Footing Goffman

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Footing'
Erring offinan

Lma noção fundamental para a compreensão do discurso oral e


para
a análise da interação se encontra no conceito de
enquadre, introdu-
zido por Gregory Bateson e desenvolvido por Erving Goffman no seu
extenso estudo intitulado Análise de enquadres. publicado em 1974'.
O enquadre situa a metamensagem contida em todo enunciado. sina-
lizando o que dizemos ou fazemos. ou como interpretamos o que e
dito e feito. Em outras palavras, o
enquadreformula a metamensagem
a partir da qual situamos o sentido
implícitd, da mensagem enquanto
ação. Goffman afirma que, em qualquer encontro face a face. os par-
ticipantes estão permanentemente propondoou mantendo enquadres.
que organizam o discurso e os orientam com relação à situação
interacional Indagam sempre "onde. quando e como se situa esta
interação?. em outras palavras. 0 que está acontecendo aqui ago-
ra?") Em 1979. Coffman introduz o conceito defooting. já comno um
desdobraHenta.do conceito de enquadre no discurso. Footing repre-
senfa o alinhamento, a postura, a posição, a projeção do "eu de um
participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o
discurso em construção. Passa. portanto, a caracterizar o aspecto di-
nâmico dos enquadres e. sobretudo. a sua natureza discursiva. Em
qualquer situação face a face, os footings dos participantes são si-
nalizados na maneira como eles gerenciama produção ou a recepção

Tradução de Beatriz Fontana. a partir de texto original. "Footing". pu-


bhicado inicialmente no periódico especializado Semiotica. 25: 1-29, de 1979. Apa-
rece aqui sob permissão da editora Mouton de Gruyter. Fica vedada a reprodução.
1. N. dos Orgs.: José Roberto Malufe (1992: 03) refere-se ao livro Frame
analysis. de Erving Coffnan. como Análise de esquemas de referência. Apesar da
pertinencia dessa tradução, optamos por manter o termo "enquadre para a tradu
Tambén é
ao de frame, uma vez que se trata de forma abalizada na Psicologia.
frisar o livro de Goffman faz referência explicita
ao estudo de
nportante que
Bateson (1972 e neste volume) que introduz o conceito de enquadre was Cieneias
schema.
s , omo sociólogo, Erving Goffman optou pelo termoframe, e naão
vez de narcar
salientar os aspectos sociais leseritos no seu estudo (em
latureza cognitiva. presente na noção de esquema de referencia).

107
ERVIC GOFFMA

das elocuçoes. Os footings sao introduzidos. negociados. ratificados


ou não), co-sustentados e modilicadas na interação. Podem sinalizar
aspectos pessoais (ma fala afável. sedutora). papeis sociais (um exe-
cutivo a posição de chefe de setor). bem como intricados papéis
diseusivos (o falante enquanto animador de um diseurso alheio). Neste
artigo. Goffman desconstroi as noções clasicas de falante e ouvinte.
passandoa discutir a complexidade das relações discursivas presentes
a estrutura de produção (relativa ao falante) e na estrutura de parti
cipaçàe (relativa ao ouvinte). Analisar esse trabalho de natureza socio-
logica significa olhar para o desempenho das identidades sociais e
lingiisticas dos participantes engajados em una situação de interação
face a face: como essas dentidades emergem. com0 se constituem e
cono se aleram no fuxo do discurso e da interação. como afetam de
forma sutil. porenm definitiva. a aç o em curso.

Os ORGANIZADORES

T loMEMOS um segniento de interação noticiado


mente. uma nota de agencia de noticias de 19.3 sobre as
jornalistica-
atividades do presidente dos Estados Unidos da América. 0
cenário é o Salão Oval da Casa Branca: os participantes. um
grupo de funcionários do governo e representantes da mprensa.
reunidos por razões profissionais para testemunhar um ritual

politico. a assinatura de um documento.

WASHINGTON (UPI)- O Presidente Nixou. um ca-


valheiro à moda antiga. resolveu caçoar de uma jornaista
que usava calças compridas na Casa Branca. deixando ben
claro que prefere vestidos.
Apos a cerimona de um documenio o
de assinatura
Salão Oval. o Presidente levanton-se de sua mesa de traba
lho e. enn tom de gracejo. dirigiu-se a Helen Thomas. k
PI: "Helen. voce continua usando calças compridas. E. o
usando
que voce prefere mesmo? Quando eu vejo moças
alças conpridas. me lembro da China".
Helen Thomas. um tanto lesconcertada. disst 0 t
SIdente que as ehinesas estavan passando a usar rouf
cada vez mais oeidentai
108
FooTING
sto não é uma critica, 1mas às vezes as
calças compri-
das ficam bem para algumas pessoas, e não para outras."
Apressou-se em acrescentar, "mas ach0 que caem bem em
voce. De uma voltinha'
Enquanto Nixon, o Ministro da Justiça, Elliott L. Ri-
chardson, o diretor do FB1, Clarence Kelley, e outros altos
funcionários da Justiça sorriam, Helen Thomas fez uma pi-
rueta para o Presidente. Ela usava calças brancas, camisa
de malha azul marinho, colar de contas brancas e
sapatos
debruados de vermelho.
Nixon perguntou a Helen Thomas o que o marido da
jornalista, Douglas Cornell, achava desse hábito de usar
calças compridas.
-
Ele não se importa- ela respondeu.
As calças são mais baratas do que os vestidos?
Não- disse Helen Thomas.
Então mude - determinou o Presidente, com um

Sorriso largo e malicioso, enquanto os outros repórteres e


cinegrafistas caíam na gargalhada. (The Evening Bulletin.
Filadélfia, 1973.)
Esse incidente evidencia o
poder do presidente de forçar
um individuo do sexo feminino a passar da sua capacidade profis-
sional para a sua capacidade sexual e doméstica numa circuns-
tancia em que ela (e as muitas mulheres que a reconheceriam
COno
sua representante simbólica) provavelmente estaria preo-
Cupada em ser respeitada como profissional e nada além disso. E
Claro, o incidente evidencia um momento na política de gênero.
o qual um presidente poderia irrefletidamente exercer tal po-
er. Por trás desse fato, há
algo ainda mais significativo: opres-
Suposto Social contemporâneo segundo o qual as mulheres de-
m estar sempre prontas a ouvir conentarios sobre a sua "apa-
Cela,contanto que as observações sejann favoráveis, feitas por
guem das suas relações e sem conotação sarcástica. uplicito
uralmente está o lato de que uma mulher deve estar sem-
prontidão para pisar em chao, ou, melhor dizendo,
outro

Jue outros lhe alteremo chão onde pisa, una vez que estka
109
OFPMAN

sujeita
ranslornnar nomentaneame
a se

caoeaprovaçao,
O nao-ou ao e
objeto dele ateaten- em
gracejo
oes. Na nossa
de Nixon
também pode trazer apenas-participante
da acão.
Iram para socicdade, toda vez
à tona outras ques-
outras (ues-
tratar de que dlois
Hervicos. ocde haver, negocios, de assuntosconhecidos eneon- se

"conversa intormal, ouno inicio como noprofissionais


Uma tanto ou de
fim da
ura do um
papouma transacãn.
"pré-jogoe "pós-jogo que
os sociais
do versão em
minia-
cará assuntos
maiores. Essa conversa delimitam
informal acontecimen-
ligados relação global dos provavelmente evo-
rada unn considera
à
duradouro envolvidos ao que e
familia etc.). Durante importante para outro (saúde.
e
o
se
que dois
Os transação propriamente dita,
a

interagentes se colocarão numa


mentadla, de acordo presume
comn relação mais seg-
ridade funcionalmente as exigencias de trabalho, com auto- a
definida assim e
por diante. De
uma reunião de outro lado.
minar com planejamento entre militares pode iniciar
um
reconhecimento formal da ter- e

por uma
mudança que
hierarquia, entremeada
igualitária. Em ambas
se
aproxima de uma tomada de decisão
sunto ein si
as
situações, a entrada e a saída do as-
envolvem uma
mudança de tom
qual os envolvidos pretendem alteração
e uma da
capacidade social na
atuar.
F'inalmente, é possível observar que,
de marcha ocorrem entre quando tais mudanças
mais de duas
cessar uma
pessoas, é comun se pro-
alleração destinatário. Na cena de Nixon. Helen
de
Thomas é particularizada
como uma interlocutora específica no
mOento em que se inicia a atividade
"nao-séria". (Pode ocor
rer, sinultaneamente, uma mudança na
postura, aqui de fato
bastante notória na atitude do Sr. Nixon de levantar-se de
su
nesa de traballho.)
O candidato óbvio ilustrar
para o deslocanento leito por
NIXO Csla quilo que os lingistus denomian "altermaia de
cdigo, cúdigo), no caso, relerinlo-se a linga ou dialeto. O tra-
balho dle Jobn (Gumperze colegas lorece
seus nos
t
relerencia. Ponle-st: eitar um exeplo simples (Blown e t.lllperz.

1972/1080: 424, e neste volune):


FooTING
Certa vez quando nos, na condição de forasteiros,
nos apro-
imamos de um grupo de residentes que conversavam, nos-
sa chegada produziu uma
alteração considerável na postu-
ra descontraida do grupo. As mãos foram
retiradas dos bol-
sOs, e as expressoes laciais mudaram. Como
se
poderia
ver, nossas observaçoes casionaram uma mudança de co-
pre-
digo, marcada simultaneamente
por uma
alteraçao nas p1s
tas do canal (ou seja, velocidade de
enunciação das frases,
ritmo, maior número de pausas de hesitaçä0, etc.) e por
uma mudança de
(R) |um dialeto regional do norueguës|
para (B) noruegues padrao, lingua oficial da Noruega| em
termos gramaticais.

Contudo., certamente a chegada de alguem de fora não é


condição essencial: a mudança pode ser empregada mesmo en-
treaqueles que compartilham amesma etnia (Bloom e Gumperz,
1972/1986: 425, e neste volume):
Da mesma forma, quando os moradores nativos
|de Hemnes-
berget, norte da Noruega| se dirigem à mesa de um funcio-
nário de repartição|, as saudaçoes e perguntas
uma
sobre
a família tendem a ocorrer no dialeto local, enquanto a
par-
te formal da transação se dá na
lingua padrão.
Não é necessário nos restringir ao universo adulto e formal
do governo e dos
negócios, com suas relações de trabalho marca-
das por
formalidades superticiais; a säla de aula também serve
(Bloom Gumperz, 1972/1986: 424, e neste volume):
e

Os professores
locais também relatam que as aulas
tivas formais- em
exposi-
que se desacoselham interrupçoes
as
sao
proferidas na variante (B) norueguës padräo|, mas
qe, quando queren encorajar u a diseuSso alberta e livr
entre os alunos, os
palestrantes mudanm para a variante (R)
daleto regional do noruegues).
Por volta de 1976, em trabalho não publicado sobre unma
COmunidade na qual o esloveno e o alemao estão em
aliva, as
coexistec
questöes pureciam mais delicadas para Cunperz. F'r
nentos de diálogos colhidos entre maes e ilhas e entre r s
ERVING GOFFMAN

confirmam quealternanea de cod1go esta


a
presente em qlase
todas as instâncias da vida conversacional.
Gumperz
identificar o que essas alternancas marcam e cono(19766) 1enta
funcionam:
1. diseurso direto ou indireto
2. seleção de interlocutor
3. interjeiçoes
t. repetições
5. franqueza
pessoal ou envolvimento
6. informação nova ou velha
7. enfase
8.
separação de tópico e sujeito
9. tipo de discurso
(ex.: palestra e discussão).
O mais relevante para nossos
propósitos aqui é que Gumperz
e seus
colaboradores passam então a se deter tambem sobre
comportamento característico da alternância de código que ab-
aquele
solutamente não envolve
qualquer mudança de sala deAssim.
partir de notas reconstituídas de observaçoes decódigo.
a
aula. o
casal Gumperz apresenta tres afirmaçoes consecutivas ditas por
um
protessor a um grupo de alunos de primeira série, com a*

afirmaçoes impressas sob forma de lista. a fim de destacar os


tresdiferentes posicionamentos envolvidos: a
gencia em relação ao comportamento imediato primeira. uma
das crianças:exla
segunda, una
recapitulação de experiências previstas;
ra. uma
e a
tereet
observaçao a
parte, dirigida a uma
criança e>peciliea
mente
(Cook-Gumperz Gumperz. e
1976:3-9):
1. Agora oucam todos.
2 As 10:00. tereIOs uma reuniao. Vamo vair junts.
IOs parao audiloror vaos nos sentar n a dua Ptet
Sileiras. OProf. Dork.
le enrar.
noso lrelor vai lalar cons ua
fiuenn benlado», quieto ouca c o i ale r

3. ao balanrr iab perna. P'reste alençao u qie


dizend
A
queslau e
qur. lao e tlo acesnd t entaau tp
ao lom de voz. 1arilmente se incoreria no eTro de coiinickta

112
FooTING
tres segnentos como um texto continuo, sem perceber que esta
vam ocorrendo mudanças signiticativas de alinhamento entre ta-
lante e ouvintes.
Ilustrei o que chamarei de "footing" através de suas mudan-
cas. Em forma de esboço resumido:
1. O alinhamento, ou
posicionamento, ou postu-
porte, ou
ra, ou projeçao pessoal do participante está de alguma for-
ma em questão.

2. A projeção pode ser mantida através de um trecho de


comportamento que pode ser mais longo ou mais curto do
ue una Irase gramatical, de modo que a gramática frasal
não será de grande ajuda, embora
pareça claro que alguma
forma de unidade cognitiva está minimamente
presente,
talvez uma "oraçáo fonemica". Estão
implicito5 segmentos
prosódicOs, não segnentos sintáticos.
3. Deve ser considerado um conlinuun que vai das mas
evidentes mudanças de posicionamento às mais sutis alte-
raçoes de tom que se possa perceber.
4. Quanto aos falantes, a alternancia de código está comu-
mente presente e. se nao esta, estarao presentes ao menos os
narcadores de son que os
linguistas estudam: altura, volu-
me, ritno, acentuaçao e timbre.

5. E haver,
comum em alguma medida, a
delimitação de
uma fase ou
episódio de nível "mais elevado da interação,
tendo o
novo footing um papel liminar, servindo de isolante
entre dois mais substancialmente sustentados.
episódios
Uma mudança de footing implica uma mudança no alinha-
eto
que assumimos para nós mesmos
para os Outros presen-e
CS,
expressa na maneira como conduzimos a produçao ou a re-
Cepçao de uma elocução. Uma mudança em nosso footing é um
Outro modo de falar de uma mudança em noss0
enquadre dos
ventos. Este artigo tem a
preocupação fundamental de evidenciar
2.Uma primeira referencia aparece em Goffman (1974: 496-559).
113
ERVING GOFFMAN

que os participantes mudan constantemente seus foo


anto vão falando. sendo essas mudanças uma caracteries
inerente à fala natural.
teristica
Conforme sugerido anteriormente, a mudança de footi.
está muito comumente vinculada a linguagem: quando tal n ling
for o caso. ao menos podemos a r n a r que 0S marcadores Dar
-
lingüisticos estarão presentes. ASSim, os SOCIolngiüistas poclem
em
contribuir para o estudo dofootung, inclusive quanto aos exem-
plos mais sutis. Caso decidam se envolver nessa área até aui
literária e psicologIca, presume-se que precisarao de meios cstru-
turais para laze-lo. Veste artig0, quero laZer uma tentativa ousada

de analisar as sustentaçoes estruturais das mudanças de footino


A tarela será abordada pelo reexame das noçoes tradicionais de
falante e ouvinte e de algumas das nossas pressup0sições não-
declaradas acerca da interação falada.

A análise tradicional do dizer e do que e dito parece tacita-


mente comprometida com o seguinte paradigma: dois e não mais
de dois individuos estão conjuntamente envolvidos na atividade.
A qualquer dado momento, um dos dois estará expondo seus
proprios pensamentos sobre um assunto e expressando seus pro-
outro estara
prios sentmentos, mesmo que cautelosamente; o

ouvindo. A pessoa que fala está inteiramente envolvida com a

1ala e sua recepçao, e a pessoa que ouve, com o que esta sendo

dito. O discurso em si seria, portanto, a principal preocupaçao


de ambos. Com efeito, apenas esses dois indivíduos sabem quem
esta falando, quem está ouvindo, o que está sendo dito, ou ate

mesmo se ha de fato fala em andamento-sendo assim imper


ceptiveis para os demais qualquer ângulo do que os dois lazenm
ou seja, todos esses aspectos são "inacessíveis para os oulro
No curso da interaçã, ocorrerá o intercâmbio dos papeis de la-

lante e ouvinte, com vistas à manutenção de um formato afiria


çao/resposta, sendo que o direito legitinmado de falar neste i s

114
FooT
ante - a palavra"-Vale Veni, P'nalnente, dliz-se que o (que se
e c o n v e r s a ou fala,
passa
O conjunto de du1as pessoas acna descrito parece de fato
ser bastante c o m i n , ° posilivO t a m b e n , o i s é dessa forma que

obtemos a imagem stibjacente i e tenos (lo que seja a interaca


ace a face. E trata-se, com eleito, de um arranjo para o (qual o
termos "falante e "ouvinte" se ajustam perfeitamente- sendo
Os termos leigos iguamente aplicaveis para todos os fins técnicos.
Dessa forma, aceita-se, sem a necessidade de qualquer mudanca
básica nos termos da analise, que seja possível lidar com qual-
quer modificação dessas condições: podem ser acrescidos partici
pantes, o grupo p0de estar na presença imediata de não-par-

ticipantes, e por diante.


assim
Parece-me que a linguagem utilizada pelos estudios05 para
tratar do falar e do ouvir não está bem adaptada à sua finalidade.
Acredito também que isso seja verdade tanto em linhas genéricas
quanto para a apreciaçao de algo como a noção de footing. Essa
linguagem e muito rudimentar para poder nos fornecer qualquer
principio. Ela pressupoe como definitivas as categorias globais
da sabedoria popular (como falante e ouvinte), em vez de decom-
po-las em elementos menores e analiticamente coerentes.

Por exemplo, os termos "falante" e "ouvinte" implicam que


que está em questão é som, quando, na verdade. a
somente o
VIsao e organizacionalmente muito significativa também, ás ve-
es ate o tato. No gerenciamento da tomada de turo, na avalia-

çáo da recepção através das pistas visuais dadas pelo ouvinte.


na

da nudan-
Junçao paralingüística da gesticulação, na sineronia
Ca de olhar, na mostra das evidencias de atenção (como a espiada
evideu-
mea distäncia), na avaliaçäo do alheanento ediante
l a c u s - em todas
Clds de envolvimentos colaterais e expressoes
CSsas instâncias, éevidente (que a visüoe lundaenal, anto para

traduçao de
Orgs.: Apesar de o termo "piso conversaciuonal acadenicas sobre
como
3. N. dos
corrente e n diseussoes
CDI1Cersalionalfloor ser cada vez mais
não se justilica seu emprego aqu.
uestoes sociolingüístico-interacionais, ainda metafórica entre pisO o
tero e

tre-se, no entanto, há uma coNcatenação


que
os
apoo para Pes.
JO0ng. que, literalmente, alude a posição, colocaçao
ou

115
ERVING GorEMAN

o falante como para o ouvinte. Para uma condução efica.da


(ala, é melhor que falante e ouvinte estejam enn posição tal q e
possam se litar mutuamente. O lato de um telelonema ser vi
vel, mesmo sem 0 canal vIsual, e de que as Iranscriçoes de fala
pareçanm igualmente eticIentes, nao deve ser tomado como un
sinal de que veicular palavras e a unica quCstao cruCial, mas sim
de que a reconstruçao e a transtormaçao tambem sao
processos
muito signilicativOs.

A contribuição mais óbvia para o aperteiçoamento do


paradigma tradicional da fala é reconhecer que qualquer m0
mento de fala pode sempre ser parte de uma atividade de fala
qualquer, isto é, um trecho considerável de interação natural-
mente delimitado, que abrange tudo o que de relevante
partir do momento em que dois (ou mais) indivíduos iniciam
tais procedinentos entre si, e que continua ate que timalmente
eles encerrem a atividade. O inicio será tipicamente marcado
pela aproximaçao dos participantes, que deixam suas respecti-
vas orientações dispersas e passam a se mover conjuntamente,
dirigindo-se corporalmente uns aos outros; o encerramento sera
marcado pelo afastamento fisico da imediação de co-presença
anterior. Em geral, as delimitaçoes rituais tais como saudaçoes e
também estabelecendo e encerrando o
despedidas ocorrem,

envolvimento articulado, oficial e aberto, ou seja. a participaçao

ratificada. Tem-se, em suna, "um encontro social. No decorrer


do encontro, os participantes serao obrigados a sustentar seu
de que nao
envolvimento (que está sendo dito, assegurando-se
no
da
ocorrerá nenhum periodo longo sem que ninguem laça us0
pessOi o laça). Assimn,
1un
palavra(e que nao
mais do q|ue uma
dado momento, pode nao cstar ocorrendo lala nenhua,
e, mes-

"estado de lala
mo assin, os participantes continuarão num
Uma vez admitido que um encontro terá caracteristicas proprias
mesmo que seja apenas um nicio, um termino e um periodo
marcado por não constituir nenhuna dessas duas coisas-en-

116
FoOTIN;
fica evidente que qualquer perspectiva transversal, qual-
cuer parte momentanea, entocando o lalar, não uma atividade
de fala, necessaramente ira perder de vista certas característica5
importantes. CertOS aspectOs, tais como o trabalho realizado em

chamados (para que alguem mteraja conosco), o fator tópico.)a


construção de unn estado de imformaçao que se sabe de antemão
ser do conhecimento dos participantes (com a conseqüente "reca-
pitulação para o beneficio dos novos participantes), o papel dos
pré-encerramentos parecem depender especialmente da ques
tão da unidade coo um todo.
Creditar autonomia a "uma atividade de fala" enquanto
unidade de atividade em si, um domínio sui generis para análise,
é um passo crucial. Mas, e claro, surgem apenas novas
indaga-
ções. Embora seja fácil selecionar para estudo um trecho de fala
que apresente as propriedades de um encontro social claramente
delimitado (sendo ainda mais fácil pressupor que qualquer oca-
sião de fala que se selecione
origina de uma tal unidade), pa-
se

rece haver muitos momentos de fala


que não podem ser localiza-
dos assim. Existem muitos encontros tão
entrelaçados com ou-
tros encontros
que acaba se enfraquecendo a pretensão de auto-
nomia de qualquer um deles. Então, penso que é preciso retornar
a uma análise transversal, ao exame
delmomentos de fala,, mas,
agora, tendo-se em mente que qualquer rotulaçao
do que se está
abrangente
observando tal como "conversa", "fala". "dis-
Curso-é muito prematura. A
Tal e
questão da unidade
fundamen-
uma
questão que eventualmente terá de ser examnada,
embora análise possa
a
ter que iniciar pela escolha de um mo-
mento de fala
qualquer diseussão, usando-se, sem a o r e s
para
PTEOcupaçoes, rótulos que podem não se aplicar ao percursO com-
pleto de uma
conversa.

.N. dos
emb
Orgs.: O termo "transversal" traduz aqui original cross-sectonal
o

, 1 a ediçao inicial, tivéssemos optado pelo terno "interseceional. A alte-


para "transversal" se justifica em função de termos olbservado ser este 0
COsagrado em discussões de metodologia de pesquisa em portugues, stet
portanto, mais
apropriada a sua escola.

117
ERVING GoFFMAN

IV
Tomemos primeranente entao,a
terlocutor. ou ainda ouvidor). O oçao de
ouvinte (o
falante diz de
de process0 examinar
e
acompanhar o essencial de suas
o

observe(que un
eseutar no sentido do
comuicaçao -deve acoes-
sistema de
saida ser diferenciado loo
qual essa logo de
do monent
social no
comumente se

ratificado no encontro. pois


processa, isto e, a
condiçao oficial
ial de atividade
de particin
participante
vindo. mesmo tendo um podemos simplesmente não
estar ou
espaço social reconhecido
cido na fala e
o.

apesar das expectativas normativas do


falante.
fala, isso e

evidente que, mesmo nao sendo um Por outro


lado,é
participante oficial no
contro. no en-
poderemos estar en.

dois modos socialmente acompanhando conversa de perto. de


a
diferentes: podemos fazé-lo
mente, resultando em proposital-
trás da porta, "intronissao (escutar escondidas, Dor
às
rer de forma
espichar a
orelha), a oportunidade pode ocor-
ou
inadvertida e nao intencional, como
mos por acaso". Em quando
suma, um participante ratificado "ouvi-
estar
escutando, e alguém que esteja escutando pode não
participante ratificado. pode não ser um
Consideremos agora o fato de que muita fala se
ambito visual e auditivo de processa no
ratificados e cujo acesso ao pessoas que não são participantes
tivel
encontro, embora minimo, e
aos percep-
participantes oficiais. Esses participantes eventuais são
circunstantes". A sua presença deve ser
nao a considerada a regra e
exceçao. Em algumas ocasioes, eles
podem acompanhar
temporariamente a lala, ou
captar fragmentos dela, isso tudo
sem muito esforço ou intenção, tornando-se assim "ouvintes
acaso". Em outras ocasioes, eles por
repticio 0 acesso que descobrem ter,
modo podem explorar de
sub-

"Intrometidos", nesse caso qualificando-se assim como


escuta secreta de
assemelhando-se aqueles que lazenm
conversas por meios
no eletrônicos. Conmumente,
entanto, nos, circunstantes, educadamente
mos dessas
nos desvencila
nos
oportunidades. Praticamos a ética situacional que
obriga a avisar áqueles que estão acessíveis sem sabe-lo que
eles esta0 sendo ouvidos e que estão nos obrigando tambem a
118
encenar ma
dito ea
e a deonstraçao
minimizar
ninimizar nosso
de des
lesinter FooTI;
1oivarnmos dede
deixarmos real acess0 se
pelo que está
(Muito prestar atençao,
presta
star ao
dos atengao, nos
que está
da
etiqueta retirando lalado, senlo sendo
preensao básica de cirenstantes
óbvia ficção de que ele deveriam pode ser ecologicament anent e.
ao

0s
a
que eles
cles nao gerada pela
agir de tal modo com-
pressupostos do estao
presentes;
presentes: em suma,
Contudo. por mais queparadigma conversacional que fieque
sma, de
noderão colher sejam polidos, estão que
qe
está sendo falada.algumas imlormaçoes: circunstantes aindavigor.) os

assim
em

de "quem por exemplo,


biografia) está (em termos tanto de
encontrando com se lingua que a

quem, categoria como


nantes é falante
o
e
do circulo quais sao qual dos partici-
os
conversacional,
que, ao lidar
ouvintes,
assim qual atmosfera
e a
com por diante. geral
cipantes como os acessibilidade a
um
Observe também
a
na visa0, e
encontro,
Circunstantes vao conliar tanto os
parti-
nao no
para nosso
o
som,
paradigma gerando outro motivo fundamentalmente
de
ine um surdo inicial de inadequação
apenas dois
de obter observar
uma
a
uma conversa: ele não teria participantes. (Ima-
quantidade
partir do que ve?) considerável de condições
O ato de ouvir
informação social a

que se
sustenta na
te
paradigmático passa a ser um
ato
concepçao do nosso ouvin-
outro sentido. Na fala entre duas
ambiguo também em mais
necessariamente "endereçado", oupessoas, ouvinte ratificado é
o
o

te
remete sua atenção visual
a seja, aquele quem falan- a o
e
para quem espera
passar o papel de falante. eventualmente
Mas, obviamente, encontros de duas
pessoas, embora comuns, nao säo os
unicos:
irequenCia, trés ou mais participantes oficiais.encontram-se. com
Em tais casos, o
1alante do momento
poderá diversas vezes dirigir suas olbserva-
Des para o círculo como
um todo, abarcando a tolos
os seus
Ouvintes com o olhar, conferindo-lhes algo
de
igualdade. No entanto,
cono uma
condiçao
maisprovavelmente, lalante endere-
o
ara suas
ua
observações, a0 menos durante
alguns momentos de
lala, ouvinte em
a um
especial, de tal manera (que, entre os
t e s oficiais, é preciso diferenciar o interlocutor endereçado
Os não-enderecados", Observe mais uma vez. que essl distl-

119
ERVING GOFFMAN

ção estruturamenie importante entre 0s interlocutores oficisic 2


muitas vezes obtida exClusivamente araves de pistas visuis
embora os vocativos.possam ser usados como
pistas audiveis.
A(s) relação(öes) entre lalante,
interlocutor endereçado
interlocutor(es) não-endereçado(s) sao complicadas, significati-
vas pouco exploradas. Numa conversa amigavel, ideal seria
e
o

que nenhum dos participantes desermpenhasse qualquer desses


papeis com maior frequencia ou por um periodo mais longo do
que qualquer um dos demais. Na prática, dificilmente encontra-
mos essa combinaçao, mas sim muitas possIVeis variações. Mes-
mo
quamdo uma mesma dupla mantem-se de posse da palavra
por um periodo longo, a implicaça0 estrutural pode variar: por
exemplo, a conversa pode se deslocar para assuntos particulares.
progressivamente esfriando o envolvimento dos demais partici-
pantes. ou pode se desenrolar com0 uma exibiçao para os ouvin-
tes
presentes- versão miniaturizada de um
uma
expediente
utilizado nos programas de entrevistas na TV, ou do
interrogató-
rio da testemunha que é feito
pelo advogado perante o júri.
Uma vez rompidos os limites diádicos da fala e admitidos à
cena os circunstantes e/ou mais de um interlocutor ratificado.
então passa a ser viável a possibilidade de "comunicação subor-
dinada ": uma conversa na qual os protagon1stas, o tempo e o
tom estao
organizados para se constituirem numa interferencia
perceptivelmente limitada com relação ao que se pode chamar
de "a comunicação dominante? que se
passa
De fato, há um grande número de locais de trabalho onde a lala
na
proximidade.
informal está subordinada à tarela em andamento, nesse caso
havendo uma acomodaçao em
função das exigëncias do trab
Iho em andamento e nao de outra conversa.
Os
individuos engajados em uma
comunicaçio subord
da relativa a um estado
dominante de fala podem nao se estor
çarpara dssimular que estão conversando dessa maneira seletiva
e nao
precisam demonstrar (qualquer esforco intencioIap
escondero que estão comunicando. Assim temos
o "jog pir
lo: a
comunicaçao subordinada entre umsubgrupo de
ire
pantes ratilicados; o Cjogo cruzado"3a comunicaçao enre pr
120
F'ooTIN

Cpantes ratificados e circunstantes e que vai além das fronteiras


do encontro dominante; ojogo colateral"palavras respeitosa-
mente murmuradas, trocadas exclusivamente entre os circuns-
tantes. A natureza é detalhista: na nossa cultura, cada uma
des
sas tres formas aparentemente pouco instigantes de comunica-
ção é conduzida mediante marcadores gestuais distintos e bem
padronizados, e eu suponho que outras comunidades gestuais
tenham seus próprios repertórios de equivalentes funcionais.
Quando há uma tentativa de se dissimular a comunicação
subordinada, ocorre o *conluio", tanto dentro das fronteiras de
um encontro (jogo paralelo em conluio) ou completamente fora
do encontro, como quando dois circunstantes sub-repticiamente
divulgam suas posições sobre o que estão ouvindo por acaso (jogo
colateral em conluio). O conluioé realizado de várias maneiras:
pela dissimulação da comunicação subordinada, pela simulação
de que as palavras não ouvidas pelos excluídos são inócuas, ou
pelo uso de palavras alusivas, ostensivamente dirigidas a todos
os participantes, mas cujo significado adicional só será entendi-
do por alguns.
Aliada ao conluio está a insinuação, através da qual o
falante, ostensivamente dirigindo palavras a um interlocutor en-
dereçado, encobre suas observações com um significado patente
mas passivel de ser negado, significado que tem mais alvo do
que interlocutor propriamente, que em geral é desabonador e

tem por propósito ser captado pelo alvo, seja ele o interlocutor
endereçado, um interlocutor não-endereçado, ou mesmo um cir-
cunstante (Fisher, 1976).
Uma questão adicional: ao afirmar anteriornente que uma
conversa poderia estar subordinada a uma tarefa instrumental
em andamento, isto é, inserida quando e onde a tarela em si
assim o permitisse, ficou estabelecido que os participantes po-
dem declinar da sua fala a qualquer monento quando se apre-
sentam motivos exigidos pelo trabalho e, em principio, retornar
a ela quando as exigencias de atenção imediata da tarefa tornem
Lal procedimento evidentemente exeqüível. Nessas circunstan
e de ritualização usual dos encontros ficaria
Clas, se supor que a

121
ERVING GoFFMAN

periodos
de silencio dura de
enlao

nem eo
ocorrendo
enfraquecida. te delinidos
definidos nem omo
nao são satisfato
variável, os
quais enconiros,
neCm comO pausas dent.
ntro
diferenfes
interlúdios entre (e nuitas
encontro.
Sob tais condiçoes
o .

tras)
de um
mesmo
"estado aberto
de fala", tendo os rarrti-
desenvolver um
pode se iniciar uma peauas

mas nao
a obrigaçao, de Iena
direito, mar
silencio, tudo isso
cipantes o sem
no arca
reincidindo entao
torrente de fala, uma outra
tosse
acrescentada apenas
como se
ritual aparente, nos deparamos
em
andament0.
Aqui
uma conversa ja
troca e n nem observa-
é nem participaçao ratificada,
com algo que näo
circunstantes, mas uma condliçao peculiar intermediária.
cão de dinämica da participação
ratificada. Ini-
Resta considerar a
estabelecida uma distinção entre o ato de
cialmente, deve s e r u m encontro em
encontro e 0 ato de aderir a
abrir e encerrar u m

andamento ou abandoná-lo; são


encontradas práticas convencio-
diferenciada desses atos. E, evidentemen-
nais para a realização
diterentes podem ocorrer
com participantes
te, dois encontros
cada encontro sendo cir-
sob condições de mútua acessibilidade,
esta em pauta aqui é ou-
cunstante ao outro°. No entanto, o que
tra questão: o direito de abandonar ou o de aderir, tomados jun-
tos. pressupoem circunstancias nas quais os participantes muda-
rao de um encontro para o outro. Num nível mais elevado", é
também necessário considerar tanto a possibilidade de um en-
contro de quatro ou mais participantes se dividir aomeio° como
a possibilidade de encontros aparentemente separados sé fundi-
rem. E parece que essas várias mudanças são freqüentes em al-
gumas circunstâncias sociais microecológicas. Assin, é comunm
termos, à mesa de jantares informais com algo em torno de oto

5. Cm arranjo padrao é a nodulaçä0 mútua que se apresenta como


distribuicão igualitária do espaço sonoro disponível; outro (conforme sugerido) eo
emudecinento diferencial, pelo qual os envolvidos em u n dos encontros
restril
gem unilateralnente sua
comunicação em deferencia
tosamente a un encerramento.
ao outro, ou ehegam respe
6.N. dos Orgs.: Recentemente, Egbert (1997) examinou em detalhe fenone o
no da cisma conversacional em encontros informais entre falantes de dilerentes
variedades de alemao.

122
FooTIM:
participantes, uma lorte
mstabilidade de
casos, um falante pode achar necessario participacão. Ness
anto para se prever policiar s1a platéia, nem
contra mtrometidos (pois, na verdade. ouvir
por acaso à mesa dilicilmente
precisa ser dissimulado). mas para
trazer de volta aqueles que estao ao leue encorajar futuros
cipantes que estao parti-
nepientes. Nesses ambientes,
interrupcoes.
aumentos do tom de voz e as
orientaçoes do tronco
ad-
quirir função e siguulicado especiais. (Note o modoparecem
como um
passageiro que senta no banco da frente de um táxi
pode funcio-
nar com0 um
pivo, dirigndo-se ora aos passageiros do banco de
tras. ora ao motorista, deixando eletivamente ao motorista a es-
colha de atuar como uma nao-pessoa ou como um
interlocutor
endereçado, tudo isso sem que o motorista desvie os olhos da
estrada ou dependa do conteúdo da
observação para fornecer
instruçoes de participação.) Outro exemplo de instabilidade es-
trutural pode ser observado quando dois casais se encontram. O
que antes eram duas associaçoes de duas pessoas passa então a
constituir recursos humano5 para um encontro momentaneamente
inclusivo, que pode então se bilurcar de tal modo que cada mem-
bro de uma das associaçoes que entra em cena
cumprimente pes-
Soalmente um membro da outra. Logo após, são trocados os par-
ceiros e se segue outro par de cumprimentos, podendo, após tudo
LSsO, OCorrer um reagrupamento mais consiIstente.
Perceba agora que, ao lidar com a noção de circunstantes.
foi tacilanente efetivada uma alteração de ponto de relerceia.
que antes era o encontro, e (que passou entao a ser algo mais
abrangente, a saber, a situaç o sodial", delinila como a arena
isica absoluta na qual as pessous preseules estão ao aleance vi-
sual e auditivo umas das outra. (Esss pesstNIS, e1 sI totaliula
de. podem ser chamadas de (agrupanento, sem inyplicaçes le
ualequer lipo no que tange as relaçors (qle elas nleriann, em

Sepparado, manter entre Pois acomlece que, Ilu grande maio-


si.)
ria dos casos. os fatos interacionais terio de ser considerados em
relaçaoä um agrupamento e na0 neranente a um encotro.
Oumente, por exeplo, os lalantes odilicarão seu modo de

lälar, quando não o que estao dizendo, pelo lato de conduzirem


123
ERIN GOTVA

l a fala dentro dos limites andiiNos e v s a s de nan-particiDas

fes. De fato. contorme sugeriu Joel Sherzer. quando se conta csu


ouviu alguem dizer alguma cosa. e eomim ns sentirmos na
obrigação de deixar claro se a nossa condição era de participan
tes ratificados na comversa em que tal assunto surgiu ou se escu
tamos por acaso. na condiçao de cireunstantes.
Talhez a evidencia mais clara do significado esirutural da
situação social para a fala (e. incidentalmente. da limitacão do
modelo convencional da fala) possa ser encontrada no no-s0 rom-
portamento verbal quando a s0s. ainda que na presença imedia-
ta de desconhecidos que transitam ao nosso redor. Regras impe-
ditivas de comunicação nos obrigam a desistir do uso do discur-
so e de sons articulados tais como as palavras. Mas. de fato. há
uma extensa variedade de circunstâncias nas quais nós audivel-
mente endereçamos observações a nós mesmos. deixando esca-
par imprecações e produzindo "apelos de resposta tais como: .

Opa.". "lih." e assemelhados (Goffman. 1978). Essas vocali-


zaçoes podem se
apresentar como tendo uma função de autodi-
recionamento. evidenciando a todos que n0s escutam que a nos-
sa situação visivelmente dificil não éo que nos define. Com essa
finalidade. o volume do som será ajustado de tal forma que os
envolvidos na situação social. que percebem nosso estado. ouvi

rão também nosso comentário sobre esse estado. Não ha dúvida

resposta dos que estão ouvindo.


mas
de que esperamos alguma
nada de especifico. Näo há tampouco qualquer duvida de que o

todos que rstão nas imediaçoes.


objetivoé fornecer informação a
sem. contudo, toImar a palavra. O que procura nao s i o ouvin-
se

de for-
tes propriamente ditos. mas ouvintes casuais. ainda que
a unidade nalural
sulbstantiva. da qual
ma intencional. En geral.
azem parte as observacors autodirigidas e os apelos de resposta.
nao e necessariamente uma conversa. mas outra cOIsa qualquer.
de inicio, se examnia u n
Finalnente, observe que. quando.
individuo e>pecificoa falar- uma inmagem transversal uustant
de todos os varios
ea posIVel deserever o papel ou funçao
Inembros do agrupaento sorial cirrundante a arir desse po

124
FooTING

eles participantes ratilicados da conversa


10 de referenca (sendo
estão sendo dis-
ou não), calcando a descriça0 nos conceitos que
com una certa
eutidos. A relaçao de qualquer um dos membros
ehamada de seu "stalus de participação" rela-
elocução pode ser
de todas as pessoas no agrupamento
tivo à elocução; a relaçao
ser chamada de "estrutura de parti-
com uma dada elocuçao pode
momento de fala. 0s mesmos dois
cipação para esse ou aquele
de referencia muda
podem ser empregados quando ponto
o
termos
mais abrangente: toda a
de um determinado falante para algo
nisso tudo,
atividade na situação em si. A questã0 importante
não divide o mundo alem-falante
claro, está em que uma elocuçáo
interlocutores e não-interlocutores, mas,
em duas partes exatas,
vasta gama de possibilidades estrutural-
ao contrario, abre uma

mente diferenciadas, estabelecendo uma estrutura de participa-


orientaráa sua fala.
ção segundo a qualo falante

V
de ouvinte ou interlocutor
Argumentei até aqui que a noção
é um tanto elementar. Ao faz-lo, no entanto, me restringi a algo
semelhante à conversa cotidiana. Mas a conversa não é o únicCo
fala pode
contexto da fala.
Obviamente (na sociedade moderna) a
em discursos
tomar a forma de um monologo expositivo, como
politicos, rotinas de espetáculos de entretenimento, palestras,
re-

dramáticas leituras de poesia. Esses entretenimentos


citaçoes e
único falante, a
envolvem longos trechos de fala, vindos de um
de ouvintes, bem como o domí-
quem foi dado um grande grupo
nio exclusivo do uso da palavra. A fala, afinal de contas, pode
tanto na tribuna como no bar de esquima.
OCorrer
E quando a fala vem da tribuna quem escuta é uma platéia,

conjunto de companheiros de conversa. platéias


As escu-
não um

tam de uma forma que lhes é peeuliar.


Talvez também pelo fato
de os integrantes de uma plateia permanecerem fisicamete mais
afastados do falante do que um ouvinte pernaneceria distante
de um companheiro de conversa, eles têmn, pois, o direito deexami-
seria ofensiva
ar o falante diretamente com uma franqueza que

125
ERVING GoFFMAN

numa conversa. E. exceto em circunstancias muito especiais


quando. por exemplo, se ordena à platéia que se levante e repita
a Oração do Senhor, ou que doe dinheiro a uma causa, as acoes
só podenm ser recomendadas para consideraçoes posteriores. náo
para execução imediata. De lato, e fundamentalmente, o papel
de uma platéia é o de apreciar as observações feitas e nãoode
responder de forma direta. Os imtegrantes devem imaginar qual
poderia ser a resposla, mas sem dizë-la; e tudo o que se espera
que esteja ao seu dispor sao respostas via "sinais de ouvinte"
Eles cedem a palavra, mas raramente a tomam (exceto durante
o espaço destinado às perguntas).

O termo"platéia" é facilmente ampliado para se referir àque-


les que escutam a fala do rádio ou da TV, mas esses ouvintes
diferem de maneira evidente e significativa daqueles que consti-
tuem testemunhas ao vivo da fala. Testemunhas ao vivo são
co-
participantes numa mesma ocasiao social, suscetiveis à toda
estimulação mútua que a ocasião oferece; aqueles que escutama
fala através de aparelhos só podem se
juntar à platéia do progra-
ma na
estação difusora de modo secundário e intermediado. Além
disso, muito do que se passa na fala de rádio e de TV não é
dirigido, como acontece no caso de uma fala de tribuna, a um
agrupamento massificado mas visível, fora do palco, mas sim a
interlocutores imaginados. Na verdade, os comunicadores são
pressionados modular suas falas como se elas fossem dirigidas
a

a um único ouvinte. Muitas


vezes, portanto, a fala retransmitida
envolve um modo conversacional de
direcionamento da palavra.
mas está claro trata de um modo
que se
meramente simulado.
pois os
indispensaveis nterlocutores não estäo presentes ao viv0
para evocá-lo. E, assim sendo, lala
uma platéia "ao vivo" e
uma
retransnitida pode ter
uma
platéia por retransmissão, tendo o
falante que moldar sua
projeçao primordialmente ora para uma.
ora para a
outra, somente a musicalidade da
e

nos iludir de
linguagenm pode
que se trata de uma mesnma entidade
Ainda outras multiplicidades dle receptora.
significado devem ser con-
sideradas. Tribunas são muitas vezes colocalas sobre
dito, fica evidente que as tribunas e seus palcos; isso
acessorios nao sao as

126
FoOTI;
nicas coisas que Se
encontram nos
palcos. Temos atores tam
m. apresentand0 diseursoS uns aos outros
sob a forma de per-
sanagens que nteragem, todos
organizados de maneira tal que
OSsal ser escutados por qucm esta fora do
palco. Usamos, em
definitivo e resoluto, um termo unico,
ariter
s
Teferir aquelCs que ouvem um discurs0 "plateia, para
assistem uma políticoe aos que
a de
peça eatro; mas, novamente, não
s muitas maneiras nas
deveriam
quais esses dois tip0s de ouvintes se en-
contram numa mesma posiçao nos
impedir de ver como as suas
situacoes diferem de modo deveras relevante.
O presidente da
camara de vereadores elabora e
expressa sua fala para a sua
platéia: havendo resposta, ela deverá vir desses
fato. conforme sugerido, muitas vezes ouvintes, e, de
acompanhada de sinais
de concordância e discordäancia. Presume-se
que, exatamente por
haver tantas pessoas numa
platéia, indagações e réplicas diretas
devem ser evitadas, ou ao menos adiadas para um momento em
que se
poSsa tomar
encerrado o discurso
como
Caso um membro da platéia tente propriamente dito.
coisa que o orador diz no meio de
reagir verbalmente a alguma
decidir responder e, caso saiba o
um
discurso, o orador pode
que está fazendo, sustentar a
realidade com a qual está
das por um
comprometido. Mas as palavras dirigi-
personagem a outro numa peça
(ao menos na moderna
dramaturgia ocidental) estão eternamente bloqueadas
para a
platéia, pertencendo exclusivamente a um universo auto-incluí-
do de faz-de-conta-
embora os atores que
personagens (e de
representam esses
que certa forma também estão cortados da
iacao dramática) possam sentir-se
alenção da platéia"'.
gratificados com os sinais de
Apresentei oradores e atores como um contraste aproprado
ara o lalante da conversa,
s,
os primeiros tendo plateias, 0s ulti-
(ompanheiros de conversa. Mas
preciso cosidlerar que o
é

S pas8a no
paleo é fala apenas acidentalnete, nao anali-

éia não.Eéa
elaro
que manutenção de uma linhaa rígida entre
a
personagens
a unicu forma de se organizar as produçoes dramáticas. pla-
Um exemplo
e

o leatro iradiciona
birmanes (Becker, 1970) e, de certa forma, o nosso
nelodrama burleseo.
127
ERVING GoFFMAN

icamente. Ali se pode cantar (sedo essa uma outra forma em


que as palavras poden ser articuladas) e expressar acoes qe
não envolvem diretamente palavra nenhuma, lais como tocar
instrumentos musicais, lazer truques com um clhapéu, malaba-
rismos e todas as outras ativVidades de ilusionismo que compu-
nham um número de randerule. 0s varios lipos de platéia não
são, analiticamente falando, uma caracteristica dos eventos de
fala (usando o termo de Hlymes), mas sim dos eventos de paleo.
E partir daqui podemos seguir para casos ainda mais difi
a

ceis. Há, por exemplo, congregaçoes de igrejas do tipo evangélico-


renovador em que há um intercâmbio ativo de chamadas e res-
postas entre o oficiante e os fieis. E há muitas combinaçoes sociais
nas quais um unico espaço
pre-determinado de fala é organiza-
cionalmente central, e, ainda assimn, não se trata nem de um even-
to de palco, com a sua platéia, nem de uma conversa, com os seus
participantes. Trata-se mais propriamente de algo que estabelece
vinculos: processos judiciais, leilöes, sessões de orientação e aulas
expositivas, por exemplo. Embora essas ocasioes de tribuna. de
fala vinculatória, possam frequentemente servir de apoio a parti
cipantes que estão desempenhando o papel específico de integrantes
a platéia, também necessariamente servem de apoio a uma outra
classe de ouvintes, aqueles mais comprometidos com o que esta
sendo falado e que tem mais direito de ser ouvidos do que geral-
mente acontece em entretenimentos de palco.
Quer se trate de eventos de tribuna do tip0 recreacional ou
congregacional, quer se trate de eventos de tribuna do tipo vineu
latório, será encontrada uma estrutura de participação especílica
a cada tipo, sendo a disposiçao dessa organizaçao dilerente da

disposiçaão que é conversa, e sobrep0sta a ela. A estru-


generica a
tura de participaçao paradignialica de una conversa entre duas

pessoas não nos diz muito sobre estruturas de participaçao em si.

V
ha. e
Para se examinar 0s diferentes tipos de ouvintes que

preciso substituir a noção de um encontro conversacional pela

128
FoOTING
nocão de situaçao SOCial na qual acontece o encontro; e, a
seguir,
deve-se observar que, em vez de lazerem parte de uma
conversa,
as palavras podem integrar uma ocasiäo de
tribuna, na qual são
freqüentes açoes que na0 constituem fala, e as palavras apa-
as

recem no inicio e no tim das fases do


programa, anunciando,
dando boas-vindas e
agradecendo. Isso ainda pode nos levar à
erença de que, quando circulam palavras entre os integrantes de
um
pequeno grupo de pessoas, a unidade prototipica a ser consi-
derada é, todavia, uma conversa ou um
bate-papo. No entanto,
tal deve também ser questionado.
pressuposto
Na fala habitual, os
participantes parecem compartilhar um
foco de interesse cognitivo- tem um assunto em comumn
mas e mais complexa a maneira como eles compartilham um
foco comum de atenção visual. O sujeito dessa atenção é claro;
seu objeto, nem tanto. O ouvinte é obrigado a evitar o olhar direto
sobre o falante por muito tempo para não incorrer na violação
de sua territorialidade e, ao mesmo tempo, é forçado a
dirigir
sua atenção visual a fim de obter pistas a partir da gesticulação
do falante sobre o significado do que o falante está dizendo, for-
necendo evidencias de que o falante está sendo ouvido. E como
se o ouvinte devesse olhar para dentro das palavras do orador, as
quais, afinal, não podem ser vistas. E como se tivesse que olhar
para o falante, mas sem ve-lo*.
Contudo, claro, é p0ssível para um falante dirigir a atenção
visual dos ouvintes para algunm objeto passageiro-digamos um
carro ou uma paisagem-e, no caso, haverá então uma momen-
1ânea e aguda diferença entre a atenção ao falante e a atenção
visual ou cognitiva. O mesmo será verdadeiro quando o foco des-
Ses dois tipos de atenção lor uma pessoa, como acontece quando
dois indivíduos que estäo conversando fazem uma observaçao
Sobre una pessoa dormindo ou do outro lado dat rua. E., assim,

8. Sobreposta a esse padrao geral, existe uma vasta gama de praticas que
influem na conduçäo da interação. A frequencia, a duração e a ocasião de olhadas
mutuas e unilaterais podem marcar o início e o término do turno de fala, a distan-
Cla fisica, a ènfase, a intimidade, o g'ero e assim por diante - e, claro, u u

mudança de footing. Veja. por exemplo, Argyle e Dean (1963).

129
ERINC GoFTMAN

há outra possibililade a considerar: (quanlo un pariento


médico o local da dor. oU n
mostra
ao tregies mostra onde o satuto
aperta. ou n allaiate dem0nstra cono um novo paletó assent
a.
o individhuo que esta sendo o objeto da atençao é lambem tn
participante totalmente qualilicado. A diliculdade- a ser(can.
siderada agora-é que, em muilas dessas releridas
ocasióes
contexto da elocução na verdade nao e uma conversa; é un em-
preendimento não-lingüistico, fisicamente elaborado, no ual
eventos não-lingiüisticos podem tomar o direito à palavra. (De
fato. se formos buscar as origens da
linguagem num cenário pri-
mitivo. é melhor pensarmos num momento onde foram ocasio-
nalmente necessários grunhidos em auxilio à coordenação da
atividade, naquilo que já constituia o mundo compartilhado de
uma tarefa conjunta, e não uma conversa na qual e mediante a
qual se engendra um universo subjetivo comum".)
Um contexto não-lingüistico para as elocuçoes que pode ser
Vir de padrão é o contato superficial de prestação de servico.
quando o prestador de serviços5 e o cliente vem a presença um do
outro momentaneamente, numa transação coordenada, envol-
vendo muitas vezes dinheiro de um lado e produtos ou serviços
de outro. Um outro contexto é o que abrange aqueles contatos
passageiros entre dois estranhos, quando se diz a hora, se passa
sal, ou se negocia a passagem por um caminhoestreitoe apinha-
do. Embora nessas circunstâncias sejam freqüentes certas trocas
ritualizadas bastante caracterizadas, são certas transações fisi-
cas que estabelecem o contexto significativo e a unidade relevante
para a análise; as [palavras ditas por um dos participantes ou por
ambos fazem parte de um empreendinmento fisico mutuamente

coordenado, e não de uma atividacde de lala. () ritual, nessas

situacoes, fica freqüentemenle abreviado, pporque o que esta acon-


tecendo é uma atividade nao-conversacional. E a exeruçao do

trabalh0, e mao as elocuçoes, (que normalnente sera a maior pre

OCupaçao (dos arlicipantes. I quuando aparece unn enpecllo,

. Uma boa resenha desses argumentos pode ser eneontrada en tewe

(1973); um ponto de vista contrário, em l'alk (1980)

130

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