Direcao de Atores e Semiotica Greimasian
Direcao de Atores e Semiotica Greimasian
Direcao de Atores e Semiotica Greimasian
– Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
Resumo
A direção de atores é um campo no audiovisual basicamente voltado a área do teatro,
porém novas perspectivas vem surgindo e a semiótica Greimasiana pode ser uma das
teorias emergentes que podem contribuir com a visão do texto cinematográfico. Decupar
um texto é tão importante quando decupar uma imagem, o ator e equipe sabendo o que o
texto diz e como ele diz é uma possibilidade de diminuir os ruídos na direção de atores.
Nossa pesquisa aponta essa teoria e apresenta a forma do diretor realizar uma decupagem
de texto para dirigir os atores do filme. Analisamos uma cena de um roteiro e realizamos
a decupagem do roteiro para a direção de atores.
Palavras-chave - cinema; direção audiovisual; roteiro; semiótica, preparação de atores.
A Preparação de Atores
O ator é um elemento chave na realização audiovisual, por isso, a preparação de
atores é feita pelo diretor com os atores ou com a auxilio de um preparador de atores, que
vai auxiliar o diretor nas emoções que o ator deve passar para o público. Porem o que o
diretor deseja passar e o que o ator deve fazer existe o roteiro que vai ser lido e
compreendido de forma diferente entre diretor e ator. Como diminuir estas
interpretações? O ator é a figura final que vai de certa forma apresentar ao público e
1
Trabalho apresentado no DT 4 – Comunicação e Audiovisual do XIV Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Sul, realizado de 30 de maio a 01 de junho de 2013.
2
Professor do curso de Cinema da Universidade Federal de Pelotas, doutorando em Educação da UFPel,
Coordenador do grupo de Pesquisa “Percurso Gerativo de Sentido na direção de Atores” email:
[email protected]
3
Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Cinema e Audiovisual
4 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Cinema e Audiovisual
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
encarnar5 a personagem, estamos neste caso usando como base um cinema mimesis do
real (Aristotélico), imagem que o público vai assistir.
O processo de filmagem é complicado e necessita de uma organização da equipe
que nem sempre ocorre na hora da filmagem, mas no final tudo tente a ocorrer da melhor
maneira, ou como defende Jaques Aumont (2002) filmar é ir ao encontro do inesperado.
E toda essa ação tem inicio com a escolha do roteiro, pois o mesmo será a base para que
toda a equipe possa realizar a sua visão sobre a obra audiovisual. A função do diretor é
justamente apresentar para os diversos membros da equipe qual é a interpretação, que ele
diretor, tem daquele roteiro e como será a narrativa da obra para o público especifico6.
A decupagem de planos ocorre quando o diretor depois de analisar o roteiro
realiza sua separação em planos e ações que o público vai entender. (como se fosse uma
história em quadrinhos, quadro a quadro). Temos que pensar que a decupagem é uma
operação analítica e a montagem é uma operação sintética. A decupagem se faz
analisando quadro a quadro o que o público irá assistir no filme. Neste momento é a
linguagem do diretor que deve se sobressair, se irá realizar um filme com base no real ou
um filme com uma linguagem mais artística instigando o público ao pensamento critico
de certas ações. A cada plano o filme vai surgindo e com isso a linguagem do diretor.
Para Kuleshov o plano é um elemento da montagem e apresenta dedução lógica parafuso
a parafuso, passo a passo. Já Eisestein (1990) vê a montagem como uma célula que tem
vida própria e deve ser entendido (montagem de conflito) 7 . Assim cada equipe
especializada tentará entender aquela obra plano 8 a plano, analisando a decupagem e
vendo como é possível sua contribuição para aquela obra.
Geralmente podemos dividir em três eixos ou grupos que terão essa missão de
analisar a decupagem: o diretor de fotografia, diretor de arte e o designer sonoro. O
Diretor de fotografia é o responsável pela parte técnica e a imagem final da obra, o
5
no sentido de Ser a personificação, o modelo, a imagem de (Aurélio 2010)
6
Aqui faço um atento da mania que os diretores iniciantes tem de dizer um chavão de que a obra é para
todo o público, o que é impossível. O diretor tem que ter um público especifico e então realizar a criação
audiovisual para aquele público conforme a representação social de cada grupo social. Quando o diretor
deseja fazer algo sem pensar no publico alvo a obra em muitos casos fica descaracterizada. Para mais
informações pode ser lido o nosso texto “A representação social e a direção audiovisual . a escolha de um
publico alvo.”
7
Fazemos referência a montagem função do poder que os soviéticos deram a mesma época da montagem
Rei.
8
Estamos chamando de plano o enquadramento realizado pela câmera e executado pelo câmera man.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
10
Não estamos aqui entrando no debate do cinema pelo cinema ou no cinema como arte, mas na visão do
Cinema como uma obra naturalista e realista.
11
O ator vive em um mundo social e suas ações tem geralmente como base as representações sociais
(Moscovici, 1961) que ele vive ou aprende na sua interação com o meio.
12
música de Roberto Carlos letra de 1976
13
Esse parágrafo pode ter ficado meio brega, mas quando você espectador assiste um filme não quer
entendê-lo, mas senti-lo, viver com o personagem sua alegria e sua dor.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
texto com base na fala do diretor, porém se tivéssemos uma decupagem de texto para os
atores? Não estaríamos melhorando a sua ação na obra audiovisual? Não diminuiria o
tempo de filmagem em função dos takes14 realizados que o diretor não gostou em função
da interpretação do ator? Defendemos que uma decupagem de texto pode contribuir para
melhorar a ação do ator. Não é comum pensar no termo decupagem para direção de
atores, porém nosso grupo de pesquisa15 apresenta essa visão para ser utilizado na relação
entre o diretor e o ator.
A Decupagem
Segundo o Aurélio decupagem é o ato ou efeito de decupar, que é dividir (um
roteiro) em planos numerados, com as indicações dramáticas e técnicas necessárias à
filmagem ou à gravação das cenas.
Esse processo técnico de decupar o roteiro em cenas não chega ao ator, que
geralmente recebe apenas o roteiro literário16. Porém se o ator além do roteiro receber
uma decupagem de direção de atores o produto final pode ganhar em qualidade. O diretor
de fotografia ao receber a decupagem já sabe quais os planos serão realizados e pode
contribuir com a decupagem contribuindo assim com a linguagem audiovisual. Em
muitos casos o diretor de fotografia aponta e apresenta ao diretor algumas mudanças em
função de uma técnica nova ou em função de melhor qualidade técnica. Essa relação
diretor de fotografia e diretor é sempre enriquecedora. O mesmo estamos tentando
apresentar na relação ator e diretor com o uso da decupagem do texto para o ator.
Diretor e Ator
Como lidamos com a área das ciências humanas, não existe o certo ou o errado
como nas ciências exatas, mas estilos, procedimentos realizados por alguns artistas/
diretores que foram sendo melhoradas ou modificado por outros artistas. Porem essas
14
A decupagem é dividida em planos. Quando o diretor vai gravar um plano e o mesmo não gosta de como
o plano foi feito refaz o plano outra vez, essa repetição recebe o nome de take. Assim podemos dizer que
take é o número de vezes que o plano foi repetido.
15
Criado em 2011 o grupo de pesquisa Percurso Gerativo na direção de atores tem pesquisado não apenas o
uso da semiótica greimasiana na direção de atores, mas como essa relação ator diretor pode ser melhor
trabalhada. E uma das criações foi o uso da decupagem do texto neste processo entre diretor e ator.
16
Roteiro finalizado em seu último tratamento
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
ações nem sempre conseguem ser realizadas, pois é um método mais pessoal que
cientifico. O diretor, geralmente, tem duas posturas em relação ao ator17, uma conversa
sobre o personagem e leituras com os atores apresentando sua visão, deixando o ator livre,
as vezes ate demais, para criar e contribuir sobre o que foi debatido. Outros diretores,
além da leitura com o ator, escolhem algumas cenas e fazem leituras e ensaios sobre a
forma de falar e sobre a mise en scene.(movimentação do ator). Nos dois casos fica a
cargo do ator entender as entrelinhas e fazer a sua visão daquele personagem, mas sempre
existi divergências sobre a interpretação do texto na visão do diretor e do ator, e a maior
divergência fica a cargo de como passar tal informação, ou sobre o que o roteirista quis
dizer com aqueles significantes (que são interpretados de forma diferentes no significado
entre ator e diretor). Por isso, que a decupagem do roteiro pelo diretor para o ator pode
contribuir de diversas formas na interpretação do mesmo e a sua realização, melhorando
o trabalho do ator e em consequência o filme para o público.
A interpretação
O percurso gerativo de sentido apresenta o que o texto diz e como ele diz o que
diz diminuindo assim as interpretações com bases psicológicas e filosóficas que
geralmente o texto apresenta. A estrutura do roteiro é bem simples, podemos dizer que o
roteiro é apenas um amontoado de palavras (falas) divididas pela ação dos personagens18.
É a visão do diretor que faz o roteiro ter vida, já que o mesmo não é literatura. A leitura
do roteiro é uma leitura sem emoção, o leitor de roteiro tem que imaginar a cena pela
forma crua e seca descrita no roteiro. Exemplo de uma cena do roteiro “20 por 30”.
Renato sentado olha para computador, toma seu chimarrão, mexe no teclado do seu
notebook que está a sua frente na mesa já aberto e ligado, vê uma caneta, pega anota um
telefone, levanta e pega o telefone.
Perceba que se a mesma fosse uma página de um romance o autor iria preencher estes
espaços secos com informações sensoriais sobre o estado do personagem, seu modo,
forma e seus estado de espírito interior, o que no cinema será dado pela interpretação do
17
Existe diretores que tem um apreso e respeito muito grande com os atores, outro já tratam o ator como
alguém separado da equipe e tem que ter o seu trabalho separado não erm conjunto com a equipe. (ver
entrevistas do autor na revista Orson da UFPEl na sessão Direção de Atores. www.orson.com.br
18
Estrutura básica do roteiro Doc Comparato 1985
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
ator sob a orientação do diretor e toda a equipe que vai ambientar as cenas (diretor de
fotografia, diretor de Arte e designer sonoro).
Segundo Chartier em seu livro (1991) informa que a leitura é como um navegador
que pode se realizar por qualquer caminho que depende do navegante por onde ele deseja
andar. A decupagem do texto permite que tanto o diretor quanto o ator e membros da
equipe tenham certeza do que o roteiro trata, para em um segundo momento o diretor
fazer a sua leitura do roteiro. Sempre a leitura do roteiro é pela ótica do diretor e como
ele deseja narrar aquela historia, a forma19 não o conteúdo da história. Isso pode ser
facilitado utilizando o percurso gerativo de sentido.
1919
Não entraremos no debate entre a forma e conteúdo que diversos diretores apresentam dentre eles
destacamos Eisestein, Vigotski.
20 O Percurso Gerativo de Sentido e o audiovisual: Uma forma alternativa de pensar a Direção
Cinematográfica
21
www.intercom,org,br
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
onde encontramos a oposição semiótica. Segundo Barros (2005, p9), o nível narrativo é
o responsável pela organização da narrativa “através do ponto de vista de um sujeito”.
Neste nível a sintaxe da narrativa é composta por enunciados de estado e de fazer. Surge
a relação sujeito objeto e nesta relação o sujeito pode ter o objeto (conjunção) ou o sujeito
pode não ter o objeto (disjunção) e toda a sua construção dentro do texto vai depender de
sua conjunção ou disjunção com o objeto.
do teatro, o que não acho ruim, mas devemos ter outras formas de ação, outras
ferramentas para melhorar nossa prática de realizador audiovisual, principalmente o
Plano Narrativo e a significação.
Por significação podemos entender a significação como o aqui – agora ou seja a
ação representada pelo ator dentro de uma mise em scene escolhida pelo diretor é a
atuação do ator em cena.
Nossa comunicação com outros seres humanos se processa através da linguagem
que deve ser comum entre os grupos que desejam se comunicar. Essa comunicação se
efetiva na interação que estes diversos grupos apresentam, decodificar a informação é tão
importante do que criar a codificação. A comunicação só faz sentido se a mesma se
realiza no outro.
de a filha. Depois que a filha vai embora Renato volta ao seu PN1. Porém é necessário o
diretor fazer o plano narrativo desta ação pela ótica da personagem Sandra. PN3 seria a
surpresa por ver Renato o que posso confirmar na fala dela. Depois o seu plano narrativo
muda para raiva quando ela afirma que esta desenvolvendo o HIV. O que chamarei de
PN4. assim tenho o plano narrativo da personagem Renato e da personagem Débora23. A
Filha também tem o seu plano narrativo neste momento, pois ouve o pai conversando
com a mãe e aparece meio sem graça o que é o PN5 desejo de ver o pai. A personagem
apenas aparece, sorri para o pai e corre para vê-lo.
E há momentos que estes personagens vão usar de manipulação, competência,
performace para conseguir a sua sanção. A competência da filha é agir sobre a emoção do
pai que para o seu plano narrativo com Sandra para dar atenção a filha. No caso de
Renato tem sua performace de abraçar a fila dificultada em função da grade que o
mantém afastado da filha e da Débora. Débora não manipula a filha para não gostar do
pai, mas pelo contrario chama a filha para abraçar o pai.
Débora
PN3 – surpresa sobre Renato em sua casa
23
Cada personagem deve ter o seu plano narrativo e numeramos pelo último número do PN
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
Manipulada por Renato, pois ele vai a casa dela sem avisar
Competência de não abrir o portão deixando Renato do lado de fora.
Performace melhorada pelo espaço geográfico a casa com portão
Sanção não deixar Renato entrar no espaço casa
Filha
PN5 – Abraçar o pai
Manipulação – Fazer cara de triste para emocionar o pai
Competência – Ser filha e querida pelo pai
Performace – correr para abraçar o pai
Sanção –. Ter o abraço do pai
Com este diagrama o diretor pode conversar com os atores sobre como o texto
apresenta essa relação final e o ator com esta visão coloca a sua e como deseja passá-la,
criar a comunicação verbal e não verbal. No caso desta cena dois pontos são importante
a casa com um portão de grade e o choro de Renato são os dois pontos altos dentro dos
planos narrativos. Assim o ator sabe que a grade é um elemento importante para as suas
ações e o choro também, já a atriz que vai interpretar Débora sabe que é essencial o seu
olhar de desprezo e sua raiva final ao culpá-lo sobre a doença.
Veja nas fotos como ficou o trabalho.
Fotos do curta cena final
Conclusão:
Nosso grupo de pesquisa esta em fase de realizar um curta totalmente com este
tipo de teoria. Este curta apresenta algumas cenas ensaiadas com a estrutura do Percurso
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul ‐ RS – 30/05 a 01/06/2013
Referencial Bibliográfico
BARROS, D.L.P. de. Teoria semiótica do texto. São Paulo, Ática. 2005
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria Semiótica do Texto. 4 ed. São Paulo: Ática,
2002.
BERTRAND, Denis. Caminhos da semiótica literária. Bauru, SP: EDUSC, 2003.
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estud. av. , São Paulo, 1991.
EISESTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990
FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. 7ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.
FIORIN, José Luiz. Elementos de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto/Edusp,
1989
GREIMAS.A. J. Semântica Estrutural: Pesquisa de Método. Säo Paulo, Cultrix/
EDUSP. 1976
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma Teoria da Linguagem.
KUSNET, Eugênio. Ator e Método. Rio de Janeiro: Funarte, 1997
SANTAELLA, L. (1983). O Que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense.
SANTAELLA L. (1992). A Assinatura das Coisas. Rio de Janeiro: Imago.
STANISLAVSKI, Constantin. A Construção da Personagem. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1986