Behring - Fundo Público
Behring - Fundo Público
Behring - Fundo Público
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
1- Introdução
1
Assistente
Social.
Mestre
e
doutora
em
Serviço
Social
pela
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro.
Realizou
pós
doutorado
em
Sociologia
e
Ciência
Política
na
Universidade
de
Paris
VIII,
CRESPPA
–
CSU.
Professora
do
Programa
de
Pós-‐Graduação
em
Serviço
Social
da
Faculdade
de
Serviço
Social
da
Universidade
Estadual
do
Rio
de
Janeiro
(UERJ)
e
do
Departamento
de
Política
Social
da
Faculdade
de
Serviço
Social
(UERJ),
onde
coordena
o
Grupo
de
Estudos
e
Pesquisas
do
Orçamento
Público
e
da
Seguridade
Social.
Bolsista
de
Produtividade
em
Pesquisa
do
CNPq.
2
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
economia política. Em trabalhos anteriores - ensaios, conferências e debates, e
orientações de trabalhos acadêmicos - tivemos como projeto compreender o lugar
estrutural e inarredável do fundo público na economia política do capitalismo maduro,
especialmente no contexto de sua crise, tendo em vista também analisar os impactos
desta dinâmica no campo da política social. A partir das conclusões a que temos
chegado e provocações que temos feito e, antes de nós, o texto seminal de Francisco
de Oliveira (1998), com o qual mantemos um diálogo crítico, surgiram alguns
elementos polêmicos, os quais pretendemos abordar nesta comunicação, na
perspectiva de estimular o debate e saturar de determinações o fundo público em seu
modo de ser, como categoria, nos termos de Netto (2009). Para tanto, o
desenvolvimento do texto localiza algumas dessas polêmicas, o que nos permite
explicitar melhor nosso próprio ponto de vista sobre o fundo público, a partir da crítica
da economia política.
Veremos que em meio às polêmicas, todas no campo da teoria crítica, é
possível vislumbrar ao menos um grande consenso: a centralidade cada vez maior do
fundo público como expressão da contradição entre o desenvolvimento das forças
produtivas e as relações sociais de produção. Nesse contexto, o Estado passa a ser
disputado de forma muito mais intensa para que assegure as condições gerais de
produção e administre a crise, para além de suas funções repressivas e integradoras
(ou de legitimação), cuja importância permanece decisiva2. Nessa condição de
destruição de forças produtivas comandada pela lógica do valor, da qual faz parte a
punção do fundo público para o processo de acumulação, as restrições à democracia
e aos direitos tendem a crescer, em compasso com os processos de expropriação e
pauperização absoluta e relativa de grandes contingentes da classe trabalhadora.
2
Para
o
debate
das
funções
do
Estado
no
capitalismo
maduro,
conferir
o
Capítulo
15
da
Opus
Magnum
de
Ernest
Mandel,
O
Capitalismo
Tardio
(1982),
o
que
pode
ser
complementado
pelo
debate
de
Octavio
Ianni
em
Estado
e
Capitalismo
(1984).
Conferir
também
Behring
(2014).
3
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
taxas, contribuições, impostos, etc, para o desempenho de suas funções. Recente
trabalho de Salvador (2015, p. 9) é bastante preciso quanto a essa visão mais geral.
partindo desta categoria em Baran e Sweezy (1978), a exemplo de Paiva et alii (2010),
ou que a contestam, mas sob uma angulação diferente da nossa, como em Souza
Filho (2015). Vejamos. Paiva et alii (2010), após corretamente indicar que a política
social se coloca no terreno das relações sociais capitalistas, especificamente da
ordem monopólica, com base em Netto (2006), afirmam que:
Eis que chegamos a um ponto analítico primordial para a apreensão da
política social na sociedade capitalista: o excedente. De acordo com estudo
clássico de Baran e Sweezy (1966), a modificação essencial que opera o
capitalismo dos monopólios, no curso da acumulação de capital, refere-se à
substituição da lei da tendência decrescente da taxa de lucro pela lei do
excedente crescente. (2010, 159)
3
A publicação original é de 1966 e a brasileira é de 1978.
5
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
compreensão do capitalismo contemporâneo e da política social. Baran e Sweezy
consideram que a obra marxiana requer revisões4, já que se debruçou sobre o
4
Pensamos que a obra de Marx (e Engels) não deve ser tratada como exegese de “livros sagrados”, e as
tentativas de atualização, na medida em que a história se move e o capitalismo se modifica são
inteiramente legítimas e constitutivas do método do materialismo histórico e dialético. Mas isso não
significa aceitar toda e qualquer revisão, considerando a tradição marxista como um amplo movimento,
com grande fecundidade, mas também com invasões positivistas e desventuras históricas, a exemplo do
que Coutinho (1972) caracterizou como a miséria da razão também no marxismo, e dos manuais
stalinistas. Os autores em pauta não padecem nem do estruturalismo nem do marxismo-leninismo
empobrecido, mas dialogam claramente com o keynesianismo, o que traz implicações ecléticas ao seu
trabalho.
6
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
reflexões de Mészaros (2002) sobre o luxo e o consumo conspícuo. Porém, apesar de
seus esforços e até de certa autocrítica quanto à ausência do debate do trabalho e da
tecnologia em sua reflexão, ao fazerem a revisão de um pilar fundamental da teoria
social de Marx – a lei do valor e, decorrente dela, a tendência de queda da taxa de
lucros, em que pese o crescimento da abundância - não compreendem a natureza
paradoxal e contraditória do excedente econômico. Recusam a tendência de queda da
taxa de lucro, um móvel decisivo das contradições do capitalismo e que vai requisitar
suas causas contrariantes, parte delas operadas pelo fundo público, no âmbito da
contradição entre abundância e queda da taxa de lucros. De forma que ficamos com o
problema distributivo do excedente, não enquanto mais valia socialmente produzida e
em seguida repartida, mas numa apreensão ampla e imprecisa que revela o capital
buscando nichos de valorização, mas não as razões mais profundas de sua busca
desesperada, incansável e destrutiva.
Desta forma, além de excedente não se confundir com fundo público, este
caminho no qual a questão central para o capitalismo monopolista é o estímulo da
procura – o que mostra uma fronteira com categorias do universo keynesiano –, longe
de infirmar a queda da taxa de lucros, ao nosso ver a confirmaria, pois o excedente é
mobilizado intensamente para conter as tendências de estagnação crônica, segundo
os próprios autores, ou seja, de crise, cujas razões de ser estão na superprodução e
superacumulação, categorias surpreendentemente ausentes no universo dos autores.
No caso da administração civil, onde se incluem as políticas sociais, se trata de
ampliar a procura efetiva – e novamente nos deparamos com Keynes. E nesse sentido
haverá uma luta em torno do dispêndio governamental, sendo que os autores chamam
a atenção para o aumento abrupto das despesas militares, ainda que as transferências
financeiras – seguro e benefícios sociais – também cresçam. O que mostra a
perversidade dessa sociedade da abundância. Se há uma abordagem anticapitalista e
com passagens primorosas em Baran e Sweezy, o esvaziamento de determinações
que vêm da produção e a remissão das contradições para a circulação e a luta
distributiva constituem uma armadilha teórica, razão pela qual não adotamos o
conceito de excedente e de capitalismo monopolista dos autores para pensar acerca
do fundo público, sua formação e alocação, e sobre as políticas sociais. Ao nosso ver,
as formulações de Marx sobre o valor são de uma atualidade impressionante, sendo
imprescindíveis como fundamento para pensar o capitalismo contemporâneo, apesar
7
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
da necessidade metodológica de atualização e acompanhamento do processo
histórico-estrutural. Este é um esforço para o qual Baran e Sweezy contribuem, ainda
que de forma limitada, razão pela qual consideramos mais fecunda a categoria de
capitalismo tardio (ou maduro) em Ernest Mandel, complementada pelos trabalhos de
Istvan Meszáros, David Harvey e François Chesnais, dentre outros que buscam
compreender as formas de operação da lei do valor, embebidas de luta de classes no
tempo presente.
nosso ver têm certa afinidade eletiva, ainda que Castel seja um socialdemocrata e não
um marxista como os demais. Há a contradição entre as classes que tenciona a
produção do valor e o processo de reprodução, ademais visceral e dialeticamente
vinculados.
Outro autor que incorpora o conceito de fundo público é Áquilas Mendes (2012)
em seu importante trabalho sobre a saúde a partir da crítica da economia política. Ele
adota também a ideia de antivalor em Oliveira (1998). Para ele a implosão do valor
pela lógica do fundo público como anticapital ou antivalor sustentada pelo sociólogo
paulista é uma abordagem inovadora, expressando a contradição do fundo público,
que tem o potencial de desmercantilizar a força de trabalho, a partir do peso do salário
indireto (Mendes, 2012, p. 102). Mendes lembra que Oliveira leva esse raciocínio ao
limite, chegando a apontar que essa nova dinâmica do fundo público desloca o fetiche
da mercadoria para o fetiche do Estado. Para Mendes, como em Souza Filho, Oliveira
quer apenas expressar a contradição neste novo padrão de financiamento público que
se ergue no pós-guerra. No entanto, Mendes introduz um elemento novo, qual seja, de
que a proposição de Oliveira teria validade limitada, considerando a ofensiva
neoliberal e a hegemonia do capital portador de juros a partir dos anos 80, e no Brasil,
dos anos 90. Mendes destaca os ataques do capital portador de juros ao orçamento
público, citando o importante estudo de Salvador (2010), que mostram a captura do
fundo público pelo valor, não pelo antivalor. A partir desta dinâmica, Mendes incorpora
algumas de nossas proposições sobre o fundo público no contexto da crise do
capitalismo. Para ele é possível falar em antivalor no período anterior, conforme
Oliveira, o que não seria possível hoje em função de nova mudança no padrão de
financiamento público, sob a dominância do capital portador de juros. Assim, houve
um enfraquecimento da tese do antivalor, que estaria a exigir novas investigações.
11
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
O que se quer enfatizar é que o ensaio de Oliveira implode a lei do valor como
relação social organizadora do capitalismo, e desloca o fetiche da mercadoria para
uma espécie de fetiche do fundo púbico, razão pela qual incorporamos apenas
parcialmente sua análise e refutamos o antivalor. As consequências teóricas do ensaio
de Oliveira vão além do que os autores com os quais estamos dialogando apreendem.
Oliveira sustenta que a socialdemocracia e seu novo padrão de financiamento público
seriam um novo modo de produção, conforme a citação abaixo:
Trata-se da estrutura de um novo modo de produção em sentido amplo, de
uma forma de produção do excedente que não tem mais o valor como
3- Conclusão
Referências Bibliográficas
13
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
BARAN, Paul A.. A economia política do desenvolvimento. São Paulo: Abril Cultural,
1984.
MÉSZÁROS, István. Para Além do capital. São Paulo. Ed. Boitempo/UNICAMP, 2002
14
BEHRING,
Elaine.
FUNDO
PÚBLICO:
um
debate
estratégico
e
necessário.
In:
XV
Encontro
Nacional
de
Pesquisadores
em
Serviço
Social
(ENPESS),
2016,
Ribeirão
Preto.
"20
anos
de
diretrizes
curriculares,
70
de
ABEPSS
e
80
de
Serviço
Social
no
Brasil.
Formação
e
Trabalho
profissional
-‐
reafirmando
as
diretrizes
curriculares
da
ABEPSS”.
Brasília:
ABEPSS,
2016.
v.
1,
p.
(NO
PRELO).
NÃO
DIVULGAR
NETTO, José Paulo. Introdução ao Método na Teoria Social. IN: Serviço Social:
Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS,
ABEPSS,2009.
O’CONNOR, James. USA: A crise do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1977.
PAIVA, Beatriz, ROCHA, Mirella & CARRARO, Dilceane. Política Social na América
Latina: ensaio de interpretação a partir da Teoria Marxista da Dependência. In: Revista
Ser Social. Vol. 12, Nº 26. Brasília: SER/UnB, janeiro/junho de 2010.
SALVADOR, Evilásio. Fundo público e Seguridade Social no Brasil. São Paulo: Cortez
Editora, 2010.