações de consumo.

A política nacional das relações de consumo compreende


as ações que serão desenvolvidas pelo Estado a fim de buscar a igualdade nas
relações de consumo, entre consumidores e fornecedores. Engloba, como já
dito, a ação governamental direta e indireta, devendo levar em conta a tônica

26
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

das relações de consumo que é a harmonização dos interesses de seus


sujeitos.
A política nacional das relações de consumo decorre da
necessidade de intervenção estatal na economia (art. 170, V da Constituição
Federal) e parte do pressuposto de que o consumidor é o vulnerável da relação
de consumo.
Por isso, a política nacional das relações de consumo
busca, simultaneamente, o atendimento das necessidades dos consumidores e
a compatibilização dos interesses dos consumidores e fornecedores.
Os objetivos da política nacional das relações de
consumo estão consagrados no art. 4º do CDC, sendo que o art. 5º do CDC
indica os instrumentos para a sua realização.

BOA-FÉ

A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo, dentre outros, harmonizar os interesses dos fornecedores e
consumidores, compatibilizando o regime capitalista com a defesa do
consumidor. O dever de boa-fé é recíproco de fornecedores e consumidores.
O CDC traz presente a preocupação com a boa-fé
OBJETIVA, assim entendida como o dever das partes de agir dentro de certos
parâmetros de honestidade e lealdade, a fim de equilibrar as relações
contratuais de consumo. Se o negócio possui uma determinada praxe, a
simples inobservância desta já implica em ofensa à boa-fé objetiva.
O dever recíproco de boa-fé também impede que os
contratos de consumo, no seu conjunto, estabeleçam obrigações
desproporcionais, para consumidor e fornecedor.
A boa-fé objetiva é um modelo, que não perquire da má-fé
subjetiva do fornecedor ou do consumidor. Ambos devem ser fiéis e leais,
respeitando-se reciprocamente.
Não se perquire da boa-fé SUBJETIVA, que diz respeito à
ignorância de uma pessoa acerca de um fato modificador, impeditivo ou
violador de seu direito. A boa-fé subjetiva constitui a falsa crença numa

27
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

situação aparentemente legítima em decorrência do desconhecimento da


verdadeira situação.

BOA-FÉ COMO PRINCÍPIO (art. 4º III do CDC)

Tem por objetivo viabilizar os ditames constitucionais da


ordem econômica, compatibilizando-os com a proteção do consumidor e com o
desenvolvimento econômico e tecnológico. Por isso não serve apenas à defesa
do débil, mas sim à garantia da ordem econômica e dos princípios
constitucionais do art. 170.

BOA-FÉ COMO CLÁUSULA GERAL (art. 51, IV do CDC).

Entende a doutrina que o art. 51, IV do CDC em verdade


instituiu uma cláusula geral de boa-fé norteadora das demais cláusulas
contratuais. Tal cláusula permite que o juiz crie uma norma de conduta para o
caso concreto, atendendo à realidade social.

BOA-FÉ E EQÜIDADE

Pelo mesmo fundamento anteriormente invocado a


eqüidade também deve ser entendida como cláusula geral. Em decorrência da
eqüidade cabe ao juiz equilibrar os poderes contratuais. É o poder que tem o
juiz de elaborar a norma jurídica para o caso concreto, de fazer justiça no caso
concreto.
A eqüidade configura corretivo ou impedimento das
condições gerais iníquas ou que provoquem vantagem injusta ao
predisponente em relação a qualquer aderente.
Cumpre ao intérprete, no sentido aristotélico de equidade,
corrigir no caso concreto as normas legais porventura abstratamente injustas
ou que não dêem ao intérprete um norte adequado para o caso.

2.4 – DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR – ART. 6o CDC.

28
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Inciso I – Vida, saúde e segurança: tratam-se dos bens mais importantes do


consumidor, sem dúvida alguma. Todo o sistema de defesa do consumidor
gravita em torno desses bens jurídicos, decorrendo deles todas as demais
formas de proteção. A Constituição Federal, em diversas passagens, garante a
preservação da vida em todas as suas formas, prevendo, outrossim a
indenização para os casos de agravo. No que diz respeito ao consumidor, a
tônica, como já se disse, é a prevenção dos danos, prevendo o CDC
mecanismos importantes nesse diapasão, como o recall e a contra-
propaganda;

Inciso II
A - liberdade de escolha: são garantidas pela Constituição Federal as
liberdades de ação e escolha. Tais garantias decorrem do princípio da
isonomia e, no direito do consumidor, têm relação direta com a sua
vulnerabilidade e com o direito à informação. Ter liberdade de escolha implica
na colocação de diversos produtos e serviços semelhantes no mercado de
consumo à disposição do consumidor.
Em nome dessa liberdade de escolha é que a União
e os Estados regulamentam a comercialização de produtos e serviços,
estabelecendo regras como quantidade, qualidade, peso líquido, embalagem, a
fim de que o consumidor, levando em conta o preço, possa comparar produtos
semelhantes. Ex.: não há como comparar o preço de embalagens de sabão em
pó com pesos distintos, como 500 g e 1 Kg.
A comparação pressupõe cálculo que o consumidor
não se dedica a fazer quando está comprando no supermercado. Práticas
comerciais como essa, por isso, são entendidas como abusivas, na medida em
que agravam a vulnerabilidade do consumidor.
Cabe ao Estado, no exercício do seu papel
regulador do mercado de consumo, reprimir práticas como essa.

B – igualdade nas contratações: a garantia da isonomia está prevista no art.


5º, “caput” da Constituição Federal. Estabelece tal garantia que não pode o
fornecedor diferenciar os consumidores entre si. Tem o fornecedor que

29
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

oferecer as mesmas condições de contratação a todos os consumidores,


indistintamente.
Os privilégios só são tolerados aos consumidores que
necessitam de proteção especial, como idosos, gestantes e crianças. Ex.:
idosos e gestantes têm atendimento preferencial nos estabelecimentos
públicos e privados. De seu turno, não podem os fornecedores vender qualquer
produto ou prestar qualquer serviço para as crianças. Não podem ser vendidos
para as crianças produtos perigosos, bebidas alcoólicas, revistas que tenham
conteúdo impróprio, etc..

Inciso III – dever de informar: trata-se de princípio consagrado pelo CDC,


que, aliado ao princípio da transparência (art. 4º, “caput” do CDC, que acarreta
ao fornecedor o dever de dar conhecimento ao consumidor do conteúdo do
contrato que lhe é apresentado), traz uma nova formatação aos produtos e
serviços oferecidos no mercado.
Segundo o CDC está o fornecedor obrigado a prestar
todas as informações acerca do produto e do serviço, suas características,
qualidades, riscos, preços, etc., de forma clara (legível e inteligível) e precisa
(diz respeito à extensão – a vista ou em 3 X), não sendo admitidas falhas ou
omissões.
Dever de informar corretamente implica no dever de
cumprir a oferta. Ainda que a oferta esteja errada o fornecedor a ela se vincula.
Oferta é a informação pré-contratual que tem o objetivo de levar o consumidor
à relação de consumo e que, uma vez aceita, converte-se em contrato,
transformando-se em informação contratual.

Inciso IV

A – proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva (art. 37, §§ 1º e 2º


do CDC).

A publicidade é um instrumento de apresentação ou


venda da produção de massa. Na sociedade globalizada de hoje, não há mais
como comercializar produtos e serviços no chamado “boca a boca”. A

30
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

massificação da produção acarretou a massificação das técnicas de marketing


(que visam aproximar os produtos e serviços do consumidor).
Marketing é gênero do qual a publicidade é espécie.
Alguns entendem que a publicidade é uma forma de
expressão de pensamento e que, por isso, deveria ser absolutamente livre.
Resta saber, então, se a publicidade configura “produção primária” realizada
pelo publicitário, agência, etc..
A publicidade não é produção primária, mas sim
instrumento de apresentação e/ou venda dessa produção. Ora se a própria
exploração da atividade principal é limitada à luz do CDC não há porque se
cogitar de censura na atividade secundária.
O controle da publicidade é exercido através dos arts. 36
a 38 e nos tipos penais dos arts. 67 a 69, sem prejuízo de outros artigos do
CDC que fazem a tutela indireta.
Ademais disso, ainda que de atividade primária se
tratasse comportaria aplicação a limitação imposta pelo art. 220 da
Constituição Federal, ou seja, seria livre a forma de expressão desde que
respeitados todas as demais garantias previstas constitucionalmente.

PUBLICIDADE ENGANOSA: É A FALSA POR AÇÃO OU POR OMISSÃO


OU AQUELA QUE SEJA CAPAZ DE INDUZIR EM ERRO O CONSUMIDOR,
FRUSTRANDO-LHE AS JUSTAS EXPECTATIVAS.

Exemplos:
- danoninho que vale por um bifinho;
- aparelhos de ginástica passiva, que prometem corpo perfeito, em quinze dias;
- remédios milagrosos para a calvície ou para fazer desaparecer cabelos
brancos;
- aparelho que tira os pêlos do corpo com facilidade.

PUBLICIDADE ABUSIVA: É AQUELA QUE ATENTA CONTRA VALORES


DO SER HUMANO. QUE, EXEMPLIFICANTIVAMENTE, DISCRIMINE, QUE
INCITE À VIOLÊNCIA, QUE SE APROVEITE DA ESPECIAL

31
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

VULNERABILIDADE DA CRIANÇA OU DO IDOSO, QUE INDUZA O


CONSUMIDOR A COMPORTAR-SE DE FORMA INSEGURA, ETC..

Exemplos:
- Beneton que coloca criança loira como anjo e criança negra com chifre e com
tridente;
- Publicidade de carro que induz as crianças a terem vergonha do carro de
seus pais;
- Publicidade que induz a criança a desrespeitar seus pais;
- Publicidade em que um adulto aparece colocando saco plástico na cabeça, o
que leva as crianças à imitação.

B - proibição de práticas abusivas:

A idéia da abusividade tem fundamento na doutrina


acerca do abuso do direito. A constatação fática de que o titular de um direito
subjetivo pode dele abusar no seu exercício que acabou por legar o legislador
a definir ações como abusivas.
Uso (permitido) ≠ abuso (não permitido). Abuso de direito
é o resultado do excesso de exercício de um direito, idôneo a causar dano a
outrem. Trata-se do uso desviado do direito por parte do titular, que lhe confere
conotação irregular.
O exercício regular do direito não constitui ato ilícito. Por
via reversa o abuso do direito é ilícito. O CDC, além de proibir o abuso de
direito, nulifica as cláusulas contratuais abusivas.
A proibição de práticas abusivas pelo CDC é absoluta e
está prevista exemplificativamente nos arts. 39 a 42 e seguintes.
O CDC nos seus arts. 51 a 53 nulifica todas as cláusulas
abusivas.
Dentre as práticas comerciais abusivas pode ser citada a
venda casada, que induz os consumidores a adquirirem produto que eles não
querem adquirir, como condição para que possam adquirir produto que
almejam. Ex: cinema que impede que o consumidor ingresse com alimentos,
compelindo-o a adquirir os produtos que são vendidos pelo próprio cinema.

32
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Limitações quantitativas indevidas que, por exemplo, obrigam o consumidor a


adquirir, no mínimo, dez itens.

Inciso V – princípio da conservação dos contratos de consumo: o inciso V


enuncia o que se conhece em direito das relações de consumo como princípio
da conservação dos contratos de consumo, que também está previsto no art.
51, §2º do CDC. De fato, ao estabelecer o direito à revisão das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais e o direito de revisão
de cláusulas em decorrência de fatos supervenientes que as tornem
excessivas, o CDC visa conservar o pacto. Ao invés de extinguir o contrato em
decorrência de cláusulas abusivas, permite-se a sua modificação pelo juiz, a
fim de preservá-lo.
O princípio da conservação não se confunde com a
cláusula rebus sic stantbus (teoria da imprevisão) uma vez que o direito de
revisão decorre, simplesmente, de fato posterior ao contrato que venha a tornar
a contra-prestação desproporcional. Não se perquire da previsibilidade ou não
do fato. Basta que esse fato tenha acarretado um desequilíbrio nos contratos
de consumo, em prejuízo do consumidor.
O direito de modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações desproporcionais decorre dos princípios da boa-fé e
do equilíbrio contratual (art. 4º, III), bem como da vulnerabilidade do
consumidor (art. 4º, I).
O CDC comina pena de nulidade a essas cláusulas
desproporcionais, o que não implica, entretanto, na nulidade do contrato.
Cumpre ao magistrado, que reconhecer a nulidade das cláusulas, fazer a
integração do contrato levando em conta as demais, a fim de mantê-lo em
vigor.

Inciso VI – prevenção e reparação de danos materiais e morais.

Dano material: dano patrimonial + lucros cessantes.


Dano moral: abalo psicológico injusto e desproporcional.

33
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

O direito ao ressarcimento e à prevenção dos danos


abrange não só o direito individual do consumidor, como também o direito
coletivo e difuso dos consumidores. Pode-se falar, segundo a doutrina, até
mesmo em dano moral difuso. Ex. dano coletivo – lesão a consorciados. Dano
difuso – bolacha com menos peso no pacote.

PROIBIÇÃO DE TARIFAMENTO

O Código de Defesa do consumidor faz referência à


“EFETIVA” PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DO DANO, o que significa que
tanto a moral quanto o patrimônio do consumidor devem ser mantidos íntegros.
Isso significa que o ressarcimento deve ser integral,
compreendendo, no caso do dano material, o dano emergente e os lucros
cessantes, assim como também a indenização pelo dano moral.
Qualquer forma de tarifamento é ilegal, especialmente
aquela que vem sendo aplicada ao extravio de bagagem em vôos nacionais.
A indenização dos danos acarretados ao consumidor tem
fundamento duplo, qual seja o de recompor o estado patrimonial do consumidor
ou proporcionar-lhe algum conforto compensatório do dano moral e o de
desestimular o fornecedor, punindo a conduta nociva por ele adotada.

PREVENÇÃO (LER OS ARTIGOS 83 E 84 DO CDC)

O direito à prevenção do dano material ou moral garante


ao consumidor o direito de ir a juízo requerer tutelas de urgência, de requerer
as tutelas específicas da obrigação e, ainda, a possibilidade de propor
quaisquer ações em defesa de seus interesses, hábeis à prevenção do dano.
A antecipação de tutela no CDC tem previsão legal
específica (ART. 84, §3º DO CDC – exige a relevância do fundamento da
demanda e o fundado receio de ineficácia do provimento final). O art. 273 do
CPC exige mais, que exista prova inequívoca, a verossimilhança da alegação e
que haja receito de dano irreparável ou de difícil reparação OU, AINDA, que
fique caracterizado o abuso de defesa ou propósito protelatório.

34
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Inciso VII - acesso aos órgãos Judiciários e Administrativos e proteção


aos necessitados: decorre da inafastabilidade do controle jurisdicional, art. 5o,
XXXV da Constituição Federal. O art. 6o, VII do CDC inviabiliza, por exemplo,
que seja instituída a arbitragem em contratos de consumo, antes da verificação
do conflito de interesses.
A arbitragem só é possível quando introduzida
posteriormente ao litígio, através de compromisso arbitral.
Acesso à Justiça e proteção aos necessitados andam
juntos, na medida em que, para que estes tenham acesso à justiça, deve lhes
ser assegurada assistência jurídica integral, com dispensa do pagamento das
custas e de advogado.
Cumpre notar que a assistência jurídica engloba a
assistência judicial e a assistência extrajudicial (consultoria e assessoria antes
da propositura da ação).
O acesso aos órgãos administrativos compreende o
acesso ao Procon, às Vigilâncias Sanitárias, à Sunab, ao Inmetro, Ipem,
formulando denúncias ou reclamações.

Inciso VIII – Inversão do ônus da prova.

Em linhas gerais, as normas que constam do CPC só se


aplicam aos processos de defesa do consumidor naquilo que não forem
incompatíveis. Isso ocorre também com relação às provas, cujas regras estão
previstas nos arts. 332 a 443 do CPC.
As regras referentes às provas estabelecidas pelo CDC
são próprias de um sistema em que o consumidor é vulnerável e, por vezes,
hipossuficiente.
A isonomia processual real, portanto, exige que lhe seja
dado um tratamento distinto àquele conferido pelo CPC.
Já houve a instituição da responsabilidade civil objetiva
para dispensar a prova do dolo ou culpa, facilitando a defesa do consumidor.
Basta ao consumidor provar a conduta lesiva, o dano e o nexo de causalidade
entre eles.

35
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Por vezes, basta a prova da colocação do produto ou do


serviço no mercado, o dano e o nexo de causalidade, porque muitas vezes o
dano decorre apenas da colocação do produto defeituoso no mercado de
consumo.
Toda prova processual, em princípio, deve ocorrer na
forma estabelecida pelo art. 333 do CPC. Entretanto, o CDC tem normas
específicas que, em determinadas situações, afastam a incidência do art. 333
do CPC.
O CDC estabeleceu a inversão do ônus da prova como
um direito básico do consumidor.

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA “OPE JUDICIS” – A CRITÉRIO DO JUIZ

Está prevista esta modalidade de inversão do ônus da


prova no art. 6º, VIII do CDC, que relega ao critério do juiz a inversão do ônus
da prova, quando presentes a verossimilhança das alegações OU a
hipossuficiência do consumidor.

CRITÉRIO não se confunde com arbítrio, pois implica em


um juízo de comparação, julgamento e de apreciação.
A decisão do juiz não é discricionária, ou seja, não está
fundada em razões de conveniência e oportunidade. A DECISÃO DO JUIZ
DEVE SER FUNDAMENTADA NA LEI A PARTIR DA CONSTATAÇÃO DE
DADOS OBJETIVOS NO PROCESSO, em decorrência do dever de
fundamentação das decisões judiciais, estabelecido pelo art. 93, IX da
Constituição Federal.
Presentes a verossimilhança da alegação OU a
hipossuficiência do consumidor DEVE o juiz inverter o ônus da prova.
VEROSSIMILHANÇA implica em forte conteúdo
persuasivo, que pode ser percebido após a contestação (EM RAZÃO DA
GRAVIDADE DA PROVIDÊNCIA É CONVENIENTE AGUARDAR O
CONTRADITÓRIO).
Trata-se de um conceito indeterminado, relegado ao bom
senso do juiz. Trata-se de um juízo de probabilidade – PROVAVELMENTE A

36
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

NARRATIVA É VERDADEIRA – É MAIS DO QUE UM JUÍZO DE


POSSIBILIDADE.
HIPOSSUFICIÊNCIA (+ do que a vulnerabilidade) implica
no desconhecimento técnico e informativo das informações acerca do produto
e do serviço, tais como as suas propriedades, o seu funcionamento, etc.
Não tem relevância aqui o elemento patrimonial, uma vez
que, ainda que o consumidor seja mais abastado economicamente, poderá ser
invertido o ônus da prova.

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA “OPE LEGIS” – EM VIRTUDE DA LEI

Está prevista no art. 38 do CDC, que acarreta àquele que


patrocina a comunicação publicitária o ônus de provar a veracidade e a
correção da informação que veicula. Se o danoninho vale por um bifinho tem
que provar. Contar caso Vigonal – CONAR.
Aqui não existe campo para o critério do juiz. Se o
consumidor ingressa em juízo questionando a veracidade da comunicação
publicitária, o ônus da prova é do fornecedor.

MOMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A doutrina e a jurisprudência não chegaram a um


consenso sobre esse tema. Duas grandes correntes dividem a maioria dos
doutrinadores. Para uma, a inversão do ônus da prova deve ocorrer na
sentença, ou imediatamente antes da sentença. Para a outra, a inversão do
ônus da prova deve ocorrer até o saneador ou no saneador.
Ambas as correntes são sustentadas por doutrinadores de
relevo e por inúmeros acórdãos dos diversos Tribunais do país.

Inciso X – adequada e eficaz prestação dos serviços públicos.

Decorre do princípio da eficiência dos serviços públicos,


inserido no art. 37, “caput” da Constituição Federal, em decorrência da emenda

37
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

constitucional 19/98. Não basta a continuidade dos serviços públicos. Tem eles
que ser, antes de mais nada, eficientes.
Contar caso Campo Limpo Servical, que conseguiu a
eficiência dos serviços públicos.

LER ARTS. 8 A 10 DO CDC.

2.5 – Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço.

RESPONSABILIDADE PELO FATO RESPONSABILIDADE PELO FATO


DO PRODUTO – pressupõe a DO SERVIÇO – pressupõe a
existência de um acidente de existência de um acidente de
consumo, verificado na venda de um consumo, verificado na prestação de
produto. Ex: venda de um produto um serviço. Ex: conserto de telhado
“diet”, que contém açúcar, para que, na primeira chuva, provoca o
diabético, que morre. alagamento da casa, danificando
todos os móveis. Queda do avião da
TAM.
PREVISÃO LEGAL: art. 12 do CDC. PREVISÃO LEGAL: art. 14 do CDC.

RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO


DO PRODUTO: pressupõe a DO SERVIÇO: pressupõe a existência
existência no produto de uma no serviço de uma característica que
característica que lhe torne impróprio lhe torne impróprio ou inadequado ao
ou inadequado ao consumo ou que, consumo ou que, ainda, lhe diminua o
ainda, lhe diminua o valor. Ex: carro valor. Ex: instalação de box, que
riscado. permite o alagamento do banheiro.
PREVISÃO LEGAL: arts. 18 (vícios PREVISÃO LEGAL: art. 20 do CDC.
de qualidade) e 19 (vícios de
quantidade) do CDC.

Os artigos 12 a 14 do CDC tratam dos defeitos dos


produtos e dos serviços e da responsabilidade civil deles decorrente. A
responsabilidade civil traçada pelo CDC parte do princípio de que os vícios e os
defeitos são características inerentes ao mercado de consumo.
38
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

E isso é verdade, posto que são inerentes à produção


industrial (de massa) o vício e o defeito. Por mais cauteloso que seja o
fornecedor, sempre acabarão ocorrendo na produção vícios e defeitos.
Se fosse possível eliminar os vícios e defeitos, a
conseqüência disso seria inviabilizar a competitividade dos produtos e dos
serviços no mercado de consumo, tornando-os demasiadamente caros.
Já, portanto, que os vícios e os defeitos fazem parte da
produção de massa, nada mais natural que quem ordinariamente aufere o lucro
arque também com o prejuízo. Trata-se da teoria do risco da atividade,
segundo a qual o empreendedor deve embutir no preço dos seus produtos os
valores das indenizações que certamente terá que arcar, partindo-se da
premissa de que em toda a produção existem produtos viciados e defeituosos.
A responsabilidade civil objetiva, adotada pelo CDC, tem
por fundamento essa teoria do risco da atividade ou do negócio. A teoria do
risco da atividade é a BASE DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.

2.5.1 A teoria do risco da atividade.

Como já dito, com a revolução industrial, houve a


aglomeração de pessoas nos grandes centros urbanos, aumentando a
complexidade social. Passou a existir mais mão de obra e aumentou a
demanda, dando origem à produção em série.
O século XX teve início sob esse novo modelo de
produção e de escoamento da produção: fabricação em série, oferta em série,
padronização e uniformização dos produtos, tudo para diminuir o custo e atingir
um maior número de consumidores.
SÃO CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO EM SÉRIE O
VÍCIO E O DEFEITO.
A produção artesanal já dá margem a falhas, na medida
em que o ser humano é por essência falível. Na produção em série as falhas
humanas atingem toda uma série de produtos, tornando-os viciados ou
defeituosos.
Para evitar esses vícios e defeitos seria necessário elevar
os demasiadamente os custos, inviabilizando o preço final do produto,

39
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

restringindo o acesso amplo ao mercado de consumo, grande benesse da


produção em massa.
O fornecedor permanentemente corre o risco, portanto, de
inserir no mercado produtos e serviços defeituosos. Ainda que o risco de vício
venha a ser ínfimo, em razão da grande escala de produção sempre surgirão
defeitos. Ex.: defeito de 0,1% em 100.000 unidades representa a introdução no
mercado de 100 produtos defeituosos.
Se os vícios e defeitos são inevitáveis, deve o CDC
garantir o ressarcimento dos consumidores pelos prejuízos sofridos. Para
ensejar o ressarcimento, basta a colocação do produto defeituoso ou viciado no
mercado. Não se perquire de dolo ou culpa do fornecedor.
Não é justo sob o prisma da isonomia que 99.900
consumidores recebam o produto em perfeitas condições e que cem fique no
prejuízo. Por isso, a indenização desses 100 produtos defeituosos deve já estar
englobada no risco da atividade, elevando um pouco o custo final do produto a
fim de repartir o prejuízo do defeito entre todos indistintamente.
Por isso se justifica a responsabilidade objetiva do
fornecedor. Na verdade, não é ele quem está pagando a indenização dos
vícios e defeitos, porque esta já está embutida no custo.
A Constituição Federal garante a exploração da atividade
econômica (CF art. 170) desde que em harmonia com uma série de outros
princípios.
Uma das várias características da atividade econômica é
o risco. Todo negócio implica em risco. A ação do empreendedor pode ter
sucesso ou fracassar. Cabe ao empresário sopesar os riscos do negócio. Se
houver erro de cálculo o negócio vai à falência. O risco sempre é do
empresário.
O fornecedor não pode abaixar o preço, e assim diminuir
o risco da atividade (quanto menor o preço geralmente é menor a qualidade). A
qualidade dos produtos é essencial porque configura pressuposto ao
atendimento do direito básico do consumidor à proteção à saúde, à segurança
e à durabilidade. Não há como entender que o produto é de qualidade quando
não foram atendidos os direitos básicos do consumidor.

40
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

AUSÊNCIA DE CULPA DO FORNECEDOR

A responsabilidade objetiva foi adotada porque, além da


dificuldade de prova da culpa por parte do consumidor, muitas vezes o
fornecedor não tem culpa do vício ou defeito.
Como já dito, na produção em larga escala vícios e
defeitos são inevitáveis, a não ser com prejuízo ao mercado de consumo.
Ainda que não tenha o fornecedor se omitido negligência, imprudência ou
imperícia, os vícios e defeitos existirão.
As modernas linhas de produção contam com um sem
número de profissionais que objetivam evitar que produtos viciados cheguem
ao mercado (controle de qualidade). Ainda assim, os vícios acontecem.
A exigência da demonstração de culpa do fornecedor
acarretaria a impossibilidade de ressarcimento do dano pelo consumidor. Sem
falar que para o consumidor, que não tem acesso ao sistema de produção, a
prova técnica é praticamente impossível.
Se o fornecedor corre o risco de lucrar E QUASE
SEMPRE ELE LUCRA nada mais justo que também corra o risco de ter
prejuízo. Não pode o lucro ficar com o fornecedor e o prejuízo com o
consumidor.
ATÉ 10 DE MARÇO DE 1991, DATA EM QUE ENTROU
EM VIGOR O CDC, ERA O CONSUMIDOR QUEM ARCARVA COM O
PREJUÍZO. AGORA, O RISCO DO NEGÓCIO É TODO DO FORNECEDOR.

2.5.2 Distinção entre vício e defeito.

O CDC faz grande confusão entre vício e defeito ao


pretender distinguir tais conceitos. Os defeitos são tratados nos arts. 12 a 14 e
os vícios nos arts. 18 a 20 do CDC.
O que é vício?
Vícios são as características de qualidade ou quantidade
que tornam os produtos ou serviços:

41
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

- IMPRÓPRIOS AO CONSUMO (INVIABILIZA O SEU USO) – venda nos


supermercados de produtos estragados; carro que não pega; geladeira que
não gela; aquecedor de água que não aquece;
- INADEQUADOS AO CONSUMO (DIFICULTA O SEU USO) – carro que
ferve; televisão que depois de uma hora deixa a imagem tremida; aparelho de
DVD que não lê parte dos DVDs;
- MENOS VALIOSOS (DIMINUI O SEU VALOR) – carro riscado, geladeira
riscada;
- DIFERENTES DO QUE FORA VEICULADO NA OFERTA, OU NAS
INDICAÇÕES DO RECIPIENTE, EMBALAGEM, ROTULAGEM, MENSAGEM
PUBLICITÁRIA, ETC.. – conteúdo líquido diverso daquele que foi indicado na
embalagem.

Vícios são características do produto ou serviço em


desacordo com as expectativas legítimas do consumidor, decorrentes da
oferta, do contrato e da natureza do produto ou serviço.

Exemplos de vícios:
- aspirador de pó que não funciona ou desliga após cinco minutos de uso;
- televisão com imagem turva, sem som ou riscada (diminui o valor) contar caso
da televisão riscada que eu ia comprar;
- automóvel cujos faróis não acendem ou que não dá a partida;
- vidro de maionese ou pacote de bolacha que indicam peso ou conteúdo além
do real;
- serviço de conversão do fogo que acarreta o vazamento de gás;
- parede mal pintada;
- execução dos serviços em desacordo com o que está estabelecido no
contrato;
- carpete que descola;
- serviço de encanador que vaza;
- extravio de bagagem no transporte aéreo.

O que é defeito?

42
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

O defeito é mais que o vício, porque pressupõe a sua


existência. Há vício sem defeito mas não há defeito sem vício. Enquanto que o
vício diz respeito ao produto ou ao serviço em si mesmo, o defeito vai além
causando dano maior ao consumidor.
O defeito pressupõe um problema extra, uma
característica extrínsica (distinta/fora) ao produto ou serviço, que causa dano
maior ao consumidor que simplesmente o mau funcionamento ou não
funcionamento.
O vício em si já causa danos ao consumidor. Os danos
causados pelo defeito são mais devastadores. O defeito causa, além do dano
do vício, outro dano ao patrimônio jurídico material e/ou moral do consumidor.
O vício é uma característica do produto ou serviço e
jamais atinge a pessoa do consumidor ou outros bens seus. O defeito vai além
do vício atingindo a pessoa do consumidor ou outros bens seus.
QUANDO EXISTE DEFEITO EXISTE ACIDENTE DE
CONSUMO.

2.5.3 Fato do produto e do serviço

Em decorrência da responsabilidade objetiva, o que


importa é o fato decorrente do produto ou do serviço (acidente de consumo).
Para que surja o dever do fornecedor de indenizar basta a colocação do
produto defeituoso no mercado e o dano dele decorrente por parte do
consumidor.

ART. 12 DO CDC (RESPONSABILIDADE PELO DEFEITO DO PRODUTO) –


INDENIZAÇÃO DOS DEFEITOS.

O DEVER DE INDENIZAR COMPREENDE OS DANOS MATERIAIS


(LUCROS CESSANTES + DANOS EMERGENTES) E MORAIS,
DECORRENTES DO PRODUTO.

O art. 12, “caput” do CDC faz referência à “reparação dos


DANOS causados aos consumidores”. Estamos tratando, pois, de defeito.

43
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Como já visto, o art. 17 do CDC equipara a consumidores


as vítimas do acidente de consumo. Ocorrendo acidente de consumo, então,
não só os consumidores do art. 2º, “caput” do CDC, mas como também todas
as pessoas atingidas pelo evento tuteladas pelas regras de responsabilidade
civil previstas no CDC.
Vem decidindo a jurisprudência que os familiares dos
consumidores vítimas do acidente de consumo (consumidores diretos ou
equiparados) têm direito à indenização por dano material e moral. Isso porque
a indenização devida ao consumidor alcança seus sucessores. Ex.: a
indenização à família das pessoas que morreram no acidente da TAM,
compreendeu dano moral (dor da perda) e dano material (muitas famílias
dependiam para sobreviver daqueles falecidos). Os valores de indenização
ainda costumam ser baixos.

QUEM RESPONDE PELOS DANOS?

Aqui vai importar aquela distinção feita anteriormente


entre o gênero “fornecedor” e as espécies de fornecedor “fabricante, produtor,
construtor, etc.”.
O art. 12 do CDC, que trata do defeito, ao invés de utilizar
o gênero “fornecedor” faz menção a algumas espécies apenas “fabricante,
produtor, construtor e importador”.
O art. 18, por exemplo, que trata do vício, faz referência
ao gênero “fornecedor”, permitindo que o consumidor volte sua pretensão
contra qualquer um daqueles que participou da cadeia produtiva e do
escoamento da produção: fabricante, importador, vendedor, etc..
Havendo o dano, ou seja, um acidente de consumo
decorrente da aquisição de um produto, a ação do consumidor tem,
necessariamente, que ser proposta contra o responsável pelo defeito
“fabricante, produtor, construtor ou importador”. Ex: no caso do edifício “Palace”
a ação foi voltada contra a construtora. Se o produto for importado, a ação
deve ser voltada contra o importador.

O DEFEITO

44
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

O art. 12, “caput” trata de defeito do produto, que pode se


apresentar no projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação, acondicionamento, além do fornecimento de
informações insuficientes ou inadequadas sobre o risco e a forma de utilização
do produto. Tal elenco do art. 12, “caput” é MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO,
porque varia de acordo com o produto. Qualquer outra possibilidade ligada ao
produto, antes, durante ou após a fabricação pode ser qualificada como defeito,
quando gera dano. Pode-se falar ainda em transporte do produto, guarda,
confecção, etc..

O DEFEITO (DANO) PODE DECORRER DA PUBLICIDADE OU DA OFERTA

Por vezes, a informação falsa que constou da publicidade


ou oferta causa o dano.
Ex. do Professor Rizzatto: apartamento vendido mediante
visita a modelo decorado. O apartamento é pequeno mas absolutamente
funcional e com espaço que serve perfeitamente para guardar os móveis. Ao
receber as chaves o Consumidor percebe que não era bem assim porque os
seus móveis, padrão, não cabiam. O que aconteceu?
A corretora mobiliou o apartamento com móveis fora do
padrão de mercado (bem mais caros), a fim de que coubessem com perfeição
nos espaços. Os móveis de padrão do consumidor não servem.
Neste caso houve o dano correspondente à diferença do
preço dos móveis que o consumidor terá que adquirir porque os móveis fora do
padrão são mais caros.

O DEFEITO (DANO) PODE DECORRER DA INFORMAÇÃO

Como se sabe, a informação configura elemento inerente


ao produto ou serviço. Por vezes o dano não decorre do produto mas sim da
informação inadequada ou insuficiente que o acompanha ou que não o
acompanha.

45
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Exemplo do produto sem gordura que é vendido ao


consumidor enquanto “DIET”: se o consumidor é hospitalizado em decorrência
dessa informação errada, existe o defeito. Podem decorrer daí danos
emergentes (despesas de hospital), lucros cessantes (deixou de trabalhar
enquanto estava hospitalizado) e dano moral (teve sofrimentos, tomou
injeções, ficou internado, etc.).

SOLIDARIEDADE

A fabricação de qualquer produto envolve diversos


componentes, matéria-prima, insumos, peças, etc. O produto ainda geralmente
é embalado, transportado e deve conter informações adequadas.
Exemplo: empada tem o fornecedor do camarão,
fornecedor da farinha, fornecedor do freezer que armazena o camarão, etc.
O fabricante da empada responde pela infecção intestinal
dela decorrente, mas com ele responde solidariamente, por exemplo, o
fornecedor do camarão se o camarão estava estragado. FUNDAMENTO: ART.
7º e §§ 1º e 2º do art. 25 do CDC.
AINDA QUE A PROVA DA RESPONSABILIDADE DO
FORNECEDOR DO CAMARÃO SEJA DIFÍCIL, SEMPRE TERÁ O
CONSUMIDOR COMO DEMANDAR CONTRA O FABRICANTE.

PROVA DO DANO E NEXO DE CAUSALIDADE

O consumidor, em princípio, nos termos do art. 333, I do


CPC, deve provar o dano e o nexo de causalidade entre o dano e a colocação
do produto ou do serviço no mercado.
Feita essa prova, caberá ao responsável pelo produtor
pagar o valor da indenização.

EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE POR FATO DO PRODUTO (ART.


12, §3º DO CDC):

46
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

O fabricante, o produtor, o construtor e o importador só


não respondem pelo fato do produto se provarem (ônus da prova é desses
fornecedores por se tratar de fato extintivo do direito art. 333, II do CPC).

I – QUE NÃO COLOCARAM O PRODUTO NO MERCADO: o produto, por


exemplo, tem outro fabricante;
II – QUE, MUITO EMBORA O PRODUTO TENHA SIDO COLOCADO NO
MERCADO, O DEFEITO INEXISTE: o produto foi colocado perfeito no
mercado;
III – QUE OCORREU CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR OU DE
TERCEIRO:

CULPA EXCLUSIVA DO CULPA CONCORRENTE


CONSUMIDOR
O consumidor é o único responsável Tanto o fornecedor, ainda que através
pela ocorrência do dano, não tendo o de seus prepostos, quanto o
fornecedor colaborado, de forma consumidor concorreram para a
alguma, na configuração deste. ocorrência do dano.
pai que deixa produto venenoso, que pai que deixa veneno, que não
contém todas as advertências continha essa informação, ao alcance
necessárias nesse sentido, ao alcance do filho que o consome (o fornecedor
do filho que o consome. não informou e o pai não vigiou)

A culpa CONCORRENTE do consumidor não


configura circunstância excludente de responsabilidade. Apenas a culpa
exclusiva tem esse poder.

Quem é o terceiro?

Por terceiro, no caso da culpa exclusiva de terceiro,


entende-se aquela pessoa completamente estranha ao ciclo de produção (que
começa com a fabricação do produto ou a concepção do serviço e termina com
o escoamento dos produtos ou com a prestação dos serviços) ou à relação de
consumo.

47
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Se a pessoa que causou o dano pertence ao ciclo de


produção, não pode ser invocada a sua condição de terceiro, porque o
fornecedor é responsável por seus prepostos, nos termos do art. 34 do CDC.
Exemplo de caso de excludente da responsabilidade por
culpa exclusiva de terceiro: O CARRO TEM VÍCIO NO FREIO MAS, NA
VERDADE, QUEM CAUSOU O ACIDENTE FOI O OUTRO MOTORISTA, QUE
PASSOU NO FAROL VERMELHO.

Essas excludentes de responsabilidade do art. 12, §3º


configuram “numerus clausus” ou seja rol taxativo, representado pela
expressão “SÓ NÃO SERÁ RESPONSABILIZADO QUANDO PROVAR”. Em
todas as demais hipóteses, o fabricante, o produtor, o construtor e o importador
responderão.
NÃO CONFIGURAM EXCLUDENTES DE
RESPONSABILIDADE DO FATO DO PRODUTO O CASO FORTUITO E A
FORÇA MAIOR. Ambos são absorvidos pelo risco da atividade do fornecedor,
quando provocam o acidente de consumo.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO COMERCIANTE

O importador, que em verdade é comerciante e não


produtor, responde pelo enquadramento no art. 12 do CDC em razão da
dificuldade do consumidor processar ou reclamar do fabricante ou produtor
estrangeiros.
Afora a situação particular do importador, o comerciante
está, EM PRINCÍPIO, excluído da responsabilidade por defeito, com
fundamento no art. 12 do CDC, que afirma a responsabilidade do “fabricante”,
“produtor”, “construtor” e do “importador”.
O comerciante RESPONDE SOLIDARIAMENTE (“será
igualmente responsável”) nas hipóteses do art. 13 do CDC:
I – QUANDO O FABRICANTE, O CONSTRUTOR, O PRODUTOR OU O
IMPORTADOR NÃO PUDEREM SER IDENTIFICADOS;
II – QUANDO NÃO HOUVER NO PRODUTO IDENTIFICAÇÃO CLARA DO
FABRICANTE, PRODUTOR, CONSTRUTOR OU IMPORTADOR;

48
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

III – QUANDO O COMERCIANTE NÃO CONSERVAR ADEQUADAMENTE


OS PRODUTOS PERECÍVEIS.

Tratando-se de responsabilidade solidária, aquele que


pagar integralmente a indenização poderá propor ação de regresso contra os
demais.
Já se adianta, entretanto, que a denunciação à lide é
impossível, nos termos do art. 88 do CDC.

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO

O art. 14 do CDC também faz referência a uma espécie


apenas de fornecedor, no caso, o “fornecedor de serviços”. O termo mais
técnico seria “prestador de serviços”, mas está claro o objetivo do CDC de
fazer referência ao “prestador de serviços”, espécie do gênero fornecedor. O
mesmo tratamento incorreto consta dos arts. 20, 21 e 40 do CDC.

Vícios do serviço

Além das colocações já feitas anteriormente, pode-se


falar em vício do serviço toda vez que dele decorrer um funcionamento
insuficiente ou inadequado. Serviços viciados são aqueles que não atendem às
expectativas legítimas do consumidor.
Ex: serviço de desentupimento que o banheiro alaga;
parede mal pintada; extravio de bagagem no transporte aéreo; conversão do
meu fogão; atraso de vôo.
Esses vícios podem ser APARENTES OU OCULTOS.

Defeitos do serviço: exemplo do Professor Rizzatto das duas pessoas que


pagam o cartão de crédito e, por falha do sistema, os pagamentos não foram
acusados pela administradora. O Sr. “A” ficou sabendo da falha do sistema ao
pedir aumento do limite e, diante da negativa da administradora, passou um fax
com o recibo de pagamento e sanou o problema. O Sr. “B” ficou sabendo da

49
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

falha do sistema em um jantar de negócios e ficou constrangido na frente de


seu chefe.
Serviço de mudança que rasga o sofá.
Fogão que explode.
Avião que cai. Ônibus que bate.

Responsabilidade do prestador de serviços “fornecedor de serviços”

Não existe distinção de tratamento quanto à


responsabilidade pelo fato do serviço e pelo vício do serviço, no tocante aos
responsáveis. Sempre a responsabilidade será do prestador de serviços.
O prestador de serviços responde de forma objetiva pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes dos
serviços prestados, ou das informações insuficientes ou inadequadas sobre a
fruição e sobre os riscos.

Oferta, publicidade e informações causadoras do dano

Da mesma forma que ocorre com os produtos, também os


serviços podem ser considerados viciados se forem diferentes da oferta, da
publicidade ou da informação. Quanto a esta última, a falta de informação
essencial também fará configurar o fato do serviço.
Exemplo: pacotes de agências de viagem, que prometem
viagem fantástica, com hotéis cinco estrelas, pensão completa, linhas aéreas
de primeira. Quando o consumidor viaja, percebe que o vôo é fretado, os hotéis
sequer banheiro no quarto têm e não tem pensão completa.
Massagem e tratamentos para perder as gordurinhas
milagrosos anunciados, que causam danos morais às consumidoras.
Aplicações de botox que danificam a pele do consumidor.
Cabeleireiros que utilizam produtos para alisamento não
autorizados pela vigilância sanitária, que danificam a saúde dos consumidores.
Cirurgião dentista que extrai o dente do paciente mas não
informa que ele deverá tomar líquidos gelados para facilitar a cicatrização. Se o

50
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

consumidor tiver hemorragias em decorrência disso, estará configurado o fato


do serviço.

Solidariedade

Existem serviços que são prestados por um só prestador


de serviços: consulta médica, ensino, encanador. Outros serviços são
compostos por várias etapas, cada qual executada por um prestador: cartão de
crédito que depende do correio e dos bancos, serviço de atendimento ao
consumidor das empresas, que depende do telefone e da internet. Existem,
ainda, serviços que dependem de produtos, como os consertos em geral, que
demandam a troca de peças.
Há produtos que requerem a instalação e, assim, a
prestação de serviços. Carpetes, papéis de parede, boxes de banheiro, etc. Em
tais casos, pode um fornecedor vender e o outro instalar.
Todos aqueles que intervieram de alguma forma na
prestação do serviço respondem solidariamente, ressalvado o direito de
regresso contra o real causador do dano. FUNDAMENTO: ART. 7º e §§ 1º e 2º
do art. 25 do CDC.

Autorização governamental.

Ainda que exista autorização estatal ou governamental


para a prestação de certos serviços (taxista, banca de jornal, bancos, seguros,
consórcio, etc.), a responsabilidade sempre será do prestador de serviços.
Se, no entanto, a omissão do Poder Público contribuir
para o dano, o ente responderá solidariamente, nos termos do art. 7 o, parágrafo
único do CDC. Ex: falta de fiscalização da segurança dos táxis ou do abuso por
parte dos bancos.

Resultado e riscos razoáveis do serviço - art. 14, §1º, II do CDC.

O serviço não é considerado defeituoso quando o


resultado danoso é esperado de certa forma. Ex1: é inerente à viagem de avião

51
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

a turbulência. Se a turbulência acontece e o passageiro tem um infarto, a


empresa aérea não responde. Ex2: mergulho livre em Bonito implica em certos
riscos, que são previamente avisados, como picada de cobra e ataque de
jacaré. Se eles acontecerem, não poderá o turista reclamar, a menos que
exista deficiência no sistema de socorro. Outros diversos serviços implicam em
riscos: mergulho autônomo, bungee junpee, passeio de barco, serviços
médicos e odontológicos, montanha russa, etc..
Vale lembrar que o risco deve estar aliado à informação.
Se não houver a informação o defeito não estará no resultado danoso, mas sim
na falta de informação prévia.
Da mesma forma, não é considerado VICIADO o serviço
que for dotado de um certo risco, desde que haja a prévia informação do
consumidor. Muito embora esta ressalva não esteja expressada no art. 20 do
CDC, assim entende a doutrina. Alguns autores entendem que esse raciocínio
decorre da interpretação do art. 20, §2º do CDC.
Os serviços prestados por alguns profissionais liberais
(advogado, médico, dentista, etc.), por exemplo, implica em certo risco, na
medida que os profissionais não têm como assegurar-lhes o resultado. Por isso
que para a responsabilização dos profissionais liberais exige-se a prova da
culpa (responsabilidade subjetiva).

Utilização de técnicas mais modernas.

A ressalva do §2º do art. 14 na verdade deveria estar no


art. 20, porque o serviço não é VICIADO pela adoção de técnicas mais
modernas. A utilização de técnicas mais modernas seria causa de desvalia do
serviço e não causa de danos ao consumidor extrínsecos ao serviço.
Ex: 1 - academias com esteiras aquáticas e academias
com esteiras mecânicas. Os serviços desta última não são considerados
viciados ou defeituosos em razão da antiguidade dos equipamentos. 2 –
técnicas de cirurgia empregando a laparoscopia e o corte.

Excludentes da responsabilidade pelo fato do serviço – (art. 14, §3º DO


CDC).

52
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

O rol é taxativo, representado na expressão só. O caso


fortuito e a força maior não incidem. Se o raio cai e aumenta a tensão da linha
responde o fornecedor de energia elétrica, em decorrência do risco da
atividade.
A culpa exclusiva do consumidor estará configurada, por
exemplo, quando o paciente não segue as recomendações do dentista ou do
médico e, em decorrência apenas disso, o defeito acontece.
SE O ACIDENTE FOI CAUSADO POR PREPOSTO DO
PRESTADOR DE SERVIÇOS, NÃO HÁ O QUE SE FALAR EM CULPA
EXCLUSIVA DE TERCEIRO (ESTRANHO À RELAÇÃO JURÍDICA),
CONFORME DISPOSTO NO ART. 34 DO CDC.

2.6 RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO.

Consideração de caráter geral: o vício pode ser de fácil constatação ou


estar oculto.

O vício é oculto quando possuir as seguintes


características:
- não puder ser verificado no mero exame do produto ou do serviço;
- ainda não estiver provocando a impropriedade ou inadequação ou diminuição
do valor do produto ou serviço.
Do contrário, o vício é aparente.
Exemplo de vício oculto: carro que a 120 Km por hora
treme a direção. Exemplo de vício aparente: carro que tem risco grande na
porta do motorista.
A avaliação desse caráter do vício deve ser feita caso a
caso.

OS VÍCIOS DO PRODUTO DIVIDEM-SE EM VÍCIOS DE QUALIDADE (ART.


18 DO CDC) E EM VÍCIOS DE QUANTIDADE (ART. 20 DO CDC).

Vícios de qualidade (art. 18 do CDC):

53
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

A – tornam o produto impróprio ao consumo a que se destina;


B – tornam o produto inadequado ao consumo a que se destina;
C – diminuem o valor do produto;
D – estejam em desacordo com o contido:
I – no recipiente ou na embalagem (lata, pote, garrafa, caixa, saco, etc.);
II – no rótulo (informação estampada no recipiente ou na embalagem);
III – na publicidade;
IV – na apresentação (balcão, vitrine, prateleira, etc.);
V – na oferta ou na informação (folheto, contrato, informação verbal, etc.).

Vícios de quantidade (art. 19 CDC):

Haverá vício de quantidade toda a vez que houver o


consumidor pago preço maior do que aquele correspondente à quantidade ou
metragem do produto que lhe foi oferecida. O vício estará caracterizado no fato
do consumidor ter pago a mais do que aquilo que lhe foi oferecido.
Estaremos diante do vício de quantidade do produto,
portanto, toda a vez em que o consumidor recebê-lo em quantidade inferior
àquela paga.
NÃO HAVERÁ VÍCIO DE QUANTIDADE QUANDO A
VARIAÇÃO ENCONTRADA DECORRER DA NATUREZA DO PRODUTO.
EXEMPLO: COMBUSTÍVEL QUE DILATA; DIVERGÊNCIAS ENTRE AS
BALANÇAS ACEITAS PELO INMETRO.
Existe o vício de quantidade quando o produto é pesado
juntamente com a embalagem, sem o desconto devido.

RESPONSABILIDADE

É do gênero fornecedor, como já falado anteriormente.


Podem ser responsabilizados todos aqueles que contribuíram para a colocação
do produto no mercado. Exemplo: a fábrica das peças automotivas, a
montadora, a concessionária e a loja em que foi adquirido o automóvel.

PRAZO PARA A RECLAMAÇÃO DO VÍCIO – art. 26, I e II do CDC

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Tem o consumidor trinta dias para a reclamar,


tratando-se de produtos não duráveis, e noventa dias, tratando-se de produtos
duráveis.
A reclamação terá que ser comprovadamente
formulada a qualquer um dos fornecedores e o prazo decadencial estará
interrompido até que haja a resposta negativa do fornecedor. Se o fornecedor
ficar retardando, estará interrompido o prazo decadencial.
Durante o prazo de garantia legal ou contratual,
pode o consumidor reclamar.

RECLAMAÇÃO QUANTO AO VÍCIO DE QUALIDADE DO PRODUTO – art.


18 do CDC.

FEITA A RECLAMAÇÃO deverá ser o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias. Esgotado este prazo e persistindo o vício, terá O CONSUMIDOR as
seguintes opções:
- pleitear a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca e
modelo (SE NÃO FOR POSSÍVEL PODE SUBSTITUIR POR OUTRO
PRODUTO DA MESMA ESPÉCIE, DE MARCA E MODELOS DIVERSOS,
MEDIANTE COMPLEMENTAÇÃO OU RESTITUIÇÃO DA DIFERENÇA DO
PREÇO – CF. §4º DO ART. 18);
- pleitear a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo das perdas e danos;
- pleitear o abatimento proporcional do preço.

ESSE PRAZO É CONTADO UMA VEZ SÓ E A


ESCOLHA É PRIVATIVA DO CONSUMIDOR, SEM QUE HAJA DIREITO À
IMPUGNAÇÃO PELO FORNECEDOR!!!

OPÇÃO IMEDIATA – Pode o consumidor fazer uma dessas opções


imediatamente se a substituição das partes viciadas puder comprometer a
qualidade ou características do produto (substituição do braço da escultura ou
retoque da pintura), diminuir-lhe o valor (substituição do capô ou do motor do

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

carro novo) ou tratar-se de produto essencial (destina-se à manutenção da vida


– ex. remédio, aparelho medidor de glicose para diabéticos e de pressão para
hipertensos).
Em caso de descumprimento, poderá o consumidor
propor a ação de obrigação de fazer, prevista no art. 84 do CDC.

RECLAMAÇÃO QUANTO AO VÍCIO DE QUANTIDADE DO PRODUTO – art.


19 do CDC.

FEITA A RECLAMAÇÃO deverá ser o vício sanado IMEDIATAMENTE PELO


FORNECEDOR, atendendo à escolha do consumidor por uma das seguintes
opções:

- abatimento proporcional do preço;


- complementação do peso ou medida;
- substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem
aqueles vícios. PODE SER PRODUTO DE ESPÉCIE DIVERSA, DESDE QUE
COMPLEMENTADA A DIFERENÇA OU MEDIANTE O SEU REEMBOLSO.

NÃO EXISTEM EXCLUDENTES DE


RESPONSABILIDADE DO VÍCIO DO PRODUTO. AINDA QUE O CDC NÃO
TENHA REFERIDO EXPRESSAMENTE, SE O FORNECEDOR PROVAR
QUE O PRODUTO FOI COLOCADO NO MERCADO SEM O VÍCIO, ESTARÁ
AFASTADA A SUA RESPONSABILIDADE.

As alternativas são exclusivas do consumidor. Se não


cumprir, pode ser proposta a ação a que alude o art. 84 do CDC.

As garantias legais são de, respectivamente, trinta e


noventa dias, para produtos não duráveis e duráveis. Contra isso não pode se
opor o fornecedor. Carros usados, por exemplo, têm essa garantia. Art. 26, I e
II do CDC.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

PONTA DE ESTOQUE - PODE VENDER PRODUTO VICIADO (PONTA DE


ESTOQUE), DESDE QUE INFORME O VÍCIO EXPRESSAMENTE AO
CONSUMIDOR. A APARÊNCIA NO PRODUTO DE VÍCIOS DIVERSOS
DAQUELE INFORMADO DESENCADEARÁ A PROTEÇÃO AO
CONSUMIDOR, PREVISTA NO CDC.

RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO SERVIÇO

A responsabilidade pelo vício do serviço está prevista no


art. 20 do CDC, que também classifica os vícios do serviço em vícios de
qualidade e vícios de quantidade.
Consistem os vícios de qualidade nas características que
tornam o serviço prestado impróprio ao consumo, diminuem o seu valor ou,
ainda, que estejam em desacordo com a oferta, mensagem publicitária, etc..
De outro lado, haverá vício de quantidade toda a vez que a quantidade de
serviço executada for inferior àquela contratada ou paga.
Muito embora o art. 20 do CDC não trate expressamente
dos vícios de quantidade, a doutrina entende que eles existem.
Exemplo de vício de qualidade – conserto do mal
contato do liquidificador que queima o seu motor. Exemplo de vício de
quantidade – pintor que foi contratado para pintar a casa e inteira e só pintou
metade.

Responsabilidade pelo vício do serviço – é do prestador de serviço, assim


como ocorre nos casos de defeito. NÃO EXISTE DIFERENÇA.

Solidariedade – todos aqueles que intervieram no ciclo produtivo respondem


pelo vício do serviço.

As variações naturais decorrentes da natureza do serviço NÃO


CONFIGURAM VÍCIO. Ex. pintura que suja depois de um tempo e carpete que
descola depois de um tempo.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Constatado o vício do serviço do serviço o consumidor, IMEDIATAMENTE,


pode pedir à sua escolha e alternativamente:
- a reexecução dos serviços, sem custo adicional, quando cabível
(determinadas plásticas não podem ser feitas novamente);
- a restituição imediata da quantia paga, sem prejuízo das perdas e danos;
- o abatimento proporcional do preço.

2.7 – Decadência e prescrição.

Para Zelmo Denari não existe qualquer distinção entre


decadência e prescrição, na medida em que ambos os institutos expressam o
perecimento de direitos subjetivos.
A doutrina, entretanto, estabelece sim distinções entre a
prescrição e a decadência, a saber:

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Tem como objeto a ação Tem como objeto o próprio direito
A ação nasce em momento posterior à O exercício da ação e o exercício do
constituição do direito direito são simultâneos
Admite que o prazo seja suspenso ou Corre contra todos. Prazo fatal, não se
interrompido. suspende nem interrompe.
É vedado o seu conhecimento de Deve ser conhecida de ofício pelo juiz.
ofício pelo juiz nas ações patrimoniais.
Aplica-se às ações condenatórias Aplica-se às ações constitutivas
(ação visando o abatimento do preço). (rescisão do contrato).

O CDC, no que concerne aos prazos de garantia,


estabelece a garantia legal e a garantia contratual. A garantia legal está
prevista no art. 24, combinado com o art. 26 do CDC, estabelecendo prazo
para reclamação de trinta dias, tratando-se de produtos e serviços não
duráveis, e de noventa dias, tratando-se de serviços e produtos duráveis.
A garantia legal estabelece um prazo de garantia mínimo,
que não poderá NUNCA ser subtraído do consumidor.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Pode, no entanto, além da garantia legal, conceder o


fornecedor ao consumidor a garantia contratual, complementar à primeira. A
garantia contratual está prevista no art. 50 do CDC.
Há quem entenda, por conta da expressão
“complementar”, disposta no art. 50 do CDC, que, uma vez concedida a
garantia contratual, seu prazo deve ser somado à garantia legal.
Por exemplo: se na venda de uma televisão o fabricante
concede o prazo de garantia de um ano, para os adeptos dessa corrente, teria
o consumidor um ano e noventa dias para reclamar, resultado da soma da
garantia legal à garantia contratual.
Discordamos desse entendimento, com fundamento no
princípio da harmonização dos interesses dos fornecedores e consumidores.
Para nós prevalece sempre a garantia que for maior.
Cumpre notar, no entanto, que o PROCON vem, em
muitos casos, conseguindo a soma dos prazos de garantia legal e contratual
junto ao fornecedor.
A fim de conferir segurança jurídica às relações de
consumo, evitando reclamações muito antigas, o CDC estabelece dois prazos
decadenciais, APLICÁVEIS NOS CASOS DE VÍCIO DO PRODUTO OU DO
SERVIÇO, conforme disposto no art. 26 do CDC:
- 30 dias para serviço e produtos não duráveis;
- 90 dias para serviço e produtos duráveis.

Conta-se o prazo:
NOS CASOS DE VÍCIO APARENTE - a partir da entrega efetiva do produto ou
do término da execução do serviço. Ex. venda pela internet e serviço de pintura
que demora um mês para acabar.

NOS CASOS DE VÍCIO OCULTO – do momento em que ficar evidenciado o


vício.

Obstam a decadência:

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

- a reclamação COMPROVADA do consumidor perante o fornecedor, ATÉ A


NEGATIVA INEQUÍVOCA; Ex. consumidor tem que reclamar por AR, sendo
que, enquanto o fornecedor não negar categoricamente, não flui o prazo
decadencial;

- a instauração de inquérito civil até seu encerramento.

De seu turno, o CDC estabelece prazos


prescricionais apenas para os casos de DEFEITO DO PRODUTO OU DO
SERVIÇO, OU SEJA, NOS CASOS DE RESPONSABILIDADE PELO FATO
DO PRODUTO OU DO SERVIÇO, conforme dispõe o art. 27 do CDC.O prazo
prescricional corresponde a cinco anos, contados do conhecimento do dano E
DA SUA AUTORIA.
Desconhecida a autoria, não corre a
prescrição.
Também não corre a prescrição quando o consumidor ainda não se apercebeu
de que foi vítima de acidente de consumo.
Como as situações de prescrição nas relações de
consumo não se restringem ao fato do produto ou do serviço, comporta
aplicação subsidiária o Código Civil, tanto quando estabelece o prazo geral de
prescrição, de dez anos (art. 205 CC), quanto quando estabelece prazos
específicos de prescrição, dentre os quais:

- art. 206, §1°, I do CC – estipula prazo prescricional de um ano para a


cobrança das despesas de hospedagem e de alimentação, fornecidas no
próprio estabelecimento, pelos respectivos prestadores de serviços;

- art. 206, §3o, IX do CC – estipula o prazo prescricional de três anos da


pretensão do beneficiário contra o segurador, nos contratos de seguro;

- art. 206, §5°, II – estabelece o prazo prescricional qüinqüenal para a cobrança


dos honorários dos profissionais liberais.

60
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Dependendo do tipo de pretensão, condenatória ou


constitutiva, podemos ter a contagem de dois prazos decadenciais ou de um
prazo decadencial e outro prescricional.
Tratando-se de pretensão condenatória, decorrente do
vício do produto, obstada a decadência em decorrência da reclamação
comprovadamente formulada ao fornecedor, passará a fluir, a partir da negativa
por parte do fornecedor, o prazo prescricional.
Tratando-se de pretensão constitutiva, negada a
reclamação administrativa do consumidor, passará a fluir outro prazo
decadencial, desta vez visando a propositura da ação.

2.8 – Desconsideração da personalidade jurídica.

Já a partir da segunda metade do século XX são


conhecidas as estratégias do homem de, levando em conta a distinção da
pessoa jurídica em relação aos seus sócios, no aspecto pessoal e patrimonial,
criar uma pessoa jurídica com o fim exclusivo de lesar outras pessoas.
Por muito tempo tais procedimentos passaram impunes,
até que surgiu a teoria “disregard of legal entity” que, aos poucos, foi
incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro como, por exemplo, no Código
Tributário e no Código de Defesa do Consumidor.
O art. 28 do CDC trata da desconsideração da
personalidade jurídica da empresa, conferindo para o juiz o poder, que na
verdade é dever, de desconsiderar a personalidade jurídica da empresa em
uma série de situações.
Desconsiderar a personalidade jurídica da empresa não
significa dissolvê-la. Significa que, não obstante a dívida seja da pessoa
jurídica, poderá ser buscado o patrimônio pessoal dos sócios para suportá-la.
A desconsideração se dá “em detrimento do consumidor”,
ou seja, quando houver o prejuízo do consumidor, decorrente da ocorrência de
vícios, defeitos, nulidade contratual, etc..
O art. 28 do CDC traz um ROL EXEMPLIFICATIVO de
situações hábeis a desencadear a desconsideração da personalidade jurídica.
Em suma, será esta cabível quando a pessoa jurídica estiver sendo utilizada

61
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

para lesar consumidores e quando não houver bens da pessoa jurídica


suficientes para arcar com a pretensão do consumidor.
Havendo bens disponíveis da pessoa jurídica, não há
porquê buscar o patrimônio dos sócios.

ABUSO DO DIREITO – implica em uso do direito além do permitido. No caso, a


pessoa jurídica é utilizada como forma de lesar o consumidor, o que configura
abuso de direito.

EXCESSO DE PODER – implica em gestão da pessoa jurídica exorbitando os


poderes conferidos aos administradores nos estatutos ou contrato social. Trata-
se, em dúvida, de modalidade de abuso do direito.

O objetivo da norma é garantir o ressarcimento do


consumidor. Toda a vez que a pessoa jurídica estiver sendo usada como forma
de lesar o consumidor e de escudo para seus sócios, poderá ser
desconsiderada a sua personalidade jurídica.
Geralmente a desconsideração da personalidade jurídica
ocorre durante o processo de execução. Nada impede, entretanto, que ocorra
já no processo de conhecimento quando desde logo já se possui elementos no
sentido de que a pessoa jurídica está sendo desviada da sua finalidade e de
que não possui patrimônio para arcar com a pretensão do consumidor.
Desnecessária, no nosso entender, a existência de
contraditório prévio à desconsideração, na medida em que sempre restará a via
dos embargos à execução, ao menos, para discuti-la.

2.9 – PRÁTICAS COMERCIAIS.

Os artigos 29 e seguintes do CDC tratam das práticas


comerciais. Quase todas as medidas adotadas pelo fornecedor configuram
práticas comerciais, porque visam a colocação de produtos e serviços no
mercado à disposição do consumidor, de uma ou de outra forma.
Desde o projeto ou a concepção do produto ou serviço
está já o fornecedor pretendendo colocar o produto no mercado, o que confere

62
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

a tais providências a natureza de prática comercial. Também configuram


exemplos de práticas comerciais as chamadas técnicas de marketing, que
visam aproximar o consumidor dos produtos e serviços na sociedade
globalizada, os arquivos de consumo (bancos de dados e cadastro) e a os
mecanismos de cobrança de dívidas.
Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin conceitua
práticas comerciais como “os procedimentos, mecanismos, métodos e técnicas
utilizados pelos fornecedores para, mesmo indiretamente, fomentar, manter,
desenvolver e garantir a circulação de seus produtos e serviços até o
destinatário final.”.
A preocupação com as práticas comerciais decorre da
produção de massa que, por sua vez, acarretou uma circulação de produtos e
serviços de massa, transformando os fornecedores e, principalmente, os
consumidores em seres anônimos.
As práticas comerciais quando viciadas atraem
irregularmente os consumidores para os produtos e serviços, prejudicando sua
liberdade de escolha e, conseqüentemente, o mercado.

O MARKETING

Ulf Bernitz conceitua Marketing como “todas as medidas


que se destinam a promover a comercialização de produtos, serviços e outras
coisas de valor.”.
O processo de industrialização dos produtos e serviços,
em substituição ao processo artesanal, trouxe também a necessidade de
aprimorar o escoamento dos produtos e serviços, por diversas razões, dentre
as quais o aumento do número de consumidores e a dificuldade de sua
localização nas megalópoles.
Surgiram, já naquela época, as técnicas de marketing,
mecanismos visando levar ao conhecimento do consumidor a existência de
produtos e serviços.
As maiores expressões do Marketing, no direito do
consumidor, consistem na publicidade e nas promoções de vendas (venda
promocional, ofertas não publicitárias, etc.). Entretanto, muito embora a

63
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

publicidade esteja muito identificada com o marketing, não se tratam de


sinônimos, sendo o marketing gênero e a publicidade espécie.
O marketing, entretanto, não se esgota na publicidade.
Configuram expressão do Marketing e não da publicidade, por exemplo, as
vendas de produtos e serviços oferecidas aos consumidores por telefone e, no
geral, outras modalidades de oferta direcionadas para um consumidor
determinado e não para um número indeterminado de consumidores de forma
distinta, o que configuraria a publicidade.
O direito do consumidor controla o marketing, enquanto
prática comercial, em decorrência da necessidade de estabelecer padrões de
conduta, que prevalecem sobre a livre iniciativa.

A OFERTA

A oferta do direito civil era feita de forma individualizada.


Tratava-se de uma manifestação de vontade que visava levar à outra pessoa a
intenção de contratar e as condições do contrato.
Tratava-se da oferta de um negócio para alguém
determinado.
Emitia a oferta o proponente ou policitante, seguindo-se a
aceitação do aceitante ou oblato.
Esse modelo de oferta não era adequado ao Direito do
Consumidor em razão da dinamicidade e da quantidade das relações
necessárias ao escoamento da produção. Passou, então, a oferta do direito do
consumidor a utilizar-se das técnicas de marketing, gerando ofertas difusas,
formuladas a um número indeterminado de pessoas (art. 29 do CDC).
A oferta do direito do consumidor confunde-se com o
marketing e, quando suficientemente precisa, vincula o fornecedor que será
obrigado a cumpri-la, inclusive judicialmente, se for o caso.

Princípio da vinculação – art. 30 do CDC – toda oferta


suficientemente precisa obriga o fornecedor.

REQUISITOS DA OFERTA VINCULANTE:

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

- exposição: não há que se falar em vinculação se a oferta não chegou a


conhecimento público. O conhecimento público é essencial;
- suficiente precisão: a oferta deve ser suficientemente precisa. O puffing,
exagero, não tem o poder de vincular o fornecedor.
Quando o consumidor aceita uma oferta com esses
requisitos ela passa a obrigar o fornecedor e a fazer parte do contrato.

INFORMAÇÃO SUFICIENTEMENTE PRECISA É AQUELA QUE CONTÉM


OS SEGUINTES ATRIBUTOS (DEVE CONSTAR DA PEÇA PUBLICITÁRIA,
DA EMBALAGEM, ROTULAGEM, PRATELEIRA, ARARA, ETC.):
- correção: a informação publicitária veiculada na oferta não pode ser
enganosa. É enganosa, por exemplo, a informação de que o estoque
corresponde a 100 unidades quando, na verdade, foram disponibilizadas
apenas 20;
- clareza: é clara a informação que não deixa dúvida ao consumidor sobre os
elementos essenciais do produto ou serviço (características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade, origem, riscos,
etc.). Clara é a informação facilmente compreendida. O consumidor deve, por
exemplo, saber se o preço estabelecido será o mesmo para pagamento a vista
ou a prazo, a fim de formar o seu convencimento.
- precisão: diz respeito à extensão da informação. É ilícita a omissão quanto à
informação essencial. Por exemplo, um anúncio publicitário que não menciona
limitação quantitativa, de estoque ou o preço (ressalvada a publicidade
institucional, que visa divulgar a marca ou um dado produto.
- caráter ostensivo: a informação veiculada deve ser legível (as letras devem
estar na horizontal e legíveis, quanto ao tamanha ao fundo da tela, etc).
- veiculada em língua portuguesa: sempre as informações devem ser
veiculadas em língua portuguesa ainda que, conjuntamente, possam ser
veiculadas em outro idioma (exemplo publicidade de curso de inglês).

Os dados integrantes do dever de informar, discriminados


no art. 31 do CDC, são meramente exemplificativos. Variarão de acordo com o
produto e com o serviço.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

As técnicas de marketing, no geral, veiculam informações.


Todas as informações veiculadas tem que ter tais atributos, sob pena de
ilegalidade.
Em havendo recusa por parte do fornecedor no
cumprimento da oferta, restarão ao consumidor as possibilidades do art. 35 do
CDC, quais sejam:
- exigir o cumprimento forçado da obrigação – art. 84 do CDC;
- aceitar um produto ou a prestação de um serviço equivalente;
- rescindir o contrato, com direito à restituição da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo das perdas e danos.

O DEVER DE FORNECIMENTO DE PEÇAS DE REPOSIÇÃO ENQUANTO


DURAR A FABRICAÇÃO OU IMPORTAÇÃO DO PRODUTO.

Está previsto no art. 32, obrigando apenas o fabricante e


o importador, não se aplicando ao distribuidor. Esse dever não é eterno. O
prazo deve ser estabelecido por lei, regulamento ou pela sentença do juiz, visto
que a lei faz referência a “período de tempo razoável”.
De seu turno, o dever de assistência técnica é devido
também pelo distribuidor.

OFERTA OU VENDA POR TELEFONE OU REEMBOLSO POSTAL

Devem fazer constar o nome do fabricante e o seu


endereço em todos os documentos, na embalagem, na publicidade, etc.
Direito de arrependimento: quando adquire produtos e
serviços fora do estabelecimento comercial do fornecedor, o consumidor tem o
direito de desistir da compra ou da contratação, no prazo de sete dias,
independentemente do pagamento de quaisquer despesas, conforme art. 49 do
CDC.
Uma vez que tais técnicas surpreendem os consumidores
nos seus afazeres, reduzindo-lhes a liberdade de escolha, os prejuízos do
fornecedor estão englobados pelo risco da atividade.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

2.9.2 PUBLICIDADE

A publicidade é uma técnica de marketing (visa aproximar


os consumidores dos produtos e serviços) que se caracteriza pela utilização de
meios de comunicação de massa, a fim de atingir um número indeterminado de
pessoas.
A característica mais marcante da oferta publicitária é o
seu caráter difuso, que atinge, simultaneamente, um número indeterminado de
pessoas, massificando a oferta.
Muito embora alguns doutrinadores assim não entendam,
os conceitos de publicidade e propaganda não se confundem. Enquanto a
publicidade visa apresentar produtos e serviços aos consumidores e incentivar
o seu consumo, a propaganda tem por objetivo a divulgação de idéias, de
pensamentos.
Fala-se, por isso, em publicidade de produtos e serviços e
em propaganda eleitoral, partidária e institucional dos órgãos públicos, que
visam informar a população e disseminar as idéias.
A publicidade permitida pelo CDC é a publicidade
ostensiva, facilmente identificada como tal pelo consumidor, nos termos do que
estabelece o art. 36, “caput” do CDC.
O CDC, portanto, veda a publicidade clandestina ou
subliminar, assim entendida aquela que se vale do subconsciente do
consumidor para nele incutir o desejo de consumo de produtos e serviços.
Isso ocorreu, segundo a doutrina, com um filme
americano que colocava uma imagem na tela de uma coca-cola e de um
pacote de pipoca, que apareciam em fração de segundos. Quando da saída,
diversos consumidores tiveram desejo de tomar coca-cola e de comer pipoca, o
que demonstrou que a publicidade influiu na mente dos consumidores, sem
que eles pudessem se esquivar.
Diverge a doutrina quanto ao cabimento do
merchandising. A corrente majoritária entende que o merchandising é
permitido. Tanto é assim que novelas e programas de televisão dele se utilizam
com freqüência.

67
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Merchandising é a modalidade publicitária que coloca


personagens de filmes, programas de televisão, novelas, etc., em situações
normais de consumo (o Téo andando de Volvo, a Fernanda morrendo baleada
na frente do Fiat Stilo, o 007 andando de BMW, tomando coca-cola, fumando
Free, etc.).
Parte da doutrina entende que o merchandising é vedado
em razão do seu caráter subliminar. Quando o consumidor está assistindo a
um filme ou novela, não está preparado para se esquivar da publicidade, o que
a tornaria abusiva, a não ser que aparecesse concomitantemente na tela uma
advertência no sentido da veiculação de merchandising naquele momento.
O Teaser é a modalidade publicitária que visa criar
expectativa na mente do consumidor, através da veiculação de mensagens do
tipo “vem aí um produto revolucionário no mercado”. Essa modalidade não é
vedada pelo CDC, desde que seja complementada por uma mensagem
publicitária que acabe com a curiosidade do consumidor, e mencione as
características essenciais do produto ou serviço que foi objeto do teaser.
Teaser recente foi veiculado com relação à cerveja “Nova
Schin”. Vários comerciais divulgavam “vem aí um novo conceito de cerveja”.
O Teaser, assim como qualquer forma de publicidade,
pode ser enganoso ou abusivo e, portanto, ilegal.
O Puffing é a modalidade publicitária que se vale do
exagero inócuo para convencer o consumidor. Por exagero inócuo entende-se
aquele que emprega critérios subjetivos: melhor hotel do mundo, pizza mais
gostosa da cidade, melhor danceteria de São Paulo, ambiente mais acolhedor
da região, etc.. Se o Puffing empregar critérios objetivos será encarado como
oferta vinculante.
Se a publicidade anunciar “o menor preço do mercado”, o
anunciante terá que cobrir qualquer oferta, em razão do critério objetivo
veiculado. Neste caso, portanto, não estaremos diante do Puffing.
O Puffing é o exagero que emprega critérios subjetivos e
que não vincula o fornecedor.
A publicidade comparativa é permitida pelo CDC, desde
que a informação veiculada possua, simultaneamente, os seguintes atributos:
seja verdadeira, não seja abusiva e seja objetiva. Deve a comparação,

68
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

portanto, veicular informações verdadeiras e realizar comparações objetivas,


do tipo preço, durabilidade, quantidade, etc..
A comparação de ordem subjetiva ou que ofenda o
consumidor, chamando de “burro” aquele que adquire o produto da
concorrente, é ilegal.
Toda e qualquer campanha publicitária demanda um
processo produtivo. Tudo começa com o briefing, documento elaborado pela
agência a partir da entrevista com o solicitante da publicidade. Em uma
reunião, os publicitários perguntam àquele que pretende realizar o anúncio, o
público a ser atingido, o objetivo da campanha e uma série de outras
informações, a fim de elaborar o briefing, esboço da campanha a ser realizada.
O briefing não é divulgado, só saindo da agência na forma
de campanha publicitária. Ainda assim, a não correspondência do briefing com
a campanha publicitária veiculada não exime o anunciante do cumprimento da
oferta equivocada.
A eventual divergência de informações entre o anunciante
e a agência de publicidade não é problema do consumidor.
Chamariz é a modalidade de prática comercial abusiva,
por vezes veiculada sob a forma de publicidade, que anuncia para a venda
produto ou serviço por preço abaixo do mercado, em baixa quantidade, para
atrair o consumidor para o estabelecimento do fornecedor.
Lá estando e diante do término do estoque o consumidor
acaba comprando outros produtos e não reclamando.
Trata-se, entretanto, de prática comercial abusiva e, se
veiculada na forma de publicidade, tratar-se-á de publicidade abusiva também.
Quanto aos sistemas de controle, a publicidade pode ser
controlada pelo governo, por sistemas auto-regulamentares e por sistema
misto.
No sistema governamental, a publicidade é controlada por
um ou vários órgão do governo, do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário,
ou dos três simultaneamente. Já no sistema auto-regulamentar, os próprios
publicitários e anunciantes acabam definindo as normas éticas a serem
seguidas no setor. O inconveniente desse controle é a falta de coerção, posto
que as normas administrativas existem mas, se não forem cumpridas, não

69
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

podem ser objeto de punição. No sistema misto, simultaneamente, ocorre o


controle governamental e auto-regulamentar.
No Brasil, adota-se o sistema misto, tendo em vista que a
publicidade é controlada pelo Executivo, em decorrência do exercício do poder
de polícia, pelo Legislativo, através da elaboração de leis, e pelo Judiciário, em
decorrência do exame das ações judiciais propostas. Simultaneamente, existe
o controle auto-regulamentar, exercido pelo CONAR – Conselho da Auto-
Regulamentação Publicitária, que verifica a adequação das publicidades ao
Código de Auto-Regulamentação Publicitária.
Tal é a importância da publicidade que os art. 67 a 69 do
CDC definem os crimes na publicidade.
O art. 67, “caput” do CDC define como crime o ato de
fazer ou promover a publicidade enganosa ou abusiva. O elemento subjetivo do
tipo, dolo específico, consiste em praticar as condutas de fazer e de promover
a publicidade enganosa ou abusiva conscientemente, sabendo ou devendo
saber da sua enganosidade ou abusividade.
O art. 68, “caput” do CDC tipifica a conduta de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança. Também aqui exige-se o dolo específico, consistente em saber ou
dever saber a capacidade da publicidade sugestionar os consumidores.
Já o art. 69, “caput” do CDC considera crime a conduta de
não organizar os dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à
publicidade.
O art. 36, parágrafo único do CDC estabelece o dever dos
responsáveis pela publicidade de guardar os comprovantes da veracidade de
seu teor. Já o art. 38 do CDC estabelece a inversão do ônus da prova “ope
legis”, quando questionada a veracidade da publicidade.
Traduzindo: o CDC exige a comprovação do caráter
verdadeiro da publicidade e o arquivamento desses comprovantes. A não
conservação desses comprovantes configura crime, segundo o CDC.
A contrapropaganda, que na verdade se trata de
contrapublicidade, está prevista no art. 60 do CDC, enquanto sanção de caráter
administrativo. Consiste na divulgação de mensagem publicitária desmentindo
aquelas informações equivocadas que constaram da publicidade original.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

A divulgação da contrapropaganda deverá observar a


mesma forma da publicidade, valer-se do mesmo veículo, mesma quantidade e
tempo dos comerciais, mesma emissora, mesmo horário, etc., pois o objetivo é
atingir o mesmo público consumidor atingido pela publicidade enganosa ou
abusiva, o que, na prática, é impossível.
Pode a contrapropaganda ser determinada judicialmente,
em nome do princípio da prevenção, e nos termos do art. 84, “caput” do CDC,
podendo o juiz até mesmo determiná-la de ofício.
Os artistas e apresentadores de rádio e televisão podem
ser responsabilizados pelos danos decorrentes das publicidades das quais
participam, quando emprestam ao produto ou ao serviço anunciado a
credibilidade que possuem.
Notório se tornou o caso da Fazenda Reunidas Boi
Gordo, que anunciava no intervalo da novela das oito, Rei do Gado,
publicidade na qual constava o protagonista da novela, Antonio Fagundes,
afirmando que o investimento em boi era seguro e que ele mesmo investia em
boi. Não demorou muito e a empresa faliu, levando à ruína inúmeros
investidores.
Segundo corrente doutrinária firme, à qual se filiam,
dentre outros, Paulo Jorge Scartezzini Guimarães, em casos que tais os
artistas respondem pelos danos acarretados pela publicidade, com seu
patrimônio pessoal.
O veículo anunciante e a agência de publicidade podem
igualmente responder pelo dano quando persistem na divulgação do anúncio,
diante da pendência administrativa ou judicial de questionamentos quanto à
sua licitude.

2.9.3 PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS

Exemplos de práticas comerciais abusivas estão


mencionados no art. 39 do CDC. O rol desse artigo é meramente
exemplificativo, na medida em que existem práticas comerciais abusivas
mencionadas na lei delegada nº 4, de 26.9.1962, dentre outras.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

A prática comercial tratada no inciso I do art. 39 do CDC


consiste na famosa “venda casada”. O condicionamento do fornecimento de
produto ou serviço, SEM JUSTA CAUSA, a limites quantitativos, configura
prática abusiva. Trata-se, por exemplo, da imposição de aquisição de certa
quantidade de um determinado produto ou do condicionamento da aquisição de
determinado serviço à aquisição de um produto ou, ainda, imposição de
aquisição dois serviços, quando na verdade o consumidor só quer adquirir um
deles.
Exemplos: exigir que o consumidor adquira o material
didático como condição para que ele freqüente o curso; exigir que o
consumidor adquira a pipoca no cinema como condição para assistir ao filme;
exigir que o consumidor adquira cinco pastas de dente quando na verdade ele
só quer adquirir uma.
Não restará configurada a prática abusiva se a imposição
das condições de compra decorrer de regulamentação administrativa da
questão, como de normas técnicas ou do órgão governamental regulamentador
do setor. Ex: existe regulamentação permitindo a comercialização de iogurtes,
de sabão em pó e diversos outros produtos em determinadas quantidades.
A redação do art. 39, I do CDC não se presta a
interpretações extremas que permitam condutas como abrir embalagem de
sabão em pó de um kilo, porque pretende o consumidor comprar apenas 200 g.
O inciso II do art. 39 do CDC estabelece que, se há
estoque disponível no estabelecimento comercial, o fornecedor está obrigado a
atender às demandas dos consumidores, até o seu limite.
Ressalva-se aqui a conduta do fornecedor que, em
situações justificáveis, limita a aquisição de produto em promoção a
determinada quantidade, quando tal medida foi precedida de veiculação nas
estratégias de marketing e quando visou inviabilizar compra para revenda por
parte de outros fornecedores menores.
O inciso III do art. 39 do CDC define como abusiva a
conduta do fornecedor que entrega ou envia ao consumidor, sem que ele tenha
solicitado, produto ou prestar qualquer serviço, sem prévia anuência. Como
estabelece o parágrafo único do mesmo artigo, produtos ou serviços prestados
nessas condições EQUIPARAM-SE A AMOSTRAS GRÁTIS.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

ESSAS PRÁTICAS ABUSIVAS SÃO AS PRINCIPAIS – AS DEMAIS


DEVERÃO SER ESTUDADAS PELAS ANOTAÇÕES DE AULA OU PELO
LIVRO DO PROF. RIZZATTO.

2.9.4 COBRANÇA DE DÍVIDAS.

A cobrança de dívidas é um direito do credor que


mereceu atenção especial do CDC por conta dos abusos que vinham sendo
praticados consistentes, por exemplo, na cobrança do fornecedor mediante a
colocação de bandinhas de música em frente a casa ou ao trabalho dos
consumidores ou devedores.
O que o CDC visa coibir ou punir é o abuso do direito de
cobrar, caracterizado na cobrança mediante o emprego de coação,
constrangimento, ameaça, meios vexatórios (credor que cobra a dívida do
chefe ou do filho do consumidor). Também é punida a cobrança a maior, nos
termos do art. 42, parágrafo único do CDC.

2.9.5 BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES E


FORNECEDORES.

O CDC permite a criação de bancos de dados e cadastros


de consumidores e de fornecedores. Trata-se de medida importante que visa
distinguir no mercado de consumo os bons fornecedores dos maus, o mesmo
raciocínio valendo para os consumidores.
Objetiva, portanto, conferir maior segurança às relações
de consumo, prevenindo o consumidor sobre os maus fornecedores e
diminuindo o risco da atividade destes.
Devem constar dos cadastros informações claras e
objetivas, de fácil compreensão. Não podem constar informações negativas
referentes a período anterior a cinco anos.
No caso dos consumidores, a abertura de cadastro lhes
deve ser comunicada por escrito ou por eles solicitada.

73
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Havendo inexatidão das informações sobre o consumidor,


poderá este exigir a IMEDIATA RETIFICAÇÃO, que deverá ser repassada para
toda a rede de informações NO PRAZO DE CINCO DIAS.
A equiparação dos bancos de dados e cadastro de
consumidores a entidades de caráter público permite que contra ele seja
impetrado “habeas data”, caso não sejam tempestivamente fornecidas as
informações solicitadas.
Uma vez prescrito o débito do consumidor, devem ser
retiradas as informações negativas que sobre ele constam àquele respeito, a
fim de que não impeçam a concessão de novos créditos.

2.10 – DA PROTEÇÃO CONTRATUAL.

A nova realidade introduzida no mercado de consumo, em


decorrência da revolução industrial, produziu inúmeras modificações também
na sistemática contratual.
As teorias contratuais vigentes antes da revolução
industrial, fundadas no liberalismo econômico e na autonomia da vontade,
passaram a não mais fazer frente a essa nova realidade, porque os contratos
passaram de esporádicos a habituais, abrangendo agora um número
indeterminado de pessoas. Passaram a ser firmados, por questões de
economia e segurança dos fornecedores, levando em conta cláusulas pré-
definidas.
A necessidade de rápido escoamento da produção levou
à adoção de contratos pré-impressos, verdadeiros formulários, massificando as
relações privadas. Os consumidores ficaram desprotegidos, passando a aderir
ao contrato sem conhecer suas cláusulas.
Essa liberdade contratual absoluta deu margem a
inúmeros abusos, ora afetando o discernimento do contratante débil, ora
conferindo liberdade plena a um dos contratantes em detrimento do outro.
Nessa época o contrato era considerado fundamento da
própria autoridade do Estado, em razão da teoria do contrato social de Jean
Jacques Rousseau para quem as vontades das pessoas se uniram (em
contrato) para formar o Estado.

74
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Os institutos clássicos de contenção dos abusos criados


pela autonomia da vontade não amparavam o consumidor.
Na fase da sociedade pessoal só pequena parcela da
população detinha os meios de produção. A oferta também era menor, de
modo que poucos contratavam repetidamente. Nessa época os instrumentos
tradicionais eram eficazes, ao menos, para reparar os vícios decorrentes da
liberdade contratual.
O surgimento da sociedade de massa trouxe diversas
pessoas para o mercado de consumo, em razão da maior oferta e do menor
custo dos produtos. O contrato deixou de ser privilégio de uma minoria,
incorporando-se ao dia a dia do cidadão comum, em especial do consumidor.
Para fazer frente a essa explosão contratual os
instrumentos até então existentes mostraram-se inadequados.
A maior preocupação com a proteção contratual do
consumidor é notada no Código Civil Italiano de 1942. No Brasil, veio com o
CDC. Antes do CDC, existia apenas uma tendência jurisprudencial de adaptar
as disposições do Código Civil às relações de Consumo.

2.10.1 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM A PROTEÇÃO CONTRATUAL DO


CONSUMIDOR.

O contrato pressupõe: acordo de vontades e troca de


prestações. Essa idéia de reciprocidade de obrigações e direitos pressupõe um
equilíbrio mínimo das prestações e contraprestações, de direitos e deveres. O
contrato na sociedade moderna configura instrumento social que garante a
segurança dos contratantes na viabilização dos objetivos que almejam.
Como disse o então Deputado Federal Geraldo Alckmin,
quando da exposição de motivos do segundo substitutivo do Projeto de Código
de Defesa do Consumidor:

“... é no instante da contratação que a fragilidade do


consumidor mais se destaca. É também neste
momento que as normas legais existentes,

75
APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

especialmente aquelas do Código Civil, se mostram


incapazes de lhe assegurar proteção eficaz.”

Nesse mesmo sentido, Antônio Herman de Vasconcelos e


Benjamim, na apresentação da obra “Contratos no CDC”, Cláudia Lima
Marques, RT, afirmou que “a fragilidade do consumidor manifesta-se com
maior destaque em três momentos principais de sua existência no
mercado: antes, durante e após a contratação.”, isso porque “toda a
vulnerabilidade do Consumidor decorre, direta ou indiretamente, do
empreendimento contratual e toda a proteção é ofertada na direção do
contrato.”.
O objetivo das práticas comerciais é levar o consumidor à
celebração do contrato de consumo. Cabe ao CDC regulamentar a atividade do
fornecedor, antes, durante e depois do contrato, a fim de que sejam
preservadas a liberdade de escolha e as expectativas dos consumidores.
Como se percebe, o regime do CDC visa aperfeiçoar a
liberdade contratual na sua essência. Cabe ao CDC enfrentar o problema dos
contratos de adesão, que nada mais são do que meio de fazer contratações em
massa.
Nos contratos de consumo, o consumidor é sempre a
parte vulnerável. A proteção contratual do consumidor vem como forma de
estabelecer a real isonomia entre fornecedores e consumidores.

A - PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO (implicitamente previsto no art. 6º, V


do CDC e explicitamente previsto pelo §2º do art. 51).

As cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou que, em razão de fatos supervenientes, se tornem
excessivamente onerosas não determinam o desfazimento do contrato. Pelo
contrário, tem o consumidor direito à sua modificação, a fim de manter o
equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
Fundamentam tal princípio a necessidade de manter a
isonomia, a vulnerabilidade do consumidor.

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

Muito embora a teor do art. 51, IV e §1º do CDC a


cláusula desproporcional seja nula, caberá ao magistrado, que reconhecer a
nulidade, fazer a integração das demais cláusulas, a fim de manter a avença
em vigor.
Não se trata da cláusula rebus sic stantbus (teoria da
imprevisão) uma vez que o direito de revisão decorre simplesmente do fato
posterior ao contrato que tornou a contra-prestação desproporcional. Não há
que se indagar sobre a previsibilidade do fato.
No CDC se perquire apenas da ocorrência do fato
posterior ao contrato que tornou-o excessivo para o consumidor.
Se o desfavor reverte em prejuízo do fornecedor deve ser
encarado como risco da atividade, porque, repita-se, ele formula a proposta,
detendo o conhecimento técnico para concorrer no mercado. Cabendo ao
consumidor tão-somente a aceitação da proposta não há como pretender que
ele fique com os prejuízos e o fornecedor com os lucros, apenas.

EXEMPLO: CONTRATOS DE FINANCIAMENTO PARA A AQUISIÇÃO DE


VEÍCULOS EM DÓLAR (VARIAÇÃO DO CÂMBIO EM JANEIRO DE 1999).
HOUVE A CORREÇÃO DOS CONTRATOS POR ÍNDICES DE INFLAÇÃO.

B - PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA (art. 4º, I do CDC).

Visa manter o equilíbrio entre as prestações e


contraprestações em relação ao objeto e às partes. Deve ser aferido no caso
concreto, sendo nula a cláusula que o violar.

C - PRINCÍPIO DA IGUALDADE CONTRATUAL (art. 6º, II do CDC).

Visa atender ao princípio constitucional da isonomia,


estabelecendo que o fornecedor não pode diferenciar os consumidores entre si.
Devem ser oferecidas as mesmas condições a todos. Eventuais privilégios
devem ser justificáveis em razão da condição diferenciada do consumidor
(isonomia real) (idosos, gestantes, crianças, etc.).

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APOSTILA DIFUSOS – PROFESSOR ARTHUR ROLLO

D - PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA E DEVER DE INFORMAR.

As reais implicações do contrato devem ser visíveis desde


o momento da oferta. O conteúdo da oferta deve ser verdadeiro, porque esta,
uma vez aceita, passa a integrar o contrato. Ex: se está vendendo um carro
batido, tal qualidade essencial deve restar expressa no contrato; se a roupa é
usada também.

2.10.2 – Cláusulas abusivas (rol exemplificativo descrito no art. 51 do


CDC).

2.10.3 – Distinção entre os regimes contratuais no Código do


Consumidor, no Código Civil e no Código Civil de 1916.

DIREITO CIVIL ANTERIOR (CÓDIGO DIREITO DO CONSUMIDOR


DE 1916)
Consagrava a autonomia da vontade A Lei n° 8078/90 abandona o “pacta
e o “pacta sunt servanda”. Desde que sunt servanda”, ao reconhecer que a
a vontade dos contratantes não oferta vincula e que os contratos são
tivesse sido viciada na origem, o elaborados unilateralmente (de
contrato deveria ser levado às últimas adesão) ou nem sequer constam de
conseqüências. termo escrito (verbais, comportamento
socialmente típico, cláusulas gerais,
etc.).
São tutelados os vícios do
consentimento.
Havia igualdade entre os
contratantes.

DIREITO CIVIL ATUAL (NOVO CÓDIGO CIVIL - 2002)


- liberdade contratual limitada pela função social do contrato; art. 421
- princípios da probidade e boa-fé; art. 422
- interpretação das cláusulas ambíguas dos contratos de adesão em favor do
aderente; art. 423
- são nulas nos contratos as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio. art. 424

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