Auto de Prisão em Flagrante

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SENADO FEDERAL

CPI da Pandemia

AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

Aos sete dias do mês de julho do ano de dois mil e vinte e um


ROBERTO FERREIRA DIAS, brasileiro, tecnólogo em logística,
titular do CPA-PR nº 03-200948, CPF 086.758.087-98, residente e
domiciliado na Rua Manuel Padilha de Lima, nº 43, Sobrado nº 3,
Bairro Ahu, no Município de Curitiba, Estado do Paraná compareceu
perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito criada pelos
Requerimentos do Senado Federal nº 1371/2021 e 1372/2021, com
vistas a prestar depoimento na condição de testemunha, na forma do art.
2º da Lei nº 1.579/195.
O depoente, nos termos de registros taquigráficos anexos e das
gravações da reunião, firmou termo de compromisso de dizer e de não
calar a verdade, na forma do art. 203 do Código de Processo Penal.
O regimento interno do Senado Federal, no seu artigo 148, indica que a
CPI "terá poderes de investigação próprios das autoridades judiciais", e
garante aos investigados e testemunhas a intimação e inquirição "de
acordo com as prescrições estabelecidas na legislação processual
penal". A prisão em CPI, portanto, segue um rito similar ao de qualquer
outra investigação criminal.
Para a prisão na CPI precisa haver um crime durante a sessão. "De fato,
para dar voz de prisão, tem de haver flagrante delito". A partir disso, "a
Polícia Legislativa lavra o auto, e mantém a guarda do 'preso' até que a
Polícia Federal assuma a guarda, o que deve ocorre em seguida à
comunicação".
Essa troca implica em todo o procedimento comum: exames de corpo
de delito, comunicação ao juiz – que seria um magistrado da vara
criminal da Justiça Federal em casos de pessoas sem foro privilegiado,
que pode relaxar a prisão ou mantê-la, audiência de custódia,
encaminhamento a uma unidade de detenção. "Mas sem flagrante, não
há prisão”.

Ao longo de seu depoimento, foram verificadas diversas contradições


nas informações prestadas pela testemunha compromissada. Malgrado
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as diversas oportunidades para retratação conferidas pelos membros


que lhe fizeram indagações, o depoente optou conscientemente por não
se retratar a respeito de qualquer termo de seu depoimento.
Dentre as inúmeras contradições verificadas, depreendidas das notas
taquigráficas anexas, destacam-se as seguintes:
- O depoente informa que não sabe que tentaram exonerá-lo.
- O depoente não explica quem viabilizou sua permanência no cargo,
após sucessivas trocas de ministros.
A esse respeito, é de conhecimento público as notícias de que houve
tentativas de exoneração do depoente, inclusive por Pazuello, e que este
não se concretizava por pedidos de políticos. Evidente, pois, a falta com
a verdade sobre esse tema.
Para além disso,
- O depoimento não teria marcado com Blanco e Domingueti. Afirma
que não sabe como Blanco saberia que ele estaria lá. Não demorou mais
do que uma hora e meia.
- O Luiz Domigueti afirma que o jantar foi marcado para tratar de
vacinas; mensagens no celular do denunciante mostram que ele falava
sobre o depoente antes do jantar e demonstra conhecimento.
- Mensagens divulgadas pela FSP mostram conversas entre Dias e
Cristiano (Davati) semanas antes do jantar.
- A reunião no Ministério da Saúde foi marcada para o dia seguinte ao
jantar.
- Declarou que nunca ocorreu o pedido de propina relatado por
Domingueti.
- Desconhece a participação de outros militares envolvidos na,
supostamente, falsa denúncia.
- A exoneração do depoente ocorreu logo depois de tornada pública a
denúncia de pedido de propina por Luiz Dominguetti.
- Apesar de tentar se manter distante de Coronel Blanco, admite que se
relacionavam e que “soube” que depois de deixar o ministério, o
coronel estava atuando em negócios farmaceuticos.
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- O depoente declarou que não conhece, nem teria acesso ao Presidente


da República.
- O depoente declarou que não teve relações com Amilton Gomes de
Paula, mas que o encontrou oficialmente quando recebeu a informação
de que Amilton teria acesso a 100 milhões de vacinas. Mas, Amilton
não possuía representação oficial do fabricante de vacinas.
Mensagens obtidas do celular de Domingueti apontam que o depoente
teria, sim, acesso e influência, no MS e no Planalto. E, ainda, relaçoes
diretas com Blanco, Cristiano e Domingueti.
Mensagens obtidas do celular de Domingueti indicam, ainda, que
Amilton teria acesso ao Presidente da República, aos altos escalões do
MS e a fabricantes de vacinas. E, também, à Diretoria de Logística,
ocupada pelo Depoente.
O depoimento colhido de Luis Ricardo Miranda, devidamente
compromissado, deixa claro que houve pressão do Depoente para
apressar a contratação da vacina Covaxin..
Contradições, lacunas, imprecisões e perguntas sem respostas marcam
o depoimento do ex-diretor do Departamento de Logística do
Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. Nome ligado ao deputado
Ricardo Barros (Progressistas-PR), Roberto foi acusado pelo policial
Luiz Paulo Dominguetti de pedir propina de US$ 1 por dose de vacina
Astrazeneca. O ex-diretor nega as acusações.
Roberto não soube explicar, exemplo, como negociava a compra de 400
milhões de doses da vacina Astrazeneca, por meio empresa Davati
Medical Supply, e não tinha tratativas sobre os imunizantes, como o da
Pfizer.
Em um dos pontos do depoimento, Dias contrariou versão apresentada
pela pasta para a sua exoneração, que ocorreu após o caso ser divulgado
pela imprensa, no fim do mês passado. O Ministério da Saúde exonerou
Dias no dia seguinte à divulgação do caso, mas, em nota, a pasta
informou que demissão ocorreu antes de a denúncia se tornar pública.
Na CPI, Roberto disse que a exoneração se deu exclusivamente por
causa das denúncias. "Minha exoneração se deve a esse fato esdrúxulo
e inexistente de um dólar", afirmou.
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Apesar de admitir uma reunião com Dominguetti, Roberto afirmou na


CPI da Covid não participava das negociações de vacinas, o que aponta
nova contradição. Isso porque há registros de mensagens e e-mails dele
com representantes da empresa Davati Medical Supply
"Ao Departamento de Logística, cabe a operacionalização do processo.
Eu não digo o quê, nem quanto, nem como, nem onde. E é essa
segregação de função que mantém a segurança jurídica dentro do
Ministério da Saúde na parte de aquisição", disse Dias sobre a função
do departamento.
O ex-diretor da Saúde disse que apenas cobrou de representante da
Davati provas de que a empresa era credenciada pela AstraZeneca.
"Não faço triagem de proposta de que interessa ao governo. Mas na
qualidade de subordinado do secretario-executivo, não posso passar ao
meu chefe uma proposta sem pé nem cabeça", declarou Dias.
Ao ser indagado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o
servidor Roberto Dias informou que, na gestão Luiz Henrique
Mandetta, ele tinha autonomia para escolher seus subordinados na
Diretoria de Logística do ministério. Mas a situação mudou a partir da
chegada de Eduardo Pazuello para o comando da pasta.
Segundo Dias, a exoneração e nomeação de servidores passaram a vir
diretamente da Secretaria-executiva ou do próprio ministro, inclusive
dos coordenadores Marcelo Costa e Alex Lial, ambos militares.
Randolfe chegou à conclusão de que houve "clara intervenção" na
diretoria. Para o senador, agora a CPI tem que investigar por que e a
interesse de quem mais.
Quanto aos preços de vacina, o Sr. Roberto Dias afirmou também que
não caberia ao seu departamento da pasta o levantamento de preço de
vacinas contra a covid-19. O governo de Jair Bolsonaro fechou contrato
para a compra da vacina indiana Covaxin por um preço 50% mais alto
do que o valor inicial da oferta, de US$ 10 por dose. Ferreira Dias
destacou que a verificação de valores cabia à Secretaria Executiva da
pasta, então comandada por Elcio Franco.
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Renan Calheiros (MDB-AL) destacou a revelação de um despacho do


Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis (DEIDT), do
Ministério da Saúde. No documento, o departamento advertiu sobre a
necessidade legal de realização de estimativa de preços, e sugeriu ao
Departamento de Logística que avaliasse a possibilidade de realizar
negociação com o fornecedor. O DLOG, porém, não seguiu essa
orientação, o que foi destacado no relatório do Tribunal de Contas da
União (TCU).
"Existe uma premissa equivocada, está sendo atribuído como verdade
absoluta despacho do Departamento de Imunização", respondeu
Ferreira Dias. "No caso de vacinas Covid-9, preço já teria sido aferido
pela secretaria executiva, Departamento de Logística não participa de
nenhuma negociação, execução", continuou o ex-diretor do ministério,
que ainda disse não ter informações sobre o motivo do valor da Covaxin
ter aumentado 50%.
"Essa pergunta faz todo sentido, mas deve ser feita a quem negociou as
vacinas", disse Ferreira Dias, citando novamente a Secretaria
Executiva. Como mostrou o Estadão/Broadcast, Elcio Franco ordenou
que fossem concentradas nele todas as tratativas para negociações de
imunizantes contra a covid-19 um mês antes da assinatura do contrato
para a compra da vacina indiana Covaxin. Em 29 de janeiro, o número
2 da gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello enviou ofício a 16
secretarias e diretorias do ministério, dando ciência sobre a
concentração das ações.

Conversas com a Davati


• Roberto Dias disse que, antes do jantar com Luiz Paulo
Dominguetti no dia 25 de fevereiro, já havia conversado com Cristiano
Carvalho, outro representante da Davati Medical Suply, sobre a oferta
de vacinas.
• O ex-diretor do Delog afirmou, no entanto, que, até então,
Cristiano não falava em nome da Davati. Ele se dizia representante da
Latin Air Supply.
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• O depoente afirmou que só tomou conhecimento sobre a Davati


no jantar em que encontrou Dominguetti, quando foi informado que ele
trabalhava com Cristiano.
• Segundo Dias, a oferta de 400 milhões de doses de imunizantes
da AstraZeneca foi feita pela primeira vez por Cristiano, por meio do
ex-assessor do Delog Coronel Marcelo Blanco.
Jantar com Dominguetti
• Roberto Dias afirmou que, em 25 de fevereiro, foi tomar um
chope após o expediente com o amigo Ricardo Santana, no restaurante
Vasto, em um shopping de Brasília.
• Ele disse que, enquanto bebia com o colega, encontrou, por acaso,
Coronel Marcelo Blanco, acompanhado de Luiz Paulo Dominguetti.
• Depois de muita insistência dos senadores, Dias admitiu que
“havia comentado” com Blanco que estaria no restaurante. A fala
contraria a versão de Dominguetti, que disse à CPI que chegou ao local
sozinho e que os três já estavam lá.
• Dias afirmou que essa foi a primeira vez em que conversou
Dominguetti. No entanto, um áudio obtido por O Antagonista mostra
que, no dia 23 de fevereiro, Dominguetti já falava em encontrar Dias no
dia do jantar.
• Dias negou que tenha negociado a compra dos imunizantes
oferecidos pela Davati e que tenha pedido propina. O ex-diretor do
Delog afirmou que, no encontro, apenas pediu que Dominguetti
entrasse em contato com sua assessoria para agendar uma reunião. O
objetivo, segundo Dias, era que Dominguetti apresentasse um
documento que comprovasse que ele era representante da AstraZeneca.
• No depoimento, o ex-diretor do Delog chamou Dominguetti de
“picareta”.
Reunião no Ministério da Saúde
• Roberto Dias disse que a reunião foi marcada para o dia seguinte
ao do jantar, 26 de fevereiro, às 15h, no Ministério da Saúde.
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• Contrariando o que afirmou Dominguetti, o ex-diretor do Delog


negou que tenha negociado imunizantes na ocasião.
Elcio Franco
• Roberto Dias disse que não era o responsável por negociar
imunizantes, apesar das conversas que tinha com representantes de
empresas. Segundo ele, essa era uma atribuição da Secretaria Executiva
da pasta, comandada por Elcio Franco.
• Apesar disso, não soube explicar por que as ofertas de vacinas
não foram endereçadas a seu superior.
• O ex-diretor do Delog negou que seu departamento fosse
responsável por checar valores de imunizantes. A informação
contradisse o depoimento de Elcio à CPI no mês passado, que afirmou
que o departamento de Dias fazia levantamentos de preços de vacinas.
• O senador Renan Calheiros propôs uma acareação entre os dois
ex-servidores para colocar em xeque as contradições.
Exoneração
• Roberto Dias disse desconhecer que, em 2020, foi alvo de um
pedido de demissão movido pelo então ministro, Eduardo Pazuello.
Como mostramos, a exoneração foi vetada por Jair Bolsonaro.
Ricardo Barros
• Roberto Dias admitiu que já esteve, pelo menos, uma vez na casa
do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. O deputado foi um dos
responsáveis por indicar o ex-servidor para o Departamento de
Logística do Ministério da Saúde.
• Dias justificou o encontro dizendo que tem contato com muitos
políticos do Paraná, onde começou sua carreira.
• Apesar disso, negou que Barros exerça qualquer influência sobre
suas nomeações para cargos no Ministério da Saúde.
Ao Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito inequivocamente
cabe a decretação de prisão em flagrante pelo crime próprio de falso
testemunho de que trata a Lei nº 1.579/1952, em linha com o que
estabelece o art. 794 do Código de Processo Penal, aplicável de maneira
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subsidiária aos trabalhos das comissões parlamentar de inquérito, na


forma regimental.
Diante do exposto, tendo em vista a condição de testemunha
compromissada, as contradições acima expostas, para além das demais
verificáveis ao longo das notas taquigráficas anexas, ausente qualquer
retratação do depoente, nos termos do art. 4º, II, da Lei 1579/1952, c/c
Art. 52, XIII, da Constituição Federal, cumulado com o art. 226 do
Regimento Administrativo do Senado Federal, decreto a de prisão
em flagrante de ROBERTO FERREIRA DIAS, pelo crime próprio
de falso testemunho de que trata a Lei 1.579/1952, e requisito à Polícia
do Senado Federal que tome as providências cabíveis para a lavratura
desta ocorrência.
Juntam-se, em anexo, as notas taquigráficas da reunião da
CPIPANDEMIA realizada na presente data.

Em Brasília, 7 de julho de 2021

Senador OMAR AZIZ


Presidente da CPIPANDEMIA

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