Geometria Diferencial - kATIA fRENSEL
Geometria Diferencial - kATIA fRENSEL
Geometria Diferencial - kATIA fRENSEL
1 Curvas Planas 1
1. Curva Parametrizada Diferenciável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2. Mudança de parâmetro; comprimento de arco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3. Orientação de um espaço vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4. Fórmulas de Frenet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5. Teorema Fundamental das Curvas Planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
6. Forma Canônica Local para Curvas Planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2 Curvas no Espaço 37
1. Curva Parametrizada Diferenciável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2. Produto Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3. Teoria Local de Curvas no Espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4. Forma Local das Curvas no Espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5. Teoria do Contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
6. Teorema Fundamental das Curvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3 Superfı́cies Regulares 81
1. Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares . . . . . . . . . . . . . 81
2. Mudança de Parâmetros; Funções Diferenciáveis sobre Superfı́cies . . . . . . . 100
3. Plano Tangente; Diferencial de uma Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
1
6. Uma Caracterização das Superfı́cies Compactas Orientáveis . . . . . . . . . . . 147
Capı́tulo 1
Curvas Planas
Observação 1.1 Lembre que uma aplicação α : I −→ R2 é de classe C∞ se, e só se, suas
funções coordenadas x, y : I −→ R são de classe C∞ . E que a derivada de ordem j de α é
dada por α(j) (t) = (x(j) (t), y(j) (t)) para todo t ∈ I.
α(t) = (t3 , t2 )
2 J. Delgado - K. Frensel
Curva Parametrizada Diferenciável
é de classe C1 que não possui derivada de segunda ordem na origem (ver Fig. 5).
É fácil verificar que as curvas dos exemplos (a), (c), (d) e (e) são simples, e que a curva
do exemplo (b) não é simples, já que é periódica de perı́odo 2π.
é uma curva parametrizada diferenciável regular, pois α 0 (t) = (3t2 − 4, 2t) 6= (0, 0) para todo
t ∈ R. Mas α não é simples, pois:
3
t − 4t = s3 − 4s t(t2 − 4) = s(s2 − 4) t = 2 e s = −2
α(t) = α(s) ⇐⇒ e ⇐⇒ e ⇐⇒ ou .
2 2 2 2
t −4=s −4 t −4=s −4 t=s
Para fazer um esboço do traço de α, observe o sinal das funções coordenadas x(t) = t3 − 4t
e y(t) = t2 − 4 nos intervalos (−∞, −2), (−2, 0), (0, 2) e (2, +∞) (ver Fig. 6).
Observe também que α 0 (−2) = (8, −4) 6= (8, 4) = α 0 (2), apesar de termos α(2) = α(−2) =
(0, 0). Assim, não faz sentido falar no vetor tangente à curva α no ponto α(t) e, sim, no vetor
tangente à curva α no ponto t.
Como α 0 (t) = (sen t − 4 cos t sen t, − cos t + 2(cos2 t − sen2 t)), temos que se α 0 (t) = (0, 0)
1
então sen t = 0 ou cos t = . Mas,
4
1
• sen t = 0 =⇒ cos t = ±1 =⇒ − cos t + 2(cos2 t − sen2 t) = ou .
3
r
1 15 1 1 15 8
• cos t = =⇒ sen t = ± =⇒ − cos t + 2(cos2 t − sen2 t) = − + 2 − =− .
4 16 4 16 16 4
π π
Marque os pontos α(0) = (1, 0), α = (0, −1), α − = (0, 1), α(π) = α(−π) = (3, 0) e
2 2
π π
α =α − = (0, 0) no plano, e depois estude o sinal das funções coordenadas x(t) =
3 3
π
π π π
cos t (2 cos t − 1) e y(t) = sen t (2 cos t − 1) nos intervalos −π, − , − , − , − , 0 ,
2 2 3 3
π π π π
0, , , e , π (ver Fig. 7).
3 3 2 2
4 J. Delgado - K. Frensel
Mudança de parâmetro; comprimento de arco
Uma maneira mais fácil de obter o traço da curva α é utilizar a equação da curva em coorde-
nadas polares: r = 2 cos θ − 1.
Duas curvas diferenciáveis podem ter o mesmo traço. Por exemplo, as curvas α(t) =
(t, 2t), t ∈ R, e β(s) = (2s + 1, 4s + 2), s ∈ R, têm o mesmo traço, que é a reta que passa pela
origem e é paralela ao vetor (1, 2), pois β(s) = α(2s + 1). Observe que o vetor tangente a β no
ponto s é o dobro do vetor tangente a α no ponto 2s + 1, já que β 0 (s) = 2α 0 (2s + 1).
O mesmo acontece com os pares de curvas:
s s
• α1 (t) = (2 cos t, 2 sen t), t ∈ R e β1 (s) = 2 cos , 2 sen , s ∈ R, pois β1 (2s) = α1 (s).
2 2
Neste exemplo, também temos α10 (s) = 2β10 (2s), s ∈ R (ver Fig. 8).
π
• α2 (t) = (cos t, sen t), t ∈ R e β2 (s) = (sen s, cos s), s ∈ R, pois α2 (t) = β2 −t + . Neste
2
π
exemplo, α20 (t) = −β20 −t + (ver Fig. 9).
2
Fig. 9: Os traços das curvas α1 e β1 coincidem, mas os vetores tangentes e o sentido do percurso não
Na realidade, dada uma curva parametrizada diferenciável regular, podemos obter várias
curvas parametrizadas diferenciáveis regulares que têm o mesmo traço que α, da seguinte
maneira.
Prova.
Como α e h são de classe C∞ , temos que α ◦ h é de classe C∞ com (α ◦ h) 0 (s) = α 0 (h(s)) ·
h 0 (s) 6= 0, pois h 0 (s) 6= 0 e α 0 (h(s)) 6= 0 para todo s ∈ I.
6 J. Delgado - K. Frensel
Mudança de parâmetro; comprimento de arco
Além disso, traço(α ◦ h) = (α ◦ h)(J) = α(h(J)) = α(I) = traço α (ver Fig. 10).
A curva β = α ◦ h é chamada reparametrização de α por h, e a função h é dita mudança de
parâmetro.
Prova.
Para provar esta observação, vamos utilizar os dois teoremas abaixo de análise na reta:
(I) (E. Lima, Curso de Análise Vol. I, pag. 237) Seja f : I −→ R uma função contı́nua injetora
definida num intervalo I. Então f é monótona, J = f(I) é um intervalo e sua inversa f−1 : J −→ I
é contı́nua.
(II) (E. Lima, Curso de Análise Vol. I, pag. 263) Seja f : I −→ J uma bijeção contı́nua, onde
I e J são intervalos, tal que f−1 : J −→ I é contı́nua. Se f é derivável em t0 ∈ I, então f−1 é
derivável em f(t0 ) = s0 se, e só se, f 0 (t0 ) 6= 0. Neste caso,
1 1
(f−1 ) 0 (s0 ) = = .
f 0 (t 0) f 0 (f−1 (s0 ))
De fato, como h é C∞ e h 0 (s) 6= 0 para todo s ∈ J, então h 0 (s) > 0 ou h 0 (s) < 0 para todo s ∈ J.
Logo, pelo Teorema do Valor Médio, h é crescente ou decrescente (estritamente) em J. Em
qualquer caso, h é uma bijeção e, portanto, pelo teorema (I), h−1 : I −→ J é contı́nua.
1
Assim, pelo teorema (II), h−1 é diferenciável e (h−1 ) 0 = . Como h 0 e h−1 são contı́nuas
h0 ◦ h−1
temos que h−1 é de classe C1 . E se supusermos que h−1 é de classe Ck , obteremos que (h−1 ) 0
é de classe Ck e, portanto, h−1 é de classe Ck+1 . Então, por indução, h−1 é de classe C∞ .
Exemplo 2.1 Sejam a curva diferenciável regular α : R −→ R2 dada por α(t) = (r cos t +
s
a, r sen t + b), com r > 0, e o difeomorfismo de classe C∞ h : R −→ R dado por h(s) = .
r
s s
Então β = α ◦ h : R −→ R2 , β(s) = r cos + a, r sen + b , é uma reparametrização de α
r r
0
que tem a mesma orientação que α. Além disso, kβ (s)k = 1 para todo s ∈ R.
Fig. 11: Os traços das curvas α e β = α ◦ h coincidem mas o sentido do percurso não
Definição 2.2 Sejam α : [a, b] −→ R2 uma aplicação, P = { a = t0 < t1 < · · · < tn = b } uma
partição do intervalo [a, b] e
X
n
`(α; P) = kα(ti ) − α(ti−1 )k
i=1
o comprimento da linha poligonal que tem vértices nos pontos α(t0 ), α(t1 ), . . . , α(tn ) (Fig. 12).
8 J. Delgado - K. Frensel
Mudança de parâmetro; comprimento de arco
Dizemos que α é retificável se o conjunto { `(α; P) | P partição de [a, b] } é limitado. Neste caso,
ou seja, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que |P| < δ =⇒ |`(α) − `(α; P)| < ε, onde |P| =
max |ti − ti−1 |.
1≤i≤n
Zb
lim `(α; P) = kα 0 (t)k dt .
|P|→0 a
(Ver E. Lima, Curso de Análise Vol. II, Cap. II, seção 4).
De fato, como s 0 (t) = kα 0 (t)k = hα 0 (t) , α 0 (t)i1/2 > 0 e as funções f : (0, ∞) −→ (0, ∞),
√
f(x) = x, H : I −→ R, H(t) = x 0 (t)2 + y 0 (t)2 , onde α(t) = (x(t), y(t)), são de classe C∞ ,
temos que s 0 é de classe C∞ e, portanto, s é de classe C∞ .
Logo, pela observação 2.1, s : I −→ J é um difeomorfismo de classe C∞ sobre o intervalo
aberto J = s(I).
1 1
• Além disso, se s−1 = h : J −→ I, temos, pelo teorema II, que h 0 (u) = = ,
s 0 (h(u)) kα 0 (h(u))k
para todo u ∈ J.
Definição 2.4 Dizemos que uma curva regular α : I −→ R2 está parametrizada pelo compri-
mento de arco se
Z t1
kα 0 (t)k dt = t1 − t0 ,
t0
Prova.
Z t1
0
(⇐) Se kα (t)k = 1 para todo t ∈ I, então kα 0 (t)k dt = t1 − t0 para quaisquer t0 , t1 ∈ I,
t0
t0 ≤ t1 .
(⇒) Seja t0 ∈ I fixo e consideremos a função s : I −→ R comprimento de arco a partir de t0 .
Então,
Zt
s(t) = kα 0 (ξ)k dξ = t − t0 , se t ≥ t0 ,
t0
e
Zt Z t0
0
s(t) = kα (ξ)k dξ = − kα 0 (ξ)k dξ = −(t0 − t) = t − t0 , se t0 ≥ t ,
t0 t
s s
Exemplo 2.3 Seja α : R −→ R a curva regular dada por α(s) = r cos + a, r sen + b ,
2
r r
cujo traço é o cı́rculo de centro (a, b) e raio r > 0. Então α está parametrizada pelo compri-
s s
0 0
mento de arco, pois kα (s)k = 1, já que α (s) = − sen , cos .
r r
Proposição 2.3 Toda curva regular α : I −→ R2 admite uma reparametrização β, tal que β
está parametrizada pelo comprimento de arco.
Prova.
Zt
Seja t0 ∈ I fixo e consideremos s : I −→ J, s(t) = kα 0 (ξ)k dξ, a função comprimento
t0
10 J. Delgado - K. Frensel
Mudança de parâmetro; comprimento de arco
1
β 0 (u) = α 0 (h(u)) · h 0 (u) = α 0 (h(u)) · .
kα 0 (h(u))k
Então kβ 0 (u)k = 1 para todo u ∈ J. Assim, pela proposição 2.2, β é uma reparametrização de
α que está parametrizada pelo comprimento de arco.
Exemplo 2.4 Seja α : R −→ R2 a curva regular dada por α(t) = (at + c, bt + d), onde
a2 + b2 6= 0, e seja s : R −→ R a função comprimento de arco de α a partir de t0 = 0. Então
Zt p p
s(t) = a2 + b2 dξ = a2 + b2 t ,
0
u
e, portanto, h = s−1 : R −→ R é dada por h(u) = p . Logo β = α ◦ h : R −→ R,
a2 + b2
u u
β(u) = a p + c, b p +d é uma reparametrização de α pelo comprimento de
a2 + b2 a2 + b2
arco.
Exemplo 2.5 A curva regular α : R −→ R2 , α(t) = (et cos t, et sen t), é chamada espiral
logarı́tmica. Como
α 0 (t) = (et cos t − et sen t, et sen t + et cos t) ,
√ t
temos que kα 0 (t)k = 2 e . Logo a função comprimento de arco a partir de t0 = 0 é dada por
Zt √ √ √
s(t) = 2 eξ dξ = 2 et − 2 .
0
√ √
u
Assim, s(R) = (− 2, ∞) e h = s−1 : (− 2, ∞) −→ R é dada por h(u) = log √ +1 .
2
√
Portanto, β = α ◦ h : (− 2, ∞) −→ R2 ,
u u u u
β(u) = α(h(u)) = √ +1 cos log √ + 1 , √ + 1 sen log √ + 1 ,
2 2 2 2
Observação 2.5 A reparametrização de uma curva regular α pelo comprimento de arco não
é única.
ou seja,
1
|h10 (u)| = .
kα 0 (h1 (u))k
Portanto,
1 1
h10 (u) = ou h10 (u) = − , (?)
kα 0 (h1 (u))k kα 0 (h1 (u))k
para todo u ∈ J1 .
∞ 1
Seja f = h−1
1 : I −→ J1 . Então f é de classe C e f 0 (t) = . Logo, por (?),
h10 (f(t))
f 0 (t) = kα 0 (h1 (f(t))k = kα 0 (t)k = s 0 (t) ou f 0 (t) = −kα 0 (h1 (f(t))k = −kα 0 (t)k = −s 0 (t) ,
para todo t ∈ I. Ou seja, f(t) = s(t) + M para todo t ∈ I ou f(t) = −s(t) + M para todo t ∈ I,
onde M é uma constante.
Seja h = s−1 : J1 −→ I. Então, se:
• f(t) = s(t) + M para todo t ∈ I, temos que h1 (u) = h(u − M) para todo u ∈ J1 , pois
• f(t) = −s(t) + M para todo t ∈ I, temos que h1 (u) = h(−u + M) para todo u ∈ J1 , pois
h1 (u) = h(±u + M) ,
Zt
−1
onde h = s , s(t) = kα 0 (ξ)k dξ , t0 ∈ I e M é uma constante.
t0
12 J. Delgado - K. Frensel
Orientação de um espaço vetorial
Definição 3.1 Seja V um espaço vetorial real de dimensão finita n e sejam B = {v1 , v2 , . . . , vn }
e B 0 = {w1 , w2 , . . . , wn } bases ordenadas de V. Dizemos que B e B 0 têm a mesma orientação,
e escrevemos B ∼ B 0 , se a matriz de mudança da base B 0 para a base B possui determinante
positivo.
[B] = {B 0 | B ∼ B 0 } .
Definição 3.2 Cada uma das classes determinadas pela relação de equivalência acima é
chamada uma orientação de V.
Assim, V tem exatamente duas orientações, e, se fixarmos uma das duas de maneira arbitrária,
a outra será chamada orientação oposta.
4. Fórmulas de Frenet
Seja α : I −→ R2 , α(s) = (x(s), y(s)), uma curva regular parametrizada pelo comprimento
de arco, isto é, kα 0 (s)k = 1 para todo s ∈ I.
Para cada s ∈ I, o vetor α 0 (s) é um vetor unitário e será designado por t(s), isto é,
t(s) = (x 0 (s), y 0 (s)).
Seja n(s) o vetor unitário de R2 ortogonal a t(s) tal que a base ortogonal {t(s), n(s)} tem
a mesma orientação da base canônica {e1 , e2 }. Então n(s) = (−y 0 (s), x 0 (s)), pois kn(s)k = 1,
!
x 0 (s) −y 0 (s)
hn(s) , t(s)i = 0 e det = 1 > 0.
y 0 (s) x 0 (s)
Como, para cada s ∈ I, {t(s), n(s)} é uma base ortonormal de R2 , temos que t 0 (s) = α 00 (s)
pode ser escrito como uma combinação linear dos vetores t(s) e n(s).
Mas como ht(s) , t(s)i = 1 para todo s ∈ I, temos que ht 0 (s) , t(s)i = 0, ou seja, t 0 (s) é
ortogonal a t(s).
Logo t 0 (s) é paralelo a n(s), isto é, existe uma função κ : I −→ R tal que
1
Jean Frédéric Frenet (1816 - 1900): matemático e astrônomo francês, descobriu, independentemente do seu
compatriota Joseph Alfred Serret as hoje chamadas fórmulas de Frenet-Serret das curvas (planas e espaciais).
No caso das curvas espaciais, ele escreveu seis das nove fórmulas, que, naquela época, não foram expressas
em termos vetoriais nem usando a linguagem da Álgebra Linear. Essas fórmulas, de fundamental importância na
Geometria Diferencial, foram apresentadas na sua tese de doutorado em Toulouse (1847).
14 J. Delgado - K. Frensel
Fórmulas de Frenet
é chamada a curvatura de α em s ∈ I.
De modo análogo, como n(s) é um vetor unitário, segue-se que n 0 (s) é ortogonal a n(s) e
é, portanto, paralelo a t(s). Além disso, como hn(s) , t(s)i = 0, temos que
Logo,
n 0 (s) = −κ(s) t(s) .
s s s s
t(s) = α 0 (s) = − sen , cos e n(s) = − cos , − sen .
r r r r
1 1 s s
Logo, κ(s) = ht 0 (s) , n(s)i = > 0, pois t 0 (s) = − cos , − sen .
r r r r
1
Ou seja, α tem curvatura constante igual a (ver Fig. 14).
r
κβ (−s + M) = htβ0 (−s + M) , nβ (−s + M)i = htα0 (s) , −nα (s)i = −κα (s) .
• Note que os vetores aceleração são iguais, isto é, tα0 (s) = tβ0 (−s + M).
16 J. Delgado - K. Frensel
Fórmulas de Frenet
Logo,
κ(s) = hα 00 (s) , n(s)i = −κ(s) .
e
α 00 (s0 + h) = ϕ 0 (h)(− sen(ϕ(h) + θ0 ), cos(ϕ(h) + θ0 )) = ϕ 0 (h) n(s0 + h) .
Logo,
k(s0 ) = hα 00 (s0 ) , n(s0 )i = ϕ 0 (0) .
Isto é, que existe δ > 0 tal que, para s ∈ (s0 − δ, s0 + δ) − {s0 }, α(s) pertence ao semi-plano
aberto determinado pela reta tangente a α em s0 para o qual α 00 (s0 ) aponta (ver Fig. 16).
Fig. 16: Perto de s0 a curva permanece no semi-plano determinado pela tangente para o qual α 00 (s0 ) aponta
(s − s0 )2 00 R(s)
α(s) = α(s0 ) + (s − s0 )α 0 (s0 ) + α (s0 ) + R(s) , onde lim = 0.
2 s→s0 (s − s0 )2
Logo,
(s − s0 )2
hα(s) − α(s0 ) , α 00 (s0 )i = (s − s0 )hα 0 (s0 ) , α 00 (s0 )i + hα 00 (s0 ) , α 00 (s0 )i + hR(s) , α 00 (s0 )i
2
(s − s0 )2
= κ(s0 )2 + hR(s) , α 00 (s0 )i ,
2
κ(s0 )2
Assim, dado ε = > 0, existe δ > 0 tal que
4
18 J. Delgado - K. Frensel
Fórmulas de Frenet
Atividade 4.1 Sejam α : I −→ R2 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco e seja
s0 ∈ I tal que κ(s0 ) = 0 e κ 0 (s0 ) 6= 0. Mostre que para toda vizinhança de s0 existem pontos de
α em cada um dos semi-planos abertos determinados pela reta tangente a α em s0 .
Então, como h1−1 (r) = s(r) − M, pois h1 (s(r) − M) = h(s(r) − M + M) = r, temos que
tβ1 (h−1
1 (r)) = tβ1 (s(r) − M) = tβ (s(r)) ,
nβ1 (h−1
1 (r)) = nβ1 (s(r) − M) = nβ (s(r)) ,
κβ1 (h−1
1 (r)) = κβ1 (s(r) − M) = κβ (s(r)) .
Proposição 4.1 Seja α : I −→ R2 , α(r) = (x(r), y(r)), uma curva regular. Então
(x 0 (r), y 0 (r))
t(r) = q ,
x 0 (r)2 + y 0 (r)2
Prova.
Seja β = α ◦ h : J −→ R2 , onde h = s−1 : J −→ I e s : I −→ J é a função comprimento
de arco a partir de r0 ∈ I.
Como β(s(r)) = α(r), temos que β 0 (s(r)) · s 0 (r) = α 0 (r) e, portanto,
hα 0 (r) , α 00 (r)i
onde s 0 (r) = kα 0 (r)k e s 00 (r) = .
kα 0 (r)k
Então
20 J. Delgado - K. Frensel
Fórmulas de Frenet
Então, como
2e2t 2e2t 1
sen2 t + sen t cos t + cos2 t − sen t cos t = √ 3t = √
= √ 3t .
2 2e 2 2e 2 et
Nota: O estudo das curvas espirais teve inı́cio com o livro Sobre espirais de Arquime-
des de Siracusa (287 - 212 a.C.). Nesse livro, Arquimedes define um tipo particular
de espirais, hoje chamadas espirais de Arquimedes, e descreve detalhadamente as
suas propriedades geométricas. Outros tipos de espirais foram estudados ao longo da
História. A espiral logarı́tmica aparece entre os estudos do matemático suı́ço Jacob
Bernoulli (1654 - 1705). Bernoulli considerava essa espiral uma forma maravilhosa,
denominando-a spira mirabilis. Ele descobriu que essa espiral mantém a sua forma pe- Jacob (Jaques) Bernoulli
Definição 4.2 Se α : I −→ R2 é uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal que
1 1
κ(s0 ) 6= 0, s0 ∈ I, o número R(s0 ) = é o raio de curvatura e c(s0 ) = α(s0 ) + n(s0 ) é
|κ(s0 )| κ(s0 )
o centro de curvatura de α em s0 .
O cı́rculo osculador de α em s0 é o cı́rculo de centro c(s0 ) e raio R(s0 ).
Observação 4.6 O centro e o raio de curvatura de uma curva independem de sua orientação.
Portanto, o cı́rculo osculador também independe da orientação da curva.
s s
Observação 4.8 Seja α : R −→ R , α(s) = 2
a + r cos , b + r sen , a curva parametri-
r r
zada pelo comprimento de arco cujo traço é o cı́rculo de centro (a, b) e raio r > 0.
Então o cı́rculo osculador de α em s é o próprio cı́rculo de centro (a, b) e raio r para todo s ∈ R.
s s
De fato, como α 0 (s) = − sen , cos , temos que
r r
s s 1 s s 1
n(s) = − cos , − sen , α 00 (s) = − cos , sen , e κ(s) = hα 00 (s) , n(s)i = .
r r r r r r
1
Logo, R(s) = r e c(s) = α(s) + n(s) = (a, b) para todo s ∈ R.
κ(s)
22 J. Delgado - K. Frensel
Fórmulas de Frenet
1 π π
β(s) = c(s0 ) + cos k(s0 )(s − s0 ) + θ0 − , sen κ(s0 )(s − s0 ) + θ0 − ,
κ(s0 ) 2 2
π π
• β 0 (s) = − sen κ(s0 )(s − s0 ) + θ0 − , cos κ(s0 )(s − s0 ) + θ0 − =⇒
2 2
π π
β 0 (s0 ) = − sen θ0 − , cos θ0 − = (cos θ0 , sen θ0 ) = α 0 (s0 ) .
2 2
π π
• β 00 (s) = −κ(s0 ) cos κ(s0 )(s − s0 ) + θ0 − , sen κ(s0 )(s − s0 ) + θ0 − =⇒
2 2
π π
β 00 (s0 ) = −κ(s0 ) cos θ0 − , sen θ0 −
2 2
= κ(s0 )(− sen θ0 , cos θ0 ) = κ(s0 ) n(s0 ) = α 00 (s0 ) .
Definição 4.3 Seja α : I −→ R2 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal que
κ(s) 6= 0 para todo s ∈ I. Variando o parâmetro s em I, o centro de curvatura c(s) descreve
uma curva β : I −→ R2 , chamada a evoluta de α, dada por
1
β(s) = α(s) + n(s) ,
κ(s)
Observação 4.11 A evoluta β da curva α é regular no ponto s se, e só se, κ 0 (s) 6= 0.
De fato,
κ 0 (s) 1
β 0 (s) = α 0 (s) − 2
n(s) + n 0 (s)
κ(s) κ(s)
κ 0 (s) κ(s) 0
= α 0 (s) − 2
n(s) − α (s)
κ(s) κ(s)
κ 0 (s)
= − n(s) 6= 0 , (1)
κ(s)2
Observação 4.12 A reta tangente à evoluta β no ponto s, onde κα0 (s) 6= 0, é a reta normal
a α em s.
Com efeito, por (1), temos que o vetor tangente a β em s, β 0 (s), é paralelo ao vetor normal a α
1
em s, n(s). Além disso, como o ponto β(s) = α(s) + n(s) pertence à reta tangente a β em
κ(s)
s, r = { β(s) + λ β 0 (s) | λ ∈ R }, e a reta normal a α em s, rn = { α(s) + µ n(s) | µ ∈ R }, temos
tβ α
Observação 4.13 Seja α : I −→ R2 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal
que κ 0 (s) 6= 0 para todo s ∈ I.
Então a evoluta de α é a única curva diferenciável regular cuja reta tangente em s é igual à
reta normal a α em s.
Seja β : I −→ R2 uma curva com a propriedade acima. Então existe uma função diferenciável
24 J. Delgado - K. Frensel
Fórmulas de Frenet
λ : I −→ R tal que
Logo,
0
β (s) = α 0 (s) + λ 0 (s) n(s) + λ(s) n 0 (s)
= α 0 (s) + λ 0 (s) n(s) − λ(s) κ(s) α 0 (s)
= (1 − λ(s) κ(s))α 0 (s) + λ 0 (s) n(s) .
0 1
Como β (s) é paralelo a n(s), temos que 1 − λ(s) κ(s) = 0, ou seja, λ(s) = . Portanto,
κ(s)
1
β(s) = α(s) + n(s)
κ(s)
é a evoluta de α.
1 s s s s
β(s) = α(s) + n(s) = (a, b) + r cos , sen − r cos , sen = (a, b)
κ(s) r r r r
para todo s ∈ R.
Observação 4.14 Seja α : I −→ R2 uma curva regular com κ(t) 6= 0 para todo t ∈ I. Então
1
a evoluta de α é a curva β : I −→ R2 , β(t) = α(t) + n(t), onde
κ(t)
Exemplo 4.5 Achar a evoluta da elipse α(t) = (a cos t, b sen t) , t ∈ R , onde b < a.
Solução: Temos que x 0 (t) = −a sen t , x 00 (t) = −a cos t , y 0 (t) = b cos t , y 00 (t) = −b sen t .
Logo,
ab(cos2 t + sen2 t) ab
κ(t) = 3/2
= 2 ,
2 2 2 2
(a sen t + b cos t) (a sen t + b2 cos2 t)3/2
2
é a curvatura de α em t, e
x 0 (t)2 + y 0 (t)2 0 x 0 (t)2 + y 0 (t)2 0
β(t) = x(t) − y (t) , y(t) + x (t)
−x 00 (t)y 0 (t) + x 0 (t)y 00 (t) −x 00 (t)y 0 (t) + x 0 (t)y 00 (t)
a2 sen2 t + b2 cos2 t a2 sen2 t + b2 cos2 t
= a cos t − b cos t, b sen t − a sen t
ab ab
a2 cos t − a2 sen2 t cos t − b2 cos3 t b2 sen t − a2 sen3 t − b2 cos2 t sen t
= ,
a b
a2 − b2 3 a2 − b2 3
= cos t , − sen t
a b
√ √
Fig. 21: Evoluta da elipse, a = 2 e b = 1. √ Fig. 23: Evoluta da elipse, a = 2 e b = 1.04.
Fig. 22: Evoluta da elipse, a = 2 e b = .9.
Pela observação 4.11, β é regular em t se, e só se, κ 0 (t) 6= 0. Ou seja, β 0 (t) = 0 se, e só se,
κ 0 (t) = 0.
Como
3 2a2 sen t cos t − 2b2 cos t sen t −3ab sen t cos t(a2 − b2 )
κ 0 (t) = − ab = ,
2 (a2 sen2 t + b2 cos2 t)5/2 (a2 sen2 t + b2 cos2 t)5/2
26 J. Delgado - K. Frensel
Teorema Fundamental das Curvas Planas
para todo s ∈ I.
Lema 5.1 Sejam a, b : I −→ R funções diferenciáveis ( C∞ ) tais que a(t)2 + b(t)2 = 1 para
todo t ∈ I, t0 ∈ I e θ0 ∈ R tais que a(t0 ) = cos θ0 e b(t0 ) = sen θ0 . Então a função diferenciável
θ : I −→ R, dada por
Zt
θ(t) = θ0 + [a(s)b 0 (s) − b(s)a 0 (s)] ds ,
t0
é tal que θ(t0 ) = θ0 e a(t) = cos θ(t), b(t) = sen θ(t) para todo t ∈ I.
Prova.
Basta provar que
(a(t) − cos θ(t))2 + (b(t) − sen θ(t))2 = 2(1 − a(t) cos θ(t) − b(t) sen θ(t)) = 0
De fato,
A 0 (t) = −a(t)θ 0 (t) sen θ(t) + b(t)θ 0 (t) cos θ(t) + a 0 (t) cos θ(t) + b 0 (t) sen θ(t)
= −a(t) (a(t)b 0 (t) − b(t)a 0 (t)) sen θ(t) + b(t) (a(t)b 0 (t) − b(t)a 0 (t)) cos θ(t)
+a 0 (t) cos θ(t) + b 0 (t) sen θ(t)
= (−a(t)2 b 0 (t) + a(t)a 0 (t)b(t)) sen θ(t) + a 0 (t) cos θ(t) + b 0 (t) sen θ(t)
+(a(t)b(t)b 0 (t) − b(t)2 a 0 (t)) cos θ(t) .
Como a(t)2 + b(t)2 = 1 para todo t ∈ I, temos que 2a(t)a 0 (t) = −2b(t)b 0 (t) para todo t ∈ I.
Logo
A 0 (t) = −b 0 (t)(a(t)2 + b(t)2 ) sen θ(t) − a 0 (t)(a(t)2 + b(t)2 ) cos θ(t) + a 0 (t) cos θ(t)
+b 0 (t) sen θ(t) = 0 ,
para todo t ∈ I.
Assim, como
A(t0 ) = a(t0 ) cos θ(t0 ) + b(t0 ) sen θ(t0 ) = cos θ0 cos θ0 + sen θ0 sen θ0 = 1 ,
(1) Seja a curva parametrizada diferenciável α : I −→ R2 , α(s) = (x(s), y(s)), dada por:
Zs
• x(s) = x0 + cos θ(r) dr
s0
Zs
• y(s) = y0 + sen θ(r) dr ,
s0
Zs
2
onde (x0 , y0 ) ∈ R , θ0 ∈ R, s0 ∈ I e θ(s) = κ(ξ) dξ + θ0 .
s0
Então α 0 (s) = (x 0 (s), y 0 (s)) = (cos θ(s), sen θ(s)) e, portanto, kα 0 (s)k = 1 para todo s ∈ I, isto
é, α é uma curva parametrizada pelo comprimento de arco s.
Assim, como n(s) = (− sen θ(s), cos θ(s)) e α 00 (s) = θ 0 (s)(− sen θ(s), cos θ(s)) = θ 0 (s)n(s),
temos que κα (s) = hα 00 (s) , n(s)i = θ 0 (s) = κ(s) para todo s ∈ I.
(2) Seja α : I −→ R2 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal que
α(s0 ) = (x0 , y0 ), α 0 (s0 ) = v0 e κα (s) = κ(s) para todo s ∈ I.
28 J. Delgado - K. Frensel
Teorema Fundamental das Curvas Planas
Seja θ0 ∈ R tal que v0 = (cos θ0 , sen θ0 ). Então, pelo Lema 5.1, existe uma função θ : I −→ R
de classe C∞ tal que θ(s0 ) = θ0 e α 0 (s) = (cos θ(s), sen θ(s)).
Como n(s) = (− sen θ(s), cos θ(s)) e α 00 (s) = θ 0 (s)n(s) temos que κ(s) = hα 00 (s) , n(s)i = θ 0 (s)
Zs
para todo s ∈ I, ou seja, θ(s) = κ(ξ) dξ + θ0 para todo s ∈ I.
s0
Assim, θ(s) = θ(s) + 2πk para algum k ∈ N. Portanto, α 0 (s) = β 0 (s) para todo s ∈ I. Como
α(s0 ) = β(s0 ) = p0 , temos que α(s) = β(s) para todo s ∈ R.
Observação 5.1 Como α 00 (s) = +κ(s) n(s), α(s0 ) = (x0 , y0 ) e α 0 (s0 ) = v0 = (v1 , v2 ), temos
que as coordenadas de α satisfazem as equações diferenciais
x 00 (s) = −κ(s) y 0 (s)
y 00 (s) = κ(s) x 0 (s) ,
(3) Sejam α, β : I −→ R2 duas curvas parametrizadas pelo comprimento de arco tais que
κα (s) = κβ (s) = κ(s) para todo s ∈ I.
α 0 (s) = (cos θ(s), sen θ(s)) , β 0 (s) = (cos ϕ(s), sen ϕ(s)) e θ 0 (s) = ϕ 0 (s) = κ(s) .
para todo s ∈ I.
Seja c0 ∈ R tal que ϕ(s) = θ(s) + c0 . Então, sendo α(s0 ) = p0 = (x0 , y0 ) e β(s0 ) = p1 = (x1 , y1 ),
temos:
Zs Zs
α(s) = x0 + cos θ(ξ) dξ , y0 + sen θ(ξ) dξ ,
s0 s0
e
Zs Zs
β(s) = x1 + cos ϕ(ξ) dξ , y1 + sen ϕ(ξ) dξ
s0 s0
Zs Zs
= x1 + cos(θ(ξ) + c0 ) dξ , y1 + sen(θ(ξ) + c0 ) dξ
s0 s0
Z s
= (x1 , y1 ) + (cos c0 cos θ(ξ) − sen c0 sen θ(ξ)) dξ ,
s0
Zs
(cos c0 sen θ(ξ) + sen c0 cos θ(ξ)) dξ .
s0
Zs Zs
Como x(s) − x0 = cos θ(ξ) dξ e y(s) − y0 = sen θ(ξ) dξ , onde α(s) = (x(s), y(s)),
s0 s0
obtemos que:
!
cos c0 − sen c0
.
sen c0 cos c0
Portanto, β(s) = p1 + Rc0 (α(s)) − Rc0 (p0 ) = Ta ◦ Rc0 (α(s)), onde Ta : R2 −→ R2 é a translação
dada por Ta (p) = p + a, com a = p1 − Rc0 (p0 ).
Também temos que β = (Rc0 ◦Tb )◦α, onde Tb : R2 −→ R2 é a translação dada por T (p) = p+b,
com b = R−1
c0 (p1 ) − p0 = R−c0 (p1 ) − p0 .
Seja α : I −→ R2 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco. Pela fórmula de Taylor
infinitesimal em torno do ponto s0 ∈ I, temos que:
(s − s0 )2 (s − s0 )3 R(s)
α(s) = α(s0 )+α 0 (s0 )(s−s0 )+α 00 (s0 ) +α 000 (s0 ) +R(s) , onde lim = 0.
2 3! s→s0 (s − s0 )3
30 J. Delgado - K. Frensel
Forma Canônica Local para Curvas Planas
Então, pelas fórmulas de Frenet, t 0 (s0 ) = κ(s0 ) n(s0 ) e n 0 (s0 ) = −κ(s0 ) t(s0 ), obtemos que:
(s − s0 )2
α(s) = α(s0 ) + t(s0 )(s − s0 ) + κ(s0 ) n(s0 )
2
(s − s0 )3
+(κ 0 (s0 ) n(s0 ) − κ(s0 )2 t(s0 )) + R(s)
3!
= α(s0 ) + x(s) t(s0 ) + y(s) n(s0 ) ,
onde
(s − s0 )3
x(s) = (s − s0 ) − κ(s0 )2 + Rt (s)
3!
(s − s0 )2 (s − s0 )3
y(s) = κ(s0 ) + κ 0 (s0 ) + Rn (s) ,
2 3!
A expressão
α(s) = α(s0 ) + x(s) t(s0 ) + y(s)n(s0 )
y(s) κ(s0 )
• y(s) > 0 se κ(s0 ) > 0 e y(s) < 0 se κ(s0 ) < 0, pois lim 2
= .
s→s0 (s − s0 ) 2
De fato,
1
kα(s) − c(s0 )k2 = kα(s0 ) + x(s)t(s0 ) + y(s)n(s0 ) − α(s0 ) − n(s0 )k2
κ(s0 )
2
2 1
= x(s) + y(s) −
κ(s0 )
h 1
i2
= (s − s0 ) − κ(s0 )2 (s − s0 )3 + Rt (s)
6
2
1 1 1
+ κ(s0 )(s − s0 )2 + κ 0 (s0 )(s − s0 )3 + Rn (s) −
2 6 κ(s0 )
1 1
= (s − s0 )2 − (s − s0 )4 κ(s0 )2 + κ(s0 )4 (s − s0 )6 + O4 (s)
3 36
1 1 1 0
+ κ(s0 )2 (s − s0 )4 + κ(s0 )κ 0 (s0 )(s − s0 )5 + κ (s0 )2 (s − s0 )6
4 6 36
1 κ 0 (s0 ) 1
−(s − s0 )2 − (s − s0 )3 + + O3 (s) ,
3 κ(s0 ) κ(s0 )2
O4 (s) O3 (s)
onde lim = 0 e lim = 0.
s→s0 (s − s0 )4 s→s0 (s − s0 )3
Logo,
1 κ 0 (s0 ) 1
kα(s) − c(s0 )k2 = − (s − s0 )3 + + R3 (s) ,
3 κ(s0 ) κ(s0 )2
R3 (s)
onde lim = 0.
s→s0 (s − s0 )3
Portanto,
1
• s > s0 =⇒ (s − s0 )3 > 0 =⇒ kα(s) − c(s0 )k2 < .
κ(s0 )2
32 J. Delgado - K. Frensel
Forma Canônica Local para Curvas Planas
1
• s > s0 =⇒ (s − s0 )3 > 0 =⇒ kα(s) − c(s0 )k2 > .
κ(s0 )2
1
• s < s0 =⇒ (s − s0 )3 < 0 =⇒ kα(s) − c(s0 )k2 < ;
κ(s0 )2
1
• s > s0 =⇒ (s − s0 )3 > 0 =⇒ kα(s) − c(s0 )k2 > .
κ(s0 )2
1
• s > s0 =⇒ (s − s0 )3 > 0 =⇒ kα(s) − c(s0 )k2 < .
κ(s0 )2
Exemplo 6.1 Seja C um cı́rculo de raio a que rola sobre o eixo-Ox sem deslizar. Um ponto
P deste cı́rculo descreve uma curva chamada ciclóide. Supondo que para t = 0 o ponto P do
cı́rculo coincide com a origem do sistema de coordenadas, obtenha uma curva parametrizada
diferenciável cujo traço é a ciclóide. Esta curva é regular?
34 J. Delgado - K. Frensel
Forma Canônica Local para Curvas Planas
Como
kα 0 (t)k2 = (a − a cos t)2 + a2 sen2 t = a2 + a2 cos2 t − 2a2 cos t + a2 sen2 t = 2a2 (1 − cos t) ,
temos que:
α 0 (t) a(1 − cos t) a sen t
lim = lim ± √ √ , √ √
t→2πk± kα 0 (t)k t→2πk a 2 1 − cos t a 2 1 − cos t
√ √
1 − cos t sen t 1 + cos t
= lim √ , p √
t→2πk± 2 1 − cos2 t 2
√ √
1 − cos t sen t 1 + cos t
= lim √ , √
t→2πk± 2 | sen t| 2
= (0, ±1) .
Logo, não existe uma curva parametrizada diferenciável regular γ : R −→ R2 cujo traço é a
ciclóide, pois, caso contrário, γ possuiria uma reparametrização β : R −→ R2 pelo comprimento
de arco e, portanto, pela forma canônica local de β em s0 ,
(s − s0 )3 x(s)
onde β(s0 ) = (2kπa, 0) e x(s) = (s − s0 ) − κβ (s0 )2 + Rx (s) terı́amos que lim = 1,
3! s→s0 s − s0
36 J. Delgado - K. Frensel
Curva Parametrizada Diferenciável
Capı́tulo 2
Curvas no Espaço
Neste capı́tulo estudaremos a teoria local das curvas no espaço euclidiano R3 . Como veremos
a seguir, muitos conceitos e resultados básicos são introduzidos e provados de modo análogo
aos de curvas planas.
Exemplo 1.1 A aplicação α : R −→ R3 dada por α(t) = (x0 , y0 , z0 ) + (a, b, c)t é uma curva
parametrizada diferenciável cujo traço é a reta que passa pelo ponto (x0 , y0 , z0 ) e é paralela ao
vetor (a, b, c). Logo, α é uma curva plana.
com a > 0 e b 6= 0, é a hélice circular de passo 2πb cujo traço está contido no cilindro
C : x2 + y2 = a2 . O parâmetro t mede o ângulo que o eixo OX faz com a reta que liga a origem
O à projeção do ponto α(t) sobre o plano XY.
Se dois pontos α(t1 ) e α(t2 ) têm as duas primeiras coordenadas iguais, então z(t2 ) − z(t1 ) é
um múltiplo inteiro de 2πb.
Afirmação: A curva α não é plana.
De fato, suponhamos que existem um vetor (A, B, C) não-nulo e um número real D tal que
α(R) está contido no plano
π : Ax + By + Cz = D .
Ou seja,
para todo t ∈ R.
Derivando a igualdade (I), temos que
para todo t ∈ R.
π
Fazendo t = 0 e t = em (II), obtemos, respectivamente, que aB = −bC e aA = bC. Logo
2
aA = −aB = bC 6= 0 e, portanto, por (II), − sen t − cos t + 1 = 0 para todo t ∈ R.
Assim, − cos t + sen t = 0 para todo t ∈ R, uma contradição.
38 J. Delgado - K. Frensel
Curva Parametrizada Diferenciável
As noções de vetor tangente, curva regular, reta tangente e mudança de parâmetro são
análogas às já vistas para curvas planas. Portanto, serão introduzidas sem muitos comentários.
Definição 1.3 Seja α : I −→ R3 , α(t) = (x(t), y(t), z(t)) uma curva parametrizada dife-
renciável. O vetor tangente a α em t é o vetor α 0 (t) = (x 0 (t), y 0 (t), z 0 (t)). A curva α é regular
se α 0 (t) 6= 0 para todo t ∈ I. A reta tangente r à curva α em t0 ∈ I é a reta que passa por α(t0 )
e é paralela ao vetor α 0 (t0 ), isto é, r = {α(t0 ) + λα 0 (t0 ) | λ ∈ R}.
Zt
kα 0 (ξ)k dξ ,
t0
para todo t ∈ I.
Definição 1.7 Dizemos que uma curva regular α : I −→ R3 está parametrizada pelo compri-
mento de arco se
Z t1
kα 0 (ξ)k dξ = t1 − t0 ,
t0
para todos t0 , t1 ∈ I, t0 ≤ t1 .
As demonstrações desses resultados são idênticas às feitas no Capı́tulo I para curvas planas.
onde a > 0 e b 6= 0.
40 J. Delgado - K. Frensel
Produto Vetorial
p Zt p
0 0
Como α (t) = (−a sen t, a cos t, b), temos que kα (t)k = a2 + b2 , s(t) = a2 + b2 dξ =
0
p r
a2 + b2 t e, portanto, h(r) = s−1 (r) = p .Logo,
a2 + b2
r r br
β(r) = α ◦ h(r) = a cos p , a sen p ,p
a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2
2. Produto Vetorial
para todo w ∈ R3 .
temos:
u1 u2 u3
u u u u u u
2 3 1 3 1 2
det(u, v, w) = v1 v2 v3 = w1 − w2 + w3 = hu ∧ v , wi
v2 v3 v1 v3 v1 v2
w1 w2 w 3
Logo,
u u u u u u
2 3 1 3 1 2
u∧v= e − e + e . (1)
v2 v3 1 v1 v3 2 v1 v2 3
Das propriedades conhecidas dos determinantes, podemos verificar facilmente que o produto
vetorial satisfaz as seguintes propriedades:
(a) u ∧ v = −v ∧ u ;
(b) (λu + µw) ∧ v = λ(u ∧ v) + µ(w ∧ v) , ∀ λ, µ ∈ R ;
42 J. Delgado - K. Frensel
Produto Vetorial
!
u u3 u u2
1 1
= − w3 − w2 e1
v1 v3 v1 v2
!
u u3 u u2
2 1
− w3 − w1 e2
v2 v3 v1 v2
!
u u3 u u3
2 1
+ w2 + w1 e3
v2 v3 v1 v3
= (−(u1 v3 w3 − v1 u3 w3 ) − (u1 v2 w2 − u2 v1 w2 )) e1
+ (−(u2 v3 w3 − u3 v2 w3 ) + (u1 v2 w1 − u2 v1 w1 )) e2
+ ((u2 v3 w2 − u3 v2 w2 ) + (u1 v3 w1 − u3 v1 w1 )) e3
= u1 w1 v1 + u2 w2 v1 + u3 w3 v1 − v1 w1 u1 − v2 w2 u1 − v3 w3 u1 e1
+ u 1 w 1 v2 + u 2 w 2 v2 + u 3 w 3 v2 − v1 w 1 u 2 − v2 w 2 u 2 − v3 w 3 u 2 e 2
+ u1 w1 v3 + u2 w2 v3 + u3 w3 v3 − v1 w1 u3 − v2 w2 u3 − v3 w3 u3 e3
Como queiramos.
Usando a relação acima, podemos concluir que o produto vetorial não é associativo, pois
como:
• (u ∧ v) ∧ w = hu , wiv − hv , wiu ,
e
• u ∧ (v ∧ w) = −(v ∧ w) ∧ u = −hv , uiw + hw , uiv ,
temos, tomando u = (1, 0, 0), v = (1, 1, 0) e w = (1, 1, 1), por exemplo, que:
Finalmente, sejam u(t) = (u1 (t), u2 (t), u3 (t)) e v(t) = (v1 (t), v2 (t), v3 (t)) aplicações dife-
renciáveis definidas em um intervalo aberto I = (a, b), t ∈ (a, b). Pela equação (1) decorre
que u(t) ∧ v(t) é diferenciável e
d du dv
(u(t) ∧ v(t)) = (t) ∧ v(t) + u(t) ∧ (t) .
dt dt dt
44 J. Delgado - K. Frensel
Teoria Local de Curvas no Espaço
No Capı́tulo anterior, vimos que a teoria local das curvas planas está contida essencialmente
nas fórmulas de Frenet, que são obtidas considerando um diedro ortonormal positivo associ-
ado naturalmente a uma curva plana.
A seguir, vamos desenvolver um estudo análogo, considerando um triedro ortonormal positivo
associado a uma curva de R3 parametrizada pelo comprimento de arco.
Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco. Como o vetor tangente
α 0 (s) é unitário, o módulo kα 00 (s)k da derivada segunda mede a taxa de variação do ângulo
que as tangentes vizinhas fazem com a tangente em s, ou seja, kα 00 (s)k dá uma medida do
quão rapidamente a curva se afasta, em uma vizinhança de s, da reta tangente a α em s.
Isso sugere a seguinte definição:
κ(s) = kα 00 (s)k .
A proposição abaixo caracteriza as retas como sendo as únicas curvas de curvatura identica-
mente nula.
Prova.
(⇒) Suponhamos que α(I) é um segmento de reta. Seja v = α 0 (s0 ), s0 ∈ I fixo. Então
existe uma função λ : I −→ R de classe C∞ tal que α 0 (s) = λ(s)v para todo s ∈ I.
Como |λ(s)| = kα 0 (s)k = 1 para todo s ∈ I, λ(s0 ) = 1 e λ(s) = hα 0 (s) , vi é contı́nua, temos que
λ(s) = 1 para todo s ∈ I.
(⇐) Suponhamos que κ(s) = kα 00 (s)k = 0 para todo s ∈ I. Então existe v ∈ R3 unitário tal que
α 0 (s) = v para todo s ∈ I.
Se hα 0 (s) , α 0 (s)i = 1 para todo s ∈ I, então hα 00 (s) , α 0 (s)i = 0 para todo s ∈ I. Portanto, nos
pontos s ∈ I onde κ(s) 6= 0, isto é, α 00 (s) 6= 0, podemos definir um vetor unitário na direção de
α 00 (s) da seguinte maneira.
Denotando por t(s0 ) o vetor tangente a α 0 (s0 ), temos que t(s0 ) e n(s0 ) são vetores ortonormais
e
t 0 (s0 ) = κ(s0 ) n(s0 ) .
O plano paralelo aos vetores t(s0 ) e n(s0 ) que passa pelo ponto α(s0 ) é chamado o plano
osculador de α em s0 :
• Nos pontos onde κ(s) = 0, o vetor normal (portanto o plano osculador) não está definido.
Para prosseguir a análise local das curvas, necessitamos, de uma maneira essencial, do plano
osculador. Dizemos que s ∈ I é um ponto singular de ordem 1 se α 00 (s) = 0. Os pontos onde
α 0 (s) = 0 são chamados pontos singulares de ordem 0.
46 J. Delgado - K. Frensel
Teoria Local de Curvas no Espaço
• No que se segue, nos restringiremos às curvas parametrizadas pelo comprimento de arco
sem pontos singulares de ordem 1.
Vamos definir um terceiro vetor que junto com t e n formam uma base ortonormal positiva de
R3 .
Definição 3.3 • Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal
que κ(s) > 0 para todo s ∈ I. O vetor binormal a α em s é o vetor
• O plano que passa por α(s) e é paralelo aos vetores t(s) e b(s) é chamado o plano retificante
da curva α em s:
πret (s) = {α(s) + λt(s) + µb(s) | λ, µ ∈ R} .
Observação 3.1 O vetor binormal b(s) é normal ao plano osculador de α em s, pois b(s) ⊥
t(s) e b(s) ⊥ n(s). Portanto:
De modo análogo, como t(s) = n(s) ∧ b(s) e n(s) = b(s) ∧ t(s), temos que
e
πret (s) = {p ∈ R3 | hp − α(s) , n(s)i = 0} .
Observação 3.3 Como o vetor b(s) é unitário, |τ(s)| = kb 0 (s)k mede a taxa de variação do
ângulo do plano osculador de α em s com os planos osculadores vizinhos, isto é, |τ(s)| indica
quão rapidamente a curva se afasta, em uma vizinhança de s, do plano osculador de α em s.
Proposição 3.2 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal
que κ(s) > 0 para todo s ∈ I. Se α é uma curva plana, então o plano osculador de α independe
de s e é o plano que contém o traço de α.
Prova.
Seja v um vetor normal unitário ao plano que contém o traço de α, isto é,
π = {p ∈ R3 | hp − α(s0 ) , vi = 0} .
48 J. Delgado - K. Frensel
Teoria Local de Curvas no Espaço
Proposição 3.3 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal
que κ(s) > 0 para todo s ∈ I. Então α é uma curva plana se, e só se, τ(s) = 0 para todo s ∈ I.
Prova.
(⇒) Se α é uma curva plana, pela proposição acima, b(s) é constante. Então b 0 (s) = 0 e,
portanto, τ(s) = hb 0 (s) , n(s)i = 0 para todo s ∈ I.
(⇐) Se τ(s) = 0 para todo s ∈ I, temos que b 0 (s) = 0 para todo s ∈ I. Sejam s0 ∈ I e a função
f : I −→ R de classe C∞ dada por f(s) = hα(s) − α(s0 ) , b0 i, onde b0 = b(s) para todo s ∈ I.
Derivando, obtemos f 0 (s) = hα 0 (s) , b0 i = hα 0 (s) , b(s)i = 0 para todo s ∈ I. Logo f é constante
e igual a zero, pois f(s0 ) = 0.
Observação 3.4 A condição κ(s) > 0 para todo s ∈ I, na proposição acima, é essencial. No
exercı́cio 10 (pag. —) é dado um exemplo onde τ pode ser definida como identicamente zero,
mas a curva não é plana.
Observação 3.6 A curvatura, a torção e o vetor normal permanecem invariantes por uma
mudança de orientação da curva α, enquanto o vetor tangente e o vetor binormal mudam de
sinal.
Com efeito, seja β(s) = α(−s + M), s ∈ (−a + M, −b + M) outra parametrização pelo compri-
mento de arco que tem orientação oposta à de α.
Então, β 0 (s) = −α 0 (−s + M) e β 00 (s) = α 00 (−s + M). Logo
Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco com κ(s) > 0 para todo
s ∈ I. Como o referencial de Frenet da curva α em s, {t(s), n(s), b(s)}, é uma base ortogonal
de R3 , podemos escrever os vetores t 0 (s), n 0 (s) e b 0 (s) como combinação linear de t(s), n(s) e
b(s). Já vimos que
t 0 (s) = κ(s) n(s) e b 0 (s) = τ(s) n(s) .
Vamos obter agora a expressão de n 0 (s) como combinação linear de t(s), n(s) e b(s).
Como n(s) = b(s) ∧ t(s), derivando temos:
b 0 (s) = τ(s)n(s) ,
onde a > 0 e b 6= 0.
Então,
0 −a s a s b
α (s) = p sen p ,p cos p ,p
a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2
e
00 −a s −a s
α (s) = cos p , 2 sen p ,0 .
a2 + b2 2
a +b2 a + b2
a + b2
2
a
Logo, κ(s) = kα 00 (s)k = é constante e o vetor normal
a2 + b2
α 00 (s) s s
n(s) = = − cos p , − sen p ,0
κ(s) a2 + b2 a2 + b2
50 J. Delgado - K. Frensel
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temos que
0 b s b s
b (s) = 2 2
cos p , 2 2
sen p ,0
a +b a2 + b2 a + b a2 + b2
−b
e, portanto, τ(s) = hb 0 (s) , n(s)i = é constante.
a2 + b2
• O triedro de Frenet, a curvatura e a torção foram definidas para uma curva parametrizada
pelo comprimento de arco. A proposição abaixo permite obter a curvatura, a torção e o triedro
de Frenet de uma curva regular com parâmetro qualquer sem precisar reparametrizá-la pelo
comprimento de arco.
de arco de α a partir de t0 .
Então,
α 0 (t)
tα (t) = tβ (s(t)) = ;
kα 0 (t)k
Prova.
hα 0 (t) , α 00 (t)i
Como α(t) = β(s(t)), s 0 (t) = kα 0 (t)k e s 00 (t) = , temos que:
kα 0 (t)k
e
hα 0 (t) , α 00 (t)i
α 00 (t) = β 00 (s(t))kα 0 (t)k2 + β 0 (s(t)) .
kα 0 (t)k
Logo,
α 0 (t)
tα (t) = tβ (s(t)) = ; (2)
kα 0 (t)k
Então,
kα 0 (t) ∧ α 00 (t)k
Portanto, κα (t) = κβ (s(t)) = , e, por (3),
kα 0 (t)k3
1 1
i
−(α 0 (t) ∧ α 00 (t)) 2hα 0 (t) ∧ α 000 (t) , α 0 (t) ∧ α 00 (t)i .
2 kα 0 (t) ∧ α 00 (t)k2
52 J. Delgado - K. Frensel
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Logo
α 0 (t) ∧ α 000 (t) hα 0 (t) ∧ α 000 (t) , α 0 (t) ∧ α 00 (t)i α 0 (t) ∧ α 00 (t)
bβ0 (s(t)) = − (5)
kα 0 (t)k kα 0 (t) ∧ α 00 (t)k kα 0 (t)k kα 0 (t) ∧ α 00 (t)k2 .
Assim, como
τα (t) = τβ (s(t)) = hbβ0 (s(t)) , nβ (s(t))i ,
pois
hα 0 (t) , α 0 (t) ∧ α 000 (t)i = hα 0 (t) , α 0 (t) ∧ α 00 (t)i = hα 00 (t) , α 0 (t) ∧ α 00 (t)i = 0 ,
para todo t ∈ I.
A proposição abaixo caracteriza as curvas regulares cujo traço está contido em um cı́rculo.
Proposição 3.5 Seja α : I −→ R3 uma curva regular tal que κ(t) > 0 para todo t ∈ I. Então
1
o traço de α está contido num cı́rculo de raio a > 0 se, e só se, τ ≡ 0 e κ ≡ .
a
Prova.
Podemos supor, sem perda de generalidade, que α está parametrizada pelo comprimento
de arco.
(⇒) Suponhamos que α(I) ⊂ Ca (c), onde Ca (c) é o cı́rculo de centro c e raio a.
Como α é uma curva plana temos, pela proposição 3.3, que τ ≡ 0, b(s) = b é constante e
hα(s) − c , bi = 0 para todo s ∈ I.
Além disso, como hα(s) − c , α(s) − ci = a2 para todo s ∈ I, obtemos, derivando duas vezes
essa expressão, que:
hα 0 (s) , α(s) − ci = 0 ,
e
hα 00 (s) , α(s) − ci = −hα 0 (s) , α 0 (s)i = −1 , (6)
para todo s ∈ I.
Como α(s) − c é ortogonal aos vetores t(s) e b temos que α(s) − c é paralelo ao vetor normal
n(s). Portanto, por (6),
kα 00 (s)k kα(s) − ck = 1 ,
1
ou seja, κ(s) = para todo s ∈ I.
a
1
Como τ ≡ 0 e κ ≡ , concluı́mos que f 0 (s) = 0. Portanto, existe c ∈ R3 tal que f(s) = c para
a
todo s ∈ I, ou seja,
α(s) + an(s) = c ,
para todo s ∈ I.
Logo, kα(s) − ck = kan(s)k = a para todo s ∈ I.
Além disso, como τ ≡ 0, temos que b(s) = b é constante e
α(I) ⊂ π = {p ∈ R3 | hp − α(s0 ) , bi = 0} .
Atividade 3.1 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco contida
1
numa esfera Sa (c) de centro c e raio a. Então κ(s) ≥ para todo s ∈ I
a
Solução: Como hα(s) − c , α(s) − ci = a2 para todo s ∈ I, obtemos, derivando duas vezes
essa expressão, que:
hα 0 (s) , α(s) − ci = 0
=⇒ hα 0 (s) , α 0 (s)i + hα 00 (s) , α(s) − ci = 0
=⇒ κ(s) hn(s) , α(s) − ci = −1
1
=⇒ κ(s) 6= 0 e hn(s) , α(s) − ci = −
κ(s)
1
=⇒ = |hn(s) , α(s) − ci| ≤ kn(s)k kα(s) − ck = a
κ(s)
1
=⇒ κ(s) ≥ para todo s ∈ I .
a
Atividade 3.2 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco contida
numa esfera de centro c e raio a tal que κ(s) ≡ κ é constante em I. Mostre que α(I) está
1
contido num cı́rculo de raio e determine o centro deste cı́rculo.
κ
54 J. Delgado - K. Frensel
Teoria Local de Curvas no Espaço
1 1
κ≥ , hα 0 (s) , α(s) − ci = 0 e hn(s) , α(s) − ci = − , (7)
a k
para todo s ∈ I.
Afirmação: τ(s) = 0 para todo s ∈ I.
Suponhamos, por absurdo, que existe s0 ∈ I tal que τ(s0 ) 6= 0. Então existe um intervalo aberto
I0 ⊂ I tal que s0 ∈ I0 e τ(s) 6= 0 para todo s ∈ I0 .
Logo, por (8), hb(s) , α(s) − ci = 0 para todo s ∈ I0 . Como
1
(α(s) − c) ⊥ α 0 (s) , (α(s) − c) ⊥ b(s) e hα(s) − c , n(s)i = − ,
κ
temos que
1 1
α(s) − c = − n(s) ⇐⇒ c = α(s) + n(s) ,
κ κ
para todo s ∈ I0 .
Então,
1 1 τ(s)
0 = α 0 (s) + n 0 (s) = α 0 (s) + (−κα 0 (s) − τ(s)b(s)) = − b(s) ,
κ κ κ
1
Como τ(s) = 0 e κ(s) = para todo s ∈ I pela proposição 3.5, α(I) está contido em um cı́rculo
κ
C de raio κ no plano
π = {p ∈ R3 | hp − α(s) , bi = 0} ,
para todo s ∈ I.
Logo,
é constante em I.
1
α(s) − c = − n(s) + a cos θ b .
κ
Logo,
1
1
kα(s) − (c + a cos θ b)k =
− n(s)
= ,
κ κ
para todo s ∈ I.
Para concluir que c 0 = c + a cos θ b é o centro do cı́rculo C, basta observar que c 0 ∈ π = {p ∈
R3 | hp − α(s0 ) , bi = 0}, pois, por (9),
1
• Observe que se κ ≡ então c 0 = c, ou seja, α(I) está contido na interseção da esfera Sr (c)
a
com um plano que passa por c.
56 J. Delgado - K. Frensel
Teoria Local de Curvas no Espaço
1
Fig. 5: Se κ ≡ a
então c = c 0
1
De fato, por (7), hα(s) − c , n(s)i = − = −a e, portanto,
κ
1
Logo, α(s) − c e n(s) são LD e α(s) − c = − n(s) = −an(s) , ou seja, c 0 = c = α(s) + an(s),
κ(s)
pois cos θ = 0 em (?).
• A hélice circular α(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, a > 0 e b 6= 0, tem a propriedade de que
o vetor tangente α 0 (t) = (−a sen t, a cos t, b) faz um ângulo constante com o eixo-Oz, pois
Este é um caso particular de uma classe de curvas que têm a mesma propriedade.
Definição 3.5 Uma curva regular α : I −→ R3 é uma hélice se existe um vetor v unitário que
faz um ângulo constante com α 0 (t), isto é, existe c ∈ R tal que
hα 0 (t) , vi
= c,
kα 0 (t)k
para todo t ∈ I.
Exemplo 3.3 A curva regular α : R −→ R3 , dada por α(t) = (et cos t, et sen t, et ), é uma
hélice, pois
α 0 (t) = et (cos t, sen t, 1) + et (− sen t, cos t, 0)
hα 0 (t) , (0, 0, 1)i et 1
e, portanto, 0
= √ t = √ é constante.
kα (t)k 3e 3
Proposição 3.6 Seja α : I −→ R3 uma curva regular tal que κ(t) > 0 para todo t ∈ I. Então
τ
α é uma hélice se, e só se, é constante.
κ
Prova.
Podemos supor, sem perda de generalidade, que α está parametrizada pelo comprimento
de arco.
(⇒) Suponhamos que existem um vetor v unitário e c ∈ R tais que hα 0 (s) , vi = c para todo
s ∈ I.
Então, como hα 00 (s) , vi = 0, α 00 (s) = κn(s) e κ(s) 6= 0, temos que hn(s) , vi = 0 para todo s ∈ I.
Logo, existem funções λ, δ : I −→ R de classe C∞ tais que
v = λ(s)t(s) + δ(s)b(s) ,
para todo s ∈ I. Como λ(s)2 + δ(s)2 = 1, temos, pelo lema 5.1 do Capı́tulo 1, que existe uma
função θ : I −→ R de classe C∞ tal que λ(s) = cos θ(s) e δ(s) = sen θ(s), ou seja,
para todo s ∈ I.
Derivando, obtemos:
0 = − sen θ(s) · θ 0 (s) t(s) + cos θ(s) · κ(s) n(s) + cos θ(s) · θ 0 (s) b(s) + sen θ(s) · τ(s) n(s) .
Logo,
58 J. Delgado - K. Frensel
Forma Local das Curvas no Espaço
Observe que, em qualquer caso, sen θ0 6= 0, pois, caso contrário, terı́amos, por (10), que
κ(s) ≡ 0, uma contradição.
τ τ cos θ0
(⇐) Suponhamos que é constante. Então existe θ0 ∈ R tal que = − .
κ κ sen θ0
Um dos métodos mais eficazes para resolver problemas em geometria consiste na escolha de
um sistema de coordenadas adequado ao problema em questão. Para o estudo das proprieda-
des locais de uma curva na vizinhança de um ponto, convém analisar as funções coordenadas
da curva com respeito ao sistema de coordenadas dado pelo triedro de Frenet.
Sejam α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal que κ(s) > 0 para
todo s ∈ I e s0 ∈ I.
Pela Fórmula de Taylor Infinitesimal de α em torno do ponto s0 , temos:
(s − s0 )2 00 (s − s0 )3 000
α(s) = α(s0 ) + (s − s0 )α 0 (s0 ) + α (s0 ) + α (s0 ) + R(s) ,
2 6
R(s)
onde lim = 0.
s→s0 (s − s0 )3
Como
α 0 (s0 ) = t(s0 ) ,
α 00 (s0 ) = κ(s0 ) n(s0 ) ,
α 000 (s0 ) = (κn) 0 (s0 ) = κ 0 (s0 )n(s0 ) + κ(s0 )n 0 (s0 ) = κ 0 (s0 )n(s0 ) − κ(s0 )2 t(s0 ) − κ(s0 )τ(s0 )b(s0 ) ,
temos que:
2 (s − s0 )
3 (s − s0 )2 κ(s0 ) (s − s0 )3 κ 0 (s0 )
α(s) − α(s0 ) = (s − s0 ) − κ(s0 ) t(s0 ) + + n(s0 )
6 2 6
(s − s0 )3
− κ(s0 )τ(s0 ) b(s0 ) + R(s) .
6
κ(s0 )2
x(s) = (s − s0 ) − (s − s0 )3 + Rx (s)
6
κ(s0 ) κ 0 (s0 )
y(s) = (s − s0 )2 + (s − s0 )3 + Ry (s)
2 6
κ(s0 ) τ(s0 )
z(s) = − (s − s0 )3 + Rz (s) ,
6
onde
Rx (s) = hR(s) , t(s0 )i , Ry (s) = hR(s) , n(s0 )i e Rz (s) = hR(s) , b(s0 )i ,
com
Rx (s) Ry (s) Rz (s)
lim 3
= lim 3
= lim = 0.
s→s0 (s − s0 ) s→s0 (s − s0 ) s→s0 (s − s0 )3
A representação
α(s) = α(s0 ) + x(s) t(s0 ) + y(s) n(s0 ) + z(s) b(s0 )
é chamada forma canônica local de α em uma vizinhança de s0 .
• Projeções do traço de α, para s próximo de s0 nos planos tn (osculador), tb (retificante) e nb
(normal).
60 J. Delgado - K. Frensel
Forma Local das Curvas no Espaço
Logo, se:
• s0 − δ < s < s0 =⇒ z(s) < 0 ;
• s0 < s < s0 + δ =⇒ z(s) > 0 .
Ou seja, se percorrermos a curva no sentido crescente do comprimento de arco s, a curva
atravessa o plano osculador de α em s0 de baixo para cima.
s s bs
Isto ocorre na hélice circular α(s) = a cos p , a sen p , p , com a > 0
a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2
−b
e b > 0 e τ(s) = < 0.
a2
+ b2
Quando τ(s0 ) > 0, podemos verificar, por um argumento análogo ao anterior, que se per-
corremos a curva no sentido crescente do comprimento de arco, a curva atravessa o plano
osculador de cima para baixo.
−b
Para a hélice circular acima, com a > 0 e b < 0, a torção τ = > 0.
a2 + b2
Aplicação 2. Existe uma vizinhança de s0 em I tal que α(s) pertence ao semi-espaço deter-
minado pelo plano retificante para o qual o vetor n(s0 ) aponta.
De fato, como
y(s) κ(s0 ) (s − s0 )2 κ 0 (s0 ) (s − s0 )3 Ry (s) κ(s0 )
lim = lim + + = > 0,
s→s0 (s − s0 )2 s→s0 2(s − s0 ) 2 6(s − s0 ) 2 (s − s0 )2 2
π = { p ∈ R3 | hp − α(s0 ) , Ni = 0 } ,
Observe, também, que para h 6= 0 suficientemente pequeno, α(s0 + h) não pertence à reta
tangente a α em s0 , pois esta reta está no plano retificante a α em s0 e, pela Aplicação 2,
α(s0 + h) não pertence ao plano retificante de α em s0
62 J. Delgado - K. Frensel
Teoria do Contato
onde B(h) 6= 0, pois, caso contrário, π(h) seria o plano retificante de α em s0 e, neste caso,
pela Aplicação 2, α(s0 + h) não pertenceria a π(h).
Assim,
N(h) A(h)
lim = lim n(s0 ) + b(s0 ) = lim (−C(h)n(s0 ) + b(s0 )) = b(s0 )
h→0 B(h) h→0 B(h) h→0
e
lim π(h) = π = { p ∈ R3 | hp − α(s0 ) , b(s0 )i = 0 }
h→0
é o plano osculador de α em s0 .
5. Teoria do Contato
Exemplo 5.1 As curvas regulares α(t) = (t, 0, 0) e β(t) = (t, tn , 0), t ∈ R, têm ordem de
contato n − 1 em t = 0, se n ≥ 2.
De fato, α(0) = β(0) = (0, 0, 0), α 0 (0) = β 0 (0) = (1, 0, 0), α(k) (t) = (0, 0, 0) se k ≥ 2,
β(k) (t) = (0, n(n − 1) · · · (n − (k − 1))tn−k , 0) se 2 ≤ k ≤ n e β(k) (t) = (0, 0, 0) se k ≥ n + 1.
Logo, α(k) (0) = β(k) (0) = (0, 0, 0) se 2 ≤ k ≤ n − 1 e α(n) (0) = (0, 0, 0) 6= (0, n!, 0) = β(n) (0).
2
t
Exemplo 5.2 As curvas regulares α(t) = (t, cosh t, 0) e β(t) = t, + 1, 0 , t ∈ R têm
2
contato de ordem 3 em t = 0.
De fato, α(0) = β(0) = (0, 1, 0), α 0 (t) = (1, senh t, 0), α 00 (t) = (0, cosh t, 0), α 000 (t) = (0, senh t, 0),
β 0 (t) = (1, t, 0), β 00 (t) = (0, 1, 0) e β 000 (t) = (0, 0, 0).
Portanto, α 0 (0) = β 0 (0) = (1, 0, 0), α 00 (0) = β 00 (0) = (0, 1, 0) e α 000 (0) = β 000 (0) = (0, 0, 0) e
α(iv) (0) = (0, 1, 0) 6= (0, 0, 0) = β(iv) (0).
Observação 5.1 Sejam α e β curvas regulares tais que α(t0 ) = β(t0 ) e todas as derivadas
de ordem ≤ n de α e β coincidem em t0 . Então α e β têm contato de ordem ≥ n em t0 .
Proposição 5.1 Seja α : I −→ R3 uma curva regular. Uma reta β : R −→ R3 tem contato
≥ 1 com α em t0 se, e só se, β é a reta tangente a α em t0 .
Prova.
(⇐) Seja β(t) = α(t0 ) + (t − t0 )α 0 (t0 ) a reta tangente a α em t0 . Então α(t0 ) = β(t0 ) e
α 0 (t0 ) = β 0 (t0 ). Portanto, α e β têm contato de ordem ≥ 1.
(⇒) Seja β(t) = a + (t − t0 )v, v ∈ R3 − {0} e a ∈ R3 a parametrização da reta que passa por a
em t0 e é paralela ao vetor v.
Se α e β têm contato de ordem ≥ 1 em t0 , então
64 J. Delgado - K. Frensel
Teoria do Contato
Observação 5.2
• c(s) pertence ao plano osculador de α em s.
• α(s) pertence ao cı́rculo osculador de α em s, pois α(s) ∈ πosc (s) e kα(s) − c(s)k = ρ(s).
• A curva α e o cı́rculo osculador de α em s possuem a mesma reta tangente em s e, portanto,
têm contato de ordem ≥ 1 em s.
De fato, a reta tangente r ao cı́rculo osculador de α em s é a reta que passa por α(s) e é
1
ortogonal ao vetor c(s) − α(s) = n(s). Assim, r é paralela ao vetor α 0 (s), pois πosc (s) é
κ(s)
gerado pelos vetores α 0 (s) e n(s).
Proposição 5.2 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal
que κ(s) > 0 para todo s ∈ I e seja s0 ∈ I. Então o cı́rculo osculador de α em s0 tem contato
de ordem ≥ 2 com α em s0 .
Prova.
Vamos mostrar que existe uma curva β : R −→ R3 parametrizada pelo comprimento de arco
tal que β(s0 ) = α(s0 ), β 0 (s0 ) = α 0 (s0 ), β 00 (s0 ) = α 00 (s0 ) e traço β = cı́rculo osculador de α em
s0 .
De fato, como β(R) ⊂ plano osculador de α em s0 , β(s) = α(s0 ) + A(s) t(s0 ) + B(s) n(s0 ) , onde
A, B : R −→ R são funções C∞ tais que A(s0 ) = B(s0 ) = 0 e
2
2 1 1
kβ(s) − c(s0 )k = = A(s)2 + B(s) − .
κ(s0 )2 κ(s0 )
1 1 1
Tomemos A(s) = cos(Ls + M) e B(s) = sen(Ls + M) + , onde L e M são
κ(s0 ) κ(s0 ) κ(s0 )
constantes a serem determinadas.
Devemos ter kβ 0 (s)k = 1, o que implica que A 0 (s)2 + B 0 (s)2 = 1.
L L
Como A 0 (s) = − sen(Ls + M) e B 0 (s) = cos(Ls + M), podemos tomar L = κ(s0 ).
κ(s0 ) κ(s0 )
Além disso, queremos que β 0 (s0 ) = α 0 (s0 ). Portanto, devemos ter A 0 (s0 ) = 1 e B 0 (s0 ) = 0.
π π
Tomemos, então, M tal que κ(s0 ) s0 + M = − , ou seja, M = − − κ(s0 ) s0 .
2 2
1 π 1 π 1
Logo, A(s) = cos κ(s0 )(s − s0 ) − e B(s) = sen κ(s0 )(s − s0 ) − + .
κ(s0 ) 2 κ(s0 ) 2 κ(s0 )
Assim, β(s0 ) = α(s0 ), β 0 (s0 ) = t(s0 ) e
Proposição 5.3 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco tal
que κ(s) > 0 para todo s ∈ I. O cı́rculo osculador de α em s0 ∈ I é o único cı́rculo que passa
por α(s0 ) e tem contato de ordem ≥ 2 com α em s0 .
Prova.
Seja C um cı́rculo de centro A e raio R contido num plano π que tem contato de ordem ≥ 2 com
α em s0 .
Então π = { p ∈ R3 | hp − α(s0 ) , Ni = 0 }, onde N é um vetor unitário normal ao plano π, e
existe uma curva β : R −→ R3 parametrizada pelo comprimento de arco tal que β(R) = C,
β(s0 ) = α(s0 ), β 0 (s0 ) = α 0 (s0 ) e β 00 (s0 ) = α 00 (s0 ) = κ(s0 ) n(s0 ).
Como hβ(s) − α(s0 ) , Ni = 0 para todo s ∈ R, temos, derivando duas vezes, que hβ 0 (s0 ) , Ni =
0 e hβ 00 (s0 ) , Ni = 0. Logo, N ⊥ β 0 (s0 ) = α 0 (s0 ) e N ⊥ β 00 (s0 ) = κ(s0 )n(s0 ).
Portanto, N é paralelo ao vetor binormal b(s0 ) de α em s0 e π é o plano osculador de α em s0 .
Além disso, como hβ(s) − A , β(s) − Ai = R2 para todo s ∈ R, obtemos, derivando duas vezes,
que
hβ 0 (s) , β(s) − Ai = 0
e
hβ 0 (s) , β 0 (s)i + hβ 00 (s) , β(s) − Ai = 0 ,
para todo s ∈ R.
Então, para s = s0 ,
hα 0 (s0 ) , α(s0 ) − Ai = 0 e hκ(s0 )n(s0 ) , α(s0 ) − Ai = −1 .
1
Logo, (α(s0 ) − A) ⊥ α 0 (s0 ) e hα(s0 ) − A , n(s0 )i = − . Sendo (α(s0 ) − A) ⊥ b(s0 ), pois
κ(s0 )
1 1
α(s0 ), A ∈ πosc (s0 ), obtemos que α(s0 ) − A = − n(s0 ), ou seja, A = α(s0 ) + n(s0 ) é
κ(s0 ) κ(s0 )
o centro de curvatura de α em s0 .
66 J. Delgado - K. Frensel
Teoria do Contato
Como α(s0 ) ∈ C,
1
R = kα(s0 ) − Ak = kα(s0 ) − c(s0 )k =
κ(s0 )
é o raio de curvatura de α em s0 .
Logo C é o cı́rculo osculador de α em s0 .
Definição 5.3 Seja α : I −→ R3 uma curva regular e π um plano de R3 tal que p = α(t0 ) ∈ π,
t0 ∈ I.
Dizemos que α e π têm contato de ordem n em p se existe uma curva regular β : J −→ R3 tal
que t0 ∈ J, β(J) ⊂ π, α e β têm contato de ordem n em t0 e não existe uma curva regular em
π que tem contato de ordem > n com α em t0 .
Observação 5.4 Todo plano que contém a reta tangente a α em t0 tem contato de ordem
≥ 1 com α em t0 . Dentre estes planos temos o plano osculador de α em t0 .
Prova.
(⇐) O cı́rculo osculador de α em s0 está contido no plano osculador de α em s0 e tem contato
de ordem ≥ 2 com α em s0 .
(⇒) Se π e α têm contato de ordem ≥ 2 em α(s0 , existe uma curva regular β : J −→ R3 , que
podemos supor parametrizada pelo comprimento de arco, tal que s0 ∈ I ∩ J, β(J) ⊂ π e β e α
têm contato de ordem ≥ 2 em s0 , ou seja, β(s0 ) = α(s0 ), β 0 (s0 ) = α 0 (s0 ) e β 00 (s0 ) = α 00 (s0 ).
Logo, κβ (s0 ) = kβ 00 (s0 )k = kα 00 (s0 )k = κα (s0 ) e, portanto, nβ (s0 ) = nα (s0 ).
Assim, α e β têm o mesmo plano osculador em s0 . Mas como β é uma curva plana, temos que
π é o plano osculador de β em s0 . Então π é o plano osculador de α em s0 .
Definição 5.4 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco com
κ(s) > 0 para todo s ∈ I e τ(s0 ) 6= 0, onde s0 ∈ I. Dizemos, então, que
s 2 s 2
1 κ 0 (s0 ) ρ 0 (s0 )
R(s0 ) = + = ρ(s0 )2 +
κ(s0 )2 κ(s0 )2 τ(s0 ) τ(s0 )
ρ 0 (s0 )
c(s0 ) = α(s0 ) + ρ(s0 )n(s0 ) + b(s0 )
τ(s0 )
1
é o centro de curvatura esférica de α em s0 , onde ρ(s0 ) = é o raio de curvatura de α em
κ(s0 )
s0 .
A esfera osculatriz de α em s0 é a esfera de raio R(s0 ) e centro c(s0 ).
Observação 5.6 De modo análogo à definição 5.3, podemos introduzir o conceito de con-
tato entre uma curva e uma esfera, e provar que a esfera osculatriz de α em s0 tem contato de
ordem ≥ 2 com a curva α em s0 (ver Atividade 2.23).
Exemplo 5.3 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco com
κ(s) > 0 e τ(s) 6= 0 para todo s ∈ I.
(a) Se α(I) está contida numa esfera Sr (A) de centro A e raio r > 0, então
1 κ 0 (s)
α(s) − A = − n(s) − b(s)
κ(s) κ(s)2 τ(s)
e
2
2 1 κ 0 (s)
r = +
κ(s)2 κ(s)2 τ(s)
para todo s ∈ I. Ou seja, se α(I) ⊂ Sr (A), então Sr (A) é a esfera osculatriz de α em s para
todo s ∈ I.
Prova.
Como {t(s), n(s), b(s)} é uma base ortonormal de R3 para todo s ∈ I, existem funções de classe
C∞ λ, δ, µ : I −→ R, tais que:
onde λ(s) = hα(s) − A , t(s)i, δ(s) = hα(s) − A , n(s)i e µ(s) = hα(s) − A , b(s)i, para todo
s ∈ I.
68 J. Delgado - K. Frensel
Teoria do Contato
Sendo hα(s) − A , α(s) − Ai = r2 para todo s ∈ I, obtemos, derivando três vezes a expressão
acima, que:
Ou seja,
1 κ 0 (s)
A = α(s) + n(s) + b(s) ,
κ(s) κ(s)2 τ(s)
1 κ 0 (s)2
r2 = kα(s) − Ak2 = 2
+ ,
κ(s) κ(s)4 τ(s)2
para todo s ∈ I.
1 κ 0 (s)2
(b) Se + = r2 e κ 0 (s) 6= 0 para todo s ∈ I, então α(s) está contido em uma
κ(s)2 κ(s)4 τ(s)2
esfera de raio r e centro
1 κ 0 (s)
A = α(s) + n(s) + b(s) .
κ(s) κ(s)2 τ(s)
Prova.
1 κ 0 (s)
Basta mostrar que α(s) + n(s) + é constante em I.
κ(s) κ(s)2 τ(s)
2
1 κ 0 (s)
Como + = r2 é constante em I, obtemos, derivando essa expressão, que
κ(s)2 κ(s)2 τ(s)
0 0
−2κ 0 (s) 2κ 0 (s) κ 0 (s) 2κ 0 (s) 1 κ 0 (s) 1
+ = 0 ⇐⇒ − = 0.
κ(s)3 κ(s)2 τ(s) κ(s)2 τ(s) κ(s)2 τ(s) κ(s)2 τ(s) κ(s)
0
κ 0 (s) τ(s)
= , para todo s ∈ I. (11)
κ(s)2 τ(s) κ(s)
Logo,
0
1 κ 0 (s) κ 0 (s) 1
α(s) + n(s) + b(s) = α 0 (s) − n(s) + (−κ(s)α 0 (s) − τ(s) b(s))
κ(s) κ(s)2 τ(s) κ(s) 2 κ(s)
0
κ 0 (s) κ 0 (s)
+ b(s) + τ(s)n(s)
κ(s)2 τ(s) κ(s)2 τ(s)
0
τ(s) κ 0 (s)
= − + b(s) = 0 por (11) .
κ(s) κ(s)2 τ(s)
Então
1 κ 0 (s)
A = α(s) + n(s) + b(s)
κ(s) κ(s)2 τ(s)
2
1 2 κ 0 (s)
é constante e kα(s) − Ak = + = r2 para todo s ∈ I, isto é α(I) ⊂ Sr (A).
κ(s)2 κ(s)2 τ(s)
Observação 5.8 Se o conjunto {s ∈ I | κ 0 (s) = 0} não é discreto, o resultado acima pode não
ser verdadeiro.
s s bs
Por exemplo, para a hélice circular α(s) = a cos p , a sen p ,p temos
a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2
2
a −a 2 1 κ 0 (s) a2 + b 2
que κ(s) = 2 , τ(s) = e, portanto, r = + = é cons-
a + b2 a2 + b2 κ(s)2 κ(s)4 τ(s)2 a
tante, mas a hélice não está contida em esfera alguma, já que é ilimitada.
Fisicamente, podemos pensar em uma curva em R3 como sendo obtida a partir de uma reta
quando esta é entortada (curvatura) e torcida (torção). Mostraremos, nesta seção, que, de
fato, o comportamento de uma curva pode ser descrito completamente por κ e τ.
Mas antes precisamos dar algumas definições e relembrar alguns resultados básicos.
Definição 6.1 Uma aplicação F : R3 −→ R3 é uma isometria quando preserva distância, isto
é,
kF(p) − F(q)k = kp − qk
para todos p, q ∈ R3 .
70 J. Delgado - K. Frensel
Teorema Fundamental das Curvas
Exemplo 6.1 Seja a um ponto fixo de R3 . A aplicação Ta : R3 −→ R3 , dada por Ta (p) = p+a,
é uma isometria de R3 , denominada translação por a.
onde θ ∈ (0, 2π), é uma isometria de R3 , denominada rotação de ângulo θ em torno do eixo-Oz.
Proposição 6.1
(a) Se F e G são isometrias de R3 , então F ◦ G é uma isometria.
(b) Se F e G são translações, então F ◦ G = G ◦ F é uma translação.
Prova.
(a) kF ◦ G(p) − F ◦ G(q)k = kG(p) − G(q)k = kp − qk .
(d) Seja T a translação por q − p, isto é T (v) = v + (q − p) para todo v ∈ R3 . Então T (p) = q.
hC(p) , C(q)i = hp , qi
para todos p, q ∈ R3 .
Observação 6.1 Sendo C uma aplicação linear, temos que C(0) = 0; C é diferenciável;
dCp = C para todo p ∈ R3 , e é invertı́vel, pois C(p) = 0 ⇐⇒ p = 0, já que kC(p)k2 = kpk2 .
Proposição 6.2 Se F : R3 −→ R3 é uma isometria tal que F(0) = 0, então F é uma trans-
formação ortogonal.
Prova.
Provaremos primeiro que F preserva produto interno.
Como hF(p) , F(p)i = kF(p)k2 = kF(p) − F(0)k2 = kp − 0k2 = hp , pi (pois F é uma isometria e
F(0) = 0), temos que:
1 1
kF(p)k2 + kF(q)k2 − kF(p) − F(q)k2 = kpk2 + kqk2 − kp − qk2 = hp , qi .
hF(p) , F(q)i =
2 2
Mostraremos agora que F é linear, isto é, F(ap + bq) = aF(p) + bF(q) para todos p, q ∈ R3 e
a, b ∈ R.
De fato,
kF(ap + bq) − aF(p) − bF(q)k2 = hF(ap + bq) − aF(p) − bF(q) , F(ap + bq) − aF(p) − bF(q)i
= kF(ap + bq)k2 + a2 kF(p)k2 + b2 kF(q)k2
−2ahF(ap + bq) , F(p)i − 2bhF(ap + bq) , F(q)i
+2abhF(p) , F(q)i
= kap + bqk2 + a2 kpk2 + b2 kqk2 − 2ahap + bq , pi
−2bhap + bq , qi + 2abhp , qi
= k(ap + bq) − ap − bqk2 = 0 .
Logo, F(ap + bq) − aF(p) − bF(q) = 0, ou seja, F(ap + bq) = aF(p) + bF(q).
Corolário 6.1 Se F : R3 −→ R3 é uma isometria, então existe uma única translação T e uma
única transformação ortogonal C tal que F = T ◦ C.
Prova.
Existência. Pela proposição acima, C(p) = F(p) − F(0) é uma transformação ortogonal, pois C
é uma isometria e C(0) = 0. Como F(p) = C(p) + F(0) para todo p ∈ R3 , temos que F = T ◦ C,
onde T é a translação por F(0).
72 J. Delgado - K. Frensel
Teorema Fundamental das Curvas
Observação 6.3 Se F é uma isometria, então existe uma única translação T1 e uma única
transformação ortogonal C tais que F = C ◦ T1 .
Basta tomar C(p) = F(p) − F(0), p ∈ R3 e T1 a translação por C−1 (F(0)). De fato,
para todo p ∈ R3 .
Portanto, para todo p ∈ R3 , dFp : R3 −→ R3 preserva produto interno. Assim, para todo p ∈ R3 ,
dFp leva uma base ortonormal {v1 , v2 , v3 } em outra base ortonormal {dFp (v1 ), dFp (v2 ), dFp (v3 )}.
Observação 6.6 Desta definição, decorre que F preserva (respectivamente, inverte) orientação
se, e só se, o determinante da matriz jacobiana de F é igual a 1 (respectivamente, −1).
Prova.
Existência. Seja C : R3 −→ R3 a aplicação linear tal que C(vi ) = wi , i = 1, 2, 3, isto é, se
v ∈ R3 , v = av1 + bv2 + cv3 , então
Definição 6.3 Dizemos que duas curvas regulares α, β : I −→ R3 são congruentes quando
existe uma isometria F : R3 −→ R3 tal que β = F ◦ α, ou seja, β difere de α apenas por sua
posição no espaço.
Proposição 6.4 Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco com
κ(s) > 0 para todo s ∈ I. Sejam F uma isometria de R3 e α = F ◦ α. Então α : I −→ R3 é uma
74 J. Delgado - K. Frensel
Teorema Fundamental das Curvas
Prova.
A curva α é diferenciável, pois F e α são diferenciáveis. Além disso, como
α 0 (s) = dFα(s) (α 0 (s)) ,
temos que
kα 0 (s)k = kdFα(s) (α 0 (s))k = kα 0 (s)k = 1 ,
pois dFα(s) é uma transformação ortogonal. Logo α está parametrizada pelo comprimento de
arco.
Sejam T uma translação e C uma transformação ortogonal tais que F = T ◦ C. Então como
α 0 (s) = C(α 0 (s)), segue que α 00 (s) = C(α 00 (s)).
Assim
κ(s) = kα 00 (s)k = kC(α 00 (s))k = kα 00 (s)k = κ(s) ,
e
α 00 (s)
α 00 (s)
n(s) = =C = C(n(s)) = dFα(s) (n(s)) .
κ(s) κ(s)
Se F inverte orientação, então C leva a base ortonormal positiva {t(s), n(s), b(s)} na base orto-
normal negativa {C(t(s)), C(n(s)), C(b(s))} = {t(s), n(s), C(b(s))} .
Prova.
(a) Seja s0 ∈ I fixo e suponhamos que τα = τβ (resp. τα = −τβ ). Pela proposição 6.3,
existe uma isometria F : R3 −→ R3 tal que F(α(s0 )) = β(s0 ) e
Para provar que α = β, basta mostrar que t = tβ , pois, neste caso, teremos α − β constante e
como α(s0 ) = β(s0 ), poderemos concluir que α(s) = β(s) para todo s ∈ I.
Consideremos a função f : I −→ R dada por
Então,
0
f 0 (s) = 2ht (s) − tβ0 (s) , t(s) − tβ (s)i + 2hn 0 (s) − nβ0 (s) , n(s) − nβ (s)i
0
+2hb (s) − bβ0 (s) , b(s) − bβ (s)i
76 J. Delgado - K. Frensel
Teorema Fundamental das Curvas
(b) Existência. Para provar a existência de α mostraremos primeiro que existe um referencial
ortonormal {t(s), n(s), b(s)} que satisfaz as fórmulas de Frenet, isto é,
t 0 (s) = κ(s)n(s)
b 0 (s) = τ(s)n(s) .
possui uma única solução com as condições iniciais dadas. Em particular, existe uma única
solução ti , ni , bi , i = 1, 2, 3 do sistema (12) quando fixamos
Vamos provar agora que a solução {t(s), n(s), b(s)} é uma base ortonormal de R3 para todo
s ∈ I. Para isto, consideremos as funções
d
ht(s) , t(s)i = 2κ(s)ht(s) , n(s)i ;
ds
d
hn(s) , n(s)i = −2κ(s)ht(s) , n(s)i − 2τ(s)hn(s) , b(s)i ;
ds
d
hb(s) , b(s)i = 2τ(s)hn(s) , b(s)i ;
ds
d
ht(s) , n(s)i = κ(s)hn(s) , n(s)i − κ(s)ht(s) , t(s)i − τ(s)ht(s) , b(s)i ; (14)
ds
d
ht(s) , b(s)i = κ(s)hn(s) , b(s)i + τ(s)ht(s) , n(s)i ;
ds
d
hn(s) , b(s)i = −κ(s)ht(s) , b(s)i − τ(s)hb(s) , b(s)i + τ(s)hn(s) , n(s)i ,
ds
e
ht(s0 ) , n(s0 )i = ht(s0 ) , b(s0 )i = hn(s0 ) , b(s0 )i = 0 .
A solução para esse sistema de equações diferenciais é única e é dada pelas funções:
e
ht(s) , n(s)i = ht(s) , b(s)i = hn(s) , b(s)i ≡ 0 .
De fato, basta substituir estas funções no sistema acima para verificar que formam uma solução
do sistema.
Portanto, a solução de (12) com a condição inicial (13) forma um referencial ortonormal posi-
tivo, ou seja, det(t(s), n(s), b(s)) = 1 para todo s ∈ I, pois det(t(s0 ), n(s0 ), b(s0 )) = 1.
Logo, b(s) = t(s) ∧ n(s) para todo s ∈ I.
Zs
3
Definimos a curva α : I −→ R por α(s) = t(ξ) dξ.
s0
Então α 0 (s) = t(s). Portanto, kα 0 (s)k = kt(s)k = 1 para todo s ∈ I, isto é, α está parametrizada
pelo comprimento de arco, e α 00 (s) = t 0 (s) = κ(s) n(s).
α 00 (s)
Assim, κα (s) = kα 00 (s)k = kκ(s) n(s)k = κ(s) e nα (s) = = n(s) para todo s ∈ I.
κα (s)
para todo s ∈ I.
Como {tα , nα , bα } e {tβ , nβ , bβ } são soluções do sistema (12) com condição inicial {v1 , v2 , v1 ∧v2 },
temos que α = β.
78 J. Delgado - K. Frensel
Teorema Fundamental das Curvas
Como {v1 , v2 , v1 ∧ v2 } é uma base ortonormal positiva, podemos provar, de modo análogo ao
feito no item (a) para v1 = e1 , v2 = e2 e v1 ∧v2 = e3 , que {t(s), n(s), b(s)} é uma base ortonormal
positiva para todo s ∈ I e que
Zs
α(s) = t(ξ) dξ + p0
s0
80 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
Capı́tulo 3
Superfı́cies Regulares
Em contraste ao tratamento dado às curvas nos Capı́tulos 1 e 2, as superfı́cies regulares serão
definidas como conjuntos e não como aplicações. As curvas também podem ser tratadas a
partir desse ponto de vista, isto é, como subconjuntos de R3 (ou R2 ). Faremos um breve
comentário sobre isso na seção 2 deste capı́tulo.
A grosso modo, uma superfı́cie regular em R3 é obtida tomando-se pedaços do plano, deformando-
os e colando-os entre si de tal modo que a fugura resultante não apresente vértices, arestas
ou auto-interseções, e que tenha sentido falar em plano tangente nos pontos desta figura.
Definição 1.1 Um subconjunto S ⊂ R3 é uma superfı́cie regular se, para cada p ∈ S, existe
um aberto V ⊂ R3 , com p ∈ V, e uma aplicação X : U −→ V ∩ S, definida num aberto U de R2
tal que:
(1) X : U −→ V ∩ S, X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)), é diferenciável, isto é, as funções
x, y, z : U −→ R têm derivadas parciais contı́nuas de todas as ordens em U.
(2) X : U −→ V ∩ S é um homeomorfismo, isto é, X é uma bijeção contı́nua cuja inversa
X−1 : V ∩ S −→ U é contı́nua.
(3) dXq : R2 −→ R3 é injetora para todo q ∈ U.
Observação 1.1
• A condição (1) é natural se esperamos fazer alguma geometria diferencial sobre S. Por
exemplo, permite definir o conceito de plano tangente.
Fig. 2: O cone S não possui uma parametrização diferenciável numa vizinhança do vértice p.
82 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
• Vamos agora calcular a matriz da aplicação linear dXq nas bases canônicas {e1 = (1, 0), e2 =
(0, 1)} de R2 , com coordenadas (u, v), e {f1 = (1, 0, 0), f2 = (0, 1, 0), f3 = (0, 0, 1) de R3 , com
coordenadas (x, y, z).
Seja q = (u0 , v0 ). O vetor e1 é tangente à curva u 7−→ (u, v0 ), cuja imagem por X é a curva na
superfı́cie S
u 7−→ (x(u, v0 ), y(u, v0 ), z(u, v0 )) ,
chamada curva coordenada v = v0 . O vetor tangente desta curva em X(q) é o vetor
∂X
∂x ∂y ∂z
dXq (e1 ) = (q) = (q), (q), (q) .
∂u ∂u ∂u ∂u
∂X
∂x ∂y ∂z
dXq (e2 ) = (q) = (q), (q), (q) .
∂v ∂v ∂v ∂v
Fig. 3: Vetores tangentes às curvas u 7−→ (u, v0 ) e v 7−→ (u0 , v).
Portanto, a matriz da aplicação linear dXq (que designamos pela mesma notação para simpli-
ficar) nas bases canônicas de R2 e R3 é
∂x ∂x
∂u (q) ∂v
(q)
dXq = ∂y (q) ∂y .
∂u (q)
∂v
∂z ∂z
(q) (q)
∂u ∂v
A condição (3), da definição 1.1, nos diz que dXq : R2 −→ R3 é injetora, o que significa que os
dois vetores coluna da matriz Jacobiana acima são linearmente independentes, ou seja, que o
∂X ∂X
(q) ∧ (q) 6= 0 .
∂u ∂v
Ou ainda, que um dos menores de ordem 2 da matriz de dXq , isto é, um dos determinantes:
∂x ∂x
(q) (q)
∂(x, y)
(q) = ∂u ∂v ;
∂(u, v) ∂y ∂y
(q) (q)
∂u ∂v
∂y ∂y
(q) (q)
∂(y, z)
∂u ∂v
(q) = ;
∂(u, v) ∂z ∂z
(q) (q)
∂u ∂v
∂x
(q) ∂x (q)
∂(x, z)
(q) = ∂u ∂v ,
∂(u, v) ∂z ∂z
(q) (q)
∂u ∂v
é diferente de zero.
S2 = {(x, y, z) ∈ R3 | x2 + y2 + z2 = 1}
Seja a aplicação X+ 3
3 : U −→ R dada por
p
X+
3 (u, v) = (u, v, 1 − (u2 + v2 )) ,
Então X+
3 satisfaz as condições da definição 1.1. De fato:
(2) X+ 2 2
3 é diferenciável, pois 1 − (u + v ) > 0 para todo (u, v) ∈ U.
1 0
∂(x, y)
(3) (q) = = 1 6= 0 para todo q ∈ U.
∂(u, v) 0 1
(4) X+ + 2 + + −1
3 é um homeomorfismo, pois X3 é uma bijeção contı́nua sobre S ∩ H3 e (X3 ) = π|S2 ∩H3+
é contı́nua, onde π : R3 −→ R2 é a projeção sobre o plano-xy dada por π(x, y, z) = (x, y).
84 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
Podemos cobrir a esfera com seis parametrizações similares a esta. Para isso, consideramos
as aplicações:
X+ − + − + −
1 , X1 , X2 , X2 , X3 , X3 : U −→ R
3
dadas por:
p
X±
1 (u, v) = (± 1 − (u2 + v2 ), u, v) ;
p
X±
2 (u, v) = (u, ± 1 − (u2 + v2 ), v) ;
p
X± 2 2
3 (u, v) = (u, v, ± 1 − (u + v )) .
± ±
De modo análogo ao feito para X+ −
3 , podemos provar que X1 , X2 e X3 são parametrizações de
temos que
S2 = X+ − + − + −
1 (U) ∪ X1 (U) ∪ X2 (U) ∪ X2 (U) ∪ X3 (U) ∪ X3 (U) .
definida no aberto
U = {(θ, ϕ) ∈ R2 | 0 < θ < π e 0 < ϕ < 2π} .
C = {(x, y, z) ∈ S2 | x ≥ 0 e y = 0} .
e
Xϕ (θ, ϕ) = (− sen θ sen ϕ, sen θ cos ϕ, 0) ,
portanto:
(Xθ ∧ Xϕ )(θ, ϕ) = (sen2 θ cos ϕ, sen2 θ sen ϕ, cos θ sen θ) ,
e
kXθ ∧ Xϕ k2 (θ, ϕ) = sen4 θ cos2 ϕ + sen4 θ sen2 ϕ + cos2 θ sen2 θ = sen2 θ 6= 0 ,
86 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
já que θ ∈ (0, π). Logo X satisfaz as condições (1) e (3) da definição 1.1.
Observamos que dado (x, y, z) ∈ S2 − C, θ fica determinado de maneira única por θ = arccos z
uma vez que 0 < θ < π .
x y
Conhecendo o valor de θ, temos que cos ϕ = e sen ϕ = , o que determina ϕ de
sen θ sen θ
maneira única, pois ϕ ∈ (0, 2π). Segue-se então que X tem uma inversa X−1 .
Como já sabemos que S2 é uma superfı́cie regular, obteremos, pela proposição 1.4 que de-
monstraremos em breve, que X−1 é contı́nua.
onde
V = {(θ, ϕ) ∈ R2 | − π < θ < 0 e 0 < ϕ < 2π}.
C 0 = {(x, y, z) ∈ §2 | x ≤ 0 e z = 0} .
De modo análogo ao feito para X, podemos provar que Y é uma parametrização de S2 . Temos
também que X(U) ∪ Y(V) = S2 .
O exemplo 1.1 mostra que verificar que um dado subconjunto S de R3 é uma superfı́cie regular,
a partir da definição, pode ser muito trabalhoso. Antes de prosseguirmos com os exemplos,
apresentaremos duas proposições que simplificarão essa tarefa.
Prova.
Sejam S = Graf (f) e a aplicação X : U −→ S = S ∩ R3 dada por X(u, v) = (u, v, f(u, v)).
Além disso, X é uma bijeção e X−1 = π|S é contı́nua, onde π : R3 −→ R2 , π(x, y, z) = (x, y), é a
projeção sobre o plano-xy.
Logo, S = Graf (f) é uma superfı́cie regular.
π = {p ∈ R3 | hp − p0 , Ni = 0} .
π = {(x, y, z) ∈ R3 | Ax + By + Cz = D} , D−Ax−By
Fig. 6: O plano π visto como gráfico de f(x, y) = C
.
D − Ax − By
f(x, y) = .
C
88 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
x2 y2
f(x, y) = + .
a2 b2
x2 y2 y2 x2
Fig. 7: Parabolóide elı́ptico P gráfico de f(x, y) = a2
+ b2
Fig. 8: Parabolóide hiperbólico H gráfico de f(x, y) = −
b2 a2
y2 x2
f(x, y) = − .
b2 a2
Observação 1.3 Seja f : U ⊂ R3 −→ R uma função diferenciável. Então dfp (e1 ) = fx (p),
dfp (e2 ) = fy (p) e dfp (e3 ) = fz (p). Portanto, dizer que dfp : R3 −→ R não é sobrejetora equivale
a dizer que fx (p) = fy (p) = fz (p) = 0.
Logo, a ∈ f(U) é um valor regular de f se, e só se, fx , fy e fz não se anulam simultaneamente
em qualquer ponto do conjunto f−1 (a) = {(x, y, z) ∈ U | f(x, y, z) = a}, chamado a pré-imagem
ou imagem inversa do ponto a.
Prova.
Seja p0 = (x0 , y0 , z0 ) um ponto de f−1 (a). Como a é um valor regular de f, temos que
Como
1 0 0
dFp0 = 0 1 0 ,
90 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
(u, v, t) = F ◦ F−1 (u, v, t) = (x(u, v, t), y(u, v, t), f(x(u, v, t), y(u, v, t), z(u, v, t))) ,
para todo u, v, t ∈ W.
Fig. 9:
Diminuindo V, se necessário, podemos tomar W = (x0 −ε, x0 +ε)×(y0 −ε, y0 +ε)×(a−ε, a+ε),
onde ε > 0.
Seja h : U0 −→ R a função diferenciável dada por h(x, y) = z(x, y, a), onde
U0 = (x0 − ε, x0 + ε) × (y0 − ε, y0 + ε) .
Assim, f−1 (a) ∩ V é um aberto de f−1 (a) e a aplicação X : U0 −→ f−1 (a) ∩ V, dada por
X(x, y) = (x, y, h(x, y)) é, pela proposição 1.1, uma parametrização de f−1 (a) em p0 .
Portanto, f−1 (a) é uma superfı́cie regular, pois todo ponto p ∈ f−1 (a) pode ser coberto por uma
vizinhança coordenada.
(x − x0 )2 (y − y0 )2 (z − z0 )2
F(x, y, z) = + + − 1.
a2 b2 c2
Então
2(x − x0 ) 2(y − y0 ) 2(z − z0 )
grad F(x, y, z) = , , = (0, 0, 0)
a2 b2 c2
Logo, F−1 (0) = E é uma superfı́cie regular, pois 0 é um valor regular de F, uma vez que o único
ponto crı́tico de F, (x0 , y0 , z0 ), não pertence a F−1 (0).
Definição 1.3 Um subconjunto X ⊂ Rn é conexo se X não pode ser escrito como uma
reunião de dois abertos (em X) disjuntos e não-vazios.
Ou seja, se X = A ∪ B e A ∩ B = ∅, onde A = X ∩ U, B = X ∩ V, U e V abertos em Rn , então
A = ∅ ou B = ∅.
92 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
Definição 1.4 Um subconjunto X ⊂ Rn é conexo por caminhos se para todo par de pontos
p, q ∈ X existe um caminho contı́nuo α : [0, 1] −→ X tal que α(0) = p e α(1) = q.
x2 y2 z2
H:− − + = 1,
a2 b2 c2
x2 y2 z2
f(x, y, z) = − 2
− 2 + 2 − 1.
a b c
Como
2x 2y 2z
grad f(x, y, z) = − 2 , − 2 , 2 = (0, 0, 0)
a b c
H = H+ ∪ H− ,
onde
H+ = H ∩ {(x, y, z) ∈ R3 | z > 0} e H− = H ∩ {(x, y, z) ∈ R3 | z < 0}
94 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
Então P = (x, y, z) ∈ T se, e só se, existe P 0 = (0, y 0 , z 0 ) ∈ C tal que P e P 0 estão sobre o
mesmo paralelo de centro c 0 = (0, 0, z) = (0, 0, z 0 ).
p
Logo z = z 0 e d(P, c 0 ) = d(P 0 , c 0 ), ou seja, x2 + y2 = |y 0 | = y 0 , pois y 0 > 0 para todo
(0, y 0 , z 0 ) ∈ C.
p 2
x2 + y2 − a + z2 = r2
é a equação cartesiana de T .
p 2
F(x, y, z) = x2 + y2 − a + z2 .
Então, como
p p
∂F 2 x 2 + y2 − a x ∂F 2 x2 + y2 − a y ∂F
(x, y, z) = p , (x, y, z) = p , (x, y, z) = 2z ,
∂x x2 + y2 ∂y x2 + y2 ∂z
∂F ∂F ∂F
segue que (x, y, z) = (x, y, z) = (x, y, z) = 0 se, e só se, x2 + y2 = a2 e z = 0, ou seja,
∂x ∂y ∂z
se, e só se, F(x, y, z) = 0.
A proposição abaixo fornece uma recı́proca local da proposição 1.1, isto é, toda superfı́cie
regular é localmente o gráfico de uma função diferenciável.
Prova.
Seja X : U −→ S uma parametrização de S em p. Então um dos Jacobianos
∂(x, y)
Como (q) 6= 0, temos que dq (π ◦ X) : R2 −→ R2 é um isomorfismo. Logo, pelo Teorema
∂(u, v)
da Aplicação Inversa, existem abertos V1 ⊂ U e V2 ⊂ R2 , com q ∈ V1 e π ◦ X(q) ∈ V2 tais que
π ◦ X : V1 −→ V2 é um difeomorfismo de classe C∞
Fig. 13:
96 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
A proposição abaixo, que já utilizamos no exemplo 1.1, só será provada na seção 2.
• X : U −→ R3 é diferenciável;
• dXq : R2 −→ R3 é injetora para todo q ∈ U;
Então X(U) = V é um aberto de S e X−1 : X(U) −→ U é contı́nua, isto é, X : U −→ X(U) é uma
parametrização de S em p.
p
pode ser da forma z = f(x, y) numa vizinhança da origem, pois terı́amos f(x, y) = x2 + y2
que não é diferenciável em (0, 0).
Exemplo 1.9 Uma parametrização para o toro T do exemplo 1.7 pode ser dada pela aplicação
X : (0, 2π) × (0, 2π) −→ R3 , onde
De fato, X é diferenciável e
−r sen u cos v −(a + r cos u) sen v
dX(u,v) = −r sen u sen v (a + r cos u) cos v .
r cos u 0
Logo
kXu ∧ Xv k2 = k(−(a + r cos u)r cos u cos v, −(a + r cos u)r cos u sen v, −(a + r cos u)r sen u)k2
= (a + r cos u)2 r2 > 0 ,
para todo (u, v) ∈ (0, 2π) × (0, 2π), pois a > r > 0.
98 J. Delgado - K. Frensel
Superfı́cies Regulares; Pré-imagens de valores regulares
Como já provamos que T é uma superfı́cie regular no exemplo 1.7, temos, pela proposição
1.4, que X : U −→ V1 = T − (C1 ∪ C2 ) é uma parametrização de T , onde
C1 = {(x, y, z) ∈ R3 | y = 0 e (x − a)2 + z2 = r2 } ,
e C2 = {(x, y, z) ∈ R3 | z = 0 e x2 + y2 = (a + r)2 } .
Fig. 15: As curvas u = const são os paralelos e as crvas v = const são os h meridianos
i do toro T . O paralelo u = u0 é o cı́rculo hde centro
i
(0, 0, r sen u0 ) e raio a + r cos u0 contido no plano z = r sen u0 . Se u0 ∈ π 3π
cos u0 ∈ [a − r, a], e se u0 ∈ 0, π ∪ 3π
ˆ ˜
,
2 2
, a + r 2 2
, 2π ,
a + r cos u0 ∈ [a, a + r]
Observação 1.6 O toro T pode ser coberto por três parametrizações do tipo acima.
π π
De fato, a aplicação X2 : (π, 3π) × , + 2π −→ V2 , dada por
2 2
D1 = {(x, y, z) ∈ R3 | x = 0 e (y − a)2 + z2 = r2 }
D2 = {(x, y, z) ∈ R3 | z = 0 e x2 + y2 = (a − r)2 } .
Logo, V1 ∩V2 = {(a−r, 0, 0) , (0, a+r, 0)}. Para cobrir todo o toro, basta tomar a parametrização
π π
X3 : , + 2π × (π, 3π) −→ V3 ,
2 2
E1 = {(x, y, z) ∈ R3 | z = r e x2 + y2 = a2 }
E2 = {(x, y, z) ∈ R3 | y = 0 e (x + a)2 + z2 = 0} .
Pela definição de superfı́cie regular, cada ponto P de uma superfı́cie regular S pertence a uma
vizinhança coordenada. Os pontos de uma tal vizinhança coordenada são caracterizados pe-
las suas coordenadas. Assim sendo, deverı́amos, em princı́pio, poder definir as propriedades
locais de uma superfı́cie em termos dessas coordenadas.
Mas, como um ponto p de S pode pertencer a várias vizinhanças coordenadas, para que uma
definição dada em função de suas coordenadas locais faça sentido, é necessário que ela não
dependa do sistema de coordenadas escolhido. Para isto, é fundamental mostrar que quando
um ponto pertence a duas vizinhanças coordenadas, com parâmetros (u, v) e (ξ, η), é possı́vel
passar de um destes pares de coordenadas ao outro através de uma aplicação diferenciável.
Prova.
Seja r ∈ Y −1 (W) e tome q = h(r) ∈ X−1 (W). Então Y(r) = X(q) ∈ W.
Como X : U −→ X(U) é uma parametrização, temos que
∂(x, y)
Suponhamos que (q) 6= 0.
∂(u, v)
Além disso, X−1 = π ◦ F−1 |X(U0 ) : X(U0 ) −→ U0 , onde π : R3 −→ R3 , π(u, v, t) = (u, v), pois
De modo análogo, podemos provar que h−1 = Y −1 ◦ X : X−1 (W) −→ Y −1 (W) é diferenciável em
X−1 (W). Logo h : Y −1 (W) −→ X−1 (W) é um difeomorfismo C∞ .
Daremos agora uma definição do que se entende por função diferenciável em uma superfı́cie
regular.
Definição 2.1 Seja f : V −→ R uma função definida num subconjunto aberto V de uma
superfı́cie regular S. Dizemos que f : V −→ R é diferenciável em p ∈ V se, para alguma
parametrização X : U ⊂ R2 −→ R3 de S em p, com X(q) = p, q ∈ U, e X(U) ⊂ V, a composta
f ◦ X : U ⊂ R2 −→ R é diferenciável em q = X−1 (p).
A função f : V −→ R é diferenciável em V se é diferenciável em todos os pontos de V.
Observação 2.3 Sejam S uma superfı́cie regular, V um subconjunto aberto de R3 tal que
S ⊂ V e f : V −→ R uma função diferenciável.
Então f : S −→ R é uma função diferenciável.
X1 : U1 ⊂ R2 −→ S1 e X2 : U2 ⊂ R2 −→ S2
X−1
2 ◦ ϕ ◦ X1 : U1 −→ U2
é diferenciável em q = X−1
1 (p).
Seja W10 = Y1−1 (Y1 (W1 ) ∩ X1 (U1 )). Então W10 é um subconjunto aberto de W1 que contém
0
Y1−1 (p) e (Y2−1 ◦ X2 ) ◦ X−1 −1 −1
2 ◦ ϕ ◦ X1 ◦ (X1 ◦ Y1 ) está bem definida em W1 = Y1 (W0 ), onde
0
W0 = Y1 (W1 ) ∩ X1 (U1 ), pois X−1 −1 −1
1 ◦ Y1 está definida em W1 = Y1 (W0 ), e Y2 ◦ X2 está definida
em X−1
2 (W0 ), onde W0 = Y2 (W2 ) ∩ X2 (U2 ),
f f
0
X−1 −1 −1 −1 f
2 ◦ ϕ ◦ X1 ◦ (X1 ◦ Y1 )(W1 ) = X2 ◦ ϕ(W0 ) ⊂ X2 (W0 ) ,
já que
ϕ(W0 ) = ϕ(Y1 (W1 ) ∩ X1 (U1 )) ⊂ Y2 (W2 ) ∩ X2 (U2 ) = W
f0 .
Então, como
0
X−1 −1 −1 −1 f
1 ◦ Y1 é diferenciável em W1 = Y1 (W0 ), Y2 ◦ X2 é diferenciável em X2 (W0 ) e, por hipótese,
0
X−1 −1 −1 −1 f
2 ◦ ϕ ◦ X1 é diferenciável em q = X1 (p), temos que Y2 ◦ ϕ ◦ Y1 : W1 −→ X2 (W0 ) é
diferenciável em (X−1 −1 −1 −1
1 ◦ Y1 ) (q) = Y1 (X1 (q)) = Y1 (p) .
Definição 2.3 Dizemos que duas superfı́cies regulares S1 e S2 são difeomorfas quando
existe uma bijeção diferenciável ϕ : S1 −→ S2 com inversa ϕ−1 : S2 −→ S1 diferenciável.
Uma tal ϕ é chamada um difeomorfismo de S1 em S2 .
Logo, X−1
2 ◦f◦X1 = F◦f◦X1 é diferenciável em U1 , pois é a composta de aplicações diferenciáveis
Exemplo 2.3 Seja S uma superfı́cie regular simétrica em relação ao plano xy, isto é,
(x, y, z) ∈ S se, e só se, (x, y, −z) ∈ S.
Exemplo 2.4 Seja Rθ,z : R3 −→ R3 a rotação de um ângulo θ em torno do eixo Oz, e seja S
uma superfı́cie regular invariante por esta rotação, isto é, se p ∈ S então Rθ,z (p) ∈ S.
Então a restrição Rθ,z : S −→ S é uma aplicação diferenciável.
onde a, b, c ∈ R − {0}.
Então ϕ : R3 −→ R3 é um difeomorfı́smo.
Sejam
S2 = {(x, y, z) ∈ R3 | x2 + y2 + z2 = 1}
a esfera unitária e
x2 y2 z2
E= (x, y, z) ∈ R | 2 + 2 + 2 = 1
3
a b c
Logo, como f|V∩W = f|X(U)∩W = f ◦ X ◦ X−1 |X(U)∩W , temos que f|V∩W = f ◦ X ◦ G|V∩W , ou seja,
f|V∩W é a restrição a V ∩ W da função diferenciável f ◦ X ◦ G : W −→ R definida no aberto W
de R3 .
Mostraremos que h = β−1 ◦ α : α−1 (W) −→ β−1 (W) é um difeomorfismo C∞ do aberto α−1 (W)
da reta sobre o aberto β−1 (W) da reta.
Podemos tomar o intervalo aberto J0 de modo que J0 ⊂ β−1 (W) e s0 ∈ J0 . Então W0 = β(J0 ) é
um aberto de C, pois β : β−1 (W) −→ W é um homeomorfismo.
Seja I0 = α−1 (W0 ). Então I0 é um subconjunto aberto de R tal que I0 ⊂ α−1 (W), t0 ∈ I0 e
α(I0 ) = W0 = β(J0 ).
Como t0 ∈ α−1 (W) é arbitrário, temos que h = β−1 ◦ α : α−1 (W) −→ β−1 (W) é diferenciável.
De modo análogo, podemos provar que h−1 = α−1 ◦ β : β−1 (W) −→ α−1 (W) é diferenciável, e,
portanto, a mudança de parâmetro h : α−1 −→ β−1 (W) é um difeomorfismo C∞ .
Observação 2.10 Se uma propriedade de uma curva regular obtida a partir de uma pa-
rametrização independer desta parametrização, dizemos que ela é uma propriedade local da
curva.
Seja h = β−1 ◦ α : α−1 (W) −→ β−1 (W) a mudança de parâmetro. Vamos supor t0 < t1 e definir
I 0 = [t0 , t1 ], J 0 = [s0 , s1 ] ou J 0 = [s1 , s0 ], conforme h 0 (t) > 0 para todo t ∈ I 0 ou h 0 (t) < 0 para
todo t ∈ I 0 .
Como α(t) = β ◦ h(t) para todo t ∈ I 0 , temos que α 0 (t) = β 0 (h(t)) h 0 (t) e, portanto,
Z t1 Z t1
• `(α[t0 , t1 ]) = 0
kα (t)k dt = kβ 0 (h(t))k |h 0 (t)| dt
t0 t0
Z s1 Z s0
0
e • `(β[s0 , s1 ]) = kβ (s)k ds, se s0 < s1 , ou kβ 0 (s)k ds, se s0 > s1 .
s0 s1
Logo,
Z s1 Z h(t1 ) Z1
0 0
kβ (s)k ds = kβ (s)k ds = kβ 0 (h(u))k h 0 (u) du
s0 h(t0 ) t0
Z t1
kα 0 (ξ)k dξ , se h 0 (u) > 0 para todo u ∈ I 0
t0
= ou
Z t1
− kα 0 (ξ)k dξ , se h 0 (u) < 0 para todo u ∈ I 0 .
t0
Seja W = α(I) ∩ β(J) (um aberto em C que contém p), I 0 o intervalo aberto de α−1 (W) que
contém t0 e J 0 = h(I 0 ), onde h = β−1 ◦ α : α−1 (W) −→ β−1 (W) é a função de mudança de
parâmetro, com h(t0 ) = s0 , isto é, α(t0 ) = β(s0 ) = p.
Afirmação. κα (t0 ) = κβ (s0 ) e τα (t0 ) = τβ (s0 ).
De fato, como α 0 (t) = β 0 (h(t)) h 0 (t), temos que α 00 (t) = β 00 (h(t)) h 0 (t)2 + β 0 (h(t)) h 00 (t).
kα 0 (t0 ) ∧ α 00 (t0 )k
κα (t0 ) =
kα 0 (t0 )k3
Temos, também,
α 000 (t) = β 000 (h(t)) h 0 (t)3 + 2β 00 (h(t)) h 0 (t) h 00 (t) + β 00 (h(t)) h 0 (t) h 00 (t) + β 0 (h(t)) h 000 (t) .
Logo,
Um breve comentário: é um fato conhecido que toda curva regular é difeomorfa a um intervalo
aberto ou ao cı́rculo S1 .
Usando esse resultado podemos construir uma aplicação t : C −→ R3 (ou R2 ) de classe C∞ tal
que t(p) é tangente a C em p e kt(p)k = 1 para todo p ∈ C. Isto é, podemos orientar a curva C.
f 0 (f−1 (p))
De fato, se f : I −→ C é um difeomorfismo, definimos t(p) = para todo p ∈ C, no
kf 0 (f−1 (p))k
caso em que C não é compacto. Quando C é compacta, existe um difeomorfismo g : S1 −→ C.
(g ◦ exp) 0 (t)
Definimos, então t(p) = , onde exp(t) = (cos t, sen t) e g(exp(t)) = p.
k(g ◦ exp) 0 (t)k
Pode-se provar, usando o fato, que g é um difeomorfismo e que as funções sen e cos são
periódicas de perı́odo 2π, que a função t : C −→ R3 (ou R2 ) está bem definida.
Com isto, no caso de C ser uma curva plana, podemos definir um campo normal unitário
n : C −→ R2 diferenciável, isto é, n(p) ⊥ t(p) e kn(p)k = 1 para todo p ∈ C, tal que {t(p), n(p)}
é uma base ortonormal positiva para todo p ∈ C.
Assim, definimos a curvatura da curva C em p com sinal como sendo κ(p) = κα (s0 ), onde
α : I −→ α(I) é uma parametrização de C em p pelo comprimento de arco tal que α(s0 ) = p e
α 0 (s) = t(α(s)) para todo s ∈ I.
Se C é uma curva regular em R3 tal que κ(p) 6= 0 para todo p ∈ C, definimos um campo normal
unitário diferenciável n : C −→ R3 e um campo binormal diferenciável b : C −→ R3 fazendo
n(p) = nα (s0 ) e b(p) = bα (s0 ), onde α : I −→ α(I) é uma parametrização de C em p pelo
comprimento de arco tal que α(s0 ) = p e α 0 (s) = t(α(s)) para todo s ∈ I.
Fig. 24: As curvas v = const. são os paralelos e as curvas u = const. são os meridianos de S
De fato:
(1) X(U) = S ∩ R3 − {(x, y, z) ∈ R3 | y = 0 e x ≥ 0} é um aberto de S.
kXu ∧ Xv k2 (u, v) = k(−f(v) sen u, f(v) cos u, 0) ∧ (f 0 (v) cos u, f 0 (v) sen u, g 0 (v))k2
= k(f(v) g 0 (v) cos u, f(v) g 0 (v) sen u, −f(v) f 0 (v))k2
= f(v)2 (f 0 (v)2 + g 0 (v)2 ) > 0 ,
Para provar que X−1 é contı́nua, temos que mostrar ainda que u é uma função contı́nua de x,
y e z.
u
Seja (x, y, z) = (f(v) cos u, f(v) sen u, g(v)) ∈ X(U). Como u ∈ (0, 2π), temos que ∈ (0, π)
2
u
e, portanto, cotg está definida para todo u ∈ (0, 2π) e
2
u u u y
cos 2 cos sen
u
cotg = 2 = 2 2 = sen u = f(v) = p y
.
2 u u u 1 − cos u x
sen 2 sen sen 1− x 2 + y2 − x
2 2 2 f(v)
p
Observe que x2 + y2 − x 6= 0, pois X(U) ⊂ R3 − {(x, y, z) ∈ R | y = 0 e x ≥ 0} .
y
Então u = 2 arc cotg p é uma função contı́nua de x, y e z.
x 2 + y2 − x
Como S pode ser coberta inteiramente por parametrizações similares, segue-se que S é uma
superfı́cie regular.
{(x, y, z) ∈ R3 | x ≥ 0 e y = 0}
Que condições devem ser satisfeitas por C para garantir que a rotação de C em torno do eixo
Oz gere uma superfı́cie regular?
Já sabemos que toda superfı́cie regular é localmente o gráfico de uma função diferenciável
sobre o plano xy ou sobre o plano xz ou sobre o plano yz.
Como numa vizinhança de p (ou de q) S não pode ser o gráfico de uma função sobre os planos
xz e yz, deve existir um aberto V de S com p ∈ V (ou q ∈ V), um disco aberto D de centro na
origem e raio ε > 0 e uma função diferenciável F : D −→ R tal que
p p
2 2
x + y , 0, F 2 2
x + y , 0 estão sobre o mesmo paralelo.
Logo f(x) = f(−x) para todo x ∈ (−ε, ε), isto é, f é simétrica em relação ao eixo Oz e
x 7−→ (x, 0, f(x)), x ∈ (−ε, ε), é uma parametrização de C 0 em p, onde C 0 = C ∪ Cs e Cs é
o simétrico de C em relação ao eixo Oz.
Como f(x) = f(−x) para todo x ∈ (−ε, ε), temos que todas as derivadas de ordem ı́mpar
de f na origem são nulas. Em particular, o vetor tangente à curva C no ponto p (ou q) é
perpendicular ao eixo Oz.
Reciprocamente, a curva C gera uma superfı́cie regular S se existe uma vizinhança V de p (e
de q) em C que é o gráfico sobre o eixo Ox de uma função f : [0, ε) −→ R diferenciável, isto é,
p
V = {(x, 0, f(x)) | x ∈ [0, ε)}, e a função F(x, y) = f x2 + y2 , (x, y) ∈ Dε (0) é diferenciável.
Uma superfı́cie regular obtida girando uma curva C de um plano π em torno de uma reta r ⊂ π,
tal que r ∩ C 6= ∅ será chamada superfı́cie de revolução estendida.
Observação 2.14 Uma superfı́cie parametrizada, mesmo quando é regular, pode ter um
traço com auto-interseções.
∂X ∂X
(t, v) = α 0 (t) + vα 00 (t) e (t, v) = α 0 (t)
∂t ∂v
e, portanto,
∂X ∂X
∧ (t, v) = v (α 00 (t) ∧ α 0 (t)) .
∂t ∂v
kα 0 (t) ∧ α 00 (t)k
Como κ(t) = 6= 0 para todo t ∈ I, temos que
kα 0 (t)k3
∂X ∂X
∧ (t, v) 6= 0 ,
∂t ∂v
A proposição abaixo diz que podemos estender os conceitos e propriedades locais da geome-
tria diferencial a superfı́cies parametrizadas regulares.
Prova.
Se X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)), temos, pela regularidade de X, que
∂(x, y)
Suponhamos que (q) 6= 0, e consideremos a aplicação F : U × R −→ R3 dada por
∂(u, v)
∂(x, y)
Então F é diferenciável e det(dF(q,0) ) = (q) 6= 0 .
∂(u, v)
Nesta seção, utilizaremos a condição 3 da definição de uma superfı́cie regular S para definir o
plano tangente a S em cada ponto p ∈ S.
Sabemos que existe U0 aberto, U0 ⊂ U, com f(x0 ) ∈ X(U0 ), tal que X−1 |X(U0 ) = F|X(U0 ), onde
F : W −→ R2 é uma função diferenciável definida num aberto W de R3 com X(U0 ) ⊂ W. Seja
V0 ⊂ V aberto tal que x0 ∈ V0 e f(V0 ) ⊂ X(U0 ). Então X−1 ◦ f = F ◦ f : V0 −→ R2 é diferenciável
em x0 .
dXq (R2 ) ⊂ R3
Prova.
Sejam v um vetor tangente a S em p e α : (−ε, ε) −→ S uma curva parametrizada diferenciável
em 0 tais que α(0) = p e α 0 (0) = v.
Podemos supor que α(−ε, ε) ⊂ X(U) e X−1 = F|X(U) , onde F : V −→ R2 é uma função dife-
renciável definida num aberto V de R3 tal que X(U) ⊂ V.
Seja agora v = dXq (w), w ∈ R2 , e considere a curva diferenciável β : (−ε, ε) −→ U dada por
β(t) = q + tw. Então β(0) = q e β 0 (0) = w.
Logo α = X ◦ β : (−ε, ε) −→ X(U) ⊂ S é uma curva diferenciável com α(0) = p e α 0 (0) =
dXq (β 0 (0)) = dXq (w) = v.
Definição 3.2 O plano tangente a S em p, designado por Tp S, é o plano que passa por p e é
paralelo ao plano que passa pela origem formado pelos vetores tangentes a S em p.
onde w = (w1 , w2 ). Isto é, (w1 , w2 ) são as coordenadas do vetor v em relação à base
{Xu (q), Xv (q)} de Tp S associada à parametrização X.
X−1 −1 −1
1 (p) e X3 ◦ g ◦ X2 : U2 −→ U3 é diferenciável em X2 (f(p)). Logo
X−1 −1 −1
3 ◦ g ◦ f ◦ X1 = X3 ◦ g ◦ X2 ◦ X2 ◦ f ◦ X1 : U1 −→ U3
é diferenciável em X−1
1 (p).
Assim, g ◦ f : S1 −→ S3 é diferenciável em p.
Vamos agora definir a diferencial de uma aplicação diferenciável entre superfı́cies regulares.
Sejam S1 e S2 superfı́cies regulares e seja f : V −→ S2 uma aplicação diferenciável em p ∈ V,
onde V é um aberto de S1 . Sejam v ∈ Tp S e α : (−ε, ε) −→ V uma curva diferenciável em 0
com α(0) = p e α 0 (0) = v. Então, pela observação 3.3, γ = f ◦ α : (−ε, ε) −→ S2 é uma curva
diferenciável em 0 com γ(0) = f(p).
Portanto, γ 0 (0) é um vetor tangente a S2 em f(p)
Proposição 3.2 Dado v ∈ Tp S1 , o vetor γ 0 (0) não depende de α. Além disso, a aplicação
dfp : Tp S1 −→ Tf(p) S2 definida por dfp (v) = γ 0 (0) é linear.
Prova.
Como f : V −→ S2 é diferenciável em p, existem uma parametrização X : U −→ X(U) ⊂ V
de S1 em p, com X(q) = p, e uma parametrização X : U −→ X(U) ⊂ S2 de S2 em f(p), com
X(q) = f(p), tais que f(X(U)) ⊂ X(U).
Então X−1 ◦ α(t) = (u(t), v(t)) é diferenciável em t = 0 e v = α 0 (0) = u 0 (0)Xu (q) + v 0 (0)Xv (q).
Como γ(t) = f ◦ α(t), temos que
−1 −1
γ(t) = X ◦ (X) ◦ f ◦ X ◦ X ◦ α (t) = X ◦ f (u(t), v(t)) = X(f1 (u(t), v(t)), f2 (u(t), v(t))) ,
e
onde f(u,
e v) = (f1 (u, v), f2 (u, v)).
Logo,
∂f ∂f1
∂f ∂f2
1 2
γ 0 (0) = (q)u 0 (0) + (q)v 0 (0) Xu (q) + (q)u 0 (0) + (q)v 0 (0) Xv (q) (4)
∂u ∂v ∂u ∂v
Então γ 0 (0) só depende das coordenadas (u 0 (0), v 0 (0)) de v = α 0 (0) em relação à base
{Xu (q), Xv (q)}, ou seja, γ 0 (0) independe da curva α : (−ε, ε) −→ V diferenciável em p tal
que α(0) = p e α 0 (0) = v.
Além disso, por (4), a aplicação dfp : Tp S1 −→ Tf(p) S2 é dada por:
Portanto dfp : Tp S1 −→ Tf(p) S2 é linear e a sua matriz em relação às bases {Xu (q), Xv (q)} de
Tp S1 e {Xu (q), Xv (q)} de Tf(p) S2 é dada por
∂f1 ∂f1
∂u (q) ∂v
(q)
∂f2 ∂f2
(q) (q)
∂u ∂v
Exemplo 3.1 Seja h : S −→ R, h(p) = hp , vi, a função altura relativa ao vetor unitário
v ∈ R3 .
e seja Rz,θ : R3 −→ R3 a rotação de um ângulo θ em torno do eixo Oz. Já sabemos que
Rz,θ : S2 −→ S2 é uma função diferenciável. Na realidade, Rz,θ é um difeomorfismo de S2 sobre
S2 , onde R−1
z,θ = Rz,−θ .
isto é, d(Rz,θ )p : Tp S2 −→ TRz,θ (p) S2 é dada por d(Rz,θ )p (v) = Rz,θ (v).
Como Rz,θ (N) = N, onde N = (0, 0, 1) é o pólo norte de S2 , temos que d(Rz,θ )N : TN S2 −→ TN S2
é a rotação de um ângulo θ em torno do ponto N, no plano TN S2 que é paralelo ao plano xy.
De fato, seja α : (−ε, ε) −→ V uma curva diferenciável em 0 tal que α(0) = p e α 0 (0) = v, onde
v ∈ Tp S.
Então dfp (v) = γ 0 (0), onde λ = f ◦ α : (−ε, ε) −→ W é uma curva diferenciável em 0 com
γ(0) = f(p), e, portanto, dgf(p) (dfp (v)) = λ 0 (0), onde γ = g ◦ γ : (−ε, ε) −→ S3 é uma curva
diferenciável em 0 com λ(0) = g ◦ f(p).
Por outro lado, d(g ◦ f)p (v) = λ 0 (0), pois
dX−1
X(q) ◦ dXq = d(X
−1
◦ X)q = id : R2 −→ R3 .
Prova.
(do Teorema da Aplicação Inversa) Sejam X1 : U1 −→ X1 (U1 ) ⊂ U uma parametrização
de S1 em p e X2 : U2 −→ X2 (U2 ) ⊂ S2 uma parametrização de S2 em f(p) tais que f(X1 (U1 )) ⊂
X2 (U2 ).
Então fe = X−1
2 ◦ f ◦ X1 : U1 −→ U2 é diferenciável e, pela observação 3.5,
dfeq = d(X−1 2 2
2 )f(p) ◦ dfp ◦ d(X1 )q : R −→ R .
X−1
2 ◦ f ◦ X1 : W1 −→ W2
Portanto dXq (R2 ) ⊂ Tp S.Como dim dXq (R2 ) = dim Tp S = 2, temos que dXq (R2 ) = Tp S e
dXq : R2 −→ Tp S
X : Uq −→ Wp
é um difeomorfismo.
Logo, X(U) = p∈X(U) Wp é um aberto de S. Além disso, X−1 : X(U) −→ U é contı́nua. De fato,
S
é contı́nua, onde Y(U) é um aberto de S tal que Y(V) ⊂ X(U) e p = X(q) ∈ Y(V).
Observação 3.6 O plano tangente nos permite falar do ângulo entre duas superfı́cies, que
se intersectam, em um ponto de interseção.
De fato, dado um ponto p em uma superfı́cie regular, existem dois vetores unitários em R3 que
são normais ao plano tangente Tp S. Cada um deles é chamado vetor unitário normal a S em p,
e a reta que passa por p e tem a direção dada por esses vetores normais a S em p é chamada
reta normal a S em p.
Xu (q) ∧ Xv (q)
N(p) = ,
kXu (q) ∧ Xv (q)k
Fig. 31: O ângulo entre S1 e S2 é o ângulo entre Tp S1 e Tp S2
Observação 3.7 A definição dada para superfı́cie regular exige que as parametrizações
sejam de classe C∞ , isto é, que possuam derivadas parciais contı́nuas de todas as ordens.
Para questões em Geometria Diferencial, em geral, precisamos da existência e da continuidade
das derivadas parciais até uma certa ordem, que varia com a natureza do problema (raramente
precisamos que as parametrizações sejam de classe Ck , com k ≥ 5).
A hipótese C∞ , na definição, foi adotada para evitarmos o estudo das condições mı́nimas de
diferenciabilidade em cada caso particular, que podem obscurecer a natureza geomética do
problema.
C = (x, y, z) ∈ R3 | x = 0 e z = y4/3
Fig. 32: A curva C e a superfı́cie S que ela produz pela sua rotação em torno do eixo Oz
Então
S = (x, y, z) ∈ R3 | z = 3 (x2 + y2 )2 ,
p
p
isto é, S é o gráfico da função f : R2 −→ R de classe C1 dada por f(x, y, z) = 3
(x2 + y2 )2 .
Como fx (0, 0) = fy (0, 0) = 0, temos que T0 S = plano xy, pois X(x, y) = (x, y, f(x, y)) é uma
parametrização de S e {Xx (0, 0), Xy (0, 0)} = {(1, 0, 0), (0, 1, 0)} gera o espaço tangente a S em
(0, 0, 0).
Até aqui, tratamos as superfı́cies sob o ponto de vista da diferenciabilidade. Nesta seção
começaremos o estudo das estruturas geométricas associadas a uma superfı́cie.
O produto interno canônico de R3 induz em cada plano tangente Tp S de uma superfı́cie regular
S um produto interno que denotaremos por h , ip .
hu , vip = u1 v1 + u2 v2 + u3 v3 .
A esse produto interno, que é uma forma bilinear simétrica (isto é, hu , vip = hv , uip e hu , vip
é linear em u e em v), corresponde uma forma quadrática Ip : Tp S −→ R dada por
A primeira forma fundamental vai nos permitir fazer medidas sobre a superfı́cie (comprimento
de curvas, ângulos de vetores tangentes, áreas de regiões etc.), sem fazer menção ao espaço
euclidiano R3 , onde a superfı́cie S está ”mergulhada”.
Vamos agora expressar a primeira forma fundamental na base {Xu , Xv } associada a uma
parametrização X : U −→ X(U) ⊂ S de S em p.
Seja v ∈ Tp S. Então existe uma curva α : (−ε, ε) −→ X(U) diferenciável em 0 tal que α(t) =
X(u(t), v(t)), com α(0) = p e v = α 0 (0) = u 0 (0) Xu (q) + v 0 (0) Xv (q), onde X(q) = p e q ∈ U.
Então
= u 0 (0)2 hXu (q) , Xu (q)ip + 2u 0 (0)v 0 (0)hXu (q) , Xv (q)ip + v 0 (0)2 hXv (q) , Xv (q)ip
onde
são os coeficientes da primeira forma fundamental na base {Xu (u, v), Xv (u, v)} de Tp S, sendo
q = (u, v) e X(u, v) = X(q) = p.
Exemplo 4.1 Seja π o plano de R3 que passa pelo ponto p = (x0 , y0 , z0 ) e é paralelo aos
vetores ortonormais w1 = (a1 , a2 , a3 ) e w2 = (b1 , b2 , b3 ).
C = { (x, y, z) ∈ R3 | x2 + y2 = 1 } .
Então X : (0, 2π) × R −→ C, X(u, v) = (cos u, sen u, v) é uma parametrização do cilindro tal
que X((0, 2π) × R) = C − {(1, 0, z) | z ∈ R}, Xu (u, v) = (− sen u, cos u, 0) e Xv (u, v) = (0, 0, 1).
Portanto, E ≡ G ≡ 1 e F ≡ 0 em (0, 2π) × R.
Para cada ponto α(u) pertencente à hélice, trace uma reta paralela ao plano xy que intersecta
o eixo Oz, ou seja, a reta ru = {v(cos u, senu, 0) + (0, 0, au) , v ∈ R . A superfı́cie H gerada
por essas retas é chamada um helicóide.
A aplicação X : R2 −→ H, dada por X(u, v) = (v cos u, v sen u, au) é uma parametrização que
cobre todo o helicóide, isto é, X é de classe C∞ , X(R2 ) = H, X : R2 −→ H é um homeomorfismo
e dXq : R2 −→ R3 é injetora para todo q ∈ R2 (exercı́cio). Logo H é uma superfı́cie regular.
Como Xu (u, v) = (−v sen u, v cos u, a) e Xv (u, v) = (cos u, sen u, 0), temos que
E(u, v) = a2 + v2 , G ≡ 1 e F ≡ 0 .
Logo, em p = X(u, v),
Em particular, se α(t) = X(u(t), v(t)) está contida numa vizinhança coordenada de uma
Zt p
s(t) = u 0 (t)2 E(u(t), v(t)) + 2u 0 (t)v 0 (t) F(u(t), v(t)) + v 0 (t)2 G(u(t), v(t)) , dt .
t0
hα 0 (t0 ) , β 0 (t0 )i
cos θ = .
kα 0 (t0 )k kβ 0 (t0 )k
Então, as curvas coordenadas de uma parametrização são ortogonais se, e somente se,
F(u, v) = 0 para todo (u, v) ∈ U. Uma tal parametrização é chamada uma parametrização
ortogonal.
X(θ, ϕ) = (sen θ cos ϕ, sen θ sen ϕ, cos θ), uma parametrização de S2 dada por suas coorde-
nadas esféricas.
Como
temos que
E ≡ 1, G(θ, ϕ) = sen2 θ e F ≡ 0. (5)
• Como aplicação, vamos determinar as curvas nesta vizinhança coordenada da esfera que
fazem um ângulo constante β com os meridianos ϕ = const. que são chamadas curvas
loxodrômicas da esfera.
Podemos supor que a curva procurada α(t) é a imagem por X de uma curva t 7−→ (θ(t), ϕ(t)),
isto é, α(t) = X(θ(t), ϕ(t)).
No ponto X(θ(t), ϕ(t)) a curva intersecta o meridiano ϕ = ϕ(t) = const. Então, por (5) e (6),
pois kXθ (θ(t), ϕ(t))k = 1 e α 0 (t) = θ 0 (t) Xθ (θ(t), ϕ(t)) + ϕ 0 (t) Xϕ (θ(t), ϕ(t)).
Logo, para β ∈ [0, π] − {0, π/2, π}:
θ 0 (t) p
= θ 0 (t)2 + ϕ 0 (t)2 sen2 θ(t)
cos β
Logo,
π
± cotg β (ϕ(0) + C) = log tan = 0,
4
• Uma outra questão métrica que pode ser tratada com a primeira forma fundamental é o
cálculo da área de uma região limitada de uma superfı́cie regular S.
Definição 4.2 Um domı́nio (regular) em S é um subconjunto aberto e conexo de S tal que sua
fronteira é a imagem de um cı́rculo por uma aplicação que é um homeomorfismo diferenciável
regular (isto é, sua diferencial não se anula) exceto num número finito de pontos.
Uma região de S é a união de um domı́nio com a sua fronteira. Uma região de S é limitada se
está contida em alguma bola de R3 .
Vamos considerar regiões limitadas R que estão contidas em uma vizinhança coordenada X(U)
de uma parametrização X : U −→ X(U) de S. Isto é, R = X(Q), onde Q é uma região limitada
de R2 contida em U.
Definição 4.3 Seja R ⊂ S uma região limitada de uma superfı́cie S contida em uma vizinhança
coordenada X(U) de uma parametrização X : U −→ X(U) ⊂ S. O número positivo
ZZ
A(R) = kXu ∧ Xv k du dv
Q
Observação 4.2 Na seção 6 daremos uma justificativa geométrica para esta definição.
De fato, seja X : U −→ X(U) uma outra parametrização de S tal que R ⊂ X(U) e seja
Q = (X)−1 (R), isto é, X(Q) = R.
Seja h = X−1 ◦X : (X)−1 (W) −→ X−1 (W), h(u, v) = (u(u, v), v(u, v)), a mudança de parâmetros,
onde W = X(U) ∩ X(U). Então h é um difeomorfismo tal que h(Q) = Q, pois R ⊂ W.
Logo, como X(u, v) = X(h(u, v)) = X(u(u, v), v(u, v)), temos que
∂u ∂v
Xu (u, v) = Xu (h(u, v)) (u, v) + Xv (h(u, v)) (u, v) ,
∂u ∂u
e
∂u ∂v
Xv (u, v) = Xu (h(u, v)) (u, v) + Xv (h(u, v)) (u, v) .
∂v ∂v
Portanto,
∂u ∂v ∂u ∂v
(Xu ∧ Xv )(u, v) = (Xu ∧ Xv )(h(u, v)) − (u, v)
∂u ∂v ∂v ∂u
∂(u, v)
= (Xu ∧ Xv )(h(u, v))
∂(u, v)
Assim, pelo Teorema de Mudança de Variáveis para integrais múltiplas, temos que
ZZ ZZ
∂(u, v)
kXu ∧ Xv k(u, v) du dv = kXu ∧ Xv k h((u, v)) ·
(u, v) du dv
Q Q ∂(u, v)
ZZ
= kXu ∧ Xv k(u, v) du dv .
Q
e
Xv (u, v) = (−(a + r cos u) sen v, (a + r cos u) cos v, 0) ,
temos que:
E(u, v) = r2 , G(u, v) = (a + r cos u)2 e F(u, v) = 0 .
Qε = { (u, v) ∈ R2 | ε ≤ u ≤ 2π − ε e ε ≤ v ≤ 2π − ε}
p
Então, como kXu ∧ Xv k = EG − F2 = r(a + r cos u), obtemos:
Z 2π−ε Z 2π−ε Z 2π−ε Z 2π−ε
A(Rε ) = kXu × Xv k(u, v) du dv = r(a + r cos u) du dv
ε ε ε ε
Portanto,
5. Orientação de Superfı́cies
As bases {Xu (q), Xv (q)}, X(q) = p e {Xu (q), Xv (q)}, X(q) = p, determinam orientações do
plano tangente Tp S.
−1
Se W = X(U) ∩ X(U) e h = X−1 ◦ X : X (W) −→ X−1 (W), h(u, v) = (u(u, v), v(u, v)), h(q) = q,
temos que:
∂u ∂v
Xu (q) = Xu (q) (q) + Xv (q) (q)
∂u ∂u
e (7)
∂u ∂v
Xv (q) = Xu (q) (q) + Xv (q) (q) .
∂v ∂v
Definição 5.1 Uma superfı́cie regular S é orientável quando existe uma famı́lia de parametrizações
de S, {Xα : Uα −→ X(Uα ) | α ∈ A}, tal que:
S
(1) S = α∈A Xα (Uα ) ;
hαβ = X−1 −1 −1
α ◦ Xβ : Xβ (Wαβ ) −→ Xα (Wαβ )
A escolha de uma tal famı́lia é chamada uma orientação de S, e a superfı́cie S, neste caso, é
dita orientada.
Se não existir uma famı́lia de parametrizações de S satisfazendo as condições (1) e (2), dize-
mos que S é uma superfı́cie não-orientável.
Se S é orientada, uma parametrização X : U −→ X(U) de S é compatı́vel com a orientação
de S se, juntando X à famı́lia de parametrizações dada pela orientação, obtém-se ainda uma
(portanto, a mesma) orientação de S.
Exemplo 5.1 Uma superfı́cie que é o gráfico de uma função diferenciável é uma superfı́cie
orientável, pois toda superfı́cie que é coberta por uma única vizinhança coordenada é ori-
entável.
Exemplo 5.2 Se uma superfı́cie S pode ser coberta por duas vizinhanças coordenadas, cuja
interseção é conexa, então S é orientável.
De fato, sejam X : U −→ X(U) e Y : V −→ Y(V) parametrizações de S tais que S = X(U) ∪ Y(V)
e W = X(U) ∩ Y(V) é conexo. Seja h = X−1 ◦ Y : Y −1 (W) −→ X−1 (W) a aplicação de mudança
de coordenadas.
Como Y −1 (W) é conexo e det(dhq ) 6= 0 para todo q ∈ Y −1 (W), temos que det(dhq ) > 0 para
todo q ∈ Y −1 (W) ou det(dhq ) < 0 para todo q ∈ Y −1 (W).
Quando det(dhq ) < 0 para todo q ∈ Y −1 (W), procedemos da seguinte maneira para obter uma
famı́lia de duas parametrizações {X, Y1 } que satisfazem as condições (1) e (2) da definição 5.1.
Seja o difeomorfismo π : V −→ V1 = π(V) dado por π(u, v) = (v, u), onde π−1 = π.
Exemplo 5.3 A esfera S2 ⊂ R3 pode ser coberta por duas vizinhanças coordenadas (por
exemplo, S2 − {N} e S2 − {−N} dadas pelas projeções estereográficas sobre o pólo norte
N = (0, 0, 1) e sobre o pólo sul −N = (0, 0, −1)) tais que a interseção W dessas vizinhanças
(S2 − {N, −N}) é conexa. Logo, pela observação anterior, S2 é orientável.
Daremos agora uma interpretação geométrica para a definição de orientabilidade de uma su-
perfı́cie regular em R3 .
Xu ∧ Xv
N(X(u, v)) = (u, v) .
kXu ∧ Xv k
Xu ∧ Xv
N(X(u, v)) = (u, v) .
kXu ∧ Xv k
−1
Seja h = X−1 ◦ X : X (W) −→ X−1 (W), h(u, v) = (u(u, v), v(u, v)), a aplicação de mudança de
coordenadas. Então, como, por (7),
∂(u, v)
Xu ∧ Xv (u, v) = (Xu ∧ Xv )(h(u, v)) (u, v) , (8)
∂(u, v)
temos que:
∂(u, v)
(u, v)
∂(u, v)
N(X(u, v)) = N(X(h(u, v))) (9)
∂(u, v) (u, v)
∂(u, v)
Logo,
N(X(h(u, v))) , se
∂(u, v)
(u, v) > 0
∂(u, v)
N(X(u, v)) =
−N(X(h(u, v))) , se
∂(u, v)
(u, v) < 0
∂(u, v)
Proposição 5.1 Uma superfı́cie regular S ⊂ R3 é orientável se, e só se, existe um campo de
vetores normais unitários N : S −→ R3 diferenciável em S.
Prova.
(⇒) Suponhamos que S é orientável. Seja {Xα : Uα −→ Xα (Uα ) | α ∈ A} uma famı́lia de
−1
parametrizações de S tal que S = α∈A Xα (Uα ) e hαβ = X−1 −1
S
α ◦ Xβ : Xβ (Wαβ ) −→ Xα (Wαβ )
Definimos, então,
(Xα )u ∧ (Xα )v
N(p) = (q) ,
k(Xα )u ∧ (Xα )v k
onde Xα (q) = p.
∂(u, v)
(q)
(Xα )u ∧ (Xα )v (Xα )u ∧ (Xα )v ∂(u, v) (Xβ )u ∧ (Xβ )v
(q) = (hαβ (q)) · = (q) .
k(Xα )u ∧ (Xα )v k k(Xα )u ∧ (Xα )v k β )u ∧ (Xβ )v k
∂(u, v) k(X
(q)
∂(u, v)
(Xα )u ∧ (Xα )v
N(Xα (u, v)) = (u, v) , (10)
k(Xα )u ∧ (Xα )v k
Xu ∧ Xv
f(u, v) = hN(X(u, v)) , (u, v)i .
kXu ∧ Xv k
temos que:
X ∧ Xv X ∧ Xv
u
(u, v) = − u (π(u, v)) ,
Xu ∧ Xv
kXu ∧ Xv k
Conseguimos, assim, uma parametrização X : U −→ X(U), tal que U é conexo, X(U) = X(U)
Xu ∧ Xv
e N(X(u, v)) =
(u, v) para todo (u, v) ∈ U.
Xu ∧ Xv
Provamos, então, que todo ponto p ∈ S pertence a uma vizinhança coordenada conexa que
satisfaz a relação (10).
∂(u, v)
(Xβ )u ∧ (Xβ )v (Xα )u ∧ (Xα )v ∂(u, v)
e (u, v) = (hαβ (u, v)) (u, v) ;
k(Xβ )u ∧ (Xβ )v k k(Xα )u ∧ (Xα )v k ∂(u, v)
∂(u, v)
∂(u, v)
portanto, > 0 para todo (u, v) ∈ X−1
β (Wαβ ). Assim, S é orientável.
∂(u, v)
Observação 5.2 A demonstração acima mostra que para S ser orientável, precisamos su-
por apenas a existência de um campo de vetores normais unitários contı́nuo em S e que um
tal campo de vetores é de fato diferenciável.
Proposição 5.2 Toda superfı́cie regular S que é a imagem inversa de um valor regular de
uma função diferenciável, definida num aberto de R3 , é orientável.
Prova.
Sejam f : V ⊂ R3 −→ R uma função diferenciável, a ∈ f(V) um valor regular de f e S = f−1 (a).
Como grad f(p) 6= 0 para todo p ∈ S, existe um aberto Wp ⊂ V tal que p ∈ Wp e grad f(q) 6= 0
para todo q ∈ Wp .
grad f
Wp é um aberto de R3 tal que S ⊂ W ⊂ V e : W −→ R3 é uma
S
Logo W = p∈S
k grad fk
aplicação diferenciável.
Sejam p ∈ S, v ∈ Tp S e α : (−ε, ε) −→ S, α(t) = (x(t), y(t), z(t)), uma curva diferenciável em 0
tal que α(0) = p e α 0 (0) = v.
Como α(t) ∈ S,
f(x(t), y(t), z(t)) = a
grad f(p)
isto é, hgrad f(p) , vi = 0. Como v ∈ Tp S é arbitrário e grad f(p) 6= 0, temos que é
k grad f(p)k
um vetor normal unitário a S em p.
Logo N : S ⊂ W −→ R3 ,
grad f(x, y, z) (f , f , f )
N(x, y, z) = = q x y z (x, y, z) ,
k grad f(x, y, z)k f2x + f2y + f2z
Exemplo 5.4 Seja S2 = {(x, y, z) ∈ R3 | x2 + y2 + z2 = 1}. Sendo que S2 = f−1 (0), onde
f : R3 −→ R é dada por f(x, y, z) = x2 + y2 + z2 − 1 e 0 é um valor regular de f, temos, pela
proposição 5.2, que S2 é orientável e N : S2 −→ R3 , dado por
grad f
N(x, y, z) = (x, y, z) = (x, y, z) ,
k grad fk
−−→
Obtemos assim que Tp S2 é o plano que passa pela origem e é ortogonal ao vetor posição Op ,
isto é,
Tp S2 = {v ∈ R3 | hv , pi = 0} .
Fig. 42:
Xu ∧ Xv
N(X(u, v) = (u, v) , ∀(u, v) ∈ U ,
kXu ∧ Xv k
ou
Xu ∧ Xv
N(X(u, v) = − (u, v) , ∀(u, v) ∈ U .
kXu ∧ Xv k
Yu ∧ Yv
N(Y(u, v)) = (u, v) , ∀(u, v) ∈ V ,
kYu ∧ Yv k
ou
Yu ∧ Yv
N(Y(u, v)) = − (u, v) , ∀(u, v) ∈ V .
kYu ∧ Yv k
Logo,
Xu ∧ Xv Y ∧ Yv
(u, v) = u (h(u, v)) , ∀(u, v) ∈ U1 ∪ U2 ,
kXu ∧ Xv k kYu ∧ Yv k
ou
Xu ∧ Xv Y ∧ Yv
(u, v) = − u (h(u, v)) , ∀(u, v) ∈ U1 ∪ U2 .
kXu ∧ Xv k kYu ∧ Yv k
Então, por (9), det(dh(u,v) ) > 0 para todo (u, v) ∈ U1 ∪ U2 , ou det(dh(u,v) ) < 0 para todo
(u, v) ∈ U1 ∪ U2 , isto é, det(dh) não muda de sinal, uma contradição.
Exemplo 5.5 Daremos agora um exemplo de uma superfı́cie não-orientada chamada faixa
de Möbius.
Seja C = {(x, y, z) ∈ R3 | x2 + y2 = 4 e z = 0} o cı́rculo de raio 2 e centro na origem, contido no
plano z = 0, e AB = {(x, y, z) ∈ R3 | x = 0 , y = 2 e z ∈ (−1, 1)} um segmento aberto centrado
no ponto C = (0, 2, 0) contido no plano x = 0.
A faixa de Möbius é obtida quando deslocamos o centro C de AB ao longo de C ao mesmo
tempo que giramos o segmento AB em torno de C, no plano formado pelo eixo Oz e pelo
ponto C, de tal modo que quando C descreve um ângulo u, AB tenha girado u/2. Quando C
completa uma volta ao longo de C, o segmento AB retorna à sua posição inicial, só que com
os seus extremos A e B invertidos.
Fig. 44: Identificação de dois lados de uma faixa retangular para obter a faixa de Möbius
Observação 5.5 É fácil ver geometricamente que a faixa de Móbius M é uma superfı́cie
regular não-orientável.
Intuitivamente, não se pode, sobre a faixa de Möbius, fazer uma escolha do que seria um
”lado”, pois, movendo-se sobre a superfı́cie, podemos passar de maneira contı́nua para o
outro ”lado”sem sair da superfı́cie.
• Provaremos agora que M é uma superfı́cie regular que não é orientável.
Afirmação: A aplicação diferenciável X : (0, 2π) × (−1, 1) −→ X(U) ⊂ M dada por
u u u
X(u, v) = 2 − v sen sen u, 2 − v sen cos u, v cos ,
2 2 2
Fig. 46:
De fato, como
v u
u
v u
u
Xu (u, v) = − cos sen u + 2 − v sen cos u , − cos cos u − 2 − v sen sen u ,
2 2 2 2 2 2
v u
− sen e
2 2
u u u
Xv (u, v) = − sen sen u, − sen cos u, cos ,
2 2 2
temos que:
v2 u u
2 u
u
• E(u, v) = cos2 sen2 u + 2 − v sen cos2 u − v cos sen u cos u 2 − v sen
4 2 2 2 2
v2 u u
2 u
u
+ cos2 cos2 u + 2 − v sen 2
sen u + v cos cos u sen u 2 − v sen
4 2 2 2 2
v2 v2 v2
u u u
2 u
+ sen2 = cos2 + 2 − v sen + sen2
4 2 4 2 2 4 2
v2 u 2
= + 2 − v sen
4 2
u u u
• G(u, v) = sen2 sen2 u + sen2 cos2 u + cos2 = 1
2 2 2
v u u u u
• F(u, v) = sen sen2 u cos − sen sen u cos u 2 − v cos
2 2 2 2 2
v u u u u v u u
+ sen cos2 u cos + sen cos u sen u 2 − v sen − cos sen
2 2 2 2 2 2 2 2
= 0.
Logo,
v2
u
2
kXu ∧ Xv k2 (u, v) = (EG − F2 )(u, v) = + 2 − v sen > 0,
4 2
• Resta ainda provar que X : U −→ X(U) é uma bijeção e que X−1 : X(U) −→ U é contı́nua.
u 2
Seja (x, y, z) ∈ R3 tal que (x, y, z) = X(u, v). Então x2 + y2 = 2 − v sen e, portanto,
2
u p x y
2 − v sen = x2 + y2 , sen u = p , e cos u = p .
2 x 2 + y2 x 2 + y2
Como u ∈ (0, 2π), temos que u é determinado de modo único e, portanto, v também.
u
Além disso, como ∈ (0, π),
2
u sp
cos
r
u 2 = 1 + cos u x2 + y2 + y
cotg = u = p ,
2 sen 1 − cos u x2 + y2 − y
2
r sp
u 1 − cos u x 2 + y2 − y
sen = = p
2 2 2 x 2 + y2
u p
e 2 − v sen = x2 + y2 ,
2
X(U) = M ∩ R3 − {(x, y, z) ∈ R3 | y = 0 e x ≥ 0} .
Como essas duas vizinhanças coordenadas cobrem a faixa de Möbius M, isto é,
M = X(U) ∪ X(U), mostramos que M é uma superfı́cie regular.
Então
π
π
−1 −1
U1 = X (W1 ) = 0, × (−1, 1) , U2 = X (W2 ) = , 2π × (−1, 1) ,
2 2
−1
3π −1
3π
U1 = X (W1 ) = , 2π × (−1, 1) , U2 = X (W2 ) = 0, × (−1, 1) ,
2 2
−1
e a aplicação de mudança de parâmetros, h = X ◦ X : U1 ∪ U2 −→ U1 ∪ U2 , é dada por:
u+ 3π
, −v , para (u, v) ∈ U1
h(u, v) = 2
u− π
,v , para (u, v) ∈ U2 .
2
! !
1 0 1 0
Como det(dh(u,v) ) = det = −1 < 0 em U1 e det(dh(u,v) ) = det = 1 > 0 em
0 −1 0 1
U2 , temos, pela observação 5.4, que M não é orientável.
Nesta seção, provaremos a recı́proca da proposição 5.2, no caso em que S é uma superfı́cie
compacta orientável. Mas ela é válida para qualquer superfı́cie regular orientável, isto é, ”toda
O conjunto aberto V, chamado uma vizinhança tubular de S, tem a propriedade de que por
cada ponto de V passa uma única reta normal a S.
Se provarmos que g é diferenciável e que 0 é um valor regular de g, teremos que S = g−1 (0),
que é o que queremos demonstrar.
• Mostraremos primeiro que cada ponto p de uma superfı́cie regular possui uma vizinhança
que tem uma vizinhança tubular.
Prova.
Consideremos a aplicação diferenciável F : U × R −→ R3 dada por:
Xu ∧ Xv
onde N(u, v) = (u, v) é um vetor normal unitário a S em X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)).
kXu ∧ Xv k
onde N = (N1 , N2 , N3 ).
Pelo teorema da aplicação inversa, existem δ > 0 e ε > 0 e um aberto V de R3 , tais que
Prova.
Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de S em p = X(u0 , v0 ) compatı́vel com a orientação
escolhida, isto é,
Xu ∧ Xv
N(X(u, v)) = (u, v) ,
kXu ∧ Xv k
para todo u, v ∈ U.
Seja F : (u0 − δ, u0 + δ) × (v0 − δ, v0 + δ) × (−ε, ε) −→ Vp o difeomorfismo C∞ dado pela
proposição anterior, onde F(u, v, t) = X(u, v) + t N(u, v). Podemos escolher ε > 0 e δ > 0 de
modo que Vp ⊂ V.
Como F−1 : Vp −→ R3 , F−1 (x, y, z) = (u(x, y, z), v(x, y, z), t(x, y, z)), é diferenciável e g|Vp = t :
Vp −→ R, temos que g|Vp é diferenciável. Além disso, 0 é um valor regular de g|Vp , pois, caso
contrário, existiria (x0 , y0 , z0 ) ∈ Vp tal que t(x0 , y0 , z0 ) = 0 e
∂t ∂t ∂t
= = = 0,
∂x ∂y ∂z
em (x0 , y0 , z0 ), o que é uma contradição, já que a diferencial de F−1 seria singular em (x0 , y0 , z0 ).
• Para passarmos do local ao global, isto é, para provar a existência de uma vizinhança tubular
de uma superfı́cie orientável inteira, e não apenas de uma vizinhança de um ponto desta
superfı́cie, precisamos rever alguns conceitos e resultados topológicos.
diam(B) = sup{kp − qk | p, q ∈ B} .
Proposição 6.5 (Lebesgue) Sejam K um conjunto compacto e {Uα }α∈I uma famı́lia de aber-
S
tos de K tal que Uα = K. Então existe um número δ > 0, chamado o número de Lebesgue
da famı́lia {Uα }, tal que para todo subconjunto A de K com diâmetro menor que δ existe α ∈ I
tal que A ⊂ Uα .
Prova.
Vamos supor que não existe δ > 0 satisfazendo as condições da proposição. Então, dado
1
n ∈ N, existe um subconjunto An de K com diam(An ) < que não está contido em aberto
2n
algum da famı́lia {Uα }.
Tomemos em cada An um ponto pn . Como {pn } é uma seqüência de pontos de K, existe, pela
proposição 6.3, um subconjunto N 0 ⊂ N infinito tal que a subseqüência {pn }n∈N 0 converge para
um ponto p ∈ K.
Seja α0 ∈ I tal que p ∈ Uα0 . Como Uα0 é aberto em K, existe n0 ∈ N tal que
1
B p; ∩ K ⊂ Uα0 .
n0
1
Seja n1 ∈ N 0 , n1 ≥ n0 , tal que kpn − pk < para todo n ≥ n1 , n ∈ N 0 .
2n0
1 1 1
kq − pk ≤ kq − pn k + kpn − pk < + < ,
2n 2n0 n0
1
isto é, An ⊂ B p; ∩ K ⊂ Uα0 , n ≥ n1 , o que é uma contradição.
n0
Usando as proposições 6.1, 6.4 e 6.5, provaremos a existência de uma vizinhança tubular de
uma superfı́cie compacta orientável.
Proposição 6.6 Seja S ⊂ R3 uma superfı́cie regular, compacta e orientável. Então existe
um número ε > 0 tal que se p, q ∈ S, p 6= q, os segmentos Ip e Iq das retas normais de
S
comprimento 2ε, centrados em p e q, respectivamente, são disjuntos, e V = p∈S Ip é um
aberto de R3 .
Prova.
Pela proposição 6.1, existem, para cada p ∈ S, um aberto Wp de S, com p ∈ Wp , e um
número εp > 0 tais que a proposição vale para os pontos de Wp com ε = εp , e se tomarmos
0 < εp0 < εp , a proposição também continua valendo em Wp com ε = εp0 .
Pela proposição 6.4, é possı́vel escolher um número finito Wp1 , . . . , Wpk de elementos da
famı́lia {Wp } tais que S = Wp1 ∪ . . . ∪ Wpk .
δ
Seja 0 < ε < min εp1 , . . . , εpk , , onde δ > 0 é o número de Lebesgue da famı́lia {Wpi }1≤i≤k .
2
Sejam dois pontos distintos p, q ∈ S. Se ambos pertencerem a algum Wpi , i = 1, . . . , k, os
segmentos das retas normais centrados em p e q com comprimento 2ε não se intersectam,
pois ε < εpi .
contradizendo a escolha de ε.
S
Observe, também, que, para todo i = 1, . . . , k, p∈Wpi Ip , onde Ip é o segmento de reta normal
centrada em p com comprimento 2ε, é, pela proposição 6.1, um aberto de R3 , pois 0 < ε < εpi .
[
Portanto, V = Ip é um aberto de R3 que contém S.
p∈Wp1 ∪...∪Wpk
Juntando as proposições 6.2 e 6.6, obtemos o seguinte teorema, que é o objetivo central desta
seção.
Teorema 6.1 Seja S ⊂ R3 uma superfı́cie regular, compacta e orientável. Então existe uma
função diferenciável g : V −→ R, definida em um aberto V de R3 , com S ⊂ V (uma vizinhança
tubular de S), que tem zero como valor regular e é tal que S = g−1 (0).
Observação 6.1 É possı́vel provar a existência de uma vizinhança tubular para uma su-
perfı́cie orientável qualquer, isto é, mesmo se a superfı́cie não é compacta. Portanto, o teo-
rema acima é válido sem a restrição de compacidade. A demonstração, no entanto, é mais
técnica, pois, no caso geral, o εp > 0 não é uma constante como no caso compacto, isto é,
pode variar com p. Uma demonstração deste fato pode ser encontrada no livro de Elon L.
Lima, Variedades Diferenciáveis, Capı́tulo 3.
Observação 6.2 É possı́vel provar que toda superfı́cie regular compacta em R3 é orientável.
Portanto, a hipótese de orientabilidade no teorema acima (caso compacto) é desnecessária.
Uma demonstração simples deste resultado pode ver vista no artigo de Elon L. Lima, Duas
novas demonstrações do Teorema de Jordan-Brouwer no caso diferenciável, Matemática Uni-
versitária, No 4, Sociedade Brasileira de Matemática, 1986, 89-105.
Nesta seção daremos uma justificativa geométrica para a definição de área dada na seção 4.
Seja R uma região limitada de uma superfı́cie regular S e considere uma partição P de R por
S
um número finito de regiões Ri , isto é, R = Ri , onde a interseção de duas regiões Ri ou é
vazia ou é constituı́da de pontos da fronteira de ambas.
da partição P.
S
Dada uma partição P, R = Ri , de R, escolhemos, para cada i, um ponto pi ∈ Ri .
Se, escolhendo partições P1 , . . . , Pn , . . . cada vez mais refinadas de P tais que a norma µn =
X
µ(Pn ) tende a zero, existir o limite de A(Ri ) e esse limite for independente das escolhas
i
X
A(R) = lim A(Ri ) .
µn →0
i
Mostraremos que toda região limitada de uma superfı́cie regular contida numa vizinhança co-
ordenada possui de fato uma área.
ZZ
A(R) = kXu ∧ Xv k du dv .
Q
Prova.
S
Seja R = i Ri uma partição de R. Como cada Ri é compacto (isto é, limitado e fechado)
podemos refinar a partição dada de modo que as normais à superfı́cie em dois pontos quais-
S
quer de Rij , onde Ri = j Rij , não sejam ortogonais.
é contı́nua, dado (u0 , v0 ) ∈ U existe um disco aberto D(u0 , v0 ) de centro (u0 , v0 ) e raio δ(u0 , v0 ) >
0 contido em U, tal que hN ◦ X(u, v) , N ◦ X(u, v)i =
6 0 para todos (u, v), (u, v) ∈ D(u0 , v0 ), pois
F((u0 , v0 ), (u0 , v0 )) = 1 6= 0.
S
Logo R ⊂ (u,v)∈Q X(D(u, v)), onde X(D(u, v)) é um aberto de S para todo (u, v) ∈ Q.
Seja δ > 0 o número de Lebesgue da cobertura aberta {X(D(u, v)) | (u, v) ∈ Q} do compacto R
S
e seja Ri = j Rij , para cada i, uma partição de Ri cuja norma µi seja menor que o número de
Lebesgue δ.
Então, para cada ij , existe (uij , vij ) ∈ Q tal que Rij ⊂ X(D(uij , vij )). Portanto hN(p) , N(q)i =
6 0
para todos p, q ∈ Rij .
De fato, como
∂x ∂y ∂z
Xu = · wk1 + · wk2 + · Nk e
∂u ∂u ∂u
∂x ∂y ∂z
Xv = · wk1 + · wk2 + · Nk ,
∂v ∂v ∂v
temos que:
∂x ∂y ∂x ∂y
∂x ∂z ∂z ∂x
Xu ∧ Xv = − wk1 ∧ wk2 + − wk1 ∧ Nk
∂u ∂v ∂v ∂u ∂u ∂v ∂u ∂v
∂y ∂z ∂z ∂y
+ − wk2 ∧ Nk
∂u ∂v ∂u ∂v
∂(x, y) ∂(x, z) k ∂(y, z) k
= Nk − w2 + w . (11)
∂(u, v) ∂(u, v) ∂(u, v) 1
∂(x, y)
Logo, se (u0 , v0 ) fosse igual a zero para algum (u0 , v0 ) ∈ Qk , terı́amos
∂(u, v)
∂(x, y) ∂(y, z)
Xu ∧ Xv (u0 , v0 ) = − (u0 , v0 ) wk2 + (u0 , v0 ) wk1 ,
∂(u, v) ∂(u, v)
onde (x, y, z) são as coordenadas de um ponto com respeito ao sistema de eixos ortogonais
pk x y z em R3 com origem em pk e eixos paralelos e com o mesmo sentido de wk1 , wk2 e Nk ,
respectivamente.
∂(x, y)
Como (u, v) > 0 para todo (u, v) ∈ Qk , pois, por (11),
∂(u, v)
∂(x, y)
(uk , vk ) = kXu ∧ Xv k(uk , vk ) > 0 , (12)
∂(u, v)
∂(x, y)
Lk (u, v) = h(Xu ∧ Xv )(u, v) , Nk i − kXu ∧ Xv k(u, v) = (u, v) − kXu ∧ Xv k (u, v) , (13)
∂(u, v)
∂(x, y) ∂X ∂X
mk ≤ (u, v) − ∧ (u, v) ≤ Mk ,
∂(u, v) ∂u ∂v
Afirmação: Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se P 0 é um refinamento da partição P com norma
< δ, então
X
ZZ
∂X ∂X
0
A(Rk ) − ∧
du dv < ε ,
Q ∂u ∂v
k
Xu ∧ Xv
f((u, v), (u, v)) = hXu ∧ Xv (u, v) , (u, v)i − kXu ∧ Xv k(u, v) ,
kXu ∧ Xv k
Logo, para cada kj , existe (ukj , vkj ) ∈ Q tal que Rkj ⊂ X(D(ukj , vkj )).
Portanto, se pkj ∈ Rkj , com X(u0kj , v0kj ) = pkj e (u0kj , v0kj ) ∈ D(ukj , vkj ), temos, por (15), que
f((u, v), (ukj , vkj )) < ε 0 ,
0 0
isto é,
hXu ∧ Xv (u, v) , X ∧ X
u v
∧ < ε0 ,
0 0
(u , v )i − kXu Xv k(u, v)
kXu ∧ Xv k k j k j
Xu ∧ Xv
para todo (u, v) ∈ Qkj , onde Nkj = (u0 , v0 ) e, portanto, por (13),
kXu ∧ Xv k kj kj
ou seja,
X
ZZ
A(Rkj ) − kXu ∧ Xv k du dv < ε .
k,j Q
X
Logo, existe o limite de A(Ri ), que é dado por
i
ZZ
A(R) = kXu ∧ Xv k du dv ,
Q
Como vimos no Capı́tulo 1, a taxa de variação da reta tangente a uma curva plana C nos dá a
curvatura, uma entidade geométrica importante. Neste capı́tulo, estenderemos essa idéia para
superfı́cies regulares, isto é, mediremos o quão rapidamente uma superfı́cie S se afasta do
plano tangente Tp S, numa vizinhança de p ∈ S. Isto é equivalente a medir a taxa de variação
em p de um campo vetorial normal unitário N em uma vizinhança de p. Como veremos na
seção 2 deste capı́tulo, esta taxa de variação é dada por uma aplicação linear em Tp S, que é
auto-adjunta. Mas antes faremos uma breve revisão sobre aplicações lineares auto-adjuntas e
formas quadráticas.
hAv , wi = hv , Awi ,
para todos u, v ∈ V.
Se {e1 , e2 } é uma base ortonormal de V e (aij ), i, j = 1, 2, é a matriz de A relativa a esta base,
então
aij = hAej , ei i = hej , Aei i = hAei , ej i = aji ,
definida por
B(v, w) = hAv , wi ,
B(v, w) = B(w, v) ,
hAv , wi = B(v, w) ,
para todos u, v ∈ V.
De fato, para cada v ∈ V fixo, a função
w 7−→ B(v, w)
hAv , wi = B(v, w) ,
Q(v) = B(v, v) ,
1
B(v, w) = (Q(v + w) − Q(v) − Q(w)) ,
2
para todos v, w ∈ V.
Assim, provamos que existe uma bijeção entre as formas quadráticas em V e as aplicações
lineares auto-adjuntas de V.
O nosso objetivo agora é provar que dada uma aplicação linear auto-adjunta A : V −→ V,
existe uma base ortonormal de V tal que a matriz de A relativa a esta base é uma matriz
diagonal e que os elementos da diagonal são o máximo e o mı́nimo da forma quadrática
correspondente restrita ao cı́rculo unitário de V.
Lema 1.1 Se a função Q(x, y) = ax2 + 2bxy + cy2 , restrita ao cı́rculo unitário x2 + y2 = 1,
tem um máximo no ponto (1, 0), então b = 0.
Prova.
Sejam α : (−ε, 2π + ε) −→ S1 , α(t) = (cos t, sen t), uma parametrização do cı́rculo unitário
S1 : x2 + y2 = 1.
Então, como a função Q ◦ α(t) = a cos2 t + 2b cos t sen t + c sen2 t tem um máximo em t = 0,
temos
d
(Q ◦ α(t))|t=0 = 2b = 0 ,
dt
isto é, b = 0.
Proposição 1.1 Dada uma forma quadrática Q : V −→ R existe uma base ortonormal
{e1 , e2 } de V tal que se v ∈ V é dado por v = xe1 + ye2 , então
Q(v) = λ1 x2 + λ2 y2 ,
Prova.
Como S1 é compacto e Q : V −→ R é contı́nua, existem λ1 ∈ R e e1 ∈ S1 tais que
λ1 = Q(e1 ) ≥ Q(v) ,
onde b = B(e1 , e2 ).
Então, como (1, 0) é um ponto de máximo da função (x, y) 7−→ λ1 x2 + 2bxy + λ2 y2 restrita ao
cı́rculo unitário x2 + y2 = 1, temos, pelo lema 1.1, que b = 0.
Basta agora verificar que λ2 é o mı́nimo de Q sobre o cı́rculo unitário de V. Para isso, tomemos
v = xe1 + ye2 com x2 + y2 = 1. Então
Q(v) = λ1 x2 + λ2 y2 ≥ λ2 (x2 + y2 ) = λ2 ,
já que λ1 ≥ λ2 .
Teorema 1.1 Seja A : V −→ V uma aplicação linear auto-adjunta. Então existe uma base
ortonormal {e1 , e2 } de V tal que A(e1 ) = λ1 e1 , A(e2 ) = λ2 e2 (isto é, e1 e e2 são autovetores de A
relativos aos autovalores λ1 e λ2 , respectivamente). A matriz de A relativa à base {e1 , e2 } é dia-
gonal e os elementos λ1 e λ2 , λ1 ≥ λ2 , da diagonal são o máximo e o mı́nimo, respectivamente,
da forma quadrática Q(v) = hAv , vi sobre o cı́rculo unitário de V.
Prova.
Pela proposição 1.1, para a forma quadrática Q(v) = hAv , vi, existe uma base ortonormal
{e1 , e2 } de V tal que Q(e1 ) = λ1 , Q(e2 ) = λ2 , λ2 ≤ λ1 , onde λ1 e λ2 são, respectivamente, o
máximo e o mı́nimo de Q sobre o cı́rculo unitário de V.
Resta, então, provar que
A(e1 ) = λ1 e1 e A(e2 ) = λ2 e2 .
Como B(e1 , e2 ) = hAe1 , e2 i = 0, pelo lema 1.1, e {e1 , e2 } é uma base ortonormal de V, temos
que A(e1 ) é um múltiplo de e1 , isto é, existe α ∈ R tal que A(e1 ) = αe1 . Logo,
Como vimos no Capı́tulo 3, uma superfı́cie regular S é orientável se ela admite um campo
diferenciável de vetores normais unitários definido em toda a superfı́cie, e a escolha de um tal
campo N : S −→ R3 é chamada uma orientação de S.
Definimos uma base {v, w} de Tp S como sendo positiva se hv ∧ w , N(p)i é positivo. Então o
conjunto de todas as bases positivas de Tp S é uma orientação de Tp S.
De fato, seja {v, w} uma base positiva de Tp S e {v 0 , w 0 } uma base de Tp S. Então, se v 0 = av+bw
e w 0 = cv + dw, temos que
Ao longo deste capı́tulo, S será uma superfı́cie regular orientável na qual foi escolhida uma
orientação N : S −→ R3 . Diremos simplesmente que S é uma superfı́cie com uma orientação
N.
S2 = {(x, y, z) ∈ R3 | x2 + y2 + z2 = 1} .
Y −1 ◦ N ◦ X : U −→ V
No caso das curvas, esta medida é dada por um número, a curvatura. Já para as superfı́cies,
esta medida é dada por uma aplicação linear, a diferencial dNp : Tp S −→ Tp S de N no ponto
p ∈ S.
Prova.
Como dNp é linear, basta provar que hdNp (w1 ) , w2 i = hw1 , dNp (w2 )i para uma base {w1 , w2 }
de Tp S.
Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de S em p, com X(q) = p, e seja {Xu (q), Xv (q)} a
base de Tp S associada a X.
d
dNp (α 0 (0)) = dNp (u 0 (0)Xu (q) + v 0 (0)Xv (q)) =
(N ◦ X(u(t), v(t)))t=0
dt
d
N(u(t), v(t))t=0 = Nu (q)u 0 (0) + Nv (q)v 0 (0) ,
=
dt
onde N = N ◦ X.
Logo dNp (Xu (q)) = Nu (q) e dNp (Xv (q)) = Nv (q).
e hNu , Xv i + hN , Xvu i = 0 .
Exemplo 2.1 Seja o plano P = {(x, y, z) ∈ R3 | ax + by + cz = d}, onde (a, b, c) 6= (0, 0, 0).
(a, b, c)
Então, o campo de vetores normais unitários N(x, y, z) = p é constante e, por-
a2 + b2 + c2
tanto, dN ≡ 0, isto é, todo vetor de Tp S é um autovetor associado ao autovalor zero.
Seja α : (−ε, ε) −→ S2 , α(t) = (x(t), y(t), z(t)), uma curva diferenciável com α(0) = p ∈ S2 e
α 0 (0) = v ∈ Tp S2 . Então
d
dp N(v) = dNp (x 0 (0), y 0 (0), z 0 (0)) = N(t)t=0 = (−x 0 (0), −y 0 (0), −z 0 (0)) = −v ,
dt
Para N, temos dNp (v) = v para todo p ∈ S2 e todo v ∈ Tp S2 , isto é, todo vetor de Tp S2 é um
autovetor de dNp associado ao autovalor 1.
Logo N(x, y, z) = (x, y, 0) e N(x, y, z) = (−x, −y, 0) são os dois campos diferenciáveis de
vetores normais unitários em C e
Assim,
dNp (v) = 0 = 0 v ,
dNp (w) = −w ,
Para N temos dN(v) = (v1 , v2 , 0), para todo p ∈ C e v = (v1 , v2 , v3 ) ∈ Tp C, e, portanto, (0, 0, µ) ,
µ ∈ R, e λ(−y, x, 0) , λ ∈ R , são os auto-vetores de dNp associados aos autovalores 0 e 1,
respectivamente.
Seja α(t) = X(u(t), v(t)) = (u(t), v(t), v(t)2 − u(t)2 ) uma curva diferenciável com
Então
1
d d u(t), −v(t), 2
dNp (v) = N(t)t=0 = q
dt dt u(t)2 + v(t)2 + 14
t=0
(u 0 (0), −v 0 (0), 0) 12
= 1
= (2u 0 (0), −2v 0 (0), 0) = 2(a, −b, 0) ,
4
onde v = (a, b, 0). Segue-se que v = (1, 0, 0) e w = (0, 1, 0) são autovetores de dNp associa-
dos aos autovalores 2 e −2, respectivamente.
P = {(x, y, z) ∈ R3 | z = x2 + ky2 } ,
F(x, y, z) = x2 + ky2 − z .
Então
grad F(x, y, z) = (2x, 2ky, −1) 6= (0, 0, 0)
para todo (x, y, z) ∈ R3 . Portanto, 0 é valor regular de F e P = F−1 (0) é uma superfı́cie regular.
Pela proposição 5.2,
Se α(t) = (x(t), y(t), z(t)), t ∈ (−ε, ε), é uma curva diferenciável em P, com α(0) = p e
α 0 (0) = (x 0 (0), y 0 (0), 0) = v = (a, b, 0), então
d
dNp (v) = N(t)|t=0 = (−2x 0 (0), −2ky 0 (0), 0) = (−2a, −2kb, 0) .
dt
Assim, (1, 0, 0) e (0, 1, 0) são autovetores de dNp associados aos autovalores −2 e −2k, res-
pectivamente.
e a forma quadrática
Q(v) = B(v, v) = hdNp , vi , ∀v ∈ Tp S .
Para obter uma interpretação geométrica desta forma quadrática, precisamos de algumas
definições. Por motivos que se tornarão claros depois, usaremos a forma quadrática −Q.
Definição 2.2 A forma quadrática IIp : Tp S −→ R definida por IIp (v) = −hdNp (v) , vi, é
chamada a segunda forma fundamental de S em p.
Definição 2.3 Seja C uma curva regular em S que passa por p, k(p) a curvatura de C em p
e cos θ = hn(p) , N(p)i, onde n(p) é o vetor normal a C em p e N(p) é o vetor normal a S em
p. O número κn (p) = κ(p) cos θ é chamado de curvatura normal de C em p.
Seja N(s) = N ◦ α(s). Como hN(s) , α 0 (s)i = 0 para todo s ∈ I, temos que
0
hN(s) , α 00 (s)i = −hN (s) , α 0 (s)i ,
Proposição 2.2 (Meusnier) Todas as curvas regulares de uma superfı́cie S que passam por
p ∈ S e têm a mesma reta tangente neste ponto, possuem a mesma curvatura normal em p.
• A proposição acima nos permite definir a curvatura normal de S no ponto p ∈ S segundo uma
dada direção v em Tp S da seguinte maneira:
IIp (v)
κn p (v) = , v ∈ Tp S − {0} .
Ip (v)
Definição 2.4 Seja v ∈ Tp S um vetor unitário e seja π(N(p), v) o plano que passa por p e é
paralelo aos vetores v e N(p). A interseção S ∩ π(N(p), v) é chamada seção normal de S em
p ao longo de v.
Observação 2.7 Estamos considerando a curva plana Fig. 7: Representação do teorema de Meusnier, as
curvas C e Cn têm a mesma curvatura normal em p
C ∩ π(N(p), v) como uma curva no espaço e, portanto, ao longo de v
κ(p) ≥ 0.
Como grad f(p0 ) e grad g(p0 ) são vetores não-nulos normais a S1 e S2 em p0 , respectivamente,
temos grad f(p0 ) ∧ grad g(p0 ) 6= (0, 0, 0) , pois Tp0 S1 6= Tp S2 .
Logo existe um aberto W 0 ⊂ W tal que p0 ∈ W 0 e grad f(p) ∧ grad g(p) 6= (0, 0, 0) para todo
p ∈ W 0 , isto é,grad f(p) e grad g(p) são LI em W 0 .
Sejam V10 = W 0 ∩ S1 e V20 = W 0 ∩ S2 abertos de S1 e S2 , respectivamente. Então
é uma matriz de posto 2, já que grad f(p) e grad g(p) são LI para todo p ∈ W 0 .
Logo, pelo item (b) do exercı́cio 17 da seção 2.2,
Além disso, como S : z = (x2 + y2 )2 , temos que F−1 (0) = S, onde 0 é valor regular da função
diferenciável F(x, y, z) = z − (x2 + y2 )2 .
grad F
Logo N(p) = (p) é um campo diferenciável de
k grad Fk
vetores normais unitários em S. Em particular, Tp S =
grad F
plano xy, pois N(0, 0, 0) = (0, 0, 0) = (0, 0, 1).
k grad Fk
Assim, pelo teorema 1.1, o zero é o único autovalor de dNp , isto é, dNp ≡ 0.
Exemplo 2.7 Se S é um plano, então todas as seções normais a S são retas. Portanto, todas
as curvaturas normais são nulas. Logo a segunda forma fundamental de S é identicamente
nula em todos os pontos, ou seja, dNp = 0 para todo p ∈ S.
Como
dNp (x, y, z) = −(x, y, 0) ,
Fig. 11: A normal no ponto p aponta para dentro do cilindro Fig. 12: A normal no ponto p aponta para dentro do cilindro
N : PH −→ S2
(2x, −2y, 1)
N(x, y, z) = p .
4x2 + 4y2 + 1
Então, em p = (0, 0, 0), N(p) = (0, 0, 1), Tp PH = plano xy e dNp (v) = (2v1 , −2v2 , 0), onde
v = (v1 , v2 , 0).
Logo,
• v1 = (1, 0, 0) é um autovetor de −dNp associado ao autovalor −2, e a seção normal a PH em p
z = −x2
na direção v1 é a parábola α : com curvatura igual a 2 na origem (nα (p) = −N(p));
y = 0
Como dNp (v1 ) = 2v1 e dNp (v2 ) = −2v2 , temos que IIp (w) = IIp (xv1 + yv2 ) = −2x2 + 2y2 para
todo w ∈ Tp PH , com kwk = 1.
Definição 2.5 A curvatura normal máxima κ1 e a curvatura normal mı́nima κ2 são chamadas
curvaturas principais de S em p, e as direções dadas pelos autovetores e1 e e2 são chamadas
direções principais de S em p.
Exemplo 2.11
• Num plano, todas as direções em todos os pontos são principais, pois κ1 (p) = κ2 (p) = 0, e,
portanto, κn p (v) = 0 para todo p e toda direção v.
• O mesmo ocorre para a esfera S2 , pois κ1 (p) = κ2 (p) = 1 e, portanto, κn p (v) = 1 para todo
p ∈ S2 e todo v ∈ Tp S2 − {0}.
Definição 2.6 Dizemos que uma curva regular conexa C ⊂ S é uma linha de curvatura de S
se, para cada ponto p ∈ C, a direção da reta tangente a C em p é uma direção principal de S
em p.
0
N (t) = λ(t) α 0 (t) ,
para toda parametrização regular α(t) de C, onde N(t) = N ◦ α(t) e λ(t) é uma função di-
ferenciável de t. Neste caso, −λ(t) é a curvatura normal (principal) de S em α(t) segundo
α 0 (t).
Prova.
A curva C é uma linha de curvatura de S ⇐⇒ α 0 (t) é uma direção principal de S em α(t) ⇐⇒
0
α 0 (t) é um autovetor de dNα(t) ⇐⇒ existe λ(t) ∈ R tal que N (t) = dNα(t) (α 0 (t)) = λ(t)α 0 (t).
0
hN (t) , α 0 (t)i
Além disso, como α 0 (t) 6= 0, a função λ(t) = é diferenciável.
hα 0 (t) , α 0 (t)i
De fato, seja {e1 , e2 } uma base ortonormal positiva de Tp S formada de autovalores de dNp , com
dNp (e1 ) = −κ1 e1 , dNp (e2 ) = −κ2 e2 e κ1 ≥ κ2 .
Observação 2.9 Sejam V um espaço vetorial de dimensão dois, B = {v1 , v2 } uma base de
!
a11 a12
V, A : V −→ V uma aplicação linear e [A]B = a matriz da aplicação A na base B,
a21 a22
onde
Então
det(A) = a11 a22 − a12 a21 e traço(A) = a11 + a22
são o determinante e o traço da aplicação A, que estão bem definidos, pois det[A]B e traço[A]B
independem da base B tomada em V.
1
K(p) = det(dNp ) e H(p) = − traço(dNp ) .
2
No caso em que {e1 , e2 } é uma base ortonormal de Tp S formada de autovetores de dNp , com
dNp (e1 ) = −κ1 e1 e dNp (e2 ) = −κ2 e2 ,
κ1 + κ2
K(p) = κ1 κ2 e H(p) = .
2
Observação 2.11 Num ponto elı́ptico, a curvatura Gaussiana é positiva e, portanto, as cur-
vaturas principais têm o mesmo sinal. Assim, todas as curvas passando pelo ponto têm seus
vetores normais apontando para um mesmo lado do plano tangente.
Exemplo 2.12 No parabolóide P : z = x2 + ky2 , k > 0 (ver exemplo 2.5), o ponto p = (0, 0, 0)
é elı́ptico, pois se tomarmos a orientação N : P −→ S2 tal que N(p) = (0, 0, 1), temos que
κ1 = 2 e κ2 = 2k e, portanto,
grad f 1
N(p) = − (p) = − (p − A)
k grad fk R
Observação 2.13 Em um ponto parabólico, a curvatura Gaussiana é nula, mas uma das
curvaturas principais é diferente de zero. No cilindro (ver exemplo 2.9), todos os pontos são
1
parabólicos e têm curvatura média constante .
2
Observação 2.14 Em um ponto planar p, todas as curvaturas normais são nulas. Portanto
K(p) = H(p) = 0.
No plano, todos os pontos são planares, e para a superfı́cie S : z = (x2 + y2 )2 , do exemplo 2.6,
o ponto (0, 0, 0) é planar.
Observação 2.15 Se p é um ponto umbı́lico, então K(p) ≥ 0. Além disso, K(p) = 0 se, e
só se, p é planar. Ou seja, um ponto umbı́lico é elı́ptico ou planar.
Exemplo 2.15 Na esfera e no plano, todos os pontos são umbı́licos, e a origem é um ponto
umbı́lico do parabolóide S : z = x2 + y2 .
Proposição 2.4 Se todos os pontos de uma superfı́cie regular conexa S são umbı́licos,
então S está contida em um plano ou em uma esfera.
Prova.
Para todo p ∈ S, existe λ(p) ∈ R tal que dNp (w) = λ(p)w para todo w ∈ Tp S.
Afirmação: λ : S −→ R é diferenciável.
Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de S em p ∈ S, com U conexo. Então
Afirmação: λ : S −→ R é constante.
Como λ : S −→ R é contı́nua e S é conexa, basta mostrar que λ é localmente constante.
Nuv = λv Xu + λ Xuv
e
Nvu = λu Xv + λ Xvu ,
Afirmação: f : S −→ R3 é constante.
Novamente, para provar que f é constante, basta observar que f = f ◦ X : U −→ R3 , dada por
N(u, v)
f(u, v) = X(u, v) − ,
λ0
N(p)
• Seja A ∈ R3 tal que p − = A para todo p ∈ S. Então S ⊂ S1/|λ0 | (A), pois
λ0
N(p)
kp − Ak =
= 1 ,
λ0
|λ0 |
1
para todo p ∈ S, onde S1/|λ0 | (A) é a esfera de centro A e raio .
|λ0 |
Observação 2.16 v é uma direção assintótica se, e só se, v 6= 0 e IIp (v) = 0.
{ w ∈ Tp S | IIp (w) = ±1 } .
Seja {e1 , e2 } uma base ortonormal de Tp S, onde e1 e e2 são autovetores de dNp , com dNp (e1 ) =
−κ1 e1 e dNp (e2 ) = −κ2 e2 , κ1 ≥ κ2 .
IIp (w) = κ1 ξ2 + κ2 η2 = ±1 .
• Num ponto planar, a indicatriz de Dupin é o conjunto vazio e todas as direções são as-
sintóticas.
Observação 2.20
• As direções principais são conjugadas.
• Uma direção assintótica é conjugada a si própria.
• Se p é um ponto umbı́lico não-planar (isto é, dNp (v) = κv ∀v ∈ Tp S, com κ 6= 0), então todo
par de direções ortogonais são conjugadas.
• Num ponto planar, duas direções quaisquer são conjugadas.
Observação 2.21 Seja p ∈ S um ponto não umbı́lico e seja {e1 , e2 } uma base ortonormal
de Tp S formada de autovetores de dNp , com dNp (e1 ) = −κ1 e1 e dNp (e2 ) = −κ2 e2 .
w1 = cos θ e1 + sen θ e2
e
w2 = cos ϕ e1 + sen ϕ e2 ,
De fato, r1 e r2 são direções conjugadas se, e só se, w1 e w2 são vetores conjugados, isto é,
0 = hdNp (w1 ) , w2 i
= −hκ1 cos θ e1 + κ2 sen θ e2 , cos ϕ e1 + sen ϕ e2 i
= −(κ1 cos θ cos ϕ + κ2 sen θ sen ϕ) .
Observação 2.22 Num ponto parabólico p (κ1 = 0 e κ2 6= 0), r1 e r2 são direções conjuga-
das se, e só se, uma das direções é paralela a e1 e a outra é qualquer, pois (2), neste caso, é
dada por:
κ2 sen θ sen ϕ = 0 ⇐⇒ θ = 0 ou ϕ = 0.
κ1 ξ(t)2 + κ2 η(t)2 = 1 .
Isto é,
(κ1 ξ(t), κ2 η(t)) ⊥ (ξ 0 (t), η 0 (t)) ,
e, portanto, (−κ2 η(t), κ1 ξ(t)) é a direção da reta tangente à indicatriz de Dupin no ponto
(ξ(t), η(t)) .
Sejam q1 = (ξ1 , η1 ) e q2 = (ξ2 , η2 ) os pontos de r que pertencem à indicatriz de Dupin.
Então as retas tangentes à indicatriz de Dupin em q1 e q2 são paralelas, respectivamente, ao
vetor v1 = (−κ2 η1 , κ1 ξ1 ) e ao vetor v2 = (−κ2 η2 , κ1 ξ2 ).
Como η1 = tan θ ξ1 e η2 = tan θ ξ2 , temos que v1 k (−κ2 tan θ, κ1 ) e v2 k (−κ2 tan θ, κ1 ) .
Logo v1 e v2 são paralelos e a reta r 0 paralela ao vetor (−κ2 tan θ, κ1 ) que passa pela origem é
dada por
κ1 1 κ 1
r0 : y = ξ=− 1 ξ = tan ϕ ξ .
−κ2 tan θ κ2 tan θ
Então,
κ1
tan ϕ tan θ = − ⇐⇒ κ2 sen ϕ sen θ = −κ1 cos θ cos ϕ ,
κ2
κ1 ξ2 + κ2 η2 = ±1 .
De modo análogo ao caso anterior, podemos provar que as retas tangentes à indicatriz de
Dupin em q1 e q2 são paralelas ao vetor (−κ2 tan θ, κ1 ) e a reta r 0 paralela a esse vetor que
passa pela origem, dada por
κ1 1
r 0 : η = tan ϕ ξ = ξ,
−κ2 tan θ
Xu ∧ Xv
N(u, v) = N(X(u, v)) = (u, v) ,
kXu ∧ Xv k
dNp (w) = λ dNp (Xu (q)) + µ dNp (Xv (q)) = λ Nu (q) + µ Nv (q) .
Como Nu (q) e Nv (q) pertencem a Tp S, podemos escrever esses vetores na base {Xu (q), Xv (q)}:
Portanto
dNp (w) = (a11 λ + a12 µ) Xu (q) + (a21 λ + a22 µ) Xv (q) ,
isto é,
! ! !
λ a11 a12 λ
dNp = ,
µ a21 a22 µ
!
a11 a12
onde [dNp ]B = é a matriz de dNp na base {Xu (q), Xv (q)}.
a21 a22
!
a11 a12
Observação 3.1 A matriz [dNp ]B = não é necessariamente simétrica. Mas se
a21 a22
a base {Xu (q), Xv (q)} é ortonormal, a matriz [dNp ]B é simétrica, pois neste caso, por (3),
A expressão da segunda forma fundamental na base {Xu (q), Xv (q)} é dada por:
onde
já que hN , Xu i = hN , Xv i = 0 em U.
As funções e, f, g : U −→ R de classe C∞ são os coeficientes da segunda forma fundamental
na base {Xu , Xv }.
Como Nu = a11 Xu + a21 Xv e Nv = a12 Xu + a22 Xv , temos que
ou seja,
! ! !−1 ! !
a11 a21 e f E F 1 e f G −F
=− =− . (4)
a12 a22 f g F G EG − F2 f g −F E
Assim,
fF − eG gF − fG
a11 = ; a12 = ;
EG − F2 EG − F2
eF − fE fF − gE
a21 = ; a22 = ;
EG − F2 EG − F2
As equações
Nu = a11 Xu + a21 Xv e Nv = a12 Xu + a22 Xv ,
com a11 , a12 , a21 , a22 obtidos acima, são conhecidas como as equações de Weingarten.
A partir de (4), obtemos que
eg − f2
K(p) = det(dNp ) = det(aij ) = (q)
EG − F2
x2 − 2 H x + K = 0 .
Se considerarmos κ1 ≥ κ2 , temos
p
2H + 4 H2 − 4K p
κ1 = = H + H2 − K
2
p
2 H − 4 H2 − 4K p
e κ2 = = H − H2 − K ,
2
Exemplo 3.1 Vamos calcular a curvatura Gaussiana dos pontos do toro (ver exemplo 1.9 do
capı́tulo 3) cobertos pela parametrização
X(u, v) = ((a + r cos u) cos v, (a + r cos u) sen v, r sen u) ,
onde (u, v) ∈ U = (0, 2π) × (0, 2π) .
O calculo dos coeficientes e, f e g depende de N (e, portanto, de Xu e Xv ), Xuv , Xuu e Xvv :
Logo,
E = hXu , Xu i = r2 ;
F = hXu , Xv i = 0 ;
G = hXv , Xv i = (a + r cos u)2 ,
hXu ∧ Xv , Xuu i det(Xu , Xv , Xuu ) r2 sen2 v(a + r cos u) + r2 cos2 v(a + r cos u)
• e = hN , Xuu i = = =
kXu ∧ Xv k
p
EG − F2 r(a + r cos u)
= r;
hXu ∧ Xv , Xuv i det(Xu , Xv , Xuv )
• f = hN , Xuv i = = =0 (Xv e Xuv são LD) ;
kXu ∧ Xv k
p
EG − F2
det(Xu , Xv , Xvv ) r cos u (a + r cos u)2
• g = hN , Xvv i = = = cos u (a + r cos u) ,
(a + r cos u) r r (a + r cos u)
eg − f2
Finalmente, como K = , temos que
EG − F2
r cos u (a + r cos u) cos u
K= = .
r2 (a + r cos u)2 r (a + r cos u)
Observação 3.4 Se olharmos para um ponto elı́ptico do toro, vemos que a superfı́cie situa-
se em um dos lados do plano tangente neste ponto. Por outro lado, se p é um ponto hiperbólico
do toro T e V ⊂ T é uma vizinhança qualquer de p, existem pontos de V nos dois lados de Tp T ,
por menor que seja V. Este exemplo retrata um fato local geral, que é descrito na proposição
abaixo.
• Seja p0 ∈ S. Então
Tp0 S = {p ∈ R3 | hp − p0 , N(p0 )i = 0}
é o plano tangente a S em p0 , e
Prova.
Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de S em p0 , com X(0, 0) = p0 , e seja D : U −→ R a
função diferenciável dada por:
1
Xuu (0, 0)u2 + 2Xuv (0, 0)uv + Xvv (0, 0)v2 + R(u, v) ,
X(u, v) = X(0, 0) + Xu (0, 0)u + Xv (0, 0)v +
2
R(u, v)
onde lim = 0.
(u,v)→(0,0) u2 + v2
Então,
1
hXuu (0, 0) , N(p0 )iu2 + 2hXuv (0, 0) , N(p0 )iuv + hXvv (0, 0) , N(p0 )iv2 + R(u, v) ,
D(u, v) =
2
Observação: k(u, v)k20 = u2 + v2 e k(u, v)k21 = E(0, 0)u2 + 2F(0, 0)uv + G(0, 0)v2 são normas em
R2 , pois
! ! !
E(0, 0) F(0, 0) u u
k(u, v)k21 = h , i
F(0, 0) G(0, 0) v v
!
E(0, 0) F(0, 0)
e é uma matriz simétrica positiva definida, já que E(0, 0) > 0 e E(0, 0)G(0, 0)−
F(0, 0) G(0, 0)
F(0, 0)2 > 0 .
R(u, v) R(u, v)
Assim, como lim = 0, obtemos que lim = 0.
(u,v)→(0,0) k(u, v)k2
0 (u,v)→(0,0) k(u, v)k2
1
Além disso, sendo kwk2 = k(u, v)k21 , temos, por (5), que
D(u, v) 1 w
lim 2
− IIp0 = 0.
(u,v)→(0,0) kwk 2 kwk
Como
D(u, v) 1 w
lim 2
− IIp0 = 0,
(u,v)→(0,0) kwk 2 kwk
κ2 (p0 )
dado ε = > 0 existe U0 ⊂ U aberto, (0, 0) ∈ U0 , tal que
4
κ (p ) D(u, v) 1 w κ2 (p0 )
− 2 0 < 2
− IIp0 < ,
4 kwk 2 kwk 4
Ou seja, X(u, v) ∈ Hp+0 para todo (u, v) ∈ U0 −{(0, 0)}. Logo, p ∈ Hp+0 para todo p ∈ X(U0 )−{p0 } .
• Seja agora p0 ∈ S um ponto hiperbólico, com curvaturas principais κ1 (p0 ) > 0 > κ2 (p0 ) e
e1 = u1 Xu (0, 0) + v1 Xv (0, 0) , e2 = u2 Xu (0, 0) + v2 Xv (0, 0) , as direções principais ortonormais.
te1 D(tu1 , tv1 ) 1 te1
Como IIp0 = κ1 (p0 ) e lim 2
− IIp0 = 0, temos que
kte1 k t→0 kte1 k 2 kte1 k
D(tu1 , tv1 ) 1
lim = κ1 (p0 ) > 0 .
t→0 kte1 k2 2
temos que
D(su2 , sv2 ) 1
lim = κ2 (p0 ) < 0 .
s→0 kse2 k2 2
Seja V = X(U0 ) ⊂ X(U) um aberto que contém p0 . Então existe δ > 0 tal que Dδ (0, 0) ⊂ U0 ,
Exemplo 3.2 Nos pontos parabólicos de um toro T 2 (que são os pontos dos paralelos u =
π/2 e u = 3π/2) o toro fica de um lado do plano tangente e tem em comum com o plano
tangente os pontos do paralelo que contém o ponto parabólico.
Exemplo 3.3 O cilindro (onde todo os pontos são parabólicos) fica todo de um lado do plano
tangente a qualquer um de seus pontos e tem em comum com o plano tangente a um ponto p
a reta paralela ao eixo Oz que passa por p.
Exemplo 3.5 Seja S a superfı́cie regular, denominada sela de macaco, que é o gráfico da
função f : R2 −→ R dada por f(x, y) = x3 − 3y2 x.
Então X : R2 −→ R3 ,
X(u, v) = (u, v, u3 − 3v2 u)
temos que:
Xu (0, 0) = (1, 0, 0) ; Xv (0, 0) = (0, 1, 0) e Xuu (0, 0) = Xuv (0, 0) = Xvv (0, 0) = (0, 0, 0) .
Portanto, Tp0 S = plano xy, e(0, 0) = f(0, 0) = g(0, 0) = 0, isto é, IIp0 ≡ 0.
Seja α(t) = X(t, 0) = (t, 0, t3 ), t ∈ R. COmo t3 < 0 se t < 0 e t3 > 0 se t > 0, temos que toda
vizinhança de p0 possui pontos em ambos os lados do plano tangente Tp0 = plano xy.
z = y3
Exemplo 3.6 Considere a superfı́cie S obtida girando a curva C : , y ∈ (−1, 1), em
x = 0
z = 1
torno da reta r : .
x = 0
p
A superfı́cie S é dada por: y3 = − x2 + (z − 1)2 + 1.
Afirmação: Todos os pontos do paralelo obtido girando a origem (0, 0, 0) em torno da reta r são
parabólicos.
Mostraremos isso, usando o seguinte fato, que será provado no próximo exemplo: todos os
paralelos e meridianos de uma superfı́cie de revolução S são linhas de curvatura.
Seja p0 um ponto do paralelo que passa pela origem. Como o meridiano que passa por p0 é
obtido girando a curva C em torno de r de um ângulo θ e a curvatura de C na origem é zero,
temos que a curvatura do meridiano em p0 é zero. Então a curvatura normal κn (v) = 0, onde
v é o vetor tangente ao meridiano em p0 . E finalmente, como o meridiano é uma linha de
curvatura, obtemos que uma das curvaturas principais da superfı́cie em p0 é nula.
Afirmação: O paralelo obtido girando a origem em torno da reta r é a seção normal a S em p0
na direção do vetor tangente ao paralelo no ponto p0 .
De fato, primeiro observe que o plano tangente a S na origem é o plano xy, pois o vetor
tangente a C nesse ponto é paralelo ao vetor (0, 1, 0) e o vetor tangente ao paralelo nesse
u 0 (t)2 e(u(t), v(t)) + 2u 0 (t)v 0 (t) f(u(t), v(t)) + v 0 (t)2 g(u(t), v(t)) = 0 , (6)
para todo t ∈ I.
A equação (6) é chamada de equação diferencial das linhas assintóticas.
Prova.
(⇒) Seja (u0 , v0 ) ∈ U. Como α(t) = X(t, v0 ), t ∈ (−ε + u0 , ε + u0 ) é uma curva assintótica, com
u(t) = t e v(t) = v0 , temos, pela equação (6), que e(u0 , v0 ) = 0.
De modo análogo, como β(s) = X(u0 , s), s ∈ (−ε + v0 , ε + v0 ) é também uma curva assintótica,
com u(s) = u0 e v(s) = s, obtém-se, pela equação (6), que g(u0 , v0 ) = 0.
(⇐) Suponhamos agora que e(u, v) = g(u, v) = 0 para todo (u, v) ∈ U.
Seja α(t) = X(t, v0 ) uma parametrização da curva coordenada v = v0 . Então, como v 0 (t) = 0,
para todo t, isto é, α é uma curva assintótica e, portanto, a curva coordenada v = v0 é uma
curva assintótica.
Seja β(s) = X(u0 , v(s)) uma parametrização da curva coordenada u = u0 . Então, como
u 0 (s) = 0, IIβ(s) (β 0 (s)) = f(u(s), v(s)) u 0 (s) v 0 (s) = 0 para todo s, ou seja, β é uma curva
assintótica e, portanto, a curva coordenada u = u0 é uma curva assintótica.
f2
Observação: Quando e = g = 0 em U, a curvatura Gaussiana K(X(u, v)) = − (u, v) é
EG − F2
≤ 0 em U, isto é, um ponto X(u, v) é hiperbólico ou planar.
Portanto, u(t) = const. ou v(t) = const. são as únicas soluções da equação se f 6= 0 em U.
Passaremos agora às direções principais. Sabemos que uma curva regular conexa C em uma
vizinhança coordenada X(U) é uma linha de curvatura se, e só se, para uma parametrização
qualquer α(t) = X(u(t), v(t)), t ∈ I, de C, temos (ver proposição 2.3)
Ou seja, α(t) = X(u(t), v(t)) é uma linha de curvatura se, e só se,
u (t) Nu (X(u(t), v(t))) + v 0 (t) Nv (X(u(t), v(t))) = λ(t) u 0 (t) Xu (u(t), v(t)) + λ(t) v 0 (t) Xv (u(t), v(t))
0
⇐⇒
u 0 (t)(a11 Xu + a21 Xv )(u(t), v(t)) + v 0 (t)(a12 Xu + a22 Xv )(u(t), v(t)) = λ(t)u 0 (t)Xu (u(t), v(t))
+λ(t)v 0 (t)Xv (u(t), v(t))
⇐⇒
a11 u 0 (t) + a12 v 0 (t) = λ(t) u 0 (t) e a21 u 0 (t) + a22 v 0 (t) = λ(t) v 0 (t)
⇐⇒
(fF − eG)u 0 (t) + (gF − fG)v 0 (t) (eF − fE)u 0 (t) + (fF − gE)v 0 (t)
= λ(t)u 0 (t) e = λ(t)v 0 (t)
EG − F2 EG − F2
⇐⇒
( (fF − eG)u 0 (t) + (gF − fG)v 0 (t), (eF − fE)u 0 (t) + (fF − gE)v 0 (t) ) e (u 0 (t), v 0 (t) são múltiplos ,
⇐⇒
( (fF − eG)u 0 (t) + (gF − fG)v 0 (t), (eF − fE)u 0 (t) + (fF − gE)v 0 (t) ) e (−v 0 (t), u 0 (t) são ortogonais ,
⇐⇒
(eF − fE)u 0 (t)2 + (fF − gE)u 0 (t)v 0 (t) − (fF − eG)u 0 (t)v 0 (t) − (gF − fG)v 0 (t)2 = 0 ,
⇐⇒
(eF − fE)u 0 (t)2 + (eG − gE)u 0 (t)v 0 (t) + (fG − gF)v 0 (t)2 = 0 ,
⇐⇒
v 0 (t)2 −u 0 (t)v 0 (t) u 0 (t)2
E F G = 0, (7)
e f g
Proposição 3.3 Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de S tal que X(u, v) não é um
ponto umbı́lico para todo (u, v) ∈ U.
Então as curvas coordenadas são linhas de curvatura se, e só se, f = F = 0.
Prova.
(⇒) Como Xu e Xv são direções principais e num ponto umbı́lico as direções principais são
ortogonais, temos F = hXu , Xv i = 0.
Seja α(t) = X(t, v0 ) uma parametrização da curva coordenada v = v0 que passa por (u0 , v0 )
em t = u0 . Como α é uma linha de curvatura, temos, por (7), que
0 0 1
E 0 G (u0 , v0 ) = 0 =⇒ Ef(u0 , v0 ) = 0 =⇒ f(u0 , v0 ) = 0 , pois E(u0 , v0 ) > 0 .
e f g
(⇐) Suponhamos que f = F = 0 em U. Então α(t) = X(t, v0 ) é uma linha de curvatura, pois
0 0 1
E 0 G (t, v0 ) = 0 , para todo t ,
e 0 g
Observação 3.6 Não usamos a hipótese de que os pontos de X(U) são não-umbı́licos para
provar que as curvas coordenadas são linhas de curvatura. Só usamos que F = f = 0.
Xu = (−ϕ(v) sen u, ϕ(v) cos u, 0) , Xv = (ϕ 0 (v) cos u, ϕ 0 (v) sen u, ψ 0 (v)) e ϕ 0 (v)2 +ψ 0 (v)2 = 1 ,
temos E = ϕ(v)2 , F = 0 e G = 1.
Vamos agora calcular os coeficientes da segunda forma fundamental.
Sendo
obtemos:
−ϕ(v) sen u ϕ(v) cos u 0
(Xu , Xv , Xuu ) 1
0 0 0
e = = ϕ (v) cos u ϕ (v) sen u ψ (v)
2 1/2
p
(EG − F ) EG − F2
−ϕ(v) cos u −ϕ(v) sen u 0
ϕ(v)2 0
= − ψ (v) = −ϕ(v) ψ 0 (v) ,
ϕ(v)
(Xu , Xv , Xuv )
f = =0 e
(EG − F2 )1/2
−ϕ(v) sen u ϕ(v) cos u 0
(Xu , Xv , Xvv ) 1
g = = 0 0 0
−ϕ (v) cos u ϕ (v) sen u ψ (v)
p
(EG − F2 )1/2
2
EG − F 00
ϕ (v) cos u −ϕ 00 (v) sen u ψ 00 (v)
1
= −ϕ(v) sen2 u ( ϕ 0 (v) ψ 00 (v) − ϕ 00 (v) ψ 0 (v))
ϕ(v)
Como F = f = 0, temos, pela proposição 3.3, que as curvas coordenadas são linhas de
curvatura, isto é, os paralelos (v = const.) e os meridianos (u = const.) são linhas de curvatura.
• Provaremos agora que ao longo do paralelo
que passa por α(v) = β(0), o vetor normal unitário à superfı́cie em β(u) = X(u, v) é obtido
girando o vetor normal unitário −nα (v) à curva C em α(v) em torno do eixo Oz de um ângulo
u.
De fato, como α 0 (v) = (ϕ 0 (v), 0, ψ 0 (v)), temos que −nα (v) = (ψ 0 (v), 0, −ϕ 0 (v)). Portanto
Xu ∧ Xv 1
N(X(u, v)) = (u, v) = ( ϕ(v)ψ 0 (v) cos u , ϕ(v)ψ 0 (v) sen u , −ϕ(v) ϕ 0 (v) )
kXu ∧ Xv k ϕ(v)
Então
π : sen u0 x − cos u0 y = 0 ,
pois X(u0 , v) ∈ π para todo v ∈ π e π contém o eixo Oz. Ou seja, π é o plano que passa pela
origem e é normal ao vetor (sen u0 , − cos u0 , 0).
Como
Xv (u0 , v) = (ϕ 0 (v) cos u0 , ϕ 0 (v) sen u0 , ψ 0 (v))
Como os meridianos são seções normais e linhas de curvatura, uma das curvaturas principais
de S em X(u, v) é
Xv
IIX(u,v) (u, v) = e(u, v) = ψ 0 (v) ϕ 00 (v) − ψ 00 (v) ϕ 0 (v) = −καu (v) ,
kXv k
onde καu (v) é a curvatura do meridiano αu (v) = X(u, v) em v, considerado como uma curva
plana.
Observação 3.8 O paralelo βv0 (u) = X(u, v0 ) é uma seção normal de S em p = β(u) se, e
só se, o vetor tangente a C em α(v0 ) é paralelo ao eixo Oz.
Como πX(u,v0 ) (Xu (u, v0 ), N(u, v0 )) é o plano que passa por X(u, v0 ) e é normal ao vetor Xv (u, v0 ),
temos que πX(u,v0 ) (Xu (u, v0 ), N(u, v0 )) é paralelo ao plano xy se, e só se, Xv (u, v0 ) é paralelo
ao eixo Oz.
Logo
S ∩ πX(u,v0 ) (Xu (u, v0 ), N(u, v0 )) = {βv0 (u) | u ∈ [0, 2π]}
se, e só se, Xv (u, v0 ) é paralelo ao eixo Oz, ou seja, se, e só se, o vetor tangente a C em α(v0 )
é paralelo ao eixo Oz.
a curvatura Gaussiana de S no ponto X(u, v), temos que K(u, v) = 0 se, e só se, ψ 0 (v) = 0 ou
ψ 0 (v) ϕ 00 (v) − ψ 00 (v) ϕ 0 (v) = 0.
Observe que:
• ψ 0 (v) = 0 se, e só se, o vetor tangente a C em α(v) é
perpendicular ao eixo Oz.
• ψ 0 (v)ϕ 00 (v) − ψ 00 (v)ϕ 0 (v) = 0 se, e só se, a curvatura de C
em α(v) é zero.
Se ψ 0 (v) = 0 (⇐⇒ e = 0) e ψ 0 (v)ϕ 00 (v) − ψ 00 (v)ϕ 0 (v) 6= 0
(⇐⇒ g 6= 0), X(u, v) é um ponto parabólico.
Se ψ 0 (v) = 0 e ψ 0 (v)ϕ 00 (v) − ψ 00 (v)ϕ 0 (v) = 0 , X(u, v) é um
ponto planar, pois e = f = g = 0 em (u, v).
Fig. 26: α 0 (v) é perpendicular ao eixo Oz
Exemplo 3.8 Seja
v v
α(v) = 0, a + r cos , r sen , v ∈ [0, 2πr]
r r
• Como α 0 (v) é paralelo ao eixo Oz se, e só se, v = 0 e v = πr, temos que X(u, 0) e X(u, πr)
são os únicos paralelos do toro que são seções normais. Nos pontos do paralelo v = 0, que
1 1
é um cı́rculo de raio a + r, as curvaturas principais do toro são − e − , e, portanto,
a+r r
1
K(u, 0) = para todo u ∈ [0, 2π].
(a + r)r
Nos pontos do paralelo v = πr, que é um cı́rculo de raio a − r, as curvaturas principais do toro
1 1 1
são e − . Logo, K(u, πr) = − para todo u ∈ [0, 2π].
a−r r (a − r)r
S : x 2 + y 2 = a2 .
Exemplo 3.10 Seja S a superfı́cie de revolução (ver exemplo 3.6) obtida girando a curva
z = y3 z = 1
C: em torno da reta r :
x = 0 x = 0 .
Como o vetor tangente a C em (0, 0, 0) é paralelo à reta r e C tem curvatura zero nesse ponto,
temos que o paralelo que pasa pela origem é uma seção normal e todos os seus pontos são
parabólicos
De fato, como ϕ 0 (v)2 + ψ 0 (v)2 = 1 para todo v, obtemos, derivando esta expressão, que
ϕ 0 (v) ϕ 00 (v) = −ψ 0 (v) ψ 00 (v) .
Logo, por (8),
Observação 3.11 Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de uma superfı́cie S tal que
e g
f = F = 0 em U. Então e são as curvaturas principais.
E G
eg eG + gE e g e g
De fato, como K = κ1 κ2 = e 2H = κ1 + κ2 = , isto é, κ1 κ2 = e κ1 + κ2 = + ,
EG EG E G E G
e g
então e são as curvaturas principais.
E G
e −ψ 0 ϕ −ψ 0 g
= = e = ψ 0 ϕ 00 − ψ 00 ϕ 0 .
E ϕ2 ϕ G
κ1 + κ2 1 −ψ 0 + ϕ(ψ 0 ϕ 00 − ψ 00 ϕ 0 )
H= = .
2 2 ϕ
X : U −→ S
(x, y) 7−→ (x, y, f(x, y)) .
Então,
Xx = (1, 0, fx ) , Xy = (0, 1, fy )
Xxx = (0, 0, fxx ) , Xxy = (0, 0, fxy )
Xyy = (0, 0, fyy ) .
Assim,
Xx ∧ Xy (−f , −fy , 1)
N(x, y) = =q x ,
kXx ∧ Xy k 1 + f2x + f2y
E = 1 + f2x ; G = 1 + f2y ; F = fx fy
fxx fxy fyy
e= ; f= ; g= .
(1 + f2x + f2y )1/2 (1 + f2x + f2y )1/2 (1 + f2x + f2y )1/2
Observação 3.12 Para todo ponto p de uma superfı́cie S, existe um aberto V ⊂ S, com
p ∈ V, tal que V é o gráfico sobre o plano tangente a S em p.
De fato, seja {v1 , v2 } uma base ortonormal de Tp S compatı́vel com a orientação de S, isto é,
{v1 , v2 , N(p)} é uma base ortonormal positiva de R3 .
Xu ∧ Xv
Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de S tal que X(0, 0) = p e N(p) = (0, 0).
kXu ∧ Xv k
Então
Xu (0, 0) = xu (0, 0) v1 + yu (0, 0) v2 + zu (0, 0) N(p) ,
e
Xv (0, 0) = xv (0, 0) v1 + yv (0, 0) v2 + zv (0, 0) N(p) .
Logo
∂(x, y)
Como N(p) é paralelo a (Xu ∧ Xv )(0, 0), obtemos que (0, 0) 6= 0.
∂(u, v)
d(π ◦ X)(0,0) : R2 −→ R2
é um isomorfismo.
Pelo Teorema da Aplicação Inversa, existem abertos U0 ⊂ U e U1 de R2 , com (0, 0) ∈ U0 e
(0, 0) ∈ U1 , tais que π ◦ X : U0 −→ U1 é um difeomorfismo.
onde
(π ◦ X)−1 (x, y) = (u(x, y), v(x, y)) .
Na parametrização Y : U1 −→ R3 ,
temos que
obtemos:
Observação 3.13 Vamos utilizar a observação acima para dar uma interpretação geométrica
da indicatriz de Dupin.
Seja p ∈ S um ponto não-planar. Dado ε > 0, seja
Cε = {(x, y) ∈ U1 | h(x, y) = ε} .
Então
1
h(x, y) = (hx x (0, 0)x2 + 2hx y (0, 0)x y + hy y (0, 0) y2 ) + R(x, y) ,
2
R(x, y)
onde lim = 0, pois h(0, 0) = hx (0, 0) = hy (0, 0) = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + y2
Logo
1 1
h(x, y) = κ1 (p) x2 + κ2 (p) y2 + R(x, y) .
2 2
Assim, a curva Cε é dada por
Como κ1 (p) 6= 0 ou κ2 (p) 6= 0, temos que κ1 (p)x2 + κ2 (p)y2 = 2ε é uma aproximação de ordem
2 da curva Cε .
√ √
Fazendo x = x 2ε e y = y 2ε, temos que κ1 (p) x2 + κ2 (p) y2 = 2ε é transformada em
κ1 (p)x2 + κ2 (p)y2 = 1, que é a indicatriz de Dupin de S em p.
Provamos, assim, que se p é um ponto não-planar, a interseção de S com um plano paralelo a
Tp S e próximo a p é uma curva que tem a indicatriz de Dupin em p como uma aproximação de
segunda ordem.
Se p é um ponto planar, essa interpretação deixa de ser válida (ver exemplos 2.6 e 3.5).
Observação 3.14 Para concluir esta seção daremos uma interpretação geométrica da cur-
vatura Gaussiana em termos da aplicação de Gauss N : S −→ S2 . Essa foi a maneira em que
Gauss introduziu a curvatura.
Mas antes, daremos uma definição e faremos algumas observações.
Afirmação: Seja {v1 , v2 } uma base positiva de Tp S1 . Então {w1 , w2 } é uma base positiva de Tp S1
!
a11 a12
se, e só se, a matriz de mudança de base tem determinante positivo.
a21 a22
De fato:
para uma base {v1 , v2 } positiva de Tp S1 , pois se {w1 , w2 } é outra base positiva de Tp S1 , então
!
a11 a12
hdϕp (w1 ) ∧ dϕp (w2 ) , N2 (p)i = det hdϕp (v1 ) ∧ dϕp (v2 ) , N2 (p)i > 0 (< 0) .
a21 a22
hdϕXα0 (u0 ,v0 ) ( (Xα0 )u (u0 , v0 ) ) ∧ dϕXα0 (u0 ,v0 ) ( (Xα0 )v (u0 , v0 ) ) , N2 (ϕ(Xα0 (u0 , v0 )))i > 0 ,
isto é,
h(Yα0 )u (u0 , v0 ) ∧ (Yα0 )v (u0 , v0 ) , N2 (Yα0 (u0 , v0 ))i > 0 ,
temos que
h(Yα0 )u ∧ (Yα0 )v , N2 ◦ Yα0 i(u, v) > 0 ,
para todo (u, v) ∈ Uα0 . Logo dϕp preserva orientação para todo p ∈ Xα0 (Uα0 ).
Intuitivamente, isto significa o seguinte: uma orientação de Tp S induz uma orientação nas ”pe-
quenas” curvas fechadas em torno de p; a imagem por N dessas curvas terá orientação igual
ou oposta às primeiras curfas conforme o ponto seja elı́ptico ou hiperbólico, respectivamente
(ver Figura 32).
Fig. 32: A aplicação de Gauss preserva a orientação nos pontos elı́pticos e a inverte nos hiperbólicos
Para levar tal fato em consideração, faremos a convenção de que a área de uma região contida
em uma vizinhança conexa V = X(U), onde N : V −→ N(V) é um difeomorfismo (logo K 6= 0
em V), e a área da sua imagem por N tem o mesmo sinal se K > 0 em V e sinais opostos se
K < 0 em V (como V é conexo, K não muda de sinal em V).
Ou seja, a área com sinal da imagem por N de uma região R ⊂ V é dada por:
ZZ
A(N(R)) = K kXu ∧ Xv k du dv ,
R0
onde X(R 0 ) = R.
Proposição 3.4 Seja p um ponto de uma superfı́cie S com curvatura Gaussiana K(p) 6= 0 e
seja V = X(U) uma vizinhança coordenada conexa de p onde K não muda de sinal. Então
A(N(Bn ))
K(p) = lim .
n→∞ A(Bn )
onde Bn ⊂ V é uma seqüência de regiões que converge para p, isto é, para todo ε > 0 existe
n0 ∈ N, tal que Bn ⊂ Bε (p) para todo n ≥ n0 .
Prova.
Sejam Rn = X−1 (Bn ) e A0 (Rn ) a área de Rn em R2 .
Pelo Teorema do Valor Médio para a integral dupla, existem pn , qn ∈ Rn tais que:
ZZ
kXu ∧ Xv k du dv
A(Bn )
= Rn
= kXu ∧ Xv k(pn ) ,
A0 (Rn ) A0 (Rn )
e
ZZ
KkXu ∧ Xv k du dv
A(N(Bn ))
= Rn
= K(qn ) · kXu ∧ Xv k(qn ) .
A0 (Rn ) A0 (Rn )
Então
A(N(Bn ))/A0 (Rn ) K(qn ) · kXu ∧ Xv k(qn )
lim A(N(Bn ))A(Bn ) = lim = lim
n→∞ n→∞ A(Bn )/A0 (Rn ) n→∞ kXu ∧ Xv k(pn )
K(p) · kXu ∧ Xv k(p)
= = K(p) ,
kXu ∧ Xv k
Observação 3.16 Sejam C uma curva regular plana, α : I −→ C uma parametrização pelo
comprimento de arco de C tal que κ(s) 6= 0 para todo s ∈ I e α(s0 ) = p0 e θ : I −→ R uma
função diferenciável tal que α 0 (s) = (cos θ(s), sen θ(s)) para todo s ∈ I.
Então
θ(s 0 ) − θ(s)
κ(s0 ) = θ 0 (s0 ) = lim ,
s, s → s0
0 s0 − s
s0 > s
Vemos, assim, que a curvatura Gaussiana K é o análogo, para superfı́cies, da curvatura κ para
curvas planas.
4. Campos de Vetores
Nesta seção, usaremos os teoremas fundamentais das equações
diferenciais ordinárias (existência, unicidade e dependência
das condições iniciais) para provar a existênciua de certos
sistemas de coordenadas em superfı́cies.
Começaremos com uma apresentação geométrica do ma-
terial sobre equações diferenciais que utilizaremos.
Definição 4.1 Um campo de vetores diferenciável em um Fig. 34: Campo de vetores diferenciável w no
aberto U
2 2
aberto U ⊂ R é uma aplicação w : U −→ R , w(x, y) =
(a(x, y), b(x, y)), diferenciável.
Exemplo 4.1 Uma trajetória do campo de vetores w : R2 −→ R2 , w(x, y) = (x, y), que passa
pelo ponto (x0 , y0 ) é a semi-reta α(t) = (x0 et , y0 et ) , t ∈ R, pois α 0 (t) = α(t) = w(α(t)) .
Note que a trajetória de w que passa pela origem é α(t) = (0, 0), para todo t. Assim, a origem
é um ponto singular do campo w.
Para (x0 , y0 ) = (0, 0), α(t) = (0, 0), para todo t ∈ R, é Fig. 36: Campo w(x, y) = (y, −x) em R2
Prova.
w(p)
Sejam v1 = , v2 um vetor unitário ortogonal a v1 , a, b : U −→ R funções diferenciáveis
kw(p)k
dadas por
w(ξ, η) = a(ξ, η) v1 + b(ξ, η) v2 .
A(x, y) = x v1 + y v2 + p ,
e o aberto
A−1 (U) = U
e= (x, y) ∈ R2 | xv1 + yv2 + p ∈ U .
Assim (0, 0) ∈ U
e e A(0, 0) = p.
a
e(x, y) = a(xv1 + yv2 + p) = a(A(x, y))
b(x,
e y) = b(xv1 + yv2 + p) = b(A(x, y)) .
Logo,
Então w e −→ R2 ,
e :U
w(x,
e y) = (e
a(x, y), b(x,
e y))
w(p)
w(p) = a
e(0, 0)v1 = a
e(0, 0) .
kw(p)k
e = J1 × J2 , J1 e J2 intervalos abertos
Sejam V
com 0 ∈ J1 ∩J2 , V
e ⊂ U,
e I um intervalo aberto,
Fig. 38: Retângulo J2 × I e a função e
t
com 0 ∈ I, αe : V × I −→ Ue o fluxo local de
e em (0, 0) e α
w e a restrição de α
e ao retângulo Ve × I ∩ { (x, y, t) | x = 0 } = J2 × I.
Isto é, α
e (y, t) = α
e ((0, y), t).
e (y, 0) = (0, y) e
Logo α
∂e
α ∂e
α
(y, t) = ((0, y), t) = w(e
e α((0, y), t))
∂t ∂t
Como
de
α
de
α(0,0) (e1 ) = ((0, y), 0)|y=0 = (0, 1) ,
dy
e
de
α
de
α(0,0) (e2 ) = ((0, 0), t)|t=0 = w(0,
e 0) = (kwk(p), 0) ,
dt
temos que de
α(0,0) (e1 ) e de
α(0,0) (e2 ) são LI.
Assim, pelo Teorema da Aplicação Inversa, existem intervalos abertos eJ2 ⊂ J2 , eI ⊂ I, com
e : eJ2 × eI −→ U
α
e
e
é um difeomorfismo.
e −1 : U
Seja α
e e −1 (x, y) = (f(x,
e −→ eJ2 × eI , α e y), et(x, y)). Então
α
e ((0, f(x,
e y)), et(x, y)) = (x, y) .
Então B(t)
e =α e y)), t), pois
e ((0, f(x,
α
e ((0, f(x,
e y)), et(x, y)) = (x, y) .
pois B(t)
e =α
e (f(x,
e y), t).
−1
Além disso, dfeqe 6= 0 para todo q ∈ U,
e pois α é um difeomorfismo.
e
e
w : U0 −→ R2 , isto é,
α 0 (t) = w(α(t)) = w(x(t)v1 + y(t)v2 + p) ,
ou seja,
x 0 (t)v1 + y 0 (t)v2 = a
e(x(t), y(t))v1 + b(x(t),
e y(t))v2 ,
para todo t ∈ I.
Logo x 0 (t) = a
e(x(t), y(t)) e y 0 (t) = b(x(t),
e y(t)), isto é, α
e (t) = (x(t), y(t)) é uma trajetória de
w e −→ R2 .
e :U
e
e : I −→ U,
A recı́proca também vale, isto é, se α e αe (t) = (x(t), y(t)), é uma trajetória de
e
e −1 (x, y)) ,
f(x, y) = f(A
onde
A−1 (x, y) = ( h(x, y) − p , v1 i, h(x, y) − p , v2 i ) .
e −1 (α(t))) = f(x(t),
f(α(t)) = f(A e y(t))
é constante.
Além disso, dfq 6= 0 para todo q ∈ U0 , pois dfq = dfeA−1 (q) dA−1 −1 2 2
q , dAq : R −→ R é um
Exemplo 4.3 A função f : R2 − {(0, 0)} −→ R, dada por f(x, y) = x2 + y2 , é uma integral
primeira do campo de vetores w : R2 −→ R2 , w(x, y) = (y, −x).
Definição 4.6 Uma curva regular conexa C ⊂ U é uma curva integral Fig. 39: Exemplo 4.4
de um campo de direções r em U se r(q) é a reta tangente a C em q, para todo q ∈ C.
Observação 4.2 Dado q ∈ U, existe uma curva integral C de r que passa por q.
De fato, dado q ∈ U, existem um aberto V ⊂ U, com q ∈ V, e um campo de vetores dife-
renciável w : V −→ R2 que não se anula tal que w(p) k r(p) para todo p ∈ V.
Seja α : I −→ V a trajetória de w tal que α(0) = q. Como α 0 (0) = w(q) 6= 0, existe I0 ⊂ I,
0 ∈ I0 , tal que α : I0 −→ α(I0 ) é um homeomorfismo. Logo C = α(I0 ) é uma curva integral de r
que passa por q.
dx dy
a(x(t), y(t)) + b(x(t), y(t)) =0
dt dt
é a equação diferencial das curvas integrais do campo de direções r, pois α 0 (t) = (x 0 (t), y 0 (t))
é paralelo a w(x(t), y(t)) = (b(x(t), y(t)), −a(x(t), y(t))) para todo t.
Sejam W = X(U) ∩ Y(U) e h = Y −1 ◦ X : X−1 (W) −→ Y −1 (W), h(u, v) = (u(u, v), v(u, v)), a
aplicação mudança de coordenadas.
Como
∂u ∂v
Xu (u, v) = Yu (h(u, v)) (u, v) + Yv (h(u, v)) (u, v)
∂u ∂u
e
∂u ∂v
Xv (u, v) = Yu (h(u, v)) (u, v) + Yv (h(u, v)) (u, v) ,
∂v ∂v
temos que:
w(Y(u, v)) = w(X(h−1 (u, v))) = a(h−1 (u, v)) Xu (h−1 (u, v)) + b(h−1 (u, v)) Xv (h−1 (u, v))
∂u ∂u
= a(h−1 (u, v)) (h−1 (u, v)) + b(h−1 (u, v)) (h−1 (u, v)) Yu (u, v)
∂u ∂v
∂v −1 ∂v
+ a(h−1 (u, v)) (h (u, v)) + b(h−1 (u, v)) (h−1 (u, v)) Yv (u, v) .
∂u ∂v
Logo, as funções
∂u ∂u
a(u, v) = a ◦ h−1 (u, v) ◦ h−1 (u, v) + b ◦ h−1 (u, v) ◦ h−1 (u, v) ,
∂u ∂v
e
∂v ∂v
b(u, v) = a ◦ h−1 (u, v) ◦ h−1 (u, v) + b ◦ h−1 (u, v) ◦ h−1 (u, v) ,
∂u ∂v
são diferenciáveis em r.
∂α
α(q, 0) = q e (q, t) = w(α(q, t)) ,
∂t
Prova.
1. Sejam X : U −→ X(U) ⊂ V uma parametrização de S em p = X(q) e sejam a, b : U −→ R
funções diferenciáveis tais que:
w(u,
e v) = (a(u, v), b(u, v)) .
e : I −→ U, α
Então existe uma curva parametrizada α e (t) = (x(t), y(t)), tal que
α
e (0) = q e e 0 (t) = w(u(t),
α e v(t)) ,
para todo t ∈ I
Seja α = X ◦ α
e : I −→ X(U) ⊂ V.
Então α é uma curva parametrizada tal que α(0) = X(e
α(0)) = p e
para todo t ∈ I.
2. Seja β : J −→ V outra trajetória de w com β(0) = p. Então existem J 0 ⊂ J, com 0 ∈ J 0 , tal
que β(J 0 ) ⊂ X(U) e funções u v : J 0 −→ R tais que β(t) = X(e
e, e u(t), e
v(t)).
Como β(t)
e = (e v(t)) é uma trajetória de w
u(t), e e com β(0)
e = q, temos que β(t)
e e (t) para todo
=α
t ∈ eJ ∩ I.
A = { t ∈ J ∩ I | α(t) = β(t) }
Então
e × I −→ V ,
α : X(U) e (X−1 (p), t) ,
α(p, t) = X ◦ α
é o fluxo local de w em p. De fato:
e ◦ (X−1 , id) é diferenciável.
•α=X◦α
e (X−1 (p), 0) = p.
• α(p, 0) = X ◦ α
∂α ∂f ∂g −1
• (p, t) = e X−1 (p), t +
X−1 (p), t Xu α e X−1 (p), t
X (p), t Xv α
∂t ∂t ∂t
e X−1 (p), t Xu α
= a α e X−1 (p), t Xv α
e X−1 (p), t + b α e X−1 (p), t
e X−1 (p), t
= w X◦α
= w(α(p, t)) ,
onde α
e (r, t) = (f(r, t), g(r, t)) .
e : U −→ R2 , onde U0 ⊂ U é um
4. Seja fe : U0 −→ R a integral primeira do campo de vetores w
aberto de R2 com q ∈ U0 .
Então f(e
e α(t)) = const. ao longo de cada trajetória α
e de w.
e
Definição 4.10 Uma curva regular conexa C ⊂ V ⊂ S é uma curva integral de um campo de
direções r diferenciável em V se r(q) é a reta tangente a C em q para todo q ∈ C.
(y − a)2 + z2 = r2
Exemplo 4.5 Seja T o toro de revolução obtido girando o cı́rculo em
x = 0 ,
torno do eixo Oz. Então o campo de vetores w em T que associa a cada p ∈ T o vetor unitário
tangente ao meridiano, que passa por p, em p é diferenciável.
De fato, seja X : (0, 2π) × (0, 2π) −→ T a parametrização de T dada por
u u u
X(u, v) = a + r cos cos v , a + r cos sen v , r sen .
r r r
Então w(X(u, v)) = Xu (u, v), pois Xu (u, v) é o vetor tangente ao meridiano, que passa por
X(u, v), em X(u, v), e
u u u
kXu (u, v)k =
− sen cos v , − sen sen v , cos
= 1.
r r r
v(p) = 1 − hp , e3 i2 w(p) ,
se p ∈ S2 − {pN , pS }
v(p ) = v(p ) = 0 .
N S
p
Y(x, y) = x, y, 1 − x2 − y2 ,
Seja (x, y) ∈ R2 tal que 0 < x2 + y2 < 1. Como α(t) = Y(tx, ty) é uma parametrização do
p
2 2
meridiano que passa por α(1) = x, y, 1 − x − y e
0 −x −y
α (1) = x Yx (x, y) + y Yy (x, y) = x 1, 0, p + y 0, 1, p
1 − x 2 − y2 1 − x2 − y2
−x2 − y2
= x, y, p
1 − x 2 − y2
é um vetor tangente ao meridiano que passa por α(1) que tem o mesmo sentido de w(α(1)),
temos que:
1/2 α 0 (1)
2
v(Y(x, y)) = v(α(1)) = 1 − hα(1) , e3 i
kα 0 (1)k
(1 − x2 − y2 )1/2
= (1 − (1 − x2 − y2 ))1/2 (x Yx + y Yy )
(x2 + y2 )1/2
= (1 − x2 − y2 )1/2 (x Yx + y Yy ) ,
pois
0 2 2 (x2 + y2 )2
2 2 2 x2 + y2 (x2 + y2 )
kα (1)k = x + y + = (x + y ) 1 + = .
1 − x 2 − y2 1 − x 2 − y2 1 − x2 − y2
Logo, como Y(0, 0) = (0, 0, 1), v(Y(0, 0)) = 0 e v ◦ Y é diferenciável em {(x, y) ∈ R2 | x2 + y2 < 1},
temos que v é diferenciável em pN .
De modo análogo podemos provar que v é diferenciável em pS .
X(u, v) = (u, v, v2 − u2 ) .
v2 − u 2 = c
e ∩ {z = const = c} é a curva
Então S
z = c .
Seja α(t) = X(u(t), v(t)) = (u(t), v(t), c), t ∈ I, uma parametrização desta curva. Como
v2 (t) − u2 (t) = c para todo t ∈ I, temos que
é paralelo ao vetor
α 0 (t) = u 0 (t) Xu (u(t), v(t)) + v 0 (t) Xv (u(t), v(t))
para todo t ∈ I. Então w(X(u, v)) k r(X(u, v)) para todo (u, v) ∈ R2 − {(0, 0)}. Assim, r é um
campo de direções diferenciável em S.
e
Como E = hXu , Xu i = 1 + 4u2 , F(u, v) = hXu , Xv i = −4uv e G(u, v) = 1 + 4v2 , temos que r 0 ⊥ r
se, e só se,
Ou seja, r 0 (X(u, v)) k −u Xu (u, v) + v Xv (u, v) para todo (u, v) ∈ R2 − {(0, 0)}.
Seja α(t) = X(u(t), v(t)) uma parametrização regular de uma curva integral de r 0 .
Então
α 0 (t) = u 0 (t) Xu (u(t), v(t)) + v 0 (t) Xv (u(t), v(t)) k −u(t) Xu (u(t), v(t)) + v(t) Xv (u(t), v(t))
⇐⇒ (u 0 (t), v 0 (t)) k (−u(t), v(t))
⇐⇒ (u 0 (t), v 0 (t)) ⊥ (v(t), u(t))
⇐⇒ u 0 (t) v(t) + u(t) v 0 (t) = 0
⇐⇒ u(t) v(t) = const.
Prova.
Como w1 (p) e w2 (p) são LI, temos que w1 (p) 6= 0 e w2 (p) 6= 0. Então existem um aberto
W ⊂ V, p ∈ W, e funções diferenciáveis f1 , f2 : W −→ R tais que fi é a integral primeira de wi ,
i = 1, 2, na vizinhança W de p.
Afirmação: d(fi )p (wi (p)) = 0 , i = 1, 2.
De fato, seja α : I −→ W a trajetória de wi que passa por p, isto é, α(0) = p e α 0 (t) = wi (α(t))
para todo t ∈ I.
Como fi (α(t)) é constante, temos
Além disso, como d(fi )p 6= 0, i = 1, 2, e w1 (p), w2 (p) são LI, temos que
Seja a aplicação diferenciável ϕ : W −→ R2 dada por ϕ(q) = (f1 (q), f2 (q)). Então
dϕp (w1 (p)) = (d(f1 )p (w1 (p)), d(f2 )p (w1 (p))) = (0, b)
e
dϕp (w2 (p)) = (d(f1 )p (w2 (p)), d(f2 )p (w2 (p))) = (a, 0) .
para todo t. Portanto f1 (X(u0 , t)) = u0 = const. Logo d(f1 )X(u0 ,v0 ) (Xv (u0 , v0 )) = 0.
Como d(f1 )X(u0 ,v0 ) 6= 0 e d(f1 )X(u0 ,v0 ) (w1 (X(u0 , v0 ))) = 0, temos que Xv (u0 , v0 ) k w1 (X(u0 , v0 )).
Observação 4.5 O teorema não implica que as curvas coordenadas podem ser parametri-
zadas de modo que os respectivos vetores velocidade sejam w1 e w2 .
Corolário 4.1 Sejam r e r 0 dois campos de direções diferenciáveis definidos num aberto V
de S, com p ∈ V, tais que r(p) 6= r 0 (p). Então existe uma parametrização X : U −→ X(U) ⊂ V,
p ∈ X(U), tal que as curvas coordenadas de X são as curvas integrais de r e r 0 .
Corolário 4.2 Para cada ponto p ∈ S existe uma parametrização X : U −→ X(U), p ∈ X(U),
tal que as curvas coordenadas são ortogonais (⇐⇒ F ≡ 0).
Prova.
Seja Y : U0 −→ Y(U0 ) = V0 uma parametrização de S em p.
Como
hw1 (Y(u, v)) , w2 (Y(u, v))i = −F(u, v)hYu (u, v) , Yu (u, v)i + E(u, v)hYu (u, v) , Yv (u, v)i
= −F(u, v) E(u, v) + E(u, v) F(u, v) = 0 ,
isto é, w1 e w2 são campos de vetores ortogonais que não se anulam, temos, pelo Teorema
4.4, que existe uma parametrização X : U −→ X(U) ⊂ V0 de S em p tal que
Uma segunda aplicação do teorema 4.4 é a existência de coordenadas dadas pelas direções
assintóticas.
Prova.
Seja X : U0 −→ X(U0 ) uma parametrização de S em p, com X(u0 , v0 ) = p.
Como (eg − f2 )(u0 , v0 ) < 0, podemos supor que (eg − f2 )(u, v) < 0 para todo (u, v) ∈ U0 .
Podemos também supor que se
• f(u0 , v0 ) 6= 0 =⇒ f(u, v) > 0 , ∀(u, v) ∈ U0 (?).
• f(u0 , v0 ) = 0 (⇐⇒ eg(u0 , v0 ) < 0) =⇒ eg(u, v) < 0 , ∀(u, v) ∈ U0 (??)
A equação diferencial das curvas assintóticas nessa parametrização
p g
0 0
2
eu (t) + f + f − eg v (t) u 0 (t) + p v 0 (t) = 0,
2
f + f − eg
pois
p 2
eg + f + f2 − eg
p
eg p eg + f2 + 2f f2 − eg + f2 − eg
p +f+ f2 − eg = p = p = 2f .
f + f2 − eg f + f2 − eg f + f2 − eg
e
−g
w2 (X(u, v)) = p Xu (u, v) + Xv (u, v)
f + f2 − eg
Uma contradição, quando eg(q) < 0 em U0 . E quando f > 0 em U0 , também chegamos a uma
contradição, já que
p p
eg(q) = f2 + f2 − eg + 2f f2 − eg (q) ⇐⇒ 2(eg − f2 )(q) = 2f f2 − eg (q) ,
p
sendo eg − f2 (q) < 0 e f f2 − eg (q) > 0.
Exemplo 4.8 Um exemplo que ilustra o mecanismo acima é dado pelo parabolóide hiperbólico
S : z = y2 − x2 , que pode ser coberto pela parametrização X : R2 −→ S dada por
X(u, v) = (u, v, v2 − u2 ).
Por um cálculo simples, obtemos
−2 2
e(u, v) = , f(u, v) = 0 e g(u, v) = .
(1 + 4u2 + 4v2 )1/2 (1 + 4u2 + 4v2 )1/2
Portanto,
−2
(u 0 (t)2 − v 0 (t)2 ) = 0
(1 + 4u2 + 4v2 )1/2 (t)
as integrais primeiras de w
e1 e w
e 2 , respectivamente.
Então
f1 = fe1 ◦ X−1 = fe1 ◦ π : S −→ R , f1 (x, y, z) = x + y ,
e
f2 = fe2 ◦ X−1 = fe2 ◦ π : S −→ R , f2 (x, y, z) = x − y ,
são as integrais primeiras de w1 e w2 , respectivamente, pois
X−1 (x, y, z) = π(x, y, z) = (x, y)
é a projeção sobre o plano xy.
Definição 4.11 Dizemos que uma superfı́cie regular S é regrada quando por todo ponto
p ∈ S passa uma reta inteiramente contida em S.
Então, pelo provado acima, o parabolóide hiperbólico é uma superfı́cie regrada gerada por
duas famı́lias de retas.
Outros exemplos de superfı́cies regradas são o cilindro circular e o hiperbolóide de revolução
de uma folha S : x2 + y2 − z2 = 1, que também é gerado por duas famı́lias de retas.
temos que:
(cos s − v sen s)2 + (sen s + v cos s)2 − v2 = cos2 s − 2v cos s sen s + v2 sen2 s + sen2 s
+ 2v cos s sen s + v2 cos2 s − v2 = 1 ,
para todos s, v ∈ R.
Além disso, todo ponto (x0 , y0 , z0 ) ∈ S pertence a uma dessas retas. Basta tomar v = z0 e
s0 ∈ [0, 2π) tal que
x0 + z0 y0 −z0 x0 + y0
(cos s0 , sen s0 ) = , ,
1 + z20 1 + z20
Assim, temos
Se tomarmos w(s) = −α 0 (s) + e3 , podemos provar, de modo análogo ao caso anterior, que a
famı́lia de retas
rs = {α(s) + v(−α 0 (s) + e3 ) | v ∈ R}
também gera o hiperbolóide S.
Portanto, o hiperbolóide de revolução de uma folha S : x2 +y2 −z2 = 1 é uma superfı́cie regrada
gerada por duas famı́lias de retas.
Uma terceira aplicação do teorema 4.4 é a existência de coordenadas dadas pelas direções
principais.
Corolário 4.4 Seja p um ponto não-umbı́lico da superfı́cie S. Então existe uma parametrização
Y : U −→ Y(U) de S em p tal que as curvas coordenadas são as linhas de curvatura de S em
Y(U).
Prova.
Pelo corolário 4.2, existe uma parametrização X : U0 −→ X(U0 ) de S em p = X(u0 , v0 ) tal
que F ≡ 0 em U0 , isto é, as curvas coordenadas são ortogonais.
Se f(u0 , v0 ) 6= 0, podemos supor que f 6= 0 em U0 .
e g
Se f(v0 , v0 ) = 0, temos que (u0 , v0 ) e (u0 , v0 ) são as curvaturas principais de S em p, pois
E G
F(u0 , v0 ) = 0 (ver observação 3.11).
e g
Como (u0 , v0 ) 6= (u0 , v0 ), isto é, (eG − gE)(u0 , v0 ) 6= 0, podemos supor (ver observação 4.7)
E G
que eG − gE > 0 em U0 .
A equação diferencial das linhas de curvatura é
(fE − eF)u 0 (t)2 + (gE − eG)u 0 (t)v 0 (t) + (gF − fG)v 0 (t)2 = 0 ,
(κ1 − κ2 )2
Podemos supor também que H2 − K = > 0 em U0 , isto é, que todos os pontos de
4
X(U0 ) são não-umbı́licos.
Como as duas direções principais num ponto não-umbı́lico são ortogonais e F ≡ 0 (isto é, Xu
e Xv são ortogonais), a equação (12) pode ser decomposta em duas equações lineares:
Au 0 (t) + Bv 0 (t) = 0 (i.e., −BXu + AXv é uma direção principal)
BEu 0 (t) − AGv 0 (t) = 0 (i.e., AGX + BEX é a outra direção principal) ,
u v
onde
⇐⇒ AB = f
ABE = fE
B2 E − A2 G = gE − eG (13)
ABG = fG ⇐⇒ AB = f .
f
De fato, se f 6= 0 em U0 , temos que A = e, portanto,
B
−f2 G
−A2 G + B2 E = + B2 E = gE − eG
B2
⇐⇒ −f2 G + B4 E = (gE − eG)B2
q
(gE − eG) + (gE − eG)2 + 4f2 EG
⇐⇒ B2 = (> 0 , pois f2 > 0 , E > 0 , G > 0)
q2E 1/2
(gE − eG) + (gE − eG)2 + 4f2 EG
=⇒ B = .
2E
f
Então B e A = são funções diferenciáveis em U0 que satisfazem (13).
B
f
Se gE − eG > 0 em U0 , temos também que B e A = são funções diferenciáveis que
B
satisfazem (13).
Como w1 (X(u, v)) = −B Xu + A Xv e w2 (X(u, v)) = A G Xu + B E Xv são vetores que não se
anulam em X(U0 ), temos que w1 e w2 são as direções principais (ortogonais) de S no ponto
X(u, v).
Logo, pelo teorema 4.4, existe uma parametrização Y : U −→ Y(U) ⊂ X(U0 ) de S em p tal que
as curvas coordenadas são as curvas integrais de w1 e w2 , isto é, as curvas coordenadas são
as linhas de curvatura de S em Y(U) (⇐⇒ f = F = 0 em U, onde e, g, f e E, G e F são os coefi-
cientes da segunda forma fundamental e da primeira forma fundamental, respectivamente, da
parametrização Y).
5. Superfı́cies Mı́nimas
∂Xt
= Xu + thNu + thu N ,
∂u
∂Xt
= Xv + thNv + thv N .
∂v
Assim, os coeficientes Et , Ft , Gt da primeira forma fundamental de Xt são:
1 Eg − 2Ff + Ge
H= ,
2 EG − F2
obtemos:
2
− F − 2thf + t2 h2 hNu , Nv i + t2 hu hv
= EG − F2 (1 − 4thH) + R(t) ,
R(t)
onde lim = 0.
t→0 t
Como D é compacto e
para todo (u, v) ∈ D, temos que, para ε suficientemente pequeno, Xt é uma superfı́cie para-
metrizada regular.
R
onde R = .
EG − F2
pois
q 0
d 1 −4hH + R (t)
1 − 4thH + R(t) t=0 = q
t=0
= −2hH ,
dt 2
1 − 4thH + R(t)
Prova.
Se X é mı́nima em D, i.e., H ≡ 0 em D, é claro que a condição é satisfeita.
Suponhamos agora que a condição é satisfeita e que H(q) 6= 0 para algum q ∈ D. Vamos
supor que H(q) > 0.
para a variação normal de X(D) determinada por essa função h, o que é uma contradição.
Observação 5.1 As superfı́cies mı́nimas são geralmente associadas às pelı́culas de sabão,
que podem ser obtidas mergulhando uma moldura formada por um arame em uma solução de
sabão e retirando-a em seguida com cuidado. Se o experimento for bem executado, obtém-se
uma pelı́cula de sabão que tem o arame como contorno. Pode-se mostrar, por considerações
fı́sicas, que a pelı́cula assume a posição onde, em seus pontos regulares, a curvatura média
é zero (para maiores detalhes ver Matemática das pelı́culas de sabão, de Manfredo Perdigão
do Carmo).
Definição 5.2 O vetor curvatura média de uma superfı́cie parametrizada regular é o vetor
H = H N, onde H é a curvatura média e N é o vetor normal à superfı́cie.
Isso significa que se deformarmos X(D) na direção do vetor H, a área é inicialmente decres-
cente.
Vamos agora obter uma outra interpretação para o vetor curvatura média H.
Proposição 5.2 Seja X : U −→ R3 uma superfı́cie parametrizada regular tal que X é isotérmica.
Então
Xuu + Xvv = 2λ2 H ,
onde λ2 = hXu , Xu i = hXv , Xv i .
Prova.
Como X é isotérmica, hXu , Xu i = hXv , Xv i e hXu , Xv i = 0 .
Derivando, obtemos
1 Eg − 2Ff + Ge 1 Eg + Ee 1 g+e
H= 2
= 2
= ,
2 EG − F 2 E 2 λ2
∂2 f ∂2 f
∆f = + .
∂x2 ∂y2
Como
Xu = (−a cosh v sen u , a cosh v cos u , 0) e Xv = (a senh v cos u , a senh v sen u , a) ,
temos que
Observação 5.4 Pode-se mostrar que o catenóide é a única superfı́cie de revolução que é
mı́nima.
Exemplo 5.2 Seja H o helicóide obtido a partir da hélice circular α(u) = (cos u , sen u , au),
u ∈ R.
Como já vimos no exemplo 4.3 do capı́tulo 3, X : R2 −→ H,
e
Yv = (a cosh v cos u , a cosh v sen u , 0) ,
temos
hYu , Yu i = a2 (senh v2 + 1) = a2 cosh2 v = hYv , Yv i
e
Yvv = (a senh v cos u , a senh v sen u , 0) ,
temos Yuu + Yvv = 0. Logo, pelo corolário 5.1, o helicóide é uma superfı́cie mı́nima.
Observação 5.5 Pode-se mostrar que o helicóide é a única superfı́cie regrada, além do
plano, que é mı́nima.
Observação 5.6 O helicóide e o catenóide foram descobertos em 1776 por Meusnier, que
também demonstrou que a definição de Lagrange para superfı́cies mı́nimas como pontos
crı́ticos de um problema variacional é equivalente à curvatura média ser zero. Durante muito
tempo, esses foram os únicos exemplos conhecidos (além do plano) de superfı́cies mı́nimas.
Só em 1835, Scherk encontrou novos exemplos, um deles descrito no exemplo 5.4.
Como
Xu = (1 − u2 + v2 , 2uv , 2u) e Xv = (2uv , 1 − v2 + u2 , −2v) ,
temos:
hXu , Xu i = (1 − (u2 − v2 ))2 + 4u2 v2 + 4u2
= 1 − 2(u2 − v2 ) + (u2 − v2 )2 + 4u2 v2 + 4u2
= 1 + 2u2 + 2v2 + u4 + v4 + 2u2 v2 ,
hXv , Xv i = 4u2 v2 + (1 − (v2 − u2 ))2 + 4v2
= 4u2 v2 + 1 − 2(v2 − u2 ) + (v2 − u2 )2 + 4v2
= 1 + 2u2 + 2v2 + u4 + v4 + 2u2 v2 ,
e
hXu , Xv i = (1 − u2 + v2 )2uv + (1 − v2 + u2 )2uv − 4uv
= 2uv − (u2 − v2 )2uv + 2uv + (u2 − v2 )2uv − 4uv = 0;
e
v3 2 u3 2 2 2
X(−v, u) = −v + − vu , u − + uv , v − u .
3 3
π
Assim, ao efetuarmos uma rotação positiva de em torno do eixo Oz seguida de uma reflexão
2
com respeito ao plano xy, a superfı́cie permanece invariante.
Uma caracterı́stica interessante da superfı́cie de Enneper é que ela possui auto-interseções,
e que a interseção da superfı́cie com os planos y = 0 e x = 0 são as únicas curvas de auto-
interseção da superfı́cie.
π
Fig. 50: Superfı́cie de Enneper Fig. 51: Superfı́cie de Enneper girada de 2
em relação ao eixo Oz
Antes de passarmos ao próximo exemplo, vamos estabelecer uma relação entre superfı́cies
mı́nimas e funções analı́ticas de uma variável complexa ξ = u + iv, (u, v) ∈ R2 .
Definição 5.5 Uma função f : U ⊂ C −→ C, f(ξ) = f1 (u, v) + if2 (u, v), é analı́tica (ou
holomorfa) quando f1 e f2 têm derivadas parciais contı́nuas de primeira ordem que satisfazem
as chamadas equações de Cauchy-Riemann:
∂f1 ∂f ∂f1 ∂f
= 2 e =− 2.
∂u ∂v ∂v ∂u
Lema 5.1 X é isotérmica se, e só se, ϕ21 + ϕ22 + ϕ23 ≡ 0. Se essa última condição é satisfeita,
X é mı́nima se, e só se, ϕ1 , ϕ2 e ϕ3 são funções analı́ticas.
Prova.
Como
temos que ϕ21 + ϕ22 + ϕ23 = 0 se, e só se, E = G e F = 0, isto é, se, e só se, X é isotérmica.
∂
∂x ∂
∂x
= − ,
∂u ∂u ∂v ∂v
∂
∂y ∂
∂y
= − ,
∂u ∂u ∂v ∂v
∂
∂z ∂
∂z
= − ,
∂u ∂u ∂v ∂v
que são metade das equações de Cauchy-Riemann para ϕ1 , ϕ2 e ϕ3 . Como a outra metade
∂
∂x ∂ ∂x
= − − ,
∂v ∂u ∂u ∂v
∂ ∂y ∂ ∂y
= − − ,
∂v ∂u ∂u ∂v
∂
∂z ∂ ∂z
= − −
∂v ∂u ∂u ∂v
é sempre satisfeita, concluı́mos que Xuu + Xvv = 0 se, e só se, ϕ1 , ϕ2 e ϕ3 são analı́ticas.
Logo,
ξ + i
u + i(v + 1) (u + i(v + 1)) (u − i(v − 1))
arg = arg = arg
ξ−i u + i(v − 1) u2 + (v − 1)2
Portanto,
∂x ∂x 1 2(u2 + v2 − 1) − 4u2 4uv
ϕ1 = −i = 2 +i 2
∂u ∂v (u2 + v2 − 1)2 (u + v2 − 1)2
2u
1+
u + v2 − 1
2
pois, como log z = log |z| eiθ = log |z| + iθ, temos que
0
ξ2 + 1 ∂ ξ2 + 1 ∂ ξ2 + 1
log = log 2
−i log 2
= ϕ3 (ξ) ,
ξ2 − 1 ∂u ξ − 1 ∂v ξ − 1
portanto,
ξ2 − 1 2ξ(ξ2 − 1) − 2ξ(ξ2 + 1) −4ξ 4ξ
ϕ3 (ξ) = 2 = = .
ξ +1 (ξ2 − 1)2 (ξ2 2
+ 1)(ξ − 1) 1 − ξ4
Então
4 4 16ξ2
ϕ21 + ϕ22 + ϕ23 = − +
(1 + ξ2 )2 (1 − ξ2 )2 (1 − ξ4 )2
ou seja, X é isotérmica.
Como ϕ1 , ϕ2 e ϕ3 são funções analı́ticas, obtemos, pelo lema 5.1, que X é mı́nima.
Temos também que:
|ξ − i|
ξ + i ξ+i
cos x = cos arg = <
ξ−i |ξ + i| ξ−i
|ξ − i| 1
= <((ξ + i)(ξ + i))
|ξ + i| |ξ − i|2
1
= <((u + (v + 1)i)(u − (v − 1)i))
|ξ2 + 1|
1
= (u2 + v2 − 1)
|u2 − v2 + 1 + 2uvi|
u2 + v2 − 1
= ;
((u2 − v2 + 1)2 + 4u2 v2 )1/2
ξ + 1 |ξ − 1| ξ + 1
cos y = cos arg = <
ξ−1 |ξ + 1| ξ−1
|ξ − 1| 1
= <((ξ + 1)(ξ − 1))
|ξ + 1| |ξ − 1|2
1 u2 − 1 + v2
= < (((u + 1) + iv)((u − 1) − iv)) =
|ξ2 − 1| |u2 − v2 − 1 + 2iuv|
u2 + v2 − 1
= .
((u2 − v2 − 1)2 + 4u2 v2 )1/2
Logo
1/2
(u2 − v2 + 1)2 + 4u2 v2
cos y
z = log = log .
(u2 − v2 − 1)2 + 4u2 v2 cos x
lim z = +∞ ; lim z = +∞ ;
x → (π
2
)− x → (− π
2
)+
y ∈ (− π , π
) y ∈ (− π , π
) Fig. 52: Domı́nio de definição da superfı́cie de Scherk
2 2 2 2
lim z = −∞ ; lim z = −∞ .
y → (π
2
)− y → (− π
2
)+
x ∈ (− π
2
, π
2
) x ∈ (− π
2
, π
2
)
Como ez cos x = cos y, temos que as retas paralelas ao eixo Oz que passam pelos vértices
dos quadrados do tabuleiro também pertencem à superfı́cie.
Referências na Internet:
1. The Scientific Graphics Project: http://www.msri.org/about/sgp/jim
2. Stewart Dickson Portfolio:
http://emsh.calarts.edu/∼mathart/portfolio/SPD Costa portfolio.html
(Nesta página você pode ver uma animação feita usando o Mathematica que mostra o toro menos 3 pontos sendo
transformado na superfı́cie de Costa: http://emsh.calarts.edu/∼mathart/portfolio/costa1.mpg).
para todo p ∈ S1 e todos w1 , w2 ∈ Tp S1 , isto é, dϕp : Tp S1 −→ Tp S2 é uma aplicação linear que
preserva produto interno para todo p ∈ S. Diz-se então que S1 e S2 são superfı́cies isométricas.
Geometria Diferencial
Observação 1.3 Duas superfı́cies podem ser localmente isométricas sem serem global-
mente isométricas.
Exemplo 1.1 Sejam X : R2 −→ R3 , X(u, v) = (u, v, 0), uma parametrização do plano xy, com
E = G = 1 e F = 0, e X : (0, 2π) × R −→ R3 , X(u, v) = (cos u, sen u, v), uma parametrização do
cilindro C : x2 +y2 = 1, com E = G = 1, F = 0 e X(U) = C− (x, y, z) ∈ R3 | x = 1 , y = 0 e z ∈ R ,
onde U = (0, 2π) × R.
−1
Afirmação: A aplicação ϕ = X ◦ X : X(U) −→ X(U) é uma isometria.
onde p = X(u0 , v0 ).
Fig. 1: Isometria do cilindro menos uma reta sobre a faixa plana (0, 2π) × R
Então β(t) = ϕ ◦ α(t) = X(u(t), v(t)), t ∈ I, é uma curva diferenciável em X(U) tal que
β(0) = ϕ(p) e
dϕp (w) = β 0 (0) = u 0 (0)Xu (u0 , v0 ) + v 0 (0)Xv (u0 , v0 ) .
Logo
Ip (w) = hα 0 (0) , α 0 (0)i = E(u0 , v0 )u 0 (0)2 + 2F(u0 , v0 )u 0 (0)v 0 (0) + G(u0 , v0 )v 0 (0)2
e
Iϕ(p) (dϕp (w)) = hβ 0 (0) , β 0 (0)i = E(u0 , v0 )u 0 (0)2 + 2F(u0 , v0 )u 0 (0)v 0 (0) + G(u0 , v0 )v 0 (0)2 .
Como E = E, G = G e F = F temos que
Observação 1.4 Logo, o cilindro e o plano são localmente isométricos. Mas o cilindro e o
plano não são globalmente isométricos, pois o cilindro não é nem mesmo homeomorfo a um
plano. Não cabe aqui uma demonstração rigorosa desta última afirmação, mas o argumento
intuitivo dado a seguir pode dar uma idéia da demonstração.
Qualquer curva fechada simples no plano pode ser deformada continuamente em um ponto
sem deixar o plano. Tal propriedade é certamente preservada por um homeomorfismo. Mas
um paralelo do cilindro não possui esta propriedade, e contradiz a existência de um homeo-
morfismo entre o plano e o cilindro.
Fig. 2: No plano as curvas fechadas simples são contráteis a um ponto enquanto que no cilindro os paralelos não são contráteis a um ponto
Antes de proseguirmos, vamos generalizar o argumento usado acima para obter um critério
para isometria local em termos de coordenadas locais.
Prova.
Primeiro observe que ϕ é um difeomorfismo, pois X e X−1 são difeomorfismos.
Sejam p ∈ X(U), w ∈ Tp S1 e α : (−ε, ε) −→ X(U), α(t) = X(u(t), v(t)), uma curva diferenciável
em X(U) tal que α(0) = p e
onde X(u0 , v0 ) = p.
Seja β(t) = ϕ(α(t)) = X(u(t), v(t)), t ∈ I. Então β : I −→ X(U) é uma curva diferenciável em
X(U) tal que β(0) = ϕ(p) e
Logo,
é uma parametrização do helicóide H tal que X(U) é uma ”volta”do helicóide, e que
E = G = a2 cosh2 v e F = 0.
−1
Portanto, pela proposição 1.1, ϕ = X ◦ X : X(U) −→ X(U) é uma isometria.
Variando o domı́nio U, obtemos que o catenóide e o helicóide são localmente isométricos. Mas
não são globalmente isométricos, pois H é homeomorfo ao plano, já que
X : R2 −→ H
(u, v) 7−→ (a senh v cos u , a senh v sen u , au)
z 2
é um difeomorfismo e C : x2 + y2 = a2 cosh é homeomorfo ao cilindro S : x2 + y2 = a2 ,
a
já que
ϕ : R3 −→ R
3
x y
(x, y, z) 7−→ , ,z
cosh az cosh az
elas são harmônicas. [De fato, fuu = gvu e fvv = −guv =⇒ fuu + fvv = 0. De modo análogo, verifica-se que
guu + gvv = 0] . Neste caso, diz-se que f e g são harmônicas conjugadas.
Sejam X e Y parametrizações isotérmicas de superfı́cies mı́nimas tais que os pares formados
pelas respectivas funções coordenadas sejam de funções harmônicas conjugadas. Diz-se
então que X e Y são superfı́cies mı́nimas conjugadas.
Prove que:
(a) O helicóide e o catenóide são superfı́cies mı́nimas conjugadas.
Sejam
X : (0, 2π) × R −→ C , X(u, v) = (a cosh v sen u , −a cosh v cos u , −av) ,
uma parametrização isotérmica do Catenóide e
X : (0, 2π) × R −→ H , X(u, v) = (a senh v cos u , a senh v sen u , au) ,
uma parametrização isotérmica do helicóide.
Como
xu = a cosh v cos u = xv ; xv = a senh v sen u = −xu ;
yu = a cosh v sen u = yv ; yv = −a senh v cos u = −yu
zu = 0 = zv ; zv = −a = −zu ,
é mı́nima para todo t ∈ R. Além disso, todos os membros da famı́lia a 1-parâmetro {Zt } têm a
mesma primeira forma fundamental.
De fato, como
temos que:
pois
Xu = Yv , Xv = −Yu , hXu , Xu i = hXv , Xv i = hYu , Yu i = hYv , Yv i e hXu , Xv i = hYu , Yv i = 0 .
Então Zt é isotérmica para todo t ∈ R e todas as superfı́cies da famı́lia a 1-parâmetro {Zt } têm
a mesma primeira forma fundamental.
Além disso, cada uma das superfı́cies Zt é mı́nima, pois Zt é uma parametrização isotérmica,
e
Ztuu = cos t Xuu + sen t Yuu e Ztvv = cos t Xvv + sen t Yvv ;
portanto,
Ztuu + Ztvv = cos t(Xuu + Xvv ) + sen t(Yuu + Yvv ) = 0 .
Observe também que dois membros quaisquer da famı́lia são isométricos já que têm a mesma
primeira forma fundamental.
Assim, provamos que duas superfı́cies mı́nimas conjugadas podem ser ligadas por uma famı́lia
a 1-parâmetro de superfı́cies mı́nimas isométricas.
Exemplo 1.3 Mostraremos neste exemplo que o cone de revolução de uma folha menos o
vértice,
p
C:z=k x2 + y2 , k > 0 , (x, y) 6= (0, 0) ,
θ θ
Y(ρ, θ) = ρ sen α cos , ρ sen α sen , ρ cos α ,
sen α sen α
E = hY ρ , Y ρ i = 1 ; G = hY θ , Y θ i = ρ2 e F = hY ρ , Y θ i = 0
Fig. 5: Parametrização Y
−1
Y ◦ Y : Y(U) −→ Y(U)
Observação 1.6 O cone e o plano não são globalmente isométricos, pois o cone é homeo-
morfo a R2 − {(0, 0)}, já que
ϕ : R2 − {(0, 0)} −→ C
p
(x, y) 7−→ (x, y, k x2 + y2 )
é um difeomorfismo, e R2 e R2 −{(0, 0)} não são homeomorfos, pois toda curva fechada simples
em R2 pode ser deformada continuamente em um ponto e o cı́rculo S1 : x2 + y2 = 1, por
exemplo, não pode ser deformado continuamente em um ponto em R2 − {(0, 0)}.
Definição 1.3 Dizemos que uma curva α : [a, b] −→ S é diferenciável por partes se existe
uma partição {t0 = a < t1 < . . . < tn = b} do intervalo [a, b] tal que α|[ti−1 ,ti ] é diferenciável
para todo i = 1, . . . , n.
Seja S uma superfı́cie regular conexa (⇐⇒ conexa por caminhos) e sejam p, q ∈ S.
Considere o conjunto:
De fato, como S é conexa por caminhos, existe uma curva β : [a, b] −→ S contı́nua tal que
β(a) = p e β(b) = q. Mas, como [a, b] é compacto, β é uniformemente contı́nua.
Para cada t ∈ [a, b] existe uma parametrização Xt : Ut −→ Xt (Ut ) de S em β(t) tal que Ut é um
disco aberto de R2 . Como β([a, b]) é compacto, Xt (Ut ) é aberto para todo
S
t ∈ [a, b] e β([a, b]) ⊂ t∈[a,b] Xt (Ut ), temos, pelo Teorema de Borel-Lebesgue, que existem
pontos s1 , . . . , sk ∈ [a, b] tais que
Seja δ > 0 o número de Lebesgue da cobertura {Xj (Uj ) | j = 1, . . . , k}. Como β é uniformemente
contı́nua, existe µ > 0 tal que
δ
|t − s| < µ, t, s ∈ [a, b] =⇒ kβ(t) − β(s)k < . (2)
2
Seja P = {t0 = a < t1 < . . . < tn = b} uma partição de [a, b] com norma < µ, isto é,
|ti − ti−1 | < µ para todo i = 1, . . . , n.
δ
Como, por (2), diam(β([ti−1 , ti ])) ≤ < δ e δ é o número de Lebesgue da cobertura (1), existe
2
ji ∈ {1, . . . , k} tal que
β([ti−1 , ti ]) ⊂ Xji (Uji ) .
Para cada i = 1, . . . , n, sejam qi−1 , qi ∈ Uji tais que Xji (qi−1 ) = β(ti−1 ) , Xji (qi ) = β(ti ) e
αi : [ti−1 , ti ] −→ Uji uma parametrização diferenciável regular da reta que passa pelos pontos
α(ti−1 ) = qi−1 e α(ti ) = qi .
Então αi = Xji ◦ αi : [ti−1 , ti ] −→ Xji (Uji ) é uma curva diferenciável em S tal que
αi (ti−1 ) = β(ti−1 ) e αi (ti ) = β(ti ) .
Fig. 8:
Logo a curva α : [a, b] −→ S dada por α|[ti−1 ,ti ] = αi , para todo i = 1, . . . , n, é uma curva
diferenciável por partes tal que α(a) = p e α(b) = q.
Prova.
(a) Seja α : [a, b] −→ S uma curva diferenciável por partes tal que α|[ti−1 ,ti ] é diferenciável,
para todo i = 1, . . . , n, α(a) = p e α(b) = q, onde {t0 = a < t1 < . . . < tn = b} é uma partição
de [a, b].
Então, para todo i = 1, . . . , n,
Z ti
α(ti ) − α(ti−1 ) α(ti ) − α(ti−1 )
h , α(ti ) − α(ti−1 )i = hα 0 (t) , i dt
kα(ti ) − α(ti−1 )k ti−1 kα(ti ) − α(ti−1 )k
Z ti
≤ kα 0 (t)k dt = comprimento (α|[ti−1 , ti ]) ,
ti−1
ou seja,
comprimento (α|[ti−1 , ti ]) ≥ kα(ti ) − α(ti−1 )k .
Portanto,
n Z ti
X X
n
0
comprimento (α) = kα (t)k dt ≥ kα(ti ) − α(ti−1 )k ≥ kp − qk .
i=1 ti−1 i=1
Logo,
d(p, q) = inf {comprimento (α) | α ∈ Cp,q } ≥ kp − qk .
Zb Za Zb
0 0
kα (t)k dt = kα (a + b − t)k(−1) dt = kβ 0 (t)k dt ,
a b a
De modo análogo, temos que d(p, q) ≤ d(q, p). Assim, d(p, q) = d(q, p).
(c) Sejam α : [a, b] −→ S e γ : [a, b] −→ S curvas diferenciáveis por partes tais que α(a) = p,
α(b) = r = γ(a) e γ(b) = q.
Então a curva β = α ∨ γ : [a, b] −→ S, dada por
α(2t − a) , se t ∈ a, a+b
2
β(t) =
γ(2t − b) , se t ∈ a+b
, b
,
2
Z a+b Zb
2
0
= kα (2t − a)k 2 dt + kγ 0 (2t − b)k 2 dt
a+b
a 2
Zb
Zb
ξ+a
2 ξ+b
2
0
=
α 2 − a
dξ +
γ 0 2 − b
dξ
a 2 2 a 2 2
Zb Zb
0
= kα (ξ)k dξ + kγ 0 (ξ)k dξ
a a
Então existe uma bola aberta Brp (p) = { q ∈ R3 | kq − pk < rp } tal que Brp (p) ∩ S ⊂ V.
S
Logo, V = p∈V
e rp (p), ou seja, V é um aberto de (S, d), pois B
B e rp (p) é um aberto de (S, d)
para todo p ∈ V.
Para provar a recı́proca precisamos do seguinte fato, que só será provado mais tarde: para
e ε (p) = {q ∈ S | d(q, p) < ε}, 0 < ε ≤ ε0 , é um aberto
todo ponto p ∈ S, existe ε0 > 0, tal que B
de S com a topologia induzida de R3 .
Logo, dado um aberto V de (S, d), para cada ponto p ∈ V, existe εp > 0 tal que
εp = min{εp0 , εp }, B
Então, se e eeε (p) é um aberto de S com a topologia induzida de R3 tal que
p
eeε (p) ⊂ V.
B p
Assim, V =
S eeε (p) é um aberto de S com a topologia induzida de R3 .
B
p∈V p
Assim, como kβ 0 (t)k = kdϕα(t) (α 0 (t))k = kα 0 (t)k, pois ϕ é uma isometria, temos que
Zb Zb
0
comprimento (β) = kβ (t)k dt = kα 0 (t)k dt = comprimento (α) .
a a
Logo,
Zδ Zδ
M
0
+ kα 0 (t)k dt
comprimento ϕ ◦ α|[−δ,δ] = kdϕα(t) (α (t))k dt ≥
−δ −δ 2
M
= 2 δ + comprimento α|[−δ,δ] > comprimento α|[−δ,δ] .
2
uma contradição.
• Se kdϕp (v)k < kvk chegamos, de modo análogo, a uma contradição.
Observação 1.9 Pelo exercı́cio anterior, temos que se ϕ : S −→ S é uma isometria, então
d(ϕ(p), ϕ(q)) = d(p, q) ,
para quaisquer p, q ∈ S.
De fato,
Cϕ(p),ϕ(q) = {ϕ ◦ α | α ∈ Cp,q } ,
pois β : [a, b] −→ S é uma curva diferenciável por partes em S tal que β(a) = ϕ(p) e β(b) =
ϕ(q) se, e só se, ϕ−1 ◦ β = α : [a, b] −→ S é uma curva diferenciável por partes em S tal que
α(a) = p e α(b) = q.
Logo, pelo exercı́cio anterior,
d(ϕ(p), ϕ(q)) = inf{ comprimento (ϕ◦α) | α ∈ Cp,q } = inf{ comprimento (α) | α ∈ Cp,q } = d(p, q) .
Observação 1.10 A recı́proca do resultado acima também é verdadeira, mas ainda não
podemos prová-la.
Se ϕ : S −→ S é uma aplicação diferenciável tal que d(ϕ(p), ϕ(q)) = d(p, q) para quaisquer
p, q ∈ S, então ϕ : S −→ ϕ(S) é uma isometria sobre o aberto ϕ(S) de S. Além disso, se S é
completa e S é conexa, então ϕ(S) = S .
1 1
hdϕ−1 −1
q (v) , dϕq (w)i = hdϕϕ−1 (q) (dϕ−1 −1
q (v)) , dϕϕ−1 (q) (dϕq (w))i = hv , wi ,
λ2 (ϕ−1 (q)) λ2 ◦ ϕ−1 (q)
1
para todo q ∈ S e todos v, w ∈ Tq S, onde : S −→ (0, ∞) é uma aplicação diferenciável.
λ2 ◦ ϕ−1
De fato, ψ ◦ ϕ : S −→ S é um difeomorfismo e
hd(ψ ◦ ϕ)p (v) , d(ψ ◦ ϕ)p (w)i = hdψϕ(p) (dϕp (v)) , dψϕ(p) (dϕp (w))i
onde hdϕp (v) , dϕp (w)i = λ2 (p)hv , wi e hdψq (v) , dψq (w)i = µ2 (q)hv , wi, sendo
λ2 : S −→ (0, ∞) e µ2 : S −→ (0, ∞) funções diferenciáveis.
Logo
hd(ψ ◦ ϕ)p (v) , d(ψ ◦ ϕ)p (w)i = δ2 (p)hv , wi ,
Observação 1.13 É fácil provar, usando a observação 1.12, que a conformidade local é
uma relação de equivalência (exercı́cio).
Observação 1.14 Uma aplicação conforme preserva ângulos (mas não necessariamente
comprimentos).
De fato, sejam α, β : I −→ S curvas diferenciáveis em S que se intersectam em t0 ∈ I, isto é,
α(t0 ) = β(t0 ) = p. O ângulo θ entre α e β em t0 é dado por:
hα 0 (t0 ) , β 0 (t0 )i
cos θ = , 0 ≤ θ ≤ π.
kα 0 (t0 )k kβ 0 (t0 )k
Portanto θ = θ .
Fig. 9:
para todo p ∈ S e todos v, w ∈ Tp S. Isto é, se uma aplicação preserva ângulo então ela é
localmente conforme.
hL(v) , L(w)i hv , wi
= (3)
kL(v)k kL(w)k kvk kwk
Voltando à atividade, temos que para cada p ∈ S existe λ2 (p) > 0 tal que
hdϕX(u,v) (Xu (u, v)) , dϕX(u,v) (Xu (u, v))i h(ϕ ◦ X)u (u, v) , (ϕ ◦ X)u (u, v)i
λ2 (X(u, v)) = = ,
hXu (u, v) , Xu (u, v)i hXu (u, v) , Xu (u, v)i
Prova.
Primeiro observe que λ2 ◦ X−1 : X(U) −→ (0, ∞) é uma função diferenciável.
Sejam p ∈ X(U), v, w ∈ Tp S. Então existem a, b, c, d ∈ R tais que v = a Xu (q) + b Xv (q) e
w = c Xu (q) + d Xv (q), onde p = X(q).
Logo, como ϕ ◦ X = X,
hdϕp (v) , dϕp (w)i = ha dϕp (Xu (q)) + b dϕp (Xv (q)) , c dϕp (Xu (q)) + d dϕp (Xv (q))i
Ou seja,
hdϕp (v) , dϕp (w)i = (λ2 ◦ X−1 )(p) hv , wi .
Teorema 1.1 Para cada ponto p ∈ S existe uma parametrização isotérmica X : U −→ X(U)
de S em p, isto é,
E(u, v) = G(u, v) = λ2 (u, v) > 0 e F(u, v) = 0 ,
• A prova deste teorema é delicada e não será apresentada aqui (ver Riemann Surfaces, de L.
Bers, New York Univ., Institute of Mathematical Sciences, pp 15-35).
Prova.
Basta mostrar que toda superfı́cie regular S é localmente conforme ao plano
P = {(x, y, 0) | x, y ∈ R} .
Logo, pela proposição 1.3, X ◦ X−1 : X(U) −→ X(U) é uma aplicação conforme. Portanto, S e
P são localmente conformes.
Se S é outra superfı́cie regular, temos, pelo provado acima, que S e P são localmente confor-
mes. Assim, S e S são localmente conformes.
Teorema 1.3 Seja S uma superfı́cie regular orientada com orientação N : S −→ S2 . Então S
possui uma famı́lia de parametrizações {Xα : Uα −→ Xα (Uα ) | α ∈ A} tal que S =
S
α∈A Xα (Uα )
e as aplicações de mudança de parâmetro
hαβ = X−1 −1
α ◦ Xβ : Xβ (Wαβ ) −→ Xα (Wαβ )
Prova.
Para cada p ∈ S, existe uma parametrização isotérmica Xα : Uα −→ Xα (Uα ) de S em p,
com Uα conexo, tal que
(Xα )u ∧ (Xα )v
N(Xα (u, v)) = (u, v) , (4)
k(Xα )u ∧ (Xα )v k
de mudança de parâmetros.
Além disso, hαβ (u, v) = (u(u, v), v(u, v)) é conforme, pois X−1
α e Xβ são conformes. Logo,
u u
u v
dhαβ (e1 ) = (uu , vu ) ⊥ dhαβ (e2 ) = (uv , vv ) , kdhαβ (e1 )k = kdhαβ (e2 )k e > 0.
vu vv
∂u ∂v ∂v ∂u
= e =− ,
∂u ∂v ∂u ∂v
Como fizemos no estudo das curvas, vamos associar a cada ponto de uma superfı́cie um
triedro (o análogo do Triedro de Frenet) e estudar as derivadas de seus vetores.
Seja S uma superfı́cie regular orientada pelo campo de vetores normais unitários
N : S −→ S2 . Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de S compatı́vel com N, isto é,
Xu ∧ Xv
N(u, v) = N(X(u, v)) = (u, v) , ∀(u, v) ∈ U .
kXu ∧ Xv k
1 2 1 2
Xuu = Γ11 Xu + Γ11 Xv + L1 N , Xuv = Γ12 Xu + Γ12 Xv + L2 N ,
1 2 1 2 (5)
Xvu = Γ21 Xu + Γ21 Xv + L2 N , Xvv = Γ22 Xu + Γ22 Xv + L3 N ,
Nu = a11 Xu + a21 Xv , Nv = a12 Xu + a22 Xv ,
Tomando o produto interno das quatro primeiras relações de (5) com N, obtemos que:
1 1 2 2
Γ12 = Γ21 e Γ12 = Γ21 ,
isto é, os sı́mbolos de Christoffel são simétricos em relação aos ı́ndices inferiores.
Para determinar os sı́mbolos de Christoffel, tomamos o produto interno das quatro primeiras
relações em (5) com Xu e Xv , obtendo os sistemas:
Γ 1 E + Γ 2 F = hX , Xu i = 1
Eu
11 11 uu 2
(6)
Γ 1 F + Γ 2 G = hX 1
11 11 uu , Xv i = Fu − 2 Ev ,
Γ 1 E + Γ 2 F = hX , Xu i = 1
Ev
12 12 uv 2
(7)
Γ 1 F + Γ 2 G = hX , Xv i = 1
Gu ,
12 12 uv 2
Γ 1 E + Γ 2 F = hX , X i = F − 1 G
22 22 vv u v 2 u
(8)
Γ 1 F + Γ 2 G = hX , X i = 1 G ,
22 22 vv v 2 v
Logo,
! ! ! ! ! !
1 1 1 1
E F Γ11 Eu Γ11 1 G −F Eu
= 2
⇐⇒ = 2
, (9)
F G 2
Γ11 Fu − 12 Ev 2
Γ11 EG − F2 −F E Fu − 21 Ev
! ! ! ! ! !
1 1 1 1
E F Γ12 E
2 v
Γ12 1 G −F E
2 v
= ⇐⇒ = , (10)
F G 2
Γ12 1
Gu 2
Γ12 EG − F2 −F E 1
G u
2 2
! ! ! ! ! !
E F 1
Γ22 Fv − 12 Gu 1
Γ22 1 G −F Fv − 21 Gu
= ⇐⇒ = . (11)
F G 2
Γ22 1
Gv 2
Γ22 EG − F2 −F E 1
Gv
2 2
Assim, os sı́mbolos de Christoffel são dados em termos dos coeficientes da primeira forma
fundamental E, F, G e de suas derivadas.
Como conseqüência, temos que todos os conceitos geométricos e propriedades expressas em
termos dos sı́mbolos de Christoffel são invariantes por isometria .
Como
1 2 −f(v)f 0 (v)
i. e., Γ11 = 0, e Γ11 = ;
f 0 (v)2 + g 0 (v)2
f 0 (v)
! ! !
1 0 2 0 2 0
Γ12 1 f (v) + g (v) 0 f(v)f (v)
= = f(v) ,
2
Γ12 f(v)2 (f 0 (v)2 + g 0 (v)2 ) 0 f(v) 2
0 0
1 f 0 (v) 2
i. e., Γ12 = , e Γ12 = 0;
f(v)
! ! !
1
Γ22 1 f 0 (v)2 + g 0 (v)2 0 0
=
2
Γ22 f(v)2 (f 0 (v)2 + g 0 (v)2 ) 0 f(v)2 f 0 (v)f 00 (v) + g 0 (v)g 00 (v)
0
= f 0 (v)f 00 (v) + g 0 (v)g 00 (v) ,
f 0 (v)2 + g 0 (v)2
A1 Xu + B1 Xv + C1 N = 0 , (15)
A2 Xu + B2 Xv + C2 N = 0 , (16)
A3 Xu + B3 Xv + C3 N = 0 , (17)
Como os vetores Xu , Xv , N são LI, temos que Ai = Bi = Ci = 0, i = 1, 2, 3, o que nos dá novas
relações.
Utilizando (5), a primeira relação (Xuu )v − (Xuv )u = 0, pode ser escrita:
1
(Γ11 2
Xu + Γ11 1
Xv + eN)v − (Γ12 2
Xu + Γ12 Xv + fN)u = 0 ⇐⇒
1 2 1 1 2 2 1 2
(Γ11 )v Xu + (Γ11 )v Xv + ev N + Γ11 (Γ12 Xu + Γ12 Xv + fN) + Γ11 (Γ22 Xu + Γ22 Xv + gN) + e(a12 Xu + a22 Xv )
1 2 1 1 2 2 1 2
= (Γ12 )u Xu + (Γ12 )u Xv + fu N + Γ12 (Γ11 Xu + Γ11 Xv + eN) + Γ12 (Γ12 Xu + Γ12 Xv + fN) + f(a11 Xu + a21 Xv )
(18)
Portanto, igualando os coeficientes de Xv , obtemos:
2 2 1 2 1 2 2 2 2 2
(Γ12 )u − (Γ11 )v + Γ12 Γ11 − Γ11 Γ12 + Γ12 Γ12 − Γ11 Γ22 = ea22 − fa21
eg − f2
fF − gE eF − fE
= e 2
− f 2
= − 2
E = −K E ,
EG − F EG − F EG − F
que nos fornece o valor de K em termos dos coeficientes da primeira forma fundamental e de
suas derivadas, é conhecida como fórmula de Gauss.
Prova.
Seja ϕ : S −→ S uma isometria. Vamos provar que K(p) = K(ϕ(p)) para todo p ∈ S.
Sejam p ∈ S e X : U −→ X(U) uma parametrização de S em p, com X(q) = p.
E(u, v) = hXu , Xu i(u, v) = hdϕX(u,v) (Xu (u, v)) , dϕX(u,v) (Xu (u, v))i = hXu , Xu i(u, v) = E(u, v) ;
G(u, v) = hXv , Xv i(u, v) = hdϕX(u,v) (Xv (u, v)) , dϕX(u,v) (Xv (u, v))i = hXv , Xv i(u, v) = G(u, v) ;
F(u, v) = hXu , Xv i(u, v) = hdϕX(u,v) (Xu (u, v)) , dϕX(u,v) (Xv (u, v))i = hXu , Xv i(u, v) = F(u, v) ,
k
temos que Γijk (u, v) = Γ ij (u, v) para todo (u, v) ∈ U. Logo, pela fórmula de Gauss (19),
1 1 2 1 2 1
(Γ12 )u − (Γ11 )v + Γ12 Γ12 − Γ11 Γ22 = ea12 − fa11
eg − f2
gF − fG fF − eG
= e 2
− f 2
= 2
F = KF.
EG − F EG − F EG − F
Quando F 6= 0, essa equação nos dá outra maneira de expressar a curvatura Gaussiana K em
função dos sı́mbolos de Christoffel.
Igualando também em (18) os coeficientes de N, obtemos C1 = 0 na forma
1 2 1 2
ev − fu = eΓ12 + f(Γ12 − Γ11 ) − gΓ11 . (20)
1 2 1 1 2 2 1 2
(Γ22 )u Xu + (Γ22 )u Xv + gu N + Γ22 (Γ11 Xu + Γ11 Xv + eN) + Γ22 (Γ21 Xu + Γ21 Xv + fN) + g(a11 Xu + a21 Xv )
1 2 1 1 2 2 1 2
= (Γ21 )v Xu + (Γ21 )v Xv + fv N + Γ21 (Γ21 Xu + Γ21 Xv + fN) + Γ21 (Γ22 Xu + Γ22 Xv + gN) + f(a12 Xu + a22 Xv ) .
1 2 1 2
(a11 )v Xu + (a21 )v Xv + a11 (Γ12 Xu + Γ12 Xv + fN) + a21 (Γ22 Xu + Γ22 Xv + gN)
1 2 1 2
= (a12 )u Xu + (a22 )u Xv + a12 (Γ11 Xu + Γ11 Xv + eN) + a22 (Γ12 Xu + Γ12 Xv + fN)
Exemplo 2.2 Seja X : U −→ X(U) uma parametrização de uma superfı́cie S tal que f = F = 0
(=⇒ as curvas coordenadas são linhas de curvatura).
Neste caso, as equações de Mainardi-Codazzi (20) e (21) são escritas, respectivamente, na
forma:
1 2 2 1
ev = eΓ12 − gΓ11 e gu = gΓ12 − eΓ22 .
2 Ev 1 Ev 2 Gu 1 Gu
Γ11 =− , Γ12 = , Γ12 = e Γ22 =− .
2G 2E 2G 2E
Ev
e g
ev = + , (22)
2 E G
e
G
e g
gu = u + . (23)
2 E G
e g
Além disso, como e são as curvaturas principais (ver observação 3.11 do capı́tulo 4),
E G
temos que:
κ1 + κ2
ev = Ev = H Ev ,
2
e
κ1 + κ2
gu = Gu = H Gu ,
2
2 2 1 2 1 2 2 2 2 2
−K E = (Γ12 )u − (Γ11 )v + Γ12 Γ11 − Γ11 Γ12 + Γ12 Γ12 − Γ11 Γ22 .
1 Eu 2 Ev 1 Ev 2 Gu 1 Gu 2 Gv
Γ11 = , Γ11 =− , Γ12 = , Γ12 = , Γ22 =− , e Γ22 = .
2E 2G 2E 2G 2E 2G
Logo,
E2v G2
G E E G E G
u v
−KE = + − − u u + u2 + v 2v
2G u 2G v 4EG 4EG 4G 4G
1 G Guu − G2u G Evv − Ev Gv E2v Eu Gu G2u E G
= + − − + + v 2v
2 G2 G2 2EG 2EG 2G2 2G
1 2 GE2v GEu Gu EG2u EEv Gv
= EGGuu − EGu + EGEvv − EEv Gv − − + + .
2EG2 2 2 2 2
Então
1 2 2
K=− 2EG(Evv + Guu ) − EGu − EEv G v − GEv − GE u G u . (24)
4E2 G2
Começamos esta seção com a definição de derivada covariante de um campo de vetores, que
é o análogo, para superfı́cies, da derivação usual de vetores no plano.
Lembramos que um campo de vetores (tangentes) em um aberto V ⊂ S de uma superfı́cie
regular S é uma correspondência ω que associa a cada p ∈ V um vetor ω(p) ∈ Tp S. O campo
de vetores ω é diferenciável em p se para alguma parametrização X : U −→ X(U) ⊂ V de S
em p, as componentes a e b de ω ◦ X = aXu + bXv na base {Xu , Xv } são funções diferenciáveis
em q, onde X(q) = p. O campo de vetores ω é diferenciável em V se é diferenciável em todo
ponto p ∈ V.
as expressões de α e ω na parametrização X.
Então
Portanto,
dω
(0) = a(u0 , v0 ) (Xuu (u0 , v0 )u 0 (0) + Xuv (u0 , v0 )v 0 (0))
dt
+ b(u0 , v0 ) (Xvu (u0 , v0 )u 0 (0) + Xvv (u0 , v0 )v 0 (0))
0
+ a 0 (0)Xu (u0 , v0 ) + b (0)Xv (u0 , v0 ) ,
onde
a 0 (0) = u 0 (0)au (u0 , v0 ) + v 0 (0)av (u0 , v0 )
e
0
b (0) = u 0 (0)bu (u0 , v0 ) + v 0 (0)bv (u0 , v0 ) .
Dω
a 0 (0) + a(q)u 0 (0)Γ11
1
(q) + a(q)v 0 (0)Γ12
1
(q) + b(q)u 0 (0)Γ12
1
(q) + b(q)v 0 (0)Γ22
1
(0) = (q) Xu (q)
dt
0
+ b (0) + a(q)u 0 (0)Γ11 2
(q) + a(q)v 0 (0)Γ12
2
(q) + b(q)u 0 (0)Γ12
2
(q) + b(q)v 0 (0)Γ22
2
(q) Xv (q) . (26)
Como
y = α 0 (0) = u 0 (0)Xu (q) + v 0 (0)Xv (q) ,
Dω
a expressão (26) mostra que (0) depende apenas do vetor y e não da curva α.
dt
Dω
Além disso, a expressão (26) mostra que (0) só depende dos coeficientes da primeira
dt
forma fundamental, sendo, portanto, um conceito intrı́nseco.
ou seja,
ω(u, v, 0) = (a(u, v) , b(u, v) , 0) .
Portanto, por (26), sendo ω(u, v) = ω(u, v, 0), y = y1 Xu (u0 , v0 ) + y2 Xv (u0 , v0 ) = (y1 , y2 , 0) e
p = (u0 , v0 , 0), temos:
0
Dy ω(p) = a 0 (0)Xu (u0 , v0 ) + b (0)Xv (u0 , v0 )
= (y1 au (u0 , v0 ) + y2 av (u0 , v0 ), y1 bu (u0 , v0 ) + y2 bv (u0 , v0 ), 0)
= (da(u0 ,v0 ) (y1 , y2 ) , db(u0 ,v0 ) (y1 , y2 ) , 0)
= dω(u0 ,v0 ) (y1 , y2 ) .
Assim, a derivada covariante coincide com a derivada usual de vetores no plano. Isto também
pode ser visto diretamente a partir da definição 3.1. A derivada covariante é, portanto, uma
generalização da derivada usual de vetores no plano.
Uma outra conseqüência da equação (26) é que a definição de derivada covariante pode ser
estendida a um campo de vetores que esteja definido apenas ao longo de uma curva. Mas
antes de tornar clara esta afirmação, precisamos de algumas definições.
Definição 3.2 Uma curva parametrizada α : [0, `] −→ S é a restrição a [0, `] de uma aplicação
diferenciável de (−ε, ` + ε), ε > 0, em S. Se α(0) = p e α(`) = q, dizemos que α liga o ponto p
ao ponto q. E α é regular se α 0 (t) 6= 0 para todo t ∈ [0, `].
Definição 3.3 Seja α : I −→ S uma curva parametrizada em S, onde I = [0, `]. Um campo de
vetores ao longo de α é uma correspondência que associa a cada t ∈ I, um vetor ω(t) ∈ Tα(t) S.
O campo de vetores é diferenciável em t0 ∈ I, se para alguma parametrização X : U −→ X(U),
com α(t0 ) ∈ X(U), as componentes a e b de
Dω
(t) = a 0 (t) + a(t)u 0 (t)Γ11
1
(u(t), v(t)) + a(t)v 0 (t)Γ12
1
(u(t), v(t))
dt
+ b(t)u 0 (t)Γ12
1
(u(t), v(t)) + b(t)v 0 (t)Γ22
1
(u(t), v(t)) Xu (u(t), v(t))
+ b(t)u 0 (t)Γ12
2
(u(t), v(t)) + b(t)v 0 (t)Γ22
2
(u(t), v(t)) Xv (u(t), v(t)) (27)
Observação 3.3 Se duas superfı́cies S1 e S2 são tangentes ao longo de uma curva parame-
trizada α : I −→ S1 ∩ S2 , isto é, Tα(t) S1 = Tα(t) S2 para todo t ∈ I, então a derivada covariante
de um campo ω ao longo de α é a mesma para ambas as superfı́cies.
Dω dω
(t) = = 0,
dt dt
Fig. 11: Campo ω paralelo ao longo de α
para todo t ∈ I, ou seja, se, e só se, ω é constante
em I, ou ainda, o comprimento do vetor ω(t) e o
ângulo que ele faz com uma direção fixa são constantes.
Proposição 3.1 Sejam ν e ω campos de vetores paralelos ao longo de uma curva para-
metrizada α : I −→ S. Então hν(t) , ω(t)i é constante. Em particular, kν(t)k e kω(t)k são
constantes e o ângulo entre ν(t) e ω(t) é constante.
Prova.
dω dν
Como ν e ω são campos paralelos, (t) e (t) são vetores normais ao plano tangente
dt dt
a S em α(t).
dω dν
Portanto, h (t) , ν(t)i = hω(t) , (t)i = 0 , pois ν(t), ω(t) ∈ Tα(t) S. Logo,
dt dt
d dν dω
hν(t) , ω(t)i = h (t) , ω(t)i + hν(t) , (t)i = 0 ,
dt dt dt
A proposição abaixo mostra que existem campos paralelos ao longo de uma curva parametri-
zada α e que eles são completamente determinados por seus valores em um ponto t0 .
Prova.
Como foi provado na observação 1.7, existe uma partição P = {t0 = 0 < t1 < . . . < tk = `} do
intervalo [0, `] tal que, para cada i = 1, . . . , k, existe uma parametrização Xi : Ui −→ Xi (Ui ) de
S tal que α([ti−1 , ti ]) ⊂ Xi (Ui ).
Sendo α(t) = Xi0 (u(t), v(t)) , t ∈ [ti0 −1 , ti0 ], temos que um campo
onde X(u0 , v0 ) = α(t) (⇐⇒ u(t) = u0 e v(t) = v0 ), se, e só se, pela equação (28),
Partindo dos valores ωi0 (ti0 −1 ) e ωi0 (ti0 ), podemos provar, de modo análogo, que, para cada
i = 1, . . . , k, existe um campo de vetores diferenciável ωi paralelo ao longo de α|[ti−1 ,ti ] tal que
ωi (ti ) = ωi+1 (ti ) para todo i = 1, . . . , k − 1.
Precisamos provar ainda que o campo de vetores ω definido por ω|[ti−1 ,ti ] = ωi , i = 1, . . . , k, é
diferenciável em [0, `].
Seja i ∈ {1, . . . , k − 1}. Pelo teorema de existência e unicidade de soluções de equações
diferenciais ordinárias, existe um único campo diferenciável
onde α(t) = Xi (u(t), v(t)), para todo t ∈ [ti − ε, ti + ε] ⊂ (0, `), paralelo ao longo de α|[ti −ε,ti +ε]
tal que ν(ti ) = ωi (ti ) = ωi+1 (ti ).
Logo, pela unicidade da solução em [ti − ε, ti ] e em [ti , ti + ε], respectivamente, temos que
ωi = ν em [ti − ε, ti ] e ωi+1 = ν em [ti , ti + ε].
Observação 3.6 Daremos outra demonstração deste resultado mais adiante nesta seção.
A proposição 3.2 nos permite falar de transporte paralelo de um vetor ao longo de uma curva
parametrizada.
Observação 3.7 Se α : I −→ S é uma curva regular, então o transporte paralelo não de-
pende da parametrização regular de α(I).
De fato, seja β = α ◦ h : J −→ S uma reparametrização de α com h 0 (s) 6= 0 para todo s ∈ J.
d(ω ◦ h) dω D(ω ◦ h) Dω
Como (s) = (h(s)) h 0 (s), temos que (s) = (h(s))h 0 (s).
ds dt ds dt
D(ω ◦ h) Dω
Logo, (s) = 0 se, e só se, (h(s)) = 0, já que h 0 (s) 6= 0. Assim, ω é paralelo ao
ds dt
longo de α se, e só se, ω ◦ h é paralelo ao longo de β = α ◦ h.
Observação 3.8 Sejam p, q ∈ S e α : [0, `] −→ S uma curva parametrizada tal que α(0) = p
e α(`) = q.
Considere a aplicação Pα : Tp S −→ Tq S que associa a cada v ∈ Tp S o seu transporte paralelo
ao longo de α em q. Então Pα é uma isometria.
De fato, sejam v0 , w0 ∈ Tp S e ν, ω os campos paralelos ao longo de α tais que ν(0) = v0 e
ω(0) = w0 .
Então, pela proposição 3.1, hν(t) , ω(t)i é constante em I. Em particular,
Observação 3.9 Se duas superfı́cies S1 e S2 são tangentes ao longo de uma curva parame-
trizada α e w0 ∈ Tα(t0 ) S1 = Tα(t0 ) S2 , então, ω é o transporte paralelo de w0 relativo à superfı́cie
S1 se, e só se, ω é o transporte paralelo de w0 relativo à superfı́cie S2 .
Dω
De fato, como a derivada covariante de ω é a mesma para ambas as superfı́cies, a afir-
dt
mativa segue da unicidade do transporte paralelo.
Dω
Dω
(t) = dFα(t) (t) ,
dt dt
α(t) = X(u(t), v(t)) , e ω(t) = a(t)Xu (u(t), v(t)) + b(t)Xv (u(t), v(t)) ,
+ b(t)u 0 (t)Γ12
2
(u(t), v(t)) + b(t)v 0 (t)Γ22
2
(u(t), v(t)) dFα(t) (Xv (u(t), v(t)))
Dω
= (t) ,
dt
pois
Xu (u(t), v(t)) = dFα(t) (Xu (u(t), v(t))) , Xv (u(t), v(t)) = dFα(t) (Xv (u(t), v(t)))
k
e Γ ij = Γijk em U, para todos i, j, k = 1, 2, 3 .
Dω Dω
Assim, = 0 em I se, e só se, = 0 em I.
dt dt
Observação 3.11 (Envoltória de uma famı́lia de planos tangentes ao longo de uma curva
de uma superfı́cie)
Xs ∧ Xv
onde N(s,
e v) = (s, v) é o vetor normal unitário à superfı́cie parametrizada X em
kXs ∧ Xv k
X(u, v).
0 0
N(s) ∧ N (s)
Sendo Xsv (s, v) = 0 e
kN (s)k
"
0 0# 0
!
N(s) ∧ N (s) N(s) ∧ N (s)
1
N(s,
e v) = α 0 (s) + v ∧ ,
kXs ∧ Xv k 0
kN (s)k kN (s)k
0
temos que:
"
0 0 0
1 hα 0 (s) , N (s)i N(s) ∧ N (s)
= − h N(s) , i
kXs ∧ Xv k 0
kN (s)k kN (s)k
0
0 0
N(s) ∧ N (s)
hα 0 (s) , N (s)i 0
+h 0 N (s) , 0 i = 0,
kN (s)k kN (s)k
pois
0
hα 0 (s) , N(s)i 0 N(s) ∧ N (s)
h 0 N (s) , 0 i = 0.
kN (s)k kN (s)k
eg − f2
Logo, K(s, v) = (u, v) = 0 para todo (u, v) ∈ V.
EG − F2
Isto significa que as geratrizes de X são as posições limites da intersecção de planos vizinhos
da famı́lia {Tα(s) }. A superfı́cie X é chamada a envoltória da famı́lia de planos tangentes de S
ao longo de α(s).
0
N(s) ∧ N (s)
X(s, v) = α(s) + v 0 = (cos s, sen s, v)
kN (s)k
q q
2 2
α(s) = 1 − z0 cos s , 1 − z0 sen s , z0 , 0 < z0 < 1 ,
q q
0 2 2
N (s) = − 1 − z0 sen s , 1 − z0 cos s , 0 .
Então
q q
2 2 2
0 −z0 1 − z0 cos s , −z0 1 − z0 sen s , 1 − z0
N(s) ∧ N (s)
q
2
0 = q = −z0 cos s , −z0 sen s , 1 − z0 .
kN (s)k 1 − z20
Portanto
0
N(s) ∧ N (s)
X(s, v) = α(s) + v 0
kN (s)k
q q q
= 1− z20 2 2
cos s , 1 − z0 sen s , z0 + v −z0 cos s , −z0 sen s , 1 − z0
q q q
2 2 2
= 1 − z0 − vz0 cos s , 1 − z0 − vz0 sen s , z0 + v 1 − z0 .
é a equação do cone.
Exemplo 3.4 Seja C um paralelo de colatitude ψ (0 < ψ < π/2) da esfera unitária S2 ori-
entada com a orientação N(p) = p, e seja w0 um vetor unitário tangente a C em um ponto
p0 ∈ C.
Seja α : I −→ S2 ,
s + s0 s + s0
α(s) = cos ϕ cos , cos ϕ sen , sen ϕ ,
cos ϕ cos ϕ
C no cone S.
Por outro lado, o cone menos uma geratriz é isométrico ao
aberto
U = { (ρ cos θ , ρ sen θ , 0) | ρ ∈ (0, ∞) e θ ∈ (0, 2π sen ϕ) }
do plano xy.
Sejam G a isometria entre o cone menos uma geratriz e o aberto U, onde G = F−1 e
θ θ 1
F(ρ cos θ, ρ sen θ, 0) = ρ sen ϕ cos , ρ sen ϕ sen , −ρ cos ϕ + ,
sen ϕ sen ϕ sen ϕ
Sendo que a isometria preserva ângulo e transporte paralelo (ver observação 3.10), temos que
o transporte paralelo de w0 ao longo de α em s é o vetor unitário que faz um ângulo orientado
2π − θ com α 0 (s).
θ
Então, ao girarmos o ponto p0 ao longo de α de um ângulo ξ = ∈ [0, 2π], o ângulo
sen ϕ
formado por α 0 (s) e o transporte paralelo ω(s) é 2π − θ = 2π − ξ sen ϕ (Figura 17).
Portanto, após completar uma volta, o ângulo entre α 0 (0) = w0 e o transporte paralelo ω(2π)
é 2π − 2π sen ϕ = 2π(1 − cos ψ).
Observação 3.12 Se α é um equador da esfera, então ω(s) = α 0 (s), pois, neste caso, α 0 é
um campo paralelo ao longo de α (ver exemplo 3.2).
Definição 3.7 Uma aplicação α : [0, `] −→ S é uma curva parametrizada regular por partes
se α é contı́nua e se existe uma partição {t0 = 0 < t1 < . . . < tk < tk−1 = `} do intervalo [0, `]
tal que a restrição α|[ti ,ti+1 ] , i = 0, . . . , k, é uma curva parametrizada regular. Cada α|[ti ,ti+1 ] é
chamada um arco regular de α.
Observação 3.13 A noção de transporte paralelo pode ser estendida a uma curva parame-
trizada regular por partes.
De fato, se w0 ∈ Tα(t 0 ) S e t 0 ∈ [ti , ti+1 ], realizamos o transporte paralelo de w0 ao longo do
arco regular α|[ti ,ti+1 ] . Se ti+1 6= `, tomamos ω(ti+1 ) como o valor inicial para o transporte
paralelo ao longo do arco α|[ti+1 ,ti+2 ] ; e se ti 6= 0, tomamos o transporte paralelo de ω(ti ) ao
longo do arco α|[ti−1 ,ti ] .
Prosseguindo desta maneira, obtemos um campo de vetores ω contı́nuo em [0, `] tal que
Dω|[ti ,ti+1 ]
ω|[ti ,ti+1 ] é diferenciável e = 0 para todo i = 0, . . . , k.
dt
Dω
(t) = ω 0 (t) = α 00 (t) = 0 .
dt
Dγ 0
(t0 ) = 0 .
dt
Portanto, pela proposição 3.1, kα 0 (t)k = c 6= 0 para todo t ∈ I. Assim, o parâmetro t de uma
geodésica parametrizada γ é proporcional ao comprimento de arco, s(t) = ct, de γ.
Observação 3.15 Uma geodésica parametrizada pode ter auto-intersecções, mas é sem-
pre regular.
Definição 3.9 Uma curva regular conexa C ⊂ S é uma geodésica se, para todo p ∈ C, uma
parametrização pelo comprimento de arco γ : I −→ γ(I) ⊂ C de C em p é uma geodésica
parametrizada, isto é, γ 0 (s) é um campo de vetores paralelo ao longo de α.
Observação 3.17 Toda reta r contida em uma superfı́cie S é uma geodésica de S, pois
γ 00 (s) = 0 para todo s ∈ I, onde γ : I −→ S é uma parametrização pelo comprimento de arco
de r.
Exemplo 3.5 Os grandes cı́rculos são as únicas geodésicas da esfera SR (A) de centro A e
raio R > 0.
De fato, os grandes cı́rculos C de SR (A) são obtidos intersectando a esfera com um plano que
passa pelo centro A da esfera.
A normal n(p) a C em p está na direção da reta que liga o ponto p ao centro A, pois C é
um cı́rculo de centro A. Como SR (A) é uma esfera, a normal N(p) à esfera em p está nesta
mesma direção, o que prova que C é uma geodésica.
Temos também que para cada p ∈ SR (A) e cada v ∈ Tp SR (A), existe um grande cı́rculo que
passa por p e é tangente a v neste ponto.
Para verificar esta afirmação, basta tomar o grande cı́rculo C = SR (A) ∩ π, onde
π = { X ∈ R3 | hX − A , v ∧ (p − A)i = 0 }
Provaremos mais adiante nesta seção o fato geral de que para cada ponto p ∈ S e cada direção
em Tp S existe exatamente uma geodésica C ⊂ S passando por p e tangente a esta direção.
Portanto, pelo visto acima, os grandes cı́rculos são as únicas geodésicas de uma esfera.
para todo s ∈ I.
Para verificar a existência de outras geodésicas C no cilindro que passam por um ponto
p = (cos u0 , sen u0 , v0 ) ∈ C, consideremos a parametrização
X : (u0 − π, u0 + π) × R −→ C − {meridiano u = u0 − π}
dada por
X(u, v) = (cos u, senu, v) ,
Como X é uma isometria (E = G = 1 e F = 0), temos, pela observação feita acima, que α é
uma geodésica do cilindro parametrizada pelo comprimento de arco com α(0) = p se, e só se,
β(s) = (u(s), v(s)) é uma geodésica do plano parametrizada pelo comprimento de arco que
passa pelo ponto β(0) = (u0 , v0 ).
Portanto, β(s) = (as + u0 , bs + v0 ), com a2 + b2 = 1, isto é, β(I) é um segmento de reta que
passa por (u0 , v0 ).
• Se a = 0, β(s) = (u0 , ±s + v0 ), portanto, α(s) = (cos u0 , sen u0 , ±s + v0 ) é um meridiano.
• Se b = 0, β(s) = (±s+u0 , v0 ), portanto, α(s) = (cos(±s+u0 ), sen(±s+u0 ), v0 ) é um paralelo.
2πb
• Se a 6= 0 e b 6= 0, α(s) = (cos(as + u0 ), sen(as + u0 ), bs + v0 ) é uma hélice de passo .
a
Observação 3.19 Se dois pontos p e q não pertencem a um mesmo paralelo, então eles
podem ser ligados por um número infinito de geodésicas, em contraste com o que o corre no
plano, onde dois pontos quaisquer são ligados por uma única geodésica (isto é, por uma única
reta).
De fato, sejam p = X(u0 , v0 ) = (cos u0 , sen u0 , v0 ) e q = X(u1 , v1 ) = (cos u1 , sen u1 , v1 ),
onde u1 ∈ (u0 − π, u0 + π) e v0 6= v1 .
π π
2 2
Sejam a, b ∈ R, com a + b = 1, e s1 ∈ − , , tais que (as1 + u0 , bs1 + v0 ) = (u1 , v1 ). Isto
a a
é, (a, b) é o vetor unitário paralelo à única reta no plano que liga os pontos (u0 , v0 ) e (u1 , v1 ).
Portanto, se p e q não estão no mesmo meridiano, existe uma única hélice que liga os pontos
p e q antes de completar uma volta.
Sejam
2πn + s1 a bs1
An = q e Bn = q ,
(2πn + s1 a)2 + b2 s21 (2πn + s1 a)2 + b2 s21
bs 2πn + as1 2πn as as1 π π
sn = 1 = = + 1 e ∈ − , .
Bn An An An An An An
Observação 3.20 No plano, as geodésicas (isto é, as retas) são também caracterizadas
como sendo as curvas regulares de curvatura zero.
No plano, associamos a uma curva α(s) = (x(s), y(s), 0) parametrizada pelo comprimento de
arco, uma curvatura com sinal
κ(s) = hα 00 (s) , n(s)i ,
onde n(s) = (−y 0 (s), x 0 (s), 0) é o vetor normal a α em s tal que { α 0 (s), n(s), (0, 0, 1) } é uma
base positiva de R3 . O sinal de κ depende da orientação da curva e do plano (N = (0, 0, 1)).
Por analogia com o plano, definiremos a seguir a curvatura geodésica de uma curva regular
numa superfı́cie S cujo sinal depende da orientação da curva e da superfı́cie, e caracterizare-
mos as geodésicas como sendo as curvas que possuem curvatura geodésica nula em todos
os seus pontos.
Definição 3.10 Seja ω um campo diferenciável de vetores unitários ao longo de uma curva
parametrizada α : I −→ S sobre uma superfı́cie orientada S.
Como kω(t)k = 1 para todo t ∈ I, temos que hω 0 (t) , ω(t)i = 0 para todo t ∈ I. Portanto,
Dω
(t) é paralelo ao vetor N(t) ∧ ω(t), isto é, existe λ(t) ∈ R, tal que
dt
Dω
(t) = λ(t) (N(t) ∧ ω(t)) ,
dt
h Dω i dω Dω
Observação 3.21 λ(t) = (t) (t) = h (t) , N(t) ∧ ω(t)i, pois (t) é a componente
dt dt dt
dω
tangente de (t) e N(t) ∧ ω(t) é um vetor tangente a S em α(t).
dt
Observação 3.22 ω(t) , N(t) ∧ ω(t) , N(t) é uma base positiva de R3 , isto é,
h Dω i
Observação 3.23 O valor algébrico depende da orientação de S e de α.
dt
Definição 3.11 Seja C uma curva regular orientada contida em uma superfı́cie orientada S,
e seja α : I −→ C uma parametrização de C, numa vizinhança de p ∈ C, pelo comprimento de
Dα 0
arco positivamente orientada. O valor algébrico (s) = κg (s) da derivada covariante de
ds
0
α em s é chamada curvatura geodésica de C em p, onde α(s) = p.
Observação 3.25 As geodésicas são as curvas regulares em S que têm curvatura geodésica
nula em todos os seus pontos.
Observação 3.27 Pela observação 3.22, κg (s) = hα 00 (s) , N(s) ∧ α 0 (s)i. Portanto, como a
curvatura normal de α em s é κn (s) = hα 00 (s) , N(s)i, temos que
Então
κ(s)2 = kα 00 (s)k2 = κg (s)2 + κn (s)2 .
Assim, de um ponto de vista externo à superfı́cie, o valor absoluto da curvatura geodésica κg (s)
de C em p = α(s) é o valor absoluto da componente tangencial do vetor α 00 (s) = κ(s) n(s), e o
valor absoluto da curvatura normal κn (s) de C em p é o valor absoluto da componente normal
do vetor α 00 (s) = κ(s)n(s), onde κ é a curvatura de C em p e n é o vetor normal a C em p.
Ou seja,
Fig. 22:
1 1 − sen2 ϕ cos2 ϕ
κ2g = −1 + = = = cotg2 ϕ .
(sen ϕ)2 sen2 ϕ sen2 ϕ
κg (s) = cotg ϕ .
π
Em particular, se ϕ = , isto é, se C é um grande cı́rculo, κg ≡ 0,
2
ou seja, C é uma geodésica.
Fig. 23:
Seja v(t) = N(t) ∧ v(t). Então { v(t), v(t) } é uma base ortonormal positiva de Tα(t) S para todo
t ∈ I. Assim, ω(t) pode ser expresso como
ω(t) = a(t)v(t) + b(t)v(t) .
Lema 3.1 Sejam ν e ω dois campos diferenciáveis de vetores unitários ao longo da curva
α : I −→ S. Então
h Dω i h Dν i dϕ
− = ,
dt dt dt
onde ϕ(t) é uma determinação diferenciável do ângulo de ν(t) a ω(t), na orientação de S.
Prova.
Sejam N = N ◦ α(t), ν(t) = N(t) ∧ ν(t), ω(t) = N(t) ∧ ω(t) e ϕ : I −→ R uma determinação
diferenciável do ângulo de ν(t) a ω(t) na orientação de S, isto é,
ω(t) = cos ϕ(t) ν(t) + sen ϕ(t) ν(t) .
Portanto,
ω(t) = N(t) ∧ ω(t) = cos ϕ(t) N(t) ∧ ν(t) + sen ϕ(t)N(t) ∧ ν(t) = cos ϕ(t)ν(t) − sen ϕ(t)ν(t) ,
e
ω 0 (t) = −(sen ϕ(t))ϕ 0 (t)ν(t) + (cos ϕ(t))ϕ 0 (t)ν(t) + cos ϕ(t)ν 0 (t) + sen ϕ(t)ν 0 (t) .
h Dω i
Como (t) = hω 0 (t) , ω(t)i, temos que:
dt
h Dω i
(t) = h −ϕ 0 (t)ν(t) sen ϕ(t) + ϕ 0 (t)ν(t) cos ϕ(t) + ν 0 (t) cos ϕ(t) + ν 0 (t) sen ϕ(t) ,
dt
ν(t) cos ϕ(t) − ν(t) sen ϕ(t) i
= (sen ϕ(t))2 ϕ 0 (t) + (cos ϕ(t))2 ϕ 0 (t) + (cos ϕ(t))2 hν 0 (t) , ν(t)i
− (sen ϕ(t))2 hν 0 (t) , ν(t)i
= ϕ 0 (t) + hν 0 (t) , ν(t)i
h Dν i
= ϕ 0 (t) + (t) ,
dt
pois
hν(t) , ν 0 (t)i = hν(t) , ν 0 (t)i = 0 e hν 0 (t) , ν(t)i = −hν 0 (t) , ν(t)i ,
já que
hν(t) , ν(t)i = hν(t) , ν(t)i = 1 e hν(t) , ν(t)i = 0 ,
para todo t ∈ I.
Assim,
h Dω i h Dν i
(t) − (t) = ϕ 0 (t) .
dt dt
Ou seja, a curvatura geodésica é a taxa de variação do ângulo que a tangente à curva faz
com uma direção paralela ao longo da curva. No caso do plano (α 0 (s) = cos ϕ(s)(1, 0, 0) +
sen ϕ(s)(0, 1, 0)), a direção paralela é fixa ((1, 0, 0)) e a curvatura geodésica reduz-se à curva-
tura κ(s) usual.
Prova.
X X X ∧ Xv
Como √u , √ v , N = u
√ é uma base ortonormal positiva de R3 , temos que se
E G EG
X (u(t), v(t))
e1 (t) = pu ,
E(u(t), v(t))
então
X (u(t), v(t))
e1 (t) = N(t) ∧ e1 (t) = pv .
G(u(t), v(t))
Portanto, sendo
ω(t) = cos ϕ(t) e1 (t) + sen ϕ(t) e1 (t) ,
temos, pelo lema anterior, que
h Dω i h De i dϕ
1
= + .
dt dt dt
Além disso, como
h De 0
1 1 X
i
1
(t) = he10 (t) , e1 (t)i = h √ (u 0 (t)Xuu + v 0 (t)Xuv ) + p Xu , √ v i
dt E E(u(t), v(t)) G
1
= √ (u 0 (t)hXuu , Xv i + v 0 (t)hXuv , Xv i)
EG
1
= √ (−u 0 (t)hXu , Xvu i + v 0 (t)hXuv , Xv i)
EG
1
= √ (Gu v 0 (t) − Ev u 0 (t)) ,
2 EG
X X
ω(t) = cos ϕ(t) √u (u(t), v(t)) + sen ϕ(t) √ v (u(t), v(t)) ,
E G
X
e ϕ0 uma determinação do ângulo de √u (u(t0 ), v(t0 )) a w0 na orientação dada.
E
Então, pela proposição 3.3, ω é um campo paralelo se, e só se,
1
ϕ 0 (t) = − √ (Gu v 0 (t) − Ev u 0 (t)) = B(t) .
2 EG
Logo,
Zt
ϕ(t) = ϕ0 + B(ξ) dξ ,
t0
Uma outra aplicação da proposição 3.3 é a seguinte expressão para a curvatura geodésica,
conhecida como fórmula de Liouville.
dϕ
κg = (κg )1 cos ϕ + (κg )2 sen ϕ + ,
ds
onde (κg )1 e (κg )2 são as curvaturas geodésicas das curvas coordenadas v = const. e u = const.,
respectivamente.
Prova.
Tomando ω(s) = α 0 (s) na proposição 3.3, obtemos
1 dv du dϕ
κg = √ Gu − Ev + , (29)
EG ds ds ds
X X
onde α 0 (s) = cos ϕ(s) √u + sen ϕ(s) √ v .
E G
Sejam α(s) = X(u(s), v(s)) = X(β(s)), s0 ∈ I, γ1 (t) = X(u1 (t), v(s0 )) uma parametrização
pelo comprimento de arco da curva coordenada v = v(s0 ) tal que γ1 (t1 ) = X(u1 (t1 ), v(s0 )) =
X(u(s0 ), v(s0 )) e γ2 (ξ) = X(u(s0 ), v2 (ξ)) uma parametrização pelo comprimento de arco da
curva coordenada u = u(s0 ) tal que γ2 (ξ2 ) = X(u(s0 ), v2 (ξ2 )) = X(u(s0 ), v(s0 )).
Fig. 25:
Então, como kγ10 (t)k = ku10 (t) Xu (u1 (t), v(s0 ))k = 1 e kγ20 (ξ)k = kv20 (ξ)Xv (u(s0 ), v2 (ξ))k = 1 ,
1 1
podemos supor que u10 (t) = p e v20 (ξ) = p .
E(u1 (t), v(s0 )) G(u(s0 ), v2 (ξ))
E du1 dϕ1
(κg )1 (t1 ) = − √ v (u(s0 ), v(s0 )) (t1 ) + ,
2 EG dt dt
X
onde ϕ1 (t) é o ângulo de √u (u1 (t), v(s0 )) a γ10 (t).
E
X
Como γ10 (t) = √u (u1 (t), v(s0 )), temos que ϕ1 = 0 e, portanto,
E
E du1 E
(κg )1 (t1 ) = − √ v (u(s0 ), v(s0 )) (t1 ) = − √v (u(s0 ), v(s0 )) . (30)
2 EG dt 2E G
Gu
(κg )2 (ξ2 ) = √ (u(s0 ), v(s0 )) . (31)
2G E
X X
u 0 (s)Xu (u(s), v(s))+v 0 (s)Xv (u(s), v(s)) = α 0 (s) = cos ϕ(s) √u (u(s), v(s))+sen ϕ(s) √ v (u(s), v(s)) ,
E G
temos que
X √
cos ϕ(s) = hα 0 (s) , √u i = u 0 (s) E(u(s), v(s)) ,
E
e
X √
sen ϕ(s) = hα 0 (s) , √ v i = v 0 (s) G(u(s), v(s)) .
G
Logo,
κg (s0 ) = (κg )1 (t1 ) cos ϕ(s0 ) + (κg )2 (ξ2 ) sen ϕ(s0 ) + ϕ 0 (s0 ) .
obtido da equação (26) fazendo a(t) = u 0 (t) e b(t) = v 0 (t), e igualando a zero os coeficientes
de Xu e Xv .
Em outras palavras, α : I −→ S é uma geodésica se, e só se, o sistema (32) é satisfeito para
todo intervalo aberto J ⊂ I tal que α(J) esteja contido em uma vizinhança coordenada.
O sistema (32) é conhecido como as equações diferenciais das geodésicas de S.
Prova.
Sejam X : U −→ X(U) uma parametrização de S em p = X(u0 , v0 ) e a, b ∈ R tais que
w = a Xu (u0 , v0 ) + b Xv (u0 , v0 ).
Pelo teorema de existência e unicidade de equações diferenciais ordinárias, existem ε > 0 e
uma única solução β(t) = (u(t), v(t)) , t ∈ (−ε, ε) do sistema (32) tal que β(0) = (u0 , v0 ) e
β 0 (0) = (a, b).
Logo, α(t) = X(u(t), v(t)), t ∈ (−ε, ε), é a única geodésica de S tal que α(0) = p e α 0 (0) =
a Xu + b Xv = w.
Exemplo 3.8 Seja S a superfı́cie de revolução parametrizada por X : (0, 2π) × (a, b) −→ S,
X(u, v) = ( f(v) cos u , f(v) sen u , g(v) ) ,
2ff 0 0 0
u 00 + uv = 0
f2
(33)
ff 0 f 0 f 00 + g 0 g 00 0 2
v 00 − 0 2 (u 0 2
) + (v ) = 0 .
(f ) + (g 0 )2 (f 0 )2 + (g 0 )2
f 0 f 00 + g 0 g 00
v 00 (s) + (v(s)) (v 0 (s))2 = 0 .
(f 0 )2 + (g 0 )2
Como o meridiano α(s) = X(u0 , v(s)) está parametrizado pelo comprimento de arco, temos
para todo s.
Derivando a expressão acima, obtemos:
2v 0 (s)v 00 (s)(f 0 (v(s))2 + g 0 (v(s))2 ) + (2f 0 (v(s))f 00 (v(s)) + 2g 0 (v(s))g 00 (v(s)))v 0 (s)3 = 0 ,
ou seja,
f 0 (v(s))f 00 (v(s)) + g 0 (v(s))g 00 (v(s)) 0 3
v 0 (s)v 00 (s) = − v (s) .
(f 0 (v(s)))2 + (g 0 (v(s)))2
Portanto, ao longo do meridiano a segunda equação de (33) também é satisfeita, o que mostra
que de fato os meridianos são geodésicas.
Uma outra maneira de verificar que os meridianos parametrizados pelo comprimento de arco
são geodésicas consiste em observar que sua curvatura geodésica é nula, pois κ = |κn |, já
que os meridianos são seções normais de S, e, portanto, pela relação κ2 = κ2n + κ2g , obtemos
que κ2g ≡ 0 ao longo de um meridiano. Ou simplesmente observando que o vetor aceleração
de um meridiano é paralelo ao vetor normal à superfı́cie, já que ele é uma seção normal de S
e, portanto, a derivada covariante do vetor tangente ao meridiano é nula.
2. Um paralelo é uma geodésica se, e só se, é uma seção normal, ou seja, se, e só se, o vetor
tangente à geratriz da superfı́cie de revolução no ponto que dá origem ao paralelo é paralelo
ao eixo de revolução (⇐⇒ f 0 (v) = 0).
De fato, se um paralelo é uma seção normal, então seu vetor aceleração é paralelo ao vetor
normal à superfı́cie e, portanto, a derivada covariante do vetor tangente ao paralelo é nula.
Reciprocamente, se um paralelo é uma geodésica, a derivada covariante do vetor tangente ao
paralelo é nula, isto é, o vetor aceleração do paralelo é paralelo ao vetor normal à superfı́cie
e, portanto, o paralelo é gerado pela rotação de um ponto da curva geratriz onde a tangente é
paralela ao eixo de revolução.
Podemos obter o mesmo resultado utilizando o sistema (33).
3. (Relação de Clairaut)
A primeira equação do sistema (33) pode ser escrita como
(f2 u 0 ) 0 = f2 u 00 + 2ff 0 u 0 v 0 = 0 .
Portanto,
f2 (v(t)) u 0 (t) = const. = c .
π
Por outro lado, o ângulo θ, 0 ≤ θ ≤ , de uma geodésica X(u(t), v(t)) parametrizada pelo
2
comprimento de arco com um paralelo que a intersecta é dado por
|hXu , u 0 Xu + v 0 Xv i|
cos θ = = |u 0 f| ,
kXu k
pois hXu , Xu i = f2 .
Como f(v(t)) = r é o raio do paralelo no ponto de intersecção, obtemos a relação de Clairaut:
com c 6= 0, pois, caso contrário, u 0 (s) ≡ 0, e portanto, u(s) = const., ou seja, a geodésica seria
um meridiano.
Como X(u(s), v(s)) está parametrizada pelo comprimento de arco, temos que
c2
((f 0 (v(s)))2 + (g 0 (v(s)))2 )v 0 (s)2 = 1 − . (35)
(f(v(s)))2
2v 0 (s)v 00 (s)((f 0 (v(s)))2 + (g 0 (v(s)))2 ) + (v 0 (s))3 (2f 0 (v(s))f 00 (v(s)) + 2g 0 (v(s))g 00 (v(s)))
f(v(s))f 0 (v(s))v 0 (s)
= 2c2
(f(v(s)))4
c2
pois = u 0 (s)2 .
(f(v(s)))4
Dividindo a equação acima por 2v 0 (s)((f 0 (v(s)))2 + (g 0 (v(s))2 )), obtemos a segunda equação
de (33):
Como a equação (36) pode ser obtida da equação (34) e da equação (f(v(s)))2 u 0 (s) = c nos
pontos sn , obtemos, por continuidade, que o mesmo vale em s0 .
Por outro lado, como u 0 (s) 6= 0 para todo s, a função u(s) possui uma inversa s(u). Seja
v(u) = v(s(u)).
ds 2
Multiplicando (34) por , obtemos:
du
ds 2 du 2 ds 2
2
(u) = f(v(s(u))) (s(u)) (u)
du ds du
dv 2 ds 2
+ (f 0 (v(s(u))))2 + (g 0 (v(s(u))))2 (s(u)) (u) ,
ds du
ou seja,
ds 2 dv 2
(u) = (f(v(u)))2 + (f 0 (v(u)))2 + (g 0 (v(u)))2 (u) . (37)
du du
Como
du 2 c2
(s) = ,
ds (f(v(s)))4
obtemos que
ds 2 (f(v(u)))4
(u) = .
du c2
ou seja,
0 (v(u)))2 + (g 0 (v(u)))2
2
2 (f
dv
2 2
(f(v(u))) = c + c (u)
(f(v(u)))2 du
s
dv f(v(u)) (f(v(u)))2 − c2
=⇒ (u) = ± .
du c (f 0 (v(u)))2 + (g 0 (v(u)))2
Logo, como
du 1
(v) = ,
dv dv
(u(v))
du
temos que
s
du c (f 0 (v))2 + (g 0 (v))2
(v) = ± ,
dv f(v) (f(v))2 − c2
ou seja,
Z s
c (f 0 (v))2 + (g 0 (v))2
u(v) = ± dv + const. , (38)
f(v) (f(v))2 − c2
Observação 3.31 Como v(u) = v(s(u)) e s 0 (u) > 0 para todo u, temos que o sinal ”+”
ocorre quando v 0 (s(u)) > 0 e o sinal ”−” , quando v 0 (s(u)) < 0.
Exemplo 3.9 Vamos mostrar neste exemplo que qualquer geodésica do parabolóide de
revolução z = x2 + y2 , que não é um meridiano, se auto-intersecta uma infinidade de vezes.
Primeiro observe que nenhum paralelo do parabolóide é uma geodésica, pois o vetor tangente
z = y2
à geratriz C : do parabolóide não é paralelo ao eixo Oz em ponto algum da curva C.
x = 0
Fig. 27: Os meridianos são as únicas geodésicas no parabolóide que passam pela origem
E, pela unicidade das geodésicas, temos que os meridianos são as únicas geodésicas que
passam pela origem (0, 0, 0).
Sejam γ(s) = (v(s) cos u(s) , v(s) sen u(s) , v(s)2 ) uma geodésica que passa por p0 6= (0, 0, 0),
π
P0 o paralelo que contém p0 , r0 o raio deste paralelo e θ0 , 0 ≤ θ0 ≤ , o ângulo que γ faz com
2
P0 em p0 .
Pela relação de Clairaut,
Fig. 28: γ é uma geodésica no parabolóide que passa pelo ponto p0 6= (0, 0, 0)
Observe, pela relação de Clairaut, que quando r cresce, então cos θ decresce, portanto θ
cresce.
Além disso, como (v(s))2 u 0 (s) = c 6= 0, podemos supor u 0 (s) > 0 e, portanto, c > 0.
Pela relação de Clairaut temos que v(s) = r ≥ c para todo s ∈ R, e v(s) = c se, e só se, θ = 0,
ou seja, a geodésica γ é tangente ao paralelo de raio c no ponto de intersecção.
Afirmação: Existe um único s1 ∈ R tal que v(s1 ) = c.
Para provar esta afirmação precisamos do seguinte fato (ver §4.7 do livro de Manfredo do
Carmo): nenhuma geodésica de uma superfı́cie de revolução pode ser assintótica a um para-
lelo a não ser que este paralelo seja uma geodésica .
v(sn ) > c 0 para todo n ∈ N. Logo, pela hipótese (6 ∃ s1 ∈ R ; v(s1 ) = c 0 ), (sn ) não possui uma
subseqüência limitada. Portanto, |sn | −→ +∞.
Podemos supor que sn −→ ∞ e (sn ) é crescente.
Então v(s) ∈ (v(sn+1 ), v(sn )) para todo s ∈ (sn , sn+1 ), pois, caso contrário, existiria e
s ∈ (sn , sn+1 )
tal que v 0 (e
s) = 0, e, pela relação de Clairaut, terı́amos v(e
s) = c; neste caso, infs∈R v(s) seria
s ∈ R tal que v(e
igual a c e existiria e s) = c, contradizendo a hipótese.
Logo v(s) −→ c 0 quando s −→ ∞ e v(s) > c 0 para todo s ∈ R, ou seja, a geodésica γ é
assintótica ao paralelo Pc 0 de raio c 0 , uma contradição.
Assim, existe s1 ∈ R tal que v(s1 ) = c e a geodésica γ é tangente ao paralelo Pc no ponto
γ(s1 ).
Suponhamos que existe s2 6= s1 tal que v(s2 ) = c. Então, sendo s2 < s1 , ou v(s) = c para todo
s ∈ [s2 , s1 ] ou existe um ponto de máximo s3 ∈ (s2 , s1 ), onde v(s3 ) > c e v 0 (s3 ) = 0. No primeiro
caso chegamos a uma contradição, pois o paralelo v = c não é uma geodésica, e no segundo
caso também chegamos a uma contradição, pois r cos θ seria maior que c em s3 , uma vez que
r = v(s3 ) > c e θ(s3 ) = 0.
Logo existe um único ponto s1 ∈ R tal que v(s1 ) = c e, portanto, pela relação de Clairaut, existe
um único ponto s1 ∈ R tal que v 0 (s1 ) = 0.
Temos, então, v 0 (s) > 0 em (s1 , ∞) e v 0 (s) < 0 em (−∞, s1 ).
Afirmação: Se s −→ ±∞ então v(s) −→ +∞ (=⇒ θ −→ π2 ) .
6 ∞ quando s −→ +∞.
De fato, suponhamos que v(s) −→
Então existe uma seqüência crescente (sn ) tal que sn −→ +∞ e (v(sn )) converge para um
ponto c 0 . Como a seqüência (sn ) é crescente, sn −→ +∞ e v 0 > 0 em (s1 , +∞), temos que
v(s) −→ c 0 quando s −→ +∞ e c 0 = sups∈[s1 ,∞) v(s), ou seja, a geodésica γ é assintótica ao
paralelo Pc 0 de raio c 0 .
Logo v(s) −→ ∞ quando s −→ ∞. De modo análogo, podemos provar que v(s) −→ ∞ quando
s −→ −∞.
Afirmação: Se s −→ ±∞ então u(s) −→ ±∞.
Zv r
1 1 + 4v2
u(v) − u(c1 ) = ±c dv ,
c1 v v2 − c2
onde c1 > c.
Zv r
1 1 + 4v2
u(v) − u(c1 ) = c dv
c1 v v2 − c2
Zv
1
> c dv = c(log v − log c1 ) ,
c1 v
1 + 4v2
pois > 1 e c > 0.
v2 − c2
Logo u(v) −→ +∞ quando v −→ +∞, ou seja, u(s) −→ +∞ quando s −→ +∞, já que
lim v(s) = +∞.
s→∞
Zv r
1 1 + 4v2
u(v) − u(c1 ) = −c dv
c1 v v2 − c2
Zv
1
< −c dv = −c(log v − log c1 ) .
c1 v
Assim, lim u(v) = −∞ , ou seja, lim u(s) = −∞, pois v(s) −→ +∞ quando s −→ −∞.
v→∞ s→∞
Podemos, então, concluir que a geodésica γ intersecta todos os meridianos um número infinito
de vezes e, portanto, se auto-intersecta uma infinidade de vezes, já que os dois segmentos de
geodésica γ|[s1 ,∞) e γ|(−∞,s1 ] dão uma infinidade de voltas em torno do parabolóide.
Fig. 30: γ se auto-intersecta infinitas vezes, pois é uma geodésica no parabolóide que não é um meridiano.
No exemplo acima, usamos o fato de que qualquer geodésica γ do parabolóide está definida
para todo s ∈ R, isto é, γ : R −→ S está definida em toda a reta. Isto resulta do fato de o
parabolóide ser uma superfı́cie fechada em R3 .
X
3 ZZ
ϕi − π = K dσ .
i=1 T
Então, se:
X
3
• K ≡ 0, obtemos que ϕi = π, uma extensão do teorema de Tales para superfı́cies com
i=1
curvatura nula.
X
3
• K ≡ 1, obtemos que ϕi − π = área (T ) > 0, ou seja, sobre uma esfera unitária a soma
i=1
dos ângulos internos de qualquer triângulo geodésico é maior que π e o excesso sobre π é
exatamente a área de T .
• K ≡ −1, a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo geodésico é menor que π (por
exemplo, na pseudo-esfera — exercı́cio 6 da §3.3. do livro de Manfredo P. Do Carmo).
A extensão do teorema a uma região limitada por uma curva simples deve-se a Bonnet. Para
estendê-lo a superfı́cies compactas, algumas considerações topológicas serão necessárias.
Uma das mais importantes caracterı́sticas do Teorema de Gauss-Bonnet é a de estabelecer
uma surpreendente relação entre a topologia de uma superfı́cie compacta e a integral de sua
curvatura (ver corolário 4.2).
Para provar a versão local do teorema de Gauss-Bonnet, precisamos de algumas definições.
Definição 4.1 Seja α : [0, `] −→ S uma aplicação contı́nua de um intervalo fechado [0, `]
sobre uma superfı́cie regular S.
Dizemos que α é uma curva parametrizada simples, fechada e regular por partes se:
(1) α(0) = α(`) .
(2) α(t1 ) 6= α(t2 ), se t1 , t2 ∈ [0, `) e t1 6= t2 .
(3) existe uma partição 0 = t0 < t1 < . . . < tk < tk+1 = ` do intervalo [0, `] tal que α é
diferenciável e regular em cada subintervalo [ti , ti+1 ], i = 0, 1, . . . , k.
{ α 0 (t−
i ) , α (ti ) , N(α(ti )) , }
0 +
No caso em que o vértice é uma cúspide, isto é, |θi | = π, escolhemos o sinal de θi do seguinte
modo.
α 0 (t+
i )
Sejam v1 = 0 + e v2 um vetor unitário ortogonal a v1 , de modo que {v1 , v2 , N(α(ti ))} é uma
kα (ti )k
base ortonormal positiva de Tα(ti ) S.
Seja X : U −→ X(U) uma parametrização ortogonal de S compatı́vel com a orientação tal que
X(0, 0) = α(ti ) e Xu (0, 0) = v1 . Logo Xv (0, 0) = v2 .
Seja β : (ti − δ, ti + δ) −→ U a curva diferenciável por partes tal que X(β(t)) = α(t). Então,
como β(ti ) = (0, 0), dXβ(ti ) (β 0 (t− 0 − 0 + 0 + 0 −
i )) = α (ti ) e dXβ(ti ) (β (ti )) = α (ti ), temos que β (ti ) =
(−kα 0 (t+ 0 + 0 +
i )k, 0) e β (ti ) = (kα (ti )k, 0).
Assim, existem δ 0 > 0, ε > 0 e funções f, g : [0, ε) −→ R diferenciáveis tais que β([ti , ti + δ 0 )) =
{(x, g(x)) | x ∈ [0, ε)} é o gráfico da função g, e β((ti − δ 0 , ti ]) = {(x, f(x)) | x ∈ [0, ε)} é o gráfico
da função f .
Como α não tem auto-intersecções, ou f(x) > g(x) ou f(x) < g(x) para todo x ∈ (0, ε). No
primeiro caso, definimos θi = π e, no segundo caso, definimos θi = −π.
Seja S uma superfı́cie regular orientada. Dizemos que uma região R ⊂ S (união de um conjunto
aberto conexo com a sua fronteira) é uma região simples se R é homeomorfo a um disco e a
fronteira ∂R de R é o traço de uma curva parametrizada simples, fechada e regular por partes
α : I −→ S.
Dizemos então que α é orientada positivamente se para cada α(t) pertencente a um arco
regular, a base ortonormal positiva {α 0 (t), h(t)} satisfaz a condição de que h(t) aponta para
dentro de R, ou seja, para qualquer curva β : I −→ R com β(0) = α(t) e β 0 (0) 6= α 0 (t), temos
que hβ 0 (0) , h(t)i > 0.
Intuitivamente, isto significa que ao andarmos pela curva α na direção positiva com a cabeça
apontada para N, a região R estará à nossa esquerda.
Pode-se mostrar que uma das orientações possı́veis de α faz com que ela fique positivamente
orientada.
Seja X : U −→ X(U) uma parametrização isotérmica compatı́vel com a orientação de S tal que
U é homeomorfo a um disco aberto do plano.
Seja α : [0, `] −→ X(U) ⊂ S uma curva parametrizada simples, fechada e regular por partes,
com vértices α(ti ) e ângulos externos θi , i = 0, 1, . . . , k.
Sejam ϕi : [ti , ti+1 ] −→ R funções diferenciáveis que medem em cada t ∈ [ti , ti+1 ] o ângulo
positivo de Xu a α 0 (t).
O primeiro fato topológico que apresentaremos sem demonstração é o seguinte.
O teorema acima diz que a variação total do ângulo do vetor tangente a α com uma direção
dada mais os ”saltos” nos vértices é igual a ±2π.
Uma demonstração do teorema do ı́ndice de rotação pode ser vista em H. Hopf, Comp. Math.
No. 2 (1935), pag. 50-62.
Para o caso em que α é uma curva simples, fechada e regular (isto é, sem vértices) contida
num plano, a demonstração de H. Hopf pode ser encontrada no livro de Manfredo Do Carmo
(teorema 2, §5.7).
Então R ⊂ W = X(U) ∩ Y(U) . Seja h = X−1 ◦ Y : Y −1 (W) −→ X−1 (W) a aplicação de mudança
de coordenadas.
Como
∂(u, v) ∂(u, v)
Yu ∧ Yv (u, v) = (u, v)(Xu ∧ Xv )(h(u, v)) e > 0 em Y −1 (W),
∂(u, v) ∂(u, v)
já que
q
2
E G − F (u, v) = kYu ∧ Yv k(u, v)
∂(u, v)
= kXu ∧ Xv k (h(u, v)) (u, v)
∂(u, v)
p ∂(u, v)
= EG − F2 (h(u, v)) (u, v) .
∂(u, v)
ZZ
Esta integral é chamada integral de f sobre a região R e é denotada por f dσ .
R
k Z si+1
X ZZ X
k
κg (s) ds + K dσ + θi = 2π , (39)
i=0 si R i=0
Observação 4.2 Veremos no corolário 4.2, que o resultado acima é válido para qualquer
região simples de uma superfı́cie regular. Isto é plausı́vel, pois a equação (39) não envolve de
maneira alguma uma parametrização particular.
Prova.
Seja α(s) = X(u(s), v(s)) a expressão de α na parametrização X. Pela proposição 3.3 da
seção 4.3, temos:
1 dv du dϕi
κg (s) = √ Gu − Ev + ,
2 EG ds ds ds
onde ϕi (s) é uma função diferenciável que mede o ângulo positivo de Xu a α 0 (s) em [si , si+1 ].
Integrando a expressão acima em todos os intervalos [si , si+1 ] e somando os resultados, obte-
mos:
k Z si+1
X k Z si+1
X k Z si+1
X
1 dv du dϕi
κg (s) ds = √ Gu − Ev ds + ds . (40)
si si 2 EG ds ds si ds
i=0 i=0 i=0
1 E G
K=− √ √v + √u .
2 EG EG v EG u
Portanto,
ZZ ZZ √ ZZ
E G
√v + √u du dv = − K EG du dv = − K dσ .
X−1 (R) 2 EG v 2 EG u X−1 (R) R
k Z si+1
X X
k X
k
dϕi
ds = (ϕi (si+1 ) − ϕi (si )) = 2π − θi ,
si ds
i=0 i=0 i=0
Z` h Z` Z`
Dω 1 dv du dϕ
i
0 = ds = √ Gu − Ev ds + ds
0 ds 0 2 EG ds ds 0 ds
ZZ ZZ
= − K dσ + ϕ(`) − ϕ(0) = − K dσ + ∆ϕ ,
R R
onde ϕ(s) é uma determinação diferenciável do ângulo positivo de Xu a ω(s) e X(u(s), v(s)) =
α(s) .
Então, como
ZZ
∆ϕ = K dσ ,
R
Fig. 40:
∆ϕ
lim = K(p) ,
R→p A(R)
regular por partes, i.e., quando R é uma região simples com vértices.
como havı́amos obtido anteriormente no exemplo 3.4 da seção 3 deste capı́tulo, onde E = 1,
G = (sen ϕ)2 , F = 0 são os coeficientes da primeira forma fundamental da parametrização
da esfera unitária.
Definição 4.2 Seja S uma superfı́cie regular. Dizemos que uma região R ⊂ S é regular se R
é compacta e a sua fronteira ∂R é uma união finita de curvas fechadas, simples, regulares por
partes que não se intersectam.
Observação 4.5 Vamos considerar uma superfı́cie compacta como uma região regular, cuja
fronteira é o conjunto vazio.
Definição 4.3 Dizemos que uma região simples que tem apenas três vértices é um triângulo.
Definição 4.4 Uma triangulação de uma região regular R ⊂ S é uma famı́lia finita T de
triângulos Ti , i = 1, . . . , n, tal que
(1) ni=1 Ti = R ,
S
Definição 4.5 Dada uma triangulação T de uma região regular R ⊂ S de uma superfı́cie S,
denotamos por F o número de triângulos (faces), por E o número de lados (arestas) e por V o
número de vértices da triangulação. O número
Ξ(R) = F − E + V
Exemplo 4.1 Para a triangulação do disco D dada pela figura abaixo temos: F = 4, E = 8 e
V = 5. Portanto, Ξ(D) = 4 − 8 + 5 = 1.
As proposições abaixo serão apresentadas sem demonstração. Uma exposição destes fa-
tos pode ser encontrada, por exemplo, no livro de L. Ahlfors e L. Sario, Riemann Surfaces,
Princeton Univ. Press, NJ. 1960, cap. 1.
Proposição 4.1 Toda região regular de uma superfı́cie regular admite uma triangulação.
2 − Ξ(S)
g=
2
é chamado o gênero de S.
Fig. 47:
Fig. 46: Esfera F = 4, E = 6, V = 4 =⇒ χ(S2 ) = 4 − 6 + 4 = 2
F = 8, E = 12, V = 6 =⇒ χ(S2 ) = 8 − 12 + 6 = 2
=⇒ χ(g−toro) = 4g − 6g + 2 = 2 − 2g
Proposição 4.4 Sejam S uma superfı́cie regular orientada e seja {xα : Uα −→ Xα (Uα ) | α ∈
A} uma famı́lia de parametrizações compatı́veis com a orientação de S que cobre toda a su-
perfı́cie S. Seja R uma região regular de S. Então existe uma triangulação T de R tal que
cada triângulo T ∈ T está contido em alguma vizinhança coordenada Xα (Uα ) da famı́lia {Xα }.
Além disso, se a fronteira de cada triângulo está orientado positivamente, triângulos adjacentes
determinam orientações opostas no lado em comum.
Finalmente, seja R ⊂ S uma região regular de uma superfı́cie orientada S e seja T uma
triangulação de R tal que todo triângulo Tj ∈ T , j = 1, . . . , k, está contido em uma vizinhança
coordenada Xj (Uj ) de uma famı́lia de parametrizações {Xα : Uα −→ Xα (Uα ) | α ∈ A} com-
patı́veis com a orientação de S. Seja f : S −→ R uma função diferenciável. A proposição
abaixo mostra que faz sentido falar da a integral de f sobre a região S.
k ZZ
X q
f ◦ Xj (uj , vj ) Ej Gj − F2j (uj , vj ) duj dvj
j=1 X−1
j (Tj )
Prova.
Seja {Xα : Uα −→ Xα (Uα ) ⊂ S | α ∈ A} uma famı́lia de parametrizações isotérmicas com-
patı́veis com a orientação de S que cobre toda a superfı́cie. Pela proposição 4.4, existe uma
triangulação T tal que cada triângulo T ∈ T está contido em uma vizinhança coordenada
Xα (Uα ) da famı́lia {Xα }. Além disso, se a fronteira de cada triângulo é orientada positivamente,
triângulos adjacentes determinam orientações opostas no lado em comum.
Fig. 54:
onde F é o número de triângulos de T e θj,1 , θj,2 , θj,3 são os ângulos externos do triângulo Tj .
Definimos ϕi = π − θi como sendo o ângulo interno a uma curva fechada, simples e regular
por partes num de seus vértices que tem ângulo externo θi .
Fig. 55:
Então
X
F,3 X
F,3 X
F,3 X
F,3
θj,k = π− ϕj,k = 3πF − ϕj,k .
j,k=1 j,k=1 j,k=1 j,k=1
Utilizaremos a notação:
• Ee = número de arestas externas de T ;
• Ei = número de arestas internas de T ;
• Ve = número de vértices externos de T ;
• Vi = número de vértices internos de T .
Como as curvas C1 , . . . , Cn do bordo de R são fechadas, temos que Ve = Ee .
Além disso, como 3F é a soma do número de lados dos triângulos de T , temos que
3F = 2Ei + Ee .
Portanto,
X
F,3 X
F,3
θj,k = 2πEi + πEe − ϕj,k .
j,k=1 j,k=1
Os vértices externos podem ser vértices de alguma curva Ci ou vértices introduzidos pela
triangulação. Então
Ve = Vec + Vet ,
onde Vec é o número de vértices das curvas Ci e Vet é o número de vértices externos da
triangulação que não são vértices de alguma das curvas Ci .
Como a soma dos ângulos internos ao redor de um vértice interno é 2π, e a soma dos ângulos
internos em torno de um vértice externo que não é um dos vértices das curvas Ci é π, obtemos:
X
F,3 X
p
θj,k = 2πEi + πEe − 2πVi − πVet − (π − θ` ) .
j,k=1 `=1
Fig. 56:
Somando e subtraindo πEe na expressão acima e sendo Ee = Ve = Vec + Vet , concluı́mos que:
X
F,3 X
p
θj,k = 2πEi + 2πEe − πEe − 2πVi − πVet − πVec + θ`
j,k=1 `=1
X
p
= 2π(Ei + Ee ) − π(Vet + Vec ) − 2πVi − πVet − πVec + θ`
`=1
X
j
= 2πE − 2π(Vi + Vet + Vec ) + θ`
`=1
X
p
= 2πE − 2πV + θ` .
`=1
Levando em conta o fato de que uma superfı́cie compacta pode ser considerada como uma
região com fronteira vazia, obtemos:
(1) Uma superfı́cie compacta com curvatura positiva é homeomorfa a uma esfera.
Pelo corolário 4.3, a caracterı́stica de Euler-Poincaré de uma tal superfı́cie é positiva. Portanto,
pelo teorema 4.3 S é homeomorfa a uma esfera.
Temos |θi | 6= π, isto é, |θi | < π, i = 1, 2, pois, caso contrário, as geodésicas seriam tangentes e,
portanto, iguais, pela unicidade das geodésicas; não seriam, então, bordo de região alguma.
uma contradição.
Quando θ1 = θ2 = 0, a união dos traços das geodésicas γ1 e γ2 consti-
tuem uma geodésica simples e fechada de S (isto é, uma curva regular, Fig. 58:
simples e fechada que é uma geodésica).
Então sobre uma superfı́cie de curvatura Gaussiana K ≤ 0, não existe uma geodésica simples
e fechada que seja fronteira de uma região simples.
Fig. 59:
(3) Seja S uma superfı́cie homeomorfa a um cilindro com curvatura Gaussiana K < 0. Então S
tem no máximo uma geodésica fechada simples.
É um fato conhecido que se duas superfı́cies regulares em R3 são homeomorfas então elas
Afirmação: Γ ∩ e
Γ = ∅.
(1o ) Γ e e
Γ não podem se intersectar em apenas um ponto.
Fig. 61:
x|(−ε 0 ,ε 0 ) , respectivamente.
s(x), x ∈ (−δ, δ), as inversas de x|(−ε 0 ,ε 0 ) e e
Sejam s(x) e e
Logo,
β(x) = γ(s(x)) = q + x v1 + y(s(x)) v2
e β(x)
e = γ
e(e
s(x)) = q + x v1 + y
e(e
s(x)) v2 .
Fig. 62:
Γ ) está contida na região limitada por ϕ(Γ ), temos que f(x) ≤ f(x)
Então, como ϕ(e e para todo x.
Logo f 0 (0) = fe0 (0), pois 0 é um ponto de mı́nimo de fe − f, já que (fe − f)(0) = 0 e (fe − f)(x) ≥ 0
para todo x ∈ (−δ, δ).
Portanto, como
β 0 (0) = v1 + f 0 (0) v2
e e 0 (0) = v1 + fe0 (0) v2 ,
β
ϕ(Γ ) e ϕ(e
Γ ) são tangentes no ponto q.
Fig. 63:
Assim, na superfı́cie S, existiria uma região simples limitada por dois arcos de geodésicas, uma
contradição, pela aplicação (2), pois K < 0.
Fig. 64:
Logo Γ ∩ e
Γ = ∅, como foi afirmado.
Fig. 65:
Fig. 67:
Seja
Zs
s(s) = kη 0 (ξ)k dξ ,
0
ds 1
(s) = 0 ,
ds kη (s(s))k
d2 (η ◦ s) d(η ◦ s)
κg (s) = h 2
(s) , (η ◦ s)(s) ∧ (s)i ,
ds ds
d(η ◦ s) ds ds
• (s) = η 0 (s(s)) · (s) = (−κ(s(s))α 0 (s(s)) − τ(s(s)) · b(s(s))) (s)
ds ds ds
d2 (η ◦ s) d2 s
ds 2
0
• 2
(s) = (−κα − τb)(s(s)) 2
(s) − (κ 0 α 0 + τ 0 b)(s(s)) (s)
ds ds ds
ds 2
−(κ2 + τ2 )(s(s)) η(s(s)) (s) ,
ds
ds 1 1
• (s) = 0 = 2 ,
ds kη (s(s))k (κ + τ )1/2 (s(s))
2
obtemos:
1 d2 (η ◦ s)
κg (s) = h((κα 0
+ τb) ∧ η)(s(s)) , (s(s))i
(κ2 + τ2 )1/2 (s(s)) ds2
1
= − h(κb − τα 0 )(s(s)) , (κ 0 α 0 + τ 0 b)(s(s))i
(κ2 + τ2 )3/2 (s(s))
κ 0τ − τ 0κ κ 0τ − τ 0κ ds
= (s(s)) = (s(s)) (s)
(κ2 + τ2 )3/2 κ2 + τ2 ds
d τ ds
= − arctan (s(s)) (s).
ds κ ds
Z` Z`
d τ
κg (s) ds = − arctan (s) ds = 0 ,
0 0 ds κ
pois τ(0) = τ(`) e κ(0) = κ(`), já que α(0) = α(`), α 0 (0) = α 0 (`), α 00 (0) = α 00 (`) e α 000 (0) =
α 000 (`).
Observe também que η(0) = η(`) (=⇒ b(0) = b(`)) e η 0 (0) = η 0 (`), isto é, η : I −→ S2 é uma
curva fechada e regular.
Seja R uma das regiões limitadas por η(I) na esfera. Como η é uma curva simples, fechada e
regular, pelo teorema da curva de Jordan na esfera, R é uma região simples. Logo Ξ(R) = 1 e,
pelo teorema de Gauss-Bonnet,
ZZ
área(R) = K dσ = 2πΞ(R) = 2π ,
R
Assim,
ZZ X
3 X
3
K dσ = 2π − (π − ϕi ) = −π + ϕi .
T i=1 i=1
X
3
Então a soma dos ângulos internos ϕi de um triângulo geodésico é:
i=1
1. Igual a π se K = 0;
2. Maior que π se K > 0;
3. Menor que π se K < 0.
X
3 ZZ
Além disso, ϕi − π (o excesso de T ) é dado por K dσ. Se K 6= 0 em T e a restrição de
i=1 T
ZZ
N a T é injetora, K dσ é a área (com sinal) da imagem N(T ) de T pela aplicação de Gauss
T
O fato acima está relacionado com uma controvérsia histórica sobre a possibilidade de provar
(a partir dos quatro primeiros axiomas) o quinto axioma de Euclides (o axioma das paralelas),
do qual decorre que a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é igual a π.
Considerando as geodésicas como retas, é possı́vel mostrar que as superfı́cies com curvatura
negativa constante constituem um modelo (local) de uma geometria onde valem os axiomas
de Euclides, exceto o quinto e o axioma que garante a possibilidade de estender retas indefi-
nidamente.
Em verdade, Hilbert mostrou que não existe em R3 uma superfı́cie com curvatura nega-
tiva constante cujas geodésicas possam ser estendidas indefinidamente (a pseudo-esfera do
exercı́cio 6, seção 3.3 do livro de Manfredo Do Carmo, tem uma aresta circular de pontos
singulares). Portanto, as superfı́cies em R3 com curvatura Gaussiana negativa constante não
fornecem um modelo para testar a independência do quinto axioma de Euclides.
No entanto, utilizando a noção de superfı́cie abstrata, é possı́vel contornar este problema e
construir um modelo de geometria onde todos os axiomas de Euclides, menos o quinto, são
válidos. Este axioma é, portanto, independente dos demais.
onde h , i é o produto interno usual de R2 . Com esta métrica, a superfı́cie (abstrata) H tem curvatura Gaussiana
constante igual a −1 e suas geodésicas são as semi-retas e os semi-cı́rculos perpendiculares ao eixo Ox.
v(t) X X
= cos ϕ(t) u (β(t)) + sen ϕ(t) v (β(t)) ,
kv(t)k kXu k kXv k
onde α(t) = X(β(t)) (o lema 5.1 do capı́tulo 1 pode ser estendido a curvas regulares por
partes).
Como α é fechada (α(0) = α(`)) existe um inteiro I definido por
Z`
2πI = ϕ(`) − ϕ(0) = ϕ 0 (t) dt , (41)
0
pois cos ϕ(`) = cos ϕ(0) e sen ϕ(`) = sen ϕ(0), já que v(0) = v(`), Xu (β(0)) = Xu (β(`)) e
Xv (β(0)) = Xv (β(`). O inteiro I é chamado o ı́ndice de v em p .
Precisamos mostrar que I está bem definido, isto é, que I independe da parametrização X e
da curva α escolhidas.
1o I independe da parametrização X.
Seja w0 ∈ Tα(0) S um vetor unitário e seja ω(t) o transporte paralelo de w0 ao longo de α. Seja
ψ(t) uma determinação diferenciável por partes do ângulo positivo de Xu (β(t)) a ω(t).
Então, pela observação 4.3,
ZZ
ψ(`) − ψ(0) = K dσ , (42)
R
Xu X v(t)
Sejam e1 (t) = (β(t)) , e2 (t) = v (β(t)) , v1 (t) = = cos ϕ(t) e1 (t) + sen ϕ(t) e2 (t)
kXu k kXv k kv(t)k
e w(t) = cos ψ(t) e1 (t) + sen ψ(t) e2 (t).
Sejam v2 (t) = N(α(t)) ∧ v1 (t) e ξ(t) uma determinação diferenciável por partes do ângulo
positivo de v1 (t) a w(t), isto é,
independe da parametrização X.
Portanto, I independe da parametrização X.
2o I independe da curva α.
Sejam α0 e α1 duas curvas como na definição do ı́ndice. Suponhamos primeiro que os traços
de α0 e α1 não se intersectam. Suponhamos também que α0 e α1 estão definidas no mesmo
intervalo I = [0, `] e que α0 está contida na região simples R limitada pelo traço de α1 .
Fig. 69:
a(t) = (cos ϕ(t) , sen ϕ(t)) e b(t) = (cos ψ(t) , sen ψ(t)) .
• Consideremos primeiro o caso particular em que vale |a(t) − b(t)| < 2 para todo t ∈ [0, `],
isto é, os pontos a(t) e b(t) nunca são antı́podas.
Então podemos tomar ϕ(0) = ϕ0 e ψ(0) = ψ0 de modo que |ϕ0 − ψ0 | < π.
Como a(t) e b(t) nunca são antı́podas, temos que |ϕ(t) − ψ(t)| 6= π para todo t ∈ [0, `]. Este
fato, junto com |ϕ(0) − ψ(0)| < π nos dá |ϕ(t) − ψ(t)| < π para todo t ∈ [0, `].
Sendo
2π(I(α1 ) − I(α0 )) = (ψ(`) − ψ(0)) − (ϕ(`) − ϕ(0)) = (ψ(`) − ϕ(`)) − (ψ(0) − ϕ(0)) ,
temos que
|2π(I(α1 ) − I(α0 )| ≤ |ψ(`) − ψ(`)| + |ψ(0) − ϕ(0)| < 2π ,
ou seja, |I(α1 ) − I(α0 )| < 1. Logo, I(α1 ) = I(α0 ).
• Como R é homeomorfa a um disco, α0 e α1 são livremente homotópicas, isto é, existe uma
aplicação contı́nua
H : [0, `] × [0, 1] −→ R ,
tal que H(t, 0) = α0 (t) , H(t, 1) = α1 (t) e H(0, s) = H(1, s) para todo s ∈ [0, 1], isto é, para
todo s ∈ [0, 1], a curva Hs : [0, `] −→ R, Hs (t) = H(t, s), é fechada.
Sejam as funções contı́nuas f, g : [0, `] × [0, 1] −→ R dadas por:
Observação 4.6 O lema 5.1 do capı́tulo 1 também vale para caminhos β : [0, `] −→ S1
contı́nuos, isto é, se β(0) = (cos θ0 , sen θ0 ), existe uma única função θ : [0, `] −→ R contı́nua
tal que θ(0) = θ0 e
β(t) = (cos θ(t) , sen θ(t)) ,
para todo t ∈ [0, `]. Fato que usamos acima, já que os caminhos a1 , . . . , ak−1 são apenas
contı́nuos.
Fig. 70:
Observação 4.7 A definição de ı́ndice também pode ser aplicada quando p não é um ponto
singular de v (isto é, v(p) 6= 0). Neste caso o ı́ndice é nulo.
De fato, sendo v 6= 0 numa vizinhança de p, existe, pela observação abaixo, uma parametrização
X : U −→ X(U) ortogonal, com p ∈ X(U), compatı́vel com a orientação de S, tal que v k Xu .
ϕ(`) − ϕ(0)
Assim, ϕ(t) ≡ 0 ou ϕ(t) ≡ π. Em qualquer caso, I = = 0.
2π
Como w(p) e w(p) são LI, existe, pelo teorema 4.4 do capı́tulo 4, uma parametrização
X : U0 −→ X(U0 ) de S em p, tal que Xu (u, v) k w(X(u, v)) e Xv (u, v) k w(X(u, v)) para todo
(u, v) ∈ U0 . Então X é uma parametrização ortogonal.
Xu ∧ Xv
Caso X não seja compatı́vel com a orientação de S, isto é, N(X(u, v)) = − (u, v),
kXu ∧ Xv k
basta considerar a parametrização X = X ◦ h : U −→ X(U), onde h(u, v) = (u, −v) e h(U0 ) = U
(=⇒ h(U) = h2 (U0 ) = U0 ).
De fato, Xu (u, v) = Xu (u, −v) k w(X(u, v)), Xv (u, v) = −Xv (u, −v) e, portanto,
Xu ∧ Xv X ∧ Xv
(u, v) = − u (u, −v) = N(X(u, −v)) = N(X(u, v)) .
kXu ∧ Xv k kXu ∧ Xv k
Exemplo 4.2 Calcularemos os ı́ndices de alguns campos de vetores no plano que têm (0, 0)
como ponto singular. As curvas que aparecem no desenho são as trajetórias dos campos de
vetores.
(1) w(x, y) = (−x, −y).
Fig. 71:
Restringindo w à curva fechada α(t) = (cos t, sen t), t ∈ [0, 2π], obtemos
isto é, o ângulo positivo de (1, 0) a w(t) é t + π. Logo, o ı́ndice do ponto singular (0, 0) é
ϕ(2π) − ϕ(0) 3π − π
I= = = 1.
2π 2π
Fig. 72:
Tomando a curva fechada α(t) = (cos t, sen t), t ∈ [0, 2π], obtemos que:
isto é, ϕ(t) = −t + π é o ângulo positivo de (1, 0) a w(t). Logo o ı́ndice do ponto singular (0, 0)
é
ϕ(2π) − ϕ(0) −π − π
I= = = −1 .
2π 2π
Fig. 73:
Restringindo w à curva fechada α(t) = (cos t, sen t), t ∈ [0, 2π], obtemos:
w(t) = w(α(t)) = (cos3 t − 3 cos t sen2 t, sen3 t − 3 cos2 t sen t) = (cos(−3t), sen(−3t)) ,
pois:
cos 3t = cos(2t + t) = cos 2t cos t − sen 2t sen t = (cos2 t − sen2 t) cos t − 2 sen2 t cos t
= cos3 t − 3 sen2 t cos t ,
sen 3t = sen(2t + t) = sen 2t cos t + cos 2t sen t = 2 sen t cos2 t + cos2 t sen t − sen3 t
= − sen3 t + 3 sen t cos2 t .
ZZ
K dσ − 2πIi = ξi (`i ) − ξi (0) (44)
Ti
v(αi (t))
onde ξi (t) é uma determinação diferenciável por partes do ângulo positivo de vi1 (t) =
kv(αi (t))k
a wi (t), sendo wi (t) o transporte paralelo de um vetor unitário w0 ∈ Tα(0) S ao longo da
parametrização αi : [0, `i ] −→ S regular por partes do bordo ∂Ti , isto é, wi (t) = cos ξi (t)vi1 (t) +
sen ξ1 (t)(N(t) ∧ vi1 (t)).
Seja Tj ∈ T um triângulo que tem uma aresta, αi : [ti , ti+1 ] −→ S, em comum com o triângulo
Ti .
Fig. 74:
Seja βj : I −→ S uma parametrização regular por partes do bordo ∂Tj orientada positivamente,
tal que βj |[sj ,sj+1 ] é a parametrização regular do lado em comum com Ti .
Então existe uma função diferenciável decrescente hij : [sj , sj+1 ] −→ [ti , ti+1 ]
Fig. 75:
Seja wj (s) o transporte paralelo do vetor unitário wi (ti+1 ) ∈ Tαi (ti+1 ) S = Tβj (sj ) S ao longo de
βj : [sj , sj+1 ] −→ S.
Dwj Dwi
(s) = (hij (s)) hij (s) = 0 ,
ds dt
e wj (sj ) = wi (hij (sj )) = wi (ti+1 ), segue-se da unicidade do transporte paralelo, que wj (s) =
wj (s), para todo s ∈ [sj , sj+1 ].
Logo
wj (s) = wi (hij (s)) = cos(ξi (hij (s)))vi1 (hij (s)) + sen(ξi (hij (s)))vi2 (hij (s)) ,
Então
(ξi ◦ hij )(sj+1 ) − (ξi ◦ hij )(sj ) = ξi (ti ) − ξi (ti+1 ) = −(ξi (ti+1 ) − ξi (ti )) .
Observação 4.9 A diferença ξ(ti+1 ) − ξ(ti ) não depende do campo paralelo de vetores
unitários ao longo da curva parametrizada regular α : [ti , ti+1 ] −→ S.
De fato, sejam w1 e w2 campos de vetores unitários paralelos ao longo de α, e
hw1 (t) , w2 (t)i = cos ξ1 (t) cos ξ2 (t) + sen ξ1 (t) sen ξ2 (t) = cos(ξ1 (t) − ξ2 (t)) = const. ,
d Dw1 Dw2
pois hw1 , w2 i(t) = h (t) , w2 (t)i + hw1 (t) , (t)i = 0 para todo t, temos que existem
dt dt dt
θ0 ∈ R e k0 ∈ Z tais que
ξ1 (t) − ξ2 (t) = θ0 + 2πk0
para todo t.
Logo
ξ1 (ti+1 ) − ξ1 (ti ) = ξ2 (ti+1 ) − ξ2 (ti ) ,
como havı́amos afirmado.
X
k ZZ
1
Ii = K dσ = Ξ(S) .
2π S
i=1
X
Este resultado implica que Ii não depende de v mas apenas da topologia de S.
Por exemplo, em qualquer superfı́cie homeomorfa a uma esfera, todos os campos de vetores
diferenciáveis com singularidades isoladas devem ter a soma de seus ı́ndices igual a 2. Em
particular, nenhuma destas superfı́cies pode ter um campo de vetores diferenciável sem pontos
singulares, ou seja, uma esfera cabeluda não pode ser penteada.