Ars Nova
Ars Nova
Ars Nova
Relações harmônicas e
rítmicas
Para compreendermos o sistema
harmônico Ars nova é preciso remontar
ao tempo da Grécia Antiga. Segundo a
tradição, Pitágoras, no século VI a.C.,
pela primeira vez descreveu os intervalos
musicais tidos como consonantes
através da matemática. Usando relações
aritméticas entre os quatro primeiros
números inteiros junto com
experimentos práticos, definiu o intervalo
consonante de oitava como aquele
obtido dividindo-se uma corda sonante
de doze unidades de comprimento, que
gerava a nota básica, em duas partes de
igual extensão, com seis unidades,
dando a proporção de 1:2. Limitando
uma extensão de quatro unidades (1:3),
obtinha-se o intervalo de uma oitava
mais uma quinta, e com um
comprimento de três unidades (1:4), o
resultado era duas oitavas acima da nota
básica. Todas essas proporções, 1:2, 1:3
e 1:4, geravam intervalos consonantes
de acordo com a percepção da época.
Outros intervalos consonantes podiam
surgir com a inter-relação dessas
proporções iniciais - 2:3 e 3:4 - que
geravam os intervalos de quinta e quarta,
respectivamente. Além disso, Pitágoras
percebeu que 1+2+3+4=10, e que 10
unidades podiam ser representadas
graficamente através de 10 pontos
equidistantes dentro de um triângulo
equilátero com quatro unidades de lado,
uma figura chamada de tetraktys, que era
imbuída de especial significado místico,
contendo em si todas as relações
consonantes, sendo considerada por
isso um símbolo da perfeição. Mas em
certo momento Pitágoras e seus
seguidores abandonaram o
experimentalismo, desconfiando que os
sentidos humanos, uma vez que
variavam de indivíduo para indivíduo, não
poderiam dar acesso à Verdade, e
passaram a investigar a música somente
através da matemática, um instrumento
ideal de pesquisa que o aparato
sensorial humano não era capaz de
igualar; com isso o experimentalismo se
tornava irrelevante, e a música deixava o
território da arte e se tornava um
domínio das ciências exatas, tornando-
se passível de normatização
rigorosa.[29][30]
Formas
Sacras
Manuscrito do Agnus Dei da Missa Barcelona.
Biblioteca da Catalunha, Barcelona.
Mistas
Instrumental
O Rei David com escribas e músicos, uma iluminura
da Weltenchronik de Rudolf von Ems, c. 1340.
Biblioteca Central de Zurique. À esquerda o Rei toca
um saltério, e ao lado dele, acima, um músico com
uma rabeca. Na parte inferior da imagem aparecem
outra rabeca, uma viela de roda, uma cítara e uma
lira.
Principais representantes
Antes de se abordar em especificidade
alguns nomes notáveis do período, cabe
advertir que os exemplos musicais
oferecidos, na impossibilidade de se
suprir ilustração com gravações ao vivo,
foram realizados todos como versões
instrumentais computadorizadas. Se por
um lado isso pode dar uma ideia geral da
estrutura, dos perfis melódicos e das
relações intervalares das peças, não
pode substituir uma performance
autêntica, e por isso se encarece ao
leitor que procure exemplos gravados
para construir uma imagem mais
verdadeira da música Ars nova.
Gravações qualificadas de obras
integrais, de fácil acesso via internet,
podem ser encontradas em quantidade,
por exemplo, no website YouTube, e em
menor número no MySpace.
Jehannot de Lescurel
Philippe de Vitry
Guillaume de Machaut
Ars subtilior
A derradeira floração da corrente
principal da Ars nova foi a escola que
Ursula Günther nos anos 60 denominou
de Ars subtilior, "a arte mais sutil",
surgida a partir da segunda metade do
século XIV. Justifica-se o uso deste
termo, pois se os primeiros
compositores do século XIV
desenvolveram uma rica variedade de
técnicas compositivas e notacionais,
seus últimos representantes levaram
essa complexidade ao seus extremos.
Isso fica evidente tanto na sua música
como em seus manuscritos, alguns com
pautas em formas exóticas como o
círculo, a espiral e o coração, presente
em peças de Baude Cordier e outros. A
principal fonte documental dessa
produção é o Codex de Chantilly, que faz
uso dos sistemas de notação francês e
italiano em misturas variáveis. A música
da Ars subtilior é altamente refinada,
complexa e difícil de executar, e
originalmente pode ter sido destinada a
círculos de especialistas. Tratava de
temas profanos em sua grande maioria,
como o amor, cavalaria, guerra e elogios
a personalidades. Por sua técnica
avançada constituía a vanguarda da
época, e muitas vezes por suas
abstrações formais e singularidades
técnicas esta escola é comparada com a
produção contemporânea de música
experimental. Apesar de sua erudição
por vezes hermética, seus integrantes
eram largamente conhecidos e suas
músicas tiveram significativa circulação,
ainda que este estilo não tenha gerado
uma descendência direta. O centro inicial
de difusão foi Avinhão, nesta época sede
do papado. Dali se irradiou para Paris,
penetrou na Espanha e atingiu Chipre,
que era um centro diretamente
influenciado pela França. Mais tarde o
estilo chegou à Itália e também produziu
alguns frutos. A Ars subtilior nasceu
como uma derivação da escola de
Machaut, levada a cabo por
compositores como Francesco Landini,
Jacob Senleches, Johannes Ciconia,
Matteo da Perugia e Solage. Alguns
exemplos, como a célebre ballade
Fumeux fume par fumée de Solage,
mostram uma escrita harmônica muito
avançada para sua época, com
cromatismos ousados, progressões
deceptivas e cadências falsas, além de
um ritmo dinâmico e entrecortado.[4]
Muitas das obras da Ars subtilior
representam quebra-cabeças musicais,
com partes de mesma melodia notada
de formas diferentes, com notas
pontuadas ou vermelhas que alteram
outras notas pontuadas e vermelhas,
formas de notas não sistematizadas em
compêndios e notas conhecidas
interpretadas de formas arbitrárias,
notas coloridas em pelo menos quatro
cores diferentes, tessituras impossível
para as vozes humanas e a maior parte
dos instrumentos usuais na época, e
ritmos que se modificam a cada
compasso ou são superpostos em
metros diferentes, além de várias peças
trazerem textos metalinguísticos e
outras fazerem uso de recursos
polifônicos intrincados como o cânone
retrógrado ou em espelho. Esses
elementos em conjunto produzem à
audição um efeito quase
impressionístico. Por tantos motivos sua
transcrição moderna é a mais crivada de
dificuldades de todo o repertório Ars
nova, e em não raros casos sua
reconstituição é no máximo conjetural.[4]
Trecho inicial da ballade Fuions de ci, de Jacob de
Senleches, para ilustrar a complexidade rítmica da
Ars subtilior. Esta reconstituição da partitura se deve
à pesquisadora Lucy Cross
Fortuna crítica
Ver também
História da música
Música medieval
Música renascentista
Teoria musical
Polifonia
Contraponto
Música sacra
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