Disturbios Musculoesqueleticos Relacionados A Ativ
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RESUMO
ABSTRACT
In the context of music production, it is crescent the amount of instrumentalists presenting complaints of
pain and musculoskeletal disorders related to work activity. The systematic study of a musical instrument
is a complex task, involving high levels of physical and mental workload. This study aimed to detect the
main musculoskeletal disorders present in violinists and investigate the triggering factors of these
ilnesses, through a literature review. The data analysis revealed the high frequency of disorders in the left
arm of right-handed individuals, withthe left hand having approximately twice the number of dysfunctions
of the right hand.
1. INTRODUÇÃO
Estudos apontam que síndromes ocupacionais, definidas como patologias de digitadores, são
também reconhecidas entre músicos e que a incidência de LER/DORT entre os músicos é
semelhante à de trabalhadores industriais (ZAZA, 1998, apud ANDRADE; FONSECA, 2000).
Milanese (2000), afirmou que instrumentistas profissionais têm sido citados como um grupo
ocupacional com grandes chances de adquirirem DMRP (Doença Musculoesquelética
Relacionada à Performance) devido às suas demandas ocupacionais.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
A proposta deste estudo foi a realização de uma revisão sistemática, abordando a relação da
atividade de músicos instrumentistas (em especial violinistas) com lesões musculoesqueléticas
neste grupo. Foram explorados acervos de periódicos, livros, bases de dados digitais como
Bireme, Lilacs, Scielo, PubMed, Portal Capes, Banco de Teses e Google Acadêmico, através
dos descritores: distúrbios musculoesqueléticos, violinistas. LER/DORT e síndrome do uso
excessivo, abrangendo o período de 1990 até 2012.
Para o presente estudo foram selecionados 16 artigos científicos, sendo 7 na língua inglesa e o
restante em português, 3 dissertações de mestrado , 1 de doutorado e 1 trabalho de conclusão
de curso. Também foram pesquisados 2 livros em português.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Joubrel et al. (apud COSTA; ABRAHÃO, 2004) relatam que as disfunções musculoesqueléticas
em músicos não são achados atuais. Singer (1932) publicou o primeiro livro que investigava as
doenças desenvolvidas em músicos. Joubrel et al (apud COSTA; ABRAHÃO, 2004) citam um
estudo realizado por Sternbach (1996) no período entre 1950 a 1970 no qual já havia
preocupação com a expectativa de vida ativa dos músicos, chegando-se à conclusão de que a
maioria deles encerrava suas carreiras em torno dos 54 anos de idade devido às limitações
físicas causadas pelo mau uso do corpo durante performance musical. Fonseca (2007) afirma
que o estudo meticuloso de qualquer instrumento musical é uma tarefa complexa, implicando
alta exigência física, mental e emocional inimaginável para leigos.
Literaturas mais recentes também apontam que o sintoma de dor é frequente na prática musical
(ZAZA: CHARLES :MUSZYNSKI, 1998, ANDRADE; FONSECA, 2000, COSTA; ABRAHÃO,
2002 e FRAGELLI; GÜNTHER, 2009). No Brasil, a literatura ainda é escassa em relação a
estudos que relatam frequência com que ocorre tal sintoma ou que discutem suas causas e
consequências. As razões de tal lacuna podem ser decorrentes da ideia de que a música se
associa apenas ao lazer e ao prazer, estando, portanto raramente relacionada a uma atividade
laboral sistemática.
Estudos realizados por Costa (2003), Petrus e Echternacht (2004) e Cintra e Barrenechea
(2004) relatam a demanda física e psicológica que o músico é subjugado. Estesestudos
sinalizam que o músico realiza um treinamento rigoroso com práticas diárias, repetições e
interpretações diferenciadas a cada execução do mesmo trecho, com a finalidade de se obter
uma memória sinestésica que resulte em uma performance segura (COSTA, 2003).
Cintra e Barrenechea (2004) sinalizaram que o aumento do nível de estresse, repercutindo
consequentemente sobre o comportamento do músico, é devido à demanda exigida pela tarefa.
De acordo com Moura, Fontes e Fukujima (2000), as atividades repetitivas diárias e frequentes,
essenciais para um bom desempenho na performance do músico, podem ser prejudiciais ao
organismo, produzindo um efeito de tensão progressiva nos tecidos, acumulando metabólitos,
excedendo assim o limiar de tolerância fisiológica podendo produzir incapacidades. Os autores
justificam que a pressão psicológica associada às injúrias adquiridas, pode prejudicar ou até
mesmo pôr fim a uma carreira musical promissora.
Autores como Winspur e Wynn Parry (1997) observaram que boa parte dos músicos já
lesionados prossegue com sua carreira profissional apesar das recomendações de repouso. A
frequência, duração, a intensidade e o tipo da prática correlacionada ao caráter da atividade do
violinista, segundo os autores supracitados, são fatores de risco que se somam às
particularidades do corpo humano, seu condicionamento físico, seu histórico de lesões ou
adoecimentos. A multiplicidade destas variáveis ainda é sujeita ao entorno de cada violinista,
seu estilo de vida, uso de medicamentos, fatores ambientais, corroboram ou não, para
possíveis quadros de lesões. O estresse é apontado como um fator agravante para a
cristalização das disfunções osteomusculares em músicos, juntamente às questões técnicas do
instrumento musical a que executam.
O alto grau de desempenho imposto e a técnica aprimorada dos instrumentos de cordas exigem
muito do intérprete, que na procura de atingir o pleno domínio técnico, muitas vezes transcende
seus limites físicos. Essa atitude insana desencadeia distúrbios osteomusculares relacionados
aos movimentos incessantes, posturas inadequadas mantidas e ao uso constante de
musculaturas tensionadas. Relacionada a esses fatores está a falta de orientações a respeito
da prevenção do desconforto corporal e de possíveis lesões musculoesqueléticas (MOURA;
FONTES; FUKUJIMA, 2000 apud SUBTIL; BONOMO, 2012).
Segundo Petrus e Echternacht (2004), ao desempenhar sua função, cada violinista desenvolve
competências que articulam de forma simultânea às demandas físicas, cognitivas e psíquicas.
O alto grau de performance exigido na atividade, demanda ao músico uma plenitude técnica do
seu instrumento, a pressão temporal que se coloca ao ato de tocar, muitas vezes leva o músico
a ultrapassar seus limites físicos na tentativa de atingir a perfeição exigida.
É preocupante a forma como muitos músicos lidam com as prováveis disfunções, prosseguindo
com suas atividades profissionais, ignorando os sintomas, conciliando a dor ao seu cotidiano.
A lei 664/94 determina que músicos de uma orquestra cumpram uma jornada de 40 horas
semanais; este período deve contemplar os estudos individuais, os ensaios geral, as
apresentações. (COSTA, 2003). As posturas utilizadas pelos instrumentistas em geral se
relacionam e se subordinam ao design dos instrumentos; cada instrumento tem seu design
singular, agregando dificuldades ao seu manuseio. Ao músico é imposto sempre adaptar-se ao
instrumento, na maioria das vezes adquirindo posturas antagônicas que deveriam ser
reavaliadas frente às patologias musculoesqueléticas que desencadeiam (WINSPUR; WYNN
PARRY, 1997 apud COSTA; ABRAHÃO, 2004). Para o músico violinista, fatores de risco
associados à manutenção de posições rígidas como torções demasiadas, movimentos de pinça
fina, desvios de punho, elevação de ombros e membros superiores, correlacionam-se às
peculiaridades do posto de trabalho. O violino, com suas propriedades e design, impõe uma
compressão resultante do contato físico e força exercida pelo músico para sustentar o
instrumento durante a execução. Estes elementos atuam de forma conjunta e aumentam a
probabilidade de adoecimento (COSTA, 2003).
Estudos da biomecânica postural dos violinistas demonstram que o violino deve ser colocado
em cima do osso da clavícula esquerda. Esta postura assimétrica sobrecarrega o hemicorpo
esquerdo, gerando tensões de forças distintas na musculatura cervical e dorsal. Tocar o violino
exige uma rotação lateral do ombro e supinação máxima constante do antebraço esquerdo. A
permanente carga sobre os tendões da mão e dos dedos, do nervo ulnar e das musculaturas
próximas ao ombro, elucida algumas das lesões em violinistas. Para a mão esquerda existem
técnicas diferenciadas que interferem diretamente no resultado musical e na carga sobre
articulações e músculos; a articulação dos dedos da mão esquerda deve estar na altura das
cordas, assim como os dedos indicador, médio, anular e mínimo, na posição fletida. O polegar
devendo permanecer apoiado levemente ao braço do violino, na direção entre os dois dedos
indicador e médio, para que os dedos restantes se apoiem com a mesma força nas cordas
como está ilustrado na figura1.
A mão direita é a que conduz o arco; o peso do membro superior direito deve estar repousando
sobre o mesmo, o violinista precisa segurá-lo entre a 1a e 2° falanges do dedo indicador e na 1°
falange do médio; deixando o dedo mínimo semi-flexionado, perto do botão do arco, e
segurando-o na extremidade. O dedo anular é deixado naturalmente. O polegar deve estar no
meio do dedo indicador e do médio, porém ao lado contralateral do arco. O indicador direito
controla a pressão do arco nas cordas, o que afeta o volume e o timbre do instrumento
(SANTOS, 2012).
Petrus e Echternacht (2004), em um estudo com dois violinistas da orquestra de Minas gerais,
detectaram que durante as atividades de trabalho, o violinista A apresentou sintomas de
desgaste físico, não se referindo aos grupos musculares diretamente envolvidos aos
movimentos exigidos pelo ato de tocar o violino. Este se queixou de rigidez facial e estresse. Já
o violonista B apresentou sintomas de desgaste que se referem a grupos musculares
intimamente relacionados aos movimentos impostos pelo ato de tocar o instrumento,
queixando-se de dor nas costas (região dorsal) e em membros superiores (região do tríceps
braquial).
Em um estudo realizado com a OSUEL (Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de
Londrina), em 2004, dentre os 45 músicos estudados, 82,2% dos respondentes eram indivíduos
do gênero masculino, com uma média de idade de 39 a 56 anos, 77,8% relataram apresentar
queixas físicas em um período de doze meses e 71,1% nos últimos sete dias precedentes à
aplicação do questionário. As regiões anatômicas mais acometidas foram: ombros, coluna
cervical, coluna dorsal, punhos e mãos; verificou-se também um maior predomínio de queixas
dolorosas em músicos de corda e sopro. Em decorrência destes sintomas apresentados, 33,3%
dos profissionais relataram ter perdido dias de trabalho. A pesquisa detectou uma alta
incidência de sintomas musculoesqueléticos em instrumentistas da OSUEL, especialmente na
região de ombros e coluna (KÖENIG, 2007).
Segundo Alves (2008), nos últimos seis anos tem aumentado o índice de músicos, dentre eles
violinistas, que buscam tratamento para suas injúrias físicas, muitas vezes apresentando
disfunções musculoesqueléticas incapacitantes e dentre estas estão: Capsulite adesiva (perda
ou diminuição dos movimentos do ombro); epicondilite; hérnia discal; disfunções nas ATM’s;
dores de cabeça, dor nos punhos, desvios da coluna vertebral, parestesia na região distal
dedos das mãos e tendinites. Essas patologias equiparam-se com as citadas em artigos
científicos e dissertações a respeito da saúde de instrumentistas, em especial os violinistas
(ANDRADE; FONSECA, 2000; DAWSON, 1998; ALVES, 2008).
Kothe et al. (2011) investigaram sobre indicadores de dor/desconforto musculoesquelético
percebidos por alunos de violino nas diferentes regiões corporais. Foram avaliados 29
indivíduos com idades entre 7 e 16 anos. As queixas musculoesqueléticas foram relatadas por
89,66% dos alunos avaliados. Desses, 38,46% apontaram a área da cervical como sendo
desconfortável com as práticas instrumentais; 30,77% a área posterior do ombro esquerdo e
30,77% a área do bíceps esquerdo. Steinmetz, Seidel e Niemier (2008), sinalizam que as dores
musculoesqueléticas são encontradas em indivíduos a partir de 13 anos. Porém, como
observado no presente estudo, crianças com idades a partir de sete anos já apresentam esses
sintomas dolorosos.
Santos (2012) realizou uma pesquisa com trinta e oito estudantes universitários e profissionais
de Violino da cidade de São Paulo, com idades entre 18 a 41 anos, nesta constatou-se que os
parâmetros envolvidos com a possibilidade de o violonista apresentar dor foram: o tempo de
prática (anos),distancia do ombro ao solo, postura da cabeça (sagital) e lordose lombar. O autor
utilizou o índice DASH e EVA no qual detectou as seguintes disfunções posturais: desvio lateral
da coluna, inclinação da cabeça e hipercifose torácica. Também foi verificado um aumento da
distância do ângulo inferior da escápula e o processo espinhoso associado a uma protração de
ombro, nos violinistas estudados, esta distância foi em média de 10 cm, sendo que a normal é
de 7,5cm. (SANTOS, 2012), constatou que a carga inerte demandada por períodos longos de
estudo ao violino, possivelmente irá gerar assimetrias musculoesqueléticas ao redor das
escápulas e ainda ocasionar protração e elevação de ombro.
Em relação à lordose Lombar, ainda segundo o estudo de Santos (2012), esta é referida como
uma região de desconforto pelos violinistas devido à grande quantidade de tempo que os
mesmos permanecem sentados. De acordo com Norris (1997), os ângulos posturais assumidos
na posição sentada podem gerar desconfortos na região lombar e a sinergia para manter-se
com as costas eretas, provoca frequentes contrações dos músculos envolvidos na manutenção
da postura, gerando um acúmulo de metabólitos e por consequência o aparecimento da dor.
Em uma revisão sistemática realizada por Moraes e Antunes (2012), com Violinistas, estes
mostraram uma prevalência em disfunções no membro superior esquerdo, como tendinite e
síndromes compressivas. A mão esquerda destes instrumentistas adquire o dobro de
acometimentos em relação à mão direita, e isto se deve pela posição dificultosa em que se
encontram punho e dedos para exercer o trabalho de dedilhado do instrumento.
Koenig (2007) Estudo realizado com a Foi constatado que 77,8% relataram apresentar
OSUEL Orquestra queixas físicas em um período de doze meses e
Sinfônica da Universidade 71,1% nos últimos sete dias precedentes à
Estadual de Londrina, em aplicação do questionário. As regiões
2004, com 45 músicos , anatômicas mais acometidas foram: ombros,
sendo que 82,2% coluna cervical, coluna dorsal, punhos e mãos;
indivíduos do gênero verificou-se também um maior predomínio de
masculino e com uma queixas dolorosas em músicos de corda e
média de idade de 39 a 56 sopro. 33,3% dos profissionais relataram ter
anos. perdido dias de trabalho.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo, foi possível constatar que a estrutura do violino, sua técnica e
performance, o posto e a jornada de trabalho, são fatores desencadeantes para distúrbios
musculoesqueléticos como: síndromes compressivas, tendinites, capsulite adesivas,
principalmente em membro superior esquerdo, além de desconfortos em região lombar da
coluna e em cervical. Também é coerente ressaltar que a cultura da dedicação sem limites para
alcançar uma dita perfeição está muito presente entre os músicos, encarando a dor como
consequência de seus sacrifícios, algo necessário para ganhos e resultados satisfatórios. A dor
dos músicos coloca em pauta a reflexão sobre como prevenir as causas de queixas dolorosas
tão frequentes nesta classe de trabalhadores, o desconhecimento de muitos profissionais da
área do design, ergonomia, da saúde, e afins sobre este tema gera também um desamparo aos
músicos que estão adoecendo com frequência de patologias que muitas vezes poderiam ser
evitadas.
Todo músico deve buscar o autoconhecimento físico e emocional, investigar estratégias para
eliminar o cansaço e trazer para sua vida cotidiana hábitos saudáveis, eliminando possíveis
causas que trarão lesões, lembrando sempre que não se deve subestimar a dor; ela é o sinal
de que o corpo está em desarmonia.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agradecimento
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPQ