Rodrigues Espirito 2019 Sequencia Interdisciplinar
Rodrigues Espirito 2019 Sequencia Interdisciplinar
Rodrigues Espirito 2019 Sequencia Interdisciplinar
Rui Espírito
Escola Secundária de Paredes
Nota introdutória
A escrita de um artigo sobre uma determinada ação de ensino abre espaço para um aprofun-
damento teórico-prático, por implicar uma sistematização dos fundamentos de determina-
das opções pedagógicas, dos procedimentos técnico-didáticos implicados, da sequenciação de
atos, do aperfeiçoamento dos materiais didáticos de suporte. O fazer didático passa também por
esta atividade de reflexão escrita, que pode conduzir a níveis mais profundos de conhecimento
profissional de natureza pedagógico-didática.
O trabalho que aqui se apresenta é o resultado da reflexão produzida após a realização de um
percurso pedagógico-didático interdisciplinar numa turma do 9.º ano, na Escola Secundária de
Vilela, em Paredes, no ano letivo 2015/2016. Foi realizado no mês de maio de 2016, durante apro-
ximadamente duas semanas, num trabalho conjunto entre os autores deste texto, que, à época,
eram os professores das disciplinas de Português e de Educação Visual da turma referida.
Quer a sequência didática realizada, quer este artigo que lhe dá visibilidade foram produzidos em
trabalho colaborativo entre os professores, condição sem a qual não seria possível a articulação
interdisciplinar que caracteriza o trabalho em causa.
As secções a seguir são organizadas do modo seguinte: em 1., formulamos o problema inicial
a partir de uma caracterização breve do contexto e identificamos a estratégia pedagógica adotada;
em 2., descrevemos a experiência pedagógico-didática realizada, apresentando, num primeiro
momento, procedimentos e sequenciação e, num segundo momento, explicitando as aprendiza-
gens implicadas no trabalho realizado pelos alunos.
2. Sequência de aprendizagem
1
Entende-se «[a] estratégia enquanto conceção global de uma ação, organizada com vista à sua eficácia» (Roldão 2009: 57), no
quadro de uma conceção de ensino como «ação intencionalmente dirigida a promover uma aprendizagem (de um qualquer conteúdo
curricular) em alguém» (Roldão 2009: 55-56).
2
Entendemos por interdisciplinaridade o conceito definido por O. Pombo (1993) e utilizado por E. Amor (2019): “Qualquer forma
de combinação entre duas ou mais disciplinas, com vista à compreensão de um objeto a partir da confluência de pontos de vista
diferentes e tendo como objetivo final a elaboração de uma síntese relativamente ao objeto comum.”. Implica a “reorganização do
processo de ensino e aprendizagem e supõe um trabalho continuado de cooperação dos professores envolvidos.”
Tarefas do profes-
Aulas Disciplina Meio Procedimentos
sor
Estimular a curiosi- Associar à leitura literá- 1. Proposta de trabalho
dade dos alunos e ria a atividade de ilus- interdisciplinar
criar motivação tração (atribuir uma fi- 2. Primeira abordagem
para o projeto a de- nalidade à leitura do ao conto através de ati-
senvolver conto relacionando-a vidades de pré-leitura
com o interesse dos alu- Ficha 1
nos pelo desenho)
Orientar a primeira Ajudar os alunos a com- 1. Leitura integral do
leitura do conto preenderem a estrutura conto:
para uma compre- narrativa do conto ▪ segmentação do texto
Aula 1 Português ensão global da es- com base nas situações
Dividir o conto em seg-
trutura mentos narrativos relati- narrativas;
vamente autónomos ▪ estrutura interna do
para o trabalho de ilus- conto3.
tração Trabalho realizado em
pares.
Avaliação através da ob-
servação direta e registo
(IA14)
Ficha 2
Formar grupos de Agrupar os alunos con- 1. Formação dos grupos
trabalho. soante as afinidades 2. Atribuição a cada
existentes entre eles e grupo de um segmento
eleger um porta-voz do narrativo (distribuição
grupo. de cópias a todos os ele-
mentos do grupo)
Todos os elementos fa-
rão em casa um primeiro
esboço da ilustração cor-
Educação
Aula 2 respondente a esse seg-
Visual
mento.
Orientar os alunos Atribuir aos alunos a 3. Revisão das regras
para a execução da responsabilidade de de- básicas do desenho e da
primeira fase do senvolverem o trabalho comunicação visual, co-
trabalho: realizar os inicial de desenho (es- nhecimentos que os alu-
desenhos para as boços) em casa, uma nos terão de mobilizar
ilustrações. Estas vez que possuem as para o trabalho a execu-
devem cumprir as aprendizagens básicas tar de modo autónomo.
regras básicas do necessárias à execução Ficha 3
3
Esta atividade implica o emprego de conhecimentos e terminologia específica da leitura literária, concretamente da narrativa,
como: expressões de passagem temporal e localização espacial, associadas às diferentes personagens de cada cena, descrição,
narração, diálogo, ação, entre outras.
4
A sigla IA1 corresponde a Instrumento de Avaliação n.º 1. Os documentos que possuam esta referência podem ser encontrados
em anexo.
A edição ilustrada do conto de Vergílio Ferreira produzida pelos alunos foi inserida na ex-
posição que acompanhou o Colóquio Internacional Vergílio Ferreira: Escrever e Pensar ou o
5
O conceito de objetivos é aqui entendido no sentido formulado por Anderson et al. (2001): «In life, objectives help us to focus
our attention and our efforts; they indicate what we want to accomplish. In education, objectives indicate what we want students to
learn; they are “explicit formulations of the ways in which students are expected to be changed by the educative process” (Hand-
book, 1956, p. 26). Objectives are especially important in teaching because teaching is an intentional and reasoned act.» (p. 3).
6
Sobre as técnicas e os instrumentos de recolha de informação para avaliação formativa e sumativa, seguimos Neves & Ferreira
(2015).
3. Conclusão
No atual quadro de orientações pedagógicas para a escola (Perfil dos Alunos à Saída da Esco-
laridade Obrigatória e Aprendizagens Essenciais), ancorado em medidas de gestão administrativa
e pedagógica flexíveis e com maior autonomia das escolas (Decreto-lei n.º 54/2018 e Decreto-lei
n.º 55/2018), os professores encontram incentivo e condições para uma operacionalização curri-
cular mais flexível e adaptável ao perfil específico de cada turma. O trabalho colaborativo entre
professores estreita as possibilidades de articulação interdisciplinar, procurando configurações
adequadas a cada situação educativa.
A configuração interdisciplinar aqui descrita revelou a sua alta eficácia no cumprimento do
propósito inicial e na resolução do problema de partida. Por essa razão, considerámos útil a par-
tilha.
Referências bibliográficas
FICHA 1 – PORTUGUÊS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O aluno:
– fica motivado para:
o ler atentamente o conto “A palavra mágica”, de Vergílio Ferreira;
o realizar o percurso de criação das ilustrações para o conto.
– fica capaz de:
o fazer o reconto oral do conto identificando a informação narrativa essencial;
o resumir o assunto do conto;
o formular hipóteses acerca do tema do conto.
2. Os alunos foram informados de que “Palavra mágica” era mesmo o título de um conto de Ver-
gílio Ferreira, que nos dá a conhecer o poder extraordinário que uma palavra comum pode ter.
3. Enquanto a professora lia o conto em voz alta, os alunos escutavam. Esta atividade permitia:
interromperem a leitura da professora para fazerem perguntas (sobre uma palavra desconhecida,
sobre uma referência pouco familiar, etc.), pedirem para repetir a leitura de determinadas passa-
gens textuais que considerassem de mais difícil compreensão.
4. No final da leitura, os alunos fizeram o reconto oral, identificando cada uma das sequências da
narrativa e organizando-as pela ordem em que surgem no conto. Estes registos foram feitos no
quadro.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O aluno:
– fica motivado para:
o reler e analisar o conto “A palavra mágica”, de Vergílio Ferreira;
– fica capaz de:
o reconhecer a sequência de situações (cenas) associadas que compõem a narrativa;
o compreender a forma como o texto está estruturado, atribuindo títulos a partes e a
subpartes.
1. Os alunos fizeram, individualmente, uma leitura silenciosa do conto, marcando, com cores di-
ferentes, cada uma das sequências relacionadas com situações de discussão. Este trabalho implicou
a releitura atenta do texto para identificação demarcação das diferentes discussões entre as perso-
nagens. Os alunos teriam de identificar o início e o final de cada sequência fundamentando as
opções com base em crité-
rios narrativos e linguísti-
cos.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O aluno:
– fica motivado para:
o pensar o desenho e desenhar;
o realizar o percurso de criação das ilustrações para o conto;
o utilizar os meios informáticos no desenvolvimento e valorização do seu trabalho.
– fica capaz de:
o aplicar os procedimentos da metodologia processual do desenho de ilustração;
o aplicar os princípios básicos e os códigos de linguagem do desenho e da comunicação
visual;
o reconhecer a importância da utilização de software específico na realização e valori-
zação do seu trabalho.
3. Foi selecionado uma ilustração por grupo, escolhida no grupo com a participação do professor,
para constar no trabalho final.
4. Foi enviada por e-mail para o professor a ilustração selecionada e feito uma primeira abordagem
ao que seria o trabalho final em formato de livro. Nesta fase, são dadas algumas noções muito
básicas aos alunos, sobre edição de um documento em formato de livro, no software livre “Scri-
bus”, programa dedicado para esta função.
FICHA 4 – PORTUGUÊS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O aluno:
– fica motivado para:
o reler várias vezes o texto em análise;
o analisar a narrativa;
FICHA 5 – PORTUGUÊS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O aluno:
–fica motivado para:
o expor o trabalho realizado perante um público crítico;
o ouvir os comentários críticos dos colegas acerca do trabalho realizado;
o aperfeiçoar o trabalho a partir dos comentários dos colegas e do professor;
–fica capaz de:
o descrever o trabalho realizado;
o explicar o desenvolvimento do trabalho (critérios, opções, procedimentos, mate-
riais);
o refutar e/ou aceitar críticas ao seu trabalho;
FICHA 6 – PORTUGUÊS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O aluno:
– fica motivado para:
o sistematizar e aprofundar as aprendizagens realizadas;
– fica capaz de:
o sintetizar as sequências narrativas do conto;
o referir o tema fundamentando o seu ponto de vista;
o avaliar a relevância do tema no quotidiano de cada um.
1. Completa a tabela identificando os significados que são atribuídos à palavra “inócuo” em cada
uma das sequências.
3. Quando falamos uns com os outros, por vezes, atribuímos às palavras que ouvimos significados
que pensamos estarem subentendidos. Conta um episódio em que tenhas interpretado as palavras
de alguém de um modo diferente daquele que era suposto.
4.1. Debate com o teu colega de carteira o que poderá querer dizer a frase «O significado de qual-
quer palavra por onde a emoção humana passou estende-se até ao infinito do indizível.» O signi-
ficado das palavras não é sempre o que vem nos dicionários? Poderá uma palavra transmitir sig-
nificados para além daquele que está escrito no dicionário?
Instrumento de avaliação 2
O guião de análise contido na ficha de trabalho 4 foi utilizado também como instrumento de avaliação, tendo permitido uma análise das
capacidades de análise de texto narrativo dos alunos.
Tem consciência dos crité- Tem em conta os Tem em Tem em conta as opiniões Integra as apre- Contesta a apreciação
rios de apreciação que princípios da coo- conta o dos outros, quando justifi- ciações dos co- dos colegas usando os
Alunos aplica ao comentar o traba- peração e da corte- conto para cadas, numa atitude de legas na melho- princípios da coope-
lho de alguém (experiên- sia verbal quando apreciar a construção de consenso ria e aperfeiço- ração e da cortesia
cia, conhecimentos especí- faz uma aprecia- ilustração como forma de aprendiza- amento do tra- verbal, fundamen-
ficos, sensibilidade esté- ção negativa. do colega. gem em comum. balho em exe- tando a sua contesta-
tica). cução. ção.
XX
YY
ZZ