Habeas Corpus

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA SEÇÃO CRIMINAL

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

LUIS PAULO PONCIANO, advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do


Brasil sob o número 368.250 – SP, com escritório profissional situado à Avenida
Rebouças, 4067, Vila Juliana, Sumaré – SP, CEP 13171-150, vêm com o devido respeito,
perante VOSSA EXCELÊNCIA, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS com pedido de Liminar

em favor de ______________, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular de carteira


de identidade Registro Geral n.º ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n.º
____, atualmente recolhido no presídio ____, com fulcro no inciso LXVIII, do artigo 5º, da
Constituição Federal, cumulado com os artigos 547 e ss., do Código de Processo Penal,
apontando como autoridade coatora o MM. Juiz da ____.ª Vara Criminal de ____, pelos
seguintes motivos:
DOS FATOS

O paciente foi denunciado pela prática de tráfico ilícito de


drogas. Houve a apresentação de defesa preliminar sob o fundamento de ser o acusado
dependente químico e não traficante, ressalta-se que, tanto em sede policial como na
audiência de custódia alegou ser ele somente usuário de entorpecente e não traficante;
rejeitada essa afirmação inicial, o MM. Juiz recebeu a peça acusatória e indeferiu o
pedido de liberdade provisória, que lhe havia sido dirigido.

Entretanto, o ilustre magistrado baseou-se, para negar a


soltura do réu, exclusivamente, na gravidade abstrata do delito. Não abordou, em sua
decisão, nenhum dos requisitos do artigo 312, do Código de Processo Penal, que trata da
prisão preventiva.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Presume-se que toda pessoa é inocente, isto é, não será


considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, princípio
que, de tão eterno e de tão inevitável, prescindiria de norma escrita para tê-lo inscrito no
ordenamento jurídico.

Os princípios constitucionais do Estado de Inocência e da


Liberdade Provisória não podem ser elididos por normas infraconstitucionais que estejam
em desarmonia com os princípios e garantias individuais fundamentais.

A garantia da ordem pública deve fundar-se em fatos


concretos, que demonstrem que a liberdade do agente representa perigo real para o
andamento do processo criminal, sob pena de consagra-se a presunção de reiteração
criminosa em detrimento de inocência.

Portanto, hialino que se equivocou o MM. Juiz, pois toda


prisão cautelar, para evitar mácula direta ao princípio da presunção de inocência e, em
último grau, ao princípio regente da dignidade da pessoa humana, somente pode ser
decretada e mantida, caso lastreada nos requisitos da prisão preventiva. Inexiste
possibilidade legal para a negativa, sem fundamentação explícita, calcada nos elementos
fáticos constantes dos autos, do inafastável direito do réu de aguardar em liberdade o
seu julgamento.

Ademais, após a reforma processual penal, introduzida pelas


Leis 11.689/2008 e 11.719/2008, tornou-se evidente a ligação entre a prisão provisória
e a preventiva, razão pela qual é essencial que magistrado exponha, detalhadamente,
quais dos requisitos previstos pelo art. 312 do CPP estão presentes para a sua
decretação ou mantença, podendo ser eles:

 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de
liberdade do imputado.   

§ 1º  A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de


descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras
medidas cautelares.

§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e


fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou
contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. 
No presente caso, o paciente é primário, sem antecedentes,
possui emprego e residência fixas, não representando nenhum perigo à sociedade, nem
inconveniência à instrução criminal ou à aplicação da lei penal.

Além disso, somente para argumentar, havendo condenação


nos termos da denúncia, vislumbra-se a possibilidade de aplicação do disposto pelo § 4º
do art. 33 da Lei 11.343/2006,

Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão


ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades
criminosas nem integre organização criminosa. (Grifo Nosso)

Portanto, é certo no c aso em tela a diminuição da pena em


patamares de um sexto a dois terços, visto ser o paciente primário, sem antecedentes e
desvinculado de qualquer tipo de organização ou atividade criminosa.

Ressalta-se ainda que a eventual redução pode provocar,


também, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, nos
termos já decididos pelo C. Supremo Tribunal Federal.

Em suma, acrescente-se ter o Pretório Excelso considerado


inconstitucional a vedação à liberdade provisória, constante do art. 44, da Lei de Drogas
(HC 104.339/SP, Pleno, rel. Gilmar Mendes, 10.05.2012, m. v.).

É inconstitucional a expressão "e liberdade provisória", constante do


caput do artigo 44 da Lei 11.343/2006. [Tese definida no RE 1.038.925
RG, rel. min. Gilmar Mendes, P, j. 18-8-2017, DJE de 19-9-2017,Tema
959.]

Recurso extraordinário. 2. Constitucional. Processo Penal. Tráfico de drogas.


Vedação legal de liberdade provisória. Interpretação dos incisos XLIII e LXVI
do art. 5º da CF. 3. Reafirmação de jurisprudência. 4. Proposta de fixação da
seguinte tese: É inconstitucional a expressão e liberdade provisória, constante
do caput do artigo 44 da Lei 11.343/2006. 5. Negado provimento ao recurso
extraordinário interposto pelo Ministério Público Federal. [RE 1.038.925 RG,
rel. min. Gilmar Mendes, P, j. 18-8-2017, DJE de 19-9-2017,Tema 959.]

O posicionamento do STJ é da concessão da liminar ora


pleiteada:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA. ART. 312


DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. ORDEM
CONCEDIDA.1. A prisão preventiva possui natureza excepcional, sempre
sujeita a reavaliação, de modo que a decisão judicial que a impõe ou a
mantém, para compatibilizar-se com a presunção de não culpabilidade e com
o Estado Democrático de Direito – o qual se ocupa de proteger tanto a
liberdade individual quanto a segurança e a paz públicas –, deve ser
suficientemente motivada, com indicação concreta das razões fáticas e
jurídicas que justificam a cautela, nos termos dos arts. 312, 313 e 282, I e II,
do Código de Processo Penal.2. O acórdão proferido no recurso em sentido
estrito apontou, além da hediondez e da gravidade abstrata do crime
imputado ao acusado, somente a presença de indícios da ocorrência do delito.
3. O Juízo singular foi claro ao reconhecer que: a) a quantidade de drogas
apreendidas não é elevada (1,74 g de cocaína e 10,27 g de crack); b) não há
indícios de o paciente se dedicar a atividades ilícitas ou integrar organização
criminosa, tanto que não registra antecedentes criminais e infracionais; c) as
circunstâncias fáticas descritas evidenciam o prognóstico de, em caso de
eventual condenação, ser o réu beneficiado com a causa especial de
diminuição de pena, a imposição de regime mais benéfico e até mesmo a
substituição da reprimenda privativa de liberdade por medidas restritivas de
direitos.4. Ordem concedida para, confirmada a liminar anteriormente
deferida, revogar a prisão preventiva do réu, ressalvada a possibilidade de
nova decretação da custódia cautelar caso efetivamente demonstrada a
superveniência de fatos novos que indiquem a sua necessidade, sem prejuízo
de fixação de medida cautelar alternativa, nos termos do art. 319 do CPP.

(STJ – HC: 497248 SP 2019/0065884-2, Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI


CRUZ, Data de Julgamento: 23/04/2019, T6 – SEXTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 30/04/2019)
Portanto, por qualquer ângulo que se visualize a situação do
paciente, pode-se deduzir ser ele merecedor da liberdade provisória.

DA CONCESSÃO DE LIMINAR

Requer-se seja concedida a ordem de habeas corpus,


liminarmente, em favor de ____________, para o efeito de, reconhecendo-se a ilegalidade
praticada, determinar a imediata expedição do alvará de soltura, para que possa
aguardar o transcurso da instrução em liberdade. O cabimento da medida liminar
justifica-se por ter ficado evidenciado o fumus boni juris (direito de permanecer em
liberdade provisória) e o periculum in mora (o réu já se encontra encarcerado por decisão
do juiz do feito).

Ante o exposto, distribuído o feito a uma das Câmaras


Criminais,8 colhidas as informações da autoridade coatora e ouvido o Ministério Público,
requer-se a definitiva concessão da ordem de habeas corpus, mantendo-se o acusado
solto até a decisão final.

Termos em que,
pede e espera deferimento

Sumaré, __ de maio de 2020.

LUIS PAULO PONCIANO


OAB-SP 368.250

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