Éticas Ocidentais - 1
Éticas Ocidentais - 1
Éticas Ocidentais - 1
Bonaldo, Frederico
ISBN:
1. Filosofia
CDD 100
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SINOPSE
Este é o primeiro e-book do curso “As cinco grandes correntes da ética no
Ocidente”, com Frederico Bonaldo, o qual objetiva compreender as cinco grandes
correntes da ética no Ocidente, a fim de estabelecer uma relação dialética entre estas.
Neste primeiro momento, você será introduzido a conceitos fundamentais,
necessários ao devido entendimento das cinco tradições filosóficas. Quais as
principais correntes da filosofia moral, o que é a filosofia, quais suas funções e quais
suas fontes primordiais são apenas alguns dos temas abordados.
OBJETIVO DE APRENDIZAGEM
Ao final deste e-book, pretende-se que você saiba: quais as cinco grandes
tradições da ética no Ocidente; o que é a filosofia moral; o que é a prática moral; o
que é ethos; qual é o conteúdo da prática moral; o que são a razão prática e a razão
teórica; quais as funções da filosofia moral; qual a fonte primordial da filosofia moral;
o papel da literatura no esclarecimento moral; o esquema explicativo do conhecimento
moral; quais critérios são utilizados para determinar a qualidade de uma ética
filosófica.
INFORMAÇÕES PRELIMINARES
Neste curso “As cinco grandes correntes da Ética no Ocidente”, como o próprio
nome informa, vamos abordar cada uma das cinco grandes correntes de ética no
mundo ocidental. Neste e-book, referente à aula de introdução, iremos perpassar,
sucintamente, por essas correntes, a fim de realizar, ao final, uma comparação
dialética entre estas.
ÉTICA DO DEVER
A Ética do Dever é a segunda grande corrente da ética no mundo ocidental.
Seu grande expoente é Immanuel Kant, que vive no século XVIII. Kant apresenta,
sobretudo, três livros em que trata da ética de forma programática: “Fundamentação
da metafísica dos costumes”, “Crítica da razão prática” e “A metafísica dos costumes”.
ÉTICA DA UTILIDADE
Última corrente a qual abordaremos, a Ética da Utilidade também é conhecida
como Utilitarismo. O utilitarismo foi desenvolvido no século XIX, e tem como principais
autores o Jeremy Bentham e, em seguida, o John Stuart Mill.
MORAL x ÉTICA
Essas tradições acerca da ética compõe um fragmento da filosofia, chamado
de filosofia moral ou de ética filosófica.
Há autores que estabelecem uma distinção entre a palavra ética e a palavra
moral. Particularmente, tanto por uma razão etimológica quanto por uma razão de
nomenclatura atual, entendo essa diferenciação como desnecessária.
Do ponto de vista etimológico, a palavra ética advém do grego ethos, enquanto
a palavra moral descende da palavra mos, em latim, cujo plural é moris. Ethos e
mos/moris significam, ambas, costume. Servem, portanto, para denominar um
comportamento habitual, um comportamento costumeiro das pessoas.
A partir da perspectiva da nomenclatura atual, tal discriminação também não
encontra sustentação. Quando realizamos a análise do comportamento habitual dos
seres humanos, podemos ter como objeto o comportamento costumeiro de um único
ser humano ou de um conjunto de seres humanos. O estudo do comportamento
rotineiro de apenas um ser humano é chamado de ética individual/pessoal ou de moral
pessoal/individual. Por outro lado, o exame que tem por objeto o comportamento
habitual de um agrupamento de seres humanos é denominado de ética pública/social
ou moral pública/social.
Estes dois motivos - ambas palavras, em sua raiz, significarem costume, e a
questão terminológica mencionada acima - fazem com que seja possível tratar “moral”
e “ética” como sinônimos.
Por isso, as cinco grandes correntes de ética podem ser compreendidas como
as cinco grandes filosofias morais na história do Ocidente.
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Aquilo que é errôneo.
quando alguém quer chegar à pergunta “quais são os juízos morais verdadeiramente
próprios do ser humano?”, fazer filosofia moral, em outras palavras, a literatura é uma
fonte privilegiada. A vida real tem de ser a primeira das fontes, mas, na literatura,
existe todo o trabalho do autor do livro em montar uma personagem que vai incorporar
características de várias vidas reais, a calma de pensar quais podem ser os dilemas
que aquela personagem vai enfrentar. Ou seja, embutir naquela personagem literária
não só a dimensão narrativa da sua vida, mas também a dimensão dramática da sua
vida.
PERGUNTAS
1) Recentemente, li uma pesquisa em que diversos acadêmicos ao redor do
mundo eram questionados com qual filósofo mais se identificavam e a primeira
posição foi ocupada por David Hume. No entanto, quando o senhor citou as
três correntes predominantes na atualidade, sua tradição não estava presente.
R: a filosofia moral de David Hume teve muita continuidade. Na realidade, sequer teve
continuidade, sendo aproveitada parcialmente, no século XX, por alguns poucos
filósofos da linguagem. Em seus estudos sobre Teoria do Conhecimento, David
Hume, que é um cético extremo, é o ceticismo empirista extremo, foi muito bem
sucedido, apresenta muitos seguidores. A visão do Hume é uma visão que se
coaduna muito com a cultura dos dias de hoje, que é materialista. O Hume diz, no
“Tratado da Natureza Humana”, que se você tem uma ideia em sua cabeça, é preciso
fazer um teste. Você precisa identificar se na sua percepção sensível, um dos teus
cinco sentidos, a realidade que corresponde a essa ideia, a sentiu. Por exemplo:
digamos que você tenha, na sua cabeça, a ideia de Deus. Você precisa se questionar
se pode gerar, ouvir, sentir, tocar, etc., Deus. Caso a resposta seja negativa, deve-se
abandonar a ideia. Essa é uma visão cética que faz mundo sentido em uma era de
pós-verdade. O problema é que esse pensamento acaba com a ideia de causalidade,
que é a ideia de que toda causa gera um efeito. Hume nega a causalidade, pois o
indivíduo não pode sentir o princípio da causalidade. Por exemplo: uma bola de bilhar
bate em outra e esta segunda, devido ao impacto, começa a se movimentar. Hume
afirma que não há causalidade, mas sim uma sucessão de eventos que são
contíguos. Até hoje quando uma bola de bilhar bateu em outra, produziu movimento
nesta segunda. Mas quem garante que na próxima tentativa ocorrerá a mesma coisa?
O problema é que a causalidade é o ponto de partida de todas as ciências e, por isso,
desesperadamente, o Kant, que procede Hume, afirma que este o despertou de seu
sonho dogmático de que havia ideias inatas e de o único conhecimento é o sensorial.
Só que Kant havia visto a beleza da física de Newton, e esta precisa do princípio da
causalidade, pois “a todo efeito corresponde uma causa”. No entanto, se Kant
seguisse Hume, a causalidade iria por água abaixo e, consequentemente, a física
newtoniana.
2) O senhor comentou que a liberdade interior não pode ser extinta. Qual o
conceito de liberdade interior que está sendo empregado?
R: Ao longo da vida, o indivíduo toma incontáveis decisões e realiza incontáveis
ações, por causa dessas decisões. Essas ações, realizadas pelo indivíduo, trouxeram
para este um conhecimento. Isso concede ao indivíduo parâmetros para que ele
possa aperfeiçoar suas próximas ações. A liberdade interior é o poder de exercer
esses conhecimentos adquiridos a partir das ações. Por exemplo: há um livro
chamado “Contra toda a esperança”, escrito por Armando Valladares. Este foi preso
pelo fato de ser cristão, no início dos anos 1960, pouco depois do golpe de Fidel
Castro, que o levou a assumir como governante. Fidel Castro sequer havia se
manifestado como marxista. Valladares era um funcionário público cristão, e
permaneceu vários anos preso, dado que o comunismo é anticristão. Ele conseguiu
ser solto em meados dos anos 1970, porque sua esposa recorreu a diversos Chefes
de Estado. Armando Valladares dizia que quando estava preso os guardas queriam
ter um controle total sob os encarcerados, por isso, tratavam-nos com crueldade. A
refeição, por exemplo, era algo irrisório. Valladores tomou uma decisão dolorosa,
porém, necessária, para não ficar na mão dos guardas: ser livre para comer somente
metade da ração que davam a ele. Isso é liberdade interior. É um exercício de uma
série de conhecimentos obtidos por suas ações anteriores e que ele exerceu naquele
momento. Essa liberdade ninguém é capaz de retirar, nem mesmo em uma situação
como a descrita.
Se o indivíduo não quer abrir mão de sua liberdade interior, ninguém é capaz
de retirar dele, no entanto, se o indivíduo permitir o acesso a esse âmbito íntimo da
liberdade interior, é possível que o indivíduo perca o controle sob si mesmo.
Andrew Lobaczewski viveu em um regime comunista na Polônia, e, em seu
livro “Ponerologia do Poder”, que realiza um estudo da loucura, fez uma análise dos
governantes e dos governados que apoiavam os hierarcas comunistas da Polônia, a
fim de explicar o fenômeno psiquiátrico que ocorria com ambos. Do ponto de vista
dos governantes, o fenômeno era a psicopatia, ou seja, esses indivíduos
compreendiam os sentimentos morais, mas eram incapazes de senti-los e, por isso,
conseguiam manipulá-los. Do ponto de vista da massa que aderiu aos governantes,
o fenômeno era a histeria, na qual o indivíduo deixa de acreditar naquilo que vê,
observa e constata, porque abriu mão de constatar, para acreditar naquilo que repete,
que diz, que, normalmente, é uma repetição do que disseram para ele.
Isso pode acontecer com uma ideologia política, religiosa, e até mesmo em um
caso romântico.