Deficiência Auditiva - Fundamentos e Metodologias - 2
Deficiência Auditiva - Fundamentos e Metodologias - 2
Deficiência Auditiva - Fundamentos e Metodologias - 2
Fundamentos e
Metodologias
Profª. Jacqueline Leire Roepke
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof. Valdecir Reginaldo de Oliveira
2018
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Profª. Jacqueline Leire Roepke
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof. Valdecir Reginaldo de Oliveira
R716d
ISBN 978-85-515-0188-7
CDD 371.912
Impresso por:
Apresentação
Olá, prezado acadêmico! Que alegria ter você conosco, na disciplina
de Deficiência Auditiva: Fundamentos e Metodologias! Nós preparamos este
livro de estudos com o intuito de que você acesse informações históricas e
teóricas sobre o tema, visualizando ainda, pesquisas que têm sido feitas re-
centemente, além de orientações voltadas à prática docente com estudantes
que tenham deficiência auditiva ou que sejam surdos.
Você entenderá que na modernidade, por mais que são criados inúme-
ros mecanismos que visam à qualidade de vida dos surdos, também, foram
feitas experiências desumanas para chegar a um resultado desejado. Além dis-
so, é na modernidade que o surdo cada vez mais é considerado um doente, e
seu corpo passa a ter uma utilidade dentro da sociedade capitalista, que bus-
ca a todo momento, investir e produzir através dos corpos. Nesse sentido, a
Unidade 1 apresentará, passo à passo, quais foram os marcos históricos que
deram visibilidade e conscientizaram as pessoas de que os surdos também são
pessoas, e que possuem igual dignidade. Você aprenderá conceitos que fazem
parte da educação inclusiva, que auxiliam significativamente na compreensão
do que trata a deficiência auditiva ou surdez. Por isso, apresentamos não so-
mente uma corrente teórica para afirmar os pressupostos dos conceitos e das
abordagens históricas e filosóficas que permeiam a educação dos surdos, mas
buscamos confrontar ideias, e trazer as críticas de pensadores e estudiosos que
discutem a temática da educação especial com maior atenção.
Nós também ansiamos por seus estudos durante esta disciplina, que sejam
feitos com dedicação e alegria. Afinal, como a própria Helen Keller dizia: “A alegria
é o fogo que mantém aquecido o nosso objetivo, e acesa a nossa inteligência”.
Bons estudos!
IV
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
UNI
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA
HISTÓRIA....................................................................................................................... 1
VII
TÓPICO 2 – DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ANTES E DURANTE O
PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA SAÚDE AUDITIVA ........................................... 77
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 77
2 CAMINHOS PERCORRIDOS DIANTE DA SUSPEITA DE PERDA AUDITIVA ................. 78
3 O DIAGNÓSTICO................................................................................................................................ 82
4 A REAÇÃO DA FAMÍLIA E DO DEFICIENTE AUDITIVO FRENTE AO
DIAGNÓSTICO..................................................................................................................................... 84
5 AS DIFICULDADES DE COMUNICAÇÃO ENTRE PACIENTES SURDOS E
PROFISSIONAIS DA SAÚDE............................................................................................................ 89
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 93
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 94
IX
X
UNIDADE 1
DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
ENTENDIMENTOS AO LONGO DA
HISTÓRIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos esta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Nesta primeira unidade do livro, você acessará os aspectos históricos e
culturais que formaram entendimentos sobre a deficiência auditiva.
3
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
DICAS
A cena contém tochas de fogo, que clareiam o corpo do bebê, diante dos olhos do ancião
que o segura friamente. Em seguida, aparecem centenas de caveiras na profundeza do
penhasco, abaixo dessa colina, dando a entender que muitos “eram descartados”.
Segundo Silva (2012), na Roma Antiga, logo que a criança nascia, caso ela
fosse do sexo feminino ou apresentasse alguma deficiência, tão logo era submetida
à decisão do pai. Caberia ao pai julgar as condições de seu filho, decidindo se
manteria vivo ou se condenava ao abandono ou morte. Portanto, essas práticas
cruéis para com os deficientes eram recorrentes na Antiguidade e aconteciam
em muitas regiões europeias. Na visão de Sueli (2011, p. 38), são comuns as
narrativas dos filósofos, dos trabalhadores e intelectuais daquela sociedade sobre
o extermínio de crianças com deficiências:
5
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
DICAS
Essa atenção dada às pessoas com deficiência na Idade Média, por parte
da Igreja, era vista de uma forma ambígua, pois como destaca Sueli (2011), havia
uma tendência a interpretar o nascimento de uma pessoa com deficiência como
um castigo de Deus, ou seja, uma punição dada em virtude dos pecados cometidos
pelos seus pais ou familiares. Nesse sentido, as pessoas que apresentavam
deformidades no corpo, de acordo com essa interpretação, estavam sob a posse
de um ser maligno. Por exemplo, as pessoas que sofriam de epilepsia ou atitudes
psicóticas eram tratadas como criaturas possuídas por demônios, ou também,
enfeitiçadas por bruxas, ou simplesmente loucas.
6
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO
NOTA
E
IMPORTANT
A Idade Média foi marcada pela supremacia da Igreja, pela economia rural, pela
sociedade estática e hierarquizada, pela ausência de condições de higiene e a presença de
doenças epidêmicas. Foi em meio a esse cenário que surgiu a necessidade de instituições
precursoras dos modernos hospitais (DUARTE et al., 2013, p. 1718).
7
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
DICAS
As duas versões permitem compreender alguns dos motivos que levaram à famosa
Queda da Bastilha. Paris sendo moradia de centenas e centenas de miseráveis que dividiam as
ruas com os ratos, enquanto no palácio de Versalhes, uma minoria de pessoas vivia regalada,
gastando quantias exageradas em comida, festas e roupas requintadas.
8
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO
9
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
francês Michel Foucault (1977), esse momento em que a disciplina aparece como
um mecanismo estratégico de funcionamento do poder, é que brota uma arte
do corpo humano, que tem por objetivo não somente aprofundar a sua sujeição
ou aumentar as habilidades e aptidões, mas como uma maquinaria, ela funciona
na fabricação de corpos padronizados, aptos para assumirem uma função na
sociedade.
3 O SURDO NA HISTÓRIA
De acordo com Duarte et al. (2013), a humanidade certamente sempre
teve representantes surdos. O que difere é que, dependendo do período histórico,
os surdos eram vistos de modo diferente pela sociedade, e assim eram tratados,
também, de modos diferenciados. Nem sempre eles foram (são) respeitados em
suas diferenças. Existiram momentos em que nem eram considerados como seres
humanos.
10
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO
11
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
ATENCAO
Você conhece alguém que acredita ainda que “lugar de deficiente é no hospital”?
Qual postura você tomaria frente a um posicionamento desses?
12
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO
NOTA
Você sabia que o termo ouvinte é utilizado para se referir às pessoas não surdas,
que decorre de ouvintismo, que trata de um conjunto de representações dos ouvintes, a
partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte? (SKLIAR,
2013).
13
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
14
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Para Aristóteles, alguém que nascia surdo ou mudo, na Grécia Antiga, era
incapaz de compreender as coisas e aprender.
• Com a visão cristã de que todos os homens são criaturas de Deus, feito a sua
imagem e semelhança, a morte de crianças que eram rejeitadas pelos pais por
possuírem algum tipo de deficiência, passou a ser condenada.
15
• A nova mentalidade antropocêntrica passa a fundamentar a visão de mundo,
com o homem no centro do universo; surgem as ciências naturais.
• Nos séculos XVIII e XIX são criados os primeiros espaços específicos para a
educação de pessoas com deficiências na Europa e nos países colonizados por
ela.
• Com o avanço da medicina no século XIX, o surdo passa a ser entendido como
um doente; há uma institucionalização de metodologias e práticas educacionais
que amparam os deficientes auditivos.
16
AUTOATIVIDADE
17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
No segundo tópico desta primeira unidade, trataremos da história da
educação dos surdos no mundo e no Brasil. Quais foram os principais teóricos
e educadores na história da educação dos surdos? Quando surgiu a educação
formal para os surdos? Como eram as primeiras formas de metodologia no
ensino dos surdos? Para responder a estas questões, você encontrará ao longo
deste tópico um estudo detalhado sobre a história da educação dos surdos, com
livros e artigos de estudiosos sobre o tema.
19
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
NOTA
20
TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA
21
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
DICAS
Algumas pessoas confundem esse estudo com a quiromancia, que é a leitura das mãos com
base na adivinhação. Ao contrário, a quirologia está baseada na lógica e pode explicar traços
da personalidade do indivíduo, como explica a especialista Karine Maria Zancanaro. Veja o
que é possível saber analisando apenas a palma da mão: "Vale lembrar que as linhas das
mãos podem mudar, assim como nossa vida, pois elas apontam o que estamos carregando,
que caminhos podemos seguir e, se não queremos isso, como podemos mudar". Veja a
entrevista com a especialista na íntegra, no programa Mais Você, disponível no site Gshow:
Quirologia: veja o que as mãos podem dizer sobre a sua vida física e mental.
FIGURA 6 – QUIROLOGIA
22
TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA
23
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
24
TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA
25
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
Além disso, Itard considerou, mais tarde, que para se educar um surdo
era indispensável introduzir a língua de sinais. Portanto, publicou em 1821 o
clássico Tratado das doenças do ouvido e da audição. Nesta obra, Itard divulgou novas
perspectivas de educação de surdos, como salientam Duarte et al. (2013, p. 1721):
26
TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA
DICAS
27
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
DICAS
Sugestão de leitura:
Que tal mergulhar nessa obra autobibliográfica da autora Emmanuelle Laborit?
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UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
Duarte et al. (2013) destacam que com essas resoluções, a educação dos
surdos assumiu a responsabilidade de reabilitação, colocando em segundo
plano a função pedagógica e encarregando-se dos treinos auditivos, para que
assim todos os sinais sonoros que pudessem ser recebidos se transformassem
em informações somadas ao treino da leitura orofacial. Vale ressaltar que grande
parte dessas decisões tomadas no II Congresso Internacional de Educação dos
Surdos, tiveram a influência direta de Alexander Graham Bell. Bell tinha grande
prestígio e autoridade, defendia a eugenia e o ensino da língua oral, criticando o
uso da língua de sinais como língua natural dos surdos.
30
TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA
NOTA
Você sabia que em 1877, Alexander Graham Bell fundou a Companhia Telefônica
Bell que, mais tarde, tornou-se a American Telephone & Telegraph (AT&T), a maior companhia
telefônica do mundo? A Telefônica Bell abriu a primeira linha transcontinental, de Nova York
a São Francisco, em 1915. Além da invenção do telefone, que deu a Bell muito dinheiro e
fama, ele também inventou o fotofone e o audiômetro, além das gravações fonográficas em
chapas ou cilindros revestidos com cera. Graham Bell se aposentou, mas continuou ativo
como coordenador do Instituto Smithsonian, em Washington.
Ainda na década de 1970, surge nos EUA uma nova filosofia educacional,
que foi difundida para outros países, com o nome de Comunicação total. Nessa
filosofia educacional, o que está em jogo é dizer não ao isolamento e possibilitar
a aproximação e o contato com as pessoas. Para que isso se concretize, seria
necessário utilizar todas as maneiras possíveis para uma comunicação total,
seja pela linguagem oral, pela linguagem de sinais, pela datilologia ou pela
31
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
combinação desses modos. Assim, segundo Duarte et al. (2013), a visão do sujeito
surdo deixa de ser focada na diferença patológica para se pautar na diferença
linguística, ocasionando a viabilização da interação entre os surdos e entre a
comunidade ouvinte. Posteriormente, na década de 1980, apareceu a filosofia
educacional denominada de bilinguismo, cujo objetivo era que o surdo fosse
bilíngue, desenvolvendo o mais cedo possível a exposição da criança a duas
línguas, a de sinais e a oral de seus pais.
DICAS
TUROS
ESTUDOS FU
33
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
Silva (2012) destaca que embora implicitamente, o direito das pessoas com
deficiência já estava na primeira constituição do Brasil, de 1854. A partir de 1857, o
Brasil teve um grande crescimento econômico, de estabilização do poder imperial,
e uma forte influência de ideias liberais advindas da Europa, principalmente da
França e EUA. A criação do Imperial Instituto de Surdos-mudos foi um importante
marco na história da educação dos surdos, haja vista que se constituiu de uma
escola preocupada com o ensino literário e profissionalizante de meninos surdos
na faixa etária entre 7 e 14 anos (SILVA, 2012).
Além disso, o instituto era uma referência para a comunidade surda e para
os professores surdos da época. Segundo Mori e Sander (2015), os professores
e estudantes do instituto utilizavam a língua de sinais francesa, trazida pelo
pedagogo Huet, misturando com a língua existente no país. Dessa mistura surgiu,
mais tarde, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), usada até hoje. Vale lembrar que
assim como as línguas orais, as línguas de sinais também se constituem a partir
de outras já existentes.
Neste sentido, foi no contexto da década de 1980 até os anos 1990 que
floresceu, no Brasil, o uso da língua de sinais, mais precisamente a filosofia
educacional, denominada Comunicação Total (MORI; SANDER, 2015). Como já
abordado anteriormente, essa filosofia educacional originou-se nos EUA, com o
34
TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA
LEITURA COMPLEMENTAR
Marina Rubini
Você sabia que o tema da redação do Enem de 2017 foi sobre os desafios
para a formação educacional de surdos no Brasil? A seguir você terá acesso a uma
redação redigida pela Professora Marina Rubini, sob o título: “A escola, as Libras,
um Brasil de inclusão”.
36
TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA
TUROS
ESTUDOS FU
37
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Antes do século XVI, os surdos não eram considerados aptos para receber uma
educação formal, pois a palavra oral tinha enorme importância.
• O abade francês Charles Michel de L’Epée (1712 – 1789), conhecido como “pai
dos surdos”, funda a primeira escola pública para surdos em Paris, o Instituto
Nacional de Surdos-mudos de Paris. O abade francês L’Épée utilizava uma
metodologia de ensino que se baseava na própria linguagem dos surdos, ou
seja, sistematizando os sinais que os surdos utilizavam, criando outros sinais.
38
• Na modernidade, a educação de surdos tem um salto qualitativo, pois se
consolidaram diversas escolas que utilizavam da Língua de Sinais, que
permitiam aos surdos aprender e dominar inúmeros assuntos, atuando
profissionalmente.
• Na década de 1970, surge nos EUA uma nova filosofia educacional, que foi
difundida para outros países com o nome de Comunicação Total. Tinha como
objetivo aperfeiçoar a educação dos surdos por meio de todas as formas de
comunicação possíveis: a fala, os sinais, a dança, a mímica, o teatro etc.
39
• A educação de crianças deficientes no Brasil surge na forma institucionalizada,
sob a influência das ideias liberais no fim do século XVIII.
• No dia 12 de setembro de 1854, foi criado por Dom Pedro II o Instituto dos
Meninos Cegos, ligado ao cego brasileiro José Álvares de Azevedo.
40
AUTOATIVIDADE
41
3 Na segunda metade do século XVII, o abade francês Charles Michel de
L’Epée (1712 -1789), conhecido como “pai dos surdos”, funda a primeira
escola pública para surdos em Paris, o Instituto Nacional de Surdos-mudos
de Paris, inaugurando na história da educação dos surdos uma língua
comum. Com base no exposto, responda qual era a metodologia utilizada
pelo religioso L’Épée na educação dos surdos e qual era a crítica feita pelos
professores que o seguiram posteriormente.
42
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Neste terceiro tópico, você adentrará no universo dos
conceitos e desafios que assolam a educação especial, em particular, a deficiência
auditiva. Sabe-se que termos como “deficiência”, “surdo”, “educação especial”
ou “necessidades educacionais especiais” (NEE) possuem em sua polissemia
diversos entendimentos e direcionamentos na prática. Você verá que com os
estudos da filósofa e pesquisadora Mary Warnock, introduziu-se na história da
educação especial o conceito de necessidades educativas especiais, que por sua
vez, foi adotado na Declaração de Salamanca em 1994. A terminologia não foi
muito bem recebida por estudiosos da educação especial, que teceram algumas
críticas que você ficará sabendo ao longo de sua leitura. Você também ficará
por dentro de abordagens que tratam o surdo não como deficiente, mas como
diferente. Vamos ao que interessa, boa leitura e bom estudo!
43
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
44
TÓPICO 3 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA HOJE: CONCEITOS E DESAFIOS
TUROS
ESTUDOS FU
É a partir dos anos 1970 que os termos surdo e surdez passam a ser
vinculados à patologia, ou seja, à incapacidade do órgão e não ao sujeito. Nesse
sentido, conforme Mainieri (2012), a pesquisadora Mary Warnock, nos anos de 1978,
realizou uma pesquisa que investigou as condições da educação especial inglesa,
apresentando os resultados ao parlamento do Reino Unido, para a Educação e
Ciência, Secretaria do Estado para a Escócia e a Secretaria do Estado para o País de
Gales. Na visão de Mainieri (2012, p. 63), a pesquisadora concluiu que:
NOTA
• “Inclusion must embrace the feeling of belonging – necessary for well-being and successful
learning”. (A inclusão deve abranger o sentimento de pertencer – necessário para o bem-
estar e o aprendizado bem-sucedido).
• “Special equipment may make it possible that some children with sensory deprivation …can
be taught in the ordinary classroom”. (Equipamentos especiais podem tornar possível que
algumas crianças com privação sensorial ... possam ser ensinadas na sala de aula comum).
• “The fact is that, if educated in mainstream schools, many such children are not included
at all”. (O fato é que, se educadas em escolas regulares, muitas dessas crianças não são
incluídas).
• “The idea of inclusion should be rethought”. (A ideia de inclusão deve ser repensada).
46
TÓPICO 3 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA HOJE: CONCEITOS E DESAFIOS
[..] abrange todos os estudantes que estão fracassando nas escolas por
uma ampla variedade de razões, que têm necessidade ou não de apoio
adicional e demandará da escola adaptação de currículos, ensino/
organização e/ou oferta de recursos humanos ou materiais adicionais
de forma a estimular a aprendizagem eficiente e efetiva para este
aluno.
47
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
48
TÓPICO 3 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA HOJE: CONCEITOS E DESAFIOS
49
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
50
TÓPICO 3 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA HOJE: CONCEITOS E DESAFIOS
E
IMPORTANT
51
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
DICAS
• SOUZA, Regina Maria de. Sujeito surdo e profissionais ouvintes: repensando esta relação.
Estilos da Clínica. São Paulo, v. 3, n. 4, p. 130-145, 1998. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.
org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71281998000100018&lng=pt&nrm=iso>.
52
TÓPICO 3 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA HOJE: CONCEITOS E DESAFIOS
A partir das décadas de 1980 e início da década de 1990, para Bisol e Sperb
(2010, p. 12), “colocou-se com ênfase a necessidade de definir o s/Surdo em um eixo
identitário único, porém na segunda metade dessa década, a relação complexa
dos surdos com o mundo pôde ser reconhecida”. Percebe-se ainda, na década de
1990, que tentativas de superar a noção de uma identidade cultural autônoma,
para uma que, segundo Bisol e Sperb (2008, p. 11), “está mais consciente das
diversas maneiras de ser Surdo em uma montagem complexa de fronteiras, pois
pessoas s/Surdas serão encontradas em cada raça, etnia, tribo, nacionalidade,
classe econômica, gênero, orientação sexual e região geográfica”.
53
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
54
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A partir dos anos de 1970 é que os termos surdo e surdez passam a ser
vinculados à patologia, ou seja, à incapacidade do órgão e não ao sujeito.
55
• A concepção de deficiência, que norteia as políticas e os projetos educacionais
da escola inclusiva, deve ser dinâmica e interativa.
• A língua de sinais tem uma importância singular, porque considera que nem
sempre as crianças surdas conseguem ser bem-sucedidas na aprendizagem
oral; a língua de sinais deveria ser oferecida como primeira língua à criança
surda, buscando-se evitar o atraso no desenvolvimento da linguagem.
56
AUTOATIVIDADE
57
58
UNIDADE 1
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Neste último tópico de nossa primeira unidade, você
verá as classificações das perdas auditivas em relação ao tipo de surdez e também
quanto ao grau de surdez. Para isso, é importante destacar que há distintas
compreensões e estudos que realizam a classificação da surdez quanto ao grau. No
entanto, nossa abordagem se baseou no Conselho Federal de Fonodiaudiologia,
de fevereiro de 2013 e, também, nos estudos realizados por Tessaro (2011).
59
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
Orelha Orelha
Orelha Externa
Média Interna
Ossículos
Janela
oval
Nervo
Auditivo
Cóclea
Meato Membrana
Pavilhão
acústico timpânica
Auricular
60
TÓPICO 4 | CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS AUDITIVAS: QUANTO AO TIPO E GRAU
61
UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA
TUROS
ESTUDOS FU
E
IMPORTANT
62
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• A perda auditiva condutiva é causada por uma alteração que acontece na orelha
externa (meato acústico) e/ou média (membrana timpânica, cadeia ossicular,
janelas oval e redonda e tuba auditiva).
• Segundo Carvalho (1997), o sujeito considerado surdo é aquele que tem a perda
total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala
através do ouvido.
63
AUTOATIVIDADE
1 Sem a comparação dos dois limiares, entre a via aérea e a via óssea de cada
orelha, não é possível saber o tipo da perda auditiva. Nesse sentido, as
perdas auditivas podem ser classificadas como: condutiva, neurossensorial
(sensorioneural) ou mista. Diante do exposto, explique as causas das
respectivas perdas auditivas.
64
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
65
66
UNIDADE 2
TÓPICO 1
João 9:1-3
1 INTRODUÇÃO
Agora que você já viu como a deficiência auditiva foi considerada ao longo
da história, talvez você esteja se perguntando algo similar ao que os discípulos
perguntaram a Jesus:
Como você já viu na unidade anterior, ainda hoje, a forma com que a
sociedade brasileira trata o deficiente auditivo, reflete o desconhecimento da
história e as condições de vida das pessoas que portam a deficiência auditiva.
Para Strobel (2007, p. 13), de uma maneira geral, a sociedade atual ainda vê os
67
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Ao longo desta unidade, você notará que dentro das deficiências humanas,
a deficiência auditiva é a que mais tem impacto no convívio social, pois interfere
diretamente na linguagem, na fala e, consequentemente, na socialização. Além
disso, a deficiência auditiva tem grande impacto na aprendizagem, dificultando
o desenvolvimento escolar, bem como a vida profissional.
68
TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA E SUAS CAUSAS
NOTA
69
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
• Causas pós-natais (a criança fica surda porque surgem problemas após seu
nascimento):
o meningite;
o remédios ototóxicos, em excesso, ou sem orientação médica;
o sífilis adquirida;
o sarampo, caxumba;
o exposição contínua a ruídos ou sons muito altos;
o traumatismos cranianos;
o outros.
70
TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA E SUAS CAUSAS
DICAS
[...] existem algumas pessoas com perdas auditivas que anseiam pelo
tratamento através da amplificação sonora individual e abordagem
oral, no entanto este tratamento não se torna possível, geralmente
nos casos de perdas de grau severo e profundo, pré-linguais, que são
detectadas tardiamente.
TUROS
ESTUDOS FU
71
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
E
IMPORTANT
O famoso cantor Bono Vox não tem 100% da audição. O líder da banda irlandesa
U2 sofre há muitos anos de tinnitus, uma espécie de "zumbido" nos ouvidos. Bono abordou
o tema dos seus ruídos auditivos agonizantes em algumas de suas canções, como Staring
at the Sun.
72
TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA E SUAS CAUSAS
Considerando que este livro sobre deficiência auditiva esteja sendo lido
por muitas pessoas que almejam trabalhar na área de Educação, vale ressaltar que
muitas salas de aula, e escolas de forma geral, apresentam ambientes altamente
ruidosos. Vale ressaltar que além de possivelmente trabalhar com alguns
estudantes que apresentem dificuldades de audição, o professor também precisa
ser responsável com sua saúde.
DICAS
Você sabia que já existem estudos sobre surdez ocupacional voltados para o
trabalho do professor? Um deles é o de Regina Helena Garcia Martins et al. (2007, p. 243),
intitulado Surdez ocupacional em professores: um diagnóstico provável, que chegou às
seguintes conclusões:
73
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
TUROS
ESTUDOS FU
74
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
75
AUTOATIVIDADE
76
UNIDADE 2 TÓPICO 2
Guimarães Rosa
1 INTRODUÇÃO
Até receber o diagnóstico de surdez de uma criança, a família tende a
lidar com algumas situações que vão gerando apreensão e angústia. Antes de
terem a palavra de um profissional da saúde, de que a criança tem problemas de
audição, geralmente a família já percebe que há algo diferente no comportamento
da criança, afinal, a criança não responde como as demais, aos estímulos sonoros.
Porém é frequente que ocorra a negação da possibilidade de que o filho possui
deficiência auditiva, como apontam os estudos de Cortelo e Francozo (2014) e de
Monteiro, Silva e Ratner (2016). Assim, os pais tendem a protelar a busca por um
profissional para fazer a avaliação da saúde auditiva da criança, pois dizem a si
mesmos que a criança é normal e que logo tudo ficará bem.
Depois, poderá entrar em contato com estudos científicos que tratam das
reações das famílias ante o diagnóstico de surdez, bem como as atitudes que
costumam ser adotadas e as consequências delas.
77
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
ATENCAO
78
TÓPICO 2 | DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
• A surdez não gera dor e/ou desconforto no corpo, por isso há pessoas que
buscam uma avaliação com profissionais da saúde tardiamente.
• Por ser invisível, a surdez tende a ser ignorada ou incompreendida pelos
ouvintes.
• A TAN oportuniza que a intervenção fonoaudiológica inicie antecipadamente
nas crianças que forem diagnosticadas com alterações na audição.
• As famílias de bebês que são surdos e que não foram submetidos à TAN,
costumam descobrir o diagnóstico da surdez aos dois anos de idade.
• Crianças submetidas à TAN recebem o diagnóstico dentro de seis meses de
vida.
• Os governos de inúmeros países têm investido na TAN, diante da crescente
disseminação de informações atinentes às consequências irreversíveis da perda
auditiva sobre o desenvolvimento social, emocional, cognitivo e linguístico da
criança.
DICAS
Para compreender quais são os prejuízos que vêm sobre a criança surda que
demora para obter um diagnóstico, e para as consequências do diagnóstico tardio para
a família, assista ao filme E seu nome é Jonas (1979). O filme mostra que até receber o
diagnóstico, o menino permaneceu tratado como um deficiente mental. Seus pais acabaram
tendo problemas no relacionamento conjugal. Quando o menino acabou perdido na rua e foi
encontrado por um policial, foi encaminhando ao hospital onde foi totalmente imobilizado
por acreditarem que ele tinha problemas mentais. As cenas em que o menino e sua família
sofrem preconceito são várias!
79
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
ATENCAO
Embora a TAN seja tão benéfica para os bebês, ela tem suscitado
sentimentos de ansiedade nas mães, pois as leva a pensar na possibilidade de
terem gerado um bebê que não seja saudável e perfeito como haviam idealizado
ao longo da gestação. Esse é um dos motivos que justifica a relevância de um
trabalho interdisciplinar, sobretudo nos casos em que a surdez é confirmada no
processo diagnóstico.
80
TÓPICO 2 | DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
TUROS
ESTUDOS FU
Ainda, neste tópico, você observará os sentimentos que costumam emergir nos
familiares de bebês que apresentam perdas auditivas.
Ficou curioso para saber mais sobre o trabalho interdisciplinar prestado às crianças
com deficiência auditiva e seus familiares? O Tópico 4 desta unidade trará mais informações
acerca do assunto.
81
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
3 O DIAGNÓSTICO
Conforme Piatto e Maniglia (2001), o diagnóstico de alterações auditivas é
realizado por testes audiométricos, já que a audição é medida pela audiometria.
Esses testes são feitos por intermédio de aparelhos eletrônicos.
E
IMPORTANT
82
TÓPICO 2 | DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
83
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
NOTA
"Há relação causal entre otite média serosa e deficiência auditiva associada ou não a
distúrbios da fala e aprendizado. Esse tipo de otite, ocorrendo mais frequentemente em
crianças, raramente ocasiona mais de 20 dB a 30 dB de perda auditiva, sendo comum
uma flutuação do limiar em relação a resfriados, otites médias agudas e estações do ano,
aumentando, portanto, a perda auditiva nessas intercorrências. A otite média serosa, quando
em estágio avançado e persistente, chega a atingir limiares iguais a/ou maiores do que 40
dB-50 dB, influenciando de maneira negativa a capacidade auditiva e, como consequência, o
aprendizado" (PIATTO; MANIGLIA, 2001, p. 128).
84
TÓPICO 2 | DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
85
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
FONTE: Os autores
86
TÓPICO 2 | DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
O filme E seu nome é Jonas (1979) também mostra todos os sentimentos que
o diagnóstico de surdez (e tudo que o antecede) desencadeia na mãe de Jonas. Ela
passa por todas as fases descritas pelas pesquisas.
87
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
88
TÓPICO 2 | DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
Monteiro, Silva e Ratner (2016) realizaram uma pesquisa que contou com
a participação de cinco surdos adultos, em situação de baixa renda econômica,
atendidos por uma equipe multidisciplinar (pedagoga, psicóloga e intérprete de
língua de sinais), em Brasília, no ano de 2013. Os resultados da pesquisa mostram
que há facetas correlativas no que se refere ao impacto do diagnóstico da surdez
na constituição do surdo:
a) o efeito iatrogênico;
b) o reposicionamento dramático das relações parentais após o diagnóstico.
89
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
90
TÓPICO 2 | DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:
ATENCAO
NOTA
91
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
E
IMPORTANT
92
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico apresentamos:
• Infelizmente, o Brasil possui muitas famílias com baixa renda, que têm
dificuldades de acessos a serviços públicos de reabilitação da criança com
surdez. Com maior poder aquisitivo pode-se ter um tratamento adequado e
garantir uma melhor qualidade da audição na criança.
93
AUTOATIVIDADE
1 Diante das informações desse tópico, você encontrou algumas que podem
ser úteis no cotidiano do trabalho de um profissional da educação especial.
Cite duas delas.
2 Cite três prejuízos que o surdo sofre quando é atendido por profissionais da
saúde que não são fluentes em libras.
94
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, você pôde observar uma porção de dificuldades
que os sujeitos surdos enfrentam ao tentar buscar ou realizar atendimento em
saúde. A dificuldade de estabelecer diálogo com profissionais da saúde é uma
das principais queixas encontradas nas pesquisas disponíveis nas bases de dados
científicas informatizadas.
Agora que você já pôde registrar seus palpites para alguns dos entraves que
os surdos vivenciam, que tal, conferir quais são os assuntos que serão abordados
nesse tópico? Ele tratará de dificuldades no âmbito da comunicação, dificuldades
de acessibilidade, preconceito, falta de investimentos governamentais, excesso
de proteção dos familiares e despreparo deles. Também podem acontecer
dificuldades de relacionamentos, dilemas com a autoestima, revezes com
aparelhos que objetivam melhorar a captação de sons, impaciência por parte de
ouvintes, segregação, etc.
95
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
DICAS
96
TÓPICO 3 | DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA
Acesse <https://novaescola.org.br/conteudo/7094/enem-quais-as-dificuldades-que-os-
surdos-enfrentam-na-educacao-brasileira> e confira.
Ao ler os temas geradores da redação, você poderá identificar conteúdos acerca
da história do acesso à educação, por parte dos sujeitos surdos, como você já pôde verificar
na primeira unidade desse livro. Encontrará ainda algumas questões relativas a Libras –
sobre as quais poderá ampliar seus conhecimentos ao longo dessa unidade.
Que tal sua turma fazer uma produção escrita coletiva? Procurem realizar a
redação proposta pelo ENEM. É uma atividade que pode gerar valiosos diálogos na sua
turma!
Agora, volte à lista que você foi instigado a escrever, imaginando alguns
contratempos que os surdos costumam encarar no cotidiano. Que tal conferir se
você citou algumas dessas dificuldades?
DICAS
O filme de romance Hear me (2009, Taiwan) faz menção a uma história de amor
entre um ouvinte e uma garota surda. Seu título foi traduzido para Escuta-me, e traz uma
série de reflexões sobre o início de um relacionamento amoroso envolvendo uma pessoa
surda e sobre algumas reações da família do namorado, ao tomar conhecimento de que ele
está se relacionando com uma pessoa surda.
FIGURA 7 – ESCUTA-ME
98
TÓPICO 3 | DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA
DICAS
UNI
Talvez você tenha sinalizado em sua lista alguma dificuldade que não foi
elencada aqui. Que tal socializar com a sua turma?
99
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
DICAS
100
TÓPICO 3 | DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA
3 SURDEZ E PRECONCEITO
Como você já viu na primeira unidade deste livro, antigamente a
comunidade surda era considerada defeituosa, anormal, não sendo aceita no
convívio social. Logo, boa parte dos preconceitos direcionados aos surdos é
sustentada por questões históricas. Entretanto, se historicamente a surdez era
julgada como uma doença, nos dias atuais esse estereótipo tende a deixar de
existir. Nos centros universitários, o surdo já é visto com outros olhos e já não
encontra tanta discriminação. A sociedade dotada de oralidade, aos poucos vem
aceitando o surdo em seu convívio, até mesmo auxiliando-o em algumas de suas
dificuldades (WITKOSKI, 2009).
DICAS
101
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
TUROS
ESTUDOS FU
102
TÓPICO 3 | DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA
• Impaciência dos ouvintes: para Witkoski (2009), a pessoa surda tem dificuldade
de interpretar a fala de seu interlocutor e perde as percepções de ideias que
ficam nas entrelinhas, principalmente os surdos que fazem a leitura labial, pois
são privados de acompanhar as oscilações no tom de voz – que tanto pensam
na construção do sentido das palavras e frases. Então, não é raro que o surdo
leve mais tempo para compreender o que está sendo dito. Assim, o ouvinte que
está tentando se comunicar com ele, tende a revelar impaciência com o surdo,
que, por sua vez, tem a sua comunicação limitada e não é compreendido.
Sem falar que existem muitas pessoas que nem se esforçam para interpretar
ou entender o surdo na sua forma de comunicação gestual. Uma estratégia
que muitos surdos adotam nestas situações é a utilização de “disfarces”
para evitar conflitos com outrem, numa tentativa de inserção social. Para se
sentirem aceitos, por vezes preferem transparecer que estão entendendo seu
interlocutor perfeitamente, fazendo discretos sinais positivos, como fazem os
ouvintes, num diálogo trivial.
• Desprezo: o surdo ainda tem que conviver com o estigma de que ele é
deficiente e considerado abaixo da linha falante da sociedade. A pessoa com
surdez pode se sentir desprezada frente ao convívio social, no sentido de que
possui menos capacidade do que a pessoa que não tem a limitação da surdez.
Até pouco tempo atrás, o surdo percebia que era discriminado e aceitava essa
situação, concordava que realmente não poderia conviver – ou fazer parte – de
uma sociedade que se comunica pela linguagem falada e regrada (WITKOSKI,
2009).
• Segregação familiar: ao longo dessa unidade, você já viu que muitas famílias
expressam sentimentos de recusa diante do diagnóstico de uma pessoa surda,
no seu meio familiar. Assim, alguns surdos não são integrados plenamente
na rotina da família da qual fazem parte. Existem casos em que a família
apresenta resistência ao uso de Libras, para que na rua as demais pessoas não
percebam que estão acompanhadas de um surdo. Afinal, Libras é uma forma
de identificação da comunidade surda, é a genuína expressão da identidade
surda. Por isso há famílias que tanto insistem em adotar o método oralista –
como forma de disfarçar, ou camuflar a surdez na sociedade. Quando o surdo
percebe que está vivenciando a segregação na própria família, tende a tornar-se
indiferente ou até mesmo agressivo. Afinal, ao invés de sua família batalhar pela
melhora de sua qualidade de vida, age de modo inverso, recusando-se a aceitar
a condição do seu filho, chegando ao ponto de manifestar-se envergonhada
por ele (WITKOSKI, 2009).
DICAS
103
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
4 SURDEZ E AUTOCONCEITO
Zugliani, Motti e Castanho (2007) realizaram uma pesquisa sobre “o
autoconceito do adolescente deficiente auditivo e sua relação com o uso do aparelho
de amplificação sonora individual”. As autoras salientam que o adolescente
surdo tem mais dificuldades nas interações sociais do que o adolescente que
não possui a limitação da surdez. Isto porque, além de todas as situações por
que passam os adolescentes em decorrência da transição da infância para a vida
adulta, eles ainda precisam enfrentar novas situações por se encontrarem no
âmbito da surdez. Uma dessas adaptações está no uso e hábito do AASI (aparelho
de amplificação sonora individual).
FIGURA 10 – O AUTOCONCEITO
Sobre si Mesmo
Sentimentos
Per
em
epçc
ag
Im
ões
Ju Val
o
çã
iz or
o
ui
at uto
de
rib
A
Autoconceito
Dinâmico Inacabado
Em
construção
Exigências Sociais
FONTE: Os autores
104
TÓPICO 3 | DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA
NOTA
105
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Logo, infere-se que a dança pode representar uma excelente oportunidade para
que o sujeito lide com suas necessidades, desejos, expectativas, além de contribuir no
desenvolvimento individual e social. Sem dúvida é uma atividade que proporciona inúmeros
benefícios educativos e físicos.
ATENCAO
Você sabia que o desempenho da pessoa surda pode ser melhor em uma
escola onde o surdo é atendido com atenção e aceito mesmo com sua limitação, do que
em casa, quando a família não vê potencial nenhum nele?
106
TÓPICO 3 | DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA
E
IMPORTANT
Toda pessoa precisa ouvir e falar para se comunicar no meio em que vive e é aí que
começam os problemas do surdo. Ele precisa enfrentar essas situações com determinação,
pois somente assim poderá desenvolver sua autoestima e conviver com pessoas usuárias da
língua falada com maior normalidade (FRANCELIN; MOTTI; MORITA, 2010).
107
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
ATENCAO
E
IMPORTANT
Você sabia que o autor da epígrafe desse tópico – o compositor alemão Ludwig
van Beethoven – também ficou surdo? Em três décadas, ele viu pouco a pouco sua audição
lhe escapar. Mesmo assim, não esmoreceu. Ele aproveitou sua memória para continuar
compondo suas músicas, mesmo depois de surdo. A 'Nona Sinfonia', criada poucos anos
antes de sua morte, foi declarada patrimônio mundial pela Unesco.
108
TÓPICO 3 | DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA
LEITURA COMPLEMENTAR
109
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Existem adolescentes surdos que não se consideram tão diferentes das demais
pessoas (que se utilizam da linguagem falada). Assim, levam uma vida muito
parecida com a dos ouvintes – fazendo atividades similares, frequentando
ambientes parecidos etc. – estando integrados na sociedade.
• Por outro lado, existem adolescentes surdos que se sentem “diferentes” das
demais pessoas e sentem vergonha da sua condição, optando por uma vida
mais solitária, restrita ao seio familiar.
110
AUTOATIVIDADE
2 Retorne para os palpites que você escreveu antes de ler este tópico sobre
possíveis dificuldades que o surdo enfrenta no seu dia a dia. Hoje, você
responderia indicando as mesmas situações? Você acessou dificuldades
aqui neste livro, sobre as quais nunca havia pensando? Quais foram?
3 Depois de ter lido esse tópico, na sua opinião, as pessoas surdas são...
111
112
UNIDADE 2
TÓPICO 4
Helen Keller
1 INTRODUÇÃO
Como você pôde observar no decorrer da leitura deste livro, o entorno
da criança surda exerce influências no desenvolvimento da sua linguagem e
seus pais desempenham importante função nesse contexto. Dessa forma, se
levarmos em consideração a perspectiva de Sacks (1998 apud SOLIA; SILVA,
2017), não olharemos mais para a surdez como uma deficiência, mas como uma
diferença linguística e cultural. Entretanto, isso não significa que a pessoa surda
não necessite de tratamentos de saúde. Outrossim, os sistemas educacionais e
de saúde necessitam disponibilizar meios para concretizar a educação bilíngue –
garantida por lei – para este público (SOLIA; SILVA, 2017).
Contudo, a surdez não acomete apenas crianças, por isso o Brasil dispõe de
políticas públicas que cada vez mais procuram implementar melhorias na saúde e
na educação para todas as pessoas, incluindo as pessoas com deficiências (SOLIA;
SILVA, 2017) e pessoas das mais variadas faixas etárias. Existem tratamentos
direcionados às pessoas surdas, mesmo na fase adulta, ou na velhice, tais como:
o uso de aparelho de amplificação sonora (aparelho auditivo), implante coclear,
entre outros (FRANCELIN; MOTTI; MORITA, 2010).
113
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
TUROS
ESTUDOS FU
114
TÓPICO 4 | PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AO DEFICIENTE AUDITIVO: TRATAMENTO E INTERVENÇÕES
NOTA
• Assistente social
• Enfermeiro
• Fonoaudiólogo
• Geneticista
• Médico neurologista
• Médico neuropediatra
• Médico otorrinolaringologista
• Médico pediatra
• Neonatologista
• Professor e profissionais da educação
• Psicólogo
3 TRATAMENTOS
Na deficiência auditiva de grau severo ou profundo, a criança não consegue
perceber qualquer som da fala na conversação normal, o que impossibilita o
desenvolvimento espontâneo de fala e linguagem, gerando problemas graves de
fala, além de dificuldade de comunicação em grupo, ou na presença de ruído.
Essas habilidades podem ser desenvolvidas por meio do treinamento extensivo
e amplificação sonora, dependendo da idade em que for iniciada a intervenção
(FIGUEIREDO; GIL, 2013).
115
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
eficientes para o ganho de audição. Não são somente as pessoas surdas que
ganham com isso, mas também as pessoas ao seu redor, bem como seus familiares,
que poderão interpretar e compreender melhor o sujeito surdo (FIGUEIREDO;
GIL, 2013).
AASI
IC
Aparelho de Amplificação
Implante Coclear
Sonora Individual
116
TÓPICO 4 | PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AO DEFICIENTE AUDITIVO: TRATAMENTO E INTERVENÇÕES
QUADRO 1 - IC x AASI
AASI
IC
(Aparelho de Amplificação
(Implante Coclear)
Sonora Individual)
FONTE: Os autores
117
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
DICAS
Para saber mais sobre o implante coclear, veja o vídeo "Dicas da Fono –
Implante Coclear: o que você precisa saber!" Acesse: <https://www.youtube.com/
watch?v=aQYrNGqBVWo>. O vídeo tem duração de apenas cinco minutos e fala a respeito
dessa tecnologia para pessoas com deficiência auditiva.
Como você viu no começo desta unidade, a velhice pode estar associada
com a perda auditiva. A população idosa no mundo está crescendo tanto em
países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. No ano de 2015,
12,5% da população era idosa. Estimativas indicam que até a metade do século
esse percentual passará para 30%. A expectativa média de vida também tem
crescido acentuadamente no país. Conforme previsões da Organização Mundial
de Saúde, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos até 2025
(LUZ; GHIRINGHELLI; IORIO, 2018).
118
TÓPICO 4 | PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AO DEFICIENTE AUDITIVO: TRATAMENTO E INTERVENÇÕES
Por outro lado, temos a pouca procura pelos serviços públicos oferecidos
ao idoso com surdez. Isto pela falta de compreensão no que tange ao tratamento
precoce ou pelo simples fato de acharem que não fará diferença a procura
pelo atendimento fonoaudiológico (CRUZ et al., 2013). Na opinião de Cruz et
al. (2013), o Brasil é carente em serviços públicos adequados ao tratamento da
surdez. Francelin, Motti e Morita (2010) expressam que em nosso país a situação
de pobreza é muito grande e, além disso, nossos governantes não dispõem de
políticas públicas que possam reverter a situação crítica no atendimento à saúde.
119
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
É lamentável que tantos idosos deixem de usar o AASI, afinal, ele pode
contribuir na melhoria da fala, da comunicação de modo geral, e em consequência
oportuniza que o idoso tenha mais condições de relacionar-se com as pessoas do
seu entorno. Outro possível fator que dificulta o acesso ao AASI, entre os idosos,
é a reduzida procura deles pelo atendimento público de saúde. Supostamente
porque imaginam que terão dificuldades de conseguir atendimento no SUS devido
à burocracia do programa. Além disso, o idoso pode deduzir que terá pouca ajuda
caso procure um especialista relacionado à surdez, achando, ainda, que o uso de
aparelho auditivo pouca diferença fará em sua vida (CRUZ et al., 2013).
4 PSICÓLOGOS
De acordo com Yamada e Bevilacqua (2005), o papel do psicólogo numa
equipe interdisciplinar para a reabilitação de pessoas com deficiência auditiva
é realizado por meio de uma atuação constantemente voltada aos sentimentos
do paciente, englobando ainda a relação familiar e acompanhamento das
modificações que ocorrem na vida do paciente e de sua família durante o processo
de IC (implante coclear). Por vezes, o trabalho do psicólogo se volta, também,
aos anseios e angústias da equipe multiprofissional. Mais especificamente com o
paciente, Yamada e Bevilacqua (2005) destacam que o papel do psicólogo abrange
as seguintes etapas:
120
TÓPICO 4 | PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AO DEFICIENTE AUDITIVO: TRATAMENTO E INTERVENÇÕES
121
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
5 FONOAUDIÓLOGOS
Por volta dos anos 1960, aqui no Brasil a fonoaudiologia começou a
ser ensinada. O objetivo desse estudo era aliar o tratamento fonoaudiológico
para melhorar a comunicação, sendo a surdez vista como um problema do
organismo a ser curado. Há tempos atrás, o ensino de fonoaudiologia era apenas
direcionado aos problemas e distorções da comunicação. Infelizmente ainda hoje
existem tratamentos fonoaudiológicos pautados na ideia de que a surdez é uma
deficiência e que não existe tratamento. Nesse caso, o paciente surdo é tratado
para se comunicar apenas com gestos. Na década de 1990, alguns fonoaudiólogos
reconheceram a surdez como uma diferença e apoiaram o ensino da língua de sinais.
Nesse sentido, pensou-se em utilizar uma proposta metodológica bilíngue, por
meio da qual o surdo apreende a Libras e a Língua Portuguesa simultaneamente.
Nessa proposta, as clínicas fonoaudiológicas tornam-se instituições dialógicas
(têm o diálogo na proposta de ensinar) (MARIANI et al., 2016).
122
TÓPICO 4 | PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AO DEFICIENTE AUDITIVO: TRATAMENTO E INTERVENÇÕES
ATENCAO
TUROS
ESTUDOS FU
123
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
6 PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Como você viu, a pessoa surda precisa aprender duas línguas. Assim, ela
precisará contar com professores, E Esses têm a evidente missão de ensinar a Libras
e a língua portuguesa, sem falar dos conteúdos que fazem parte do currículo da
educação básica até a superior (dependendo do grau de escolaridade que o surdo
quiser conquistar). Mas há outros ensinamentos que cabem ao profissional da
educação, como você verá nos parágrafos que seguem.
Leitura e escrita ocupam papéis centrais na vida das pessoas que vivem
em sociedades grafocêntricas como a nossa, isto é, que é centrada na escrita.
Afinal de contas, os signos linguísticos (orais e escritos) se tornam o meio básico
para dominar e dirigir a construção das funções psíquicas superiores. Sabe-se
ainda que atualmente a maioria das informações podem ser apreendidas através
da leitura e da escrita. Nos primeiros anos de vida, a criança precisa ter um
acompanhamento mais atencioso no tocante a sua fala, visto que esta poderá
sofrer prejuízos futuros para conciliar a sua oralidade. O uso do lúdico, o apoio
de terceiros e da família são itens importantes no processo de aprendizagem da
língua escrita (DUARTE; BRAZOROTTO, 2009).
TUROS
ESTUDOS FU
Não podemos nos esquecer de que a criança com surdez poderá ter menor
desenvolvimento escrito em consideração à criança que faz uso da língua falada (DUARTE;
BRAZOROTTO, 2009). No próximo tópico, você acessará as justificativas para tal.
124
TÓPICO 4 | PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AO DEFICIENTE AUDITIVO: TRATAMENTO E INTERVENÇÕES
125
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
126
AUTOATIVIDADE
1 Como você pôde ver, há pelo menos doze profissões que fazem parte das
propostas de tratamento da deficiência auditiva. Esse tópico pormenorizou
apenas três delas, que foram as mais recorrentes nas pesquisas encontradas
nas bases de dados eletrônicas. Assim, que tal fazer uma pesquisa na internet
e completar o quadro a seguir?
Assistente social
Enfermeiro
Fonoaudiólogo
Geneticista
Médico neurologista
Médico neuropediatra
Médico oftalmologista
Médico
otorrinolaringologista
Médico pediatra
Professor
Médico Neonatologista
Psicólogo
Radiologista
Psicopedagogo
127
128
UNIDADE 2 TÓPICO 5
Helen Keller
1 INTRODUÇÃO
Você já ouviu falar na norte-americana, Helen Adams Keller? Ela foi a
primeira pessoa surda e cega a concluir um bacharelado em uma universidade.
Viveu entre 1880 e 1968, e surpreendeu a sociedade de sua época, tornando-se
uma escritora, conferencista e ativista social. Talvez você esteja se perguntando:
Como ela conseguiu fazer tudo isso, sendo privada de dois sentidos (visão e
audição)? Como ela fez para estudar, sendo que presumivelmente não podia ver/
ler/escrever ou ouvir durante as aulas que participava? E como ela fazia para
se comunicar com seus colegas de aula? Ou talvez sua imaginação tenha lhe
conduzido a imaginá-la atuando como palestrante, sem a possibilidade de ver
sua plateia ou de ouvi-la.
129
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
130
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
Antes disso, vamos conhecer um pouco sobre uma teoria que atribui
ainda outros papéis à linguagem? Para Vygotsky (1989), o pensamento precisa
da linguagem para existir, embora muitas pessoas acreditem que primeiro
aprendemos a pensar, para depois aprendermos a falar/nos comunicar. Vygotsky
(1989) defende justamente o contrário. Ele deduz que pensamentos são formados
por palavras, e se a pessoa não conhece um código para comunicar-se, como ela
será capaz de pensar sobre algo? Sem acesso à linguagem, o pensamento de uma
pessoa se reduziria a imaginar imagens? Ou lembrar-se das imagens que já viu?
131
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
DICAS
Talvez, a essas alturas, você esteja torcendo o nariz, pensando então que,
para Vygotsky, as pessoas surdas não seriam capazes de pensar. Alto lá! Para
Vygotsky (1989), a linguagem não requer necessariamente a utilização de sons.
A linguagem de sinais, ou mesmo a leitura dos lábios, também são consideradas
linguagens, no caso, por intermédio da interpretação de movimentos. Para ser
considerada linguagem, independe a natureza do material que emprega. E é
sobre Libras que a próxima seção trata. Vamos lá?
DICAS
Antes de passarmos para reflexões da Libras, que tal dar uma pausa na leitura
e procurar na internet algum dos muitos vídeos que mostram Helen Keller discursando
publicamente?
Ou você pode assistir a algum dos filmes que tratam da biografia dela e de sua brilhante
relação com a professora Anne Sulivan.
Você tem a opção de assistir ao filme The Miracle Worker, de 1962, cuja direção é
de Arthur Penn, ou The Miracle Worker, versão do ano 2000, quando foi dirigido por Nadia
Tass. O título dos filmes foi traduzido como O Milagre de Anne Sullivan.
132
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
DICAS
Se mesmo depois dos filmes persistirem muitas dúvidas sobre a relação entre
pensamento e linguagem, ou se você ainda tem dúvidas sobre a existência de linguagem
entre os animais, pode elucidá-las com o livro Pensamento e Linguagem, de Vygotsky (1989).
DICAS
Você notou que todos eles são linguistas? As pessoas que se dedicam ao estudo e
ensino de línguas são chamadas de linguistas.
133
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
DICAS
Quer saber a opinião desses autores sobre as diferenças entre línguas orais e
gestuais? Então leia o livro de Quadros e Karnopp (2004), que é considerado referência básica
para essa disciplina.
• QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos
linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
NOTA
Você sabia que o Brasil possui duas línguas oficiais? A Língua Portuguesa e a
Libras!
134
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
Mito 2 – A língua de sinais é universal, portanto pode ser usada por todas as
pessoas surdas.
Para Quadros e Karnopp (2004), a língua de sinais difere de país para país
e até mesmo de região para região dentro de um determinado país. Por exemplo,
no Brasil, o sinal manual para “NÃO”, apesar de ser considerado icônico,
apresenta um significado completamente diferente na língua de sinais americana.
Ainda com dúvidas? Que tal ler o trecho a seguir para experienciar as
mudanças que a língua sofre com o tempo?
135
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Conseguiu perceber que o excerto possui palavras que não são mais
utilizadas na língua portuguesa? Trata-se de um pedacinho do romance Senhora,
publicado pelo escritor brasileiro José de Alencar, em 1875.
136
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
NOTA
Souza e Gediel (2017) esclarecem que os sinais da Libras não são feitos
de qualquer jeito, pois são pautados por parâmetros da gramática das Línguas
de Sinais. Essa gramática está ligada à forma pela qual os surdos entendem o
universo simbólico do qual fazem parte. Assim, atribuem significados conforme
os códigos de uma língua espacial visual. Isto é, os sinais precisam ser precisos
para a comunicação se processar. Os sinais também influenciam no processo
de compreender o mundo que os cerca e das formas como se identificam e são
identificados.
137
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
E
IMPORTANT
A língua de sinais deveria ser utilizada mais vezes por pais e professores
junto à criança com surdez. No entanto, eles se sentem despreparados para
auxiliar na comunicação dessa população específica (ou seja, o surdo), sendo
desprezados pela falta de políticas educacionais no Brasil. Uma das provas disto
é o desdém pela inclusão do ensino de Libras, que não faz parte do Programa
Curricular Nacional Brasileiro (CRATO; CARNIO, 2009).
Ainda assim, com o passar do tempo pequenos avanços têm sido vistos.
O aluno com surdez tem tido melhores condições de interagir com os colegas de
sala de aula, por conta dos aprendizados da língua de sinais e de outras maneiras
de expressar o que pensa. Do mesmo modo, os demais integrantes da sala de
aula também vão desenvolvendo as habilidades para receberem as informações
advindas dos alunos surdos, de modo que a comunicação entre ouvintes e surdos
vá ficando mais clara (SILVA, 2014).
138
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
140
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
A pesquisa feita por Almeida, Filasi e Almeida (2010), sobre coesão textual
na escrita de adultos surdos usuários da língua de sinais brasileira, constatou que
possivelmente a Libras afeta a escrita em língua portuguesa. Os textos produzidos
pelos alunos surdos (usuários de Libras) apresentaram coesão textual sequencial
e referencial, no entanto estavam prejudicadas, de modo que dificilmente os
textos escritos por eles eram compreendidos sem a interação direta entre leitor e
escritor. Todavia, o estudo demonstrou que esses sujeitos são capazes de construir
produções escritas com sentido e coesão.
141
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
142
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
Cultura
Ouvinte
"Cultura Surda"
FONTE: Os autores
143
UNIDADE 2 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
TUROS
ESTUDOS FU
DICAS
Por outro lado, há quem veja essa pressão do modo inverso. Ao dispor
a possibilidade de inserção na linguagem oral (e escrita) aos surdos, seria uma
forma de possibilitar sua inserção/integração na sociedade, pois quando o surdo
não tem acesso à aprendizagem da língua portuguesa, existe maior tendência de
que fique segregado, ou seja, à margem da sociedade, pois não possui uma das
formas necessárias para participar ativamente da sociedade.
144
TÓPICO 5 | ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS
Por fim, vale destacar algumas medidas que têm contribuído para o
reconhecimento da surdez, segundo Gesueli (2006):
DICAS
145
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
146
AUTOATIVIDADE
147
148
UNIDADE 3
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos esta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No texto, você encontrará auto-
atividades com o objetivo de reforçar os conteúdos apresentados.
149
150
UNIDADE 3
TÓPICO 1
Goethe
1 INTRODUÇÃO
Na unidade que você acabou de ler, foi abordado o preconceito que
as pessoas surdas enfrentam em seu cotidiano. Existem inúmeros tipos de
preconceitos dirigidos às pessoas em geral (ou grupos de pessoas,) pelos mais
diversos motivos. Há preconceitos positivos, inclusive. Eles acontecem quando
olhamos para uma pessoa e por alguma característica que ela possua, pensamos
que ela seja "superior". Por exemplo, ao ver um homem vestindo terno e gravata,
já se pressupõe que ele seja rico ou alguém "importante".
Isso vai muito além da imputação de culpa aos professores que acreditam
nas próprias imagens que eles têm dos alunos. Não basta apenas levar aos
professores um saber ou explicações de como eles poderiam ensinar mais e
melhor. É preciso que seja alcançado algo da ordem da ética. Algo mais amplo,
que só se alcança por meio de profundas reflexões.
Essa não é uma temática que envolve apenas os alunos com deficiência,
pois as diferenças apresentadas por indivíduos nas salas de aula são
inúmeras e perpassam por questões econômicas, sociais, culturais,
afetivas, biológicas, religiosas, étnicas, geradoras de discriminação
preconceito e estigmatização (SOUZA; MACEDO, 2012, p. 278).
151
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
Por isso, esse tópico não focará tão somente a deficiência auditiva, mas trata
de diferenças individuais num geral. Além do mais, como já foi visto na unidade
antecedente, por vezes a perda auditiva está relacionada com dificuldades na
aprendizagem.
DICAS
152
TÓPICO 1 | DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM
2 DIFERENÇAS INDIVIDUAIS
Para iniciar a reflexão sobre as diferenças individuais, que tal pensar um
pouco sobre o conceito de "normalidade"? Você já percebeu que a normalidade
é um conceito relativo? Ou seja, o que hoje é normal, pode não ter sido ontem,
e não sabemos como será amanhã. Por exemplo, lembre-se do que aprendeu na
Unidade1 deste livro, ao ler a história de como a surdez era vista antigamente e
como tem sido considerada nos dias atuais.
153
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
de barreiras que persistem nas salas de aula. Para que isso aconteça é preciso
que os professores repensem alguns conceitos, pensamentos, crenças, atitudes e
comportamentos que exercem diante das diferenças individuais expressas pelos
estudantes, e sobre o papel de sua própria profissão.
154
TÓPICO 1 | DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM
- Vou poupar esse aluno de fazer essa atividade, pois seria exigir muito que ele a
compreendesse.
- Melhor deixar essa criança fazendo atividade livre neste momento, ou colorindo, ao
invés de tentar integrá-la à atividade de hoje, afinal, é uma atividade com alto grau de
dificuldade e certamente essa criança não tem capacidade cognitiva de acompanhá-la.
- Essa criança não tem maturidade suficiente para realizar essa proposta pedagógica
que será aplicada com a turma da qual ela faz parte.
- Deixe esse aluno em paz, você não percebe que ele é deficiente?
De acordo com Carvalho (2011), são vários os fatores que podem interferir
no processo de aprendizagem, e eles podem se apresentar mesclados:
DICAS
• Sugestão de Filme: A cidade das tristezas (1989), um drama dirigido por Hsiao-
Hsien Hou. O filme trata de circunstâncias que ocorreram em Taiwan entre 1945 e 1949,
inclusive sobre o massacre que liquidou a vida de 20 mil tailandeses. Também mostra
as interações entre integrantes de uma família composta por quatro filhos, um patriarca
e alguns agregados. O caçula é um personagem surdo cuja principal maneira de se
comunicar é a escrita. O caçula é fotógrafo e acaba sendo encaminhado à prisão.
• Sugestão de leitura do livro Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva, de
Claudia Werneck (2009). Rio de Janeiro: WVA, 3.ed. 314 páginas.
156
TÓPICO 1 | DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM
NOTA
É possível que você se lembre do AASI e do IC e esteja curioso para saber o que
é o FM. O Sistema FM objetiva captar apenas o som que a pessoa com deficiência auditiva
quer ouvir naquele momento. Por exemplo, na sala de aula, a criança solicita que a professora
coloque um pequeno microfone no pescoço e adiciona uma peça no aparelho que utiliza.
Desse modo, o som ambiente não é captado, sendo que a voz da professora se torna
preponderante. Isso favorece para que as pessoas com perda auditiva abaixem o volume dos
ruídos indesejáveis, tornando a comunicação mais agradável e clara.
157
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
ATENCAO
158
TÓPICO 1 | DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM
E
IMPORTANT
- Não aprendem porque são surdas, e não há nada que possamos fazer por elas.
160
TÓPICO 1 | DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM
DICAS
Você sabia que o Congresso de Milão de 1880 ofereceu subsídios para que os
surdos no Brasil fossem proibidos de se comunicarem através da língua de sinais? (FALCÃO,
2012). No filme E seu nome é Jonas (1979), há uma cena em que é dito que ao tentarem
ensinar as crianças a se inserirem na língua majoritária, as mãos das crianças eram amarradas,
para proibir a utilização de gestos.
No filme Mr. Holland – Adorável professor (1995), dirigido por Stephen Herek, quando
os pais são informados pelo profissional da saúde que o filho é surdo, são prontamente
advertidos de proibir que a criança aprenda a língua de sinais.
Um filme que subverte essa questão da linguagem é: Hush – a morte ouve (2016).
No início do filme, há uma cena em que a protagonista, a escritora Maddie – que é surda –
está conversando face a face com sua vizinha. Embora Maddie utilize a leitura labial para se
comunicar, a vizinha insiste em querer aprender a língua de sinais para interagir melhor com
ela. É algo que inverte a lógica a qual estamos acostumados a vivenciar. Apesar da surda
ter se apropriado da leitura labial e da escrita da língua majoritária, a amiga ouvinte ainda
assim quer aprender a língua minoritária (de sinais). O filme é interessante para refletir sobre
a surdez, já que em muitas cenas o som é totalmente retirado, para que o telespectador
consiga ter uma dimensão de como as circunstâncias se apresentam à pessoa surda.
Neste sentido, as duas cenas mais marcantes do filme E seu nome é Jonas
(1979) são interligadas. Na primeira, Jonas encontra um vendedor de cachorro-
quente no parque, e o menino sai correndo na direção da mãe, na tentativa de
mostrar para ela que ele quer esse alimento. Porém, ele não consegue se fazer
entender, e a mãe chora, por não conseguir compreender o filho. Ele a empurra,
a puxa para onde o vendedor estava, porém, até chegarem lá, o carrinho de
cachorro-quente havia se deslocado para outro local, fora do alcance da vista
deles. É uma cena angustiante, onde Jonas lamenta, abraçado à mãe, que também
chora copiosamente com ele.
161
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
Mais para o final do filme, quando a mãe faz amizade com adultos surdos,
e solicita que eles apresentem a língua de sinais para Jonas, percebe-se que ele não
tem muito interesse em aprender. Porém, fazem um passeio, para que os adultos
lhe mostrem objetos, e assim vão ensinando os sinais respectivos a eles. Nesse
passeio, Jonas avista um carrinho de cachorro quente. Só então ele demonstra
vontade de saber como nomear aquele alimento, pois quer saber como deve se
expressar para pedi-lo à mãe. A partir daí, Jonas parece ampliar seu interesse
para aprender os sinais que representam outros objetos e palavras.
TUROS
ESTUDOS FU
162
TÓPICO 1 | DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM
DICAS
Essa escola se pauta nas premissas de Lev Vygotsky, para quem é possível superar as mais
graves deficiências, seja de que natureza forem, aplicando técnicas físicas e psicológicas de
compensação, de forma que os alunos possam ir à escola, se desenvolverem em meio às
outras pessoas e crescerem com as pessoas "normais". A escola entende que toda criança
pode ser alcançada e transformada.
"Antes de ir para Zagorsk, eu tinha uma ideia muito confusa do mundo. Tenho gratidão
à paciência dos meus professores. Lá, passei a compreender direito as coisas e a agir
corretamente" Natasha Kriladov (surdocega).
Até aqui, você pôde ter noção de que as diferenças individuais existem
e que elas emergem nas salas de aula, requisitando propostas pedagógicas
diferenciadas. A avaliação faz parte do processo de aprendizagem e também
salvaguarda suas especificidades diante de alunos com necessidades educacionais
especiais, ou mesmo, com dificuldades de aprendizagem.
Para Souza e Macedo (2012), nem todas as escolas estão sendo capazes de
lidar adequadamente com as diferenças individuais, enquanto perpetuam:
163
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
164
TÓPICO 1 | DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM
Antes de dar início ao próximo tópico, vale a pena refletir que cada um é
ao mesmo tempo agente e consequência do processo educativo que estabeleceu.
Os componentes ideológicos da Educação, isto é, as concepções oriundas de
determinadas classes sociais se encontram internalizadas nos próprios sujeitos.
Alunos, professores, pais, funcionários e equipes técnicas atuam de maneira
inconsciente, sem ter um pleno conhecimento de seus atos. Nem sempre se
consegue identificar quais são as teorias que estão por trás dos fenômenos
ideológicos e dos discursos que tanto se defende.
165
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• As diferenças existem. Não adianta fingir que as diferenças não estão aí,
tampouco classificar todos como iguais, mascarando as diferenças. Mais vale
aceitar a sua existência como diferentes modos de ser dentro de um contexto
social. O que não precisa existir é o preconceito e a discriminação.
• Quando o professor não vê chances de que a criança aprenda, ele tende a ficar
apático em relação a ela, inerte, deixando a criança entregue "à própria sorte",
ou seja, ela tem grandes probabilidades de experimentar a improdutividade na
sala de aula. Em contrapartida, quando o professor acredita que a criança tem
condições de aprender, ele ficará atento aos interesses dela (CARVALHO, 2011).
166
AUTOATIVIDADE
167
168
UNIDADE 3
TÓPICO 2
Helen Keller
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Lacerda (2007), a inclusão escolar é um tema que tem sido
discutido em âmbito nacional. Para a autora, apesar de tantos debates e polêmicas
sobre o assunto, vários países assumiram a inclusão como tarefa fundamental da
educação pública e têm buscado concretizá-la.
2 DEFICIÊNCIA
O que é deficiência? Para Diniz, Squinca e Medeiros (2007), a maior parte
dos conceitos de deficiência partem do princípio da existência de alterações de
habilidades, causadas por restrições ou lesões, porém não há uma concordância
de ideias quanto a quais alterações de habilidades e funcionalidades que
configurariam deficiências. Enquanto parte das pessoas que possui alguma
lesão não se considera deficiente, há outras que se consideram. Para delimitar
quem é deficiente ou não é necessária uma intensa atividade intelectual, que atua
pautada em diferentes conhecimentos, como o médico e o das ciências sociais,
por exemplo. Não é por acaso que existem tantos debates sobre o que pode ser
considerado deficiência, articulando-a com a justiça social (DINIZ; SQUINCA;
MEDEIROS, 2007).
Algumas pessoas defendem que deveria ser criada uma lista minuciosa
de quais alterações das habilidades humanas são consideradas deficiências. Em
contrapartida, há aqueles que argumentam que essa medida é inviável, pois fecha
os olhos para as complexidades que envolvem cada caso, como por exemplo,
o grau de alteração de habilidades e as consequências do mesmo em termos
de funcionamento do corpo humano, e a relação dessas consequências com o
contexto social e a vida de cada pessoa.
Vale lembrar que, assim como foi dito no início desse tópico, a forma que a
sociedade encara uma circunstância pode fazer dela um problema ou não. Como
apontam Diniz, Barbosa e Santos (2009), as desigualdades sociais experimentadas
pelas pessoas com deficiência não são determinadas pela natureza. Pelo contrário,
são forjadas social e culturalmente, pautadas em discursos e atitudes que
170
TÓPICO 2 | A PROPOSTA ATUAL DA EDUCAÇÃO
3 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
No Brasil, no começo dos anos 80, se intensificou o movimento pela
Integração Escolar, que tencionava ir além da segregação, do afastamento entre
crianças consideradas normais e as demais, por meio da criação de espaços
comuns na sociedade (LACERDA, 2007).
Por volta dos anos 1990, as escolas especiais eram defendidas por boa
parte dos teóricos da educação. As crianças consideradas normais iam às escolas
regulares, e as crianças com deficiência frequentavam escolas especiais, voltadas
às necessidades delas. Em determinado momento, passou-se a questionar se
distribuir as crianças desta maneira não seria uma forma de segregação, apoiada
em discriminação, e que acaba disseminando o isolamento.
Não se pode esperar que um sistema que levou décadas para ser
sedimentado possa ser substituído por outro fácil e instantaneamente. A inclusão
é processual, leva tempo para ser viabilizada. Ela pode convergir em processos
linguísticos apropriados, de aprendizagem de conteúdos acadêmicos e práticas
sociais de leitura e escrita (LACERDA, 2007).
Em outras palavras, para Lacerda (2007), uma coisa é acreditar nos valores
e no potencial da educação inclusiva, em termos de promoção da justiça, e de
uma infinidade de benefícios na superação da segregação. Outra coisa, é fingir
que ela não possui arestas que necessitam de reparos. Por exemplo, a realidade
educacional brasileira é conivente com a inclusão, tendo em vista as salas de
aula superlotadas, instalações físicas insatisfatórias, quadros docentes que não
possuem a devida formação (LACERDA, 2007).
172
TÓPICO 2 | A PROPOSTA ATUAL DA EDUCAÇÃO
173
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
Portanto, por mais que há uma convenção social de que ser surdo não é
ser deficiente, depara-se com controvérsias. Por exemplo, no filme Nada que eu
ouça, há um momento em que se questiona porque alguns surdos recebem verbas
de cunho assistencial, já que não se consideram pessoas com deficiência.
174
TÓPICO 2 | A PROPOSTA ATUAL DA EDUCAÇÃO
175
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Por volta dos anos 1990, acreditava-se que as melhores escolas para estudantes
com deficiência eram as especiais – que eram geridas ao encontro das
necessidades particulares que eles tinham.
176
AUTOATIVIDADE
2 Escreva um parágrafo relacionando a epígrafe deste tópico aos temas que ele
tratou: (Epígrafe: "A experiência humana não seria tão rica e gratificante se
não existissem obstáculos a superar. O cume ensolarado de uma montanha
não seria tão maravilhoso se não existissem vales sombrios a atravessar"
Helen Keller).
177
178
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Falcão (2012, p. 32), é necessário que – uma nova escola
seja constituída, que "ensine/trabalhe/interaja/reflita/argumente/dialogue sobre
os caminhos para uma nova vida, uma nova cidadania, uma nova forma de ver,
[...] acolher e conviver com os diferentes e suas diferenças".
2 ESCOLAS BILÍNGUES
Se a escola bilíngue é destinada aos alunos surdos, ela não equivale a um
retrocesso? Não voltaríamos às escolas ditas especiais décadas atrás? Uma escola
bilíngue não caracteriza uma proposta segregadora?
179
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
A proposta bilíngue foi aceita pelo Estado. Ela delineia que a língua de
sinais se faça presente em sala de aula, e que depois as crianças também aprendam
a língua portuguesa, podendo abranger as modalidades oral, auditiva e escrita.
A partir do momento em que a surdez é compreendida como uma diferença
linguística, e não como uma deficiência, faz sentido possibilitar que a criança
surda acesse a Libras o quanto antes, para que posteriormente consiga ter acesso
às informações que possam ser do interesse dela (NUNES et al., 2015).
180
TÓPICO 3 | ESCOLAS INCLUSIVAS OU ESCOLAS
O que deve ser entendido é que não existirá uma discriminação, tanto é que
uma sala para o ensino da Libras proporcionará grande benefício para o surdo, pois
além de ensinamento específico ele estará interagindo com pessoas que se utilizam
da língua falada, ou seja, há inclusão nesse sentido (MARTINS, 2016).
DICAS
Uma cena do filme que retrata brilhantemente esse momento em que uma criança
descobre o mundo da linguagem, e que os objetos possuem um nome, e que esse nome
tem um significado ou sentido, é o momento em que a personagem surda e cega, chamada
Michele, contracena com seu professor Sahai.
Ele faz com que ela tenha uma experiência ímpar com a água de um chafariz,
mostrando a ela, por meio do toque, os sinais que representam a água, e pelo toque nos
lábios, a vibração e movimento labial que produz a palavra “água”. Quando ela descobre a
ligação entre a água e suas formas de representação comunicacionais, ela sai apalpando
tudo o que vê pela frente e mostra os sinais que já associa, e dá a entender que está aberta a
aprender novas palavras.
181
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
FIGURA 1 – BLACK
182
TÓPICO 3 | ESCOLAS INCLUSIVAS OU ESCOLAS
Vale reiterar que, como já foi mostrado nas unidades anteriores, por
vezes as crianças surdas não conseguem acompanhar o desenvolvimento escolar
das demais crianças, por causa de aspectos da linguagem. Muitas vezes não
conseguem construir o conhecimento esperado para a faixa etária. Os estudantes
surdos possuem necessidades singulares, que demandam a elaboração de
propostas educativas e práticas pedagógicas que as levem em consideração
(LACERDA, 2007).
ATENCAO
Prezado acadêmico! Você alguma vez já vivenciou uma situação em que estava
no meio de pessoas que não falam a sua língua? Talvez já tenha viajado para o exterior, ou
tenha grupos de amigos que usem outras línguas para se comunicar – como o espanhol e
o inglês – por exemplo. Se você já passou por essa experiência, deve se lembrar de que ela
pode ser constrangedora e até desagradável. Essa sensação é experienciada pelos surdos dia
após dia.
183
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
DICAS
Assista a dois filmes para refletir sobre os surdos sob o viés da diferença linguística.
No drama romântico americano Filhos do silêncio (1986), dirigido por Randa Haines,
a personagem Sarah se esforça para exprimir-se utilizando a língua de sinais e resiste às
propostas oralistas. Ao invés de procurar aprender a língua de seus familiares e amigos, ela
espera que eles aprendam a sua, pois não se considera uma pessoa inferior em relação a
eles. Será que as pessoas que fazem parte do cotidiano dela irão atendê-la? Ou tentarão
convencê-la de que é ela quem precisa se adaptar ao mundo deles? Um motivo a mais
para não perder esse filme é que a atriz Marlee Matlin – que dá vida à personagem Sarah,
conquistou o Oscar de Melhor Atriz.
Já no segundo filme – Mr. Holland – adorável professor (1995) – o filho do Mr. Holland, que
se chama Coltrane “Cole” Holland, nasce surdo. Mr. Holland é um exemplar professor de
música e tem dificuldades de lidar com a frustração de ter um filho que não pode contemplar
as músicas compostas e tocadas pelo pai. Mr. Holland acaba deixando a família em segundo
plano e se dedica ainda mais como professor – na escola em que trabalha com jovens.
Mr. Holland mostra-se contrário à matrícula do filho na escola especial. Os pais de Cole
acabam tendo uma série de discussões, e numa das mais emotivas delas, a mãe desabafa:
“Você passa seus dias com seus alunos normais enquanto eu estou aqui com ele, incapaz de
184
TÓPICO 3 | ESCOLAS INCLUSIVAS OU ESCOLAS
conversar com meu filho, saber o que ele pensa, o que ele sente, dizer a ele o quanto eu o
amo”. A mãe procura aprender a língua de sinais para se comunicar com o filho. No final da
trama, o garoto retorna, já adulto, e expressando-se por meio da oralidade. Assim consegue,
finalmente, comunicar-se com o pai.
• Escolas em que um aluno surdo é inserido numa sala onde só existem alunos
ouvintes, fornecem menos possibilidades de interação genuína para essa
criança. Ela deixa de interagir com mais pessoas que integram a cultura
surda. Portanto, pode-se afirmar que a inclusão de alunos surdos em escolas
regulares não dá conta dos desafios linguísticos impostos por essa inclusão
(ASPILICUETA et al., 2013).
• O surdo seria muito melhor assistido caso houvesse salas de aula que
promovessem o ensino da Libras, para a compreensão da linguagem falada ou
escrita (língua portuguesa). Essas salas de aula poderiam comportar também
pessoas ouvintes (como ampara a lei), que podem ser parceiras no sucesso do
aprendizado da língua de sinais pelo surdo.
186
AUTOATIVIDADE
187
188
UNIDADE 3
TÓPICO 4
Helen Keller
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, veem-se poucos alunos surdos na Educação Infantil e nos
anos iniciais do Ensino Fundamental nas escolas regulares. Muitas vezes, essas
crianças acabam entrando tardiamente na escola. Quando ingressam, não é raro
vê-las sozinhas nos momentos de recreação, com um semblante acabrunhado
(MARTINS; ALBRES; SOUSA, 2015). No entanto, esse isolamento acontece, na
maioria das vezes, por conta da linguagem – por não utilizarem o mesmo código
de comunicação das crianças ouvintes, como indica Falcão (2012, p. 90):
Deste modo, este tópico tem por objetivo averiguar como as crianças surdas
costumam se portar na educação infantil. As perguntas que esse tópico buscou
responder são: as crianças surdas gostam de brincar tanto quanto as outras? Como
elas brincam, se nem sempre conseguem se comunicar com as crianças ouvintes?
E depois que saem da educação infantil, quais são as especificidades do processo
de aprendizagem delas na educação fundamental? Elas podem aprender tanto
quanto as demais crianças? Precisam de estratégias pedagógicas diferenciadas?
Por quê? Quais? Quais são os pontos de vista dos professores acerca dos alunos
surdos? As crianças surdas se inserem em práticas de letramentos? De que
maneiras? A aprendizagem da leitura e da escrita tem obstáculos diferentes para
crianças surdas, quando se leva em consideração as crianças ouvintes? As crianças
surdas estabelecem relações com a literatura? Há tecnologias de informação e
comunicação que podem auxiliar o professor no que tange ao processo de ensino
com crianças surdas?
189
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
DICAS
Antes de dar continuidade à leitura, que tal um filme para incrementar o seu
processo de reflexão?
O filme francês O país dos surdos”(Le Pays des Sourds), dirigido por Nicolas Philibert (1992),
é um documentário que subverte a lógica em termos de filmes sobre surdos. Ao invés
de ser estrelado por vários atores ou especialistas ouvintes que falam sobre os surdos, os
protagonistas desse filme são os próprios surdos, enquanto os ouvintes assumem os papéis
coadjuvantes. Trata-se de um filme de não ficção, que discute questões da língua de sinais e
do oralismo. É válido lembrar que o filme retrata a década de noventa e o sistema de ensino
da França. Hoje as concepções do ensino de crianças surdas estão sendo transformadas.
Ensiná-los a falar já não é um dos principais objetivos da escola. Ainda assim, vale a pena
assistir ao filme, pois há cenas em que as crianças surdas aparecem no contexto escolar, e há
várias ponderações sobre formas de comunicação dos surdos (por meio do tato e da visão),
e sobre como eles encaram e saboreiam a vida.
190
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
além do brincar, vão sendo ensinadas a língua de sinais (Libras) e também tópicos
da Língua Portuguesa. A presença de professores surdos bilíngues (Libras X
Língua Portuguesa) oportuniza um aprendizado mais congruente para a criança
surda (MARTINS; ALBRES; SOUSA, 2015).
191
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
já que a criança tende a ser criativa e utilizar objetos para representar o que está
imaginando, por exemplo, um cabo de vassoura pode significar um cavalinho.
Além disso, por intermédio do brinquedo, a criança pode executar atividades que
lhes são impossíveis na vida real (MARQUES; BARROCO; SILVA, 2013).
192
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
DICAS
O filme Depois do silêncio (1996) conta a história de uma jovem surda que ficou
trancada dentro de casa por aproximadamente 20 anos, sendo vítima de diversos abusos
por parte do pai. Uma assistente social auxilia a moça a deixar aquela cruel realidade, e
assim passa a transitar em novo mundo, iniciando seus estudos, sendo apresentada a muitas
pessoas, se apropriando da língua de sinais, e aos poucos consegue se proteger daqueles que
querem oprimi-la.
Assim, o brincar remete a criança surda aos significados que ela traz de
acordo com o seu histórico de vida, ou seja, cada criança tem a sua especificidade
diante do lúdico, fazendo com que ela retrate o seu conhecimento da vida familiar
e social nas brincadeiras (OLIVEIRA et al., 2006). No faz de conta, as crianças
surdas interpretam personagens vivenciados na vida real (padeiro, mãe, pai,
professor, médico, entre outros) e simula situações vividas por adultos. É neste
momento que a criança se coloca no lugar do “outro”, interagindo com o ouvinte
e adaptando-se a esta realidade (SILVA, 2006).
194
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
195
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
Muitas brincadeiras infantis contam com o uso das mãos. As mãos seguram
as bonecas, levam a comidinha à boca, trocam as roupinhas delas, mexem as
colheres nas panelinhas, conduzem o carrinho na pista, riscam a lousa com giz
etc. Assim, quando a criança surda brinca, ela precisa fazer o uso simultâneo das
mãos tanto como instrumento da brincadeira quanto para comunicar-se. Isso
pode fazer com que elas prefiram manipular os brinquedos do que se dedicarem
a fazer uma comunicação incrementada.
196
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
Para além das imagens que os docentes têm desses alunos, refletiremos
sobre ações pedagógicas voltadas às crianças surdas. São informações relevantes,
já que atualmente os professores se veem com dificuldades para associar o plano
de ensino e aprendizagem com seus alunos surdos, mesmo estes tendo atenção e
comportamento exemplar nos bancos da escola (SILVA; PEREIRA, 2003b).
197
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
E
IMPORTANT
• Há autores que defendem a educação oralizada, ou seja, que as crianças precisam fazer
uso da audição residual, aprender a realizar a leitura labial e desenvolver a fala para se
comunicarem e estarem integradas no mundo.
• Há autores que são favoráveis à comunicação total, isto é, a criança é livre para adotar
quantas estratégias quiser para se comunicar (comunicação oral, gestos, uso de sinais,
escrita, soletração etc.).
"Assim, quando o professor recebe esse aluno, muitas vezes exibe ideias
preconcebidas ou concepções equivocadas a respeito da surdez, muitas vezes
atribuindo ao aluno imagens depreciativas" (SILVA; PEREIRA, 2003a, p. 173).
198
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
A segunda entende que o aluno surdo é uma pessoa que tem dificuldades
para se comunicar, verbal ou oralmente. Porém, ele que pode participar de
processos de aprendizagem que ajudam a atenuar essas dificuldades, de modo que
ele consiga manter um convívio satisfatório com seus colegas de classe (ouvintes).
Logo, na vertente socioantropológica, o aluno não é visto como um deficiente,
mas como alguém que precisa da atenção do professor para se desenvolver, assim
como um aluno usuário da fala tem dificuldades para aprender determinado
conteúdo disciplinar (por exemplo: a matemática) (SILVA; PEREIRA, 2003b). Sob
esse prisma, o aluno surdo tem a capacidade de se comunicar, todavia, de uma
forma diferente (gestos, língua de sinais). Assim, ele tem condições de apreender
normalmente um dado conteúdo (SILVA; PEREIRA, 2003a).
199
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
Coexiste também, com toda essa situação a postura do aluno surdo, que
pode ser de irritabilidade, resistência ao aprendizado, não aceitação de qualquer
ajuda por ele ser surdo, dentre outras particularidades. Nestes casos, recomenda-
se a intervenção de psicólogo, lembrando que muitos desses traços no aluno
advêm de seu histórico afetivo/familiar, cultural ou histórico (SILVA; PEREIRA,
2003a).
E
IMPORTANT
O professor precisa ver o aluno surdo como alguém que precisa e pode
desenvolver o processo de ensino e aprendizagem – dentro das suas limitações. Cabe ao
professor mostrar caminhos/viabilidades que conduzam o estudante a tal processo, mesmo
que basicamente. O estudante surdo pode aperfeiçoar a sua linguagem tanto falada quanto
oral (utilizando-se da Libras) (SILVA; PEREIRA, 2003a).C
Uma boa notícia é que grande parte dos professores concordam que o
aluno surdo tem capacidade para aprender. Isso quer dizer que consideram o
surdo como alguém que possui uma dificuldade parecida com a do aluno ouvinte
em uma determinada disciplina (SILVA; PEREIRA, 2003a).
200
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
É um grande lapso, uma falta grave, tratar o aluno surdo como "já sabe
tudo", sem ao menos acompanhá-lo e mostrar a ele quais caminhos ele precisa
seguir para aprender a aprender – plano este que serve para o aluno ouvinte
também, cada um com a sua necessidade específica (SILVA; PEREIRA, 2003b).
Outro fato importante a ser lembrado aqui é de que alguns docentes dizem
que tratam o aluno surdo do mesmo modo que tratam o aluno ouvinte, porém o
deixam à vontade para trafegar no âmbito da sala de aula, ir ao banheiro, realizar
qualquer ação de movimento sem ter que pedir ao professor, diferente do que
acontece com os demais alunos. Desta forma estão tratando o deficiente auditivo
como "diferente" dos demais, que deve seguir as mesmas normas estabelecidas
pela escola (para que a inclusão seja realizada) (SILVA; PEREIRA, 2003a).
201
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
• Ação docente.
• Recurso de ensino.
• Assistência ao aluno.
• Habilidade docente.
Seguem mais informações sobre cada eixo temático, definidos por Dorziat
(1999):
202
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
ATENCAO
Por fim, Dorziat (1999) chega à conclusão de que é vital que aconteça
uma inversão de valores no âmbito da surdez. Durante o tempo que a noção
de deficiência perseverar, ainda que acobertada, disfarçada, prevalecerá a
desvalorização e o desdém para com esse grupo. Os princípios da normalidade
e da adaptação à sociedade continuam embasando os discursos de inovações
pedagógicas. No entanto, já dão mostras de um movimento na direção de
uma atuação de mais envergadura pedagógica no ensino de surdos. Seria
melhor, ainda, se esses discursos estivessem pautados no respeito à diferença
e na primordialidade de participação ativa dos surdos na sociedade. Tem como
objetivos contribuir para sua transformação.
203
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
• Ensinar conteúdos.
• Cuidar das crianças.
• Intermediar conflitos.
• Socializar o aluno.
• Ensinar a conviver.
• Manter laços afetivos/familiares.
• Preparar o estudante para o mercado de trabalho.
• Ensinar boas maneiras.
• Ensiná-los a pensar.
• Ensiná-los a aprender a aprender.
Considerando-se as funções da escola, e tudo o que você leu até aqui sobre
o ensino para surdos, será que “estão sendo respeitadas as formas de assimilação
de mundo das crianças surdas?" (DORZIAT, 1999, p. 189).
Falcão (2012) ainda destaca que, muitas vezes, a criança surda se sente
um pouco perdida no âmbito escolar, pois há professores que fazem mais
204
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
Marques, Barroco e Silva (2013) fizeram uma pesquisa mais voltada para
a dificuldade de acesso à língua de sinais. A despeito do Decreto-lei nº 5.626/2005
(BRASIL, 2005), que determina a Libras como disciplina curricular obrigatória
nos cursos de formação de professores, ainda há uma distância entre o que está
legitimado por lei e a aplicação da lei no setor educacional. “Temos notado o
despreparo da comunidade escolar para acolher pedagogicamente o aluno surdo”
(MARQUES; BARROCO; SILVA, 2013, p. 514).
206
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
NOTA
O que são práticas significativas com a linguagem? Nas escolas, grande parte
das leituras e das atividades são feitas em simulação. Por exemplo, ao ensinar a redigir uma
carta, o professor pode mostrar uma carta (sem explicar o contexto no qual foi escrita), ou
pedir que as crianças escrevam uma carta (sem intenção de ser enviada para alguém, tão
somente, com o objetivo de averiguar se a criança aprendeu o gênero discurso – carta).
Com frequência essas estratégias parecem sem significado para as crianças, perdendo a
atratividade.
Assim, práticas significativas compreendem o contato com textos escritos (leitura e/ou
escrita) dentro da realidade (e não como mera demonstração ou ensaio). Exemplificando,
se o gênero discursivo que está sendo trabalhado for “carta”, deve-se conduzir as crianças a
escreverem o que acham conveniente, para remeter a produção textual a um determinado
destinatário.
ATENCAO
Você recorda que já vimos que o surdo pode ter algumas dificuldades com a
escrita, mesmo na fase adulta? O artigo de Schemberg, Guarinello e Santana (2009) menciona
esse fato, mas busca soluções para ele: “[...] uma necessidade de mudança e conscientização
(da escola e da família) sobre as práticas de leitura e de escrita como significativas para o
processo de letramento da criança, seja ela surda ou ouvinte” (SCHEMBERG; GUARINELLO;
SANTANA, 2009, p. 266-267).
208
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
DICAS
Prezado acadêmico! Sugerimos que você leia este artigo na íntegra: Intervenções
e Metodologias Empregadas no Ensino da Escrita e Leitura de Indivíduos Surdos: Revisão de
Literatura. Assim, você terá um panorama sobre o ensino da leitura e escrita para surdos. Você
terá acesso a métodos e intervenções utilizados com eles, com maiores detalhes, podendo
ampliar seus estudos a partir das referências citadas no artigo.
• WELTER, Gabriela; VIDOR, Deisi Cristina Gollo Marques; CRUZ, Carina Rebello. Intervenções
e Metodologias Empregadas no Ensino da Escrita e Leitura de Indivíduos Surdos: Revisão
de Literatura. Revista brasileira de educação especial, set. 2015, v. 21, n. 3, p. 459-470.
E
IMPORTANT
209
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
De acordo com essas autoras, as práticas sociais sobre leitura e escrita, que
as crianças presenciam desde pequeninas, influenciam suas práticas posteriores
de ler e escrever. Crianças que vivem em locais onde há poucos livros, revistas
e jornais à vista, tendem a ter mais dificuldade de manejar suportes textuais
quando ingressam na escola. Precisam de tempo até que se familiarizem com
as letras, frases, imagens e até com o manuseio do papel (virar folhas, modo de
segurar o livro). O terceiro período da evolução das conceituações sobre escrita
das crianças surdas equivale à relação entre os grafemas e a datilologia em
Libras. “Com base nos dados obtidos, pode-se observar que os participantes
apresentaram desenvolvimento compatível com a idade cronológica de acordo
com a literatura destinada para as crianças ouvintes” (BANDINI; OLIVEIRA;
SOUZA, 2006, p. 57).
210
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
DICAS
Para ter mais informações sobre a performance do ensino da Libras no meio visual,
veja o – curto – vídeo: A importância das expressões faciais e corporais na Libras, de Madson
Barreto. Disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=zpJnVrxtPgU&t=68s>.
211
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
DICAS
Caso seja possível, faça para o aluno surdo uma contação de histórias que
envolva a história familiar deles (por exemplo: uma contação que remeta o aluno surdo aos
tempos dos seus avós). Uma reflexão sobre a família do surdo tende a prender mais a atenção
e tornar o texto algo significativo.
Meritório seria uma situação em que todos os cursos para surdos fossem
realizados de forma bilíngue, ou seja, com Libras e Língua Portuguesa. Explicando
melhor, queremos dizer – por exemplo – que o uso das duas línguas promoveria
para o surdo uma transcrição do texto escrito em português para Libras. Desse
modo, o entendimento é melhor aceito e praticado pelo deficiente auditivo. É
claro que o tradutor precisa saber Libras e é uma dessas situações que foram
comentadas em textos anteriores: uma educação de qualidade está atrelada a
professores capacitados (MARTINS, OLIVEIRA, 2015).
212
TÓPICO 4 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO
DICAS
O filme Nada que eu ouça, título original Sweet Nothing In My Ear (2008),
possui algumas cenas envolvendo a literatura infantil e crianças surdas. No início do filme há
uma cena em que as crianças surdas estão interpretando por meio do teatro o "Mágico de
Oz", na escola, utilizando a linguagem de sinais. E os pais delas "traduzem" essa linguagem
para a linguagem oral. Em outro momento do filme, o pai do protagonista aparece lendo
Pinóquio para o garoto antes que ele adormeça, no aconchego de sua cama. O filme é
muito interessante, pois mostra uma família em que a maioria dos integrantes é surda, e o pai
ouvinte (interpretado pelo famoso ator Jeff Daniels) muitas vezes se sente "o diferente", como
mostra, por exemplo, essa fala dele:
" – Mas desde o começo, ele [pai de sua esposa] nunca me aceitou.
– Claro que aceitou você.
– Não, não. Ele me tolera. Um pouco. A filha dele casando com um homem que ouve. O
orgulho surdo é uma coisa, mas o preconceito é outra [...] não subestime o preconceito.".
O filme ainda traz à tona inúmeros argumentos a favor do implante coclear (IC) e
contrários a ele, quando os pais do menino surdo entram em atrito quanto a essa escolha.
Um filme emocionante, que mostra algumas nuances da criança surda e as brincadeiras, e
sobre decisões que envolvem o tipo de escola em que o menino "deve" estudar. As especiais?
As regulares?
DICAS
Você pode encontrar vários vídeos e canais no Youtube voltados aos surdos. Ali
estão professores que, por meio da Libras, explicam conteúdos específicos de disciplinas, ou
pessoas surdas que compartilham suas vivências e as formas que empregaram para superar
algumas dificuldades. Há ainda, blogs com esses mesmos objetivos, e até mesmo as redes
sociais apresentam algumas páginas dirigidas ao público surdo.
214
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• A criança precisa brincar e os jogos fazem com que seja desenvolvido o lado
psicológico, com estímulos que farão com que o aprendizado da língua de
sinais seja algo muito fácil e divertido (OLIVEIRA et al., 2006).
215
• Os resultados do estudo de Welter, Vidor e Cruz (2015) apontaram que a
maioria das pesquisas presentes nas bases de dados eletrônicas, defende que
a língua de sinais é a língua materna do surdo, e que por meio dela, ele pode
aprender a escrever em língua portuguesa.
216
AUTOATIVIDADE
5 O que acontece com crianças que vivem em locais onde há poucos livros,
revistas e jornais à vista?
217
218
UNIDADE 3
TÓPICO 5
Alexandre Dumas
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico – que é o último do livro – você encontrará mais algumas
reflexões sobre a educação de surdos, agora, direcionadas aos surdos jovens,
adultos e idosos. É possível encontrar representantes desses grupos tanto na
educação de jovens e adultos quanto no ensino superior.
DICAS
219
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
FIGURA 5 – O ALUNO
Conforme Martins (2016), grande falta faz uma escola inclusiva de fato,
que possa entender e interpretar a linguagem do surdo e que tenha um plano
pedagógico coerente e realmente motivacional, com professor especializado em
Libras e que inclua o surdo no mesmo ambiente do ouvinte, para que este possa
se habituar a conviver e se comunicar com todos através da língua de sinais em
consonância com a língua portuguesa (bilinguismo).
220
TÓPICO 5 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS
Como a aparição surda pode se dar em uma escola que não acolhe
a língua que o constitui? Como ser alguém diante de outros que se
relacionam por meio da opressão ou apagamento de uma língua
minoritária, na lógica de uma língua oral, veiculada socialmente de
modo comum, numa sociedade majoritariamente ouvinte? Desta
lógica, da resistência, e tentativa de construção da aparição surda
na escola, surgem algumas iniciativas institucionais que operam
pela fratura da mesmidade posta à surdez. Apresenta-se aqui como
alegoria destes movimentos um programa de educação bilíngue, que
se origina como projeto, através da afirmação subsidiada pelo Decreto
nº 5.626/05.
Tendo isso em vista, esse tópico pretende contribuir para as suas reflexões
sobre o uso de tecnologias de informação e comunicação no processo de ensino
de surdos, algumas especificidades sobre estudantes surdos no ensino médio e,
por fim, algumas especificidades dos acadêmicos surdos no ensino superior.
221
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
Melhorias foram sugeridas tanto por surdos quanto por ouvintes nos
quesitos navegação e organização, alegando que encontraram certas dificuldades
no momento do acesso (FLOR et al., 2015).
222
TÓPICO 5 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS
No que se refere às tecnologias que estão sendo utilizadas por surdos, com
fins educacionais, Bisol e Valentini (2014) também fizeram uma pesquisa voltada
à educação especial e inclusão educacional. Desta vez, a pesquisa está articulada
à formação de professores. A partir de 1990, vem sendo discutidos pela política
educacional brasileira meios para facilitar o acesso de pessoas com necessidades
especiais no meio virtual.
223
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
224
TÓPICO 5 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS
225
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
DICAS
Você notou que muitos dos desafios enfrentados no ensino médio são os
mesmos do ensino fundamental? Caso queira ampliar seus conhecimentos, especificamente
sobre a inclusão de alunos no ensino médio, leia o artigo A inclusão do aluno surdo no
ensino médio e ensino profissionalizante: um olhar para os discursos dos educadores na
íntegra. Ele está disponível na internet.
• MALLMANN, Fagner Michel et al. A inclusão do aluno surdo no ensino médio e ensino
profissionalizante: um olhar para os discursos dos educadores. Rev. bras. educ. espec., mar.
2014, v. 20, n. 1, p. 131-146. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbee/v20n1/a10v20n1.
pdf>.
226
TÓPICO 5 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS
vincular a sua língua (Libras) aos ensinamentos direcionados a ele e aos ouvintes,
isto é, os alunos ouvintes agregarão a língua do surdo ao contexto da sala de aula
e o ensino acontecerá normalmente, sem diferenças e com acesso aos conteúdos
abordados pela grade curricular de uma universidade (CRUZ; DIAS, 2009).
4.1 ACESSO
Verifica-se certa diferença no rendimento do aprendizado da pessoa surda
em comparação ao aluno ouvinte. Pode-se constatar essa diferença nos testes
realizados no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), nos quais os ouvintes
tiveram maior pontuação em relação ao deficiente auditivo: “A média nacional
dos estudantes é 478,11 pontos e a situação torna-se mais crítica quando o foco
se dirige para os estudantes surdos, cuja média é de 360,82 pontos” (MARTINS;
LACERDA, 2015, p. 98).
Esta situação pode ser reflexo de que a inclusão não esteja sendo feita
adequadamente pelo nosso sistema de políticas educacionais, como as próprias
autoras apontam:
Esse resultado pode indicar que a educação ofertada a este público não
tem alcançado a qualidade esperada, ou seja, essa população não tem
sido contemplada com uma educação que favoreça sua aprendizagem
dentro dos parâmetros previstos para este nível de ensino (MARTINS;
LACERDA, 2015, p. 98).
Como foi repetidamente visto nesse livro, essas e outras muitas questões
ainda permeiam a vida acadêmica do aluno surdo. Há tantas polêmicas nos
bastidores da educação de surdos, tantos desafios, e enquanto isso, ainda existem
inúmeros estudantes surdos que sonham com uma melhor qualidade de ensino
desde a educação infantil, com professores fluentes em Libras trabalhando em
227
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
conjunto com professores regentes, para que eles possam aprender a Libras
precocemente, para na sequência desenvolverem a língua portuguesa.
• aspectos linguísticos;
• particularidades do percurso educacional;
• implicações advindas da relação entre surdos e ouvintes;
• expectativa de acesso ao ensino superior.
Esses pontos resumem o que foi visto até aqui. Os três primeiros já foram
pormenorizados e, quanto ao último, está relacionado ao desejo desse aluno de
dar continuidade aos estudos, em termos universitários. Alguns deles já sabem
que será uma empreitada que exigirá muito esforço, pois as condições oferecidas
deixam a desejar. Então, isso faz com que nem sequer visualizem a opção de
serem universitários, ou quando torcem por isso, acabam se desmotivando diante
de tantos obstáculos.
Ainda assim, Moura (2016) explica que há estudantes surdos que querem
ingressar no ensino superior. Entretanto, como foi visto, há contratempos para
tal. Nem sempre o ensino médio viabiliza essa continuação dos estudos, entre
outros fatores.
4.2 PERMANÊNCIA
Nos dias de hoje, muitas universidades procuram oferecer recursos para
que as pessoas com deficiência tenham acesso ao mundo universitário, porém sem
ajuda do poder público, a viabilidade desta investida torna-se um pouco dificultosa.
229
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
Por exemplo, o universitário surdo, que tem uma família que o apoia em
seu desenvolvimento escolar, vai progredir com mais facilidade. Por outro lado, o
surdo que vem de um contexto em que seus pais não entendem o valor dos estudos
de seus filhos, poderá ter mais dificuldade e demorará mais para aprender. "Esse
estudo aponta, assim, a importância de um trabalho de letramento, desde a escola
fundamental até a universidade, que envolva práticas nos mais diversos tipos de
gêneros” (GUARINELLO et al., 2009, p. 118).
230
TÓPICO 5 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS
• pesquisadores;
• profissionais especializados;
• estudantes surdos,
• representantes da política educacional da universidade.
231
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
DICAS
232
TÓPICO 5 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS
ATENCAO
De acordo com Pagnez e Sofiato (2014), naqueles cinco anos foram realizados 349
trabalhos, dentre os quais: 281 dissertações de mestrado, nove mestrados profissionais e
16 teses de doutorado sobre libras e educação de surdos. A Universidade Federal de Santa
Catarina foi a instituição em que foram desenvolvidas 32 pesquisas naquele intervalo de
tempo, na qual a área da Educação concentrou a maioria dos trabalhos, perfazendo 129. A
escolarização de surdos foi o assunto mais recorrente, com 30 trabalhos defendidos. Vygotsky
foi o autor mais mencionado nos trabalhos.
233
UNIDADE 3 | A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
[...] Com base em Felipe (2008), destacamos que pesquisas linguísticas sobre
a língua brasileira de sinais (Libras) passam a fazer parte do cenário acadêmico e de
discussões de grupos de pesquisas afins, além dos temas relacionados à educação
de surdos. Tanto que o primeiro registro no banco de teses da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) sobre o tema surdez data
de 1987, configura-se como uma dissertação de mestrado e traz como tema: A
criança surda: educação para a marginalização.
234
TÓPICO 5 | PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS
235
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
236
AUTOATIVIDADE
237
238
REFERÊNCIAS
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BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
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