Meditações Advento e Novena Do Natal - Santo Afonso

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 66

MEDITAÇÕES DE SANTO AFONSO

MARIA DE LIGÓRIO
- Semanas do Advento -
- Novena de Natal -
- Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo -

“Toda Santidade consiste em amar a Deus


e todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade”
Modo de Fazer Oração Mental, por Santo Afonso

A meditação ou oração mental contém três partes:

A Preparação
A Meditação
A Conclusão

I. PREPARAÇÃO
Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o
coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire
proveito dela.

Depois uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz; e na
mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo
Protetor.

Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a
Meditação.

II. MEDITAÇÃO
Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas
passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos
imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para
outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e
resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes
meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis

1/18
a Deus:

1º Pelos Afetos
Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de
amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de
ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece
mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas.


Eu Vos amo de todo o meu coração.
Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade.
Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas
Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a
salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança,
porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções
Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por
exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por
exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar
melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o
gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se
mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem
havermos formado uma resolução particular.

III. CONCLUSÃO
Enfim, a conclusão da oração compõem-se de três atos:

1º De agradecimento pelas luzes recebidas, e de pedido de perdão das faltas


cometidas no tempo da oração:

2/18
Senhor, eu Vos agradeço as luzes e os afetos que me destes nesta meditação e Vos peço
perdão das faltas nela cometidas.

2º De oferecimento das resoluções tomadas e de propósito de guardá-las fielmente:

Meu Deus, eu Vos ofereço as resoluções que com a vossa graça acabo de tomar, e
resolvido estou a executá-las, custe o que custar.

3º De súplica, pedindo ao Pai Eterno, pelo amor de Jesus e de Maria, a graça de


executá-las fielmente:

Meu Deus, pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima,
dai-me a força de por fielmente em prática as resoluções que tomei.

Termina-se a oração recomendando a Deus a Santa Igreja, os seus Prelados, as Almas do


Purgatório, os pecadores, e todos os nossos parentes, amigos e benfeitores, por um Pai
Nosso e uma Ave Maria, que são as orações mais úteis por nos serem ensinadas por Jesus
Cristo e pela Igreja:

Senhor, eu Vos recomendo a Santa Igreja, com os seus Prelados, as Almas do Purgatório,
a conversão dos pecadores, e todas as minhas necessidades espirituais e temporais bem
como as dos meus parentes, amigos e benfeitores.

Depois da Meditação
Depois da meditação devemos:

1º Conforme o conselho de São Francisco de Sales, fazer um ramalhete de flores afim de


cheirá-lo durante o dia, quer dizer, imprimir bem na memória um ou dois
pensamentos que mais impressão nos fizeram, para os recordarmos e nos
revigorarmos durante o dia.

2º Por logo em prática as resoluções tomadas, tanto nas ocasiões pequenas como
nas grandes, que se apresentarem: por exemplo suportarmos com paciência uma
pessoa irada contra nós, mortificarmo-nos na vista, no ouvido, na conversa.

3º Por meio do silêncio e recolhimento, conservar o mais tempo possível os afetos


excitados na oração; sem isso, o fervor concebido na oração esvaecer-se-á logo pela
dissipação no proceder ou pelas conversas inúteis.

3/18
A temeridade do pecador e o dia do Juízo

PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO


Videbunt Filium hominis venientem in nube cum potestate magna et maiestate – Verão o
Filho do homem que virá sobre uma nuvem com grande poder e majestade (Lc 21, 27)

Sumario. Uma consideração séria nos ensina que não há atualmente no mundo pessoa mais
desprezada de que Jesus Cristo; pois é injuriado tão continuamente e com tão desenfreada
liberdade, como não o seria o mais vil dos homens. Eis porque o Senhor destinou um dia, no
qual virá, com grande poder e majestade, a reivindicar a sua honra. Recorramos agora ao
trono da divina misericórdia, para que naquele dia não sejamos condenados pela justiça de
Deus.

O Juízo Final, a vinda vitoriosa de Cristo (Hans Memling 1467–1471)

I. Considerando bem, não há no mundo atualmente quem seja mais desprezado que
Jesus Cristo. Trata-se com mais consideração um aldeão do que o próprio Deus. Receiam
que o aldeão ao ver-se por demais ofendido, se encolerize e tire vingança; Deus, porém,
é ofendido incessantemente e de caso pensado, como se não pudesse vingar-se quando
quisesse. Por isso o Senhor marcou um dia (chamado com razão, na Sagrada Escritura, o
dia do Senhor, Dies Domini), quando vai dar-se a conhecer tal como é: Cognoscetur
DOminus iudicia faciens(1). Diz São Bernardo, explicando este texto:

O Senhor será conhecido quando vier a fazer justiça, ao passo que agora, porque quer usar
de misericórdia, é desconhecido. Então esse dia não mais se chama de misericórdia e de
perdão, senão dia de ira, dia de tribulação e de angústia, dia de calamidade e de miséria
(2).

4/3
Conforme nos ensina o Evangelho de hoje, esse dia será precedido de sinais pavorosos.
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; na terra os povos estarão angustiados sob o
rugido surdo e confuso do mar e das ondas; os homens morrerão com medo dos males que
hão de vir sobre o mundo. Por fim, as virtudes dos céus (isto é, na interpretação dos Padres,
os noves coros dos Anjos) se comoverão, e então se verá aparecer sobre as nuvens o Filho do
homem, com grande poder e majestade (3)”, a reivindicar a glória que os pecadores nesta
terra lhe quiseram tirar.

Diz Santo Tomás:

Se, no horto de Getsêmani, com as palavras de Jesus Cristo: Ego sum, cairam por terra
os soldados que o tinham vindo prender, que será, quando Jesus, sentado para julgar,
dizer aos condenados: Aqui estou, sou eu aquele a quem tanto haveis desprezado…; que
será quando pronunciar contra eles a sentença eterna: Apartai-vos de mim, malditos,
para o fogo eterno! – Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum!(4)

II. O dia do juízo, assim como será para os réprobos um dia de pena e de terror, será, ao
contrário, para os escolhidos um dia de regozijo e triunfo; porque, então, à vista de
todos os homens, as suas beatas almas serão proclamadas rainhas do paraíso e feitas
esposas do Cordeiro imaculado. Oh! Que ventura experimentarão os bem-aventurados,
quando Jesus, voltando-se para a direita, lhes disser: Vinde, meus benditos filhos, vinde
possuir o reino dos céus que vos foi preparado: possidete paratsum vobis regnum!(5)

Irmão meu, o que será de ti naquele dia? São Jerônimo, quando passava os dias na Gruta
de Belém, em contínuas orações e mortificações, tremia só em pensar no Juízo Universal.
O venerável Pe. Juvenal Ancina, lembrando-se do Juízo ao ouvir cantar a sequência da
Missa de defuntos, Dies irae, dies illa, deixou o mundo e fez-se religioso. E tu, o que fazes
para mereceres no dia do Juízo as bênçãos divinas, em companhia dos escolhidos?

Com o intuito de nos preparar para o Santo Natal, a Igreja propõe hoje o Juízo à nossa
meditação. Sabendo que Nosso Senhor, na sua primeira vinda, apareceu num trono de
graça e que na segunda aparecerá num trono de justiça rigorosíssima, quer que
procuremos agora recorrer a Jesus afim de experimentarmos os efeitos de sua infinita
misericórdia. Aproximemo-nos com confiança do trono de graça: Adeamus ergo cum
fiducia ad thronum gratiae (6).

Ah! Jesus meu e meu Redentor, Vós que um dia haveis de ser o meu juiz: perdoai-me
antes que chegue este dia. Agora, sois meu Pai, e como tal recebeis na vossa graça um
filho que, arrependido, se prosta a vossos pés. Meu Pai, eu Vos amo de todo o meu
coração e no futuro não me quero mais afastar de Vós, não quero mais ter a temeridade de
voltar a ofender-Vos. Mas já que conheceis a minha fraqueza, ajudai-me com a vossa
graça. Excitai, Senhor, o vosso poder e vinde em meu auxílio, afim de que, mediante a
vossa proteção, livrado dos perigos iminentes por causa de meus pecados, mereça ser
salvo por Vós (7). Fazei-o pelo amor de Maria Santíssima.

5/3
O pecado de Adão e o amor de Deus para com os
Homens

SEGUNDA-FEIRA

Primeira Semana do Advento

Expulsão de Adão e Eva do Paraíso (Benjamin West)

Et nunc quid mihi est hic, dicit Dominus, quoniam ablatus est populus meus gratis? – E
agora, que tenho eu que fazer aqui, diz o Senhor, visto ter sido levado sem nenhuma
razão o meu povo? (Is 52, 5)

Sumario. Peca Adão, nosso primeiro pai, e em castigo de seu pecado é expulso do paraíso
terrestre com toda a sua descendência condenado a uma vida de misérias e excluído para
sempre do céu. O Senhor, porém, teve compaixão dele, e como se a sua beatitude dependesse
da dos homens, e ele não pudesse ser feliz sem estes, resolveu a todo o custo salvá-los. Ó
incompreensível amor de Deus! Mas, como é que nós lhe temos correspondido?

Adão, nosso primeiro pai, peca; desagradecido por tantos benefícios recebidos,
revolta-se contra Deus, transgredindo o preceito de não comer da árvore proibida. Por
esse motivo vê-se Deus constrangido a expulsá-lo agora do paraíso terrestre e a privar
no futuro, tanto Adão como todos os descendentes deste revoltoso, do paraíso celeste e
eterno, que lhes havia preparado para depois desta vida temporal. Eis, pois, todos os
homens condenados a uma vida de trabalhos e misérias, e para sempre excluídos do
céu. O demônio tem poder sobre eles, e incalculáveis são os estragos que o inferno
continuamente faz.

6/3
Vendo, porém, o Senhor os homens reduzidos a tão mísero estado, compadeceu-se
deles. Mas, como nos dá a entender o profeta Isaías, parece que Deus, por assim dizer,
se lamenta e se aflige, dizendo: Et nunc quid mihi est hic, quoniam ablatus est populus
meus gratis? – E agora, que tenho eu que fazer aqui, visto ter sido levado sem nenhuma razão
o meu povo? Como se quisesse dizer: Que me restou de delícia no paraíso, uma vez que
perdi os homens que eram as minhas delícias? Mas, não; quero a todo o custo salvá-los/
venha, por isso, um redentor, que em lugar do homem satisfaça à minha justiça e assim
o redima da morte eterna.

Mas, meu Senhor, tendes no céu tantos serafins e tantos anjos, e de tal modo Vos aflige
o terdes perdido os homens? Que precisão tendes Vós, tanto dos anjos como dos
homens para a perfeição de vossa beatitude? Sempre tendes sido e sempre sois
felicíssimo em Vós mesmo: que poderá jamais faltar à vossa felicidade que é infinita? –
Tudo isso é verdade (assim o faz responder o cardeal Hugo), mas, perdido o homem,
afigurasse-me ter perdido tudo, porquanto as minhas delícias eram estar com os
homens; agora perdi os homens, e os infelizes estão condenados a viver sempre longe
de mim. – Ó amor imenso de Deus! Ó amor incompreensível! Ó amor infinito!

I. Ó meu Senhor, como é possível que, depois de terdes reparado, com a morte do
vosso divino Filho, os danos causados pelo pecado, tenha eu tornado tantas vezes a
renová-los voluntariamente, com as ofensas que Vos tenho feito? Vós me salvastes à
custa de tamanhos sacrifícios, e eu tão repetidas vezes tenho querido perder-me,
perdendo-Vos, a Vós, Bem infinito. Inspirai-me, porém, confiança à vossa palavra, que, se
o pecador se converter a Vós, não Vos recusareis a abraçá-lo: Convertimini ad me et
convertar ad vos (1) – Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós. Vede, Senhor, que sou
um daqueles rebeldes, um ingrato e traidor que por mais de uma vez Vos voltei as costas
e Vos expulsei da minha alma. Pesa-me de todo o coração de Vos haver assim ofendido e
desprezado a vossa graça. Pesa-me, e amo-Vos acima de todas as coisas. A porta do meu
coração já esta aberta para Vós: entrai nele, mas entrai para nunca mais Vos retirardes.
Sei que nunca Vos retirareis, se eu não tornar a expulsar-Vos. Eis ai o que me faz medo,
eis ai também a graça que espero pedir-Vos sempre; deixai-me morrer antes que venha
a cometer para convosco semelhante nova e maior ingratidão.

Jesus, meu caro Redentor, pelas ofensas que Vos tenho feito mereceria não mais poder
amar-Vos; mas pelos vossos méritos, peço-Vos o dom do vosso santo amor. Por isso fazei
com que eu conheça o grande bem que sois, o amor que me tendes dedicado e quanto
tendes feito para me obrigar a Vos amar. Ah! Meu Deus e Salvador meu, que eu não viva
doravante tão ingrato à vossa tão grande bondade. Não quero separar-me mais de Vós,
meu Jesus. Basta de pecados. É justo que eu empregue os anos de vida que me restam
inteiramente em Vos amar e dar-Vos gosto. Jesus meu, Jesus meu, ajudai-me; ajudai um
pecador que Vos quer amar. Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo para com Jesus, visto
que sois sua Mãe. Dizei-lhe que me perdoe; dizei-lhe que me prenda com os laços do
seu santo amor. Vós sois Sinha esperança; confio em vós.

7/3
O decreto da Encarnação do Verbo
TERÇA-FEIRA

Et audivi vocem dicentís : Quem mittam? Et quis ibit nobis? Et dixi: Ecce ego, mitte me. –
“E ouvi a voz de quem dizia: Quem enviarei eu? E quem nos irá lá? Então disse eu: Aqui
me tens a mim, envia-me” (Is 6, 8)

Sumário. Embora o Filho de Deus previsse a vida penosa que teria de levar, submeteu-se
contudo de boa vontade ao decreto da Encarnação, ofereceu-se mesmo a fazer-se homem. E
isso não só a fim de satisfazer plenamente à justiça divina, mas também para nos mostrar

1/3
seu amor, e obrigar-nos a que O amemos sem reserva. Como é que até o dia de hoje temos
respondido a tão grande beneficio?

I. Afigura-se a São Bernardo (1) em sua contemplação sobre a condição do gênero


humano depois do pecado do primeiro homem, ver travarem contenda a justiça divina e
a misericórdia.

Estou perdida — diz a justiça — se Adão não for punido.

A misericórdia, ao contrário, replica: Estou eu perdida, se o homem não for perdoado.

Em vista de tal contenda, o Senhor decide que, para salvar o homem réu de morte, há de
morrer um inocente: Moriatur qui nihil debeat morti.

Na terra, porém, não se achava um que fosse inocente.

Portanto — disse o Pai Eterno — já que entre os homens não há quem possa satisfazer à
minha justiça, quem irá resgatar o homem? Os anjos, os querubins, os serafins, todos
guardam silêncio, ninguém responde; só responde o Verbo Eterno e diz: Ecce ego, mitte
me — “Aqui me tens a mim, envia-me”.

Meu Pai — diz o Filho unigênito — a vossa majestade, por ser infinita, e ofendida pelo
homem, não pode ser plenamente satisfeita por um anjo, que é uma pura criatura. E
ainda que Vós quisésseis contentar com as satisfações de um anjo, considerai que,
apesar de tantos benefícios prestados ao homem, apesar de tantas promessas e
ameaças, não conseguimos ganhar o seu amor, porque até hoje não conheceu o amor
que lhe tínhamos. Se quisermos obrigá-lo irresistivelmente a amar-nos, que ocasião se
nos pode deparar mais própria do que esta? Permite que, para remir o homem, eu,
vosso Filho, desça sobre a terra e tome a natureza humana; permite que, pagando com a
minha morte as penas devidas ao homem, satisfaça plenamente a vossa justiça divina, e
o homem fique bem convencido do nosso amor.

Mas considera, meu Filho — assim torna o Pai — considera que, encarregando-Te de
pagar pelos homens, terás de levar uma vida toda de trabalhos, e os homens Te pagarão
com a mais negra ingratidão. Depois de teres vivido trinta anos como simples auxiliar de
um pobre artífice, quando afinal saíres a pregar e a manifestar quem és, haverá, é
verdade, uns poucos que Te queiram seguir; mas a maior parte dos homens Te
desprezará, chamando-Te impostor, feiticeiro, louco, samaritano, e finalmente te farão
morrer ignominiosamente, exausto de tormentos, sobre um lenho infame.

Não importa — responde o Filho — a tudo me sujeito, contanto que seja salvo o homem:
Ecce ego, mitte me — “Aqui me tens a mim, envia-me”.

E assim foi decretado que o divino Filho se fizesse homem e redentor dos homens. O
amor incompreensível de Deus! Mas como temos nós até este momento respondido a
tão grande beneficio?

2/3
II. Ó Verbo Eterno, Vós Vos fizestes homem para nos remir e acender em nossos
corações o divino amor; como foi possível que encontrásseis nos corações dos homens
tão grande ingratidão? Vós nada poupastes para Vos fazer amado dos homens;
chegastes a dar o vosso sangue e a vossa vida; como é que os homens se mostram tão
ingratos para convosco? Ignoram-no por ventura? Não; sabem e creem que por eles
viestes do céu para revestir-Vos de carne humana e tomar sobre Vós as nossas misérias;
sabem que por amor deles levastes uma vida penosa e abraçastes uma morte
ignominiosa: como vivem então assim esquecidos de Vós? Amam aos parentes, amam
aos amigos, amam os próprios animais; somente para convosco são tão frios, tão
ingratos.

Mas ai de mim! Acusando aqueles ingratos, acuso-me a mim próprio, que pior do que os
outros Vos tenho tratado! Anima-me, porém, a vossa bondade, que me tem tolerado tanto
tempo a fim de perdoar-me, contanto que eu queira arrepender-me e amar-Vos. Sim, meu
Deus, quero arrepender-me; pesa-me de toda a minha alma de Vos ter ofendido e quero
amar-Vos de todo o meu coração. Reconheço, ó meu Redentor, que o meu coração já não
merece mais ser por Vós aceito, visto que Vos tem deixado por amor às criaturas; mas
vejo que, não obstante isso, Vós ainda o quereis, e eu, com todo o poder de minha
vontade, Vô-lo dou e consagro. Abrasai-o, pois, todo em vosso santo amor, e fazei com
que de hoje em diante não ame senão a Vós, bondade infinita, digna de infinito amor.
Amo-Vos, Jesus meu, amo-Vos, meu sumo Bem, amo-Vos, ó amor único de minha alma.

— Ó Maria, minha Mãe, vós, que sois a mãe do belo amor, impetrai-me a graça de amar o
meu Deus; de vós a espero.

3/3
O Verbo se faz homem na plenitude dos tempos
QUARTA-FEIRA

Ubi venit plenitudo temporis, misit Deus Filium suum, factum ex muliere, factum sub lege
– “Quando veio a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, feito da mulher, feito
sujeito à Lei” (Gl 4, 4)

Sumário. O divino Redentor demorou a sua vinda quatro mil anos, não somente para que
fosse mais apreciada pelos homens, senão também para que melhor se conhecesse a malícia
do pecado e a necessidade do remédio. Chegada que foi a plenitude dos tempos, enviou Deus
um arcanjo à Santíssima Virgem e, obtido o consentimento desta, o Verbo se fez homem no
seio puríssimo de Maria. Quanto não devemos agradecer ao Senhor o ter-nos feito nascer
depois que se cumpriu tão grande mistério!
I. Considera como Deus depois do pecado de Adão deixou decorrer mil anos antes de
enviar à terra o seu Filho para remir o mundo. E, entretanto, que trevas desoladoras
reinavam sobre a terra! O Deus verdadeiro não era conhecido nem adorado, senão
apenas num canto da terra. Por toda a parte reinava a idolatria, de sorte que eram
adorados como deuses os demônios, os animais e as pedras. Admiremos nisso a
sabedoria divina. Demora a vinda do Redentor para torná-la mais aceitável aos homens:
demora-a para que se conheça melhor a malícia do pecado, a necessidade do remédio e
a graça do Salvador. Se Jesus Cristo tivesse vindo logo depois do pecado de Adão, a
grandeza do benefício teria sido pouco apreciada. Agradeçamos, pois, à bondade de
4/3
Deus, o ter-nos feito nascer depois de já realizada a grande obra da Redenção.

Eis que já é chegado o feliz tempo que foi chamado a plenitude do tempo: ubi venit
plenitudo temporis. O Apóstolo diz: plenitudo, por causa da abundância da graça que por
meio da Redenção o Filho de Deus vem trazer aos homens. Eis que já se envia o anjo
embaixador à Virgem Maria na cidade de Nazaré para anunciar a vinda do Verbo que no
seio dela quer encarnar-se. O anjo a saúda, chama-a cheia de graça e bendita entre as
mulheres. A virgenzinha humilde perturba-se com esses louvores por causa da sua
profunda humildade. O anjo, porém, anima-a e lhe diz que achou graça diante de Deus;
isso é, a graça que estabelece a paz entre Deus e os homens, e repara os estragos
ocasionados pelo pecado. Em seguida anuncia-lhe o nome de Salvador que deveria dar
ao filho: Vocabis nomen eius Iesum (1) — “Por-lhe-ás o nome de Jesus” . Anuncia-lhe que seu
filho seria o próprio Filho de Deus, que devia remir o mundo e desta forma reinar sobre
os corações dos homens. Eis que afinal Maria consente em ser mãe de tal Filho: Fiat mihi
secundum verbum tuum (2) — “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E no mesmo
momento o Verbo Eterno se fez carne e ficou sendo verdadeiro homem: Et Verbum caro
factum est (3) — “E o Verbo se fez carne”.

II. Ó Verbo divino feito homem por mim, se bem que Vos veja tão humilhado e feito
criança pequenina no seio de Maria, tenho e reconheço-Vos por meu Senhor e Rei, mas
Rei de amor. Meu caro Salvador, visto que viestes sobre a terra e tomastes a nossa
mísera carne a fim de reinar sobre os nossos corações, ah! Vinde estabelecer vosso reino
também em meu coração, que em outros tempos esteve sob o domínio dos vossos
inimigos, mas agora, assim o espero, é vosso. Quero que seja sempre vosso e que de
hoje em diante Vós sejais o seu único senhor: Dominare in médio inimicorum tuorum (4) —
“Reinai no meio dos vossos inimigos”. Os outros reis reinam pela força das armas, mas Vós
vindes reinar com a força do amor, e por isso, não viestes com pompa real, não vestido
de púrpura e ouro, não ornado com cetro e coroa, nem acompanhado de exércitos de
soldados. Viestes para nascer numa estrebaria, pobre e abandonado, para ser posto
numa manjedoura sobre um pouco de palha, porque é assim que quereis começar a
reinar em nossos corações.
Ó meu Rei-Menino! Como tenho podido revoltar-me tantas vezes contra Vós e viver
tanto tempo como vosso inimigo, privado de vossa graça, ao passo que Vós, para me
obrigardes a Vos amar, abdicastes da vossa majestade divina e Vos humilhastes até ser
visto, ora como criança numa lapa, ora como oficial numa loja, ora como réu sobre uma
cruz? Feliz de mim, se tendo saído, conforme espero, da escravidão de Lúcifer, me deixe
para sempre governar por Vós e pelo vosso amor! Ó Jesus, meu Rei, Vós que sois tão
amável e tão enamorado de nossas almas, eia, tomai posse da minha; eu Vô-la dou toda
inteira. Aceitai-a a fim de que Vos sirva sempre, mas Vos sirva por amor. A vossa
majestade merece ser temida, mas a vossa bondade muito mais merece ser amada. Vós, ó
meu Rei, sois e sereis sempre o meu único amor, e único temor que terei, será o de Vos
dar desgosto. Assim espero. Ajudai-me com a vossa graça.
— Querida Senhora minha, Maria, vós deveis impetrar-me a graça de fidelidade a este Rei
amado da minha alma.
5/3
Jesus ilumina o mundo e glorifica a Deus
QUINTA-FEIRA

Creavit Dominus novum super terram – “O Senhor criou uma coisa nova sobre a terra”
(Jr 31, 22)

Sumário. Antes da vinda do Messias, o mundo estava abismado na ignorância, e o Deus


verdadeiro era apenas conhecido num cantinho da terra, na Judéia. De todas aquelas trevas
livrou-nos Jesus Cristo, que desde o primeiro instante da sua conceição deu mais glória ao Pai
Eterno do que lhe têm dado e darão todos os Anjos e Santos. Tomemos ânimo nós, os pobres
pecadores, e ofereçamos a Deus Pai este Menino e ressarci-Lo-emos de todas as ofensas que
Lhe temos feito.

I. Antes da vinda do Messias, o mundo estava abismado na noite tenebrosa da


ignorância e do pecado. No mundo o Deus verdadeiro era conhecido tão somente num
cantinho da terra, a saber, na Judéia: Notus in Iudaea Deus — “Deus é conhecido na Judéia”

1/3
(1). Em todo o resto do mundo eram adorados como deuses os demônios, os animais e
as pedras. Em toda a parte reinava a noite do pecado, que cega as almas, enche-as de
vícios, e priva-as da vista do estado miserável em que se acham, inimigas de Deus e
condenadas ao inferno. Dessas trevas veio Jesus livrar o mundo. Livrou-o da idolatria
dando-lhe o conhecimento do Deus verdadeiro; livrou-o do pecado com a luz de sua
doutrina e dos exemplos divinos: O Filho de Deus veio ao mundo para destruir as obras
do diabo (2). O profeta Jeremias predisse que Deus havia de criar um novo Menino
para ser o Redentor dos homens: Creavit Dominus novum super terram. Esse novo
Menino foi Jesus Cristo, que faz as delícias do paraíso e é o amor de Deus Pai, que fala
assim: Este éo meu Filho dileto em que deposito as minhas complacências (3). É este
Filho quem se fez homem. Embora criança nova, deu a Deus mais honra e glória no
primeiro momento de sua criação do que lhe têm dado e durante toda a eternidade
lhe poderão dar todos os Anjos e Santos juntos. Por isso é que no nascimento de Jesus
os Anjos cantaram: Gloria in excelsis Deo — “Glória a Deus nas alturas”. Jesus Menino
rendeu a Deus mais glória do que Lhe arrebataram os pecados de todos os
homens.

II. Tomemos, pois, ânimo, nós, pobres pecadores. Ofereçamos ao Pai Eterno o divino
Menino; apresentemos-Lhe as lágrimas, a obediência, a humildade, a morte e os méritos
de Jesus Cristo e ressarciremos a Deus toda a injúria que com as nossas ofensas Lhe
tenhamos feito.
Ah! Meu Deus eterno, eu Vos desonrei, pospondo tantas vezes a vossa vontade à minha, e
a vossa santa graça às minhas satisfações vis e miseráveis. Que esperança de perdão
poderia eu ter, se Vós não me tivésseis dado Jesus Cristo exatamente a fim de que fosse a
esperança de nós, pecadores? Ipse est propitiatio pro peccatis nostris (4) — “Ele é a
propiciação pelos nossos pecados”. Sim, porque Jesus Cristo, sacrificando a vida para
satisfação das injúrias que nós Vos tínhamos feito, mais glória Vos deu, do que nós Vos
desonráramos com os nossos pecados. Aceitai-me, pois, ó meu Pai, pelo amor de Jesus
Cristo.
Pesa-me, ó Bondade infinita, de Vos ter ofendido. Não sou digno de perdão; mas Jesus
Cristo é digno de ser por Vós atendido. Estando pregado na cruz por mim, Ele Vos pediu
/um dia: Pater, dimitte — “Pai, perdoai-lhes”; e mesmo agora no céu Vos pede que me
aceiteis por filho: Advocatum habemus Iesum Christum, qui etiam interpellat pro nobis
(5) — “Temos por advogado Jesus Cristo, que também intercede por nós”. Aceitai um
filho ingrato que primeiro Vos deixou, mas agora volta com a resolução de Vos amar.
Sim, meu Pai, eu Vos amo e quero amar-Vos sempre. Ah! Meu Pai, agora que conheço o
amor que me tendes tido e a paciência que por tantos anos haveis usado para comigo, não
quero mais viver sem Vos amar. Dai-me um grande amor que me faça sempre chorar os
desgostos que Vos tenho dado, a Vós, meu Pai tão bom, e me faça sempre arder de amor
para com um Pai tão amante. Meu Pai, eu Vos amo, eu Vos amo, eu Vos amo.

— Ó Maria, Deus é meu Pai e vós sois minha Mãe. Vós podeis tudo junto de Deus;
ajudai-me; alcançai-me a santa perseverança e o seu santo amor.
2/3
Quais sejam os que na verdade seguem a Jesus Cristo
SEXTA-FEIRA

Si quis vult post me venire, abneget semetipsum, et tollat crucem suam quotidie, et
sequatur me – “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada
dia, e siga-me” (Lc 6, 23)

Sumário. Devemo-nos persuadir de que Deus nos conserva no mundo para que suportemos
com paciência as tribulações que Ele mesmo nos envia para o nosso bem. Resolvamo-nos,
pois, a recusar a nós mesmos aquilo que um amor próprio desordenado nos pede;
abracemos de boa vontade a nossa cruz de cada dia; e não nos cansemos de a carregar após
Jesus Cristo até ao Calvário, isso é, até a morte.

I. Façamos hoje algumas reflexões sobre estas palavras de Jesus Cristo. Si quis vult post
me venire — “Se alguém quer vir após mim.” Jesus não somente quer que a Ele vamos,
senão que vamos em seu seguimento. Jesus vai sempre para diante e não pára
enquanto não chegar ao Calvário, onde irá morrer. Portanto, se O amamos, devemos
segui-Lo até à nossa morte. Por isso faz-se mister que cada um se negue a si mesmo:
abneget semetipsum; isso é, recuse a si mesmo o que o amor próprio pede, mas que não
é do agrado de Jesus Cristo.

Diz ainda:

Tollat crucem suam quotidie et sequatur me — “Tome a sua cruz cada dia e siga-me.”

1/3
Tollat, tome: de pouco serve carregá-la forçadamente; todos os pecadores a carregam,
mas sem merecimento. Para a carregarmos com merecimento, devemos abraçá-la de
boa vontade.

— Crucem, a cruz: sob o nome de cruz vem toda a tribulação, que por Jesus Cristo é
chamada cruz, a fim de nô-la tornar doce, com pensar que em uma cruz ele morreu por
nosso amor.

Jesus diz: suam, a sua cruz. Alguns, ao receberem qualquer consolação espiritual, se
oferecem para sofrer o que tem sofrido os mártires: acúleos, unhas de ferro e lâminas
candentes; mas, logo em seguida não sabem sofrer alguma dor de cabeça, uma falta de
atenção da parte de um amigo, o enfado de um parente. Irmão meu, Deus não quer de ti
que sofras nem cavaletes, nem unhas de ferro, nem lâminas candentes; mas quer que
sofras com paciência essa dor, esse desprezo, esse aborrecimento. Tal outro quisera ir a
um deserto para sofrer; quisera praticar grandes penitências; entretanto não sabe
suportar um seu superior, um seu companheiro de ofício. Deus, porém, quer que ele
carregue a cruz que lhe é dada para carregar, e não aquela que ele mesmo escolheu.

Ainda diz: quotidie, cada dia. Alguns abraçam a cruz no princípio, quando ela se
apresenta; mas quando dura, dizem: Não posso mais. Todavia, Deus quer que continues
a carregá-la com paciência, muito embora fosse preciso carregá-la sem cessar até à
morte. Eis aí portanto em que consiste a salvação e a perfeição; consiste em cumprir
estas três palavras: Abneget, recusemos ao amor próprio o que não lhe convém. Tollat,
abracemos a cruz que Deus nos envia. Sequatur, sigamos as pegadas de Jesus Cristo até
à morte.

II. Devemo-nos, pois, persuadir de que Deus nos conserva no mundo, para que
carreguemos as cruzes que nos envia; e é isto o que faz a nossa vida meritória. Porque
nosso Salvador nos ama, veio sobre esta terra, não para gozar, mas para sofrer, a fim de
que lhe sigamos as pegadas: Christus passus est pro nobis, vobis relinquens exemplum ut
sequamini vestigia eius — “Cristo padeceu por nós, deixando-nos exemplo, para que sigais as
suas pisadas (1). Contemplemo-lo, a Ele que vai adiante com a sua cruz, a fim de traçar-
nos o caminho pelo qual devemos segui-Lo, se nos quisermos salvar. Oh! Que grande
remédio, dizer a Jesus Cristo em cada aflição: Senhor, Vós quereis que eu carregue esta
cruz; aceito-a e quero sofrê-la até quando quiserdes. Assim, e muito mais ainda, o
merece Jesus Cristo, que, para nos livrar do inferno, escolheu uma vida de trabalho e
uma morte de dor.

Jesus meu, somente Vós pudestes ensinar-nos estas máximas de salvação, de todo
contrárias às máximas do mundo, e somente Vós nos podeis dar a força para carregarmos
a cruz com paciência. Não Vos peço que me façais isento dos sofrimentos; peço-Vos
somente que me deis força para sofrer com paciência e resignação. Pai Eterno, vosso
Filho prometeu que nos haveis de dar tudo quanto Vos pedíssemos em seu nome: Amen,
amen dico vobis, si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis (2). Eis, pois, o que
2/3
Vos pedimos: dai-nos a graça de sofrer com paciência as aflições desta vida: atendei-nos
pelo amor de Jesus Cristo. — E Vós, ó meu Jesus, perdoai-me todas as ofensas que Vos
tenho feito, por não ter praticado a paciência nas cruzes que me enviastes. Dai-me o vosso
amor: que me dará força para sofrer tudo por Vós privai-me de todas as coisas, de todos
os bens terrestres, dos parentes, dos amigos, da saúde do corpo, de todas as consolações;
tirai-me ainda a vida, mas não o vosso amor. Dai-Vos a mim, e nada mais Vos peço.
Virgem Santíssima, obtende-me para com Jesus Cristo um amor constante até à morte.

3/3
Inefável dignidade de Maria Santíssima
SÁBADO

De qua natus est Iesus, qui vocatur Christus – “Da qual nasceu Jesus, que se chama o
Cristo” (Mt 1, 16)
Sumário. É tão grande a dignidade de Maria como Mãe de Jesus Cristo, que só Deus com a
sua sabedoria infinita a pode compreender; mas toda a sua onipotência não pode fazer outra
maior. Façamos um ato de viva fé acerca desta divina maternidade; alegremo-nos com a
Santíssima Virgem, e aumentemos a nossa confiança nela, porquanto de certo modo nos é
devedora da sua altíssima dignidade.

I. Para compreender a altura a que Maria foi sublimada, mister se faria compreender
quão sublime é a alteza e grandeza de Deus. Bastará dizer que Deus fez a Santíssima
Virgem mãe do seu Filho para ficar entendido que Deus não a pode elevar mais alto do
que a elevou. Bem disse Santo Arnaldo Carnotense que Deus, fazendo-se Filho da
Virgem, sublimou-a acima de todos os Santos e Anjos. Ainda que: em verdade, ela seja
infinitamente inferior a Deus: ao mesmo tempo está imensa e incomparavelmente acima
4/3
de todos os espíritos celestiais, como fala Santo Efrém. Por este motivo lhe diz Santo
Anselmo: Senhora, vós não tendes quem vos seja igual, porque tudo quanto há está
acima ou abaixo de vos; só Deus vos é superior, e todos os mais vos são inferiores.

Em uma palavra, é tão grande a dignidade da Virgem, que, se bem que Deus só com a
sua sabedoria infinita a possa compreender, todavia, no dizer de São Boaventura, com
toda a sua onipotência não pode fazer outra maior — Ipsa est qua maiorem facere non
potest Deus — Quem considerar isto, deixará de estranhar porque os santos Evangelistas,
que tão difusamente registram os louvores de um João Batista, de uma Madalena, tão
escassos se mostram em descrever as grandezas de Maria. Tendo dito que desta exímia
Virgem nasceu Jesus: de qua natus est Iesus, não julgaram necessário acrescentar outra
coisa; porque neste seu maior privilégio se acham incluídos os demais. Qualquer titulo
que se lhe dê, nunca chegará a honrá-la tanto quanto o de Mãe de Deus.

Façamos um ato de viva fé na maternidade divina de Maria, alegremo-nos com ela,


agradeçamos a Deus por ela e protestemos que estamos prontos a dar a nossa vida em
defesa desta verdade, como de todas as outras que lhe dizem respeito.

II. Diz Santo Anselmo que é mais pelos pecadores do que pelos justos que Maria foi
sublimada a Mãe de Deus; do mesmo modo que Jesus disse de si próprio que veio para
chamar, não os justos, senão os pecadores. A divina Mãe tem, pois, uma certa obrigação
de socorrer os miseráveis que se lhe recomendam, porquanto é a eles que é, por assim
dizer, devedora de sua altíssima dignidade: Totum quod habes, peccatoribus debes (1) —
Congratulemo-nos, portanto, com Maria, sim; mas congratulemo-nos também com nós
mesmos e ponhamos nela toda a nossa esperança.
† Ó Mãe de Deus, eis aqui a vossos pés um miserável pecador, que a Vós recorre e em
Vós confia. Não mereço que lanceis sobre mim o vosso olhar; mas sei que, vendo vosso
Filho morto para a salvação dos pecadores, tendes um extremo desejo de ajudá-los. Ó
Mãe de misericórdia, vêde as minhas misérias e tende piedade de mim. Ouço que todos
vos chamam refúgio dos pecadores, esperança dos que desesperam, sêde também o meu
refúgio, a minha esperança, o meu auxilio. Deveis salvar-me com a vossa intercessão.
Socorrei pelo amor de Jesus Cristo. Estendei a mão a um pobre caído que se recomenda a
vós. Sei que é a vossa consolação ajudar um pecador, quando é possível; ajudai-me, pois,
já que o podeis fazer. Pelos meus pecados perdi a graça divina e a minha alma. Entrego-
me em vossas mãos; dizei-me o que hei de fazer para de novo entrar na graça do meu
Senhor; quero fazê-lo sem demora. Ele me envia a vós, para que me socorrais, quer que
eu me refugie na vossa misericórdia, a fim de que eu me salve não somente pelos méritos
de vosso Filho, mas também pelas vossas orações. A vós recorro; e vós rogai por mim.
Mostrais como sabeis valer a quem confia em vós. Assim espero, assim seja (2).

5/3
2º Domingo do Advento
O encarceramento de João e a utilidade das tribulações

São João Batista na Prisão (Juan Fernández de Navarrete)

Ioannes autem cum audisset in vinculis opera Christi… – “Como João,


estando no cárcere, tivesse ouvido as obras de Cristo…” (Mt 11, 2)

Sumário. É muito grande a utilidade que nos trazem as tribulações. O Senhor no-las envia
para em seguida nos enriquecer com as melhores graças. Considerai, com efeito, que São
João, estando encarcerado, chega a conhecer as obras de Cristo, e recebe dele os mais
elevados elogios. No tempo das tribulações, em vez de nos lastimarmos, abracemos a cruz
com resignação e com ação de graças.

I. É no tempo das tribulações que Deus enriquece as almas, suas prediletas, com as
graças mais copiosas. Vede São João Batista, que entre as correntes e as angústias do
cárcere chega a conhecer as obras de Jesus Cristo, recebe da boca de Jesus os elogios
mais honrosos de homem forte, de penitente austero, de maior dos profetas, e é
apontado e tido como o Anjo do Senhor, destinado a preparar-lhe o caminho:
Praeparabit viam tuam ante te. Bem apreciáveis são, portanto, as utilidades que as
6/3
tribulações nos trazem, e o Senhor no-las envia não porque nos quer mal, mas porque
nos quer bem.

Qui non est tentatus, quid scit? (1) – “Quem não foi tentado, o que sabe?” . Quem vive na
prosperidade e nunca tem experimentado a adversidade, nada sabe acerca do estado da
sua alma e será molestado com muitas tentações de soberba, de vanglória, de cobiça de
mais riquezas, de mais honras, de mais prazeres. Ora, de todas estas tentações livram-
nos as adversidades, ao mesmo tempo que nos fazem humildes e contentes no estado
em que aprouve ao Senhor colocar-nos. – Ademais, elas desvendam-nos os olhos que a
prosperidade tinha vendado; e se somos pecadores, não somente reduzem-nos, como
outrora o filho pródigo, aos pés de nosso Pai celestial, mas ainda nos farão satisfazer
pelos pecados cometidos, muito melhor do que o fariam todas as penitências por nós
livremente escolhidas. Eis a razão por que Santo Agostinho repreende o pecador que se
lamenta das tribulações enviadas por Deus e lhe diz: Meu irmão, quem te dera
compreender que remédio eficaz são as tribulações para curar as chagas que te feriram
os pecados!

Se somos justos, as tribulações nos desprendem o coração das coisas da terra, visto que
não achamos nelas senão amarguras. Afeiçoam-nos aos bens do céu, onde se acha a
verdadeira felicidade, fazem-nos frequentemente lembrados de Deus e obrigam-nos a
recorrer a sua misericórdia, ao vermos que só Ele nos pode aliviar das nossas misérias. –
Mas, o que mais é, as tribulações fazem-nos ganhar grandes tesouros de méritos junto
de Deus, fornecendo-nos ocasião para praticar as virtudes que lhe são mais caras, tais
como a humildade, a paciência, a conformidade com a vontade divina, etc.

Numa palavra: são tais e tantas as vantagens das tribulações, que São Thiago chega a
chamar bem-aventurado àquele que as sofre com paciência: Beatus vir qui sufferi
tentationem (2).

Aquele que vive nesta terra em tribulações, tem nisso um sinal certo de que é querido de
Deus, e tanto mais querido, quanto mais graves elas forem. “Porque eras aceito a Deus, foi
necessário que a tentação te provasse”, disse o anjo a Tobias (3). Jesus disse o mesmo mais
claramente a Santa Teresa: “Minha Filha”, disse-lhe, “as almas mais queridas de meu Pai são
aquelas que sofrem padecimentos mais graves”. A Santa, pois, animada deste espírito,
costumava dizer que não quisera trocar os seus sofrimentos por todos os tesouros
do mundo.

Deste mesmo espírito nós também devemos estar animados, se quisermos chegar um
dia ao paraíso e ser glorificados como santos. – Bem longe de nos lamentarmos nas
tribulações, abracemo-las dando graças a Deus; aceitemo-las não somente
conformando-nos com a vontade divina, mas alegrando-nos por Deus nos tratar como
tratou a Jesus Cristo, o Homem de dores, e Maria Santíssima, a Rainha dos Mártires.
Digamos muitas vezes com Jó: Si bonna suscepimus de manu Dei, mala quare non
suscipiamus? (4) – Se de boa vontade tenho recebido da mão de Deus os bens (a
prosperidade terrestre) porque não receberei com mais satisfação os males (as
tribulações) que me são muito mais vantajosas do que a prosperidade? Faça o
7/3
Senhor de mim e de tudo o que é meu segundo a sua vontade e seja sempre bendito o
seu santo nome: Sit nomen Domini benedictum (5).

Assim quero fazer, ó meu Deus. Mas Vós, que conheceis o meu nada, confortai-me com a
vossa Santa graça, e “excitai o meu coração a preparar os caminhos para o vosso Filho
unigênito, afim de que, pela sua vinda, possa servir-Vos pura e sinceramente” (6) Fazei-o
pelo amor de Jesus Cristo. + Doce Coração de Maria, sede minha salvação. (7)

8/3
Deus entrega o próprio Filho à morte para nos dar a vida
SEGUNDA-FEIRA

Deus autem, qui dives est in misericórdia, propter nimiam caritatem suam, qua dilexit
nos, et cum essemus mortui peccatis, convivificavit nos Christo – “Deus que é rico em
misericórdia, por causa da extrema caridade com que nos amou, também quando mortos
estávamos pelos pecados, nos convivificou em Cristo” (Ef 2, 4)

Sumário. Pelas nossas culpas nós, pobres pecadores, já estávamos todos mortos e
condenados ao inferno. Deus, porém, por causa do imenso amor que tem às nossas almas,
quis restituir-nos à vida, enviando à terra o seu Filho unigênito para morrer por nós. Pois
dizei-me: Se Jesus Cristo morreu por nosso amor, não é mais do que justo que nós somente
para Ele vivamos, e que Ele seja o único senhor dos nossos corações?

I. Considera que o pecado é a morte da alma; visto que esse inimigo de Deus nos priva
da graça divina, que é a vida da alma. Assim nós, os pobres pecadores, já estávamos
todos mortos por nossa culpa e todos condenados ao inferno. Deus, porém, por causa
do imenso amor que tem às nossas almas, quis restituir-nos à vida. Que fez? Enviou à
terra o seu Filho unigênito a fim de morrer e com a sua morte recuperar-nos a vida. — É
com razão que o Apóstolo chama esta obra de amor: nimiam caritatem, excesso de
amor. Com efeito, nunca o homem pudera nutrir esperança de receber a vida de um
modo tão amoroso, se Deus não houvera excogitado esse meio de remi-lo.

Estavam mortos todos os homens, e não havia para eles remédio. Mas o Filho de Deus,
pelas entranhas de sua misericórdia, desceu do céu a restituir-nos à vida. É exatamente
9/3
por isso que o Apóstolo chama Jesus Cristo vita nostra, nossa vida. Eis que o nosso
Redentor, já encarnado e feito menino, nos diz: Veni ut vitam habeant, et abundantius
habeant (1) — “Eu vim para eles terem vida, e para a terem em maior abundância”. Jesus
veio e escolheu a morte para si, a fim de nos dar a vida. — É, pois, justo que vivamos
unicamente para um Deus que se dignou de morrer por nós. É justo que o único senhor
de nosso coração seja Jesus Cristo, porquanto deu o seu sangue e a sua vida para o
ganhar. Ó meu Deus, quem será tão ingrato e tão desgraçado que, sabendo pela fé que
um Deus morreu para lhe grangear o amor, se recuse a amá-Lo, e renunciando à
amizade divina, queira fazer-se, por sua livre vontade, escravo do inferno?

II. Ó meu Jesus, se Vós não tivésseis aceitado e padecido a morte por mim, teria eu ficado
morto no meu pecado sem esperança de me salvar e de poder amar-Vos. Mesmo depois
que com a vossa morte me obtivestes a vida, eu muitas vezes tenho tornado a perdê-la
voluntariamente pelos meus pecados. Morrestes para Vos assenhorardes do meu
coração, e eu, rebelando-me contra Vós, escravizei-o ao demônio. Tenho-Vos
desrespeitado e dito que não Vos queria para meu Senhor. Tudo isso é verdade, mas é
também verdade que não quereis a morte do pecador, mas que se converta e viva, e Vós
morrestes a fim de nos dardes a vida.
Amado Redentor meu, pesa-me de Vos ter ofendido; perdoai-me pelos merecimentos de
vossa Paixão. Dai-me a vossa graça; dai-me aquela vida que me adquiristes com a vossa
morte, e de hoje em diante reinai como supremo senhor em meu coração. Não, não quero
mais que seu senhor seja o demônio, que não é meu Deus, que não me ama e nada tem
padecido por mim. Em tempos passados foi ele não o verdadeiro senhor de minha alma,
senão o injusto possuidor. Vós só, Jesus meu, sois o meu verdadeiro Senhor, Vós que me
haveis criado e remido com o vosso sangue; Vós só me haveis amado e amado tanto. É
justo que eu seja unicamente vosso no tempo de vida que me resta. Dizei-me o que
quereis que eu faça, pois que eu quero fazê-lo. Castigai-me como quiserdes: aceito tudo.
Poupai-me somente o castigo de ter de viver sem o vosso amor; fazei com que Vos ame, e
depois disponde de mim segundo a vossa vontade.

— Maria Santíssima, meu refúgio e minha consolação, recomendai-me a vosso Filho; a


sua morte e a vossa intercessão são a minha única esperança.

10
/3
Retrato de um homem que acaba de passar a outra vida
TERÇA-FEIRA

Auferes spiritum eorum, et deficient, et in pulverem suum revertentur – “Tirar-lhes-ás o


espírito, e deixarão de ser, e tornar-se-ão no seu pó” (Sl 103, 29)

Sumário. Imaginemos que estamos vendo uma pessoa que acaba de expirar. Contemplemos
nesse cadáver a cabeça pendida sobre o peito, o cabelo desgrenhado, os olhos encovados, as
faces descarnadas, o rosto cinzento, a língua e os lábios cor de ferro, o corpo frio e pesado.
Quantas pessoas, à vista de um parente ou de um amigo morto, não mudaram de vida e
deixaram o mundo!
I. Imagina que estás vendo uma pessoa que acaba de exalar o ultimo suspiro. Contempla
esse cadáver deitado ainda no leito, a cabeça caída sobre o peito, o cabelo desgrenhado,
banhado ainda no suor da morte, os olhos encavados, as faces descarnadas, o rosto
cinzento, a língua e os lábios cor de ferro, o corpo todo frio e pesado. Empalidece e
treme quem quer que o vê. Quantas pessoas, à vista de um parente ou amigo defunto não
mudaram de vida e deixaram o mundo! — Mais horror ainda inspira o cadáver, quando
começa a corromper-se. Não se passaram bem vinte e quatro horas que esse moço morreu,
e já o mau cheiro se faz sentir. E preciso abrir as janelas e queimar bastante incenso; é
preciso cuidar que em breve seja levado à igreja e posto debaixo da terra, para que não
infeccione a casa toda.

Eis aí em que se tornou esse moço orgulhoso, esse dissoluto! Ainda há pouco acolhido e
desejado nas sociedades, e agora feito objeto de horror e de abominação para quem o
vê! Os parentes anseiam por fazê-lo levar para fora da casa e pagam aos coveiros para
que o levem encerrado num caixão e o entreguem à sepultura. Outrora gabavam-se o
espírito, a beleza, o trato fino e bons ditos; mas pouco depois de sua morte perde-se a
memória de tudo isso: Periit memoria eorum cum sonitu (1) — “A memória deles pereceu
11
/3
com ruído”.

Ao ouvirem a notícia de sua morte, uns dizem que era homem honrado, outros que
deixou os negócios em bom estado; uns lamentam-se, porque o defunto era-lhes útil;
outros regozijam-se, porque a morte dele lhes traz proveito. Por fim, dentro em breve, já
ninguém falará nele. Desde os primeiros dias os parentes mais chegados não querem
ouvir falar dele a fim de não se lhes avivar a saudade. Nas visitas de pêsames trata-se de
outros assuntos, e se alguém por ventura fala do defunto, logo os parentes atalham: Por
favor, não pronuncieis mais o seu nome. E entretanto, onde é que estará a alma daquele
infeliz?

II. Pensai que assim como vós fizestes na morte de vossos amigos, assim os outros farão
para convosco. Os vivos aparecerão por sua vez na cena, ocupando os bens e os lugares
dos mortos, e destes já não se faz ou quase que não se faz caso ou menção. Os parentes
afligir-se-ão ao princípio por alguns dias, mas depressa consolar-se-ão com a parte da
herança que lhes couber, de tal sorte que dentro em breve até se regozijarão de vossa
morte. No mesmo quarto onde exalastes a alma, e onde fostes julgado por Jesus Cristo,
se jogará e se rirá como antigamente. E a vossa alma onde estará então?

Ó Jesus, Redentor meu, agradeço-Vos por não me terdes deixado morrer quando estava
em desgraça convosco. Ha quantos anos não mereceria estar no inferno! Se eu tivesse
morrido em tal dia, tal noite, que seria de mim por toda a eternidade? Senhor, eu Vos
agradeço e não quero mais resistir as vossas chamadas. Quem sabe se as palavras que
acabo de ler, não são para mim o vosso último convite! Confesso que não mereço
misericórdia: tantas vezes me tendes perdoado e eu, ingrato, tenho tornado a ofender-Vos.
Mas já que não sabeis desprezar um coração que se humilha e se arrepende, eis aqui um
traidor que a Vós recorre arrependido. Por piedade, não me afasteis. Verdade é que Vos
ultrajei mais que muitos outros, pois que, mais que muitos outros fui favorecido por Vós
com luzes e graças, mas o sangue que derramastes por mim, anima-me e oferece-me o
perdão, se eu me arrepender. Sim, meu Bem supremo, arrependo-me de toda a minha
alma de Vos ter desprezado. Perdoai-me e dai-me a graça de Vos amar para o futuro. Já
demasiadamente Vos ofendi. Não quero empregar a vida que ainda me resta, a ofender-
Vos, quero empregá-la a chorar sempre os desgostos que Vos dei, e a amar-Vos de todo o
meu coração.

— Ó Maria, esperança minha, rogai a Jesus por mim.

12
/3
Amor que o Filho de Deus nos mostrou na Redenção
QUARTA - FEIRA

Dilexit nos et tradidit semetipsum pro nobis – “Cristo nos amou e se entregou a si mesmo
por nós” (Ef 5, 2)

Sumário. A salvação ou a condenação de todos os homens não aumenta nem diminui de


nada a felicidade do Filho de Deus, que é a bem-aventurança mesma. Todavia Ele tem feito e
padecido tanto por nós, que, se a sua beatitude fora dependente da nossa, não teria podido

1/3
padecer e fazer mais. Quão grande não deve, pois, ser nosso amor para com Jesus Cristo e
quão grande a nossa confiança de obtermos, pelos seus merecimentos, todas as graças que
desejemos!

I. Considera que o Verbo Eterno é o Deus infinitamente feliz em si mesmo, de tal sorte
que a sua felicidade não pode ser aumentada. Nem mesmo a salvação ou a condenação
de todos os homens podem acrescentar-Lhe ou diminuir-Lhe alguma coisa. Contudo,
para nos salvar a nós, vermes miseráveis, Ele tem feito e padecido tanto, que, se a sua
beatitude, no dizer de Santo Tomás, tivesse sido dependente da do homem, não poderá
fazer nem padecer mais. Com efeito, se Jesus Cristo não pudera ser feliz sem a nossa
redenção, como poderia humilhar-se mais do que se humilhou, tomando sobre si todas
as nossas enfermidades, as humilhações da infância, as misérias da vida humana e uma
morte tão desapiedada e ignominiosa? Só um Deus era capaz de amar-nos tão
excessivamente a nós míseros pecadores, tão indignos de sermos amados.

Diz um piedoso escritor:

“Se Jesus Cristo nos tivesse permitido pedir-Lhe a maior prova de seu amor, quem jamais
se atreveria a pedir-Lhe que se fizesse homem como nós, que se sujeitasse a todas as
nossas misérias; ainda mais, que se fizesse de todos os homens o mais pobre, o mais
desprezado, o mais maltratado, até morrer por mão de algoz e à força de tormentos num
patíbulo infame, amaldiçoado e abandonado de todos, mesmo de seu próprio Pai, que
desamparou o Filho, para não nos abandonar a nós em nossa perdição? Mas o que nós
nem ousáramos conceber em pensamentos, o Filho de Deus o excogitou e realizou”.

— Desde o berço, o divino Menino se ofereceu por nós aos trabalhos, aos opróbrios e à
morte: Dilexit nos, et tradidit semetipsum pro nobis (1) — “Ele nos amou e se entregou a si
mesmo por nós”. Sim, Jesus nos amou, e por amor se nos deu a si mesmo, a fim de que,
oferecendo-O ao Pai como vítima, em expiação de nossos delitos, possamos, em vista de
seus méritos, obter da divina bondade todas as graças que desejarmos. Esta vítima
agrada mais ao Pai do que se lhe fosse oferecida a vida de todos os homens e de todos
os anjos. Ofereçamos, portanto, sempre a Deus os merecimentos de Jesus Cristo, e por
eles busquemos e esperemos todo o bem.

II. Ó meu Jesus, eu seria por demais injusto para com a vossa misericórdia e o vosso
amor, se, depois de me haverdes dado tantas provas do afeto que me tendes e do vosso
desejo de me salvar, eu desconfiasse de vossa misericórdia e de vosso amor. Meu
amado Redentor, eu sou um pobre pecador, mas Vós assegurais que viestes para buscar
os pecadores. Eu sou um pobre enfermo, mas Vós viestes para curar os enfermos. Eu
sou um réprobo por causa de meus pecados, mas Vós viestes para salvar o que estava
perdido: Venit enim Filius hominis salvare quod perierat (2). Que poderei, pois, temer, se
quiser emendar-me e ser vosso?

2/3
Só devo ter medo de mim mesmo e da minha fraqueza; mas a minha fraqueza e pobreza
devem aumentar a minha confiança em Vós, que Vos gloriais de ser o refúgio dos pobres
e prometestes atender a todos os seus desejos: Desiderium pauperum exaudivit Dominus
(3) — “O Senhor ouviu os desejos dos pobres”. Eis a graça que Vos peço, ó meu Jesus,
dai-me confiança em vossos merecimentos, e fazei com que sempre me recomende a
Deus pelos vossos méritos. — Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, livrai-me do inferno
e em primeiro lugar do pecado. Pelos méritos desse vosso Filho, dai-me luz para conhecer
a vossa vontade; dai-me força contra as tentações; dai-me o dom de vosso santo amor.
Sobretudo suplico-Vos a graça de sempre pedir que me ajudeis pelo amor de Jesus Cristo,
que prometeu que haveis de conceder tudo quanto se pedir, àqueles que Vos pedirem em
seu nome. Se perseverar em pedir assim, serei salvo; se não o fizer, serei com certeza
condenado.

— Maria Santíssima, impetrai-me a grandíssima graça da oração, da perseverança em


recomendar-me sempre a Deus e a vós, visto que obtendes de Deus tudo quanto quiserdes.

3/3
Jesus, Homem de dores desde o seio de sua Mãe
QUINTA-FEIRA

Virum dolorum, et scientem infirmitatem – “O homem de dores e experimentado nos


trabalhos” (Is 53, 3)

Sumário. O primeiro Adão gozou durante algum tempo as delícias do paraíso terreal; mas o
segundo Adão, Jesus Cristo, não teve nem sequer um instante em sua vida que não fosse cheio
de aflições e agonias, porquanto desde o berço afligiu-O a dolorosa previsão de todas as
penas e ignomínias que deveria padecer, e particularmente a previsão da ingratidão de que
os homens usariam para com Ele. Ó céus! Nós também temos contribuído para contristar
esse amabilíssimo Coração.
I. O profeta Isaias chama a Jesus Cristo o homem de dores. E com razão, porquanto a
natureza humana de Jesus foi criada expressamente para padecer, e assim desde o
berço começou a sofrer as maiores dores, que os homens jamais têm sofrido. Para o
primeiro homem, Adão, houve um tempo em que gozava as delícias do paraíso terrestre;
mas o segundo Adão, Jesus Cristo, não teve nem sequer um instante de vida que não
fosse cheio de aflições e agonias. Desde o berço afligiu-o a dolorosa previsão de todas as
penas e ignomínias que deveria padecer no correr de sua vida e particularmente na hora
de sua morte, quando deveria terminar a vida como que submergido num oceano de
dores e de opróbrios, assim como o predisse Davi: Veni in altitudinem maris, et tempestas
demersit me (1) — “Cheguei ao alto mar e a tempestade me submergiu”.
4/3
Desde o seio de Maria, Jesus Cristo aceitou obediente a ordem de seu Pai acerca da sua
paixão e morte. De sorte que já antes de nascer previu os açoites e apresentou seu
corpo para os receber; previu os espinhos e apresentou-lhes a cabeça; previu as
bofetadas e apresentou-lhes as faces; previu os cravos e apresentou-lhes as mãos e os
pés; previu a cruz e apresentou sua vida. Daí é que o nosso Redentor, desde a primeira
infância e a cada instante da sua vida, padeceu um contínuo martírio, e a cada instante
oferecia esse martírio por nós ao Pai Eterno.

Mas, o que mais O atormentou, foi a vista dos pecados que os homens haviam de
cometer, mesmo depois da sua tão dolorosa Redenção. Na luz divina conhecia Jesus
perfeitamente a malícia de cada pecado e veio ao mundo exatamente para tirar os
pecados; mas ao ver em seguida o número tão grande de pecados que ainda iam ser
cometidos, a angústia que o Coração de Jesus sofreu, foi maior do que a que tem sofrido
ou ainda sofrerão todos os homens da terra.

II. Meu doce Redentor, quando é que começarei a ser grato para com vossa bondade
infinita? Quando começarei a reconhecer o amor que me tendes consagrado, e as penas
que tendes sofrido por minha causa? Nos tempos passados, em vez de amor e de
gratidão, paguei-Vos com ofensas e desprezos. Deverei continuar a viver sempre tão
ingrato para convosco, meu Deus, que nada poupastes para adquirir para Vós o meu
amor? Não, Jesus meu, não há de ser assim. Nos dias de vida que ainda me restam,
quero ser-Vos grato; e Vós mesmo deveis ajudar-me nisso. Se Vos tenho ofendido, as
vossas penas, a vossa morte são a minha esperança. Prometestes perdoar a quem se
arrepende. Arrependo-me de todo o meu coração de Vos ter desprezado. Cumpri a
vossa promessa, Amor meu, e perdoai-me.

Ó meu caro Menino, contemplo-Vos nessa manjedoura como que já pregado na cruz,
visto que esta Vos está presente e Vós a aceitais por mim. Ó Menino crucificado — assim
quero chamar-Vos — , eu Vos agradeço e Vos amo. Deitado sobre essa palha, padecendo
por mim e preparando-Vos para morrer por meu amor, Vós mandais e me convidais a
amar-Vos: Diliges Dominum Deum Tuum (2) — “Amarás ao Senhor, teu Deus”. Não
desejo outra coisa senão amar-Vos. Já que quereis ser amado por mim, dai-me todo esse
amor que me pedis. O amor para convosco é um dom vosso, e o dom mais precioso que
podeis conferir a uma alma. Aceitai, ó meu Jesus, o amor de quem pecando, tantas vezes
Vos tem ofendido. Vós baixastes do céu para buscar as ovelhas perdidas: buscai-me, pois,
a mim, que eu não busco senão a Vós. Vós quereis a minha alma, e a minha alma não quer
senão a Vós. Vós amais a quem Vos ama, segundo a vossa palavra: Diligentes me diligo
(3) — “Eu amo a quem me ama”. Eu Vos amo, amai-me também Vós; e se me amais,
prendei-me ao vosso amor, mas prendei-me de tal maneira, que eu não possa mais
separar-me de Vós.

— Maria, minha Mãe, ajudai-me. Seja uma nova glória para vós verdes vosso Filho
amado de um miserável pecador, que em outros tempos O tem ofendido tanto.
5/3
Na Cruz acha-se a nossa Salvação
SEXTA-FEIRA

Lignum vitae est his, qui apprehenderint eam; et qui tenuerit eam, beatus – “É árvore de
vida para aqueles que lançarem mão dela; e é bem-aventurado quem a não largar” (Pv 3,
18)

Sumário. Se quisermos salvar-nos, é mister que nos resolvamos a carregar com paciência a
cruz que Deus nos manda, e a morrer nela por amor de Jesus Cristo, assim como Ele morreu
na cruz por nosso amor. É este também o meio para acharmos a paz nos sofrimentos. Quem
recusa aceitar a cruz, de ordinário aumenta-lhe o peso; ao passo que quem a abraça e
carrega com paciência, tira-lhe o peso e converte-a em consolação.
I. Na cruz acha-se a nossa salvação, a nossa força contra as tentações, o desapego dos
prazeres terrestres; na cruz, em suma, acha-se o verdadeiro amor de Deus. Mister é,
pois, que nos resolvamos a carregar com paciência a cruz que Deus nos envia e a
morrermos nela por amor de Jesus Cristo, que morreu na sua por nosso amor. Não há
outro caminho por onde se entra no céu, senão o da resignação nas tribulações até à
morte. — O meio para acharmos a paz nos próprios padecimentos é a uniformidade
com a vontade divina. Se não usarmos deste meio, dirijamo-nos aonde quisermos,
façamos quanto pudermos, não conseguiremos subtrair-nos ao peso da cruz. Ao
contrário, se a carregarmos de boa vontade, a cruz nos levará ao céu, e nos dará a paz
nesta terra.

Que é o que faz quem rejeita a cruz? Aumenta-lhe o peso. Mas quem a abraça e carrega
com paciência alivia-a e converte-a em doçura. Deus é profuso com as suas graças para
com todos aqueles que de boa vontade carregam a cruz para lhe agradarem. O
padecimento não apraz a nossa natureza; mas quando o amor divino reina num

6/3
coração, fá-lo aceitável. — Ah! Se considerássemos bem o estado de felicidade que
gozaremos no paraíso, se formos fiéis a Deus em sofrermos sem lamentos os trabalhos
da vida, de certo não nos queixaríamos de Deus quando nos envia cruzes. Antes
havíamos de lh´as agradecer, e até havíamos de pedir mais sofrimentos ainda. — Se
somos pecadores, devemo-nos consolar nas tribulações que vierem e pensar que Deus
nos castiga na vida presente; porque é isso sinal certo de que Deus quer livrar-nos do
castigo eterno. Ai do pecador que goza de prosperidade na terra! Quem tiver de sofrer
alguma grave tribulação, lance um olhar no inferno merecido e toda a pena se-lhe
afigurará leve.

II. Se quisermos ser santos, devemos transformar o nosso gosto. Enquanto não
chegarmos a achar doce o que é amargoso, e amargoso o que é doce, nunca nos
poderemos unir perfeitamente com Deus. Toda a nossa segurança e perfeição está em
sofrermos com resignação todas as contrariedades que nos vierem cada dia, e em
sofrermo-las para agrado de Deus, o que constitui o fim principal e mais nobre que
possamos ter em mira em todas as nossas obras.

Portanto, ofereçamo-nos sempre a Deus, prontos a carregar toda a cruz que nos queira
enviar. Conservemo-nos sempre preparados para sofrer por seu amor todo o trabalho, a
fim de que, quando nos venha algum, estejamos prontos a abraçá-lo. — Quando se nos
afigurar mais duro o peso da cruz, recorramos logo à oração, para que Deus nos dê
força para a carregarmos com merecimento. Avivemos então, mais do que nunca, a
nossa fé, e lancemos um olhar sobre Jesus crucificado que está agonizando na cruz por
nosso amor. Lancemos também um olhar para o céu e lembremo-nos do que diz São
Paulo, a saber, que toda a tribulação terrestre, por mais dura que seja, não está em
proporção com a glória que Deus nos prepara na vida futura (1).

Ó meu Jesus, quanto consolo me dá a vossa palavra: Convertimini ad me, et convertar ad


vos (2) — “Convertei-vos a mim, e eu me converterei a vós”. Eu Vos deixei por amor às
criaturas e às minhas míseras satisfações; mas agora que deixo tudo e me converto a Vós,
estou certo de que não me repelireis, uma vez que Vos quero amar. Recebei-me na vossa
graça e fazei-me conhecer o grande bem que sois e o amor que me tendes, a fim de que
nunca mais me aparte de Vós. Jesus meu, perdoai-me os desgostos que Vos tenho dado,
fazei que Vos ame sempre e nada mais quero. — Ó Maria, recomendai-me a vosso Filho;
Ele vos concede quanto Lhe pedis; em vós confio.

7/3
Maria Santíssima, modelo de Paciência
SÁBADO

Patientia vobis necessaria est: ut volutantem Dei facientes reportetis promissionem – “A


paciência vos é necessária, a fim de que fazendo a vontade de Deus alcanceis a promessa”
(Hb 10, 36)

Sumário. Deu-nos Deus a Santíssima Virgem como exemplar de todas as virtudes, mas
especialmente da paciência. Semelhante à rosa, ela cresceu e viveu sempre entre os espinhos
da tribulação. Se, portanto, quisermos ser filhos desta Mãe, força é que procuremos imitá-la,
abraçando com resignação as cruzes; e não somente as que nos vierem diretamente de Deus,
mas também as que vierem da parte dos homens, tais como sejam as perseguições e os
despresos.
I. Sendo esta terra um lugar de merecimentos, chama-se com razão vale de lágrimas.
Todos somos aqui postos para padecer e fazer, por meio da paciência, aquisição das
nossas almas para a vida eterna, como já disse o Senhor: In patientia possidebitis animas
vestras (1) — “Na paciência possuireis as vossas almas”. Deus nos deu a Virgem Maria para
exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Pondera entre outras
coisas São Francisco de Sales, que foi exatamente para este fim que nas bodas de Caná,
Jesus Cristo deu à Santíssima Virgem aquela resposta, com que mostrava estimar pouca
as suas súplicas: Quid mihi et tibi est, mulier? — “Que há entre mim e ti, mulher?” Foi
exatamente para nos dar o exemplo da paciência da sua Santa Mãe.

Mas que andamos excogitando? Toda a vida de Maria foi um exercício continuo de
paciência; porquanto, como o Anjo revelou a Santa Brigida, a Bem-aventurada Virgem,
semelhante à rosa, cresceu e viveu sempre entre os espinhos das tribulações. Só a
compaixão das penas do Redentor foi suficiente para fazê-la mártir de paciência, razão
porque disse São Boaventura: Crucifixa Cruxifixum concepit — “A Crucificada concebeu o
Crucificado”. — E quanto ela sofreu, tanto na viagem para o Egito e na demora ali, como
durante todo o tempo que viveu com o Filho na oficina de Nazaré, não cansemos de
apreciá-lo dignamente. Mas deixando o mais de lado, não basta por ventura só a
8/3
campanha que Maria fez a Jesus moribundo no Calvário, para fazer conhecer quão
constante e sublime foi a sua paciência? Stabat iuxta crucem Iesu Mater eius (2) — “Ao pé
da cruz de Jesus estava sua Mãe”. No dizer do B. Alberto Magno, precisamente pelo
merecimento desta sua paciência foi ela feita nossa Mãe que compadecendo com o seu
Filho nos gerou para a vida da graça: Maria facta est mater nostra, quos genuit Filio
compatiendo.

II. Se desejamos ser filhos de Maria, é preciso que procuremos imitá-la na paciência,
suportando em paz tanto as cruzes que nos vierem diretamente de Deus, isto é, a
pobresa, as desconsolações espirituais, a enfermidade e a morte; como também as que
nos vierem diretamente da parte dos homens, perseguições, despresos, injúrias e
seduções. S. Gregório explicando este trecho de Oséias: Saepiam viam tuam spinis (3) —
“Fecharei o teu caminho com espinhos”, diz que assim como a sebe de espinhos guarda a
vinha, assim Deus cerca de tribulações os seus servos, para que não se afeiçoem ao
mundo. De modo que, conclui São Cipriano, a paciência é a virtude que nos livra do
pecado e do inferno, e enriquece-nos com merecimentos na vida presente e com a glória
na outra.

— É a paciência que faz os Santos, como diz São Tiago: Patientia autem opus perfectum
habet, ut sitis perfecti et integri in nullo deficientes (4). Por esta razão, São João viu todos os
Santos com palmas (símbolo do martírio) nas mãos (5); o que significa que todos os
adultos que se salvam, devem ser mártires, ou de sangue ou de paciência. “Alegremo-nos,
pois”, exclama São Gregório: “ se sofrermos com paciência as penas desta vida, podemos ser
mártires, sem o ferro dos algozes”. Oh, quanto nos aproveitará no céu cada pena sofrida
por amor de Deus!

— Se alguma vez o peso da cruz se nos afigurar demasiadamente duro, recorramos a


Maria, que é chamada a medicina dos corações angustiados e a consoladora dos aflitos.

Ah! Senhora minha suavíssima! Padecestes inocente com tanta paciência, e eu, réu do
inferno, recusarei padecer? Minha Mãe, peço-vos hoje esta graça, não de ficar livre das
cruzes, mas de suportá-las com paciência. Por amor de Jesus vos peço, que sem tardar me
alcanceis de Deus esta graça; de vós a espero.

9/3
TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO
O testemunho de São João Batista e a Modéstia Cristã

Ego vox clamantis in deserto: Dirigite viam Domini, sicut dixit Isaias propheta – Eu sou a
voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, assim como o disse o profeta
Isaías (Jo 1, 23)

Sumario. À imitação de São João Batista, procuremos sempre, ao falar de nós mesmos ou
sobre as coisas que nos dizem respeito, abaixar-nos e nunca nos exaltarmos acima dos
outros. Quem se abaixa, nunca sairá prejudicado; mas, por pouco que alguém se exalte
acima do que é, pode causar-se grave dano. Além disso, é sabido de todos que os louvores em
boca própria não trazem honra, senão desprezo.

I. O Evangelho de hoje, como diz São Gregório, faz ressaltar bem claramente a
humildade do Batista. Muito emobra estivesse adornado de tais e tantas virtudes, que se
pudesse crer ser ele o Messias prometido, não somente recusou terminantemente esse
nome, dizendo: Non sum ego Christus – Eu não sou o Cristo; mas ainda mais, protestou não
ser digno nem sequer de desatar os cordões das sandálias do Redentor. Constrangido, pois,
a dar informações acerca de si próprio, cala a nobreza de seus pais, a dignidade
sacerdotal, e apenas faz saber o que é indispensavelmente necessário, a saber, o seu
ofício de Precursor de Jesus Cristo: Ego vox clamantis in deserto: Dirigite viam Domini – Eu
sou a voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor.

10
/4
Deves tu também praticar igual modéstia, se verdadeiramente desejas agradar a Deus e
assim preparar-te para fazer nascer o divino Menino em teu coração. Evita de dizer
qualquer palavra de louvor próprio, tanto acerca da tua conduta, dos teus talentos e
exercícios de virtudes; como acerca da tua família, enaltecendo a nobreza, as riquezas, o
parentesco. Em uma palavra, no falar do que te respeito ou de ti mesmo, procura
sempre, a imitação do Batista, abaixar-te e nunca te exaltares acima dos outros. Fale
antes o mal do que o bem; descobre antes os teus defeitos, do que as ações que talvez
tenham aparência de virtudes. Abaixando-te, nunca te prejudicarás; mas, como diz São
Bernardo, por pouco que te exaltes acima do que és na verdade, podes causar-te grande
mal. Além disso é bem conhecido o adagio comum: Louvor em boca própria é
vitupério.

Demais, melhor será que nas conversações não fales absolutamente de ti próprio, nem
para bem, nem para mal, considerando-te como pessoa tão vil, que nem sequer mereça
ser mencionada. Quantas vezes não sucede que contando coisas mesmo para a nossa
própria confusão, se insinue alguma oculta e fina soberba, e que interiormente
desejemos ser elogiados ou ao menos ser tidos por humildes e virtuosos! Se por
acaso, sem culpa tua, te louvarem, procura então haver-te assim como se houveram
os Santos e nos ensinaram. Quer dizer: lança uma vista sobre tantos defeitos teus;
confunde-te interiormente por não possuíres os méritos que te atribuem. Treme
pensando que talvez a estima dos homens não seja a maior desgraça que te pode
suceder, porquanto, pela vã complacência, te pode fazer perder todos os merecimentos
que por ventura tinhas adquirido perante Deus. Demais, pode infectar-te o coração,
fomentando-te o orgulho, e assim ser causa de tua queda e eterna condenação. Por isso
diz São Francisco de Sales, que os louvores são um veneno doce e desapercebido, que
mais de uma vez têm dado a morte à virtude e à piedade dos mais santos e piedosos. –
Sobretudo, quando perceberes que te elogiam, olha para Jesus Crucificado, que, por teu
amor, longe de buscar os louvores, preferiu ser o homem mais desprezado, ou antes o
mais abjeto, entre todos os homens: despectum et novissimum virorum (1).

Ó meu Jesus, envergonho-me de comparecer na vossa presença. Vós, embora inocente,


fostes por meu amor cumulado de ignomínias, e eu, pecador, tão avido sou de louvores e
honras! Ah, meu Deus, como me vejo desigual a Vós! Isso que faz temer pela minha
salvação eterna, visto que os predestinados Vos devem ser achados conformes. Mas não
quer perder a confiança em vossa misericórdia; Vós mesmo me deveis mudar. Amo-Vos,
Bondade infinita; arrependo-me dos desgostos que Vos tenho causado com o meu
orgulho, e proponho sofrer por vosso amor qualquer desprezo, qualquer injúria que me for
feita. <<Vós, ó Senhor, inclinai os vossos ouvidos às nossas súplicas e ilustrai as trevas do
meu espírito com a graça de vossa visita.>>(2) Dai-me força para guardar fielmente o
meu propósito. Quero sempre dizer-Vos: † Ó Jesus, manso e humilde de coração, fazei o
meu coração semelhante ao vosso.(3) Ajudai-me também vós, ó Maria, a mais humilde
de todas as criaturas. (*4)

11
/4
Jesus Menino toma sobre si todos os pecados dos
homens
SEGUNDA-FEIRA

Justificabit ipse iustus servus meus multos, et iniquitates eorum ipse portabit – O meu
servo justo justificará muitos, e tomará sobre si as iniquidades deles (Is 53, 11)

Sumário. Jesus Cristo quis não somente tomar a aparência de pecador, senão ainda
tomar sobre si todos os pecados dos homens e satisfazer por eles, como se fossem os
seus próprios. Desde criança viu em particular todos os pecados, de cada um de nós, e
aquela vista cruciou-lhe a alma muito mais, do que em seguida a crucificação e a morte
cruciaram-lhe o corpo. Eis ai a bela maneira de que recompensamos o amor de nosso
divino Salvador.

I. Considera que o Verbo divino, fazendo-se homem, não somente quis tomar a
aparência de pecador, mas ainda tomar sobre si todos os pecados dos homens e
satisfazer por eles, como se fossem os seus próprios: Iniquitates eorum portabit –
<<Tomará sobre si as iniquidades deles>>; Acrescenta Cornelio a Lapide: ac si ipse ea
perpetrasset – <<como se eles mesmo as tivesse cometido.>> – Consideremos aqui como o
Coração de Jesus Menino, já então carregado de todos os pecados do mundo, se devia
sentir oprimido e angustiado, vendo que a justiça divina exigia dele plena satisfação. Ele
conhecia bem a malícia de cada pecado, por quanto na luz da Divindade que sempre o
12
/3
acompanhava, conhecia, imensamente melhor do que todos os homens e todos os
anjos, a bondade infinita de seu Pai, e o seu infinito direito a ser respeitado e amado. E
via diante de si, como que em longas fileiras, uma multidão inumerável de pecados, a
serem cometidos por aqueles mesmos homens, pelos quais deveria padecer e morrer.

Uma vez o Senhor deixou ver a Santa Catarina de Genova a fealdade de um só pecado
venial. Foi tão grande o espanto e a dor da Santa, que caiu sem sentidos em terra. Ora,
qual não deve ter sido a aflição de Jesus Menino, quando, no mesmo instante em que
baixou à terra, viu posta diante de si a multidão imensa de todos os delitos humanos,
pelos quais deveria satisfazer! – Então viu em particular todos os pecados de cada um de
nós. Diz o Cardeal Hugo, que os algozes o fizeram padecer exteriormente, crucificando-
o; mas nós interiormente, cometendo o pecado – focerunt eum dolere extrinsecus,
crucifigendo; sed nos peccando, intrinsecus. Quer dizer que cada pecado nosso afligiu
mais a alma de Nosso Senhor Jesus Cristo, do que a crucificação e a morte lhe afligiram o
corpo. Eis ai a bela maneira de que cada um que tem lembrança de haver ofendido o
Salvador com pecados mortais, lhe recompensou o divino amor.
II. Meu amado Jesus, já que Vos tenho ofendido, sou indigno de receber graças; mas
pelos merecimentos das dores que padecestes e oferecestes a Deus, ao ver todos os
meus pecados, e em satisfazer por eles a divina justiça, concedei-me um raio da luz na
qual Vós então lhes conhecestes a malícia, e uma parte da abominação com que Vós
então os detestastes. Será, pois, verdade, ó meu amável Salvador, que eu, desde que
nascestes e em cada momento da nossa vida, tenha sido o algoz que Vos crucificaram? E
essa dor têla-ei renovado e aumentado todas as vezes que tornei a ofender-Vos? – Ó
Senhor, Vós já morrestes para me salvar; porém, para minha salvação não basta a vossa
morte, se de minha parte não deteste, mais do que qualquer outro mal, as ofensas que
Vos tenha feito, e não me arrependa delas com sincera dor. Vós mesmo deveis dar-me
essa dor, e Vós a concedeis a quem a pede. Pelos merecimentos de todas as penas que
padecestes em terra, eu Vos peço: dai-me dor de meus pecados, mas uma dor que
seja proporcionada à minha maldade. Ajudai-me, ó Senhor, a fazer o ato de
contrição que agora quero fazer.

Ó Deus eterno, supremo e infinito Bem, eu, verme miserável, tive animo de desrespeitar-
Vos e de desprezar a vossa graça. Mais do que todos os outros males, detesto e odeio as
injúrias que Vos tenho feito; delas me arrependo de todo o coração, não tanto por causa
do inferno merecido, como por ter ofendido a vossa bondade infinita. Espero, pelos
merecimentos de Jesus Cristo, obter o perdão; e com o perdão espero também obter a
graça de Vos amar. – Amo-Vos, ó Deus, digno de um amor infinito, e sempre quero dizer-
Vos: eu Vos amo, eu Vos amo, eu Vos amo. Como a vossa querida Santa Catarina de
Genova, ao contemplar-Vos crucificado, também eu, prostrado agora a vossos pés, quero
dizer-Vos: Meu Senhor, nenhum pecado mais, nenhum pecado mais. Não, Vós, ó Jesus,
não mereceis ser ofendido: mereceis somente ser amado. Redentor meu, ajudai-me. –
Maria, minha Mãe, valei-me; não vos peço outra coisa, senão que eu viva amando a Deus
na vida que ainda me resta.

13
/3
No Inferno sofre-se sempre
TERÇA-FEIRA

Aqueda dos réprobos

Cruciabuntur die ac nocte in saecula saeculorum – Serão atormentados dia e noite pelos
séculos dos séculos (Ap 20, 10)

Sumário. Consideremos que o inferno é um cárcere tristíssimo, no qual se sofrem todas as


penas, e todas elas eternamente. De sorte que passarão cem mil séculos, passarão cem
milhões, e o inferno estará ainda no seu princípio. Ora, esse inferno nos está também
preparado, se não nos aplicarmos ao serviço de Deus, se o ofendermos pelo pecado. Quantos
dentre os que, como nós, meditaram nesse horroroso cárcere, estão agora nele queimando
para sempre!

I. Considera que o inferno não tem fim; sofrem-se nele todas as penas, e todas elas
eternamente. De sorte que passarão cem anos de sofrimentos, passarão mil, e o inferno
terá apenas começado. Passarão cem mil, cem milhões, mil milhões de anos e de
séculos, e o inferno estará ainda no seu princípio. – Se um anjo fosse nesta hora dizer a
um reprobo que Deus o quer livrar do inferno, mas quando? Quando tiverem passado
tantos milhões de séculos quantas são as gotas de água, as folhas das árvores, e os
grãos de areia que existem no oceano e na terra, vós havereis de ficar pasmos; mas a
verdade é que aquele reprobo sentiria mais alegria com tal notícia do que vós se vos
dessem a notícia de haverdes sido eleito rei de um grande reino. Sim, porque o reprobo
diria consigo: É verdade que devem passar tantos séculos, mas chegará o dia em que
14
/3
terminarão. Porém, os séculos hão de passar, e o inferno estará no seu princípio; suceder-se-á
tantas vezes igual número de séculos, quantos são os grãos de areia, as gotas de água, as
folhas das árvores, e ainda o inferno estará no seu princípio. – Cada reprobo de boa vontade
proporia a Deus esta condição: Senhor, aumentai as minhas penas tanto quanto vos
aprouver; prolongai-as tanto quanto for da vossa vontade, mas ponde-lhe um termo
qualquer dia e ficarei contente. Mas não, esse fim nunca chegará.

Se o pobre reprobo pudesse ao menos iludir-se e consolar-se dizendo: Quem sabe?


Talvez um dia Deus se apiede de mim e me livre do inferno! Mas não, o desgraçado reprobo
terá incessantemente diante da vista a sentença de sua condenação eterna, e dirá: Todas
as penas que agora estou sofrendo, o fogo, os lamentos, nunca mais terão fim? Nunca! E
quanto tempo durarão? Sempre, sempre! Ó nunca! Ó sempre! Ó eternidade! Ó inferno!
Como? Os homens o creem, e pecam e continuam a viver no pecado?

II. Irmão meu, põe sentido; lembra-te de que o inferno é também para ti, se cometeres
o pecado. Já está ardendo essa fornalha horrorosa debaixo de seus pés, e no momento
em que estás lendo isto, quantas almas caem nela! Lembra-te que, se uma vez
caíres ali, nunca mais poderás sair. – Se alguma vez mereceste o inferno, dá graças a
Deus por não te ter lançado nele. Procura o mais depressa possível reparar o mal feito,
chora os teus pecados e emprega os meios mais aptos para a tua salvação. Confessa-te
quanto antes, lê cada dia um pouco em um ou outro livro espiritual; pratica a
devoção a Maria Santíssima recitando cada dia o Terço e jejuando cada sábado:
resiste às tentações, chamando logo por Jesus e Maria: foge das ocasiões do
pecado, e se Deus te chamar para deixares o mundo, faze-o, obedece. Tudo quanto
se fizer para livrar-se de uma eternidade de penas, é pouco, é nada: Nulla nimia securitas,
ubi periclitatur aeternitas(1) – Quantos eremitas foram viver em grutas nos desertos,
afim de fugir do inferno! E tu, o que fazes depois de teres merecido tantas vezes o
inferno? Que fazes? Que fazes? Vê que te condenas. Entrega-te a Deus e dize-lhe:

Eis-me aqui, ó Senhor meu: quero fazer tudo quanto me pedirdes. Graças Vos dou por me
terdes suportado até hoje com tanta paciência; agradeço-Vos as luzes que agora me
destes, fazendo-me ver a minha insensatez, e o mal que fiz ultrajando-Vos com tão
numerosos pecados. Ah! Jesus, doce Salvador meu, detesto-os e arrependo-me de toda a
minha alma. Amo-Vos sobre todas as coisas. Vós não me condenastes ao inferno, afim de
que eu comece a amar-Vos. Sim, quero amar-Vos, e quero amar-Vos muito. Dai-me a
força para compensar com o meu amor os desgostos que Vos tenho dado. † Doce
Coração de Maria, sede minha Salvação (2)

15
/3
Jesus, fonte de graças
QUARTA-FEIRA

Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris – Tirareis com alegria águas das fontes do
Salvador.

Sumário. Consideremos as quatro fontes de graças que possuímos em Jesus Cristo. Ele é uma
fonte de misericórdia, na qual nos podemos limpar de nossas imundices; uma fonte de paz,
que nos dá pleno contentamento; uma fonte de devoção, que nos faz prontos, na obediência
à voz divina; afinal, uma fonte de amor, que nos abrasa no fogo de amor divino.
Aproximemo-nos com confiança, e vamos frequentemente apagar a nossa sede nessas fontes
inesgotáveis.

I. Considera as quatro fontes de graça que possuímos em Jesus Cristo, segundo a


contemplação de São Bernardo. A primeira fonte é a de Misericordia, na qual nos
podemos limpar de todas as imundices dos nossos pecados. O Redentor fez-nos manar
esta fonte com as suas lágrimas e o seu sangue: Dilexit nos et lavit nos a peccatis nostris in
sanguine suo – Ele nos amou e nos lavou de nossos pecados em seu sangue.

A segunda fonte é de Paz e de consolação em nossas tribulações. Invoca-me, diz o


Senhor, no dia da tribulação, e eu te consolarei. – Invoca me in die tribulationis, eruam te (2).
Quem tem sede das verdadeiras consolações, também nesta terra, venha a mim e eu o
saciarei – Si quis sitit, veniat ad me (3). Quem prova a água de meu amor, aborrecerá para
sempre todas as delícias do mundo. Qui autem biberit ex aqua, quam ego dabo ei, non
sitiet in aeternum (4) – O que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede. E ficará
plenamente satisfeito, quando entrar no reino dos Bem-aventurados, porquanto a água
da minha graça o fará subir da terra ao céu: Fiet in eo fons aquae salientis in vitam
aeternam (5) – Virá a ser nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna. A paz que

2/4
Deus dá as almas que o amam, não é como a paz que o mundo promete nos prazeres
sensuais, que deixam atrás de si mais amargura da alma do que paz. A paz que Deus dá,
leva vantagem a todos os gozos dos sentidos. Bem-aventurados, pois, aqueles que
suspiram por esta fonte divina: Beati qui esuriunt et sitiunt institiam (6) – Bem-aventurados
os que tem fome e sede da justiça.

A terceira fonte é de Devoção. Oh! Como se torna devoto e diligente em obedecer à


voz divina, e como vai sempre crescendo em virtude, aquele com frequência medita em
tudo o que Jesus Cristo tem feito por nosso amor! Será como a árvore plantada junto às
correntes das águas: Erit tanquam lignum, quod plantatum est secus decursus aquarum (7).
II. Enfim, Jesus Cristo é fonte de amor. In meditatione mea exardescet ignis (8) – Na
minha meditação se abrasará o fogo. Não é possível que o que medita nos sofrimentos e
nas ignomínias que Jesus padeceu por nosso amor, não seja abrasado no fogo sagrado,
que ele veio acender na terra. E assim se verifica inteiramente, que o que se aproveita
das fontes benditas, que possuímos em Jesus Cristo, tirará com gosto águas das fontes
do Salvador: Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris (9).

Ó meu doce e amado Salvador, quanto Vos devo! Como me constrangestes a amar-Vos!
Vós fizestes por mim o que nunca um filho teria feito por seu pai, nem um criado por seu
senhor. Se, pois, me haveis amado mais que qualquer outro, é justo que Vos ame sobre
todos os outros. Quisera morrer de dor, pensando que tanto padecestes por mim, e que
chegastes a aceitar por meu amor a morte mais dolorosa e ignominiosa que um homem
pode padecer, ao passo que eu tantas vezes tenho desprezado a vossa amizade. Quantas
vezes Vós me haveis perdoado e eu Vos tornei a desprezar! Mas os vossos merecimentos
são a minha esperança. Agora estimo a vossa graça, mais do que todos os reinos do
universo. Amo-Vos e por vosso amor aceito qualquer pena, qualquer morte. Se não sou
digno de morrer pela mão do algoz para defender vossa glória, aceito ao menos de boa
vontade aquela morte que me tenhais destinado; aceito-a do modo e no tempo que tenhais
marcado. – Minha Mãe, Maria, impetrai-me a graça de viver e de morrer no amor de
Jesus.

3/4
Jesus atribulado durante toda a sua vida

QUINTA-FEIRA

Cristo, Homem das Dores (Carlo Dolci)

Pauper sum ego, et in laboribus a iuventute mea – Eu sou pobre e vivo em trabalhos
desde a minha mocidade (Sl 87, 16)

Sumário. Jamais alguém amou Deus e a própria alma como Jesus ama seu Pai e as nossas
almas. Por isso é que Jesus, vendo desde o seio de Maria todos os pecados em particular e
conhecendo tanto a injúria por eles feita ao Pai, como os males que deles deviam provir para
as nossas almas, sofreu durante toda a sua vida, o martírio mais doloroso. Mas se Jesus se
afligiu a tal ponto por pecados que não eram seus próprios, é mais do que justo que nós
também nos aflijamos, que os havemos cometido.

I. Considera que todas as penas e ignomínias que Jesus sofreu em sua vida e na morte,
Lhe eram presentes desde o primeiro instante da sua vida: Dolor meus in conspectu meo
semper (1) — A minha dor está sempre diante de mim. Desde o berço Jesus começou a
oferecer todas essas penas em satisfação por nossos pecados, principiando desde então
a ser nosso Redentor. Ele mesmo revelou a um seu servidor, que desde o começo de sua
vida até à morte sofreu, e sofreu tanto por qualquer um dos nossos pecados, que, se
houvera tido tantas vidas quantos homens existem, teria morrido de dor igual número
de vezes, se Deus não lhe tivesse conservado a vida para sofrer ainda mais. Oh! Que
martírio padeceu incessantemente o Coração amante de Jesus pela vista de todos os
4/4
pecados dos homens! Ad quamlibet culpam singularem habuit aspectum, diz São
Bernardino (2). Sim, desde que Jesus desceu ao seio de Maria, cada pecado em particular
era-Lhe presente, e cada pecado afligia-O imensamente. Diz Santo Tomás, que a
dor causada a Jesus Cristo pelo conhecimento da injúria feita ao Pai e dos males que do
pecado resultariam para as almas tão amadas, excedeu a dor de todos os pecadores
contritos. — Com efeito, nunca um pecador amou Deus e a sua alma como Jesus ama seu Pai
e as nossas almas. Daí é que o Redentor sofreu, desde o seio de sua Mãe, a agonia que
depois padeceu no horto à vista de todas as nossas culpas que tomara sobre si a fim de
satisfazer por elas. Pauper sum ego, et in laboribus a iuventute mea (3) — Eu sou pobre e vivo em
trabalhos desde a minha mocidade. Assim predisse o Salvador de si mesmo pela boca de
Davi, que toda a sua vida seria um padecimento contínuo. — Donde São João Crisóstomo
conclui que nós não nos devemos afligir por outra coisa senão pelo pecado; e que, assim
como Jesus passou toda a sua vida em aflição por causa dos nossos pecados, assim nós, que
os havemos cometido, devemos estar possuídos de uma contínua dor, pela lembrança de
termos ofendido um Deus que nos amou tanto.
II. Santa Margarida de Cortona nunca deixou de chorar as suas culpas. Certo dia disse-
lhe o confessor: “Margarida, deixa-te de chorar; o Senhor já te perdoou.” — “Como”,
respondeu a Santa, “como poderei dar-me por satisfeita com as lágrimas derramadas e
com a dor daqueles pecados que afligiram o meu Jesus Cristo durante a sua vida toda?”
— Imitemos esta Santa pecadora, e pensando muitas vezes nos nossos pecados,
digamos frequentemente ao Senhor:

Ó meu Jesus, eis aqui a vossos pés o ingrato, o perseguidor, que Vos fez sofrer durante
toda a vossa vida. Mas dir-Vos-ei com Isaías: Tu autem eruisti animam meam, ut non
periret: proiecisti post tergum tuum omnia peccata mea (4) — Tu livraste a minha alma
para que não pereça, lançaste atrás das tuas costas todos os meus pecados. Eu Vos
ofendi e Vos traspassei o Coração com tantos pecados, mas Vós não recusastes tomar
sobre Vós todas as minhas culpas. Eu por minha livre vontade tenho condenado a minha
alma a arder no inferno, cada vez que consenti em ofender-Vos gravemente, e Vós, como
preço de vosso sangue, não Vos cansastes de livrá-la e de fazer que não ficasse perdida.
Meu amado Redentor, graças Vos dou e quisera morrer de dor ao pensar que tenho
ofendido tão gravemente a vossa bondade infinita.

Ó meu amor, perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Dissestes que não
Vos dedignais de entrar no coração de quem Vos abre a porta, e de fazer-lhe companhia:
Si quis aperuerit mihi ianuam, intrabo ad illum, coenabo cum illo (5). Se em outros
tempos Vos repulsei de mim, agora Vos amo e não quero outra coisa senão a vossa graça.
Eis que Vos abro a porta, entrai em meu pobre coração, mas entrai para nunca mais sair
dele. Meu coração é pobre, mas entrando nele Vós o fareis rico. Serei rico enquanto Vos
possuir, o supremo Bem. — Ó Rainha do céu, Mãe aflita desse aflito Filho, a vós também
causei dores amargosas, porquanto tivestes tão grande parte nos sofrimentos de Jesus.
Minha Mãe, perdoai-me e alcançai-me a graça de servir fielmente, agora que, como
espero, Jesus de novo entrou em minha alma.

5/4
Novena de Natal 1º Dia

Jesus Menino consente em ser nosso Redentor

Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea usqye ad extremum terrae – Eu te estabeleci
para luz das gentes, afim de levares a minha salvação até à última extremidade da terra (Is
49, 6)

Sumário. Muitos cristãos costumam neste tempo armar um presépio como representação do
Nascimento de Jesus Cristo; mas bem poucos lembram de preparar, com atos de amor, o seu
coração afim de que o divino Menino nele possa repousar. Do número destes também nós
queremos ser. Por isso, afim de excitar-nos, desde o primeiro dia da Novena, a pagar com
nosso amor o amor de Jesus Cristo, consideremos o amor que nos mostrou, incumbindo-se,
desde o primeiro instante da sua conceição, de satisfazer por nós à divina justiça.

Considera como o Pai Eterno disse a Jesus Menino, no instante da sua Encarnação, estas
palavras: Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea (1) – Eu te estabeleci para luz das gentes,
afim de salvá-las. Meu Filho, eu te dei ao mundo para luz e vida das nações, afim de que
lhes alcances a salvação, que eu estimo tanto como se fosse a minha própria. Mister é,
pois, que te consumas todo inteiro, para o bem dos homens – Totus illi datus, totus in suos
usus impenderis (2). Mister é que desde o nascer sofras extrema pobreza, afim de que o
homem se faça rico. Mister é que sejas vendido como um escravo, para impetrares ao

6/4
homem a sua liberdade; que, como um escravo, sejas açoitado e crucificado, afim
de pagares à minha justiça o que o homem lhe deve; mister é que dês o teu sangue e a tua
vida, afim de livrares o homem da morte eterna. Em uma palavra, sabe que não te
pertences mais a ti mesmo, senão aos homens. Assim, meu dileto Filho, o homem
render-se-á ao meu amor; será todo meu, vendo que eu lhe dei o meu Unigênito,
sem reserva alguma, e que nada mais me resta para lhe dar. Sic Deus dilexit mundum, ut
Filium suum unigenitum daret (3) Ó amor infinito, digno unicamente de um Deus infinito!

A semelhante proposta Jesus Menino não se entristece; antes, nela se compraz, aceita-a
com amor e exulta: Exultavit ul gigas ad currendam viam (4) – Deu passos como gigante para
correr o caminho. Desde o primeiro instante da sua Encarnação, Jesus se dá todo ao
homem, e abraça com alegria todas as dores e ignomínias que na terra teria de sofrer
pro amor dos homens.

Pondera aqui o Pai celestial, mandando seu Filho para ser nosso Redentor e medianeiro
entre Deus e os homens, se obrigou, por assim dizer, a perdoar-nos e a amar-nos, visto
que prometeu receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satisfizesse por nós à
Justiça Divina. Por outra parte o Verbo Divino, tendo aceitado a incumbência do Pai, que
no-lo deu enviando-o para nossa redenção, obrigou-se também a amar-nos, não em
vista de nossos merecimentos, mas para obedecer à vontade misericordiosa do Pai.

I. Meu amado Jesus, se é verdade, conforme reza a lei, que a doação faz adquirir o
domínio, Vós sois meu, visto que vosso Pai Vos deu a mim; por mim é que nascestes, a
mim é que fostes dado. Posso dizer, pois, com verdade: Iesus meus et omnia – Meu Jesus e
meu tudo! Já que sois meu, é meu também tudo quanto é vosso. Assim m’o garante o
vosso Apóstolo: Quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit? (5) – Como não nos deu
também com ele todas as coisas? É meu o vosso sangue, são, meus os vossos
merecimentos, são minhas as vossas graças, é meu o vosso paraíso. Se sois meu, quem
jamais poderá separar-me de Vós? Assim dizia jubiloso Santo Antão Abade. Assim
também quero dizer para o futuro. Somente por culpa minha posso perder-Vos e
separar-me de Vós. Mas, ó meu Jesus, se antigamente Vos deixei e perdi, agora pesa-me
de toda a minha alma e estou resolvido a antes perder a vida e tudo, do que a perder-
Vos, ó Bem infinito e único Amor da minha alma.
Graças Vos dou, Pai Eterno, por me haverdes dado vosso Filho, me dou todo a Vós. Por
amor desse mesmo Filho, aceita-me e prendei-me com laços de amor ao meu Redentor;
mas prendei-me de tal maneira que eu também possa dizer: Quis me separabit a caritate
Christi? (6) – Quem me separará do amor de Cristo? Que bem terrestre será ainda capaz
de separar-me do meu Jesus? E Vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que eu
também sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo o que é meu, como quiserdes. Será
possível que eu recuse alguma coisa a um Deus que não me recusou seu sangue e sua
vida? Maria, minha Mãe, guardai-me debaixo da vossa proteção. Não quero mais ser
meu, quero ser todo do meu Senhor. Cuidai em fazer-me fiel; em vós confio.

7/4
Novena de Natal 2º Dia
Tristeza do Coração de Jesus no seio da Virgem Maria

Hostiam el obationem noluisti, corpus autem aptasti mihi – Não quiseste hóstia nem
oblação, porém me formaste um corpo (Hb 10,5)

Sumário. Tudo quanto Jesus Cristo padeceu no correr da sua vida, foi-lhe posto diante dos
olhos quando ainda se achava no seio de sua Mãe; e Jesus aceitou tudo por nosso amor.
Porém, naquela aceitação e na repressão da repugnância natural, ó Deus, que aflição devia
experimentar o seu Coração! Se Jesus, embora inocente, desde princípio da vida começou a
sofrer por nós, não é justo que nós, que somos pecadores, padeçamos alguma coisa por seu
amor e em desconto dos nossos pecados?

I. Considera a grande amargura de que o coração de Jesus Menino devia sentir-se


atormentado e oprimido no seio de Maria, quando no primeiro instante da encarnação o
Pai Eterno lhe mostrou toda a série de desprezos, de dores e de angústias que no correr
da sua vida deveria sofrer, afim de livrar os homens do seu estado de miséria – Eis o que
ele falou pela boca do profeta Isaías: Mane erigit mihi aurem – Pela manhã (o Senhor)
levantar-me o ouvido. Isto é: no primeiro instante da minha encarnação, meu Pai me fez
conhecer a sua vontade, que eu levasse uma vida de sofrimentos para ser finalmente
sacrificado na cruz. Ego autem non contradico; corpus meum dedi percutientibus (1) – Eu não
contradigo; entreguei o meu corpo aos que me feriam. Ó almas, aceitei tudo pela vossa
salvação e desde então entreguei o meu corpo para receber os açoites, os pregos e a
morte.

Pondera que tudo o que Jesus Cristo sofreu no correr da sua vida e em sua Paixão, foi-
lhe posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de sua Mãe. Jesus aceitou
tudo com amor. Mas naquela aceitação, e na repressão de sua repugnância natural, ó
Deus, que angústias e que aflição não devia experimentar o Coração inocente de Jesus!
Desde então compreenderia bem quanto teria de sofrer, primeiro nascendo numa gruta
fria, pousada de animais; em seguida, tendo de morar trinta anos desconhecido na loja
de um simples oficial. Já então viu que os homens haviam de tratá-lo de ignorante, de
escravo, de sedutor, de réu de morte, digno da mais infamante e dolorosa morte
destinada aos celerados. Tudo isso o nosso amante Redentor aceitou-o cada instante,
mas cada vez que renovava a aceitação, tornava a sofrer juntas todas as penas e todas
as humilhações que depois deveria sofrer até a morte. E para que? Para salvar-nos da
morte eterna, a nós, miseráveis pecadores.

1/3
II. Ó meu amado Redentor, quanto Vos
custou, desde a vossa primeira entrada
neste mundo, tirar-me da miséria que
tinha atraído sobre mim pelos meus
pecados! Para me livrardes da
escravidão do demônio, a quem de livre
vontade me tinha vendido, Vós
sujeitastes a ser tratado como o mais vil
de todos os escravos. E eu, sabedor
disso, tive ânimo de amargurar tantas
vezes o vosso amabilíssimo Coração,
que tanto me amou! Mas, já que Vós,
que sois inocente e sois o meu Deus,
aceitastes por meu amor uma vida e uma
morte tão penosas, aceito, por vosso
amor, ó Jesus meu, toda a pena que me
vier das vossas mãos. Aceito-a e abraço-
a por vir daquelas mãos que um dia
foram transpassadas, afim de livrar-me
do inferno tantas vezes merecido pelos
meus pecados. Ó meu Redentor, o amor
que mostrastes em oferecer-Vos a sofrer
tanto por mim, constrange-me demais a
aceitar por vosso amor toda a pena, todo
o desprezo. Ó meu Senhor, pelos vossos
merecimentos dai-me o vosso santo Jesus ainda no seio da Virgem Maria
amor; este tornar-me-á suaves e amáveis
todas as dores e todas as ignomínias. Amo-Vos sobre todas as coisas, amo-Vos de todo o
meu coração, amo-Vos mais que a mim mesmo.

Durante toda a vossa vida me tendes dado provas demasiadamente grandes do vosso afeto
para comigo. Eu, ingrato, já tenho vivido tantos anos nesta terra e quais são as provas de
amor que Vos mostrei? Fazei, ó meu Deus, que ao menos nos anos de vida que me
restam, Vos dê alguma prova de meu amor. Não tenho coragem de comparecer na vossa
presença, quando vierdes a julgar-me, tão pobre como agora me acho, sem ter feito
alguma coisa por vosso amor. Mas, que posso fazer sem a vossa graça? Nada senão pedir-
Vos que me socorrais, e este mesmo pedido ainda é uma graça da vossa parte. Jesus meu,
socorrei-me pelos merecimentos de vossas penas e do sangue que por mim derramastes.

Maria Santíssima, recomendai-me a vosso Filho, peço-o pelo amor que lhe tendes.
Lembrai-vos que sou uma daquelas ovelhas pelas quais vosso Filho morreu.

2/3
Novena de Natal 3º Dia

Expectação do Parto da Virgem Maria


Exspectabimus eum et savabit nos – Esperaremos por ele, e ele nos salvará (Is 25, 9)

Sumário. Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que em
comparação com ele os suspiros mais ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios.
Todavia Jesus não quis antecipar seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar
oculto no seio materno em recolhimento e em preparação de sua entrada no mundo. Oh! Que
bela lição para nós, se a soubermos aproveitar.

I. Muito embora a divina Mãe


reconhecesse perfeitamente a
grande honra que lhe advinha por
trazer um Deus no seu seio, e os
grandes tesouros de graças que ia
merecendo, dando abrigo a seu
Senhor, todavia foram tão grandes
e tão veementes os seus desejos
de ver o Salvador nascido, que em
comparação deles pareciam frios
os ardentes desejos dos Patriarcas
e dos Profetas, que durante quatro
mil anos fizeram violência ao céu
dizendo: Mitte quem missurus es (1)
– Envia aquele que deves enviar.
Esses desejos nasciam na
Santíssima Virgem de um amor duplo.
Em primeiro lugar amava com terníssimo
afeto o seu divino Filho, e por isso
desejava dar à luz para vê-lo, abraçá-lo e
provar-lhe seu amor prestando-lhe toda
sorte de serviços. Demais, o coração da
Virgem estava possuído de amor ardente
para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo inumano de que os homens
haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu
Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas
que ele queria comunicar a nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus!
Por piedade dai-m’o também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente de
vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração.
Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao
próximo.

3/3
II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de
Maria ansiava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Redenção do
gênero humano e cumprir a sua missão conforme à vontade de seu Pai celestial. Parece,
por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando de sua
Paixão, disse aos discípulos: Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o
batismo de sangue com que devo ser batizado. – Mas, apesar disso, não quis nascer
antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais.

Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento e preparação para a sua futura
entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e
contemplação. – Desta sorte quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para o
recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos em silêncio e
recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e
entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o
divino Salvador nos dá desde de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarcas, de São
José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica.

O Adonai… veni ad redimendum nos in brachio extento (2) – Ó Adonai, Deus, vinde para
nos remir pelo poder de vosso braço. Ó Deus, protetor fortíssimo e guia fiel de vosso
povo, vinde remir o gênero humano com o vosso supremo poder! Vinde livrai-nos de
tantas misérias nossas e subjugar com o vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas,
que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas. “E Vós, ó Pai Eterno, que
quisestes mediante a embaixada do Anjo, que o vosso Verbo tomasse carne no seio da
Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus,
possamos, pela sua intercessão, obter o vosso auxílio. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus
Cristo (3).

4/3
Novena de Natal 4º Dia

A Paixão de Jesus Cristo durou todo o tempo da sua vida

Dolor meus in cospectu meo semper – A minha dor está sempre diante de mim (Sl 37,18)

Sumário. Desde o instante em que foi criada a alma de Jesus Cristo e unida com seu
pequenino corpo, viu diante de si todos os padecimentos que teria de sofrer para a redenção
dos homens. Por isso Jesus começou desde o primeiro instante da sua vida a sofrer por nosso
amor a tristeza mortal que depois padeceu no horto de Getsemani. E como temos nós
correspondido a tão grande amor? Talvez com frieza e ingratidão.

I. Considera como, no mesmo instante em que foi criada a alma de Jesus e unida com
seu pequenino corpo no seio de Maria, o Pai Eterno manifestou a seu Filho a sua
vontade que morresse para a redenção do mundo. No mesmo tempo pôs-lhe diante dos
olhos a vista triste de todos os sofrimentos que deveria sofrer até à morte afim de
remir o gênero humano. Mostrou-lhe então todos os trabalhos, desprezos e
pobreza que deveria suportar em toda a sua vida, tanto em Belém como no Egito
e em Nazaré. Mostrou-lhe em seguida todas as dores e ignomínias de sua Paixão: os
açoites, os espinhos, os cravos e a cruz; todos os desgostos, tristezas, agonias e
abandono em que havia de terminar a sua vida no Calvário. Quando Abraão levava seu
filho à morte, não quis contristá-lo comunicando-lhe a sorte com antecedência, nem no
pouco de tempo de que precisavam para chegarem ao monte. Mas o Pai Eterno quis que seu
Filho encarnado, destinado a ser vítima da divina justiça pelos nossos pecados, sofresse já
então todas as penas, às quais depois deveria submeter-se na vida e na morte – Por esta
razão, desde o instante em que baixou ao seio de sua Mãe, Jesus sofreu sem interrupção a
tristeza que o acabrunhou no horto, e que era suficiente para tirar-lhe a vida, assim
como ele mesmo disse: Tristis est anima mea usque ad mortem (1) – A minha alma está triste até
à morte. De sorte que desde então ele sentiu vivamente e sofreu o peso todo de todos
5/3
os tormentos e opróbrios que o esperavam.

Toda a vida, portanto, e todos os anos do Redentor foram vida e anos de dores e de
lágrimas: Defecit in dolore vita mea, et anni mei in gemitibus (2) – A minha vida tem
desfalecido com a dor, e os meus anos com os gemidos. O seu divino Coração não teve um
instante livre de padecimento. – Quer vigiasse, quer dormisse, sempre tinha diante dos
olhos aquela triste representação que lhe atormentou mais a santíssima por todos os
seus suplícios. Os mártires padeceram, mas, ajudados com a graça, padeceram com
alegria e ardor: Jesus, ao contrário, padeceu sempre com o Coração cheio de desgosto e
tristeza, e aceitou tudo por nosso amor.

II. Ó doce, ó amável, ó amante Coração de Jesus! É, pois, verdade que desde menino
estivestes repleto de amargura, e que no seio de Maria padecestes um agonia sem
consolação, sem testemunha, sem ao menos ter quem Vos aliviasse e de Vós se
compadecesse. Tudo isso, ó meu Jesus, sofrestes afim de satisfazer pelas penas eternas
e pela agonia sem fim que deviam ser a minha sorte no inferno por causa dos meus
pecados. Padecestes privado de todo alívio, afim de me salvar a mim que tive a audácia
de abandonar o meu Deus e de virar-lhe as costas para satisfazer a meus miseráveis
apetites. Graças Vos dou e compadeço-me de Vós, mormente por ver que, ao passo que
Vós padecestes tanto por amor dos homens, estes nem sequer de Vós se compadecem.
Ó amor de Deus! Ó ingratidão dos homens! – Ó homens, ó homens, vede esse
Cordeirinho inocente que está em agonia por Vós, para dar à divina justiça satisfação
pelas injúrias que Vós lhe tendes feito. Vede como ele está orando e intercedendo por
Vós junto do Eterno Pai: contemplai-o e amai-o.

Ah, meu redentor, quão pouco são os que pensam nas vossas dores e no vosso amor! Ó
Deus! Quão poucos são os que Vos amam! Mas ai de mim! Eu também tenho vivido
muitos anos esquecido de Vós! Vós tanto padecestes para ser de mim amado, e não Vos
amei. Perdoai-me, ó Jesus meu, perdoai-me; quero emendar-me e amar-Vos. Desgraçado
de mim, Senhor, se ainda resistisse à vossa graça, e com a minha resistência me
condenasse! As grandes misericórdias de que tendes usado comigo, e especialmente a
vossa doce voz que agora me chama ao vosso amor, seriam o meu maior castigo no
inferno. Meu amado Jesus, tende piedade de mim, não permitais que para o futuro eu viva
ingrato ao vosso amor. Dai-me luz e dai-me força para vencer tudo afim de cumprir a
vossa santa vontade. Atendei-me, Vo-lo peço, pelos merecimentos de vossa Paixão. É
nesta que confio, bem como na vossa intercessão, ó Maria.

Minha querida Mãe, socorrei-me; vós me impetrastes todas as graças que tenho recebido
de Deus; eu vo-lo agradeço; mas se não continuardes a socorrer-me, eu continuarei a ser
infiel, assim como o tenho sido nos anos passados.

6/3
Novena de Natal 5º Dia

Jesus Menino se oferece à justiça divina como nossa vítima


Oblatus est, quia ipse voluit – Ele foi oferecido, porque ele mesmo quis (Is 53, 7)

Sumário. Todos os sacrifícios oferecidos a Deus no correr de quarenta séculos, não foram
bastante eficazes para remir o homem. Por isso, o Verbo divino, apenas feito homem,
ofereceu-se a si mesmo para vítima da divina justiça, e por nosso amor aceitou a morte com
todos os padecimentos que a deviam acompanhar. Fê-lo o divino Menino logo na sua
primeira entrada no mundo. E nós, já chegados ao uso da razão, que temos feito por seu
amor? Talvez que desde então tenhamos começado a ofendê-lo.

I. O Verbo divino, no primeiro instante em


que se fez homem e criança, no seio de
Maria, ofereceu-se a si mesmo, sem
reserva, aos sofrimentos e à morte, para o
resgate do mundo. Sabia que todos os
sacrifícios de ovelhas e de bois, oferecidos
antigamente a Deus, não puderam
resgatar as culpas dos homens. Era
preciso que uma pessoa divina pagasse
em lugar dos homens o preço do resgate.
Por isso disse ele, conforme nos ensina o
Apóstolo: Hostiam et oblationem noluisti (1)
– Não quiseste hóstia nem oblação. Meu Pai,
todas as vítimas que Vos foram oferecidas
até hoje, não foram suficientes, nem
puderam sê-lo, para satisfazer à vossa
justiça. Vós me preparastes este corpo
passível, afim de que eu possa aplacar-Vos e
salvar os homens com o preço do meu
sangue. Ecce venio – eis que venho. Eis-me aqui disposto a aceitar tudo e a submeter-me
inteiramente à vossa vontade. – Relutava a parte inferior da alma que naturalmente
tinha horror de uma vida e morte tão cheias de padecimentos e de opróbrios. Mas
venceu a parte racional da alma, que, inteiramente submissa à vontade do Pai, aceitou
tudo, de sorte que desde aquele instante Jesus começou a padecer todas as angústias e
dores que devia sofrer nos anos da sua vida terrestre.

Foi assim que se houve Jesus desde a sua primeira entrada no mundo. Mas, ó Deus, como
é que nos temos havido nós para com Jesus, desde que, chegados ao uso da razão,
começamos a conhecer pela luz da fé os sagrados mistérios de nossa Redenção? Quais
são os pensamentos, os projetos, os bens que foram objeto do nosso amor? Prazeres,
passeios, desejos de grandeza, vinganças, sensualidades; eis os bens que nos prenderam
7/3
o afeto do coração. Mas se ainda temos fé, é mister que mudemos afinal a nossa vida e
os nossos afetos. Amemos um Deus que tanto tem padecido por nós.

Ó meu Senhor, quereis que Vos diga como me tenho havido para convosco durante a
minha vida? Desde o despontar da razão comecei a desprezar a vossa graça e o vosso
amor. Mas Vós o sabeis melhor do que eu mesmo; não obstante suportastes-me, porque
ainda me quereis bem. Eu andava fugindo de Vós, e Vós viestes à minha procura
chamando-me. Foi esse mesmo amor que Vos fez baixar do céu, afim de buscar as
ovelhas perdidas, que Vos fez suportar-me e não me abandonar. Meu Jesus, agora Vós me
buscais e eu Vos busco. Sinto que a vossa graça me auxilia; auxilia-me com o
arrependimento de meus pecados, que detesto mais que qualquer outro mal; auxilia-me
inspirando-me um grande desejo de Vos amar e dar-Vos gosto. Sim, meu Senhor, quero
amar-Vos e agradar-Vos quanto puder.

Mas o que me faz temer, é a minha fraqueza e insuficiência, consequência dos meus
pecados. Maior todavia é a confiança que a vossa graça me inspira fazendo-me colocar a
minha esperança nos vossos merecimentos, e dizer com toda a segurança: Omnia possum
in eo qui me confortat (2) – Tudo posso naquele que me conforta. Se sou fraco, Vós me
dareis força contra os inimigos; se sou enfermo, espero que o vosso sangue será o meu
remédio; se sou pecador, espero que me fareis santo. Reconheço que outrora tenho
cooperado para a minha perdição, porque nos perigos deixei de recorrer a Vós. Para o
futuro, meu Jesus e minha Esperança, quero sempre recorrer a Vós e de Vós espero todo o
auxílio, todo o bem. Amo-Vos sobre todas as cosias e não quero amar senão a Vós.
Ajudai-me, Vo-lo suplico, pelo merecimento de tantos sofrimentos que desde menino
suportastes por mim. Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, permiti que Vos ame. Se Vos
tenho desprezado, abrandem-Vos as lágrimas de Jesus Menino que Vos roga por mim.
Respice in faciem Christi tui (3) – Põe os olhos no rosto de teu Christo. Eu não mereço as
graças, mas merece-as esse Filho inocente que Vos oferece uma vida de dores, afim de
que useis de misericórdia comigo.

E vós, ó Mãe de misericórdia, Maria, não deixeis de interceder por mim. Sabeis quanto
confio em vós, e bem sei que não desamparais quem recorre a vós.

8/3
Novena de Natal 6º Dia

Dor de Jesus Menino pela previsão da ingratidão dos


homens

In propria venit, et sui eum non recepernunt – Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam (Jo 1, 11)

Sumário. A ingratidão desagrada aos homens. Qual deve, pois, ter sido a tristeza de Jesus
Menino, ao prever que os seus benefícios seriam pagos pelo mundo com injúrias, traições e
tormentos! Mas ai de nós, que por ventura também até hoje temos respondido aos benefícios
do Senhor de um modo tão desumano. Ou pelo menos temo-lo amado tão pouco, como se
nenhum bem nos tivesse feito, nem sofrido coisa alguma por nós. Quereremos ser tão
ingratos sempre?
Pelos dias do Santo Natal, São Francisco de Assis andava pelos caminhos e bosques
chorando e suspirando com gemidos inconsoláveis. Perguntando pela razão de tanto
sofrer respondeu:

Como não chorar, vendo que o amor não é amado? Vejo um Deus como que perdido de
amor ao homem, e o homem tão ingrato para com esse Deus!

Ora, se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de São Francisco, quanto mais
não terá afligido o Coração de Jesus Cristo?

Apenas concebido no seio de Maria, Jesus viu a ingratidão despiedada que receberia da
parte dos homens. Baixara do céu para acender o fogo do divino amor; somente este
desejo fizera-o descer sobre a terra para ali sofrer um abismo de dores e ignomínias:
Ignem veni mittere in terram (1) – Eu vim trazer o fogo à terra. E em seguida viu um abismo
de pecados que os homens haviam de cometer, depois de presenicarem tantos rasgos
de seu amor. Foi isso, no pensar de São Bernardino de Sena, o que o fez sofrer dores
infinitas: Et ideo infinite dolebat. Mesmo para nós é insuportável vermos uma pessoa
tratada por outra com ingratidão, e muita vezes isto aflige muito mais a alma, do que
9/4
qualquer dor aflige o corpo. Qual não deve, pois, ter sido a dor que nossa ingratidão
causou a Jesus, nosso Deus, quando viu que os seus benefícios e o seu amor lhe seriam
retribuídos por nós com desgostos e injúrias? Et posuerunt adversum me mala pro
bonis, et odium pro dilectione (2) – Retribuíram-me o bem com o mal, e o meu amor com
ódio.

Parece que também hoje em dia Jesus Cristo se queixa: Tamquam extraneus factus sum
fratribus meis (3) – Fiquei como que um estranho a meus irmãos. Porquanto vê que de
muitos não é amado, nem conhecido, como se nenhum bem lhes tivesse feito, e nada
por amor deles tivesse sofrido. Ó Deus, que caso fazem também presentemente tantos
cristãos do amor de Jesus Cristo?

I. Apareceu certo dia o Redentor ao Bem-aventurado Henrique Suso, sob a forma de um


peregrino que andava de porta em porta, a pedir pousada, mas todos o repeliam com
injúrias e ultrajes. Ai! quantos homens se parecem com aqueles de que fala Jó, dizendo:
Diziam a Deus: Retira-te de nós… sendo ele quem cumulou de bens as suas casas (4). Em
outro tempo nós também nos temos unido àqueles ingratos; mas quereremos continuar
do mesmo modo? Não, porque não merece tal o Menino amável que baixou do céu para
padecer e morrer por nós, e assim fazer-se amar de nós.

Meu amado Jesus, será verdade que Vós baixastes do céu para Vos fazerdes amar de
mim, que por meu amor viestes abraçar uma vida de trabalhos e a morte de cruz, afim
de que eu Vos faça boa acolhida em meu coração, eu que tive a audácia de Vos repelir
tantas vezes de mim, dizendo: Recede a me, Domine – Afasta-te de mim, Senhor; não Vos
quero? Ó meu Deus, se não fosseis a bondade infinita e não tivesseis dado a vida para
me perdoardes, não me animaria a peidr-Vos perdão. Mas ouço que vós mesmo me
ofereceis a paz: Convertimini ad me, ait Dominus, et convertar ad vos (5) – Convertei-
vos a mim, diz o Senhor, e eu me converterei a vós. Vós mesmo, ó Jesus, a quem tenho
ofendido, quereis ser o meu advogado: Ipse est propitiatio pro peccatis nostris (6) – Ele
é a propiciação pelos nossos pecados. Não Vos quero fazer nova injúria desconfiando
da vossa misericórdia. Pesa-me de toda a minha alma de Vos ter desprezado, ó
Bem supremo; pelo sangue que derramastes por mim, recebei-me em vossa
graça.

Pater, non sum dignus vocari filius tuus (7) – Meu Pai e meu Redentor, não sou mais
digno de ser vosso Filho, depois de ter renunciado tantas vezes ao vosso amor; mas fazei-
me digno com os vossos merecimentos. Graças Vos dou, meu Pai, graças Vos dou e Vos
amo. Ah, só a lembrança da paciência com que me tendes suportado tantos anos, e das
graças que me tendes dispensado, depois de tantas injúrias que vos causei, deveria fazer-
me viver sempre abrasado em vosso amor. Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais
repulsar-Vos, vinde morar em meu pobre coração. Amo-VOs e quero amar-Vos sempre.
Abrasai-me sempre mais, lembrando-me o amor que me mostrastes.
Minha Rainha e Mãe, Maria, ajudai-me, rogai a Jesus por mim; fazei com que, no tempo
de vida qeu ainda me resta, me mostre grato a Deus, que me amou tanto, ainda depois de
eu o ter ofendido tão gravemente.
10
/4
Novena de Natal 7º Dia

Viagem de São José e Maria Santíssima a Belém


Ascendit autem et Ioseph… ut profiteretur cum Maria desponsata sibi uxore praegnante –
Subiu também José, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida (Lc 2, 4)

Sumário. Tendo Deus decretado que seu Filho nascesse do modo mais pobre e mais penoso,
numa estribaria, dispôs que Cesar lançasse um decreto de recenseamento universal. Sabedor
disso, perturbou-se São José na dúvida se levaria, ou não, Maria consigo. A Virgem, porém,
animou-o, e com ele se pôs a caminho. Tomemos estes santos personagens como
companheiros em nossa viagem para a eternidade.

I. Havia Deus decretado que seu Filho nascesse,


não na casa de José, senão numa gruta que
servia de estrebaria, do modo mais pobre e
mais penoso, por que uma criança pode
nascer. Por isso dispôs que Cesar lançasse um
edito por meio do qual cada um deveria alistar-
se na cidade própria donde trazia a sua origem.
Quando José teve conhecimento do mando,
perturbou-se na dúvida se deveria deixar a
Virgem Maria em casa ou levá-la consigo,
visto que estava próxima a dar à luz.
“Minha esposa e senhora”, disse-lhe, “por um lado
não queria deixar-vos só; por outro, se vos levo,
aflige-me o triste pensamento que muito tereis de
sofrer numa viagem tão longa, por um tempo tão
rigoroso”.

Maria, porém, anima-o dizendo:

“José meu, não temais: eu vos acompanharei, e o Senhor nos ajudará”.

Por inspiração divina e pelo conhecimento da profecia de Miqueias, a Virgem sabia que o
divino Infante devia nascer em Belém. Toma, pois, as faixas e os pobres paninhos já
preparados e parte com José: Ascendit autem et Ioseph… ut profiteretur cum Maria – Subiu
também José para se alistar com Maria.

Consideremos aqui as devotas e santas conversões que durante a viagem faziam entre si
aqueles santos esposos acerca da misericórdia, da bondade e do amor do Verbo divino,
que em breve ia nascer e fazer a sua entrada no mundo, pela salvação dos homens.
Consideremos os atos de louvor, de bênção, de agradecimento, de humildade e de amor
que aqueles excelsos viajantes praticavam no caminho. De certo sofreu muito a santa
11
/4
Virgenzinha, próxima a dar à luz, tendo de fazer uma viagem tão longa; mas suportou
tudo em paz e com amor. Ofereceu a Deus todas as suas penas, unindo-as com as penas
de Jesus, que trazia no seio.

Ah! Na viagem de nossa vida unamo-nos a Maria e José e acompanhemo-nos deles, e


agora façamos com eles companhia ao Rei do céu, que vai nascer numa gruta.
Roguemos aos santos viajantes que pelos merecimentos das penas que então
padeceram, nos acompanhem na viagem que estamos fazendo para a eternidade.

II. Meu caro Redentor, sei que nesta viagem Vos acompanham legiões de anjos do céu;
mas quem Vos acompanha na terra? Ninguém senão José e Maria que Vos traz consigo.
Permiti, ó meu Jesus, que eu também Vos acompanhe. Tenho sido um miserável ingrato,
mas agora reconheço a injúria que tenho feito. Vós baixastes do céu para fazer-Vos meu
companheiro na terra, e eu ingrato tantas vezes afastei-me de Vós pelos meus pecados.
Ó meu Senhor, quando penso que tão repetidas me apartei de Vós para satisfazer aos
meus detestáveis apetites, renunciando assim à vossa amizade, quisera morrer de dor.
Mas Vós viestes para me perdoar; perdoai-me sem demora, visto que me pesa de toda a
minha alma de Vos ter abandonado e virado as costas tantas vezes. Proponho e com a
vossa graça espero nunca mais Vos deixar e nunca mais me aparta de Vós, meu único
amor.
A minha alma enamorou-se de Vós, ó meu amável Deus-Menino. Amo-Vos, meu doce
Salvador, e já que viestes à terra para me salvar e dispensar-me as vossas graças, peço-
Vos só esta graça: não permitais que em tempo algum me separe de Vós. Uni-me
estreitamente convosco, prendendo-me com os doces laços de vosso santo amor. Meu
Redentor e meu Deus, quem terá animo para Vos deixar, e viver sem Vós, privado da
vossa santa graça.

Maria Santíssima, eis-me aqui para acompanhar-vos em vossa viagem; e vós, ó minha
Mãe, não deixeis de me proteger na minha viagem para a eternidade. Assisti-me sempre,
mormente quando chegar ao fim da minha vida, próximo ao momento do qual dependerá,
se estarei sempre convosco amando Jesus no paraíso, ou se estarei para sempre longe de
vós odiando Jesus no inferno. Ó minha Rainha, salvai-me pela vossa intercessão. Seja a
minha salvação amar-vos a vós e a Jesus Cristo para sempre, no tempo e na eternidade.
Vós sois a minha esperança; de vós espero tudo.

12
/4
Novena de Natal 8º Dia
José e Maria peregrinos em Belém sem abrigo

In propria venit, et sui eum non receperunt – Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam (Jo 1, 11)

Sumário. A cidade de Belém, que recusa dar abrigo a Jesus Menino, foi figura daqueles
muitos corações ingratos que dão acolhida a tantas miseráveis criaturas e não a Deus.
Reflitamos, porém, no que a Virgem Maria disse a uma alma devota: Foi uma disposição
divina que a mim e a meu Filho nos faltasse abrigo entre os homens, afim de que as almas,
cativadas pelo amor de Jesus, se oferecessem a si próprias para o acolherem.

I. Quando um rei faz a primeira entrada numa


cidade do seu reino, que manifestações de
veneração se lhe preparam! Que pompas!
Quantos arcos de triunfo! Prepara-te, pois, ó
Belém venturosa, para receberes dignamente
o Rei do céu; fica sabedoria que entre todas
as cidades és tu a ditosa que ele escolheu
para nela nascer em terra, afim de reinar
depois no coração dos homens. Ex te enim
egredietur qui sit dominator in Israel (1) – De ti sairá
aquele que há de reinar em Israel.

Eis que já entram em Belém esses dois excelsos


viajantes, José e Maria, que traz no seio o
Salvador do mundo. Entram na cidade,
dirigem-se para a casa do ministro imperial, afim de pagarem o tributo e serem
alistados nos registros dos súbitos do Cesar. Mas quem os reconhece? Quem lhes vai
ao encontro? Quem lhes oferece agasalho? In propria venit, et sui cum non recepernunt –
Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
Eles são pobres, e como pobres são desprezados; são tratados ainda pior do que os
outros pobres, e até repulsos.
Chegada a Belém, Maria entendeu que se aproximava a hora de seu parto. Avisou a São
José, e este diligenciou de não ter de levar sua esposa à hospedaria, lugar pouco
conveniente para uma tenra donzela. Ninguém quis atender-lhe o pedido, e é bem
verossímil que da parte de alguns fosse taxado de insensato por trazer consigo a esposa
próxima ao parto em tempo noturno e de tanta afluência de povo. – Para não ficar
durante a noite no meio da rua, viu-se afinal obrigado a levar a Virgem Maria à
hospedaria pública, onde já muitos pobres se tinham alojado para a noite. Mas como?
Também dali foram repulsos e foi-lhes respondido que não havia lugar para eles: Non
era eis locus in diversorio (2) – Não havia lugar para eles na estalagem. Havia ali lugar para
13
/4
todos, também para os mais abjetos, mas não para Jesus Cristo. – Contemplemos quais
devem ter sido os sentimentos de São José e de Maria Santíssima, vendo-se desprezados
e repulsos de cada um.

II. A estalagem de Belém foi figura daqueles corações ingratos que dão acolhida a tantas
criaturas miseráveis e não a Deus. Quantos há que amam os parentes, os amigos, até os
animais, mas não amam Jesus Cristo e nenhum caso fazem de sua graça e de seu amor.
Maria Santíssima disse a uma alma devota: Foi uma disposição divina que a mim e a meu
Filho nos faltasse agasalho da parte dos homens, afim de que as almas cativadas pelo
amor de Jesus se oferecessem a si próprias para o acolherem e o convidassem
amorosamente a tomar morada em seus corações.

Sim, meu Jesus, vinde nascer pela vossa graça em meu pobre coração! Eu não me
animaria a pedir-Vos esta graça, se não soubesse que Vós mesmo me inspirais o
pensamento de Vo-la rogar. Ó Senhor, eu sou aquele que com os meus pecados Vos tenho
tantas vezes expulso cruelmente da minha alma. Mas já que baixastes à terra para perdoar
aos pecadores arrependidos, perdoai-me, porque me pesa sobre todas as coisas de Vos ter
desprezado, meu Salvador e meu Deus, que sois tão bom e me tendes tão grande amor.
Nestes dias dispensais grandes graças a tantas almas; consolai também a minha. A graça
que quero, é a de Vos amar para o futuro, de todo o meu coração; abrasai-me todo em
vosso amor. Amo-Vos, meu Deus, feito Menino por meu amor. Ah, não permitais que eu
Vos deixe de amar.

Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo com as vossas súplicas; eis ai o que unicamente vos
peço: rogai a Jesus por mim, e obtende-me a graça de amá-lo com todas as minhas forças,
afim de desagravá-lo assim de tantas ofensas, que em outro tempo lhe tenho feito. Ó
minha Mãe amantíssima, rogo-vos, exatamente pela vossa maternidade divina, tomai o
meu coração e aconchegai-o ao vosso; aconchegai-o também ao de vosso divino Filho, e
fazei que seja todo consumido nas belas chamas do amor a vós e a Jesus.

14
/4
Novena de Natal 9º Dia

A Gruta de Belém

Reclinavit eum in praesepio; quia non era eis locus in diversorio – Ela reclinou-o em uma
manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem (Lc 2, 7)

Sumário. Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, afim de dar à
luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei
do céu prepara-se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo uns pobres paninhos, para
cama um pouco de palha e para colocar uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens!
Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!

I. Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus Cristo. Vendo-se


repulsos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade afim de
achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes (viajantes) caminham na
escuridão, errando e espreitando; afinal deparasse-lhes ao pé dos muros de Belém uma
rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então
Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-
nos ficar aqui. – Mas como? responde São José; não vês, minha Esposa, que esta gruta é
tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para
homens, senão uma estribaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz? –
Contudo é verdade, tornou Maria, que este estábulo é o paço real onde quer nascer na
terra o Filho eterno de Deus.
Ah! Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os
filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços
incrustados com pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhe cortejo os

15
/4
primeiros senhores do reino. E ao Rei do céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para
nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil
manjedoura para o colocar? Ubi aula, ubi thronus? Meu Deus, assim pergunta São
Bernardo, onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do céu, porquanto não vejo
senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma manjedoura de irracionais, na
qual deve ser posto?
Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido dentro de ti! Ó
presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do céu! Ó palha ditosa,
que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó
Gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que tenra e
fervorosamente amam esse amabilíssimo Senhor, e que abrasados em amor o recebem
na santa Comunhão. Oh, com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração
que o ama!
II. Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo, confunde o nosso orgulho,
e, segundo a reflexão de São Bernardo, já prega com exemplo o que mais tarde havia de
pregar à viva voz: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Eis porque ao
contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao ouvirmos falar em gruta, em
manjedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como
que chamas de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos fizessem
amantes da santa humildade.
É verdade, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor, com o vosso exemplo
fizestes os desprezos excessivamente caros e amáveis aos que Vos amam. Mas como
então é possível que eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber
algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão orgulhoso, e tenha ainda
chegado a ofender-Vos, ó Majestade infinita? Pecador e orgulhoso!

Ah, Senhor, já o compreendo: eu não soube aceitar com paciência as humilhações e as


afrontas, porque não Vos soube amar. Se Vos tivera amor, ter-me-iam sido doces e
amáveis. Mas visto que prometeis o perdão a quem se arrepende, de toda a minha alma
arrependo-me de toda a minha vida desordenada, tão diferente da vossa. Quero emendar-
me, e por isso Vos prometo que para o futuro aceitarei com paz todos os desprezos que
me vierem, e que os sofrerei por vosso amor, ó Jesus meu, que por meu amor tendes sido
tão desprezado. Compreendo que as humilhações são as minas preciosas por meio das
quais quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. Já sou digno de outras
humilhações e de outros desprezos, porque desprezei a vossa graça. Mereço ser pisado aos
pés do demônio. Mas os vossos merecimentos são a minha esperança. Quero mudar de
vida; não quero mais causar-Vos desgosto; para o futuro não quero buscar senão a vossa
vontade, e por isso Vos dou todo o meu coração. Possui-o, e possui-o para sempre, afim
de que eu seja sempre vosso e todo vosso.
“E Vós, ó Pai Eterno, que cada ano nos alegais com a esperança de nossa Redenção,
concedei-me que com confiança possa esperar a vinda do vosso Filho unigênito como
Juiz, a quem agora recebo alegremente como Salvador (1)”. Fazei-o pelo amor do
mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.
16
/4
Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo

Impleti sunt dies ut pareret (Maria); et peperit fikium suum primogenitum –


Completaram-se os dias em que (Maria) devia dar à luz; e deu à luz o seu filho
primogênito (Lc 2,6)

Sumário. Imaginemos ver a Jesus já nascido na gruta de Belém, e ouvir os anjos cantar glória
a Deus e paz aos homens de boa vontade. Quais devem ter sido os sentimentos que então se
despertaram no coração de Maria, ao ver o Verbo divino feito seu filho! Qual a devoção e
ternura de São José ao apertar contra o coração o santo Menino! Unamos os nossos afetos
com os desses grandes personagens.

Nascimento do Menino Jesus

I. Quando Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo em oração. De súbito vê uma
refulgente luz, sente no coração um gozo celestial, abaixo os olhos, e, ó Deus! Que vê? Vê
já diante de si o Menino Jesus, tão belo e tão amável, que eleva os corações. Mas treme e
chora; segundo a revelação feita a Santa Brigida, estendia as mãozinhas para dar a
entender que deseja que Maria o tome nos braços. Maria, no auge de santa alegria,
chama José. – Vem, ó José, disse ela, vem e vê, pois já nasceu o Filho de Deus. –
Aproxima-se José, e vendo Jesus nascido, adora-o por entre uma torrente de doces
lágrimas.

Em seguida, a santa virgem, movida de compaixão maternal, levanta com respeito o


amado Filho, e conforme a já citada revelação, faz por aquecê-lo com o calor de seu
rosto e do seu peito. Tendo-o no colo, adora o divino Menino como seu Deus, beija-lhe
os pés como a seu Rei, e beija-lhe o rosto como a seu Filho e procura depressa cobri-lo e

17
/4
envolvê-lo nas mantilhas. Mas ai, como são ásperos e grosseiros os paninhos! Além
disso, são frios e úmidos, e naquela gruta não há lume para aquentá-los.

Consideremos aqui os sentimentos que surgiram no coração de Maria, quando viu o


Verbo divino reduzido por amor dos homens a tão extrema pobreza. Contemplemos a
devoção e a ternura que ela experimentou quando apertava o Filho de Deus, já feito seu
filho, contra o coração. Unamos os nossos afetos aos de tão boa Mãe e roguemos a Deus
Pai “que o novo nascimento do seu Unigênito feito homem, nos livre do antigo cativeiro, em
que nos tem o jugo do pecado (1)”.

II. Jesus nasceu! Vinde, ó reis, príncipes e todos os homens da terra, vinde adorar o
vosso Rei. Mas quem é que se apresenta?… Ah! O Filho de Deus veio ao mundo, e o
mundo não o quis conhecer. Porém, se não veem os homens, veem ao menos os anjos
adorar o seu Senhor, e cantam jubilosos: Gloria in altissimis Deo, et in terra pax hominibus
bonae voluntatis (2) – Glória a Deus nas alturas, e na terra paz aos homens de boa vontade.
Glória à divina Misericórdia, que, em vez de castigar os homens rebeldes, fez o próprio
Deus tomar o castigo sobre si, e assim os salvou. Glória à divina Sabedoria, que achou
meio de satisfazer à Justiça, e ao mesmo tempo, de livrar o homem da morte merecida.
Glória ao divino Poder, que de um modo tão admirável venceu as forças do inferno.
Glória finalmente ao divino Amor, que induziu um Deus a fazer-se homem e a levar uma
vida tão pobre, humilde e penosa. – Meu irmão, unamos as nossas adorações às dos
anjos e digamos com a nossa santa Madre Igreja:

Gloria in excelsis Deo! Glória a Deus nas alturas, e na terra paz aos homens de boa
vontade. Nós Vos louvamos, Vos bendizemos, Vos adoramos, Vos glorificamos. Graças
Vos damos por vossa grande glória, Senhor Deus, Rei do céu, Deus Pai todo-poderoso. Ó
Senhor, Filho unigênito de Deus, Jesus Cristo, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de
Deus Pai: Vós, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. Vós, que tirais os
pecados do mundo, aceite as nossas súplicas. Vós, que estais sentado à mão direita do Pai,
tende piedade de nós. Porque só Vós, ó Jesus Cristo, sois Santo, só Vós o Senhor, só Vós
o Altíssimo, com o Santo Espírito, na glória de Deus Pai. Assim seja. (3)

18
/4

Você também pode gostar