Diabetes Mellitus Tipo 2

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________________________________________________________________________ Artigo de revisão

Diabetes mellitus tipo 2: aspectos clínicos, tratamento e


conduta dietoterápica
Type 2 Diabetes mellitus: clinical aspects, treatment and
dietary management
Laura Gonçalves Bertonhi¹, Juliana Chioda Ribeiro Dias²

1. Graduação em Nutrição. Centro Universitário Unifafibe. Bebedouro/SP.


Email:[email protected]
2. Doutora em Alimentos e Nutrição. Centro Universitário Unifafibe. Bebedouro/SP.
Email: [email protected]

Resumo
Introdução: Diabetes mellitus (DM) é uma doença caracterizada por hiperglicemia originada de defeitos na secreção e/ou
ação da insulina. A alimentação tem papel muito importante no controle do DM e o seguimento da dieta adequada é
fundamental para o controle da doença e prevenção de suas complicações. Objetivo: investigar as principais características
dietoterápicas nos casos do DM tipo 2 (DMT2). Métodos: trata-se de uma revisão de literatura para a qual foram selecionados
artigos em língua portuguesa, publicados no período de 2007 a 2017 nas bases de dados Google Acadêmico, Scielo e órgãos
importantes na área. Resultados: entre as principais características da dieta a ser prescrita no DMT2 estão o adequado
fracionamento, dieta normoglicídica (com ênfase nos produtos integrais e ingestão de 20 a 30 gramas/dia de fibras),
normoproteica e normolipídica, com preferência às gorduras mono e poliinsaturadas. Quanto aos micronutrientes, recomenda-
se o seguimento das Dietary Reference Intakes (DRIs) com atenção às vitaminas C, D, E, zinco e magnésio, que costumam
estar em baixos níveis na dieta destes indivíduos devido à má alimentação. Conclusão: a inadequação da dieta dos pacientes
com DMT2 aponta para o maior risco de morbidades associadas e que o acompanhamento nutricional destes pacientes é
fundamental.

Palavras chave: Dieta; Alimentação; Recomendações nutricionais; Diabetes mellitus; Diabetes mellitus tipo 2.

Abstract
Introduction: Diabetes mellitus (DM) is a disease characterized by hyperglycemia arising from defects in the secretion and /
or action of insulin. The feeding has a very important role in the control of DM and follow-up of the adequate diet is
fundamental for the control of the disease and prevention of his complications. Objetive: to investigate the main dietary
characteristics in the cases of type 2 DM (T2DM). Methods: this is a literature review for which articles were selected in
portuguese language, published in the period from 2007 to 2017 in the Google Academic, Scielo and important organs in the
area. Results: among the main characteristics of the diet to be prescribed in the DMT2 are the adequate fractionation,
normoglycemic diet (with emphasis in the integral products and intake of 20 to 30 grams / day of fibers), normoproteic and
normolipid, with preference to monounsaturated and polyunsaturated fats. Regarding as micronutrients, it’s recommended to
follow the Dietary Reference Intakes (DRIs) with attention to vitamins C, D, E, zinc and magnesium, which are usually in low
levels in the diet of these people, due to poor diet. Conclusion: it can be said that the inadequacy of the diet of patients with
T2DM points to the greater risk of associated morbidities, and that the nutritional monitoring of these patients is fundamental.

Keywords: Diet; Food; Nutritional recommendations; Diabetes mellitus; Type 2 diabetes mellitus.

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Revista Ciências Nutricionais Online, v.2, n.2, p.1-10, 2018
BERTONHI, L. G.; DIAS, J. C. R.

Introdução recomendações nutricionais, diabetes mellitus e


diabetes tipo 2.
O diabetes mellitus (DM) é uma das doenças Como critérios de inclusão, foram
crônicas não transmissíveis (DCNT) mais frequentes selecionados artigos científicos em língua portuguesa
no mundo sendo a quarta principal causa de morte. e língua inglesa, publicados entre os anos de 2007 a
Junto à doença renal crônica, causa um impacto 2017, nas bases de dados Google Acadêmico,
crescente nos sistemas de saúde mundial e brasileiro Scientific Electronic Library Online (Scielo) e órgãos
(DUNCAN et al., 2017). Em 2014 estimou-se que de importância na área como a Sociedade Brasileira
120 milhões de pessoas eram portadoras de DM no de Diabetes, Conselho Federal de Nutricionistas,
mundo e até 2025 a expectativa é de que sejam 300 Ministério da Saúde, American Diabetes Association
milhões (TELO et al., 2016). Esta doença caracteriza- e International Diabetes Federation. Foram
se como um complexo conjunto de distúrbios excluídos os artigos publicados antes de 2007.
metabólicos que têm em comum a hiperglicemia
causada por defeitos na ação e/ou na secreção de Resultados e discussão
insulina (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2016).

O DM é classificado em tipo 1 (A e B), tipo


Conceitos e definições
2, diabetes gestacional e outros tipos específicos. O O DM é uma doença metabólica
DM tipo 2 (DMT2), que é o mais predominante e caracterizada pelo aumento da glicose plasmática
correspondente a 90 a 95% dos casos, se manifesta (hiperglicemia) que pode ser resultante de defeitos na
principalmente em adultos. Trata-se de um distúrbio ação e/ou secreção da insulina. A classificação atual
resultante da produção insuficiente ou resistência à do DM inclui quatro classes clínicas: DM tipo 1
ação da insulina. As principais causas deste tipo de (DMT1), DM tipo2 (DMT2), DM gestacional (DMG)
DM estão relacionadas à obesidade e estilo de vida e outros tipos específicos de DM (SOCIEDADE
sedentário (SOCIEDADE BRASILEIRA DE BRASILEIRA DE DIABETES, 2015).
DIABETES, 2016).
O DMT1 atualmente é dividido em duas
Segundo a American Diabetes Association categorias: 1A e 1B. O tipo 1A (autoimune) é
(ADA) a melhor estratégia para a promoção da saúde resultado da destruição imune das células beta
e redução DCNTs é manter uma alimentação pancreáticas, o que consequentemente leva à
equilibrada. Sendo assim, a dieta adequada e incapacidade do organismo em produzir insulina. É
saudável se faz extremamente importante para comum o DMT1 ser diagnosticado na infância ou
pessoas com DM para o controle, tratamento e adolescência e geralmente corresponde 5 a 10% dos
prevenção de complicações (FONSECA; ITO, 2015). casos. O tipo 1B (idiopático) não tem causa definida
Neste contexto, destaca-se o papel fundamental do e corresponde aos casos onde não há presença de
profissional nutricionista no cuidado de pessoas com marcadores imunes (MOREIRA; CARVALHO,
DM, com o objetivo de aplicar a dietoterapia 2016).
adequada à situação clínica, promover qualidade de
vida e reeducação alimentar, manter os níveis de Os pacientes com DMT2 normalmente
glicemia adequados e orientar a fazer escolhas mais produzem insulina, mas suas células não conseguem
saudáveis de acordo com suas necessidades utilizá-la adequadamente devido à diminuição da sua
(MATTOS; NEVES, 2009). ação, quadro caracterizado como resistência à
insulina. Dessa forma, não há efetiva ação
Neste contexto, o presente trabalho teve hipoglicêmica da insulina e a diminuição da captação
como objetivo investigar as principais características de glicose pelas células resulta no aumento da
da dieta a ser prescrita às pessoas portadoras do produção de glicose hepática, o que colabora ainda
Diabetes mellitus (DM) tipo 2. mais com o aumento da glicemia e se associa com
altos níveis de insulina no sangue (FIGUEIREDO;
RABELO, 2009).
Métodos O DMG é definido como a alteração dos
Trata-se de um estudo do tipo revisão de níveis de glicose na gestação e ocorre normalmente
literatura, para o qual foi realizado um levantamento no segundo ou terceiro trimestre. A prevalência desta
de estudos sobre recomendações nutricionais no DM. condição varia entre 1 e 14% das gestações. Um dos
As palavras chave utilizadas para a busca de fatores de risco para o desenvolvimento é o ganho
resultados deste estudo foram: dieta, alimentação, excessivo de peso na gestação, podendo acarretar
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problemas tanto para a mãe quanto para o feto mais comum a partir dos 45 anos de idade.
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, Comparando os dados da de 2008 a 2015, o DM teve
2009). um grande aumento de 5,8% pra 7,1% nestes sete
anos.
Existem outros tipos específicos de DM que
são menos comuns, como as situações de defeitos Em função de sua incidência e prevalência, o
genéticos nas células beta, na ação da insulina, no DM tem gerado um grande custo ao paciente e ao
pâncreas exócrino, infecções, DM quimicamente sistema de saúde: cerca de 12% dos gastos globais
induzido por drogas ou outras síndromes genéticas em saúde estão ligados ao DM (INTERNATIONAL
(LIMA et al., 2010). DIABETES FEDERATION, 2015). Esta alta
prevalência está também está associada a
Há ainda a classificação de pré-diabetes, que complicações como insuficiência renal, amputação de
acontece quando a glicemia tem níveis intermediários membros inferiores, cegueira, doenças
entre os valores considerados normais e de cardiovasculares entre outras que levam a prejuízos
diagnóstico da doença. Embora o pré-diabetes não na capacidade funcional, autonomia e qualidade de
seja considerado uma classe clínica, trata-se de um vida dos indivíduos (COSTA et al., 2017)
fator de risco para doenças cardiovasculares (DCVs)
e o para o próprio DM (SOCIEDADE BRASILEIRA Em 2015, na América do Sul e América
DE DIABETES, 2015). Central, 247.500 pessoas morreram tendo como
causa o diabetes (122.100 homens e 125.400
mulheres). Mais de 42,7% dessas mortes ocorreram
em pessoas com idade inferior a 60 anos, e mais da
Epidemiologia no Brasil e no mundo metade dessas mortes (130.700) ocorreram no Brasil
(INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION,
O DM tem se destacado como uma das
2015).
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) mais
relevantes da atualidade e sua prevalência vêm
crescendo muito ao longo das últimas décadas em
função de vários fatores como o sedentarismo, maior Principais complicações
taxa de urbanismo, obesidade, alimentação
inadequada (dietas ricas em carboidratos simples), O DM leva a uma grande redução na
envelhecimento populacional, entre outros quesitos expectativa e qualidade de vida de seus portadores, e
(SCHMIDT et al., 2009). Atualmente cerca de 382 pode causar alterações no organismo que podem ser
milhões de pessoas têm DM no mundo e estes classificadas como agudas ou crônicas. As principais
números deverão atingir 471 milhões em 2035 complicações do DM serão descritas a seguir.
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
2015). Complicações agudas
As complicações agudas são aquelas que se
No Brasil, entre 1986 e 1988 foi feito um instalam rapidamente, às vezes em horas, e
estudo multicêntrico, em nove capitais (São Paulo, apresentam características intensas. Entre elas se
Porto Alegre, João Pessoa, Salvador, Rio de Janeiro, destacam a hipoglicemia e a cetoacidose diabética
Belém, Fortaleza, Recife e Brasília) e foi verificado (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
que a prevalência de DM e de tolerância à glicose 2016)
diminuída, em média, era respectivamente de 7,6% e A hipoglicemia é a diminuição dos níveis de
7,8% na população urbana com idade entre 30 e 69 glicose no sangue para menos de 50mg/dl, sendo a
anos, sendo as maiores taxas de prevalência em São complicação aguda mais comum no DM. Os
Paulo e Porto Alegre. Uma informação importante sintomas variam de pessoa para pessoa, mas
encontrada foi que cerca de 46% dos indivíduos normalmente a hipoglicemia resulta da omissão de
diagnosticados não sabiam que possuíam a doença, refeições, exercícios físicos muito intensos, vômito
que provavelmente seria diagnosticada tardiamente, sem causa aparente e/ou mau administração dos
devido a complicações, situação que dificulta o medicamentos (insulina e hipoglicemiantes). Essa
sucesso do controle da doença (MORAES et al., complicação normalmente é reconhecida através dos
2010). sintomas de fome, fraqueza, sudorese, tremores,
perda de consciência, visão dupla, entre outros. O
De acordo com o Ministério da Saúde (2015)
portador da doença e a família devem estar sempre
a frequência do diagnóstico médico prévio de DM no
atentos para intervir rapidamente as manifestações da
Brasil, é de 7,1%, sendo 6,9% em homens e 7,3% em
hipoglicemia e evitar possíveis danos maiores
mulheres. Em ambos os sexos, a doença se tornou
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(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, forma mais comum e afeta as extremidades do corpo


2009). como pés, mãos, pernas e braços. Já a neuropatia
A cetoacidose diabética (CAD) é uma autonômica pode afetar os nervos do coração, bexiga,
complicação grave, que costuma acometer pessoas pulmões, estômago, intestino e olhos. Os portadores
com DMT1. Ela se caracteriza por alterações de NRD podem apresentar sintomas como dor, perda
metabólicas como a hiperglicemia (altos níveis de de sensibilidade nas mãos, braços, pernas, pés e
glicose no sangue), acidose metabólica, desidratação atrofia muscular e pode levar a deformidades como
e cetose devido à falta de insulina. Ela pode ocorrer dedos em martelo ou em garra. Ter um bom controle
devido a infecções principalmente pulmonares, glicêmico é importante para a prevenção e progressão
situações de estresse agudo, omissão da destas complicações (MURUSSI, 2008).
insulinoterapia e/ou uso de medicamentos, suas As DCVs são as complicações mais
principais causas são polidipsia, poliúria, polifagia, frequentes e as principais causas de morte em
pele seca, fraqueza, confusão mental, perda de peso e indivíduos com DM, sendo responsáveis por até 80%
hálito cetônico (BARONE et al., 2007). dos óbitos em pessoas com DMT2. As mais comuns
que acompanham o diabetes são a angina, infarto do
Complicações crônicas miocárdio, acidente vascular encefálico (AVE) e
As complicações crônicas se destacam por ter doença arterial periférica. A pressão arterial elevada,
um alto índice de morbimortalidade resultando em os altos níveis de glicose e alterações no perfil
consequências socioeconômicas, psicológicas e na lipídico (baixos níveis de HDL colesterol e altos
qualidade de vida das pessoas. As mais frequentes níveis de LDL colesterol) são fatores que aumentam
são a retinopatia diabética, nefropatia diabética, o risco de complicações cardiovasculares. Os
neuropatia diabética, doenças cardiovasculares e principais meios para controlar ou prevenir essas
úlceras do pé diabético. complicações são a adoção de uma alimentação
A retinopatia diabética (RD) é decorrente de saudável, prática de atividade física e consumo
alterações vasculares da retina, devido ao excesso de correto dos medicamentos (INTERNATIONAL
glicose no sangue que se acumula nos vasos DIABETES FEDERATION, 2015).
sanguíneos dos olhos, o que pode ocasionar As úlceras do pé diabético se caracterizam
entupimento ou enfraquecimento destes vasos e levar pelo mau controle glicêmico e por outras
ao rompimento e/ou danos à retina. Esta complicação complicações associadas como a NRD e doença
é associada ao controle glicêmico inadequado e à vascular periférica. São consideradas um problema de
longa duração da doença, sendo a principal causa de saúde pública, pois já correspondem à quinta causa
cegueira em adultos. Estima-se que 99% das pessoas de amputações de membros inferiores e internações
com DMT1 e 60% das pessoas com DMT2 tenham recorrentes. As causas mais comuns são a diminuição
ou vão ter algum grau de RD após 20 anos com a da sensibilidade que leva a lesões ou deformidades
doença (MENDONÇA et al.,2008). sem presença de dor, fraqueza muscular e diminuição
Os rins são os principais órgãos excretores do de amplitude dos movimentos (MORAIS, 2009).
organismo, pois eliminam todos os produtos de É importante destacar que as complicações
degradação metabólica do corpo. Quando ocorre o do DM não são inevitáveis. Elas podem ser
excesso de glicose plasmática no organismo surge um controladas e prevenidas através do adequado
processo inadequado de filtração das substâncias, controle glicêmico, dos níveis de colesterol e pressão
fazendo com que o processo de excreção não atue arterial. Isto requer uma educação para o autocuidado
adequadamente e moléculas importantes como as que é muito indicado e extremamente importante a
proteínas de baixo peso molecular (albumina e fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida
globulina) sejam perdidas junto à urina, o que (GRILLO, 2007).
caracteriza a nefropatia diabética (ND). As pessoas
com DM têm de 20 a 40% de chance de desenvolver O tratamento do DM
doença renal, sendo em maior parte com indivíduos O tratamento do DM visa a manutenção do
com DMT2 (OLIVEIRA; CAMPOS, ALVES, 2010). controle glicêmico e metabólico, sendo fundamental
A neuropatia diabética (NRD) é um conjunto a fidelidade do paciente a ele para o controle de
de síndromes clínicas que afetam o sistema nervoso complicações associadas. O paciente com DM
periférico e levam à diminuição de oxigênio que vai precisa ser orientado a seguir tanto a prescrição de
para os vasos sanguíneos e à formação de processo medicamentos como as mudanças de estilo de vida,
inflamatório, resultando no mau funcionamento dos que compreendem o seguimento de dieta específica e
nervos. É comum em pessoas com DMT1 e DMT2, a prática de atividade física (VIILAS BOAS et al.,
afetando 50% destes. Há dois tipos de manifestações 2012). No caso de uso de medicamentos existem duas
de NRD, que são a neuropatia periférica e a opções de tratamento: os antidiabéticos orais e a
neuropatia autonômica. A neuropatia periférica é a insulinoterapia.
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A insulinoterapia é a aplicação intramuscular melhora na qualidade de vida, construindo


de insulina exógena diária para manutenção dos conhecimentos, levando o indivíduo a compreender
níveis glicêmicos. Pode ser prescrita tanto para melhor a doença e escolher uma solução apropriada
pessoas com DMT1 ou com DMT2 que tenham para o autocuidado (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
resistência insulínica ou comprometimento nas DIABETES, 2015);
células beta. Também é utilizada em mulheres  Prevenir e tratar as complicações agudas e
grávidas ou em outras situações em que não há crônicas (SOUZA; SILVESTRE, 2013);
normalização da glicemia, intercorrências como  Manter um estado nutricional adequado
cirurgias, infecções etc. Existem vários tipos de (SOUZA; SILVESTRE, 2013).
insulina exógena que são classificadas de acordo com
a sua origem (bovina, suína ou mista) e seu tempo de Características da dieta para o DM
ação (ultrarrápida, rápida, intermediária e lenta). A A dieta para o indivíduo diabético deve ser
prescrição da insulina ao paciente se dá em unidades individualizada e nutricionalmente equilibrada, assim
de insulina (UI) por mililitro e cada UI equivale a 36 como para qualquer outra população, e também deve
ug de insulina (DURCO, 2009). ser feita de acordo com suas necessidades e
Os antidiabéticos orais são medicamentos preferências (AMERICAN DIABETES
que têm por finalidade diminuir a glicemia ASSOCIATION, 2017). O Quadro 1 apresenta as
plasmática e mantê-la em níveis normais. Esta terapia recomendações de ingestão de nutrientes para a
é indicada para pessoas com DMT2 quando a dieta e população com DM.
a atividade física não forem capazes de obter o O carboidrato é um nutriente essencial, que
controle adequado da glicemia. Associado ao representa a maior fonte de energia para a
tratamento medicamentoso há a necessidade de manutenção do nosso organismo. Desempenha várias
seguimento de dieta e a atividade física, que são funções como a regulação do metabolismo proteico,
fatores que contribuem significativamente para o funcionamento do sistema nervoso central (SNC),
controle da doença, principalmente no DM tipo 2. O função estrutural para as células, fornecimento de
objetivo desta mudança de estilo de vida é auxiliar o energia aos músculos entre outras (SOCIEDADE
indivíduo a ter melhores escolhas alimentares para BRASILEIRA DE DIABETES, 2009). Eles podem
que associada à prática de atividades físicas, obter um ser classificados em simples (glicose, frutose, lactose
melhor controle metabólico da doença e e sacarose) e complexos (amido, celulose, fibras). Os
consequentemente ter uma boa qualidade de vida carboidratos simples têm estrutura química menor, o
(SOUZA; SILVESTRE, 2013). que permite que sejam digeridos e absorvidos
rapidamente, levando ao aumento dos níveis de
glicose no sangue. Estão presentes em quantidades
significativas em alimentos com alto índice
Objetivos da dietoterapia no DM
glicêmico. Os do tipo complexo, por ter uma
Como já foi dito, a dieta é um dos pontos estrutura química maior, são digeridos mais
fundamentais no controle e tratamento do DM. Neste lentamente e consequentemente absorvidos mais
contexto, um tratamento nutricional adequado deve lentamente também. Alimentos ricos em carboidratos
ter os seguintes objetivos: complexos são considerados de baixo índice
 Fornecer energia através dos nutrientes para glicêmico (LOTTENBERG, 2008).
manter ou melhorar o estado nutricional do indivíduo As fibras também estão inclusas na categoria
(LOTTENBERG, 2008); de carboidratos, sendo de dois tipos: solúveis e
 Manter e/ou reduzir a glicemia próxima aos insolúveis (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
níveis adequados, através de uma alimentação DIABETES, 2009). As fibras solúveis ajudam no
balanceada com a insulina e/ou hipoglicemiantes controle da glicemia pós-prandial (especialmente as
orais. É muito importante respeitar a quantidade e pectinas e beta glucanas), pois são capazes de reduzir
qualidade de alimentos e os horários das refeições a absorção de glicose e assim colaborar com a
para manter um bom controle glicêmico normalização da glicemia. Também podem participar
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, da redução da concentração de colesterol sanguíneo
2015); por meio da ligação das fibras com os ácidos biliares,
 Atingir os níveis adequados de lipídeos o que diminui o poder de reabsorção dessas
séricos, reduzindo o risco de morbidades associadas moléculas. As fibras insolúveis contribuem para o
como as DCVs (SOCIEDADE BRASILEIRA DE controle da saciedade e melhora do trânsito intestinal.
DIABETES, 2009); São fontes de fibras as frutas, verduras e legumes,
principalmente raízes, folhas, bagaços e sementes. A
 Promover educação em DM, explicando
recomendação de ingestão diária de fibras varia de 30
como é importante a mudança de hábitos para
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a 50 gramas por dia, sendo a recomendação mínima As proteínas são indispensáveis ao nosso
de 14 gramas/1000 calorias diária (SOCIEDADE organismo, pois desempenham funções estruturais
BRASILEIRA DE DIABETES, 2015). como ajudar no processo de criação de novas células
A ingestão de carboidratos totais no DM deve e tecidos, regulação do metabolismo (principalmente
representar de 45 a 60% do valor calórico total de hormônios), atuação do sistema imunológico entre
(VCT) e sua ingestão mínima deve ser de 130 gramas outras (SOUZA; SILVESTRE, 2013). A
por dia. O diabético deve ser orientado a reduzir o recomendação de proteína no DM é a mesma que
consumo de alimentos fonte de carboidratos simples para as pessoas em geral, ou seja, de 0,8 a 1,0 grama
da dieta e aumentar o consumo alimentos ricos em por quilograma de peso por dia, o que corresponde de
fibras, pois estes normalmente têm um menor índice 15 a 20% do VCT (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
glicêmico (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).
DIABETES, 2016).
Quadro 1 – Composição nutricional do plano alimentar indicado para pessoas com DM.
Macronutrientes Ingestão recomendada/dia
Carboidratos (CHO) Carboidratos totais: 45 a 60%. Não inferiores a 130g/dia
Sacarose Até 10%
Frutose Não se recomenda adição nos alimentos
Fibra alimentar Mínimo 14g/1000 kcal. DM2: 30 a 50g
Gordura total (GT) 25 a 35% do VET
Ácidos graxos saturados (AGS) < 7% do VET
Ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) Até 10% do VET
Ácidos graxos monoinsaturados (AGMI) 5 a 15% do VET
Colesterol < 300mg/dia
Proteína 15 a 20% do VET*
Vitaminas e minerais Segue as recomendações da população não diabética
Sódio Até 2000 mg
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (2016) óleos de girassol, soja, canola e azeite de oliva,
oleaginosas como nozes, castanha de caju, amendoim
Para um adequado consumo de proteínas ou amêndoas e frutas como o abacate, pois são ricos
deve-se dar preferência a carnes magras, em ácidos graxos insaturados com destaque para o
principalmente peixes (como sardinha, salmão e azeite de oliva e abacate, com teor importante de
atum, que são ricos em ômega 3 ou outras espécies, ômega 9 e fitoesterois. O consumo de peixes de água
pois têm um teor menor de gorduras), ovos, leite e fria como salmão, sardinha, atum e arenque também
queijos. Alimentos como o feijão, soja, grão de bico, deve ser estimulado, pois são ricos em ômegas 3.
soja e lentilha também são fontes proteicas e têm o Sugere-se que gorduras vindas de alimentos de
adicional de serem fontes fibras. Dessa forma, seu origem animal como toucinho, bacon e banha entre
consumo deve ser estimulado (SOUZA; outros sejam evitadas (AMERICAN DIABETES
SILVESTRE, 2013). ASSOCIATION, 2017).
Os lipídeos têm como função fornecer
energia para o organismo, transportar vitaminas
lipossolúveis, fornecer moléculas como Estudos apontam que o consumo de ômega 3
prostaglandinas, lipoproteínas e colesterol e sintetizar através de peixes como salmão, sardinha, atum,
ácidos graxos essenciais (SOCIEDADE sementes de chia, linhaça, nozes entre outros (duas
BRASILEIRA DE DIABETES, 2009). A distribuição ou mais vezes por semana) ou suplementação deste
de lipídeos na dieta do diabético deve ser nutriente pode apresentar redução de eventos
individualizada e sempre priorizar a qualidade do cardiovasculares e também mostram que podem levar
lipídeo, com preferência às gorduras mono e à redução da resistência insulínica. A recomendação
poliinsaturadas. Os lipídeos devem representar de 25 de ômega 3 (EPA e DHA) é de 500 miligramas para
a 35% do VCT, sendo no máximo 300 miligramas de prevenção primária, 1 grama por dia para prevenção
colesterol por dia, 7% de ácidos graxos saturados secundária e a suplementação em outras quantidades
(AGS), de 5 a 15% de ácidos graxos deve ser indicada sob supervisão médica.
monoinsaturados (AGMI) e 10% de ácidos graxos Estudos também mostram que esterois de
poli-insaturados (AGPI) e 2% de gordura trans plantas e ésteres de estanol possuem relação com a
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, absorção de colesterol dietético e biliar no intestino,
2016). podendo apresentar redução dos níveis plasmáticos
Na oferta lipídica da dieta devem ser de colesterol total e LDL-colesterol. Eles são
contemplados alimentos de origem vegetal como encontrados em óleos vegetais, sementes, frutas,
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legumes, leguminosas entre outras, sendo sua consumo de óleos vegetais e castanhas (COSTA;
recomendação de 2 gramas por dia (LOTTENBERG, ROSA, 2016).
2008). O zinco é importante para várias funções,
Os micronutrientes (vitaminas e minerais) entre elas reduzir marcadores do estresse oxidativo.
são essenciais para o organismo e estão presentes em Quando o zinco está presente no organismo ele atua
uma variedade de alimentos, principalmente frutas, juntamente com a insulina como um componente
verduras e legumes (SOCIEDADE BRASILEIRA estrutural, para que a ação deste hormônio ocorra de
DE DIABETES, 2009). As deficiências de vitaminas forma eficiente e assim evite altos níveis de glicose
e minerais são frequentes em diabéticos, devido à má na corrente sanguínea (hiperglicemia). A
capacidade de absorção no intestino, perdas na urina recomendação para adultos de zinco é de 8
e baixa ingestão de alimentos fonte (SOCIEDADE miligramas para mulheres e 11 miligramas para
BRASILEIRA DE DIABETES, 2016). Para estes homens por dia (CATANIA; BARROS; FERREIRA,
tipos de nutrientes as necessidades diárias no DM são 2009). As principais fontes de zinco são as carnes,
semelhantes às da população saudável, ou seja, leite, castanhas e cereais integrais.
devem ser seguidas as recomendações propostas A deficiência de magnésio costuma ser muito
pelas Dietary Reference Intakes (DRIs). Porém, há frequente na população diabética, especialmente
algumas vitaminas e minerais que costumam estar em quando se tem um mau controle metabólico. Este
baixos níveis no diabético e para atingir esses níveis mineral atua especialmente no metabolismo da
deve-se ter uma alimentação variada, com o consumo glicose como co-fator de muitas enzimas. Quando
de duas a quatro porções de frutas por dia (sendo pelo seus níveis estão baixos há prejuízo na interação
menos uma delas rica em vitamina C), três a cinco entre a insulina e o seu receptor, assim prejudicando
porções de hortaliças cruas e/ou cozidas e sempre que o correto controle da glicemia no organismo. A
possível dar preferência aos alimentos integrais. Em recomendação de magnésio para adultos é de 320
grupos de pessoas como idosos, gestantes, lactentes e miligramas para as mulheres e 420 miligramas para
vegetarianos restritos ou pessoas que estejam com os homens por dia (COSTA; ROSA, 2016). O
restrição calórica a suplementação de magnésio está presente em frutas, hortaliças, grãos e
multivitamínicos pode ser necessária (SOCIEDADE sementes.
BRASILEIRA DE DIABETES, 2009). A vitamina C (ácido ascórbico) é um potente
Estudos mostram que a deficiência de agente antioxidante e é muito importante para quem
vitamina D pode ter papel no desenvolvimento de tem DM, devido à prevenção de microangiopatia,
DM, pois pode propiciar intolerância à glicose e aterosclerose e catarata. Esta vitamina favorece a
alterar a secreção de insulina. A associação entre a cicatrização de feridas e melhora a integridade
vitamina D e cálcio pode levar a uma redução de vascular. Tanto a deficiência quanto o excesso de
chance de desenvolver DM, desde que estes vitamina C são prejudiciais à saúde do diabético. A
nutrientes sejam consumidos em quantidades recomendação de consumo diário é de 100 a 200
adequadas (COSTA; ROSA, 2016). miligramas por dia, sendo suas principais fontes as
As recomendações de sódio no DM seguem frutas cítricas (COSTA; ROSA, 2016).
as mesmas recomendações para a população em geral O cálcio é um mineral indispensável para o
(2000 miligramas por dia, o equivalente a 5 a 6 nosso corpo e possui várias funções no organismo,
gramas de sal) devendo ser dada uma especial sendo fundamental na mediação da resposta
atenção para hipertensos e indivíduos com doenças insulínica nos tecidos musculares e adiposo. Os
renais. Devem ser evitados alimentos industrializados níveis reduzidos de cálcio no organismo podem
como caldos de carne e sopas prontas que contém um contribuir para a resistência à ação da insulina,
alto teor de sódio e alimentos naturais como ervas e através da redução de alterações na atividade do
especiarias que dão sabor e evitam consumir muito transportador de glicose GLUT-4 (PEREIRA; REIS,
sal devem ter seu consumo estimulado 2013). Sua recomendação diária é de 1.000
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, miligramas para pessoas com idade entre 19 a 50
2016). anos e 1.200 miligramas para pessoas com idade
A vitamina E atua como importante acima de 50 anos, podendo ser atingida com o
antioxidante no organismo e possui como principal consumo de três porções de leite e derivados e
ação, ser antiinflamatória. A ingestão adequada de porções de vegetais verde escuros (SOCIEDADE
vitamina E em indivíduos com DM está relacionada BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).
com a diminuição da ocorrência de DCVs, pois ela O hábito de consumir bebidas alcoólicas em
desempenha papel importante ao estabilizar as excesso para indivíduos diabéticos é prejudicial e
membranas plaquetárias e diminuir a oxidação de deve ser evitado. Porém, existe uma recomendação
LDL-colesterol. Sua recomendação para adultos é de de consumo para a população em geral que pode ser
15 miligramas por dia e pode ser atingida com o direcionada ao indivíduo com DM nos casos em que
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BERTONHI, L. G.; DIAS, J. C. R.

a bebida alcoólica faz parte de sua rotina. Para os Segundo Martins et al. (2010) o padrão
homens recomenda-se duas doses e para as mulheres alimentar brasileiro sofreu diversas modificações
uma dose de álcool (o que equivale a 350 mililitros como o aumento do consumo de proteínas de origem
de cerveja, 140 mililitros de vinho ou 45 mililitros de animal, principalmente carnes vermelhas, lipídeos de
bebida destilada) por dia. É necessário ter muita origem animal e vegetal e redução no consumo de
cautela em relação a bebidas alcoólicas no DM, pois cereais, tubérculos, frutas, raízes e leguminosas.
elas alteram o controle metabólico e podem ocasionar Neste estudo foi avaliado o consumo alimentar de 34
a hipo ou hiperglicemia quando em quantidades idosos, de ambos os sexos, diabéticos e hipertensos,
excessivas, aumento da síntese de ácidos graxos, que com idade entre 60 a 82 anos, através de registro
podem resultar em esteatose hepática e/ou alimentar de dois dias da semana e mais um dia do
hipertrigliceridemia, entre outros (SOUZA; final de semana (sábado ou domingo). Os resultados
SILVESTRE, 2013). mostraram que 76,5% dos idosos apresentaram baixo
Os edulcorantes, mais conhecidos como consumo de frutas, hortaliças, leite e derivados e
adoçantes, são muito utilizados na alimentação de excesso no consumo de óleos e gorduras
obesos e diabéticos como substituição do açúcar de comprovando o que foi dito acima.
mesa (sacarose) a fim de evitar o aumento da No estudo de Santos et al. (2009) fizeram a
glicemia e reduzir o valor calórico da dieta avaliação da qualidade do consumo alimentar de 35
(LOTTENBERG, 2008). Eles são classificados em homens e 32 mulheres de 29 a 75 anos de idade,
duas categorias: calóricos e não calóricos. Os portadores de DMT2, utilizando o índice de
calóricos não são contra indicados, porém os alimentação saudável (IAS), como um instrumento de
diabéticos devem consumir com moderação e em identificação da qualidade nutricional. Os resultados
combinação com outros adoçantes, principalmente a mostraram que 40,3% das dietas foram consideradas
frutose, pois se deve considerar seu impacto no saudáveis. Entretanto, 52,2% necessitam melhorar e
metabolismo lipídico no fígado. Os não nutritivos são 7,5% foram consideradas dietas pobres. Os autores
representados pelo aspartame (fenilalanina + ácido relataram que muitas dietas não atenderam às
aspártico), sacarina, ciclamato, sucralose, recomendações nutricionais principalmente quanto
acessulfame K, sendo seguros para o consumo de aos grupos de frutas, cereais, vegetais e laticínios e as
pessoas com DM de acordo com a ingestão diária excederam para gorduras totais e saturadas, colesterol
respeitada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE e sódio.
DIABETES, 2016). Em outro estudo, Iop, Teixeira e Deliza
Recomenda-se também que o plano (2009) avaliaram o consumo alimentar de diabéticos
alimentar tenha um fracionamento de cinco a seis e não diabéticos através de um questionário com
refeições ao dia, sendo três principais (desjejum, perguntas relacionadas à situação socioeconômica e o
almoço e jantar) e duas a três refeições consumo alimentar dos mesmos. A amostra estudada
intermediárias (colação, lanche da tarde, ceia). Vale foi composta por 140 indivíduos (70 diabéticos e 70
lembrar que o plano alimentar deve ser seguido não diabéticos) entre 15 e 85 anos de idade. Nos
corretamente para assegurar a oferta de nutrientes grupos laticínios e massas houve maior consumo
adequados ao indivíduo com DM (SOCIEDADE entre os não diabéticos. Em relação às frutas o maior
BRASILEIRA DE DIABETES, 2009). consumo foi entre os diabéticos e nos grupos carnes e
óleos, pães, bolos, biscoitos, frituras e vegetais, não
houve diferenças significativas entre o consumo de
Consumo alimentar de pacientes com DM diabéticos e não diabéticos. Os autores concluíram
Atualmente houve um grande aumento de que o diabético escolhe melhor seus alimentos devido
DCNT, principalmente o DM, devido à má à doença e que estão mais preocupados com a sua
alimentação e estilo de vida sedentário, decorrentes condição de saúde quando comparados aos não
da urbanização e industrialização. A prevenção diabéticos.
primária é o melhor meio para lidar com o DM e a Pode-se dizer que na maioria dos estudos
alimentação é um dos determinantes para ajudar no avaliados os portadores de DM apresentam baixa
controle, tratamento e prevenção desta doença e suas ingestão de frutas, cereais, verduras e laticínios assim
decorrentes complicações (NISHIMURA et al., como na alimentação da população em geral. Dessa
2011). forma, pode-se dizer que pessoas com DM seguem
Geralmente os diabéticos apresentam uma dietas nutricionalmente incompletas e este fato
alimentação inadequada para o controle da glicemia, aponta para a necessidade de inserção de educação
devido à falta de conhecimento sobre o autocuidado nutricional junto a estes pacientes. Dessa forma, a
da doença e suas formas de controle, assim atuação do profissional nutricionista se faz
dificultando a adesão ao tratamento e suas possíveis necessária, pois este é o profissional mais capacitado
complicações (SOUZA; SILVESTRE, 2013). para orientar a melhor escolha dos alimentos e
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BERTONHI, L. G.; DIAS, J. C. R.

informar a importância de melhorar os hábitos COSTA, M. B., ROSA, C. O. B. Alimentos Funcionais:


alimentares para uma melhor qualidade de vida e componentes bioativos e efeitos fisiológicos. 2. ed. Rio de
Janeiro: Rubio, 2016. 480 p.
controle da doença (SANTOS et al., 2009).
Sabe-se que para o bom controle metabólico DUNCAN, B. B. et al. The burden of diabetes and
do DM deve haver mudanças no estilo de vida, além hyperglycemia in Brazil and its states: findings from the Global
da dieta, com hábitos mais saudáveis que incluem Burden of Disease Study 2015.Rev. Bras. Epidemiol., São Paulo,
v. 20, n. 1, p. 90-101, 2017.
uma alimentação balanceada e a prática de exercícios
físicos além do tratamento medicamentoso. No
entanto, sabe-se que nem sempre os pacientes aderem DURAN, R. A. B. et al. Caracterização das Condições de Vida e
a todo este contexto (DURAN et al., 2010) e para que Saúde dos Indivíduos Diabéticos Tipo II em uma Unidade de
se consiga uma melhor adesão no tratamento clínico Saúde da Família – Votuporanga, SP. Investigação, Franca, v. 10,
n. 2, p. 123-130, 2010.
e dietoterápico o portador de DM deve se
conscientizar da importância destas condutas e deve DURCO, E. S. Protocolo de tratamento do paciente adulto jovem
contar com incentivo de sua família e da equipe de com diabetes mellitus tipo 2. 2009. 82p. Trabalho de conclusão
saúde que o acompanha (COSTA et al., 2011). É de curso (Curso de especialização em Atenção Básica em Saúde
da Família) – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
extremamente importante evidenciar a necessidade de Minas Gerais, 2009.
acompanhamento e evolução do portador de DM,
pois assim é possível retardar e/ou prevenir as FIGUEIREDO, D. M.; RABELO, F. L. A. Diabetes Insipidus:
complicações da doença (PERES et al., 2007). principais aspectos e análise comparativa com diabetes mellitus.
Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 30, n. 2,
p.155-162, 2009.
Considerações finais
Pode-se dizer que a prevalência de DM está FONSECA, R.A.C; ITO, M. K. Educação alimentar e nutricional
em pacientes portadores de Diabetes Mellitus tipo 2: uma revisão
aumentando e que a preocupação com a alimentação temática. 2015. 13p. Trabalho de conclusão de curso –
do paciente deveria acompanhar estes números. Os Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
estudos avaliados mostraram que muitos portadores
de DMT2 não têm hábitos alimentares adequados GRILLO, M. F. F.; GORINI, M. I. P. C. Caracterização de
quando comparados às recomendações, pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2. Revista Brasileira de
Enfermagem, Brasilia, v. 60, n. 1, p. 49-54. 2007.
principalmente quanto ao consumo de frutas,
verduras e legumes e laticínios. Dada a importância INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. IDF Diabetes
da dieta no controle da doença, pode-se dizer que é Atlas Seventh Edition. Belgium: IDF 2015, p. 50-89.
de suma importância a atuação do nutricionista junto
IOP, S. C. F.; TEIXEIRA, E.; DELIZA, R. Comportamento
ao portador da doença, pois é o profissional mais apto alimentar de indivíduos diabéticos. Braz. J. Food Technol, Santa
para indicar a melhor conduta em relação à Catarina, v. 11, n. 2, p. 36-43, 2009.
alimentação.
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Submetido em: 11/01/2018


Aceito em: 16/03/2018

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