AULA 02.2 - Viga T

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Concreto Armado II

TÓPICO 02
Viga T

Prof. Geraldo Silva


Viga T
Teoricamente, as vigas podem ter a seção transversal com qualquer forma geométrica,
porém, além das vigas de seção retangular, as mais comuns são aquelas com forma de I ou T.
Nas estruturas do tipo pré-moldadas as vigas I, T e duplo T são bastante comuns.

É muito comum também a viga de seção T quando


se considera a contribuição de lajes maciças
apoiadas em viga de seção retangular.
A seção T é composta pela nervura (alma) e pela
mesa, sendo que a mesa pode estar parcial ou
totalmente comprimida.
Podem ser do tipo pré-moldadas, quando são
fabricadas com a forma do T numa empresa, ou
moldadas no local, no caso de vigas retangulares
que, com o trabalho conjunto com as lajes vizinhas,
originam uma seção fictícia em forma de T.
Viga T
A seção T pode ser formada também nas lajes do tipo pré-fabricadas e nervuradas, nas seções
de pontes rodoviárias, etc.
Viga T
A seção T é bastante comum nas estruturas moldadas no local quando as lajes do pavimento
são do tipo maciça, onde a seção T é visualmente imperceptível, mas surge do trabalho
conjunto entre as vigas retangulares e as lajes vizinhas nela apoiadas.

As tensões normais de compressão, provenientes da flexão, alcançam também as vizinhanças


das lajes apoiadas nas vigas. A contribuição das lajes, porém, só pode ser considerada quando
as lajes estão comprimidas pelas tensões normais da flexão. Se comprimida, a laje atua
aumentando significativamente a área de concreto comprimido (A’c) da viga retangular.

É muito importante observar que a laje deve estar obrigatoriamente no lado da viga, inferior
ou superior, submetido às tensões normais de compressão. Se a laje estiver no lado tracionado
a sua contribuição à flexão não existirá, dado que não se considera o concreto para resistir às
tensões de tração.

Neste caso considera-se apenas a resistência proporcionada pela seção retangular da viga.
Viga T
Levando em conta essas premissas, a figura abaixo mostra as situações de cálculo (seção T ou
retangular) de uma viga contínua, associada a lajes adjacentes, em função da posição da laje
(inferior ou superior da viga) e do sinal do momento fletor.
Viga T
Se as lajes estiverem apoiadas no lado superior da viga, o que ocorre na grande maioria dos
casos da prática, a seção T só é formada nos momentos fletores positivos, pois na região dos
apoios intermediários o momento fletor negativo, traciona o lado superior da viga, e as lajes,
tracionadas, não formam a seção T.

Nas vigas invertidas (quando as lajes são apoiadas no lado inferior das vigas) a situação é
inversa à laje apoiada no lado superior.

De modo geral, os momentos fletores negativos nos apoios intermediários das vigas contínuas
são bem maiores que os momentos fletores positivos nos vãos, o que se configura num
aspecto negativo para as vigas. Levando-se em conta que normalmente as lajes encontram-se
apoiadas no lado superior das vigas, isto é, justamente nos maiores momentos fletores a
seção T não é formada, e forma-se apenas na região dos momentos fletores menores, os
positivos.

Isso impõe normalmente que a altura das vigas é dependente dos momentos fletores
negativos, sem se falar das flechas nos vãos.
Viga T
LARGURA COLABORANTE

Define-se como largura colaborante, a faixa da laje adjacente à viga que colabora para
resistir às tensões normais de compressão.
A largura colaborante não é constante ao longo do vão e depende de vários fatores: viga
simples ou contínua, tipo de carga, vão, tipo de apoios, da relação hf/h, existência de vigas
transversais, etc. A figura abaixo mostra as trajetórias das tensões principais de compressão
nas lajes adjacentes à viga.
Viga T
As tensões de compressão σx na viga e nas lajes variam de intensidade, diminuindo conforme
se afastam da alma da viga. De modo idealizado as tensões são tomadas constantes na largura
colaborante bf.
Viga T
Como as lajes se deformam menos que a alma da viga, a linha neutra mostra uma curvatura
além da alma, sendo várias as causas para tal curvatura.

Segundo a NBR 6118 (item 14.6.2.2),


“Quando a estrutura for modelada
sem a consideração automática da
ação conjunta de lajes e vigas, esse
efeito pode ser considerado mediante
a adoção de uma largura colaborante
da laje associada à viga, compondo
uma seção transversal T.
A consideração da seção T pode ser feita para estabelecer as distribuições de esforços
internos, tensões, deformações e deslocamentos da estrutura, de uma forma mais realista”.
Viga T
A figura abaixo mostra os parâmetros a serem analisados no estudo das seções T.

“A largura colaborante bf deve ser dada pela largura da viga bw acrescida de no máximo 10 %
da distância a entre pontos de momento fletor nulo, para cada lado da viga em que haja laje
colaborante”.
A distância “a” pode ser
assumida conforme os
valores mostrados na
Figura ao lado.
Viga T
“Alternativamente, o cômputo da distância a pode ser feito ou verificado mediante exame dos
diagramas de momentos fletores na estrutura.
No caso de vigas contínuas, permite-se calculá-las com uma largura colaborante única para
todas as seções, inclusive nos apoios sob momentos negativos, desde que essa largura seja
calculada a partir do trecho de momentos positivos onde a largura resulte mínima.”

A largura colaborante é dada pela soma das dimensões b1 , bw e b3, com b1 e b3 dados por:

com b3 sendo a largura colaborante de lajes em balanço.

Nos casos mais comuns da prática, que é a inexistência de mísulas, as larguras b1 e b3 são
contadas a partir da largura bw (da face da viga).
No cálculo de b1 geralmente o valor 0,1.a é menor que a metade da distância b2 , pois a
distância entre as vigas adjacentes normalmente não é pequena.
Nas lajes nervuradas, geralmente a distância b1 é dada pelo fator 0,5.b2.

O valor b2 representa a distância entre a face da viga que se está considerando a seção T, na
direção perpendicular, à face da viga mais próxima.
Viga T
Seção T com Armadura Simples

A “seção T com armadura simples” é aquela que tem como armadura de flexão (longitudinal)
resistente apenas a armadura tracionada, disposta próxima à borda tracionada da seção, e
que não tem necessidade de armadura longitudinal comprimida.
Nas proximidades da borda comprimida são dispostas barras longitudinais construtivas (não
consideradas como resistentes), com no mínimo duas barras, dispostas nos vértices dos
estribos.

b) para momento fletor negativo;

a) para momento fletor positivo;


Viga T
A formulação para o dimensionamento de vigas com seção T deve ser aplicada apenas aos
concretos do Grupo I de resistência (fck ≤ 50 MPa), porque os valores da profundidade y e da
tensão de compressão no concreto (σcd), considerados no diagrama retangular simplificado,
são aqueles preconizados pela NBR 6118 para esses concretos.

No estudo das seções T com a utilização do diagrama retangular simplificado com


profundidade y = 0,8.x observa-se a existência de dois casos, em função da posição da linha
neutra na seção transversal.

CASO 1 CASO 2

0,8.x≤hf 0,8.x>hf
0,8.x≤hf Viga T
Quando a altura 0,8 . x do diagrama retangular simplificado é menor ou igual à altura da
mesa, isto é, 0,8 . x ≤ hf (Figura), a seção comprimida de concreto (A’c) é retangular, com área
(bf . 0,8 . x), de modo que o dimensionamento pode ser feito como se a seção fosse
retangular, com largura bf ao invés de bw , e aplicando-se as mesmas equações já
desenvolvidas para a “seção retangular com armadura simples”. A seção a ser considerada
será (bf . h).
Assim pode ser feito porque o concreto da região tracionada não é considerado no
dimensionamento, isto é, para a flexão não importa a sua inexistência em parte da área
tracionada. Na maioria das seções T da prática resulta 0,8 . x ≤ hf .
No entanto, caso se considere o diagrama parábola-retângulo de distribuição de tensões de
compressão no concreto, a seção T será dimensionada como seção retangular bf . h somente
se x ≤ hf , ou seja, com a linha neutra dentro da mesa da seção T.
0,8.x>hf Viga T
Quando 0,8 . x resulta maior que a altura da mesa (hf), a área da seção comprimida de
concreto (A’c) não é retangular, mas sim composta pelos retângulos I, II e III (Figura abaixo).
Neste caso, não se pode aplicar a formulação desenvolvida para a seção retangular, tornando-
se necessário desenvolver uma nova formulação.
A fim de simplificar a dedução das equações para a seção T com 0,8 . x > hf , a seção será
subdividida em duas seções equivalentes. Na seção da Figura, o concreto comprimido da mesa
é equilibrado por uma parcela As1 da armadura longitudinal tracionada (As).
O concreto comprimido da nervura é equilibrado pela segunda parcela As2 da armadura total
A s.
Viga T
a) Equilíbrio de Forças Normais
Na flexão simples não existe a força normal solicitante externa, de modo que a força
resultante do concreto comprimido deve equilibrar a força resultante da armadura
tracionada:
Rcc = Rst
sendo:
Rcc = força resultante das tensões normais de compressão na área de concreto comprimido;
Rst = força resultante das tensões normais de tração na armadura longitudinal As.
b) Equilíbrio de Momentos Fletores
As forças internas resistentes, proporcionadas pelo concreto comprimido e pela armadura
tracionada, formam um binário oposto ao momento fletor solicitante, isto é:
Viga T
Conforme a decomposição da seção T em duas outras equivalentes, o momento fletor total é
subdividido em duas parcelas M1d e M2d , tal que:
onde Md deve ser considerado
Md = M1d + M2d com valor absoluto.

Do equilíbrio de momentos fletores na linha de ação da armadura As1, define-se o momento


fletor resistente M1d proporcionado pela armadura As1 e pela mesa comprimida:

M1d = (bf – bw) . hf . 0,85 . fcd . (d - 0,5.hf )

Geralmente, adotam-se valores para todas as variáveis (bf , bw , hf , fcd , d), de modo a tornar
possível o cálculo de M1d .

A segunda parcela do momento fletor total fica assim determinada:

M2d = Md - M1d

A seção é uma seção retangular com armadura simples e trocando Md por M2d fica:

M2d = 0,68 . bw . x . fcd . (d - 0,4.x)


Viga T
Conhecendo-se os valores de M2d , bw , fcd e d, é possível definir a posição x da linha neutra e
assim determinar em qual domínio a seção T se encontra.
A posição da linha neutra deve obedecer aos seguintes limites, conforme o item 14.6.4.3 da
NBR 6118:

a) x/d ≤ 0,45, para concretos com fck ≤ 50 MPa;

b) x/d ≤ 0,35, para concretos com 50 < fck ≤ 90 MPa.

Com o equilíbrio de momentos fletores em torno do centro de gravidade das áreas


comprimidas de concreto, e considerando o dimensionamento nos domínios 2 ou 3, onde
σsd = fyd , as parcelas de armadura As1 e As2 são:

Com a área de armadura total sendo: As = As1 + As2


Viga T
Para a seção T pode-se utilizar também as tabelas elaboradas para a seção retangular.
Inicialmente, verifica-se a posição da linha neutra, calculando Kc com bf e d:

Com o valor de Kc determinam-se na Tabela A-1 (ou Tabela A-2) os valores βx e Ks . O valor de x
é imediato:
x = βx . d

Os limites apresentados para a posição da linha neutra devem ser obedecidos. Com o
diagrama retangular simplificado, se resultar 0,8 . x ≤ hf , o cálculo é feito como uma viga de
seção retangular com largura bf e altura h. A armadura tracionada é:

Se resultar 0,8 . x > hf , o dimensionamento deve ser feito com as equações desenvolvidas
para a seção T.
O valor de x inicialmente determinado em função de Kc não é verdadeiro e serviu apenas para
definir que o dimensionamento deve ser feito com as equações desenvolvidas para a seção T.
Para cálculo do momento fletor resistente M1d, proporcionado pela área da mesa
comprimida, adota-se 0,8 . x* = hf , ficando:
Viga T

A variável βx que relaciona x com d fica:

Com βx* determina-se Kc* na Tabela A-1 e:

Determinado o momento fletor resistente M1d , a segunda parcela de Md é:


M2d = Md - M1d
com Md em valor absoluto.

Com o momento fletor M2d determina-se a posição x correta para a linha neutra, referente à
seção retangular:
Viga T
Com o valor de Kc , na Tabela A-1 determinam-se Ks e βx (βx = x/d). A posição da linha neutra
deve obedecer os limites.
A armadura tracionada é:

Como já observado, os coeficientes K foram calculados considerando as unidades de kN e cm,


de modo que as variáveis das equações devem ter essas unidades.
Exercício 01
Dimensionar a armadura longitudinal de flexão da viga com a seção transversal mostrada na
Figura abaixo, sendo dados:
concreto C20; aço CA-50; c = 2,5 cm
ɣs = 1,15; ɣc = ɣf = 1,4
Mk = + 15.000 kN.cm; Øt = 6,3 mm
brita 1

RESOLUÇÃO
Como exemplo de aplicação a resolução será feita
segundo as equações teóricas deduzidas e também conforme
as equações com coeficientes K.
O momento fletor de cálculo é:
Md = ɣf .Mk = 1,4 .15.000 = 21.000 kN.cm

O valor de acg (distância do centro de gravidade da armadura tracionada à face tracionada da


seção) será adotado como 5 cm, o que resulta na altura útil:
d = h – 5 cm = 50 – 5 = 45 cm

Os valores limites entre os domínios 2, 3 e 4 para o aço CA-50 e para os concretos do Grupo I
de resistência, são: x2lim = 0,26.d = 0,26 . 45 = 11,7 cm
x3lim = 0,63.d = 0,63 . 45 = 28,4 cm
a) Equações teóricas
Inicialmente supõe-se que resultará 0,8 . x ≤ hf e a seção T será calculada como retangular,
com dimensões bf . h. Sendo a seção retangular com bf ao invés de bw encontra-se a posição
da linha neutra (x):
Md = 0,68 . bf . x . fcd . (d - 0,4. x)
com Md sempre com valor absoluto.
21000 = 0,68 . 100 . X . 2,0 . (45 - 0,4. x) x = 5,0 cm
1,4
A profundidade do diagrama retangular simplificado de distribuição de tensões de
compressão no concreto, para os concretos do Grupo I de resistência, é:
0,8 . x = 0,8 . 5,0 = 4,0 cm

Como resultou 0,8 . x = 4 cm < hf = 8 cm, a hipótese inicial foi confirmada, e a seção T pode
ser dimensionada como retangular bf . h, com as equações para seção retangular.

A verificação do domínio mostra que a seção T encontra-se no domínio 2, dado que:


x = 5,0 cm < x2lim = 11,7 cm

Além disso, a posição da linha neutra atende o limite apresentado:


x/d = 5,0/45 = 0,11 ≤ 0,45 ok! (para concretos do Grupo I de resistência)
A armadura é calculada aplicando a equação:

A área de armadura mínima é:


As,mín = 0,15% . bw . h = 0,0015 . 20 . 50 = 1,50 cm² As > As,mín

b) Equações com coeficientes K


Colocando-se bf ao invés de bw , supondo-se que a seção T seja calculada como seção
retangular:

Com concreto C20 e aço CA-50, determinam-se os valores de βx = 0,11, Ks = 0,024 e domínio
2. Sendo βx = x/d, os valores de x e 0,8 . x são:
x = βx . d = 0,11 . 45 = 5,0 cm
0,8 . x = 0,8 . 5,0 = 4,0 cm < hf = 8 cm

Como resultou 0,8 . x < hf , a hipótese inicial foi confirmada, ou seja, a seção T pode ser
dimensionada como seção retangular bf . h.
Verifica-se também que a posição da linha neutra atende o limite, para concretos do Grupo I
de resistência:
βx = x/d = 0,11 ≤ 0,45 ok!
A armadura tracionada resulta em: ; As = 11,20 = cm²

Como resultou o domínio 2, a deformação na armadura tracionada é Ɛsd = 10‰ e a


deformação no concreto da fibra mais comprimida é:

Ɛcd = 1,25 ‰ (no domínio 2, Ɛcd deve estar entre zero e 3,5 ‰).

Como o momento fletor é positivo, a armadura deve ser obrigatoriamente disposta no lado
tracionado da viga, que é o lado inferior.
A partir da área dimensionada, quantas das seis barras Ø 16 mm (12,00 cm²) podem ser
dispostas numa única camada.
Para quatro barras, a largura bw mínima é de 20 cm, igual à largura existente de 20 cm, sendo
possível, portanto, alojar as quatro barras. As duas barras restantes devem ser colocadas na
segunda camada, amarradas nos ramos verticais dos estribos.
O espaçamento livre mínimo na direção vertical entre as barras das duas camadas é:
A distância acg entre o centro de gravidade da armadura e a face tracionada é:
acg = 2,5 + 0,63 + 1,6 + 0,5 = 5,2 cm
Exercício 02
Dimensionar a armadura longitudinal de flexão para a seção T mostrada abaixo, sabendo-se
que:
concreto C25; aço CA-50; c = 2,5 cm
ɣs = 1,15; ɣc = ɣf = 1,4
Mk = + 8.000 kN.cm; Øt = 5 mm
brita 1
CRÉDITOS:

• Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR 6118 – Projeto de Estruturas


de Concreto Armado;

• Concreto Armado – Prof. Márcio Dario da Silva - Univ. Fed. De Minas Gerais;

• Concreto Armado I – Prof. Dra. Maria Cecília Amorim Teixeira da Silva – Univ. Estadual
de Campinas;

• Concreto Armado I – Prof. Ney Amorim Silva – Univ. Fed. De Minas Gerais;

• Concreto Armado – Eu Te Amo – Manoel Henrique Compos Botelho; Osvaldemar


Marchetti;

• Elementos Estruturais – Prof. MSc. Luiz carlos de Almeida - Univ. Estadual de Campinas;

• Estruturas de Concreto – Libânio M. Pinheiro; Cassiane D. Muzardo; Sandro P Santos –


Univ. São Paulo;

• Cálculo e Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado – Roberto Chust


Carvalho e Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho;

• www.google.com.br.

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