O Setor Moveleiro
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1 INTRODUÇÃO
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Segundo Keller (2008), a expressão “Terceira Itália” foi cunhada por Arnaldo Bagnasco (1999) para indicar o
desenvolvimento socioeconômico de uma região que estava entre Norte desenvolvido (Primeira Itália) e o Sul
atrasado (Segunda Itália).
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Por sua vez, na sequência da figura, além de empresas do mesmo segmento, se forma
um conjunto de outras instituições (que fornecem apoio técnico, formação de pessoal,
pesquisa e desenvolvimento) e organizações (fornecedoras de insumos especializados,
serviços de apoio). Deve-se lembrar, no entanto, que apesar da conjunção de todos esses
atores ainda não há um grau elevado de relacionamento entre eles que possa gerar uma nova
dinâmica de inovação e evolução para o aglomerado.
Em um momento posterior, no terceiro quadro, observa-se o surgimento de uma série
de novas instituições, complementando o conjunto de atores institucionais. Ou seja, tem-se a
existência de empresas do mesmo segmento de atividade, de fornecedores especializados, de
universidades, centros de educação e apoio técnico, órgãos governamentais de apoio,
sindicatos e associações de classe, etc. No entanto, como pode ser observado no quadro
anterior, o grau de interligação não se apresenta em seu estágio máximo.
Por fim, um cluster em máximo grau de evolução (como demonstrado na última parte
da figura), além de apresentar uma série de agentes que prestam todo tipo de apoio à indústria,
também mostra a existência de fortes inter-relações e interdependências. Ou seja, a diferença
entre os estágios de desenvolvimento agora se apresenta na qualidade dos relacionamentos e
nos benefícios provocados pelo conjunto que são muito superiores aos estágios anteriores de
evolução.
Os referidos graus de evolução dos estágios de concentrações empresariais, em alguns
casos, recebem denominações distintas, não sendo tratados somente como etapas de evolução
dos clusters. Na visão de Paiva (2004), por exemplo, o estágio mais avançado de
concentração de empresas é chamado de Sistema Local de Produção (SLP).
Para demonstrar a distinção entre os conceitos, Paiva (2004) afirma que na medida em
que uma simples aglomeração de empresas se desenvolve, automaticamente são atraídos para
ela fornecedores de insumos e matérias-primas. Em seguida, novos produtores se instalam
como prestadores de serviços (consultoria), comercializadores e clientes. Também se
desenvolvem instituições de ensino direcionadas para formar e capacitar recursos humanos.
Quando todo um conjunto de elementos finalmente se instala e modifica qualitativamente o
aglomerado com serviços e atividades de apoio especializadas, está-se diante de um Arranjo
Produtivo Local (APL).
Completando o raciocínio de Paiva (2004), caso esse arranjo produtivo local continue
evoluindo e estimulando as empresas a operarem de forma integrada, teremos a formação de
um SLP. Segundo Lastres e Cassiolato (2003), observa-se nessa estrutura uma maior
interdependência, articulação e vínculos consistentes entre os participantes, resultando em
interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de incrementar a capacidade inovativa
endógena, a competitividade e o desenvolvimento local.
Para Paiva (2004), os aglomerados representam o modelo mais simples de
concentração industrial, sendo caracterizados como a especialização de uma determinada
região em uma determinada atividade, seja essa região uma rua, um bairro, uma cidade ou
uma região de um estado. Enquanto Porter (1999) denomina todas as aglomerações industriais
de clusters, independente de seu grau de sofisticação, Paiva (2004) acredita que a evolução
dos aglomerados para níveis mais complexos acaba formando arranjos produtivos locais e,
depois, sistemas locais de produção.
A diferenciação teórica entre os conceitos de aglomerados, clusters, APL’s e SLP’s foi
proposta também por Schmidt et. al. (2004). Um cluster pode ser classificado como empresas
de um mesmo segmento de atividade que se encontram estabelecidas numa área geográfica
próxima, mas com um grau incipiente de relações formalizadas e integradas. Em estágio
posterior estaria o APL, definido como um aglomerado de empresas de um determinado
segmento de atividade, mas que, nesse caso, concentra um conjunto de organizações e
3 METODOLOGIA
A pesquisa caracteriza-se por ser exploratória. Para Gil (1999), esse tipo de
investigação tem como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias,
tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para
estudos posteriores. Esta pesquisa pretende, ainda, proporcionar uma visão geral acerca de
determinado fato, de forma que possam ser estabelecidos estudos posteriores visando o
aprofundamento do assunto em questão. Contudo, para Seltiz et. al. (1987), pesquisas dessa
natureza podem ser delineadas como levantamento, pois se utilizam de questões previamente
formuladas, objetivando apresentar as respostas que atendam aos objetivos propostos.
Os dados centrais desta pesquisa foram obtidos por meio da aplicação de questionários
junto às empresas moveleiras do município de Santa Maria/RS. As entrevistas foram
aplicadas aos diretores e funcionários das empresas, bem como à instituição que representa o
setor (NUMOV/SM), pois acredita-se que assim as respostas poderiam ter maior
confiabilidade. A população utilizada para o estudo foi representada pelas empresas
associadas ao NUMOV/SM. Atualmente fazem parte do grupo 15 empresas, são elas: –
Kisner Móveis, Mathiane Móveis, Mobilha, Móveis Back, Móveis Cavalheiro, Móveis
Dapper, Móveis Küster, Móveis Nascimento, Móveis Miola, Morgental / G.S.L, Móveis São
José, Móveis Scolari Taschetto, Móveis Wachtmann, Osmar Móveis, Personale Móveis. Após
a aplicação dos questionários, do total de 15 empresas, obteve-se 12 respostas, as quais foram
utilizadas para análise dos resultados que são apresentados a seguir.
A cidade de Santa Maria está localizada na região central do Estado do Rio Grande do
Sul. Possui uma extensão territorial de 1.788,121 Km2, a população residente é de 261.031 e o
total de pessoas ocupadas de 78.231 (IBGE, 2014). Em 2011, o PIB per capita girava em
torno de R$ 16.864 e o Índice de Desenvolvimento Humano do Município (IDHM) era de
0,784 em 2010 (PNUD, 2014). Apesar do bom desempenho do IDHM, que coloca a cidade
em centésima posição no ranking de 5.565 cidades pesquisadas, o município possui
sustentação econômica no comércio e na prestação de serviços. Por essa razão, a falta de
indústrias na cidade sempre foi motivo de preocupação, tanto das autoridades locais como do
próprio Governo do Estado, que implantou no município uma área destinada ao distrito
industrial, localizado numa posição estratégica, mas que sofre pela falta de infraestrutura.
No que se refere à indústria moveleira da cidade, convém salientar que, de uma forma
geral, ela assemelha-se à indústria brasileira. Ou seja, é composta de empresas familiares e de
capital essencialmente nacional. No entanto, a indústria do município é formada, em sua
• Qualificação da mão-de-obra
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Esta afirmação segue a classificação proposta pelo Sebrae que diz que para ser considerada microempresa no
ramo industrial é preciso que o número de empregados esteja entre 0 (zero) e 19.
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que exercem. Todos eles (100% dos entrevistados) responderam que sim, embora estejam
conscientes da importância de uma constante qualificação. Também se questionou se as
empresas oferecem condições ou incentivos para a qualificação dos empregados. Observou-se
que a maioria das firmas (83%) oferece incentivos para que seus empregados se qualifiquem3.
Ainda no que se refere à qualificação da mão de obra, procurou-se verificar se as
empresas têm conhecimento de centros específicos para a qualificação. Os resultados com
relação a este questionamento mostraram que 8 empresas têm conhecimento, 3 não têm,
enquanto uma não respondeu ao que foi perguntado.
Convém destacar que as empresas, por mais que saibam da existência da escola de
marceneiros na cidade, podem ter respondido não ao questionamento porque a escola há
pouco formou a primeira turma de profissionais e, por isso, a expectativa quanto a sua
qualidade é muito grande. Além do mais, a informação sobre a existência da escola pode não
ter se disseminado pela indústria. As empresas que afirmaram conhecer centros de
qualificação referiram-se a cursos técnicos e profissionalizantes em geral (Senai, por
exemplo), não reportando a profissionais especificamente formados para atuar no ramo
moveleiro. Talvez seja esse o motivo pelo qual a maioria das empresas também afirmou que
os centros de qualificação existentes não oferecem a formação necessária para os
trabalhadores atuarem no ramo moveleiro (7 do total de 12 empresas).
As empresas que afirmaram não estarem satisfeitas com os centros de qualificação,
mencionaram que existe pouco entrosamento das firmas com os centros. Diante disso,
convém salientar mais uma vez que a insatisfação refere-se ao fato de ainda não existirem
profissionais formados especificamente para trabalhar no setor, uma vez que Santa Maria/RS
dispõe de diversas universidades que formam profissionais qualificados.
• Mão-de-obra terceirizada
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Os principais tipos de incentivos oferecidos e mencionados pelos empresários são a participação em cursos,
treinamentos, palestras e viagens de estudo.
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Também se questionou onde a empresa utiliza esse tipo de serviço. Observou-se que
elas terceirizam principalmente as atividades administrativas, contábeis e de serviços em geral
(estofaria, metalúrgica, vidraçaria, elétrica, etc). Além do mais, procurou-se evidenciar se as
empresas entrevistadas estão satisfeitas com o serviço prestado. Foi possível constatar que a
maioria delas (5 dentre as 6 que utilizam o serviço) estão satisfeitas. No entanto, uma delas
demonstrou insatisfação. Isso porque, segundo o respondente, os serviços de vendas dos
produtos não atendeu sua expectativa.
• Fornecedores
Convém salientar que, embora a proximidade geográfica tenha sido mencionada como
principal dificuldade apenas por uma empresa, se a maioria delas se utilizasse de fornecedores
localizados na própria cidade, certamente os custos e o tempo de entrega seriam reduzidos.
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Contudo, para que isso aconteça é preciso que se desenvolva na cidade um maior número de
fornecedores especializados ou agentes que façam a intermediação da matéria-prima,
tornando seu fornecimento mais eficiente.
• Sindicatos patronais
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vantagens para a indústria já que, além de facilitarem a venda dos móveis, também podem
contribuir para encontrar consumidores para os produtos, aumentando assim a demanda de
móveis e contribuindo para o maior desenvolvimento do setor.
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têm conhecimento de instituições que oferecem crédito. Dentre essas quatro, duas empresas
afirmaram estarem satisfeitas com o serviço oferecido, uma afirma não estar (não mencionou
o motivo) e uma não respondeu ao questionamento. No que diz respeito às 4 empresas que
afirmaram não conhecer as instituições, uma afirmou sentir necessidade de criação de alguma,
enquanto 3 não responderam o questionamento.
Convém destacar ainda que as empresas que afirmaram ter conhecimento das
instituições mencionaram entidades de crédito geral (Caixa Econômica, Banco do Brasil,
Banrisul, etc.). Portanto, não conhecem instituições destinadas a oferecer crédito específico
para seu negócio.
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desenvolver suas potencialidades como cluster, pois, assim, poderá aumentar sua
competitividade no mercado se tornado uma indústria ainda mais expressiva.
5 CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS
BECATTINI, G. The marshallian industrial district as a socio-economic notion. In: PIKE, F.;
BECATTINI, G.; SENGENBERGER, W. (Orgs.). Industrial districts and interfirm
cooperation in Italy. International Institute for Labour Studies, ILO, Geneva, 1990.
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