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1. INTRODUÇÃO
O movimento de mudanças nas relações empresariais, de acordo com Amato Neto (2008),
vem se intensificando nas últimas décadas na medida em que se acumulam e consolidam
as transformações tecnológicas, organizacionais e econômicas. Todas essas mudanças
provocam alterações na forma de produzir, de administrar, de distribuir, bem como levam
a alterações nas relações entre empresas, entre empresas e trabalhadores e entre empresas
e instituições.
Da mesma forma, é na relação existente pela busca de resultados que surgem os grupos e
que, segundo Bowditch e Buono (2004), não se definem pela simples proximidade ou
soma dos seus membros, mas como um conjunto de pessoas interdependentes. E é nesse
sentido que o grupo é mais que uma coleção de indivíduos, ou seja, é um organismo. O
conceito dos autores Bowditch e Buono (2004) corrobora as definições feitas, quando
considera que grupo é: a) duas ou mais pessoas, que são b) psicologicamente conscientes
umas das outras e que c) interagem para atingirem uma d) meta comum. Assim, torna-se
mais que um simples ajuntamento de pessoas. Para ser um grupo, o autor salienta que
essas quatro condições precisam ser atendidas.
Na relação desses grupos é que nasce a formação de redes, como alternativa de
competitividade para micro e pequenas empresas. Segundo Casarotto e Pires (1999), uma
vez que micro e pequenas empresas têm mais limitações para competir isoladamente, o
crescimento rápido exigirá grandes investimentos.
Segundo Castells (2000), as redes flexíveis de pequenas empresas têm sido um
sustentáculo de economias altamente desenvolvidas como, por exemplo, na região da
Emilia-Romagna, na Itália. As empresas unem-se por um consórcio de criação de um
produto e o consórcio simula a administração de uma grande empresa, o que vem somente
agregar valor a todas as empresas participantes.
Castells (2000) atesta que é provável que o surgimento e a consolidação da empresa em
rede em todas as suas diferentes manifestações sejam a resposta para o “enigma da
produtividade”. Reforça também que a capacidade de empresas de pequeno e médio porte
se conectar em redes, entre si e com grandes empresas também passou a depender da
disponibilidade de novas tecnologias, uma vez que o horizonte de redes (se não suas
operações diárias) tornou-se global.
Essa conectividade é destacada como cooperação por Casarroto e Pires (1999), quando
afirma que cooperação entre empresas é algo tão irreversível quanto a globalização, e que
talvez seja a maneira como as pequenas empresas possam assegurar sua sobrevivência e
a sociedade garantir seu desenvolvimento equilibrado. O autor afirma, em sua obra,
algumas condicionantes da cooperação, segundo o Instituto Alemão para o
Desenvolvimento (IAD), como: a) não é condição para cooperação a união de todos atrás
de uma liderança; b) nem uma ação totalmente sincronizada em conjunto; c) nem mesmo
a ausência de conflitos entre parceiros ou a negociação de interesses divergentes.
Para Casarotto e Pires (1999), a cooperação necessita de troca de informações entre as
várias empresas, do estabelecimento de um intercâmbio de ideias, do desenvolvimento de
uma visão estratégica, da definição de áreas de atuação, da análise conjunta dos problemas
e solução em comum, além da definição das contribuições dos parceiros. Nesse contexto,
cooperação significa abandonar o individualismo, saber tolerar, ceder – enxergando o
concorrente como semelhante.
Assim, a formação de redes de cooperação entre empresas se apresenta como uma forma
de fortalecer o poder de compra, compartilhar recursos, combinar competências, dividir
o ônus de realizar pesquisas tecnológicas, partilhar riscos e custos para explorar novas
oportunidades, oferecer produtos com qualidade superior e diversificada. Esse papel é
ainda mais destacado em meio ao universo das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), que
muitas vezes concorrem com empresas muito maiores e com grande poder de negociação
de fornecedores, vaiedade de produtos e oferta de preços menores. Neste cenário, este
tipo de empresas (as MPEs) apresentam uma demanda por estratégias promovidas pelas
redes de cooperação com vistas à novas possibilidades de atuação no mercado, de forma
a torná-las igualmente competitivas e capazes de atingir o equilíbrio econômico.
As redes de empresas se constituem em importante alternativa competitiva para as
pequenas empresas, sendo, para isso, necessário realizar atividades que estimulem o
desenvolvimento de cultura cooperativa e associativa de empresas (Wittman, Negrini &
Venturini, 2003).
À partir dessa percepção, a presente pesquisa coloca em foco o campo da estratégia
organizacional e apresenta como referência a pergunta: quais os principais resultados
obtidos, a partir da atuação em redes de cooperação, pelas MPEs? E, para responder
à este questionamento, busca-se, como objetivo, analisar os principais benefícios e
resultados obtidos pelas micro e pequenas empresas do sul de Minas Gerais a partir da
atuação em redes de cooperação. O lócus da pesquisa contempla as cidades de Alfenas,
Guaranésia e Juruaia/MG, junto às redes Associação de Empresas de Comércio de
Materiais de Construção de Minas Gerais (CONSTRUAI), Tecebem e Toque Brasil,
respectivamente.
O papel das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) no brasil se destaca como sendo
fundamental para o desenvolvimento da economia país, ofertando grande parte dos postos
de trabalho existente; isso justifica a importancia de aprofundar conhecimentos nas áreas
de autação e fatores competitivos, como os relacionados a alianças entre empresas
(Camfiel et al, 2005).
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para Alves, Balsan, Laércio, Bazzo, Rafael e Grohmann (2010), uma rede organizacional
pode ser conceituada como o sistema de elos que, ao se conectarem, formam uma
estrutura flexível capaz de absorver valor a partir de cada elemento constituído.
Sob essa compreensão, a organização de redes aumentaria também a eficácia dos seres
humanos. Isso é o que propõem Christakis e James (2010), sob a afirmação de que o
agrupamento de pessoas em rede, com determinadas configurações, os torna capazes de
fazer mais coisas e coisas diferentes do que os indivíduos por si sós.
Christakis e James (2010) diferenciam do termo grupos. Os grupos podem ser definidos
por atributos quaisquer, como um aspecto comum a todos. Uma rede social tem a ver com
um conjunto de pessoas, organizações, etc. ligadas por meio de uma série de relações
sociais de um tipo específico. Nessa perspectiva, a estrutura de qualquer organização deve
ser entendida e analisada em termos de redes múltiplas de relações internas e externas. E
todas as organizações são redes e a forma organizacional depende das características,
interesses e necessidades das empresas participantes (Cândido & Abreu, 2000).
Para Porter (1999), o termo redes é usado amplamente, embora ele o defina como sendo
“o método organizacional de atividades econômicas por meio de coordenação e / ou
cooperação interfirmas”. Assim, torna-se importante, a esta altura, aprofundar o
desenvolvimento desta pesquisa, abordando as tipologias existentes das redes, conforme
se segue.
Garofoli (1992, apud Bragança, 2009) propõe quatro possíveis configurações de redes
entre empresas em uma tipologia relacional (Quadro 1).
Tipo de relação
Configuração
Uma empresa lidera um grupo de outras
Redes hierarquizadas especialmente
organizações dispersas
descentralizadas
Uma empresa lidera um grupo de outras empresas
Redes hierarquizadas especialmente centralizadas
localizadas em uma região específica
Não há relação de subordinação. O grupo
Laços de cooperação entre firmas espacialmente
estabelece alianças estratégicas
descentralizadas
Não há relação de subordinação. O grupo
Laços de cooperação entre firmas espacialmente
estabelece ralações e atua concentrado em uma
centralizadas
área. Exemplos são os polos e distritos industriais.
Quadro 1- Configurações de redes
Fonte: Adaptado de Bragança (2009).
Grandori e Soda (1995 apud Amato Neto, 2008) desenvolveram uma tipologia de redes
interempresariais é que se baseia nos seguintes critérios:
a) Tipo de mecanismos de coordenação utilizados;
b) Grau de centralidade da rede;
c) Grau de formalização dessa rede.
Nessa classificação, os autores identificam três tipos básicos de redes sociais: redes
sociais – simétricas ou assimétricas redes burocráticas e redes proprietárias. Para
Verschoore e Balestrin (2008a, p.83), a diversidade das tipologias de redes de cooperação
tem provocado certa ambiguidade no próprio entendimento do termo, sendo, inclusive,
objeto de estudo de outros autores, que trazem como argumento o fato de que as redes de
empresas aparecem sob diferentes formas, em contextos distintos e a partir de múltiplas
expressões culturais.
Categoria Componentes
Ganhos de escala e poder de mercado Pode de barganha
Força de mercado
Credibilidade
Provisão de soluções Marketing
Soluções tecnológicas
Capacitação
Flexibilidade
Aprendizagem e inovação Disseminação de informações
Aprendizagem coletiva
Processo de inovação
Redução de custos e riscos Confiança como redutor de custos de transação
Atividades compartilhadas
Custos e riscos compartilhados
Relações sociais Ampliação da confiança
Limitação do oportunismo
Mecanismos de coordenação
Quadro 2 –Benefícios das redes em cooperação
Fonte: Adaptado de Aragão et al. (2009).
Para Mazo (2003), a ferramenta de benchmarketing é um meio de promover a
competitividade de uma empresa, sobretudo quando utilizada num trabalho com grupos
destas. É possível identificar as deficiências comuns nas MPEs e elaborar um plano de
ação coletivo para determinado grupo de empresas, de forma a incentivar o associativismo
ou o trabalho cooperado, agindo como instrumento para o aumento da competitividade
individual e coletiva e, sobretudo, facilitando o acesso a bancos de fomento ao crédito e
às agências de desenvolvimento de MPEs, a exemplo, o SEBRAE.
Fatores que relacionam as condições sob as quais uma rede pode ser expandida
1. As características das empresas participantes
2. O capital social envolvido
3. Aprendizagem ou troca de informações
4. A comunicação e informatização
5. Ampliação funcional e expectativas futuras
6. Geração de benefícios tangíveis
7. Barreiras de saída
8. Estrutura interna da rede
Quadro 3 – Condições para expansão de uma rede
Fonte: Adaptado de Boehe e Silva (2003).
Cada aspecto pontuado como parte das cinco forças de Porter pode ser percebido e
trabalhado de modo a se utilizar da estratégia para favorecer que a empresa em questão
desenvolva vantagens competitivas que impliquem significativas transformações de
eficiência. Vale ressaltar que produtividade, conforme definição de Porter, “é o valor
gerado por dia de trabalho e por unidade de capital ou por recursos físicos utilizados” e
depende tanto da qualidade ou das características dos produtos como da eficiência com
que são produzidos e aprimorados.
2. METODOLOGIA
CONCLUSÃO
O presente artigo teve como objetivo analisar os principais resultados obtidos pelas MPEs
do sul de Minas Gerais que atuam em redes de cooperação. Buscou-se descrever e
caracterizar as redes de cooperação e as empresas envolvidas neste estudo, sendo: Rede
Construai, Rede Tecebem e Rede Toque Brasil, identificar os fatores que levaram as
MPEs a aderir às redes, indicar os benefícios e fatores relevantes na formação de redes
de cooperação, relatar as vantagens e desvantagens competitivas percebidas pela ótica de
seus gestores, a partir da adesão à redes de cooperação.
Para atender a esses propósitos, foi realizada uma pesquisa com 28 empresas, divididas
em três redes de setores distintos, a saber, Construai, Tecebem e Toque Brasil, comércio
varejista de materiais de construção, indústria têxtil e moda íntima, respectivamente. Um
de seus líderes foi entrevistado com um questionário de 18 questões, sendo 17
estruturadas, qualitativas e uma semiestruturada, também qualitativa – esta última
dividindo-se em seis itens. A pesquisadora usou questionário composto de perguntas para
respostas abertas e fechadas, o que o caracteriza como misto. Foram aplicados
questionário aos associados às redes com a realização de entrevistas a gestores e pessoas
envolvidas em cargos estratégicos para se obter medição qualitativa, sendo que somente
participaram da pesquisa associados à rede há pelo menos dois anos. A maioria dos
representantes das empresas que foram entrevistados são sócios destas, sendo que os
demais são administradores e gerentes delas, ocupando o corgo correspondente há mais
de três anos. Esse cuidado foi no intuito de identificar o grau de conhecimento sobre as
empresas e o grau de influência nas decisões.
A pesquisa acusou alguns motivos que levam as empresas a aderir a uma rede de
cooperação empresarial, sendo o principal a possibilidade de complementar o
negócio/produto e gerar invações, seguido de reduzir custos ou obter ganhos financeiros.
O último mencionado foi aumentar a atratividade das empresas no mercado.
A iniciativa em participar de uma rede de cooperação divide-se em requerimento
solicitação da própria empresa, convite da rede e outros, sendo que a maior parte dos
pesquisados decidiu participar porque as expectativas que tinham em relação às redes
eram correspondidas.
A pesquisa registrou o “compartilhar informações” como sendo um dos principais
requisitos ou exigências para adesão à rede de cooperação, seguido da boa índole e, em
último lugar, a credibilidade.
Foram também pesquisados junto às empresas participantes das redes em estudo os
principais aspectos facilitadores no processo de consolidação da adesão das empresas às
redes, sendo ressaltado, em primeiro lugar, a “troca de experiências/informações”,
seguido de “maior representatividade diante dos fornecedores”.
Da mesma forma como foram pesquisados aspectos facilitadores, foram levantados
também os aspectos dificultadores no processo de adesão às redes. Em primeiro lugar,
para as redes em questão, destacou-se “a distância” entre as empresas da mesma rede,
seguida de “trabalhar junto com concorrentes”.
Também foram analisadas as principais vantagens competitivas percebidas pelos
entrevistados em se fazer parte de uma rede de cooperação, sendo realçada primeiramente
a “troca de informações/experiências”, seguida da “força para negociação”.
Contratapondo-se às vantagens, foram também pesquisadas as principais desvantagens
competititivas percebidas em se fazer parte de uma rede, sendo citados pela maioria dos
entrevistados que “nenhuma desvantagem” há, seguida de “adequação aos fornecedores
da rede”. Tembém foi abordada como uma das principais desvantagens em participar de
uma rede “a falta de participação de alguns membros”.
Quando perguntados sobre o que mudou positivamente em suas empresas a partir da
adesão às redes, foi dito em primeiro lugar a gestão/administração, seguido da troca de
ideias/experiências.
Quase a totalidade dos entrevistados (92,9%) está satisfeita com o desempenho das redes
da qual faz parte e os demais ainda respondem que ainda não é possível avaliar.
Quanto aos itens de infraestrutura e tecnologia favorecidos pela adesão à rede, os
respondentes aludiram a “acesso a melhores preços por compra conjunta (poder de
barganha) ” e, por ultimo, “a comunicação e informação” (internet, telefonia, assinatura
de resvistas).
No quesito ligado à produção e processos favorecidos pela rede, salientou-se, em primeiro
lugar, a melhoria da qualidade de processos ou da produção. E entre os principais itens
ligados às relações de mercado foi detectada, em primeiro lugar, a “realização de pesquisa
de mercado e ações de marketing”. E em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento,
a geração de valor pelo compartilhamento de ideias, o item mais mencionado pelos
entrevistados seguido pela solução de problemas, pela busca conjunta e pela
administração dos recursos e pessoas.
A pesquisa também mostrou que o crescimento de mercado (clientes e receita) foi
escolhido pela maioria dos entrevistados e a introdução da empresa em novos mercados
e nichos foi lembrado em seguida na análise dos aspectos ligados ao mercado. Quanto à
interação e cooperação favorecidas pela rede, vale ressaltar que o item mais aludido foi
quanto ao grau de abertura a novas propostas, ideias e ao contato externo.
As evidências empíricas responderam ao pressuposto que levou ao questionamento
formulado, quando se buscava analisar a competitividade das empresas a partir da adesão
às redes de cooperação, sendo que os resultados são também totalmente embasados
teoricamente. Ao final da pesquisa ficou nítido que a busca pela competitividade requer
estratégias criativas e eficientes por parte das empresas. Os resultados mostram a
importância de seus gestores aprenderem a trabalhar em conjunto, estabelecendo e
mantendo relações de parceria, o que facilita para que consigam melhor posição no
mercado, inclusive aumentando o poder de compras e a geração de produtos e serviços
com melhor qualidade. A pesquisa corrobora as teorias que lhe deram embasamento
quando sugere como vantagens competitivas para as empresas em rede a troca de
informações e experiências e a força para negociação.
O resultado demonstrou que a formação de redes de cooperação empresarial é muito
saudável para as MPEs, alcançando bons resultados e tornando-as mais competitivas.
Porém, para que este conceito de redes de empresas torne-se mais efetivo e favoreça a
manutenção e expansão das mesmas, percebe-se que é necessário o comprometimento de
todos os dirigentes e de todos os empresários envolvidos, inclusive participando das
reuniões que são realizadas pelo grupo. Para tanto, é importante avaliar as características
das empresas participantes, a geração de benefícios tangíveis e a estrutura interna da rede.
Um dos dados que a pesquisa mostrou foi que a distância entre as empresas da rede é um
fator dificultador para a adesão às mesmas, em função das reuniões que precisam ser
realizadas.
Importante enfatizar as diversas tipologias de redes que podem ser criadas a partir das
necessidades, considerando contexto e circunstâncias das empresas. As redes de empresas
podem aparecer sob diferentes formas, em âmbitos distintos e a partir de múltiplas
expressões culturais, a exemplo das “redes sociais simétricas”. Estas trazem um modelo
de participação igualitária de todos os integrantes na rede e as redes estratégicas, que se
desenvolvem a partir das orientações de um controller centralizado, que define as regras,
dinâmicas e estratégias para todo o grupo.
Muitas MPEs já descobriram as vantagens de trabalhar dessa maneira. Existem hoje, no
Brasil, mais de 790 centrais de negócios ativas, um modelo de redes, sendo dos diversos
setores. Atualmente, o setor que mais se destaca na organização em redes é o de material
de construção, seguido pelo de supermercados (Sebrae, 2014a).
Os resultados obtidos com este estudo podem ser relevantes para o empresariado das
MPEs, que podem despertar pelas iniciativas de cooperação interorganizacional. Podem
também ser úteis para instituições de apoio ao empresariado, como entidades de classe e
SEBRAE, mencionado como um dos principais facilitadores no processo de adesão à
rede.
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