Apostila de Crimes de Trânsito

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Crimes no CTB

Bem Jurídico = comum a todos os crimes de trânsito = proteção à segurança viária. No


entanto, há bens jurídicos que são secundariamente tutelados, a depender do dispositivo.
VEÍCULO AUTOMOTOR = É todo veículo que funciona através de um motor de
propulsão e que circule por seus próprios meios, servindo para o transporte viário
(terrestre) de pessoas e coisas, incluindo os veículos elétricos que não circulam sobre
trilhos (ônibus elétrico).
Não entram no conceito de veículo automotor:

Veículo de propulsão/tração humana. Ex. bicicleta.

Veículo de propulsão/tração animal. Ex. charrete

Veículo automotor aquático. Ex. lancha

Veículo aéreo. Ex. avião

Procedimento dos crimes do CTB = Aplicação subsidiária, aos crimes cometidos na


direção de veículo automotor, das normas gerais do Código Penal e do Código de
Processo Penal.
As normas da Lei n. 9.099/95 só terão aplicação aos crimes de trânsito que se ajustem ao
conceito de infração de menor potencial ofensivo regulamentados por referida Lei
(aqueles cuja pena máxima não excede dois anos): omissão de socorro (art. 304), fuga do
local do acidente (art. 305), violação da suspensão ou omissão da entrega da habilitação
(art. 307), direção sem habilitação (art. 309), entrega de veículo a pessoa não habilitada
(art. 310), excesso de velocidade em determinados locais (art. 311) e fraude no
procedimento apuratório (art. 312).

Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74
(composição civil), 76 (transação penal) e 88 (necessidade de representação do ofendido
no caso de lesões corporais) da Lei no 9.099/95:

Fixando = Ao crime de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, que tem
pena máxima de 2 anos, aplica-se:
• Composição civil;
• Transação penal;
• Ação penal pública condicionada à representação.

Não aplica os institutos acima previstos:

1) Agente sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que


determine dependência;
2) Agente participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente;

3) Agente transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h


(cinquenta quilômetros por hora).

Nas hipóteses previstas nos itens 1, 2 e 3, deverá ser instaurado inquérito policial para a
investigação da infração penal.

Atenção =
• Composição civil;
• Transação penal;
• Ação penal pública condicionada à representação.

Também não se aplica os institutos acima previstos aos crimes de trânsito de lesão
corporal culposa:

Se houver alguma causa de aumento (porque 2 anos, mais a causa de aumento de 1/3
até a metade, faz com que deixe de ser de menor potencial ofensivo).

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:


§ 1o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das
hipóteses do § 1o do art. 302

Art. 302. § 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é


aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;


II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte
de passageiros.

Fixação da pena nos crimes de trânsito = O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes
previstas no art. 59 do Código Penal, dando especial atenção à culpabilidade do agente e
às circunstâncias e consequências do crime.
CP: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime.

Atenção = Homicídio culposo de trânsito: Não é infração de menor potencial


ofensivo e não se aplica nenhum dos institutos previstos na Lei 9.099/95, nem mesmo
a suspensão condicional do processo (pois tem pena mínima superior a 1 ano).
Atenção = Embriaguez no volante: Não é de menor potencial ofensivo, mas cabe
Sursis, pois prevê pena mínima de 6 meses de detenção.

Atenção = Racha: detenção de 6 meses a 3 anos. Não é de menor potencial ofensivo,


mas cabe Sursis, pois prevê pena mínima de 6 meses de detenção.

Suspensão ou proibição da permissão para dirigir veículo- art. 292


Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades.

Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a


habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar à
autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de
condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.

Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para
a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade
policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que
indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem
efeito suspensivo.

Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a


permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao
Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o
indiciado ou réu for domiciliado ou residente.

Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará
a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor,
sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.705, de
2008)

Para fixar:
a. Permissão: ao candidato aprovado nos exames de habilitação será conferida Permissão
para dirigir, com validade de um ano (art. 148, §2º).
b. Habilitação: A CNH será conferida ao condutor no término de um ano, desde que o
mesmo não tenha cometido nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja
reincidente em infração média (art. 148, §3º).
c. Autorização: é a autorização para conduzir veículos de propulsão humana e de tração
animal, e cuja expedição fica a cargo dos municípios (art. 141, §1 º).
d. Suspensão: pressupõe permissão ou CNH já concedida.
e. Proibição: aplica-se a quem ainda não obteve a permissão ou a CNH.

No CTB, a suspensão e a proibição do direito de dirigir pode ser pena (aplicável na


sentença condenatória) ou medida cautelar diversa da prisão. Vamos estudá-la primeiro
como pena, depois como medida cautelar:
Proibição Do Direito De Dirigir Como Pena
∘ Pode ser aplicada isolada ou cumulativamente
∘ Em regra, a suspensão da CNH não se aplica a todos os crimes, mas somente aos que
preveem expressamente a suspensão como pena (devendo aplicá-la isolada ou
cumulativamente), quais sejam:
⦁ Art. 302 – homicídio culposo
⦁ Art. 303 – lesão corporal culposa
⦁ Art. 306 – embriaguez ao volante
⦁ Art. 307 – violação à suspensão se dirigir
⦁ Art. 308 – crime de racha

Exceção: Em caso de reincidência específica em crimes de trânsito, o juiz deve


necessariamente aplicar a pena privativa de liberdade cominada com a suspensão para
dirigir, ainda que inexista previsão específica no tipo penal incriminador!!!

ARTS. 302, 303, 306, 307 E 308 DEMAIS CRIMES (304, 305 E 309 A 312)
A pena de suspensão ou proibição vai ser É aplicada somente ao condenado reincidente
aplicada a qualquer condenado que os específico em crime previsto no CTB.
cometer.

Prazo para a suspensão da CNH: 2 meses a 5 anos


⦁ O período da suspensão deve ser fundamentado de acordo com as peculiaridades do
caso concreto + gravidade do delito + grau de censura do agente, de modo que o juiz não
fica adstrito às circunstâncias judiciais do art. 59, CP. (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1771437/CE, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/06/2019)

O STF e o STJ já consolidaram o entendimento de que a pena de suspensão ou proibição


do direito de dirigir deve ter proporcionalidade com a pena de prisão aplicada. Exemplo:
se a pena de prisão foi aplicada no mínimo, a pena de suspensão do direito de dirigir não
pode ser aplicada no máximo.
⦁ Esse prazo não corre durante o período em que o réu estiver cumprindo pena privativa
de liberdade.
O STF admite a aplicação da pena de suspensão da habilitação para motorista
profissional.
O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, tipificado no art. 302 do
CTB, prevê, como uma das penas aplicadas, a “suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.” Se o réu que praticou este
crime é motorista profissional, ele pode, mesmo assim, receber essa sanção ou isso
violaria o direito constitucional ao trabalho? Não viola. O condenado pode sim receber
essa sanção, ainda que se trate de motorista profissional. É constitucional a imposição da
pena de suspensão de habilitação para dirigir veículo automotor ao motorista profissional
condenado por homicídio culposo no trânsito. O direito ao exercício de atividades
profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição imposta pelo legislador se mostra
razoável. STF. Plenário. RE 607107/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
12/2/2020 (repercussão geral – Tema 486) (Info 966).

Cuidado, ainda, para não confundir a suspensão ou proibição de obter habilitação com a
cassação da habilitação, prevista no art. 263 do CTB.
(a) Cassação da habilitação:
∘ Possui natureza administrativa
∘ Se o indivíduo descumprir a medida e dirigir mesmo estando com a habilitação cassada,
incorrerá no delito do art. 309 do CTB.
∘ Aplica-se aos casos de:

I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;


II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso III
do art. 162 e nos arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175;
III - quando condenado judicialmente por delito de trânsito, observado o disposto no art.
160.

ATENÇÃO: NOVIDADE LEGISLATIVA:


Foi publicada a lei 13.804, que dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao
contrabando, ao descaminho, e à receptação; altera as Leis nos 9.503, de 23 de
setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), e 6.437, de 20 de agosto de 1977.
Art. 278-A. O condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de
receptação, descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), condenado por um
desses crimes em decisão judicial transitada em julgado, terá cassado seu documento
de habilitação ou será proibido de obter a habilitação para dirigir veículo automotor
pelo prazo de 5 (cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 13.804, de 2019)
§ 1º O condutor condenado poderá requerer sua reabilitação, submetendo-se a todos
os exames necessários à habilitação, na forma deste Código. (Incluído pela Lei nº
13.804, de 2019)
§ 2º No caso do condutor preso em flagrante na prática dos crimes de que trata o
caput deste artigo, poderá o juiz, em qualquer fase da investigação ou da ação penal,
se houver necessidade para a garantia da ordem pública, como medida cautelar, de
ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da
autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da
habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. (Incluído
pela Lei nº 13.804, de 2019)
Suspensão do direito de dirigir como pena:
∘ Possui natureza jurídica de pena (art. 292)
∘ O descumprimento da pena imposta acarretará o crime do art. 307 do CTB **
∘ Aplicável aos crimes que preveem expressamente como pena:
⦁ Art. 302 – homicídio culposo
⦁ Art. 303 – lesão corporal culposa
⦁ Art. 306 – embriaguez ao volante
⦁ Art. 307 – violação à suspensão se dirigir
⦁ Art. 308 – crime de racha

CUIDADO!
A pena para o crime do art. 307 é de detenção e nova suspensão ou proibição PELO
MESMO PRAZO DA SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO ANTERIOR QUE FOI
DESCUMPRIDA. Sendo assim, esse é o único crime em que a suspensão ou proibição
não terá prazo de 2 meses a 5 anos. Será o mesmo prazo da pena descumprida.

PENA DE SUSPENSÃO OU SUSPENSÃO DO DIREITO SUSPENSÃO DO


PROIBIÇÃO DE DIRIGIR DE DIRIGIR COMO DIREITO DE DIRIGIR
(PENA PRINCIPAL) EFEITO DA COMO PENA
CONDENAÇÃO RESTRITIVA DE
ESPECÍFICO DIREITOS (ART. 47, III,
(ART. 92, III, CP) CP)
Pena principal Efeito extrapenal/secundário da Pena alternativa (aplicada
condenação em substituição à PPL)
Aplicável apenas a alguns Aplicável apenas aos crimes Aplicável a qualquer delito
crimes do CTB (dolosos ou DOLOSOS em que o veículo que preencha os requisitos
culposos) seja utilizado como do art. 44, CP **
instrumento do crime ** Obs.1:se o indivíduo for
condenado por crime de
trânsito e estiverem
presentes os requisitos para
substituir a PPL por PRD
(art. 44), é vedada a
aplicação da pena restritiva
de direito constante do art.
47, III, CP
**Obs.2: Não esquecer da
aplicação do art. 312-A e
312-B, CTB (este último
inserido em 2020).
Prazo: 2 meses a 5 anos após o Somente pode voltar a dirigir após a reabilitação criminal (que
cumprimento da pena pode ser requerida 2 anos após a extinção da pena)
Obs.: Fiscalização pelo órgão de trânsito: Art. 295. A suspensão para dirigir veículo
automotor ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre
comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito -CONTRAN, e
ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.

Suspensão/Proibição Do Direito De Dirigir Como Medida Cautelar

Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para
a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade
policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que
indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem
efeito suspensivo.

Diferentemente do artigo anterior, nesse artigo a suspensão ou proibição dirigir não é uma
medida definitiva. Trata-se de medida cautelar que possui, naturalmente, natureza
provisória e visa garantir a segurança viária.

Deve ser obedecer aos pressupostos:


do fumus comissi delicti (prova da materialidade e indícios de autoria)
+ periculum libertatis
+ garantia da ordem pública (consubstanciado, aqui, na garantia da segurança viária).

Deve, ainda, ser regida pelos princípios da necessidade e da excepcionalidade, podendo


ser revogada a qualquer tempo caso desapareçam os motivos que levaram o Juiz a decretá-
la.

Ressalta-se que a suspensão ou proibição do direito de dirigir não pode ser aplicada a
todos os delitos, mas somente àqueles que a cominam como pena principal.

Quem pode decretar a medida cautelar? R.: Pela letra da lei, a medida cautelar pode ser
decretada pelo juiz de ofício, a requerimento do Ministério Público ou por representação
do Delegado de Polícia. No entanto, a doutrina majoritaríssima, e agora com o respaldo
do Pacote Anticrime, sempre defendeu que o juiz não poderia decretar medida cautelar
de ofício, nem durante a investigação criminal e nem durante o processo penal.

MULTA REPARATÓRIA

Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito


judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto
no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do
crime.
Prevalece na doutrina (amplamente majoritária) que a multa reparatória possui natureza
civil, por 4 motivos principais:
i. O critério para se calcular a multa reparatória é prejuízo material resultante do crime,
critério que não se aplica às penas criminais;
ii. Destina-se à vítima ou seus sucessores e não ao Estado;
iii. Não pode ser superior ao prejuízo material da vítima;

iv. O valor da multa reparatória é descontado de eventual condenação civil de


indenização.

Obs.: A multa reparatória não pode ser fixada para prejuízos por dano moral. O
dispositivo fala “sempre que houver prejuízo material resultante do crime”. Os danos
morais têm que ser discutidos na esfera cível.

Obs.: De acordo com o STJ, a multa reparatória e a prestação pecuniária podem ser
aplicadas conjuntamente, por possuírem naturezas distintas.

Obs.: O cálculo será feito de acordo com o sistema de aplicação da pena da multa previsto
no art. 49 do Código Penal.
Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada
na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de
360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo
do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes
esse salário.
§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção
monetária.
Prisão em flagrante e fiança

Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima,
não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral
socorro àquela.
Nos casos de acidente de trânsito no qual resulte vítima (homicídio culposo e lesão
corporal culposa), se o condutor prestar pronto e integral socorro àquela, não se imporá
prisão em flagrante e nem se exigirá fiança. No entanto, ele pode ser capturado e
conduzido à delegacia, hipótese em que o delegado de polícia poderá lavrar TCO.
Cuidado! Essa “imunidade prisional” só se aplica aos crimes CULPOSOS, de modo que,
se a autoridade policial entender que houve dolo eventual, o condutor será autuado em
flagrante, mesmo que tenha prestado pronto e integral socorro à vítima.
Atenção: aquele que não prestar socorro à vítima, responderá pelo crime de homicídio ou
lesões corporais culposas, com acréscimo de um terço até a metade da pena (arts. 302, §
1º, III, e 303, parágrafo único).

Agravantes

Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito
ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano
patrimonial a terceiros;
II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do
veículo;
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de
passageiros ou de carga;
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características
que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de
velocidade prescritos nas especificações do fabricante;
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.

Inciso I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de
grave dano patrimonial a terceiros:

Dano potencial exige a probabilidade de dano concreto;

Não se aplica ao art. 309, CTB sob pena de configurar bis in idem.

Inciso II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas:

Ratio (razão): torna mais difícil a identificação do veículo do infrator, justificando, assim,
o aumento de pena.

Com base na doutrina majoritária, não se aplica a agravante quando a falsificação for
grosseira.

O próprio fato de adulterar a placa já é crime previsto no art. 311 do Código Penal. Assim,
na hipótese de o agente praticar um crime de trânsito e restar comprovado que o próprio
condutor foi o responsável pela falsificação da placa, ele deve responder pelo crime do
CTB (sem a agravante) em concurso material com o art. 311 do Código Penal.

Inciso III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação:

Não tem aplicação no caso de homicídio culposo e lesão corporal culposa, pois tal
circunstância já configura causa de aumento de pena, evitando-se assim, o bis in idem.
Não se aplica ao art. 309, CTB porque a falta de habilitação, neste caso, é elementar do
tipo.
Não se aplica a referida agravante se o indivíduo POSSUIR carteira de habilitação, mas
não a portar no momento do crime. Nesse caso, estaremos diante de uma infração
meramente administrativa.

Inciso IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria


diferente da do veículo;

Inciso V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o


transporte de passageiros ou de carga;
Não tem aplicação no caso de homicídio culposo e lesão corporal culposa, pois tal
circunstância já configura causa de aumento de pena, evitando-se assim, o bis in idem.

Não tem aplicação aos crimes dos artigos 310 e 312 por serem incompatíveis com a
agravante.

Inciso VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou


características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com
os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;
Trata-se de norma penal em branco, sendo necessário complementar esta agravante com
as Resoluções do CONTRAN acerca dos equipamentos e condições de segurança do
veículo;

Veículos que estão, por exemplo, com motor “envenenado”, possuindo componentes não
originais para aumentar a potência do motor.

Inciso VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a


pedestres:

Ratio: há uma natural expectativa que o condutor seja mais cauteloso ao transitar pelo da
faixa de pedestres (aplicação do princípio da confiança).

⦁ Faixa de trânsito permanente - é aquela especialmente destinada aos pedestres, pintada


na cor branca no solo, na forma imposta na alínea c, do item 2.2.2. do anexo II do CTB;
⦁ Faixa de trânsito temporária - é aquela utilizada “em situações especiais e temporárias
como obras e situações de emergências ou perigo, com o objetivo de (...) proteger
pedestres, trabalhadores, etc.”, nos temos do item 3.6 do anexo II do CTB.

Não tem aplicação no caso de homicídio culposo e lesão corporal culposa, pois tal
circunstância já configura causa de aumento de pena, evitando-se assim, o bis in idem.

AGRAVANTES MAJORANTES DO HOMICÍDIO E


LESÃO
Dano potencial para 2 ou mais pessoas -
Grande risco de grave dano patrimonial a -
terceiros;
Utilizando o veículo sem placas, com placas -
falsas ou adulteradas
Sem possuir Permissão para Dirigir ou Sem possuir Permissão para Dirigir ou
Carteira de Habilitação Carteira de Habilitação
Permissão ou Carteira categoria diferente -
Sua profissão ou atividade exigir cuidados Sua profissão ou atividade, estiver conduzindo
especiais com o transporte de passageiros ou veículo de transporte de passageiros.
de carga
Veículo em que tenham sido adulterados -
equipamentos
Sobre faixa de trânsito temporária ou Em faixa de pedestres ou na calçada
permanentemente destinada a pedestres.
- Deixar de prestar socorro

CRIMES EM ESPÉCIE

Natureza Dos Delitos De Trânsito

CRIMES DE DANO CRIMES DE PERIGO CRIMES DE PERIGO


CONCRETO ABSTRATO

⦁ Homicídio culposo no ⦁ Trafegar em velocidade ⦁ Omissão de socorro (art.


trânsito (art. 302) incompatível com a 304)
⦁ Lesão corporal culposa no segurança nas proximidades ⦁ Embriaguez ao volante
trânsito (art. 303) de determinados lugares (art. 306)
(art. 311) ⦁ Dirigir com a CNH
⦁ Crime de Racha (art. 308) suspensa (art. 307)
⦁ Dirigir sem habilitação ou ⦁ Permitir ou entregar a
com habilitação cassada direção de veículo
(art. 309) automotor à pessoa não
habilitada (art. 310)

Homicídio Culposo De Trânsito

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014)
(Vigência)
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; (Incluído pela Lei nº
12.971, de 2014) (Vigência)
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014)
(Vigência)
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte
de passageiros. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
V - (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)
§ 2o (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer
outra substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de
2017) (Vigência)
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Incluído pela Lei nº 13.546,
de 2017) (Vigência)

Vias terrestres
Os fatos praticados na condução de veículos motorizados não terrestres (jet-skis,
aeronaves, etc.) não rendem ensejo ao art. 302, CTB, devendo ser aplicado os dispositivos
previstos no CP.
*Atenção: os crimes de homicídio culposo e lesão corporal culposa na condução de
veículo automotor podem ocorrer independentemente do local do delito(via pública ou
privada).

“São crimes comuns e não incidem no art. 302, Lei 9.503:


a) Pedestre que atravessa pista de rolamento em momento e local inadequados, causando
a queda e morte de um motociclista. A imprudência ocorreu no trânsito, mas por pessoa
que não estava conduzindo veículo, devendo responder pelo crime do Código Penal (art.
121, § 3º).
b) Passageiro de automóvel ou de ônibus que atira garrafa de refrigerante pela janela,
provocando acidente com morte na estrada. Igualmente, incorre em crime comum.
c) Pessoa na garupa de motocicleta que, por brincadeira, balança o veículo e provoca a
queda e morte do condutor.
d) Pessoa que mata motociclista por abrir a porta de um carro sem olhar para trás,
provocando colisão.
e) Pessoa que está empurrando um carro desligado e perde o controle sobre o veículo, que
atropela alguém.
f) Responsável por oficina mecânica que se esquece de colocar determinada peça em um
automóvel, o que acaba gerando um acidente, hipótese em que a conduta culposa não é
do condutor do veículo.” ((GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR, 2017, p. 376)

Sujeitos do crime

Trata-se de crime comum, pois o legislador não exigiu nenhuma condição especial do
sujeito ativo.
• Sujeito ativo - pode ser qualquer pessoa.
• Sujeito passivo - é a coletividade, bem como a vítima do homicídio.

Elemento subjetivo: culpa


O CTB trata apenas dos crimes de trânsito culposos, de modo que, caso o agente provoque
a morte de outrem de forma dolosa (dolo direto ou eventual), a sua conduta será tipificada
no art. 121 do Código Penal, ainda que esteja na direção de veículo automotor

*Atenção: O homicídio culposo ocorre quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, CP), não bastando que o agente esteja
na direção de veículo automotor.

INF. 553 do STJ - Denúncia no caso de homicídio culposo deve apontar qual foi a conduta
negligente, imprudente ou imperita que ocasionou a morte da vítima. É inepta a denúncia
que imputa a prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 da
Lei 9.503/1997) sem descrever, de forma clara e precisa, a conduta negligente, imperita
ou imprudente que teria gerado o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção
de que o suposto autor estava na direção do veículo no momento do acidente.

*Atenção: Atualmente, a jurisprudência do STJ é pacificada no sentido de que a morte


causada por embriaguez na direção de veículo automotor, por si só, não significa dolo
eventual.
(STJ HC 328426): a embriaguez, por si só, sem outros elementos do caso concreto, não
pode induzir à presunção, pura e simples, de que houve intenção de matar.
Desse modo, é necessário que a morte causada por embriaguez na direção de veículo
automotor seja resultante também de outros elementos.

(STJ HC 226338): “a embriaguez não foi a única circunstância externa configuradora do


dolo eventual. Assim, na espécie, a Corte de origem entendeu, com base nas provas dos
autos, que o ‘recorrente não está sendo processado em razão de simples embriaguez ao
volante da qual resultou uma morte, mas sim de dirigir em velocidade incompatível com
o locam, à noite, na contramão de direção em rodovia”.

É constitucional a imposição da pena de suspensão de habilitação para dirigir veículo


automotor ao motorista profissional condenado por homicídio culposo no trânsito. O
crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, tipificado no art. 302 do
CTB, prevê, como uma das penas aplicadas, a “suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”
Se o réu que praticou este crime é motorista profissional, ele pode, mesmo assim, receber
essa sanção ou isso violaria o direito constitucional ao trabalho? Não viola. O condenado
pode sim receber essa sanção, ainda que se trate de motorista profissional. É
constitucional a imposição da pena de suspensão de habilitação para dirigir veículo
automotor ao motorista profissional condenado por homicídio culposo no trânsito. O
direito ao exercício de atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição
imposta pelo legislador se mostra razoável.STF. Plenário. RE 607107/MG, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 12/2/2020 (repercussão geral – Tema 486) (Info 966).

Perdão Judicial

Trata-se de causa extintiva da punibilidade somente cabível nos casos expressos em lei.

Obs.: Não pode ser aplicado o perdão judicial em qualquer situação (art. 107, IX, CP). O
perdão judicial somente é cabível nos casos expressos em lei.
É possível aplicar o perdão judicial ao crime de homicídio culposo, devendo analisar, no
caso concreto, a gravidade, condições pessoais e extensão das consequências do crime.

Para tanto, a doutrina e a jurisprudência exigem a presença de 2 requisitos cumulativos:


1) Vínculo prévio entre autor e vítima;
2) Insuportável abalo físico e/ou emocional.

Veja a jurisprudência pertinente sobre o tema:

Em caso de concurso formal de crimes, o perdão judicial concedido para um deles


não necessariamente deverá abranger o outro
O fato de os delitos terem sido cometidos em concurso formal não autoriza a extensão
dos efeitos do perdão judicial concedido para um dos crimes, se não restou comprovada,
quanto ao outro, a existência do liame subjetivo entre o infrator e a outra vítima fatal. Ex:
o réu, dirigindo seu veículo imprudentemente, causa a morte de sua noiva e de um amigo;
o fato de ter sido concedido perdão judicial para a morte da noiva não significará a
extinção da punibilidade no que tange ao homicídio culposo do amigo. STJ. 6ª Turma.
REsp 1444699-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 1/6/2017 (Info 606).
Perdão judicial deve ser aplicado com cautela
O perdão judicial é ato de clemência do Estado que afasta a punibilidade e o efeitos
condenatórios da sentença penal. Pressupõe o preenchimento de determinados requisitos
- grau de parentesco e insuportável abalo físico ou emocional. O instituto deve ser
aplicado com cautela, evitando-se a banalização, diante do atual cenário de violência no
trânsito, que tanto se tenta combater. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1339809/MT, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/02/2016.

Para concessão do perdão judicial com base nas consequências psicológicas exige-se
um vínculo prévio entre o autor e a vítima
Para aplicação do perdão judicial baseado no sofrimento psicológico do agente, o STJ
tem exigido a existência de um vínculo, de um laço prévio de conhecimento entre os
envolvidos, para que seja "tão grave" a consequência do crime ao agente. Assim, a
interpretação dada, na maior parte das vezes, é no sentido de que só sofre intensamente o
réu que, de forma culposa, matou alguém conhecido e com quem mantinha laços afetivos.
Entender pela desnecessidade do vínculo seria abrir uma fenda na lei, que reputo não
haver desejado o legislador, pois, além de difícil aferição – o tão grave sofrimento –,
serviria como argumento de defesa para todo e qualquer caso de delito com vítima fatal.
STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 604.337/RJ, Rel. Min. Ericson Maranho (Des.
Conv. do TJ/SP), julgado em 28/04/2015.

Concorrência e compensação de culpas

Concorrência de culpas: quando duas ou mais pessoas, desconhecendo a conduta do


outro, concorrem culposamente para o resultado danoso. Ex.: carro A avança o sinal e
carro B está acima da velocidade, ambos colidem. Nesse caso, temos a hipótese de autoria
colateral, de modo que ambos devem responder pelo resultado produzido de forma
isolada.
Compensação de culpas: Quando o acidente é causado por culpa do motorista + culpa
da vítima. O Direito Penal não admite a compensação de culpas. Assim, caso o agente dê
causa à morte da vítima, mas fique constatado que a vítima também tenha agido de forma
culposa, isso não afastará a responsabilidade penal do agente, uma vez que as culpas não
se compensam.
Obs.: Segundo o entendimento do STJ, a culpa da vítima pode ser usada apenas no
momento da fixação da pena base.

Culpa exclusiva da vítima: Caso o motorista tenha observado o dever objetivo de


cuidado, tendo adotado todas as cautelas possíveis e, mesmo assim, provoca a morte de
um pedestre, por sua culpa exclusiva (ex.: pedestre correndo no meio da rua), não será
possível imputar o evento morte o agente.

Causas de aumento de pena

§ 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é


aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte
de passageiros.
V - (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)
§ 2o (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer
outra substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de
2017) (Vigência)
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Incluído pela Lei nº 13.546,
de 2017) (Vigência)
Atenção: Algumas majorantes são também consideradas agravantes previstas no
art. 298, CTB. Nesses casos, o juiz apenas considera as majorantes, evitando o bis in
idem.

Inciso I: não possuir permissão ou carteira de habilitação para dirigir:

Nesse caso, o infrator não irá responder pelo homicídio culposo + o crime de falta de
habilitação (art. 309). Responderá pelo homicídio culposo com a pena aumentada pela
falta de habilitação ou permissão para condução de veículo.Isso quer dizer que, se ocorre
homicídio, o crime de falta de habilitação deixa de ser crime autônomo e passa a ser causa
de aumento de pena.

O fato de o condutor estar com a CNH vencida não se enquadra na causa de aumento do
inciso I do § 1º do art. 302 do CTB

Inf. 581, STJ:


INAPLICABILIDADE DA CAUSA DE AUMENTO DESCRITA NO ART. 302, § 1º,
I, DO CTB EM VIRTUDE DE CNH VENCIDA. O fato de o autor de homicídio culposo
na direção de veículo automotor estar com a CNH vencida não justifica a aplicação da
causa especial de aumento de pena descrita no § 1º, I, do art. 302 do CTB. No art. 162 do
CTB, o legislador, ao definir diferentes infrações administrativas, distinguiu duas
situações: dirigir veículo “sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão
para Dirigir” (inciso I); e dirigir “com validade da Carteira Nacional de Habilitação
vencida há mais de trinta dias” (inciso V). Essas situações, embora igualmente
configurem infração de trânsito, foram tratadas separadamente, de forma diversa. Em
relação ao crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, o § 1º, I, do art.
302 do CTB determina que a pena será aumentada de 1/3 (um terço) à metade se o agente
“não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação”. Ora, se o legislador
quisesse punir de forma mais gravosa o autor de homicídio culposo na direção de veículo
automotor cuja CNH estivesse vencida, teria feito expressa alusão a esta hipótese (assim
como fez, no § 1º, I, do art. 302, quanto à situação de “não possuir Permissão para Dirigir
ou Carteira de Habilitação”). Além disso, no Direito Penal, não se admite a analogia in
malam partem, de modo que não se pode inserir no rol das circunstâncias que agravam a
pena (art. 302, § 1º) também o fato de o agente cometer homicídio culposo na direção de
veículo automotor com carteira de habilitação vencida. HC 226.128-TO, 6ª T. 2016.

Não entram na causa de aumento de pena: não estar portando a CNH ou possuir CNH de
categoria diversa da categoria do veículo.
Inciso II: Se o agente praticar o delito em faixa de pedestres ou calçada:

A causa de aumento prevista no art. 302, § 1º, II, do Código de Trânsito Brasileiro não
exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que o ilícito ocorra nesse
local.

A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando o agente estiver
conduzindo o seu veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo
a adentrar na calçada e atingir a vítima, como quando estiver saindo de uma garagem ou
efetuando qualquer manobra e, em razão de sua desatenção, acabar por atingir e matar o
pedestre. Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na hipótese em que o
condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle
do carro, subindo na calçada e atropelando a vítima. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no
REsp 1499912-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/03/2020 (Info 668).

Inciso III: Se o agente deixar de prestar socorro quando possível fazê-lo, sem risco
pessoal, à vítima do acidente.

Prevalece ser inadmissível o aumento de pena quando a vítima tem morte instantânea,
pois o cadáver não presta como sujeito passivo de tal conduta. No entanto, situação
diversa é a que o sujeito ativo conclui pela inutilidade da prestação de socorro em razão
da gravidade dos ferimentos suportados pela vítima, hipótese em que incidirá a causa de
aumento de pena.

Não socorrendo o agente a vítima, além da possibilidade de prisão em flagrante, tem-se a


incidência de causa de aumento de pena. Sucede que, se o agente não prestou socorro
porque corria risco pessoal, não haverá incidência da majorante.

Cuidado para não confundir!

Art. 302, §1º, III – MAJORANTE POR ART. 304 – CRIME AUTÔNOMO
NÃO PRESTAR SOCORRO POR NÃO PRESTAR SOCORRO
Aplica-se àquele que deu causa ao Aplica-se àquele que, envolvido em
homicídio culposo. Ou seja, àquele que acidente de trânsito por culpa de outrem,
agiu com culpa não socorre a vítima.

Inciso IV: no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de


transporte de passageiros:
✓ É irrelevante que o agente esteja transportando passageiros no momento do homicídio
culposo, de modo que haverá a incidência da majorante ainda que o transporte esteja
vazio.
✓ A majorante somente se aplica se o veículo for de transporte de passageiros, não se
aplicando se se tratar de transporte de cargas.

Inf. 537, STJ, 2014:


DIREITO PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO COMETIDO NO EXERCÍCIO DE
ATIVIDADE DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. Para a incidência da causa de
aumento de pena prevista no art. 302, parágrafo único, IV, do CTB, é irrelevante que o
agente esteja transportando passageiros no momento do homicídio culposo cometido na
direção de veículo automotor. Isso porque, conforme precedente do STJ, é suficiente que
o agente, no exercício de sua profissão ou atividade, esteja conduzindo veículo de
transporte de passageiros. Precedente citado: REsp 1.358.214-RS, Quinta Turma, DJe
15/4/2013. AgRg no REsp 1.255.562-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 4/2/2014 (Informativo nº 537).
OBS.: O excesso de velocidade não constitui fundamento apto a justificar o aumento da
pena-base pela culpabilidade (59), por ser inerente aos delitos de homicídio culposo e de
lesões corporais culposas praticados na direção de veículo automotor, caracterizando a
imprudência

OBS.: O juiz, na análise dos motivos do crime (art. 59 do CP), pode fixar a pena-base
acima do mínimo legal em razão de o autor ter praticado delito de homicídio e de lesões
corporais culposos na direção de veículo automotor, conduzindo-o com imprudência a
fim de levar droga a uma festa.
Figura qualificada do homicídio culposo
§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer
outra substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de
2017) (Vigência)
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Incluído pela Lei nº 13.546,
de 2017) (Vigência)

Haverá concurso de crimes entre o homicídio qualificado pela embriaguez ao


volante e o crime de embriaguez ao volante (art. 306, CTB)?
⦁ 1ª Corrente – Haverá concurso de crimes entre o homicídio culposo qualificado pela
embriaguez e a embriaguez ao volante, tendo em vista que se tratam de bens jurídicos
diversos e crimes que se consumam em momentos diversos.
⦁ 2ª Corrente – O agente deverá responder apenas pelo homicídio culposo qualificado
pela embriaguez, sem concurso de crimes, pois a norma mais grave deve absorver a
menos grave, de natureza subsidiária.

Lesão corporal culposa de trânsito

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do
§ 1º do art. 302.
§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade
psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa
que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima.
Aqui aplicam-se as mesmas considerações acerca do crime de homicídio culposo na
direção de veículo automotor, inclusive as causas de aumento de pena. No entanto, aqui
temos um detalhe:

Pergunta-se: No caso um motorista sem habilitação provocar uma lesão corporal


culposa, ele deverá responder pelo crime do art. 303 em concurso com o crime do
art. 309 do CTB?

R.: NÃO! Segundo entendimento do STJ, o agente responderá pelo crime de lesão
corporal majorada (art. 302, §1º, I), de modo que o crime do art. 303 irá absorver o crime
do art. 309 do CTB, aplicando-se o princípio na consunção.

Pergunta-se: Se a vítima não oferecer representação pelo crime de lesão corporal,


há possibilidade de o agente ser processado pelo crime autônomo de falta de
habilitação?

R.: NÃO! O STF e o STJ, de forma pacífica, entendem que não. Se a vítima não oferecer
a representação, o infrator não pode ser processado pelo crime autônomo de falta de
habilitação ou permissão para dirigir. Justifica-se esse entendimento porque quando
ocorre a lesão, o crime de falta de habilitação perde sua autonomia e passa a ser causa de
aumento de pena do crime de lesão corporal culposa, ou seja, passa a ser acessório que
segue o principal.

Crime de dirigir sem habilitação é absorvido pela lesão corporal culposa na direção
de veículo
Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu
veículo de forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém,
ele responderá pelo crime do art. 303, § 1º, do CTB, ficando o delito do art. 309 do
CTB absorvido por força do princípio da consunção. O delito de dirigir veículo sem
habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por outro lado, a lesão corporal
culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à representação. Imagine
que a vítima não exerça seu direito de representação no prazo legal.
Diante disso, o Ministério Público poderá denunciar o agente pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 já foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa
na direção de veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública
condicionada à representação. Como a representação não foi formalizada pela vítima,
houve extinção da punibilidade, que abrange tanto a lesão corporal como a conduta de
dirigir sem habilitação. STF. 2ª Turma. HC 128921/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Obs.: O crime de dirigir sem habilitação restará absorvido pelo crime de lesão corporal
culposa. No entanto, o mesmo não acontece com o crime de embriaguez ao volante,
hipótese em que restará configurado o concurso de crimes!
Crime de lesão corporal na direção de veículo não permite absorção do delito de
embriaguez ao volante.
Não é possível reconhecer a consunção do delito previsto no art. 306, do CTB
(embriaguez ao volante) pelo crime do art. 303 (lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor). Isso porque um não é meio para a execução do outro, sendo infrações
penais autônomas que tutelam bens jurídicos distintos. Caso concreto: motorista conduzia
seu veículo em estado de embriaguez quando atropelou um pedestre. Após a colisão,
policiais militares submeteram o condutor ao teste de bafômetro, que atestou a ingestão
de álcool. STJ. 5ª Turma. REsp 1629107/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
20/03/2018. STJ.6ª Turma. AgRg no HC 442.850/MS, Rel. Laurita Vaz, julgado em
25/09/2018. Fonte: Dizer o direito.

Ora, se o STJ admite a aplicação do concurso de crimes, em qual hipótese será aplicada
a qualificadora constante do §2º? Nesse caso, deve-se analisar a natureza das lesões
sofridas:

• Motorista sob o efeito de álcool provoca lesão corporal leve – concurso de crimes
entre o art. 303 caput + art. 306.
• Motorista sob o efeito de álcool provoca lesão corporal grave ou gravíssima –
responde apenas pela qualificadora (art. 303, §2º). Não haverá concurso de
crimes!

Obs.: A qualificadora do crime de lesão corporal culposa, prevista no §2º, somente foi
inserida em 2017. Por se tratar de uma novatio legis in pejus, não irá retroagir para os
crimes praticados antes da data que entrou em vigor!

Omissão de socorro sem culpa do condutor

Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato


socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar
auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de
crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que
a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea
ou com ferimentos leves.

Sujeito ativo: é – apenas - o condutor do veículo envolvido no acidente não culpado.


(Crime de mão própria).

Ocorre que, no homicídio culposo e na lesão culposa de trânsito (únicos crimes nos quais
há acidente de trânsito), a omissão de socorro do condutor já é causa de aumento de pena.
Assim sendo, o condutor não pode responder por homicídio culposo ou lesão culposa com
a pena aumentada pela omissão em concurso com o delito autônomo de omissão de
socorro do art. 304, sob pena de ser configurado bis in idem.

Diante disso, podemos concluir que, nos casos de acidente de trânsito, havendo omissão
de socorro, haverá três situações distintas:
(1) Condutor envolvido no acidente, culpado, que omitiu socorro: responderá por
homicídio ou lesão culposa com a pena aumentada pela omissão.
(2) Condutor envolvido em acidente, não culpado, que omitiu socorro: responde pelo
delito do art. 304, CTB.
(3) Condutor não envolvido no acidente, que omitiu socorro, bem como pedestres, que
omitiram socorro: respondem pelo delito de omissão de socorro do Código Penal. Isso
porque se o agente não está envolvido no acidente não se poder aplicar a ele o CTB.

O condutor envolvido no acidente não culpado responde pelo delito ainda que (§único):
• Sua omissão seja suprida por terceiros: Atente-se que, se os terceiros se adiantaram ao
socorro não houve omissão do condutor que não irá, pois, responder pela omissão de
socorro.
• A vítima tenha morte instantânea: O legislador criou uma hipótese de crime impossível
por absoluta impropriedade do objeto. Se a vítima teve morte instantânea não há como
prestar socorro. Cadáver não pode ser vítima de omissão de socorro, assim como não
pode ser vítima de homicídio. Obs.: o óbito precisa ser evidente, como, por exemplo, em
uma decapitação. A mera suposição do agente de que a vítima está morta não afasta a
responsabilização criminal.
• Os ferimentos sejam leves: Atente-se que somente haverá o crime se for um ferimento
leve que reclame socorro. Caso o ferimento leve não reclame socorro, como, por exemplo,
um mero arranhão, não implicará a prática do delito.

Fulga do local de acidente

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à


responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Primeiramente, é importante não confundir a fuga do local do acidente, previsto no art.


305 do CTB, com a causa de aumento de pena do homicídio culposo (art. 121, §4º, CP).

• Fuga do art. 121, §4º, CP – a fuga para a evitar a prisão, nesse caso, tem natureza jurídica
de causa de aumento de pena
• Fuga do art. 305, CTB – a fuga do local do acidente é crime autônomo

O delito em questão exige um especial fim de agir: a fuga do local deve ter a finalidade
de evitar a responsabilidade penal ou civil que lhe pode ser atribuída. Tanto que o
bem jurídico tutelado por esse dispositivo é a Administração da Justiça. Explica o
professor Renato Brasileiro (2020):

O tipo penal do art. 305 do CTB tem como bem jurídico tutelado a administração da
Justiça, pois essa atitude pode vir a causar certos prejuízos à correta identificação do
condutor do veículo, assim como à apuração de sua responsabilidade penal ou civil. De
mais a mais, em casos de acidentes com vítimas, a permanência do condutor do veículo
no local também funciona como um importante fator de solidariedade a incrementar,
ainda que indiretamente, a proteção à vida e à integridade física da vítima.

Nesse sentido:
• Se o agente fugir sem o conhecimento da ocorrência de lesões/morte/danos – não haverá
crime
• Se o agente fugir para evitar linchamento – pode configurar causa excludente de ilicitude
(a depender do caso concreto)

A constitucionalidade desse dispositivo sempre foi alvo de controvérsias doutrinárias.

No entanto, essa não é a posição da jurisprudência, que decidiu pela constitucionalidade


do delito em questão.

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação.


A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é
constitucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao
silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.
STF. Plenário. RE 971959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão
geral) (Info 923). Fonte: Dizer o direito.
Consumação: Por fim, é importante ressaltar que o delito se consuma com a simples
conduta de afastar-se ou fugir do local, ainda que não consiga escapar da responsabilidade
penal ou civil (ainda que o agente seja identificado, apesar da fuga).
Tentativa: Ademais, por se tratar de crime plurissubsistente, a tentativa é possível se o
infrator não conseguir fugir do local por circunstância alheias a sua vontade.

Condução de veículo automotor com capacidade psicomotora alterada (embriaguez


ao volante)

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por:


I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade
psicomotora.
§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia
ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de
prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou
toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

Redação conferida pela Lei nº 12.760, de 2012, atualmente em vigor, determina a conduta
típica como conduzir veículo automotor com a capacidade automotora alterada pela
influência do álcool ou substância de efeitos análogos. Note que a quantidade de álcool
no sangue não é mais elementar do crime, mas apenas um dos meios de prova, não
excluindo outros.
Assim, o bafômetro deixou de ser um dos exames periciais imprescindíveis para a
condenação e se tornou um MEIO DE PROVA RELATIVO, que evidencia apenas
indício de embriaguez e que precisa ser cotejado com os demais elementos probatórios
colacionados.

Nesse sentido, basta provar que o agente ingeriu álcool e que isso está
comprometendo sua capacidade psicomotora de dirigir. Com isso o crime pode ser
comprovado por qualquer meio de prova admitido em direito, como expressamente
consta do §2º.

Em resumo:
⦁ 6 decigramas de álcool por litro de sangue
⦁ 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar
⦁ Perícia, vídeo, exame, prova testemunhal

Obs.: A recusa em soprar o bafômetro não configura crime de desobediência e não pode
ser interpretada em desfavor do condutor em âmbito criminal. Ou seja: não se pode
presumir a embriaguez daquele que se recusa a fazer o teste. No entanto, a recusa
configura infração administrativa, que permite a aplicação de penalidades administrativas
do art. 165-A, CTB.
Observações importantes:
∘ Conforme a jurisprudência do STJ e STF, o tipo penal NÃO exige perigo de dano
(perigo concreto), ou seja, trata-se de crime de perigo abstrato,
∘ A atual redação do artigo 306 silenciou sobre a necessidade de o crime ser cometido em
via pública, surgindo entendimento de que haverá crime também quando praticado em
via privada.
∘ O crime de embriaguez ao volante admite flagrante e admite fiança pelo delegado!!!

Atenção para o concurso de crimes:


∘ Embriaguez ao volante + Lesão corporal culposa leve – concurso de crimes entre o
art. 303, caput e 306, CTB.
∘ Embriaguez ao volante + lesão corporal grave ou gravíssima – princípio da consunção
∘ Embriaguez ao volante + homicídio culposo – princípio da consunção
∘ Embriaguez ao volante + direção sem habilitação – concurso de crimes entre o art.
306 e 309, CTB.

Violação da suspensão ou omissão da entrega da habilitação

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para


dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:

Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de
idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo
estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
Se o condenado descumprir a pena suspensão ou permissão para dirigir (dirigir durante o
período de suspensão ou proibição), comete o crime do art. 307, caput, do CTB (crime de
violação de suspensão ou proibição).

Ressalta-se que este crime só se verifica em caso de violação de suspensão ou proibição


de dirigir imposta por decisão judicial (não vale suspensão imposta por decisão
administrativa). É nesse sentido o entendimento do STJ:

É atípica a conduta contida no art. 307 do CTB quando a suspensão ou a proibição de se


obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor advém de restrição
administrativa. A conduta de violar decisão administrativa que suspendeu a habilitação
para dirigir veículo automotor não configura o crime do art. 307, caput, do CTB, embora
possa constituir outra espécie de infração administrativa, a depender do caso concreto.
STJ. 6ª Turma. HC 427472-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
23/08/2018 (Info 641). Fonte: Dizer o direito.

A pena para esse crime é de detenção e nova suspensão ou proibição PELO MESMO
PRAZO DA SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO ANTERIOR QUE FOI
DESCUMPRIDA. Sendo assim, esse é o único crime em que a suspensão ou proibição
não terá prazo de 2 meses a 5 anos, pois terá o mesmo prazo da pena descumprida.

Transitada em julgado a condenação, o condenado será intimado a entregar o documento


de habilitação ao juiz em até 48 horas. Se não o fizer, comete o crime do art. 307,
parágrafo único. Note que a modalidade do §único prevê um crime a prazo, tendo em
vista que só se consuma 48 horas após a intimação. (Trata-se de um crime especial em
relação ao crime de desobediência).
Corrida/disputa/competição automobilística não autorizada – CRIME DE RACHA

Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa
ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em
manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando
situação de risco à incolumidade pública ou privada:
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza grave, e
as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco
de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem
prejuízo das outras penas previstas neste artigo.
§ 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias
demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a
pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo.

Considerações importantes sobre o crime:

• A pena máxima cominada (detenção de 6 meses a 3 anos) foi inserida pela Lei
12.971/2014, de modo que só vale para os crimes praticados a partir do dia 1º de
novembro de 2014, por se tratar de reformatio legis in pejus (antes de 2014, o crime era
considerado de menor potencial ofensivo)
• Não admite transação penal, mas admite a suspensão condicional do processo
• Trata-se de crime doloso (abrangendo dolo direto ou eventual). Lembrando que, aos
crimes dolosos, aplica-se o efeito secundário específico da condenação previsto no art.
92, III, CP)
• Trata-se de crime DE PERIGO CONCRETO

Conduta: O agente participa de corrida, disputa, competição não autorizada ou manobra


perigosa. Note que a elementar “manobra perigosa” somente foi inserida pela Lei
13.546/17.
Só restará configurado o crime de racha se o objeto material for veículo automotor e se
as condutas forem perpetradas em via pública* (espaço aberto à circulação ou uso
comum para o tráfego).

*Via pública abrange: vias de acesso a condomínios particulares e pátios de


supermercado.
Por se tratar de um crime de perigo concreto, o tipo penal só estará configurado se a
conduta ensejar uma situação real e concreta de perigo. Portanto, se o indivíduo realiza
manobra perigosa em uma via pública, de madrugada e completamente vazia, sem que
haja qualquer perigo de dano ao bem jurídico tutelado, a conduta será atípica.
Esse crime consiste em participar de racha. Portanto é um crime de concurso necessário,
que exige no mínimo dois participantes.

Crime de Racha qualificado pela lesão corporal/morte

Na hipótese de advir um resultado agravador da prática de racha, estaremos diante de uma


conduta preterdolosa, em que há dolo na conduta inicial (racha) e culpa na conduta
consequente (resultado agravador a título de culpa), ou o resultado agravador incidirá a
título de dolo eventual? Veja a discussão sobre o tema:
• 1ª C – Doutrina majoritária – A doutrina em peso entende que se deve verificar, à luz
das circunstâncias do caso concreto, se o agente efetivamente consentiu/assumiu o risco
da ocorrência do resultado agravador (lesão corporal ou morte), hipótese em que deveria
incidir o dolo eventual, atraindo a tipificação do art. 121 do Código Penal, ou se, mesmo
prevendo o resultado, confiada que este não iria ocorrer, hipótese em que haveria culpa
consciente. Ou seja: para a doutrina, não se pode afirmar se houve dolo ou culpa tão
somente pela descrição abstrata da conduta, sendo imprescindível averiguar o ânimo do
agente através de uma análise minuciosa do caso concreto.
• 2ªC – STF/STJ: Os Tribunais Superiores vêm considerando que os resultados danosos
advindos do crime de racha (principalmente quando ocorre morte), dão-se a título de dolo
eventual. Obs.: Lembrando que, de acordo com o STJ, não é possível aplicar a
qualificadora do motivo fútil na hipótese de homicídio decorrente da prática de racha,
quando o veículo do agente se chocou com outro veículo do racha e atingiu uma 3ª pessoa
alheia à disputa.

Direção sem permissão/habilitação


Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir
ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Considerações importantes sobre o crime:

• Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, que desafia lavratura de TCO e a


aplicação das medidas despenalizadoras previstas na Lei 9.9099/95
• Só há crime se for em via pública*. (Espaço aberto à circulação ou uso comum para
o tráfego). *Via pública abrange: vias de acesso a condomínios particulares e pátios de
supermercado.
• Trata-se de crime DE PERIGO CONCRETO, pois diz “gerando perigo de dano”.

Obs.: Antes de o CTB entrar em vigor, dirigir sem habilitação era contravenção penal,
não exigindo perigo de dano. O CTB, por sua vez exige o perigo de dano, para a
caracterização do tipo. Apesar de haver entendimento doutrinário no sentido de ambas as
normas coexistiriam, diferenciando-se apenas pela caracterização ou não do perigo de
dano, o STF sumulou entendimento no sentido de que o CTB revogou a contravenção
penal:

Súmula 720/STF - “o art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do
fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à
direção sem habilitação em vias terrestres”.

Obs.: permanece em vigor o art. 32, LCP ao se referir à conduta de embarcação em águas
públicas, uma vez que o CTB apenas se aplica às vias terrestres.

Assim, aquele que dirige sem habilitação sem gerar perigo não comete o crime do art.
309, CTB, nem mesmo caracteriza contravenção penal, mas apenas mera infração
administrativa. Em resumo:
∘ Dirigir sem habilitação e sem gerar perigo de dano – É mera infração administrativa.
Não é nem crime nem contravenção penal.
∘ Dirigir sem habilitação, gerando perigo de dano – É crime do art. 309 do CTB.

Pergunta-se: Quando será considerado que o indivíduo está sem habilitação?

R.: Haverá crime do art. 309 quando o condutor:


1) Não possuir habilitação
2) Estiver com a habilitação cassada (não confundir com a habilitação suspensa, que
ensejará o crime do art. 307)
3) Possuir apenas habilitação de categoria diversa da que ele está dirigindo. Portanto,
ainda que ele possua habilitação para outro tipo de veículo, haverá crime.
4) Se a habilitação for falsa o indivíduo responde pelo crime do art. 309, CTB e pelo
crime de falsidade documental do Código Penal em concurso material.
Não haverá crime do art. 309 se:
1) O condutor estiver dirigindo com habilitação vencida (mera infração administrativa)
2) O condutor estiver dirigindo sem portar o documento de habilitação (mera infração
administrativa)

Permissão/entrega da direção de veículo automotor a pessoa sem autorização

Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não
habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a
quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em
condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Considerações importantes sobre o crime:

• Trata-se de infração de menor potencial ofensivo (admite as medidas despenalizadoras


da Lei nº 9099/95)
• Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que esta saiba que a
pessoa para quem ela entrega o carro não pode dirigir.

Crime de perigo abstrato: o perigo está absolutamente presumido em lei, de modo que,
segundo o STJ, o crime em questão dispensa a ocorrência de lesão ou de perigo de dano
concreto.

Súmula 575-STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de


veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das
situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de
perigo de dano concreto na condução do veículo.

• Neste crime temos uma exceção pluralista à teoria monista.


⦁ Quem entrega o carro – responde pelo art. 310, CTB
⦁ Quem dirige – responde pelo art. 306 ou 309, CTB

ATENÇÃO: A agravante de o crime ser praticado por quem exerce profissão ou


atividade com passageiros não se aplica a esse crime, pois quem dirige aqui não é o
motorista profissional, mas sim a pessoa a quem ele entregou a chave.

Tráfego com velocidade incompatível com a segurança


Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de
escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros
estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo
de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

• Trata-se de infração de menor potencial ofensivo (admite as medidas despenalizadoras


da Lei nº 9099/95)
• Trata-se de crime de perigo concreto. Ou seja: para configurar o crime não basta
trafegar com velocidade incompatível, sendo necessário gerar perigo de dano ao bem
jurídico tutelado. Portanto, se restar comprovado que, mesmo dirigindo em velocidade
incompatível, sua conduta não resultou perigo concreto, o fato será atípico.
• Se o agente não sabia que estava trafegando perto desses locais (rol exemplificativo) –
ele incidirá em erro de tipo!

Fraude processual em acidente – art. 312

Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na


pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou
processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente
policial, o perito, ou juiz:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da
inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

• Trata-se de infração de menor potencial ofensivo (admite as medidas despenalizadoras


da Lei nº 9099/95)
• Neste crime, o bem jurídico tutelado imediato será a Administração da Justiça
• Trata-se de crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa.

➢ Obs.: Se um funcionário Público aceita vantagem para inovar artificiosamente –


incorrerá no crime de corrupção passiva.
• A doutrina entende que o crime do art. 312 exige um dolo específico, qual seja, “com o
fim de induzir a erro AGENTE POLICIAL, PERITO ou JUIZ”. Portanto, se a conduta
for perpetrada com o intuito de induzir a erro um membro do Ministério Público, por
exemplo, a conduta será atípica.
• Requisitos do crime:
1) Inovar artificiosamente em estado de lugar, coisa ou pessoa;
2) Envolvendo acidente automobilístico com vítima;
3) Antes ou durante inquérito policial ou processo criminal.

Cuidado para não confundir o art. 347 do código penal com o art. 312 do CTB:

• Princípio da especialidade - especial em relação à fraude processual.

Art. 347, CP Art. 312, CTB


Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de
de processo civil ou administrativo, o estado de acidente automobilístico com vítima, na
lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de pendência do respectivo procedimento policial
induzir a erro o juiz ou o perito: preparatório, inquérito policial ou processo
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
multa. a fim de induzir a erro o agente policial, o
perito, ou juiz:
Parágrafo único - Se a inovação se destina a Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou
produzir efeito em processo penal, ainda que multa.
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste
artigo, ainda que não iniciados, quando da
inovação, o procedimento preparatório, o
inquérito ou o processo aos quais se refere.
Fraude em acidente SEM VÍTIMA Fraude em acidente COM VÍTIMA
Busca induzir a erro PERITO ou JUIZ Busca induzir a erro AGENTE POLICIAL,
PERITO ou JUIZ
Durante Processo Civil, Processo Inquérito Policial ou Processo Penal (ainda que
Administrativo ou Processo Penal (hipótese em não tenham sido iniciados)
que as penas irão ser aplicadas em dobro)

Aplicação das penas restritivas de direitos aos crimes do CTB

Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas situações
em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva
de direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou a entidades
públicas, em uma das seguintes atividades: (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
(Vigência)
I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros e em
outras unidades móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito; (Incluído
pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
II - trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que recebem
vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
(Vigência)
III - trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de acidentados de
trânsito; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
IV - outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de vítimas de
acidentes de trânsito. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)

Art. 312-B. Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art. 303 deste Código
não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal).”

Os termos imperativos usados pelo art. 312- A - deverá ser - não deixam dúvidas no
sentido de que não se trata de opção conferida ao juiz, mas sim de verdadeira obrigação
de fixar a pena restritiva de direitos de prestação de serviços à comunidade, a ser
executada por meio de uma das atividades ali elencadas.

Atenção especial deve ser dispensada ao art. 312-B, inserido pela Lei 14.071/2020.
Trata-se de novatio legis in pejus. Isso porque o art. 312-B passou a vedar a aplicação das
penas restritivas de direitos aos crimes de homicídio qualificado lesão corporal culposa,
ambos qualificados pela embriaguez, motivo pelo qual se submete à irretroatividade da
lei penal mais grave.

Note algumas considerações importantes que podem ser objeto de prova objetiva:
• A Lei 14.071/2020 NÃO PASSOU A VEDAR AS PENAS RESTRITIVAS DE
DIREITOS A TODOS OS CRIMES DE TRÂNSITO, mas somente ao homicídio culposo
qualificado pela embriaguez e a lesão corporal culposa qualificada pela embriaguez.
• Cuidado para não confundir as hipóteses de lesão corporal!!! Isso porque a vedação à
substituição da PPL por PRD abarca apenas a hipótese em que o agente, mediante
influência de álcool, provoca lesão corporal culposa grave ou gravíssima na vítima. Na
hipótese de o agente, estando sob influência de álcool, provocar lesões leves, haverá
concurso de crimes entre o art. 303, caput e o art. 306:

Crime de lesão corporal leve na direção de veículo não permite absorção do delito
de embriaguez ao volante
Não é possível reconhecer a consunção do delito previsto no art. 306, do CTB
(embriaguez ao volante) pelo crime do art. 303 (lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor). Isso porque um não é meio para a execução do outro, sendo infrações
penais autônomas que tutelam bens jurídicos distintos. Caso concreto: motorista conduzia
seu veículo em estado de embriaguez quando atropelou um pedestre, causando-lhe lesões
corporais leves. Após a colisão, policiais militares submeteram o condutor ao teste de
bafômetro, que atestou a ingestão de álcool. STJ. 5ª Turma. REsp 1629107/DF, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 20/03/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 442.850/MS, Rel.
Laurita Vaz, julgado em 25/09/2018.

Obs.: Este dispositivo pode vir a ser declarado inconstitucional pelo STF, por vedar, de
forma abstrata, a substituição da PPL pela PRD. Devemos ficar atentos às decisões
jurisprudenciais e doutrinárias sobre o tema!

Atente-se às jurisprudências em teses do STJ: Edição nº 114:

1) Na hipótese de homicídio praticado na direção de veículo automotor, havendo


elementos nos autos indicativos de que o condutor agiu, possivelmente, com dolo
eventual, o julgamento acerca da ocorrência deste ou da culpa consciente compete ao
Tribunal do Júri, na qualidade de juiz natural da causa.

2) O fato de a infração ao art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB ter sido
praticada por motorista profissional não conduz à substituição da pena acessória de
suspensão do direito de dirigir por outra reprimenda, pois é justamente de tal categoria
que se espera maior cuidado e responsabilidade no trânsito.

3) A imposição da penalidade de suspensão do direito de dirigir veículo automotor não


tem o condão, por si só, de caracterizar ofensa ou ameaça à liberdade de locomoção do
paciente, razão pela qual não é cabível o manejo do habeas corpus.

4) Quando não reconhecida a autonomia de desígnios, o crime de lesão corporal culposa


(art. 303 do CTB) absorve o delito de direção sem habilitação (art. 309 do CTB),
funcionando este como causa de aumento de pena (art. 303, parágrafo único, do CTB).

5) Os crimes de embriaguez ao volante (art. 306 do CTB) e o de lesão corporal culposa


em direção de veículo automotor (art. 303 do CTB) são autônomos e o primeiro não é
meio normal, nem fase de preparação ou de execução para o cometimento do segundo,
não havendo falar em aplicação do princípio da consunção.
6) O crime do art. 306 do CTB é de perigo abstrato, sendo despicienda a demonstração
da efetiva potencialidade lesiva da conduta.

7) Para a configuração do delito tipificado no art. 306 do CTB, antes da alteração


introduzida pela Lei n. 12.760/2012, é imprescindível a aferição da concentração de
álcool no sangue por meio de teste de etilômetro ou de exame de sangue, conforme
parâmetros normativos.

8) O indivíduo não pode ser compelido a colaborar com os referidos testes do 'bafômetro'
ou do exame de sangue, em respeito ao princípio segundo o qual ninguém é obrigado a
se autoincriminar (nemo tenetur se detegere). (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do
CPC/1973 - TEMA 446)

9) É irrelevante qualquer discussão acerca da alteração das funções psicomotoras do


agente se o delito foi praticado após as alterações da Lei n. 11.705/2008 e antes do advento
da Lei n. 12.760/2012, pois a simples conduta de dirigir veículo automotor em via pública,
com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas,
configura o crime previsto no art. 306 do CTB.

10) Com o advento da Lei n. 12.760/2012, que modificou o art. 306 do CTB, foi
reconhecido ser dispensável a submissão do acusado a exames de alcoolemia, admite-se
a comprovação da embriaguez do condutor de veículo automotor por vídeo, testemunhos
ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.

11) Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo


automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações
previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de
dano concreto na condução do veículo. (Súmula n. 575/STJ) (Tese julgada sob o rito do
art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 901)

12) A desobediência a ordem de parada dada pela autoridade de trânsito ou por seus
agentes, ou por policiais ou outros agentes públicos no exercício de atividades
relacionadas ao trânsito, não constitui crime de desobediência, pois há previsão de sanção
administrativa específica no art. 195 do CTB, o qual não estabelece a possibilidade de
cumulação de punição penal.

Outras jurisprudências:

1) É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga do local do acidente (art.
305 do CTB)
A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é
constitucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao
silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade. STF.
Plenário. RE 971959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018.
2) A causa de aumento prevista no art. 302, § 1º, II, do Código de Trânsito Brasileiro
não exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que o ilícito
ocorra nesse local
O aumento previsto no art. 302, parágrafo único, II, do Código de Trânsito Brasileiro será
aplicado tanto quando o agente estiver conduzindo o seu veículo pela via pública e perder
o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a vítima, como
quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de
sua desatenção, acabar por colher o pedestre (Capez, Fernando. Curso de direito penal,
volume 2. parte especial: arts. 121 a 212. 18ª ed. atual., São Paulo: Saraiva Educação,
2018). (AgRg nos EDcl no REsp 1499912/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2020, DJe 23/03/2020).
3) Não se aplica o arrependimento posterior em homicídio culposo na direção de
veículo.
Esta Corte possui firme entendimento de que, para que seja possível aplicar a causa de
diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal, faz-se necessário que o crime
praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. Precedentes. 2. Inviável o
reconhecimento do arrependimento posterior na hipótese de homicídio culposo na direção
de veículo automotor, uma vez que o delito do art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro
não pode ser encarado como crime patrimonial ou de efeito patrimonial. Na espécie, a
tutela penal abrange o bem jurídico mais importante do ordenamento jurídico, a vida, que,
uma vez ceifada, jamais poderá ser restituída, reparada. Precedente. 3. Em sede de habeas
corpus vigora a proibição da reformatio in pejus, princípio imanente ao processo penal
(HC 126869/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, 23.6.2015 - Informativo 791 do STF). 4. Agravo
regimental improvido. (STJ; AgRg-HC 510.052; Proc. 2019/0136931-4; RJ; Sexta
Turma; Rel. Min. Nefi Cordeiro; Julg. 17/12/2019; DJE 04/02/2020).

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