Apostila de Crimes de Trânsito
Apostila de Crimes de Trânsito
Apostila de Crimes de Trânsito
Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74
(composição civil), 76 (transação penal) e 88 (necessidade de representação do ofendido
no caso de lesões corporais) da Lei no 9.099/95:
Fixando = Ao crime de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, que tem
pena máxima de 2 anos, aplica-se:
• Composição civil;
• Transação penal;
• Ação penal pública condicionada à representação.
Nas hipóteses previstas nos itens 1, 2 e 3, deverá ser instaurado inquérito policial para a
investigação da infração penal.
Atenção =
• Composição civil;
• Transação penal;
• Ação penal pública condicionada à representação.
Também não se aplica os institutos acima previstos aos crimes de trânsito de lesão
corporal culposa:
Se houver alguma causa de aumento (porque 2 anos, mais a causa de aumento de 1/3
até a metade, faz com que deixe de ser de menor potencial ofensivo).
Fixação da pena nos crimes de trânsito = O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes
previstas no art. 59 do Código Penal, dando especial atenção à culpabilidade do agente e
às circunstâncias e consequências do crime.
CP: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime.
Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para
a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade
policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que
indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem
efeito suspensivo.
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará
a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor,
sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.705, de
2008)
Para fixar:
a. Permissão: ao candidato aprovado nos exames de habilitação será conferida Permissão
para dirigir, com validade de um ano (art. 148, §2º).
b. Habilitação: A CNH será conferida ao condutor no término de um ano, desde que o
mesmo não tenha cometido nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja
reincidente em infração média (art. 148, §3º).
c. Autorização: é a autorização para conduzir veículos de propulsão humana e de tração
animal, e cuja expedição fica a cargo dos municípios (art. 141, §1 º).
d. Suspensão: pressupõe permissão ou CNH já concedida.
e. Proibição: aplica-se a quem ainda não obteve a permissão ou a CNH.
ARTS. 302, 303, 306, 307 E 308 DEMAIS CRIMES (304, 305 E 309 A 312)
A pena de suspensão ou proibição vai ser É aplicada somente ao condenado reincidente
aplicada a qualquer condenado que os específico em crime previsto no CTB.
cometer.
Cuidado, ainda, para não confundir a suspensão ou proibição de obter habilitação com a
cassação da habilitação, prevista no art. 263 do CTB.
(a) Cassação da habilitação:
∘ Possui natureza administrativa
∘ Se o indivíduo descumprir a medida e dirigir mesmo estando com a habilitação cassada,
incorrerá no delito do art. 309 do CTB.
∘ Aplica-se aos casos de:
CUIDADO!
A pena para o crime do art. 307 é de detenção e nova suspensão ou proibição PELO
MESMO PRAZO DA SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO ANTERIOR QUE FOI
DESCUMPRIDA. Sendo assim, esse é o único crime em que a suspensão ou proibição
não terá prazo de 2 meses a 5 anos. Será o mesmo prazo da pena descumprida.
Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para
a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade
policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que
indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem
efeito suspensivo.
Diferentemente do artigo anterior, nesse artigo a suspensão ou proibição dirigir não é uma
medida definitiva. Trata-se de medida cautelar que possui, naturalmente, natureza
provisória e visa garantir a segurança viária.
Ressalta-se que a suspensão ou proibição do direito de dirigir não pode ser aplicada a
todos os delitos, mas somente àqueles que a cominam como pena principal.
Quem pode decretar a medida cautelar? R.: Pela letra da lei, a medida cautelar pode ser
decretada pelo juiz de ofício, a requerimento do Ministério Público ou por representação
do Delegado de Polícia. No entanto, a doutrina majoritaríssima, e agora com o respaldo
do Pacote Anticrime, sempre defendeu que o juiz não poderia decretar medida cautelar
de ofício, nem durante a investigação criminal e nem durante o processo penal.
MULTA REPARATÓRIA
Obs.: A multa reparatória não pode ser fixada para prejuízos por dano moral. O
dispositivo fala “sempre que houver prejuízo material resultante do crime”. Os danos
morais têm que ser discutidos na esfera cível.
Obs.: De acordo com o STJ, a multa reparatória e a prestação pecuniária podem ser
aplicadas conjuntamente, por possuírem naturezas distintas.
Obs.: O cálculo será feito de acordo com o sistema de aplicação da pena da multa previsto
no art. 49 do Código Penal.
Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada
na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de
360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo
do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes
esse salário.
§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção
monetária.
Prisão em flagrante e fiança
Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima,
não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral
socorro àquela.
Nos casos de acidente de trânsito no qual resulte vítima (homicídio culposo e lesão
corporal culposa), se o condutor prestar pronto e integral socorro àquela, não se imporá
prisão em flagrante e nem se exigirá fiança. No entanto, ele pode ser capturado e
conduzido à delegacia, hipótese em que o delegado de polícia poderá lavrar TCO.
Cuidado! Essa “imunidade prisional” só se aplica aos crimes CULPOSOS, de modo que,
se a autoridade policial entender que houve dolo eventual, o condutor será autuado em
flagrante, mesmo que tenha prestado pronto e integral socorro à vítima.
Atenção: aquele que não prestar socorro à vítima, responderá pelo crime de homicídio ou
lesões corporais culposas, com acréscimo de um terço até a metade da pena (arts. 302, §
1º, III, e 303, parágrafo único).
Agravantes
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito
ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano
patrimonial a terceiros;
II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do
veículo;
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de
passageiros ou de carga;
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características
que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de
velocidade prescritos nas especificações do fabricante;
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.
Inciso I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de
grave dano patrimonial a terceiros:
Não se aplica ao art. 309, CTB sob pena de configurar bis in idem.
Ratio (razão): torna mais difícil a identificação do veículo do infrator, justificando, assim,
o aumento de pena.
Com base na doutrina majoritária, não se aplica a agravante quando a falsificação for
grosseira.
O próprio fato de adulterar a placa já é crime previsto no art. 311 do Código Penal. Assim,
na hipótese de o agente praticar um crime de trânsito e restar comprovado que o próprio
condutor foi o responsável pela falsificação da placa, ele deve responder pelo crime do
CTB (sem a agravante) em concurso material com o art. 311 do Código Penal.
Não tem aplicação no caso de homicídio culposo e lesão corporal culposa, pois tal
circunstância já configura causa de aumento de pena, evitando-se assim, o bis in idem.
Não se aplica ao art. 309, CTB porque a falta de habilitação, neste caso, é elementar do
tipo.
Não se aplica a referida agravante se o indivíduo POSSUIR carteira de habilitação, mas
não a portar no momento do crime. Nesse caso, estaremos diante de uma infração
meramente administrativa.
Não tem aplicação aos crimes dos artigos 310 e 312 por serem incompatíveis com a
agravante.
Veículos que estão, por exemplo, com motor “envenenado”, possuindo componentes não
originais para aumentar a potência do motor.
Ratio: há uma natural expectativa que o condutor seja mais cauteloso ao transitar pelo da
faixa de pedestres (aplicação do princípio da confiança).
Não tem aplicação no caso de homicídio culposo e lesão corporal culposa, pois tal
circunstância já configura causa de aumento de pena, evitando-se assim, o bis in idem.
CRIMES EM ESPÉCIE
Vias terrestres
Os fatos praticados na condução de veículos motorizados não terrestres (jet-skis,
aeronaves, etc.) não rendem ensejo ao art. 302, CTB, devendo ser aplicado os dispositivos
previstos no CP.
*Atenção: os crimes de homicídio culposo e lesão corporal culposa na condução de
veículo automotor podem ocorrer independentemente do local do delito(via pública ou
privada).
Sujeitos do crime
Trata-se de crime comum, pois o legislador não exigiu nenhuma condição especial do
sujeito ativo.
• Sujeito ativo - pode ser qualquer pessoa.
• Sujeito passivo - é a coletividade, bem como a vítima do homicídio.
*Atenção: O homicídio culposo ocorre quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, CP), não bastando que o agente esteja
na direção de veículo automotor.
INF. 553 do STJ - Denúncia no caso de homicídio culposo deve apontar qual foi a conduta
negligente, imprudente ou imperita que ocasionou a morte da vítima. É inepta a denúncia
que imputa a prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 da
Lei 9.503/1997) sem descrever, de forma clara e precisa, a conduta negligente, imperita
ou imprudente que teria gerado o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção
de que o suposto autor estava na direção do veículo no momento do acidente.
Perdão Judicial
Trata-se de causa extintiva da punibilidade somente cabível nos casos expressos em lei.
Obs.: Não pode ser aplicado o perdão judicial em qualquer situação (art. 107, IX, CP). O
perdão judicial somente é cabível nos casos expressos em lei.
É possível aplicar o perdão judicial ao crime de homicídio culposo, devendo analisar, no
caso concreto, a gravidade, condições pessoais e extensão das consequências do crime.
Para concessão do perdão judicial com base nas consequências psicológicas exige-se
um vínculo prévio entre o autor e a vítima
Para aplicação do perdão judicial baseado no sofrimento psicológico do agente, o STJ
tem exigido a existência de um vínculo, de um laço prévio de conhecimento entre os
envolvidos, para que seja "tão grave" a consequência do crime ao agente. Assim, a
interpretação dada, na maior parte das vezes, é no sentido de que só sofre intensamente o
réu que, de forma culposa, matou alguém conhecido e com quem mantinha laços afetivos.
Entender pela desnecessidade do vínculo seria abrir uma fenda na lei, que reputo não
haver desejado o legislador, pois, além de difícil aferição – o tão grave sofrimento –,
serviria como argumento de defesa para todo e qualquer caso de delito com vítima fatal.
STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 604.337/RJ, Rel. Min. Ericson Maranho (Des.
Conv. do TJ/SP), julgado em 28/04/2015.
Nesse caso, o infrator não irá responder pelo homicídio culposo + o crime de falta de
habilitação (art. 309). Responderá pelo homicídio culposo com a pena aumentada pela
falta de habilitação ou permissão para condução de veículo.Isso quer dizer que, se ocorre
homicídio, o crime de falta de habilitação deixa de ser crime autônomo e passa a ser causa
de aumento de pena.
O fato de o condutor estar com a CNH vencida não se enquadra na causa de aumento do
inciso I do § 1º do art. 302 do CTB
Não entram na causa de aumento de pena: não estar portando a CNH ou possuir CNH de
categoria diversa da categoria do veículo.
Inciso II: Se o agente praticar o delito em faixa de pedestres ou calçada:
A causa de aumento prevista no art. 302, § 1º, II, do Código de Trânsito Brasileiro não
exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que o ilícito ocorra nesse
local.
A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando o agente estiver
conduzindo o seu veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo
a adentrar na calçada e atingir a vítima, como quando estiver saindo de uma garagem ou
efetuando qualquer manobra e, em razão de sua desatenção, acabar por atingir e matar o
pedestre. Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na hipótese em que o
condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle
do carro, subindo na calçada e atropelando a vítima. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no
REsp 1499912-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/03/2020 (Info 668).
Inciso III: Se o agente deixar de prestar socorro quando possível fazê-lo, sem risco
pessoal, à vítima do acidente.
Prevalece ser inadmissível o aumento de pena quando a vítima tem morte instantânea,
pois o cadáver não presta como sujeito passivo de tal conduta. No entanto, situação
diversa é a que o sujeito ativo conclui pela inutilidade da prestação de socorro em razão
da gravidade dos ferimentos suportados pela vítima, hipótese em que incidirá a causa de
aumento de pena.
Art. 302, §1º, III – MAJORANTE POR ART. 304 – CRIME AUTÔNOMO
NÃO PRESTAR SOCORRO POR NÃO PRESTAR SOCORRO
Aplica-se àquele que deu causa ao Aplica-se àquele que, envolvido em
homicídio culposo. Ou seja, àquele que acidente de trânsito por culpa de outrem,
agiu com culpa não socorre a vítima.
OBS.: O juiz, na análise dos motivos do crime (art. 59 do CP), pode fixar a pena-base
acima do mínimo legal em razão de o autor ter praticado delito de homicídio e de lesões
corporais culposos na direção de veículo automotor, conduzindo-o com imprudência a
fim de levar droga a uma festa.
Figura qualificada do homicídio culposo
§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer
outra substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de
2017) (Vigência)
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Incluído pela Lei nº 13.546,
de 2017) (Vigência)
§ 1º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do
§ 1º do art. 302.
§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade
psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa
que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima.
Aqui aplicam-se as mesmas considerações acerca do crime de homicídio culposo na
direção de veículo automotor, inclusive as causas de aumento de pena. No entanto, aqui
temos um detalhe:
R.: NÃO! Segundo entendimento do STJ, o agente responderá pelo crime de lesão
corporal majorada (art. 302, §1º, I), de modo que o crime do art. 303 irá absorver o crime
do art. 309 do CTB, aplicando-se o princípio na consunção.
R.: NÃO! O STF e o STJ, de forma pacífica, entendem que não. Se a vítima não oferecer
a representação, o infrator não pode ser processado pelo crime autônomo de falta de
habilitação ou permissão para dirigir. Justifica-se esse entendimento porque quando
ocorre a lesão, o crime de falta de habilitação perde sua autonomia e passa a ser causa de
aumento de pena do crime de lesão corporal culposa, ou seja, passa a ser acessório que
segue o principal.
Crime de dirigir sem habilitação é absorvido pela lesão corporal culposa na direção
de veículo
Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu
veículo de forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém,
ele responderá pelo crime do art. 303, § 1º, do CTB, ficando o delito do art. 309 do
CTB absorvido por força do princípio da consunção. O delito de dirigir veículo sem
habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por outro lado, a lesão corporal
culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à representação. Imagine
que a vítima não exerça seu direito de representação no prazo legal.
Diante disso, o Ministério Público poderá denunciar o agente pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 já foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa
na direção de veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública
condicionada à representação. Como a representação não foi formalizada pela vítima,
houve extinção da punibilidade, que abrange tanto a lesão corporal como a conduta de
dirigir sem habilitação. STF. 2ª Turma. HC 128921/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Obs.: O crime de dirigir sem habilitação restará absorvido pelo crime de lesão corporal
culposa. No entanto, o mesmo não acontece com o crime de embriaguez ao volante,
hipótese em que restará configurado o concurso de crimes!
Crime de lesão corporal na direção de veículo não permite absorção do delito de
embriaguez ao volante.
Não é possível reconhecer a consunção do delito previsto no art. 306, do CTB
(embriaguez ao volante) pelo crime do art. 303 (lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor). Isso porque um não é meio para a execução do outro, sendo infrações
penais autônomas que tutelam bens jurídicos distintos. Caso concreto: motorista conduzia
seu veículo em estado de embriaguez quando atropelou um pedestre. Após a colisão,
policiais militares submeteram o condutor ao teste de bafômetro, que atestou a ingestão
de álcool. STJ. 5ª Turma. REsp 1629107/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
20/03/2018. STJ.6ª Turma. AgRg no HC 442.850/MS, Rel. Laurita Vaz, julgado em
25/09/2018. Fonte: Dizer o direito.
Ora, se o STJ admite a aplicação do concurso de crimes, em qual hipótese será aplicada
a qualificadora constante do §2º? Nesse caso, deve-se analisar a natureza das lesões
sofridas:
• Motorista sob o efeito de álcool provoca lesão corporal leve – concurso de crimes
entre o art. 303 caput + art. 306.
• Motorista sob o efeito de álcool provoca lesão corporal grave ou gravíssima –
responde apenas pela qualificadora (art. 303, §2º). Não haverá concurso de
crimes!
Obs.: A qualificadora do crime de lesão corporal culposa, prevista no §2º, somente foi
inserida em 2017. Por se tratar de uma novatio legis in pejus, não irá retroagir para os
crimes praticados antes da data que entrou em vigor!
Ocorre que, no homicídio culposo e na lesão culposa de trânsito (únicos crimes nos quais
há acidente de trânsito), a omissão de socorro do condutor já é causa de aumento de pena.
Assim sendo, o condutor não pode responder por homicídio culposo ou lesão culposa com
a pena aumentada pela omissão em concurso com o delito autônomo de omissão de
socorro do art. 304, sob pena de ser configurado bis in idem.
Diante disso, podemos concluir que, nos casos de acidente de trânsito, havendo omissão
de socorro, haverá três situações distintas:
(1) Condutor envolvido no acidente, culpado, que omitiu socorro: responderá por
homicídio ou lesão culposa com a pena aumentada pela omissão.
(2) Condutor envolvido em acidente, não culpado, que omitiu socorro: responde pelo
delito do art. 304, CTB.
(3) Condutor não envolvido no acidente, que omitiu socorro, bem como pedestres, que
omitiram socorro: respondem pelo delito de omissão de socorro do Código Penal. Isso
porque se o agente não está envolvido no acidente não se poder aplicar a ele o CTB.
O condutor envolvido no acidente não culpado responde pelo delito ainda que (§único):
• Sua omissão seja suprida por terceiros: Atente-se que, se os terceiros se adiantaram ao
socorro não houve omissão do condutor que não irá, pois, responder pela omissão de
socorro.
• A vítima tenha morte instantânea: O legislador criou uma hipótese de crime impossível
por absoluta impropriedade do objeto. Se a vítima teve morte instantânea não há como
prestar socorro. Cadáver não pode ser vítima de omissão de socorro, assim como não
pode ser vítima de homicídio. Obs.: o óbito precisa ser evidente, como, por exemplo, em
uma decapitação. A mera suposição do agente de que a vítima está morta não afasta a
responsabilização criminal.
• Os ferimentos sejam leves: Atente-se que somente haverá o crime se for um ferimento
leve que reclame socorro. Caso o ferimento leve não reclame socorro, como, por exemplo,
um mero arranhão, não implicará a prática do delito.
• Fuga do art. 121, §4º, CP – a fuga para a evitar a prisão, nesse caso, tem natureza jurídica
de causa de aumento de pena
• Fuga do art. 305, CTB – a fuga do local do acidente é crime autônomo
O delito em questão exige um especial fim de agir: a fuga do local deve ter a finalidade
de evitar a responsabilidade penal ou civil que lhe pode ser atribuída. Tanto que o
bem jurídico tutelado por esse dispositivo é a Administração da Justiça. Explica o
professor Renato Brasileiro (2020):
O tipo penal do art. 305 do CTB tem como bem jurídico tutelado a administração da
Justiça, pois essa atitude pode vir a causar certos prejuízos à correta identificação do
condutor do veículo, assim como à apuração de sua responsabilidade penal ou civil. De
mais a mais, em casos de acidentes com vítimas, a permanência do condutor do veículo
no local também funciona como um importante fator de solidariedade a incrementar,
ainda que indiretamente, a proteção à vida e à integridade física da vítima.
Nesse sentido:
• Se o agente fugir sem o conhecimento da ocorrência de lesões/morte/danos – não haverá
crime
• Se o agente fugir para evitar linchamento – pode configurar causa excludente de ilicitude
(a depender do caso concreto)
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Redação conferida pela Lei nº 12.760, de 2012, atualmente em vigor, determina a conduta
típica como conduzir veículo automotor com a capacidade automotora alterada pela
influência do álcool ou substância de efeitos análogos. Note que a quantidade de álcool
no sangue não é mais elementar do crime, mas apenas um dos meios de prova, não
excluindo outros.
Assim, o bafômetro deixou de ser um dos exames periciais imprescindíveis para a
condenação e se tornou um MEIO DE PROVA RELATIVO, que evidencia apenas
indício de embriaguez e que precisa ser cotejado com os demais elementos probatórios
colacionados.
Nesse sentido, basta provar que o agente ingeriu álcool e que isso está
comprometendo sua capacidade psicomotora de dirigir. Com isso o crime pode ser
comprovado por qualquer meio de prova admitido em direito, como expressamente
consta do §2º.
Em resumo:
⦁ 6 decigramas de álcool por litro de sangue
⦁ 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar
⦁ Perícia, vídeo, exame, prova testemunhal
Obs.: A recusa em soprar o bafômetro não configura crime de desobediência e não pode
ser interpretada em desfavor do condutor em âmbito criminal. Ou seja: não se pode
presumir a embriaguez daquele que se recusa a fazer o teste. No entanto, a recusa
configura infração administrativa, que permite a aplicação de penalidades administrativas
do art. 165-A, CTB.
Observações importantes:
∘ Conforme a jurisprudência do STJ e STF, o tipo penal NÃO exige perigo de dano
(perigo concreto), ou seja, trata-se de crime de perigo abstrato,
∘ A atual redação do artigo 306 silenciou sobre a necessidade de o crime ser cometido em
via pública, surgindo entendimento de que haverá crime também quando praticado em
via privada.
∘ O crime de embriaguez ao volante admite flagrante e admite fiança pelo delegado!!!
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de
idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo
estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
Se o condenado descumprir a pena suspensão ou permissão para dirigir (dirigir durante o
período de suspensão ou proibição), comete o crime do art. 307, caput, do CTB (crime de
violação de suspensão ou proibição).
A pena para esse crime é de detenção e nova suspensão ou proibição PELO MESMO
PRAZO DA SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO ANTERIOR QUE FOI
DESCUMPRIDA. Sendo assim, esse é o único crime em que a suspensão ou proibição
não terá prazo de 2 meses a 5 anos, pois terá o mesmo prazo da pena descumprida.
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa
ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em
manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando
situação de risco à incolumidade pública ou privada:
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza grave, e
as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco
de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem
prejuízo das outras penas previstas neste artigo.
§ 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias
demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a
pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo.
• A pena máxima cominada (detenção de 6 meses a 3 anos) foi inserida pela Lei
12.971/2014, de modo que só vale para os crimes praticados a partir do dia 1º de
novembro de 2014, por se tratar de reformatio legis in pejus (antes de 2014, o crime era
considerado de menor potencial ofensivo)
• Não admite transação penal, mas admite a suspensão condicional do processo
• Trata-se de crime doloso (abrangendo dolo direto ou eventual). Lembrando que, aos
crimes dolosos, aplica-se o efeito secundário específico da condenação previsto no art.
92, III, CP)
• Trata-se de crime DE PERIGO CONCRETO
Obs.: Antes de o CTB entrar em vigor, dirigir sem habilitação era contravenção penal,
não exigindo perigo de dano. O CTB, por sua vez exige o perigo de dano, para a
caracterização do tipo. Apesar de haver entendimento doutrinário no sentido de ambas as
normas coexistiriam, diferenciando-se apenas pela caracterização ou não do perigo de
dano, o STF sumulou entendimento no sentido de que o CTB revogou a contravenção
penal:
Súmula 720/STF - “o art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do
fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à
direção sem habilitação em vias terrestres”.
Obs.: permanece em vigor o art. 32, LCP ao se referir à conduta de embarcação em águas
públicas, uma vez que o CTB apenas se aplica às vias terrestres.
Assim, aquele que dirige sem habilitação sem gerar perigo não comete o crime do art.
309, CTB, nem mesmo caracteriza contravenção penal, mas apenas mera infração
administrativa. Em resumo:
∘ Dirigir sem habilitação e sem gerar perigo de dano – É mera infração administrativa.
Não é nem crime nem contravenção penal.
∘ Dirigir sem habilitação, gerando perigo de dano – É crime do art. 309 do CTB.
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não
habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a
quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em
condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Crime de perigo abstrato: o perigo está absolutamente presumido em lei, de modo que,
segundo o STJ, o crime em questão dispensa a ocorrência de lesão ou de perigo de dano
concreto.
Cuidado para não confundir o art. 347 do código penal com o art. 312 do CTB:
Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas situações
em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva
de direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou a entidades
públicas, em uma das seguintes atividades: (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
(Vigência)
I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros e em
outras unidades móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito; (Incluído
pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
II - trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que recebem
vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
(Vigência)
III - trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de acidentados de
trânsito; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
IV - outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de vítimas de
acidentes de trânsito. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
Art. 312-B. Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art. 303 deste Código
não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal).”
Os termos imperativos usados pelo art. 312- A - deverá ser - não deixam dúvidas no
sentido de que não se trata de opção conferida ao juiz, mas sim de verdadeira obrigação
de fixar a pena restritiva de direitos de prestação de serviços à comunidade, a ser
executada por meio de uma das atividades ali elencadas.
Atenção especial deve ser dispensada ao art. 312-B, inserido pela Lei 14.071/2020.
Trata-se de novatio legis in pejus. Isso porque o art. 312-B passou a vedar a aplicação das
penas restritivas de direitos aos crimes de homicídio qualificado lesão corporal culposa,
ambos qualificados pela embriaguez, motivo pelo qual se submete à irretroatividade da
lei penal mais grave.
Note algumas considerações importantes que podem ser objeto de prova objetiva:
• A Lei 14.071/2020 NÃO PASSOU A VEDAR AS PENAS RESTRITIVAS DE
DIREITOS A TODOS OS CRIMES DE TRÂNSITO, mas somente ao homicídio culposo
qualificado pela embriaguez e a lesão corporal culposa qualificada pela embriaguez.
• Cuidado para não confundir as hipóteses de lesão corporal!!! Isso porque a vedação à
substituição da PPL por PRD abarca apenas a hipótese em que o agente, mediante
influência de álcool, provoca lesão corporal culposa grave ou gravíssima na vítima. Na
hipótese de o agente, estando sob influência de álcool, provocar lesões leves, haverá
concurso de crimes entre o art. 303, caput e o art. 306:
Crime de lesão corporal leve na direção de veículo não permite absorção do delito
de embriaguez ao volante
Não é possível reconhecer a consunção do delito previsto no art. 306, do CTB
(embriaguez ao volante) pelo crime do art. 303 (lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor). Isso porque um não é meio para a execução do outro, sendo infrações
penais autônomas que tutelam bens jurídicos distintos. Caso concreto: motorista conduzia
seu veículo em estado de embriaguez quando atropelou um pedestre, causando-lhe lesões
corporais leves. Após a colisão, policiais militares submeteram o condutor ao teste de
bafômetro, que atestou a ingestão de álcool. STJ. 5ª Turma. REsp 1629107/DF, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 20/03/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 442.850/MS, Rel.
Laurita Vaz, julgado em 25/09/2018.
Obs.: Este dispositivo pode vir a ser declarado inconstitucional pelo STF, por vedar, de
forma abstrata, a substituição da PPL pela PRD. Devemos ficar atentos às decisões
jurisprudenciais e doutrinárias sobre o tema!
2) O fato de a infração ao art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB ter sido
praticada por motorista profissional não conduz à substituição da pena acessória de
suspensão do direito de dirigir por outra reprimenda, pois é justamente de tal categoria
que se espera maior cuidado e responsabilidade no trânsito.
8) O indivíduo não pode ser compelido a colaborar com os referidos testes do 'bafômetro'
ou do exame de sangue, em respeito ao princípio segundo o qual ninguém é obrigado a
se autoincriminar (nemo tenetur se detegere). (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do
CPC/1973 - TEMA 446)
10) Com o advento da Lei n. 12.760/2012, que modificou o art. 306 do CTB, foi
reconhecido ser dispensável a submissão do acusado a exames de alcoolemia, admite-se
a comprovação da embriaguez do condutor de veículo automotor por vídeo, testemunhos
ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.
12) A desobediência a ordem de parada dada pela autoridade de trânsito ou por seus
agentes, ou por policiais ou outros agentes públicos no exercício de atividades
relacionadas ao trânsito, não constitui crime de desobediência, pois há previsão de sanção
administrativa específica no art. 195 do CTB, o qual não estabelece a possibilidade de
cumulação de punição penal.
Outras jurisprudências:
1) É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga do local do acidente (art.
305 do CTB)
A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é
constitucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao
silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade. STF.
Plenário. RE 971959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018.
2) A causa de aumento prevista no art. 302, § 1º, II, do Código de Trânsito Brasileiro
não exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que o ilícito
ocorra nesse local
O aumento previsto no art. 302, parágrafo único, II, do Código de Trânsito Brasileiro será
aplicado tanto quando o agente estiver conduzindo o seu veículo pela via pública e perder
o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a vítima, como
quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de
sua desatenção, acabar por colher o pedestre (Capez, Fernando. Curso de direito penal,
volume 2. parte especial: arts. 121 a 212. 18ª ed. atual., São Paulo: Saraiva Educação,
2018). (AgRg nos EDcl no REsp 1499912/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2020, DJe 23/03/2020).
3) Não se aplica o arrependimento posterior em homicídio culposo na direção de
veículo.
Esta Corte possui firme entendimento de que, para que seja possível aplicar a causa de
diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal, faz-se necessário que o crime
praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. Precedentes. 2. Inviável o
reconhecimento do arrependimento posterior na hipótese de homicídio culposo na direção
de veículo automotor, uma vez que o delito do art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro
não pode ser encarado como crime patrimonial ou de efeito patrimonial. Na espécie, a
tutela penal abrange o bem jurídico mais importante do ordenamento jurídico, a vida, que,
uma vez ceifada, jamais poderá ser restituída, reparada. Precedente. 3. Em sede de habeas
corpus vigora a proibição da reformatio in pejus, princípio imanente ao processo penal
(HC 126869/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, 23.6.2015 - Informativo 791 do STF). 4. Agravo
regimental improvido. (STJ; AgRg-HC 510.052; Proc. 2019/0136931-4; RJ; Sexta
Turma; Rel. Min. Nefi Cordeiro; Julg. 17/12/2019; DJE 04/02/2020).