03 - Sara e Hagar - A Dinâmica Do Pecado No Coração
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03 - Sara e Hagar - A Dinâmica Do Pecado No Coração
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Projeto exclusivo de resgate de revistas antigas de
Escola Bíblica Dominical.
SARA E HAGAR
A DINÂMICA DO PECADO NO CORAÇÃO
Gênesis 16
Dizem que a história é a história dos vencedores. O que esta famosa frase quer dizer
é que a história, como disciplina acadêmica, é uma seleção de fatos que privilegia os
vitoriosos e fortes, em detrimento dos derrotados e fracos.
Na história bíblica, isso não acontece. Uma diferença clara e gritante entre a história
escrita pelos homens e a história escrita pelas mãos de Deus é que a história bíblica
não é a história dos vencedores neste sentido. A história escrita pelas mãos de Deus
não esconde defeitos e não mascara erros, ela está preocupada com a verdade, e, por
isso, escancara as falhas dos seus protagonistas.
O texto que temos diante de nós revela um deslize de uma das mais importantes
mulheres da história bíblica, Sara. Ela e Abraão foram personagens tão importantes
para a história bíblica, sobretudo para a história de Israel, que se Antigo Testamento
fosse apenas uma produção judaica, destituída da presença das mãos de Deus,
certamente esta história seria suprimida.
Contudo, Deus quis revelar-nos os erros dos seus servos do passado, quis que eles
ficassem registrados para que pudéssemos aprender também com eles. Tendo isto
em vista, somos todos convidados a olhar para este episódio triste da vida de Abraão
e Sara e sermos advertidos a não trilhar os passos em falso que eles trilharam.
1 - O CONTEXTO
A história de Abraão e Sara dispensa maiores apresentações. E uma história muito
conhecida de todos nós desde a infância. Mas é importante recordar, ainda que
sumariamente, que eles foram o casal escolhido por Deus para dar início ao seu povo.
Em Gênesis 12, lemos que Deus chamou Abraão, tirou-o do meio da pecaminosidade
da sua parentela e lhe fez a promessa de que ele haveria de herdar uma terra e que
esta terra haveria de ser habitada pela sua enorme descendência (Gn 12.1-3). Mas
havia um problema. Sara era estéril. Ela não podia ter filhos. E o problema se
agravava com o passar do tempo, pois ambos se tomavam avançados em idade.
Abraão e Sara, portanto, eram um casal com problemas. Para Sara, o problema era
ainda maior, visto que ela vivia numa sociedade que via na procriação a principal
atividade de uma mulher e concebia a infertilidade como maldição divina.
É óbvio que isto não justifica a atitude tomada por ambos, mas é humano lembrarmos
que eles não estavam envolvidos numa situação simples. O texto que estamos
analisando é um diálogo entre Abraão e Sara buscando um modo de solucionar este
problema em que eles estavam envolvidos.
2 - AS LIÇÕES DA NARRATIVA
A) A INFLUÊNCIA DE UMA MULHER EM SUA FAMÍLIA
A narrativa bíblica do pecado de Sara e Abraão é um exemplo do poder de influência
que a mulher exerce sobre o seu marido, e consequentemente, sobre sua família. A
narrativa revela que todas as ideias pecaminosas surgiram na mente e no coração de
Sara e que Abraão anuiu ao conselho de Sara (v.2).
Isto significa que Abraão foi convencido ao pecado por iniciativa de sua esposa. Aliás,
esta mesma cena já havia sido contemplada anteriormente, no pecado dos nossos
primeiros pais. Também naquela ocasião, Eva, convencida por Satanás, foi
instrumento de convencimento de Adão (Gn 3.6).
E certo que o fato de ter sido convencido por Sara não exime de culpa o patriarca
Abraão. Sua fidelidade a Deus deveria tê-lo levado a discordar de sua esposa e negar
o seu pedido. Contudo, a narrativa exemplifica a verdade bíblica de que a mulher
sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derruba (Pv 14.1).
Disse Sarai a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz filhos... (v.2).
Sara não está mentindo. Suas palavras são verdadeiras, pois Deus, de fato, não lhe
permitira a bênção da procriação. Sendo assim, que problema pode ser visto nestas
primeiras palavras de Sara? O problema destas palavras é a lamentação, o ato de
trazer à baila um problema que, segundo as promessas do Senhor, teria solução
apenas uma questão de tempo.
Sara não era alguém desinformada a respeito de sua situação. Uma rápida análise do
contexto próximo deste evento revela-nos que Abraão e Sara haviam sido mais de
uma vez alvos de promessas do Senhor quanto ao filho e já haviam recebido inclusive
garantias de que Deus cumpriria as suas palavras.
E Deus resolveu realizar uma cerimônia de oficialização da sua aliança com Abraão.
Quando duas pessoas faziam uma aliança, elas matavam animais, partiam-nos ao
meio e passavam por entre os pedaços partidos, como que dizendo: aconteça comigo
o que aconteceu com esses animais, caso eu descumpra o que prometi.
Deus ordenou que Abraão matasse os animais e ele mesmo, o Senhor, numa tocha de
fogo, passou por entre os pedaços como que dizendo a Abraão: estou comprometido
com você; que aconteça comigo o que aconteceu com esses animais, caso eu
descumpra a minha palavra.
Portanto, ao trazer à baila a sua infertilidade, mesmo depois de todas estas promessas
feitas pelo Senhor e da cerimônia de oficialização da aliança, Sara estava
demonstrando sua incredulidade. Ao trazer à tona a sua infertilidade e murmurar, Sara
estava ignorando as promessas de Deus e colocando em cheque a sua Palavra fiel.
Incrédula nas promessas do Senhor, Sara começou a dar vazão às suas próprias
ideias e procurou, por si mesma, um jeitinho para vencer aquela situação. Sara
começou a imaginar que pudesse ter ideias melhores do que as ideias de Deus pra
fazer a vida funcionar. O que Sara não se lembrara é que, quando não nos deixamos
guiar pelas palavras de Deus, somos guiados pelo nosso próprio coração, que é
enganoso e corrupto (Jr 17.9).
Cega pelo seu próprio coração, Sara fez a Abraão a proposta de usar sua escrava
Hagar como barriga de aluguel, o que Abraão aceitou, sem considerar que esta ideia
de solução envolvia uma desobediência aberta a um princípio do Senhor - envolvia um
adultério.
Quando colocamos em cheque aquilo que Deus diz, desconfiamos das suas benditas
palavras, tornamo-nos autônomos, donos do nosso próprio nariz e buscamos em nós
mesmos a base para as nossas decisões. Quando não nos deixamos guiar pelas
palavras de Deus, somos guiados pelo nosso próprio coração. E ele, enganoso e
astuto, nos faz trilhar caminhos de morte, certos de estarmos trilhando caminhos de
vida.
A) ORE POR FÉ
Lembre-se primeiramente que não somos moralistas, mas crentes. Para nós, o
desenvolvimento das virtudes cristãs não é apenas fruto de exercício prático, mas da
ação do Espírito Santo em nós. A fé é gerada em nós pelo Espírito de Deus (Ef 2.8),
por isso devemos rogar a ele que mantenha nossa fé firme na Palavra do Senhor.
Quem deseja manter-se crédulo precisa orar a Deus por fé.
Assim, diante das decisões, lembre-se sempre dos caminhos para os quais o seu
coração o levou quando você deu ouvidos a ele. Considere também os exemplos da
Escritura. Estude a vida dos reis de Israel e verifique as consequências colhidas por
aqueles que ouviram o seu próprio coração, em contraste com aqueles que
obedeceram ao Senhor. Aprenda a desconfiar de si mesmo (Jr 17.9).
Nosso pecado prega sermões mentirosos para nós o tempo inteiro: Deus não é
confiável, ele não ama você; esqueceu de você; ah, você vai falhar de novo; ah,
igrejas não são coisas boas; seus irmãos não prestam. E, por isso, precisamos
aprender a pregar para nós mesmos (SI 42.5).
Por isso, para não sermos conduzidos ao desânimo, desespero e até à desistência na
caminhada cristã, precisamos confiar na graça e no perdão de Deus e aprender a
batalhar como pessoas justificadas.
Em tempo de queda, clame como o profeta Miquéias: O inimiga minha, não te alegres
a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o
SENHOR será a minha Sofrerei a ira do SENHOR, porque pequei contra ele, até que
julgue a minha causa e execute o meu direito; ele me tirará para a lu% e eu verei a
sua justiça (Mq 7. 8-9).
CONCLUSÃO
O episódio vivido por Sara e Hagar nos revela uma profunda lição sobre o pecado. Ele
nos revela a dinâmica do pecado em nosso coração, ou seja, como o pecado age
internamente em nós, conduzindo-nos aos atos pecaminosos.
Sua ação visa a levar-nos a desconfiar da palavra de Deus e do fato de que ela é o
melhor para nós, e a tomarmos as rédeas da vida com as nossas próprias mãos.
Ensina-nos, ainda, sobre o poder de influência que a mulher tem nas decisões de sua
casa e nos leva a refletir sobre o que fazer para vencer a incredulidade e o desejo de
autonomia.
APLICAÇÃO
Quando lemos esta narrativa, distantes do problema de Sara, temos a tendência de
olhar para a atitude de Sara, bem como de Abraão, como uma tolice que jamais
cometeríamos. Nossa tendência é pensar: Como puderam Abraão e Sara
desacreditarem de Deus, tornarem-se autônomos e cometerem tamanho absurdo?
Que tolice!
Mas não é verdade que jovens crentes, homens e mulheres, já desfrutam deles antes
de formarem uma família? Deus nos diz que a verdade é sempre o melhor caminho,
independentemente das consequências que ela pode trazer. Mas não é verdade que
às vezes optamos pela mentira? Deus nos disse que o melhor a fazer quando alguém
nos ofende é perdoar. E não é verdade que muitas vezes preferimos a vingança ao
invés do perdão? Deus nos ensina que devemos ter os nossos irmãos em maior
consideração do que a nós mesmos. Mas não é verdade que muitas vezes nos
esquecemos dos nossos irmãos e desejamos que eles se lembrem de nós? Deus nos
ensinou que é justo que Cristo cresça e que nós diminuamos.
Mas não é verdade que às vezes queremos ter nosso nome mais admirado do que o
nome de Cristo? Em última instância, toda e qualquer desobediência nasce da
incredulidade e do desejo de autonomia. Esta é a dinâmica do pecado em nosso
coração: desconfiança das palavras de Deus e a suposição de termos ideias mais
sábias do que as de Deus para fazer a vida funcionar.
Ore a Deus para que você não seja tomado de incredulidade. Em momentos de
tentação, creia que Deus tem sempre as melhores ideias, ainda que você não as
entenda. Seja como Cristo, que afirmou: A minha comida consiste em fa^er a vontade
daquele que me enviou e realizar a sua obra (Jo 4.34).