O Medo Dos Bárbaros - Tzvetan

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 7

FICHAMENTO

O MEDO DOS BÁRBAROS - TZVETAN

RENATA ALVES GOMES


1- Barbárie e Civilização

Perfil do Bárbaro

“Para reconhecer a filiação ao primeiro ou segundo grupo, fazia-se referência


ao domnínio da língua grega: os bárbaros eram, então, aqueles que não a
compreendiam, nem a falavam ou que a falavam incorretamente.” (p.24)

“... a oposição bárbaros/gregos foi duplicada da oposição – digamos em uma


primeira abordagem – entre “selvagens” e “civilizados”.” (p.25)

“Os bárbaros são aqueles que transgridem as leis fundamentais da vida


comunitária da vida por serem incapazes desrespeitar a distância ajustada na
relação com os próprios pais...” (p.25)

“Os bárbaros são aqueles que estabelecem uma verdadeira ruptura entre eles
próprios e os outros homens.” (p.25)

“Os bárbaros encontram-se do lado do caos e do arbitrário; eles não conhecem


a ordem social.” (p.26)

“... os bárbaros são aqueles que, em vez de reconhecerem os outros como


seres humanos semelhantes eles, acabam por considerá-los como assimiláveis
os animais...” (p. 26)

“Os bárbaros são aqueles que negam a plena humanidade dos outros...” (p.27)

“Os gregos haviam fundido duas oposições: uma formada por temos adotados
de valor moral absoluto (bárbaro/civilizado), enquanto a outra tem a ver com
termos neutros, relativos e reversíveis (domínio/falta de domínio da língua do
país).” (p.28)

“Erastótenes desaprova o principio de uma divisão bipartida do gênero humano


entre gregos e bárbaros, assim como o conselho dado a Alexandre a fim de
tratar os primeiros como amigos e o segundo como inimigos é preferível, diz
ele, adotar critérios de divisão, tais como a virtude e a desonestidade...” (p.28)

“... o conceito de barbárie pode servir para designar, em qualquer época ou


lugar, os atos e as atitudes daqueles que, em um grau mais ou menos elevado,
lançam os outros para fora da humanidade, ou julgam radicalmente diferentes
de si mesmos, ou infligem-lhe um tratamento ofensivo.” (p.29)

“Considerar os outros como desumanos, monstros ou selvagens, é uma das


formas dessa barbárie. Um forma diferente de discriminação institucional para
com os outros...” (p.29)

“Nem todos os usos do termo “bárbaro” correspondem à nossa definição; às


vezes, ele serve para estigmatizar aqueles que detestamos ou nos agrides,
assim como dissimular a força em direito, ou a camuflar nossa vontade de
poder em intervenção humanitária e em combate em favor da justiça.” (p.29)

“... a barbárie foi interpretada com termos semelhantes por Montaigne: trata-se
apenas de um efeito de ótica resultante de nossa incompreensão dos outros.”
(p.30)

“A barbárie resulta de uma característica do ser humano; aparentemente, seria


ilusória esperar que, um dia, ela possa ser definitivamente eliminada.” (p.31)

“... todos participam do mesmo instinto de barbárie, do sentimento de rivalidade


e índole assassina que nos leva a reusar aos outros o direito de acesso às
alegrias e aos bens que são objeto de nosso desejo.” (p.32)

Perfil do Civilizado

“... o civilizado é quem sabe reconhecer plenamente a humanidade dos outros.”


(p.32)
“A exigência moral duplica-se de uma dimensão intelectual: levar os membros
de seu grupo a compreender uma identidade estrangeira, seja ela individual ou
coletiva, é um ato de civilização porque, dessa maneira, amplia-se o círculo da
humanidade...” (p.33)

“A civilização é um horizonte do qual podemos nos aproximar, enquanto a


barbárie e um fosso do qual tentamos nos afastar, é impossível que uma ou
outra venha a confundir-se, integralmente, com seres particulares. Os atos e as
atitudes é que são bárbaros ou civilizados, e não os indivíduos ou os povos.”
(p.33)

“... permanecer deliberadamente enclausurado em seu meio de origem, eis um


indício de barbárie; reconhecer a pluralidade dos grupos, das sociedades e
culturas humanas, colocar-se no mesmo plano dos outros, faz parte da
civilização.” (p.34)

“... o mais civilizado é aquele que conhece melhor seus códigos e suas
tradições porque tal conhecimento permiti-lhe compreender os gestos e
atitudes dos outros membros de seu grupo, portanto, aproximá-los de sua
própria humanidade. A ideia de civilização implica o conhecimento do
passado.” (p.35)

“A tortura, a humilhação e o sofrimento infligidos aos outros têm a ver com a


barbárie.” (p.35)

“Declarar guerra é um ato mais bárbaro que resolver os conflitos pela


negociação, já afirmava Estrabão.” (p.35)

“A agressividade “constitui uma disposição pulsional primitiva e autônoma do


ser humano” e, “nessa disposição, a civilização encontra seu mais temível
entrave”. Segundo Freud, deve-se permanecer tanto mais vigilante em relação
a esse instinto de barbárie...” (p.36)
“Barbárie e civilização assemelham-se não tanto a duas forças que lutam pela
supremacia, mas a dois polos de um eixo ou duas categorias morais que nos
permitem avaliar os tos humanos particulares.” (p.36)

Da civilização ás culturas

“... nos últimos dois séculos, “cultura” assumiu um sentido mais amplo em
relação ao que o tornava um sinônimo de civilização...” (p.37)

“... qualquer grupo humano tem uma cultura: eis o nome atribuído ao conjunto
das características de sua vida social, às maneiras coletivas de viver e de
pensar, as formas e aos estilos de organização do tempo e do espaço, o que
inclui língua, religião, estruturas familiares, modos de construção das casas,
ferramentas, maneiras de comer e vestir.” (p.38)

“... possuir uma cultura significa que se dispõe de uma pré-organização da


experiência vivida. A cultura apoia-se, o mesmo tempo, em uma memória
comum (prendemos a mesma língua, a mesma história e as mesmas tradições)
e em regras de vida comuns (falamos de maneira que entendemos, levamos
em consideração códigos vigentes na nossa sociedade); ela está voltada, a um
só tempo, pra o passado e para o presente”. (p.38)

“Qualquer ser humano tem necessidade de um conjunto de normas e de


regras, de tradições e de costumes, transmitidos pelos mis velhos aos mais
jovens. Sem esse acervo, o individuo nuca teria acesso à sua plena
humanidade, mas ficaria reduzido à condição de “criança selvagem”,
condenada à anomia, ou seja, ausência de qualquer lei de ordem: uma
ausência geradora de graves perturbações.” (p.39)

“A destruição da cultura é designada por “desculturação”: essa é a condição de


um ser humano que perdeu sua cultura de origem, sem ter adquirido outra, e
corre o risco de ser levado, a contragosto, à impossibilidade de comunicar-se,
portanto, à barbárie.” (p.40)
Uma herança do iluminismo

“Durante muito tempo, reflexão do iluminismo serviu de fonte de inspiração


para uma corrente reformista e liberal que combatia o conservadorismo em
nome da universalidade e do repeito igual por todos.” (p.42)

“... esse pensamento é reivindicado pelos defensores conservadores da


superioridade da cultura ocidental, convencidos de estarem envolvidos em um
combate contra o “relativismo” que seria oriundo da reação romântica, no inicio
do século XIX.” (p.42)

Julgar as Culturas

“... Se o termo “cultura” designa o conjunto das formas de vida coletiva, seu
conteúdo está longe de ser homogêneo...” (p.43)

“Ter uma cultura é uma condição necessária para o processo de civilização:


sem um mínimo de domínio de determinado código cultural, o indivíduo é
condenado ao isolamento e ao silencio, portanto, à ruptura com o resto da
humanidade.” (p.46)

“A cultura erudita não é o contrário da “cultura popular”, aliás, não existe uma
parede intransponível para separá-las; uma é, muitas vezes, o esboço, a
complexificação e a sublimação da outra.” (p.49)

“As obras e as técnicas entram em relação com a cultura de determinada


sociedade. Ao exprimirmos um juízo sobre umas, avaliamos inevitavelmente
também a outra.” (p.51)

Um sonho do iluminismo

“A difusão dos conhecimentos, desde a alfabetização e a adoção das técnicas


modernas até a familiarização com grandes obras de arte e as mais recentes
descobertas das ciências, deveria melhorar a espécie humana: tal era um dos
sonhos do Século das Luzes. Esse era o papel do que se designava por
“civilização”.” (p.52)

“... o século XX foi particularmente instrutivo: os mais cruéis atos de barbárie


não foram perpetrados por pessoas reconhecidamente incultas.” (p.52)

“O ser humano tem necessidade de certa naturalidade material, mas também


de uma vida espiritual e de abertura ao resto da humanidade que lhe permita
voltar as costas à barbárie.” (p.53)

Civilização e Colonização

“O que é designado por uns como “civilização” dissimula, para os outros, a


encarnação da barbárie.” (p.56)

Você também pode gostar