67 - Crônica - FU

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FU ignora toda aquela gente que também atra-

vessou a rua para segui-lo. No entanto, co-


Letícia Prasser Cortes mo uma surpresa, vira de costas para a loja
e seus espectadores escolhidos e, de forma
esguia e elegante, curva-se e roda as mãos
Quinta-feira, primeiro dia de Expoeste não fosse pela indumentária, poderia dizer três vezes reverenciando o público e fina-
e eu ansiosa e toda produzida de calça, bo- com toda a convicção que Michael Jack- liza fazendo um coração com as mãos, de-
tina e chapéu. Aguardava o dia passar para son não havia morrido e tinha vindo se es- pois desce a avenida com rumo ignorado.
chegar a noite do mais esperado show, na- conder nessas bandas do Norte do Brasil. O público vai ao delírio!
da mais nada menos do que Manutti. Mi- Aos poucos aquela aglomeração já ha- Ali estava eu, juntamente com aque-
nha ansiedade crescia a cada minuto do via virado uma multidão e não parava de le respeitável público, saindo de um esta-
anúncio do carro de som pelas ruas. chegar gente. Cada uma com um tipo de do de êxtase e entrando no circular, mas
Cai a noite, e eu mais cinco amigas se- reação, algumas ficavam estáticas, outras confesso, meus caros, perdi até a vontade
guimos rumo à praça municipal para espe- boquiabertas, alguns assobiavam e, por in- de ir ao show do Manutti, pois imaginava
rarmos o circular que faz o trajeto do cen- crível que pareça, todas sequer piscavam. que não seria mais animado do que aque-
tro ao parque de exposição Laurindo Cha- Eis que de um salto majestoso do chão para le espetáculo de graça na rua.
péu de Couro. Ao chegarmos logo ali na o banco, ao som de assobios, gritos e aplau- Você pode até pensar que cidades pe-
subida do morro da Avenida 7 de Setem- sos, o espetáculo toma uma proporção gi- quenas são todas iguais, que têm apenas
bro, exatamente na faixa de pedestre em gantesca, e a empolgação do público faz praça, loja, lanchonete e posto de gasoli-
frente ao Sorvetão, percebi algo chaman- com que aquele banco se torne a miniatu- na, que as pessoas só falam mal da vida
do a minha atenção, pois pessoas come- ra do palco da Broadway e, ali mesmo, sem Mas não, foi somente o primeiro ato do es- alheia e que sabem mais da nossa vida do
çavam a se aglomerar, e eu, que não sou aqueles sapatos brilhantes, mas de bermuda petáculo e para o espanto da plateia, o ar- que nós mesmos. Se você pensa assim, até
gato e só tenho uma vida, não quis morrer listrada, camisa floral abotoada até o pesco- tista dá um salto mortal carpado triplo de certo ponto eu posso concordar, mas a mi-
de curiosidade e fui lá. Nesse instante, foi ço e de gravata laranja, o dançarino desliza costas e, de pés no chão, deixa o banquinho nha cidade é mais que isso, a minha tem o
imediata a lembrança das aulas de Histó- de um lado para o outro, joga os ombros pa- ao lado do busto da praça Nilo Paulo Balbi- Fu, o dançarino da praça.
ria e viajei direto para o Antigo Egito, pois ra cima e para baixo, sobe e desce, rodopia, not e atravessa a rua virando estrelinhas. Foi
aquilo que eu vira ali era a cópia fiel dos segura com uma das mãos na cintura e dá esse o momento de maior agitação, pois os
braços de uma dançarina egípcia, mas ao uma sarrada no ar, para e depois acena com gritos e assobios parecem ter triplicado. Ao
Professor Alan Francisco
observar com mais atenção, percebi que as mãos. O público enlouquece e se eleva chegar em frente à loja Varuna, o show re-
Gonçalves Souza
essas dançarinas não tinham todo aquele em gritos e assobios. Pensa que o show aca- começa, mas agora o próprio artista escolhe EEEF Jerris Adriani Turatti,
molejo e comecei a reparar melhor e, se bou? Engano seu. Também havia pensado. seus espectadores: os manequins, e assim Espigão do Oeste-RO

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