Lingua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Web - 20181128-1707
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Lingua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Web - 20181128-1707
BRASILEIRA DE
SINAIS - LIBRAS
Capa e Editoração: Renata Sguissardi; Andresa G. Zam; Diego R. Pinaffo; André Morais
280 p. : il..
ISBN: 978-85-92808-15-0
CDD 419
fundamental para o futuro professor, pois este é o profissional que estará mais
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próximo da família no momento dela lidar com a educação da criança surda e,
orientar esta família.
Além disso, agora já pensando no surdo adulto, que pode e deve exercer sua
cidadania, é importante que qualquer profissional esteja minimamente capacitado
para atendê-lo.
Desta forma, procuramos atender prioritariamente a três grandes objetivos:
proporcionar a constituição de uma imagem positiva da surdez e dos surdos;
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favorecer a inclusão educacional e social do surdo e promover a difusão da Libras.
Para atingir estes objetivos, este livro se organiza em três unidades. Na Unidade
I, apresentaremos a Libras – Língua Brasileira de Sinais, em seus aspectos geral e
sintático. A Unidade II será destinada, basicamente, à apresentação de vocabulário
específico que lhe permita uma comunicação funcional com o surdo, em sua
área de atuação profissional. Apresentaremos também nesta segunda unidade,
os profissionais da Libras, a saber, o tradutor intérprete de Língua de Sinais
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(TILS) e o professor de Libras, que, de acordo com o Decreto 5626 deve ser,
prioritariamente surdo. Na Unidade III trataremos de sensibilizar e conscientizar
você dos aspectos sociais e antropológicos da surdez, ao discutirmos as
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concepções de surdez; as diferentes filosofias educacionais, a cultura e as
identidades surdas, a história da educação de surdos e ainda apresentaremos
algumas leis e políticas públicas relacionadas à educação de surdos, finalizando
com uma desconstrução de alguns mitos e crenças sobre a surdez e os surdos.
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Nas conclusões, além de fazermos uma retomada dos assuntos abordados nas
unidades I, II e III, faremos uma discussão a respeito da inclusão educacional e
social do surdo.
Faremos estas discussões sustentadas não apenas em nossa formação
acadêmica, mas particularmente, em nossa experiência de vida. Pelo nosso
sobrenome, você já deve ter percebido que nós três somos parentes! É verdade.
Somos mãe (Clélia) e filhas (Marília e Beatriz). A mãe é ouvinte e as filhas são
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surdas e nós vivenciamos um período muito difícil na vida do surdo brasileiro. Um
período em que os professores não aprendiam a se comunicar com seus alunos
e mais, os próprios surdos eram proibidos de usar a Libras!
Esse período foi muito difícil e isso acontecia porque as pessoas, incluídas aí
os professores e a família, acreditavam que aprender falar oralmente era a única
forma do surdo - que naquela época era designado por deficiente auditivo – se
integrar à sociedade. Atualmente, muita coisa mudou. Até a maneira de se referir
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aos surdos e esta experiência que nos credencia a discutir esses temas tão
delicados com você.
Finalizamos esta apresentação com uma frase atribuída ao surdo francês
Ferdinand Berthier, que viveu no século XIX e é considerado um dos mais
brilhantes exemplos de sucesso de um surdo, um dos fundadores da primeira
associação de surdos, a “Societété Centrale des Sourds Muets de Paris”, que
extraímos do livro de Gesser (2009): “O que importa a surdez da orelha,
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Introdução............................................................................................15
LINGUAGEM E PENSAMENTO............................................................17
SUMÁRIO
A língua de sinais é universal?.................................................................... 45
ASPECTOS MORFOLÓGICOS............................................................64
TIPOS DE NEGAÇÃO...........................................................................72
FLEXÃO DE GÊNERO..........................................................................74
TIPO DE VERBOS................................................................................77
SUMÁRIO
MARCAÇÃO DE TEMPO VERBAL.....................................................91
ASPECTOS SINTÁTICOS.....................................................................95
Introdução............................................................................................107
Números...............................................................................................112
Algarismos e Numerais............................................................................... 112
PRONOMES............................................................................................... 114
CALENDÁRIO.......................................................................................123
Aprendendo os sinais de Calendário.......................................................... 123
Meses......................................................................................................... 128
PROFISSÕES............................................................................................. 140
ECONOMIA................................................................................................. 145
Mil............................................................................................................... 147
DISCIPLINAS.............................................................................................. 152
PROFISSÕES............................................................................................. 156
SUMÁRIO
UNIDADE 3 A cultura do Surdo e as
Políticas Públicas 197
INTRODUÇÃO......................................................................................199
CONCEPÇÕES DE SURDEZ................................................................203
CONCLUSão 271
REFERÊNCIAS 275
UNIDADE 1
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
• Linguagem e Pensamento
• História das Línguas de Sinais e da Libras
• Paralelos entre Libras e a Língua Portuguesa
• Línguas de Sinais e Libras
• Aspectos linguísticos da Libras
UNIDADE I - LIBRAS
Introdução
Os fortes preconceitos relacionados à surdez se sustentam na crença, praticamen-
longo dos tempos, de que a linguagem falada era essencial para o desenvolvimen-
to do pensamento humano.
Além disso, outros estudos indicavam que crianças surdas, filhas de pais surdos,
teriam um desempenho escolar superior aos das crianças surdas, filhas de pais
15
UNIDADE I - LIBRAS
Com esse novo direcionamento nas pesquisas sobre a relação entre o pensamento e a
surdos, o mesmo papel das línguas orais para os ouvintes, além de pressões resultan-
direito de ser educado em sua primeira língua, de ter atendimento jurídico, de saúde,
enfim, de todos os serviços prestados pelo governo, em Libras, além das traduções de
programas televisivos, de serviços bancários etc. Enfim, como a Libras é língua oficial
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UNIDADE I - LIBRAS
seção mais extensa e complexa desta Unidade I, que é o estudo dos Aspectos
Bons estudos!
LINGUAGEM E PENSAMENTO
A relação entre pensamento e linguagem é discutida desde os tempos mais remo-
tos e, desde então, existe uma forte crença de que a linguagem falada é essencial
Esse fato é reforçado por pesquisas mais recentes. No século XX, Piaget estabe-
co-formal. Entretanto, antes mesmo da linguagem, para este estudioso, existe uma
ocupa um papel essencial na organização das funções superiores, pois exerce pa-
17
UNIDADE I - LIBRAS
segundo Vygotsky, a palavra por ser carregada de sentido exige que o sujeito realize
ções de uso dela [...] Por intermédio dessa forma de pensar, pode-se compreender a
Mas por comunicação verbal devemos entender apenas a língua oral? A resposta
é não. Verbal vem de verbo, que significa palavra, que, pode ser reproduzida tanto
verbal tanto quanto a oroauditiva é recente. Durante muito tempo se acreditou que
dificuldade encontrada pelos surdos para falar foi considerada como quase impeditiva
décadas foi confundida com mímica, era entendida como dependente do mundo con-
ciais, sendo educados em sua língua natural, tem contribuído muito para des-
linguístico do indivíduo.
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UNIDADE I - LIBRAS
O surdo pode e desenvolve suas habilidades cognitivas e linguísticas (se não tiver
vimento cognitivo dos surdos o mesmo papel que a língua oral representa no dos
ouvintes compreendeu-se que a surdez não torna a criança um ser que tem possi-
põem apenas de funções biológicas, mas também têm origem social e histórica; essas
capacidades são, como assevera Sacks (1998), um presente – o mais maravilhoso dos
presentes – de uma geração para outra, o que reforça a importância do grupo, da cultura
Assim, possuir dificuldades em ouvir não impede o ser humano de adquirir uma língua
e nem de desenvolver sua capacidade de representação, porém, faz o surdo criar uma
As línguas de sinais, portanto, comprovam que o fato de esta não impede o surdo
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UNIDADE I - LIBRAS
surdo. Considerando-se que a relação do indivíduo surdo profundo com a língua oral
é de outra ordem (dado que não ouvem!), a incorporação da língua de sinais é im-
prescindível para assegurar condições mais propicias nas relações intra e interpes-
soais que, por sua vez, constituem o funcionamento das esferas cognitivas, afetivas
do surdo, “[...] é fundamental que a criança aprenda a língua de sinais bem cedo,
pois ‘pesquisas’ têm mostrado que, quando a criança surda adquire linguagem
ouvintes” (REILY, 2004, p.123). Portanto, é indispensável que a família esteja com-
Ora, mas as pesquisas apontam que cerca de 90% das crianças surdas são filhas
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UNIDADE I - LIBRAS
certamente abalada pelo imprevisto da chegada de uma criança surda. Disto de-
corre o papel fundamental desempenhado pelo professor, que, além de ser o pro-
Mas, enquanto a família se dá conta das dificuldades de adaptação ao novo filho que
lhes foi imposto, algo deve ser feito e rapidamente. A criança cresce e necessita da
a família tem acesso, ele passa a ser o responsável pela orientação sobre a atuação
da família em toda a vida do filho surdo, daí a necessidade de conhecer muito bem
linguista em um evento cujo público alvo era o estudante do curso de letras. Uma pro-
fessora que trabalha na área da surdez, mencionando o título, fez o seguinte comen-
tário: “De novo? Achei que essa questão já estivesse resolvida!” (GESSER, 2009, p.9).
Embora mais de cinquenta anos tenham passado desde que a língua de sinais é
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UNIDADE I - LIBRAS
abril de 2002, que reconhece a Libras como língua oficial brasileira, ainda é neces-
Mas por que insistir tanto nesta questão, ou seja, a de que a Libras é uma língua?
Afinal, o que isto significa? Língua e linguagem é a mesma coisa? O surdo “fala” em
Libras?
dependente da situação cultural, que diferencia o ser humano das demais espécies.
cio material da língua levado a cabo por este ou aquele indivíduo pertencente a uma
nidade linguística”.
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UNIDADE I - LIBRAS
a Libras é uma língua, porque permite que uma comunidade linguística particular,
Mas não foram considerações simplistas como as que fizemos aqui que permitiram
afirmar, em bases científicas, que a Libras é uma língua sendo que este reconhe-
William Stokoe em 1960. Antes disso, as línguas de sinais não eram vistas como
Federal de Santa Catarina, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo
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UNIDADE I - LIBRAS
Todavia, a comunicação com as mãos não teve início com os surdos e nem é
que o processo inverso, isto é, a passagem da língua oral para a manual foi rein-
ventado pelo homem, sempre que necessário e não apenas no caso dos surdos.
Você sabia que existem várias linguagens manuais criadas em diversos momentos
ou impossível?
municar debaixo d água, onde a fala não é possível. Considerando os riscos de uma
comunicação deve ser bem assimilada durante os cursos de mergulho para garantir
No Brasil, Lucinda Ferreira Brito iniciou seus estudos linguísticos em 1982 sobre a
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UNIDADE I - LIBRAS
Lucinda Brito constatou que a mesma se tratava de uma legítima língua de sinais.
volveram uma língua de sinais para estabelecer uma comunicação entre tribos dis-
tintas, que não falavam a mesma língua, e precisavam de uma forma convencional
nos mosteiros europeus, que faziam o voto do silêncio, sendo que mesmo atu-
registradas por São Basílio Magno e que a palavra só poderia ser utilizada em caso
inferir que a comunicação gestual por eles utilizada era bastante eficiente.
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UNIDADE I - LIBRAS
que sabem usar da palavra, com concisão e firmeza, como convém perguntar e res-
ponder a cada um. Há um tom de voz, uma palavra comedida, um tempo oportuno,
uma propriedade no falar, peculiares e adequados aos que praticam a piedade. Não
os aprende quem não tiver abandonado aquilo a que estiver acostumado. O silêncio
proporciona lazer para o aprendizado do bem. Assim, a não ser por questão especial
No século XVI, o médico e filósofo italiano Girolamo Cardano, utilizou a língua de sinais
e escrita para ensinar seu filho, que era surdo. No mesmo século, Pedro Ponce de
gia, escrita e oralização, entretanto como na época era comum se guardar segredo dos
Na interface dos séculos XVI e XVII, na Espanha, Juan Pablo Bonet educava nobres
çando enorme sucesso, tendo sido, em razão disto, nomeado Marquês pelo Rei
Henrique IV. Bonet publicou o primeiro livro que se tem notícia sobre a educação
de surdos no qual expunha seu método, que, apesar de ser oralista, defendia o
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UNIDADE I - LIBRAS
A língua de sinais que conhecemos hoje no Brasil, utilizada pelos surdos, teve ori-
1760, particularmente pelo abade L´Épée, que foi o primeiro a reconhecer a neces-
religiosa de duas irmãs gêmeas surdas, que estavam sendo educadas utilizando
imagem, sendo impossível transmitir por figuras o sentido mais profundo da fé.
Resolveu ensinar linguagem pelos olhos, em vez de pelos ouvidos, apontando os ob-
jetos com uma mão e escrevendo o nome correspondente numa lousa, com a outra.
[...] logo as meninas estavam lendo e escrevendo os nomes das coisas. No entanto,
esse sistema não permitia maiores avanços, porque não contemplava nenhuma gra-
L´Épée aprendeu os sinais com suas alunas surdas. Também observou que os sur-
dos das ruas de Paris desenvolviam uma comunicação gestual bastante satisfató-
ria, levou-os para residir no convento e, com este conjunto de sinais estabelecido,
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UNIDADE I - LIBRAS
sinais à língua francesa, que ficou conhecido como Sinais Metódicos. Em 1775,
L’Epée fundou uma escola para surdos, a primeira em seu gênero, com aulas co-
proposta educativa da escola era que os professores deveriam aprender tais sinais
para se comunicarem com os surdos; eles aprendiam com os surdos e, com essa
Diferente de outros professores que escondiam seus métodos, L’Epée divulgava seus
publicou um livro no qual divulgava suas técnicas. Neste livro, intitulado A verdadei-
regras sintáticas e o alfabeto manual criado por Bonet. Quando faleceu, em 1789, De
Seus alunos usavam bem a escrita, e muitos deles ocuparam mais tarde o lugar de
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UNIDADE I - LIBRAS
Nacional de Educação do Surdo (INES), que adotava a língua de sinais. Esta lín-
gua de sinais que deu origem à Libras, constitui-se, naturalmente, pela interação da
Assim, tanto a língua de sinais americana (ASL), quanto a Língua de sinais brasileira
(Libras) foram influenciadas pela Língua de Sinais Francesa, entretanto, com o pas-
sar dos tempos, cada língua adquiriu características culturais próprias de seu país
e acabaram se diferenciando.
Em 1870, Alexander Graham Bell inicia uma “verdadeira cruzada” contra as lín-
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UNIDADE I - LIBRAS
intelectual dos surdos. Além disso, criticava as escolas especializadas, sob a ale-
gação de que promoviam o isolamento dos surdos. Ele publicou vários artigos,
defendendo suas ideias e foi fundamental para que a decisão de se proibir o uso
Em 1957, o INES proibiu oficialmente o uso das línguas de sinais nas salas de aula,
Libras só eram possíveis longe dos olhos de professores e vigilantes, à noite, à luz
de velas, embaixo das camas e das mesas, nos refeitórios, banheiros ou corredores
Percebe-se que a história sofreu mudanças e foi muitas vezes influenciada por di-
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UNIDADE I - LIBRAS
Mas com o reconhecimento da Libras pela lei 10.436, emergiram possibilidades para
Desses estudos, concluiu-se que a língua de sinais é uma língua com condições de
icônicas (uma representação da realidade, por ícones), e pela forte influência da lín-
gua oral tanto na estrutura gramatical, quanto lexical são muitas as interpretações
que a linguística de então colocava para as línguas orais, por exemplo, os níveis de
Dito de outra forma: para poderem chegar à conclusão de que as línguas de si-
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UNIDADE I - LIBRAS
sempre na parte da linguística que faz a comparação entre duas ou mais línguas,
semântico.
lavra – por exemplo, na palavra fala a letra f representa o fonema /f/ (fê), se
das três formas é devido ao morfema estud, que é igual nas três palavras.
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UNIDADE I - LIBRAS
A Libras também possui suas unidades mínimas distintivas, os quiremas, que combina-
dos, produzem unidades significativas, os sinais, que obedecem a regras para constitu-
a palavra contextos, porque a Libras é uma língua falada (cuja escrita se faz por meio do
Em Libras fica: CINEMA VOCÊ IR? Ou ainda GATO VOCÊ TEM? O mesmo é
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UNIDADE I - LIBRAS
7. A língua de sinais não tem marcação de gênero, isto é, não tem sinais di-
derem ser substituídas pela prosódia, que significa a pronúncia correta das
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UNIDADE I - LIBRAS
9. Coisas que são ditas na língua de sinais não são ditas usando o mesmo tipo
Libras e vice-versa.
quais destacamos:
línguas de sinais, mais do que nas orais, mas a sua arbitrariedade continua a
ser dominante. Embora, nas línguas de sinais, alguns sinais sejam totalmente
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UNIDADE I - LIBRAS
mesmas características.
da Libras, pelos seus sinalizadores nativos, parecendo não haver limite criativo.
que a substituição de uma unidade fonológica (uma letra) por outra altera o
no aspecto do sinal.
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UNIDADE I - LIBRAS
palavras que caem em desuso, outras que são adquiridas, a fim de aumentar
forma, não tendo o surdo que exercer esforço para aprender uma língua de
poética.
Os estudos de Stokoe (1968) mostraram que os sinais não eram apenas imagens,
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UNIDADE I - LIBRAS
Stokoe (1968) estabeleceu que cada sinal era composto por três parâmetros bá-
sicos: a configuração das mãos (CM); o movimento das mãos (M) e o ponto de
articulação (PA) ou Locação (L), que é o lugar do espaço onde as mãos se movem.
Língua de Sinais Americana (American Sign Language – ASL) dos quais resultou a
mário são componentes de uma palavra (no caso das línguas orais) ou de um sinal,
Esse contraste de dois itens lexicais com base em um único componente recebe, em
linguística, o nome de “par mínimo”. Nas línguas orais, por exemplo, pata e rata se
/p/ por /r/. No nível lexical, temos em LIBRAS pares mínimos como os sinais grátis
delas pode alterar o significado do sinal. Elas não têm significado isoladamente.
Um sinal é constituído por mais de uma unidade mínima, por exemplo, o sinal de
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UNIDADE I - LIBRAS
TELEVISÃO
mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como ajudar e ser ajudado; eu per-
pectos não manuais, as expressões faciais e corporais que são muito utilizadas pe-
los surdos para produzir informações linguísticas. No caso das línguas de sinais, as
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UNIDADE I - LIBRAS
de Sinais. De acordo com esse estudo, alguns dos aspectos fonológicos da Língua
• Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. No caso de uma mão,
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UNIDADE I - LIBRAS
são sobre a Libras ser uma língua, nossa intenção foi salientar o desconhecimen-
cimento está expresso em textos de Gesser (2009), Reily (2004) e Pereira et al.
(2011), quando esses autores abordam mitos e crenças sobre as línguas de sinais.
tais crenças, mitos ou simplesmente as dúvidas que ainda pairam sobre a Libras.
apenas “gestos”. De acordo com Pereira et al. (2001, p.18), essa descrição para si-
nais seria equivalente a descrever uma língua oral como “ruídos” feitos com a boca.
Além disso, os gestos são traços das línguas orais, acompanham as línguas orais e
a orientação das palmas das mãos e componentes não manuais, que são os parâ-
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UNIDADE I - LIBRAS
que estão representando (o que poderia significar que a língua de sinais não seria
arbitrária e resultante de convenção, como as línguas orais, em que não existe uma
afirmar que a língua de sinais seja icônica, pois embora a relação direta, quase
na década de 1960, corroborando Sacks (1990), a língua de sinais não era vista,
nem mesmo por seus usuários, como uma língua verdadeira, com gramática pró-
que a língua de sinais possui sua gramática própria, um conjunto de regras par-
tilhado por todos os seus usuários e que permite a expressão de qualquer ideia.
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UNIDADE I - LIBRAS
como mímica.
pelo uso do espaço é possível expressar as mesmas relações que, por exemplo,
para expressar as mesmas ideias. Também a língua de sinais não tem limites para
estruturada nos mesmos níveis das línguas orais, a saber: fonológico, morfológico,
sintático e semântico.
objeto) do que os sinais que as representavam. “A pantomima quer fazer com que
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UNIDADE I - LIBRAS
você veja ‘o objeto’, enquanto o sinal quer fazer com que você veja o símbolo con-
beto digital. O alfabeto digital é um recurso utilizado pelos surdos sinalizadores para
uma importante função na interação entre sinalizadores, o alfabeto digital não é uma
língua, e sim apenas um código para a representação manual das letras alfabéticas.
O alfabeto digital da Libras não é o mesmo utilizado pelos surdos-cegos, que pre-
deos pré-históricos, sendo, portanto, natural. Dizemos que uma língua é artificial
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UNIDADE I - LIBRAS
o caso do Esperanto, língua criada pelo russo Ludwik Zamenhof em 1887 com o
lhante, foi criado o Gestuno, com a intenção de ser uma língua de sinais univer-
sal e que foi apresentado pela primeira vez em 1951, no Congresso Mundial da
Federação Mundial dos Surdos, mas que não conseguiu aceitação plena entre os
é, portanto, brasileira, não podendo ser considerada como uma língua estrangeira.
A Libras é considerada uma língua nativa, de falantes nativos e brasileiros, que é utili-
outras línguas também praticadas no país, como as diferentes línguas das comuni-
brasileiros confirmam que a Libras é uma língua que, como qualquer outra, possui uma
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UNIDADE I - LIBRAS
sintaxe, uma semântica, uma morfologia e uma gramática próprias, não se tratando,
científica, cumprem todas as funções de uma língua natural, mesmo assim ainda
sofrem preconceito e são desvalorizadas diante das línguas orais, sendo consi-
Além das características icônicas, alguns preconceitos a respeito das línguas de si-
nais fortalecem a ideia de uma língua de sinais única, por exemplo, considerar que
sinais deveria ser a mesma para todos os surdos. Ora, primeiro, já mostramos que
gestos e sinais são coisas diferentes. Os gestos podem ser associados à mímica
que os ouvintes.
46
UNIDADE I - LIBRAS
Isso se deve, de acordo com Felipe (2009, p.20), “à capacidade que as pessoas
que facilita essa comunicação é o fato de essas línguas terem muitos sinais que se
sais linguísticos” –, que permitem identificá-las como línguas e não linguagens como
sideráveis entre si, e que essas diferenças não dependem das línguas orais utilizadas
nesses países. Por exemplo: Brasil e Portugal possuem a mesma língua oral oficial,
o português, mas as línguas de sinais desses países são muito diferentes. A mesma
coisa acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra. Isto significa que a língua de
sinais não é subordinada à língua oral majoritária do país. As línguas de sinais são
completamente independentes das línguas orais dos países em que são produzi-
das. Também acontece que países diferentes usem a mesma língua de sinais, como é
o caso da língua de sinais americana que é utilizada pelos Estados Unidos e Canadá.
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UNIDADE I - LIBRAS
Da mesma forma que acontece com as línguas faladas oralmente quando algumas
Língua Americana de Sinais (ASL) possuem as mesmas raízes, pois são derivadas da
LSF – Língua de Sinais Francesa. Além disso, nelas igualmente existem variações,
Dessa forma, é fundamental que você se conscientize de que não é possível falar
da! As pessoas ouvintes, que não são fluentes em Libras, costumam misturar as
duas línguas na comunicação com surdos e acabam por utilizar os sinais da língua
não são exclusividade dos surdos. Reily (2004) argumenta que os ouvintes que
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UNIDADE I - LIBRAS
diferentes situações, sempre que existe necessidade, como no caso dos monges,
dos mergulhadores ou dos índios americanos, o homem cria saídas para permitir a
nal leva-o a interagir com outros sujeitos, a manter relações interpessoais e profis-
sionais que envolvem pessoas com surdez e ouvintes, sem que esteja efetivamente
entendendo que não poderá interferir na relação estabelecida entre a pessoa com
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UNIDADE I - LIBRAS
mãos (O) e as componentes não manuais, que são as expressões faciais e corporais.
figuração mão em “L” está presente nos sinais de “televisão”, “trabalho”, “pa-
A B C D E
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UNIDADE I - LIBRAS
datilológica, que é como é denominado esse tipo de escrita, só é utilizada para no-
mes próprios ou para palavras que ainda não possuem um sinal ou que não pode ser
é que a escrita datilológica não é a escrita de sinais, isto é, se utiliza a escrita datilo-
A soletração é feita em Libras, letra por letra, da mesma forma que na Língua
Portuguesa, por exemplo, soletrando com a mão, o nome Maria (escrita ou fala) –
M-a-r-i-a (soletração).
M A R i A
palavras soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o
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UNIDADE I - LIBRAS
mas dito de maneira simplificada, soletra um resumo da palavra para agilizar a co-
municação. Por exemplo, PAI, em fica datilologia P-I, sem o A. Observe os exem-
plos a seguir:
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UNIDADE I - LIBRAS
Os nomes podem ser transmitidos por datilologia, quando o surdo está alfabetizado,
mas a comunidade surda prefere a prática de atribuir um sinal que identifica cada
pessoa. Esse sinal adjetiva características físicas da pessoa. Por isso, dois meninos
chamados Jonatas, por exemplo, podem ter sinais diferentes um do outro, porque um
tem uma covinha no queixo e o outro tem o cabelo encaracolado, também pode acon-
tecer de dois alunos de nomes diferentes terem o sinal parecido (REILY, 2004, p.132).
língua.
ra mais estática. Isso ocorre porque o movimento, embora seja uma parte integran-
te da língua, é realizado com mais propriedade pelos surdos, que são visuais, mais
pressões não manuais não é algo simples para os ouvintes. Essa habilidade exige
des é algo bem complexo. Os surdos, por serem seres visuais, adquirem essas
53
UNIDADE I - LIBRAS
Cabe destacar, então, que para que haja movimento é preciso haver espaço.
servem para diferenciar itens lexicais, por exemplo, nome e verbo, para indicar a
direcionalidade do verbo, por exemplo, o verbo “olhar” (e olhar para) é para indi-
car variação em relação ao tempo dos verbos, por exemplo, olhe para, olhe fixo,
observe, olhe por um longo tempo, olhe várias vezes. Os movimentos se diferen-
nuoso (Brasil, navio) e angular (raio, difícil). Em relação à maneira, sua maneira
(tensão e velocidade), por exemplo, o verbo olhar, pode ser sinalizado rapidamente
para dizer que a pessoa apenas avistou ou longamente, significando que a pes-
repetidos), isto pode ser verificado na diferença entre o substantivo e o verbo, por
exemplo, cadeira e sentar. Um sinal também pode ser realizado sem movimento,
54
UNIDADE I - LIBRAS
exemplos:
Ajoelhar Em pé Pensar
Circular
55
UNIDADE I - LIBRAS
Semicircular
Helicoidal
Alta Importante
Unidirecional
56
UNIDADE I - LIBRAS
Bidirecional
em Libras: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita e para a
mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como ajudar e ser ajudado; eu per-
57
UNIDADE I - LIBRAS
OM, não apenas é utilizado na flexão de verbos, como também para a marcação de
Gostar:
Aprender
Comer
58
UNIDADE I - LIBRAS
Expressão Facial
A Libras conta com uma série de componentes não manuais, como a expressão
facial e o movimento do corpo, que muitas vezes podem definir ou diferenciar sig-
alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc., dando mais sentido à Libras e, em
Exemplos:
59
UNIDADE I - LIBRAS
ciais, que podem ser consideradas gramaticais. Essas marcações são chamadas
60
UNIDADE I - LIBRAS
expressão facial, que podem indicar alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento,
entre outros sentimentos, dando mais sentido à Libras e, até mesmo determinando
o significado de um sinal.
Exemplos:
61
UNIDADE I - LIBRAS
por exemplo, aponta para o lado e o olho segue o dedo; se a apontação é para
62
UNIDADE I - LIBRAS
Orientação das mãos (O): é a direção para a qual a palma da mão aponta na pro-
em Libras: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita e para a
mínima. É o lugar do corpo onde será realizado o sinal. Os sinais podem ser pro-
neutro e subespaços (nariz, boca, olho etc.). Muitos sinais envolvem um movimento
indo de um ponto de articulação para outro. Mesmo assim, cada sinal tem apenas
articulação diferentes, eles são diferentes, por exemplo, os sinais para amar, ouvir,
63
UNIDADE I - LIBRAS
Além desses parâmetros, a Libras conta com uma série de componentes não ma-
nuais, como a expressão facial e o movimento do corpo, que muitas vezes podem
a corporal podem traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc., dando
ASPECTOS MORFOLÓGICOS
Morfologia se refere à maneira como as palavras são formadas em uma língua. A
Libras conta com um léxico e com recursos que permitem a criação de novos si-
64
UNIDADE I - LIBRAS
substantivos e vice-versa.
Cadeira Sentar
Outra forma bastante usual para a criação de novos sinais em Libras é a composi-
ção, em que, como o próprio nome indica, dois ou mais sinais se combinam para
65
UNIDADE I - LIBRAS
66
UNIDADE I - LIBRAS
Da mesma forma que nas línguas orais, em que uma palavra é polissêmica, isto
renças. Exemplos:
67
UNIDADE I - LIBRAS
Apesar da Libras ser independente da Língua Portuguesa, alguns sinais são origi-
da mesma forma que nas línguas orais em que uma língua influencia a criação de
68
UNIDADE I - LIBRAS
69
UNIDADE I - LIBRAS
Negativa:
1 2
cabeça balançada (lado a lado) ou como na figura 2, a cabeça parada com as so-
Exclamativa:
70
UNIDADE I - LIBRAS
Interrogativa:
1 2
çando (para cima e para baixo levemente), como na figura 1 e a mesma coisa
Imperativa:
71
UNIDADE I - LIBRAS
TIPOS DE NEGAÇÃO
São três tipos: somente acrescentando um sinal para NÃO; incorporando a nega-
lançando “não”.
Nas fotos a seguir, observe que o sinal para a negação é diferente do sinal afir-
mativo, pois já está incorporando a negação. Mas são poucos os sinais em que a
72
UNIDADE I - LIBRAS
Possibilitar Impossibilitar
73
UNIDADE I - LIBRAS
FLEXÃO DE GÊNERO
A flexão de gênero, quando necessária, é marcada pelo sinal de masculino ou
a Língua Portuguesa, o símbolo @ significa não tem gênero por isso precisamos
Por exemplo:
74
UNIDADE I - LIBRAS
75
UNIDADE I - LIBRAS
76
UNIDADE I - LIBRAS
TIPO DE VERBOS
Os verbos em Libras classificam-se em Simples ou Sem Concordância, Direcional
São verbos que não se flexionam em pessoa e número e não incorporam afixos
77
UNIDADE I - LIBRAS
ancorados no corpo são verbos simples. Há também alguns que são feitos no
Pensar Comer
Conhecer Amar
pecto, mas não incorporam afixos locativos. Exemplos dessa categoria são DAR,
78
UNIDADE I - LIBRAS
trasLibras/eixoFormacaoEspecifica/linguaBrasileiraDeSinaisI/scos/cap18943/1.
Você me explica
79
UNIDADE I - LIBRAS
Eu explico
Me aconselha Eu aconselho
Eu vejo Me vê
80
UNIDADE I - LIBRAS
Me busca Eu busco
81
UNIDADE I - LIBRAS
Mãe vai
Pai vir
82
UNIDADE I - LIBRAS
Pratos empilhados
especificidades e “dar vida” a uma ideia ou a um conceito ou signos visuais. Isto sig-
nifica que o Classificador representa forma e tamanho dos referentes, assim como
as línguas de sinais foi atribuída pela comunidade de linguistas para comparar com
dores surdos, essa estrutura gramatical da Libras ainda está à procura de uma defi-
espacial do que se quer enunciar são fundamentais, pois torna mais claros e com-
83
UNIDADE I - LIBRAS
uma função descritiva podendo detalhar som, tamanho, textura, paladar, tato,
Muitos classificadores são icônicos em seu significado pela semelhança entre a sua
tros da Libras, apesar de serem icônicos, não podem ser considerados como mímica.
- Logomarca
84
UNIDADE I - LIBRAS
- Corpo
- Plural
85
UNIDADE I - LIBRAS
- Instrumental
- Elemento
- Específico
86
UNIDADE I - LIBRAS
Campainha Barulho
- Descritivo
Televisão clássica
Televisão plana
87
UNIDADE I - LIBRAS
Classificador de Sintaxe
O classificador descreve uma ação, o verbo “incorpora” o sujeito ou o objeto.
Exemplo:
Leão X Cachorro, morder. Temos o mesmo sinal para o verbo, porém, precisamos
sinalizar qual animal que está mordendo. O mesmo acontece com os verbos andar
Leão morder
Leão andar
88
UNIDADE I - LIBRAS
Elefante andando X Cachorro andando – Dá para perceber que tem diferença entre
Beber: também tem que incorporar o objeto que você está usando, por exemplo:
89
UNIDADE I - LIBRAS
Escovar: pente, escova para roupa, escova para dentes, é diferente o que sinaliza-
Esses sinais são muito parecidos com as coisas que estão representando, mas não é
90
UNIDADE I - LIBRAS
do verbo que se deseja anunciar; caso seja passado, utiliza-se os sinais de ontem
ou muito tempo atrás, seguido do sinal do verbo e, caso seja futuro, sinaliza-se
amanhã ou um futuro mais distante, seguido do sinal do verbo. A ordem pode ser
vérbio de tempo.
tempo verbal e o pronome pessoal que está sendo usado. Em Libras precisamos
de um sinal específico para o tempo verbal, outro para o pronome pessoal e outro
91
UNIDADE I - LIBRAS
ENTENDER =
1. Eu
• Entendi = passado
• Entendo = presente
• Entenderei = futuro
2. Nós
• Entendíamos = passado
• Entendemos = presente
• Entenderemos = Futuro
1. Nós
• Nós entender já
• Nós ir entender
2. Eu
• Eu entender antes
• Eu ainda entender
• Eu futuro entender
92
UNIDADE I - LIBRAS
Então, precisamos sinalizar duas palavras ou mais, impossível apenas verbo com
Passado
93
UNIDADE I - LIBRAS
Vai Futuro
Amanhã
94
UNIDADE I - LIBRAS
Um Dia
ASPECTOS SINTÁTICOS
A sintaxe da Libras não pode ser estudada tendo como base a da Língua Portuguesa,
porque ela tem gramática diferenciada, independente da língua oral. A ordem dos
pendência sintática do português, isto é, veja como se “diz em libras e como se diz
95
UNIDADE I - LIBRAS
(por exemplo: João comprar carro amanhã ou Amanhã João comprar carro). Os ad-
SAIBA MAIS
Segundo o Censo do IBGE de 2010, são 45 milhões de brasileiros com algum
vir, mesmo utilizando aparelho auditivo. Dentre essas pessoas, 347.481 pessoas
Fonte: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/carac-
teristicas_religiao_deficiencia/default_caracteristicas_religiao_deficiencia.shtm>.
96
UNIDADE I - LIBRAS
4,6 milhões possuem deficiência auditiva e 1,1 milhão são surdas, totalizando
de”. Segundo o Censo Escolar (INEP, 2012) o total de alunos surdos na Educação
97
UNIDADE I - LIBRAS
INDICAÇÃO DE LEITURAS
Para complementar seus estudos sobre o tema, indicamos os seguintes livros:
da língua de sinais na sua constituição como sujeito, permitindo mais bem avaliar
e o que significa este resgate que vivenciamos neste momento. O livro apresenta,
ainda, em seu capítulo 5, um resgate histórico a respeito das pesquisas sobre lín-
guas de sinais.
de Maria Cristina da Cunha Pereira; Daniel Choi, Maria Inês da S. Vieira; Priscilla
Roberta Gaspar e Ricardo Nakasato, foi publicado pela editora Pearson, de São
Paulo, em 2011.
98
UNIDADE I - LIBRAS
aproximar do mundo dos surdos. Com ênfase nos aspectos fonológicos, morfoló-
REFLITA
“Ainda hoje, muitos ouvintes tentam diminuir os Surdos para que vivam iso-
lados e tendo de assumir a cultura ouvinte, como se esta fosse uma cultura
única; ser “normal” para a sociedade significa ouvir e falar oralmente. Os
ouvintes não prestam atenção aos surdos que se comunicam por meio da
Libras. Consequentemente, não acreditam que os surdos sejam capazes
de estudar em faculdade ou realizar mestrado e doutorado, por exemplo.
Os sujeitos ouvintes veem os sujeitos surdos com curiosidade e, às vezes,
zombam por eles serem diferentes” (STROBEL, 2008, p.22). E VOCÊ, O
QUE PENSA A RESPEITO DOS SURDOS?
99
UNIDADE I - LIBRAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O caminho que trilhamos nesta unidade começou com a contextualização do
rando por ressaltar que o importante para o ser humano é ter uma língua, e não
e da surdez.
e social do aluno, como sua produção escrita, sendo também falsa a ideia de que
fazer uso de sinais seria um fator complicador para a aprendizagem da língua oral.
Concordamos com Gesser (2009, p.59) quando afirma que muitas das barreiras
100
UNIDADE I - LIBRAS
Esta visão dos pesquisadores preconiza o uso da Libras não apenas como apoio
Gesser (2009, p. 59) vai mais além, ao considerar que “[...] a relação do indivíduo
surdo profundo com a língua oral é de outra ordem (dado que não ouvem!), a in-
página, seriam essas relações intra e interpessoais que “[...] constituem o funciona-
• A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais, dis-
101
UNIDADE I - LIBRAS
de uma língua natural, mesmo assim ainda sofrem preconceito e são desvalo-
rizadas diante das línguas orais, sendo consideradas como uma derivação da
Sempre que possível tente falar em Libras com seus colegas e estude em casa.
102
UNIDADE I - LIBRAS
ATIVIDADES
1) Estude o alfabeto manual. Faça cada configuração de mãos em frente ao es-
pelho. Lembre-se: o sinal deve ser feito “virado” para o seu interlocutor, e não
para você. Assim, olhando no espelho você deve enxergar o sinal tal como se
apresenta no texto. Soletre cada uma das seguintes palavras: CASA, PAULO,
COMPORTAMENTO.
3) Escreva com suas próprias palavras o que você entendeu acerca dos parâme-
teceria e faça sinais icônicos. Mostre para alguém e veja se a pessoa consegue
103
UNIDADE I - LIBRAS
resposta.
104
UNIDADE 2
Construindo Vocabulário
Clélia Maria Ignatius Nogueira; Marilia Ignatius Nogueira Carneiro;
Beatriz Ignatius Nogueira
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Introdução
Nesta segunda unidade, conforme anunciamos na apresentação deste livro, é
dadão surdo, qualquer que seja seu campo de atuação profissional. Reafirmamos
que fazemos estas discussões sustentadas não apenas em nossa formação aca-
do os movimentos, todavia, você pode encontrar esses sinais (pelo menos a maio-
ria deles) em qualquer dos dicionários virtuais disponíveis. Essa consulta é impor-
Educação e Economia.
107
UNIDADE II - LIBRAS
rio, tempo.
cola e economia.
É muito importante que o(a) futuro(a) professor(a) aprenda a língua de sinais para
é a língua oficial do Brasil e assim, utilizá-la não significa nenhum tipo de conces-
são, ao contrário, o surdo tem esse direito. É fato que isto pode ser viabilizado por
108
UNIDADE II - LIBRAS
profissionais que atuem como intérpretes e, assim, nos diferentes segmentos pro-
O alfabeto manual
A B Ç C
109
UNIDADE II - LIBRAS
D E F G
H I
J K L
M N O P
Q R S T
110
UNIDADE II - LIBRAS
U V X W
Pontuações
^`´~
.:;?
! ...
111
UNIDADE II - LIBRAS
Números
Algarismos e Numerais
0 1 2 3
4 5 6 7
8 9
10
112
UNIDADE II - LIBRAS
Números quantitativos
Existe uma diferença na maneira de representar os números até 4. Os sinais para
mesmos sinais.
Quantidade / Quanto
1 2 3 4
Números ordinais
Faça o sinal do algarismo com movimento, por exemplo, “1” balançando para cima
e para baixo.
113
UNIDADE II - LIBRAS
Quinto Sexto
PRONOMES
Pronomes Pessoais
Os pronomes pessoais são sinalizados apontando com o dedo indicador. Quando
a pessoa que fala aponta para si olhando para quem fala, esse sinal significa eu. Se
a apontação e o olhar são dirigidos ao interlocutor o sinal indica tu ou você. Se, por
outro lado, a apontação é dirigida para outra pessoa que não está na conversa ou
é ele ou ela.
114
UNIDADE II - LIBRAS
Del@ Seu
Del@ Seu
115
UNIDADE II - LIBRAS
Pronomes Possessivos
Os pronomes possessivos são sinalizados com a configuração de mão em P e
Você Eu El@
116
UNIDADE II - LIBRAS
Pronomes Demonstrativos
IDENTIFICAÇÃO PESSOAL
117
UNIDADE II - LIBRAS
Encontrar Saudades
118
UNIDADE II - LIBRAS
Tudo Bem Oi
119
UNIDADE II - LIBRAS
Bom Dia Ou
Bom Dia
Boa tarde
Boa Noite
Boa Madrugada
120
UNIDADE II - LIBRAS
CORES
Verde Claro
121
UNIDADE II - LIBRAS
Branco ou Branco
Preto Laranja
122
UNIDADE II - LIBRAS
CALENDÁRIO
Aprendendo os sinais de Calendário
Calendário
123
UNIDADE II - LIBRAS
124
UNIDADE II - LIBRAS
Hoje Ontem
125
UNIDADE II - LIBRAS
Para mais de cinco semanas, deve-se usar o sinal do número mais o sinal de “se-
Cinco semanas
40 semanas
126
UNIDADE II - LIBRAS
ou
127
UNIDADE II - LIBRAS
Meses
ou
Janeiro Fevereiro
Junho Julho
128
UNIDADE II - LIBRAS
ou
Novembro Dezembro
Datas comemorativas
Aniversário
129
UNIDADE II - LIBRAS
JANEIRO
Ano Novo
FEVEREIRO
Carnaval
130
UNIDADE II - LIBRAS
MARÇO
Dia da Mulher
ABRIL
131
UNIDADE II - LIBRAS
MAIO
Dia do Trabalho
JUNHO
132
UNIDADE II - LIBRAS
JULHO
Férias
AGOSTO
SETEMBRO
Dia da Independência
133
UNIDADE II - LIBRAS
Dia da árvore
OUTUBRO
134
UNIDADE II - LIBRAS
Dia do Professor
NOVEMBRO
Dia de Finados
DEZEMBRO
Natal
135
UNIDADE II - LIBRAS
Horas
seja, o horário, por exemplo, duas horas da tarde e horas no sentido de duração,
136
UNIDADE II - LIBRAS
3 : 45
3:19
5: 35
137
UNIDADE II - LIBRAS
DEFICIÊNCIAS
138
UNIDADE II - LIBRAS
Surdo (surdez)
139
UNIDADE II - LIBRAS
PROFISSÕES
ou
Bailarina Intérprete
140
UNIDADE II - LIBRAS
Padeiro
141
UNIDADE II - LIBRAS
Motorista de ônibus
Fonoaudiologia Pintor
142
UNIDADE II - LIBRAS
Comprador Educador
Coordenador Secretária
143
UNIDADE II - LIBRAS
Empregador Funcionário
144
UNIDADE II - LIBRAS
ECONOMIA
Poupança Juros
ou
145
UNIDADE II - LIBRAS
146
UNIDADE II - LIBRAS
Mil
147
UNIDADE II - LIBRAS
148
UNIDADE II - LIBRAS
SÉRIE
149
UNIDADE II - LIBRAS
APROVAÇÃO REPROVAÇÃO
CERTIFICADO PROVA
150
UNIDADE II - LIBRAS
VESTIBULAR REDAÇÃO
LABORATÓRIO COMPUTAÇÃO
SALA DE AULA
BIBLIOTECA
151
UNIDADE II - LIBRAS
DISCIPLINAS
FILOSOFIA ESPANHOL
152
UNIDADE II - LIBRAS
ou
SOCIOLOGIA
GEOGRAFIA CIÊNCIAS
BIOLOGIA MATEMÁTICA
153
UNIDADE II - LIBRAS
MATERIAL ESCOLAR
UNIFORME MOCHILA
APONTADOR TESOURA
COLA RÉGUA
154
UNIDADE II - LIBRAS
LIVRO / REVISTA
CADERNO CANETA
155
UNIDADE II - LIBRAS
PROFISSÕES
156
UNIDADE II - LIBRAS
como língua oficial em nosso país (BRASIL, 2002). Esse reconhecimento legal veio
Com a presença desse profissional, o TILS, no interior das salas de aula, novas
relações são estabelecidas, sendo algumas delas até mesmo reconstruídas. Dentre
elas, destacamos: TILS e alunos surdos, TILS e professores, TILS e alunos ouvintes
sores ouvintes, alunos surdos e alunos ouvintes. Nesses últimos casos, qual seria a
Desta forma, para completar a descrição do modelo atual de inclusão dos surdos bra-
sileiros, resta comentar a presença do TILS nas escolas e na sociedade em geral, que
é fundamental para a inserção das pessoas com surdez usuárias da Língua de Sinais.
157
UNIDADE II - LIBRAS
conhecimentos, seja capaz de atuar de maneira adequada em cada uma das situa-
Não sendo viável que toda aula seja realizada em Libras, deve-se procurar uma
ter certeza de que o que está sendo interpretado e repassado aos surdos é o que
A presença do TILS em uma sala de aula possui inúmeros aspectos positivos, den-
compreendido;
158
UNIDADE II - LIBRAS
• O professor conta com mais informações para estabelecer seu contato com
• O aluno não interage com o professor porque está atento ao TILS e, desta
forma, não estabelece uma relação de confiança com seu professor, indis-
159
UNIDADE II - LIBRAS
deve-se considerar que a simples adoção dessa língua não é suficiente para uma
que a utilização de uma língua, os alunos com surdez precisam ser compreendidos
Afinal, apenas garantir a presença de TILS (que é o que a maioria das pessoas
reivindica) não significa, absolutamente, que os surdos estão recebendo uma edu-
cação com qualidade equivalente à recebida por seus pares ouvintes. Assim, como
atividades da aula;
sua disciplina.
160
UNIDADE II - LIBRAS
Ao atuar em sala de aula lembrar-se sempre de não ficar de costas e nem de lado
naturalmente, estimulando-os para que sempre falem com ele. Outra atitude que
curtas, porém com estrutura completa e com o apoio da escrita; falar com o aluno
mais pausadamente, porém sem excesso e sem destacar as sílabas. O falar deve
ser claro, em um tom de voz normal, com boa pronúncia; verificar se o Aparelho
Outros cuidados essenciais que o professor precisa ter são: verificar se o surdo
está atento, pois este precisa “ler” os lábios para entender, no contexto da situa-
ção, todas as informações veiculadas; chamar sempre sua atenção por meio de um
das fileiras laterais ou colocar a turma toda em semicírculo e, procurar sempre uti-
lizar todos os recursos que facilitem sua compreensão. Quanto à posição do intér-
prete, o ideal seria que este pudesse se colocar sempre de frente ao aluno surdo,
atrás do professor. Como isto nem sempre é possível, o intérprete deve ficar de
frente para o aluno, mas de tal forma que possa enxergar o professor e o quadro.
161
UNIDADE II - LIBRAS
esforço; procurar colocar o surdo a par de tudo o que acontece na comunidade es-
colar e interrogar e pedir sua ajuda, para que ele possa sentir-se um membro ativo
a outros professores como os demais colegas; ficar atento para que participem das
atividades extraclasse.
que passa e não somente pela linguagem que expressa ou pela perfeição estru-
tural de suas frases; solicitar ajuda dos professores que atuam no Atendimento
No que se refere a ações pedagógicas de caráter geral, deve ser dado destaque ao fato
162
UNIDADE II - LIBRAS
sores precisam ter a clareza de que apesar de ler (ver o significante, a letra), os sur-
dos muitas vezes não sabem o significado daquilo que leram e assim, é importante
estar atento para utilizar vocabulário alternativo quando eles não entenderem o que
curtas. Uma boa atitude é sentar-se ao lado deles, decodificando com eles a men-
sagem de uma frase, de um texto, utilizando recursos visuais e dicionário ou, ainda,
ler a frase ou a redação dos alunos junto com eles, para que possam complementar
tacar o verbo das frases, ensinando-lhes o significado para que possam entender
instruções e executá-las.
brando-se sempre que a língua portuguesa é uma língua estrangeira para o surdo.
163
UNIDADE II - LIBRAS
Entende-se que sendo o tradutor e intérprete uma pessoa com capacidade e opi-
niões próprias, não é coerente exigir que este adote uma postura absolutamente
neutra, como se sua atividade fosse apenas uma atividade mecânica. Mas o fato
de ter uma opinião própria sobre um assunto não dá a esse profissional o direito de
interferir em uma situação concreta em que está atuando quando não for chamado
a intervir.
Feneis –, cabe a esse profissional agir com sigilo, discrição, distância e fidelidade
postura profissional exige ética, disciplina e uma clara consciência de seu papel.
Assim sendo, o TILS deve ter uma estabilidade emocional muito grande e todo
aquele que almeja assumir essa função precisa ter consciência dessas condições
Entende-se como postura ética uma atitude solidária, pela qual os intérpretes/tra-
dutores lutam pelo respeito às pessoas com surdez, assim como por qualquer
Língua Portuguesa que merecem ser objeto de reflexão de todos os que atuam
164
UNIDADE II - LIBRAS
da saúde e seus pacientes; entre pacientes e seus familiares, entre surdos e ad-
convivência social e, até mesmo, atua como confidente e conselheiro deste surdo.
Outra atitude importantíssima que o professor deve adotar e por isso a destacamos
O mais importante para um trabalho efetivo é aceitar o aluno surdo como su-
jeito surdo; ajudá-lo a pensar e a raciocinar, não lhe dar soluções prontas; não
165
UNIDADE II - LIBRAS
ministrada pela prof.ª Dra. Maria Terezinha Bellanda Galuch e destaca o relaciona-
ceito. Comparando as pessoas com deficiências, com pessoas com baixa renda,
tados em estudos teóricos da área dos Estudos Surdos1, mas principalmente nas
1 Os Estudos Surdos constituem um campo investigativo que têm suas raízes nos Estudos
Culturais, pois enfatizam as questões das culturas, das políticas, das identidades, dos proces-
sos de formação dos povos surdos, das práticas pedagógicas, das diferenças e das relações
de poderes e saberes surdos.
166
UNIDADE II - LIBRAS
experiências pessoais como pessoa surda de uma das autoras deste livro. O que
relatamos aqui não são hipóteses, são histórias reais que ocorreram, e continuam
Skilar (1998), um dos principais representantes dos Estudos Surdos no Brasil, des-
taca que há um forte preconceito em relação aos surdos sinalizadores pelos ou-
vintes, pois entendem que se os surdos não falam, todas as imagens negativas
impossível de desenvolver uma profissão: “Ser falante é também ser branco, ho-
mem, profissional, letrado, civilizado, etc. Ser surdo, portanto significa não falar,
não ser profissional, não ser letrado ser surdo-mudo e não ser humano” (SKLIAR,
1998, p.21).
esta, ainda distante de ser alcançada pelos surdos, no que se refere à educação,
167
UNIDADE II - LIBRAS
nosso trabalho pelas coisas que precisamos diariamente para viver. Isto é feito pelo
salário que recebemos pelo nosso trabalho na produção de algum bem para a vida
social, seja este bem o produto final de uma fábrica, um atendimento médico, uma
titativa dos processos sociais e, com isso, desenvolve ao mesmo tempo nova força
cas dadas, só poderia surgir sob forma especificamente capitalista. Como forma ca-
mais valia relativa ou de expandir o valor do capital, o que se chama de riqueza social
mércio entre países, com a descoberta de novos produtos para serem produzidos,
168
UNIDADE II - LIBRAS
zir custos, aumentar os lucros, para que a sociedade capitalista ficasse cada vez
mais forte. Isto foi conseguido com ajuda da tecnologia e ficou bem claro com a
Revolução Industrial.
de classes entre os cidadãos: Classe Alta, Classe Média e Classe Baixa e, tam-
Isto porque, agora, não basta querer trabalhar, é preciso também, estar preparado
tes mesmo de se iniciar o trabalho, mas na oferta de vagas. Segundo Marx (1998,
Trazendo esta discussão para as pessoas surdas, por ainda não termos uma edu-
cação que prepare essas pessoas para atuação em diferentes profissões e, mes-
mo quando o surdo, por mérito próprio, depois de muito esforço, e com grande
169
UNIDADE II - LIBRAS
Assim, durante muito tempo, os surdos só conseguiam - e ainda hoje isto continua
Entretanto, mesmo com o amparo legal para que esta função seja destinada prefe-
Contextualizando a surdez
Na década de 1980, as discussões sobre qual seria a melhor abordagem para a
educação de surdos percorria todo o Brasil, evidenciando que, além das questões
Para os defensores do Oralismo, a surdez era vista como uma deficiência, quase
170
UNIDADE II - LIBRAS
volvimento cognitivo e da identidade dos surdos, isto porque nesta década foram
que introduziram novos paradigmas para a Educação de Surdos, por meio da rea-
Os surdos, que tanto padeceram no oralismo, seja por identidade, luta, rebeldia, re-
Atualmente, a surdez não é mais entendida como uma doença ou como uma de-
ficiência que torna o surdo alguém inferior ao ouvinte. Hoje, o surdo é entendido
171
UNIDADE II - LIBRAS
experiência visual. Isso tem como consequência uma maneira especial de proces-
tam a partir da visão, mesmo quando possuem restos auditivos ou usam aparelhos.
que de não audição. O surdo é então a pessoa que compreende e interage com
o mundo por meio de experiências visuais manifestando sua cultura pelo uso da
O bilinguismo entende a surdez como diferença linguística, e não como uma de-
172
UNIDADE II - LIBRAS
das pessoas sobre a surdez. As mudanças ficam claras tanto na Lei 10.436, de
2002, conhecida como a Lei da Libras, porque reconhece esta língua como língua
oficial do Brasil e estabelece as condições para uma escola ser bilíngue (garan-
fluentes em Libras) e no Decreto 5626 de 2005 que, entre outras coisas, diz que
sendo de atuação preferencial para surdos. Este cargo, porém, passou a ser alvo
que não utilize telefone ou tenha atendimento ao público. Pode-se ver que, dentre
173
UNIDADE II - LIBRAS
atraente, mais bem remunerada e a que oferece melhor status social. A maioria das
Consideramos que pode até haver uma parceria entre professores surdos e ouvin-
tes, por exemplo, os ouvintes podem trabalhar a parte teórica, sobre os aspectos
aulas sobre interpretação e mesmo tradução em Libras, mas a prática desta língua,
Dizer que pode haver parceria entre surdos e ouvintes no ensino de Libras não
significa dizer que os surdos não são capazes de ministrar a parte referente aos as-
dições com o ouvinte, como é capaz de apresentar exemplos, mais ricos, em fun-
ção de sua experiência visual. Por exemplo, existe uma parte muito importante da
visual” e, assim, os surdos, agora pela própria condição, possuem melhores con-
174
UNIDADE II - LIBRAS
rente dos nomes, adjetivos, advérbios de modo, verbos e locativos. Para as línguas
do que se quer enunciar são fundamentais, porque tornam mais claros e compre-
do objeto a ser referido, e, muitos podem ser criados no decorrer de uma conver-
devem ser obedecidos não apenas os parâmetros da Libras, mas as regras morfo-
dores (CLs) para essa categoria gramatical da Libras foi atribuída pela comunidade
de linguistas por comparar suas funções com as dos classificadores da língua oral.
175
UNIDADE II - LIBRAS
Libras ainda está à procura de uma definição mais adequada, para nomeá-la de
Além disso, mesmo conhecendo muito sobre a Libras, a maioria dos ouvintes pos-
sui uma “autocensura” quanto ao uso do corpo e das expressões faciais. Nossa
as expressões faciais/corporais.
possível identificar quem é surdo e quem é ouvinte, pela falta de dinamicidade dos
das por ouvintes, esta dificuldade pode ser acentuada, já que, conviver com surdos
(no caso, o professor de Libras) é uma das principais ações que podem favorecer a
surdo não fala muito bem oralmente e não utiliza bem a prosódia e as entonações
língua, ele é como estrangeiro, que tem a Libras como sua segunda língua.
176
UNIDADE II - LIBRAS
Não defendemos que todos os surdos fluentes em Libras, apenas por serem “na-
tivos” são considerados aptos ao cargo de “professor”. Para isto, o surdo precisa
Além disso, nem todo surdo possui vocação para professor, e muitos, optam por
mente nas instituições públicas brasileiras (16 cursos distribuídos por todas as
Libras, fato que, por si só, se constitui em grande atrativo para os surdos, que
encaminham para esta profissão, o que é uma razão a mais para se pensar no
mercado de trabalho.
177
UNIDADE II - LIBRAS
são entre professores surdos e ouvintes dos estados das regiões Norte e Nordeste
de 2005, de que seria dada preferência aos professores surdos e assim, mesmo
tendo candidatos surdos habilitados prestando concurso, a maior parte dos pro-
tura de concurso, a preferência para candidatos surdos, mas não apareceram con-
correntes e a vaga ter ficado com um ouvinte. Aí, nada há a ser feito e está correto.
Então, de novo, nossa defesa é que a vaga seja preferencialmente para os profes-
Outro ponto que é fundamental destacar é que a contribuição dos ouvintes fluen-
178
UNIDADE II - LIBRAS
O intérprete tem tido uma importância valiosa nas interações entre surdos e ouvintes. Na maioria dos
casos, os intérpretes têm contato com a língua de sinais a partir dos laços familiares da convivência so-
cial com vizinhos e amigos surdos (ocorrendo geralmente em espaços escolares e religiosos). No Brasil
ainda não há tradição na profissão ou formação específica para esses profissionais, da mesma forma
que há para intérpretes de língua orais de prestígio como, por exemplo, intérprete de língua inglesa e
de intérpretes, o que diminui a oferta de vagar para os ouvintes. São poucas ins-
tituições públicas que abriram concursos para Intérpretes de Libras. Reis (2006)
de abril de 2002, nesta é reconhecida o Estatuto da Língua de Sinais como língua oficial
dor deva favorecer o profissional surdo com um (uma) intérprete, a fim de favorecer sua
sas ou locais de trabalho que tenham surdos como funcionários precisam propiciar as
reais condições de inclusão social. Situação de luta, visto que cada vez mais sofremos
ção do poder econômico, como também a exclusão social, que além de gerar desem-
prego, dissemina a idéia do individualismo, ou seja, “cada um por si” (REIS, 2006, p.73).
179
UNIDADE II - LIBRAS
lizaram estudos e publicaram os livros sobre a Libras. Estes livros permitem a difusão
favorecem os direitos dos surdos, enfim, são fundamentais para que nós, os surdos,
tes são muito importantes para nós, não estamos decretando “guerra” aos ouvintes.
Estamos apenas querendo defender nosso ponto de vista sobre o respeito ao que
surdos, atuaríamos como professores. Seria mais justo, pois o ouvinte tem acesso
às duas profissões e nós não. Outra coisa que também precisa ser estabelecida
como docente no ensino superior, porque este concurso é mais fácil para eles, do
que concorrer à área de Linguística, por exemplo, porque para ser professor de
Libras, ainda não se está exigindo os títulos de mestrado e de doutorado que são
180
UNIDADE II - LIBRAS
Uma professora ouvinte de Libras justificava sua inscrição no concurso assim: “Amo
os surdos e quero ajudar, conheço Libras, mas não tenho dom para ser intérprete e
sim professor universitário para dar aula de Libras aos alunos ouvintes, sei que os sur-
dos precisam deste cargo de professor porque é boa oportunidade para o futuro, mas
não briguem comigo porque o dom é meu destino”. Fiquei surpresa com essas frases
A maioria das Instituições de Ensino Superior que são obrigadas a contratar pro-
por entenderem que é mais fácil, tanto para “dar aulas” a outros ouvintes, quanto
do professor surdo em ministrar aulas faz com que as pessoas pensem que seria
intérpretes até reclamam quando o professor surdo não quer a presença de intér-
pretes, dizendo que o surdo está cerceando seu acesso ao trabalho. Mas o pro-
fessor surdo sabe que é capaz e, além disso, na sala de aula ele é a pessoa com a
Mas na aula de Libras não é o único local de estudo em que se fala outra língua
181
UNIDADE II - LIBRAS
e também, para não misturarem a gramática das duas línguas. No caso da Libras,
o professor surdo utiliza a leitura labial ou a escrita para compreender a dúvida dos
alunos e, se não for oralizado, escreve no quadro a resposta que não for possível
A pesquisadora surda, Karin Strobel, uma das sete doutoras surdas brasileiras re-
gistra muito bem esta situação, quando pede que os espaços conquistados pelos
dução cultural, por exemplo: tem muitos sujeitos ouvintes que querem “competir”
com os surdos e assim fazem com que o povo surdo suspeite dos mesmos, devido
seus espaços. Tem muitos ouvintes que aproveitam dos espaços conquistados pe-
los surdos para ensinar a língua de sinais e outras coisas, alegando que têm direitos
ouvintes geralmente são mais preferidos que os surdos? Isto acontece nas maio-
rias de empresas, nas universidades, nas instituições ou até mesmo em igrejas, que
preferem profissionais ouvintes para não ter de contratar intérpretes de libras para
os professores surdos. Também pela barreira de comunicação é difícil conseguir
182
UNIDADE II - LIBRAS
contatos via telefone, por exemplo. No futuro, quando a sociedade tiver uma re-
ouvintes, se olharem o povo surdo como diferença cultural, e não como deficientes,
daí não teriam esta “guerra cultural” entre eles (STROBEL, 2008, p.111).
surdo é uma constante. Por exemplo, alguns ouvintes assumem o cargo de ser
aos surdos. Até bem recentemente, até mesmo as associações de surdos eram
Não queremos excluir os ouvintes. Eles são importantes e precisamos deles não
ros de luta. Mas é preciso entender que nós, surdos, também podemos assumir
índios junto ao governo deveria ser negro? O presidente de uma associação ve-
getariana poderia ser uma pessoa carnívora? O presidente da OAB, Ordem dos
183
UNIDADE II - LIBRAS
O que estamos defendendo é que existem espaços definidos. Não são espaços
desde que as diferenças sejam respeitadas, conforme salienta Perlin (1998, p.72),
“importa salientar as diferenças das pessoas. Respeitá-las como surdas, índias, nô-
Entendemos que esse polêmico “domínio dos ouvintes” é agravado pela economia
capitalista, pela ideia do livre mercado, com todos correndo em busca de melhores
Klein (1998, p.77) analisa que o mercado tem ideia preconceituosa sobre as possi-
capitalismo, restringem as ofertas de vagas aos surdos aos cargos de corte e cos-
tura, marcenaria, informática, auxiliar de serviços gerais. Isto, quando ele consegue
tam muita discriminação em seus trabalhos nas empresas. Conheço uma surda
184
UNIDADE II - LIBRAS
por exemplo, o de funcionária “mais quietinha” porque ela não conversa com nin-
guém. Ora, não existe nenhum intérprete na empresa, nem uma proposta de en-
sino de Libras para os funcionários ouvintes. Como ela vai se comunicar? Essa
surda se sente como um “animalzinho” por ganhar o prêmio. Assim, entendo que
devem realizar os cursos de Libras para os funcionários, pois somente desta forma
espaços tão duramente conquistados. É esta a principal mensagem que este ar-
tigo traz para a reflexão de todos, em particular dos ouvintes que pretendem ser
professores de Libras.
SAIBA MAIS
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
ralismo”, isto é, são várias culturas familiares e sociais diferentes, o local, o tempo,
a educação, tudo isto influencia e pode alterar um sinal ou uma palavra. Isto é cha-
185
UNIDADE II - LIBRAS
Precisamos entender que, da mesma forma que acontece com as línguas orais, as
influências que refletem nos sinais utilizados, sendo comum a variação linguística.
Também não podemos esquecer da história da Libras, que por ter sido proibida
que só após o reconhecimento desta língua como um idioma nacional vem sendo
construída. O mais importante: faça o sinal como você aprendeu. Se não existe
ainda um sinal para o que você quer representar, um surdo pode criar (batizar) um
Morango
Sinal em SP Sinal em MS
186
UNIDADE II - LIBRAS
Sinal no PR
Caneta
Sinal no RJ Sinal no PR e em SP
Verde
Mãe
INDICAÇÃO DE LEITURA
A nossa Dica de Leitura é o livro: Tenho um aluno surdo,
com sujeitos surdos. Certamente este é um texto que vai colaborar com sua forma-
ção profissional, porém, mais do que conhecimentos e técnicas, ele vai causar uma
188
UNIDADE II - LIBRAS
REFLITA!
Com relação à educação, devemos sempre considerar que esse espaço
pertence ao professor e ao aluno e que a liderança neste processo é exer-
cida pelo professor, sendo o aluno de sua inteira responsabilidade. Assim,
é absolutamente necessário entender que o TILS é apenas um mediador da
comunicação e não o responsável pelos processos de ensino e de apren-
dizagem do aluno surdo. Os papéis do professor e do TILS são absoluta-
mente diferentes e precisam ser devidamente distinguidos e respeitados.
Considerando este fato, como você encara a presença da disciplina de
Libras em sua grade curricular? Reflita a respeito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade II, você teve a oportunidade de conhecer um vocabulário mínimo
para sua futura atuação profissional. Você também teve orientações sobre a impor-
interagir com seus alunos usuários da Língua de Sinais. Uma vez que o professor
189
UNIDADE II - LIBRAS
possua uma comunicação efetiva nessa língua não existe a barreira da comuni-
cação, mas mesmo assim, o TILS será necessário, pois não é viável, em função
da maioria dos alunos serem ouvintes, que a aula seja inteiramente ministrada em
Libras.
to, esta possibilidade nem sempre está ao alcance de todos e assim, um conheci-
mento mínimo da Libras seria de muita utilidade. Mesmo que isso não se efetive,
No que se refere à educação, deve ficar claro que não cabe ao TILS a responsa-
190
UNIDADE II - LIBRAS
ATIVIDADES
1) Identifique os sinais, crie frases e sinalize em Libras, de preferência, defronte
a um espelho.
1.
2.
3.
4.
191
UNIDADE II - LIBRAS
5.
6.
7.
8.
9.
192
UNIDADE II - LIBRAS
10.
11.
12.
Por exemplo – na sequência 3: Dia das mães – Sempre compro presente para
mamãe.
193
UNIDADE II - LIBRAS
1 2 3
4 5 6
7 8
194
UNIDADE II - LIBRAS
desta unidade e destaque quais são os mais icônicos e quais são os mais
sua resposta.
195
UNIDADE 3
A cultura do Surdo e as
Políticas Públicas
Clélia Maria Ignatius Nogueira; Marilia Ignatius Nogueira
Carneiro; Beatriz Ignatius Nogueira
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
• Concepções de surdez
• Culturas e identidades surdas
• Legislação brasileira referente à educação de surdos
• As políticas públicas referentes à educação de surdos
• Desconstruindo crenças sobre o surdo e a surdez
UNIDADE III - LIBRAS
INTRODUÇÃO
Para podermos abordar com segurança os temas dessa disciplina, apresentare-
mos alguns termos que utilizaremos em seu decorrer. Você deve estar pensando
que não deve fazer muita diferença a maneira como nos referimos a alguma coisa,
para designar algo ou alguém mostra nossa concepção a respeito, isto é, o que
Assim, usar corretamente os termos técnicos não é uma questão sem importância
maioria das pessoas acredita que um professor sabe o quê e do que fala e procura
imitá-lo. Quando falamos sobre pessoas com deficiência, que tradicionalmente so-
O princípio de Normalização surgiu na Dinamarca, com uma Lei de 1959 que es-
199
UNIDADE III - LIBRAS
que vive”. No enunciado dessa lei, podemos observar como os termos evoluem.
Atualmente, não utilizamos mais a palavra retardada para nos referirmos aos indi-
normal possível. No caso específico da surdez, isso significava que o surdo deve-
surgindo, fazendo com que a pessoa com deficiência, naquela época chamada de
excepcional, fosse enxergada com direitos e deveres iguais e a quem deveriam ser
200
UNIDADE III - LIBRAS
que foi questionado pelos estudiosos. Para eles, Normalização era o objetivo e a
não classes comuns, pelo menos as classes especiais em escolas comuns, embora, na
maioria das vezes, com horários de entrada e de saída diferentes dos demais alunos.
As classes especiais não ofereciam escolarização regular e era comum que es-
quando deixavam a escola, depois de mais de dez anos de estudo, não recebiam
201
UNIDADE III - LIBRAS
ou indireta, atualmente se fala de escola inclusiva. Assim, esta Unidade III, se or-
toma uma discussão feita na seção 5 da Unidade II, sobre as diferentes formas de
se entender a surdez, com destaque para a concepção atual que entende a surdez
como uma “experiência visual” da qual decorre uma “diferença linguística”. A se-
mais aprofundada do que também foi enunciado na seção 5 da Unidade II, ou seja,
compreender também, que existe uma diferença também cultural, cuja principal
sam mais se entender e ser entendido como um “não ouvinte”, mas como um sujei-
202
UNIDADE III - LIBRAS
CONCEPÇÕES DE SURDEZ
A educação dos surdos no Brasil mudou muito depois da adoção do bilinguis-
2005 que, entre outras coisas, diz que o estudo da língua brasileira de sinais é obri-
isso está acontecendo porque mudou a concepção das pessoas sobre a surdez.
Atualmente, a surdez não é mais entendida como uma doença ou como uma de-
ficiência que torna o surdo alguém inferior ao ouvinte. Hoje, o surdo é entendido
experiência visual. Isso tem como consequência uma maneira especial de proces-
tam a partir da visão, mesmo quando possuem restos auditivos ou usam aparelhos.
que de não audição. O surdo é então a pessoa que compreende e interage com
o mundo por meio de experiências visuais manifestando sua cultura pelo uso da
203
UNIDADE III - LIBRAS
preconceitos.
identidades surdas.
educação de surdos percorria todo o Brasil, evidenciando que, além das questões
Para os defensores do Oralismo, a surdez era vista como uma deficiência, quase
204
UNIDADE III - LIBRAS
ONU do Ano Internacional da Pessoa Deficiente (1981), diversos eventos que con-
pesquisar sua língua, ensiná-la de maneira mais pedagógica, a fazer teatro e poesia
gramas de televisão, por meio do Closed Caption, Telefonia para Surdos (TDD),
a Educação de Surdos.
Foi também nesta época que os então chamados “deficientes auditivos” passaram
que desejam ser aceitos não como pessoas deficientes, como “não ouvintes”
205
UNIDADE III - LIBRAS
incompletos, que têm ausência da audição, mas como pessoas igualmente capa-
zes e que se diferenciam dos ouvintes por desenvolverem sua linguagem utilizando
A mudança registrada nos últimos anos não é, e nem deve ser, compreendida como
que está mudando são as concepções sobre o sujeito surdo, as descrições em torno
saberes e poderes entre adultos surdos e adultos ouvintes, etc. (SKLIAR, 1998, p.7).
Assim, atualmente, a surdez não é mais entendida como uma doença ou como
uma deficiência que torna o surdo alguém inferior ao ouvinte. Hoje, o surdo é en-
vivenciadas pelos surdos são muito mais experiências de visão do que de não audi-
ção. O surdo é então a pessoa que compreende e interage com o mundo por meio
206
UNIDADE III - LIBRAS
de experiências visuais manifestando sua cultura pelo uso da Libras. Como as re-
do a língua de sinais ou a língua oral. E essa decisão, durante muito tempo, foi to-
mada pelos ouvintes. Só recentemente, os surdos estão podendo dizer como pre-
ferem ser educados e a maioria decidiu que o melhor para eles é a língua de sinais.
Como não é possível viver no mundo dos ouvintes sem o conhecimento da língua
pátria, os surdos defendem que a língua de sinais (no caso do Brasil, a Libras) deve
ser considerada sua primeira língua e depois devem aprender o português, de pre-
A abordagem bilíngue tem como ponto de partida a capacidade das pessoas sur-
das desenvolverem uma língua que permita uma comunicação eficiente. Essa lín-
guistas, a primeira língua dos surdos, a qual aprendem com naturalidade e rapidez.
207
UNIDADE III - LIBRAS
De acordo com essa filosofia, a criança surda deve adquirir, o mais cedo possível
deve ser feita com a comunidade surda. Somente como segunda língua deveria
ser ensinada, na escola, a língua oficial do país, de preferência em sua forma es-
crita. Apenas quando as condições forem favoráveis deve ser ensinada a Língua
diferentes), o mais cedo possível e, só depois, deve aprender a língua escrita. Para
208
UNIDADE III - LIBRAS
O bilinguismo entende a surdez como diferença linguística, e não como uma defi-
constituiriam uma comunidade particular, com cultura e língua próprias, como ve-
O bilinguismo tem como pressuposto básico que o surdo deve ser Bilíngue, ou seja,
deve adquirir como língua materna a língua de sinais, que é considerada a língua
natural dos surdos e, como segunda língua, a língua oficial de seu país (GOLDFELD,
1997, p.39).
nais para o ensino de todas as disciplinas. [...]. Faz também parte do projeto bilíngue
O bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar
acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Os estudos têm apontado para
essa proposta como sendo a mais adequada para o ensino das crianças surdas,
tendo em vista que considera a língua de sinais como língua natural e parte desse
209
UNIDADE III - LIBRAS
Os surdos, por mais que não dominem uma língua oralizada, convivem com uma
legais que garantem ao surdo o apoio, o uso e a difusão da Libras também são
língua portuguesa.
Muitas das conquistas dos surdos, por exemplo, a legenda em programas televi-
em leitura que eles possuem. Uma vez que a legendagem apresenta texto frag-
na comunidade ouvinte. Por outro lado, embora existam diversas pesquisas que
210
UNIDADE III - LIBRAS
que analisam a leitura interpretativa de indivíduos surdos que fazem uso da Libras.
É por essas razões que, atualmente, dá-se tanta importância ao fato de o professor
educados em sua língua natural, tem contribuído muito para desconstruir a ima-
indivíduo. Essa crença, segundo Gesser (2009), está fortemente ligada ao discurso
médico.
211
UNIDADE III - LIBRAS
O surdo pode e desenvolve suas habilidades cognitivas e linguísticas (se não tiver
surdos educados no oralismo foram (e são) muito graves; muitos se tornaram so-
tudiosos como o piagetiano Hans Furth afirmarem que os surdos eram “concret
212
UNIDADE III - LIBRAS
no plural.
Partindo do suposto que cultura é a herança que o grupo cultural transmite a seus
213
UNIDADE III - LIBRAS
Considerando este outro uso para a palavra cultura, Strobel (2008, p.18) afirma
de uma cultura”.
tema, é naturalmente admitido por ouvintes e surdos que estes últimos possuem
uma identidade e uma cultura própria. Para Gesser (2009, p.53), o adjetivo “pró-
pria” sugere a ideia de um “grupo que precisa se distinguir da maioria ouvinte para
do grupo.
Mas não é fácil definir o que é cultura surda. Para entender a cultura surda é neces-
mundo de experiência visual e não auditiva. E viver uma experiência visual é ter
como primeira língua a Língua de Sinais, uma língua visual, pertencente a outra
cultura que é também visual. A identidade surda se constrói dentro de uma cultura
visual. Essa é também, a visão de Quadros (2002, p.10), para quem a cultura do
Se não é fácil definir o que é a cultura surda, podemos mostrar que ela existe e a
214
UNIDADE III - LIBRAS
sua presença pode ser confirmada pelas transformações culturais e cotidianas dos
Ainda de acordo com Perlin (2004), cultura surda é a diferença que contém a prá-
tica social dos surdos e que comunica um significado. É o caso de ser surdo ho-
ordem, por exemplo, o jeito de usar sinais, o jeito de ensinar e de transmitir cultura,
a nostalgia por algo que é dos surdos, o carinho para com os achados surdos do
Para Karin Strobel, outra pesquisadora surda, “cultura surda é o jeito de o sujeito
ajustando-o com suas percepções visuais, que contribuem para a definição das
identidades surdas e das ‘almas’ das comunidades surdas” (STROBEL, 2008, p.24).
tidade pessoal surda. Para acontecer a construção de nossa identidade, como so-
mos seres sociais, precisamos identificar-nos com uma comunidade social espe-
cífica e, com ela, interagir de modo pleno, ou seja, precisamos de uma identidade
215
UNIDADE III - LIBRAS
cultural e, para isso, não basta uma língua e uma forma de alfabetização, mas sim
Durante quase todo o século XX, a Educação dos Surdos teve o oralismo como
ideologia dominante, pensando no surdo pelo modelo médico, no qual ele é tratado
cadores ficavam tão ocupados ensinando os surdos a falarem que não percebiam
educação não formava os surdos como cidadãos críticos e muito pouco se discutia
Os surdos educados no oralismo não se reconheciam como surdos, mas como não
do que não podiam fazer, e toda tentativa de formação de identidade cultural era
e, assim, o surdo seria alguém que não poderia fazer parte do mundo ouvinte. Seria
alguém que é menos do que aquele que ouve e precisa ser sempre ajudado. Dessa
216
UNIDADE III - LIBRAS
como uma diferença. Primeiro, é preciso entender que diferença não é o contrário
entendida como uma coisa que é contrária à normalidade. Entender a surdez como
diferença significa que uma minoria linguística faz uso de outra língua – Língua de
Entender o surdo como deficiente auditivo é considerar que ele tem uma patologia
com o ouvinte. Assim, o que se faz é não reconhecer o direito do surdo de ser dife-
Durante muito tempo se acreditou que a linguagem oral era a única responsável pelo
língua de sinais, durante muito tempo, foi confundida com mímica e, assim, estaria
217
UNIDADE III - LIBRAS
desenvolvimento cognitivo dos surdos o mesmo papel que a língua oral representa
no dos ouvintes, veio também a compreensão de que a surdez não torna a criança
um ser que tem possibilidades a menos, ou seja, ela tem possibilidades diferentes
e não menores.
É daí que entra em questão um novo fator, pois, junto com uma língua distinta para
os surdos, surge também uma nova cultura, ou seja, junto ao bilinguismo, veio o
trução da identidade cultural surda, uma vez que o surdo tem contato com dois
Existem muitas formas de definir identidade, mas o melhor significado para o caso
dos surdos é o da busca pelo direito de ser surdo. Para Perlin (2004), a influência
Na educação oralista, as crianças surdas eram proibidas de ter contato com sur-
dos adultos que sinalizavam e, como a maioria das crianças surdas são filhas de
218
UNIDADE III - LIBRAS
pais ouvintes, por vontade da família ou mesmo por vontade própria, os surdos
tentavam oralizar e mesmo surdos profundos falavam que ouviam. Não existia uma
identidade definida.
com os ouvintes, agora querem a interpretação das falas dos ouvintes em Libras.
comuns, sem apoio algum, gerando uma situação de não aprendizagem. O surdo,
sua identidade prejudicada, pois o modelo ideal a ser seguido era o do ouvinte.
Assim, o surdo construía sua identidade em um mundo no qual se via como dife-
do ficava transitando em dois mundos e não se sentia parte de nenhum. Não fazia
219
UNIDADE III - LIBRAS
parte do mundo ouvinte, porque não sabia se comunicar bem e também não par-
lutaram muito para estabelecer e defender a cultura surda que é fundamental para
contra a ideologia ouvintista. Existe uma história de lutas na qual se procura mar-
têm permitido que a cultura surda se fortaleça e, por causa disso, identidades sur-
Para Perlin (1998, p.52), “[...] a identidade é algo em questão, em construção, uma
220
UNIDADE III - LIBRAS
Não podemos separar a noção de cultura da de grupo e classes sociais, pois cul-
sociais. Talvez seja por isso, por exemplo, que podemos falar de uma cultura sur-
da. É dentro desse espaço que os sujeitos surdos passam a se identificar como
sujeitos culturais.
não se compõem apenas de funções biológicas, mas também têm origem social
e histórica; essas capacidades são, como diz Sacks (1998), um presente - o mais
maravilhoso dos presentes - de uma geração para outra, o que reforça a importân-
cognitivo do surdo.
mais apenas como uma língua diferente, mas também por conhecimentos e cren-
ças comuns que auxiliaram na constituição de uma cultura própria. Então, para que
e cultural.
221
UNIDADE III - LIBRAS
da inclusão dos surdos com base no respeito a suas diferenças. Há que se consi-
derar, por exemplo, que a maioria das crianças surdas (mais de 90%) possui pais
entre pais e filho surdo causa, às vezes, problemas de ordem social e cognitiva.
Esses problemas poderiam ser minimizados se houvesse, por parte dos familiares
pais, enfim, todos que estão perto da criança surda preocupem-se em entender o
modo pelo qual ela se comunica para que as trocas possam existir de forma satis-
é necessário que, para que se construam meios especiais para a sua realização, os
Para entender um pouco sobre como uma cultura domina a outra, um bom exemplo
222
UNIDADE III - LIBRAS
é do Brasil, que foi colonizado por Portugal. Durante a colonização, o Brasil foi
os índios. Dentro desse contexto, com a colonização portuguesa no Brasil, foi ne-
cessária a batalha pela Independência em busca do direito a ser uma Nação livre e
o sujeito surdo e, para que tenha sua independência, os ouvintes precisam deixar
Portuguesa para o sujeito surdo, entendendo que é possível ser normal mesmo
vida das famílias surdas, o estilo de vida surda, o aumento de mulheres surdas que
223
UNIDADE III - LIBRAS
Há, ainda, as novas tecnologias, como centrais telefônicas, celular digital, porteiros
luminosos, facilidades para a vida dos surdos. Em algumas cidades, raros lugares
Os surdos não mais estão escondidos, estão surgindo novas maneiras de ser sur-
dos surdos, para que seu desenvolvimento alcance maior êxito. Como consequên-
cia, a discussão sobre as formas de atenção às pessoas e aos grupos surdos tem
a educação deveria dar acesso aos bens culturais de acordo com as característi-
Por isso, a inclusão escolar dos surdos precisa ser bem discutida, pois a relação
224
UNIDADE III - LIBRAS
cultura e identidade.
Importa salientar a diferença das pessoas. Respeitá-las como surdas, índias, nôma-
des, negras, brancas... Importa deixar os surdos construírem sua identidade, assina-
A educação, ainda que já esteja saindo do domínio do oralismo, tem que desapren-
ouvinte.
Novas hipóteses podem ser levantadas, novos achados são necessários. Entre eles
sobressai a urgência de dizer que o surdo é sujeito surdo (PERLIN, 1998, p.72).
mogeneidade cultural surda, autores como Skliar (1998) e Gesser (2009) defendem
Pensar o surdo no singular, com uma identidade e uma cultura surda, é apagar a
225
UNIDADE III - LIBRAS
Ao se considerar então o surdo como alguém que possui uma diferença linguística,
ção, laço, relação, o que se completa com o sentido nuclear de jus, invocando a
se pode concluir que a lei “ordena relações sociais”. Portanto, as leis refletem a
Ainda segundo o jurista Reale (2006, p.65), onde quer que haja um fenômeno jurí-
finalmente uma norma, que representa a relação entre o fato e o valor. Isto significa
226
UNIDADE III - LIBRAS
que uma lei pode ser, de maneira bem ampla, entendida como consequência à
nada época com a terminologia utilizada na legislação educacional que lhes são
contemporâneas.
retamente os surdos, mas sim a totalidade das pessoas com deficiência, inde-
227
UNIDADE III - LIBRAS
marco no que se refere aos direitos humanos no Brasil, até o Decreto 7.611, de
2011, o mais recente, passando pelo Decreto 5626, de 2005, responsável pela in-
228
UNIDADE III - LIBRAS
assegura os direitos dos surdos a uma educação diferenciada uma vez ao garantir
“Art. 215: o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
Para Perlin e Strobel (2006) é este artigo 215 que fundamenta a proposta de edu-
O fato de que o surdo é um sujeito que produz cultura baseada na experiência vi-
sual requer uma educação fundamentada nesta sua diferença cultural. Com isto a
leiro, faz antever a necessidade de serem respeitados os direitos culturais dos sur-
dos. Para tanto já há uma série de legislações em relação à educação do surdo, bem
229
UNIDADE III - LIBRAS
adiar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabe-
surdos era o oralismo, que entende a surdez como deficiência. Assim, ao não se
demais deficiências.
230
UNIDADE III - LIBRAS
Ciência e Cultura, UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, PNUD –
venta e dois países e vinte e cinco Organizações Internacionais (o Brasil não partici-
pou) e, ao final foi elaborado um documento que ficou conhecido como Declaração
sistema regular de educação. O Brasil, não assinou essa Declaração, mas segue
231
UNIDADE III - LIBRAS
muitos dos princípios, política e práticas na área das necessidades educativas es-
Destacamos:
ciais, que faz parte de uma estratégia nacional cujo objetivo é conseguir a educação
para todos.
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a
garantia de:
232
UNIDADE III - LIBRAS
gular de ensino;
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade
dades ou superdotação.
cializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, trans-
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido
233
UNIDADE III - LIBRAS
afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas
quanto que na LDB de 1996, embora se considere os sujeitos a partir de suas de-
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UNIDADE III - LIBRAS
lidades ou superdotação”.
O que fica claro é que, apesar desta Lei de Diretrizes e Bases ser posterior à
peito à diferença, que no caso dos surdos é linguística e sim, em termos de inte-
de intérpretes, o que só vai acontecer, pela primeira vez em 1999, com a Portaria
1.678/99 do MEC.
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UNIDADE III - LIBRAS
de instituições de ensino superior. A partir dessa portaria, para que uma Instituição
estabelece quais seriam tais condições e na alínea c) trata dos deficientes auditivos
Art. 2º. A Secretaria de Educação Superior deste Ministério, com o apoio técnico da
cia à Norma Brasil 9050, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, que trata
pressa em texto escrito ou quando este não tenha expressado o real conhecimento
do aluno;
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UNIDADE III - LIBRAS
matriculado);
surdo serem tratadas como sinônimos, já são possíveis de serem observados dois
comunicação.
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UNIDADE III - LIBRAS
Portanto, para esta Lei, acessibilidade não se refere apenas ao direito de ir e vir,
O Artigo 17 desta lei explica que o Poder Público deverá promover a eliminação de
esporte e ao lazer.
É importante destacar o capítulo VII, artigos 17, 18 e 19, que trata especificamente
à informação das pessoas surdas, que nesta lei são denominadas de deficien-
tes auditivos. Além disso, a lei 10 098, apesar de desde 1960, com os estudos
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UNIDADE III - LIBRAS
sinais, ou seja, de que elas são “língua”, verdadeiros idiomas e não “linguagem”,
reconhecer que acessibilidade não se refere apenas ao direito de ir e vir, mas tam-
bém acesso à informação, se reconhece que existem pessoas no Brasil que não
culdade de comunicação.
inclusivas!
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UNIDADE III - LIBRAS
se escreve a palavra libras com todas as letras maiúsculas como se fazia anterior-
mente, quando ela representava uma sigla: LIngua BRAsileira de Sinais – LIBRAS.
Nessa lei também estão estabelecidas as condições que caracterizam uma escola
A essência das disposições federais contidas nessa lei está distribuída em quatro
artigos:
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas, conces-
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UNIDADE III - LIBRAS
perior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais -- Libras, como parte integrante dos
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) não poderá substituir a moda-
A Lei nº 10.436/2002 marca o início de uma nova e promissora era no que diz res-
peito à pessoa surda, sua capacidade, identidade e formação. Esta lei reconhece
não somente que a LIBRAS é uma Língua e que como tal deve ser respeitada,
mas que a comunidade surda, sua cultura e sua identidade também devem ser
respeitadas.
241
UNIDADE III - LIBRAS
- Libras.
O Decreto 5.626 estabelece o que é preciso fazer para que a abordagem bilíngue
seja adotada nas escolas públicas e particulares do país. O Decreto define que
que torna obrigatório o ensino de libras para os futuros professores e para os fono-
A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de for-
242
UNIDADE III - LIBRAS
deste Decreto.
surdos têm prioridade nos concursos vestibulares, ou seja, só são abertas vagas
para ouvintes, quando não existirem candidatos surdos aprovados nos concursos
vestibulares.
ção e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curricu-
alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas
243
UNIDADE III - LIBRAS
rantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da orga-
nização de:
fundamental;
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UNIDADE III - LIBRAS
tes da singularidade linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de
245
UNIDADE III - LIBRAS
recursos e determina quais setores serão privilegiados pelo governo. Por políticas
tas, o planejamento, as ações que o governo (entendido aqui como Poder Público
de surdos.
Da mesma forma do que acontece com a legislação, muitas dessas políticas não
se referem diretamente aos surdos, mas sim respondem ao conjunto dos denomi-
A primeira política pública para a educação dos surdos em nosso país pode ser
Essa escola foi fundada por Ernest Huet – professor surdo francês que chegou ao
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UNIDADE III - LIBRAS
Brasil com o objetivo de aqui iniciar a educação dos surdos. Porém, seguindo a
tigos, são garantidos os direitos das pessoas com deficiência foram propostas
políticas para que a atuação dos diferentes órgãos governamentais pudesse estar
gular de ensino. Vamos destacar aqui, a exemplo do que fizemos no texto anterior,
247
UNIDADE III - LIBRAS
bilíngue.
248
UNIDADE III - LIBRAS
alunos;
O Plano Nacional de Educação de 2001 indica, ainda, como meta capacitar pesso-
as para dar atendimento aos educandos especiais e como meta nº 11: Implantar,
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UNIDADE III - LIBRAS
alunos surdos e, sempre que possível, para seus familiares e para o pessoal da
O Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos buscava atender aos 50 mil
posto de 3 metas:
sinais para professores da rede pública e no curso de língua de sinais para novos
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UNIDADE III - LIBRAS
Como resultado material deste Programa, foi produzido pelo MEC, em conjunto
a adoção do bilinguismo.
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UNIDADE III - LIBRAS
implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos
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UNIDADE III - LIBRAS
tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, trans-
De maneira geral, o que esta PNEE preconiza é o fim das escolas especializadas,
ao propor que todos os alunos devem ter sua escolaridade efetivada nas escolas
as ações governamentais que buscam melhorar a educação dos surdos e por isso
253
UNIDADE III - LIBRAS
linguística, não seja mais considerada uma deficiência, mas como uma coisa parti-
e da Libras.
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UNIDADE III - LIBRAS
que atuam com surdos, afinal, depois de mais de um século de oralismo, é natural
nome, por exemplo, e este nome se apresenta em nossa mente, de maneira so-
nora. No caso do surdo, como ele organiza visualmente seu pensamento, este se
efetiva por imagens, como em uma projeção de slides. No entanto, para estudar,
raciocinar ou meditar, é comum que eles “falem com as mãos”, em uma espécie de
tricô invisível. Algumas vezes, ao realizarem uma caminhada solitária, o surdo fica
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UNIDADE III - LIBRAS
um indivíduo revela nossa concepção da pessoa, grupo ou fenômeno a que nos re-
ferimos. Usar corretamente os termos técnicos não é uma questão sem importân-
valores e conceitos vão sendo substituídos por outros, exigindo o uso de outras
fonoarticulatório, mas a maioria das vezes, a pessoa surda ou com deficiência au-
ditiva não fala porque não consegue aprender, pois não possui o feedback auditivo.
256
UNIDADE III - LIBRAS
dez, tanto no que se refere à sua condição orgânica como social. Além disso, é a
autodenominação escolhida pelos próprios surdos, que desejam ser aceitos não
como pessoas deficientes, ou seja, como “ouvintes” que têm ausência da audição,
mas como pessoas que têm muito mais de igual do que de diferente, pessoas
Da mesma forma que um ambiente físico não adaptado, sem rampas ou elevado-
pessoa com deficiência, ou, de acordo com Laborrit (1994), é a sociedade que tor-
na os indivíduos deficientes.
Dessa forma, olhada pelo viés cultural, a surdez definitivamente não é uma defici-
históricos e políticos, nada tem a ver com a forma como o grupo se vê ou se repre-
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UNIDADE III - LIBRAS
Alguns sim, mas este é um longo e complexo processo para aqueles com uma
inerentes ao processo.
Surdez leve/moderada: perda auditiva de até 70 decibéis que dificulta, mas não
decibéis, a pessoa já não percebe os fonemas da mesma forma, isto altera a com-
preensão das palavras; voz fraca e distante não é ouvida. A criança é considerada
escrita. Precisa de acompanhamento, e sua tarefa pode ser facilitada com o uso de
e 70 decibéis o surdo percebe a voz humana com certa intensidade, pode ocorrer
258
UNIDADE III - LIBRAS
pessoa de entender, com ou sem aparelho auditivo, a voz humana, bem como
Assim, o trabalho para a aquisição da fala deve ser iniciado assim que se descobre
horas de cada dia do ano. O trabalho de aquisição da fala ou educação oral neces-
Entretanto, as pesquisas apontam que crianças com perda auditiva profunda, mes-
auditiva, do bom uso dos resíduos auditivos proporcionados pelo AASI e do apoio
259
UNIDADE III - LIBRAS
to, mesmo que esteja dentro das especificidades das necessidades da criança, pode
inclusive prejudicar a criança, que vai passar a receber uma intensidade de estímulos
sonoros simultâneos que precisam ser inicialmente identificados para que, em segui-
da, ela selecione aqueles aos quais vai direcionar sua atenção auditiva. Portanto, nem
sempre o uso do aparelho auditivo permite que a criança escute a voz humana, mesmo
que a escute e que faça o uso correto desta informação, pois “os aparelhos não atuam
do mesmo modo que uma pessoa completamente cega, por exemplo, não passa a
das de emoção, ainda é visto com muita desconfiança pelos surdos, familiares e
260
UNIDADE III - LIBRAS
Mas o que é preciso ficar claro é que os surdos, mesmo com surdez profunda,
podem apresentar uma comunicação oral funcional, desde que se submetam aos
Engana-se quem pensa que a leitura labial é uma capacidade inerente ao surdo.
Pelo contrário, da mesma forma que para desenvolver a fala são necessários trei-
nos exaustivos e árduos, adquirir a leitura labial também depende de treinos seme-
lhantes. Por não ser uma técnica adquirida naturalmente, ela é aprendida mediante
Esta crença de que todo surdo faz leitura labial é muito forte entre os professores
que todo aluno surdo faz leitura labial e então, ministra normalmente suas aulas,
entanto, apenas uma minoria dos surdos é constituída de hábeis leitores labiais.
Mesmo surdos que são habilidosos para a leitura labial (aqui também, podemos ter
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UNIDADE III - LIBRAS
dedicação aos treinos), podem ter dificuldade quando se deparam com pessoas
tantes, ou, ainda, o surdo sentado e o ouvinte em pé, enfim, são inúmeros fatores
que dificultam a leitura labial, sem contar no caráter quase caricato da postura de
tar acompanhar, com o recurso da leitura labial uma aula. O aluno ouvinte se está
tes posições, que ainda permanece conectado ao professor e à aula pela via da
audição. Esses pequenos momentos de alívio ou descanso podem fazer com que o
surdo perca o que o professor está dizendo e não consiga mais acompanhar a aula.
262
UNIDADE III - LIBRAS
aula como resposta senão para todas, pelo menos para a maioria das dificuldades
encontradas por esses sujeitos em uma escola inclusiva. Embora existam dife-
rentes pesquisas que destacam que a educação de surdos exige muito mais do
pensadas para os ouvintes, existe uma questão que antecede a todas elas quando
Não. A língua de sinais não é inata no surdo, da mesma forma que a língua oral não
o é para o ouvinte. A criança ouvinte aprende a falar pela interação com o meio em
que vive. O ideal seria que o mesmo acontecesse com a criança surda, isto é, que
ela adquirisse a sua primeira língua na interação com usuários dessa língua, inse-
rida no meio familiar e não mediante situações artificiais promovidas pela escola.
Assim, a criança surda deve ser exposta o mais cedo possível a contatos com
surdos sinalizadores, para que ela adquira a língua de sinais, que é a sua primeira
língua (L1) de forma espontânea. Além disso, como os surdos vivem em um país
que tem outra língua dominante, que no caso do Brasil é a Língua Portuguesa, “os
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UNIDADE III - LIBRAS
também são categóricos ao afirmarem que a mesma não poderá substituir a mo-
segunda língua (L2) cujo aprendizado não acontece de forma natural, necessitando
cedo possível, para então poder aprender o português escrito, devendo este ensi-
atípico, pois eles aprendem a língua de sinais tardiamente, sendo essa língua a sua
primeira língua (L1) ou língua natural e vivem em um país em que a língua oficial é
a sua segunda língua (L2). Esse fato faz com que muitos surdos aprendam quase
as aprendizagens.
264
UNIDADE III - LIBRAS
SAIBA MAIS
Segundo o Censo do IBGE de 2010, são 45 milhões de brasileiros com
algum tipo de deficiência, dos quais 9.772.163 possuem dificuldade per-
manente de ouvir, mesmo utilizando aparelho auditivo. Dentre essas pesso-
as, 347.481 pessoas são incapazes de ouvir; 1.799.885 pessoas possuem
grande dificuldade de ouvir e 7.574.079 possuem alguma dificuldade para
ouvir. Em todos os casos, considerou-se o uso de aparelhos auditivos.
Fonte: Censo do IBGE X Pessoas com deficiência, 45 milhões de brasilei-
ros com deficiência: Censo 2010 reforça desafio do Brasil em dar uma vida
digna aos deficientes.
MATERIAL COMPLEMENTAR WEB: Vídeo HISTÓRIA DO MOVIMENTO
POLÍTICO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA:
<http://www.inclusaoediversidade.com/2011/01/filme-historia-do-movi-
mento-politico_17.html>.
265
UNIDADE III - LIBRAS
INDICAÇÃO DE LEITURA
O livro As imagens do outro sobre a cultura surda
de autoria de Karin Strobel proporciona ao leitor uma
jornada pelo mundo dos surdos. Karin é surda, peda-
goga, doutora em Educação e professora da
Universidade Federal de Santa Catarina, protagoni-
zou muitas batalhas em defesa dos direitos das pes-
soas surdas. Neste livro, Karin resgata os discursos
dos sujeitos surdos e, com propriedade mostra ao
leitor as vivências dos surdos em um mundo de ou-
vintes, de suas dificuldades em se submeter à nor-
malização imposta pela sociedade, sobretudo, no que se refere à língua. Ao
chegar ao final do livro, você terá construído um outro olhar sobre os
surdos.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis:
EdUFSC, 2008.
REFLITA!
Apresentamos, para sua reflexão, uma frase atribuída a um surdo francês
que viveu no século XIX, que extraímos do livro de Gesser (2009): “O que
importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira surdez, a
incurável surdez é a da mente” (Ferdinand Berthier, surdo francês, 1854).
266
UNIDADE III - LIBRAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O caminho que trilhamos nesta última unidade começou com a contextualização
hegemonia oralista, passou a ser concebida como uma “diferença linguística”, uma
“experiência visual”.
Essa mudança de concepção fica evidente não apenas nos documentos legais,
para surdo, com todos os conceitos correlatos: povo surdo, comunidade surda,
e da surdez.
e social do aluno, como sua produção escrita, sendo também falsa a ideia de que
fazer uso de sinais seria um fator complicador para a aprendizagem da língua oral.
267
UNIDADE III - LIBRAS
surdo. Considerando-se que a relação do indivíduo surdo profundo com a língua oral
é de outra ordem (dado que não ouvem!), a incorporação da língua de sinais é im-
prescindível para assegurar condições mais propícias nas relações intra e interpes-
soais que, por sua vez, constituem o funcionamento das esferas cognitivas, afetivas
surdos, ouvir é uma necessidade dos ouvintes e não dos surdos, particularmen-
se intimidam com sua surdez e nem evitam o contato com os ouvintes, apesar da
dificuldade de comunicação.
Na verdade, os surdos que são bem resolvidos, que aceitam a surdez, possuem
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UNIDADE III - LIBRAS
determinado. Os surdos estão espalhados por toda a cidade, mas encontram for-
é fundamental.
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UNIDADE III - LIBRAS
ATIVIDADES
1) Pesquise acerca das principais abordagens educacionais para surdos da atu-
e do bilinguismo.
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UNIDADE III - LIBRAS
CONCLUSão
Queremos destacar nestas conclusões o fato de que dentre os alunos com neces-
Você talvez pensasse que são poucos os surdos no Brasil, talvez até você não
conheça nenhum, por isso, no SAIBA MAIS da Unidade III, apresentamos os dados
em escolas inclusivas. Como esses surdos não conseguiam quase nenhum suces-
delas, como o Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos, que foi o re-
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UNIDADE III - LIBRAS
disciplina que você estará apto(a) a ser um sinalizador(a). Afinal, este não é um
objetivo principal desta disciplina, é apresentar a você, a Libras, razão pela qual
curando desconstruir mitos e crenças que ainda existem em relação aos surdos.
das mudanças que estão sendo empreendidas, consideramos que o principal ob-
jetivo desta disciplina seria apresentar o mundo surdo a você para convencê-lo(a)
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UNIDADE III - LIBRAS
aspectos gerais, para que você consiga estabelecer uma comunicação funcional
em sala de aula com um eventual aluno surdo e, quem sabe, despertar seu interes-
mos nos demais profissionais, enfatizando uma atitude social inclusiva, proporcio-
A Língua Brasileira de Sinais é uma língua que tem ganhado espaço na socieda-
Liderado pela FENEIS, há muitos anos o povo surdo luta pelo reconhecimento de
criança aprenda a língua de sinais bem cedo, para que seu desempenho escolar
Como cerca de 90% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes, que pouco ou
precisa ser atraída para esta tarefa, precisa estar convencida da necessidade e da
273
UNIDADE III - LIBRAS
importância de que eles aprendam esta língua tão estranha para ela. Conforme já
Dessa forma, nosso objetivo fundamental foi fornecer subsídios para que você pos-
sa convencer aqueles que ainda tenham restrições ao uso da Libras, sejam familia-
Afinal, atualmente, o povo surdo conquistou o direito de usar sua língua, o que
dade, entretanto, muito ainda necessita ser feito para que essa mudança se efetive.
Seja um(a) professor(a) que faz a diferença na vida de seus alunos surdos! Seja um
cidadão/uma cidadã que contribui para a igualdade dos seres humanos. Faça a
sua parte!
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Referências
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1995.
21. KLEIN, M. A cultura surda e o mercado de trabalho. In: THOMA, A. S.; LOPES,
Referências
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sileira de sinais. Maringá/PR: EDUEM, 2012.
29. PERLIN, G. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar so-
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invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da
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Companhia das Letras, 1998.
41. ______. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
Referências
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rações epistemológicas a partir da surdez. São Paulo: Martins Fontes, 1998.