Apustlinha - Direito Do Consumidor - Dr. Arthur Basan

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DIREITO DO CONSUMIDOR

Introdução contextualizada

Perspectivas: (livro da Cláudia Lima Marques / Hermann Benjamin / Leonardo Roscoe


Bessa)

1) Dogmática-filosófica:
2) Socioeconômica:
3) Sistemática:

1) Dogmática-filosófica: focada nas alterações, modificação ou relativização dos


dogmas do direito privado, especialmente com a finalidade de proteção da parte
mais fraca/vulnerável.
O Estado passa a exercer as seguintes funções:
a) Impor a solidariedade no mercado
b) Assegurar os direitos imperativos, notadamente os fundamentais
c) Tutelar as pessoas mais fracas

2) Socioeconômica: desconstrução da falácia do consumidor como “rei do mercado”


e o reconhecimento de uma sociedade de consumo, da informação, de massas e
globalizada.

3) Sistemática: o direito do consumidor decorre de previsão constitucional (o


“consumidor” é um agente constitucionalmente designado)  art. 5º, XXXII

Introdução ao estudo do Código de Defesa do Consumidor (CDC)

“Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de


ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da
Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.”

1) Defesa: questões processuais


x = TUTELA
Proteção: questões de direito material

2) O CDC é lei de ORDEM PÚBLICA?


a) Aplicação cogente: execução obrigatória do CDC nas relações de consumo.
Como consequência prática, o juiz deve aplicar as disposições do CDC de
ofício.

CUidado! Danger!!
Súmula 381-STJ: Nos contratos BANCÁRIOS, é vedado ao julgador conhecer,
de ofício, da abusividade das cláusulas. (NÃO EXISTE EXPLICAÇÃO =
lobby político)

b) Disposições inderrogáveis: as normas do CDC são de aplicação obrigatória,


não podendo as partes, nem mesmo diante das autonomias de vontades,
decidirem pela “não aplicação”
Ex: Súmula 130 STJ: responsabilidade pelo veículo em estacionamento (mesmo
que exista cláusula no sentido contrário)

3) O CDC é lei de INTERESSE SOCIAL?


Parte da ideia de que é interesse de todos a coibição de abusos  higidez do
mercado

4) O direito do consumidor é um direito fundamental?

Art. 5º, XXXII: o Estado promoverá, na forma da lei (especialmente o CDC), a


defesa do CONSUMIDOR (CF/88)
 Lembrar que o art. 5º traz direitos fundamentais, de modo que a tutela do
consumidor é um direito fundamental.
 Assim, apesar de a relação de consumo ser uma relação de direito privado
(relação, a princípio, “horizontal”, tendo em vista o pressuposto de que as
pessoas estão em condições de igualdade), o CDC é uma lei de ordem pública
aplicada de maneira cogente a esse tipo de situação, tornando a relação
“transversal” ou “diagonal”.
 Lembrar que o direito do consumidor é um direito fundamental de terceira
geração / dimensão (relacionado à ideia de solidariedade/fraternidade),
encontrando-se dentro dos direitos difusos (interesse social).

5) Quais são os efeitos do status de direito fundamental para o consumidor?


a) A proteção do consumidor parte de um núcleo imodificável da CF  lembrar
que o art. 5º faz parte dos dispositivos considerados cláusulas pétreas (art. 60,
§4º da CF);
b) Garantia constitucional de que nenhum outro ramo do direito pode violar as
disposições de tutela do consumidor (lembrar da força normativa da
constituição)  tem base na teoria da proibição do retrocesso (Canaris)
c) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais: o CDC é uma lei que efetiva a
ideia de que os direitos fundamentais também devem ser aplicados às relações
“horizontais” (privadas / entre particulares)  neste ponto, a doutrina destaca
que o consumidor acaba sendo uma relação transversal/diagonal

6) O direito do consumidor frente à ordem econômica constitucional (art. 170, CF/88)

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes PRINCÍPIOS (às vezes surgem como
“limites”  justificam a atuação do Estado no mercado):
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - DEFESA DO CONSUMIDOR (LIMITAÇÃO ÉTICA AO MERCADO);
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País
1) Competência legislativa
Qual é o ente que possui competência para legislar, ou seja, elaborar as leis de proteção
do consumidor?  a competência legislativa encontra-se no art. 24 da CF/88

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


CONCORRENTEMENTE sobre:
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao CONSUMIDOR, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;

Súmula Vinculante 38: É competente o município para fixar o horário de


funcionamento de estabelecimento comercial.

Competência concorrente: trata-se de uma competência vertical e não cumulativa, ou


seja, a União é competente para legislar sobre as normas gerais, ao passo que os Estados e
o DF legislam de forma suplementar, isto é, diante de alguma peculiaridade local (também
aplicável aos municípios)

Art. 24, § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa PLENA, para atender a suas peculiaridades.
CUIDADO: § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

2) O CDC como um microssistema jurídico

O CDC é considerado um microssistema por se tratar de norma fundamentalmente


principiológica e que orienta a resolução de problemas relacionados às situações de
consumo como um todo, independentemente da relação jurídica analisada. Essa base de
princípios possui fundamento sólido, capaz de resolver problemas de consumo, de uma
maneira geral.
Ainda assim, o CDC é composto por uma multidisciplinariedade de normas, tutelando
o consumidor a partir de direitos materiais, processuais e de cunho administrativo, além de
prever crimes de consumo, sem prejuízo às disposições de caráter coletivo (inaugura a
tutela difusa e coletiva no Brasil).

3) A Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4º)


A PNRC traz para o CDC os PRINCÍPIOS mais importantes a serem considerados na
tutela do consumidor, inclusive como objetivos do próprio código.

A) Pcp da Vulnerabilidade: S2 #quero


- Estudado adiante (aula 6 e 7)

B) Pcp do dever governamental  prevê que o Estado proteja o consumidor da


seguinte forma:
i) por iniciativa direta – Ex: instituições de órgãos públicos de defesa (PROCON)
ii) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;
iii) pela presença do Estado no mercado de consumo;
iv) pela garantia da qualidade no mercado.

C) Pcp da harmonização dos interesses e da adequação:


- Harmonizar os interesses dos consumidores com o desenvolvimento econômico e
tecnológico (art. 170, da CF/88);
- O fornecedor deve efetivar a adequação dos produtos e serviços, respeitando a
segurança, a qualidade e os interesses econômicos dos consumidores.

D) Pcp da boa-fé objetiva


- Estudado adiante (aula 8)

E) Pcp da educação e informação de fornecedores e consumidores


- Visa promover a educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto
aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;
- Ex: Lei 12.291/10  obrigatório um exemplar do CDC nos estabelecimentos
comerciais.

F) Pcp do incentivo ao autocontrole: o Estado incentiva os fornecedores a


solucionarem os conflitos que surgem
1º - controle prévio da qualidade e da segurança dos produtos e serviços;
2º - criação, nas empresas, de departamentos de sistema de atendimento ao
consumidor (SAC – conforme Decreto 6523/08)  atualmente, esse “incentivo”
também é operado pelo www.consumidor.gov.br (S2)
3º - prática do recall (“chamamento”)

G) Pcp da coibição e repressão de abusos no mercado:


- Inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações
industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar
prejuízos aos consumidores e interferir na devida concorrência leal e livre.

H) Pcp da racionalização e melhoria dos serviços públicos;

I) Pcp do estudo constante das modificações do mercado de consumo.


- Com intuito de regular as inovações que surgem no mercado.

A) Pcp da Vulnerabilidade!:

1) Conceito: vulnerabilidade significa uma situação de desigualdade (alguém que


esteja “ferido”, “machucado”, necessitando de proteção).

 Sociológica: decorre de falhas de mercado: em algumas situações, o próprio


mercado, carregado de perigos e riscos, ameaça a integridade do consumidor. 
como o Direito reage a isso?

 Direito do consumidor: presunção legal absoluta  exatamente por isso o


CDC é lei de ordem pública
Assim, TODO CONSUMIDOR É VULNERÁVEL.
Por isso, há a aplicação conjunta do princípio da igualdade material, ou seja,
tratar de forma desigual os desiguais, na medida de suas desigualdades.

2) Espécies:
a) Vulnerabilidade Técnica: trata do desconhecimento, por parte do
consumidor, a respeito das características gerais do produto / serviço
vendido.
b) Vulnerabilidade Jurídica: trata do desconhecimento do consumidor no que
se refere aos seus direitos e deveres, questões econômicas ou mesmo de
contabilidade.  fruto dos contratos de adesão (o fornecedor é detentor do
“enigma contratual”).

c) Vulnerabilidade Socioeconômica: considera-se que, na maioria das vezes,


o consumidor é mais fraco em termos de poder social, econômico, de
influência ou mesmo diante de um fornecedor que possui monopólio.

d) Vulnerabilidade Informacional: o fornecedor tem o dever de prestar as


informações sobre o produto ou serviço. Entretanto, na maioria das vezes, ou
essas informações não são prestadas (ausência de informação) ou são
prestadas de maneira exorbitante (excesso de informação).

3) A diferenciação entre vulnerabilidade x hipossuficiência:

Vulnerabilidade Hipo$$uficiência
Presunção legal material: pela Presunção relativa formal  questões
desigualdade do mercado, presume-se que processuais (art. 6º, VII)
TODO CONSUMIDOR É - Dificuldade de produção normativa
VULNERÁVEL - Justiça gratuita (art. 98 CPC) = pobre na
forma da lei (acesso à justiça)
NEM TODO CONSUMIDOR SERÁ
HIPOSSUFICIENTE
Efeitos: a aplicação de todos as leis Efeitos: - inversão do ônus da prova (art.
protetivas de consumo (sistema de defesa 6º, VII)
do consumidor) + art. 7º (Tratados) - justiça gratuita (art. 98 CPC)
- a depender, a atuação do MP
Dimensão: é total, ou seja, atinge a todos, Dimensão: tem forte cariz econômico,
independentemente da potência econômica dependendo, portanto, da análise do caso
do consumidor concreto
Calibração: possui uma regra de Não é trabalhada por calibração.
calibração, ou seja, diversos tipos de
vulnerabilidade (inclusive, em somatório:
“hipervulneráveis”)

B) Pcp da Boa-fé Objetiva:


Conceito: é um princípio com forte caráter ético, relacionado à ideia de “agir
reflexivo”. Tem duas bases essenciais no direito do consumidor, que são a lealdade é a
confiança. Carrega consigo uma porção de efeitos, sendo que um dos mais importantes
é que as legítimas expectativas criadas devem ser respeitadas (confiança).

No direito romano, surge com 3 diretrizes:


- Dar a cada um o que é seu (justiça)
- Não lesar ninguém (responsabilidade)
- Viver honestamente (confiança)

Ao se tratar de boa-fé objetiva, defende-se um comportamento honesto, leal,


solidário, justo, adequado, sempre tendo como parâmetro a consideração das outras
pessoas envolvidas na relação, conforme a dignidade da pessoa humana (a pessoa
considerada um fim em si mesmo, jamais um objeto).
No CDC, surge como princípio orientador (art. 4º, III) e como cláusula geral (art.
51, IV).

No direito privado (de acordo com o Código Civil), como um todo, a boa-fé
objetiva aparece cumprindo três fundamentais FUNÇÕES:

1) INTERPRETATIVA (art. 113 CC/02) – “Os negócios jurídicos devem ser


interpretados conforme a BOA-FÉ e os usos do lugar de sua celebração.”

2) CONTROLE (art. 187 CC/02) – ABUSO DE DIREITO: “Também comete


ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela BOA-FÉ ou pelos bons
costumes.”
Exemplo: Súmula 302 do STJ: “É abusiva a cláusula contratual de plano de
saúde que limita .”
Súmula 532 do STJ: cartão de crédito não solicitado  violação dos dados
pessoais  dano moral in re ipsa

3) INTEGRATIVA (art. 422 CC/02): “Os contratantes são obrigados a guardar,


assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé”.
 surge impondo deveres anexos ou laterais de conduta. Ganha destaque nas
relações contratuais e, inclusive, o desrespeito à boa-fé objetiva gera o
descumprimento contratual (“violação positiva do contrato”)
- Dever anexo de informação:
- Dever cooperação / lealdade:

- Dever de cuidado / proteção:

1) A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

A) Partes  pessoas = Consumidor x Fornecedor

B) Bens = Produto ou serviço

C) Fato jurídico

A. FORNECEDOR: art. 3º

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem ATIVIDADE de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

 ATIVIDADE (art. 966, do Código Civil): habitualidade, especialidade e


finalidade lucrativa

B. PRODUTOS: art. 3º, §1º

Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel (diálogo de fontes com CC – arts. 79 a 84)
material ou imaterial.

C. SERVIÇOS: art. 3º, §2º

Serviço é qualquer ATIVIDADE (obrigação de fazer/não fazer) fornecida no


mercado de consumo, mediante REMUNERAÇÃO, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista.

REMUNERAÇÃO:

a) direta
b) indireta: por exemplo, comprar por milhas

- Súmula 297 do STJ: o CDC é aplicável às instituições financeiras


D. CONSUMIDOR: espécies

a) Standart (em sentido estrito): art. 2º

Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire (“compra”) ou utiliza


(por exemplo: ganha um presente) produto ou serviço como DESTINATÁRIO
FINAL.

O que significa “destinatário final?”

 Surgem 3 TEORIAS:

A) Teoria Finalista: o destinatário final é aquele que NÃO lucra com o


produto ou serviço
- Requisitos:
1) Destinatário final fático: realmente consome o produto ou serviço para si
ou para sua família.
2) Destinatário final econômico: aquele que utiliza o produto ou serviço sem
a finalidade lucrativa (retira do mercado)

Finalidade do consumo (sujeito)

 TEORIA ADOTADA PELO CDC

B) Teoria Maximalista: o destinatário final é aquele que realmente consome o


produto ou serviço para si ou seus familiares
- Requisito:
1) Destinatário final fático: pouco importa a finalidade que o consumo do
produto ou serviço teve, desde que efetivamente consumido.

Teoria objetiva  alarga a aplicação do CDC

C) Teoria do Finalismo Mitigado (Aprofundado) – desenvolvida pelo STJ:


EM REGRA, o destinatário final é aquele que NÃO lucra com o produto
ou serviço
- Requisitos:
1) Destinatário final fático: realmente consome o produto ou serviço.
2) Destinatário final econômico: aquele que utiliza o produto ou serviço
sem a finalidade lucrativa (retira da lógica lucrativa)

 relativiza esse requisito (VULNERABILIDADE)

Se a pessoa demonstrar VULNERABILIDADE, aplica-se o CDC a seu


favor mesmo havendo intenção lucrativa, ou seja, mesmo não sendo o
sujeito destinatário final econômico.

STJ: uma COSTUREIRA que adquiriu um produto (máquina de costura) de


uma FABRICANTE MULTINACIONAL de máquinas.
- um CAMINHONEIRO que adquiriu um produto (caminhão) defeituoso da
marca FORD = aplicação do CDC

 Admite a aplicação do CDC ao denominado “consumidor


intermediário” (VULNERABILIDADE)

b) Equiparado (a princípio não existe relação de consumo, mas será aplicado o


CDC tendo em vista a vulnerabilidade da pessoa)

b.1) Coletivo: art. 2º, p.u


b.2) Vítima (bystander): art. 17
b.3) Exposto às práticas do mercado: art. 29

DIREITO DO CONSUMIDOR

2) DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor,


de ORDEM PÚBLICA e INTERESSE SOCIAL, nos termos dos arts. 5°, inciso
XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições
Transitórias.

Direitos BÁSICOS?

Amplo diálogo entre:

a) Direitos humanos:
- direitos essenciais previstos em Tratados Internacionais
- no âmbito internacional (Estado x Estado)

b) Direitos fundamentais
- direitos essenciais elencados desta forma pela Carta Magna (Constituição)
- no âmbito do Direito Público (relação pessoa x Estado)

c) Direitos da personalidade:
- direitos essenciais assim definidos especialmente no Código Civil, em
proteção à pessoa humana
- no âmbito de Direito Privado (relação entre pessoa x pessoa)

d) Direitos básicos do consumidor


- direitos essenciais assim definidos especialmente pelo CDC, principalmente
visando a proteção da pessoa humana
- no âmbito da relação de consumo (relação consumidor x fornecedor)

Exemplo: art. 6º: I - a proteção da VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA contra os


riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos;

-Direitos humanos
- Fundamentais
- Da personalidade
- Básicos do consumidor

PESSOA
Dignidade

Art. 7° Os direitos previstos neste código (CDC) não excluem outros


decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja
signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas
autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos
princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.

 DIÁLOGO DE FONTES

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção da VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA contra os riscos


provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos;

 Responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço (DEFEITO)

II - a EDUCAÇÃO e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e


serviços, asseguradas a LIBERDADE DE ESCOLHA e a IGUALDADE nas
contratações;

 Consumo consciente

III - a INFORMAÇÃO adequada e clara sobre os diferentes produtos e


serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem (A informação deve ser acessível à pessoa com deficiência)

 Consentimento esclarecido
IV - a PROTEÇÃO contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
ABUSIVAS ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

 Proteção das práticas abusivas (econômica/liberdade/sossego)  garantia da


boa-fé objetiva

V - a MODIFICAÇÃO das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou sua REVISÃO em razão de fatos supervenientes
(“posteriores”) que as tornem excessivamente onerosas;

 Equilíbrio contratual

VI - a efetiva PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS patrimoniais ($) e


morais (extrapatrimoniais), individuais, coletivos e difusos (+sociais);

 Reparação integral

VII - o ACESSO aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à


prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos
necessitados;
VIII - a FACILITAÇÃO DA DEFESA de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação OU quando for ele hipossuficiente (“pobre na forma da
lei” ou quem tem dificuldade de produzir provas), segundo as regras
ordinárias de experiências; (trabalha com a teoria da carga dinâmica das
provas)

 Acesso à justiça (acesso + facilitação da defesa)

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

DIREITO DO CONSUMIDOR

3) INTRODUÇÃO À TEORIA DA QUALIDADE

- Da Proteção à Saúde e Segurança

Todo produto ou serviço oferecido no mercado precisa ter um mínimo de qualidade,


especialmente, ao se tratar da segurança. Dito de outra forma, todo produto ou serviço
oferecido no mercado deve ser seguro ao consumidor, sem expor ao risco a vida, a saúde e
a segurança das pessoas.

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão


riscos à saúde ou segurança dos consumidores [...]

- DA PREVENÇÃO (RISCO/PERICULOSIDADE)

Existem três tipos de produto ou serviço no que se refere ao risco/periculosidade.

a) PERICULOSIDADE INERENTE: existem produtos e serviços que diante da


própria característica ou natureza possuem riscos ou perigos inerentes, ou mesmo,
com relação à sua finalidade (função).

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão


riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados
NORMAIS e PREVISÍVEIS (PERICULOSIDADE INERENTE) em
decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer
hipótese, a dar as INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS E ADEQUADAS A SEU
RESPEITO.

Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos


(PERICULOSIDADE INERENTE) à saúde ou segurança deverá INFORMAR,
de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade,
sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.

CUIDADO!

Art. 8º - § 1º Em se tratando de produto industrial, ao FABRICANTE cabe


prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos
apropriados que devam acompanhar o produto.

Art. 8º - § 2º O fornecedor deverá HIGIENIZAR os equipamentos e utensílios


utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do
consumidor, e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso,
sobre o risco de contaminação.

b) PERICULOSIDADE ADQUIRIDA: existem produtos e serviços que em razão


de algum DEFEITO, adquirem um risco ou um perigo indesejado (anormal ou
imprevisível), quanto a sua característica ou fruição.

Produto ou serviço com DEFEITO é aquele que coloca, de maneira indesejada e


inesperada, a vida, a saúde ou a segurança das pessoas em risco.

Nestes casos o consumidor/ a pessoa que sofre o dano é surpreendida com a


situação de risco ou perigo.

- ESPÉCIES DE DEFEITOS:
i) Criação / concepção: é aquele que já nasce no projeto do produto ou serviço.

ii) Fabricação / produção:

iii) Informação: é a ausência do cumprimento do dever de informar ao


consumidor a forma segura de utilizar o produto ou serviço ou mesmo os riscos
e perigos inerentes

- CONSEQUÊNCIAS:

1) Se houver dano = indenização (responsabilidade pelo fato...)

2) Retirar o produto / serviço do mercado ou resolver a situação de perigo


(RECALL)

3) Prestar ampla informação à sociedade  art. 64 (crime)

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a


nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua
colocação no mercado (ou seja, ADQUIRIDA...)

4) Na omissão do fornecedor de fazer o RECALL, cabe ao Estado


promovê-lo (às custas do fornecedor)

c) PERICULOSIDADE EXAGERADA: existem produtos e serviços que possuem


“DEFEITO por ficção”, ou seja, independentemente da forma com que serão
colocados no mercado vão expor de maneira indesejada e insuportável às pessoas
aos riscos / perigos.

Ex: brinquedos que possibilitam a sufocação de criança


produto que limpa pia mas que gera queimaduras inevitáveis

JAMAIS PODERÁ SER OFERECIDO NO MERCADO!

Art. 10. O fornecedor NÃO PODERÁ colocar no mercado de consumo produto


ou serviço que sabe ou DEVERIA saber apresentar alto grau de nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança.

Consequências:
1) Se houver dano = indenização (responsabilidade civil)
2) Retirar o produto / serviço do mercado (RECALL)
3) Prestar ampla informação à sociedade  art. 64 (crime)
4) Na omissão do fornecedor de fazer o RECALL, cabe ao Estado
promovê-lo (às custas do fornecedor)

4) RECALL (chamamento)

§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no


mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem (DEFEITO),
deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores,
mediante ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS (“contrapropaganda”).

Conceito: é prática de anúncios publicitários (“chamamento”) que visa informar e


solicitar aos consumidores que possuem ou utilizam produtos ou serviços defeituosos a
promoverem a manutenção, devolução ou troca desses objetos.

§ 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão


veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou
serviço.

§ 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à


saúde ou segurança (DEFEITO) dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.

2ª avaliação...

DIREITO DO CONSUMIDOR

5) RESPONSABILIDADE CIVIL DE CONSUMO

Responsabilidade civil: conceito genérico  é a obrigação que uma pessoa assume,


de indenizar outrem, pelo dano injusto causado

No Direito Civil, a regra é que a RESPONSABILIDADE CIVIL SEJA SUBJETIVA


(depende de CULPA) e pessoal / INDIVIDUAL, conforme os seguintes requisitos
(elementos):

1) Conduta humana (voluntário – sob o controle da vontade)


2) Culpa (sentido amplo)
3) Nexo causal (ligação)
4) Dano injusto

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência
(ou imperícia), violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
+
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.

Entretanto, partindo da sociedade de risco e de MASSA, surge uma nova


necessidade de responsabilização, tendo como base a atividade praticada / exercida:

Art. 927, Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.  surgimento da responsabilidade civil objetiva

Teoria do risco da atividade  é uma das bases para a responsabilidade civil de


consumo, conforme os seguintes requisitos (elementos)

1) Fornecer no mercado o produto / serviço


2) Nexo causal
3) Dano injusto

A regra é que A RESPONSABILIDADE CIVIL DE CONSUMO será OBJETIVA


(independe da análise de culpa) e SOLIDÁRIA (atinge todos os fornecedores – art.3º -
da cadeia de produção – quem obtém o bônus/lucro assume o ônus/responsabilidade ) 
ampliar o acesso à justiça com foco em resolver a situação da vítima (consumidor).

A RESPONSABILIDADE CIVIL DE CONSUMO utiliza como fundamenta a


Teoria da Qualidade:

Todo produto ou serviço oferecido no mercado precisa ter um mínimo de


qualidade, especialmente, ao se tratar da segurança (qualidade-segurança). Dito de outra
forma, todo produto ou serviço oferecido no mercado deve ser seguro ao consumidor, sem
expor ao risco a vida, a saúde e a segurança das pessoas. Além disso, é preciso que todo
produto ou serviço tenha um mínimo de qualidade no sentido de cumprir as finalidades a
que destina (qualidade-adequação).
Assim, será responsabilizado o fornecedor que oferecer no mercado produto ou
serviço com problema (vício):

Responsabilidade consumo

1) RC pelo fato do produto ou serviço

Vício de segurança (DEFEITO):  acidente de consumo (art. 17 


consumidor vítima): é qualquer problema que coloque em risco ou cause dano
a VIDA, SAÚDE e SEGURANÇA do consumidor ou de qualquer pessoa
exposta às práticas do mercado. Decorre de um fato do produto ou serviço, isto,
um acidente que gera danos para além do próprio produto ou serviço.

2) RC pelo vício do produto ou serviço


Vício de qualidade ou de quantidade (VÍCIO):  mero incidente de
consumo: é qualquer problema que envolva o produto ou serviço, retirando a sua
qualidade, utilidade, valor ou mesmo em quantidade inferior àquela paga. Decorre
de um vício do produto ou serviço, isto, um mero incidente que gera, em regra,
como dano a inutilidade ou mesmo necessidade de complementação daquele
produto ou serviço. O problema é, portanto, intrínseco ao produto ou serviço.

 DA RESPONSABILIDADE PELO FATO (ACIDENTE) DO PRODUTO E


DO SERVIÇO

1) Vício de segurança (DEFEITO): é qualquer problema que coloque em risco


ou cause dano a VIDA, SAÚDE e SEGURANÇA do consumidor ou de
qualquer pessoa exposta às práticas do mercado. Decorre de um fato do produto
ou serviço, isto, um acidente que gera danos para além do próprio produto ou
serviço.

1.1) PRODUTO COM DEFEITO (R.C. pelo fato do produto)

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou


estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa (resp. objetiva), pela reparação dos danos
causados aos consumidores por DEFEITOS decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

DEFEITOS (periculosidade adquirida):

i) Criação / concepção: é aquele que já nasce no projeto do produto ou


serviço.

ii) Fabricação / produção:

iii) Informação: é a ausência do cumprimento do dever de informar o


consumidor a forma segura de utilizar o produto ou serviço

Art. 12. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança


que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de


melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
CUidado! A Responsabilidade Civil do fornecedor nos casos de
acidente de consumo, quando o produto é defeituoso, se limita, em
regra, ao FABRICANTE, CONSTRUTOR, PRODUTOR e
IMPORTADOR. (FCPI)

Assim, em regra, o COMERCIANTE NÃO será


responsabilizado pelo defeito no produto, pois na maioria das vezes
não tem qualquer poder de causar aquele dano. Além disso, muitas
vezes pode ser tão vulnerável quanto o próprio consumidor.

Art. 13. O COMERCIANTE é igualmente responsável, nos termos do


artigo anterior, quando: (responsabilidade subsidiária)

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem


ser identificados;

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante,


produtor, construtor ou importador;

III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado


poderá exercer o DIREITO DE REGRESSO contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a


AÇÃO DE REGRESSO poderá ser ajuizada em processo autônomo,
facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos,
vedada a denunciação da lide.
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO
PRODUTO

Art. 12, § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador


(FCPI) só NÃO SERÁ RESPONSABILIZADO quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;


Ex: produto com defeito fabricando por empresa que falsifica objetos,
estampando marca diversa – Celular “apple” falsificado

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito


inexiste
 demanda provas por parte do fornecedor

III - a culpa exclusiva do consumidor


(a culpa exclusiva de terceiro.)

E as situações de caso fortuito ou de força maior, são suficientes para


excluírem a responsabilidade civil de consumo?

Art. 393, parágrafo único (Código Civil). O caso fortuito ou de força maior
verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

1.2) SERVIÇO COM DEFEITO (R.C. pelo fato do serviço)

Art. 14. O FORNECEDOR (art. 3º) de serviços responde (resp.


solidária), independentemente da existência de culpa (resp. objetiva),
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o


consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO


SERVIÇO

§ 3° O fornecedor de serviços só NÃO SERÁ RESPONSABILIZADO


quando provar (ônus probatório):

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;


II - a culpa exclusiva do consumidor
III - a culpa exclusiva de terceiro.
IV – caso fortuito e força maior (lembrar que se aplica somente ao
fortuito externo)

CUidado!
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO PRESTADO PELO
PROFISSIONAL LIBERAL

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada


mediante a verificação de CULPA.  Resp. civil SUBJETIVA

O que é o profissional liberal? É aquele que exerce atividade profissional


especializada, habitual, com autonomia, sem subordinação e de forma pessoal,
independentemente do seu grau escolaridade.
Nesta situação, deverá a R.C. preencher os seguintes pressupostos:
1) Fornecer no mercado o serviço
2) Culpa
3) Nexo causal
4) Dano injusto

DANGER! A grande discussão neste ponto envolve a prestação de serviços


médicos / odontológicos

1) Problema: a diferença do tratamento jurídico existente entre a “obrigação de


meio” e a “obrigação de resultado”.

Em tese, nestes casos, se a obrigação fosse de meio, a responsabilidade civil


segue a regra, demandando a demonstração de culpa.
Já na obrigação de resultado, não atingindo este resultado, a
responsabilidade civil seria objetiva. Mas para o STJ, nestes casos, a
responsabilidade civil continua sendo subjetiva, porém, a culpa será presumida
(inversão do ônus da prova).

2) Problema: a responsabilidade civil quando existe fornecimento do serviço do


médico / dentista e de um hospital / clínica:

A) Quando o dano é causado pelo hospital / clínica: terá a responsabilidade


apenas do hospital, de forma objetiva (regra)

B) Quando dano é causado pelo médico / dentista a responsabilidade


dependerá:

a) Se houver vínculo entre o médico e o hospital: haverá


responsabilidade solidária. Entretanto, é preciso provar a conduta
culposa do médico (R.C. subjetiva) e, se houver, o hospital será
também responsabilizado (R.C objetiva)

b) Se NÃO houver vínculo algum entre o médico e o hospital:


somente haverá responsabilidade do médico, de forma subjetiva
(necessário provar a culpa), conforme art. 14, §4º

CUIDADO!!

Art. 17. Para os efeitos desta Seção (produtos e serviços com defeito
– resp. civil pelo fato do produto ou do serviço), equiparam-se aos
consumidores todas as VÍTIMAS DO EVENTO.

 Consumidor bystander (vítima): é aquele sujeito que apesar de não estar na


relação jurídica de consumo, acaba sofrendo o acidente de consumo.

ATENÇÃO: para essa espécie de consumidor, pouco importa quem é a vítima

Da Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço


1) Vício de qualidade ou de quantidade (VÍCIO): é qualquer problema que
envolva o produto ou serviço, retirando a sua qualidade, utilidade, valor ou mesmo
em quantidade inferior aquela paga. Decorre de um vício do produto ou serviço,
isto, um mero incidente que gera, em regra, como dano a inutilidade ou mesmo
necessidade de complementação daquele produto ou serviço. O problema é,
portanto, intrínseco ao produto ou serviço.

1.1) PRODUTO COM VÍCIO DE QUALIDADE (R.C. pelo vício do


produto)

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis


respondem SOLIDARIAMENTE pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor,
assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.

REGRA: a responsabilidade civil será OBJETIVA (independe da análise de culpa)


e SOLIDÁRIA (todos os fornecedores – art. 3º)

§ 1° Não sendo o vício sanado no PRAZO MÁXIMO DE TRINTA DIAS, pode


o consumidor exigir, alternativamente e à SUA ESCOLHA:  “período de
sanação”

A partir do momento em que o consumidor reclama do vício do produto, em regra,


o fornecedor terá 30 dias para sanar esse problema (prazo de sanação). Se, passado esse
tempo, não for resolvido o vício do produto, surge o direito do consumidor de exigir:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas


condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem


prejuízo de eventuais perdas e danos (indenização);

III - o abatimento proporcional do preço.

3° O consumidor poderá fazer uso IMEDIATO das alternativas do § 1° deste


artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes
viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto,
diminuir-lhe o valor ou se tratar de PRODUTO ESSENCIAL.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste


artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição
por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos
incisos II e III do § 1° deste artigo.
1.2) PRODUTO COM VÍCIO DE QUANTIDADE (R.C. pelo vício do
produto)

Art. 19. Os fornecedores respondem SOLIDARIAMENTE pelos vícios de


quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de
sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - o abatimento proporcional do preço;


II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo,
sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos.

§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior (art. 18).

1.3) VÍCIO NOS SERVIÇOS (R.C. pelo vício do serviço)

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os


tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

(CUIDADO: § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros


devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.)

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem


prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

O vício no serviço é atividade prestada no mercado de consumo, de forma


profissional, mediante remuneração, direta ou indireta, mas que possua
problema (vício):
a) Inadequação: o serviço é impróprio ao fim que se destina. Ex: no cinema,
o filme fica sem áudio por 15 minutos.

b) Diminuição de valor: o serviço é prestado de forma inferior


qualitativamente do que o oferecido. Ex: serviço de transporte de ônibus
sem ar-condicionado.

c) Disparidade: o serviço é divergente com a oferta.

1.4) SERVIÇOS PÚBLICOS: ART. 22


Art. 22. Os órgãos públicos, por si só, ou suas empresas, concessionárias,
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
OBRIGADOS a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, QUANTO
AOS ESSENCIAIS, CONTÍNUOS.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Por mais que o direito do consumidor seja reconhecido, é preciso definir um limite
temporal para que esse direito seja exercido ou exigido como pretensão contra o
fornecedor.

- Decadência: é a extinção do direito potestativo pelo decurso do tempo  o direito


potestativo é aquele que produz os seus efeitos jurídicos a partir da manifestação da
vontade de exercê-lo por parte do titular. Prazos em dia e mês! Se os prazos forem em
anos, pode ser decadencial ou prescricional

- Prescrição: é a extinção do direito subjetivo pelo decurso do tempo  o direito


subjetivo é aquele que, para produzir efeitos jurídica, além da manifestação da vontade ou
exigência do seu titular, depende de uma prestação de outra parte.

DECADÊNCIA NO CDC

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca
em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

(Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante


termo escrito).

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do


produto ou do término da execução dos serviços.

§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor
de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida
de forma inequívoca;
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§3° Tratando-se de vício oculto (redibitório), o prazo decadencial inicia-se no
momento em que ficar EVIDENCIADO o “defeito” (vício).

Combate à OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA: diversas jurisprudências do STJ dizem


que quando se trata de produto durável, a garantia deve ser compreendida tendo como base
a vida útil daquele produto. Vide https://www.conjur.com.br/dl/cdc-proteger-consumidor-
obsolescencia.pdf

PRESCRIÇÃO NO CDC

Art. 27. Prescreve em CINCO ANOS a pretensão à reparação pelos danos causados
por FATO (DEFEITO) do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo,
iniciando-se a contagem do prazo a

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DO FORNECEDOR

Com relação à teoria da desconsideração, existem duas teorias, quais sejam:

a) Teoria MAIOR: é a teoria aplicada como regra no Direito Civil. Exige abuso +
inadimplemento.

Art. 50 (do Código Civil) Em caso de ABUSO da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o
juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares
de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a
utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a
prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato
entre os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações,
exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

b) Teoria menor: é a teoria aplicada no CDC, no direito Ambiental, no Direito do


Trabalho, etc. É preciso somente do inadimplemento, bastando a demonstração
de que aquele pessoa jurídica não terá condição de arcar com suas obrigações.

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má
administração.
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades
controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste
código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas
obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica SEMPRE QUE
SUA PERSONALIDADE FOR, DE ALGUMA FORMA, OBSTÁCULO AO
RESSARCIMENTO DE PREJUÍZOS CAUSADOS AOS CONSUMIDORES.

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